serviço social e filosofia, das origens a araxá

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Nota: Este livro foi escaneado e corrigido por Norman P. J. Davis Jr., em agosto de 2005, para o uso exclusivo de pessoas com alguma deficienciavisual e sua distribuio ao pblico em geral, bem como para fins comerciais extritamente proibida pela lei brasileira de direitos autorais.As notas do texto foram postas entre colchetes para facilitar sua identificao.Para ir direto para o texto localize ***.ANTONIO GERALDO DE AGUIARSERVIO SOCIALE FILOSOFIADAS ORIGENS A ARAX Antonio Geraldo de Aguiar professor da Faculdade de Servio Social de Lins, onde coordena os trabalhos de Concluso de Curso e chefia o Departamento deFormao e Cultura. tambm professor e Chefe do Departamento de Educao na Faculdade de Cincia de Bauru. Tem atuado de maneira singular na rea de Servio Social,participando de encontros, reunies, congressos e simpsios, destacando-se por sua postura comprometida e comprometedora na linha da reconceituao e da prticajunto aos marginalizados. "Servio Social e Filosofia - das origens a Arax" o resultado final, publicado em livro, de "Servio Social no Brasil - ensaio crtico ao Documento deArax", que deu ao professor Geraldo o Ttulo de Mestre em Filosofia da Educao. O livro possui trs captulos, interligados pela seriedade no trato das questes pertinentes ao Servio Social e suas origens no Brasil: o primeiro abordao aparecimento da profisso, o segundo apresenta a questo do Desenvolvimento, assumido pelos profissionais como ideologia a nvel nacional e o terceiro analisaos pressupostos do Documento de Arax.SERVIO SOCIAL E FILOSOFIA DAS ORIGENS A ARAXCopyright do AutorCo-edio CORTEZ EDITORA / EDITORA UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba)Conselho editorial: Elyeser Barreto Csar Jos Luiz Sigrist Elias Boventura Hugo Assmann - editor executivoCapa: Jeronimo OliveiraCopidesque: Lenice BuenoProduo: Helen DinizReviso: Renato NicolaiNenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ouduplicada sem autorizao expressa do Autor e dos editores.Direitos para esta edioCORTEZ EDITORA / UNIMEPRua Banira, 387 - Tel.: (011) 864-0111CEP 05009 - So Paulo - SPImpresso no Brasil1982ANTONIO GERALDO DE AGUIARProf. das Escolas de Servio Social em Lins e Bauru; mestre em Filosofia da Educao pela UniversidadeMetodista de Piracicaba.SERVIO SOCIAL E FILOSOFIADAS ORIGENS A ARAXCORTEZEDITORAEDITORA w IMEPCIP-Brasil. Catalogao-na-PublicaoCmara Brasileira do Livro, SP Aguiar, Antnio Geraldo de.A227s O servio social no Brasil: das origens Arax / Antonio Geraldo de Aguiar. - So Paulo: Cortez: Piracicaba Universidade Metodista de Piracicaba, 1982. Originalmente apresentada como dissertao de mestrado Universidade Metodista de Piracicaba. Bibliografia. 1. Servio social - Brasil 2. Servio social - Brasil - Histria I. Ttulo. -82-1428 C D D-361.981ndices para catlogo sistemtico:1. Brasil: Servio social 361.9812. Brasil: Servio social: Histria 361.981 SUMRIOPREFCIO ......... 11INTRODUO ....... 13CAPTULO I - A IGREJA, O TOMISMO E O SERVIO SOCIAL ..........17A Igreja Catlica no Sculo XX . .......... 17 A Igreja Universal ................... 17 A Ao Catlica .................... 19A Igreja no Brasil ............................................... 20 A Formao do Laicato ........ 21 A Ao junto aos intelectuais e universitrios. Fundao das Faculdades Catlicas ................... 24 As relaes Igreja-Estado. A Liga Eleitoral Catlica ........... 25O Servio Social no Brasil - Fundao das Primeiras Escolas de Servio Social e Formao dos Assistentes Sociais ............. 28 Fundao das Primeiras Escolas de Servio Social ......... 29 Escola de Servio Social de So Paulo 29 Escola de Servio Social do Rio de Janeiro 29A Formao dos Assistentes Sociais e suas caractersticas ............ 31A Formao dos Assistentes Sociais e os Congressos de Servio Social 35A Formao do Assistente Social e a ABESS ........... 37Pressupostos Filosficos - Neotomismo ........ 39 Renascimento do Tomismo ....................... 39 A Filosofia de Santo Toms: Alguns Aspectos ................. 41 Cdigo de Malinas ................................... 43 Neotomismo no Brasil ......................... 44 Leonardo Van Acker ............................. 45 Alexandre Correa ..................... 46 Pe. Roberto Sabia de Medeiros - S. J. ................... 46 Pe. Leonel Franca - S. 1. ............................... 48 Pe. Eduardo Magalhes Lustosa - S. J. .......................... 50 Pe. Pedro Cerrutti - S. J. ............. 50 Jacques Maritain e o Humanismo Integral ...................... 51 Jacques Maritain e sua presena entre ns .................. 51 O Ideal Histrico .................. 53A Presena Norte-Americana no incio do Servio Social Brasileiro atravs do Neotomismo e Funcionalismo ............... 57 Programa de Bolsas de estudos ........... 57 A convivncia entre os postulados cristos e neotomistas e as tcnicas norte-americanas 60 A presena crist e os processos de Caso, Grupo e Comunidade 61 O Servio Social de Grupo e o neotomismo . .. ... .. . . ... 64CAPTULO II - SERVIO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO ........... 67Introduo ................. 67ONU - A Organizao das Naes Unidas e o desenvolvimento ............... 69O Desenvolvimento de Comunidade de 1945 a 1953 ................... 71 O Desenvolvimento e os Governos de Dutra (1945-1950) e o de Vargas (1950-1954) 71 O Servio Social nos Governos Dutra e Vargas 74Desenvolvimento de Comunidade de 1954 a 1967 ............. 76 Perodo de 1954 a 1960 ............ 76 Final do Governo de Vargas e o Governo de Caf Filho 76 O Governo de Juscelino Kubitschek e o Desenvolvimentismo 78 O Servio Social de 1954 a 1960 ........... 86Perodo de 1960 a 1967 .......... 91 Governo de Jnio Quadros, Joo Goulart e o Golpe de 1964 .......... 91 Governo de Jnio Quadros .......... 91 Governo de Joo Goulart .......... 93 Golpe de 1964 ............ 97O Servio Social de 1960 a 1967 ............. 98 O Desenvolvimento de Comunidade aps 1967 ......... 105 Algumas Caractersticas do Regime Militar de 1964 .......... 106 O Servio Social depois de 1967 ........... 109CAPITULO III - DOCUMENTO DE ARAX: SEUS PRESSUPOSTOS 110Apresentao e Sntese do Documento de Arax ......... 110 Apresentao do Documento de Arax ......... 110 Sntese do Documento de Arax .......... 110Fatos e acontecimentos da histria brasileira e a do Servio Social na poca do Documento de Arax .......... 117 Fatos e acontecimentos da histria brasileira na poca do Documento de Arax - Governo Castelo Branco ................ 117 Fatos e acontecimentos do Servio Social na poca do Documento de Arax - A reconceituao do Servio Social ........ 119 Anna Augusta de Almeida .......... 121 Ezequiel Ander-Egg ....... 121 Herman Kruse .......... 123 Myrtes de Aguiar Macedo ....... ........ 123 Teresa Porzecanski ......... 124 Jos Paulo Neto ..................... 124Documento de Arax: Anlise Crtica ......................... 125 Viso de Homem ................ 128 Necessidade de conhecer a realidade .............. 129 O Desenvolvimento e os conceitos de Participao, Conscientizao Promoo e Desenvolvimento 131 Conscientizao e Desenvolvimento 133 Integrao e Desenvolvimento 134 Participao e Desenvolvimento ................. 136 Proposta de Modelo de Desenvolvimento ........... 138 Natureza do Servio Social 140CONCLUSO ..................................... 144BIBLIOGRAFIA ........... 147A Jos e Rosa, meus pais.A Giselda, minha esposa, pelo apoio, presena e incentivo para que este trabalho se concretizasse.A Carolina, Virgnia e Janana, minhas trs meninas.A todos que foram e so meus alunos na Faculdade de Servio Social de Lins.AGRADECIMENTOS Este trabalho, originalmente, foi apresentado Universidade Metodista de Piracicaba, como dissertao de Mestrado em Filosofia da Educao, fruto do incentivoe da colaborao de muita gente a quem quero agradecer. Ao Prof. Dr. Jos Luiz Sigrist, pela orientao e amizade manifestada durante todo o tempo em que convivemos, bem como pelo incentivo para que publicssemosnosso trabalho. Ao Dr. Hugo Assmann e Dra. Nobuco Kameyama pela anlise e crticas feitas ao nosso trabalho como membros da Banca Examinadora. Aos professores do Centro de Ps-Graduao da Universidade Metodista de Piracicaba: Prof. Dr. Dermeval Saviani, Prof. Dr. Geraldo de Oliveira Tonaco, Prof.Dr. Antonio Joaquim Severino e Prof. Dr. Jos Luiz Sigrist, pela maneira estimulante com que desenvolveram suas aulas. Aos professores da Faculdade de Servio Social de Lins pelo apoio e pela disponibilidade em assumir em 1979 tarefas nossas para que pudssemos mais de pertonos dedicar ao trabalho. De modo particular Profa. Maria Stela Lemos Borges. Ao Pe. Jos Oscar Beozzo pela colaborao e sugestes. Faculdade de Servio Social da PUC de So Paulo, Cria Arquidiocesana de So Paulo, Faculdade de Servio Social de Lins e Associao Brasileira deEnsino de Servio Social - ABESS, por nos possibilitarem acesso a seus arquivos. Ao CBCISS pelo acesso sua biblioteca e pela colaborao manifesta pelos seus funcionrios. A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a elaborao do presente trabalho. *** INTRODUO O presente trabalho se originou de questionamentos feitos por nossos alunos na Faculdade de Servio Social de Lins, que constantemente nos solicitavam umareflexo que pudesse ajud-los numa melhor compreenso de sua prpria profisso. A partir desses questionamentos decidimos analisar o Documento de Arax. Explicitaros seus pressupostos bsicos, contribuir com os assistentes sociais atravs de um instrumento crtico sobre um dos documentos que embasam sua teoria e prtica econtribuir para a reflexo de nssos alunos da Faculdade de Servio social de Lins, foram os objetivos que assumimos. Nossa preocupao central sempre foi a anlise do Documento de Arax, buscando explicitar em que bases ideolgicas se assenta o Documento e a que realidadea proposta atende. Partimos do pressuposto de que o Documento de Arax tem por base o neotomismo e o desenvolvimentismo. O primeiro, marcando a visode hmem do documento e o segundo justificando sua interveno num dado momento histrico de nossa poltica e economia. Tendo em vista aviso de sociedade homognea - onde deve prevalecer a unio das classes e no as contradies - e a percepo de um homem ideal,universal e a-histrico como medida de aferio do real, vemos que o documento se insere dentro de uma ideologia liberal. Para realizarmos essa anlise, sentimosnecessrio retomar os fatos e acontecimentos que marcaram a vida do Servio Social brasileiro, bem como as conexes desses fatos com a histria brasileira. Essabusca no passado, para que melhor pudssemos explicitar os pressupostos do documento, acabou ampliando os horizontes iniciais de nossa pesquisa. Analisando o ServioSocial desde a dcada de 30 at 1967, chegamos anlise do documento. Para encontrar respostas s nossas indagaes, realizamos umapesquisa bibliogrfica. As fontes bsicas de consulta foram textos escritos: artigos de revistas, anais de congressos, relatrios, livros e outras publicaes. Realizamostambm, informalmente, entrevistascom vrias assistentes sociais que vivenciaram etapas importantes da vida do Servio Social. A partir do material levantado, procuramosbuscar as conexes dos fatos vivenciados pelos assistentes sociais protagonistas da histria da profisso, buscando sua significao. O resultado de nossa reflexo apresentado em trs captulos. No primeiro captulo, A Igreja, o Tomismo e o Servio Social, a preocupao p. 15foi mostrar o surgimento do Servio Social brasileiro atrelado ao projeto de reforma social da Igrja Catlica, bem como a presena doneotomismo, marcando sua viso de hmem e de sociedade; e o Humanismo Integral de Jacques Maritain, que dar suporte idelgico suaprtica social no sentido de reconstruir a ordem social. Analisamos tambm a influncia europia e norte-americana no ServioSocial brasileiro. No segundo captulo, Servio Social e Desenvolvimento, buscamos mostrar o atrelamnto do Servio Social ideologiadesenvolvimentista. Veremos que o assumir dessa ideologia pelo Servio Social se deu atravs da ao desenvolvida pela Organizaodas Naes Unidas e pelas posies de diferentes governos brasileiros. Essa ideologia se caracterizar por interveno deliberada do Estado, no sentido de buscar o crescimento econmico, rompendoos quadros do subdesenvolvimento. ssa ao deve processar-se de forma gradual e equilibrada, isto , sem romper as bases da civilizaoocidental e crist e conseqentemente desenvolver o sistema capitalista. Procuraremos mostrar nesse captulo como se deu a articulaoentre o projeto global da sociedade brasileira e a ao do Servio Social, no sentido de colocar-se a servio dessa ideologia. Os doisprimeiros captulos servem para mostrar, atravs do fazer-se da histria do Servio Social, os pressupostos que o Documento de Araxassume. No terceiro captulo, Documento de Arax: seus pressupostos, buscamos situar o documento dentro do processo de reconceituaodo Servio Social e o momento histrico que era o da implantao do regime militar, oriundo do golpe de 1964, bem como procuramosrealizar uma anlise interna e uma crtica do prprio documento. Quando da escolha do tema deste trabalho, uma preocupao esteve presente: qual o sentido de abordarmos hoje o tema que escolhemos? Qual a sua contribuio?Hoje constatamos a presena de assistentes sociais e escolas de Servio Social manifestando uma crescente preocupao no sentido de buscar um instrumental de intervenoque possibilite um Servio Social mais comprometido com as classes populares nas instituies - local tradicional do trabalho dos assistentes sociais - e principalmentenos trabalhos comunitrios. Essa busca implica um questionamento dos pressupostos que at hoje nortearam a prtica e a teoria do Servio Social. Vemos hoje vriostrabalhos no sentido de explicitar esses pressupostos, na caminhada da profisso em sua curta histria entre ns. H trabalhos concentrando sua preocupao numaanlise terica desses elementos bsicos, outros buscando uma anlise a partir da prtica desenvolvida pelo Servio Social. Gradativamente se consolida uma Teoriado Servio Social. Acreditamos que nosso trabalho possa ser uma contribuio no sentido de clarificar alguns aspectos dessa caminhada do Servio Social, motivaro debate crtico dos diferentes documentos, como o de Arax, que serviram ou servem de base para muitos profissionais do Servio Social. p. 16 CAPTULO I A IGREJA, O TOMISMO E O SERVIO SOCIAL A IGREJA CATLICA NO SCULO XX A IGREJA UNIVERSAL Para entendermos o surgimento das escolas de Servio Social no Brasil - que est ligado ao da Igreja Catlica - parece-nos importante uma colocao rpidasobre as posies da Igreja em nosso sculo, e, em particular, nas primeiras dcadas. De maneira especial, suas posies com relao questo social. So colocaesque tero por base os documentos do Magistrio Eclesistico que, no final do sculo passado e incio deste, foram respostas aos problemas vividos essencialmentepela Europa. Essas posies sero mais tarde assumidas pelas igrejas dos demais continentes. No sculo XIX, na Europa, os operrios viviam, em grau extremo, a misria e a explorao decorrentes da industrializao e desenvolvimentodo capitalismo. Essa situao d uma grande dimenso questo social, 1, levando a Igreja a se posicionar. Esta via a pocacomo de grande crise, de decadncia da moral e dos costumes cristos. Essa situao decorre - segundo a Igreja - do liberalismo e docomunismo. Tendo em vista sua misso - encaminhar o homem conquista da felicidade eterna - ela intervm na situao que dedesordem e que impede as pessoas de cumprir sua tarefa de dar glria a Deus, dadas as condies em que viviam. [ 1. A questo social decorre do problema social. E este, no dizer de Van Gestel, "se refere s perturbaes que agitam o corpo social, isto , aos diversosproblemas concretos suscitados pela evoluo e os desequilbrios da vida social. Neste sentido, o problema social diz respeito patologia da vida social". G. VanGestel, A Igreja e a Questo Social, p. 20. ] A Igreja, a partir do final do sculo XIX, comea uma interveno mais clara e definida no social. De incio, tem-se a promulgao p. 17da Encclica Rerum Novarum, que vai chamar a ateno da Igreja Universal e do mundo 2 sobre a situao operria e mostrar sua tarefa e contribuio. E o faz afirmando"... que, a no se apelar para a religio e para a Igreja, impossvel encontrar-lhe uma soluo eficaz". E " a Igreja, efetivamente, que haure do Evangelhodoutrinas capazes ou de pr termo ao conflito ou ao menos de o suavizar, expurgando-o de tudo o que ele tenha de severo e spero ..." 3. [ 2. A Encclica dirigida Igreja Universal, mas responde aos problemas europeus. 3: Leo XIII, Encclica Rerum Novarum, n 10, p. 15. ] E Leo XIII, em sua encclica, aponta como causa da situao trgica e decadente o liberalismo e o socialismo. E preconiza a interveno do Estado como soluopara o problema operrio. Afirma o Papa: "Assim, como, pois por todos os meios, o Estado pode tornarse til s outras classes, assim tambm pode melhorar muitssimoa sorte da classe operria, e isto em todo rigor do seu direito, e sem ter a temer a censura de ingerncias; porque, em virtude mesmo do seu ofcio, o Estado deveservir o interesse comum". 4. [ 4. Leo XIII, Encclica Rerum Novarum, n 20, p. 29. ] Contrapondo ao socialismo, o Papa afirma que o que deve existir a concordncia das classes e no a luta entre elas. Diz Sua Santidade: "O princpio primeiroa pr em evidncia, que o homem deve aceitar com pacincia a sua condio; impossvel que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nvel". E continuaafirmando: "O erro capital na questo presente crer que as duas classes so inimigas natas uma da outra, como se a natureza tivesse armado os ricos e os pobrespara se combaterem mutuamente num duelo obstinado". Aps a condenao desse erro, o Pontfice diz: "... as duas classes esto destinadas pela natureza a unirem-seharmonicamente e a conservarem-se mutuamente em perfeito equilbrio". 5. [ 5. Ibid., n 11, p. 16-17. ] Dentro de uma ao de Igreja, o Papa pede aos operrios catlicos que se associem. E diante da situao, afirma: "lembrem-se todos de que a primeira coisaa fazer a restaurao dos costumes cristos ..." 6. [ 6. Ibid., n 37, p. 51. ] Restaurao dos costumes, reforma social, estas idias sero bandeiras dos cristos nessa poca e tambm tema da Encclica de Pio XI, quarenta anos apsa Rerum Novarum, isto , em 1931. O subttulo do referido documento "Sobre a Restaurao e Aperfeioamento da Ordem Social em conformidade com a lei evanglica".Aps analisar vrios pontos, como direito propriedade, relao capital e trabalho, liberao do proletariado, salrio justo, passa a falar a respeito da restauraoda ordem social. E afirma: "J alguma coisa se faz neste sentido; para realizar o muito que ainda est por p. 18fazer e para que a famlia humana colha vantagens melhores e mais abundantes, so de absoluta necessidade duas coisas: a reforma dasinstituies e a emenda dos costumes". 7. [ 7. Pio XI, Encclica Quadragesimo Anno, n 77, p. 33. ] preciso erradicar o individualismo gerado pelo tipo de economia liberal e impedir o crescimento do comunismo, que foi condenado solenemente por Pio XIna Encclica Divini Redemptoris, de 1937. preciso reconstruir a sociedade. Essa reconstruo implica mudana da moral, dos costumes. preciso recristianizar asociedade. Respondendo aos apelos dos diferentes pontfices, os catlicos, atravs de determinados grupos e, de incio muito mais na Europa, organizam-se para umaluta contra 'a situao operria, procurando atravs de sua ao reconstruir a sociedade'. Trata-se de reconstruir, pois as bases fundamentais da sociedade noeram questionadas, hajam vista todas as diretivas de obedincia autoridade 9 e todas as afirmaes referentes harmonia entre as classes. [ 8. Antes mesmo da Rerum Novarum, muitos prelados e cristos tinham uma ao social. Por exemplo: na Alemanha, D. Ketteler, que era chamado "o bispo combativo",escreveu a grande obra A Questo Operria e o Cristianismo. Na Sua, vamos encontrar D. Mermillod e um estadista, Gaspar Decutins. D. Mermillod foi atuante, viajoumuito e presidiu a Comisso de Estudos criada em 1882, por Leo XIII. Dessa comisso surgiu a Unio de Friburgo. Os estudos da referida comisso ajudaram muito naelaborao da Rerum Novarum. Na Frana, encontramos Lon Harmel, Tour da Pin, Albert de Mun. Na Inglaterra, o cardeal Henry-Edward Manning. Na Holanda, Schaepman,Ariens, Alberse, Poels. Na Blgica, Edouard Ducptiaux, Helleputte e Pe. Pottier. (Cf. Van Gestel, G., A Igreja e a Questo Social, p. 85-99.) 9. Encontramos referncias ao respeito autoridade nos documentos Immortale Dei (1885), Sapientia Christiana (1890) e Quod Apostolici (1878), de Leo XIII;Mirari' (1832), de Gregrio XVI e Divini Illius Magistri (1829), de Pio XI. ] Apesar dessa postura de no questionamento das estruturas (por parte da igreja institucional), foi grande a repercusso dos documentos papais e do episcopadoe da ao organizada pelos cristos, a ao voltada para a organizao operria e luta por uma legislao social. A ao da Igreja se desenvolve de maneira criativa na Holanda, Frana, ustria, Alemanha, Blgica e outros pases. A ao da Igreja resulta nas SemanasSociais; nas organizaes catlicas para operrios, agricultores, profisses liberais, escolas. Vrias personalidades surgem dentro do episcopado, do magistrio,dos advogados etc. A AO CATLICA Dentro da ao da Igreja, a Ao Catlica outro movimento. Mas um movimento fundamental. Um movimento de leigos. A Ao Catlica no dizer de Pio XI "... a participao do laicato no apostolado p. 19hierrquico da Igreja"10. A Ao Catlica tem como misso a divulgao da doutrina da Igreja em vista reforma social. Com relao a isto, ouamos Pio X: "Venerveisirmos, o carter, o objeto e as condies da Ao Catlica, considerada em sua parte mais importante, qual da soluo da questo social, digna de que a ela todas as foras catlicas se congreguem com denodo e constncia grandssimos". 11. E Pio XI: "Alm do apostolado individual, quase sempre oculto, mas sobremaneiratil e eficaz, cabe Ao Catlica fazer, com a propaganda oral e escrita, larga difuso dos princpios fundamentais que sirvam para a constituio duma ordem socialcrist, de acordo com os documentos pontifcios". 12. [ 10. PIO XI, "Discurso s Associaes Catlicas de Roma", in SALIM, Emlio, Justia Social, p. 32. 11. PIO X, Encclica II Formo Proposito, p. 19, p. 15. 12. PIO XI, Encclica Divini Redemptoris, n 66, p. 34. ] Portanto a A.C., como baluarte do apostolado da Igreja, deve engajar-se seriamente na reconstruo da sociedade (sem participar da poltica partidria enquantomovimento). Um dos instrumentos que a Igreja utilizou para propagar sua doutrina social foi a escola catlica. Pio XI, entre suas encclicas, dedicou uma delas questo da educao. Nessa encclica, diz: "Tudo o que fazem os fiis para promover e defender a escola catlica para seus filhos, obra genuinamente religiosa,e por isso especialssimo dever da "Ao Catlica", pelo que so particularmente caras ao nosso corao paterno e dignas de grandes encmios aquelas associaesespeciais que, em vrias naes, com tanto zelo, se dedicam a obra to necessria". 13. [ 13. PIO XI, Encclica Divini Illius Magistri, n 85, p. 34. ] Dessas rpidas colocaes, da Igreja Universal, inclusive da Ao Catlica, percebemos que a preocupao da Igreja se coloca na perspectiva de uma reformada sociedade (retorno ao ideal da Idade Mdia), dada a decadncia da moral e dos costumes, produzida pelo liberalismo e comunismo. A IGREJA NO BRASIL O Servio Social no Brasil, como veremos, fruto da ao desenvolvida pela Igreja no campo social. Para que possamos entender as posies iniciais do ServioSocial brasileiro, que apresentaremos agora, numa sntese, as posies assumidas pela Igreja no Brasil, principalmente nas primeiras dcadas do nosso sculo. A Igreja brasileira aos poucos coloca em prtica as diretrizes dos Papas Leo XIII, Pio X e Pio XI. Constatamos nos documentos papais vindos luz no final do sculo passado e incio deste, que a preocupao fundamental da Igreja concentra-se na reformasocial, na restaurao da sociedade crist, e essa ser a preocupao do episcopado brasileiro. Dentro do p. 20episcopado nacional, salientamos o Cardeal Arcoverde, no Rio de Janeiro, D. Duarte Leopoldo e Silva, em So Paulo, D. Becker, no Rio Grande do Sul e de maneiraespecial o Cardeal Leme, no Rio de Janeiro - primeiro como administrador apostlico e depois como cardeal-arcebispo. Nesse perodo, ser marcante a atuao e a presenade D. Leme, dada a sua capacidade de liderana e a de ser bispo na ento capital da Repblica. Ter papel relevante na organizao do catolicismo no Brasil, bemcomo na atuao junto ao governo civil. Irm Maria Regina do Santo Rosrio, em seu livro O Cardeal Leme, mostra-nos D. Leme numa doao total causa da Igreja, uma fidelidade sem vacilao aoPapa, um profundo amor Ptria e uma viso muito grande de seu tempo. Brasilidade e catolicismo vo andar sempre juntos na atuao do cardeal. Dentro da preocupao da recristianizao da sociedade, D. Leme se preocupar com a formao do laicato, a conquista dos intelectuais, a criao da UniversidadeCatlica do Rio de Janeiro e aproximao com o governo. Essa aproximao merecer toda uma estratgia, pois desde a proclamao da Repblica h separao entre Igrejae Estado. Centraremos nossas colocaes em torno de D. Leme, dado o papel relevante que desempenhou na Igreja Catlica brasileira. D. Leme inicia uma ao marcante, podemos dizer, com sua Carta Pastoral de 1916, quando de sua posse no Arcebispado de Olinda, apesar de seus trabalhos jdesenvolvidos como padre em So Paulo e como bispo-auxiliar no Rio. Na referida carta, analisa a situao do Brasil do ponto de vista religioso. Mostra a ignornciae acomodao por parte dos catlicos, a ausncia da religio nas instituies, a ignorncia religiosa dos intelectuais brasileiros, a falta de organizao temticadas homilias e outros pontos. Aps salientar a situao, prope um plano de ao que procurar concretizar durante toda sua vida. FORMAO DO LAICATO D. Leme - como outros bispos - se preocupa em formar o laicato. De incio, essa formao se dar pela Confederao Catlica. D. Leme a fundar em Olindae no Rio de Janeiro. Mas, antes dessas duas, a Confederao Catlica j existia em So Paulo, fundada por D. Jos Camargo de Barros e dinamizada por D. Leme, quandopadre na capital paulista. Essa Confederao ter apoio e incentivo de D. Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de So Paulo e que organizou em 1911 o 1 Congressoda Confederao Catlica. No Rio de Janeiro, a fundao da Confederao Catlica se d em 08/12/1922 (Reunio inaugural a 27 de janeiro de 1923), tendo como objetivo coordenar e disciplinaro apostolado da Igreja. D. Leme "via nela a promessa de uma soluo de um problema vital: a transformao dos nossos catlicos, sinceros mas inoperantes, num exrcito p. 21conquistador, que sob as ordens da hierarquia, se lanasse ao combate pelo reino de Cristo". 14. No momento inicial a preocupao estar concentrada na formaodos chefes. [ 14. SANTO ROSRIO, Irm Maria R. do, O Cardeal Leme, p. 144. ] A Confederao cresce e, para comemorar os 5 anos de fundao, realiza a Semana de Ao Catlica, de 7 a 22 de outubro de 1928. Essa realizao teve, numprimeiro momento, a preocupao de formao e reviso dos trabalhos e, num segundo momento, colocaes sobre a Ao Catlica onde D. Leme a define, com Pio XI, como"a co-participao do laicato no apostolado sacerdotal, pelo reinado de Jesus Cristo". 15. E tambm nessa semana mostra que para reformar a sociedade preciso sersanto. [ 15. Ibid., p. 196. ] O trabalho desenvolvido junto juventude feminina levou realizao de um curso de 1 de julho a 12 de agosto de 1932, ministrado por Mademoiselle Cristinede Hemptine, Presidente Internacional da Juventude Feminina Catlica. Do curso constavam assuntos de Doutrina Social da Igreja e sobre Ao Catlica. Mostrou o "esforotitnico dos catlicos europeus pela recristianizao da sociedade em perigo - esforo expresso em atividades de toda ordem: culturais, familiares, pedaggicas,econmico-sociais e parapolticas". 16. O referido curso ter uma participao intensa, em cujo perodo temos a Revoluo Constitucionalista de 1932, em So Paulo,e que repercutir sobre o nimo dos seus participantes. Mademoiselle Hemptine ter papel marcante no incio de nosso servio social. [ 16. Ibid., p. 306. ] Esse curso ter sua repercusso com o surgimento do primeiro agrupamento de Ao Catlica, no Rio de Janeiro, sob o ttulo de Juventude Feminina Catlica. Todo esse trabalho, da Confederao, da Juventude Feminina Catlica, bem como o que desenvolveu junto aos intelectuais e universitrios e outros tantos queD. Leme vai desenvolvendo como bom estrategista, a antecipao da Ao Catlica preconizada por Pio XI. Sentindo j em Pio X a semente da Ao Catlica, o cardealpercebe a importncia da colaborao dos leigos com a hierarquia e cria todos esses movimentos que produzem uma ao concreta na sociedade brasileira. Pio XI, comoj vimos, atravs de suas encclicas, entre elas Ubi Arcano Dei e Qua Primas "denunciava o que se poderia chamar o estado de "beligerncia moral" do mundo contemporneo:inimizades entre os povos, discrdias intestinal das naes, luta de classes e, por fim, a prpria clula da sociedade contaminada pela paulatina desagregao daFamlia". 17. E a causa fundamental a excluso de Deus. O Papa via a Igreja como nica fora capaz de salvar o mundo. Dentro dessa situao e luz de alguns telogos p. 22da poca, descobre-se a tarefa dos leigos dentro do apostolado hierrquico. E esta a caracterstica bsica da A.C.: apostolado dos leigos. [ 17. Ibid., p. 299. ] Pio XI, atravs das encclicas dirigidas Igreja Universal, bem como das dirigidas a vrios pases, exige a criao da Ao Catlica. A D. Leme e ao episcopadobrasileiro, Pio XI dirige a Carta Apostlica Quamvis Nostra. No Brasil, a oficializao da Ao Catlica dar-se- a 9 de junho de 1935, Domingo de Pentecostes. Nessedia, os bispos brasileiros promulgam em suas dioceses os estatutos da Ao Catlica Brasileira que tm por base o modelo italiano. A Ao Catlica tem uma organizao que compreende: Homens da Ao Catlica (H.A.C.) para maiores de 30 anos e os casados de qualquer idade; Liga Feminina de Ao Catlica (L.F.A.C.) para maiores de 30 anos e casadas; Juventude Catlica Brasileira (J.C.B.); Juventude Feminina Catlica (J.F.C.). Onde a Confederao Catlica estivesse presente, os movimentos nela congregados passariam a ter ligaes com a Ao Catlica Brasileira. Na direo, a AoCatlica contar com a Comisso Episcopal da Ao Catlica, Junta Nacional da Ao Catlica e Conselho Nacional da Ao Catlica. O cardeal impulsiona a Ao Catlica em sua diocese, bem como orienta o nascimento da Ao Catlica Brasileira. Nos comentrios dos estatutos da A.C.B.,explicita: " organizao ou quadro oficial - da participao dos leigos no apostolado hierrquico d-se o nome de Ao Catlica Brasileira. Seu objetivo imediato formar o laicato catlico para colaborar na misso sublime da Igreja - salvar as almas pela cristianizao dos indivduos, da Famlia e da Sociedade. Formar conscincias"primorosamente crists", diz Pio XI, " o primeiro esforo. da Ao Catlica que, antes de mais nada, educativa". 18. A preocupao de formao da Ao Catlicacentrar-se- nas elites. Na medida em que estas estiverem preparadas, sero capzes de influenciar na vida social. A reforma da sociedade viratravs das elites, logo, decima para baixo. As-elites devem cristianizar o povo. [ 18. SANTO ROSRIO, Irm Maria R, do, O Cardeal Leme, p. 338. ] Haver mais tarde a incluso de sees da J.E.C. (Juventude Estudantil Catlica) e J.O.C. (Juventude Operria Catlica), na Juventude Feminina Catlica eda J.E.C., J.O.C. e J.U.C. (Juventude Universitria Catlica), na Juventude Catlica Brasileira. A Ao Catlica tambm se desenvolver em So Paulo. Assim como no Rio de Janeiro, vrios organismos antecedem a Ao Catlica. Em 1932, sob a direo deD. Duarte Leopoldo e Silva, nasce o CEAS, Centro de Estudos e Ao Social. O grupo dirigente do p. 23CEAS que ter a tarefa de organizar na capital paulista a Ao Catlica. O desenvolvimento da Ao Catlica tambm foi uma preocupao de D. Jos Gaspar, quando bispo-auxiliar de So Paulo e depois comoarcebispo. Essa preocupao de D. Gaspar apresentada por V. S. Vasconcelos em sua obra Histria da Provncia Eclesistica. Essa preocupao encontramos tambm numa circular do arcebispo e dos bispos sufragneos de 1942, em que se d cincia dacriao da Comisso Provincial da Ao Catlica e se afirma a respeito da mesma: "A organizao oficial da Ao Catlica em nossaprovncia grave dever que nos incumbe, falou a Santa S em termos claros e peremptrios". E sobre a Ao Catlica diz: "A.C. arregimentaodas foras catlicas para campanha espiritual da cristianizao do mundo". 19. [ 19. PROVINCIA ECLESISTICA DE SO PAULO, Circular do ArcebispoMetropolitano e Bispos Sufragneos 26/11/1942, p. 28. ] Conforme outra circular de 25/03/1943, constatamosa programao de semanas de estudos sobre Ao Catlica previstas para maio e junho do referido ano. A circular inicialmentecritica aqueles que apenas falam sobre a Ao Catlica e nada fazem. E, em seguida, apresenta o esquema das semanas de estudos. O temacentral ser "Urgncia e Necessidade da Ao Catlica". O esquema bsico: [ 19. PROVINCIA ECLESISTICA DE SO PAULO, Circular do Arcebispo Metropolitano e Bispos Sufragneos 26/11/1942, p. 28. ] "a) Para a soluo da nossa ordem social os antigos mtodos so insuficientes. Prova-se pelos documentos pontifcios e pela experinciaquotidiana no exerccio do apostolado. b) A instalao da Ao Catlica, em todas as parquias, uma questo de zelo e obedincia, no facultativa, masobrigatria". 20. [ 20. ARCEBISPADO DE SO PAULO, Circular do Sr. Arcebispo Metropolitano sobre as prximas Semanas de Estudos da AoCatlica, 25/03/1943. ] AO JUNTO AOS INTELECTUAIS E UNIVERSITRIOS. FUNDAO DAS FACULDADES CATLICAS Um outro trabalho desenvolvido por D. Leme e que ter repercusso nacional o desenvolvimento junto aos intelectuais e universitrios. Existiam alguns nomes,mas ele desejava gente mais nova que pudesse entender seu tempo. Jackson Figueiredo ser o primeiro com quem D. Leme conta. Este, em 1921, funda a revista A Ordemque "visava o combate de toda forma de rebelio, quer esta se manifestasse no campo filosfico ou literrio, no da tica ou das instituies (...) Tinha umafinalidade de formao religiosa e uma inteno poltica, no propriamente partidria, mas prtica, como diria mais tarde Tristo de Atade". 21. [ 21. SANTO ROSRIO, irm Maria R, do, O Cardeal Leme, p. 180. ] Em 1922, Jackson, com Perilo Gomes e Hamilton Nogueira, funda o Centro D. Vital, destinado a penetrar no meio intelectual p. 24atravs de bibliotecas e publicao de livros selecionados. Aps a morte de Jackson, o centro ser dirigido por Alceu Amoroso Lima. Este grupo foi crescendo. Alm de estudos, debates e ao, rezavam juntos. Tanto a revista como o Centro D. Vital exercem influncia fundamental em seu tempo, quer atravs do engajamento, quer na conquista da intelectualidadebrasileira. D. Odilo Moura afirma: "A obra cultural catlica do Centro D. Vital foi, em nossa Ptria, a maisfecunda e a mais extensa realizada nos meios intelectuais, jamais ultrapassada por outra;D. Leme pde, com exatido, escrever mais tarde: "O Centro D. Vital a maior afirmao da inteligncia cristno Brasil". 22. E o prprio D. Odilo, em seu livro Idias Catlicas no Brasil, informa-nosque, em 1942, havia filiais do Centro D. Vital nas seguintes cidades: So Paulo, Recife, Porto Alegre, Aracaju,Fortaleza, Juiz de Fora, So Joo del Rey, Itajub, Ouro Preto, Diamantina e Campos. [ 22. MOURA, D. Odilo, Idias Catlicas no Brasil, p. 119. ] Dentro dessa trilha, temos em 1929, com Tristo de Atade, a Fundao da Ao Universitria Catlica - AUC. Com essa fundaotemos "sangue novo presente no laicato catlico. Nos diversos debates nas faculdades, os aucistas se posicionam claramente numaperspectiva religiosa. Enfrentam srios debates com os estudantes comunistas. De 1932a 1933, circular a revista A Vida, dos universitrios. No desenrolar da vida e da ao do Centro D. Vital, teremos em 1932 a fundao do Instituto Catlico de Estudos Superiores,com cursos de Filosofia e Sociologia. Este instituto contar entre outros com Pe. Leonel Franca e Tristo de Atade e ser a sementeda futura universidade catlica, preocupao de D. Leme desde o incio de seu episcopado,o que se concretiza na dcada de 40. A 1 de janeiro de 1940, com Alceu Amoroso Lima e Pe. LeonelFranca, iniciam-se os preparativos. A 30 de outubro do mesmo ano, sai o decreto autorizando a Faculdade de Direito e Filosofia e,em 15/03/1941, d-se a instalao solene das faculdades catlicas. A criao de uma universidade catlica tambm foi a preocupao de D. Duarte Leopoldo e Silva que deseja a instalaode uma universidade em So Paulo. Essa preocupao era compartilhada pelo episcopado nacional, que no Conclio Plenrio Brasileiro de 1938aponta a criao da universidade catlica como uma necessidade. AS RELAES IGREJA-ESTADO. A LIGA ELEITORAL CATLICA Dentro da recristianizao da sociedade, uma questo fundamental para a Igreja no Brasil ser o das relaes com o Estado. Tendoem vista a separao Igreja-Estado desde a Proclamao da Repblica, p. 25o episcopado nacional procura formas de aproximao. Essa tambm uma preocupao de D. Leme, que vai estar presente na Revoluo de 1930. Embora a posio ao episcopadono fosse unnime com relao revoluo e a Vargas, a Igreja se depara com um dever: aproveitar a mudana de regime para conseguir que se dessem vida nacionalmoldes cristos, como afirma Irm Maria Regina do Santo Rosrio. no fundo uma preocupao de definir o lugar da Igreja dentro da nova ordem. D. Leme aproveitar todos os momentos para mostrar a importncia dos catlicos na vida do pas. Far isto nas reunies, nos congressos etc. Vejamos, entreoutros, alguns exemplos. No Congresso Eucarstico da Bahia, D. Leme enfatiza a importncia da ao dos catlicos, no sentido da construo de uma ptria crist.Em 1935, quando da intentona comunista, D. Leme "via que a urgente obra recristianizadora exigia no s a intensificao do movimento religioso em geral e da AoCatlica em particular ..." E "era da autoridade dos Pastores, da unidade e eficincia de sua ao, do seu contactocom o povo cristo que poderiam vir as normas salvadoras da tormenta". 23. [ 23. SANTO ROSRIO, Irm Maria R. do, O Cardeal Leme, p. 359-360. ] Nessa perspectiva de recristianizao da sociedade, o episcopado se utilizar de grandes concentraes, que tero tambm a finalidade de buscar uma aproximaocom o governo. Diz Pe. Jos Oscar Beozzo que o cardeal e o episcopado utilizaro de grandes concentraes populares "a fim de pressionar o Governo Provisrio nosentido de atender as reivindicaes catlicas e impedir que o mesmo se incline para a esquerda". 24. D. Leme foi sempre um respeitador da ordem e da autoridade.Independente do regime ou do tipo de presidente, um contato sempre foi procurado, visando a influenciar para fazer uma ordem social crist. E muitas realizaesaconteceram, dada a organizao do seu exrcito laical. [ 24. BEOZZO, Pe. Jos Oscar, A Igreja entre a Revoluo de 1930, o Estado Novo e a Redemocratizao, p. 28. ] Vejamos alguns movimentos desenvolvidos em carter nacional e a tentativa de aproximao que se busca a todo custo com o governo. Em 1922, quando pesam ameaas contra a vida do presidente Epitcio Pessoa, o Cardeal intervm at conseguir salv-la; chegando a desfilar de carro abertocom o presidente, para demonstrar a relao de apoio autoridade civil. Em 1924, quando da comemorao do Jubileu Sacerdotal do Cardeal Arcoverde, realizou-se a Pscoa das Classes Armadas, que D. Leme preparou com carinho. Oobjetivo era homenagear o cardeal Arcoverde. Mas "alm da homenagem prestada ao Cardeal, tinha ela um duplo fim: comear, pela aproximao de uma das classes maisrepresentativas do Pas, a cristianizao do Brasil 'temporal', e dar p. 26mais um passo na sonhada arregimentao dos homens catlicos". 25. Dentro dos festejos, o Cardeal Arcoverde recebe em seu palcio o presidente Artur Bernardes.No dia 5 de maio, o governo oferece um banquete ao cardeal e ao episcopado, e a saudao aos ilustres prelados foi feita pelo Ministro das Relaes Exteriores que,entre outras coisas, afirma: "O Brasil precisa do concurso de todas as outras foras vivas da Nacionalidade para se refazer na disciplina, no respeito da autoridade,na prtica das virtudes, na obedincia Lei, na lealdade aos deveres polticos, no trabalho til e na independncia responsvel e sem dios. Entre essas forasvivas a que aludo, e indispensvel ao trabalho urgente de reconstruo geral do Pas, nenhuma maior que a Igreja". 26. [ 25. SANTO ROSRIO, Irm Maria R. do, O Cardeal Leme, p. 163. 26. Felix Pacheco, "Discurso no Itamaraty em homenagem ao Cardeal Arcoverde", in SANTO ROSRIO, Irm Maria R. do,O Cardeal Leme, p. 169. ] Em 1931, quando Nossa Senhora Aparecida proclamada Padroeira do Brasil, h grandes solenidades, dias de estudos. Alm dos motivos religiosos, h os deordem poltica, dada a Revoluo de 30. Esta redundaria em uma renovao "dos moldes polticos e legislativos, em que a Igreja deveria influir, em nome da imensamaioria catlica do Pas". 27. Uma concentrao seria uma demonstrao de fora. Uma concentrao com caractersticas religiosas e cvicas. O presidente da Repblica,ministros e diplomatas estiveram presentes. O convite ao corpo diplomtico foi feito pelo Itamarati. [ 27. SANTO ROSRIO, Irm Maria R. do, O Cardeal Leme, p. 227. ] No mesmo ano foi inaugurado o Cristo Redentor no Corcovado, aps uma oposio dos no-catlicos e livres pensadores. Tambm aqui estiveram presentes as maisaltas autoridades. D. Leme aproveitou da Festa do Redentor e da presena de arcebispos e bispos, para entregar a Vargas as "Reivindicaes Catlicas em nome do episcopado".Diz Pe. Jos Oscar Beozzo: "Depois de quarenta anos (desde a Repblica) o Episcopado reaparece unido perante o governo, para discutir o estatuto da Igreja dentroda Nao e perante o Estado". 28. [ 28. BEOZZO, Pe. Jos Oscar, A Igreja entre a Revoluo de 1930, o Estado Novo e a Redemocratizao, p. 35. ] A luta maior ser na Constituinte. Com as eleies marcadas para maio de 1933, os catlicos tero outra forma de atuao: procurar influir nas eleies edepois na Constituinte, para que seus postulados estivessem presentes. A idia de um partido catlico rechaada por D. Leme. Prope a criao da Liga Eleitoral Catlica - LEC, que apoiaria os candidatos de qualquer partidoque se comprometessem a lutar pelos postulados defendidos pela Igreja. H postulados essenciais e secundrios. O compromisso deve ser com os essenciais: indissolubilidadedo casamento, ensino religioso facultativo e assistncia eclesistica facultativa s classes armadas. Posies referentes prblemtica social estaro no nvelsecundrio. p. 27 A LEC, que foi apoiada de maneira geral pelo episcopado, conseguiu eleger um grande nmero de constituintes. O cumprimento do acordo ter uma vigilncia,atravs da colaborao das bancadas de Pernambuco e So Paulo. D. Leme convidava deputados para almoar e contava com o trabalho de Alceu A. Lima. Os postulados essenciais passam a fazer parte da Constituio. Dos postulados secundrios, os referentes lesgislao social foramaprovados. Conseguem os catlicos que sejam introduzidos os seguintes postulados: "assistncia religiosa s foras armadas, hospitais epenitencirias (art. 113, 6); a livre prtica do culto religioso nos cemitrios (rt. 113, 7); autonomia e pluralidade sindical (art.119, 12); direito dos trabalhadores conforme a justia social (art. 120); a famlia constituda pelo casamento indissolvel (art. 114);casamento religioso com efeitos civis (art. 146); ensino religioso nas escolas (art. 153). Estes postulados e sua luta interessaram hierarquiae s elites, mas no ao povo. [ 29. MOURA, D. Odilo, Idias Catlicas no Brasil, p. 88. ] Referindo-se a esses acontecimentos, Irm Maria R. do Santo Rosrio afirma: "Em 1934, venceram os catlicos em toda a linha e o laicismo estatal recebeuum golpe mortal. Criou-se para a Igreja uma situao sem precedentes na histria do Brasil. Aps um to longo perodo de inaceitao, a verdade de Cristo podia enfimmarcar com seu cunho a comunho nacional, levando-o a reencontrar a 'fisionomia de brasilidade' que estava perdendo. Humanamente, devia-se tamanha conquista visocriadora de D. Leme e disciplina de um povo catlico bem formado". 30. [ 30. SANTO ROSRIO, Irm Maria R. do, O Cardeal Leme, p. 321. ] O SERVIO SOCIAL NO BRASIL - FUNDAO DAS PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIO SOCIAL E FORMAO DOS ASSISTENTES SOCIAIS dentro da viso da Igreja at aqui apresentada, que surgem as primeiras escolas de Servio Social no Brasil. Como j observamos, a questo social - a lutacontra a desigualdade social - uma preocupao assumida pela Igreja dentro de uma luta contra o liberalismo e o comunismo. O problema social no comeo do sculoXX comea a ser assumido pelos catlicos brasileiros, o que feito pela ao da hierarquia e organizao do laicato. Da necessidade de uma ao mais coerente e organizada, surgem grupos, associaes que por sua vez organizam cursos, semanas de estudos para formao de seusquadros. No Brasil, constatamos a realizao de cursos de formao social e de semanas sociais, entre outros. p. 28 Muitas das escolas de Servio Social nascem de grupos que participaram dos cursos de formao social e das semanas sociais. Entre elas as de So Paulo, Riode Janeiro, Natal e Porto Alegre. FUNDAO DAS PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIO SOCIAL Escola de Servio Social de So Paulo A Escola de Servio Social de So Paulo nasceu do Centro de Estudos e Ao Social - CEAS. O Centro surge de um grupo de moas preocupadas com a questo sociale que participaram ativamente no Curso de Formao Social organizado pelas cnegas regulares de Santo Agostinho, de 1 de abril a 15 de maio de 1932. O curso foidirigido por Mademoiselle Adle de Loneaux, professora da cole Catholique de Service Social de Bruxelas. E a finalidade bsica do CEAS "o estudo e a difuso dadoutrina social da Igreja e a ao social dentro da mesma diretriz". 31. [ 31. Relatrio do Centro de Estudos e Ao Social, So Paulo. 1932/34, in YASBECK, Maria Camerlita. Estudo da Evoluo Histrica da Escola deServio Social de So Paulo no perodo de 1936 a 1945. p. 28. ] O CEAS que coordenar a instalao da Ao Catlica em So Paulo, sob a orientao de D. Duarte Leopoldo e Silva. Porlgica, as militantes do centro passam tambm a participar da Ao Catlica e dela recebem toda a sua formao caracterstica. Aps a organizao da Ao Catlica, o CEAS como entidade - como nos relata Carmelita Yasbeck - deixa a direo da Ao Catlica para preocupar-se com aorganizao da Escola de So Paulo. Em vista disso, o CEAS envia para a Blgica duas scias, para cursarem a escola de Servio Social e, quando voltam ao nosso pas,ultimam os preparativos para o surgimento da primeira escola de Servio Social no Brasil, que se instala em 15 de fevereiro de 1936. Um dos motivos bsicos paraa fundao da escola foi a necessidade sentida de uma melhor preparao para a ao social dos quadros militantes da Ao Catlica. Escola de Servio Social do Rio de Janeiro No Rio de Janeiro - embora por caminhos diferentes - mas sob o mesmo pano de fundo, em 1937, temos a segunda escola de Servio Social do pas. A escolado Rio se tornou realidade pelo impulso do Cardeal Leme, Stela de Faro e Alceu Amoroso Lima. Este enfatiza a necessidade da formao social. Para que exista vocaosocial, preciso formao social. baseada nesta idia que "a Ao Catlica desenvolveu uma programao de 'Semanas Sociais', cursos p. 29de formao e outras atividades baseadas na Doutrina Social da Igreja". 32. [ 32. LIMA, Arlete Alves, A Fundao das Duas Primeiras Escolas de Servio Social no Brasil, p. 40. ] No Rio de Janeiro salientamos a realizao, entre outras, de Semanas de Ao Social de 16 a 19/08/1936 e de 08 a 14/11/1937. As Semanas Sociais nasceramna Europa. Foi um dos instrumentos utilizados para a formao social dos catlicos. Elas servem difuso da doutrina social da Igreja para grandes massas. ConformeVan Gestel, esse movimento iniciou-se na Frana, em 1904, alastrando-se pela Blgica, Holanda, Itlia, Canad, Inglaterra e outros pases. Entre ns, as SemanasSociais nasceram no Rio de Janeiro, promovidas pelo Grupo de Ao Social do Rio de Janeiro, fundado em 15 de junho de 1936. Esse grupo originou-se de uma sriede conferncias pronunciadas por Pe. Valere Fallon, economista social belga. Alm das semanas j citadas, foram organizadas mais as seguintes: Recife (1939), SoPaulo (1940), Salvador (1946), Recife (1948), Belo Horizonte (1949 ou 1950) e Curitiba (1951). 33. [ 33. Cf. SOUZA, Pe. Jos Coelho, Pe. Roberto Sabia de Medeiros, S.J., p. 84-88. ] Emjunho de 1937, funda-se no Rio de Janeiro o Instituto de Educao Familiar e Social, com os seguintes objetivos: "formar entre as mulheres, no de umaclasse, mas de todas as classes sociais, uma conscincia de comunidade crist que venha substituir o individualismo liberal mas sem cair na socializao inumanae estatal. Para isso forma assistentes sociais, educadores familiares e donas de casa que venham ser no meio em que vivam e trabalham, nos institutos em que ensinamou nos ambientes sociais em que atuam, como elementos de correo das anomalias sociais, verdadeiros elementos de renovao pessoal e catlica". 34. [ 34. Relatrio do Instituto Familiar e Social, Rio, 1938, in LIMA, Arlete Alves, A Fundao das Duas Primeiras Escolas de Servio Social no Brasil,p. 66. ] A fundao da escola do Rio de Janeiro contou com uma equipe da Congregao das Filhas do Corao de Maria, chegada ao Brasil em abril de 1937. Vindas daFrana, ligadas experincia social crist no seu pas, influenciaram o desenvolvimento da escola nessa perspectiva. A exemplo das escolas de So Paulo e do Rio de Janeiro, a maioria das escolas at 1950 ter a influncia direta da Igreja Catlica, tais como: Natal, BeloHorizonte, Porto Alegre, Escola Masculina do Rio e de So Paulo. 35. [ 35. No incio, o Servio Social era destinado s para as mulheres. Depois surgem escolas masculinas, no perodo noturno. S com o tempo que teremos escolapara rapazes e moas. ] p. 30 A FORMAO DOS ASSISTENTES SOCIAIS E SUAS CARACTERSTICAS Como constatamos, o Servio Social nasce ligado atuao da Igreja Catlica, a servio de sua ideologia. Alm da ligao de sua prtica, h sua ligaodo ponto de vista terico. Toda viso de homem se dar sob os quadros catlicos, tendo como sustentao filosfica o neotomismo. Dada essa postura, teremos um tipode formao marcadamente clara e definida. Mostraremos agora como se processava a formao do Assistente Social nesse perodo. Numa primeira fase do Servio Socialno Brasil, o que importa a formao doutrinria e moral; o aspecto tcnico s passar a ter significao com a influncia americana.Retomando, a ideologia que fundamentar essa formao doutrinria a reconstruo da sociedade em bases crists. que no fim dosculo passado e incio do sculo XX, os catlicos, respondendo aos apelos dos papas, engajam-se na ao social com a finalidade dereconstruir a sociedade em bases crists. Dizendo no a o laicismo, ao liberalismo, ao comunismo, os catlicos pretendem uma novaordem onde a famlia, o Estado, a economia, a poltica e os costumes tenham por base o evangelho e que a sociedade seja organizada embases corporativas. Nessa linha, por exemplo, se colocam os discursos de Stela de Faro e Alceu Amoroso Lima, na abertura do 2 CongressoPan-Americano de Servio Social, em 1949, no Rio de Janeiro. Porm no se fala em reforma radical, pois a autoridade intocvel.Vemos num artigo de Urbina Telles o seguinte: "Assistentes Sociais iro trabalhar para o restabelecimento da ordem social, condicionadapor certo pelo respito autoridade. Mais do que respeito, deles se pode reclamar a simpatia autoridade no sentido de compreender suasdificuldades antes de critic-las, de maneira a prejudicar a sua ao". 36. [ 36. URBINA TELLES, Guiomar, "Formao Moral do Assistente Social", Servio Social, 2 (14): 4. ] Servem tambm de sustentao ideolgica para os assistentes sociais, as diretrizes e atividades da UCISS - Unio Catlica Internacional de Servio Social. um organismo que se pauta pela doutrina da Igreja. ele que dar nessa poca as perspectivas do servio social catlico. Foi fundado em 1925. Em 1949, realizou-seem So Paulo uma Sesso Internacional de Estudos promovida pelo Secretariado Latino-americano d UCISS. Nessa sesso so reafirmados todos os princpios que atento orientaram a formao do Assistente Social, no Brasil e na Amrica Latina. Nesse ano, dez eram as escolas brasileiras (quase a totalidade) filiadas a esseorganismo, e que, portanto, assumiam na prtica a doutrina catlica. Importa situar neste momento alguns conceitos bsicos. Na Europa, antes de surgir o Servio Social, nasce a Ao Social. O Servio Social vai constituirparte, instrumento da Ao Social. p. 31 A Ao Social: " uma ao mais ampla (do que o Servio Social), exercida sobre a estrutura mesma da sociedade, visando transformarou adaptar os quadros existentes de acordo com a poca, o lugar, a civilizao. mais um movimento de idias, um trabalho legislativono qual os polticos e os juristas desempenham um papel preponderante". 37. O Servio Social atua mais em relao ao indivduoe em pequenas comunidades. dle de Loneaux assim define o Servio Social: "Conjunto de esforos feitos para adaptar o maiornmero possvel de indivduos vida social, ou para adaptar as condies de vida social s necessidades dos indivduos". 38. O ServioSocial , portanto, uma parte da Ao Social. O Assistente Social - o agente do Servio Social, da Ao Social - assimdefinido: "pessoa metodicamente formada numa escola de Servio Social, cuja atividade e devotamento, ligando-se a determinada engrenagemda sociedade, tende a regularizar o seu andamento, integrando-a normalmente na marcha em conjunto de toda a sociedade". 39. [ 37. FERREIRA RAMOS, Albertina, "A Formao de Assistentes Sociais", Servio Social, 2(23):21. 38. PAULA FERREIRA, Lelian de, "Servio Social", Servio Social, 2(14):6. 39. FERREIRA RAMOS, Albertina, "A Formao de Assistentes Sociais", Servio Social, 2(23):21. ] Em 1949, na Sesso Internacional da UCISS, o Servio Social catlico assim definido: "uma forma de ao social (no- sentido moderno e tcnico da palavra)que, por mtodos tcnicos apropriados, baseados em dados cientficos, quer contribuir para a instaurao ou manuteno da ordem social crist favorecendo, a criaoou o bom funcionamento dos quadros sociais necessrios ou teis ao homem". 40. [ 40. UCISS, "O Conceito Cristo de Servio Social", in Resumo da Sesso internacional de Estudos promovida pelo SecretariadoLatino-americano da UCISS, de 12-14/jul./1949, p. 11-12. ] Para realizar a tarefa que se prope, na ajuda da restaurao da ordem social crist, o Servio Social no pode ter uma postura neutra na formao dos futurosassistentes sociais. E o Servio Social, nessa poca, no esconde e nem camufla sua postura, ao contrrio, encontra formas pedaggicas ou tcnicas de fazer com quea ideologia assumida seja comunicada aos alunos. Para isso, um dos requisitos era de que o corpo docente assumisse a doutrina social catlica, ou melhor, fosse constitudopor catlicos praticantes. Porm no basta que sejam piedosos, mas tambm competentes. Este assunto foi objeto de debates na reunio da UCISS, em 1949. Dada a relevnciado tema, foi analisada tambm a questo das escolas que no tinham uma orientao catlica, ficando acertado como estratgia que professores catlicos deviam penetrarnessas escolas. Aylda Faria da Silva Ferreira, no artigo "Escola de Servio Social", de 1944, mostra que uma escola de Servio Social, no preparo p. 32profissional dos futuros assistentes sociais, deve levar em conta 4 pontos: formao cientfica, tcnica, prtica e pessoal. A formao Cientfica se dar atravs das disciplinas cientficas como a Sociologia, Psicologia e Biologia e tambm da Moral. E deve proporcionarum conhecimento "exato do homem e da sociedade, de todos-os problemas que dele se originam e neles se refletem", bem como dar-lhes condies para que possam utilizaro saber recebido como instrumentos de trabalho. A formao deve levar em conta vrios aspectos da vida do homem, tais como vida fsica, mental e moral, econmica e jurdico-social. A formao tcnica a formao especfica do Assistente Social. Consiste no estudo das teorias do Servio Social ento existentes e sua adaptao nossarealidade. O Assistente social deve combater os desajustamentos individuais e coletivos. Da a formao tcnica ensinar "como" faz-lo. a formao tcnica quevai dar, ao Assistente Social, conhecimento sobre o Servio Social e dar-lhe condies de coloc-lo em prtica. A formao tcnica compreende o estudo da naturezado Servio Social, noes de tcnicas auxiliares e da moral profissional. A formao prtica a aprendizagem do "como fazer" na realidade das diferentes instituies com que os futuros assistentes sociais mantinham contatos. Nofinal da dcada de 40 que comeam as organizaes de estgios. Nadir Kfouri, no 2 Congresso Pan-Americano, em 1949, afirmou: "De incio a parte prtica giravaexclusivamente em torno de visitas realizadas a obras sociais e a famlias necessitadas. Atualmente percebe-se que a preocupao maior, para bom nmero de escolas,reside em organizar os estgios, nas obras e a superviso". 41. [ 41. KFOURI, Nadir, "Dificuldades e Solues Encontradas na Formao de Assistentes Sociais", in Anais do II CongressoPan-Americano de Servio Social, 1949, p. 437. ] A formao pessoal: A escola deve se preocupar com o desabrochar da personalidade integral do aluno. Deve dar ao futuro Assistente Social uma formao moralmuito slida. Diz Aylda Faria: "Sem uma formao moral solidamente edificada sobre uma base de princpios cristos, a atividade da assistente ser falha, porquelhe faltaro os elementos que garantem uma ao educativa, que visada pelo Servio Social". 42. [ 42. PEREIRA, Aylda Faria S., "Escola de Servio Social", Servio Social, 4:85. ] Essa formao pessoal ser um dos aspectos importantes na formao doutrinria dos alunos. Alm das atividades normais da escola, existem alguns meios especficos:os crculos de estudo e a orientao individual. p. 33 Os crculos de estudos so reunies, onde esto os alunos e os orientadores de curso. 43. Nessas reunies, so discutidos pontos das vrias disciplinas,bem como ajudar a "desenvolver o raciocnio e despertar o sentido social". Para a realizao deste ltimo ponto, so discutidos e analisados os problemas da realidade,e as solues possveis dentro da viso crist. Utiliza-se o mtodo da Ao Catlica: ver, julgar e agir. [ 43. PEREIRA, Aylda Faria S., no artigo em que aborda a questo, faz referncia "s alunas" e "s orientadoras docurso", uma vez que o Servio Social era praticado apenas pelas mulheres. ] A orientao individual ser o contato pessoal com o encarregado da formao. Para a formao doutrinria, sero bsicas aulas de Doutrina Catlica e de Moral. Para que uma escola de Servio Social possa realizar bem sua tarefa, requeruma formao doutrinria definida. A formao doutrinria importante, pois toda ao requer normas, princpios, diretrizes. Requer uma ideologia. Urbina Tellesenfatiza que essa formao deve impregnar toda a formao e no ser coisa parte. Deve preponderar mesmo sobre a formao tcnica.A autora em questo afirma: "Parte primordial na formao dos Assistentes Sociais - a doutrinria - no dever jamais ceder-lugar tcnica". 44. E Ferreira Ramos, sobre o assunto, nos diz: "A excluso, no preparo social, de toda a ideologia, reduzindo-se a um simples preparo tcnico, conduzir certamente estreiteza de vistas, ao fruto das oportunidades, muitas vezes parcial, ineficaz seno prejudicial". 45. [ 44. URBINA TELLES, Guiomar, "Formao Moral do Assistente Social", Servio Social, 2(14):4. 45. FERREIRA RAMOS, Albertina, "A Formao de Assistentes Sociais", Servio Social, 2(23):23. ] O aspecto doutrinrio era enfatizado na formao do profissional, pois este deveria ter uma concepo de vida que "deve ser fruto de princpios doutrinriosfundados na Verdade". Da que a escola no podia ter uma postura ecltica, correndo o risco de conduzir incerteza, ao erro. Diz Aylda Faria: "Excluir completamentedo ensino toda ideologia, isto , apenas dar as noes sem fundament-las, no realizar trabalho educativo, de verdadeira formao, que esclarea o esprito eoriente atos". 46. [ 46. PEREIRA, Aylda Faria S., "Escola de Servio Social", Servio Social, 4:99. ] Em que bases deve assentar a formao doutrinria? Urbina Telles nos responde, dizendo: "Doutrina que no se confunda nem com o individualismo, nem com ocoletivismo, mas que fique no meio termo, considerando a eminente dignidade da pessoa humana e a necessidade da sociedade para seu desenvolvimento. (...) Uma s p. 34doutrina, com princpios que so imutveis porque perfeitos, encontraremos - a CATLICA". 47. [ 47. URBINA TELLES, Guiomar, "Formao Moral dos Assistentes Sociais", Servio Social, 2(14):4. ] Escrevendo sobre o assunto, o Prof. Hanns Lippmann mostra que o Assistente Social deve estar livre dos intersses de grupos econmicos e polticos.Mas esse princpio no vale para a Religio, pois "... se tornaria 'incompreensvel' e desprovido de seu nexo de sentido mais profundo, se ns tivssemos a insensatezde querer afastar do plano assistencial as solues fornecidas pela doutrina social da Igreja Catlica, Apostlica, Romana, ou no querer informar o esprito dosalunos das Escolas de Servio Social com a Doutrina e a Moral Catlica, base da doutrina social dos Soberanos Pontfices". 48. [ 48. LIPPMAN, Hans L., "A Formao dos Assistentes Sociais em face das exigncis da hora presente", Servio Social, 9(54):41. ] Nas perspectivas at aqui colocadas, o Servio Social era assumido como uma vocao. Para que haja essa formao adequada e que se assuma como vocao, necessrio que o ambiente da escola seja um ambiente adequado, quer materialmente, quer psicologicamente. preciso professores que sejam exemplos a serem seguidos;a escolha dos professores est ligada com sua orientao doutrinria; que sejam competentes em suas reas e possibilitem a interrelao entre as disciplinas. Quanto ao corpo discente, necessita ser selecionado. Os candidatos precisam ter o "mnimo de devotamento, de critrio e de senso prtico. E no serem nervososem excesso". Para que os alunos pudessem ser selecionados, as escolas tinham - no incio - no programa, um "perodo de provao" que antecipava o exame de admisso.Esse perodo de provao era feito em forma de curso. A FORMAO DO ASSISTENTE SOCIAL E OS CONGRESSOS DE SERVIO SOCIAL A formao dos profissionais em Servio Social, bem como a organizao dos cursos, foi objeto de anlise e debates nos congressos panamericanos. Salientaremosaqui os dois primeiros - o do Chile, em 1945, e o do Brasil, em 1949. Nesses-dois congressos marcante a posio catlica atravs da presena e desempenho das escolasque seguem essa orientao, porm comea a estar presente tambm a influncia norte-americana, atravs da valorizao das tcnicas e de certos pressupostos funcionalistas. O primeiro congresso realizado em Santiago, no Chile, em 1945, foi em comemorao ao 20 Aniversrio de Fundao da Escola de Servio Social de Santiago, a pimeirada Amrica Latina. A questo formao foi tratada, e traa as normas gerais para Ao ensino de Servio p. 35Social, tais como: critrios para admisso de candidatos, disciplinas, seriao e a funo do Assistente Social. No seguudo Congresso realizado no Rio de janeiro, em 1949, um dos temas foi: "Dificuldades e solues encontradas na formao de Assistentes Sociais". Comreferncia ao tema, foram apresentados os seguintes trabalhos: Preparacin Profesional del Asistente Social, por Emma G. Ureta (Argentina); Dificuldades e soluesencontradas na formao de Assistentes Sociais, por Nadir Kfouri (Brasil); A Formao dos Trabalhadores Sociais, pela Escola Tcnica de Assistncia Social Cecy Dodsworthda Prefeitura do Distrito Federal (Brasil) e Dificultades para la Formacin Prctica de Asistentes Sociales y Algunas Soluciones Aplicadas por Augusta Schroeder(Uruguai). a partir deles, e principalmente dos brasileiros, que completaremos a questo sobre a formao do Assistente Social. Com relao formao, Nadir Kfouri afirma: "A formao terica fundamenta-se no conceito do homem e da sociedade, em funo do qual os princpios filosficosse assentam. Na maioria de nossas escolas, as bases morais e sociolgicas do servio social so informadas pela conceituao crist de vida que tem suas fontes nadoutrina social catlica. Dentro desse esprito se procura estabelecer a convico de que o Servio Social se prende a um plano de reestruturao da sociedade ede formao dos quadros sociais, requerendo, conseqentemente, a ao social. Firma-se, assim, o princpio de que o trabalho social lana suas razes na justia,sobreelevada pela caridade crist, sem o que impossvel se atingir o bem comum e viver-se numa sociedade realmente democrtica". 49. Essa preocupao ser bsicanas cadeiras do primeiro ano e nos crculos de estudos. [ 49. KFOURI, Nadir, "Dificuldades e Solues encontradas na Formao de Assistentes Sociais", in Anais do II Congresso Pan-Americano de Servio Social,Rio de Janeiro, 1949, p. 436. ] No trabalho da Escola-Tcnica de Assistncia Social da Prefeitura do Distrito Federal, salientamos, dentro do que estamos abordando, o aspecto referente formao tico-profissional. Nesse tpico, o trabalho chama a ateno para a importncia da tica para o Servio Social. Sem uma perspectiva moral, no existe prtica profissional. Diza autora: "Quanto formao moral propriamente dita ter que se basear nos princpios cristos ... "E: "Os ensinamentos cristos representam a fonte onde os trabalhadoressociais iro abeberar-se; a moral crist aceita e reconhecida mesmo pelos no-cristos, no sentido religioso da palavra. Por outro lado, impossvel seria dissociar-sea Assistncia Social do Cristianismo, pois este foi, na expresso feliz de Delgado de Carvalho, "o movimento que revelou a verdadeira caridade entre os homens". 50. [ 50. Escola Tcnica de Assistncia Social Cecy Dodsworth, da Prefeitura do Distrito Federal (RJ), "A Formao dos Trabalhadores Sociais", in Anais do 11Congresso Pan-Americano de Servio Social, Rio de Janeiro, 1949, p. 456. ] p. 36 E essa formao no pode ficar apenas a cargo da disciplina de tica, mas "todas as disciplinas, incluindo uma determinada filosofia, devem concorrer parareforar os ensinamentos ministrados na cadeira de tica, de modo que o prprio ambiente da Escola seja, atravs de seus professores sobretudo, um exemplo vivo darealizao da moral preconizada. Para tanto, logo se conclui da importncia que h em coordenar e articular programas, no levando em conta somente o aspecto de"informaes necessrias porque tero utilidade na prtica, mas de unidade de doutrina indispensvel a uma boa formao moral". 51. [ 51. Ibid., p. 461-462. ] Como percebemos, o Servio Social catlico tem uma maneira prpria de ver os homens e o mundo. Essa percepo advinda, como j constatamos, dos documentospapais e dos diferentes episcopados. A FORMAO DO ASSISTENTE SOCIAL E A ABESS Na formao do Assistente Social brasileiro e na organizao das Escolas de Servio Social, foi preponderante a atuao da Associao Brasileira de Ensinode Servio Social - ABESS. Esteve presente nos diferentes momentos do Servio Social: em sua fase inicial catlica, nas discusses em torno do desenvolvimento ena interveno do Servio Social, na reconceituao e outros. Sua atuao aconteceu e acontece por intermdio de suas convenes, da assessoria que sempre deu sescolas espalhadas pelo Brasil e dos cursos de aperfeioamento de docentes. - Nascida sob a orientao catlica, sua fundao se deu em 1946, por assistentes sociais catlicas, sob a liderana de D. dila Cintra Ferreira, da Escolade Servio Social de So Paulo e, durante muito tempo, a concepo catlica se fez presente. Tendo em vista seus objetivos iniciais, de troca de experincias e degarantir um certo padro de ensino, a Associao Brasileira de Ensino de Servio Social "exerceu um papel extremamente relevante no sentido de imprimir unidade noensino das Escolas de Servio Social, na discusso dos currculos e dos grandes temas". 52. Sob a tica catlica que devemos entender a contribuio dada com relao formao dos assistentes sociais at a dcada de 60. A formao crist do profissional em Servio Social foi objeto de estudos, anlises e pesquisas em algumasconvenes da ABESS. At 1967 - data em que temos o Documento de Arax - foram realizadas 14 convenes. Mesmo quando os temas eram especficos de Servio Social,o pano de fundo era a doutrina catlica. As convenes normalmente iniciavam-se com p. 37missa solene e durante certo tempo havia um dia de recolhimento, para quem desejasse, um dia antes da conveno. [ 52. KFOURI, Nadir, in: YASBECK, Maria Carmelita, Estudo da Evoluo Histrica da Escola de Servio Social de So Paulo no perodo de 1936 a 1945, p.97. ] Dentre as convenes realizadas pela ABESS, vejamos algumas, em cujo temrio encontramos a questo da formao crist em suas dimenses moral e espiritual. Em 1954, tivemos em So Paulo a IV Conveno da ABESS. O tema foi "A Formao Crist para o Servio Social e a Metodologia do Ensino de Servio Social deGrupo e Organizao de Comunidade". Com relao ao tema "formao crist", foi enviado um questionrio para todas as escolas e a maioria respondeu. Quando da anlisedos resultados, foi enfatizada a importncia de saber como se encontra a formao, pois "... se a mentalidade crist for reinante nas Escolas Catlicas, estoatuando bem, mas se no for porque esto fracassando". 53. Pelas respostas ao questionrio, o relator do tema constatou "que todas as Escolas acham que a FormaoCrist para o Servio Social deve ser como o esprito e a vida que informa a alma das Escolas e de todo trabalhador social"54 Dos relatrios referentes questoformao, vemos reafirmados os princpios da Doutrina Catlica, da Filosofia Tomista, o significado do Servio Social cristo, a Reforma Social e a importnciada aula de Religio, da escolha dos professores e supervisores, do estudo da tica Profissional. [ 53. ABESS, A Formao Crist para o Servio Social - Manifestaes dessa formao atravs da atuao dos assistentes sociais, IV Conveno Nacional daABESS, So Paulo, 1954, p. 1. 54. MONTE, Nivaldo, A Formao Crist para o Servio Social, IV Conveno Nacional da ABESS, So Paulo, 1954, p. 1. ] Em 1959, em julho, realizou-se em Porto Alegre a IX Conveno. O tema foi "Renovao do Currculo das Escolas de Servio Social e Estudos dos Programas deAlgumas Cadeiras mais Importantes no Ensino do Servio Social (Sociologia, Psicologia, Direito, Higiene e Medicina Social, Servio Social)". Dentro do estudo dasvrias disciplinas, as de Religio, Doutrina Social da Igreja e tica Profissional, tambm foram analisadas e reafirmadas como importantes para a formao integraldo assistente social. No encerramento da conveno, a Diretora da Escola de Servio Social da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, salientou amisso dos assistentes sociais: o cristianismo humanizante para a conquista da paz. E que a exemplo de Maria, os assistentes sociais tm a tarefa de "Anunciar aRedeno". Em 1960, aconteceu, de 7 a 14 de julho, em Fortaleza, a X Conveno da ABESS, com o tema: "Formao da Personalidade do Assistente Social em todos os Aspectos".Os aspectos analisados foram a formao psicolgica, moral e espiritual. Quanto formao moral, ficou claro que deve ser assumida por todos os membros da escola,que os programas de tica devem conter uma maior fundamentao p. 38metafsica e que devem ser melhorados para que possam provocar maior reflexo dos alunos. Quanto aos aspectos espirituais,enfatizou-se que o assistente social deve buscar a perfeio, que essa busca de perfeio seja iluminada pelo esprito comunitrio e pela doutrina do Corpo Msticode Cristo e que as aulas de religio no tenham o carater apologtico e que valorizem as prticas tradicionais, a orao, o retiro etc. Quanto ao aspecto psicolgico,salientou-se: que o aluno seja acompanhado no processo de maturao e que ganhe maior conhecimento de si e que se d maior participao dos alunos na vida da escola. PRESSUPOSTOS FILOSFICOS - NEOTOMISMO O Servio Social - como explicamos at agora - fundamenta-se na Doutrina Social da Igreja. Do ponto de vista filosfico, ter por base o neotomismo. Os princpiosde dignidade da pessoa humana, do bem-comum, entre outros, hauridos em Santo Toms, iluminaram a teoria e prtica do assistente social, desde 1936 at 1960, demaneira preponderante. A partir de 1960, comea a haver uma ruptura por parte daqueles que comeam a assumir uma postura na viso dialtica, inclusive na sua versomaterialista. a partir da dcada de 60 que vemos o movimento chamado de reconceituao de Servio Social. Sabemos que no existe a filosofia do Servio Social,mas que no decorrer de sua histria e em contextos diferentes, embasa sua teoria e sua prtica em diferentes filosofias. Uma delas foi o neotomismo. Toda a vida das escolas estava impregnada dessa maneira de ver, mas de maneira explcita, a Doutrina da Igreja e, por conseqncia, a doutrina do Santo Anglicoera apresentada, entre outras, nas disciplinas Moral, tica, Doutrina Social ou Doutrina Catlica. Apresentaremos o neotomismo da seguinte forma: - Renascimento do Tomismo; - A Filosofia de Santo Toms; - O Cdigo de Malinas; - Neotomismo no Brasil; - Jacques Maritain e o Humanismo Integral. RENASCIMENTO DO TOMISMO O neotomismo consiste numa retomada da filosofia expressa por Santo Toms de Aquino,. no sculo XII. A filosofia de Santo Toms,a partir deste sculo, marcar por muito tempo a histria da filosofia e do homem. Ter seu apogeu e irradiar sua luz por um longoperodo. No sculo XVIII, a filosofia tomista - apesar de uns poucos filsofos, continuarem a ensinar a doutrina do filsofo dominicano -podemos dizer, est esquecida. Ela comea a ser retomada com toda p. 39fora no final do sculo XIX, tendo sua presena atuante nas primeiras dcadas do sculo XX. Faremos aqui uma retomada sinttica dessa restaurao, pois existe ligaoentre ela e o surgimento do Servio Social no Brasil. Ser Leo XIII que, atravs da encclica Aeterni Patris, propor a restaurao da filosofia tomista. Procurar imprimir "... nova escolstica o duplocarter que faz a sua fora: o da tradio e do progresso..." O Papa coloca "... dois pontos essenciais: 1) necessidade de fazer uma escolha nas teorias arestaurar; 2) necessidade de acolher o progresso cientfico e de ser do seu tempo no que ele tem de bom...". 55. [ 55. THONNARD, F. J., Compndio de Histria de Filosofia, p. 949-950. ] Essa restaurao de Santo Toms tinha uma inteno clara, segundo Thonnard: "Unir os pensadores catlicos para a conquista do pensamento moderno tal , aoque parece, o propsito da Igreja ressuscitando o tomismo...". 56. [ 56. Ibid., p. 953. ] Mas o desenvolvimento dessa corrente filosfica no se far de maneira uniforme. Vemos diferentes posies. Um grupo voltar sua preocupao a apenas comentarSanto Toms, sem uma preocupao de enriquecimento da doutrina do mesmo. Um outro grupo - corrente progressista - "deseja enriquecer o thomismo; aplicando-o aosnossos problemas, admitindo uma crtica thomista do conhecimento e assimilao das cincias modernas". 57. Desse grupo, salienta-se Mercier, Sertillanges e Maritain.O chefe da restaurao da filosofia de Santo Toms e na perspectiva progressista foi o Cardeal Mercier. Ainda quando padre, recebe de Leo XIII a tarefa de ser responsvelpela cadeira de Filosofia Tomista na Universidade de Lovaina. E ser atravs dessa universidade que o tomismo vai irradiar sua fora. [ 57. SANTOS, Lcio Jos dos. "O Thomismo e as Vrias Correntes Neo-Thomistas". A Ordem. 20(23):423. ] O jovem padre percebe sua rdua tarefa, dado o preconceito com relao ao tomismo, "a restaurao escolstica no era a simples exumao de uma mmia antigaa ser colocada nos museus modernos. Era um pensamento vivo como o esprito, que devia ser repensado em toda a juventude de sua atualidade". 58. Segundo Pe. Franca,para realizar essa tarefa, era preciso: reabilitar historicamente a filosofia de Santo Toms; confront-la com a cincia moderna e estabelecer contatos com a filosofiamoderna. [ 58. FRANCA, Leonel, "Alocuo sobre Mercier", in Alocues e Artigos, p. 107. ] Mercier no realiza essa tarefa sozinho, mas aglutina em torno de si discpulos, criando uma equipe onde cada um estabelecia contato com o Doutor Anglico,conforme sua especialidade. A presena dessa filosofia restaurada no servir apenas na formao dos padres, mas se estender tambm aos leigos. Thonnard afirma: "... na Universidadede Lovaina onde se juntava o p. 40escol do catolicismo belga, leigo, maioria (sem contar os estrangeiros), o tomismo devia ir alm do crculo eclesistico e formar, nos padres, mas tambm magistrados, homens polticos, diretores de obras sociais, numa palavra chefes em todos os domnios... " 59. [ 59. THONNARD, F. J., Compndio de Histria de Filosofia, p. 959. ] A presena da filosofia de Santo Toms no campo social tambm se dar atravs do Cardeal Mercier, na elaborao do Cdigo de Malinas. Thonnard, referindo-sea esse fato diz: "... durante a guerra de 1914 e depois esforou-se por resolver, luz de Santo Toms. os graves problemas sociais que se apresentavam e podedizer-se que a sua ltima obra filosfica foi em grande parte ativa na redao do 'Code scil chrtien' composto pelos socilogos da Unio Internacional de EstudosSociais, associao fundada em 1921, sob sua presidncia". 60. [ 60. Ibid., p. 960. ] A FILOSFIA DE SANTO TOMS: ALGUNS ASPECTOS Santo Toms estar presente no Servio Social atravs do neotomismo. necessria uma colocao sinttica de alguns pontos da filosofia do Doutor Anglicoque penetrou o pensamento dos assistentes sociais. E como j vimos, a presena do grande filsofo do sculo XII vir at o Servio Social, atravs da Igreja Catlica. difcil separar aspectos de uma filosofia to unitria e harmnica, mas podemos destacar a viso de pessoa humana, conceitos de sociedade e bem-comum e questotica como pressupostos bsicos presentes na formao- do assistente social, que ora explicitamos. Santo Toms, em sua filosofia, partir da reflexo feita por Aristteles e a trar sob nova luz ao cenrio filosfico de sua poca. Vivendo seu tempo histrico,Santo Toms tratar em sua reflexo de questes vitais para sua poca, tais como: as relaes entre Deus e o mundo, f e cincia, teologia e filosofia, conhecimentoe realidade. Estas questes e outras mereceram tratamento e solues dentro do pensamento tomista. Buscando elaborar um pensamento coerente e harmnico, toma por fundamento o princpio seguinte: "Tudo inteligvel pelo Ser, idia anloga, realizando-seno ato e na potncia". 61. A partir desse princpio, mostra que a primeira realidade a ser explicada deve ser Deus, que a fonte de todos os seres. [ 61. Ibid., p. 364. ] Dentro da hierarquia dos seres, Santo Toms, aps analisar a existncia de Deus, analisa o homem, a pessoa humana. E assim a define: "Uma pessoa a substnciaindividual (indivisa) de uma natureza racional". 62. A pessoa humana composta de duas substncias incompletas: a alma e o corpo. A unio dessas duas substncias p. 41numa substncia nica, embora composta, nos d o ser humano. Thonnard expondo Santo Toms assim define o homem: "um composto substancial de matria-prima e formasubstancial". 63. Segundo a definio de pessoa de Santo Toms, este um ser distinto de qualquer outro ser. Mas o que realmente, distingue a pessoa sua racionalidade, ser dotado de inteligncia. E nesta distino que radica a dignidade da pessoa humana. Por ser racional, capaz de escolha, de saber, de vontade. Porque inteligente,diz Santo Toms, "a pessoa significa o que h de mais perfeito em todo o universo". 64. E a pessoa o ser mais perfeito no seu aspecto fsico e espiritual. Vemosa anlise desses dois aspectos no artigo "A pessoa humana em Santo Toms" de Pedro Dalle Nogare. O corpo humano o mais perfeito, o mais funcional e o mais complexo.Deus criou "o corpo a servio da alma e para com ela formar o composto humano, cria-o de tal forma que possa desempenhar seu papel da melhor forma. Ora, a alma humanaespiritual tem natureza e funes superiores a qualquer outro ser criado. Logo, o corpo humano superior, em perfeio, a qualquer outro corpo". 65. [ 62. AQUINO, Toms de, Summa Tbeolgica. P. 1, q. Art. I, Ad. I. Apud COOK. Terence I., "La Filosofia Tomista en los Princpios delServicio Social de Grupo'. Servicio Social. 9(9):41. 63. THONNARD, F. J., Compndio de Histria de Filosofia, p. 377. 64. AQUINO, Toms de, Summa Theolgica. P. I, Q. 29, A.3. Apud NOGARE, Pedro Dalle, "A Pessoa Humana em Santo Toms",Presena Filosfica (1, 2 e 3):101. 65. NOGARE, Pedro Dalle, "A Pessoa Humana em Santo Toms", Presena Filosfica (1, 2 e 3):102-103. ] A pessoa humana tem tambm uma perfeio espiritual que se manifesta atravs da racionalidade. Essa dimenso racional produz, como conseqncia, o princpioda conscincia em si e da liberdade. Atravs da reflexo intelectual, o homem tem conscincia do seu eu e capaz de situar-se como distinto dos outros seres. Aliberdade, a capacidade de escolha tambm manifestao da inteligncia do homem. Mas o homem tambm dotado de vontade e, por isso, pode escolher os seus caminhos.A inteligncia, conhecendo os caminhos, tender a busca da virtude, do bem, tender a alcanar o fim ltimo: Deus. Mas isto depende de uma escolha do homem, no uma vontade determinada. A questo da escolha fundamental, pois sem liberdade impossvel colocar a dimenso da moralidade. O outro ngulo da racionalidadedo homem que esta faz a pessoa humana imagem de Deus, cria no homem a exigncia de Deus, capacita a pessoa ao conhecimento de Deus. A dignidade e a perfeio da pessoa humana nos mostram seu valor absoluto. Pedro Nogare diz que "dizer que a pessoa tem um valor absoluto o mesmo quedizer: a pessoa deve ser considerada sempre como fim e nunca como meio. Ela sempre meta, nunca instrumento". 66. [ 66. Ibid., p. 109. ] Pela capacidade intelectiva, o homem transformou-se em autor de desenvolvimento, de progresso. Isso nos remete a uma outra dimenso p. 42da pessoa humana que o homem como ser social. Da prpria natureza da pessoa humana decorre seu aspecto social. "Santo Toms repete com Aristteles:"o homem naturalmente um animal social". 67. O desenvolvimento humano depende dos outros, demonstra claramente que o homem necessita viver em sociedade. Podemosdizer como Santo Toms: ", portanto, evidente que se considera o homem uma natureza animal, uma natureza sensitiva e uma natureza racional, necessrio que vivacomo membro de uma multido". 68. na construo da sociedade que o homem no pode esquecer que o fim da mesma a felicidade geral. Na vida social as leis devemservir para norte-la. As leis que tm por base a lei eterna, devem servir ao bem-comum e no ao indivduo como tal. Diz Gilson: " mister que a lei viseprincipalmente felicidade comum e ao bem-estar da coletividade". 69. [ 67. COOK Terence J., "La Filosofia Tomista en tos Princpios del Servicio Social de Grupo", Servicio Social, 9(9):31. 68. AQUINO Toms de, Summa Theolgica, vol. 27. De Rege et Regno IV, cap. 3. Apud COOK, Terence J. "La Filosofia Tomista en tos Princpios del ServicioSocial de Grupo", Servicio Social, 9(9):34. 69. BOEHNER, Philotheus e GILSON, Etienne, "S. Toms de Aquino", in Histria da Filosofia Crist, p. 420. ] Ligada definio de pessoa como ser social est tambm a de sociedade. Santo Toms diz que a sociedade "a unio de homens com o propsito de efetuaralgo comum". E essa sociedade deve visar ao bem-comum que Santo Toms define como "o bem-estar da sociedade, quando seus benefcios so distribudos a todos". 70. [ 70. COOK, Terence J., "La Filosofia Tomista en tos Princpios del Servicio Social de Grupo", Servicio Social, 9(9):44. ] Santo Toms mostra que existem trs espcies de leis que dirigem a comunidade ao bem-comum: a lei natural, a lei humana e a lei divina. Por decorrncia danatureza humana, o homem, por ser um animal social um "animal poltico", logo, para que haja o bem-comum necessrio o Estado. Estado supe autoridade. E "todaforma de autoridade deriva de Deus, respeit-la respeitar a Deus; toda forma de governo, desde que garanta os direitos da pessoa e o bem-estar da comunidade boa...". 71. O Estado deve respeitar a Igreja. Assim no existe conflito entre f e razo, e se cada um procura realizar sua tarefa no h conflito entre Igrejae Estado. [ 71. SCIACCA, Michele Federico, Histria da Filosofia, tomo I, p. 228. ] Essa viso com relao autoridade e ao Estado justifica a posio inicial do servio social brasileiro de no questionamento da ordem vigente at suasrazes e de buscar sempre apenas reformar a sociedade, melhorando conseqentemente a ordem vigente. CDIGO DE MALINAS A filosofia de Santo Toms, bem como a doutrina social da Igreja, est presente no "Cdigo Social de Malinas", elaborado pela p. 43"Unio Internacional de Estudos Sociais", fundada em Malinas, em 1920, sob a presidncia do Cardeal Mercier. Este influenciou arestaurao do neotomismo e marcar sua presena na ao social desenvolvida pelos cristos. Este cdigo iluminou a ao dos cristosna chamada questo social e marcar tambm os assistentes sociais catlicos brasileiros. Um dos objetivos da Unio era "o estudo dosproblemas sociais luz da moral catlica". 72. A Unio realizou vrios encontros para estudo dos problemas na tica crist. Na Assembliade 1924, o Cardeal Mercier, afirma que, apesar do valor dos estudos e debates, os mesmos tm ficado restritos a um grupo de escol. Enfatizaa necessidade de que as reflexes feitas penetrem as massas. E sugere como instrumento uma espcie de catecismo, com essas reflexese com diretrizes sobre diferentes questes sociais. Referindo-se a esse trabalho, afirma: "... dedicar-se-iam primeiro e principalmenteem destacar das nossas crenas e da nossa filosofia, princpios positivos capazes de ditar lei ao apostolado social, ao poltica... " 73. [ 72. UNIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS SOCIAIS, Cdigo Social, p. 1. 73. Ibid., p. VI. ] O cdigo dividido em introduo e em cinco captulos: a vida familiar, a vida cvica, a vida econmica, a vida internacional e a vida sobrenatural. Emtodos os itens, encontramos os ensinamentos emanados do magistrio da Igreja e do Doutor Anglico. Na Introduo 74 que constatamos, com clareza, os princpios referentes ao homem, dos quais salientamos os seguintes: 1. o homem criado -imagem e semelhana de Deus; 2. o homem um ser social, no se basta sozinho; 3. o filsofo cristo distancia-se do individualismo e do coletivismo: "... atm-se fortemente s duas extremidades da cadeia, isto , eminente dignidadeda pessoa humana e necessidade da sociedade para seu desenvolvimento integral"; 4. "o homem, tendo um destino pessoal, a sociedade para ele o meio necessrio que o ajuda a atingir seu prprio fim"; 5. a economia e a moral esto ligadas. Da se deduz: "A Igreja, guarda da moral, exerce uma fiscalizao legtima sobre a vida econmica". [ 74. Ibid., p. 11-13. ] NEOTOMISMO NO BRASIL Apresentaremos os principais representantes - explicitando suas posies - do neotomismo no Brasil que marcaram a formao dos assistentes sociais brasileiros,principalmente os que exerceram em determinados perodos o magistrio nas escolas de Servio Social. Os primeiros assistentes sociais foram marcados pela filosofiade Santo Toms, recebendo sua doutrina atravs das disciplinas: Doutrina p. 44Social, Moral, tica, Doutrina Catlica, entre outras, bem como atravs dos crculos de estudos. Entre os nomes que registramos, salientamos em So Pauo:Alexandre Correia, Leonardo Van Acker; no Rio de Janeiro: Pe. Roberto Sabia, que depois se transferiu para So Paulo, Pe. Pedro Cerrutti, Pe. Eduardo Lustosa, Pe.Hlder Cmara, Pe. Leonel Franca e outros das mais diferntes ordens religiosas. O neotomismo em So Paulo est ligado a um dos discpulos do Car