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Amanda Vieira

O vale das Borboletas

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Copyright © 2011 by Amanda Vieira

Produção Editorial Editora Dracaena

Editor Léo Kades

ProjetoGráficoeDiagramação Francieli Kades

Capa César Oliveira

Revisão Regina Oliveira Agnaldo Alves

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográficoda Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

1ª Edição: Janeiro / 2012

Vieira,Amanda

O Vale das Borboletas / Amanda Vieira ISBN: 978-85-6446-956-3

1. Fantasia, Ficção, Romance, Literatura, Literatura Brasileira. I Título, Autor.

Publicado com autorização. Nenhuma parte desta publicação pode serreproduzida sem a devida autorização da Editora.

Editora dracaEnaRua Edson Crepaldi, 720 – Bal Rincão

CEP 88820-000 - Içara – SCTel. (48) 3468-4544

www.dracaena.com.br

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Publicado com autorização. Nenhuma parte desta publicação pode serreproduzida sem a devida autorização da Editora.

Editora dracaEnaRua Edson Crepaldi, 720 – Bal Rincão

CEP 88820-000 - Içara – SCTel. (48) 3468-4544

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Dedico este livro a toda a minha família, especialmente a minha mãe, Ivone, por ser meu anjo aqui na terra; ao meu pai, Deocleciano, pelas palavras sábias em momentos difíceis; a minha irmã, Aline, por me fazer ficar mais perto de Deus; a minha irmã, Alice, por me ajudar a ter um pé na realidade (mesmo que o outro esteja na lua); a todos meus amigos, pelo enorme carinho que me dão e, principalmente, ao meu amor, Lionel Victor, por me levar a um lugar onde as borboletas nunca vão embora.

Amo todos vocês.

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Prefácio

Eu percebi a coisa certa a fazer, era a minha única chance, a nossa chance. E eu não tinha escolha, ele também não. Eu me pus em pé no alto do precipício, com as asas quebradas e o coração esmagado, e imediatamente tomei a decisão mais crucial da minha vida. Eu me joguei no abismo que se abria como a garganta de uma serpente para me engolir. Talvez eu não saísse dessa, mas me joguei assim mesmo, porque do alto da montanha a minha vida não fazia mais sentido.

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O calor suave da manhã nascente, com uma luminosidade dourada, entrava pela janela do meu quarto, convidando-me a levantar ou me obrigando a isso. Cambaleei até a janela no intuito de fechar-lhe as persianas, mas um ar revigorante invadiu minhas narinas, tornando-me desperta. Levantei mais cedo, pelo menos para alguém que está no fim das suas férias escolares do ensino médio, sete e quinze não é o horário mais oportuno para acordar. Havia um silêncio absurdo na casa, nada dos gritos de Sofhia, implorando-me para levá-la ao parque. Meu pai também não estava e nem mesmo o cheiro das torradas queimadas da minha mãe. Para onde foi todo mundo? Pensei. Mas a resposta apareceu diante do meu nariz, como se zombasse da minha memória. É claro, estão todos na casa de tio Luiz!

Da janela dava para ver Sofhia, que se deliciava com o vento que lhe batia no rosto, enquanto tio Luiz a empurrava em um balanço. Sofhia tinha seis anos e era a garotinha mais esperta deste planeta, tinha os cabelos em caracóis que lhe caíam nos ombros, dando-lhe o aspecto de boneca francesa, e com uns olhos grandes e curiosos costurados no rosto, Sofhia conseguia o que queria.

1 - Isa

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Corri até a casa de tio Luiz, que era vizinha a nossa e muito mais bonita. Havia um jardim contemplativo de acesso de pedestres e veículos, com percurso marcado pela grande laje de pedra que levava à porta. A fachada era quebrada em transparência, com janelas de vidro por toda parte, podendo-se ser visto antes mesmo de se tocar a campainha, algumas janelas estavam cobertas pelas cortinas de chenille e tergal, por isso a minha visão estava meio limitada. Na sala, vi meu pai, Thiago, de bruços sobre uma mesa de fórmica branca, olhando fixamente um copo com água à sua frente, e embora tivesse os cabelos grisalhos, sua aparência era bastante jovial. A minha mãe, Clarissa, andava de um lado para o outro na sala, com seu humor esfuziante e sorrindo quando Thiago a olhava. Os cabelos ondulados acima do ombro emolduravam seu rosto, tinham um tom caramelo como seus olhos, era uma figura exemplar, que se destacava em qualquer ambiente pela sua expressão leve e despreocupada. Clarissa também era a melhor professora de piano que eu já vira.

Tio Luiz irrompeu na sala de mãos dadas com Sofhia, usava calças com suspensórios, o que era um hábito. A impressão que qualquer um teria de Luiz Valença, era que ele seria o meu avô e, justamente por isso, é esquisito ter um filho da minha idade. O nome dele é Heitor Valença, e eu duvido que ele se lembre da mãe, pois também não me lembro: tínhamos menos de dois anos quando ela morreu.

Heitor era demasiadamente implicante quando criança e eu fazia questão de irritá-lo.

Na nossa infância, sempre passávamos as férias no sítio de vovó Ana. No quintal havia balanços e gangorras que ela mandou fazer para nós, era como um ponto turístico no céu, qualquer criança adoraria ir para lá. Toda a família se reunia, vovó fazia doce de leite no fogão à lenha e chamava a meninada com um assovio

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engraçado para rapar o tacho. Os meninos corriam rápidos e eu era sempre a última a chegar, mas eles abriam espaço para mim, menos Heitor, que fazia questão de roubar todo o montinho de doce que eu juntava. As colheres brigavam umas com as outras fazendo barulho, e eu normalmente levava uma colherada na mão e saía chorando alto. Vovó já sabia e separava uma tigela com um pouco de doce para mim, eu passava perto de Heitor zombando e ele fingia que não estava me vendo. E era sempre a mesma história, com bastante frequência implicávamos um com o outro.

Uma tarde brincávamos de esconde-esconde e era a minha vez de procurar. Depois de achar o Beto e o Juninho, corri até a varanda para procurar Heitor e notei que havia alguém deitado na rede, mas era volumoso demais para ser uma criança. Andei na ponta dos pés com um sorriso incomensurável nos lábios, somente minha avó tirava um cochilo naquela rede. Ah! Como eu amava vovó. Puxei a rede com as duas mãos e encontrei seu rosto de marfim estranhamente adormecido, tentei acordá-la, pedi que me ajudasse a achar Heitor, mas ela não me ouvia; nesse momento meus olhos escureceram, ela não estava dormindo. Comecei a chorar e a gritar para que acordasse. Por favor, vovó! Abre os olhos, por favor! Por favor!... Eu nunca mais vou deixá-la sozinha, por favor!... Eu puxava suas mãos desesperadamente tentando levantá-la, mas eu não era forte. Eu chorava mais alto como a implorar que mais uma vez ela viesse e me consolasse, mas o conforto não veio. Fui tirada dali por alguém que não pude ver, com as lágrimas nos olhos, e levaram-me para o quarto das crianças. Heitor também estava no quarto, foi a primeira vez que ele me deu um abraço e, por ironia do destino, agora era ele que enxugava minhas lágrimas.

Depois da morte de vovó, nunca mais voltamos lá. Sem ela aquele sítio não tinha o menor sentido, ainda tentaram me levar em janeiro, mas eu era uma criança teimosa, bati o pé e disse que

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nunca mais voltaria lá. Thiago foi sozinho, e acho que decidiram por vendê-lo, havia sempre muita gente interessada em comprá-lo.

Eu estava em frente à porta da casa, pronta para tocar a campainha, quando fui descoberta ali por tio Luiz, que acenou para mim. Depois de soltar a mão de Sofhia, ele caminhou com elegância até a porta de vidro. Fazia uma semana que tio Luiz tinha se mudado para Crisálida e eu me perguntava por que Heitor não veio com ele. Por que será que ele não vem? Ah, é melhor assim, quem sabe se ele não ficou ainda mais chato, eu só estou curiosa, poxa! Eu não o vejo desde a morte da minha avó.

— Entre, Maria Luisa, só estava faltando você! — Tio Luiz disse, abrindo a porta e quase cantarolando as palavras, enquanto Sofhia se jogava em um sofá de seda rústica.

— Não sabia que era importante nesta reunião, pensei que nem tivera sido convidada! —brinquei com tio Luiz. — Aliás, insisto que me chame só de Isa. — Tentei armar uma carranca.

— Então está explicado — ele parecia sério.— O quê?— O convite se perdeu, estava endereçado a alguma Maria

Luisa — zombou.Tio Luiz era teimoso e, por mais que eu o corrigisse, ele

sempre me chamaria de Maria Luisa. Primeiro porque ele achava que as pessoas deveriam ser chamadas pelo nome, segundo, foi ele quem deu a sugestão do nome aos meus pais quando nasci e, por fim, não é difícil adivinhar por que ele acha Maria Luisa Andrade um nome bonito.

Caminhei pela sala ampla e clara e posicionei-me ao lado de Sofhia, não tínhamos nenhuma semelhança, exceto pelos olhos claros herdados do meu pai, talvez o único adorno que eu possuía. Os cabelos, lisos e sem graça cor de mel, também era alta como

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Clarissa, disso podia me gabar, não era feia, mas perto dela ou de Sofhia eu era muito comum. O dia estava quente e eu usava um short jeans desbotado e uma camiseta branca.

— Isa, por que você demorou? — Sofhia estava impaciente e parecia ainda menor naquele vestido escarlate e cheio de ornatos em rendas que Clarissa insistiu que usasse. s— Sofhia, não seja tão curiosa! O Luiz já vai nos contar. — Thiago às vezes exagerava no sermão, mas perto de Clarissa parecia feito de açúcar, bastou um olhar dela para que ele pegasse Sofhia no colo e começasse a enrolar os dedos em seu cabelo. Meu pai adorava mesmo a minha mãe, não só porque ela era linda e carismática, isso tenho que admitir, mas também porque ela foi capaz de perdoá-lo de um pequeno deslize no passado.

— Luiz, a palavra é toda sua. — Clarissa falou com reverência, estava radiante, usava um vestido longo e solto que dançava em seu corpo quando o vento entrava pela janela. Eu entendia cada vez menos.

— Vou direto ao ponto.... — Tio Luiz olhou diretamente para Sofhia, a pobrezinha devia estar se contorcendo por dentro de curiosidade. — Quero dar uma festa de boas-vindas para Heitor!

— Viva! — Sofhia pulou no colo de Thiago. Será que ouvi direito? Heitor vem morar aqui, em Crisálida?

— Uma cidade do interior de Minas não parece atraente para quem se acostumou com a vida agitada de São Paulo! — Pelo menos, era o que eu achava.

— Você tem razão, Maria Luisa, foi muito difícil convencer Heitor, mas eu ainda não contei por que decidimos nos mudar... — Tio Luiz fez uma pausa e continuou. — A vida em São Paulo tem ficado muito perigosa, no último mês fomos assaltados duas vezes, a sorte é que não estávamos em casa e o curioso é que

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não levaram muita coisa de valor, mas semana passada Heitor foi agredido quando voltava para casa e, por fim, ele aceitou se mudar. Agora ele está se despedindo dos amigos, organizando toda a mudança.

— E quando será a festa? — Clarissa estava entusiasmada e fazia suas covinhas aparecer quando sorria.

— No próximo sábado Heitor chega às seis e a festa pode ser às oito, assim ele terá algum tempo para se preparar.

Eu não sei por quê, mas gelei um pouco ao ouvir isso.— A ideia da festa é ótima, assim ele pode fazer novos

amigos!Falamos sobre a festa por mais um tempo e depois fomos

para casa. Clarissa insistiu que eu e Sofhia comprássemos alguma roupa para a festa, eu disse que não era para tanto, mas ela ven-ceu. Liguei para minhas amigas e contei a novidade, então ficou decidido que depois do almoço iríamos às compras.

— Agora temos que comprar alguma coisa para Sofhia, — eu disse à Cíntia Paiva e Gabriela Nunes.

Cíntia tinha o cabelo preto e comprido, era magra como es-sas modelos de capas de revistas, mas não tinha assim tanta altura. Gabi era loira e tinha as maçãs do rosto naturalmente rosadas, tal-vez porque fosse muito faladeira e justamente a escritora do jornal da escola, eram muito tagarelas e fácil divertir-se perto das duas.

— Cadê Sofhia? — gritei assim que percebi que ela não estava segurando a minha mão.

— Olha ela ali, com a cara grudada no vidro! — Gabi divertiu-se com os modos de Sofhia.

— Parece que sua irmã já sabe o que levar — Cíntia tinha razão. Saímos da loja com a roupa do manequim que Sofhia fez questão de desnudar.

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O Vale das Borboletas

Ao terminar as compras, entramos em uma lanchonete e pedimos sorvete e alguma coisa para beliscar.

— Então, Isa, como é mesmo o nome de seu primo?— Heitor, Gabi — eu senti uma pontada no estômago ao

dizer seu nome, talvez eu estivesse mais ansiosa do que queria admitir.

— E como ele é? — ela me olhava fixamente, com os cotovelos na mesa e as mãos no queixo.

— Não sei, não o vejo há dez anos.— Nossa! São praticamente estranhos agora.— É, é quase isso — encolhi os ombros, esperando que ela

mudasse de assunto.— E por que não se viram mais? — Cíntia se interessou

pela conversa.— Bem, a gente só se via na casa da minha avó, depois

que ela morreu, meu tio Luiz recebeu uma proposta de emprego ainda mais longe da nossa cidade e nunca veio nos visitar. — A conversa continuou com o mesmo assunto, e as duas faziam-me perguntas que eu mal sabia responder, até que Sofhia chamou o garçom, aquela criaturinha era mesmo muito para frente.

— Pois não? — o garçom se aproximou de Sofhia com um sorriso matreiro.

— Você pode me trazer a conta? — ela gesticulou para o garçom e juntou as mãos na mesa. Ele abafou um riso e saiu, depois voltou entregando-me a conta.

Sofhia saiu emburrada da lanchonete, não era costume ser contrariada. Nos despedimos de Cíntia e Gabi e voltamos para casa. Depois de conversar um pouco com Clarissa, caí na cama e o cansaço do dia se aplacou em uma noite tranquila e sem sonhos.