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Se/T/anario illustrado de Sciencias J:ettras e flrles P ropricl ario e Dirccfor : PP.. L E R. MO DE F 'f. R 1 p.. REDACÇÃO E ADMINI STRAÇÃO Offtcinas d' impressão e composi ção A LIBERAL R. de S. Paulo, 216 - 1-.- "c:l-:...,_ e. âo ai.? Pe."1a, (i , 2. 0 Tl ra ;,;- ,• m a:ooo 4• , 4"mplnrt · .. LI SBOA SEGUNDA- FEIRA. 4 MAIO 19 0S SERIE JUroEBO OYULSO 20 --'== ==== ==-========--- Ou vae ou .. .

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Page 1: SERIE - hemerotecadigital.cm-lisboa.pthemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Azulejos/N33/N33_master/...AZULF.JOS R. Xavier da Silva As cartas dos consolentes devem vir aco m panhadas

Se/T/anario illustrado de Sciencias J:ettras e flrles

P ropriclario e Dirccfor : PP.. L E R. MO DE F 'f. R 1 p..

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Offtcinas d' impressão e composição

A LIBERAL R . de S . Paulo, 216

-~-.r,,,.., -1-.-"c:l-:...,_ • e. âo ..,~OlfO ai.? Pe."1a, (i, 2.0

Tlra ;,;-,• m a :ooo 4•, 4"mplnrt· .. LISBOA

~

SEGUNDA-FEIRA. 4

MAIO 19 0 S

~

SERIE

JUroEBO OYULSO

20 ~s.

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Ou vae ou .. .

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AZULF.JOS

R. Xavier da Silva

As cartas dos consolen tes devem vir aco m panhadas da r especti va SENHA DE CONSUL­TA, e satisfazer aos seguintes r equisitos:

- •Nome de bati~mo; iniciaes dos sôbrenômcs e apelidos.•

( SALVADOR VILLARINHO PEREIRA ) Pharmacia do Instl/ufo 1 Cllnlca Geral • Partos '1

e Anno, mês, dia e hora, se pos­sivcl fôr, do nascimento.•

- 1Cór da péle, dos olhos, dos ca­bêlos. >

R. de s. Roque, IJ;, 1 •• - nus 3 ns s du rnrdc Pasteur de Lisboa \. T€LEPHONE 1573 )

~ cJ\ltura aproximada, estado de magrêza ou de gordura. comprimen­to exacto dos dedos da mão esqt.êrda, tomado do lado da palmn da mão; se t:m íQ~ iílli m~~

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Rua de S. Nicolau (Esquina da R. do Crucifixo)

. . os labios são finos, dr.lgados vu gros-ProJuctos esterilisado•, especiahdade~ na- sos, carnudos, e~pesso'>; sinaes da pé-

cionae• e estrangeiras, rcccituario. lc, congénitos ou adquiridos, cicatrÍ·

1 zes. Dimensões aproximadas da testa,

Rua Nova do l d 86 90 feitio do nariz. (l 'm retrato tirado de A ma a. a 1 frente e outro de p.erfil, seriam ex-

Em frente ao mesmo Instituto cclemes dados.)• . - • Docnc:i-. anteriores a consulta.

~JO\~~~ Saude dos paes. Se tem muita ou pouca força muscular e qual o esta-

u AZI COS DE CAPELlLl.R. do de sensibilidade dn péle.• A 200$000 reis - e Falando amda dos cabelos será

1 bom dizêr se são macios ou asperos. 8 Logares As veias que se di1·isam atravez dos

Rua da Assumpção 12 _ J A CRUZ tcgum~.mos s<ío c_hcias e_ azu~adas?. • • • 1 E alegre, aguado, 1·11·az, mcons-

LOUÇAS-VIDROS-TALHERES 911·'"'' Dlo: GRU"'

SÓ NA CASA DA::3. !..OUÇAS 33, R UA D A P A LMA, 35

Pedtro C&trlos Dias de Sousa

tame, facilmente irritavel, ?. - •Adora o prazer cm tod'ls as

suns manifestacõc• ? Quaes as distra­ções que prefere ?.

- Tem tendencia para a violencia, para o despotismo ? .

- E' cabeludo ou glabro? - Quaes os caracteres da marcha ?

JULIO Go\:fES FE:i ºRl?JI) .l & e A Costuma andar depréssa, devagar, a iVl lt '1 l ll T ', passo largo, a passo curto, com gra­vidade, b:iloicando o côrpo?

-- Qual é a posição habit ual da mão quando caminha? Fechada , ~emi­aberta, aberta? T em por habito levar

1 repetidamente a m:io á fronte, aos

C'o,r'/l'ºCB"Oli'º~ "a Casa Rea,/ 1 olho~, á boca, ao nariz, ás orelhas? r 4 1 J li Ui lifJ U1 J •Caminha de mãos- nas costas. nas ?.lgibeiras ? Esfréga-as muito? Cos­

Sil - RU'.A. O.A. VIC-TORtA _ QS tuma· lhcs fazer estalar os ossos ? L e· va repetidas 1·êzes a mão ao peito?.

• Dorme com as mãos fechadas, se-€xposição permanente

166 - RUA DO OUR0 - 170

Installações completas para agua gaze electricidade

Grande sortido de lustres em todos os generos

, . ...- ... - . ...,. • • .A

m i-cerradas, abertas ? E' tremulo ?. - • H a fri~ante contraste entre a

côr dos cabêlos da cabeça, da barba e das sobrancêlhas ?•

•Gosta de ftôres, de fructos ? Q uaes os preferidos ?•

A lem destes esclarecimentos, pode­rão os srs. consulentes enviar-me quaesqucr outros que julguem conve­nientes. A todos garanto o mais abso­luto segrêdo, a mais completa discri ­ção.

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S.• Sed e --n.0 S ~~~~~~~~~~~~~~~~~

illusfrado

CHA

E TORR~AD1\S

iío 1•os e11si11an•i a temer 11('111 fiÍO ptlllfO •1 dt!S·

pn!sar esses poucos por/ 11g11e1es .. . • .. .. Comecava a<;sim um

celebre discurso feito, cm tempos que já lá \'áO, pelo commandantc das forças indianas que ccrc:n·:un uma pequena fortaleza cm que, um punhado de bons e valentes lusita­nos, se haviam entrincheirado e on­de estavam decididos a éicrendcr até á mort;! o pendão das quinas.

:\'este momento d"uma solcmnida­dc, tah·ez maior ainda, cu pelo me­nos tão grande, poderia repetir ·as mc~mas palavras com ligcirissimas modificacões.

Collega-; e amigos, o \'o~so proce­dimento para comigo é inqualitica­vcl. Pois sabem que uma ,! icnça re­pentina atir~ com o meu dcS\'cntu· rado corpinho pa:-a a c:ima e me deixa a tremcli<ar; veun a parca implaca\'el de th::soura ,•,n punho e com as melhores dispo'>icões de cor­tar o fio da minha cxistcncia e re­pentinamente, logo qnc comcco '.l

dar signacs de que ainda estou ca· paz d'outra, intimam-me com uma

A liberal

ferocidade, que nem cu ~ei qualificar, a escrc,·cr o chá e /01'/'adas, como se não fosse muito mais facil beber o ch;I e sal'orear as torradas do que j:1bnt.11· esta pctisqu :ira para os lei­tores do Aiulejos que, certamente,

')1.'2a~cara$ i ff U$fres

1ftw:~~ ~I ~ _,.~~~

Vidor t1ugo

estão j.i fat tos e refanos de me atu· rar.

Eu tinha um recurso e não era mão; deixa-los sem eh;\ e sem tor­radas, laicr pan•,ft>, declarar-lhes term111antcmcntc que nJo me sentia disposto.

:\la5 n:ío tenho, felizmente. a bal­da de pregar peças aos amigos e, Ir mito-me a chorar amargamente a

J:etfras e .;<irfes DIHKClTORKS

~ = ) 4 ônttlC-ii<•,,. d e• UH # I K' l ll, lllt'U ~ P:.1tamo1Ho adcanuhlo)

SERIE DE 15 NUMEROS l.t•lO·l O prb<ineia-. • · • • • 300 f$

Colooi_. • • . . . . . • • . • • • . • IOO • \ (.obrolflÇ.A J'<'IO COrtt10 C: 1us;mtnt1da Jr t'C') rc11. =- ~~

falta de cnridade com que tratam um simples mortal que não tem a pe­sar-lhe na conscicncia a mais leve culpa e poderia até affirmar, sem re­c~io de ser contraditado, que é tal qual uma pomba sem fel.

;\las um 11rotcsto aqui lhes faço, solcmne, sole:nnissimo, e fixem-no bem no pensamento: ~ão tenciono tor­nar a adoecer, já mandei vir o e lixir de longa \'ida e, a primeira dósc vac seguindo o seu caminho e produzindo os naturaes effeitos; com mais ci!lco ou ~eis como esta volto aos vinte e cinco annos e, então, foliare­mos.

Y cnham pedir-me chá, exijam as torradas e fiquem certos de que hJo de apanhar um café manhoso e umas torradas tão duras, tão durac;, que decerto perderão o ''icio, para não dizer a maldade, de obrigarem um desventurado con\'alcscentc a traba­lho que, sem a menor du\'ida, é su­perior ás forcas de que dispõe.

Fiaram-se na minha bondade, con­venceram-se de que melhor do que cu só algum seraphim da côrte cc lcs­tia l e .•.

Pois fizeram mal; o tempo das santidades \'ae passadó, os milagrei­ros são poucos e. parl! se conseguir al~ucm beatificado é preciso perder o a•nor a muito dinheiro, e tanto que chegaria certamente para se erigir um monumento collossal e, ainda por cima, ter la'\'pada acccsa na casa de ;\léca, como quem diz cm Roma.

;\las, emfim, ha cousas peores, muito peores e con\'enço· me de que a intenciío não foi má.

Pron'Íett:im que não tornam e perdoar-lhcs-h.1 o attentado o vosso a1nigo~

Jo.\o P Ac1r 1co.

I

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2

Chronica A GULA

cE' mister comêr para vivêr e não vivêr para comêr•. Maxima de ava­rento que muito alegrava H arpagão e que, cm scen~, produ~ scmpr.c grande efeito com1co. Max1ma de ht· gienista, afinal de contas, que dc~c­ria constituir lei para as quatro quin­tas panes da Humanidade. · E' fora de duvida que comêmos em demasia e que o excessivo pêso alimentar, com que abarrotâmos ? organismo, favorece o dcscnvolv1-mento das doenças por afrouxamen­to da nutri cão, chamadas assim, por­que o pacic'nte quiz forçar e exage­rar a referida nutricão.

Que tudo isto, áfinal, não passa do pretexto hipocrita a beneficio do qual desejamos ocultar uma das nos-sas grosseiras paixões. . .

O alcoolico desculpa-se do v1c1? de bcbêr vinho, dizendo que este h­qu1do dá forças; o gulôso come cm excesso, alegando tambem que ne­cessita fortalecer· se.

E' absolutamente necessario Que cada um de nós tenha a franquêza dCls defeitos que possuc. Entre estes, dois ha capitaes: a gula e a /11x11· l'Ía. E' a êles que devêmos a velhi­ce e o esgotamento precoces. Ver­dade sêja que, sem essas duas coi­sas, este vale de lagrimas nos não ofereceria o menor oasis, e que, bem considerado, o ascetismo nada tem de invejavcl, mêsmo a preço de lon­gevidade segura.

Tão longe vac, porem, a nossa hi­pocrisia, que só bem raramente con­fessamos essas paixões dominantes e procuramos alindai-as, dotando-as de todas as graças scdutôras da bclêza, O amor tem sido cantado cm versos de todas as mctrificacõcs conhecidas, e a gula. verdadeira pt e versão do instincto da conservacão, tem dado assunto a varias alegorias poeticas, mêsmo sem falar nas copias de re­vistas e operêtas.

Para as damas: é defeito i11sig11i-.fica11te !

Para os padres: pecad1/lio ! Para os mcdicos : 11111 fraco! J' e11 passe .•.•..•..•.....•..•. Esta conccpção é absoluiamcnt~

inexata. A gula é um defeito fcissi­mo e horrivel que deturpa o moral e o tisico dos mortaes.

Pêlo que respeita ao moral, basta lembrar que tôda a paixão imperiosa imprime á mentalidade da sua viti­ma uma direção deplorave 1, ~ conser­vando-a numa sujeição continuae do-

AZULEJOS

minando-a em todos os actos e pen­samentos.

Jo fisico, o efeito não é mênos dcsastrôso. Basta lancar os olhos para os célebres quatrÓ quadros do afamado pintôr Boilly, para se fazêr idea nitida dos estigmas que essa terrível paixão imprime 4P>as feições, nos mo,·imentos, emfim, cm todo o feitio do gulôso.

Cns, no quadro A Gula, com a expressão da mais degradante bes­tialidade : olhos csbogalhados, pupi-

IDULHEaEs GHLHNTES

Labad~

las dilatadas, labios inferiores esten­didos e gestos mênos elegantes que os dum porco que, de cauda t repi­dante e grunhido sonóro, vac dcvo­rnndo a lavadura.

Aqui enlambuzam se as mãos num pastel de trufas, ali, (Vendcdôra de filhozes) enchem-se bôcas como o diabo encheria um caldeiro d'almas de condenados.

No quadro Os que tomam gêlo, vccm·se as figuras darem á bôca o feitio especial de. . . do. . . da ... como diremos sem fa ltar á conside­ração que votâmos ao leítôr ... dum posterior de galinha que acaba de pôr ô1·0, afim de ingerirem um sor­vêtc rapidamente {para pedir logo outro ao criado) e impedir que a substancia gelada toque nos dentes.

Os que comem m•as, {téla cxccl­lcnte) , não tcem as cerimonias dos precedentes, empurram o cacho lá pa1·a dentro com a ferocidade da hiêna ao deparar-se-lhe um ôsso de cada,·er. Bago, graínha, pélc, pó, en­xofre, microbios, tudo, tudo morre e desaparece no medônho abísmo da­quélas ca,·ernas de Caco.

Bem longe estamos da sobriedade C\'angclica e da temperança r<.!­comcndada pelos preceitos cvangeli­cos de todas as religiões. ísto, ape­sar de r oé não ter sido um absti­nente, nem das bodas de Canaan se poderem comparar com um jantar de quaresma.

Outros tempos, outros costumes. A Idade ~[edia tem as suas comc­sainas gratuitas, a Renascença o seu

Rabclais, o scculo XVII os !\CUS Bourbons, o XVlll os seus estroi­nas e o século passaao e o presente tem-nos a nós, que não sômos, nem menos glutões, nem menos gulosos que os nossos antepassados.

Scn\ bom, no entretanto nunca es­quecer que, muitas vêscs, a pinga é a mãe da gota.

D R. L uc1E:> 1 ,\SS (resumo).

--- ---o------

E:SPIRITIS MO Communicação de Um Desconhecido

(Do volume li Do 'J>ni; da L11;, no prelo)

(Co11d11são)

Conhecem o que lhes con1·êm; mas, T;1nlalos da dôr, não lhe podem che­g.1r porque o peso das suas acções más os não deixa guindará allura onde cslá a felicidade .

E" um grande soffrimento ! !\ào somos baslanle maus que nos sintamos felizes na lenlaçào permanente aos ir­mãos candidos e puros, que se deixam fascinar, nem que sintam(>S prazer em torturar, constantemente, a pobre hu­manidade terrena; ncrn somos suffici­enlcmenlc bons que possamos sentir prazer na 1·ida de sacrificio e de mar­tyrio, que é ncccssaria para apagar­mos as nodoas negras, que a maldade consciente pôt no nosso perispirito ou no nosso cnvoltorio, na sua passagem pela terra.

E cnt<'.o por aqui vamos errando, aflictos, desorientados, ora cedem.lo ás tentações e conselhos dos maus, ora procurando, aíflictivamcntc, nos con­selhos e no amparo dos nossos guias, a força para reagirmos e o estimulo para nos melhorarmos,

Foi por uma tentação ruim que te procurei; e foi cedendo a urna acção mais forte do que a minha e a de todos os meus deplora veis compa:1heiros vea­cidos, que tive que dizer-le o que acabo de di1.cr !

Parccc·mc que faço n'isto um gran· de bem, pois que me sinlo feliz . Do que provirá essa felicidade :-do con­vivio comtigo, ou do acto que pratico? Xào sei; o que sei é que tendo come­çado a escrever islo sob a pressão es­mag.anle de vontades superiores á minha, fui, pouco a pouco, sentindo de· scjo de prolongar a cscripta; e só sinto nào ser tào claro na exposição e tão convincente na forma, que levasse a luz a muita alm;i obscurecida que por ahi existe, ao mesmo tempo que pro­longasse indefinidamente esta situação de indisivcl bem estar e cnnsolaçào, cm que me encontro n'este momento!

Deus! pcrmillc que esle acto meu se lransforn1e no primeiro acto bom d"aqucllcs qui: me libertem e corrijam !

UM Dt>SCONHECID O.

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O Tamborsinho Bardo l'OR

Edmundo de Amicis

(Co11t i1111ação)

E neste anceio. ouvia o iunido e o estrondo das balas nas ~alas de baixo, as vozes do commando dos officiaes e s irgentos enrai\·ccidos, os lamentos angustiosos do8 feridos, o estalido dos moveis que se partiam e o r umor pro­duzido pela caliça que se desprendia d~s paredes.

- l\ 'vante ! coragem !-gritava, se· guindo com a vista o pequeno tambor - mais ... mais ... corre ... á\' ante .. • corre! •.. Lá pára o maldito! Bem, torna outra vez a correr!

N'isto um official veiu dizer-lhe, olTcgante, que os inimigos, sem inter­romper o fogo, dcsfr:1ldavam uma ban ­deira branca, impondo assim a rendi­ção.

-l\ão se responda !- - gritou elle, sem despregar os olhos do rapaz que já entrára na planicic, mas andando vagarosamente e parecendo arrastar­se a custo ... -Mais! mais! corre! . .. vociferava o capitão, cerrando os den­tes e os punhos. Mala-te . .. morre, scelerado, mas chega ! Depois soltou uma imprecação horri\'cl,e continuou:

-Ah ! o infame poltrão sentou-se! EITectivamentc o rapaz, cuja cabeça

até então se descobria por cima de um campo de trigo, dcsappareccra como se tivesse caido.

Passado porém um momento reap­parcceu ainda uma vez, furtiva mente, para perder-se de novo entre os silva­dos •. . e o capitão não o du mais.

Desceu então precipitadamente; sa­raivavam as balas, as salas esta,·am atulhadas de feri<l'os, alguns dos quaes cambaleavam como ebrios, agarrando­se aos moveis despedaçados que en­contravam; as paredes e o pavimento estavam manchados de sangue, e os cadaveres amontoavam-se ás por tas,

AZULEJOS

da defeza ia enfraquecendo, o desani­mo manifestava-se cm todos os rostos, e não era passivei prolongar a resis­lcncia.

N'um momento dado os tiros dos austríacos afrouxaram e uma voz tro­vejante bradou, primeiro em tudesco e depois cm italiano:

-Rendei-vos! -I\ào ! nunca !-urrou o capitão de

uma das janellas. E o fogo r ecomeçou mais vivo e

ma is fu rioso das duas partes. Caíram mais soldados; já hav ia janellas sem defensores. O momento fatal estava eminente, e o capitão gritava com voz presa, entre os dentes:

- Não vem ! não \"Cm ! .. . E corria

Modas e Confecções

em torno, fu rioso, torcendo a espada nas mãos convulsas, resolvido a mor ­rer no seu posto.

l\'isto um sargento, descendo do so­tão, exclama em altos gritos:

- Ahi vem soccorro ! . .• E o capitão n'um brado de alegria

repeliu : --Ahi vem soccorro ! .. .

3

Menina e Moça

IV

Beiio· te os olhos, beijo-te os cabellos, Milhõc~ de beijos tenho p'ra te dar ... E milhões que te dê nos olhos bellos Ficam outros milhões por te não dar!

Vê ló tu como são os meus anhellos N'esta c:hamma d'amõr a crepitar ... E~tc fogo é maior que o dos Othelos, Nmguem no mundo o póde egualar !

Eu tenho hei!os para m.inha mãi:. Eu !<;!lho bc1ios para mmha irmn, E be1ios tenho para quem não tem:

Poisei.- a~elha d'oiro - n'uma llôr, E fabriqut1 o doce mel do amôr Que co1hi dos teus labios de romã!

V

T rago-te sempre no meu pensamento, Levas-me sempre pela tua mão· E não passa do dia um só mom~nto Que ju1110 ao meu não vá teu coração.

Comtudo uma distancia nos separa, Uma distancia que não sei contar, Porque c~ta ancia que corre e nunca pára A mais e mais te vê disrnnciar.

E lá da Torre de Marfim, a tua Vozita aguda e triste como n Esp'1·anca Em vão me chama e em torno a mim llu­

ctua.

E' que tu é•, ó mei~a como um cicio, A rosa da lnnocencia e eu o Vicio : - A Perfeição que o Rude não alcança !

vr

Não tivesse eu o dom que vem de Deus O dom da lyra d'oiro que dedilho; ' Não voasse a minh'alma aos altos Ceus Como quem segue um luminoso trilho .. .

Não amasse eu a Fôrma da bailada, - Filigrana de luz de Portugal·­Que não~ teria a sina _desgraçada De Camoes, Bcrnard1m ou de Crisfol !

Foi para isto, ó Mãe, que me gerns tc ! Para isto ai de mim ! que me crias te, N'um sonho todo feito de belleza !

- Menina e Moça, perola d'amôr : Ames eu fosse um simples cavadôr E tu uma morena camponeza !

Abril-1908. AsTRICILDO C11Avts.

-------<>-- - ----Pensamentos O tenente tinha o braço direito par­

tido por uma bala, e o fumo e a poeira envolviam tudo.

-Coragem ! gritou o capitão. Cada um ao seu posto! Chegam-nos snccor· ros, vá, a.inda um momento de cora­gem.

A' que li a voz, todos, sãos, fe r idos, sargentos e officiaes, se dirigiram para a janella, e a resistcncia tornou-se mais feroz ainda. Passados momentos notou-se entre os inimigos como que uma la! ou qual incerteza, e um prin­cipio de insubordinação. De repente, o capilào, furioso, reuniu ;1lguns homens n'uma sala do rez do chão p<1ra espe· rarcm o inimigo á baioneta calada. Voltou ainda acima e mal linha che­gado quando se sentiu o estrcpito de passos precipitados, acompanhados de um hurralt formida\·el, e se viu das janellas, por entre o fumo, aproxima­rem se os chapeos de dois bicos dos carabineiros italianos, um esquadrão de caval laria a todo o gaiopc, um re­lampejar vivissimo de laminas espar­gindo scentelhas que caíam sobre as cabeças, os hombros e as costas dos soldados. Os sitiados então, abrindo repentinamente a porta, irromperam de baioneta calada, e os inimigos, va­cillantes, cm desor dc:m, voltaram cos­tas fugindo.

Não realis_a grandes coisas quem se preo­cupa demasiado nas pequenas.

Os aust riacos tinham-se aproximado mais, viam-se de cima, atravcz do fumo, o~ seus rostos enraivecidos; ouvia-se o cst repito das descargas, e os gritos selvagens acompanhados de ameaças de exterminio com que insulta\·am e intimavam a rendição.

Se algum soldado menos corajoso.se retirava da janella, os sargentos em­purravam-o para a frente; mas o fogo ( Co11ti11âa)

LA Roc11EFOUCAULD.

O estado deve dirigir a sociedade.

A1uSTOTl!LeS.

i\laldito seja o homem que confia no ho· mem.

JEREMIAS.

No mundo não tem boa sorte senão quem tem por boa a que tem.

Lu1z n E C AM6ss

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Al\t1ULHER Examina bem a consciencia, e di­

ze-me qual é para os corações puros e nobres o motil·o immenso, irresisti­vel das ambições de poder, de abas­tança, de renome ?

E' um só - a mulher : é esse o ter­mo fina l de todos os nossos sonhos, de todas as nossas esperanças, de to­dos os nossos desejos.

Para o que encontrou na terra aqucl­la que de,·e amar para sempre, aqucl­la que é a realidade do typo ideal, que desde o berço trouxe estampada na alma, a mira das mais exaltadas paixões é a aureola celestial que cin­ge a fronte da ,·irgem, idolo das suas adoracõcs .

Para o que anda por assim dizer perdido nas solidões do mundo, por­que ainda não descobriu a estrella polar ela sua existencia, o astro que h a-de illuminar a noite do coração, como o sol com os seus primeiros raios illumina as trc,·:is de um templo pa­r:i este, a mulher é uma idéa rni::a e confu-;a, mas brilhante, formosa e que­rida. Não a conhece, não c;abe onde esteja a imagem \'Ísi,•el da filha de sua imaginação, e todavia é para lhe por &os pés a gloria, poderio, riqueza, que e lle cubiça tudo isso.

T irar do mundo a mulher e a am­biçiío desapparecer:í de todas a'I ai mas generosas. Realidade, ou desejo incerto, o amor é elemento primiti\'O da actividade interior ; é a cru~a e o fi m, o resumo de todos os humanos affectos.

Al.l'X.\XORE lfrFCUl..\:\O. -----t>------

Cuilarra de Romooo/ li

O teu amor leonino, Ardente chama do A vcrno, 1);1rn-mc um nco varino l"ra me abrig;1r no inverno.

12

Um tyr<? de si<o falto Que muno ~abcr proclama, Faz lembrar um chapcu alto N'uma creança de mama

13

Na minha Yida maldita IJm só r.mor conheci : Foi o amor da desdita Que n;1~c.::u quando ua<ci.

14

Vibrando a sctta com arte, Cupido ~ereno e mudo Faz mais destroço< que Marte Com ·~padas canhões, e tudo.

15

A Caridade descerra Das t revas o negro vcu: D:\-sc uma esmola na terra, Nasce umn estrella no céu.

forfugaf pittore.sco A TI

u~t T.REc110 1io:. .lERoxYMos

CO~IEDI1\NTI~S J[

.Cucinoa Simões

Eis 11 na arfi1la '/lle, u font f1/0r,,/ka11rt11-lt odenlada, muitJ üria feit" tm fir:•Jr ilo alerantammltJ do fe,1lro parl11g11lr.

}tJd<J a sua uida allisli:a tem sido 11111 es­óa11jw1t11fo de mergi<1s que, co11rt1wle111wfe npruveilatlas, ajudariam a tramformar<lo prtt•i.la ti ar/~ dramt1lica 1uttiJ11a/..

A !.uciJJda Simlies caó1·111 duplas respN1-sahi/id,1/es tio atraSJ em que o 11<JSIJ ft,1/ro tiivt. C1JmJ direclora e &'ltfrt&111·i11 111111 ·a tleu i11tt11lir"s 11em aü11f"s .t 1110 i!nw lilira­lura f>~rlub11isa. ,lulu pelo c.Jn/1,11 iJ. Q11au­,1., as àn11m!a11:ias /11~ abria"' as fiJ1tas de ?1Jal111tr casa de tsftel.zmlor, era a primei­ra a ;,- hlllcar f'eru utra11i:eiras e a f.iri­las repreuntar com 1l r.Jra l.J a1J1dr.

Se usas p.:ças f<J11em d111111 /111m.i ,; /a,fe /itta;,1011/e, c,11111J são as de lóst11~ !lj .. 1"1114'""' J /1111plma11. S11.i,;r1J1a11, .\la.\', /111/be e .Strin­dberi:. que uos viessem abrir 01 o//Jos f<1ra os /t var a ofr o m(l/ rtJller'4"r·~', que 1Ms diss1'su111 q11a11to e c""''' s.: sofn f.Jr es.re 1111111-

tfo além, q11,; f<Jsstm d11111a ar/e f>tui/ícadJra do modo de ser da vida"" Ncieda te, vida /1auad11 tm hipocrilar cq11:omrJu, i11 lt1 te comprel1e11dia a detlka(iJ.J d.1 ac<Jllra, i11111 111ere&i<J apla11StJs o cari11/Jo com qtu f.Jram e11r,t11adas~ mas fJ.J!lar CcJllas a1.u 11.JJSO.t tsoilJrts de inl&nrJes s:ncll<1t, a?S dr,1,,,a­lurgos 11.n'~S d~ i fi,1s 11qz,is1br. 11, 1- rt1.1/111ttr­le para lame11!11r 111c f.tl(:i;: 111 ,\.'miJer atsi r

dts!tr.firasse o sm 11<1/11r11l t 1ltnf!), <111 ·m .~<111kv11 com 11 cxibi(àQ de lloJa re

S.111s-G,•11t? ,1 arte i,itef'frttatioa ti.is "•"·"' arlislas > .YàtJ JJ!JS pance. Af~umas se f.1rla­ram de errar, o 911& "ª~ aJ11Zi1 a, d,1 /,1 a fal­sida1e dóS caracf,;re.• da C<Jmm 1·(ial obra .!e Sardou. O p11Miço .> 1(1111/Jcm ml.J. X,l!J rete­reóeu da f>tça oritufll(iiJ a'guma fo1q11e as ./lt.11r11s são de&orativas e o que r tlte<Jrafit•o só agrada aos olllos. O mesmo açoufeçe" çom

~e o teu nmôr, Ro,,1 cm hot:io, J· ossc ~HlCCro, Do coração,

J:i n'c<t<: mundo i\:1da mnis qu'rfa Que teu amor, l.1nda M,1ri.1 ;

Dentro do peito J, bllo 'ilnto Eu S\:nuna, Meu ,fu..:e encanto.

se ~,1ri11ho.;:1, ~11111111 querida ; 1 cm dor, donzclla D'almn dorida !

Eu nnté< quero 'lun alma rura , Do que te <Ju'riil Com mui \C1Hu1a !

Porto 1908

.\IANOtL P1sTO r. l<RElllA .

Veja o concurso lejos.

g rande do Azu -

0 (;p·a1111 ,(( Uer.~eraç. Vâ11 dar algum msi-11a,;,e11lo? Que saih1lmos, 11t11k11m. .lfellm-11cs IJ,JS .:;11:_.i f.Js rtrsos ri/11111,/iJ.t; li1 Ott·uos i li1is f}Ut t:r-f rsemJs ª" J11:-i-/11s.

l.ucitt la SimJ:s, r"'"" diretl.,ra, sú se im· fJe ao 11JsN ruo11/1uimwt" de ama11tes dt ti­ra.l.Js pe/11 teatro, ao f.iz~r tia fu:ir e repre­.<Cular A Ca<a de Honeca$, (e 11<1" Casa de Roneca, como ltigJs fite d1ama1111, do grande dramatw;.o lbse11. Se os seus ac/Js de geren­cia se aquilot.itsem for aqui/e, t11liio sim, t•eriamos a .~rande illttrfrelnfa Thcreza Ra: quin de Zola, &01Jlrib11ir para o e1Jgra11deç1-111e11lo da literatura drama/iça jilosojiça, a tmica çapa:: de salvar o teatro f'Ol'/11g11ês.

i\!ARIO L ACE.

Xo proximo numero publicarcmo~ o elo ­gio - critica do actor juaquim de Almeida.

o------

- Ficcâo -'

Dcscêra tod~ a escála e'sa e•cuhura S"nsual e ardente. O olhar amor tecido Rcllccte um corac;ão jú pcr\'Crtido N'cssa mulher tão linda e tão impurn.

Porem, um dia, um homem, no calor D'uma p;1ixão arJcntc e \'ir~mal, 1\rran~;1 n'um impul<o ao loJ;1o;al ,\ impudkkia a maculada llõr.

E louco, ap?s, ma• com _amor, COJ!! pêjo, Saha·a. reJ1me-a no ma1< puro bcJ)O, 'strcilando ao peito :i que tornou mulher

E eu \'Cjo yenturo~a a rcJin11da, - :\lanon im1mra - - ai:orn co1wertida, A rir . .. - chorando ! cm seu ftli z vi\'er.

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DE

.,.,,!J:!°~~:u::. ~;~ª3 !:,~~: on.11111 p«tugu~J 4C O~nlo M1n1u2 ' e dJ fC"ltl• vi 'll, e, de 1-:,ntt10 RoJn~uc~ e ,\(A· c10 de P11v1 - Cr111cu e e-ri· tiC'ot - O t>.1~~ tr1~eJ11 cm 3 1c-1oi;, de ~lrmijbu, T. O. Mar1• , 23 1bril ti)?~

As ferias da Paschoo, obrigan<lo·mc a 1 nespcrada ausencia, me nfto permitiram

que1 como encarrcg<1do d'c,ta secção, as· sisu,se :1, primeira< reprc~cntnçõc< d11 M.i Si11n e c!o .1. /1. e. llonei l0' CO· laboradore,; meu•, suhs111uir;1111-1nc con1 vrnltngem n:l mgloria tarefo, e, depois de ver a primeira no suo 6 • recitn, o n segunda na suo 10.', de­preendo que accrtarom. Inda hcm. Dou-me por feliz. Tanto mui< tjuc nelles bu<co amparo <JllC me vai io, bord5o o qu~ me cn~oste sem pcri· go de molcstnr-me.

Como amigo qu! sonde tudo que diga re <peito a tC;llro, não admir,1 que procurasse sôfrego ª' criucos da imprenso Jiaria e ;1< 1.:ssc com a sêde dum impres<ioni"no novo. Trata\'a-sc da C<trern dum mú~o autor- natural era que os 1.oilos 1 isboctas corressem lestos ao D. Ma· ria e notificáswm o ad,·cnto da no­va obra teatral, notando·lhe quali dades, apontando-lhe defeito-, rc­ceitant.!o a forma de os desba,tar ; censurando o desempenho no que houvesse de mau, corrif:m.1<>-o com conselhos technico•, clogiando·o no que fosse de bom e rer,lura\·cl ; enaltecendo a cnscenacao ou admo· está-la no que ti\'essc Jc postiço o lal<o no passo que indic:i<sem as emendas a fozer. A minha ingenui­dade levou-me a divagar dema<iado. Lidas e relidas, nenhuma me deu a ponta de fio que me conduzisse a saber o que era, finalmente, a Al.í Si11n, qual o mobil do seu autor e se o desempenho estnria :\ altura da interprernçuo requerida peln peçtl . Conclui, desalentt1do, que niío houvéra cri· tico q_ue acertásse com o fundo filosofico do eprsodi<>, embora alguns por lá nnd.1s· sem tão perto que me ndn11r.1 se não quei­massem. Sim, porque n idéa geradora da "1.i Si1111, lembra um forte brazeiro que ele,•as. se a chomma para que todos a vi«em bem Quanto no desempenho, a critrca foi como costuma ser; empregou chavões \'elho< e relhos: • ... não desmancharam o conjun. cio .•. concorreu para o bom exito da pe­ça .. etc. etc.

Antes de entrar de analisnr, esmiuçando, a M.i Si11.1, permitam-me os pacientes lei· tores um a\'1so mdispensnvcl.

Como é sabido, o sr. Bento Mantun, é o secretario da redacc:io deste <cmanari?. Além de possuir este' Jogar, é meu amigo pessoal e ex·condiscipulo Tod.1s estas agravantes seriam talvc1 suficiente mOll\'O para me encontrar entre :'-c"lla e Ca­ribides, isto é, perfeitamente maÍ11e1ádo en· tre o dever de anoJi,tn 1mpardal e o senti· mento de amigo de,licado. Felmncnte nüo me encontro em tão dúbia situacão. Direi o que tenho a dizer com n condcicnda de que serei verdadeiro, segundo o meu cri­terio1 sem vislumbre de gesto cathedratico ou dicção empolada do 1111tl{iotcr di.t·it.

E para tornar facto o que pode parecer discurso, começarei por fazer a seguin te obsen·aciío a 13ento Mantua: E' bem feito o que a lmprensa tem dito da tua peça. N5o Yês que, com rnras cxcepçõus, o cliché cri·

AZULEJOS

tico é o mesmo: ignorancia do• princípios mHis rudimentares da arte <le fazer pecas e da arte de as interpretar? Vocês, auiores <lramatico<, é que são os culpados de que t~I 1gnorancia desça do cerebro anti-esthe­tr.:o de certos ..-ensores ao mudo hn::uaJo que \'ae a compór. Se \'OC.,:,, quanjo são atacado< na suo1 obra, se Jefon,fes<em das nrguiçõc; criuc3s, abrindo polemica que dc­nuncias<é o lado da rarão, já hn,·cria m:iis um bocadinho de respeito e acertaJn cen­sur". As,im não. Voccs, limitam·se a com· prar o numero do jornal que lhes critica a obra, esbócam nos labios o rictus do des­peito, fe.:h:Ím O< olhos como que a reter o nome <lo zoilo e, por ,·ing;m~a, cortam a local e i;uardam-n'a a sete cha"e'. Ora . devem concordar quJnto é hr.m<lo esse ges­to a.:\ro. E' por medo? :'\iío o tenham, por­que exceí'tuanJo dois ou ires ~riu~os, o• outros-pobresinhos !-fi.::im muJos corno peixes. 1 lorrorisu·me o ter de ir buscar fora do meu paiz qualquer coisa de no\'o, mas entendo que os grandes exemplos não co-

Figuras do Palco

P.clri:t Judith de Mc!lo

(Do theatro <lo Gpnnasio

nheçam' ídiomas. Quanto mais não $eja, sigam a ró t:i de Brieux, que 1osou - liJcra­rinment_c, é claro !-Catulle Mendés, por este ter cri ticado no jo11,.1utl a sua recente proJucão Simone, a qual não percebera o fundo in oralisador. Tanto mais que o nome do critico é respeitado, o tiue duplicou o \•alor da rcfutacão. Ou en tão focam como Arthur Bernéde; autor de .Vos .\f,1gistr.rts que ao "er·se incompreenuitlo, saltou ao palco e, antes de le,•antar o panno para a sua obra, conferenciou sobre o seu traba· lho. E a critica emmudeceu ... E' o que tu, ;\hntua, de\•erias já ter feito. ~lesmo qu~ da tua port2 maior lição ~cria \'Í<to quase 10Ja a criuca te jul!!ar menino e môco ... E a \'erda<le é que todo o arti<ta quê não defenJc a sua obra desperta Ju,·ida de que fo«c con•cié'nte ao insuflar \'iJa ao que se tornou publico.

Agora toca a dizer o que é a .\l.1 Si11,1-con~ição indisJ>ensa\·eJ para as precisas con­clusO\!s.

r.0 acto: Antonio. velho moleiro do Riba· tejo, tem dois filhos: Pe<iro e Manoel. O segunJo nas~eu á custa da \'ida de sua mãe, \'ictimada por mau parto. Pedro, é o ai jc<us de seu pae, emq_uanto o irmão Je,·a \'id1 nomada, sem C<1r1nhos. Thomé, guar<l;1 de "inha<, ,·em pre\'enir Antonro, de que lhe irá contar um caso que muito o interessa e para o qual pede toda a. atenção. E<tando, na vesperal no seu serviço nomrno, notou que um vu to se aproxima1•a <ln azenha. Fez-

5

lhe e<pcc1c tal \'Í<ita e perguntando que:n era e ;1 que \'inh.1 não obtc\'e rc<po,1a. Já impaciente. meteu a ;1rma ;Í cara do desco· nheci,lo. E<t.:, colocou o ro<to para que a Ju,1 o iluminas<e. Era M.1nocl que, •moído l.IC ~·auJt1de » i\rocurot\'U H ~a~a rat ·rnn. PeJe a Ant1m10 q11e o re;:cha O moleiro, recusa. l'homé in,t.1 e :li hurncnu ..:om raló.e-; Je

sentimento, o que obri;.:.1 Antonio a dizer num crc~~cn~lo ,rir .t :

oO"i ' Thorné ! l'oi< e• tu, que eu sem· pre U\'e na conta Jum homem de: bem e a quem scrnp ·e <1ni1. como a um irmão, que a<sim me falia: l'<>i< nú<> 'ahe< que elle matou' '\:ío """que p<>r m:ii• que ellc Jn,·e :is 1nao"i., h.10 c.I-: sempre cheirar 3 san­gue : . • . E' urn '"'ª"ino, Thomc, é um as­'\as'.\ino ! ...

'f'rtO\I .

Ma< pele> seu crim~ i.;em"u na prisão e ante< de ni.itar ... é teu !ilho.

A~TO~IO

lfâr.1 dt' .<il ~leu li .. nunca. Ar· rc11c~o o. So tenho um lilho; e a<1ncllc que C<t:í ;ilém . (apo11ta a tlf('llhct) O meu Pedro.

"J'HOM~:

Oh! Tonio, tu trc<valias ! Olha que com c"e f.1lar c<t•Í< a pôr bocca pe.:onhen1.1 na honra d';1quclla que foi' tU•I mulher e que J)~u< qui1. chn· mar a ~i.

ASTOSIO

( ('omp/('f,1111t1111~ tr.wslorn.tdo e 1wm ;:rito) <iit\! Di:u'\ ")Uil ~hamJr, não. Que e<Se m 1ld110 ~l .onocl n1a1.;iu ao cntr,1r llil ,·iJ,l.

T110~1t

E a culju foi dclle ' '\5o; tinha de ser. El e é que n.1sccu com má sina ! l>c:roi..; tu nem scn1jlre o vi~ce com b.ms olhes . . ArreJ:is;e·o de ti, muito"º"º e quem s~be?

A''º"º Oucrn <abe ' . . <Jllcm sabe ? Sei

cu.'Ellc ,lcs,Je pc<jucn? 1;,i ruim e, como ruim .:l1egQu a ponto< de ma· tar.

Trro>rt:

E <abes lá <e não teve razões para o fazer!

AsTOl<rO

(com com•icç.ío) Um homem de bem não mntn monca.

Trro\I~

ls<o di?.e< tu por-1ue nunca se te aferrou rn l idé:1, mas oJh,1 que quando ella nos toma ... n:ío ha de fui:;ir-lhe .. . E depo is quem te af1<1n~.1 que o \lanél não est~ mu­dado! .. . Pobre d'elle ! Contou· me a SUd

\'ida toda. E' de f.11.er doêr tudo cá poç dentro!

Al>TOSIO

Qu~I mu,JaJ<>, qu~l diabo! O lobo muda o pcllo, m.1< n:i<> o ""'º·· ( 1.• acto - Sce· na IV).

Thom,, n:io .::on>egue ~On\'Cn.:ê-lo. Pedro que OU\ 1r.J~ :to '\air J;.1 .tzcnha, a convcro;a renhi.l.t inter.:.i.le rara o que o rac d.: lrcen· c.1 . O m<>lerro conn~n.:e·<c J>Or hm e Thomé \ ac de corriJ.1 bu<.::ir .\1 moei. '\um1 <cena de permeio, ,\ntonio faL \'er ao Jilho preJ1-lc10 qlte seu irmã? tra1. cJc•graça consigo.• ao <jllC Pc.lro rc•pon.lc : . . . cSC o pae o tr• ,·es.c con,cr\'aJo junto de si, t•1h'cs ... • (S.:ena \' .

Chefta ~t.inoel, tri<te, cabisbaixo, rcceioso <lc <IC!ront;ir-<e com seu pae. Pedro rece ­be-o de hr,1ço< .1berto<. O moleiro com ma­nifesta indifc1en~a rcpulsi\'a. ,\ o fim de lon· go com·cn.:imcnto, Antomo, c<tcn,!e, a cus­to, os br.1.,os ao rc.:em\'indo. A repulsa cominúa, \lanod quer que o pae oiça da sua bocca o <JllC o levou a matar:

- •Quando ha oito annos estive aqui, de

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volta da serra, donde abalei por morte do pastor. - honr:ido \'elho. Que a sua alma esteja em descanço ! - botei todo o •emi­do em ir ganhar a ,·id~ e daqui me fui com o coração cheio de fé. Andei um tempo sem tCT onde moirejar - pouco foi - té que um dia, pelas ceifas, to~ei que fozer numa herdade do Alemtejo. Nem calculam com que ralei me atirei ao trabalho! A i;en­te da ceifo em em bardo, mas eul cm pouco tempo, ganhei fama de ser o me hor ceifei­ro! Entre as mulheres da malta, h;1vin uma rapnriguitn muito nova, loira, como uma CS· pi~a madurn, branca como o leite, e coín uns olhos tão azues e tão serenos que fa­ziam nlembrar uma noite de ,·erão. Pou~o foln\a e cantava inda menos. Por i'to e mais por fazer pouco della, a gente da malrn co­me~ou de chamar-lhe: •n priiic.tj•• .. A uni­ram-lhe :\ cára risadas de troca, chamaram­lhe o que muito bem querrnó1, e cita, tu,to sofria calada. :'\unca lhe dei a palavra, nem ella a mim, ma~ sentia ro~r-me de pena e:\ por dentro <empre que estavam a fazer pouco da pohrcsinha. Uma tarde, ao largar do trabalho, o mnnagciro, tipo ruivo, de olhar \•êsgo e desconfiado. alto como um pinheiro, furte como um toiro, abeirou·se da •princeiª' e qu1z fazer-lhe umn fc•tn nn carn. Elia empurrou-o com (Isco. Vac cite voltando-se grita: - ·Eh! gente! Vocês nlío veem como a prince;a está ari•cn ! • E mais pérto d"ella diz.lhe: - c/\nda< pnra ahi n d1egore~·te aos homcn< como cadclla alu:\Ja e estás-te agora a fazer de sant.1 ! Pois has·de ser minha por bem ou por mal e mesmo aqui, deante de toJa a malta.• As f.1ce• da prince;a pozéram·se da côr <lo sangue, \'i a< lagrimas a bailarem-lhe nos olhos. E a mnlta. toda ella a rir com as pa· tanas do 111.11111gciro.

TnOMÍI Malvado!

Penn.o

Alma ruim! MANO&L

(com eertn aversão) Se elle era ruço! ... elte era ruço ...

Ai<TONIO

(i11teress.1do) Ao despois ? ... MANOBL

A? de<poi< elle avancou para a pri11cc;a e ia a toma-ln ~os bráços, quando eu, ceizo como n toupeira, me ponho de um salto entre os dois.

PEDRO

Bem andaste . . . bem andaste ... MAN06L.

O manngeiro, no ver-me, mediu.me de alto a baixo e desanda a rir, bem como to· du a malta. - •Toca-lhe com um dedo, se és capai ! lhe digo eu•. - •Se sou capa~ •• respondeu cllc ao meu des-ifio, cuspindo para o lado com desprezo - • Atre\'C-te ... anda ... •-•E'o~ue ,·aes ,·êr•-C nisto, avança para elta. Entã<~, sinto uma onda de sangue a turvar-me a ''1sta e arremetto com cite. Começou a briga. Agarrámo·nos pra· gucjanclo, apert:lmo-nos, morJêmo·nos, os nossos olhos feriram lume, de raiva ; as nos­sas hoccas espumavam fel, vergámos, cahi· mos por terra, para ali, como um novêlo, rebolámos qual debaixo qual de cima, té que cu1 num arranco dnmnado, bóto-lhc rap11lo ns mrtos ao pescoço. Elle tenta escupar-me apcrto·lhc as gueltas; cra,·a-me as unhas, o perto mai~; rassa-me as carnes, aperto sem­pre ; e<bugalha os olhos, aperto ainda ; ex· trebuxa, aperto á má alma, e mato· o, mato·o como a um cão. (most1-.1 pelct cJra e pelo tremor 11:io o perai· de ter morto o m.111a­r;c1ro, m.1s o p.wor q_ue lhe causa o ruordar aquelln morte. Depois d'um.1 tr.111siç.fo) Foi a~sim .. . foi assim ...

PsoRo Valente lucta !

ilfARIO LAGR.

(Co11ti111ía)

AZULEJOS

PELAS ARENAS CHRONICAS TAURI NAS

;\luitos contos de réis, segundo é fama, tem custado a ganaderia ao s r. i\!arquez de Castello M elhor, e, pena é dizei- :> ápartc as lindas estampas de touros e vaccas que possuc, é uma raça quasi desaproveitavcl.

Cuidando d'ella com entranhado amor, adquirindo scmcntacs dos de maior nomeada, não tem o illuslrc ti· tular sido feliz nas cruzas, pois que a maioria de seu gado br:ivo comquanto não accuse todas as m{ts intenções e lodos os predicados d'uma raça abas­larclada, pode bem affirmar-se que qu<1si é composta dc·m;insos, ;ipcsar, d..:, como acima se disse, n;\o haver cm Portugal lavrador que possua m;iis lin­dos exemolares de touros de lide. Se cm Tlcspa.nha o gado do sr. ;\l:irqucz ele Caslello Melhor consegue fa7.cr fi. gura ao lado do de alguns lavrarlorcs do visinho reino, o mesmo nào succe­de nas nossas arenas, onde o gcnero de lide é muito outro, apesu de o não parecer aos profanos.

Pouco feliz foi o sr. Anlonio Luiz Lopes, de Villa franca, ao adquirir scmilhantcs bichos para o inicio da sua ganadcria, pois, dos dez que foram cor · ridos no dia 2Ó no Campo Pequeno a nenhum se pode qualificar de bom, vis· to que apenas o primeiro da segt1nda parte deu algum jogo ao cavalleiro Manocl Casimiro.

De todos os outros pode unicamen­te destacar-se o i .0 que bandarilhado por ;\[anoel dos Santos e />aquela, que veio cm substiluiçào de G1trroche, demonstrou possuir alguma poh'ora, chegando mesmo a rcfa7.er-sc á mule­ta tlc Q uinito.

Com materia prima de lal natureza, claro é que não podia agradar o cs­pectasulo.

Foram cavalleiros i\lanocl Casi.miro e Morgado de Covas, e aqucllc, que no primeiro touro leve muito traba· lho para conseguir collocar um ferro á meia volta, e outro á garup;i, tou· rcou tambcm o 6.º, o tal que queria dar mais alguma pdea, e que i\lanocl Casimiro podia ter melhor aprovi:itado dando·lhe lide diffcrente. Ainda assim faz-se applaudir.

Morgado de Covas, que estreíou um cavallo lindissimo, toureiou bem o 4.º podendo no 9.º esta r melhor, se me­lhor lhe tivesse conhecido as inte n ­ções.

O espada Q11i11ito, nosso muito co­nhecido, continua sendo o mesmo ar­tista, frio, apathico, cautclloso, sem enthusiasmos. 1~· um grande bandari~ lheiro, sabe-se e dcmonst r t)u·o na lide do 5.0

, toureiando-o com intclligencia e mestria, mas mostrando-se por de­mais receioso.

Com o capote e muleta nào se mos­trou o mesmo Joaquim l\avarro que tanto temos applaudido.

Os nossos bandarilhc iros diligencia-

ram agradar, mas, francamente, com taes touros, nào o conseguiram.

em 011 outro par de todos elles, havendo unicamente a mencionar-se um bom, no segundo, por Thco::loro, que executou l ambem uma gaiola ex­cellente; outro de Cadete, dois bons quarteios de J\ [anocl dos Santos, e um bcllissimo par á volta, de Tor res Branco, no ultimo, em que demons­trou o seu singular conhecimento das rezes. Thomaz da l~ocha, que no 8.º

M ANOE;t, Goi>7..\Ll'7. (!Urre)

foi colhido aparatosamente, por dar o engano demasiadamente curto quando tcnta\·a um quicbro, desforrou-se de· pois com um magnifico quarteio.

l\a bréga todos ellcs lidaram acer· tadamcnte; conhecia·sc-lhcs a vontade de tapar a maldade dos touros.

Os forcados, como: sempre. Desu­nidos.

O sr. Jaymc J lcnriqucs, que contí· nua, por impedimento de Carlos Mar· tins, a dirigir as corridas, manteve-se á altura dos seus conhecimentos.

-----tt------Soneto

SIBERIA NOVA Para o J. Simões Coelho

-Ser ou não ser! - E as multidões preci· tas

que se julgam perdida< vão passando ... - Importa lá que o Sol ande canrnndo epopeias b1·ilhantcs e hcmditas !

Nos circulos de Dór, nas infinitas veredas da De<graç:1 vão clamando, - por níío amar, <ofrcndo e blasfemando­as multidões exaustas e malditas.

Em vão a luz do Sol ra•i:a o espaço, e a \•idas as chama rcJcmptoramente, - que é muito o scepucismo e o cansaço . ..

E fantastica e triste, - reta tre,·a, sobre a ne\'e cal;iJa e tr11nsparente, - Vai perpassando o tenebrosa leva ...

Lisboa, Março, 1908 AucusTo CASIMIRO.

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M adrugada Vinha rompendo o Sól. De entre a dcnsn

ra1nada despertavam cantando o melro e a cotovia, saudando alei:remcnte a auroro que nascia refulgenie de luz, de ;irômas perfumada.

A vida despcrta\'a; o campo re\'hia. E o bom trabnlhador acarinhando a en~ada, alegre e forte e ,fto, co'.1 mente descuidada á terra me buscar o pão Jc .:ada dia.

Do Camponez a e•posa, a boa companheira, - ha 111uito já se ergueu - , sorri-<e pra-

1cntcira ao filho que no berco acorda; e cmbcve-

. cida.

Ao vel-o tlío rosado e hello com a nuróra, erguendo ao céu o olhar, cm prece muda

implóra que Deus o faça bom, lhe dê ~aude e vida !

11. A. llAC>:t.l.AR. ------e

CURIOSIDADES

Límpeza das Garrafas - A Ja1·agem das garrafas deve >er c<crupulosa, solm:tu· do se alguma< ~ão j:í scn•ida<.

N'este caso com•cm lh•ral-as de todos os deposito< que, co:n o tempo, se tem agar­rado ás paredes e ao fundo.

E' mau o emprego do chumbo de caça, que tão usado tem sido, com o fim de esta­belecer no interior da garrafa um aurito, que despegue o derosito que as barra.

A dispos1çã<! parttcular do fundo 1las gar­rafas retem mtallados grãos de chumbo, que, com o 1•inho, poJem originar prind­pios nocivos á saude.

E' preferi1•el sub,tituir o chumbo por areia grossa, <ó, ou misturada com um pouco de carbonato de <oJa, quando hou­ver deposito< de t.1rwro. Quando •e empre­gar o carbonato <leve ser quente a nsua, la1·ando-se depois muito bem a garrafa com agua simples, por mai, d'uma \'ez. Sem esta precaução aherar-se-ha a cór do 1•inho que se deitar na garrafa.

------Q

BORDADOS E RENDAS

------ .,;-------Cumutos

'Da impr11d1mcin - Pisar a caudn d'um cometa.

D,1 religicio - Confc~~nr-<e a um frade de pedra.

Desfrnldar a bnndcira d.1 pona.

Ensebar o cubo da roda da fortuna.

AZULEJOS

FEITICEIRO DAS TREVAS

Cous11/e11te: A11f{elica R.

Bem equilibrada moralmente, leal, socia,·cl e tendo especial aptidáo ao casamento, á vida matrimonial, ao home!

Peço-lhe que não ame demais: Vé­nus espreita a de braço dado com o patife do Saturno: se V Ex.ª deixa aquecer demais o seu cerebrozinho, arderá tõda no fogo das mais violen­tas paixões e não serão suficientes os 16oo Sapeurs-Pompiers de Paris par:1 extinguir inccndio tão voraz.

Est<i escrito que hadc casar duas ,·êzes. A primeira será um pouco contra sua vontade, casam~nto mais de convcnicncia que d'inclinação. .'\ sua dextra conjugar-se ·ha com a do seu primeiro marido mas a ílôr da sua alma estará, nêssc momento, desabrochando noutro jardim ! E' a ocasião de têr mais prudencia e jui­zo do que o proprio Sa!omíío quan­do mandou cortar ao meio o lenda­rio pimpôlho que, tendo duas mães, deveria ter nascido duas vêzes. A menina deve sofrêr o seu primeiro espôso e não o fazêr sofrêr; canto mais que o não atura muito tempo: o homem, a breve trêcho, irá 1>0,•oar o A<;tral.

O segundo será feliz com a consu­lente, a consulente com êle e ambos com os muitos filhos que teriío e en· tre os quaes V. Ex.a, muito velhinha, expirará ditosa.

O que acabo de profetizar-lhe é talvez a melhor resposta ao que se refere no fim da sua carta, Lem­bra se? A uuica ambição em pouco espaço de tempo!

Hade têr uma doença, para trata­mento da qual sofrerá queimaduras com térrno·cauterío!

Vou agora explicar· lhe a razão do seu defeito tisico.

Em 1798, governando a França o celebre Diréctorio, do qual, segundo afirma a cancão, Barras era rei e Langc a raini1a, vivia cm Paris uma linda rapariga, loira como um trigal, de labios frescos e vcrmêlhos como um morango recentemente colhido e cujos olhos de côr de safiras de Gol­conda, brilha,·am como dois soes en­cravados num rosto oval e branco e puro como a alma dum recem nas­cido. Requestada por um inc' .. ivcl que comia os r 1· p:ira, coitado, comêr alguma coisa, a linda pequerrucha deixou-se ir átraz das cantiga" do malandrim e amou-o. Quiz-lhe doida. perdidamente; e quando êlc, um anno depois, a abandonou como se éla ÍÕ· ra um par de luvas ensebado ou um livro de pr.ginas amarelentas e ras· gadas que jâ se leu mil e uma vêzcs, jJara ir d<tr a mão de esposo <i filha dum m1:rcieiro da rua S. Dcnis e po­der assim satisfazêr as urgencias do estomago com alguma coisa mais do que r r, que afinal, por serem letras duras, infligem o martírio da dispe-

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psia a estomagos de diamante; éla a moça d'olhos cerlilios, a princêsa dos cabêlos doiro, vitipendiada, feri­da no pomo mais sensível dêsse ideal de felicidade que se desmoronava e caía como um roble secular atingido pêlo raio; éla, ao sabêr que a sua rival ia sêr mãe, exclamou :

•Que o producto dêsse amor que cmc cscalpéla a alma e me dilacfra •O coraçáo, nasça hediondo, mons­« truoso, aleijado; e que os defeitos cfisicos do filho sejam caus:1 da cons­«tante amargura dos paes ! ...

Dois mczes depois, a criança nascia, deformada, côxa; e nêsse mêsmo momento a rapariga abandonada, o ente que tinha pedido a terrível pra­ga ao inocente: entregava a alma ao Criadôr ! O seu espirito vogou, du­rante muitas dezênas d'annos, sôbre as etéreas ondas do mar da Eternida­de ; era triste e amargurado porque vergav:1 ao pêso do Remor~o !

Pensavn que a sua dôr náo teria fim. que fosse eterno o seu castigo!

Uma tarde, foi nos primeiros dias de Outubro de 1883, viu diante de si um anjo resplandecer.te de luz ; brilha­va-lhe no rosto celestial, simutanea· mente, a Piedade, a Esperança e a Dôr !

.~\ulhcr- exclamou o anjo dirin· cgindo-sc á coitada, - rncs renascêr •Olll~a vez para a vida terrêna; rc­cencarnarás amanhã no corpo duma ccriança que será mais tarde uma e mulher inteligente, afavel e bôa, •mas. . . cm castigo do teu passado ccrirnc, entrarás no mundo com o e mês 110 aleijão que outrora pediste e para um desgraçado que mal algum ate houvéra feito! ...... ... .... ....................

Efcctivamentc, no dia seguinte, nas­cia uma criança com o pe direito mais curto que o esquerdo e lendo dois dedos ligados (si11dact ili<1) .. .

Tudo se paga ! G. C.

'1'C"Jll • ,.c ll fUli c o1uo1 n Mc nhn el e COtur,.u J .. tn e: d cmnl111 r c •1 n l ,. leot1 .

------· --- --Semana fllegre

llm toque de campainha : -Quem é t - '\ão mora aqui um <ujcito que morreu

a semnna pa"ad<1. - Não senhor ; é na porta fronteira.

Bolos de amendoas.-Deite-se n'uma meia um htro de f.irinha; í.lça-se um bu­r;1co no meto, clci1c-<c n'eile um pedaço de manteiga do wnvnho <l'um ovo, quatro 01·0• imeiro<, umn pirnda de sal, 125 gram­ma~ de a<sucar cm pó, 1 50 grammas <le omcndo<1' pi•adas miudamente, amasse-se tudo jumo e forme.se um bolo rnl11ar. Cosa-~e, polvilhe-se d'assucar e passe-se

por cima a pá cm braza para o queimar.

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_ç:. ·-QUAL É .4 COJS.4,

QUAL É ELLA?

O COrlCURSO DA 2.ª SERIE Quem ganhou os premios.

AZULEJOS

A lista dos decifradores e as soluções dos artigos publicados são dadas de 4 em 4 nu­mero<.

As decifrações de,•em ser en\iadas relo correio cinrnndo a pn~ina do semanario e pondo-lhe uma e<rnmrilha de 5 réis.

Para que todos possam concor rer , não da­mos ai nda n·este numero as de:ifrações da 3.• serie.

Cha radas Hovi esim a

:\'a cosinha consinto esta ci,faJc pMa ter

Um tinteiro de prata e o titulo confian.;a cm mim l · I ·%.

de campião, TIRA MITRAS &e e.•

o 2.0 e 3.0 premios '"'•' ~., ~--~~~ ~9~c.._:-.~- .:;~.e_-~··- ~_Jj!'~

1

~- 1

~"1 Camp/âo da 2.' serie ~ D. CELESTE DA CONCEIÇÃO~ Dup las

CHAGAS [z-\ A herva ''cm dºcst.l rcpublica-4.

~ lf ua da ]Jarroca, 107, 2.0 '*1 Artigos decifr ados, 174 CJ 1

;ft·~~~ ,_ - _ ... ~~$ ~~ /1\~ _!......- 1 _.,!.-...• - ' .!_ _!..~..J-..''' 1

1.• Premio - Um !inteiro de praia Ü~ prcmios l'C~tantcs cabem :

2 .º P remio - As duas series do •Azu lejos• cnco.d ernado.s em p crcalino., ao Ex. S r. L uiz Silveira (S om brio), re­sidente cm Sctub:il.

3 .º P remio Uma assignatura gratuito. para a 3. serie ao Ex.m• Sr. A b ilio d e Sous a (Bailio), rcsic.lcntc no Porto (l los­pital do Bomlim .

Os dois primeiros prcmios podem ser rcquisirndos n'csta rcdacçiío em qualquer sabbado, das 8 ás 9 da noite .

Flôr e planta·2.

Syncopa da

3-Xão é cara esta veste·2.

i---1

AÇN'ARFPSI(

ru~1ru~t

S'IOCK

O GRANDE CONCURSO ~-----------DA 3.A SERIE Bis ada

Tran a poata

Palmeira espinhosa da America-2.

Augm en tat iva

Fructa·2

Enyg mas

Por i n i c iaea

1-TDESG 2 3 2 3

DJ\'1XO

TEACHER

OJUAR;\

C CMEFB AD 2 2 1 3

BA ll.tO

D D .b' lt C D D O E Y 3 1 2122 1 2 1 1

J. r.

A L N D A L 3-:'\as machinas de costura se ,.; o z 3 2

e inco premios 1. 0

- Um r e logio d'ouro Z e · n ith.

2.0 - Uma palmatoria de pl'ata.

3 .º - Uma biscoiteil'a . ./·º { ·111.1 fo//1!,·~-.fo ,fo •. 1;11/ejos.

e11c.1.ler1111.l,1 1•111 J'l!l'fa//i11a. 5." l ºma :i~~ign:iwra gratis para a

4.• serie.

Condicções d o C oncurso 1.• llccifr.1r, durante o< 15 numero< da 3.•

~crie, maior nunh:r'l d'.1rtiL:O'>, ttlt.·m '"Ili.! 150. 2.• Para q~e os nossos leitores possam

concorrer em grande maioria resolvemos mo­dlftear a 2.' condicção do concursu, augmen­ta ndo·lho o praso. assim:

Poderão enviar-nos ns 11ecifrações du rante um intervallo de 15 dias, a contar da data da sua publicação.

creme-2. SADO

De p alitos

Trunca da

o redaço do apdli,Jo-2. Tirando 9 palitos fi~a um instrumento.

CH,\\ll'IO" RFI DOS DOIDOS

Artigos a decifrar, 13.

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3.• ~_cr_·i c ____________ __:_:AZ~LEJOS XXXII[

. -.h)

~o meu arni~o SQ\'erim dQ M\lrae5.

1~ fADO da PeçGl "fluto da t'lisericordit1,, •

t )usica de füf~oo M 11~ff u1\.

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PIANO E

CANTO.

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, ren ____ to com a mor_re Que passar ou não pas __ sar E

sor __ re Que pas __ sar ou não pas _ r.-.

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Todos os numeros publicam um trecho de musica[