serra gaÚcha de efluentes gerados por uma vinÍcola …

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL AVALIAÇÃO DE UM WETLAND CONSTRUÍDO PARA O POLIMENTO DE EFLUENTES GERADOS POR UMA VINÍCOLA NA REGIÃO DA SERRA GAÚCHA Luis Felipe Krause Salviato Lajeado, junho de 2013

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

AVALIAÇÃO DE UM WETLAND CONSTRUÍDO PARA O POLIMENTO DE EFLUENTES GERADOS POR UMA VINÍCOLA NA REGIÃO DA

SERRA GAÚCHA

Luis Felipe Krause Salviato

Lajeado, junho de 2013

Luis Felipe Krause Salviato

AVALIAÇÃO DE UM WETLAND CONSTRUÍDO PARA O POLIMENTO DE EFLUENTES GERADOS POR UMA VINÍCOLA NA REGIÃO DA

SERRA GAÚCHA

Monografia apresentada na disciplina de

Trabalho de Conclusão de Curso II, na

linha de formação específica em

Engenharia Ambiental, do Centro

Universitário UNIVATES, como parte da

exigência para a obtenção do título de

Bacharel em Engenharia Ambiental

Orientador: Prof. Dr. Odorico Konrad

Lajeado, junho de 2013

Luis Felipe Krause Salviato

AVALIAÇÃO DE UM WETLAND CONSTRUÍDO PARA O POLIMENTO DE EFLUENTES GERADOS POR UMA VINÍCOLA NA REGIÃO DA

SERRA GAÚCHA

A Banca examinadora abaixo aprova a Monografia apresentada na disciplina

de Trabalho de Conclusão de Curso II, na linha de formação específica em

Engenharia Ambiental, do Centro Universitário UNIVATES, como parte da exigência

para a obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Ambiental:

Prof. Dr. Odorico Konrad – orientador

Doutor em Engenharia Ambiental pela

Montanuniversitat Leoben, Áustria

Prof. Ms. Daniela Mazzarino Jachetti

Mestre pela Universidade de Santa Cruz

do Sul – Santa Cruz do Sul, Brasil

Eng. Diego Tenn Pass

Graduado pelo Centro Universitário

UNIVATES – Lajeado, Brasil

Lajeado, 26 de junho de 2013

Dedico este trabalho à minha família, cujo apoio foi, é e sempre será decisivo

para alcançar o sucesso em minha vida.

AGRADECIMENTOS

Aos professores do curso de Engenharia Ambiental da UNIVATES, pela

transmissão de seus conhecimentos e pelos agradáveis momentos de aprendizado

oportunizados.

À minha empresa, pelo apoio e liberdade para a realização dos trabalhos da

graduação, que muitas vezes exigiram tempo durante a jornada de trabalho para

que pudessem ser executados.

Ao laboratório de biorreatores e efluentes líquidos do Curso de Engenharia

Ambiental da UNIVATES, pela disponibilidade de equipamentos para a realização

das análises e o apoio integral.

À empresa Tempus Soluções Ambientais e Topográficas, a qual auxiliou com

informações e material indispensável para a melhor realização deste trabalho, bem

como à vinícola que abriu suas portas para que este estudo fosse possível.

Ao professor e amigo Odorico Konrad, pelos ensinamentos, pela amizade e

pelas oportunidades que me foram oferecidas durante o Curso de Engenharia

Ambiental, ao qual serei eternamente grato.

RESUMO

Este trabalho foi desenvolvido com a intenção de contribuir para a divulgação da tecnologia de áreas alagadas construídas, ou Wetlands construídos, a qual é uma biotecnologia que utiliza como fontes de energia o sol, o vento e a gravidade, e realiza o tratamento através da ação das plantas e microorganismos. É uma alternativa sustentável para a solução dos problemas enfrentados pelos setores público e privado, relacionados ao lançamento de águas residuais. Foi estudada uma estação de tratamento de efluentes instalada em uma indústria vinícola na região da Serra Gaúcha, a qual utiliza o sistema para polimento final do efluente gerado no processo de produção do vinho. A avaliação do comportamento ocorreu durante seis meses, de forma a analisar o desempenho no polimento do efluente e a evapotranspiração ocorrida no Wetland. Foram encontrados níveis médios de eficiência de 91,45% na redução da turbidez, 66,95% na remoção da Demanda Bioquímica de Oxigênio, 69,09% de remoção de nitrogênio total Kjeldahl e 77,12% de remoção de fósforo total. A taxa de evapotranspiração média encontrada foi de 60,34%. A análise dos resultados comprovou que o tratamento de polimento via Wetland construído para efluentes provenientes do processo de produção de vinhos e derivados é eficaz.

Palavras-chave: Wetlands construídos, efluente vinícola, polimento de

efluente, evapotranspiração e eficiência de tratamento.

ABSTRACT

This document aims to disseminate the technology of constructed wetlands, which is a biotechnology that uses energy sources like the sun, wind and gravity, and carries the wastewater treatment through the action of plants and microorganisms. It is a sustainable alternative to solve the problems faced by the public and private sectors, related to their wastewater disposal. A wetland installed in a wastewater treatment plant in a wine industry of Serra Gaúcha was studied, which uses the system for final polishment of the effluent generated in the wine production process. The behavior evaluation occurred during six months, in order to analyze the performance of effluent polishing and, evapotranspiration occured in the wetland. It was found average levels of efficiency in reducing turbidity of 91.45%, 66.95% in removal of Biochemical Oxygen Demand, 69.09% of total Kjeldahl nitrogen and 77.12% of total phosphorus removal. The evapotranspiration average rate was 60.34%. The results showed that Constructed Wetlands used for polishing treatment of effluent from production of wines and derivatives are effective.

Keywords: Constructed Wetland, winery effluent, effluent polishing,

evapotranspiration and treatment efficiency.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Vinificação de uva branca e geração de efluentes.................................. 25

Figura 2 - Esquema de funcionamento de um Wetland construído.......................... 33

Figura 3 - Mecanismos de transformação e remoção de um wetland ...................... 34

Figura 4 - Croqui das instalações da ETE da vinícola estudada.............................. 39

Figura 5 - Vista e corte de uma grade para a retenção de sólidos........................... 41

Figura 6 – Tanque de recebimento do efluente bruto e gradeamento...................... 42

Figura 7 - Configuração esquemática da dupla camada elétrica.............................. 43

Figura 8 - Tratamento primário da vinícola .............................................................. 46

Figura 9 - Remoção de matéria orgânica pela lagoa aerada ................................... 48

Figura 10 - Lagoa aerada da vinícola ...................................................................... 49

Figura 11 - Wetland construído da vinícola em estudo............................................ 50

Figura 12 - Dimensões e cortes do Wetland construído .......................................... 52

Figura 13 - Medição de oxigênio dissolvido e temperatura no local da coleta.......... 55

Figura 14 – Equipamento para a medição da eletrocondutividade da amostra........ 56

Figura 15 - Aparelho turbidímetro e amostra do efluente analisada......................... 57

Figura 16 - Equipamento utilizado para medir o pH da amostra.............................. 59

Figura 17 - Equipamento Oxitop, utilizado para a análise de DBO5 ......................... 62

Figura 18 - Hidrômetro de medição de entrada no Wetland construído................... 64

Figura 19 - Caixa de coleta de amostras na entrada do Wetland construído........... 65

Figura 20 - Hidrômetro e caixa de coleta de amostras de saída do Wetland construído................................................................................................................ 65

Figura 21 - Variação na composição do efluente bruto lançado para a ETE............ 68

Figura 22 - Desenvolvimento da vegetação do Wetland construído ........................ 70

Figura 23 - Amostras coletadas no dia 06 de fevereiro de 2013.............................. 74

Figura 24 - Amostras coletadas no dia 27 de março de 2013.................................. 75

Figura 25 - Amostras coletadas no dia 23 de abril de 2013..................................... 75

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Produção de uvas no Brasil, em toneladas............................................ 20

Tabela 2 – Produção de uvas, vinhos e derivados no Rio Grande do Sul................ 21

Tabela 3 – Descrição dos períodos de produção de efluentes nas vinícolas........... 24

Tabela 4 – Valores médios de composição físico-química obtidos por diferentes autores na caracterização de efluente vinícola........................................................ 28

Tabela 5 – Parâmetros de lançamento de efluentes exigidos pela Legislação........ 29

Tabela 6 – Resumo de algumas tecnologias de tratamento utilizadas para o efluente da indústria vinícola................................................................................................. 31

Tabela 7 - Temperaturas medidas no Wetland (em °C)........................................... 71

Tabela 8 - Teores de Oxigênio Dissolvido no Wetland (em mg/L) ........................... 72

Tabela 9 - Eletrocondutividade no Wetland (μs) ...................................................... 73

Tabela 10 - Turbidez no Wetland (UNT).................................................................. 76

Tabela 11 - Potencial Hidrogeniônico no Wetland – pH........................................... 77

Tabela 12 - Sólidos Totais no Wetland (%).............................................................. 77

Tabela 13 - Sólidos Voláteis no Wetland (%)........................................................... 78

Tabela 14 - Sólidos Fixos no Wetland (%)............................................................... 79

Tabela 15 - Demanda Bioquímica de Oxigênio no Wetland - DBO5 (mg/L) ............. 80

Tabela 16 - Concentração de nitrogênio total – N (mg/L) ........................................ 81

Tabela 17- Concentração de fósforo total – P (mg/L) .............................................. 82

Tabela 18 - Percentuais de perda por evapotranspiração (%)................................. 83

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas

AOAC: Association of Official Analythical Chemistry,Official Methods of

Analysis

APROVALE: Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos

Vinhedos

CETEC: Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente

CONSEMA – Conselho Estadual de Meio Ambiente

DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio

DQO – Demanda Química de Oxigênio

DTO – Demanda Total de Oxigênio

EPA – Environmental Protection Authority

ETE – Estação de Tratamento de Efluentes

FWS – Free water surface

HSSF – Horizontal subsurface flow

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBRAVIN – Instituto Brasileiro do Vinho

INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial

IP – Indicação de Procedência

N2 – Nitrogênio molecular

NH4+ – Nitrogênio amoniacal ionizado

NH3 – Nitrogênio amoniacal

NO3 – Nitrato

O2 – Oxigênio molecular

OD – Oxigênio Dissolvido

pH – Potencial Hidrogeniônico

SBBR – Sequence Batch Biofilm Reactor

SBR – Sequence Batch Reactor

SO2 – Dióxido de enxofre

TDH – Tempo de Detenção Hidráulica

UVIBRA – União Brasileira de Vitivinicultura

VF – Vertical flow

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................ ................................ ............................. 13

1.1 Tema e objetivos................................ ................................ ......................... 13

1.1.1 Objetivo geral ................................ ................................ .......................... 13

1.1.2 Objetivos específicos................................ ................................ .............. 13

1.2 Justificativa e relevância................................ ................................ ............ 14

1.3 Área de abrangência................................ ................................ ................... 16

1.4 Estrutura do trabalho................................ ................................ .................. 17

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................ ................................ ........... 18

2.1 Indústria do vinho no Brasil................................ ................................ ....... 18

2.2 Indústria do vinho no Rio Grande do Sul ................................ .................. 20

2.3 Utilização da água na indústria do vinho ................................ .................. 22

2.4 Características do efluente gerado na indústria vinícola ........................ 23

2.5 Legislação para lançamento de efluentes industriais.............................. 29

2.6 Tratamento biológico de efluentes da indústria vinícola ......................... 30

2.7 Tratamento com o uso de Wetland Construído................................ ........ 32

3 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE EFLUENTES ADOTADO PELA VINÍCOLA EM ESTUDO ................................ ................. 38

3.1.1 Tratamento preliminar – Gradeamento................................ .................. 40

3.1.2 Tratamento primário – Coagulação química ................................ ......... 42

3.1.3 Tratamento secundário – Lagoa Aerada................................ ................ 46

3.1.4 Tratamento terciário – Wetland Construído ................................ .......... 49

4 METODOLOGIA................................ ................................ ........................... 51

4.1 Período da amostragem ................................ ................................ ............. 52

4.2 Procedimento para a coleta e conservação das amostras ...................... 53

4.3 Parâmetros analisados................................ ................................ ............... 53

4.3.1 Temperatura................................ ................................ ............................. 53

4.3.2 Oxigênio dissolvido ................................ ................................ ................ 54

4.3.3 Eletrocondutividade ................................ ................................ ................ 56

4.3.4 Turbidez ................................ ................................ ................................ ... 57

4.3.5 Potencial hidrogeniônico................................ ................................ ........ 58

4.3.6 Sólidos Totais................................ ................................ .......................... 59

4.3.7 Sólidos Fixos e Voláteis ................................ ................................ ......... 60

4.3.8 Demanda Bioquímica de Oxigênio................................ ......................... 62

4.3.9 Evapotranspiração ................................ ................................ .................. 63

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES................................ ................................ .. 68

5.1 Temperatura ................................ ................................ ................................ 70

5.2 Oxigênio Dissolvido – OD ................................ ................................ .......... 71

5.3 Eletrocondutividade – EC................................ ................................ ........... 73

5.4 Turbidez................................ ................................ ................................ ....... 73

5.5 Potencial Hidrogeniônico – pH ................................ ................................ .. 76

5.6 Sólidos Totais, fixos e voláteis ................................ ................................ .. 77

5.7 Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO5 ................................ ............... 79

5.8 Concentração de nitrogênio total – N................................ ........................ 80

5.9 Concentração de fósforo total – P................................ ............................. 81

5.10 Evapotranspiração – EV................................ ................................ ............. 82

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................ ................................ .......... 84

6.1 Sugestões para os próximos trabalhos ................................ .................... 85

7 REFERÊNCIAS ................................ ................................ ............................ 87

13

1 INTRODUÇÃO

1.1 Tema e objetivos

Esta monografia visa investigar o comportamento de um Wetland construído

para o polimento de efluentes gerados em uma vinícola localizada na Serra Gaúcha,

no estado do Rio Grande do Sul (RS), que usa o sistema para melhorar a qualidade

do efluente tratado em sua estação de tratamento de efluentes (ETE) industriais. A

vinícola utilizada neste estudo preferiu manter sigilo sobre sua identidade, no

entanto, permitiu a utilização e acesso às informações e sistema físico de tratamento

de efluentes para a realização do trabalho.

1.1.1 Objetivo geral

Avaliar o comportamento de um Wetland construído, ou Área Alagada

construída, no polimento de efluente da indústria vinícola e comprovar

a viabilidade de aplicação de uma tecnologia limpa e de baixo custo

para o tratamento deste tipo de efluente.

1.1.2 Objetivos específicos

Avaliar a eficiência do sistema com a análise de parâmetros relevantes;

Mensurar a evapotranspiração promovida.

14

1.2 Justificativa e relevância

A água é o recurso ambiental mais importante disponível na Terra,

impulsionando, participando e dinamizando todos os ciclos ecológicos. É o solvente

universal, o componente fundamental da dinâmica da natureza, dando sustentação à

vida. Sem água a vida na Terra não seria possível. Os sistemas aquáticos têm uma

grande diversidade de espécies úteis ao homem e são também parte ativa dos ciclos

biogeoquímicos e da diversidade biológica do Planeta (TUNDISI, 2003).

A condição de vida das populações humanas é melhor retratada pela

abrangência dos serviços de tratamento de água e esgoto do que pelas reservas

hídricas medidas em termos meramente quantitativos. A contaminação das águas

naturais representa um dos principais riscos à saúde pública, sendo amplamente

conhecida a estreita relação entre a qualidade de água e inúmeras enfermidades

que atingem as populações, especialmente aquelas que não são atendidas por

serviços de saneamento (LIBÂNIO et al., 2005).

Tratando-se da saúde pública e da qualidade do meio ambiente, dois

aspectos fundamentais estão relacionados com o lançamento de esgotos e efluentes

nos rios: a proteção do manancial contra efeitos diretos da poluição causada pelo

lançamento de efluentes, que atingem a fauna e a flora local, e a proteção do

manancial contra os efeitos da contaminação gerada pelo lançamento de efluentes,

que afeta, também, a saúde da população humana. Coincidentemente, as medidas

de saneamento, que consistem na prevenção da poluição dos mananciais,

satisfazem a ambos os aspectos: a proteção da flora e fauna do manancial e da

saúde pública (NETTO, 1991).

Os chamados sistemas naturais de tratamento de esgotos se enquadram bem

nos requisitos de facilidade de operação e se diferenciam dos sistemas

convencionais em relação à fonte de energia utilizada: requerem a mesma

quantidade de energia de input para degradar certa quantidade de poluente, porém,

valem-se para isso de fontes de energia renováveis como radiação solar, energia

cinética do vento, da água de chuva, da água superficial e da água subterrânea

(KADLEC et al, 1996).

15

Os sistemas naturais de tratamento de águas residuais são mais usados em

países desenvolvidos do que em países em desenvolvimento, que, a priori, possuem

melhores condições climáticas para seu emprego. Esses sistemas são

caracterizados por uma grande complexidade biológica, com conseqüente alta

robustez e estabilidade operacional, qualidades estas bastante requeridas no

contexto das nações em desenvolvimento (SHIPIN et al., 2004). Segundo Haberl

(1999), uma das tecnologias mais promissoras entre os sistemas naturais de

tratamento de esgotos são os sistemas de Wetlands construídos, no Brasil

chamados de áreas alagadas construídas, utilizados devido às suas características

de simplicidade de construção, operação, manutenção, à estabilidade dos processos

envolvidos e ao custo efetivo.

As pesquisas que vêm ocorrendo recentemente em países em

desenvolvimento, para verificar a eficiência de áreas alagadas naturais e construídas

para promover a melhoria e a conservação da qualidade da água de rios, lagos e

represas, têm sido utilizadas, na Europa, para o tratamento de águas servidas,

desde as décadas de 60 e 70, do século passado, obtendo-se bons resultados

(HEGEMANN, 1996; MELO et al., 2007; SCHNEIDER, 2007).

A eficiência de áreas alagadas construídas e vegetadas com plantas

aquáticas, chamadas de macrófitas, para mitigar a poluição por uma variedade de

poluentes e fontes tem sido verificada por alguns estudos: a) águas residuárias de

curtumes (CALHEIROS et al., 2007); b) águas residuárias de destilarias de metanol

contaminadas com Cd, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb, e Zn (CHANDRA et al., 2008); c)

águas superficiais contaminadas por coliformes totais, coliformes fecais,

Streptococcus fecais, Clostridium perfringens, Staphylococcus e vírus (GERSBERG

et al.,1987; COSTA et al., 2003, GARCIA et al.,2008) e, d) efluentes com alta carga

de compostos ligno-celulósicos e outras formas de carbono refratário à degradação

microbiana (FORNES et al., 2010).

O uso de áreas alagadas também tem sido reportado como estratégia de

ecologia, conservação e manejo de vida silvestre. Com o tempo, a área alagada

construída se incorpora à paisagem local, aumentando as diversidades dentro do

próprio habitat, entre dois habitats e a diversidade regional de vários grupos de

animais (e.g. anfíbios, pássaros e répteis) e plantas, tornando esse tipo de

16

tratamento ecológico e recomendável para regiões com elevado grau de

fragmentação da flora nativa, quando comparado às estruturas em concreto

(BELLIO et al., 2009). Além disso, essas áreas podem ser construídas próximas às

fontes de efluentes e não exigem treinamentos complexos para os operadores

(CAMPOS et al., 2002).

A proposta de avaliar o uso de áreas alagadas construídas para tratamento

de efluentes contaminados é em função das mesmas serem consideradas como um

método de tratamento eficiente, utilizando tecnologia simples, de fácil operação,

custo baixo e que usa basicamente a radiação solar como fonte principal de energia,

dispensando combustíveis fósseis, com pouco ou nenhum uso de energia elétrica.

Nelas ocorre, principalmente, uma ciclagem eficiente de nutrientes, a remoção da

matéria orgânica e a diminuição dos microrganismos patogênicos presentes nas

águas residuais (GARCIA et al., 2008).

1.3 Área de abrangência

Numerosos processos físicos, químicos e biológicos são responsáveis pela

remoção de poluentes em áreas alagadas. Destacam-se a sedimentação,

assimilação, transformação, predação e a competição. A não ser pela sedimentação,

classificada como um processo físico causado pela redução da velocidade da água,

todos os demais são químicos e biológicos, devido especialmente à microflora e

microfauna aderida aos sedimentos, macrófitas e de vida livre (BRIX, 1994; MITSCH

e GOSSELINK, 2007; FAULWETTER et al., 2009).

Uma oportunidade para a aplicação dessa biotecnologia é o tratamento

terciário, também chamado de polimento, de efluentes oriundos da vinicultura, que

são responsáveis pela poluição dos recursos hídricos próximos às vinícolas. Estes

efluentes são compostos por resíduos de subprodutos como engaços, sementes,

cascas, borras e tartaratos; perdas de produtos brutos como mostos e vinhos

ocorridas por acidente ou durante as lavagens; produtos usados para o tratamento

do vinho como terras de filtração; e produtos de limpeza e de desinfecção usados

para lavar materiais e pisos (RODRIGUES, 2006).

17

O presente estudo está focado em avaliar o comportamento de um Wetland

construído em fase inicial de operação e avaliar sua eficiência para o polimento de

efluentes gerados pela indústria vinícola, que se caracterizam por possuírem grande

variação em sua composição química e vazão de lançamento ao longo do ano

(VLYSSIDES et al., 2005).

1.4 Estrutura do trabalho

Inicialmente o capítulo 1 faz uma introdução ao assunto que será abordado. O

capítulo 2 apresenta o referencial teórico do tema. São apresentados dados sobre a

indústria vinícola no Brasil e Rio Grande do Sul, especialmente na Serra Gaúcha, a

importância deste setor econômico, o papel da água no processo de produção, as

vias de geração e as características do efluente e o tratamento biológico escolhido

neste tipo de indústria. Também é apresentada a tecnologia de Wetland construído e

como ela funciona, quais os tipos existentes e quais os fatores que influenciam no

seu desempenho.

O Capítulo 3 explica o sistema de tratamento de efluentes existente na

vinícola em estudo e são expostas as etapas de tratamento primário, secundário e

terciário adotadas. Essa explanação facilita ao leitor a interpretação e análise dos

resultados apresentados ao final do estudo.

A metodologia adotada é exibida no capítulo 4, que contém informações

reativas ao período de realização do estudo, os parâmetros analisados, os

equipamentos utilizados e as etapas envolvidas em cada análise, para propiciar o

entendimento de como foram obtidos os dados apresentados no capítulo 5, que

apresenta os resultados do estudo através de tabelas com valores e faz uma

discussão com base no referencial teórico e comparações com números

encontrados em estudos similares realizados por outros autores.

O último capítulo, de número 6, contém as considerações finais do autor

sobre o estudo, os resultados, a eficiência do Wetland construído e a viabilidade

técnica para a aplicação deste processo biotecnológico ao tratamento do efluente

gerado nas indústrias vinícolas localizadas na região da Serra Gaúcha, bem como

sugestões para os próximos estudos a serem desenvolvidos neste mesmo local.

18

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capitulo serão levantadas informações relevantes para o entendimento

do crescimento e importância da indústria do vinho e conseqüente contribuição na

geração de efluentes, as características de seus efluentes, assim como os métodos

existentes para o tratamento dos mesmos e atendimento da legislação pertinente,

com ênfase no uso de Wetlands construídos.

2.1 Indústria do vinho no Brasil

A atividade do cultivo de videiras para a produção de uva no Brasil teve início

com a chegada dos colonizadores portugueses no século XVI. As primeiras videiras

teriam sido trazidas por Martim Afonso de Souza, e plantadas na sua Capitania.

Acredita-se que essas videiras eram originárias da Espanha e Portugal e eram

caracterizadas como ideais para a produção do vinho. Por volta do ano de 1789 um

decreto expedido por Portugal proibiu a plantação de videiras para a produção de

vinhos. Nesse momento o país, cuja atividade já se apresentava em expansão,

passou por um período de estagnação neste ramo (IBRAVIN, 2010).

A cultura de uvas passou a ser considerada de uso doméstico, pelo menos

até o final do século XIX. Foi apenas no século XX, ancorada pela grande

quantidade de imigrantes italianos, que a atividade voltou a ter força e ser

novamente classificada como uma atividade comercial (IBRAVIN, 2010). O cultivo

das vinhas e a fabricação do vinho é uma atividade importante para a

sustentabilidade da pequena propriedade no Brasil. Nos últimos anos, tem se

tornado importante, também, na geração de emprego em grandes

19

empreendimentos, que produzem uvas de mesa e uvas para processamento

(MELLO, 2010).

A vitivinicultura brasileira, embora recente, tem avançado tanto nos produtos

elaborados como na produção de uvas para consumo in natura. Em 2004 foram

produzidas 171.281.802 t (toneladas) de uvas, representando aumento de 21,51%

em relação ao ano anterior. Historicamente o Brasil destinava a maior parte da

produção de uvas para processamento, no entanto, com a implantação de vinhedos

de uvas para mesa, de 2001 a 2004 as uvas de mesa representaram maior

proporção. Em 2003, 40,38% da uva produzida no Brasil foi destinada à elaboração

de vinhos, sucos, destilados e outros derivados e em 2004 houve um incremento

passando a representar 48,72% (IBRAVIN, 2010).

Em 2010, houve redução na produção de uvas na maioria dos Estados

brasileiros. Neste ano a queda foi de 3,74%, em relação ao ano de 2009, como é

possível verificar na Tabela 1. Em 2009, a crise mundial refletiu fortemente na

produção de uvas de mesa, sendo que alguns produtores abandonaram parte dos

vinhedos. Em 2010, fatores climáticos desfavoráveis, especialmente nas áreas de

produção de uvas para vinhos, resultaram em menor produção (MELLO, 2010).

Em 2011, no entanto, verificou-se recuperação do crescimento na produção

de uvas em alguns estados, favorecido pelas condições climáticas adequadas para

a safra. Pernambuco produziu 24,03% mais uva em comparação com 2010,

seguido pelo estado do Rio Grande do Sul, maior produtor, com acréscimo de

19,76% na produção, Paraná com 3,04% e Santa Catarina com 2,34%. A maior

redução porcentual ocorreu na Bahia com -16,41%, seguida por Minas Gerais com -

7,42% e São Paulo manteve-se praticamente estável, com -0,17%.

No ano de 2012 a produção de uvas no estado de Pernambuco teve um

incremento de 7,7% em relação ao ano anterior. Já em Santa Catarina esse índice

foi de 4,6%, em Minas Gerais 3,1% e no Rio Grande do Sul 1,3%. Nos demais

estados produtores a produção diminuiu, com destaque para o Paraná, com redução

de -32,8%.

Nos últimos seis anos se observa uma nítida desaceleração na produção de

uvas no Estado da Bahia. De forma geral, a produção de uva no Brasil teve

20

crescimento de 12,97% em 2011 e, em 2012, manteve-se estável com redução de

-0,5% de acordo com os dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola

– IBGE (IBGE, 2013).

Tabela 1 – Produção de uvas no Brasil, em toneladas Estado 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Pernambuco 170.326 162.977 158.515 168.225 208.660 224.758

Bahia 120.654 101.787 90.508 78.283 65.434 62.292

Minas Gerais 11.995 13.711 11.773 10.590 9.804 10.107

São Paulo 193.023 184.930 177.934 177.538 177.227 176.992

Paraná 99.180 101.500 102.080 101.900 105.000 70.500

Santa Catarina 54.554 58.330 67.546 66.214 67.767 70.909

Rio Grande do Sul 705.228 776.027 737.363 692.692 829.589 840.251

Brasil 1.354.960 1.399.262 1.345.719 1.295.442 1.463.481 1.455.809

Fonte: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – IBGE (2013, p.84).

2.2 Indústria do vinho no Rio Grande do Sul

A história da vitivinicultura do Rio Grande do Sul possui uma estreita relação

com a colonização italiana estabelecida no estado, sobretudo na Serra Gaúcha e na

região Central, a partir de 1875. Condicionada pelo isolamento, em relação às

principais regiões vitivinícolas do mundo, e pressionada pelas condições ambientais,

por vezes inóspitas à videira, principalmente das cultivares de Vitis vinifera, esta

vitivinicultura pioneira se manteve, até meados dos anos de 1970, sem

investimentos externos significativos (PROTAS, 2011).

Com a globalização da economia brasileira, a partir dos anos 1980, e

pressionada pela forte concorrência internacional, esta nova vitivinicultura,

estabelecida numa base tecnológica moderna, vem concentrando seus

investimentos em regiões que apresentam vantagens comparativas em relação

àquela tradicional. Neste contexto, destacam-se como regiões consolidadas no Rio

Grande do Sul: a Serra do Sudeste e a Campanha e, em fase inicial, mas com

21

grande potencial, a região dos Campos de Cima da Serra. Assim, a vitivinicultura do

Rio Grande do Sul está estruturada com base em quatro pólos produtores: Serra

Gaúcha, Região da Campanha, Serra Sudeste e Região Central (PROTAS, 2011).

A Serra Gaúcha é o maior pólo vitivinícola do Brasil e está localizada no

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul. As coordenadas geográficas e

indicadores climáticos médios são: latitude 29ºS, longitude 51ºW, altitude 600-800m,

precipitação 1.700mm, temperatura média de 17,2ºC e umidade relativa do ar média

de 76%. Nesta região a poda é realizada entre os meses de julho e agosto e a

colheita concentra-se nos meses de janeiro e fevereiro. Mais de 80% da produção

da região se origina de cultivares de uvas americanas (PROTAS, 2011).

O Estado do Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 90% da produção

nacional de vinhos e sucos de uva. O Estado possui informações relativas à

produção de uvas, vinhos e derivados e à comercialização, cuja análise pode ser

feita observando-se a Tabela 2. Conforme citado anteriormente, fatores climáticos

foram os responsáveis pela redução da produção de uvas e, conseqüentemente,

dos produtos elaborados em 2010. O suco de uva (integral+concentrado), produto

em plena expansão, foi privilegiado com o deslocamento de parte da uva que seria

utilizada para elaboração de vinho de mesa e, assim, teve sua produção acrescida

em 9,17%. Enquanto o suco de uva integral aumentou 67,69%, o concentrado

aumentou apenas 1,01%. Os vinhos de mesa apresentaram queda de produção de

-4,93% e os vinhos finos, redução de -37,83% (MELLO, 2010).

Tabela 2 – Produção de uvas, vinhos e derivados no Rio Grande do Sul Produtos 2007 2008 2009 2010 2011 Uvas viníferas 72.152 83.802 72.104 46.066 82.674

Uvas comuns 498.383 550.462 462.019 480.822 626.950

Total uvas (ton.) 570.535 634.264 534.123 526.888 709.624

Vinhos viníferas 43.176 47.334 39.900 24.806 47.598

Vinhos comuns 275.288 287.442 205.418 195.268 257.841

Total vinhos (L) 318.464 334.776 245.318 220.074 305.439

Derivados 70.891 93.192 96.503 101.337 155.113

Total de vinhos e derivados (L) 389.355 427.968 341.821 321.411 460.552

Fonte: União Brasileira de Vitivinicultura – UVIBRA e Secretaria da Agricultura do RS.

22

2.3 Utilização da água na indústria do vinho

Segundo Tsutiya (2006), o uso da água na indústria pode ser classificado em

cinco categorias:

(a) Uso humano: refere-se ao consumo de banheiros, banho e alimentação.

Orsini (1996 apud TSUTIYA, 2006) considera que o consumo médio para uso

sanitário seja 70L/operário.dia;

(b) Uso doméstico: atividades de limpeza geral e manutenção. Em alguns

casos, pode ser incluída a irrigação e as torres de resfriamento;

(c) Água incorporada ao produto: água utilizada para a fabricação do produto,

como por exemplo, a água utilizada para fabricação de shampoos, alimentos e

bebidas;

(d) Água utilizada no processo de produção: como por exemplo, para geração

de vapor, ou para refrigeração;

(e) Água perdida: refere-se ao consumo ocorrido que não está relacionado

com a atividade de produção, como por exemplo, água para lavagem de

reservatórios, água para combate a incêndio e a água perdida em vazamentos.

Embora existam categorias de uso definidas, o consumo de água pode variar

muito de uma indústria para outra, mesmo em indústrias do mesmo ramo. Para

vinícolas, o valor médio de consumo encontrado foi 2,9 L/L de vinho na França e 0,5

L/L de vinho em Israel (VAN DER LEEDEN; TROISE; TOLD, 1990 apud MIERZWA;

HESPANHOL, 2005).

Em indústrias de bebidas que vendem o produto envasado ao consumidor

final, o consumo de água para a lavagem de garrafas novas e/ou de garrafas e

garrafões retornáveis deve ser também considerado. O consumo de água nas

lavadoras de garrafas depende da tecnologia empregada. Geralmente os

equipamentos de lavagem de garrafas retornáveis são intensivos no consumo de

água e geram grande quantidade de resíduos como pasta celulósica, formada pela

cola, pelo papel dos rótulos, vidros de garrafas danificadas e o efluente líquido de

lavagem. As lavadoras de garrafas mais modernas consomem menos quantidade de

23

água, cerca de 0,5 litros para cada garrafa de um litro, e em máquinas mais antigas

esse valor está em torno de 3 a 4 litros para cada garrafa de um litro (SANTOS,

2005).

O consumo de água é inevitável em uma indústria de bebidas, devido à

necessidade de manutenção das condições de higiene no processo. No entanto, o

uso da água pode ser reduzido ao mínimo necessário evitando desperdícios e não

criando pressões ambientais. Neste sentido, algumas ferramentas de prevenção à

poluição podem ser utilizadas, tais como a eliminação do desperdício decorrente do

mau uso ou funcionamento de dispositivos e válvulas, mudança de procedimentos

operacionais aliados a avanços tecnológicos, treinamento e capacitação de

operadores para eliminação de conceitos equivocados quanto ao uso da água feito

na indústria (MIERZWA; HESPANHOL, 2005).

Para a diminuição do consumo relacionado a atividades de limpeza, uma das

atividades que deve ser incentivada é a limpeza inicial a seco dos resíduos sólidos,

que além de reduzir o consumo de água, diminui o arraste de resíduos ao sistema

de tratamento de efluentes (MIERZWA; HESPANHOL, 2005, MUSEE et al., 2005).

2.4 Características do efluente gerado na indústria vinícola

Na indústria vinícola, em geral, os efluentes são ácidos no período de

vinificação (vindima / safra) e alcalinos durante o resto do ano, devido às operações

de lavagem (RODRIGUES et al., 2004). Uma característica importante do efluente

vinícola é a sazonalidade dessa geração em termos de volume e de composição.

Essa sazonalidade pode ser percebida na Tabela 3, traduzida de EPA (2004), que

descreve os principais períodos vinícolas relacionando-os com os meses do ano em

que ocorrem, na Austrália, as atividades desenvolvidas. No Brasil, esses períodos

são igualmente observados, diferindo, no entanto, sua alocação durante o ano, em

que a colheita inicia-se no final do mês de dezembro, podendo estender-se até

meados de março.

24

Tabela 3 – Descrição dos períodos de produção de efluentes nas vinícolas Período Meses do ano Descrição

Pré-safra Dezembro – Janeiro

Engarrafamento, lavagem cáustica dos

tanques, lavagem simples do equipamento

para a safra.

Início da safra Janeiro – Fevereiro

A produção de efluente eleva-se

rapidamente e alcança 40% do fluxo

semanal máximo; as operações de

vinificação são marcadas pela maior

produção de vinho branco.

Pico de safra Fevereiro – Abril A geração de efluentes e as operações de

vinificação estão em seu ponto máximo.

Final de safra Abril – Maio

A produção de efluentes diminui a 40% do

fluxo semanal máximo; as operações de

vinificação são marcadas pela maior

produção de vinho tinto.

Depois da

safra Junho – Setembro

As operações de pré-fermentação

cessaram; os efeitos das ações de limpeza

sobre a qualidade do efluente são grandes.

Fora de safra Junho – Dezembro

A geração de efluente está geralmente a

menos de 30% dos fluxos semanais

máximos que ocorrem durante a safra; a

qualidade do efluente depende muito das

atividades de rotina Fonte: Adaptado de EPA (2004).

Outra característica observada no efluente vinícola é a variação de

quantidade e qualidade em função do tipo de vinho fabricado, branco ou tinto, do

processo utilizado e do volume produzido (VLYSSIDES et al., 2005). A Figura 1 é a

representação gráfica das operações unitárias da vinificação de vinho branco e seus

respectivos efluentes e resíduos gerados.

Os efluentes vinícolas são compostos por resíduos de subprodutos (engaços,

sementes, cascas, borras, tartaratos), perdas de produtos brutos (perdas de mosto e

25

de vinho ocorridas por acidente ou durante as lavagens), produtos usados para o

tratamento do vinho (colas, terras de filtração) e produtos de limpeza e desinfecção

usados para lavar materiais e pisos (RODRIGUES, 2006). Assim, as águas residuais

contêm proporções variáveis de constituintes do mosto e do vinho: açúcares, etanol,

ésteres, glicerol, ácidos orgânicos (como o cítrico, tartárico, málico, láctico, acético),

compostos fenólicos e uma população numerosa de bactérias e de leveduras,

elementos facilmente biodegradáveis, exceto pela presença de polifenóis

(RODRIGUES, 2006).

Figura 1 – Vinificação de uva branca e geração de efluentes

Fonte: Adaptado Rodrigues et al. (2006).

RECEPÇÃO DAS UVAS

DESENGACE+ESMAGAMENTO

PRENSAGEM

CLARIFICAÇÃO

FERMENTAÇÃO

TRASFEGAS

CONSERVAÇÃO

COLAGEM

ESTABILIZAÇÃO POR FILTRO

FILTRAÇÃO

ENGARRAFAMENTO

SO2

LEVEDURAS

SO2

SO2

SO2, BICARBONATO DE POTÁSSIO, COLAS, BITARTARATO DE POTÁSSIO, GOMA

ARÁBICA, CO2

ENGAÇOS, ÁGUA RESIDUAL

PELÍCULAS+SEMENTES, ÁGUA RESIDUAL

BORRAS, ÁGUA RESIDUAL

BORRAS+SEMENTES, ÁGUA RESIDUAL

TARTARATOS, ÁGUA RESIDUAL

TARTARATOS, RESÍDUOS,

SEDIMENTOS, ÁGUA RESIDUAL

ÁGUA RESIDUAL

26

Durante a recepção das uvas, esmagamento e desengaço, os efluentes são

gerados na lavagem dos contentores de transporte e recepção, da maquinaria que

realiza o desengaço e o esmagamento, e do pavimento da vinícola, além da própria

lavagem das uvas. Após, o efluente é direcionado para o sistema de tratamento de

efluentes da vinícola, ou pode permanecer armazenado até que uma empresa

especializada realize a coleta para tratamento.

No processo de fermentação os efluentes mais poluentes são produzidos,

agregando grande teor de matéria orgânica (VIEIRA, 2009). Contudo, não ocorrem

processos de limpeza durante a produção nos tanques de fermentação, pois as

bactérias responsáveis pela fermentação poderiam ser perdidas. Os resíduos desse

processo são levados para a trasfega e então encaminhados para o tratamento. A

trasfega é a etapa que trata da transferência do mosto fermentado ou vinho de um

tanque de armazenamento para outro, separando o sedimento ou borra decantada.

Esta etapa facilita a clarificação do vinho e previne a aquisição de odores estranhos,

provocados pela presença de células velhas das leveduras.

O vinho deverá preencher completamente o recipiente, para reduzir ao

máximo o seu contato com o ar, inibindo a multiplicação de microrganismos aeróbios

nocivos. Com isso, certa quantidade de vinho pode ser perdida e lançada nos pisos

e equipamentos, o que implica na lavagem dos mesmos. Com o processo de

separação do decantado existe a geração de resíduo em forma de borra. Esta borra

deve ser armazenada em local fechado até seguir para o tratamento. Após o

tratamento a borra pode ser dispersada em solo agrícola. A 2ª trasfega é

responsável pelo maior volume de borras com maior carga poluente, que também

seguem para o tratamento de efluentes. Durante as trasfegas também ocorrem as

lavagens das cubas de fermentação (VIEIRA, 2009).

A colagem dos vinhos é uma operação que consiste em introduzir no vinho,

mais ou menos turvo, substâncias capazes de flocular e sedimentar, arrastando as

partículas em suspensão. Essas partículas compõem a borra, também chamada de

lodo. Esse lodo é armazenado e encaminhado para o tratamento de efluentes,

juntamente com os demais efluentes descritos nos parágrafos anteriores. Durante a

colagem e estabilização são formados os tártaros ou tartarato, que é uma camada

salina deixada pelo vinho na parede do tanque de armazenamento. Essa camada é

27

mais um resíduo gerado no processo de vinificação. No engarrafamento, os

efluentes gerados têm origem na lavagem das cubas, das garrafas, das máquinas

de engarrafamento e dos pisos. (COMMISSION, 2003 apud VIEIRA, 2009).

A flutuação físico-química da composição dos efluentes vinícolas, que ocorre

em função do tipo de vinho, do processo utilizado e do volume produzido, pode ser

verificada na compilação feita a partir de alguns estudos e apresentada na Tabela 4.

28

Tabela 4 – Valores médios de composição físico-química obtidos por diferentes autores na caracterização de efluente vinícola.

Autores PETRUCCIOLLI et

al., 2001 BUSTAMANTE et al, 2005

BORIES et

al., 2006 RODRIGUES et al., 2006

VLYSSIDES et al., 2005 ANDREOTTOLA et al., 2005 (b)

Parâmetros Valores médios obtidos para 3

cantinas na Itália

Faixa de valores para 8 vinícolas

na Espanha

Setembro a junho (23 análises)

Colheita (valores

médios após 24 horas)

Vinho branco Vinho tinto

Colheita (valores médios)

Após colheita (valores médios)

pH - 3,6 – 11,8 5,0 4,7 6,0 6,2 3,8 – 8,2 4,0 – 11,4

EC - 0,08 – 0,31 - - - - - -

ORP - (-352) – 181 - - - - - -

ST - 1.602 – 79.635 - - 3.900 4.100 - -

SVT (mg/L) - 661 – 54.952 - 742 3.400 3.750 - -

SS (mg/L) 200 – 1.300 226 – 30.300 3.300 - 140 220 695 – 815 722 – 740

SSV (mg/L) - - - 1.060 128 200 - -

DBO5 (mg/L) - 125 – 130.000 - 8.100 1.740 1.970 - -

DQO (mg/L) 800 – 12.800 738 – 296.119 14.600 14.150 3.112 3.997 7.130 ± 3.533 5.652 ± 4.560

NT (mg-1) - 0,0 – 142,8 - - - - - -

NTK (mg/L) - - - 48,2 67 71 - -

NH4 – N - - - - - - 21,2 – 24,8 18,2 – 27,2

PO43- 0,3 – 35 - - - - - 6,4 – 7,2 6,7 – 7,4

PT (mg/L) 5,0 – 77 3,3 – 188,3 - 5,5 7 8,5 - -

Fe (mg/L) - 1 – 77 - - - - - -

Cu (ug/L) - 200 – 3.260 - - - - - -

Zn (ug/L) - 90 – 1.400 - - - - - -

CFT (mg/L) 13 – 247 29 - 474 - - 280 1.450 - -

Siglas: pH: potencial hidrogeniônico; EC: condutividade; ORP: potencial redox; ST: sólidos totais; SVT: sólidos voláteis totais; SS: sólidos suspensos; SSV:

sólidos suspensos voláteis; DBO5: demanda bioquímica de oxigênio; DQO: demanda química de oxigênio; NT: nitrogênio total; NTK: nitrogênio total Kjeldahl;

NH4 – N: nitrogênio amoniacal; PO43-: fosfato; PT: fósforo total; Fe: ferro; Cu: cobre; Zn: zinco; CFT: compostos fenólicos totais.

29

2.5 Legislação para lançamento de efluentes industriais

O tratamento de efluentes objetiva corrigir determinadas características do

líquido utilizado e descartado, de modo a atender os parâmetros de qualidade

necessários para o lançamento no corpo receptor sem prejudicar seus múltiplos

usos. A legislação ambiental vigente no Brasil estabelece conceitos, padrões,

normas e procedimentos para tratamento e lançamento de esgoto e efluentes nos

corpos hídricos, por meio de vários instrumentos, entre os quais: a classificação dos

corpos de água, o padrão de lançamento e o padrão do corpo receptor (LEME,

2008).

No Brasil, os padrões de lançamento de efluentes em corpos hídricos são

estabelecidos pela Resolução n° 357 de 17 de março de 2005, do Conselho

Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, que define valores máximos para pH,

temperatura, DBO (demanda biológica de oxigênio), sólidos em suspensão, entre

outros parâmetros (BRASIL, 2005). Para o Estado do Rio Grande do Sul, é aplicada

a Resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente – CONSEMA nº 128/2006,

que regulamenta o lançamento de efluentes em corpos hídricos. Na Tabela 5,

podem ser visualizados os valores de alguns parâmetros de lançamento exigidos

pela legislação.

Tabela 5 – Parâmetros de lançamento de efluentes exigidos pela Legislação Parâmetro Padrão de emissão

DBO5 ≤ 180 mg/L

Nitrogênio Total 20 mg/L

Fósforo Total 4 mg/L

Temperatura < 40ºC

pH Entre 6,0 e 9,0

Turbidez 100 UNT

Oxigênio dissolvido Não inferior a 5mg/L de O2

Fonte: Adaptado das Resoluções CONSEMA nº128/2006 e CONAMA nº357/2005

30

2.6 Tratamento biológico de efluentes da indústria vinícola

A crescente preocupação mundial com a qualidade do meio ambiente tem

sido sentida com as diversas conferências realizadas sobre o tema em diversos

níveis. Cada vez mais os órgãos ambientais e os consumidores têm pressionado

empresas para que produzam de maneira mais eficiente e limpa. O mesmo ocorre

com a indústria vinícola em todo mundo. De modo a reduzir os impactos causados

pela atividade, algumas alternativas de tratamento têm sido propostas para os

efluentes vinícolas através de experimentos em escala piloto e em escala real para

encontrar uma tecnologia eficiente, de baixo custo e de fácil operação e manutenção

(ANDREOTTOLA, 2005).

Segundo Rochard et al. (1999), diferentes formas de tratamento podem ser

utilizadas para os efluentes vinícolas, dentre elas processos químicos, físicos e

biológicos. No entanto, atualmente são mais expressivas as pesquisas realizadas

com os tratamentos biológicos, podendo-se citar a utilização de digestão anaeróbia

(MOLETTA, 2005), reator com leito de biofilme fixo (ANDREOTTOLA et al., 2005 b),

reatores descontínuos seqüenciais – SBR (RODRIGUES et al., 2006), reator em

bateladas seqüenciais com biofilme – SBBR (ANDREOTTOLA et al., 2002), reator

de lodo ativado tipo jet-loop (PETRUCCIOLI et al., 2001), entre outros.

A Tabela 6 é uma tabela resumo de algumas formas de tratamento relatadas

na Revista Water Science & Tecnology, v. 51, n. 2 de 2005 e v. 56, n. 2 de 2007, em

publicação relacionada aos eventos realizados em Barcelona (2004), Vina del Mar

(2006), 3ª e 4ª International Conference on Sustainable Viticulture, respectivamente.

31

Tabela 6 – Resumo de algumas tecnologias de tratamento utilizadas para o efluente da indústria vinícola

Autores Forma de

tratamento Reator

COV média e/ou DQO média

Neutralização Adição de nutrientes

Eficiência de remoção

Andreotolla et al., (2005) (b)

Tratamento biológico aeróbio

Fixed Bed Biofilm Reactor: Reator de Biofilme em Leito

Fixo

1º estágio: 2,4 kgDQO/m³.dia 2º estágio: 1,3 kgDQO/m³.dia

Sim N e P

1º estágio: 80% de remoção da DQO total

2º estágio: 51% de remoção da DQO total

Brucculeri et al., (2005)

Tratamento biológico aeróbio

Co-tratamento (efluente

municipal): Lodo Ativado

Convencional

Safra: 9 kgDQO/m³ Entressafra: 6,5

kgDQO/m³ - - Safra e entressafra: 90%

de remoção da DQO

Eusébio et al., (2005)

Tratamento biológico aeróbio

Jet-loop Reactor: Lodo Ativado tipo

Jet Loop 19,4 gDQO/L.dia - - 80 a 90% de remoção da

DQO

Mulidzi, A. R. (2007)

Tratamento biológico aeróbio

Constructed Wetland: Wetland

construído - - -

Inverno: 88% remoção DQO

Verão: 77% remoção DQO

Fernández, B. et al., (2007)

Tratamento biológico – anaeróbio e

aeróbio

Anaerobic Filter + Sludge Activated: Filtro Anaeróbio + Lodos Ativados

7,3 kgDQO/m³ - - 98,5 a 99,2% remoção DQO

Melamane, X.L. Tandlich, R. Burgess, J.E., (2007)

Tratamento biológico anaeróbio

Anaerobic Digester: Digestor anaeróbio 4.185 mgDQO/L Sim – CaCO3,

K2HPO4

Fe (NO3) CO (NO3) Ni (NO3)

87% de remoção DQO (média)

Thanikal, J.V. et al., (2007)

Tratamento biológico anaeróbio

Anaerobic Fixed Bed Reactor:

Reator Anaeróbio de Leito Fixo

1,3 a 36 gDQO/L.dia Sim - 85% remoção DQO (média)

Fonte: Adaptado da Revista Water Science & Tecnology v.51, n. 2 de 2005 e v. 56, n. 2 de 2007.

32

2.7 Tratamento com o uso de Wetland construído

Wetlands, ou áreas alagadas, constituem um tipo de ecossistema que passa

significativa parte, ou toda parte do tempo, coberto por água a pouca profundidade

(MITSCH & GOSSELINK,1993).

Observou-se que as wetlands naturais apresentam grande capacidade de

alterar a qualidade das águas que por elas passam, através da ação de diversos

mecanismos físicos, químicos e biológicos. Por esta razão, as wetlands têm sido

introduzidas de maneira artificial, como uma tecnologia de tratamento de águas

poluídas, por diversas formas, sendo estes denominados Wetlands construídos ou

áreas alagadas construídas.

Os Wetlands construídos têm sido empregados no tratamento de águas

residuais domésticas, industriais, agrícolas e do runoff urbano e rural. Do ponto de

vista de remoção de poluentes, Kadlec et al. (1996) relatam que estes apresentam

capacidade de remoção de poluentes tais como: demanda bioquímica de oxigênio

(DBO), organismos patogênicos, material em suspensão, nutrientes, metais pesados

e compostos orgânicos tóxicos.

Áreas alagadas construídas são caracterizadas por serem uma forma de

tratamento de baixa tecnologia em contraposição a outras formas de tratamento

relativamente de alta tecnologia, tais como o processo de lodos ativados,

tratamentos físico-químicos e outros. Desta forma, o custo de tratamento

característico destas tende a ser inferior que o de outras formas de tratamento mais

avançadas, devido à sua simplicidade intrínseca (U.S. EPA, 2000). Todavia, o custo

de implantação de Wetlands construídos pode ser desvantajoso em função da

magnitude das áreas envolvidas para implantá-las e do movimento de terra

associado.

Dentre as aplicações práticas mais citadas estão aquelas referentes ao

tratamento de efluentes caracterizados por vazões relativamente pequenas,

justamente em função do fato de tenderem a ocupar áreas relativamente grandes

para vazões de porte. Assim, tais aplicações tendem a se concentrar no tratamento

33

de efluentes de pequenas comunidades e indústrias, embora não estejam restritas

somente a estes casos.

Os Wetlands construídos, como mostrado na Figura 2, são sistemas

artificialmente projetados para utilizar macrófitas em substratos como areia,

cascalhos ou outro material inerte, onde ocorre a proliferação de biofilmes que

agregam populações variadas de microrganismos os quais, por meio de processos

biológicos, químicos e físicos, tratam efluentes (SOUSA apud HAANDEL et al.,

2004). Esses sistemas visam estimular o uso e melhorar as propriedades dos

Wetlands naturais, relativas à degradação de matéria orgânica, ciclagem de

nutrientes e consequentemente, melhorar a qualidade do efluente (MARQUES apud

COSTA, 2003).

Figura 2 - Esquema de funcionamento de um Wetland construído

Fonte: Adaptado de Debusk (2001)

34

Dentre os numerosos mecanismos que causam essa remoção, destacam-se

a decantação (efeito peneira causado pelo biofilme microbiano aderido às raízes e

ao substrato), a absorção pelas plantas, a nitrificação e desnitrificação, o predatismo

e a competição entre outros microrganismos e eventuais substâncias tóxicas

produzidas pelas plantas e liberadas através de suas raízes (COSTA, 2003). A

Figura 3 mostra os mecanismos de transformação e remoção envolvidos no

funcionamento de um wetland.

Figura 3 - Mecanismos de transformação e remoção de um wetland

Fonte: Adaptado de Debusk (2001)

2.7.1.1 Fatores influentes no desempenho de Áreas Alagadas Construídas

Além da natureza do poluente, podem afetar a eficiência de remoção as

seguintes variáveis: fatores climáticos, solo e geologia, fatores biológicos e as

características das águas afluentes.

Fatores climáticos podem afetar o funcionamento de um Wetland em função

de:

35

Temperatura: afeta taxas de reações físico-químicas e bioquímicas,

reaeração, volatilização e evapotranspiração;

Radiação Solar: afeta a taxa de crescimento da vegetação devido à

fotossíntese, a qual depende também do número de horas de insolação

por dia;

Precipitação: afeta o balanço hídrico das wetlands;

Vento: afeta as taxas de evapotranspiração, trocas gasosas entre a

atmosfera e o meio aquático e o efeito de mistura (turbulência no

escoamento).

Em relação à geologia, parte da capacidade de remoção de poluentes por um

Wetland se dá por processos envolvendo interações poluentes-solo. O fenômeno de

sorção desempenha papel fundamental neste processo e depende das

características do solo e de cada poluente considerado. Também é importante que o

Wetland apresente uma camada de solo que dificulte a percolação dos poluentes

para o lençol freático.

As atividades biológicas que ocorrem dentro das áreas alagadas podem ser

de grande importância para o bom desempenho destas como removedoras de

poluentes. As plantas desempenham papel de primeira importância na melhoria da

qualidade da água, absorvendo vários poluentes, ou então adsorvendo-os em suas

raízes de grande superfície específica e caules submersos. Assim, a seleção e o

manejo da vegetação devem ser cuidadosamente analisados para que sejam

obtidas remoções satisfatórias dos poluentes. Também se deve analisar a

possibilidade de ocorrência do efeito de cargas tóxicas à biota local, para que esta

não deixe de cumprir a função para a qual foi projetada.

Adicionalmente, microrganismos decompositores atuam sobre a matéria

orgânica biodegradável, consumindo a DBO disponível. Com relação à qualidade

dos efluentes, deve-se também verificar a possibilidade de estes estarem

contaminados por organismos patogênicos, neste caso o Wetland de fluxo submerso

é o mais indicado (KADLEC et al, 1996).

36

A vazão que flui através de uma área alagada é uma das principais variáveis

para o dimensionamento geométrico e a escolha dos parâmetros que definem a

capacidade de remoção de poluentes. A vazão apresenta, em geral, variações

diárias e sazonais, devendo o Wetland estar preparado para lidar com estas

variações.

O conhecimento das concentrações dos contaminantes na água a ser tratada

também é um fator de primeira importância para que se elabore um projeto e se

realize um manejo adequado. Novamente, variações temporais de qualidade da

água devem ser bem conhecidas para que se possa projetar o Wetland com

respostas adequadas (KADLEC et al, 1996).

2.7.1.2 Tipos de áreas alagadas construídas

Wetlands construídos para tratamento podem ser edificados acima ou abaixo

da superfície do solo existente, conforme apresentado na Figura 2, o que geralmente

envolve a necessidade de movimento de terra. Podem ser projetados e operados

para que exista uma quantidade adequada de água que permita o estabelecimento

da vegetação. Porém, se a vazão de entrada for limitada ou se esta for variável no

tempo, pode chegar ao ponto de se tornar seco, impossibilitando a fixação da

vegetação. Outro ponto importante que deve ser abordado na etapa de

dimensionamento, em função do estabelecimento das macrófitas aquáticas e o calor

nos meses de verão, é a evapotranspiração, que gera uma perda de água

acentuada, diminuindo o volume de água contida no sistema. Para macrófitas

aquáticas emergentes, a evapotranspiração pode variar de 1,3 a 3,5 vezes a taxa de

evaporação de uma superfície livre adjacente (MOTTAMARQUES, 1999).

Quando é necessário proteger a qualidade da água do lençol freático, então

são adicionadas camadas impermeáveis de solo ou de membranas geosintéticas.

Tais camadas de solo são freqüentemente constituídas de bentonita ou então são

empregadas mantas sintéticas de cloreto de polivinila (PVC) ou de polietileno de alta

densidade (PEAD).

Um componente final para a formação do solo de um Wetland construído para

tratamento é constituído por plantas apresentando propriedades de enraizamento

37

adequadas. O solo tem que permitir amplas raízes para a estabilidade estrutural e

nutrição das plantas. A maioria das plantas de áreas alagadas apresenta um

crescimento lento ou morrem quando colocadas em solos densos ou solos contendo

pedras grandes e angulosas. Uma capa argilosa (tipicamente de 0,2 a 0,3 m de

espessura) é recomendada para que as espécies vegetais prosperem (KADLEC et

al,1996).

São descritas três alternativas de Wetland: fluxo superficial (free water surface

- FWS), fluxo subsuperficial horizontal (horizontal subsuface flow - HSSF) e fluxo

subsuperficial vertical (vertical flow - VF) (KADLEC et al,1996). Um grande número

de variações de projeto existe para cada uma destas alternativas. Além destas três

alternativas, pode-se ainda combiná-las entre si, ou com outras tecnologias naturais

e criar sistemas híbridos que satisfaçam necessidades específicas.

Os Wetlands de fluxo superficial reproduzem o comportamento das áreas

alagadas naturais, especialmente aquelas que apresentam fluxos superficiais rasos.

As plantas são as principais responsáveis pela reciclagem de sais minerais e

também funcionam para remover substâncias contendo metais pesados e

compostos orgânicos tóxicos. Nesse tipo de tratamento podem ser utilizadas plantas

submersas, emergentes ou que flotem sobre a lâmina de água. Possuem

profundidade em torno de 0,3m. Essas áreas proporcionam o desenvolvimento de

habitats para a fauna silvestre, atraindo animais para estes locais, tais como aves e

anfíbios.

Wetlands de fluxo subsuperficial são utilizados para o tratamento de efluentes

pré-tratados, que fluem horizontalmente ou verticalmente pela ação da gravidade,

atravessando o substrato formado por elementos minerais, geralmente seixos, onde

existe um biofilme de bactérias facultativas associado com as raízes das plantas.

Esse tipo de wetland possui profundidade maior em relação às anteriores, em torno

de 0,6m. Por não haver exposição da lâmina de água, as áreas alagadas com fluxo

subsuperficial apresentam maior proteção quanto à exposição à patógenos e odores

desagradáveis.

38

3 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE EFLUENTES ADOTADO PELA VINÍCOLA EM ESTUDO

A vinícola em estudo possui um sistema de tratamento de efluentes dividido

em tratamento preliminar, tratamento primário, tratamento secundário e tratamento

terciário ou polimento. Estes estão divididos da seguinte forma:

a) Tratamento preliminar: composto de tanque de recebimento do efluente

bruto em concreto com gradeamento mecânico;

b) Tratamento primário: realizado em uma caixa de fibra de 15.000L, que

funciona como decantador primário, onde o efluente recebe tratamento químico com

um produto derivado de um polímero de origem vegetal, que atua como

coagulante/floculante, seguido de sedimentação física das impurezas floculadas.

Nessa etapa do tratamento também é corrigido o pH do efluente por meio da adição

de cal hidratada;

c)Tratamento secundário: ocorre em uma lagoa aerada com dois aeradores

elétricos superficiais. Da lagoa o efluente é bombeado para outra caixa de fibra de

15.000L, que exerce a função de decantador secundário. Durante a realização do

estudo foi instalada mais uma caixa de fibra de 15.000L, para que durante a safra o

tempo de detenção hidráulica nestes decantadores secundários permanecesse o

mesmo. Assim, há duas caixas cumprindo o papel de decantador secundário,

ligadas em paralelo, antes do efluente ser lançado para o tratamento via Wetland;

d) Tratamento terciário ou polimento: antes do lançamento, o efluente é

tratado em um Wetland construído, que faz o polimento final. Na entrada do Wetland

há uma caixa de fibra de 500L para a melhor distribuição do efluente no sistema,

39

bem como na saída, para facilitar o bombeamento para a recirculação ou o

lançamento em solo agrícola. O efluente flui no sistema apenas através da ação da

força da gravidade. Esses dois reservatórios intermediários também facilitam a

coleta de amostras para as análises da qualidade do efluente antes e após o

polimento. Nos dois reservatórios estão instalados hidrômetros que medem a vazão

de entrada e saída no sistema Wetland construído. Após devidamente tratadas e os

parâmetros de lançamento alcançados, as águas residuais da vinícola são utilizadas

para a irrigação dos parreirais. A Figura 4 mostra o croqui da Estação de Tratamento

de Efluentes da indústria.

Figura 4 - Croqui das instalações da ETE da vinícola estudada

Fonte: Adaptado de Tempus Soluções Ambientais e Topográficas

40

3.1.1 Tratamento preliminar – Gradeamento

Os efluentes industriais, além dos componentes dissolvidos, podem conter

parcelas de substâncias não dissolvidas. Entre essas matérias não dissolvidas

encontram-se elementos fibrosos e volumosos, sólidos pesados como areia, limo,

cinzas, cacos, pedras e também sólidos flutuantes como óleos de origem animal ou

mineral, gorduras, partículas de plástico, fibras e pedaços de madeira que, em

função de seu reduzido peso específico, acabam flutuando na superfície da água.

Essas matérias não dissolvidas ocasionam uma poluição visível do efluente e pode

dificultar o funcionamento da canalização, interferir nos processos de depuração

bem como, provocar odores indesejáveis.

O gradeamento é uma operação utilizada para a remoção de material sólido

grosseiro. A abertura das malhas da grade varia de acordo com os objetivos da

operação de remoção desses sólidos. A finalidade fundamental da remoção de

sólidos grosseiros é condicionar os efluentes para posterior tratamento ou

lançamento em um corpo receptor.

A função das grades é reter os sólidos grosseiros que se encontram no

efluente para evitar distúrbios de funcionamento nos componentes subseqüentes da

instalação. A estrutura básica de uma grade é a apresentada na Figura 5. Os

dispositivos de remoção de sólidos grosseiros (grades) são constituídos de barras

de ferro ou aço paralelas, posicionadas transversalmente no canal de chegada dos

esgotos na estação de tratamento, perpendiculares ou inclinadas, dependendo do

dispositivo de remoção do material retido. As grades devem permitir o escoamento

dos efluentes sem produzir grandes perdas de carga. A retenção realizada pelas

grades depende da distância e do formato das barras bem como da velocidade de

impacto do efluente (AZEVEDO, 2012).

41

Figura 5 - Vista e corte de uma grade para a retenção de sólidos

Fonte: Adaptado de Azevedo (2012)

A limpeza de grades, normalmente, realiza-se de forma mecânica ou por um

chamado pente móvel que se encaixa entre as grades. É realizada em períodos

regulares ou, então, quando atingir uma determinada diferença de nível da água, é

desencadeada automaticamente. A Figura 6 mostra o tanque de recepção do

efluente bruto e o gradeamento existente na vinícola em estudo. A desvantagem das

grades repousa no fato de que sólidos finos e fibras podem atravessar seus vãos

flutuando na água.

O gradeamento é a primeira unidade de uma estação de tratamento de

efluente, sendo que essa unidade, só não deve ser prevista, na ausência total de

sólidos grosseiros no efluente a ser tratado (AZEVEDO, 2012).

42

Figura 6 – Tanque de recebimento do efluente bruto e gradeamento

Fonte: Autor

3.1.2 Tratamento primário – Coagulação química

A técnica de tratamento físico-químico por coagulação-floculação-

sedimentação, é amplamente utilizada em sistemas de abastecimento de água e no

tratamento de efluentes urbanos e industriais (CASTILHOS JR,2006).

Segundo Di Bernardo & Dantas (2005) partículas coloidais, substâncias

húmicas e microrganismos em geral apresentam carga negativa na água. Quando

duas partículas coloidais se aproximam, devido ao movimento browniano que as

mantém em constante movimento, atuam sobre elas forças de atração (Forças de

Van der Waals) e forças de repulsão (devido à força eletrostática ou da dupla

camada elétrica), impedindo a agregação entre as partículas e a conseqüente

formação de flocos.

43

A Figura 7 apresenta a formação da dupla camada elétrica também

denominada camada compacta, sua camada difusa, sendo que a distância entre a

superfície do colóide e os íons de carga contrária até o limite da camada difusa

representa o potencial zeta.

Figura 7 - Configuração esquemática da dupla camada elétrica

Fonte: Di Bernardo & Dantas (2005)

Nesse sentido, a coagulação é uma combinação de mecanismos que

favorecem a atração entre as partículas coloidais e conseqüentemente à

desestabilização das cargas negativas por meio da adição de produto químico

apropriado, habitualmente sais de ferro ou alumínio ou de polímeros sintéticos,

seguidos de agitação rápida, com intuito de homogeneizar a mistura.

Ainda segundo Di Bernardo & Dantas (2005), a coagulação resulta de dois

fenômenos: o primeiro, essencialmente químico, consiste nas reações do coagulante

com o líquido a ser tratado e na formação de espécies hidrolisadas com cargas

positivas; o segundo, fundamentalmente físico, consiste no transporte das espécies

hidrolisadas para que haja contato com as impurezas presentes no líquido a ser

44

tratado. Esse processo é rápido e pode variar desde décimos de segundos a cerca

de 100 segundos, dependendo de características como pH, temperatura, quantidade

de impurezas, concentração de coagulantes, etc. O transporte de partículas no

sistema aquoso é essencialmente físico e é acompanhado de fenômenos, tais como

difusão browniana, movimento do fluido e sedimentação, e é controlado por

parâmetros físicos, tais como temperatura, gradiente de velocidade e tamanho da

partícula. A desestabilização é um processo de interação colóide-coagulante

controlado por parâmetros físicos e químicos.

Os mesmos autores consideram a coagulação química como o resultado da

ação combinada de quatro possíveis mecanismos distintos: compressão da camada

difusa; adsorção e neutralização; varredura; adsorção e formação de ponte.

Entretanto, para os coagulantes químicos geralmente empregados como os

sais de ferro ou alumínio, há predominância dos mecanismos de adsorção-

neutralização e varredura. O mecanismo de adsorção-neutralização de cargas é

muito importante quando o tratamento é realizado através de uma das tecnologias

da filtração direta, pois não há necessidade da produção de flocos para posterior

sedimentação ou flotação, mas de partículas desestabilizadas que serão retidas no

meio granular dos filtros. O mecanismo da varredura é recomendado quando se tem

a floculação e a sedimentação (ou flotação) como processo subseqüente. É

caracterizado pela utilização de altas dosagens de coagulante, e em geral, os flocos

obtidos com esse mecanismo são maiores e sedimentam, ou flotam, mais facilmente

do que os flocos obtidos com a coagulação realizada nos mecanismos de adsorção

e neutralização de cargas.

A floculação é um processo físico que ocorre logo em seguida da coagulação.

Baseia-se na ocorrência de choques entre as partículas formadas anteriormente,

objetivando a formação de flocos ainda maiores, com maior volume e densidade.

Para a ocorrência dos choques entre as partículas, é necessário que haja agitação

na água, provocada pelos gradientes de floculação. Esses gradientes devem ser

limitados para que não ultrapassem a capacidade de resistência do cisalhamento

das partículas e não destruam os flocos formados anteriormente (DI BERNARDO &

DANTAS, 2005).

45

A sedimentação é o processo seguinte à floculação e pode ser definida como

um fenômeno físico de separação de fases (sólido-líquido) em que as partículas

apresentam movimento descendente devido à ação da força da gravidade,

propiciando a clarificação do meio líquido (DI BERNARDO et. al. 2002). Numa

estação de tratamento a sedimentação ocorre nos decantadores, cujas principais

variáveis de controle são a taxa de escoamento superficial e o tempo de detenção

hidráulica.

Para auxiliar o processo de floculação e sedimentação, a vinícola em estudo

emprega substâncias conhecidas como polieletrólitos. De acordo com Rivas et al.

(2004), polieletrólitos são substâncias compostas por moléculas orgânicas de cadeia

longa possuindo cargas iônicas em sua estrutura que facilitam a aglutinação das

partículas, aumentando o tamanho dos flocos e, conseqüentemente, diminuindo o

tempo de sedimentação. Comumente são denominadas de floculantes ou polímeros

e podem ser catiônicos, aniônicos ou não iônicos, conforme a carga da cadeia

polimérica.

No caso da vinícola estudada, o produto utilizado para a coagulação e

floculação é derivado de um polímero de origem vegetal, com massa molecular

relativamente alta (2.000 a 4.000). É carregado eletricamente e apresenta grande

mobilidade para a desestabilização do meio, assim como os coagulantes tradicionais

(alumínio e ferro), mas além do mecanismo de coagulação também desempenha

função secundária, ou seja, por ser um polímero natural auxilia na formação dos

flocos.

Di Bernardo e Dantas (2005) descreveram diversas vantagens da utilização

de polímeros como auxiliares no processo de coagulação-floculação-sedimentação

para o tratamento de efluentes: a melhoria da qualidade do efluente tratado; a

redução do consumo de coagulante e possível redução dos gastos totais com

produtos químicos; e o aumento da velocidade de sedimentação das partículas.

A Figura 8 mostra o decantador primário onde é misturado o produto

responsável pela coagulação e floculação e a cal hidratada responsável pela

correção do pH do efluente bruto.

46

Figura 8 - Tratamento primário da vinícola

Fonte: Autor

3.1.3 Tratamento secundário – Lagoa Aerada

Segundo Jordão & Pessôa (1995), as lagoas aeradas são uma modalidade de

sistema de tratamento por lagoas de estabilização onde o suprimento de oxigênio é

garantido por equipamentos eletromecânicos (aeradores). As lagoas aeradas são

classificadas, segundo o comportamento e a cinética do processo, em lagoas

aeradas aeróbias ou de mistura completa e lagoas aeradas facultativas.

De acordo com Von Sperling (1996), as lagoas aeradas de mistura completa

são essencialmente aeróbias e os aeradores garantem a oxigenação do meio e

mantém os sólidos em suspensão. O grau de energia introduzido é suficiente para

garantir a oxigenação da lagoa e manter os sólidos em suspensão e a biomassa

dispersos na massa líquida. Assim, o efluente que sai de uma lagoa aerada de

mistura completa possui uma grande quantidade de sólidos suspensos e não é

47

adequado para ser lançado diretamente no corpo receptor. Para que ocorra a

sedimentação e estabilização destes sólidos é necessária a inclusão de unidade de

tratamento complementar, que neste caso, são as lagoas de decantação

(SPERLING,1996).

Logo, as características do efluente são iguais às da massa líquida em

aeração, pois não há acúmulo de material no fundo da lagoa, segundo Jordão &

Pessôa (1995). Portanto, faz-se necessária a utilização de lagoas de decantação em

seqüência para que haja a sedimentação destes sólidos. O tempo de detenção nas

lagoas aeradas é da ordem de 2 a 4 dias e nas lagoas de decantação da ordem de 2

dias. O acúmulo de lodo nas lagoas de decantação é baixo e sua remoção

geralmente é feita com intervalos de 1 a 5 anos. Este sistema ocupa uma menor

área que outros sistemas compostos por lagoas. Os requisitos energéticos são

maiores que os exigidos por outros sistemas compostos por lagoas

(SPERLING,1996). As vantagens deste processo são a alta eficiência na remoção

da matéria orgânica, boa resistência a variações de carga e reduzidas possibilidades

de maus odores. As lagoas aeradas de mistura completa necessitam de baixos

tempos de detenção, variando entre 2 e 4 dias. Logo, os requisitos de área são

menores.

Nas lagoas aeradas facultativas, os aeradores mantêm o oxigênio dissolvido

na maior parte da massa líquida (camada superficial), contudo não proporcionam a

mistura completa, permitindo que haja sedimentação de parte dos sólidos em

suspensão e sua conseqüente decomposição anaeróbia. O gás sulfídrico liberado na

decomposição anaeróbia do material sedimentado é oxidado pelo oxigênio

dissolvido na camada líquida superior, eliminando a possibilidade de odores

desagradáveis. O tempo de detenção hidráulico das lagoas aeradas facultativas

varia de 5 a 10 dias. Tem-se o elevado custo com energia elétrica e a manutenção

dos equipamentos, que requer equipe capacitada. Além disso, deve haver a

remoção de lodo da lagoa dentro de um período de 2 a 5 anos. Estes dois fatores

constituem as principais desvantagens do processo (SPERLING, 1996).

A função básica de um processo de tratamento biológico de efluentes líquidos

é converter compostos orgânicos a dióxido de carbono, água e células bacterianas,

48

conforme demonstrado na Figura 9. As células podem, então, serem separadas da

água purificada e eliminadas de uma forma concentrada chamada excesso de lodo.

Figura 9 - Remoção de matéria orgânica pela lagoa aerada

Fonte: Autor

Assumindo que lagoas aeradas tem uma eficiência de rendimento de

crescimento de 0,5 mg de peso seco por mg de Demanda Bioquímica de Oxigênio

(DBO), 1kg de DBO removida gera 0,5kg a seco de excesso de lodo. Deve-se

compreender que o excesso de lodo gerado a partir do processo de tratamento

biológico é um desperdício secundário que deve ser eliminado de uma forma

ambientalmente segura. A disposição final do excesso de lodo tem sido e continua a

ser um dos problemas mais dispendiosos para os serviços de tratamento de

efluentes industriais. O tratamento do excesso de lodo pode ser responsável por

25% até 65% do custo total da planta de operação (LIU, 2002).

Em geral, entre os processos biológicos, os aeróbios constituem a grande

maioria dos sistemas desenhados para o tratamento de efluentes com teores de

matéria orgânica na gama classificada como “pouco concentrados” (valores de DQO

inferiores a 2000 mg/L), ou seja, para a eliminação de nutrientes dos efluentes já

pré-tratados por processos anaeróbios. Por outro lado, os efluentes “concentrados”

em matéria orgânica (valores de DQO superiores a 2000 mg/L) são especialmente

indicados para o tratamento anaeróbio. Esta regra deve ser entendida como meio de

simplificar a questão, havendo exceções (RODRIGUES, et al., 2006).

Em indústrias vitivinícolas da Serra Gaúcha é usual serem adotados os

processos aeróbios com lagoas aeradas facultativas, como é o caso da vinícola em

estudo, principalmente quando a qualidade do efluente final deve ser elevada. A

Figura 10 mostra a lagoa aerada instalada na estação de tratamento de efluentes da

vinícola.

49

Figura 10 - Lagoa aerada da vinícola

Fonte: Autor

3.1.4 Tratamento terciário – Wetland construído

A tecnologia de áreas alagadas construídas oferece um sistema com baixo

custo de instalação, pouca manutenção, fácil operação e bons resultados de

eficiência para vinícolas que dispõem de área suficiente para a sua instalação. Essa

tecnologia também possui a vantagem de lidar com flutuações sazonais na emissão

de efluentes sem apresentar efeitos adversos ao funcionamento do sistema de

tratamento (MASI et al., 2002; GRISMER et al., 2003).

Shepherd et al. (2001) propõem que o tratamento com Wetland construído é

uma opção bastante interessante para vinícolas de pequeno e médio porte, devido

ao seu potencial de assimilação de grandes e variáveis cargas orgânicas, bem como

sua baixa manutenção e custos operacionais. Essas áreas alagadas construídas

fazem uso de macrófitas associadas com microorganismos que se instalam em sua

50

zona de raízes para degradar poluentes orgânicos como carboidratos, proteínas e

outras matérias em suspensão à base de carbono que compõem a DBO5 e DQO das

águas residuais.

O Wetland construído avaliado neste estudo é do tipo de fluxo subsuperficial,

com fluxo horizontal, vegetado com taboa (Typhadomingensis) e copo de leite

(ZantedeschiaaethiopicaSpreng), em virtude de suas propriedades de

fitorremediação. Possui camada suporte de 0,85m de espessura de brita nº04 e uma

camada de cobertura de 0,10m de areia grossa, onde as plantas estão fixadas. Uma

foto do local é demonstrada na Figura 11.

Figura 11 - Wetland construído da vinícola em estudo

Fonte: Autor

51

4 METODOLOGIA

O presente trabalho visa avaliar o comportamento de um Wetland construído,

em uma empresa vinícola da Serra Gaúcha, no polimento do efluente dessa

empresa. Como já mencionado anteriormente, a vinícola utilizada neste estudo

prefere manter sigilo sobre sua identidade, no entanto, permitiu a utilização e acesso

às informações e sistema de tratamento de efluentes para a realização do trabalho.

Foram efetuadas visitas periódicas à Estação de Tratamento de Efluentes

desta vinícola, procurando manter uma periodicidade mensal. Durante as visitas

foram coletadas amostras para as análises dos parâmetros e dados sobre a

operação do sistema de tratamento de efluentes, bem como dados de pluviometria

durante os diferentes períodos das análises.

As amostras foram coletadas em três pontos diferentes do sistema de

tratamento da vinícola, assim denominados:

Efluente bruto;

Entrada do Wetland;

Saída do Wetland.

As análises dos parâmetros monitorados foram realizadas nos laboratórios de

biorreatores e de águas e efluentes do curso de Engenharia Ambiental da Univates,

com exceção das análises de teor de nitrogênio e fósforo, que foram realizadas por

laboratório contratado, seguindo a metodologia da Standard Methods for the

Examination of Water and Wastewater, 21st Edition, 2005. A Figura 12 apresenta as

dimensões e a estrutura física do Wetland estudado.

52

Figura 12 - Dimensões e cortes do Wetland construído

Fonte: Adaptado de Tempus Soluções Ambientais e Topográficas

4.1 Período da amostragem

A coleta de amostras para as análises dos parâmetros de monitoramento

ocorreu entre os meses de outubro de 2012 até abril de 2013, totalizando sete

meses de monitoramento. Dessa forma objetivou-se monitorar o funcionamento do

sistema Wetland na pré-safra, durante a safra e na pós-safra, uma vez que a safra

ocorreu entre os meses de janeiro a março, com quantidades e cargas de efluentes

maiores que o restante do ano.

53

4.2 Procedimento para a coleta e conservação das amostras

A coleta e preservação das amostras procederam conforme as

recomendações constantes na publicação associada da American Public Health

Association, American Water Works Association e Water Environment Federation -

APHA (1995). Para as análises físico-químicas, as amostras foram coletadas em

frascos de vidro âmbar previamente limpos, com capacidade de 1L.

4.3 Parâmetros analisados

Nos locais das coletas foi analisada a temperatura, com um termômetro de

coluna de álcool com corante vermelho. Em laboratório os parâmetros analisados

foram: oxigênio dissolvido, eletrocondutividade, turbidez, pH, sólidos totais, fixos e

voláteis, DBO5, nitrogênio e fósforo total. A evapotranspiração foi avaliada mediante

a coleta de dados sobre a vazão de entrada e saída do Wetland, realizada através

de hidrômetros localizados nestes pontos, e informações sobre as condições

climáticas e precipitações ocorridas nos períodos, coletadas através de um

pluviômetro instalado no local. Estes dados foram aplicados a uma equação

específica que forneceu os resultados, que estão apresentadas na seção de

resultados deste trabalho.

4.3.1 Temperatura

A temperatura é um parâmetro importante a ser analisado, pois está

diretamente relacionado com o metabolismo dos microrganismos. Quanto maior for a

temperatura maior será a taxa metabólica, acelerando o processo de biodegradação

da matéria orgânica, a assimilação de nutrientes e o consumo do oxigênio dissolvido

do corpo aquático (APHA, 2005).

4.3.1.1 Aparelhagem

Termômetro de coluna de álcool com corante vermelho, com escala de

0 a 60°C;

54

Jarro plástico de 1,5L.

4.3.1.2 Metodologia

Após a coleta, mergulhar o termômetro na amostra;

Esperar estabilização da temperatura;

Fazer leitura com o bulbo do termômetro imerso na amostra;

Anotar o resultado.

4.3.2 Oxigênio dissolvido

O oxigênio dissolvido (OD) é fundamental para a sobrevivência dos

organismos aeróbios. A concentração de OD na água varia de acordo com a altitude

local, a temperatura e a salinidade da água, havendo aumento da solubilidade do

oxigênio com a redução da altitude local, da temperatura e da salinidade. A variação

diária do OD está ligada ao processo de fotossíntese, de respiração e de

decomposição da matéria orgânica (KUBITZA,1998). Bactérias aeróbias, quando da

decomposição de material orgânico presente no meio aquático, são os grandes

consumidores de OD. Além disso, algumas reações químicas se dão com consumo

de oxigênio, como é o caso da nitrificação e da oxidação de sulfetos (MATOS,

2001). A Figura 13 mostra uma medição de OD sendo realizada no local da coleta

da amostra.

55

Figura 13 - Medição de oxigênio dissolvido e temperatura no local da coleta

Fonte: Autor

4.3.2.1 Aparelhagem

Medidor de oxigênio dissolvido portátil e digital, marca Instrutherm,

modelo MO-910;

Becker de 200mL.

4.3.2.2 Metodologia

Após a coleta, mergulhar o medidor na amostra;

Esperar estabilização da leitura;

Fazer leitura com o medidor imerso na amostra;

Anotar o resultado.

56

4.3.3 Eletrocondutividade

Condutividade é a medida da habilidade de uma solução aquosa, para

transportar uma corrente elétrica. Esta habilidade é indicada pela presença de sais,

pois quanto maior a concentração total, e a valência desses íons, maior será a

condutividade elétrica. Valores elevados de condutividade no efluente alteram o

transporte de elementos químicos entre o meio e o interior das células microbianas

responsáveis pelo tratamento do efluente, provocando mudanças no metabolismo e

efeitos inibitórios (DAN et al, 2003). As medições de condutividade elétrica foram

realizadas no laboratório de águas e efluentes da Univates, conforme mostrado na

Figura 14.

Figura 14 – Equipamento para a medição da eletrocondutividade da amostra

Fonte: Autor

4.3.3.1 Aparelhagem

Medidor de condutividade digital marca Bel, modelo W12D;

Becker de 200mL.

57

4.3.3.2 Metodologia

Colocar 200mL da amostra no becker;

Imergir os eletrodos na amostra e esperar estabilizar a medição;

Fazer a leitura diretamente no display do aparelho.

4.3.4 Turbidez

A turbidez representa o grau de interferência com a passagem da luz através

da água, conferindo uma aparência turva à mesma. Os constituintes responsáveis

são os sólidos em suspensão. A presença de partículas na forma coloidal, em

suspensão, matéria orgânica e inorgânica finamente dividida, plâncton e outros

organismos microscópicos causam a turbidez das águas. A turbidez está associada

ao controle da qualidade da água no ambiente e para o consumo humano

(FERREIRA et al, 2006). A Figura 15 mostra o equipamento utilizado para a medição

da turbidez.

Figura 15 - Aparelho turbidímetro e amostra do efluente analisada

Fonte: Autor

58

4.3.4.1 Aparelhagem

Turbidímetro digital marca Digimed, modelo DM-TU.

4.3.4.2 Metodologia

Inserir uma amostra no equipamento;

Aguardar a leitura;

Fazer a leitura diretamente no display do aparelho.

4.3.5 Potencial hidrogeniônico

A condição ácida ou básica o meio líquido refere-se à concentração de íons

de hidrogênio (H+) em uma solução. Condições muito ácidas ou muito básicas

afetam o desenvolvimento dos organismos presentes. Para a grande maioria das

bactérias o pH ótimo de crescimento se localiza entre 6,5 e 7,5. As variações

máximas e mínimas, para a maior parte delas, estão entre pH 4 e 9. Porém, se

cultivadas em meio ajustado a um pH determinado, é provável que este pH se altere,

como resultado dos metabólicos produzidos, que podem ser tanto ácidos como

alcalinos (CAMPOS et al, 2006). A Figura 16 mostra o pHmetro utilizado no estudo.

59

Figura 16 - Equipamento utilizado para medir o pH da amostra

Fonte: Autor

4.3.5.1 Aparelhagem

pHmetro digital marca Digimed, modelo DM-20

Becker de 200mL

4.3.5.2 Metodologia

Colocar 200mL da amostra no becker;

Imergir os eletrodos na amostra e esperar estabilizar a medição;

Fazer a leitura diretamente no display do aparelho.

4.3.6 Sólidos Totais

Para a realização das análises dos sólidos totais foi utilizada a metodologia da

Association of Official Analythical Chemistry,Official Methods of Analysis (AOAC,

1995). Para o cálculo dos sólidos totais na amostra utilizou-se a seguinte equação:

60

(1)

Onde:

A = Peso do cadinho + amostra ao sair da estufa (g)

B = Peso do cadinho cerâmico vazio (g)

C = Peso do cadinho + amostra antes da estufa (g)

4.3.6.1 Aparelhagem

Cadinhos cerâmicos calcinados;

Balança de precisão marca Shimadzu, modelo AW220;

Estufa marca SP Labor, modelo SP-400.

4.3.6.2 Metodologia

Identificar um cadinho;

Pesar o cadinho vazio;

Anotar o valor;

Colocar a amostra no cadinho;

Pesar o cadinho com a amostra;

Anotar o valor;

Regular a estufa em 105ºC;

Colocar o cadinho com a amostra na estufa por 24h;

Retirar o cadinho com a amostra da estufa e pesá-lo novamente;

Anotar o valor;

Aplicar a equação de cálculo de percentual de sólidos totais.

4.3.7 Sólidos Fixos e Voláteis

Para a realização das análises dos sólidos fixos e voláteis foi utilizada a

metodologia da Association of Official Analythical Chemistry,Official Methods of

61

Analysis (AOAC, 1995). Para o cálculo dos sólidos totais na amostra utilizou-se a

seguinte equação:

(2)

Onde:

A = Peso do cadinho + amostra ao sair da estufa (g)

B = Peso do cadinho cerâmico vazio (g)

D = Peso do cadinho + amostra ao sair do forno mufla (g)

O teor de sólidos voláteis foi calculado pela relação entre o teor de sólidos

volatilizados na mufla e o teor de sólidos presentes na amostra ao sair da estufa. A

soma dos sólidos fixos e voláteis é igual à quantidade de sólidos totais presentes na

amostra.

4.3.7.1 Aparelhagem

Cadinhos cerâmicos com amostras provenientes da estufa;

Balança de precisão marca Shimadzu, modelo AW220;

Forno mufla.

4.3.7.2 Metodologia

Pesar o cadinho vindo da estufa;

Anotar o valor;

Regular o forno mufla em 500ºC;

Colocar o cadinho com a amostra na mufla por 8h;

Retirar o cadinho com a amostra da mufla e pesá-lo novamente;

Anotar o valor;

Aplicar as equações de cálculo de percentuais de sólidos fixos e

voláteis.

62

4.3.8 Demanda Bioquímica de Oxigênio

Quando lançados no ambiente, os efluentes sofrem transformações, devido à

atividade de microrganismos, até sua completa mineralização. Quanto maior for a

quantidade de matéria orgânica biodegradável lançada em um corpo d’água, maior

será a demanda de oxigênio para ser utilizada na respiração dos organismos

aquáticos, especialmente, das bactérias decompositoras. Como esta demanda é

resultado de uma atividade bioquímica, diz-se que houve uma Demanda Bioquímica

de Oxigênio – DBO. Quanto maior a DBO, mais elevado é o teor de matéria orgânica

presente no efluente. Também a eficiência de um sistema de tratamento pode ser

medida pela redução obtida em termos de DBO (DACACH, 1990). Assim, MAZZINI

(2003) define a DBO5 (5 dias a 20°C) como um teste que avalia a quantidade de

matéria orgânica biodegradável presente em uma amostra. A Figura 17 exibe as

amostras dentro da incubadora com o aparelho de medição de DBO conectado.

Figura 17 - Equipamento Oxitop, utilizado para a análise de DBO5

Fonte: Autor

63

4.3.8.1 Aparelhagem

Aparelho digital medidor de DBO marca WTW, modelo Oxitop, para

medições de até 400.000mg/L de DBO5;

Frascos padrão DBO;

Incubadora de DBO.

4.3.8.2 Metodologia

Verificar provável faixa de DBO da amostra e, a partir deste dado,

estipular a quantidade de amostra a ser utilizada, conforme Tabela do

fabricante;

Colocar uma gota de inibidor de nitrificação na amostra;

Colocar duas pastilhas de NaOH (hidróxido de sódio) dentro do

recipiente que fica na parte superior da garrafa;

Conectar o display digital;

Iniciar a medição pressionando as teclas S e M simultaneamente

durante 2 segundos;

Colocar os frascos sobre a bandeja da incubadora;

Ligar a bandeja na incubadora, a 20ºC, e aguardar 5 dias;

A medição é realizada diretamente no display do aparelho.

4.3.9 Evapotranspiração

Em áreas alagadas construídas as perdas de água são superiores às de uma

lagoa devido à presença de plantas, que contribuem para uma redução da massa de

água como resultado da transpiração. Em regiões onde o verão se apresenta quente

e seco a evapotranspiração pode ser responsável por uma redução significativa do

total de efluente gerado, contribuindo para a redução da vazão de lançamento em

corpos hídricos (WALLACE et al., 2006).

Entre os principais fatores que afetam a evapotranspiração estão os

climáticos, tais como radiação incidente, umidade relativa do ar, velocidade do vento

64

e temperatura; além da cobertura vegetal e condições ambientais da vegetação

(ALLEN et al., 1998).

A precipitação pode aumentar a vazão de lançamento de efluentes,

arrastando poluentes associados, como também pode provocar o efeito de diluição

destes poluentes. Por outro lado, o aumento da evapotranspiração ocorrida em

sistemas Wetland potencializa o aumento na concentração de poluentes, devido à

redução de massa de água no efluente. Entretanto, este efeito é compensado pelo

aumento no Tempo de Detenção Hidráulica, o que permite uma maior degradação

da massa poluente (WALLACE et al., 2006).

As Figuras 18, 19 e 20 mostram os hidrômetros de medição de entrada e

saída do Wetland construído, os quais forneceram os dados de entrada e saída do

sistema para o cálculo do balanço hídrico e estimativa da evapotranspiração

ocorrida, e as caixas de coleta de amostras.

Figura 18 - Hidrômetro de medição de entrada no Wetland construído

Fonte: Autor

65

Figura 19 - Caixa de coleta de amostras na entrada do Wetland construído

Fonte: Autor

Figura 20 - Hidrômetro e caixa de coleta de amostras de saída do Wetland construído

Fonte: Autor

66

Para determinar a quantidade de efluente evapotranspirado no Wetland

construído foi montada uma equação baseada no balanço hídrico, ou seja, a

quantidade de líquido que entra no sistema deve ser a mesma que sai ao final do

tratamento, o que se perde no tratamento é evapotranspirado. Para verificar a vazão

de entrada e saída do sistema foram instalados dois hidrômetros, um na entrada do

Wetland e outro na saída, mostrados nas Figuras 18 e 20. Estes valores foram

aplicados à seguinte equação:

(3)

Onde:

EV = Evapotranspiração (%)

Qsf = Vazão de saída no final do período (lida no hidrômetro de saída) (m³)

Qsi = Vazão de saída no início do período (lida no hidrômetro de saída) (m³)

Qef = Vazão de entrada no final do período (lida no hidrômetro de entrada)

(m³)

Qei = Vazão de entrada no início do período (lida no hidrômetro de entrada)

(m³)

P = Precipitação no período (m³)

4.3.9.1 Aparelhagem

Pluviômetro com escala de 0 a 40mm/m², marca Incoterm;

Um hidrômetro analógico de medição de vazão de entrada marca

Elster;

Um hidrômetro analógico de medição de vazão de saída marca Elster.

67

4.3.9.2 Metodologia

Todas as precipitações foram registradas em planilha de controle, com

datas e com os resultados obtidos no pluviômetro;

A cada visita foram coletadas as vazões de entrada e saída do sistema;

Aplicação da equação do percentual de evapotranspiração.

68

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Durante a realização deste estudo verificou-se que o sistema de tratamento

utilizado na vinícola funciona com uma vazão flutuante em que ocorrem lançamentos

intermitentes, ou seja, há períodos com lançamento e outros em que não há vazão.

Essas variações decorrem das etapas do processo de vinificação. Além da variação

no fluxo de lançamento, as características químicas também oscilam. A Figura 21

mostra a caixa de recebimento do efluente bruto e denota, através da cor, a variação

que ocorre no efluente nos diferentes lançamentos.

Figura 21 - Variação na composição do efluente bruto lançado para a ETE

Fonte: Autor

69

Devido a essas circunstâncias, o efluente tratado e lançado ao final do

polimento muitas vezes não possuía características semelhantes às do efluente

bruto que está entrando no tratamento. Essas variações no efluente bruto podem ser

comprovadas nos resultados das análises apresentados nas Tabelas 7, 8, 9, 10, 11,

12, 13, 14 e 15, onde parâmetros como oxigênio dissolvido, eletrocondutividade,

turbidez, teor de sólidos, pH e DBO demonstram grandes variações nas diferentes

coletas realizadas.

Essa instabilidade nos parâmetros do efluente pode gerar dificuldades e

distorções na discussão dos resultados das análises. Algumas vezes foi verificado

que parâmetros do efluente que deveriam apresentar redução apresentaram

aumento, ou vice-versa, ao atravessarem o polimento via Wetland construído.

Também alguns percentuais de redução se mostraram muito otimistas, podendo ter

sido influenciados por características iniciais do efluente bruto mais favoráveis ao

tratamento.

Outra constatação que se faz necessária diz respeito ao crescimento das

macrófitas durante o período do estudo, fator que influencia no crescimento da zona

de raízes, rizosfera, e no aporte de nutrientes pelas plantas. Inicialmente os

indivíduos apresentavam-se em estágio inicial de crescimento. Desenvolveram-se

até florescerem e gerarem sementes e ao final do período do estudo muitos

exemplares já se apresentavam em fase final, com novos indivíduos brotando. A

Figura 22 mostra as diferentes fases de desenvolvimento da vegetação durante o

estudo.

As próximas seções deste capítulo apresentam os resultados das análises

realizadas nas amostras coletadas entre os meses de outubro de 2012 e abril de

2013. Durante o período procurou-se manter uma regularidade de visitas mensais. A

vinícola parou suas atividades entre os dias 24 de dezembro de 2012 e 13 de janeiro

de 2013. Neste período não houve lançamento de efluentes e também não houve

monitoramento da pluviometria, o que comprometeu o cálculo da evapotranspiração

ocorrida no sistema entre dezembro e fevereiro.

70

Figura 22 - Desenvolvimento da vegetação do Wetland construído

Fonte: Autor

5.1 Temperatura

A temperatura no sistema manteve-se próxima à temperatura ambiente

durante todo o período do estudo. Na coleta realizada no dia 16/10/2012, a

71

temperatura apresentou-se elevada na saída do sistema Wetland, porque o efluente

estava parado há cerca de 60 minutos dentro do reservatório de saída, e teve sua

temperatura alterada pela ação do sol em contato com o reservatório de 500L de

fibra de vidro. O mesmo fato ocorreu com as coletas dos dias 22/11/2012,

19/12/2012 e 06/02/2013, com o efluente de entrada, que estava parado no

reservatório de entrada do Wetland em torno de 60 minutos até o momento da

coleta. Salvo essas ocorrências, foi possível comprovar que o Wetland construído

equaliza a temperatura do efluente com a temperatura ambiente antes do

lançamento, conforme demonstram os resultados da Tabela 7. Todas as amostras

atenderam a exigência legal de temperatura inferior a 40°C para o lançamento de

efluentes.

Tabela 7 - Temperaturas medidas no Wetland (em °C) Local da coleta

Data da coleta Efluente Bruto

Entrada Wetland

Saída Wetland Temp.

Ambiente

16/10/2012 21,0 20,5 26,0 24,0

22/11/2012 25,0 25,5 23,5 24,0

19/12/2012 26,5 30,0 26,5 27,0

06/02/2013 23,0 25,0 23,0 23,5

21/02/2013 24,0 24,5 24,0 24,0

27/03/2013 19,0 19,5 19,0 19,0

23/04/2013 19,0 19,0 18,5 19,0

Fonte: Autor

5.2 Oxigênio Dissolvido – OD

A variação do teor de oxigênio dissolvido no efluente demonstra a atividade

das plantas e microorganismos presentes no Wetland construído. O fornecimento de

oxigênio a sistemas alagados de fluxo subsuperficial é atribuído principalmente ao

transporte do gás pela planta ao seu sistema de raízes e vizinhanças através de seu

tecido parenquimoso (PRIDE et al., 1990 e STOTTMEISTER et al., 2003).

De acordo com Brix (1997), aumentos no teor de OD são verificados pela

ação das raízes das plantas, as quais liberam oxigênio para a massa líquida. É

72

razoável admitir que este processo explique o aumento da concentração de OD no

efluente do Wetland construído em comparação com as concentrações na entrada,

pois os vegetais encontram-se vistosos e em grande densidade.

Ao observar os resultados das análises durante o período, demonstrados na

Tabela 8, fica evidente que, após o polimento no Wetland, os índices de OD foram

aumentados. Apenas na amostra do dia 23/04/2013 este comportamento não ocorre.

Por apresentar um resultado muito diferente das demais amostras, esta foi

desconsiderada para a discussão dos resultados.

Em média, os teores de OD na saída do Wetland encontraram-se 36,15%

mais altos do que na entrada. A variação foi desde 3,90% no dia 19/12/2013,

chegando a 61,54% na amostra coletada no dia 06/02/2013. Na amostra coletada no

dia 22/11/2012, apesar do tratamento ter demonstrado uma elevação de 46,56% no

teor de OD, ainda assim não atendeu o mínimo exigido pela legislação para

lançamento em corpos receptores, que é de 5mg/L. No caso da vinícola em estudo

este efluente é lançado para incorporação em solo agrícola, o que não corresponde

ao lançamento em corpos hídricos, portanto, a eficiência atingida é satisfatória. Os

resultados das análises de concentração de oxigênio dissolvidos estão expressos na

Tabela 8.

Tabela 8 - Teores de Oxigênio Dissolvido no Wetland (em mg/L) Local da coleta

Data da coleta Efluente Bruto Entrada Wetland Saída Wetland

16/10/2012 2,9 4,8 7,6

22/11/2012 1,96 3,2 4,69

19/12/2012 1,33 5,89 6,12

06/02/2013 3,8 3,9 6,3

21/02/2013 4,8 3,9 5,5

27/03/2013 3,59 5,95 6,28

23/04/2013 - - -

Fonte: Autor

73

5.3 Eletrocondutividade – EC

A eletrocondutividade, ou condutividade elétrica, é a expressão numérica da

habilidade de uma solução aquosa transmitir corrente elétrica. Esta capacidade

depende da presença de íons, da concentração total deles, mobilidade, valência,

concentrações relativas e da temperatura.

Nas amostras analisadas verificou-se redução nesse parâmetro após o

efluente passar pelo polimento. Essa redução variou desde 1,29% na amostra

coletada em 19/12/2012 até 67,70% na amostra coletada no dia 16/10/2012. Em

média foi registrada uma redução de 18,90% neste parâmetro, o que sinaliza que há

uma redução no número de sais presentes no efluente pela ação das plantas

através de suas raízes, que utilizam estes minerais como nutrientes para o seu

crescimento. A maior redução de eletrocondutividade foi verificada na primeira

amostra, conforme se pode verificar na Tabela 9, o que pode estar relacionado ao

fato das plantas estarem em estágio inicial de crescimento e, por este motivo,

necessitando maior aporte de nutrientes.

Tabela 9 - Eletrocondutividade no Wetland (μs) Local da coleta

Data da coleta Efluente Bruto Entrada Wetland Saída Wetland

16/10/2012 1753 1579 510

22/11/2012 956 1717 1595

19/12/2012 1520 1552 1532

06/02/2013 1384 1542 1439

21/02/2013 865 1726 1589

27/03/2013 1354 1763 1389

23/04/2013 875 1612 1284

Fonte: Autor

5.4 Turbidez

Sistemas de tratamento por Wetlands construídos são bastante eficazes na

remoção de sólidos em suspensão, e conseqüentemente da turbidez, e muitos

estudos têm comprovado tal eficiência (PRIDE et al., 1990; GREEN & UPTON, 1994;

74

KADLEC et al., 1997; GSCHLÖBL et al., 1998; NERALLA et al., 2000; CAMPOS et

al., 2002; AL-OMARI & FAYYAD, 2003; HENCH et al., 2003; MANNARINO, 2003;

SOLANO et al., 2004).

Esse sucesso é devido principalmente a processos físicos que retêm desde

colóides a partículas milimétricas contidas nos efluentes. O meio suporte de pedras

torna-se mais efetivo com o desenvolvimento do sistema de raízes das plantas no

processo de filtração e a formação do biofilme. Após retidos na matriz porosa, a

parte orgânica dos sólidos em suspensão sofre a ação de microrganismos e se torna

solúvel. O desenvolvimento das raízes no meio também estabiliza o leito evitando a

formação de caminhos preferenciais de fluxo que afetariam muito a eficiência do

tratamento.

O efeito filtrante proporcionado pelo meio suporte e pelas raízes das

macrófitas emergentes plantadas no Wetland confere a clarificação dos efluentes. A

qualidade na turbidez do efluente demonstra a capacidade que os sistemas com

áreas alagadas construídas possuem para a melhoria deste parâmetro, conforme é

possível verificar nas Figuras 23, 24 e 25.

Figura 23 - Amostras coletadas no dia 06 de fevereiro de 2013

Fonte: Autor

Efluente Bruto Entrada Wetland Saída Wetland

75

Figura 24 - Amostras coletadas no dia 27 de março de 2013

Fonte: Autor

Figura 25 - Amostras coletadas no dia 23 de abril de 2013

Fonte: Autor

A redução da turbidez no efluente após passar pelo polimento no Wetland

construído variou de 80,42% a 97,82%, resultados excelentes no que se refere à

clarificação de águas residuais, atendendo com larga margem de segurança o limite

de 100UNT determinado pela resolução CONAMA nº357 de 2005. É interessante

observar que no dia 27/03/2013 essa exigência legal só foi cumprida devido à ação

do sistema de polimento, conforme demonstra a Tabela 10. Em média, a turbidez

apresentou redução de 91,45% com o polimento do efluente.

Efluente Bruto Entrada Wetland Saída Wetland

Efluente Bruto Entrada Wetland Saída Wetland

76

Tabela 10 - Turbidez no Wetland (UNT) Local da coleta

Data da coleta Efluente Bruto Entrada Wetland Saída Wetland

16/10/2012 380 81,8 16,02

22/11/2012 1014 71,2 11,2

19/12/2012 140 43,8 1,26

06/02/2013 1043 71,4 1,56

21/02/2013 366 87,2 2,41

27/03/2013 496 117 7,15

23/04/2013 447 32,2 3,42

Fonte: Autor

5.5 Potencial Hidrogeniônico – pH

Sistemas Wetland ao receberem efluentes de lagoas de estabilização em

faixa de pH alcalino, levam-no à neutralidade (GSCHLÖBL et al., 1998) e no pós-

tratamento de efluentes primários, onde a produção de ácidos orgânicos torna o pH

do meio ácido, o efluente também é neutralizado em torno da faixa 7.0 – 7.4

(KADLEC et al., 1997; KASEVA, 2004).

Este parâmetro apresentou-se ácido no efluente bruto na maior parte das

amostras coletadas. Nas coletas realizados nos dias 19/12/2013 e 23/04/2013 a

vinícola estava desenvolvendo a limpeza de seus maquinários e não estava

produzindo vinho. Por utilizar produtos de limpeza alcalinos, o efluente apresentou-

se menos ácido.

De maneira geral, o pH do efluente foi corrigido já nas etapas anteriores do

tratamento, inclusive pela adição de cal virgem antes do efluente passar pela lagoa

aerada. A estabilização do pH se manteve durante o polimento do efluente via

Wetland construído, conforme pode ser observado na Tabela 11. Todas as amostras

atenderam os requisitos legais para lançamento.

77

Tabela 11 - Potencial Hidrogeniônico no Wetland – pH Local da coleta

Data da coleta Efluente Bruto Entrada Wetland Saída Wetland

16/10/2012 4,31 7,93 8,03

22/11/2012 4,96 7,99 7,9

19/12/2012 6,44 8,55 7,46

06/02/2013 4,06 7,76 7,48

21/02/2013 4,66 7,53 7,26

27/03/2013 4,11 7,03 7,12

23/04/2013 6,04 8,1 8,52

Fonte: Autor

5.6 Sólidos Totais, fixos e voláteis

Da mesma forma que os resultados deste estudo demonstraram a grande

eficiência do Wetland construído para a remoção da turbidez, também

demonstraram que ao passar pelo polimento o efluente é clarificado e os sólidos

presentes ficam retidos na rizosfera e no leito mineral filtrante. Os sólidos totais

apresentam redução em todas as amostras coletadas, que varia desde 7,14% em

19/12/2012 até 61,54% em 16/10/2012, sendo a média de redução igual a 27,10%

no período do estudo. A Tabela 12 apresenta os resultados das análises.

Tabela 12 - Sólidos Totais no Wetland (%) Local da coleta

Data da coleta Efluente Bruto Entrada Wetland Saída Wetland

16/10/2012 0,44 0,13 0,05

22/11/2012 0,36 0,14 0,12

19/12/2012 0,21 0,14 0,13

06/02/2013 0,49 0,13 0,10

21/02/2013 0,30 0,19 0,15

27/03/2013 0,41 0,17 0,10

23/04/2013 0,35 0,14 0,11

Fonte: Autor

A redução dos sólidos voláteis, que são compostos por partículas de matéria

orgânica degradável que sofre decomposição durante o tratamento, também é

78

confirmada pelos resultados. Durante o estudo observou-se esse comportamento,

exceto nas coletas realizadas em 16/10/2012 e 22/11/2012. Nessas duas

oportunidades o percentual de sólidos voláteis aumentou após o tratamento de

polimento. Acredita-se que este comportamento inverso deva-se a variações no

efluente bruto recebido que, conforme já comentado anteriormente, na indústria

vinícola possui características muito variáveis.

De modo geral, nas demais coletas realizadas houve redução no percentual

de sólidos voláteis, variando desde 15,42% em 23/04/2013 até 56,06% em

27/03/2013. Em média, a redução foi de 11,89%, considerando todas as amostras

analisadas. A Tabela 13 apresenta os resultados das análises de sólidos voláteis.

Tabela 13 - Sólidos Voláteis no Wetland (%) Local da coleta

Data da coleta Efluente Bruto Entrada Wetland Saída Wetland

16/10/2012 68,98 25,68 39,34

22/11/2012 74,10 35,11 35,30

19/12/2012 63,75 46,54 37,93

06/02/2013 78,97 44,12 30,29

21/02/2013 80,45 55,05 46,46

27/03/2013 72,11 43,29 19,02

23/04/2013 79,40 39,95 33,79

Fonte: Autor

O percentual de sólidos fixos no efluente ao passar pelo polimento

acompanha as variações do percentual de sólidos voláteis e os resultados podem

ser observados na Tabela 14.

79

Tabela 14 - Sólidos Fixos no Wetland (%) Local da coleta

Data da coleta Efluente Bruto Entrada Wetland Saída Wetland

16/10/2012 31,02 74,31 60,66

22/11/2012 25,90 64,89 64,70

19/12/2012 36,25 53,46 62,07

06/02/2013 21,03 55,88 69,71

21/02/2013 19,55 44,95 53,54

27/03/2013 27,88 56,70 80,97

23/04/2013 20,60 60,05 66,21

Fonte: Autor

5.7 Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO5

A análise por qual caminho a matéria orgânica solúvel é degradada em um

sistema Wetland construído é altamente dependente da disponibilidade de oxigênio

no meio. Alguns trabalhos referem que condições aeróbias devido à disponibilidade

de O2 que ocorrem junto às raízes e suas vizinhanças, favorecem uma significativa

redução da DBO pelos microrganismos (AL-OMARI & FAYYAD, 2003; SOLANO et

al., 2004; PRIDE et al., 1990; REED & BROWN, 1992) e que a DQO é removida por

processos preferencialmente físicos (SOLANO et al., 2004).

A concentração de matéria orgânica biodegradável, DBO5, apresentou

considerável redução, variando desde 20,00% na amostra coletada no dia

16/10/2012 até 92,31% na amostra coletada no dia 21/02/2013. Essa redução

expressiva na DBO5 destaca os papéis da rizosfera juntamente com o leito e o

biofilme microbiano formado na retenção de matéria orgânica. O biofilme ainda

exerce outra função, que é a biodegradação de parte dessa matéria orgânica. O

percentual médio de redução de DBO5 foi de 66,95% e todas as amostras

atenderam com grande margem de segurança ao limite de 180mg/L imposto pela

legislação vigente para lançamento em corpos receptores.

80

Tabela 15 - Demanda Bioquímica de Oxigênio no Wetland - DBO5 (mg/L) Local da coleta

Data da coleta Efluente Bruto Entrada Wetland Saída Wetland

16/10/2012 8000 25 20

22/11/2012 7000 100 30

19/12/2012 2200 10 2

06/02/2013 5000 75 25

21/02/2013 - 130 10

27/03/2013 2800 55 15

23/04/2013 3150 30 10

Fonte: Autor

5.8 Concentração de nitrogênio total – N

O teor de nitrogênio analisado nas amostras coletadas refere-se ao nitrogênio

na forma orgânica e amoniacal, também conhecido como nitrogênio total Kjeldahl.

Ainda é possível encontrar nitrogênio na forma de nitrato no sistema de tratamento,

o qual não foi quantificado nas análises. Tratamentos secundários aerados

geralmente possuem baixos teores de nitrogênio orgânico, sendo a maior parte

composta de nitrogênio amoniacal ou na forma de nitrato. Acredita-se que

nitrificação seguida pela desnitrificação biológica são a via principal de remoção de

nitrogênio amoniacal no sistema Wetland construído (EPA, 2003).

Ainda de acordo com EPA (2003), a remoção de nitrogênio para níveis muito

baixos é possível caso haja Tempo de Detenção Hidráulica (TDH) e oxigênio (O2)

suficientes para que as reações de nitrificação e desnitrificação ocorram. A

nitrificação transforma o nitrogênio amoniacal (NH4+) em nitritos e nitratos (NOX) na

presença de O2. A desnitrificação ocorre na ausência de O2, onde os

microorganismos quebram as moléculas de NOX para consumir energia e liberam o

nitrogênio (N2) para a atmosfera. O nitrogênio orgânico (R–NH2) é, em sua maior

parte, convertido a NH4+ devido aos processos de decomposição e mineralização.

Plantas tendem a acentuar a remoção de nitrogênio em wetlands: diretamente

através da assimilação de NH4+ e NOX; e fornecendo O2 para o processo de

nitrificação – desnitrificação (McBRIDE & TANNER, 2000).

81

A remoção de nitrogênio no sistema mostrou-se bastante satisfatória. Os

percentuais de remoção variaram de 18,17% nas amostras de 06/02/2013 até

96,77% nas amostras de 22/11/2012. Em média o percentual de remoção de

nitrogênio foi de 69,09%. A retirada periódica das plantas contribui para o aumento

da capacidade de redução de nitrogênio no processo, e é indicada, inclusive, em

determinados casos, mais de uma vez ao ano (EPA, 2003).

Tabela 16 - Concentração de nitrogênio total – N (mg/L) Local da coleta

Data da coleta Entrada Wetland Saída Wetland

16/10/2012 - -

22/11/2012 7,1300 0,2300

19/12/2012 4,1664 2,0832

06/02/2013 6,1100 5,0000

21/02/2013 22,2300 2,2200

27/03/2013 11,6700 1,1100

23/04/2013 3,8900 2,2200

Fonte: Autor

5.9 Concentração de fósforo total – P

Muitos estudos têm relatado que a remoção de fósforo através da assimilação

pelas plantas é baixo comparado às cargas usuais deste nutriente entrando em

sistemas de alagados (DRIZO et al., 1997; STOTTMEISTER et al., 2003 e NERALLA

et al., 2000).

A remoção de fósforo se deve principalmente a precipitação das formas

solúveis com metais como ferro e alumínio principalmente (MERZ, 2000), e adsorção

de partículas ao material constituinte do leito, como argila, silte, pedras, entre outros

(DRIZO et al., 1997; MERZ, 2000). Por conseqüência, a capacidade de retenção e

remoção de fósforo em um Wetland construído é limitada e exaure após um certo

tempo que varia em função principalmente, das características químicas do meio

suporte. A não retirada regular das plantas também contribui para um baixo

rendimento desse processo.

82

Neste estudo o percentual de remoção de fósforo variou desde 49,52% nas

amostras do dia 22/11/2012 até 95,35% nas amostras coletadas no dia 27/03/2013.

Em média, o percentual de remoção de fósforo no sistema foi de 77,12%. Esse

percentual demonstrou resultados muito satisfatórios na remoção deste nutriente.

Tabela 17- Concentração de fósforo total – P (mg/L) Local da coleta

Data da coleta Entrada Wetland Saída Wetland

16/10/2012 - -

22/11/2012 0,5170 0,2610

19/12/2012 0,3320 0,1370

06/02/2013 0,5030 0,0660

21/02/2013 1,4190 0,0690

27/03/2013 0,7960 0,0370

23/04/2013 0,1720 0,0860

Fonte: Autor

5.10 Evapotranspiração – EV

A evapotranspiração no sistema foi calculada considerando-se o balanço

hídrico do sistema. A massa líquida que entra no sistema provém das etapas

anteriores do tratamento e da água da chuva, estimada de acordo com a

precipitação do período multiplicada pela área superficial do Wetland, que não

dispõe de cobertura. Os percentuais de evapotranspiração variaram de 34,412% no

período de 06/02/2013 a 21/02/2013, quando a vazão média diária atingiu seu pico

de 11,745m³/dia, até 80,674% no período de 16/10/2012 a 22/11/2012, em que a

vazão média diária esteve em 6,467m³/dia.

Quando calculada a evapotranspiração ocorrida em todo o período do estudo,

utilizando-se como referência as marcações dos hidrômetros de entrada e saída no

início e no final do período, e considerando a contribuição de toda a chuva ocorrida

entre a data de início e final do estudo, a evapotranspiração encontrada foi de

62,4%, e a vazão média diária de 6,88m³/dia.

83

No período de 19/12/2012 a 11/01/2013 a vinícola esteve em férias, por isso a

vazão média diária ficou próxima a zero. Este período será desconsiderado para a

análise e discussão de resultados. O percentual médio de evapotranspiração dos

períodos analisados foi de 60,34%, que ficou bem próximo ao percentual médio

calculado utilizando-se os dados de início e final do período do estudo.

Outra forma de expressar o valor de evapotranspiração ocorrida no sistema é

através da unidade de volume por unidade de área. Se calculada dessa forma, é

possível afirmar que a evapotranspiração média do Wetland instalado na vinícola foi

de 17,85L/m².dia.

Ao todo, 908,537m³ de efluentes deixaram de ser lançados durante a

realização deste estudo, ou seja, foi possível, em média, evitar o lançamento de

4,8m³/dia de efluente gerado no processo produtivo da vinícola, graças à tecnologia

de Wetland construído aplicada.

Tabela 18 - Percentuais de perda por evapotranspiração (%)

Período Vazão média diária (m³/dia)

Precipitação (mm)

Evapotranspiração (%)

16/10/2012 a 22/11/2012 6,467 65,000 80,674

22/11/2012 a 19/12/2012 8,437 0,000 66,963

19/12/2012 a 11/01/2013 - - -

11/01/2013 a 06/02/2013 10,037 29,700 73,717

06/02/2013 a 21/02/2013 11,745 69,900 34,412

21/02/2013 a 27/03/2013 7,676 0,000 35,161

27/03/2013 a 23/04/2013 4,607 65,000 71,114

Fonte: Autor

84

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tratamento de polimento de efluente vinícola com o uso de Wetland

construído é uma biotecnologia técnica e economicamente viável para ser aplicada

às vinícolas da região da Serra Gaúcha. Por ser um setor com grande

representatividade no estado, conforme apresentado no capítulo 2, com mais de

460.000L de vinhos e derivados produzidos no ano de 2011, de acordo com os

dados do Instituto Brasileiro do Vinho – Ibravin, essa tecnologia vem ao encontro da

necessidade de tratamento do efluente gerado por este tipo de empreendimento.

Os resultados mais significativos, que mais justificam a aplicação dessa

tecnologia para o polimento dos efluentes da indústria, estão relacionados aos

parâmetros turbidez, demanda bioquímica de oxigênio, remoção de nitrogênio e

fósforo. As médias de redução de 91.45% na turbidez e de 66,95% da DBO5 do

efluente após o polimento garantem a redução dos impactos do lançamento de

efluentes em corpos hídricos e a melhoria da qualidade das suas águas,

especialmente no aspecto relacionado à promoção da vida aquática e à redução do

processo de assoreamento.

A remoção de nitrogênio e fósforo, com percentuais médios de 69,09% e

77,12% respectivamente, contribuem para a preservação do equilíbrio destes

nutrientes na natureza e também para a promoção da vida aquática, uma vez que o

lançamento destes promove o enriquecimento de nutrientes e ocasiona o processo

chamado eutrofização, o qual é responsável pelo desenvolvimento descontrolado de

algas e conseqüente esgotamento do oxigênio disponível, levando à mortandade

peixes e outros seres que dependem dele e estão presentes nos recursos hídricos.

85

O crescimento das plantas mostrou-se adequado durante o experimento e

indica a necessidade de corte pelo menos uma vez ao ano. É recomendado que o

corte seja feito logo após o inverno, para evitar que as plantas sejam afetadas pela

ocorrência de geadas e temperaturas negativas naquela região do estado durante

essa época, podendo levá-las à morte. Como a safra da uva ocorre no verão, essas

baixas temperaturas não influem de forma significativa na eficiência do sistema de

polimento.

A evapotranspiração ocorrida no período demonstrou resultados coerentes e

encorajadores para a utilização de áreas alagadas construídas em

empreendimentos vinícolas de pequeno e médio porte. Com disponibilidade de área

e o cálculo adequado, considerando vazão média diária e evapotranspiração por

unidade de área, é possível projetar sistemas de tratamento que façam a

evapotranspiração de todo o efluente gerado pelo empreendimento, evitando seu

lançamento em solo ou recursos hídricos. Mesmo com a redução da massa líquida

as concentrações dos parâmetros não se mostraram acima do limite estabelecido

pela legislação, devido ao aumento no tempo de detenção hidráulica e à eficiência

do tratamento realizado pelas plantas e microorganismos.

Espera-se que diante da situação de procura por soluções de disposição e

tratamento de efluentes com baixo custo de implantação e manutenção, baixa

exigência técnica e características de sustentabilidade, a tecnologia de tratamento

via Wetlands construídos possa ser difundida e utilizada para a melhoria das

condições de tratamento dos efluentes deste ramo da indústria e para a proteção

dos corpos receptores e meio ambiente em geral.

6.1 Sugestões para os próximos trabalhos

Para os próximos trabalhos de estudo a serem desenvolvidos nessa mesma

unidade de tratamento de efluentes é sugerido que se faça o monitoramento dos

parâmetros diariamente, em um período mínimo de 10 dias na pré-safra, 10 dias na

safra e outros 10 dias na pós-safra. Essa análise diária é necessária para permitir a

avaliação dos parâmetros do efluente durante a entrada e as etapas do tratamento

86

até seu lançamento, uma vez que esse tipo de indústria produz um efluente de

características muito flutuantes ao longo dos dias.

Também é sugerido que seja avaliado o Tempo de Detenção Hidráulica –

TDH, com acompanhamento da vazão diária de entrada e de saída, com a

quantidade de água proveniente da chuva que entra no sistema, para maior precisão

da avaliação deste parâmetro e correlação da eficiência do sistema com o TDH

durante os períodos de pré-safra, safra e pós-safra. Outro parâmetro que pode ser

avaliado é a taxa de condutividade hidráulica do leito, principalmente para avaliar a

precipitação e adsorção de nutrientes como o fósforo durante o polimento.

A evapotranspiração deve ser analisada com dados provenientes do uso de

uma estação meteorológica que forneça dados precisos sobre a quantidade de água

precipitada, temperatura ambiente, umidade relativa do ar, velocidade dos ventos e

ponto de orvalho. Como a taxa de evapotranspiração exercida pelas plantas é um

fator de forte influência sobre o sistema Wetland construído e, pela grande perda

líquida ocasionada pelo fenômeno, a concentração de alguns constituintes pode até

mesmo se ver aumentada. É recomendável que seja realizado o balanço de massa

e remoção por carga dos principais parâmetros analisados.

O nitrogênio deve ser avaliado na forma de nitrogênio orgânico e amoniacal,

através da análise de nitrogênio total Kjeldahl, e na forma de nitritos e nitratos, para

que seja possível uma análise mais detalhada de onde ocorrem os fenômenos de

nitrificação e desnitrificação no sistema, inclusive pode ser avaliada a presença de

nitrogênio amoniacal não ionizado (NH3), e com esses dados determinar quais as

principais vias de remoção de nitrogênio presentes no Wetland e na Estação de

Tratamento de Efluentes da vinícola.

A remoção de patógenos em sistemas alagados também é conhecida e

estudada em outros trabalhos, e ocorre principalmente por sedimentação e filtração

para aqueles incorporados aos sólidos suspensos e morte por predação e

competição com outros microrganismos. Estudos futuros podem incluir a análise de

parâmetros microbiológicos para a avaliação deste aspecto, apesar do efluente

tratado na vinícola, pelas características de suas fontes de geração, não apresentar

indícios da presença destes organismos.

87

7 REFERÊNCIAS

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