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Suely Xavier de Brito Silva 1 Crispiniano Carlos da Silva Nunes 2 Orliz Santos Santana 3 Rubens Ferreira Guimarães 4 Hermes Peixoto Santos Filho e Carlos Ivan Aguilar Vildoso 5 A fruticultura confere ao Brasil o terceiro lugar no ranking mundial da produção de frutas frescas do mundo (FAO, 2008), ultrapassando 41 milhões de 1–Engenheira Agrônoma, Fiscal Estadual Agropecu- ário (ADAB), Doutora em Ciências Agrárias (UFRB); e-mail: [email protected] 2–Engenheiro Agrônomo, Fiscal Estadual Agropecu- ário (ADAB), Mestre em Recursos Genéticos Vegetais (UFRB); e-mail: [email protected] 3–Engenheiro Agrônomo, Fiscal Estadual Agrope- cuário (ADAB), Especialista em Epidemiologia com ênfase em Defesa Sanitária Vegetal/SMVBA. UNIME; e-mail: [email protected] 4–Engenheiro Agrônomo (ADAB), Especialista em Epidemiologia com ênfase em Defesa Sanitária Vegetal/SMVBA. UNIME; e-mail: [email protected] 5–Engenheiros Agrônomos, Pesquisadores (EMBRA- PA/CNPMF); e-mail: [email protected]; [email protected] toneladas produzidas em área correspondente a 3,4 milhões de hectares, gerando divisas da or- dem de US$ 3,2 bilhões, relativas à exportação de 3,2 milhões de toneladas de diversificados pro- dutos (ABECITRUS, 2010). Considerando o volume de produ- ção e divisas geradas, a citricultura brasileira destaca-se como rele- vante atividade socioeconômica. Segundo ABECITRUS (2010), a cadeia produtiva dos cítricos aten- de a cerca de 50% da demanda agroindustrial e responde a 75% das transações internacionais, promovendo um faturamento anu- al da ordem de US$1 bilhão com a exportação de suco concentrado congelado. Por sua vez, a Bahia participa com uma produção de 846.711 toneladas, o que lhe confere a segunda colocação no ranking nacional dos estados pro- dutores de citros. Além da exportação de suco con- centrado, outro viés importante de escoamento da produção de cítri- cos é o mercado interno que ab- sorve praticamente toda a laranja comercializada na forma in natura (EMBRAPA.CNPMF, 2005), moda- lidade na qual a Bahia se insere como responsável pelo abasteci- mento do mercado de frutas frescas do Nordeste, mantendo relações comerciais com Alagoas, Pernam- buco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí e, eventualmente, com as re- giões Sul e Sudeste do país. A citricultura baiana ocupa, apro- ximadamente, 67 mil hectares (IBGE, 2012b) da faixa litorânea do Estado, implantada principalmen- te no Litoral Norte/Agreste Baiano e Recôncavo, territórios respon- sáveis por mais de 80% de sua produção (PASSOS; SANTANA, 2004). Nesses territórios há predo- minância de minifúndios, menores Serviço de vigilância ativa da defesa agropecuária detectou nova ocorrência fitossanitária na citricultura baiana Foto: Heckel Júnior

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Page 1: Serviço de vigilância ativa da defesa agropecuária ... · de pontuações pretas, as quais correspondem aos pcinídios ... Cruz das Almas, Muritiba, Ca-baceiras do Paraguaçu,

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Suely Xavier de Brito Silva1

Crispiniano Carlos da Silva Nunes2

Orliz Santos Santana3

Rubens Ferreira Guimarães4

Hermes Peixoto Santos Filho e Carlos Ivan Aguilar Vildoso5

A fruticultura confere ao Brasil o terceiro lugar no ranking

mundial da produção de frutas frescas do mundo (FAO, 2008), ultrapassando 41 milhões de

1–Engenheira Agrônoma, Fiscal Estadual Agropecu-ário (ADAB), Doutora em Ciências Agrárias (UFRB); e-mail: [email protected]

2–Engenheiro Agrônomo, Fiscal Estadual Agropecu-ário (ADAB), Mestre em Recursos Genéticos Vegetais (UFRB); e-mail: [email protected]

3–Engenheiro Agrônomo, Fiscal Estadual Agrope-cuário (ADAB), Especialista em Epidemiologia com ênfase em Defesa Sanitária Vegetal/SMVBA. UNIME; e-mail: [email protected]

4–Engenheiro Agrônomo (ADAB), Especialista em Epidemiologia com ênfase em Defesa Sanitária Vegetal/SMVBA. UNIME; e-mail: [email protected]

5–Engenheiros Agrônomos, Pesquisadores (EMBRA-PA/CNPMF); e-mail: [email protected]; [email protected]

toneladas produzidas em área correspondente a 3,4 milhões de hectares, gerando divisas da or-dem de US$ 3,2 bilhões, relativas à exportação de 3,2 milhões de toneladas de diversificados pro-dutos (ABECITRUS, 2010).

Considerando o volume de produ-ção e divisas geradas, a citricultura brasileira destaca-se como rele-vante atividade socioeconômica. Segundo ABECITRUS (2010), a cadeia produtiva dos cítricos aten-de a cerca de 50% da demanda agroindustrial e responde a 75% das transações internacionais, promovendo um faturamento anu-al da ordem de US$1 bilhão com a exportação de suco concentrado congelado. Por sua vez, a Bahia participa com uma produção de 846.711 toneladas, o que lhe confere a segunda colocação no ranking nacional dos estados pro-dutores de citros.

Além da exportação de suco con-centrado, outro viés importante de escoamento da produção de cítri-cos é o mercado interno que ab-sorve praticamente toda a laranja comercializada na forma in natura (EMBRAPA.CNPMF, 2005), moda-lidade na qual a Bahia se insere como responsável pelo abasteci-mento do mercado de frutas frescas do Nordeste, mantendo relações comerciais com Alagoas, Pernam-buco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí e, eventualmente, com as re-giões Sul e Sudeste do país.

A citricultura baiana ocupa, apro-ximadamente, 67 mil hectares (IBGE, 2012b) da faixa litorânea do Estado, implantada principalmen-te no Litoral Norte/Agreste Baiano e Recôncavo, territórios respon-sáveis por mais de 80% de sua produção (PASSOS; SANTANA, 2004). Nesses territórios há predo-minância de minifúndios, menores

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do que 10 ha e é uma atividade que exerce forte papel social ao gerar renda para 260 mil pessoas, via empregos diretos e indiretos (EMBRAPA.CNPMF, 2005).

Frequentemente este patrimô-nio agrícola sofre com ameaças fitossanitárias, haja vista o risco de introdução e estabelecimento de novas pragas, até então au-sentes ao parque citrícola baia-no, o que resultaria em queda de produção e dispêndio econômi-co para o manejo das mesmas. E com o intuito de preservar a saúde dos vegetais, insere-se a Agência de Defesa Agropecuária do Estado da Bahia (ADAB).

A ADAB é a instituição governa-mental responsável por discipli-nar o trânsito intra e interestadual

de vegetais, legislar sobre as medidas preventivas e de con-trole de pragas, monitorar a in-vasão de pragas, realizar levan-tamentos de pragas presentes no território baiano, emitir docu-mentos de trânsito fitossanitário, promover campanhas de pro-moção da saúde dos vegetais, fiscalizar o uso e comércio de agrotóxicos, capacitar respon-sáveis técnicos pela emissão de certificados fitossanitários, habi-litar colheitas para a exportação e realizar pesquisas de interesse para a defesa agropecuária.

A mais recente ocorrência fitos-sanitária da citricultura baiana diz respeito à detecção de um fungo, o Guignardia citricarpa Kiely, o agente causal da Mancha Preta dos Citros (MPC), popularmente

conhecida como pinta preta dos citros, e considerada a mais im-portante doença fúngica dos ci-tros, face aos danos econômicos relacionados com a depreciação cosmética sofrida pelos frutos e pelas restrições internacionais ao trânsito destes quando destina-dos ao comércio in natura, eis o caso dos Estados Unidos e Co-munidade Europeia que relaciona a MPC como praga quarentenária (AGUILAR-VILDOSO et al., 2002).

A MPC ataca folhas, ramos ver-des e, principalmente, frutos. No gênero Citrus, os limoeiros verdadeiros, laranjeiras doces e tangerineiras são bastante afetadas (Figura 1). Porém, a limeira ácida Tahiti é a única va-riedade cítrica sem registro de ocorrência da praga.

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Figura 1 – Sintomas de mancha preta dos citros em frutos de tangerina “Mexerica Rio” (A) e laranja pera (B), em pomares de Santo Antônio de Jesus/BA, junho de 2012.

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Seis tipos de sintomas podem ocorrer nos frutos cítricos: man-cha de falsa melanose, mancha dura, mancha sardenta, man-cha virulenta, mancha trincada e mancha rendilhada. Entre-tanto, a mais típica e mais fá-cil para identificar a praga é a mancha dura, ocorre nos fru-tos em processo de matura-ção (AGUILAR-VILDOSO et al., 2002). Caracteriza-se por ser uma lesão circular, medindo de 2 a 6 mm (Ø), com centro cla-ro e deprimido, circundada por borda escura. No centro da le-são é possível a visualização de pontuações pretas, as quais correspondem aos pcinídios (estruturas do fungo).

Dentre os danos econômicos, podemos relacionar prejuízos diretos como perda do valor comercial dos frutos afetados, queda prematura; e os indire-tos, associados às restrições de trânsito impostas pelos mer-

cados consumidores aos frutos e material propagativo (borbulhas e mudas) procedentes de áreas contaminadas e ao aumento do custo de produção, haja vista a ne-cessidade de adoção de medidas de manejo, tais como aplicação de fungicidas, controle do mato, ante-cipação da colheita.

Mas, em que momento é que a mancha preta dos citros invadiu a paisagem citrícola da Bahia? A princípio podemos afirmar que o primeiro relato oficial dessa pra-ga nos pomares baianos data de maio de 2012, quando o serviço de vigilância ativa e de fiscaliza-ção do trânsito de vegetais, ati-vidades realizadas pela ADAB, interceptou frutos sintomáticos sendo comercializados em su-permercados e no centro de abastecimento de frutas de Fei-ra de Santana, e adotando-se o princípio da rastreabilidade, os fiscais chegaram aos pomares do Recôncavo Baiano.

Bem, estávamos diante de uma nova ocorrência fitossanitária, Mancha Preta dos Citros (MPC), a qual quebrou o status da Bahia como área livre dessa praga. Mas, uma nova indagação veio à tona: qual seria a dimensão geofitossa-nitária da MPC na Bahia?

Assim, o presente trabalho tem por objetivo apresentar os resul-tados do levantamento fitossa-nitário realizado pela ADAB para delimitação geofitossanitária da mancha preta dos citros em po-mares do Recôncavo, no período de junho e julho de 2012. No período de 25 de junho a 26 de julho de 2012, foram inspeciona-dos e georreferenciados pomares cítricos e viveiros, de 20 municípios do Recôncavo Baiano (RB), a par-tir do foco índice, na localidade de Tabocal (Santo Antônio de Jesus), aquele em se obteve o primeiro relato de ocorrência da praga. Daí então se verificou toda a vizinhan-

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ça no entorno do foco e seguiu afastando-se dele, nas quatro di-reções: Leste/Oeste e Norte/Sul.

As inspeções fitossanitárias ava-liaram a presença/ausência de MPC nas unidades de produção (UP) de Santo Antônio de Jesus, Jaguaripe, Laje, Varzedo, São Miguel das Matas, Valença, Mu-niz Ferreira, Mutuípe, Amargosa, Dom Macedo Costa, Elísio Me-drado, Castro Alves, Sapeaçu, Conceição do Almeida, São Feli-pe, Cruz das Almas, Muritiba, Ca-

baceiras do Paraguaçu, Governa-dor Mangabeira e Maragogipe.

Em cada unidade de produção foi aplicado o Inquérito Fitossanitário, uma entrevista estruturada em que é possível a obtenção de informa-ções que identificam a propriedade, idade e variedades que compõe o pomar, tratos culturais implementa-dos, nível tecnológico da atividade, métodos de controle das pragas e comercialização da produção. Ademais, utilizou-se de um Termo de Notificação, instrumento legal

utilizado para registrar os compro-missos que o produtor rural deve-ria adotar para com seu pomar, ou viveiro, no sentido realizar as medi-das de manejo da praga.

Para confirmação laboratorial da MPC foram coletados frutos de cin-co localidades dos municípios de Santo Antônio de Jesus e Varzedo, os quais compuseram amostras, devidamente identificadas e acon-dicionadas em sacos plásticos, e encaminhadas à Clínica Fitopato-lógica da EMBRAPA/CNPMF.

No sentido de mobilizar maior número de colaboradores envol-vidos com as inspeções fitossa-nitárias, estabeleceu-se estreita parceria com os técnicos das Secretarias Municipais de Agri-cultura de Santo Antônio de Je-sus, de Castro Alves e Cruz das Almas e com os respectivos es-critórios locais da EBDA.

Para a finalização dos trabalhos, realizou-se um Seminário Técni-co na sede da Associação dos Pequenos Agricultores Rurais de Amargosa – APARA (Figura 2), oportunidade em que foram apresentados ao setor produtivo os resultados do levantamento geofitossanitário e a proposta de manejo da praga, por técni-cos da ADAB e da EMBRAPA, respectivamente.

O levantamento fitossanitário per-correu 490 pomares (Tabela 1) e 34 viveiros de produção de mudas cítricas compreendidos nos 20 municípios do RB, oportunidade em que se constatou a presença

Figura 2 – Seminário Técnico realizado na sede da APARA, em Santo Antônio de Jesus/BA, 31 de julho de 2012: Palestra de Dr. Carlos Ivan Aguilar-Vildoso (EMBRAPA/CNPMF) (A); Equipe da ADAB que realizou o levantamento geofitos-sanitário da MPC no Recôncavo Baiano (B).

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da MPC em apenas cinco municí-pios (Tabela 2): Santo Antônio de Jesus, Jaguaripe, Laje, Varzedo e São Miguel das Matas.

Tabela 1 – Levantamento Fitos-sanitário da Mancha Preta dos Citros em 20 municípios do Re-côncavo Baiano: nota 1 atribuída à presença da praga (coluna da direita), nota zero indica ausência da praga, julho de 2012.

Tabela 2 – Número de pomares inspecionados em cada um dos 20 municípios do Recôncavo Baiano, para fins de detecção da Mancha Preta dos Citros, no período de junho a julho de 2012.

Os produtores rurais, além de ci-tros, também tinham plantados em seus pomares cultivos de sub-sistência como amendoim, milho, feijão e mandioca e quando inda-gados sobre a MCP, todos des-conheciam tratar-se de uma nova ocorrência fitossanitária. Quando indagados sobre a data em que eles começaram a perceber os primeiros sintomas, afirmaram que tinha aproximadamente três anos. Essa informação coincide com a severidade (área com lesões) ob-servada em alguns frutos de tange-rineiras, pois, a área foco coincidia com pomares compostos da varie-dade “Mexerica Rio”, e esta é uma das mais susceptíveis ao ataque do fungo (Guignardia citricarpa Kiely).

Mediante as informações dos in-quéritos fitossanitários, observou--se que na área foco os pomares tinham mais de vinte anos de ida-de, raramente recebiam algum tipo

TABELA 2 NÚMERO DE POMARES INSPECIONADOS EM CADA UM DOS 20 MUNICÍPIOS DO RECÔNCAVO BAIANO

Município Número de ocorrência de MPCSanto Antonio de Jesus 16Jaguaribe 15Laje 16Varzedo 2São M. das Matas 2Valença 3Muniz Ferreira 5Mutuípe 7Amargosa 3Dom M. Costa 4Elísio Medrado 2Castro Alves 22Sapeaçu 67Conceição do Almeida 106São Felipe 30Cruz das Almas 55Muritiba 47Cabaceiras do Paraguaçu 24Governador Mangabeira 55Maragogipe 9

Fonte: Autores

TABELA 1LEVANTAMENTO FITOSSANITÁRIO DA MANCHA PRETA DOS CITROS EM 20 MUNICÍPIOS DO RECÔNCAVO BAIANO

Município Ocorrência de MPCSanto Antonio de Jesus 1Jaguaribe 1Laje 1Varzedo 1São M. das Matas 0Valença 0Muniz Ferreira 0Mutuípe 0Amargosa 0Dom M. Costa 0Elísio Medrado 0Castro Alves 0Sapeaçu 0Conceição do Almeida 0São Felipe 0Cruz das Almas 0Muritiba 0Cabaceiras do Paraguaçu 0Governador Mangabeira 0Maragogipe 0

Fonte: Autores

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de adubação; calagem e irrigação não eram práticas adotadas. Quan-do questionados sobre assistência técnica rural, 90% dos agricultores familiares informaram não contar com esse tipo de serviço.

Como precisávamos compreender o processo de estabelecimento da praga na região, indagamos os produtores acerca dos danos eco-nômicos. Eles afirmaram que ape-sar da praga estar presente há três anos na região, somente em 2012 é que eles perceberam os prejuí-zos decorrentes da MPC: queda de frutos e depreciação cosmética

dos frutos, o que se refletiu na bai-xa remuneração oferecida pelos comerciantes de frutas in natura.

O relato dos produtores tem am-paro científico, pois, se considerar-mos que a região atravessou longo período de estiagem e que os po-mares encontravam-se com déficit nutricional, a safra que foi colhida em 2012 foi resultante de um ce-nário de favorabilidade ao apare-cimento de sintomas mais severos em frutos (FUNDECITRUS, 2003).

Então, se na presença de hospe-deiros suscetíveis, a exemplo de

tangerineiras e laranjeiras cultiva-das no RB, o progresso da mancha preta dos citros ficou condicionada às condições climáticas e à presen-ça do inóculo (BALDASSARI et al., 2006), ou seja, necessitou de dois a três anos para expressar sinto-mas capazes de promover danos econômicos.

Compreendido o aspecto cronoló-gico de estabelecimento da praga, outros questionamentos persis-tiam: como teria a MPC invadido o território baiano? Qual seria o futuro da citricultura dessa região, cuja ci-tricultura é tipicamente familiar?

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Existem duas hipóteses para res-ponder ao primeiro questiona-mento: uma delas está relaciona-da com a possibilidade do fungo ter ingressado e se estabelecido no RB a partir do trânsito clan-destino de material propagativo; a outra pode estar associada ao comércio de frutos de tangerina contendo talo e folhas, proceden-tes de regiões com ocorrência da praga. Ambas amparam-se nos aspectos epidemiológicos, haja vista a disseminação da praga a longas distâncias e seu estabele-cimento relacionar-se com o trân-sito material vegetativo infectado.

Considerando que o RB é uma região que além de frutos, tam-bém produz mudas cítricas, e que o fungo pode infectar o material propagativo sem expressar sin-

tomas, e que borbulhas e mudas são extremamente importantes no processo de disseminação da praga, cabe ao Estado disciplinar o trânsito fitossanitário, evitando que mudas saiam dessa região e leve a MPC para regiões indenes.

Entretanto, será que medidas legislativas e de intensificação da fiscalização do trânsito fitos-sanitário seriam suficientes para conter o avanço da praga no Estado da Bahia? Certamente que não! A defesa agropecuária precisa ser compreendida como política pública, multidisciplinar, interinstitucional, de consequên-cias sociais, econômicas e am-bientais, e que envolve responsa-bilidades compartilhadas entre os diversos segmentos das cadeias produtivas.

Por isso, faz-se necessário uma ampla campanha de educação sanitária capaz de orientar os citri-cultores de todo o Estado acerca do patossistema Mancha Preta dos Citros, compartilhando conhe-cimentos que iriam desde o reco-nhecimento dos sintomas, pas-sando pelo risco de disseminação, até o manejo da praga. O marco inicial do processo de orientação ao setor produtivo foi estabelecido com a realização do seminário te-mático, o qual contou com a parti-cipação de 47 pessoas.

CONCLUSÕES

a) O serviço de vigilância ati-va da ADAB foi eficiente e im-prescindível para a detecção de

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uma ocorrência fitossanitária da citricultura: a Mancha Preta dos Citros (MPC);

b) A detecção de MPC feita pela ADAB alterou o status fitossanitá-rio da praga no Estado da Bahia: praga presente;

c) A MPC está restrita a cinco muni-cípios do Recôncavo Baiano: Santo Antônio de Jesus, Jaguaripe, Laje, Varzedo e São Miguel das Matas;

d) A severidade de MPC nos frutos denota que a praga está presente, pelo menos, há três anos na região;

e) Os citricultores do Recôncavo Baiano desconheciam os sinto-mas de MPC e que se tratava de uma praga relevante para a citri-cultura baiana.

AGRADECIMENTOS

Às Secretarias Municipais de Agricultura de Santo Antônio de Jesus, Castro Alves e Cruz das Almas pelo apoio de técnicos e pela mobilização dos citricultores para participar do seminá-rio; aos colegas da EBDA por indicar as principais localidades citrícolas de cada município que seriam inspecionadas; aos bol-sistas da EBDA e EMBRAPA que integraram a equipe de levan-tamento de campo; aos pesquisadores da EMBRAPA/CNPMF que emitiram o diagnóstico laboratorial; às Gerências da ADAB (Cruz das Almas e S. Antônio de Jesus), e à COREG de Feira de Santana, pelo apoio incondicional à realização do levantamento fitossanitário; à equipe técnica da ADAB que acreditou na reali-zação do levantamento em tempo recorde: um mês.

Referências

ABECITRUS. Exportação de suco concentrado de laranja. 2008. Disponível em:< http://www.abecitrus.com.br > Acesso em: 25 set. 2012.

AGUILAR-VILDOSO, C. I. et al. Manual técnico de procedimentos da mancha preta dos citros. Brasília: MAPA/DAS/DDIV, 2002. 72p.

BALDASSARI, R. B.; REIS, R. F.; GOES, A. Susceptibility of fruits of the ‘Valência’ and ‘Natal’ sweet orange varieties to Guignardia citricarpa and the influence of the coexistence of healthy and symptomatic fruits. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.31, p.337–341, 2006.

EMBRAPA. Avaliação dos impactos econômicos, sociais e ambientais das tecnologias geradas pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical. Cruz das Almas, Bahia, 2005. Disponível em: <http://www.cnpmf.embrapa/publicacoes/documentos/documento-149.pdf > Acesso em: 20 set. 2012.

FAO. Statistical – database, 2010. Disponível em: <http//www.apps.fao.org>. Acesso em: 15 set. 2012.

FUNDECITRUS. Manual de Pinta Preta. Araraquara/SP: Fundo Paulista de Defesa da Citricultura, 2003, 7p.

IBGE. Produção agrícola municipal (PAM) – 2008. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/agric/> Acesso em: 09 set. 2012

IBGE. Produção agrícola municipal (PAM) – 2010. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/agric/ > Acesso em: 17 set. 2012 (b).

PASSOS, O. S.; SANTANA, M. A. Citricultura no Estado da Bahia. 2004. Disponível em: <http://www.todafruta.com.br>. Acesso em: 07 mai. 2012