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SERVIÇO SOCIAL
____________________________________________________________
ANA CAROLINA DE PAULA
AS MULHERES AGRICULTORAS DA LINHA CERRO DA LOLA DO MUNICÍPIO
DE TOLEDO-PR: O PROCESSO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE NO CAMPO
_____________________________________________________________
TOLEDO – PR
2014
ANA CAROLINA DE PAULA
AS MULHERES AGRICULTORAS DA LINHA CERRO DA LOLA DO MUNICÍPIO
DE TOLEDO-PR: O PROCESSO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE NO CAMPO
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado
ao Curso de Serviço Social, Centro de
Ciências Sociais Aplicadas da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, como requisito
parcial à obtenção do grau de Bacharel em
Serviço Social.
Orientadora: Profa. Dra. Marize Rauber
Engelbrecht
TOLEDO – PR
2014
ANA CAROLINA DE PAULA
AS MULHERES AGRICULTORAS DA LINHA CERRO DA LOLA DO MUNICÍPIO
DE TOLEDO-PR: O PROCESSO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE NO CAMPO
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado
ao Curso de Serviço Social, Centro de
Ciências Sociais Aplicadas da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, como requisito
parcial à obtenção do grau de Bacharel em
Serviço Social.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Orientadora – Profa. Dra. Marize Rauber Engelbrecht
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
_________________________________________________
Profa. Dra. Cleonilda Sabaini Thomazini Dallago
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
________________________________________________
Profa. Dra. Rosana Mirales
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Toledo, 11 de novembro de 2014.
Dedico este trabalho a minha mãe, Sônia Regina de Paula, pelo amor,
dedicação e coragem por ter enfrentado cada obstáculo da vida, para
que hoje pudéssemos compartilhar todos os momentos, e, inclusive,
por me possibilitar a formação profissional.
Dedico, também, a todas as mulheres guerreiras que, como minha
mãe, tiveram que sozinhas lutar constantemente pela sua
sobrevivência e a de seus(suas) filhos(as), além de persistirem na
conquista por uma vida melhor e buscaram fazer com que a mulher
fosse valorizada em cada espaço nessa sociedade desigual.
Além disso, dedico a todas as mulheres agricultoras que se
dispuseram a participar e contribuir com este estudo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e a Nossa Senhora pela vida e pelas bênçãos de cada dia.
A minha mãe e amiga Sônia Regina de Paula pelo imenso amor, dedicação e incentivo
em todos os momentos de dificuldade para que eu continuasse seguindo em frente. Te amo,
incondicionalmente!
Ao meu pai Sergio Campos (in memoriam), que, mesmo não o conhecendo
pessoalmente, passou a fazer parte da minha vida após a notícia de sua morte e que por muitas
vezes, em pensamento, me fez refletir sobre a vida, fortalecendo ainda mais a minha fé.
À minha avó Dirce Martinelli de Paula e ao meu tio Michel Martinelli Leite de Lima
pela convivência, paciência, disposição e compreensão no decorrer desse processo. Amo
vocês.
Aos demais familiares e amigos(as), que diretamente e indiretamente contribuíram que
eu chegasse até aqui. Um carinho especial à Dona Iris, pela conversa e companhia, e aos meus
tios Higino Fernandes e Silvana Martinelli que me criaram por dois anos e me acolheram
como uma filha.
Ao meu companheiro e amigo Maicon Gonçalves de Freitas - por fazer parte da minha
vida, compreender minhas angustias e me apoiar em todos os momentos - e seus familiares.
Ao Carlos Rocha Junior, por ser um excelente profissional, um exemplo de ser
humano e por quem tenho profunda admiração.
À Universidade Estadual do Oeste do Paraná por possibilitar a formação profissional,
assim como aos profissionais que nela trabalham.
Aos docentes do curso de Serviço Social que foram fundamentais na minha formação
profissional, não podendo esquecer: Alfredo Aparecido Batista; Alfonso Klein; Carmem
Pardo Salata; Cleonilda Sabaini Thomazini Dallago; Cristiane Carla Konno; Diuslene
Rodrigues Fabris; Ester Taube Toretta; Esther Luíza de Souza Lemos; Eugênia Aparecida
Cesconeto; India Nara Smaha; Ineiva Terezinha Kreutz Louzada; Luciana Vargas Netto
Oliveira; Maria Isabel Formoso C. e Silva Batista; Marize Rauber Engelbrecht; Rosana
Mirales; Sueza Oldoni; Vera Lúcia Martins; Zelimar Soares Bidarra. Obrigada a todos os
professores, pois sem vocês não seria possível percorrer o caminho e chegar até aqui.
Em especial, a minha orientadora Professora Dra. Marize Rauber Engelbrecht, por
aceitar ser minha orientadora depositando em mim a sua confiança para a construção deste
estudo. Admiro-a muito por toda gama de conhecimento que possui sobre a temática.
Agradeço-lhe por estar comigo nesse momento.
À banca examinadora por aceitarem avaliar este trabalho: Professora Dra. Cleonilda
Sabaini Thomazini Dallago, que me fez pensar e refletir sobre o Serviço Social na educação,
bem como me fez me apaixonar por essa área, e a Professora Dra. Rosana Mirales por todo
conhecimento transmitido e por me possibilitar integrar a equipe do projeto.
À Tatiani Finkler Guzzo, supervisora de estágio, por me possibilitar ver concretizado
no exercício profissional uma atuação norteada pelas dimensões ético-política, teórico-
metodológica e técnico-operativa. Obrigada por ter me considerado uma pessoa que somasse
ao seu trabalho, o que possibilitou momentos de trocas de conhecimento e de muito
aprendizado. Você é meu exemplo.
Aos amigos e amigas que pude fazer no decorrer do curso, pois compartilhamos das
mesmas angustias e conquistas, especialmente, à Carla (grande amiga, estou torcendo por
você), Marciana, Solange, Geni, Adriane pela companhia e bate-papo nos cafés da manhã e
entre outras. Parabéns a todas nós.
Aos demais colegas da universidade que fiz durante a atuação no Diretório Central dos
Estudantes e no Grupo de Estudos “Che Guevara” e em outras experiências que pude
participar no decorrer desses quatro anos.
A todos (as) que se dispuseram participar da pesquisa, pois sem a colaboração dos
mesmos não seria possível a realização deste trabalho.
Muito Obrigada!
Pela vida das mulheres e da agroecologia
Euzébio Cavalcanti de Albuquerque
[...]
A mulher agricultora Protege a geração A grande educadora Nos ensina a lição Do amor pela família Com saúde e alimentação
E todo esse cuidado Que aqui eu valorizo Você encontra em casa E deixo aqui um aviso Que existe violência Denunciar eu preciso
A primeira violência Vem pela sociedade
Que nunca valorizou Nem viu a capacidade Da mulher agricultora
E esconde a verdade
Trata só como doméstica A mulher agricultora E diz que ela só ajuda E não é a produtora
Ela planta e ela colhe Ela é trabalhadora
E a luta da mulher Mulher forte e aguerrida
Teve no enfrentamento A doação pela vida
Mataram muitas mulheres Doroty Stang e Margarida
Luta cheia de conquistas O direito de votar
Salário-maternidade Direito de trabalhar
A mulher quem deu o nome Agricultura familiar
E na luta conquistou Uma forte aliança
Que antes lhe foi negada Vivia sem segurança
Protege contra agressão E assim a luta avança
PAULA, Ana Carolina de. As mulheres agricultoras da Linha Cerro da Lola do
município de Toledo-PR: o processo de educação permanente no campo. Trabalho de
Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro de Ciências Sociais Aplicadas.
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Toledo-PR, 2014.
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresenta a pesquisa sobre a educação
permanente das mulheres agricultoras, tendo como objetivo geral: analisar de que forma a
capacitação permanente das mulheres tem se manifestado na dinâmica cotidiana da
agricultura familiar na Linha Cerro da Lola – Toledo-PR. Para atender a esse objetivo,
buscou-se: a) verificar como tem sido a educação permanente das mulheres agricultoras após
concluírem a escolarização formal; b) compreender se o conhecimento adquirido pela
educação permanente está sendo aplicado na propriedade; c) conhecer e elaborar um perfil das
mulheres agricultoras; e d) verificar que instituições oferecem os cursos profissionalizantes na
Linha Cerro da Lola e quais seus objetivos. Tem-se como pergunta norteadora deste estudo a
seguinte: Diante da educação permanente das mulheres agricultoras da Linha Cerro da Lola,
como esta tem permitido uma melhoria nas condições de vida das mulheres e refletido na
produção agrícola familiar? As principais referências teóricas são: Karl Marx; Elisabeth
Souza-Lobo; Mirla Cisne; Heleieth Iara Bongiovani Saffioti; José Graziano Silva; e Pierre
Furter. Definiu-se como categorias centrais: o trabalho, o gênero, a agricultura familiar e a
educação permanente. O procedimento metodológico adotado foi a pesquisa exploratória de
abordagem qualitativa, abrangendo a pesquisa de campo. A amostra da pesquisa constitui-se
no total de nove sujeitos, sendo cinco mulheres agricultoras e quatro sujeitos de entidades que
atuam diretamente com a população rural. Utilizou-se a entrevista semiestruturada partindo do
formulário de entrevista com o recurso do gravador. A investigação apresentou, como
principal resultado, que a educação permanente tem sido constante na vida das mulheres
agricultoras ao participarem do que é ofertado na localidade, porém elas aplicam o
conhecimento adquirido na propriedade de forma parcial, ou seja, algumas melhoraram a
condição de vida e de investimento na propriedade e outras aprimoraram somente o trabalho
artesanal.
Palavras-chave: Trabalho; Gênero; Agricultura familiar; Educação permanente.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Participação na população ocupada, por agrupamento de atividade, segundo o
sexo (%) – 2003-2011.............................................................................................................. 24
Gráfico 2 - Rendimento médio real do trabalhado das pessoas ocupadas, por sexo (em R$, a
preços de dezembro de 2011) – 2003-2011 ............................................................................. 24
Gráfico 3 - Composição familiar das mulheres agricultoras .................................................. 55
Gráfico 4 - Escolaridade das mulheres agricultoras ............................................................... 56
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Número de alunos, por série, matriculados na Escola Municipal Rural São Pedro
na Linha Cerro da Lola – Toledo-PR ...................................................................................... 53
Quadro 2 - Atividades realizadas pelas mulheres agricultoras .............................................. 60
Quadro 3 - Atividades que geram renda familiar em cada propriedade das mulheres
agricultoras entrevistadas ........................................................................................................ 64
Quadro 4 – Experiência de Educação Permanente das mulheres agricultoras ....................... 68
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Utilização das terras nos estabelecimentos, por tipo de utilização, segundo a
agricultura familiar - Brasil (2006) ......................................................................................... 31
Tabela 2 - Produtores na direção dos trabalhos do estabelecimento, agrupados por sexo e
anos de direção, segundo a agricultura familiar - Brasil (2006) ............................................. 33
Tabela 3 - Perfil das mulheres agricultoras ............................................................................ 55
Tabela 4 - Perfil dos sujeitos das entidades entrevistadas ...................................................... 56
LISTA DE SIGLAS
BIRD Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CF Constituição Federal
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CNE Conselho Nacional de Educação
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
COAMO Agroindustrial Cooperativa
EIR Exército Industrial de Reserva
EJA Educação de Jovens e Adultos
EMATER Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
ENERA Encontro de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária
FETAEP Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná
FMI Fundo Monetário Internacional
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INSS Instituto Nacional de Seguro Social
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MMC Movimento de Mulheres Camponesas
MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
OIT Organização Internacional do Trabalho
PEHEG Projeto Educando com a Horta Escolar e Gastronomia
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PNE Plano Nacional de Educação
PR Paraná
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SESC Serviço Social do Comércio
SESI Serviço Social da Indústria
SMED Secretaria Municipal de Educação
TCC Trabalho de Conclusão de Curso
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UBS Unidade Básica de Saúde
UNB Universidade de Brasília
UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13
1 A PERSPECTIVA DE TRABALHO E GÊNERO NA (RE)PRODUÇÃO DAS
RELAÇÕES SOCIAIS ................................................................................................... 16
1.1 A CONCEPÇÃO DE TRABALHO EM MARX ............................................................. 16
1.2 A DIVISÃO SOCIAL E SEXUAL DO TRABALHO..................................................... 19
1.3 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NA DINÂMICA DA
PRODUÇÃO CAPITALISTA ......................................................................................... 26
1.4 A EXPANSÃO DO CAPITALISMO NO CAMPO E A RELAÇÃO COM A
AGRICULTURA FAMILIAR ......................................................................................... 28
1.5 AS ESPECIFICIDADES DO TRABALHO DA MULHER AGRICULTORA DE
PRODUÇÃO FAMILIAR ................................................................................................ 32
2 O PROCESSO DE FORMAÇÃO PARA ALÉM DA EDUCAÇÃO FORMAL:
QUESTÃO DA EDUCAÇÃO PERMANENTE NO CAMPO .................................... 38
2.1 CONCEITUAÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO FORMAL NA SOCIEDADE
BRASILEIRA .................................................................................................................... 38
2.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO ............................................. 42
2.3 BREVE DEFINIÇÃO DA EDUCAÇÃO PERMANENTE NO CAMPO ........................ 44
3 ANÁLISE DAS MULHERES AGRICULTORAS NO PROCESSO DE EDUCAÇÃO
PERMANENTE NO CAMPO ........................................................................................ 48
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ADOTADOS NA PESQUISA .................... 48
3.2 APRESENTAÇÃO HISTÓRICA DA LOCALIDADE .................................................... 51
3.3 O PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA ................................................................... 54
3.4 EIXOS ANALÍTICOS DA PESQUISA............................................................................ 57
3.4.1 O Enraizamento das Mulheres na Localidade .......................................................... 57
3.4.2 O Processo de Trabalho e Renda Familiar ................................................................ 59
3.4.3 Dimensões da Educação Permanente das Mulheres Agricultoras e seus Reflexos no
Cotidiano ....................................................................................................................... 66
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 71
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 74
APÊNDICES .......................................................................................................................... 80
ANEXOS................................................................................................................................. 89
13
INTRODUÇÃO
A partir do século XX a sociedade atravessou um período de profundas
transformações políticas, econômicas, sociais e culturais não só no Brasil, como também
numa ordem global, tais transformações rebataram diretamente no modo de organização e (re)
produção da sociedade. As transformações ocorreram no âmbito do modo de produção, por
isso, neste estudo se fez necessário abordar a concepção de trabalho desde sua gênese a sua
mais recente configuração para compreender o funcionamento da sociedade capitalista e sua
forma de sociabilidade.
No decorrer desse processo possibilitaram-se avanços e retrocessos no acesso e
garantia dos direitos conquistados por meio dos movimentos de luta e resistência entre as
classes, na qual, legitimou através do processo de redemocratização a consolidação da
Constituição Federal de 1988 constituindo-se como um marco histórico resultado desse
movimento dialético, bem como, os diversos aparatos legais conquistados posteriormente.
É nesse contexto que as mulheres inseriram-se na sociedade por meio das
organizações sociais especificas e da articulação com outros movimentos da classe
trabalhadora ocupando novos espaços sociais e políticos. As mulheres ao longo do tempo
lutaram e lutam em busca de direitos, a igualdade entre os sexos e a construção de uma
identidade social feminina contrária à constituída e perpetuada historicamente na sociedade
capitalista imbricada pelo patriarcado que determina as funções que devem ser executadas
pelo sexo feminino e pelo sexo masculino. Ao mesmo tempo relacionando-as como acontece
na divisão sexual do trabalho em que o capital apropria-se das habilidades especificas de cada
força de trabalho reforçando a subordinação de gênero.
Atualmente, a partir dos esforços dos movimentos feministas e sociais foi possível ser
materializada o I, II e a construção do atual III Plano Nacional de Políticas para as Mulheres
2013-2015 significando um importante passo no conjunto de estratégias voltadas para a
promoção da autonomia, igualdade, saúde produtiva e reprodutiva e o enfrentamento à
violência contra a mulher pressionando a intervenção do Estado às reivindicações das
mulheres.
Para estudar esta temática partiu-se da seguinte problemática: Diante da educação
permanente direcionada as mulheres agricultoras da Linha Cerro da Lola, como esta tem
permitido uma melhoria nas condições de vida das mulheres e refletido na produção agrícola
familiar?. A partir desta questão teve-se como pressuposto que os cursos profissionalizantes
poderiam contribuir para fomentar a produção agrícola da família, além de gerar renda,
14
aumentar a produção e somar aos demais conhecimentos, porém não atendendo a autonomia
financeira das mulheres.
Considerando todo movimento histórico da sociedade, este estudo tem por objetivo
analisar de que forma a educação permanente das mulheres tem se manifestado na dinâmica
cotidiana da agricultura familiar na Linha Cerro da Lola – Toledo/PR. Essa temática se faz
pertinente partindo-se da Lei n. 11.326 de 24 de julho de 2006 que estabelece as diretrizes
para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos
Familiares Rurais estabelece a fomentação a educação, capacitação e profissionalização no
âmbito da agricultura familiar, esse novo olhar para a Agricultura Familiar não pode ser
desvinculada da conjuntura da sociedade, focalizando principalmente nesta pesquisa, como
isto tem se refletido junto às mulheres agricultoras.
Os caminhos delineados para responder ao objetivo geral deste estudo foram: a)
verificar como tem sido a educação permanente das mulheres agricultoras após concluírem a
escolarização formal; b) compreender se o conhecimento adquirido pelas mulheres na
educação permanente está sendo aplicado na propriedade para melhorar as condições de vida;
c) conhecer e elaborar um perfil das mulheres agricultoras e d) verificar quais instituições
oferecem os cursos profissionalizantes na Linha Cerro da Lola - Toledo/PR e quais seus
objetivos.
Definiram-se como referências conceituais que mais fundamentaram esta pesquisa os
seguintes autores: sobre a concepção de trabalho Karl Marx e Ricardo Antunes; para abordar
sobre a divisão social e sexual do trabalho Marisa Camargo e Mirla Cisne; para o
entendimento da categoria gênero Elisabeth Souza-Lobo e Heleieth Iara Bongiovani Saffioti;
para compreensão da agricultura familiar José Graziano Silva e para definição da educação
permanente Pierre Furter entre outros que complementaram a discussão dos três capítulos.
Para o desenvolvimento da investigação adotou-se como procedimento metodológico
um conjunto estruturado para que a metodologia respondesse as exigências de credibilidade e
consistência. Para isso utilizou-se da pesquisa exploratória, documental em livros, artigos
científicos, legislações, arquivos digitais e documento informal, além da pesquisa de campo.
Esta pesquisa recorreu a entrevista, subsidiada por um formulário selecionando uma amostra
constituída de mulheres agricultoras (05) e entidades (04) que trabalham diretamente com o
meio rural, contabilizando em (09) sujeitos da pesquisa selecionadas, obedecendo critérios
estabelecidos.
Para dar conta de interpretar e desvendar os significados das falas dos sujeitos da
pesquisa utilizou-se a análise de conteúdo no intuito de compreender vivências e experiências.
15
O trabalho de Conclusão de Curso está estruturado em 03 capítulos. No primeiro
capítulo trata-se da perspectiva de trabalho e gênero na (re) produção das relações sociais
que aborda os determinantes históricos conceituais sobre trabalho, divisão social e sexual do
trabalho e as especificidades do trabalho da mulher na agricultura.
O segundo capítulo se refere ao processo de formação para além da educação
formal: questão da educação permanente do campo que trata da história da educação formal
estabelecida pelo sistema educacional brasileiro a partir da consolidação como direito de
todos os cidadãos, bem como, uma breve contextualização da educação no campo e da
educação permanente.
O terceiro capítulo trata-se da análise das mulheres agricultoras no processo de
educação permanente no campo abordando significados e vivências. Após a análise, são
feitas as considerações finais salientando os principais resultados alcançados da investigação.
16
1 A PERSPECTIVA DE TRABALHO E GÊNERO NA (RE)PRODUÇÃO DAS
RELAÇÕES SOCIAIS
Para iniciar o debate que pretende-se realizar neste estudo, objetiva-se abordar,
brevemente, a concepção de trabalho, desde a sua manifestação enquanto mercadoria até o
processo de produção em que ocorreram as modificações de acordo com a necessidade
histórica da sociedade e as diferentes ramificações no âmbito da sociedade capitalista.
Outro aspecto a ser abordado refere-se à divisão social e sexual do trabalho, no
movimento da construção histórica das relações de gênero na dinâmica da produção
capitalista, abrangendo, também, como as mulheres estão presentes na divisão sociotécnica do
trabalho. Além disso, busca-se descrever o processo de expansão do capitalismo no campo e
a relação com a Agricultura Familiar e as especificidades do trabalho da mulher agricultora
de produção familiar.
Neste estudo tratar-se-á especificamente do contexto brasileiro, cuja Constituição
Federal de 1988 significou um marco legitimador da garantia de direitos numa ordem
democrática, reconhecendo toda a população nacional como sujeitos de direitos, sendo dever
do Estado efetivá-los de maneira a promover, fomentar/financiar, regular/fiscalizar e executar
as políticas públicas.
1.1 A CONCEPÇÃO DE TRABALHO EM MARX
Debater sobre a concepção de trabalho envolve remeter ao significado ontológico do
conceito, ou seja, entendê-lo como sendo o elemento mais importante da existência humana,
que se manifesta por meio de desgaste físico e psíquico, e que nos constitui como seres
sociais, possibilitando o desenvolvimento da sociabilidade humana. Assim,
[...] desmistifica o significado „natural‟ do trabalho e mostra que o trabalho é
atividade humana, resultante do dispêndio de energia física e mental direta
ou indiretamente voltada à produção de bens e serviços, contribuindo para a
reprodução da vida humana, individual e social. (BEHRING; BOSCHETTI,
2008, p.50).
Essa atividade humana foi sendo aprimorada ao longo da evolução do homem, com o
desenvolvimento de suas capacidades e habilidades, como o tato, a visão, a audição, a
linguagem (a fala), o paladar (alimentação) e a consciência (dimensão intelectual), que
contribuíram na mediação, regulação e controle do homem sobre a natureza para sua
17
sobrevivência, pois, de acordo com Brito, Neto e Vieira (1997), o trabalho é processo que
media o homem e a natureza; o homem, por sua própria ação, apropria-se dos recursos da
natureza dando-lhe forma útil a vida humana.
Segundo os autores, a partir das ações sobre a natureza, o homem apropria-se de
técnicas e conhecimentos para dominá-la e ao mesmo tempo em que o homem transforma a
natureza também transforma a si mesmo. Utilizando-se da capacidade teleológica, atividade
exclusiva do homem, ele é capaz de projetar/idealizar antes de produzir um determinado
objeto para responder a sua existência.
O conceito de trabalho foi se modificando de acordo com as transformações do modo
de produção e os modelos de sociedade que se constituíram historicamente, no caso da “[...]
sociedade capitalista burguesa, o trabalho perde seu sentido como processo de humanização,
sendo incorporação como atividade natural de produção de troca independente de seu
contexto histórico.” (BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p. 50).
Assim, com a organização do modo de produção capitalista, o trabalho se caracteriza
como uma atividade que produz mercadoria1 e gera lucro
2. Para compreender esse modo de
produção capitalista, faz-se necessário entender o processo de produção capitalista3 que se
constitui em duas etapas: o processo de trabalho e o processo de valorização.
No processo de trabalho encontram-se três elementos fundamentais para sua
concretização, sendo eles: a matéria-prima, o instrumento de trabalho e a força de trabalho.
Por meio da natureza, o homem extrai a matéria-prima que necessita para sua sobrevivência e
a partir dela constrói os meios de trabalho para construir outros objetos e assim
sucessivamente, quando geradas outras necessidades4.
A matéria-prima constitui-se em um objeto de trabalho quando já mediada pelo
homem por meio do trabalho, sendo que, cada vez mais, o homem aprimora os conhecimentos
e as técnicas para o domínio da natureza. A partir de então, utiliza-se dos meios de produção
1“A mercadoria é em primeiro lugar um objeto exterior, uma coisa que pelas suas propriedades satisfaz uma
necessidade qualquer do homem.” (MARX, 1979, p. 17). 2 “Visto haver uma taxa de lucro geral e, por conseguinte, o lucro médio, em todos os ramos, corresponder à
grandeza do capital empregue, é uma questão de acaso que a mais-valia produzida realmente numa esfera
particular da produção coincida com o lucro contido no preço de venda da mercadoria.” (MARX, 1979, p. 41). 3“Para a sua própria realização, o processo de produção capitalista reproduz portanto a separação entre a força de
trabalho e as condições de trabalho. Reproduz a eterniza assim as condições de exploração do operário. Força
constantemente este último a vender a sua força de trabalho para viver e põe constantemente o capitalista em
estado de comprar esta força para se enriquecer. Não é já o simples acaso que, no mercado das mercadorias, faz
encontrarem-se o capitalista e o operário como comprador e vendedor. É este próprio duplo processo que lança
sempre o operário no mercado como vendedor da sua força de trabalho e transforma sem cessar o produto do
operário em meio de compra nas mãos do capitalista.” (MARX, 1979, p. 129). 4 A definição do processo de trabalho e do processo de valorização foi compreendida também por meio das
discussões realizadas em sala de aula na disciplina de “Trabalho, Processo de Trabalho e Constituição da
Sociabilidade I” ministrada pelo Professor Dr. Alfredo Aparecido Batista, no ano de 2011.
18
que não englobam somente os instrumentos de trabalho como: matéria-prima, matérias
auxiliares, máquinas, aparelhos, instalações, mas também,
[...] uma coisa ou um complexo de coisas que o trabalhador coloca entre si
mesmo e o objeto de trabalho e que lhe serve como condutor de sua
atividade sobre o objeto. Ele utiliza as propriedades mecânicas, físicas,
químicas das coisas para fazê-las atuar como meios de poder sobre outras
coisas, conforme seu objetivo. (ANTUNES, 2004, p. 38).
Utilizando da concepção de Marx, Antunes (2004) coloca que “[...] a utilização da
força de trabalho é o próprio trabalho.” (p. 35), pois, quando a força de trabalho é comprada,
ela transforma-se em mercadoria, sendo a única mercadoria que produz outras mercadorias.
Ao se transformar em mercadoria, a força de trabalho é tratada da mesma forma que as
demais, ou seja, quem a compra a detêm como sua propriedade e passa a consumi-la e
controlá-la.
Assim, para Marx,
O valor da força de trabalho, como o de qualquer mercadoria, é determinado
pelo tempo de trabalho necessário à sua produção e por consequência,
também à sua reprodução. (...) O tempo de trabalho necessário à produção da
força de trabalho reduz-se portanto ao tempo de trabalho necessário à
produção desses meios de subsistência; por outras palavras, o valor da força
de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à
conservação do seu possuidor. (MARX, 1979, p. 23, grifo do autor).
Como descrito acima, o valor da força de trabalho é determinado pelo tempo médio
necessário para produção de uma mercadoria que se expressa em dinheiro5, por meio do
salário6 pago ao trabalhador para suprir suas necessidades físicas e do espírito, que apenas
mantém o trabalhador em condições mínimas para poder despender a sua força de trabalho e,
além disso, faz com que desapareça o trabalho humano e o lucro obtido pelo capitalista por
meio da mais-valia7 relativa e absoluta, ou seja, o trabalho não pago ao trabalhador. Dessa
forma, mesmo que a produção de uma mercadoria seja resultado do trabalho socialmente
5 “Dinheiro como medida de valor, é forma necessária de manifestação da medida imanente do valor das
mercadorias: o tempo de trabalho.” (MARX, 1983, p. 219). 6 “Para a sociedade burguesa, o salário do operário apresenta-se como o preço do trabalho, determinada soma de
dinheiro paga em troca de determinada quantidade de trabalho.” (MARX, 1979, p. 173). 7“A mais-valia é produzida pelo emprego da força de trabalho. O capital compra a força de trabalho e paga, em
troca, o salário. Ao trabalhar, o operário produz um novo valor, que não lhe pertence, mas sim ao capitalista. É
necessário que trabalhe um certo tempo para restituir, unicamente, o valor do salário. Mas, feito isto, não para e
trabalha ainda durante mais algumas horas do dia. O novo valor que então produz, e que ultrapassa portanto o
montante do salário, chama-se mais-valia.” (MARX, 1979, p. 44).
19
necessário8, este é acumulado e centralizado apenas pelo possuidor dos meios de produção e
da força de trabalho.
No processo de produção capitalista, o produto finalizado - a mercadoria -passa pelo
processo de valorização, que ocorre a partir dos três elementos elencados9, que são
constitutivos do processo de trabalho e que determinam o valor de uma mercadoria.
A matéria-prima agrega valor exato em sua medida e conteúdo no sentido quantitativo
em que se utilizou a matéria-prima e no empenho de extraí-la da natureza. Os instrumentos de
trabalho transferem o valor, visto que media a ação do homem com a natureza para
transformá-la em mercadoria. Nenhum desses elementos anteriores poderia ser desenvolvido
sem a força de trabalho humana potencializada como atividade fundante de transformação e
criação, transferindo a mercadoria um valor de uso10
imbuído pela condição objetiva (meios
de produção) e subjetiva (força de trabalho), e um valor de troca11
que possibilita o encontro
de dois valores de uso de forma equivalentes.
Quando a mercadoria encontra-se no âmbito do mercado, esta perpassa pelas fases de
circulação, distribuição e consumo. É nesse momento em que o trabalhador, produtor da
mercadoria, distancia-se dela colocando-se na condição de comprador, pois o capitalista
expropria tanto a mais-valia produzida pelo trabalhador obtida no processo de trabalho,
quanto na venda da mercadoria por meio dos preços12
.
Portanto, há de se considerar esses aspectos, em sua essência, para compreender a uma
ordem atual e globalizada em que se apresenta o processo de produção capitalista, a partir de
suas manifestações e determinações do mundo do trabalho presentes nas precárias condições
de trabalho e nas formas variadas de contratação do trabalhador, que rebatem diretamente na
(re)produção das relações sociais e na agudização das expressões da questão social.
1.2 A DIVISÃO SOCIAL E SEXUAL DO TRABALHO
O século XX é denominado, por alguns autores, como um período que demarca
diversas transformações na sociedade brasileira que rebatem diretamente no processo de
reprodução e produção social e nos modos de vida da sociedade, uma vez que constituiu um
8“É pois unicamente a quantidade de trabalho socialmente necessário, ou seja, o tempo de trabalho socialmente
necessário à produção dum valor de uso qualquer, que determina o seu valor.” (MARX, 1979, p. 19). 9 Matéria-prima, instrumentos de trabalho e força de trabalho.
10“Um valor de uso, ou, por outras palavras, um bem, só tem pois valor porque se acha materializado nele
trabalho humano, considerado sob forma abstracta.” (MARX, 1979, p. 18). 11
“O valor de troca surge primeiro como relação quantitativa segundo a qual valores de uso duma espécie se
trocam por valores de uso duma outra espécie.” (MARX, 1979, p. 17). 12
“O preço é a expressão monetária do valor e pode variar em relação a ele.” (BRAZ; NETTO, 2010, p. 148).
20
cenário de “[...] transformações políticas, econômicas e sociais com significativas
repercussões para o mundo do trabalho e, consequentemente, para a classe trabalhadora.”
(CAMARGO, 1995, p. 176).
Esse processo está associado ao movimento de mundialização13
e globalização14
entre
os mercados internacionais do capital financeiro, como forma de padronizar as relações de
trabalho. A autora considera também, os reflexos da crise estrutural ocorrida nos anos de 1960
e 1970, mas foram nos anos seguintes, de 1980 e 1990, que ficaram evidentes os impactos
dessa crise por meio do reestabelecimento do padrão de acumulação e da reestruturação
produtiva15
, ao mesmo tempo em que interessava aos capitalistas encontrar e aplicar
estratégias para a manutenção da ordem societária capitalista, também buscavam conter as
manifestações da classe trabalhadora no contexto de plena efervescência das manifestações
sociais devido à conjuntura econômica, política, social e cultural que se vivenciava na
sociedade brasileira. (CAMARGO, 1995, p. 176-177).
Nesse contexto, foram constantes as reivindicações da classe trabalhadora em busca de
melhores condições de vida, porém, como dito anteriormente, havia também uma corrente
oposta que visava uma “[...] radical destruição da resistência operária e sindical através do
desmantelamento, da desintegração e da individualização dos trabalhadores.” (CAMARGO,
1995, p. 177), como forma de desmobilizar a classe trabalhadora nas suas lutas.
Isso se fortaleceu com a apropriação da teoria neoliberal combinada aos interesses da
burguesia. Essa teoria,
Delineou um processo de minimização do caráter interventivo do Estado no
que diz respeito à proteção social e a efetivação dos direitos sociais;
crescente privilegiamento da lógica do mercado privado; valorização da
individualidade dos sujeitos associada à desmobilização social e política
(coletiva e sindical); redesenho no sentido mesmo da ordem política e
transformações de ordem societária. (CAMARGO, 1955, p. 177).
13
“A mundialização da economia está ancorada nos grupos industriais transnacionais, resultantes do processo de
fusões e aquisições de empresas em um contexto de desregulamentação e liberação da economia. Esses grupos
assumem formas cada vez mais concentradas e centralizadas do capital industrial e se encontram no centro da
acumulação. As empresas industriais associam-se às instituições financeiras (bancos, companhias de seguros,
fundos de pensão, sociedades financeiras de investimentos coletivos e fundos mútuos), que passam a comandar o
conjunto da acumulação, configurando um modo específico de dominação social e política do capitalismo, com o
suporte dos Estados Nacionais.” (IAMAMOTO, 2010, p. 108). 14
“Em um mercado mundial realmente unificado, impulsiona-se a tendência à homogeneização dos circuitos do
capital – por meio da tecnologia e da multimídia. (...) A transferência de riqueza entre classes e categorias sociais
e entre países está na raiz do aumento do desemprego crônico, da precariedade das relações de trabalho, das
exigências de contenção salarial, da chamada „flexibilidade‟ das condições e relações de trabalho, além do
desmonte dos sistemas de proteção social.” (IAMAMOTO, 2010, p. 111). 15
“Em 1980, década de grande salto tecnológico, a automação, a robótica e a microeletrônica invadiram o
universo fabril, inserindo-se e desenvolvendo-se nas relações de trabalho e de produção do capital.”
(ANTUNES, 1997, p. 15).
21
Em outras palavras, observa-se que,
Com a crise do capital iniciada na década de 1970, vêm se desenvolvendo
movimentos/estratégias/transformações no modo de produção e reprodução
sociais, no campo econômico e político, como forma de garantir interesses,
dos quais se destacam a globalização e a reestruturação produtiva somada ao
neoliberalismo, um novo modelo para o Estado. (CISNE, 2012, p. 119).
Diante desse contexto de transformações, modificam-se as relações entre Estado e
sociedade, uma vez que a globalização possibilita a intervenção dos organismos
internacionais por meio de acordos ou pactos, favorecendo, assim, o capital, que age de
acordo com seus interesses, minimizando, cada vez mais, as ações do Estado no que se refere
às políticas sociais e a garantia de direitos16
.
Outro fator a ser destacado é a divisão do trabalho, que para Gorz (1976) precisa ser
analisada na sua forma capitalista, pois,
[...] não poderia assumir nenhuma outra forma – não é mais do que um
método particular de produzir mais-valia relativa ou de, à custa do
trabalhador, aumentar o rendimento do capital, aquilo a que se chama
riqueza social. À custa do trabalhador, desenvolve a força colectiva do
trabalho para o capitalista. Cria circunstâncias novas que asseguram a
dominação do capital sobre o trabalho. Apresenta-se, portanto, como um
progresso histórico, uma fase necessária na formação econômica da
sociedade, e como meio civilizado e requintado de exploração. (GORZ,
1976, p. 27, grifo do autor).
De acordo com esse processo, faz-se necessário destacar a fundamental atribuição do
avanço tecnológico que veio imbricado com a reorganização do mundo do trabalho,
favorecendo a aceleração da produção e a concentração da riqueza. Desse modo, a tecnologia
faz com que se exija uma mão de obra qualificada do trabalhador, especialmente para que
possa manusear e controlar esse instrumento de trabalho, mas que, em contra partida, faz com
que uma das expressões da questão social se acentue, no caso, o desemprego.
Diante dessas condições, a classe trabalhadora, não tendo oportunidade e possibilidade
de escolha, submete-se as condições precárias de trabalho, muitas vezes perdendo o acesso
aos seus direitos historicamente conquistados. O discurso coercivo utilizado pelo capital é a
existência do Exército Industrial de Reserva (EIR), formado por “[...] um grande contingente
de trabalhadores desempregados, que não encontra compradores para a sua força de trabalho.
16
Para maior aprofundamento ver: IAMAMOTO, Marilda Vilela. Serviço Social em Tempo de Capital
Fetiche: Transformações do capital financeiro, trabalho e questão social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
22
[...] tal exército é um componente necessário e constitutivo da dinâmica histórico-concreta do
capitalismo.” (BRAZ; NETTO, 2010, p. 132).
A divisão do trabalho não é algo que surge com a sociedade capitalista, mas que, nesse
momento, manifesta-se inserida numa nova organização do trabalho. Porque, de acordo com
Cisne (2012), a primeira divisão do trabalho foi entre a mulher e o homem, aparecendo
concomitante ao antagonismo de classe com a opressão do sexo feminino pelo masculino.
A partir da divisão social do trabalho gera-se uma forma de divisão sexual do
trabalho, que “[...] é um fenômeno histórico e social, pois se transforma e se reestrutura de
acordo com a sociedade da qual faz parte em um determinado período.” (NOGUEIRA, 2011,
p. 24). É na dimensão da divisão sexual do trabalho que se apresentam as diferentes formas de
exploração do capital, destacando, principalmente, as múltiplas determinações sofridas pelas
mulheres.
Somado a esse fator, a condição da mulher nesse processo se torna mais grave por
meio da flexibilização, tanto das condições objetivas de trabalho, quanto das formas de
contratações, que intensificam a precarização e a exploração da força de trabalho. Assim,
constituindo como uma das estratégias do capital, expressando,
[...] na flexibilização dos direitos trabalhistas, que hoje configuram as novas
expressões da “questão social”. Essa flexibilização é também facilitada pela
subordinação que historicamente foi imputada às mulheres no mercado de
trabalho devido à forma desprestigiada com que suas atividades são vistas ou
até mesmo não percebidas como trabalho, justificando os baixos salários, o
desprestígio e a falta de necessidade de proteção trabalhista. (CISNE, 2012,
p. 125).
Compreende-se, por exemplo, que as transformações ocorridas no mundo do trabalho
juntamente a flexibilização exigem a polivalência dos trabalhadores. Neves (2000) destaca
que devido ao processo de flexibilização e modernização produtiva, as mulheres se submetem
as condições precárias e inseguras de trabalho “[...] por meio de jornadas parciais, contratos
por tempo determinado, trabalhos em domicílio, utilizando-se, uma vez mais, da qualificação
informal adquiridas pelas mulheres no trabalho doméstico, mas sem nenhuma forma real de
valorização do trabalho feminino.” (CISNE, 2012, p. 124). Tais fatores ocasionam a
intensificação do ritmo de trabalho e perda de direitos legais.
Conforme contribuição de Cisne (2012), a divisão sexual do trabalho constitui numa
das formas de exploração do capital, que segmenta, hierarquiza e subalterniza o trabalho do
homem e da mulher, sendo que este último elemento inferioriza o trabalho das mulheres
23
comparado ao dos homens. A autora (2012, p. 109) afirma, também, que “A divisão sexual do
trabalho resulta de um sistema patriarcal capitalista que por meio da divisão sexual do
trabalho confere às mulheres um baixo prestígio social e as submete aos trabalhos mais
precarizados e desvalorizados.”.
Cisne (2012) explicita, ainda, uma análise crítica da divisão sexual do trabalho, que
reafirma que, tanto na esfera pública quanto na privada, as mulheres são superexploradas, por
meio de suas atividades de trabalho, e aponta que a exploração no setor público se intensifica,
manifestando-se na desvalorização, subordinação, exploração, nos baixos salários e no
desprestígio presentes no mundo produtivo.
O discurso de que as mulheres no mercado de trabalho “[...] atingiram um patamar de
igualdade social com os homens, se libertaram, adquiriram independência, já ocuparam
grande parte do mercado de trabalho [...]” (CISNE, 2012, p. 85) tem sido conciliado à
ideologia burguesa e aos veículos de comunicação.
Tomando por base os dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) em 201217
, constata-se a predominância dos homens na maioria dos setores
de atividades, com destaque nos setores de construção e indústria, com um número
significativamente maior em comparação as mulheres no mesmo espaço.
17
“A Pesquisa Mensal de Emprego – PME, implantada em 1980, produz indicadores para o acompanhamento
conjuntural do mercado de trabalho nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de
Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Trata-se de uma pesquisa domiciliar urbana realizada através de uma amostra
probabilística, planejada de forma a garantir os resultados para os níveis geográficos em que é realizada.” (IBGE,
2012, s/p). Dessa forma, serão utilizados esses dados como amostra para demonstrar a participação e a condição
em que a mulher se encontra no mercado de trabalho, mesmo que esses dados possam não contemplar o contexto
nacional, constituem-se como um instrumento de análise para a problemática abordada no presente estudo.
24
Gráfico 1 – Participação na população ocupada, por agrupamento de atividade, segundo
o sexo (%) – (2003 e 2011).
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisa, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Mensal de Emprego
2003-2011.
O gráfico acima demonstra, também, a prevalência das mulheres (94,8%) nos serviços
domésticos - afirmando como uma atividade inserida na divisão sexual do trabalho, atribuída
ao sexo feminino, continua se perpetuando - seguida pela ocupação no espaço da
administração pública.
Outro aspecto a ser considerado é o rendimento das pessoas ocupadas, que demonstra
que o salário dos homens está sempre superior ao das mulheres, mesmo com o crescimento
gradativo do salário das mulheres durante os anos de 2003 a 2011.
Gráfico 2 – Rendimento médio real do trabalho das pessoas ocupadas, por sexo (em R$ a
preços de dezembro de 2011) 2003 - 2011.
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisa, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Mensal de
Emprego 2003-2011.
25
Esses aspectos também puderam ser observados nas pesquisas expostas por Souza-
Lobo (1991), referente às mulheres nas indústrias, que observaram aspectos de inferioridade
do trabalho feminino em relação ao masculino, pois a subordinação de gênero se manifesta
não só na divisão das tarefas, mas também nas condições de trabalho e no salário, dependendo
das formas conjunturais e históricas construídas.
Inserida numa organização estrutural e social do trabalho, a divisão sexual do trabalho
reforça a subordinação de gênero, exploração da força de trabalhado feminina, desigualdade
de salários, desqualificação das funções femininas e alienação do processo de produção, uma
vez que,
[...] a partir da individualização da força de trabalho se constrói uma força de
trabalho coletiva e sexuada, sem identidade profissional, que produz um
produto final que não conhece. As condições ótimas de produtividade são
socialmente recriadas através da hierarquia de gêneros, que faz das mulheres
trabalhadoras „dóceis‟, „baratas‟ e „disciplinada‟. (SOUZA-LOBO, 1991, p.
166).
A autora acrescenta que,
[...] a divisão sexual, social e internacional do trabalho mostram que as
modalidades de subordinação das mulheres nas suas experiências de trabalho
são múltiplas mas cujo ponto comum é justamente a persistência da
subordinação. As práticas sociais, familiares, culturais e de trabalho das
mulheres são simultaneamente aproveitadas nas relações de trabalho
propriamente capitalistas ou não, formais ou informais. Ao mesmo tempo,
essas práticas são constantemente reformuladas pelas mulheres, como
estratégias de sobrevivência, mas também como estratégias de resistência à
dominação e à subordinação. (SOUZA-LOBO, 1991, p. 170).
Intrínseca à divisão sexual do trabalho, Toledo (2001) levanta uma importante questão
sobre gênero em torno da posição em que as mulheres ocupam no interior de sua determinada
classe dentro da sociedade capitalista, constatando-se que as condições das mulheres
trabalhadoras (a mulher pobre da periferia, das favelas e do campo) estão, cada vez mais,
distanciando-se das condições objetivas das mulheres burguesas, ou seja, a cada dia se
aprofunda o abismo entre elas e suas condições materiais de vida ficam mais diferenciadas. A
autora coloca que por mais que a mulher burguesa seja oprimida, ela não possui dupla
jornada, não precisa trabalhar o dia todo, pelo contrário, explora outros homens e mulheres e
não necessita lutar por sua sobrevivência, entre outras situações exemplificadas pela autora.
(CISNE, 2012).
26
Diante do exposto acima, Cisne (2012, p. 104) ressalta que compreender “[...] o
antagonismo de classe é indispensável para perceber a importância em não se poder
generalizar, para todas as mulheres, a mesma forma de opressão a que estão submetidas.”. As
mulheres trabalhadoras são as mais atingidas pelo modelo econômico e cultural da sociedade,
pois além de serem exploradas, oprimidas e discriminadas pelo sexo e pela classe, vivem no
limite e na busca de sua sobrevivência.
Concomitante ao contexto das múltiplas expressões de opressão e discriminação
contra a mulher, no âmbito do mercado de trabalho, como visto acima, resultam diversos
movimentos sociais e feministas que levantam a bandeira em defesa de seus direitos. Para
compreender como a mulher se insere e intervém na sociedade atual, é necessário recorrer a
construção histórica de gênero na dimensão das relações sociais, não excluindo, obviamente, a
dimensão da produção capitalista.
1.3 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NA DINÂMICA DA
PRODUÇÃO CAPITALISTA
A emergência dos movimentos de mulheres surgiu a partir da segunda metade da
década de 1970, inserido no cenário dos movimentos sociais, ocupando os espaços políticos e
sociais, evidenciando as questões dos direitos das mulheres e da igualdade entre os sexos.
(SOUZA-LOBO, 1991, p. 176-179).
Esse movimento se intensificou nas décadas de 1980 e 1990, em que se abriu um
espaço importante na sociedade brasileira, revelando a importância da mulher como sujeitos
de mudanças sociais, conforme Faria (2009), as mulheres começaram a buscar não apenas os
seus direitos, mas também serem reconhecidas como diferentes, reivindicando o espeço social
e quebrando com a figura tradicional construída de subordinada ao homem e exclusiva aos
trabalhos domésticos.
Para compreender a mulher, nesse contexto sócio-histórico, faz-se necessário
conceituar a categoria gênero18
que, de acordo com Cisne (2012), deve ser entendida como
social e histórica, constitutiva das relações sociais.
Nessa perspectiva, a autora considera que as questões de gênero passam
necessariamente pela contradição da “questão social”, ou seja, pelo interesse econômico do
18
O primeiro estudioso a mencionar e conceituar gênero foi Robert Stoller, em 1968, e sete anos depois, em
1975, Gayle Rubin frutificava os estudos de gênero. O conceito de gênero, no Brasil, alastrou-se na década de
1990, mas já no fim dos anos 1980 circulava o artigo de Joan Scott (1983-1988) que ressaltava o caráter analítico
da categoria gênero (SAFFIOTI, 2004, p. 107-109).
27
capitalismo, expresso por meio da relação entre capital e trabalho, sendo que a construção
social sexual é constituída por todas as dimensões da vida, desde a infância e nos diversos
espaços onde são qualificados e capacitados de forma diferente para serem inseridos no
mercado de trabalho, assim, o capital se apropria desigualmente da divisão sexual do trabalho.
A construção social está relacionada com a identidade social da mulher, assim como a
dos homens, essa identidade é construída por meio da atribuição de distintos papéis a serem
cumpridos na sociedade pelas diferentes categorias de sexo, sendo que a sociedade delimita os
campos em que a mulher e o homem podem atuar (SAFFIOTI, 1987).
Na mesma linha de compreensão, Gonçalvez (2006, p. 75-76) reafirma que “A noção
de que os papéis sexuais são construídos socialmente e não se constituem como
desdobramento da anatomia de homens e mulheres pode ser melhor compreendida através da
contextualização dessas relações em um mesmo momento histórico.”.
A partir disso, a opressão sobre as mulheres perpassa pela disciplina do corpo, pela
difusão de métodos de contracepção, pela impossibilidade de ascensão profissional para as
mulheres e pela imposição de chefias masculinas. Para Castro e Lavinas (1992, p. 221) “[...]
podemos reconhecer nessa formulação a prática combinada do capitalismo com o patriarcado
na construção social da submissão feminina, necessária à reprodução da sociedade de
classes.”.
Partindo desse contexto, não é possível analisar gênero isoladamente das
determinações econômicas e sociais, faz-se necessário compreender
[...] que a subordinação da mulher no mundo do trabalho está vinculada à
naturalização de papéis e ao desenvolvimento de habilidades ditas femininas,
voltados a atender os interesses do capital. Assim, é que qualidades exigidas
das mulheres, como destreza, minúcia, rapidez, são consideradas inatas e não
adquiridas, como fatos de natureza, não sociais. (CISNE, 2012, p. 117).
Para Cisne (2012), é necessário analisar gênero no bojo das contradições e das forças
sociais, tendo como foco as desigualdades sociais e a luta entre as classes sociais - o que
determina o movimento da sociedade, ou, como diria Marx: o motor da história. É
imprescindível relacionar a luta das mulheres com um movimento legítimo contra as
desigualdades, “na” e “com” a luta da classe trabalhadora.
Destarte, a categoria gênero deve ser percebida além de uma construção cultural, uma
vez que a cultura não é natural. Não só o gênero deve ser historiado, mas também a cultura e a
sociedade, não de forma isolada, mas inter-relacionadas com as demais relações sociais.
Afinal, a cultura é determinada “nas” e “pelas” relações sociais, não de forma linear,
28
homogênea ou fragmentada em exacerbações de diferenças, mas dentro das contradições que
determinam a produção e a reprodução desta sociedade.
1.4 A EXPANSÃO DO CAPITALISMO NO CAMPO E A RELAÇÃO COM A
AGRICULTURA FAMILIAR
Antes de abordar sobre o trabalho da mulher rural, é necessário abordar o meio em que
ela vive e as dimensões que integram o seu contexto. Ao descrever sobre a mulher rural, neste
estudo, refere-se as que se encontram na produção agrícola familiar.
A Lei n. 11.326/2006, que estabelece as diretrizes para a formulação da Política
Nacional de Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, em seu Art. 3º,
considera agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que,
I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos
fiscais;
II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;
III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades
econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento; e
IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.
(BRASIL, 2014, s.p).
Conforme apresenta Silva (1990), o desenvolvimento das pequenas propriedades no
processo de transformação econômica da sociedade brasileira19
visava incentivar as iniciativas
de mercado, como, por exemplo, as indústrias, para fortalecer os centros urbanos. Com isso,
os pequenos agricultores tinham que expandir a produção de alimentos para abastecer as
cidades; esse momento oportunizou a produção de alimentos e os pequenos agricultores
iniciam uma produção de matérias-primas para as indústrias nascentes.
Com a industrialização das cidades, nos anos 1960 começam, no Brasil, as instalações
das fábricas de máquinas e insumos agrícolas, o que gerou a necessidade de criar um mercado
consumidor para esses produtos20
, assim, “Para garantir a ampliação desse mercado, o Estado
19
Transformação determinada a partir do movimento histórico ocorrido desde o “[...] período do tráfico e da Lei
de Terras até abolição (1850/1888) marca a decadência do sistema latifundiário-escravista. [...] Posteriormente,
começa a se consolidar no país [...] uma nova fase de transição da economia brasileira. Nesse período o setor
industrial vai-se consolidando paulatinamente e o centro das atividades econômicas começa vagarosamente a se
deslocar do setor cafeeiro [...]. A indústria gradativamente vai assumindo o comando do processo de acumulação
de capital [...]” (SILVA, 1990, p. 26-27). 20
Como consequência da modernização tecnológica e a industrialização do campo, a agricultura passa a ser cada
vez mais determinada pela dinâmica do capital, influindo “[...] de um lado, na determinação dos preços das
máquinas, equipamentos, fertilizantes, corretivos, rações e defensivos animais e vegetais e, consequentemente,
29
implementou um conjunto de políticas agrícolas destinadas a incentivar a aquisição dos
produtos desses novos ramos da indústria, acelerando o processo de incorporação de
modernas tecnologias pelos produtores rurais (SILVA, 1990, p. 27-28).
Continuando esse processo, na década de 1970 ampliam-se as estratégias de
modernização da agricultura brasileira,
[...] com a introdução de máquinas, adubos químicos, crédito rural abundante
e de baixo custo, criação de sistema de armazenamento, comercialização e
transporte. Essas mudanças transformam a agricultura artesanal em
agricultura estilo empresarial, sem considerar as diferenças existentes entre
os agricultores, como o tamanho da propriedade, sistema de relações de
trabalho, tipo de produção e outros. (BERTOLINI; BRANDALISE;
NAZZARI, 2010, p. 27).
Nesse contexto, “[...] grande parte dos agricultores familiares não se encaixou nos
padrões exigidos pela modernização, e assim não tiveram acesso ao crédito rural. Esses foram
então excluídos, migrando para as cidades ou permanecendo no campo em condições sub-
humanas.” (BERTOLINI; BRANDALISE; NAZZARI, 2010, p. 27). Isto tem sido reflexo do
capitalismo no campo, que introduziu mudanças significativas na agricultura brasileira.
Destacam-se três fatos cruciais na transformação da agricultura:
a) o „fechamento‟ de nossas fronteiras agrárias, envolvendo as questões de
colonização da Amazônia da participação da grande empresa pecuária
deslocando a pequena produção agrícola;
b) o processo de modernização da agricultura no Centro-Sul do país; e
c) a crescente presença do capitalismo monopolista no campo, ou seja, de
grandes empresas indústrias que passaram a atuar tanto diretamente na
produção agropecuária propriamente dita, como fortaleceram sua presença
no setor de comercialização e de fornecimento de insumos para a agricultura.
(SILVA, 1990, p. 44).
Segundo o autor, essas mudanças interferiram diretamente no papel que a agricultura
desempenhava no cenário brasileiro, uma vez que exigiu dos pequenos produtores que
produzissem em maior quantidade, pois, além de sua subsistência tinham que satisfizer as
necessidades advindas do mercado. Com isso, estreitava-se cada vez mais a articulação entre
o grande capital industrial e/ou comercial e a pequena produção, oportunizando a imposição
do grande capitalista em tecnificar e padronizar o processo de produção dos pequenos
agricultores.
nos custos materiais da produção agrícola e, de outro lado, na determinação dos preços dos produtos agrícolas,
matérias-primas para a agroindústria, influindo decisivamente no excedente em valor capaz captado pelos
produtores agrícolas.” (MOREIRA, 1999, p. 119).
30
Moreira (1999) complementa apresentando três efeitos que incidiram na pequena
propriedade e produção familiar devido ao processo de concentração e centralização do
capital, sendo eles:
1) a perda da propriedade familiar pela impossibilidade de reproduzirem-se
enquanto proprietários;
2) a tecnificação da pequena produção subordinada à agroindústria, com
liberação de força de trabalho familiar que emigra; e
3) a queda do excedente de valor retido pelo agricultor familiar (...) que
inviabiliza a reprodução familiar, forçando a redução do tamanho da família
pela migração rural-urbana e rural-rural [...]. (MOREIRA, 1999, p. 122).
Dentre as diversas mudanças ocorridas na sociedade brasileira, a adoção da tecnologia
se tornou um instrumento de fundamental importância para acelerar a produção e,
consequentemente, permitir uma maior geração de lucro.
[...] a tecnologia cumpre duas funções básicas na sociedade capitalista. A
primeira, de natureza essencialmente econômica, é a de, aumentando a
produtividade do trabalho, propiciar a formação de um lucro extraordinário
para capitais individuais. A outra, atuando como forma de dominação social,
tem por finalidade a reprodução da divisão social do trabalho – portanto, a
reprodução das classes sociais – para a manutenção do modo capitalista de
produção. (SILVA, 2003, p. 16).
Outro fator a ser considerado, quando pensa-se no trabalho da mulher rural, são os
reflexos do agronegócio21
. Como considera Campos (2011), esse processo intensificado na
década de 1990, com a implantação das políticas neoliberais no país, fez com que a força de
trabalho feminina fosse excluída ou incluída de forma precária no mundo do agronegócio,
destacando que, “[...] evidentemente, a desigualdade de gênero no mercado de trabalho não é
uma criação do agronegócio, nem do neoliberalismo, mas é intensificada com esses
fenômenos.” (CAMPOS, 2011, p. 132).
Dessa forma, ressalta-se que a agricultura familiar brasileira se diferencia pela “[...]
própria formação ao longo da história, a heranças culturais variadas, à experiência
profissional e de vida particulares, ao acesso e disponibilidade diferenciada de um conjunto de
21
“Do ponto de vista da divisão de classes sociais, o agronegócio é atrelado às classes dominantes nas diferentes
escalas. O caráter elitista do agronegócio brasileiro ganhou visibilidade no processo da Constituinte. [...] o
agronegócio deve ser compreendido com uma complexa articulação de capitais direta e indiretamente vinculados
com os processos produtivos agropecuários, que se consolida no contexto neoliberal sob a hegemonia de grupos
multinacionais e que, em aliança com o latifúndio e o Estado, tem transformado o interior do Brasil em um locus
privilegiado de acumulação capitalista, produzindo, simultaneamente, riqueza para poucos e pobreza para muitos
e, por conseguinte, intensificando as múltiplas desigualdades socioespaciais”. (CAMPOS, 2011, p. 107-109,
grifo do autor).
31
fatores, entres os quais, os recursos naturais, o capital humano e o capital social[...]”.
(BATALHA; SOUZA FILHO, 2005, p. 14).
Além disso, Brandenburg (1999) enfatiza que a agricultura familiar tem de enfrentar
um grande desafio construindo e perpetuado historicamente: “[...] superar o sentimento de
inferioridade cultural, sair do isolamento que compromete a sua identidade e demonstrar à
sociedade que desenvolve uma profissão que não é superior e nem inferior às demais, mas
igual a qualquer profissão na sociedade moderna.” (BRANDENBURG, 1999, p. 272).
O cenário da Agricultura Familiar atualmente no Brasil avançou criando identidades e
saindo do anonimato e isolamento, como apresenta o Censo Agropecuário de 2006, realizado
pelo IBGE. Contudo, por mais que o estabelecimento da Agricultura Familiar possua um
número significativamente maior comparado aos da não familiar22
, na relação da extensão de
área por hectares a situação inverte-se consideravelmente, conforme a tabela abaixo.
Tabela 1 – Utilização das terras nos estabelecimentos, por tipo de utilização, segundo a
agricultura familiar - Brasil (2006).
Agricultura Total de estabelecimentos Área total
(ha)
Agricultura familiar 4 367 902 80 250 453
Não familiar 807 587 249 690 940
Total 5 175 489 329 941 393
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006.
Segundo os dados da Tabela 1, os estabelecimentos da agricultura familiar
representam 84,36% dos estabelecimentos e estão presentes em 24% da área ocupada pelos
estabelecimentos agropecuários brasileiros. Esses resultados mostram uma estrutura agrária
ainda concentrada no país; os estabelecimentos não familiares, apesar de representarem 15,6%
do total dos estabelecimentos, ocupam 75,9% da área ocupada. (IBGE, 2006, s.p).
No município de Toledo, segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2010, a
população censitária, segundo o tipo de domicílio e sexo na área urbana, corresponde ao total
de 108.259, destes, 52.625 são do sexo masculino e 55.634 do sexo feminino; enquanto que a
área rural possui um total de 11.054, sendo 5.712 do sexo masculino e 5.342 do sexo feminino
(IPARDES, 2013, p. 10). Isto demonstra o grande número da população localizada na cidade,
22
A definição dada ao não familiar pela pesquisa é de que “Entre os estabelecimentos que não se enquadram na
Lei 11.326 estão também pequenos e médios agricultores, que não se enquadraram na agricultura familiar quer
pelo limite de área quer pelo limite de renda, e também as terras públicas. A melhor identificação destes grupos
será um dos temas da agenda futura de trabalho.” (IBGE, 2006, s.p).
32
com um número relativamente parecido em relação ao sexo; no espaço urbano o maior
número é do sexo feminino e no rural do sexo masculino.
A partir desses dados, faz-se necessário evidenciar a importância das pequenas
propriedades no Brasil, por suas constantes lutas para o fortalecimento da produção agrícola
familiar, bem como para a permanência no campo.
1.5 AS ESPECIFICIDADES DO TRABALHO DA MULHER AGRICULTORA DE
PRODUÇÃO FAMILIAR
A mulher agricultora nesse espaço, enquanto sujeito que participa na recriação e
resistência no campo, ainda encontra-se atualmente numa posição subalternizada e
inferiorizada dentro de sua propriedade. Essa afirmação provém da invisibilidade dada ao
trabalho exercido por elas, tanto no espaço privado como no público.
Conforme os dados do IBGE (2006), identifica-se que o número de mulheres, no que
diz respeito a direção dos trabalhos em seus estabelecimentos, tanto na agricultura familiar
quanto na não familiar, é extremamente baixo em relação aos homens, evidenciando, assim, a
prevalência dos homens na „administração‟ ou „comando‟ das atividades dentro da
propriedade.
33
Tabela 2 - Produtores na direção dos trabalhos do estabelecimento, agrupados por sexo e
anos de direção, segundo a agricultura familiar - Brasil (2006).
Agricultura
Homens Mulheres
Menos de
1 ano na
direção
dos
trabalhos
De 1 a
menos de
5 anos na
direção
dos
trabalhos
De 5 a
menos de
10 anos
na
direção
dos
trabalhos
De 10
anos e
mais na
direção
dos
trabalhos
Menos
de 1 ano
na
direção
dos
trabalhos
De 1 a
menos de
5 anos na
direção
dos
trabalhos
De 5 a
menos de
10 anos na
direção
dos
trabalhos
De 10
anos e
mais na
direção
dos
trabalhos
Agricultura
familiar 100 878 654 887 686 234 2 325 341 14 764 93 573 98 580 393 645
Não familiar 31 852 162 794 146 634 410 641 1 484 10 172 10 710 33 300
Total 132 730 817 681 832 868 2 735 982 16 248 103 745 109 290 426 945
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006.
A partir da tabela acima, constata-se que “[...] 62% (sessenta e dois por cento) são
pessoas experientes com 10 anos ou mais de direção nos trabalhos na condução da atividade
produtiva da agricultura familiar.” (IBGE, 2006, s.p). Como destacado anteriormente, no que
refere-se ao tempo de direção, o número de homens é expressamente maior do que as
mulheres, mesmo que o número de mulheres venha aumentando ao longo do tempo, este
ainda não alcança a metade do número de homens.
Ao tratar sobre as especificidades da mulher agricultora de produção familiar, cabe
destacar as diferenças existentes entre elas e as demais mulheres da área urbana, não como
forma de fragmentação ou discriminação, mas para facilitar compreendê-las em suas
particularidades e singularidades no meio em vivem.
Dessa forma,
[...] a grande diferença que existe entre as mulheres trabalhadoras urbanas e
as mulheres trabalhadoras rurais é que para você produzir e estar na
agricultura camponesa, se exige viver um „modo de vida em comunidade‟.
Então você não vai desenvolver a agricultura camponesa individualmente,
ela tem relações de entre-ajuda, de solidariedade, logo, é uma vida em
comunidade. (LISBOA, LUSA, SEBASTIÃO, 2011, p. 23).
Uma ressalva a fazer em relação à citação acima é de que a expressão “camponesa”23
utilizada pelas autoras para referir-se a mulher agricultora, não será aprofundada neste estudo
23
“Mulher Camponesa é aquela que, de uma ou de outra maneira, produz o alimento e garante a subsistência da
família. É a pequena agricultora, a pescadora artesanal, a quebradeira de coco, as extrativistas, arrendatárias,
meeiras, ribeirinhas, posseiras, bóias-frias, diaristas, parceiras, sem terra, acampadas e assentadas, assalariadas
rurais e indígenas.” (MMC, 2014, s.p, grifo nosso).
34
sobre sua dimensão política que a mesma expressa. Assim, a diferença destacada pelas autoras
acima refere-se à dimensão do viver em comunidade, isto porque esse modo de viver se opõe
ao disseminado pela ideologia burguesa na organização da sociedade capitalista em que
fortalece, cada vez mais, a individualidade do indivíduo. Isto prevalece na pequena
propriedade, devido ao modo de organização familiar, em que a subsistência advém
essencialmente da força de trabalho dos membros familiares.
Outro elemento que particulariza as mulheres agricultoras, em relação ao trabalho
masculino, é a não valorização do trabalho que executam, o que se relaciona com a questão de
gênero, como colocado pelas autoras:
Já na questão de gênero a diferença principal fica no âmbito da valorização
do trabalho. O trabalho do homem é visto e elevado ao patamar de
„trabalho‟, que é aquele que muitas vezes „traz o dinheiro‟ para dentro da
família. Entretanto, nós enfatizamos no MMC, que o trabalho das mulheres é
aquele que traz a renda para a família, pois se nós lá em casa produzimos as
frutas, as verduras e a maioria dos produtos que precisamos para sobreviver,
para o auto sustento, se a gente fosse contabilizar isto tudo, iriamos ver que
gera uma renda muito grande, não em dinheiro moeda-papel, mas naquela
renda que é considerada renda indireta e por isso mesmo muitas vezes, não
valorizada. (LISBOA, LUSA, SEBASTIÃO, 2011, p. 24).
A partir disso, pode-se reforçar que os trabalhos realizados pela mulher agricultora
ficam “escondidos” ou “camuflados” por detrás do trabalho dos maridos, sendo denominada
apenas como “[...] ajudante ou trabalhadora secundária da família, independente[mente] da
quantidade de tempo que dedica as atividades de agricultura.” (DEERE; LEÓN, 2002, p. 30)
ou, por vezes, nem visto como um trabalho, por não gerar uma quantia em dinheiro. Isto
acaba ocasionando a naturalização de que a mulher faz tudo, por querer o bem-estar de sua
família, ou seja, por ter nascido com essa predefinição de ser mulher, mãe e esposa.
Sobre a diferença entre o homem e a mulher, uma das mulheres integrantes do
Movimento de Mulheres Camponesas (MMC)24
, entrevistada pelas autoras, relata que
Quanto a reflexão sobre a diferença entre os homens e mulheres, penso que,
tanto para os homens e mulheres urbanas e rurais deve-se considerar, que são
as consequências da cultura patriarcal. Uma questão que é a não valorização
do trabalho reprodutivo e do cuidado. Tudo que é relacionado com a
reprodução e com os cuidados, seja com as pessoas portadoras de
24
“O MMC está organizado em dezoito estados brasileiros, consolidado na década de 1980, composta por
mulheres agricultoras, arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, posseiras, bóias-frias, diaristas, parceiras, extrativistas,
quebradeiras de coco, pescadoras artesanais, sem terra, assentadas, mulheres índias, negras, descendentes de
europeus. O movimento reafirma a luta das mulheres pela igualdade de direitos e pelo fim de qualquer forma de
violência, opressão e exploração praticada contra mulher e a classe trabalhadora.” (MMC, 2014, s.p).
35
deficiência, seja com os idosos, ou doentes, ou crianças, sempre a cultura
patriarcal e machista associada com a falta de políticas públicas adequadas,
joga para as mulheres esse trabalho que não é reconhecido, não é valorizado,
que não é pago. (LISBOA, LUSA, SEBASTIÃO, 2011, p. 25).
Segundo Lusa (2011), a mulher agricultora de produção familiar permanece em
situação de desigualdade nas relações de gênero e manifesta a ausência de autonomia e
emancipação devido ao contexto rural em que vive. Essa definição reforça a necessidade de
reconhecer a divisão sexual do trabalho que é ainda bastante explicita na agricultura familiar,
que destaca algumas tarefas cotidianas que são estabelecidas aos homens e mulheres, sendo
que
[...] cabem ao homem as tarefas destinadas à geração de renda, tais como o
cultivo dos campos, inclusive no corte, na preservação das matas, a
construção de cercas, as relações comerciais de venda de produtos, compra
de insumos, maquinários, a aquisição de bens ou financiamentos etc. Já para
a mulher, cabem as tarefas relativas ao âmbito doméstico, que se estende aos
arredores da casa. Logo, sua responsabilidade tange às tarefas destinadas à
reprodução familiar, com os cuidados com a casa, com a comida e a
educação dos filhos, o cultivo da horta e cuidados com o jardim, as pequenas
criações de gado, aves e suínos etc. (LUSA, 2011, p. 164).
Na perspectiva da autora, a superação da subalternidade das agricultoras só será
possível com as modificações das relações de gênero. Para que isto aconteça de forma
concreta e efetiva é preciso que
Tal transformação deve ser tomada como um processo social gradual, que
pode ser potencializado através de ações emancipatórias, as quais somente
são possíveis a partir da construção de uma consciência crítica, politizada e
histórica, que considera todos os elementos da cotidianidade, reconhecendo
neles o meio e os instrumentos de mudança. (LUSA, 2011, p. 165).
É importante destacar que mesmo com um longo caminho a percorrer para que as
mulheres agricultoras possam alcançar, dentro das possibilidades da sociedade capitalista,
seus direitos, buscando a construção da identidade, da autonomia, da autoestima, da
valorização de seu trabalho e da participação de liderança, também deve-se pensar nos
direitos que foram conquistados por meio dos diversos segmentos dos movimentos sociais.
As principais conquistas apontadas por uma das líderes do MMC, de acordo com a
entrevista realizada por Lisboa, Lusa e Sebastião (2011), foram: a ampliação do salário-
maternidade para mulheres trabalhadoras rurais e o direto à aposentadoria rural para as
mulheres, consolidada pela Lei 8. 2013 de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de
36
Benefícios da Previdência Social atualizada em 2013. O Artigo 39 refere-se aos segurados
especiais:
I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de
auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, e de
auxílio-acidente, conforme disposto no art. 86, desde que comprove o
exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período,
imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de
meses correspondentes à carência do benefício requerido; ou Alterado pela
Lei nº 12.873, de 24 de outubro de 2013 - DOU de 25/10/2013
II - dos benefícios especificados nesta Lei, observados os critérios e a forma
de cálculo estabelecidos, desde que contribuam facultativamente para a
Previdência Social, na forma estipulada no Plano de Custeio da Seguridade
Social.
Parágrafo único. Para a segurada especial fica garantida a concessão do
salário-maternidade no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que comprove
o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, nos 12 (doze)
meses imediatamente anteriores ao do início do benefício. (Incluído pela Lei
nº 8.861, de 25 de Março de 1994). (BRASIL, 1991, s.p, grifo nosso).
Destaca-se, também, o reconhecimento da profissão de agricultora para as mulheres,
que antes era reconhecida somente aos homens, o que permitiu a sindicalização e o acesso aos
direitos trabalhistas na condição de trabalhadoras. Outro aspecto refere-se ao fato de que as
agricultoras são consideradas asseguradas especiais por serem diferentes das mulheres
urbanas. A partir de 1992, elas conquistam a aposentadoria a partir dos 55 anos, e dois anos
depois conquistam o salário-maternidade e a pensão para viúvas. Essas conquistas só foram
possíveis por meio da luta das mulheres, explícito no Artigo 145 da CF de 1988, “[...] as quais
não lutaram somente para si, mas encaparam a luta pelos direitos de todas as pessoas que
viviam e vivem da agricultura camponesa e de outros seguimentos, como por exemplo, os
pescadores e pescadores artesanais, que também foram regulamentados como segurados
especiais.” (LISBOA; LUSA; SEBASTIÃO, 2011, p. 27).
Outro direito conquistado relaciona-se à aquisição de terras, por mais que no processo
de consolidação do direito ainda esteja presente à desigualdade de gênero, como explicitam as
autoras:
[...] a desigualdade de gênero na posse da terra é devida à preferência
masculina na herança e no casamento, a preconceitos masculinos em
programas estatais de distribuição de terras e à desigualdade entre gêneros
no mercado de terras, onde a mulher tem menos probabilidade de ser
compradora do que o homem. (DEERE; LEÓN, 2002, p. 29).
37
As autoras abordam, também, alguns mecanismos que excluem as mulheres do direito
à propriedade, e um dos principais constitui-se na transferência realizada pelas comunidades
ou Estado para os chefes de família, que em sua grande maioria são homens:
Os mecanismos de exclusão da mulher dos direitos de propriedade têm sido
culturais, estruturais e institucionais. São inter-relacionados e têm como base
ideologias patriarcais fundadas em construções de masculinidade e
feminilidade e na divisão de trabalho „adequada‟ entre as esferas pública e
privada e dentro destas. (DEERE; LEÓN, 2002, p. 30).
Em vista disto, as autoras trazem a questão do empoderamento que perpassa o direito
da mulher à terra, sendo que
O empoderamento da mulher desafia relações familiares patriarcais, pois
pode levar ao desempoderamento do homem e certamente leva à perda da
posição privilegiada de que ele desfruta sob o patriarcado. Isto porque o
empoderamento ocorre quando houve uma mudança na tradicional
dominação da mulher pelo homem, seja com relação ao controle de suas
opções de vida, seus bens, suas opiniões ou sua sexualidade. (DEERE;
LEÓN, 2002, p. 54-55).
De acordo Lisboa, Lusa e Sebastião (2011) com todo esse processo de lutas e
conquistas, pode-se considerar que pouco se realiza para a formulação e implementação de
políticas públicas que fomentem a permanência e manutenção da população rural no campo e
menos ainda é feito para as mulheres agricultoras. Com isto, alguns agricultores não
conseguem se autossustentar e acabam obrigados (as) a saírem do campo em direção à cidade
em busca de trabalho, para poder ganhar o salário e pagar as contas da propriedade.
38
2 PROCESSO DE FORMAÇÃO PARA ALÉM DA EDUCAÇÃO FORMAL:
QUESTÃO DA EDUCAÇÃO PERMANENTE NO CAMPO
Nesse momento do estudo, busca-se compreender a concepção de educação
estabelecida e estruturada pela sociedade capitalista, como também a dimensão que esta
possui para além da lógica do capital. Para atender a esse objetivo, propõe-se conceituar o
processo de consolidação da educação formal na sociedade brasileira e apresentar a
estruturação do sistema educacional brasileiro, tendo como ponto de partida a Constituição de
1988 e as demais legislações que se promulgaram a partir dela.
Ao mesmo tempo, faz-se necessário contextualizar a educação no campo, sendo de
fundamental importância para contemplar a temática da pesquisa e o meio em que vivem os
sujeitos pesquisados. Além disso, isto contribuirá para que se possa visualizar e,
posteriormente, entender a realidade vivenciada pelas mulheres agricultoras, no que diz
repeito a educação.
Além da compreensão da educação formal, o estudo objetiva constatar como ocorre a
efetivação da educação permanente no campo, considerando que não é somente uma
estratégia de intervenção do Estado por meio das políticas públicas “para” e “no” campo,
mas constitui-se como um dos meios para que as mulheres agricultoras possam adquirir novos
conhecimentos, melhorar sua condição financeira, ser reconhecidas como sujeitos políticos e
modificar o grau de atuação dentro da família, propriedade, comunidade e, consequentemente,
da sociedade.
2.1 CONCEITUAÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO FORMAL NA SOCIEDADE
BRASILEIRA
Destaca-se que o conceito de educação formal adotado neste estudo será de acordo
com os níveis e modalidades de educação e ensino estabelecidos pela atual Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB)25
, que compõem o Art. 21: “I - educação básica, formada
pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II - educação superior.” (BRASIL,
2014a, s.p). A partir disto, delinear-se-á, historicamente, o desenvolvimento do sistema
educacional na sociedade brasileira.
25
A primeira versão materializada foi a Lei n. 4.024/61, em seguida a Lei 5.692/71 e a atual Lei 9.394/96 que
dispõe sobre a Lei e Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
39
Considerando o tempo histórico demarcado no capítulo anterior, a Constituição
Federal de 1988 legitima para todos os cidadãos26
o direito à educação, constituindo-se como
um dos direitos sociais previstos nesta. Acrescenta-se, no Art. 205, que “A educação, direito
de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.” (BRASIL, 2014b, s.p).
A partir das reformas educacionais27
, a educação passa a ser concebida “[...] como
dotada de um valor econômico próprio e considerada um bem de produção (capital) e não
apenas de consumo.” (SAVIANI, 2005, p. 22), ou seja, transfere-se para a educação um valor
de uma mercadoria como outra qualquer, além de ser utilizada como principal e, muitas vezes,
o único instrumento de transformação e/ou manutenção da sociedade.
A respeito disto, Saviani (2005) conclui que
[...] o Estado, agindo em consonância com os interesses dominantes,
transfere responsabilidades, sobretudo no que se refere ao financiamento dos
serviços educativos, mas concentra em suas mãos as formas de avaliação
institucional. Assim, também na educação, aperfeiçoam-se os mecanismos
de controle, inserindo-se no processo mais geral de gerenciamento das crises
no interesse da manutenção da ordem vigente. (SAVIANI, 2005, p. 23).
Posterior a Constituição, outros aparatos legais foram materializados para a efetivação
e fortalecimento de uma política educacional brasileira, que além da consolidação da LDB já
citada, teve-se também a criação do Conselho Nacional de Educação (CNE) instituída pela
Lei n. 9.131 de 25 de novembro de 1995, que tem por, “[...] finalidade de colaborar na
formulação da Política Nacional de Educação e exercer atribuições normativas, deliberativas e
assessoramento ao Ministério da Educação” (MEC, 2013, s.p).
Atualmente, a Lei n. 13.005 de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de
Educação (PNE) com vigência de dez anos entre 2014-2024, estabelece vinte metas com
estratégias que visam melhorar e ampliar o acesso, permanência e qualidade da educação,
além de outros documentos, espaços de participação e debates referente à educação.
Outro fator de fundamental relevância é pensar a educação num contexto global, nas
influências que as ideias liberais28
tiveram e têm na implementação e efetivação das políticas
26
Conforme dispõe o Artigo 5º da Constituição Federal de 1988, considera-se que: “Todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.” (BRASIL, 2014b, s.p). 27
Reflexo do movimento de reforma e contrarreforma do Estado e da reorganização do mercado de trabalho. 28
A ascensão das ideias liberais foram, a partir do século XVIII, perpassando pelos séculos XIX e XX, sendo, no
último século, denominadas neoliberalismo. Segundo Fiori (1997), não há diferença entre o velho e novo
40
sociais. Como denominado no século XX, o neoliberalismo, segundo Fiori (1997), foi
introduzido nos países considerados subdesenvolvidos por meio das negociações das dívidas
externas com os EUA e os países da Europa e dos acordos internacionais, que resultaram na
interferência e regulação dos países desenvolvidos sob os demais, principalmente, nos países
da América Latina.
Diante disso, os sistemas de ensino possuem uma forte e direta influência das
organizações internacionais como: o Banco Mundial29
(Banco Internacional de Reconstrução
e Desenvolvimento, Bird), o Fundo Monetário Internacional (FMI)30
e a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), reafirmando que a educação
[...] passa a ser considerado uma esfera altamente lucrativa de aplicação do
capital; o que passa a influenciar decisivamente os fins e os meios
envolvidos; de tal modo que a instituição de ensino, não só privada como
também pública, passa a ser organizada e administrada segundo a lógica da
empresa, corporação ou conglomerado. (LOMBARDI; SAVIANI;
SANFELICE, 2005, p. 33).
Da mesma forma, como aponta Matui (2001, p.61), “[...] no Brasil, a educação e o
sistema de ensino que aí estão não são processo inclusivo da sociedade. Eles foram
importados do estrangeiro e implantados no Brasil pelas classes dominantes para servi-las.”, o
que, por consequência, demonstra a deficiência do sistema de ensino brasileiro desde sua
elaboração, implantação e execução, desconsiderando totalmente a realidade nacional para
proliferar-se em prol dos interesses da classe dominante.
Para fora dos muros da escola, a educação está presente nas diversas dimensões da
vida social, ou seja, interfere diretamente na produção e reprodução das relações sociais. Isto
se destaca ao abordar o Art. 1º, do Título I, da LDB, que expressa que a educação “[...]
abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.” (LDB, 2014a, s.p).
liberalismo, pois as ideias sempre defenderam o fortalecimento do individualismo, a liberdade individual, o livre
mercado e dos capitais privados. 29
Desde o século XX, “[...] inicia e desenvolve um programa de alcance mundial, propondo, induzindo e
orientando a reforma do sistema de ensino, além de ser [...] o agente principal na definição do caráter
„economicista‟, „privatista‟ e „tecnocrático‟ da reforma dos sistemas de ensino.” (LOMBARDI; SAVIANI;
SANFELICE, 2005, p. 32). 30
A partir do “[...] estabelecido no final da década de oitenta pelo „Consenso de Washington‟, reguladas pelo
Banco Mundial/FMI/BIRD, estabelecem e relacionam-se às grandes metas sociais e econômicas de cada país.
Por sua vez, ao processo de globalização que afeta, direta e/ou indiretamente, as Instituições de Educação.”
(CARVALHO; MARTINS, 2013, s/p).
41
Da mesma forma, a educação deve ser visualizada em um contexto que engloba a
totalidade da vida humana. Tonet (2012) aborda que a educação, como mecanismo, deveria
servir para formar um homem integral, englobando uma formação capaz de fazer os “[...]
indivíduos de pensar com lógica, de ter autonomia moral; indivíduos que se tornem cidadãos
capazes de contribuir para as transformações sociais, culturais, científicas e tecnológicas [...]
pessoas criativas, participativas e críticas.” (TONET, 2012. p. 81).
Para o autor, a formação de um homem integral se realiza em um processo
permanente, que não se restringe ao espaço escolar, mas que se consolida fora dele. Além
disso, a formação do homem integral se concretiza a “partir”, e “não” somente da educação,
pois esta precisa estar interligada com o pleno acesso dos bens materiais e espirituais,
necessários à sua realização.
Contudo, Tonet (2012), afirma que
[...] o acesso de todos à educação sistematizada, portanto, formal, é uma
necessidade para que as pessoas possam se apropriar do patrimônio do
gênero humano. [...] no entanto, ela sempre será hegemonizada pelas classes
dominantes, em seus conteúdos e formas, o que significa que sua tônica
nunca irá no sentido de contribuir para formar indivíduos integrados à luta
pela construção de uma autêntica comunidade humana. (TONET, 2012, p.
55)
A partir disso, o autor refere-se que para que ocorra a formação integral dos
indivíduos, é necessário uma constante “[...] luta pela construção de uma sociedade
emancipada, pela formação integral dos indivíduos, tem que implicar, necessariamente, a
superação do capital e de todas as suas categorias.” (TONET, 2007, p. 51).
De encontro com essa afirmação, Mészáros reafirma que
A educação institucionalizada [...] ao propósito de não só fornecer os
conhecimentos e o pessoal à máquina produtiva em expansão do sistema do
capital, como também gerar e transmitir um quadro de valores de legitima os
interesses dominantes, como se não pudesse haver nenhuma alternativa à
gestão da sociedade, seja na forma „internalizada‟ ou através de uma
dominação estrutural e uma subordinação hierárquica e implacavelmente
imposta. (MÉSZÁROS, 2008, p. 35, grifo do autor).
Verifica-se, portanto, que o próprio modelo de sociedade por meio da educação
determina os limites e possibilidades que se pode alcançar a partir desta, pois a educação
certamente “[...] reflete a exploração e a luta contra a exploração. Ela é simultaneamente
42
reprodução das estruturas existentes, correia de transmissão da ideologia oficial, mas também
ameaça à ordem estabelecida e possibilidade de libertação.” (GADOTTI, 1997, p. 150).
Em suma, a educação não se constitui apenas como um aparelho de reprodução de
classes, mas se apresenta como um instrumento de luta no espaço de constantes
reivindicações da classe trabalhadora, que, conforme a compreensão dialética da educação de
Gadotti (2006, p. 168, grifo do autor), “[...] se expressa nos canais de organização popular,
pela sociedade civil. (...) onde a luta pela hegemonia da sociedade civil sobre a educação
deveria começar no interior da sociedade burguesa.”.
2.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO
Para Ghedin (2012), o conceito educação do campo surge no século XX, advindo do
número de camponeses que saíram de suas propriedades para morarem nas cidades em busca
de emprego. Coloca também que o Estado se omite de sua intervenção em relação à educação
do campo, preocupando-se apenas com a educação na área urbana, transferindo tal
responsabilidade para as comunidades, os sindicatos e os movimentos sociais.
Ao contextualizar a educação do campo31
, deve-se observar que diversas organizações
e movimentos sociais impulsionaram o debata sobre a problemática da educação do campo,
como, por exemplo, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), na luta de políticas
públicas em prol da educação do campo e o movimento denominado de Movimento por uma
Educação do Campo, composto por organizações não governamentais, representantes de
órgãos públicos e de universidades em que destacava,
[...] a importância da educação como parte de um projeto e emancipação
social e política que fortaleça a cultura e os valores das comunidades
campesinas, vinculada ao seu projeto de desenvolvimento autossustentável.
Para tanto, preconiza que essa educação seja fundamentada em princípios
que valorizem os povos que vivem no campo, respeitando sua diversidade.
(PIRES, 2012, p. 93).
Por meio das mobilizações, os movimentos mencionados possibilitaram a
concretização de espaços de encontros para debater e avançar sobre a educação do campo.
Com o envolvimento e as parcerias entre essas entidades governamentais e não
31
“A educação do Campo compreende a Educação Básica em suas etapas de Educação Infantil, Ensino
Fundamental, Ensino Médio e Educação Profissional Técnica de nível médio integrada com o Ensino Médio e
destina-se ao atendimento às populações rurais em suas mais variadas formas de proteção da vida – agricultores
familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados de Reforma Agrária,
quilombolas, caiçaras, indígenas e outros.” (BRASIL, 2008, s.p).
43
governamentais, pôde-se realizar o I Encontro de Educadoras e Educadores da Reforma
Agrária (Enera)32
, e foi esse encontro que propiciou a realização da I Conferência Nacional
por uma Educação Básica do Campo, ocorrida em 1998, e a segunda realizada, em 2004,
modificando-se o nome para II Conferência Nacional por uma Educação do Campo, que “[...]
demonstravam a preocupação em afirmar a necessidade de uma educação que extrapolasse as
modalidades de educação como direitos dos povos do campo.” (PIRES, 2012, p. 97). De
acordo com a mesma autora, a proposta das conferências representava a luta dos povos do
campo na busca por políticas públicas que garantissem o direito à educação “no” e “do”
campo.
No ano de 2002, em Brasília, aconteceu o Seminário Nacional de Educação do
Campo, cujas discussões eram voltadas “[...] à constatação das nuances discriminatórias de
gênero, credo, etnia [...]” (PIRES, 2012, p. 96), buscava-se o amadurecimento dessas questões
tão latentes na sociedade e, principalmente, que a cultura dos povos do campo precisava ser
preservada.
Cabe ressaltar que as particularidades e especificidades da educação do campo estão
reconhecida desde da Constituição de 1988, e posteriormente nas demais legislações. Por
exemplo, o Art. 28 da LDB é de fundamental importância, uma vez que considera a
particularidade da população rural e que a educação precisa ser voltada às necessidades dessa
população, como disposto no Título V – Dos níveis e das modalidades de Educação e Ensino;
Capítulo II – Educação Básica e Seção I – Das disposições gerais:
Art. 28º. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de
ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às
peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente:
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e
interesses dos alunos da zona rural;
II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar
às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. (BRASIL, 1996, s.p).
Porém, a LDB não avança no sentido de propor ações concretas para o campo ao
pensar na educação de níveis médio e superior, ou seja, busca a garantia da oferta da educação
32
“O encontro contou com a coordenação do MST, em parceria com a Universidade de Brasília (UNB), o Fundo
das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
(Unesco) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)”. (PIRES, 2012, p. 93-94).
44
básica, mas o acesso aos outros níveis de educação fica direcionado aos investimentos em
transportes escolares33
, para o deslocamento da população rural para a cidade.
Por isso, precisa-se avançar nas discussões para a construção e consolidação de uma
proposta de educação do campo que, segundo Ghedin (2012), têm os seguintes pressupostos:
“[...] a educação como um direito dos povos do campo; a existência de um movimento
pedagógico e político do campo e de uma educação como estratégia do desenvolvimento
territorial sustentável.” (GHEDIN, 2012, p. 114). Segundo o autor, esses fatores
[...] fortalecem a concepção de uma educação do campo como uma educação
para a emancipação social, para isso o seu processo pedagógico deve
assumir-se como ação política. [...] Dessa forma, a escola não pode ser um
lugar de conhecimentos teóricos descontextualizados da realidade.
(GHEDIN, 2012, p. 219).
Considerando que,
[...] a escola é um espaço de representação simbólica, que transgride o jogo
de poder, portanto, um lugar de escolhas de inclusões e de exclusões, às
vezes bem claras, em outras ocultas, mas sempre representando a vontade de
alguém, seja de quem domina, seja do dominado. Por isso, essa instituição é
o resultado de um discurso e de uma intencionalidade de política que nem
sempre é evidente e claramente exposta. (GHEDIN, 2012, p. 104).
Portanto, deve-se ressaltar que a problemática da efetivação de uma educação do
campo é intrínseca ao modelo educacional instituído na sociedade brasileira e ao modelo de
sociedade burguesa.
2.3 BREVE DEFINIÇÃO DA EDUCAÇÃO PERMANENTE NO CAMPO
O debate em torno da educação permanente se fez necessário a partir do final da
Segunda Guerra Mundial, em que o capital penetrou em todas as esferas da sociedade, tanto
na indústria quanto na agricultura. Tendo por objetivo a aceleração da produtividade, a
circulação de mercadorias, bem como o consumo destas, além da concentração e
33
Conforme o artigo 8º da Resolução CNE/CEB n. 2/2008, “[...] o transporte escolar, quando necessário e
indispensável, deverá ser cumprido de acordo com as normas do Código Nacional de Trânsito quanto aos
veículos utilizados.” (PIRES, 2012, p. 101).
45
centralização de capitais, conforme trata Paiva (1985) em seu texto sobre a educação
permanente e capitalismo tardio34
.
Para atender essa exigência gerada historicamente, introduziu-se inovações
tecnológicas a fim de acelerar a produção e, em consequência, iniciou-se o processo de
substituição do trabalho humano pela máquina automática. Como afirma Paiva (1985, p. 69),
“[...] a automação trouxe sérias consequências para o trabalho humano e para a sua
qualificação. Na medida em que a máquina eleva a produtividade do trabalho, o trabalho vivo
é substituído por trabalho mecânico.”
Concomitante a esse processo, a autora coloca que com a introdução tecnológica no
modo de produção, a reciclagem35
periódica da força de trabalho se tornou obrigatória,
primeiro, pela exigência de manuseio e manutenção das máquinas e, segundo, pela
qualificação do trabalho, pois, as tarefas ficaram cada vez mais diversificadas, especializadas
e fragmentadas, o que exigiu a polivalência do trabalhador.
Paiva (1985) refere-se à reciclagem no sentido da qualificação do trabalhador dentro
desse contexto histórico, pois, na medida em que o trabalho se torna mais complexo, o
trabalhador precisa de uma educação adicional em vista daquela que lhe é ensinada pelo
sistema educacional instituído, uma vez que essa necessidade da qualificação deve-se ao
“novo” modo de produção que se fortalecia. Desse modo, a necessidade da qualificação para
responder as demandas existentes, impulsionou também a reformulação da educação, visando
uma educação permanente, no entanto, essa educação está estritamente ligada à produção e
reprodução do capital.
A concepção de Educação Permanente que se quer trazer neste estudo vai ao encontro
da compreensão de Furter (1976, p. 136-137, grifo do autor)36
, que define que
A Educação Permanente é uma concepção dialética da educação, como um
duplo processo de aprofundamento, tanto da experiência pessoal quanto da
vida social global, que se traduz pela participação efetiva, ativa e
responsável de cada sujeito envolvido, qualquer que seja a etapa da
existência que esteja vivendo.
34
PAIVA, Vanilda; RATTNER, Henrique. Educação permanente e capitalismo tardio. São Paulo: Cortez:
Autores Associados, 1985. 35
“A reciclagem, como fenômeno que diz respeito à educação é que constitui a base a partir da qual se começou
a pensar em educação permanente, está ligada, portanto, à especificidade do processo de acumulação do
capitalismo tardio, correspondendo às exigências colocadas pelos setores mais modernos da economia capitalista
à qualificação da força de trabalho.” (PAIVA, 1985, p. 69). 36
Com relação ao conteúdo deste autor, será adotada somente a definição de educação permanente, considerando
a importante e pertinente contribuição neste estudo, porém, as demais discussões realizadas que envolvem esta
temática não serão aprofundas, tendo em vista a limitação do tempo histórico.
46
Nessa perspectiva, o autor defende que a educação permanente não pode ser entendida
apenas como extensão ou ampliação da jornada escolar, mas que deve ser pensada de maneira
constante, integrando todas as dimensões da vida humana. Assim, o autor destaca três pontos
fundamentais dessa educação que devem ser consideradas:
1º que qualquer atividade humana, qualquer aspecto da práxis, presta-se a
uma formação;
2º que a educação é uma atividade de um sujeito e não é um conjunto de
instituições;
3º que a educação é sumamente ligada à nossa maneira de viver o tempo e os
tempos [...]. (FURTER, 1976, p. 137).
A educação permanente inclui as dimensões: o socioprofissional, o sociocultural e o
artístico. O primeiro, que interessa destacar, diz respeito ao “[...] esforço do capital de
aperfeiçoamento e de avanço técnico e científico; o segundo pela democratização da cultura e
integração nacional e por último a vida artística.” (FURTER, 1976, p. 144). Isto rebate em
ações que promovam uma educação que integra as dimensões da vida cotidiana, pensando no
sujeito na sua totalidade.
No entanto, nessa organização de sociedade, as diversas ações do Estado e iniciativas
do setor privado são direcionadas à qualificação da mão de obra do trabalhador, para
responder as demandas e necessidades do mercado de trabalho. Em consequência disso
[...] são criadas, em quase todos os estados as escolas técnicas
profissionalizantes exigidas pelos vários ramos da indústria que necessitava
de maior qualificação e diversificação da força de trabalho. A escola torna-
se, assim, um aparelho de reprodução de mão-de-obra, de reprodução da
divisão social do trabalho e da ideologia dominante, consolidando a estrutura
de classes. (GADOTTI, 1997, p. 112).
Isto, se levar em consideração que, mesmo dentro da educação formal, existem
estratégias de manutenção da ordem vigente, que vão desde a sua estrutura até o processo
pedagógico em que estão moldados pela ideologia hegemônica, que visam formar um sujeito
para o mercado de trabalho e adequá-lo à sociedade capitalista.
Nessa lógica existem também alternativas exclusivamente voltadas a fortalecer as
escolas técnicas profissionalizantes, tendo por objetivo a qualificação da mão de obra
daqueles que não tiveram a oportunidade de passar pela educação formal ou de satisfazer
alguma necessidade gerada pelas transformações tecnológicas ou pela exigência do mercado.
47
Destaca-se que um dos principais exemplos referentes ao investimento para satisfazer
a demanda da qualificação da força de trabalho é o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI)37
, atuando como principal organização coletiva do empresariado. Como
coloca Iamamoto (2008), a qualificação da força do trabalho significa a formação do
trabalhador à sociedade capitalista. Outras instituições que surgiram posteriormente voltadas a
responder as demandas do mercado foram o: Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE) e Serviço Social do Comércio (SESC) conhecido como o
Sistema “S”38
.
Por outro lado, o processo de qualificação da mão de obra pode ser entendido também
como o espaço de correlações de forças e resistência da classe trabalhadora. Conforme Tonet
(2007), ao mesmo tempo em que a educação, tanto formal quanto informal, está voltada para
o mercado de trabalho, ela pode constituir-se como um mecanismo de resistência à hegemonia
da classe dominante.
Portanto, projetar uma educação permanente que englobe todas as dimensões da vida e
de formação de consciência exige que ela vá além da qualificação da força de trabalho e da
reprodução; ou seja, a qualificação técnica por si só não é suficiente, precisa vincular-se ao
modo de pensar e viver dos sujeitos em sociedade, fazendo, principalmente, com que eles
desvendem a realidade.
37
Criado pelo Decreto-lei nº 4048 de 22 de fevereiro de 1942. (IAMAMOTO, 2008, p. 253). 38
Destaca-se que esses foram um dos primeiros espaços a incorporar o Serviço Social. Para maior
aprofundamento ver: IAMAMOTO, Marilda Villela. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma
interpretação histórico-metodológica. 22. ed. São Paulo: Cortez [Lima, Peru]; CELATS, 2008.
48
3 ANÁLISE DAS MULHERES AGRICULTORAS NO PROCESSO DE EDUCAÇÃO
PERMANENTE NO CAMPO
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ADOTADOS NA PESQUISA
Para realização da presente pesquisa, estabeleceu-se uma sequência de ações
metodológicas iniciadas desde a construção do referencial teórico até a análise dos dados.
A construção do referencial teórico perpassou por todas as etapas da pesquisa,
utilizando-se de materiais bibliográficos que embasaram a elaboração teórico-metodológico,
fortalecendo a pesquisa de campo e buscando compreender e corresponder ao(s) objetivo(s)
da pesquisa. Isto permitiu, “[...] fundamentar teoricamente o objeto de estudo, contribuindo
com elementos que subsidiam a análise futura dos dados obtidos (...) pois imprime sobre eles
a teoria, a compreensão crítica do significado neles existentes.” (LIMA; MIOTO, 2007, p.
44).
A investigação utilizou-se da pesquisa exploratória que “[...] têm como principal
finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias [...] e habitualmente
envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas [...]” (GIL, 1999, p. 43), com
instrumentos e técnicas auxiliassem na compreensão do objeto da pesquisa.
Para realização deste estudo, adotou-se a abordagem qualitativa por entender que esta
[...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2004, p. 21-22).
Diante dessa compreensão, visou-se analisar os aspectos da realidade em sua
totalidade, atentando as particularidades e singularidades dos sujeitos envolvidos na pesquisa.
Antes do desenvolvimento deste estudo de pesquisa, o projeto foi submetido ao
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), aprovado no dia 26 de junho de 2014, conforme o
Parecer Consubstanciado (ANEXO A). Por isto, no decorrer da pesquisa teve-se a
preocupação de seguir os parâmetros éticos de acordo com a Resolução 466 de 12 de
dezembro de 2012.
A escolha do tema, bem como dos sujeitos da pesquisa ocorreu por meio da inserção
da pesquisadora no Projeto de Pesquisa “Relações de Gênero e Agricultura Familiar: estudo
49
na Linha Cerro da Lola – Toledo/PR”39
no período de 2014 a 2015, da aproximação das
discussões realizadas pela equipe do projeto e do contato direto com as mulheres da
localidade, quando estas fizeram parte do projeto citado.
Um total de 18 (dezoito) mulheres, sócias.participantes do Clube de Damas 14 de
Setembro, participaram das entrevistas realizadas pela equipe do projeto. Das dezoitos, 05
(cinco) foram selecionadas para o desenvolvimento da pesquisa do Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC), seguindo uma seleção de amostra intencional, que obedeceu os seguintes
critérios:
a) Mulheres que participam regularmente do Encontro do Clube de Damas 14 de
Setembro;
b) Mulheres com idade de até 55 anos;
c) Mulheres que possuem propriedade de terra registrado no nome de algum membro
da família ou dela mesma; e
d) Mulheres que sejam agricultoras.
Para contemplar a temática deste estudo, foram inseridas também as entidades que
atuam diretamente com a população rural na região, constituindo-se em 04 (quatro) no
município de Toledo: o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Emater), a Secretaria de Agricultura Pecuária e Abastecimento, o Sindicato Rural de Toledo
e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Assim, a amostra engloba 09 (nove) sujeitos, sendo 05 (cinco) mulheres agricultoras e
04 (quatro) entidades.
O instrumento utilizado para a pesquisa foi a entrevista semiestruturada, por
possibilitar uma maior flexibilidade durante as entrevistas, pois, por meio da entrevista
semiestruturada,
[...] é possível trabalhar com entrevista estruturadas e não-estruturadas
correspondendo ao fato de serem mais ou menos dirigidas. Assim, torna-se
possível trabalhar com a entrevista aberta ou não-estruturada, onde o
informante aborda livremente o tema proposto; bem como as estruturadas
que pressupõem perguntas previamente formuladas. Há formas, no entanto,
que articulam essas duas modalidades, caracterizando-se como entrevistas
semi-estruturadas. (DESLANDES, 1994, p. 58).
39
O Projeto de Pesquisa “Relações de Gênero e Agricultura Familiar: estudo na Linha Cerro da Lola –
Toledo/PR”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), teve
início no ano de 2013 com previsão para ser desenvolvido até 2015, sob a coordenação da Professora Dra.
Rosana Mirales, a equipe é composta por uma Assistente Social, uma docente e três acadêmicas do curso de
Serviço Social da UNIOESTE – Toledo/PR.
50
Antes de realizar as entrevistas, a pesquisadora manteve contato com cada sujeito via
ligação telefônica, para agendar previamente as entrevistas, respeitando a vontade e
disponibilidade do dia, horário e local dos sujeitos.
As entrevistas foram realizadas entre o período de 11 a 30 de agosto de 2014. Das 05
(cinco) mulheres entrevistadas, 04 (quatro) escolheram realizar a entrevista na própria
residência e 01 (uma) no Clube Recreativo da comunidade, visto que no dia estava
colaborando como voluntária na organização da Festa dos Idosos, ocorrida no dia 31 de
agosto para toda a região. Todas as entrevistas foram realizadas nos finais de semana no
período vespertino. No caso, das entidades, os 04 (quatro) profissionais preferiram realizar a
entrevista no local de trabalho, reservando um horário específico no decorrer da semana na
agenda de trabalho. Em todas as entrevistas obteve-se boa receptividade e disposição dos
sujeitos em participar da pesquisa. As entrevistas tiveram duração de vinte a cinquenta
minutos.
No início de cada entrevista foi realizada a leitura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A), e, após o aceite deste, os entrevistados o assinaram. No
mesmo documento, os 09 (nove) sujeitos da pesquisa autorizaram a utilização do gravador
durante a entrevista e com o recurso do formulário (APÊNDICE B), a escrita manual, para a
garantia das informações, também foi utilizada.
Concluídas as entrevistas, as falas foram transcritas, resultando em 29 (vinte e nove)
páginas e garantindo a fidedignidade do teor das falas.
Dando sequência, foi realizada a tabulação das informações por meio de planilhas no
Programa Excel, transformadas em quadros, e depois feita a sistematização e interpretação
delas, dividindo-as em três eixos de análise. A condensação das questões referentes a cada
eixo possibilitou que as informações fossem utilizadas para a análise interpretativa, geração
dos gráficos e construção do perfil dos sujeitos entrevistados.
A análise adotada nesta pesquisa foi a análise de conteúdo, entendendo-a “[...] como
indicadores significativos, indispensáveis para a compreensão dos problemas ligados as
práticas humanas [...]”. (SEVERINO, 2007, p. 121), por meio da busca dos significados das
mensagens e dos discursos obtidos, compreendendo criticamente o sentido das comunicações.
Concomitante ao processo da investigação, esta pesquisadora acompanhou algumas
atividades realizadas na localidade, como o curso “Mulher Atual” promovido pelo Sindicato
Rural de Toledo no dia 24 de agosto de 2014, com participação aproximada de 20 (vinte)
mulheres; a participação da pesquisadora ocorreu no período matutino e vespertino
(APÊNDICE C). O objetivo principal dessa participação, acordado previamente com a
51
monitora do curso, era no sentido de ter uma aproximação do conteúdo e conhecimento dos
cursos destinados às mulheres.
Outra atividade, que pesquisadora acompanhou, foi o encontro em que um grupo de
pesquisadores e entidades públicas apresentaram resultados sobre a “Qualidade da água de
irrigação, água de higienização e hortaliças” (Fase I)40
, com a participação de,
aproximadamente, trinta pessoas, incluindo alguns agricultores envolvidos na pesquisa,
acadêmicos, professores e profissionais de diversas áreas.
3.2 APRESENTAÇÃO HISTÓRICA DA LOCALIDADE LINHA CERRO DA LOLA –
TOLEDO-PR
Para uma melhor compreensão do objeto de estudo da presente investigação, é
necessário explanar, brevemente, sobre a história da Linha Cerro da Lola, por ser o cenário
em que se encontram as mulheres agricultoras pesquisadas. Justifica-se, portanto, uma vez
que o entendimento das ações e da forma de vida das pesquisadas só é possível mediante a
compreensão da realidade local onde se materializam suas ações.
A comunidade Linha Cerro da Lola está localizada na região Oeste do Paraná, na
cidade de Toledo e pertence ao distrito de Dez de Maio.
O município de Toledo localiza-se no extremo Oeste do Paraná, foi colonizado por
descendentes de alemães e italianos da região de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Foi
emancipado no dia 14 de dezembro de 1951, pela Lei nº 790 sancionada pelo governador
Bento Munhoz da Rocha Neto, sendo que, até então, Toledo pertencia a Foz do Iguaçu41
.
De acordo com as informações do IBGE, publicadas em 2010, o município de Toledo
possui área territorial de 1.169,99 Km², com densidade demográfica de 99,68 hab/Km² e
apresenta o total de 119,313 habitantes, com estimativa, para este ano de 2014, de alcançar
130,295 habitantes42
. O município atualmente é administrado pelo prefeito Luís Adalberto
Beto Lunitti Pagnussatt e pelo vice Adelar Holsbach, do Partido do Movimento Democrático
40
Desenvolvido pelo curso de Engenharia Química da Unioeste campus Toledo. O Projeto de Extensão é
ministrada pela Professora Dra. Mônica L. Fiorese, com o apoio do Conselho Municipal de Segurança Alimentar
e Nutricional, Curso de Engenharia Química, Emater, Extensão Unioeste, Prefeitura Municipal de Toledo e
Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 41
Maior detalhamento histórico encontra-se em: Niederauer, Ondy Helio. Toledo no Paraná: a história de um
latifúndio improdutivo, sua reforma agrária, sua colonização, seu progresso. 2. ed. Toledo: Tolegraf Impressos
Gráficos Ltda, 2004. 42
Vale destacar que, conforme pesquisa publicada no Diário Oficial da União, no dia 28 de agosto de 2014, esta
estimativa já foi atingida. (HIRATA, 2014, s.p)
52
Brasileiro (PMDB), na coligação “Toledo Humano, Desenvolvido e Participativo”, eleitos
com 54,43 dos votos. (TOLEDO, 2014, s.p).
O município de Toledo conta com nove distritos: Concórdia do Oeste, Dez de Maio,
Dois Irmãos, Novo Sarandi, Novo Sobradinho, São Luiz do Oeste, São Miguel, Vila Ipiranga
e Vila Nova, que pode ser observado no mapa (ANEXO B).
Dentre esses distritos, Dez de Maio destaca-se como um dos distritos mais antigos da
cidade de Toledo-PR. Os pioneiros chegaram nesta região entre os anos de 1949 a 1955, que,
mesmo criado pela Lei Municipal nº 17, de 6 de julho de 1953, só veio a ser instalado em 26
de setembro de 1955, tendo como primeiro subprefeito Jacó Alfredo Kaefer (TOLEDO,
1986). O distrito conta com importantes povoados e linhas, como: Linha União, Linha
General Osário, Linha Cerro da Lola, Quilômetro 41 e São Salvador. Cabe, neste momento, a
caracterização da população da Linha Cerro da Lola43
.
A Linha recebeu esse nome pelo fato acontecido com a filha de um homem, que
trabalhava para a Colonizadora Maripá, que se chamava Lola, que foi devorada por uma onça
enquanto levava o almoço para ele; como o fato aconteceu em um local de declive, colocou-se
o nome de “Cerro da Lola”.
Por volta da década de 1950, algumas famílias se instalaram nesse local em busca de
melhores condições de vida e de terras férteis. As primeiras famílias a chegarem foram:
Antônio Fortunato Moresco; Benjamim Rossato; Cerilo Rossato; João Miro Donin e Kasimiro
Turra.
A Linha Cerro da Lola possui aproximadamente 350 habitantes44
, constituída por
descentes de alemães e italianos vindos da região sul do país, especificamente, do Rio Grande
do Sul, com suas tradições, seus hábitos e suas formas de organização dos espaços culturais e
esportivos conservadas.
A comunidade é composta por importantes instituições, como a igreja e escola que
fortalecem a participação e convivência comunitária, proporcionando a organização de festas,
reuniões e outros eventos, além de contar com a estrutura de uma Unidade Básica de Saúde
(UBS) e de um Clube Recreativo.
A igreja foi construída a partir da doação do terreno feito pelo senhor Arcângelo
Vanzella, que tinha terras na região. A igreja denomina-se Capela São Pedro devido a um
43
As informações referentes a Linha Cerro da Lola – Toledo-PR, encontram-se em um documento
disponibilizado pela escola municipal fornecido por uma professora da localidade para esta pesquisadora. 44
Informação obtida nos livros de registros dos sócios da Associação de Moradores.
53
caminhoneiro chamado Pedro Ramos ter doado uma imagem de São Pedro para os moradores.
A religião predominante na comunidade é a católica.
A Escola Rural Municipal São Pedro teve sua sede própria inaugurada em 27 de
novembro de 1977, na gestão de Duílio Genari e Arnoldo Bohnen, pois antes funcionava
junto a Capela, sendo este o motivo, também, de se chamar São Pedro.
De acordo com Cândido e Mirales (2014), por meio dos dados disponibilizados pelo
Setor de Documentação na Secretaria Municipal de Educação (SMED)45
, a Escola atende ao
Ensino Infantil e Ensino Fundamental e conta com o total de 60 (sessenta) alunos
matriculados, distribuídos nas seguintes seriações:
Quadro 1 – Número de alunos, por série, matriculados na Escola Rural Municipal São Pedro
na Linha Cerro da Lola – Toledo-PR.
Séries
Seriação Pré I Pré II 1º Série 2º Série 3º Série 4º Série 5º Série
Número de alunos (as) 10 4 7 8 8 12 11 Fonte: Dados da entrevista, 2013.
A estrutura física da Escola conta com uma quadra de esportes, seis salas de aula, uma
biblioteca, uma cozinha, banheiros, uma sala dos professores, uma sala de almoxarifado e
uma área de parque para as crianças.
Com relação aos Recursos Humanos, na escola atuam oito professoras, uma diretora,
uma coordenadora e duas cozinheiras que são servidoras concursadas, além destas, há uma
zeladora e uma estagiária de contratação terceirizada.
Com relação à Unidade Básica de Saúde Albano Wammes, os moradores contam com
duas equipes: uma que atende nas segundas-feiras no período da manhã e a outra nas quintas-
feiras à tarde. A unidade volante conta com um médico, um enfermeiro e um técnico de
enfermagem.
O Clube recreativo possui um bar, uma pista de bocha e uma área livre para festas,
reuniões, entre outros eventos, buscando integrar os moradores da comunidade em atividades
de cultura e lazer. Esse local, é o espaço em que as mulheres se reúnem para os Encontros do
Clube de Damas 14 de Setembro, a cada segundo domingo de cada mês.
45
As informações foram obtidas por meio da entrevista realizada pela equipe do Projeto de Pesquisa “Relações
de Gênero e Agricultura Familiar: estudo na Linha Cerro da Lola – Toledo/PR”, com a Secretaria Municipal de
Educação de Toledo-PR (Sonia Bernadete Rukhaber Brito) e a Escola Rural Municipal São Pedro (Diretora
Daiana Gissele Hofstter), nas datas de 06/09/2013 e 29/10/2013, respectivamente.
54
A agricultura caracteriza-se pelos produtos como: soja, trigo e milho, além disso, são
cultivadas hortaliças e árvores frutíferas. Alguns produtores também se destacam nas
atividades de pecuária e suinocultura.
A fonte econômica, na maioria das famílias, provém, principalmente, da produção de
gado de corte e de gado leiteiro. O primeiro é voltado para a subsistência familiar, o segundo
para gerar renda familiar.
A tecnologia utilizada na produção pecuária e agrícola no campo teve um processo
gradativo, porém permanente, de adaptação das instalações e máquinas nas propriedades
rurais.
O principal meio de comunicação, informação e divulgação da população ocorre por
meio do rádio, do telefone, da televisão e, de poucos, pelo acesso à internet, permitindo que
todos se mantenham informados das notícias locais, nacionais e do mundo em geral.
A Associação de Moradores e Amigos de Cerro da Lola organizou-se visando à articulação
entre as entidades, a igreja, a escola, o clube recreativo, o poder legislativo e o poder
executivo para planejar o desenvolvimento da comunidade e buscar alternativas coletivas para
superar as dificuldades vindas da população rural.
Mais detalhamentos sobre a localidade se encontram nos ANEXOS C e D, em que
apresentadas algumas fotos que registram a condição espacial e estrutural das edificações
comunitárias.
3.3 O PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA
A pesquisa foi realizada com 09 (nove) sujeitos, sendo 05 (cinco) mulheres
agricultoras moradoras da localidade Linha Cerro da Lola – Toledo-PR e 04 (quatro) sujeitos
de cada entidade, que estão diretamente envolvidos com a população rural. Diante deste
quadro, elaborou-se um perfil dos sujeitos entrevistados apresentando alguns aspectos de
identificação, mantendo o anonimato dos entrevistados conforme estabelece os parâmetros
éticos da pesquisa.
A identificação dos sujeitos será expressa por letras e números. Para as mulheres
agricultoras utilizou-se A1, A2, A3, A4 e A5 e para as entidades E1, E2, E3 e E4.
55
Tabela 3 – Perfil das mulheres agricultoras
Sujeitos Idade Sexo Estado Civil Profissão
A1 52 Feminino Casada Agricultora
A2 47 Feminino Casada Agricultora
A3 47 Feminino Casada Agricultora
A4 46 Feminino Casada Agricultora
A5 52 Feminino Casada Agricultora
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
A tabela acima apresenta o perfil geral de identificação das mulheres agricultoras
entrevistadas, todas possuem um perfil parecido devido aos critérios de inclusão para seleção
amostra da pesquisa. Conforme a Tabela 01, das 05 (cinco) mulheres selecionadas, 02 (duas)
possuem a idade de 52 anos; 02 (duas) com 47 anos e 01 (uma) com 46 anos, todas são
casadas e agricultoras.
Em relação à composição familiar das mulheres entrevistadas, foi possível verificar
que 03 (três) famílias são compostas por quatro pessoas e 02 (duas) por cinco pessoas,
conforme o gráfico abaixo apresenta:
Gráfico 3 – Composição familiar das mulheres agricultoras
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
De acordo com o gráfico acima, das 05 (cinco) mulheres entrevistadas, 40% se
referem às famílias composta por marido, uma filha e dois filhos, o que equivalem a 02
(duas) das entrevistadas. Os 60% correspondem a 02 (duas) famílias, uma composta por
60%
40%
4 pessoas 5 pessoas
56
marido e dois filhos e outra pelo marido, um filho e um neto, representando 03 (três) das
mulheres entrevistadas.
Outro aspecto considerado para formar o perfil das mulheres entrevistas refere-se ao
nível de escolaridade, que está distribuído da seguinte maneira:
Gráfico 4 – Escolaridade das mulheres agricultoras
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
Tendo em vista o gráfico apresentado, pode-se observar que 60% correspondem a 03
(três) mulheres que possuem o Ensino Fundamental Incompleto; 20% equivalem a 01 (uma)
mulher com o Ensino Fundamental Completo e outros 20% representam 01 (uma) mulher
com Ensino Médio Incompleto, ou seja, nenhuma das mulheres entrevistadas possuem o nível
de escolaridade igual ou superior ao do Ensino Médio Completo. Esse aspecto será abordado
posteriormente na análise de conteúdo, que explica o(s) motivo(s) da não continuidade nos
estudos pelas mulheres agricultoras.
Já no que diz respeito aos sujeitos entrevistados das entidades, os dados são os
seguintes:
Tabela 4 – Perfil dos sujeitos das entidades entrevistadas
Sujeitos Sexo Idade Instituição que representa
E1 Feminino 22 Sindicato Rural de Toledo
E2 Feminino 59 Instituto Paranaense de Assistência
Técnica e Extensão Rural - EMATER
E3 Masculino 61 Sindicato dos Trabalhadores Rurais
60% 20%
20%
Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo
Ensino Médio Incompleto
57
E4 Feminino 34 Secretaria de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
A partir da Tabela 04, pode-se verificar que dos 04 (quatro) sujeitos das entidades
entrevistas 03 (três) são do sexo feminino e 01 (um) do sexo masculino. As entidades
envolvidas com a população rural são: o Sindicato Rural de Toledo, o Instituto Paranaense de
Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a
Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Após a apresentação dos sujeitos da pesquisa, partir-se-á para a análise de conteúdo,
visando relacionar, aproximar, articular e interpretar as informações obtidas pelas entrevistas
com base nos referenciais teóricos.
3.4 EIXOS ANALÍTICOS DA PESQUISA
3.4.1 O enraizamento das mulheres na localidade
Para compreender a realidade vivenciada pelas mulheres agricultoras, buscou-se
verificar a trajetória das famílias das mulheres participantes da pesquisa até a chegada desde a
sua vinda na Linha Cerro da Lola, identificando os motivos que as levaram a fixar moradia,
bem como, a sua reprodução social neste espaço.
A partir das informações obtidas nas entrevistas, verificou-se que das 05 (cinco)
mulheres entrevistadas, 02 (duas) vieram com os pais do estado do Rio Grande do Sul, uma
delas declarou que a família veio para ver terras e acabou ficando em busca de melhores
condições de vida; 02 (duas) nasceram em Cerro da Lola; e 01 (uma) nasceu em Marechal
Cândido Rondon. A família desta teve que sair do local onde moravam por causa da
construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu e com a indenização comprou terras na região,
desse modo declarou a entrevistada: “Eu nasci em Marechal, a gente veio embora de lá
porque veio a Itaipu. No nosso sítio foi água.” (A3).
Considerando o contexto histórico que vivenciam, é necessário destacar dois pontos
fundamentais que possibilitam compreender a vinda dessas famílias para a localidade Cerro
da Lola. O primeiro relaciona-se à busca por uma melhor qualidade de vida e pelo usufruto
das terras férteis, isto porque, segundo Lopes (2002), no governo de Getúlio Vargas havia no
Brasil uma forte política de ocupação dos territórios esvaziados, denominada “Marcha para
58
Oeste”, que visava povoar as áreas desertas do interior do país, utilizando-se do
fortalecimento do nacionalismo por meio dos meios de comunicação, no caso, o mais
utilizado na época, o rádio, para que essas áreas fossem ocupadas. Essa política nacionalista,
assim chamada, buscava a exploração das regiões fronteiriças, a organização administrativa e
o desenvolvimento socioeconômico desses territórios.
Outro fator fundamental a ser considerado, diante da importância dessa política na
época, é que havia um grande interesse de outros países em ocupar as terras por fins
puramente econômicos.
Portanto, é no contexto da „Marcha para Oeste‟ e do projeto de
nacionalização de fronteiras do governo Vargas que se pode entender a
criação dos territórios federais de fronteira. Nesse sentido constata-se que a
criação desses territórios, em geral, e do Território Federal do Iguaçu em
particular, visava facilitar e viabilizar a ocupação dos espaços vazios do
oeste e sudoeste do Paraná e Oeste catarinense, que, (...) estavam sujeitos a
riscos de ocupação por parte de estrangeiros. Esta situação poderia
comprometer a unidade do território brasileiro, tanto sob o aspecto
geográfico e territorial, quanto sob o aspecto econômico. (LOPES, 2002, p.
47).
O segundo ponto refere-se às consequências causadas pela construção da Usina
Hidrelétrica de Itaipu46
. Como apresenta Lima (2004, p. 311), a construção da Usina “[...] foi
intercalada pela história de um mega projeto de desenvolvimento nacional que se instalou em
seu território e deixou uma marca indelével de progresso.”, com profundas transformações
econômicas, políticas e sociais no oeste paranaense.
Nesse contexto, a mídia propagava as vantagens da construção da Usina para o
desenvolvimento da economia, atraindo o investimento de outros países e a geração maciça de
emprego, entretanto,
[...] além desse impacto favorável à economia capitalista, outros se
sucederam, surpreendendo a população, especialmente a mais próxima das
obras. Novos rumos foram tomados para a história regional que, foi
reconstruída, mediante os desejos e necessidades emergentes da geração de
energia para o provimento do progresso. (LIMA, 2004, p. 311).
Conforme a citação da autora, a construção interferiu não só no meio ambiente, mas
também na desapropriação de pessoas que moravam na região. Em 1982, com a inundação
46
Esta construção se consolidou por meio do Tratado de Itaipu, que mesmo assinado em 26 de abril de 1973,
vigorou apenas em 13 de agosto de 1973. O Tratado “[...] estabeleceu as diretrizes para a efetiva realização de
um aproveitamento hidrelétrico no trecho entre os municípios de Guaíra e de Foz do Iguaçu. O plano idealizado
por Jânio Quadros e João Goulart seria, enfim, executado.” (LIMA, 2004, p. 206).
59
causada pelo reservatório de Itaipu, que atingiu 1.460 quilômetros quadrados de área, a
empresa teve que fazer o ressarcimento a 8.519 propriedades do lado brasileiro, sendo que,
deste número, 6.913 eram de domínio rural. (LIMA, 2004, p. 312).
Nesse cenário, muitas famílias tiveram que reorganizar suas vidas em outras
localidades devido à inundação, como foi relatado por uma das entrevistadas, sendo que,
incluindo a sua família, 1.390 propriedades rurais foram atingidas em Marechal Cândido
Rondon. A partir desse acontecimento, Lima (2004, p. 312) considera também “[...] as
mudanças radicais em termos da produção em que na época a produção de soja, milho, feijão,
mandioca e arroz representavam 98% da produção agrícola da área inundada.”.
A partir desse processo de desapropriação, pôde se observar que a maioria das famílias
tinham o desejo de se manter na região oeste, o que “[...] se justificava pelo conhecimento que
possuíam das terras e estas serem produtivas.” (LIMA, 2004, p. 351).
Considerando esse contexto, observou-se que uma estratégia de desenvolvimento do
governo para o país rebateu diretamente no modo de vida de um número significativo de
população, nesse episódio histórico, interferindo na vida das famílias que viviam no campo.
Verificou-se, também, a migração de habitantes do estado do Rio Grande do Sul para o
Paraná - fato bastante presente na localidade.
Outro fator de enraizamento foi o enlace conjugal, em que mulheres casaram com
homens da própria localidade ou circunvizinhas e continuaram no local e com funções
agrícolas provenientes da sua família. Quando casadas, as mulheres, por meio do contrato
conjugal, assumem, na sua maioria, participar dos trabalhos da lavoura, estabelecendo uma
divisão social e “sexual” de trabalho.
Portanto, tendo em vista que o tempo médio de permanência das mulheres entrevistas
na localidade é de 43 anos, o que possibilitou constituírem suas vidas neste espaço, por isso, a
compreensão do enraizamento se entende por fatores de ordem cultural e de trajetórias
econômicas que residem nas relações de (re) produção social das unidades de produção
familiar.
3.4.2 O processo de trabalho e renda familiar
Em relação à dinâmica do trabalho cotidiano das mulheres na produção agrícola, foi
possível identificar que todas as mulheres iniciam suas atividades entre 05h30min e
06h30min, todos os dias da semana.
60
As atividades realizadas pelas mulheres englobam desde atividades da casa até
atividades dentro e fora da propriedade, como demonstrado no quadro abaixo.
Quadro 2 – Atividades realizadas pelas mulheres agricultoras.
Atividades da Casa Atividades na Propriedade Outras Atividades
Preparar o café, almoço e
janta Tirar leite Crochê
Passar roupa Levar pastos para o gado Assistir TV
Limpar a casa Soltar as vacas Ir à Igreja
Lavar louça Alimentar as vacas Tomar chimarrão
- Limpar o chiqueiro Costurar
- Abrir os “cochos” Dormir / Descansar
- Tratar os terneiros (bezerros e
vacas) Ginástica
- Vacinar as vacas Jogar Bocha
- Roçar Ir ao Clube
- Carpir Visitar vizinhos / parentes /
familiares
- Juntar milho Jogar Vôlei
- Ordenhar Jogar Futebol de Salão
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
É possível constatar que todas as mulheres se dividem entre as atividades da
propriedade e da casa, sendo que executam atividades diversificadas como apresentado no
quadro anterior. Dessa forma, pode-se verificar a dupla ou tripla jornada das mulheres
agricultoras. Das depoentes, apenas 02 (duas) declararam receber “ajuda” do marido e/ou
filho nas atividades, o que demonstra que as atividades são distribuídas para cada membro
familiar, o que integra a forma de organização dentro da propriedade de um lado, mas, por
outro, o trabalho da mulher é qualificado como ajuda e não visto como trabalho.
O fato de a mulher estar inserida em uma estrutura familiar, que integra relações de
parentesco e produção, o seu trabalho não tem reconhecimento porque é entendido como
“complementar” e não fundamental na esfera produtiva. Em outras palavras, entende-se como
a desigualdade entre os sexos, mesmo que no depoimento das mulheres há uma igualdade,
porém, esta é mascarada pelo serviço doméstico que o homem faz “quando precisa”, aí que
está a questão da desigualdade, por não reconhecer o trabalho doméstico como trabalho de um
61
homem e a mulher reconhece na agricultura seu trabalho como se fosse a realização de um
trabalho necessário independente de ser homem ou mulher.
Quando questionadas a respeito do reconhecimento de seu trabalho na agricultura, 04
(quatro) declararam que não há um reconhecimento por parte das pessoas externas, ou seja,
daquelas que não são da área rural, pois onde vivem se sentem reconhecidas, e 01 (uma)
declarou que se sente reconhecida em todas as esferas que convive, seja no campo como na
cidade.
Sobre isso as depoentes salientaram;
Alguns precisam conhecer a realidade para saber a importância das
mulheres. Pessoas que não trabalham na agricultura. (A1)
Não temos o valor de uma mulher da cidade, quando se chega na cidade a
gente sente a diferença de tratamento, pela cultura. (A2)
Eu já escutei falar „olha a tropera da roça‟. Essas coisas assim é bem...
[momento em que se sentiu constrangida] eu nem gosto de falar que sou da
roça. (A3)
Por meio dessas declarações, é possível destacar alguns pontos centrais presentes na
sociedade, por exemplo, o sentimento de vergonha que a entrevistada A3 enunciou frente a
uma situação de preconceito e discriminação que culturalmente tem-se atribuído a população
rural e que se perpetua pelo desconhecimento da importância e relevância que o homem e a
mulher do campo tem para nossa existência, isto é, produzem para alimentar a população.
O discurso disseminado pela mídia ainda reforça que o conhecimento e o
desenvolvimento pertencem as pessoas que residem na cidade, além de serem as que estão
tecnologicamente atualizadas e constantemente consumindo os produtos da moda - discurso
que apenas camufla as desigualdades existentes intrínsecas a lógica do capital. Ao mesmo
tempo, o discurso predominante traz a sensação de que não há distinção, uma vez que o
mundo está globalizado e o capital vai ocupando e expandindo cada espaço da sociedade para
se manter hegemônico, como evidência a fala de um dos entrevistados:
Então hoje a vida na roça ficou bem mais fácil por causa da tecnologia e o
avanço que a tecnologia trouxe [...] Antigamente no meu tempo distinguia
muito, a gente vinha com uma roupa diferente, costurada pela própria mãe,
hoje ninguém mais faz isso, os jovens só compram roupa de marca né, todo
mundo vem de carro pra faculdade. [...] Se você ir em qualquer faculdade
aqui em Toledo você não distingue mais os do interior e os da cidade. (E3)
62
Reconhecer que o modo de produção capitalista expandiu-se em muitas dimensões da
vida no campo, principalmente no que se refere à produção, não significa que há uso de bens e
serviços por todos, conforme expressou a entrevistada da entidade:
Hoje ninguém mais tira leite a mão, hoje tem muito mais facilidade, é rara a
propriedade que você vai e não tem um computador, só que não tem um bom
sinal de internet, mas tá lá... tem celular [...] Hoje o acesso à informação é
muito grande. (E2)
Por maior que sejam as transformações ocorridas na sociedade a partir do século XX,
como apresentada por Camargo (2011), e o movimento de globalização e mundialização,
como abordado por Iamamoto (2010), não se pode ter a ilusão que todos estejam no mesmo
patamar de desenvolvimento e/ou crescimento econômico, que todos podem ter acesso a bens
e serviços, não se pode pensar que a população do campo é tratada/vista da mesma forma que
as pessoas que vivem na área urbana e que a população do campo está nas prioridades da
formulação e efetivação das políticas sociais. Mesmo considerando todos os direitos
conquistados ao longo do tempo, ainda não se tem a igualdade das condições da população do
campo, inseridos em uma sociedade carregada de contradições e desigualdades, com os da
cidade, como pôde ser visto nas declarações das mulheres agricultoras.
No que se refere à distinção do homem e da mulher nas atividades da produção
agrícola familiar, as entrevistadas expressaram que,
Na minha família não há diferença, pois tudo que meu esposo faz eu também
faço e vice-versa. Apenas para ir à cidade, pois só eu possuo carteira de
motorista. (A1)
No começo do casamento era diferente, mas hoje os homens mudaram
muito, meu marido me ajuda em tudo. (A2)
Eu faço até mais que meu marido faz. [...] Porque ele não sabe tirar leite.
Almoço até ele sabe fazer. Não tem o que eu não faça. Eu abastecia a
plantadeira pra plantar soja... hoje eu tô com um pouco de problema na
coluna, parei de fazer serviço pesado, mas fazia. (A3)
Nesse aspecto, os depoimentos apresentam que há uma igualdade entre o homem e a
mulher no que tange o trabalho na agricultura, o que ocorre devido ao modo coletivo de
produzirem na dinâmica da produção agrícola familiar, porém é uma igualdade definida a
partir de sua posição como esposa, que inclusive se sobrepõe a um trabalho exaustivo, porque
63
o homem não realiza as tarefas domésticas e familiares, da mesma forma como a mulher
realiza na agricultura, reforçando a desigualdade do trabalho entre o homem e a mulher.
Na última fala, A3, é possível verificar que depois de muito tempo realizando o
trabalho pesado e desgastante que necessitava ser feito, hoje não realiza devido aos problemas
de saúde gerados pelo tipo de atividade na agricultura - o que não acontece com os homens
por ajudarem as mulheres na esfera do trabalho doméstico.
Outro fator a ser considerado no aspecto do trabalho, é o não reconhecimento que a
maioria das doenças são causadas pelo modo de trabalho forçado na agricultura, tanto por
parte da Previdência Social que não reconhece e nem garante o auxílio doença entre outros
benefícios, decorrentes do trabalho rotineiro e pesado que muitas vezes impedem das
mulheres de continuarem na atividade agrícola.
Com relação às particularidades do trabalho da mulher rural, em comparação as
mulheres urbanas, 03 (três) destacaram que o trabalho na agricultura é mais “pesado” e
sofrido e 02 (duas) se referiram a falta dos direitos trabalhistas e da oportunidade de acesso
aos serviços:
A mulher do campo é bem mais sofrida [...] As mulheres do campo têm bem
mais problema, eu mesmo tenho três hérnias, é tudo do peso, serviço muito
pesado. Eu acho que é essa a diferença. A gente às vezes não tem tempo de
passar creme. E elas na cidade tem bem mais oportunidade, elas têm mais
ginástica, é tudo ali né. Nós, se vai numa academia tem que andar trinta
quilômetros, na cidade tá tudo mais perto. (A3)
Não acho certo que as mulheres da cidade tenham seguro, no caso
registrada, não há seguridade para o agricultor [...] nunca recebemos
licença maternidade, atestado, não ganhamos nada do governo. (A2)
A mulher da cidade tem férias, décimo terceiro e a agricultura não tem.
(A4)
A partir das falas, pode-se observar a ausência dos direitos trabalhistas para as
mulheres agricultoras, mesmo que direitos como o salário-maternidade para trabalhadoras
rurais, o direito a aposentadoria e o direito à terra tenham sido conquistados, ainda há muito
que se avançar, especialmente no que se refere à garantia enquanto a saúde das mulheres
agricultoras, uma vez que, por causa do trabalho braçal intenso e exausto, adquirem
problemas de saúde. Além de que, há menos alternativas para realizarem determinadas
atividades, sejam de lazer ou estéticas, que as mulheres que residem na cidade têm mais
facilidade de acesso.
64
No que diz respeito a distribuição da renda no orçamento familiar, verifica-se que das
cinco mulheres entrevistadas, 04 (quatro) declararam que a principal renda familiar provém
da produção do leite, somado a outras atividades complementares na propriedade; e 01 (uma)
declarou que a principal renda advém da venda de bezerros e suínos e da costura.
Para visualizar as atividades que geram renda familiar em cada propriedade, segue o
quadro abaixo.
Quadro 3 – Atividades que geram renda familiar em cada propriedade das mulheres
agricultoras entrevistadas.
Sujeitos Principal Atividade de renda Atividades complementares de renda
A1 Produção leiteira Granja de porcos e crochê
A2 Venda de bezerros e suínos Costura - venda
A3 Produção leiteira Produção de soja, milho e gado de corte
A4 Produção leiteira Produção de soja, milho e lavoura
A5 Produção leiteira Venda de mandioca
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
Tais informações apresentam a predominância da produção leiteira e como apresenta
os estudos de Martins e Carvalho (2005, p. 60):
No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no oeste do Paraná,
principalmente nas propriedades familiares típicas, a mulher assumiu papel
de total relevância. É ela a responsável pelo manejo dos animais e pela
higienização e ordenha, cabendo ao seu parceiro a responsabilidade na
produção de alimentos servidos aos animais.
Ao encontro dessa afirmativa, os entrevistados E2 e E3 destacam, também, que;
Naquela comunidade especificamente nós temos um trabalho muito forte na
produção leiteira. Então as mulheres participam bastante [...] então essa
atividade é bastante desenvolvida. [...] E ali naquela comunidade eu percebo
que as mulheres são bastante atuantes, porque a atividade leiteira...se não
tem mulheres, dificilmente a atividade acontece. É uma atividade bastante
puxada pelas mulheres. A atividade mais forte da comunidade é a atividade
leiteira, e as complementares né, porque tem o chiqueirão, aviário, lavoura.
(E2)
[...] quando se fala em questão de pecuária de leite, geralmente são mais as
mulheres. (E3)
65
A partir desse aspecto, é possível visualizar a predominância das mulheres na
execução dessa atividade específica nas propriedades da localidade, que reflete na posição em
que a mulher agricultora ocupa no interior de sua propriedade e na família. Por ser uma
produção direta de manejo e tratamento com animais exige que a mulher ou os membros
familiares que estão envolvidos se dediquem diariamente nesta produção, inviabilizando
passear, tirar férias, viajar, enfim outras atividades que poderiam fazer devido os horários
rotineiros que a atividade leiteira exige.
No tocante ao investimento financeiro da renda familiar 02 (duas) depoentes
declararam investir na propriedade como forma de fortalecer a atividade agrícola que
realizam:
Na construção dos chiqueirões e na compra de máquina de costura. (A2)
Investimos na compra de uma caminhonete nova e [nos anos anteriores]
financiamos um trator traçado. (A3)
Pode-se inferir que mesmo as mulheres exercendo uma atividade produtiva específica
e que tenham rendimentos próprios, estes não se apropria para si mesma, mas incorpora ao
conjunto familiar e doméstico.
Quanto às outras 03 (três) entrevistadas declaram aplicar a renda para pagar as despesas da
propriedade na aquisição de insumos agrícolas e investimentos no interior da família.
A gente paga as conta. [...] a gente paga luz, água, telefone e as coisas que
compra pra dentro de casa [...] daí não sobra muito. (A4).
Quando questionadas qual o investimento que fazem em si mesmas 04 (quatro)
declararam comprar roupa e calçado quando sobra dinheiro, porque pensam mais nos
filhos(as), além de que 01 (uma) ainda paga a contribuição do INSS para seus dois filhos.
Além disso, quando referido a este aspecto todas declararam possuir conta conjunta com o
marido.
Assim, é possível observar que a mulher agricultora, mesmo tendo sua renda própria
utiliza-a de forma coletiva, o que se traduz em pensar no bem-estar de sua família, ela não
ascende a uma autonomia econômica, o que dificulta a construção de uma identidade
profissional feminina dentro da unidade de produção familiar.
66
3.4.3 Dimensões da educação permanente das mulheres agricultoras e seus reflexos no
cotidiano
A análise desse eixo apresenta a realidade da educação permanente na região em que
se desenvolve a pesquisa, para, em seguida, entendê-la num contexto mais amplo.
Quando as entidades foram questionadas sobre o que ofertam no campo, em relação à
educação permanente no campo - que se traduz em cursos, palestras, encontros, seminários,
entre outros, que integram permanentemente o homem e a mulher do campo, em todas as
dimensões da vida humana.
Tomando por base esta compreensão os depoentes abaixo expressam como tem se
aplicado a educação permanente a população rural.
Das 04 (quatro) entidades entrevistadas, 02 (duas) declararam ofertar e estar
diretamente relacionadas com cursos profissionalizantes e 02 (duas) declararam que não,
porém fazem a intermediação nas ofertas dos cursos profissionalizantes. Os convênios ou
parcerias com as entidades se referem ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(SENAR)47
e com ações de outras secretarias48
, ou seja, de forma direta ou indireta, todas as
entidades estão envolvidas com a capacitação, educação e profissionalização dos agricultores
familiares.
Cabe ressaltar que a compreensão de educação permanente, do ponto de vista das
entidades, direciona-se aos Cursos Técnicos, Seminários, as Capacitações e a Assistência
Técnica.
Segundo as entidades, os objetivos de ofertarem os cursos profissionalizantes são:
Capacitar o agricultor rural para saber administrar, fazer a gestão. [...]
Melhorar os serviços oferecidos na propriedade. (E1)
[...] o fortalecimento familiar, [a] qualidade de vida e renda. (E2)
Qualificar e promover a qualidade de vida. (E3)
[...] melhorar a qualidade dos produtos. (E4)
47
O SENAR foi criado pela Lei Federal nº 8315, de 23 de dezembro de 1991 e regulamentado pelo Decreto nº
566/92, de 10 de junho de 1992, com o objetivo de organizar, administrar e executar, no território brasileiro, o
ensino da formação profissional rural e a promoção social do trabalhador rural. (SENAR, 2014, s.p). 48
O Projeto Educando com a Horta Escolar e Gastronomia (PEHEG), parceria com o Governo Federal e
Secretaria de Educação.
67
A partir desses objetivos apresentados pelos depoentes, é possível observar, por meio
da fala do entrevistado E1, que a administração e gestão da propriedade estão direcionadas ao
homem, quando se remete a expressão agricultor familiar. Os demais depoimentos E2, E3 e
E4 manifestaram-se na melhoria da renda, o que interfere na qualidade de vidaatribuindo esta
qualidade ao conjunto familiar. Verifica-se, portanto, que a qualificação tem uma direção para
a produção voltada ao mercado e sinaliza a melhoria da condição de renda da família não
atribuindo um “olhar” direcionado a particularidade da construção da identidade da mulher na
produção agrícola.
De acordo com 03 (três) dos entrevistados das entidades, a escolha do tipo do curso
ofertado ocorre a partir da identificação das necessidades dos agricultores, uma vez que o
curso tem de ir ao encontro do que os produtores precisam para que possam se interessar em
participar; sendo que todos os cursos ofertados pelas 04 (quatro) entidades são gratuitos.
Com relação à divulgação dos cursos, todas as entidades responderam haver um
melhor resultado por meio do contato direto, “boca a boca”, com as comunidades ou
lideranças das comunidades, e, quando necessário, utilizam de convites individuais ou órgãos
de imprensa. As entidades relataram, também, que as comunidades são bastante receptivas,
pois são entidades que já possuem uma longa trajetória no município, passando credibilidade
aos produtores.
Os profissionais que costumam ministrar os cursos são variados e o tempo de duração
das capacitações destinadas aos agricultores familiares também é relativo, dependendo do tipo
de capacitação; enfim, depende da necessidade da localidade regional dos(as) agricultores(as).
Como foi possível identificar no perfil das mulheres agricultoras, apresentado no item
3.3, o nível de escolaridade formal das mesmas não ultrapassou o Ensino Médio Completo,
isto porque, houve inúmeros percalços que as impediram de continuar os estudos. Dentre os
motivos, 01 (uma) declarou que a única possibilidade que teve de estudar foi quendo
trabalhou de babá na cidade, mas, para não se distanciar dos familiares, voltou para o sítio dos
pais e abandonou a escola; 01 (uma) declarou que o pai não deixava, pois ela precisava ajudar
no sustento da casa e 03 (três) declararam que não seguiram os estudos porque a família não
tinha condições de pagar, além da falta de transporte.
A par destas dificuldades os depoentes manidestaram os seguintes depoimentos:
Porque era longe, não tinha como ir, daí tinha que ir a pé, não tinha
transporte naquela época. E pouca vontade eu tinha, porque eu não gostava
de estudar. E hoje eu me arrependo tanto. (A3)
68
É que naquele tempo era difícil, né. Não tinha recursos que nem agora, com
transporte e tudo. Daí tinha que pagar e os pais não tinham condições, né.
(A4)
Cabe sinalizar que no contexto histórico mais amplo o acesso à educação eram
presentes em todo território brasileiro, frente a realidade da Política Educacional situação que
foi se modificando com a consolidação e efetivação dos princípios presentes na Constituição
Federal 1988 e da LDB de 1996.
A partir de informações secundárias49
, o transporte escolar na localidade Cerro da Lola
passou a existir a partir da década de 1970, de forma precária e a população escolar devia se
deslocar até o distrito de Dez de Maio - a região mais próxima da localidade –, o que
inviabilizou as condições das pessoas moradoras daquela localidade de avançar nos estudos.
Retornando a questão da educação permanente, todas as entrevistadas participaram de
Encontros, Cursos ou Palestras.
As experiências destacadas pelas mulheres foram:
Quadro 4 – Experiências de Educação Permanente das mulheres agricultoras.
Sujeitos Curso Entidade que ofertou Avaliação
A1
Encontro
Curso de tricô, corte e
costura, crochê e
culinária
Emater
Não se lembra Bom. Utiliza até hoje
A2 Culinária, corte e
costura e crochê
Senhoras
Cooperativistas em Dez
de Maio
Boa experiência. Utiliza até
hoje
A3 Panificação Coamo – Agroindustrial
Cooperativa
Foi bom participar para
aprender mais coisas
A4
Palestra sobre “Drogas”
Palestra sobre “Como
educar as crianças”
Fazenda Esperança
Escola Rural Municipal
São Pedro
Sempre aprende alguma
coisa. Bom para a cabeça da
gente.
A5 Curso de crochê e tricô
Palestra do Leite
Coamo – Agroindustrial
Cooperativa
Emater
Aprendeu muitas coisas e
está satisfeita com o que
aprendeu Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
De acordo com o quadro acima, observa-se que os cursos, as palestras e os encontros
realizados pelas mulheres agricultoras estão relacionados mais as atividades que foram
historicamente construídas por uma sociedade patriarcal que direcionam atividades que são
exclusivamente femininas como reforçado no quadro.
49
As informações secundárias aqui referidas foram obtidas por meio de relato.
69
Com exceção da Emater, que constantemente aplica cursos, dissemina o conhecimento
e põe em prática as inovações no campo, as entidades citadas: Senhoras Cooperativas, Coamo
- Agroindustrial Cooperativa, Fazenda Esperança e Escola Rural Municipal São Pedro não
desenvolveram um trabalho contínuo na localidade. Essas organizações possuem outros
objetivos e vínculos para com a população rural, mas também realizam essas ações de forma
isoladas quando há oportunidade ou necessidade de determinadas atividades.
O que também foi possível evidenciar é que todas mulheres se sentiram satisfeitas
com a experiência de participação nas diferentes qualificações, sendo que 02 (duas) delas
aplicam o que aprenderam para gerar renda. Quanto a isto, destaca-se os depoimentos dos
sujeitos A1 e A2, que por meio das atividades de crochê e costura conseguem complementar a
renda familiar, isto é, além de trabalhar na produção agrícola se utilizam de recursos
artesanais para gerar renda.
As outras 03 (três) mulheres declararam utilizar o conhecimento apenas para uso
próprio no seu cotidiano. Esse cotidiano se traduz nas atividades desenvolvidas na
propriedade rural, desde o cuidado com o jardim e a horta, até a extensão do serviço no gado
leiteiro, plantio e, por último, os serviços domésticos. Um cotidiano perpassado por uma
exploração intensa de trabalho “leve” e de “ajuda”.
Dessa forma, pode-se observar que os cursos podem servir como um dos meios de
aprendizagem, bem como uma alternativa de mudança nas condições financeiras das mulheres
agricultoras e de sua família.
Referente ao interesse das mulheres realizarem outras qualificações, 04 (quatro)
responderam ter vontade de fazer informática, justificando dois motivos para isso: primeiro,
aprender a “mexer” no computador e, segundo, pelo motivo de quando ficarem mais velhas,
poderem ter uma alternativa de passar o tempo livre conversando com as vizinhas e os
familiares.
No entanto, cabe frisar que a vontade de realizar o curso de informática será suprida,
pois, durante a etapa da entrevista, obteve-se a informação que o curso de informática está em
processo de implementação para ser ofertado na localidade tendo apoio do Sindicato Rural de
Toledo50
. Uma das mulheres relatou:
Eu tinha muita vontade. Eu que fiz o barulho. Fui um dia no sindicato, daí
eu pedi, porque lá tem os cursos. [...] que nós queria e se tinha como fazer
50
O curso de informática será realizado nos dias 20 e 21 de outubro, nos períodos matutino e vespertino, no
Clube Recreativo da comunidade.
70
aqui. Daí eu peguei e montei tudo. Fui dizendo pra uma, pra outra... Daí
eles vem, ficam o dia inteiro aqui, porque são dois dias. (A3)
A vinda do curso de informática para a localidade partiu da iniciativa e organização
local das mulheres que alí residem, articulando os interesses e necessidades com a
comunidade local.
É preciso destacar, também, que uma das entrevistadas evidenciou a vontade de voltar
a estudar para concluir sua educação formal:
Pelo menos fazer o ginásio, seria muito bom, né. [...] De repente teria algum
que ia estudar, se o governo ponhava, né. Vamos dizer, pro ginásio, assim
de noite, pras pessoas que só fizeram até a quarta série. Não os novo, os
mais de idade, que passa dos 30, 25. (A4)
Nesse aspecto verifica-se a ausência de iniciativas e ações do Estado na política
educacional no campo, bem como a efetivação da política Educação de Jovens e Adultos
(EJA) para a população do campo; ou seja, a população do campo precisa e muito ser objeto
das políticas sociais que os reconheçam como sujeitos que têm particularidades e
heterogeneidades. Sendo assim, as políticas sociais têm que ser desenhadas para
homogeneizar os serviços e atendimentos ao público que têm significados diferentes, quando
se pensa no campo e na cidade.
71
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) constitui-se como uma primeira
aproximação com o processo de investigação, que objetivou abordar o processo da educação
permanente, direcionada às mulheres agricultoras da Linha Cerro da Lola do município de
Toledo-PR, e como esta se manifesta na produção agrícola familiar. Para que isto fosse
possível, foi necessário percorrer um caminho histórico, teórico e investigativo, buscando
compreender a realidade das mulheres agricultoras, bem como a efetivação da educação
permanente no meio em vivem e os reflexos no seu cotidiano.
Na investigação apresentada neste estudo, pode-se verificar que todas as mulheres
entrevistadas têm passado por alguma experiência de educação permanente, além de
manifestarem a vontade de continuar cursando o que lhes é oferecido, de acordo com o que
lhes interessa, seja de ordem econômica ou de lazer. Além disso, cabe destacar as
entrevistadas estão aplicando o conhecimento adquirido para complementar a renda por meio
da atividade do crochê e da costura.
Constatou-se, também, que todas as entidades entrevistadas estavam diretamente ou
indiretamente envolvidas com iniciativas de educação permanente para as mulheres
agricultoras, sendo a Emater e o Sindicato Rural de Toledo as entidades envolvidas de forma
mais direta na localidade da Linha Cerro da Lola. A primeira por desenvolver projetos de
assistência técnica nas comunidades e a segunda por possuir uma proposta de promoção social
para os produtores da região.
No decorrer do processo de investigação, ao mesmo tempo em que remeteu-se a
educação permanente, evidenciaram-se também as dificuldades vivenciadas pelas mulheres
agricultoras na educação formal. Como destacado por elas, os motivos que as impediram de
estudar foram por falta de condições materiais e financeiras dos pais, pela necessidade de
trabalhar na propriedade para ajudar no sustento da família e pela falta de transporte para se
deslocarem até a escola, o que demonstrou os desafios enfrentados pela população rural no
período; e mesmo que as rotas de transporte na região tenham avançado, os alunos ainda
ficam dependentes dos poucos horários e geralmente de uma empresa, sendo obrigados a
prosseguirem os estudos na cidade, caso queiram continuar estudando.
Outro aspecto demarcado na pesquisa foi em relação à dinâmica do trabalho das
mulheres na produção agrícola, o que manifestou a dupla e até tripla jornada realizada pelas
mulheres agricultoras, que dividem-se entre as atividades da casa e atividades dentro e fora da
propriedade. Quanto à distinção das atividades realizadas pelo homem e pela mulher diante do
72
espaço domiciliar e na propriedade, evidencia-se as desigualdades ainda muito presentes entre
os dois sexos, pois nas relações que se estabelecem quando a mulher trabalha, seja na
agricultura ou com os animais, seu trabalho é visto como “ajuda” mesmo fazendo o trabalho
pesado e desgastante, já em relação ao homem, no âmbito domiciliar também é tido como
ajuda, mas com uma diferença: as atividades que realizam não prejudicam sua saúde e não são
realizadas durante horas e nem por jornadas triplas de trabalho, pois sua parceria ocorre
quando é necessário, ou seja, “quando é preciso”, não contemplando uma necessidade
masculina e feminina.
As influências da introdução da tecnologia também se fizeram presente, visto que, a
partir das necessidades de adequação das agricultoras, as máquinas introduzidas na produção
as entidades promovem algumas ações para difundir novas tecnologias e inserir o produto dos
(das) agricultores(as) para uma produção direcionada ao mercado lucrativo. Para satisfazer
essa necessidade de qualificação, há outro fator que impulsiona a inovação na produção e na
mão de obra familiar, que se caracteriza pela incorporação do agronegócio nas pequenas
propriedades.
Diante dessas considerações constatadas no decorrer da pesquisa, do pressuposto
inicial evidenciando que a educação permanente se faz presente na vida das mulheres
agricultoras, na medida em que as entidades - Emater, Sindicato dos Trabalhadores Rurais,
Sindicato Rural de Toledo e Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento -
promoveram iniciativas educacionais que visaram transmitir informações e conhecimentos,
bem como contribuir para a melhoria da qualidade de vida das mulheres agricultoras e suas
famílias. No entanto, somente a oferta dos cursos não significaram a efetivação plena da
educação permanente, visto que, as próprias mulheres agricultoras aplicam parcialmente o
conhecimento adquirido na propriedade; ou seja, algumas melhoraram a condição de vida e
investiram na propriedade e outras apenas aprimoraram o trabalho artesanal, porém,
reconhecem essas iniciativas educacionais como parte da educação permanente.
Considerando todos esses aspectos, propõem-se algumas medidas que possam suprir
e/ou complementar as ações já realizadas como: a implementação e efetivação de uma política
educacional formal que atenda às necessidades da população do campo respeitando a
diversidade e preservando a cultura dos povos; o fortalecimento e ampliação das iniciativas de
educação permanente no campo que estejam em consonância com a realidade vivenciada
pelas mulheres agricultoras; que as entidades que promovem a educação permanente possam
realizar diagnóstico nas comunidades e levantar as demandas e interesses das mulheres
agricultoras não só o que diz respeito às atividades artesanais e produtivas, mas iniciativas que
73
visem fortalecer a autonomia e liderança delas na comunidade; e, por fim, a efetivação dos
direitos trabalhistas aos agricultores familiares, em especial, as mulheres, indo além das
políticas de créditos e serviços, com a concretização plena dos direitos sociais para um efetivo
desenvolvimento rural que abrange políticas diversas, garantindo a manutenção das pessoas
no campo com qualidade.
Cabe aqui ressaltar que a pesquisa foi muito gratificante, pelo fato de ter possibilitado
um contato mais intenso e constante com as entrevistadas, que a pesquisadora conheceu na
inserção no projeto de pesquisa já informado, o que permitiu um acesso e diálogo mais
facilitado. Convém destacar que a principal dificuldade foi a dependência de terceiros para a
locomoção, pois não há meios de transporte coletivo de acesso à localidade, somente a linha
escolar, mas isso não impediu que a pesquisa fosse realizada.
Portanto, espera-se que este estudo possa contribuir na reflexão e somar as demais
investigações e indagações futuras sobre a temática, além de pretender servir como
instrumento de transformação da realidade vivenciada pelas mulheres agricultoras e, talvez,
ser uma abertura para discussões na construção de uma educação permanente.
74
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80
APÊNDICES
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE ............................... 81
APÊNDICE B – Formulário de entrevistas ............................................................................. 82
APÊNDICE C – Fotos: “Mulher Atual” promovido pelo Sindicato Rural de Toledo ............ 88
82
Apêndice B – Formulário de entrevistas
Formulário de Entrevista
Mulheres Agricultoras
Data da Entrevista: ______/____/_____
Horário: _________________________
Local: ___________________________
Identificação: __________
Nome: _____________________________________________________________________
Idade: ____________________________________Estado Civil:______________________
Profissão:___________________________________________________________________
Função no Clube de Damas:___________________________________________________
Contato: ___________________________________________________________________
Composição Familiar:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Entrevista:
1. Há quanto tempo a Sra. reside em Cerro da Lola? Comente sobre sua história nesta região.
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___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2. Qual a sua escolaridade? Por que não avançou?
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___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________
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3. Quais atividades que realiza no seu dia a dia? (nos períodos manhã, tarde e noite).
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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4. A mulher agricultora é reconhecida pelo seu trabalho na agricultura? Comente.
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5. É possível observar a diferença e/ou importância do homem e da mulher na agricultura
familiar? Como?
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6. Fale sobre as particularidades da mulher rural em comparação as mulheres urbanas.
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84
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7. A Sra. já participou de alguma capacitação (exemplo: cursos, palestras, oficinas entre
outros)? Como tem sido esta experiência?
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8. Qual(is) instituição(ões) ofertou(aram) a capacitação? E como você avalia.
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9. Você teria o interesse de participar de alguma capacitação? Qual(is) seria(am).
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10. Relate se as capacitações têm possibilitado uma condição financeira melhor para a sua
vida.
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11. A Sra., com a renda familiar, investe financeiramente na família, na casa ou para uso
particular?
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12. Como é realizada a distribuição da renda no orçamento familiar?
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86
Formulário de Entrevista
Entidade
Data da entrevista: ____/___/____
Horário:_____________________
Local: ______________________
Identificação:__________
Nome Completo:_____________________________________________________________
Idade:__________ Sexo: ( )Feminino ( )Masculino
Profissão: __________________________________________________________________
Entidade que representa: ___________________________________________________
Função que ocupa: __________________________________________________________
Contato: ___________________________________________________________________
Entrevista:
1 - A instituição oferece cursos profissionalizantes? Se sim, para qual(is) localidade(s). Se
não, qual é a relação com as ofertas dos cursos profissionalizantes?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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2 – Descreva de que maneira é divulgada a oferta dos cursos profissionalizantes na região?
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3 – Fale quem são os profissionais que costumam ministrar os cursos profissionalizantes?
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4 – Comente qual o objetivo de ofertarem os cursos profissionalizantes? E como é realizado
(equipe, família, local, receptividade).
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5 – Em quanto tempo é ofertado os cursos e qual o tempo médio de duração de cada um?
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6 – Relate como a instituição tem retorno, de alguma forma, do que foi realizado com o
curso profissionalizante? De que maneira?
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Apêndice C – Fotos: “Mulher Atual” promovido pelo Sindicato Rural de Toledo
Fonte: fotografia registrada pela pesquisadora no Curso “Mulher Atual”, realizado no Sindicato Rural de Toledo,
24 de agosto de 2014.
Fonte: fotografia registrada pela pesquisadora no Curso “Mulher Atual”, realizado no Sindicato Rural de Toledo,
24 de agosto de 2014.
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ANEXOS
ANEXO A – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP................... 90
ANEXO B – Mapa dos distritos de Toledo ............................................................................ 92
ANEXO C – Dimensão territorial da localidade Linha Cerro da Lola – Toledo-PR ............. 93
ANEXO D – Fotos da localidade Linha Cerro da Lola – Toledo-PR ..................................... 94
92
ANEXO B – Mapa Político do município de Toledo-PR
Fonte: Secretaria de Tecnologia da Informação, 2009.
93
ANEXO C – Dimensão territorial da localidade Linha Cerro da Lola – Toledo-PR
Dimensão territorial da localidade
FONTE: Google Maps, 2014.
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ANEXO D – Fotos da localidade Linha Cerro da Lola – Toledo-PR
Capela São Pedro
FONTE: Ricardo Mercadante, Panoramio, 2014.
Escola Rural Municipal São Pedro
FONTE: Blogger da Escola Rural Municipal São Pedro, 2014.