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Sermão de Santo António Padre António Vieira O Sermão de Santo António, de Padre António Vieira, é uma obra que pretende dar a conhecer, através da críca, a sociedade do século XVII , tendo como principal objevo censurar os colonos portugueses no Maranhão para, desta forma, defender os direitos dos índios americanos. Este sermão foi pre- gado em 13 de junho de 1654, dia do santo que lhe deu o nome. Nesta obra, Vieira prega aos peixes, tanto no geral como no parcular, evidenciando as suas virtudes e os seus defeitos, com o intuito de cricar ale- goricamente o comportamento dos homens, que é comparado ao dos peixes, quer por semelhança, quer por oposição. Deste modo, surgem temas como a corrupção, a vaidade, a ambição desmedida, a ausência de força de vontade, entre outros. O pregador uliza, pois, a alegoria para desenvolver o conceito predicável Vós sois o sal da terra”, a parr do qual fundamenta a sua tese. Esta consiste na defesa da capacidade dos pregadores em louvar o bem e em impedir o mal que existe no mundo, tal como o sal evita a corrupção. A estrutura do texto permite-nos seguir atentamente as ideias do pre- gador. Começando pelo exórdio, Padre António Vieira informa-nos dos assun- tos que pretende referir e de como o irá fazer. A exposição e a confirmação estão, também elas, organizadas de forma lógica e coerente. Primeiro, são descritas as virtudes e, só depois, são explicadas as repreensões. Ambos os assuntos são tratados de forma geral e em parcular. Quanto à peroração, esta foi escrita com o objevo de sintezar as ideias principais do sermão. Quanto ao po de linguagem ulizada, considero que os argumentos de autoridade, os de carácter religioso (citações de Santo António e de Cristo), as citações de obras clássicas e o discurso figuravo permiram ao autor an- gir os três objevos do sermão, ou seja, ensinar, deleitar e persuadir. A vasta ulização de recursos expressivos, caracterísca do Barroco, recorda-nos a época em que a obra foi escrita e a exuberância desse tempo. No meu ponto de vista, o facto de o autor ter abordado temas como os que já referi, torna a obra intemporal porque, afinal, as crícas que Padre António Vieira faz não se verificaram apenas no século XVII; ainda hoje, no nosso dia a dia, vemos alguém extremamente ambicioso ou ouvimos nocias sobre corrupção. Para além disso, penso que o pregador, ao ter-se dirigido aos pei- xes para cricar os homens, tornou a obra mais apelava, devido ao contraste entre o peixe, um ser inconsciente, e o Homem, que, consci- ente das suas atudes, apresenta defeitos. Concluo, dizendo que o Sermão de Santo António, para além de apelavo, é uma obra através da qual ficamos a conhecer, de uma for- ma diferente, a sociedade do tempo de Padre António Vieira. Fabiana Filipa Silva Gonçalves, 12.º B Inês da Silva Ribeiro, 12.º A Ilustração: Beatriz Costa, 11.ºC

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Page 1: Sermão de Santo António Padre António Vieira · 2019-02-03 · Sermão de Santo António Padre António Vieira O Sermão de Santo António, de Padre António Vieira, é uma obra

Sermão de Santo António

Padre António Vieira

O Sermão de Santo António, de Padre António Vieira, é uma obra que

pretende dar a conhecer, através da crítica, a sociedade do século XVII, tendo

como principal objetivo censurar os colonos portugueses no Maranhão para,

desta forma, defender os direitos dos índios americanos. Este sermão foi pre-

gado em 13 de junho de 1654, dia do santo que lhe deu o nome.

Nesta obra, Vieira prega aos peixes, tanto no geral como no particular,

evidenciando as suas virtudes e os seus defeitos, com o intuito de criticar ale-

goricamente o comportamento dos homens, que é comparado ao dos peixes,

quer por semelhança, quer por oposição. Deste modo, surgem temas como a

corrupção, a vaidade, a ambição desmedida, a ausência de força de vontade,

entre outros. O pregador utiliza, pois, a alegoria para desenvolver o conceito

predicável “Vós sois o sal da terra”, a partir do qual fundamenta a sua tese.

Esta consiste na defesa da capacidade dos pregadores em louvar o bem e em

impedir o mal que existe no mundo, tal como o sal evita a corrupção.

A estrutura do texto permite-nos seguir atentamente as ideias do pre-

gador. Começando pelo exórdio, Padre António Vieira informa-nos dos assun-

tos que pretende referir e de como o irá fazer. A exposição e a confirmação

estão, também elas, organizadas de forma lógica e coerente. Primeiro, são

descritas as virtudes e, só depois, são explicadas as repreensões. Ambos os

assuntos são tratados de forma geral e em particular. Quanto à peroração,

esta foi escrita com o objetivo de sintetizar as ideias principais do sermão.

Quanto ao tipo de linguagem utilizada, considero que os argumentos

de autoridade, os de carácter religioso (citações de Santo António e de Cristo),

as citações de obras clássicas e o discurso figurativo permitiram ao autor atin-

gir os três objetivos do sermão, ou seja, ensinar, deleitar e persuadir. A vasta

utilização de recursos expressivos, característica do Barroco, recorda-nos a

época em que a obra foi escrita e a exuberância desse tempo.

No meu ponto de vista, o facto de o autor ter abordado temas

como os que já referi, torna a obra intemporal porque, afinal, as críticas

que Padre António Vieira faz não se verificaram apenas no século XVII;

ainda hoje, no nosso dia a dia, vemos alguém extremamente ambicioso

ou ouvimos notícias sobre corrupção.

Para além disso, penso que o pregador, ao ter-se dirigido aos pei-

xes para criticar os homens, tornou a obra mais apelativa, devido ao

contraste entre o peixe, um ser inconsciente, e o Homem, que, consci-

ente das suas atitudes, apresenta defeitos.

Concluo, dizendo que o Sermão de Santo António, para além de

apelativo, é uma obra através da qual ficamos a conhecer, de uma for-

ma diferente, a sociedade do tempo de Padre António Vieira.

Fabiana Filipa Silva Gonçalves, 12.º B

Inês da Silva Ribeiro, 12.º A

Ilustração: Beatriz Costa, 11.ºC