série cadernos formação: governo aberto

Upload: mayara-satiko-akiba

Post on 13-Apr-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    1/41

    Conhea todos os ttulos dosCadernos de Formao

    1. Direitos Humanos e Cidadania

    2. Educao Popular e Direitos Humanos

    3. Participao Social e Direitos Humanos

    4. Direito Cidade

    5. Conselhos Participativos Municipais

    6. Governo Aberto

    7. Planejamento e Oramento

    Cadernos de Formao

    Governo Aberto

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    2/41

    Cadernos de Formao

    Governo Aberto

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    3/41

    Expediente

    Prefeitura Municipal de So Paulo

    Fernando Haddad Prefeito

    Eduardo Matarazzo Suplicy Secretrio de Direitos Humanos e Cidadania

    Guilherme Assis de Almeida Secretrio Adjunto de Direitos Humanos e Cidadania

    Giordano Morangueira Magri Chefe de Gabinete

    Maria Jos Scardua Coordenadora da Poltica Municipal de Participao Social

    Eduardo Santarelo Lucas e Karen KristensenMedaglia Motta (estagiria) Equipe da Coordenao de Participao Social

    Vicente Trevas Secretrio de Relaes Internacionais e Federativas

    Gustavo Vidigal Secretrio Adjunto de Relaes Internacionais e Federativas

    Priscila Spcie Chefe de Gabinete

    Instituto Paulo Freire

    Paulo Freire Patrono

    Moacir Gadotti Presidente de Honra

    Alexandre Munck Diretor Administrativo-Financeiro

    ngela Antunes, Francisca Pini e Paulo Roberto Padilha Diretores Pedaggicos

    Natlia Caetano Coordenadora do Projeto

    Editora Instituto Paulo Freire

    Janaina Abreu Coordenao Grfico-Editorial

    Aline Inforsato e Izabela Roveri Identidade Visual, Projeto Grfico, Diagramao e Arte-Final

    ngela Antunes, Francisca Pini, Julio Talhari, Moacir Gadotti e Paulo Roberto

    Padilha Preparao de Originais e Reviso de Contedo

    Daniel Shinzato, Janaina Abreu e Julio Talhari Reviso

    Alcir de Souza Caria, Amanda Guazzelli, Deisy Boscaratto, Fabiano Anglico,Lina Rosa, Natlia Caetano, Rosemeire Silva, Samara Marino, Sandra Vaz,Sheila Ceccon, Washington Ges Pesquisadores - Redatores

    Flvia Rolim Colaboradora

    Capa

    Foto de capa- Cesar Ogata / SECOM

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    4/41

    Palavras do prefeito 4

    Palavras do secretrio 5

    Introduo 7

    1. Governo Aberto: novo paradigma de gesto pblica 9

    1.1 Construo do conceito 11

    1.2. A Parceria para Governo Aberto (Open Government Partnership) 17

    1.2.1 A OGP e os governos locais 18

    2. Os quatro eixos do Governo Aberto 19

    2.1 Transparncia 20

    2.2 Participao social 23

    2.3 Integridade 24

    2.4 Inovao tecnolgica e social 24

    3. Governo Aberto na cidade de So Paulo 27

    3.1 Principais aes de Governo Aberto na cidade de So Paulo 30

    Concluso 35Referncias 37

    Sumrio

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    5/41

    4 | Cadernos de Formao

    com grande satisfao que apresento 20 publicaes inditas, coordenadas pela Secre-taria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), para os processos de formao deconselheiros(as) em direitos humanos e participao social. Trata-se de sete Cadernos de For-mao, dois Cadernos de Orientao, dez Cadernos de Colegiados e um Caderno do Ciclo Partici-pativo de Planejamento e Oramento.

    O objetivo permitir uma melhor compreenso das relaes entre direitos humanos, cida-dania, Educao Popular, participao social, direito cidade, bem como apresentar formas e

    ferramentas de gesto mais participativas adotadas pela atual administrao. Nesse sentido,apresentamos tambm dez importantes conselhos desta cidade, sua composio, estrutura,funcionamento e o mais importante: como e onde participar.

    Estas publicaes demonstram o esforo da atual administrao municipal em ampliar equalificar, cada vez mais, o dilogo entre governo e sociedade civil para fortalecer a democraciaparticipativa nesta cidade.

    So Paulo, dezembro de 2015.

    Fernando Haddad

    Palavras do prefeito

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    6/41

    Governo Aberto | 5

    uma grande satisfao para a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania(SMDHC) de So Paulo entregar populao de nossa cidade estes sete Cadernos de Forma-o. Apesar de ser um rgo com pouco tempo de existncia, muito nos orgulham as inme-ras realizaes que ela conseguiu conquistar. Uma delas foi a oferta de cursos de formao eproduo de subsdios terico-prticos.

    As publicaes que ora entregamos so destinadas a todos(as) os(as) cidados(s) que seinteressam pelos assuntos aqui tratados, e, em especial, aos conselheiros(as) municipais, que

    lutam pela defesa e promoo dos direitos humanos e que h anos vm demandando cursos emateriais de formao que possam subsidiar a sua atuao.

    Como os(as) leitores(as) podero perceber, a SMDHC convidou outras secretarias de gover-

    no para tambm fazerem parte desta coleo, estabelecendo as devidas relaes entre suasrespectivas atuaes e a promoo dos direitos humanos, um importante marco da GestoFernando Haddad. Assim, no apenas se valoriza a democracia representativa como tambmse impulsiona, cada vez mais, a necessria democracia participativa e, consequentemente, osprocessos de gesto e de participao social, de maneira dialgica e transparente, o que resulta

    numa cidade mais justa, mais plural e mais respeitosa em relao diversidade.

    Ao definirmos a estrutura desta coleo, respeitando a especificidade de cada caderno,buscamos sempre associar cada ttulo ao tema geral dos direitos humanos, numa perspectivainterdisciplinar, intersecretarial e intersetorial. Dois cadernos, um deles intitulado ConselhosParticipativos Municipaise o outro Planejamento e Oramento, couberam Secretaria Muni-cipal de Relaes Governamentais (SMRG). O de Governo Aberto est relacionado Secreta-ria Municipal de Relaes Internacionais e Federativas (SMRIF). Os outros quatro cadernosso diretamente vinculados s atividades da prpria SMDHC, a saber: Direitos Humanos eCidadania; Educao Popular e Direitos Humanos; Participao Social e Direitos Humanos eDireito Cidade.

    Estamos certos de que publicaes como estas muito podem contribuir para o fortalecimentoda democracia participativa, bem como para a ampliao da transparncia e da promoo da jus-

    tia social e econmica, consequentemente, para uma cidade mais justa, sustentvel e solidria.

    So Paulo, dezembro de 2015.Eduardo Matarazzo Suplicy

    Palavras do secretrio

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    7/41

    6 | Cadernos de Formao

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    8/41

    Governo Aberto | 7

    Introduo

    Prezados conselheiros e prezadas conselheiras da cidade de So Paulo,Para Paulo Freire, patrono da Educao Brasileira, a aprendizagem acontece ao longo da

    vida. um processo contnuo e permanente, sem um momento certo para ocorrer. Ensinar eaprender exigem a conscincia de que somos seres inacabados e incompletos, curiosos, que

    sabemos escutar, que temos abertura e aceitamos o novo, que refletimos criticamente sobre aprtica e que rejeitamos toda e qualquer forma de discriminao.

    A disponibilidade para o dilogo, a humildade, a generosidade e a alegria de ensinar e

    aprender so tambm caractersticas fundamentais para que haja aprendizado. Isso aumentanossa convico de que a mudana possvel, por mais que a realidade se apresente como algoaparentemente j dado e imutvel.

    Nessa direo, em 2014, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC)consultou, por meio de sua Coordenao de Participao Social, conselheiros e conselheiras a elavinculados sobre quais seriam as principais demandas para melhorar ainda mais sua atuaojunto populao. A principal delas foi a realizao de cursos de formao. Alm de oferecer es-ses cursos, que foram iniciados em 2015, a SMDHC tambm props a criao desta srie de sete

    cadernos de formao, composta por diferentes temas que se completam.

    Para concretizar a publicao, a SMDHC contou com o Instituto Paulo Freire (IPF), organiza-o da sociedade civil de interesse pblico, sem fins lucrativos, que em 2016 completa 25 anosde fundao. E, na perspectiva do estmulo s relaes intersecretariais presentes na GestoHaddad, a SMDHC convidou a Secretaria Municipal de Relaes Internacionais (SMRIF) para par-

    ticipar com este Caderno de Formao: Governo Aberto.Mas, afinal, como e onde surgiu e o que se entende por Governo Aberto? Qual o envolvimen-

    to do nosso pas com essa iniciativa? Qual o seu papel na gesto pblica deste municpio? Queexemplos j temos de tal experincia? Foi no intuito de contribuir para a consolidao de umentendimento sobre as iniciativas de Governo Aberto na cidade de So Paulo, numa perspectiva

    terica e prtica, que este caderno foi concebido.Ao longo do caderno, veremos que as aes de Governo Aberto no nosso municpio estoassociadas melhoria de vida do cidado e da cidad, a uma gesto pblica conectada emrede e com interface amigvel e conectiva, a uma nova relao e nova forma de governar, preveno e combate corrupo, ao aumento do empoderamento da populao e, eviden-temente, ao fortalecimento da democracia e do exerccio da cidadania ativa por parte de todas

    as pessoas que aqui vivem.Trata-se de um novo paradigma de gesto pblica, o Open Government Partnership (OGP)

    expresso em ingls que significa Parceria para Governo Aberto , lanado pela Organizaodas Naes Unidas (ONU) em 2011, com a adeso de vrios pases, especialmente o Brasil, que membro-fundador da iniciativa. O municpio de So Paulo, por meio da So Paulo Aberta, um

    dos pioneiros na adoo do Governo Aberto em nvel municipal, sendo referncia mundial nesse

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    9/41

    8 | Cadernos de Formao

    tipo de gesto, que est em permanente evoluo. Aqui ela ganhou cores e contornos que jrepercutem em outros pases, com base no xito de aes que buscam uma poltica de Estado eno apenas de um nico governo.

    O primeiro captulo permite uma aproximao dos diferentes significados de Governo Aber-to, bem como saber o contexto em que essa iniciativa nasceu, qual a sua importncia para osgovernos locais e como a experincia paulistana dialoga com as experincias de outros pases.

    No segundo captulo, so apresentados e analiticamente explicados seus quatro eixos:transparncia, participao social, integridade e inovao tecnolgica e social.

    No terceiro captulo, conheceremos as principais aes realizadas e em andamento no mu-nicpio de So Paulo. Dentre elas, podemos citar: Planeja Sampa, Portal da Transparncia, Portal

    So Paulo Aberta, alm de outros projetos exitosos, como Caf Hackers, Busca Sade, So PauloCultura, entre outros.

    Na concluso, reafirma-se o compromisso de toda a Gesto Haddad, especialmente a Se-cretaria Municipal de Relaes Internacionais e Federativas (SMRIF), em articular, integrar efomentar aes de Governo Aberto nesta cidade, com engajamento social de toda a sua popula-

    o, mediante ativa participao e profundo envolvimento com as polticas pblicas.

    So Paulo, dezembro de 2015.Equipe do Instituto Paulo Freire

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    10/41

    Governo Aberto | 9

    1. Governo Aberto:novo paradigma de

    gesto pblicaA Prefeitura Municipal de So Paulo (PMSP) tem apostado em uma revoluo na forma

    de fazer gesto pblica. Diante de uma cidade complexa, capaz de reunir riqueza e moder-nidade acompanhadas de desigualdade e carncia de servios pblicos, ficou claro que so-

    mente mudanas estruturais seriam capazes de elevar So Paulo posio de grandeza quemerece, do centro periferia.

    Por isso, desde 2013, tem incorporado o Governo Aberto como estratgia central para en-frentar os desafios na busca pela melhoria de vida de cidados e cidads. Esse conceito pode serdefinido de vrias formas e nenhuma delas exclui as demais.

    Governo Aberto significa uma gesto mais transparente, com dados e informaes dispon-veis facilmente a qualquer interessado, por meio de uma interface amigvel e intuitiva. Pode-sedizer, ainda, que a populao efetivamente empoderada no processo de tomada de deciso,participando no somente por meio de escolhas finais, tipo sim ou no, mas tambm pelainterveno na escolha de objetivos, metas e caminhos a serem seguidos ao longo do desenvol-

    vimento das polticas pblicas. Governo Aberto significa tambm prestao de contas, clareza

    sobre quem quem nas contrataes pblicas. Por fim, versa sobre uma administrao pblicaconectada, em rede, moderna e interativa. No entanto, o salto que o Governo Aberto oferece no tratar essas definies de forma isolada, mas articul-las como elementos complementaresque, se somados, potencializam a ao do Estado e sua relao com a sociedade.

    Alm de ser uma forma de melhorar a qualidade das polticas pblicas de modo geral, oGoverno Aberto central na preveno e combate corrupo. Estudos estimam que o Brasilchega a perder entre 1,3% e 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) anualmente em virtude deaes dessa natureza (Cf. HASAN, 2013). O pas ocupa o 69o lugar no rankinginternacional de per-cepo de corrupo. Apesar de o controle ter-se aperfeioado ao longo dos ltimos anos, aindaest atrs de vizinhos como Chile e Uruguai, alm de estar distante da mdia dos pases maisricos. As licitaes, os contratos de prestao de servios e tantas outras interaes entre go-verno e organizaes podem ser utilizados para desvios de recursos, e as formas de controle

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    11/41

    10 | Cadernos de Formao

    tradicionais no sero mais capazes de acompanhar o volume e a complexidade dessas tran-saes caso deixem de incorporar a participao social no controle dos atos pblicos, a trans-parncia, os dados abertos e inovaes tecnolgicas e sociais. Assim, possvel identificar que

    a integrao entre os eixos de Governo Aberto aprimora a ao governamental e sua forma deprestao de contas sociedade.

    1. Traduo de trecho do artigo de RAMREZ-ALUJAS(2013, p. 84).

    Governo Aberto: saber, fazer parte e contribuir1

    Falar de Governo Aberto hoje em dia um lugar-comum e ponto de encontro de

    diversas correntes em que se combinam poltica, gesto pblica, tecnologia e culturasdigitais e o empreendimento cvico.

    Definir Governo Aberto algo complexo, mas podemos distingui-lo com base nosprincpios que lhe do forma:

    Saber: melhorar os nveis de transparncia e acesso informao mediantea abertura de dados pblicos (para exercer controle social e prestao de con-tas) e a reutilizao da informao do setor pblico (para promover a inovaoe o desenvolvimento econmico). Fazer parte: facilitar a participao da cidadania no desenho e na imple-

    mentao das polticas pblicas (e incidir na tomada de decises). Contribuir: favorecer a gerao de espaos de colaborao e inovao entreos diversos atores, particularmente entre as administraes pblicas, a socie-dade civil e o setor privado, para codesenhar, cocriar e/ou coproduzir valor.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    12/41

    Governo Aberto | 11

    1.1 Construo do conceito

    O Governo Aberto representa um novo paradigma para a gesto pblica na medida em que,diferentemente da viso tradicional, reconhece e fortalece as diversas vozes da sociedade. Ao in-

    crementar a transparncia, o Governo Aberto permite sociedade ter mais acesso a informaesantes detidas exclusivamente pelo aparato burocrtico e pelos dirigentes polticos, reduzindo,

    assim, a assimetria de informaes entre esses atores. Tal abertura pode fortalecer e qualificar aparticipao da sociedade civil; no entanto, fundamental a institucionalizao de canais, espa-os e mtodos participativos para a organizao sistmica da participao social. Dessa forma, oacesso informao possibilitado pela transparncia e a abertura de espaos e mecanismosde incidncia do cidado nas polticas pblicas tornam-se elementos de destaque.

    Nota-se, portanto, que a questo mais forte e que marca a diferenciao do Estado arcaicoe do Governo Aberto a relao entre Estado e sociedade. Essa relao tem sido alvo de anlises.

    A abordagem Estado-na-Sociedade (MIGDAL, KOHLI& SHUE, 1994), que adotamos aqui, nasceu deuma reflexo a respeito da centralidade do estudo das instituies, devolvendo protagonismo

    dinmica da sociedade na determinao dos processos polticos. Os autores dessa abordagemargumentam que os Estados so parte da sociedade e influenciados por ela tanto ou mais doque a influenciam. Os estudos sobre poltica, Estado e desenvolvimento devem observar melhorao menos quatro dimenses, quais sejam:

    A efetividade do Estado varia principalmente por suas diferenciadas formas de articula-o com a sociedade e no apenas pelo insulamento de suas burocracias;

    Os Estados devem ser desagregados, estudando-se no apenas as agncias e polticas do

    topo da organizao estatal, localizados espacialmente nos centros de poder, mas, tambm, organi-zaes envolvidas com polticas menos centrais e nveis de governo e localizaes mais perifricos;

    A importncia e a fora de agentes sociais, assim como a dos Estados, so contingentesde situaes histricas concretas; e

    O poder do Estado e da sociedade no compe um jogo de soma zero; Estado e sociedadepodem mutuamente ter poder.

    O prefeito Fernando Haddad na apresentao do Sistema de Transparncia de Atendimento Habitacional, em fevereiro de 2015

    (crdito: Cesar Ogata/SECOM).

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    13/41

    12 | Cadernos de Formao

    Com base nessa abordagem sobre a relao entre Estado e sociedade, observam-se doisconceitos-sntese por trs da proposta de Governo Aberto: transparncia e participao social.

    TransparnciaEm um sistema tico, a transparncia a propriedade que permite passar a luz. Isso quer

    dizer que o sistema torna possvel a luz direcionar-se de um ponto a outro, dando visibilidade doconjunto. Trazido para o estudo das instituies e das relaes polticas, o termo pode designar

    instrumentos e iniciativas que promovem e asseguram a visibilidade e acessibilidade das infor-maes e aes governamentais das pessoas sujeitas ao escrutnio pblico (CENTRODEDERECHOSHUMANOS, s.d.). Para a organizao Transparncia Internacional (2009, p. 44; traduo nossa),transparncia a caracterstica de governos, empresas, organizaes e indivduos em serem

    abertos em relao a informaes sobre planos, regras, processos e aes.

    Nesse sentido, o conceito de transparnciatem relao com fluxo de informao, mas tam-bm com a sua qualidade (melhorar a compreenso) e com o seu uso (favorecer a participao e ocontrole). A transparncia, portanto, no um fim em si mesmo. Trata-se de um meio utilizadopara que se conhea melhor o que se passa no interior das organizaes. Ou seja: ser to mais

    til quanto maior for a sua contribuio para a construo de inferncias adequadas, que podemser mobilizadas tanto para qualificar o dilogo como para efetivar mecanismos de controle.

    J a noo de transparncia governamentalnasceu vinculada ao iderio liberal, segundoo qual o Estado um mal necessrio, que precisa ser vigiado. Nas ltimas dcadas, porm,houve uma abordagem mais progressista a respeito dos benefcios da transparncia pblica,

    especialmente em pases do chamado Sul Global (pases em desenvolvimento). Enxergando oEstado como agente fundamental na garantia de sade, educao, moradia e outros dos cha-mados direitos da primeira gerao, passou-se a exigir transparncia para que, com o acesso ainformaes detidas pelos governos, movimentos sociais pudessem posicionar-se melhor dian-te da formulao e implementao de polticas pblicas sociais. Nessa abordagem, a operacio-

    nalizao dos princpios de direitos humanos importante para a des-elitizao das polticasde transparncia, garantindo, assim, que grupos mais vulnerveis tenham acesso informao.

    Com base nessa perspectiva de direitos humanos, uma poltica de transparncia deveriaarticular-se em dois planos normativos. Em um primeiro plano, deveria ser sancionado e apli-cado um estrito regime de publicidade de modo que documentos administrativos pudessem

    tornar-se uma pea-chave para a tomada de deciso por parte dos cidados para o exerccioda auditoria social sobre a gesto do Estado. Em um segundo nvel, deveria ser sancionado eaplicado um regime de direito que garantisse a realizao do direito subjetivo de todo cidadoacessar a informao pblica sem necessidade de justificar a causa nem o interesse, incluindomecanismos efetivos para reclamar administrativa e judicialmente por seu descumprimento.

    Alm de permitir um acesso mais ampliado s decises do governo, o tema do direito informao articula-se com os direitos humanos no ponto em que visto no apenas como umdireito em si, mas tambm como um instrumento para a promoo de direitos sociais, tais comoo acesso educao, cultura e sade. A informao tem, alm de um valor prprio, um valor

    instrumental, que serve de pressuposto ao exerccio de outros direitos (ABRAMOVICH& COURTIS,2000, p. 2; traduo nossa).

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    14/41

    Governo Aberto | 13

    Participao social

    A definio de participao socialdeve ser atualizada para acompanhar a discusso sobreGoverno Aberto, incorporando novas formas de interao proporcionadas pelo desenvolvimen-

    to das tecnologias. Isso no quer dizer que essa participao apenas aquela dita tradicio-nal acrescida por um certo aspecto tecnolgico. Afinal, muitos dos problemas identificados nae-Participaco ou participao digital so os mesmos identificados na participao tradi-cional a resistncia institucional um deles.

    Na verdade, o aspecto tecnolgico tende a se perder no tempo. Hoje, por exemplo, est

    caindo em desuso o termo governo eletrnico, pois no possvel, no sculo XXI, haver go-verno sem o uso de tecnologias. Da mesma forma, no possvel falar de sistema bancrio oufinanceiro sem considerar suas plataformas tecnolgicas e no se fala em banco eletrnico.Apesar disso, medida que o adendo eletrnico ou digital perde o sentido, sua importnciaaumenta. Embora j saibamos que o digital no muda a essncia da participao, possvel

    dizer que os meios tecnolgicos podem, sim, afetar significativamente a forma em que ela ope-ra. Ademais, a participao digital pode complementar espaos e mecanismos presenciais, oque contribui para a ampliao dos processos participativos.

    Uma das mudanas mais notveis que a participao social tradicionalmente centrada nosinteresses do governo e no curto prazo est orientando-se cada vez mais para os interesses dos

    cidados e com uma viso de mdio e longo prazo. As concepes tradicionais centravam-se na ca-pacidade dos cidados em influenciar a formulao e execuo de polticas pblicas por meio de suaintegrao a processos e consultas organizadas pelos governos. Mas pouco a pouco so consideradasperspectivas mais amplas, que entendem a participao como tudo aquilo que possibilita, estendeou aprofunda a capacidade das pessoas em influenciar as decises e envolver-se nas aes que afe-tam suas vidas (PRIETO-MARTN, DEMARCOS& MARTNEZ, 2012, p. 4; traduo nossa).

    A participao cidad amplia assim seu mbito de significao e passa a se referir a algo mais pro-fundo, que aspira a influenciar todo tipo de deciso e ao que afeta as pessoas. So formas de participaomais maduras e autnomas, menos dependentes da vontade das autoridades pblicas para se iniciar e,

    portanto, tambm mais emancipadas do controle governamental (PRIETO-MARTN& RAMREZ-ALUJAS, 2014, p.68-69; traduo nossa).

    A transparncia da gesto um dos princpios fundamentais do Governo Aberto (crdito: ).

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    15/41

    14 | Cadernos de Formao

    Ante esse cenrio, marcado por discusses sobre Governo Aberto e, portanto, sobre o repo-sicionamento do papel da sociedade e sua interao com o Estado, vale a pena resgatarmos oconceito de esfera pblica.Como se trata de um desafio nada simples, fiquemos com um aspecto

    dessa discusso: a atuao poltica da esfera pblica, ou, para comearmos com Habermas (1984,p. 25), a esfera pblica funcionando politicamente. Para o autor alemo, uma esfera pblica fun-cionando politicamente aparece, primeiramente, na Inglaterra, na virada ao sculo XVIII, quandoforas que querem ento passar a ter influncias sobre as decises do poder estatal apelam para

    o pblico pensante a fim de legitimar reivindicaes ante esse novo frum (idem, p. 75).Mas antes de chegar esfera pblica que funciona politicamente, Habermas (idem) retoma

    o conceito de opinio, que seria, por um lado, um juzo sem certeza, um mero palpite, ou, poroutro e isso nos interessa mais de perto , a reputao ou a considerao. Pode-se entenderento que a palavra opinio carrega esse duplo sentido. A partir da, esse termo caminha para

    as noes de opinio pblica, isto , o resultado esclarecido da reflexo conjunta e pblica(idem, ibidem). A evoluo de opinio, que seria um mero palpite, para opinio pblicapassa pela noo de esprito pblico. Ainda segundo Habermas (idem), no esprito p-blico possvel encontrar o senso inato para o justo e o correto e a articulao da opiniocom o julgamento, por meio da exposio pblica de argumentos.

    Mais recentemente, Yochai Benkler, professor de Direito na Universidade de Harvard, atu-alizou a discusso sobre esfera pblica ao introduzir o debate sobre novas tecnologias. Em2006, Benkler escreveu The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Marketsand Freedom, livro que traz em um de seus captulos o ttulo Emergncia da esfera pblica

    interconectada, numa traduo livre. Para o autor, a esfera pblica interconectada no feitade ferramentas, mas das prticas de produo social que as novas ferramentas de tecnologiapossibilitam. Nas sociedades liberais, o efeito mais importante da internet na esfera pblica a produo cultural e de informaes por parte de atores emergentes e que no so agentesdo mercado. Tais atores so indivduos que tanto trabalham sozinhos quanto em cooperao

    ou em organizaes mais formais, como as Organizaes No Governamentais (ONGs).

    As prticas sociais de informao e discurso (da esfera pblica interconectada) permitem a um vas-

    to nmero de atores enxergarem-se como participantes do discurso pblico e atores potenciais na arena

    poltica, em vez de meros receptores passivos de informao mediatizada que ocasionalmente votam

    (BENKLER, 2006, p. 7; traduo nossa).

    Por meio dessa compreenso, podemos estabelecer que a relao da participao com oprocesso de construo da democracia no s intrnseca, mas tambm complexa, na medidaem que no se resume apenas ao voto nem a um conjunto de regras. Nesse sentido, o GovernoAberto apresenta-se como uma expresso das mudanas ocorridas no mundo, sobretudo nosculo XX, quando as sociedades passaram por significativas transies polticas, com avanos

    nas prticas democrticas que demandam mecanismos mais estveis e legtimos de adminis-trao pblica. Merecem destaques os movimentos de reivindicaes e lutas sociais das dcadasde 1960 e 1970, assim como o incremento na velocidade do acesso s informaes, em virtudedo avano tecnolgico, que gerou a exigncia de respostas imediatas. Tudo isso fundamentouas formas institucionais de participao que temos atualmente.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    16/41

    Governo Aberto | 15

    Com esse pano de fundo, o Governo Aberto pode ser tratado como uma nova prtica de ges-to pblica e definido por meio das funes que desempenha na prtica. De modo geral, podeser traduzido como um mtodo de concepo e desenvolvimento de polticas pblicas que visa

    assegurar simultaneamente e de forma integrada:a. o aumento da transparncia e disponibilidade de informaes a respeito da gesto p-blica, em todas as suas etapas (planejamento, deciso, avaliao, reviso etc.);

    b. o incentivo participao social de forma intensa, sistmica e efetiva;c. a garantia de nveis elevados de integridade dos quadros e atos do governo, asseguradospelas contnuas sesses de prestao de contas a que os dirigentes pblicos so submetidos;d. o aumento do acesso a novas tecnologias para a transparncia e prestao de contas pblica.

    Contudo, no apenas um conjunto de regras e procedimentos que determinar se os prin-

    cpios de Governo Aberto esto sendo cumpridos. Sua incorporao deve ser permanente e co-tidiana, baseada em rankings, avaliaes e reformulaes de polticas em sintonia com o que

    ocorre ao redor do mundo. Por isso, mais comum tratar esse conceito por meio de aes dividi-das em quatro eixos, que sero detalhados adiante.

    O Governo Aberto, prtica aderida pelo Brasil em 2011, orienta-se por valores que preveem areviso de procedimentos no setor pblico. Assim, aes para fortalecer a participao da socie-dade, que uma garantia do exerccio da cidadania, vm sendo construdas. Algumas medidas

    foram fundamentais para concretizar a iniciativa em mbito nacional, colocando o desafio daarticulao de temas. Ainda que adotadas de forma isolada nos ltimos 15 anos, possuem rela-

    es com a proposta do Governo Aberto: Lei Complementar no101, de 4 de maio de 2000: conhecida como Lei de Respon-

    sabilidade Fiscal (LRF), estabelece normas sobre a gesto fiscal e aponta a responsa-bilidade nas finanas pblicas do pas. Determina a transparncia fiscal como instru-mento de integridade pblica. Conforme Neves (2013, p. 7), ao estabelecer regras paraa divulgao de informaes oramentrias, a norma coloca os gestores dos recursospblicos sobre um novo patamar de responsabilidade, no qual as decises so abertas

    e a prestao de contas constante. Prego eletrnico: regulamentado pela Lei no10.520, de 17 de julho de 2002, co-

    nhecido pela modalidade de licitao por regio, em que estabelece as compras de forma

    eficiente e transparente. Esse procedimento realizado de forma eletrnica e fica disponi-bilizado no Portal Eletrnico do governo. O cidado pode acompanhar todo o procedimentopela internet e, assim, fiscalizar as aes governamentais, reduzindo os casos de corrupo.

    Portal da Transparncia e pginas de Transparncia Pblica: com informaes sobredespesas e receitas, o Portal considerado um instrumento de controle social, pois possi-bilita sociedade o acompanhamento do dinheiro pblico. de iniciativa da Controladoria

    Geral da Unio (CGU), formalizada pelo Decreto no5.482, de 30 de junho de 2005. Lei Complementar no131, de 27 de maio de 2009: conhecida tambm por Lei Capi-

    beribe, refora a transparncia oramentria e a incorporao de experincias positivas

    da administrao pblica federal para toda a federao (NEVES, 2013, p. 9). Estados eMunicpios tambm devero oferecer instrumentos parecidos com o Portal da Transpa-rncia para prestao de contas.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    17/41

    16 | Cadernos de Formao

    Conferncia Nacional sobre Transparncia e Controle Social (CONSOCIAL): surgiu pormeio de um decreto sem nmero da Presidncia da Repblica de 8 de dezembro de2010. Convoca Municpios, Estados e Federao a discutir, propor e aprovar propostas

    para o aumento da transparncia e acesso informao, bem como o fortalecimento docontrole social e combate corrupo.

    Lei no12.527, de 18 de novembro de 2011: conhecida como Lei de Acesso Informa-o (LAI), refora o compromisso do Estado com a disponibilizao de informaes no spara a Unio, mas tambm para Estados e Municpios, abrangendo os trs poderes: exe-cutivo, legislativo e judicirio. Em caso de condutas ilcitas, a lei tambm prev puniese estabelece dados em formato aberto e legvel. Alm disso, refora a transparncia sobre

    as informaes de gastos, transferncias, processos licitatrios e contratos.

    medida que esse processo se concretiza, os canais de participao so fortalecidos. De for-ma inovadora, tais canais esto sendo ampliados, dando espaos a redes sociais e fruns virtuaispara discusses, consultas pblicas e eventos relacionados Parceria para Governo Aberto, como:

    a 1aCONSOCIAL, reunies do grupo executivo do Comit Interministerial Governo Aberto e Grupos deTrabalho (GTs) da sociedade civil.

    Governo Aberto no Brasil

    1988 Constituio prev direito de acesso a informaes pblicas

    A Constituio de 1988 o marco brasileiro da garantia de direitos aos cidados e da obrigao do Estado de prestar

    contas de sua atuao. A Constituio garante aos cidados, por exemplo, o direito de apresentar ao Congresso pro-

    jetos de lei de iniciativa popular e o direito de acesso informao, bem como mecanismos de proteo de direitos.

    2003 Controladoria-Geral da Unio criada

    A Controladoria-Geral da Unio criada. Trata-se do rgo do governo federal responsvel por assistir dire-

    ta e imediatamente o presidente da Repblica quanto aos assuntos que, no mbito do poder executivo, se-

    jam relativos defesa do patrimnio pblico e ao incremento da transparncia da gesto, por meio das ati-

    vidades de controle interno, auditoria pblica, correio, preveno e combate corrupo e ouvidoria.

    2004 Portal da Transparncia do governo federal entra no ar lanado o Portal da Transparncia do governo federal, um canal pelo qual o cidado pode acompanhar a

    execuo financeira dos programas de governo, em mbito federal. No site, esto disponveis informaes

    sobre os recursos pblicos federais transferidos pelo governo federal a Estados, Municpios e Distrito Federal e

    diretamente ao cidado, bem como dados sobre os gastos realizados pelo prprio governo federal em compras

    ou contrato de obras e servios.

    2009 Lei Complementar no131 entra em vigor e altera a Lei de Responsabilidade Fiscal

    Criada para alterar a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n o101, de 4 de maio de 2000), no tocante

    transparncia da gesto, a Lei Complementar no131, de 27 de maio de 2009, entrou em vigor na data de sua

    publicao, em 28 de maio de 2009. A grande novidade trazida por ela foi a determinao de que a Unio, os

    Estados, o Distrito Federal e os Municpios disponibilizassem, em meio eletrnico e tempo real, informaespormenorizadas sobre sua execuo oramentria e financeira.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    18/41

    Governo Aberto | 17

    2010 Portal da Transparncia disponibiliza dados com atualizao diria

    Desde 27 de maio de 2010, para atender aos dispositivos previstos pela Lei Complementar no131/2009, o Portal da

    Transparncia passou a disponibilizar dados sobre a execuo oramentria e financeira da receita e da despesa

    do poder executivo federal com atualizao diria. Os dados so fornecidos pela Secretaria do Tesouro Nacional

    (STN) e extrados do Sistema Integrado de Administrao Financeira do Governo Federal (SIAFI).

    2011 Lei no12.527 regulamenta o direito de acesso a informaes pblicas

    A Lei de Acesso Informao (Lei no12.527) foi aprovada em 18 de novembro de 2011. Seus dispositivos so apli-

    cveis aos trs poderes da Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios. A norma, que entrou em vigor em 16 de

    maio de 2012, regulamentou o direito de acesso a informaes pblicas previsto na Constituio brasileira. Foram

    estabelecidas regras e procedimentos especficos para possibilitar o exerccio desse direito pelos cidados. O De-

    creto no7.724/2012 regulamenta a Lei de Acesso no poder executivo federal.

    2013 Lei no12.846 regulamenta a responsabilidade dos corruptores

    A Lei no12.846/2013, tambm conhecida como Lei Anticorrupo, representa importante avano ao prever a

    responsabilizao objetiva, no mbito civil e administrativo, de empresas que praticam atos lesivos contra a

    administrao pblica nacional ou estrangeira. Alm de atender a compromissos internacionais assumidos

    pelo Brasil, a nova lei finalmente fecha uma lacuna no ordenamento jurdico do pas ao tratar diretamente

    da conduta dos corruptores.

    Fonte: . Acesso em: 16 nov. 2015.

    1.2 A Parceria para Governo Aberto (Open Government Partnership)

    Diante das crescentes demandas sociais, o conceito e as prticas de Governo Aberto inten-sificaram-se nos ltimos anos. Em 2011, esse movimento resultou na criao da Parceria paraGoverno Aberto, ou, em ingls, Open Government Partnership (OGP). Trata-se de uma iniciativamultilateral que tem como objetivo assegurar compromissos concretos de governos para pro-

    mover transparncia, empoderar cidados, lutar contra a corrupo e estimular novas tecnolo-gias para fortalecer a governana. No esprito de uma colaborao com mltiplos tomadores dedeciso, a OGP monitorada por um Comit de Direo que inclui representantes de governos eorganizaes da sociedade civil.

    A OGP foi lanada na Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2011, contando com a ade-

    so dos pases por meio da assinatura da declarao de alto nvel para o Governo Aberto. O Brasil

    figura como membro-fundador da OGP, sendo figura importante na implementao da parceria,que conta atualmente com 65 membros efetivos e uma srie de entrantes em potencial, queatualmente esto desenvolvendo seus planos de ao. Alm disso, o pas foi sede da 1aConfe-rncia Anual da OGP, que ocorreu em Braslia, em 2012.

    A presidenta Dilma Rousseff, em discurso proferido na cerimnia de lanamento da Par-ceria para Governo Aberto, afirmou que a iniciativa representa um projeto de modernizaodemocrtica para o sculo XXI (ROUSSEFF, 2011). Alm disso, destacou:

    Essa parceria pelo Governo Aberto tem sua natureza voluntria e, pela sua forma de organiza-

    o, ela representa, tambm, um novo frum de relaes multilaterais, um novo frum onde todos ospases tm algo a aprender e algo a ensinar, um novo frum de relaes multilaterais onde podemos

    colaborar para o avano conjunto da comunidade internacional no sentido de um Governo Aberto e

    mais democrtico (idem).

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    19/41

    18 |Cadernos de Formao

    O principal objetivo da OGP tem sido proporcionar uma plataforma internacional para servirde base s reformas ocorridas em diferentes pases. O intercmbio de informaes e experin-cias fundamental para evitar retrabalho em situaes comuns realidade dos gestores pbli-

    cos e das organizaes sociais.Como os resultados prticos so fundamentais para avaliar o sucesso de toda poltica de

    Governo Aberto, a OGP instituiu o Mecanismo Independente de Avaliao em ingls: Indepen-

    dent Reporting Mechanism (IRM). Trata-se de um meio pelo qual os participantes podem acom-panhar o progresso de cada um dos pases-membros, inclusive por meio de relatrios especficosproduzidos pelo IRM a cada dois anos.

    1.2.1 A OGP e os governos locaisA entrada da agenda urbana na pauta internacional um fenmeno recente, puxado prin-cipalmente pelo Papa Francisco em um chamado de prefeitos de 65 cidades, realizada em julhode 2015, para discutir os desafios para 2030, e vem repercutindo nos principais organismos eeventos de articulao entre naes. O Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento(PNUD), por exemplo, vem reforando o papel dos municpios no cumprimento dos Objetivos deDesenvolvimento Sustentvel (ODS).

    No mbito da OGP, o ano de 2015 marca o incio das discusses para a municipalizaoda iniciativa. Em agosto, a OGP publicou o texto A jornada da OGP para o subnacional. J emoutubro, na Cpula da OGP, realizada no Mxico, o Comit de Direo aprovou um projeto-pilotopara envolver governos subnacionais na iniciativa. Da mesma forma que na prpria OGP, o pro-

    jeto-piloto sugere um processo envolvendo tanto governo como sociedade para a elaborao deplanos de ao contendo compromissos relativos ao Governo Aberto.

    Misso e objetivos do OGP

    A viso da OGP que os governos se tornem mais transparentes, prestem contas e respondam mais pron-

    tamente aos seus cidados, de forma sustentvel, com o objetivo final de aumentar a qualidade da governana,

    assim como a qualidade dos servios que os cidados recebem. Isso ir requerer uma mudana nas normas e

    cultura para garantir um dilogo genuno e colaborao entre governos e sociedade civil.

    A OGP aspira apoiar agentes de reforma tanto de governos como da sociedade civil, elevando o Governo

    Aberto aos nveis mais altos de abertura poltica, provendo cobertura para reformas difceis e criando uma

    comunidade solidria de agentes que compartilham dessa opinio em pases ao redor do mundo.

    Agora que a OGP est estabelecida e cresceu significativamente, nosso objetivo principal para os prximos dois

    anos ter certeza de que mudanas reais esto acontecendo na prtica na maioria dos pases-membros, e que essas

    mudanas esto beneficiando os cidados. H trs formas principais para a OGP para ajudar a garantir que as condi-

    es corretas esto em jogo para que os pases possam promover reformas de Governo Aberto ambiciosas:

    1. Manter alto nvel em liderana poltica e compromisso OGP entre pases participantes;2. Apoiar agentes de reforma locais com expertisetcnica e inspirao;

    3. Incentivar mais engajamento na OGP por um grupo diversificado de cidados e organizaes da

    sociedade civil.

    Alm disso, o IRM pretende:

    4. Assegurar que pases prestem contas sobre o progresso realizado na busca pelo cumprimento

    dos compromissos assumidos com a OGP.

    Fonte: . Acesso em: 16 nov. 2015.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    20/41

    Governo Aberto | 19

    2. Os quatro eixos doGoverno Aberto

    importante frisar que Governo Aberto enquanto conceito atual, mas seus quatro eixos(transparncia, participao, integridade e tecnologia) possuem trajetrias independentes. Nocaso da transparncia e do direito informao, o parlamento sueco, em 1766, foi pioneiro porimplementar a primeira lei de acesso informao. Depois disso, a Declarao dos Direitos do

    Homem e do Cidado, em 1789, apresentou essa perspectiva, que serviu como base para a De-clarao Universal dos Direitos Humanos, em 1948, apontar a liberdade de expresso e opinio,bem como o acesso a informaes e ideias, independentemente de territrios, como direitoshumanos. A partir da, foram firmados outros pactos internacionais e elaboradas medidas de

    governo para regulamentar o acesso da populao a informaes e dados governamentais, queprovocaram mudanas de paradigmas de gesto, como a prtica do Governo Eletrnico e, pos-teriormente, o Governo Aberto.

    Em termos de legislao sobre acesso a dados pblicos, a Sucia foi pioneira por ter adotadoessa prtica ainda no sculo XVIII. Somente no sculo XX outros pases comearam a aprovar suasleis gerais de acesso informao governamental. E dos cinco pases que primeiro aprovaram leis

    de acesso, quatro so do norte da Europa: Sucia, Finlndia (1951), Noruega e Dinamarca (ambas em1970) e os Estados Unidos (1966). Da que alguns estudiosos afirmam que a longevidade das leisde transparncia tem relao com a qualidade de vida nos pases de fato, os pases nrdicos esto

    ente os mais ntegros e os de melhor desenvolvimento humano em vrios indicadores e anlises.No final sculo XX, as leis de acesso informao se disseminaram. Em setembro de 2014,

    com a aprovao da lei de acesso no Paraguai, o mundo atingiu a marca de cem pases dota-dos desse tipo de lei. Assim como as legislaes de transparncia, tambm o uso da expressoGoverno Aberto e as prticas associadas a esse novo paradigma de gesto pblica ganharamfora no fim do sculo passado e incio deste. A abertura democrtica de vrios pases e o avanoda tecnologia promoveram mudanas governamentais, bem como concretizaram e ampliaramformas de controle sobre os governos, reivindicaes e lutas sociais.

    A tecnologia no parte do governo apenas do lado de dentro, na realizao de tarefas dodia a dia. Ela hoje o principal instrumento por meio do qual cidados tm acesso a dados einformaes, alm de proporcionar novos meios para mobilizao social, formas de expresso edifuso de conhecimento. desse contexto que surgiram, em meados do sculo XX, experin-cias de Governo Eletrnico como uma prtica de gesto pblica.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    21/41

    20 | Cadernos de Formao

    O Governo Eletrnico caracterizou-se pela incorpora-

    o da tecnologia a fim de modernizar a estrutura da ad-

    ministrao pblica no exerccio de suas funes, na pres-tao de servios populao, bem como para propiciarmaior participao da sociedade nas aes governamen-tais, numa proposta interativa. O espao pblico no est

    mais restrito ao meio fsico, s ruas e reparties pblicas.A internet, a comunicao digital e o crescente acesso snovas tecnologias ampliaram esse conceito para as redes.Os limites da interao social foram dilatados, redefinindo

    2.1 Transparncia

    Transparncia um dos princpios-chave por trs de qualquer poltica de Governo Aberto. entendida como garantia do amplo acesso informao, independentemente de solicitao. Elapromove a prestao de contas pelo poder pblico, garante acesso dos cidados informaoadequada e atualizada e possibilita monitoramento difuso das polticas pblicas. Alm disso,

    informaes geradas pelos governos em decorrncia de suas atividades so pblicas por defini-o. Em outras palavras: a publicidade regra; e o sigilo, exceo.

    Transp

    arn

    cia

    Integridade

    pblicaIn

    ovao

    tecn

    olgic

    ae

    social

    OGP

    Participaosocial

    o que entendemos por espao pblico. diante desse desafio que os governos foram levados

    a se atualizar, a adequar os canais de interlocuo com a sociedade e a redefinir os parmetrospelos quais esse relacionamento pautado. Da nascem os quatro eixos que permeiam as pol-ticas de Governo Aberto.

    Caf Hacker Compras Pblicas Abertas, realizado em junho de 2015 (crdito: Mnica Casanova/CGM).

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    22/41

    Governo Aberto | 21

    Esse eixo desdobra-se em dois: transparncia ativae transparncia passiva. O primeiro casoabrange as iniciativas promovidas pelos prprios governos em disponibilizar dados, informa-es, documentos e outros elementos de interesse da sociedade, de forma voluntria. O se-

    gundo trata da disponibilizao com base em demandas recebidas da sociedade por meio deferramentas derivadas da LAI.

    fundamental garantir que a informao esteja disponvel no apenas no plano terico,

    mas em termos funcionais. O acesso deve ser simples, intuitivo, por meio da internet, com ar-quivos organizados, legveis e em formato manipulvel. isso o que se entende por linguagemcidad e formato aberto.

    O emprego da linguagem cidad significa adotar critrios acessveis de comunicao nocontexto da disponibilizao de informaes. Pouco adiantaria responder a pedidos sobre o or-

    amento pblico, por exemplo, numa linguagem carregada de jarges, formalismos e outras

    formas de expresso que restringem o acesso ao real significado da informao a um pblicoespecfico. Como nem sempre isso possvel, recomendvel disponibilizar glossrios, orga-nizar ontologias, ciclos de capacitao e manuais que apresentem termos essenciais sobre umdeterminado tema a uma variedade de perfis de cidados interessados.

    O formato aberto diz respeito a outro aspecto da acessibilidade. Ainda que a linguagem sejaamigvel, pouco adiantar que determinada informao seja disponibilizada em uma extensode arquivo que somente possa ser interpretada por um softwareproprietrio.

    A designao proprietrio aplica-se, nesse contexto, para definir regras de propriedadeintelectual que restrinjam os direitos de uso, distribuio e outros sob critrios determinados

    por seu detentor (o proprietrio). Nesses casos, normalmente apenas alguns softwaresprivadossero capazes de ler e utilizar adequadamente esse arquivo. Isso pode parecer menos impor-

    tante no caso de documentos escritos, j que mesmo formatos proprietrios so relativamentedifundidos, mas muito importante em caso de bases de dados mais complexas, como aquelasutilizadas em georreferenciamento, imagens em alta resoluo, bases elaboradas em progra-mas estatsticos de alta capacidade e assim por diante.

    Adotar o formato aberto como regra significa reafirmar que nenhum cidado obrigado a

    adquirir algum produto pago para poder ter acesso a dados e informaes pblicas, o que con-trariaria diretamente a noo de transparncia da forma estabelecida pelas prticas de GovernoAberto. Em outras palavras, para ser realmente pblico, a utilizao dos arquivos que contm

    dados e informaes pblicas jamais pode depender do pagamento de licenas de software.Outro ponto essencial a uma poltica concreta de transparncia diz respeito aos princpios que

    informam a noo de dados abertos. O conceito ligado s ideias detalhadas acima, mas tem maisa ver com o uso que os dados pblicos podem efetivamente ter uma vez disponibilizados. Issoporque dados no podem ser confundidos, nesse caso especfico, com informao. Dado, aqui,quer dizer a menor unidade de anlise de um fenmeno especfico, que, sem contexto, tem pouco

    ou nenhum sentido. Ou seja, a localizao geogrfica de uma unidade de sade um dado, emborapossa dizer pouco sobre a abrangncia geogrfica da cobertura de sade na cidade.

    Uma base de dados dessa natureza seria composta, por exemplo, pela relao de todas as

    unidades pesquisadas, acompanhadas do endereo completo, ou de coordenadas adequadaspara sua localizao no mapa. Perguntas feitas a esse conjunto de dados (reunidos numa base

    de dados) originaro informaes, por exemplo, sobre o nmero de unidades de sade em um

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    23/41

    22 | Cadernos de Formao

    bairro determinado ou sobre a abertura de novas unidades ao longo do tempo, caso essa baseseja acompanhada de algum dado a respeito da data de inaugurao.

    Imaginar uma planilha de Excel pode fornecer um exemplo do que poderia ser uma base de

    dados. Contudo, alm de ser em formato fechado, as planilhas no costumam ser adequadaspara lidar com um volume grande de dados, com mltiplas linhas e colunas.

    Bases de dados

    Um formato aberto muito difundido e de fcil manipulao o Comma Separated Values(CSV), ou valores separados por vrgula. Um arquivo CSV (por exemplo, unidades_de_sa-

    de.csv), lido num processador de textos, poderia ser descrito da seguinte forma:

    Nome,Endereco,TelefoneAMA Hospital Waldomiro de Paula,Rua Augusto Carlos Baumann 1074 - Itaquera, 3394-9025

    AMA Aguia de Haia,Rua Tantas Palavras 59 - Cohab Aguia de Haia,3756-3187Esse mesmo arquivo, lido por um software livre (por exemplo, o LibreOffice Calc), poderiagerar a seguinte tabela:

    Nome Endereo Telefone

    AMA HospitalWaldomiro de Paula

    Rua Augusto CarlosBaumann 1074 - Itaquera

    (11) 3394-9025

    AMA Aguia de HaiaRua Tantas Palavras 59Cohab Aguia de Haia

    (11) 3756-3187

    De modo geral, so considerados dados abertos aqueles que, cumulativamente: (1) so ofe-recidos de forma bruta, tais como encontrados na fonte e no maior nvel de granularidade (oudetalhamento) possvel; (2) so processveis por mquinas; (3) esto disponveis, sem exigncia

    de cadastro, requerimento prvio ou digitao de cdigos para acesso; e (4) esto em formatoaberto e sob uma licena livre. Quando essas caractersticas esto presentes, qualquer pessoa capaz de criar recombinaes entre diferentes bases de dados, extrair informaes nem sempreto claras e todos os tipos de atividade para os quais o acesso livre aos dados nos mnimos deta-lhes imprescindvel. E, novamente, fundamental que no seja imposta uma barreira quanto leitura da base de dados: absolutamente necessrio privilegiar os formatos abertos.

    Por que programas to difundidos como o Word e o Excel so considerados fechados?

    Porque s possvel ter acesso a eles adquirindo uma licena do proprietrio (no caso, a

    Microsoft). No existe licena gratuita; mesmo quando o Pacote Office vem com o compu-tador, o preo da licena pago parte. Basta conferir na nota fiscal!

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    24/41

    Governo Aberto | 23

    Os softwaresproprietrios ou fechados so necessariamente ruins?

    No, de forma alguma. Apesar de hoje em dia inmeros programas em softwarelivre se-

    rem capazes de ler e gravar em formatos proprietrios, em alguns casos a funcionalidadedos softwaresproprietrios pode ser mais simples, esteticamente mais agradvel, oumesmo ser beneficiada por uma traduo para o portugus. Cabe ao usurio decidir qual

    software mais adequado s suas preferncias.

    Uma pessoa que no entende de programao de computadores consegue usar

    um softwarelivre?

    Com certeza. Alm de exigirem menos recursos do computador, os softwareslivres sodesenvolvidos de forma colaborativa mundo afora. Alm disso, via de regra, no cobram

    nenhum valor de venda, licena ou manuteno. Isso faz com que mais pessoas possamter acesso a tecnologias de qualidade, bastando para isso ter um computador e, prefe-rencialmente, acesso internet.

    Como posso encontrar softwareslivres?

    Eles so encontrados na internet, e possvel baix-los sem custos. Um exemplo de

    softwarelivre para substituir o Windows o Linux Mint (), comutilizao simples e intuitiva. Outro softwaresubstituto do Pacote Office o LibreOffice(). Ambos so disponibilizados em portugus e exigem me-nos do computador para funcionar. Qualquer pessoa pode baixar os arquivos da internete instalar em quantos computadores desejar.

    2.2 Participao social

    Assim como a transparncia, a participao social um elemento fundamental para o Go-verno Aberto. Como conceito terico, a participao social um direito humano e um dever doEstado para democratizar a gesto pblica e seus processos decisrios, estabelecendo uma per-manente interlocuo entre poder pblico e sociedade.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    25/41

    24 | Cadernos de Formao

    No contexto do Governo Aberto, isso parte da questo. Novamente, o desafio dar efe-tividade ao conceito, tornar a gesto realmente participativa e integrada. Para isso, no bastaque a sociedade possa ser ouvida apenas na etapa de elaborao das polticas pblicas. Ou seja,

    mais do que votar a respeito de qual caminho seguir, a participao deve ser viabilizada sobretodo o ciclo de gesto, isto , durante a implementao e avaliao das polticas pblicas. Dessaforma, participao social a partilha da tomada de deciso que no fica insulada na burocra-

    cia ou nas autoridades mximas da questo.Para isso, fundamental que ideias sejam debatidas, resultados principalmente os par-

    ciais sejam apresentados, projetos sejam revistos de forma crtica e consistente e, acima detudo, que as propostas trazidas pela populao sejam atentamente analisadas, fundamentadase respondidas. Isso diz respeito participao no contexto dos projetos.

    Para alm da importncia de envolver o cidado no cotidiano da gesto pblica, ressalta-se

    a incorporao do senso de responsabilidade que os gestores devem ter com suas atividades. Aparticipao no dada ou garantida pelos governantes, no um benefcio, mas sim umdireito e uma necessidade real para que as polticas pblicas possam ser realmente eficientes.H muito conhecimento disperso entre as pessoas e que, uma vez reunido e trabalhado, pode

    servir para o aprimoramento das polticas pblicas. Por isso, muito mais do que o papel de au-toridade, nessas horas, os gestores devem ser ouvintes e interlocutores em nvel de igualdade.

    2.3 Integridade

    A integridade no servio pblico prevista em lei. Novamente, fica claro que somente isso no

    serve para tirar o conceito do papel. necessrio adotar prticas orientadas a garantir que a inte-gridade no seja apenas um princpio, mas algo perceptvel e mensurvel dentro da administraopblica. Esse eixo pode ser interpretado como um desdobramento do conceito de transparncia.

    No contexto de um Governo Aberto, a integridade deve ser vista como o eixo que traz o com-ponente da accountability, termo que no tem traduo muito precisa para o portugus, masque poderia ser explicado como prestao de contas pblica um processo em etapas que en-volve: 1) transparncia; 2) participao da sociedade, cobrando explicaes; 3) explicaes e justi-ficativas das autoridades pblicas; e 4) possibilidade de sanes (desde a substituio de algumgestor at a no reeleio de uma liderana poltica). Ao longo dessas etapas, faz parte da noo de

    integridade a anuncia e a compreenso, por parte dos gestores pblicos e das lideranas polticas,

    de que esse processo parte do jogo democrtico. Isso significa que, como todos os princpios deGoverno Aberto, a integridade necessita de rotinas para que seja incorporada de fato gesto.

    Outros desdobramentos importantes dizem respeito s formas de controle das condutaspraticadas por servidores em todos os seus nveis, inclusive os dirigentes mximos de cada r-

    go. Por isso, aes de integridade devem contemplar tambm a elaborao e atualizao cons-tante de um cdigo de conduta funcional, bem como a construo de mecanismos consistentesde recebimento e tramitao de denncias a respeito de desvios dessa natureza.

    2.4 Inovao tecnolgica e social

    Todos os demais eixos de Governo Aberto teriam pouca efetividade sem o componentetecnolgico. Foi visto como importante estabelecer mecanismos que reduzam as barreiras aoacesso da sociedade ao cotidiano da gesto pblica. A inovao potencializa todas as aes de

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    26/41

    Governo Aberto | 25

    Governo Aberto, na medida em que amplia o acesso, facilita o uso e a difuso de informaes deinteresse pblico.

    Adotar a inovao tecnolgica como norte significa, mais uma vez, reforar a noo de Go-

    verno Aberto. Pouco adiantaria dispor de procedimentos avanados de prestao de contas se aausncia de recursos tecnolgicos fizesse com que apenas um pequeno grupo de interessadospudesse ter acesso ou condies concretas de trabalhar com as informaes recebidas.

    Por isso, afirma-se que a inovao tecnolgica implica necessariamente inovao do ponto devista social. Significa enxergar o ciclo de polticas pblicas pela lente da sistematizao, organiza-o e apropriao de solues criadas pela sociedade, incorporando-se a elas. Em outras palavras,se a mobilizao social est nas redes, por meio da internet, o poder pblico tambm deve estarl. Se os ativistas de determinado segmento necessitam de grande volume de dados para refletir a

    respeito das polticas pblicas, necessrio organizar esses dados, garantir acesso real a eles, em

    formato aberto, com linguagem cidad, adequada ao trabalho de qualquer interessado.Esse eixo tambm est preocupado em garantir que a administrao pblica tenha condi-

    es de se abrir construo coletiva. Assim, por mais que alguns procedimentos existam h d-cadas nas reparties pblicas, nada impede que essa situao mude de fora para dentro. Boas

    ideias so produzidas a todo o momento na sociedade, de forma colaborativa, e necessrio quea gesto pblica seja sensvel a elas para permanecer atualizada e funcional.

    Assim, pensar a inovao tecnolgica e social do ponto de vista do servio pblico significaadmitir uma postura permanentemente crtica e reflexiva sobre todos os mtodos empregados. pela lgica da colaborao que esse conceito deve ser interpretado.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    27/41

    26 | Cadernos de Formao

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    28/41

    Governo Aberto | 27

    3. Governo Aberto nacidade de So Paulo

    A noo de Governo Aberto como um esforo coordenado intra e intergovernamental algorecente, embora possa ser identificada em uma srie de aes e programas funcionando em

    paralelo h alguns anos. A cidade de So Paulo, inspirada na experincia gestada no governofederal, deu incio sua implementao em 2013 e hoje j se destaca internacionalmente emdecorrncia de iniciativas inovadoras e de alto impacto.

    Quando se trata da maior cidade da Amrica Latina, fica claro que um trabalho srio tem poten-cial para mobilizar agentes do governo e da sociedade, que sero capazes de contribuir em debates

    nas mais diferentes especialidades temticas. Como dito antes, o Governo Aberto pode ser vistocomo um crculo virtuoso de aes e polticas voltadas ampliao da transparncia, da participaosocial, da integridade e da inovao tecnolgica, de forma articulada e integradas s demandas so-ciais, cuja expanso atrai cada vez mais pessoas interessadas em discutir os assuntos relacionadosao governo, o que incentiva (ou obriga) os governos a serem progressivamente mais abertos.

    A institucionalizao dessa iniciativa, por meio da So Paulo Aberta, coloca a cidade em posio

    de destaque por ser uma das primeiras no mundo. Essa discusso foi levantada durante o DilogoAberto Governo e Sociedade Civil, em 2013, com destaque para a importncia dessa articulao,ainda que a concretizao dependa de um processo de adaptao e incorporao que vai alm documprimento de formalidades. Alm disso, destacou-se no haver impeditivos para iniciativas de

    Governo Aberto em Estados e Municpios, bem como no poder legislativo e judicirio. Para esse al-cance, sugeriu-se dilogos e anlises das propostas construdas para o Plano de Ao Brasileiro paraGoverno Aberto e tambm aquelas geradas nas etapas do Dilogo Virtual e Dilogo Presencial.

    A maior contribuio do Governo Aberto na cidade organizar, orientar e potencializar pol-ticas que, de outra forma, seriam realizadas isoladamente, dificultando os ganhos de escala queaes coordenadas tendem a apresentar. Por meio de canais ampliados de participao que vo

    da formulao do Programa de Metas 2013-2016 ao Plano Diretor Estratgico, que prev o desen-volvimento urbano para os prximos 16 anos , passos largos so dados na direo da inovao.

    Como vem sendo concretizado o Governo Aberto na cidade de So Paulo?No ano de 2014, por meio do Decreto no54.794, de 28 de janeiro, foram institudos a So

    Paulo Aberta e o Comit Intersecretarial de Governo Aberto da Cidade de So Paulo (CIGA-SP). A

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    29/41

    28 | Cadernos de Formao

    partir da, ficou prevista a So Paulo Aberta enquanto iniciativa de Governo Aberto que, confor-me seu artigo 1o, pretende integrar e articular aes e polticas pblicas voltadas para:

    I o aumento da transparncia e acesso s informaes pblicas; II o aprimoramento da parti-cipao social; III o fomento inovao tecnolgica; IV o fortalecimento da integridade pblica, por

    meio da preveno e do combate corrupo; V o aprimoramento da governana pblica; VI a melho-

    ria da prestao de servios pblicos e da eficincia administrativa (SOPAULO, 2014).

    A So Paulo Aberta a instncia responsvel pelo cumprimento da Meta 116 do Progra-ma de Metas 2013-2016, que versa sobre gesto descentralizada, participativa e transparente eprev a promoo de uma srie de aes inovadoras de Governo Aberto de forma integrada aoseixos que orientam essa prtica. por meio desse espao que a PMSP elabora, aprimora e incen-

    tiva as iniciativas de Governo Aberto da gesto.

    O que o Programa de Metas?

    O Programa de Metas da PMSP resulta-do de uma mobilizao da sociedade civil,

    que conseguiu fazer com que a CmaraMunicipal aprovasse a sua criao. Assim,

    desde 2008, passou a ser uma exigncia,garantida pela Lei Orgnica do municpio,que obriga todo prefeito eleito a apresen-

    tar, no prazo de 90 dias aps sua posse,um programa que descreva as prioridadesde seu governo, as aes estratgicas, osindicadores e as metas quantitativas paracada um dos setores da administrao

    pblica municipal. Osite do Programa de

    Metas o: .

    Quem compe o CIGA-SP e o que

    compete a esse comit?

    O CIGA-SP composto por um membro

    titular e um membro suplente de 13 secre-tarias municipais e da empresa estatal detecnologia do municpio, a PRODAM, sen-do coordenado pela Secretaria Municipalde Relaes Internacionais e Federativas

    (SMRIF). Suas atribuies incluem: a apro-vao do Plano de Ao Municipal de Gover-no Aberto; a orientao, elaborao, imple-mentao, monitoramento e avaliao dasaes de Governo Aberto; alm de outras

    aes de incentivo pesquisa e desenvolvi-mento de Governo Aberto em nvel nacionale internacional. importante destacar queo processo de elaborao do Plano de Ao

    Municipal de Governo Aberto participativoe prev a realizao de consultas com mo-

    vimentos sociais, instituies cientficas edemais entidades e agentes interessados.Alm das consultas, prevista a participa-o de convidados representantes de outrosrgos ou entidades, especialistas, peritos

    e outras pessoas que possam contribuirpara o aprofundamento da discusso.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    30/41

    Governo Aberto | 29

    Quem so os integrantes do CIGA-SP?

    Secretaria do Governo Municipal (SGM)

    Secretaria Municipal de Gesto (SMG)Controladoria Geral do Municpio (CGM)Secretaria Municipal de Relaes Internacionais e Federativas (SMRIF)

    Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC)Secretaria Municipal de Relaes Governamentais (SMRG)Secretaria Municipal de Finanas e Desenvolvimento Econmico (SF)Secretaria Municipal de Servios (SES)Secretaria Executiva de Comunicao (SECOM)Secretaria Municipal de Cultura (SMC)

    Secretaria Municipal de Coordenao das Subprefeituras (SMSP)Secretaria Municipal de Transportes (SMT)Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU)

    PRODAM

    A primeira etapa do trabalho foi dedicada compreenso do funcionamento interno de

    cada rgo da PMSP para poder identificar quais aes j estavam em andamento, quais eramos desafios em potencial para as medidas em estudo e como o Governo Aberto poderia con-tribuir para o aprimoramento da gesto pblica numa viso mais aplicada. Para orientar essetrabalho, o CIGA-SP elaborou uma lista de critrios estabelecidos com base em intensas dis-cusses internas. O conjunto de aes articuladas de Governo Aberto foi organizado sob o

    nome de So Paulo Aberta.

    Aes relacionadas aos quatro eixos

    Processos, instncias e mecanismos participativos:

    criao de novas instncias e/ou instrumentos de participao; dimenses territorializadas e descentralizadas.

    Portais, redes e solues tecnolgicas:

    disponibilizao de informaes e dados para downloadem formato aberto; cdigo-fonte pblico, aberto e permanentemente disponvel para toda a sociedade.

    Mecanismos de integridade e fortalecimento do Estado:

    mecanismos para recebimento de denncias ou outros instrumentos que permitamcontrole social da gesto pblica; criao de mecanismos e procedimentos para preveno de comportamentos antiticos.

    Transparncia ativa e passiva e linguagem cidad: disponibilizao de informaes e aes governamentais em diferentes meios, comagilidade e amplo acesso;

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    31/41

    30 | Cadernos de Formao

    utilizao de linguagem cidad (texto acessvel e/ou formas de visualizao quesimplifiquem as informaes disponibilizadas).

    Gerais: utilizao de mecanismos ou estratgias para promover a diversidade de atoresenvolvidos que visem ao acesso de grupos sociais historicamente excludos; ampliao do acesso ou promoo de incluso digital e tecnolgica por meio daformao e uso de novas tecnologias da informao e comunicao; promoo da integrao e transversalidade entre os eixos de Governo Aberto.

    Desde sua implantao, a PMSP realiza ciclos formativos para os servidores pblicos, ges-tores e para a sociedade em busca de multiplicar o debate sobre Governo Aberto e fortalecer a

    participao. Alm disso, vem buscando trocar experincias por meio de intercmbios com ou-tras cidades que sirvam de referncia no assunto, bem como promover e participar de eventospara compreender como a gesto pblica e a sociedade civil, incluindo universidades e movi-mentos sociais, podero dar subsdios para o fortalecimento dessa iniciativa.

    Como exemplo desse intercmbio, vale mencionar a participao e apresentao das aes na15aConferncia do Observatrio Internacional de Democracia Participativa (OIDP) no ano de 2015,em que cidades como Madri, Lisboa, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Cidade do Mxico e Maputotambm apresentaram iniciativas de Governo Aberto. Vale destacar a parceria com o Reino Unidopara trocas de experincias, sobretudo no que se refere agenda de transparncia e dados abertos.

    3.1 Principais aes de Governo Aberto na cidade de So Paulo

    A So Paulo Aberta rene as aes realizadas nas diferentes secretarias e rgos da gesto

    municipal, segundo os eixos de Governo Aberto. A seguir esto relacionadas as principais aesinstitudas a partir de 2013. Embora agrupadas com base nesses eixos, os limites no so rigoro-sos, pois uma mesma ao quase sempre influenciada por dois ou mais deles.

    Aes relacionadas transparncia:

    Portal da Transparncia: por intermdio de ferramentas geis, esse portal facilita o

    acesso e o controle de informaes da administrao pblica direta e indireta. importantelembrar que o Portal da Transparncia cumpre a LAI, que indica o compromisso do Estado emdisponibilizar acesso s informaes sobre como os recursos da gesto pblica (em nvel federal,estadual e municipal) esto sendo aplicados. Alm de o portal ser de fcil manuseio e ter umatecnologia inovadora, ele permite ampliar o acesso da populao sobre o De Olho nas Contas,

    uma iniciativa pioneira da PMSP que dispe de informaes nas reas de gesto pblica, contas,funcionalismo, subprefeituras e empresas.

    Dados Abertos:metodologia que trata da disponibilizao facilitada a dados estatsticose geoespaciais sobre a cidade de So Paulo. A organizao dos dados em bases estruturadas,

    acompanhadas de metadados (rtulos contendo a descrio dos campos de uma determinada

    base de dados), e a manuteno de um conjunto atualizado de dados so fundamentais parasua utilidade. Os arquivos so disponibilizados em formato aberto ou no formato mais difundi-

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    32/41

    Governo Aberto | 31

    do dentro de uma dada categoria, e podem ser reutilizados livremente por qualquer interessado,sem necessidade de cadastro, autorizao prvia ou outras formalidades.

    Habisp.plus: sistema que permite acompanhar informaes sobre filas, critrios, locais,

    obras e famlias beneficiadas nos programas de moradia popular.

    Aes relacionadas participao digital:

    Gesto Urbana:plataforma interativa responsvel pelo processo participativo do Plano

    Diretor Estratgico e da Lei de Zoneamento na cidade. Iniciativas como Centro Aberto, OlharesUrbanos entre outras integram o pacote que oferece acesso s informaes dos projetos emandamento, assim como ferramentas inovadoras de participao. Esse portal busca promover ainformao e a participao nas iniciativas de desenvolvimento urbano da cidade de So Paulo.

    Planeja Sampa: o canal eletrnico que rene, principalmente, a plataforma de acom-

    panhamento do Programa de Metas e a atuao do Conselho de Planejamento e OramentoParticipativos (CPOP). Nesse espao, o cidado pode acompanhar a evoluo do ciclo e tambmparticipar ativamente do processo.

    Portal da So Paulo Aberta: desenvolvido em ferramenta livre, o portal permite um novorol de possibilidades de desenvolvimento e conta com interatividade nos programas virtuais

    (abaixo mencionados) e ferramenta de consulta pblica. A plataforma para consulta pblicadigital garante um espao de fcil compreenso para o cidado contribuir em temas relevantespara a cidade. J foram realizadas consultas pblicas importantes nas reas de educao, assis-tncia social e parceria entre administrao municipal e organizaes da sociedade civil.

    #GabineteAberto e #GabinetedeBolso: iniciativas sob coordenao da So Paulo Abertaque promovem o dilogo entre sociedade e a PMSP por meio da interao digital. O #GabineteA-

    berto um programa quinzenal, transmitido ao vivo pela internet, em que os internautas podemfazer perguntas diretamente aos secretrios da gesto. At outubro de 2015, foram 25 ediesrealizadas com 17 secretarias, a primeira-dama, a vice-prefeita, o prefeito Fernando Haddad, almde edies especiais. O #GabinetedeBolso tem um formato mais leve e enxuto, com perguntas etemticas divulgadas pelo Facebook. As trs perguntas mais curtidas so levadas para a mesa

    do secretrio, que as responde e publica a devolutiva em vdeo nesse mesmo canal. Programa Agente de Governo Aberto: maior programa de formao em Governo Aberto do

    mundo a ser realizado nos equipamentos pblicos municipais. A formao feita por agentes se-

    lecionados via edital que recebem bolsas para compartilhar a cultura de Governo Aberto pela cida-de. Os eixos de formao so: i) mapeamento colaborativo e gesto participativa; ii) transparncia

    e dados abertos; iii) tecnologia aberta e colaborativa; e iv) comunicao em rede. Disciplinas de Governo Aberto: parceria entre a So Paulo Aberta e a Universidade de So

    Paulo (USP) Campus Leste , a Fundao Getlio Vargas (FGV) e a Universidade Federal do ABC(UFABC) que construiu disciplinas sobre Governo Aberto, Georreferenciamento e Observatriode Polticas Pblicas. As disciplinas juntaram estudantes das trs universidades, servidores e

    movimentos sociais. Ciclo Formativo em Governo Aberto:parceria da So Paulo Aberta com a USP, a FGV, a

    UFABC e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) para incentivar reflexes sobre os eixosde Governo Aberto em mbito municipal. O evento ocorreu no perodo de maio a agosto de 2015e, alm de ter sido transmitido ao vivo, contou com a participao de estudantes, representan-

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    33/41

    32 | Cadernos de Formao

    tes dos movimentos sociais e cidados em geral. Formao de conselheiros dos Conselhos Participativos Municipais:curso de formao

    dos membros dos Conselhos Participativos Municipais das subprefeituras MBoi Mirim, Campo

    Limpo e Santo Amaro, em agosto de 2014, organizado pelo CIGA-SP, com o objetivo de iniciar umdilogo entre o governo e os Conselhos Participativos Municipais por meio de prticas formati-

    vas que contribui para o fortalecimento do papel dos conselheiros no territrio.

    Aes relacionadas integridade pblica

    Criao da Controladoria Geral do Municpio: a Controladoria Geral do Municpio (CGM)foi criada em maio de 2013, por meio da Lei no15.764, de 27 de maio de 2013, e busca promoveraes para prevenir e combater a corrupo na gesto municipal, garantir a defesa do patrimniopblico, promover a transparncia e a participao social e contribuir para a melhoria da quali-

    dade dos servios pblicos. Sua forma de organizao dispe das seguintes reas: CorregedoriaGeral do Municpio, Ouvidoria Geral do Municpio, Coordenadoria de Auditoria Interna e Coorde-nadoria de Promoo da Integridade Pblica. A CGM foi responsvel por aes fundamentaisno combate corrupo, tais como a desarticulao da Mfia dos Fiscais, a investigao de lici-taes com suspeita de superfaturamento e a demisso de servidores pblicos envolvidos em

    irregularidades. No campo preventivo, responsvel por ferramentas importantes, tais como oPortal da Transparncia e o Catlogo Municipal de Bases de Dados, em fase de aprimoramento.

    Pacote Anticorrupo:consiste na regulamentao de leis federais fundamentais para ocombate corrupo, tais como a Lei da Empresa Limpa, que permite a responsabilizao dos

    corruptores, ou seja, agentes privados, normalmente vinculados a empresas que se relacionamde alguma forma com o poder pblico, que financiam a corrupo por meio do pagamento depropinas, e na criao de mecanismos administrativos mais geis para a apurao e punio decrimes e faltas funcionais

    Cdigo de Conduta Funcional dos Agentes Pblicos:criado sob o conceito de cdigode tica, tratou de disciplinar uma srie de condutas legais do ponto de vista formal, mas

    imorais na prtica.

    Aes relacionadas inovao tecnolgica:

    Laboratrio de Inovao Tecnolgica da Cidade (LABPRODAM):Com o objetivo de desen-

    volver ferramentas voltadas melhoria da vida do cidado e da agilidade no servio pblico, oLABPRODAM a primeira estrutura da PRODAMque busca fomentar o avano tecnolgico, incentivaro surgimento de novas ferramentas e tecnologias e propiciar um ambiente de encontro entrepessoas inovadoras. Principas projetos:

    Contador de Ciclistas: foi no LABPRODAMque a PMSP desenvolveu o Contador de Ci-

    clistas. Por meio de processos inovadores, So Paulo foi pioneira em desenvolver umaferramenta fundamental na avaliao da poltica pblica cicloviria da cidade e colocaa capital paulista no caminho do desenvolvimento de tecnologias avanadas, como oprocessamento de imagens que a capacidade de transformar imagens em dados.

    Game:LabNaVia integrado ao Sistema de Mapas Culturais: esse jogo tem o objetivode estimular o uso da ciclovia, incentivando uma vida saudvel e a educao no trn-sito. integrado ao Sistema de Mapas Culturais da SPCultura. Isso possibilita que o

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    34/41

    Governo Aberto | 33

    usurio, medida que o utiliza, seja informado em tempo real sobre os equipamentosculturais ao redor (com horrio de funcionamento, telefone e outras informaes). LabDirio: a poltica de Governo Aberto da gesto prev o uso de ferramentas avana-

    das tambm internamente para agilizar o servio pblico. O LabDirio permite que ser-vidores ganhem tempo em consulta ao Dirio Oficial ao possibilitar a criao de regrasde consultas, organizao dos resultados e seu recebimento pore-mail.

    Laboratrio de Mobilidade Urbana e Protocolos Abertos:iniciativa permanente da So Pau-lo Transporte S.A. (SPTrans) e da Companhia de Engenharia de Trfego (CET) que instiga partici-pantes na busca de solues tecnolgicas e no desenvolvimento de novos aplicativos e softwares

    para a melhoria do transporte, do trnsito e da mobilidade urbana na cidade de So Paulo. Caf Hacker SP:encontro entre representantes da PMSP com programadores, conselhei-

    ros, ativistas e pesquisadores para discusso sobre a abertura de dados, melhora de sitese lin-

    guagem de sistemas pblicos. Busca Sade: ferramenta que auxilia na marcao de consultas automticas pela internet

    para encontrar os equipamentos e servios de sade disponveis no municpio. SPCultura: espao de plataforma livre e gratuita que a SMC utiliza para mapear o cenrio

    cultural paulistano de forma colaborativa. Plataforma de aplicativos de finanas:ferramenta criada pela para oferecer agilidade ao

    contribuinte por meio da inovao tecnolgica. Pelo smartphone, o cidado poder fazer consul-tas ao Cadastro Informativo Municipal (CADIN), alm de pagamentos ou solicitaes de restitui-o e outros servios.

    Pacote de aplicativos de servios pblicos:mais de dez aplicativos facilitam a procura porinformaes e resoluo de problemas relativos a finanas, transporte, sade, desenvolvimentourbano, trabalho e servios. Todos esto disponveis para smartphonescom sistemas Androidou IOS e podem ser encontrados em buscas nas principais plataformas, como App Store, GooglePlay e Windows Phone. Alguns exemplos:

    Central de Atendimento ao Trabalhador (CAT-e):a Central de Atendimento ao Trabalhador(CAT) disponibiliza aplicativo que divulga vagas de empregos, currculos e outros servios. Iluminao pblica (Take Vista):aplicativo que funciona como uma espcie de mdia so-cial, em que aps fotografar ou fazer um vdeo do local com problema o usurio deve enviaro material por celular utilizando a hashtag#IluminacaoPublica. Esse material chega ao Ilu-

    me (Departamento de Iluminao Pblica), que utiliza um sistema que capta as coordena-das geogrficas de modo que a equipe de atendimento rapidamente deslocada ao local. Cad o nibus?Vencedor da Hackatona do nibus, promovida pela PMSP em 2013, oaplicativo permite que o usurio pesquise o itinerrio das linhas e horrios de partidas dosnibus, alm de descobrir os pontos mais prximos do local onde est. Permite tambmdescobrir a localizao em tempo real do veculo e como est o trnsito nas vias por ondepassam os coletivos.

    Wi-Fi Livre SP:programa que busca promover o acesso internet livre, sem fio, gratuitae de qualidade para qualquer cidado que disponha de um dispositivo capaz de acessar redes

    Wi-Fi, em 120 localidades distribudas por todos os 96 distritos da cidade.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    35/41

    34 | Cadernos de Formao

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    36/41

    Governo Aberto | 35

    Concluso

    O Governo Aberto um novo paradigma para a gesto pblica, pois amplia a permeabilida-de do Estado em direo sociedade e vice-versa. Chegam ao fim o insulamento (isolamento)

    burocrtico, as decises unilaterais e a opacidade. Com o advento de novas leis, novas prticase novas tecnologias de informao e comunicao e com o aumento da massa crtica dos cida-dos, graas ao maior acesso escolarizao e aos bens de consumo , a relao entre Estado esociedade transforma-se, possibilitando um futuro promissor.

    Mas, para que as potencialidades do Governo Aberto efetivem-se, necessrio um fluxo de

    interao e engajamento dos dois lados: a ampliao da sociedade nos espaos institucionais,participando do governo, acreditando que possvel e desejvel construir um Estado democrti-co que garanta os direitos e promova a justia, a paz e a tolerncia; e os governos, por seu turno,devem explicitar o compromisso poltico com o Governo Aberto e seus eixos, concretizando-opor meio de legislao, polticas, estruturas, oramento e pessoal qualificado.

    Para que as aes realizadas em So Paulo e ao redor do mundo possam realmente pros-

    perar e tornar-se nada menos do que a rotina bsica de qualquer governo srio, necessrioengajamento social mediante participao, cobrana e utilizao de todas as formas de envol-vimento das pessoas com as polticas pblicas e, em outra frente, importante defender queo Governo Aberto no seja apenas um compromisso assumido por este ou aquele governante,

    mas que seja incorporado como poltica de Estado, como um dos mais importantes conjuntos dedireitos das pessoas com relao a seus governantes. A agenda que o Governo Aberto coloca aoEstado e sociedade promissora e lana desafios a todos.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    37/41

    36 |Cadernos de Formao

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    38/41

    Governo Aberto | 37

    RefernciasLivros, artigos, teses, dissertaesABRAMOVICH, V. & COURTIS, C. El Acceso a la Informacin como Derecho. Cuadernos de Anlisis

    Jurdico, n. 10, Santiago, 2000, p. 197-218.

    ANGLICO, F. Lei de acesso informao pblica e seus possveis desdobramentos para a

    accountability democrtica no Brasil. 133f. Dissertao (Mestrado em Administrao P-blica e Governo) Escola de Administrao de Empresas de So Paulo, Fundao Get-lio Vargas, So Paulo, 2012. Disponvel em: . Acesso em: 19 nov. 2015.

    BENKLER, Y. The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom.New Haven: Yale University Press, 2006.

    EVANS, P. O Estado como problema e soluo.Lua Nova, n. 28-29, So Paulo, abr. 1993.

    HABERMAS, J. Mudana estrutural da esfera pblica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.

    KANT, I. paz perptua. Trad. de Marco A. Zingano. Porto Alegre; So Paulo: L&PM, 1989.

    MACINTOSH, A.; COLEMAN, S. & SCHNEEBERGER, A. eParticipation: The research gaps. Electronic parti-cipation, Springer Berlin Heidelberg, 2009, p. 1-11.

    MARQUES, E. Notas crticas literatura sobre Estado, polticas estatais e atores polticos. BIB,

    n. 43, Rio de Janeiro, 1997.

    MIGDAL, J.; KOHLI,A. & SHUE, V. (orgs.). State Power and Social Forces: Domination and Transformationin the Third World.Cambridge: Cambridge University Press, 1994.

    NEVES, O. M. C. Evoluo das Polticas de Governo Aberto no Brasil. In: VI CONSAD,2013, Braslia. Anais CONSAD, 2013. Disponvel em: http://consadnacional.org.br/wp--content/uploads/2013/05/092-EVOLU%C3%87%C3%83O-DAS-POL%C3%8DTICAS-

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    39/41

    38 | Cadernos de Formao

    -DE-GOVERNO-ABERTO-NO-BRASIL.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2015.

    PRIETO-MARTN, P. E pur si muove! La participacin electrnica ms all de los galimatas acad-

    micos. GIGAPP Estudios Working Papers,25, 2012.

    ______; DEMARCOS, L. & MARTNEZ, J. J. The e-(R)evolution will not be funded. An interdisciplinaryand critical analysis of the developments and troubles of EU-funded eParticipation.European

    Journal of ePractice, 15, 2012.

    ______. & RAMREZ-ALUJAS, A. V.Caracterizando la participacin ciudadana en el marco del Gobier-no Abierto. Revista del CLAD Reforma y Democracia, 58, 2014, p. 61-100.

    RAMIREZ-ALUJAS, A. V. Presente y futuro del Gobierno Abierto: Hackear el Gobierno, reprogramarla Administracin Pblica y configurar una nueva infraestructura cvica. Telos: Cuadernos de

    comunicacin e innovacin, n. 94, 2013, p. 84-86.

    STIGLITZ, J. Transparency in government. In: WORLDBANK. The Right to Tell: The Role of MassMedia in Economic Development. Washington, D. C.: World Bank, 2002.

    Matrias de imprensa, blogs, sites, documentos

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia: Casa Civil, 1988. Disponvel em:

    . Acesso em: 23 nov. 2015.

    ______. Lei Complementar no131, de 27 de maio de 2009. Braslia: Casa Civil, 2009. Disponvel em:. Acesso em: 23 nov. 2015.

    ______. Lei no12.527, de 18 de novembro de 2011. Braslia: Casa Civil, 2011. Disponvel em: . Acesso em: 23 nov. 2015.

    ______. Decreto no7.724, 16 maio de 2012. Braslia: Casa Civil, 2012. Disponvel em: . Acesso em: 23 nov. 2015.

    CENTRO DE DERECHOS HUMANOS. Conceptos de uso frecuente en el campo de Transparencia,Accountability y Lucha Anticorrupcin. Glosario. Facultad de Derecho Universidad de Chi-

    le, s.d. Disponvel em: . Acesso em: 23 nov.2015.

    CGU. Comit Interministerial. Parceria para Governo Aberto, 11 dez. 2014. Disponvel em:. Acesso em: 23 nov. 2015.

    HASAN, M. Brazil: increasing corporate accountability. Open Government Partnership FromCommitment to Action, October, 2013. Disponvel em: . Acesso em: 23 nov. 2015.

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    40/41

    Governo Aberto | 39

    OGP. About. Open Government Partnership, s.d. Disponvel em: . Acesso em: 23 nov. 2015.

    ______. Introduction [United Kingdom]. Open Government Partnership, 2015a. Disponvel em:

    . Acesso em: 23 nov. 2015.

    ______. Introduction [United States]. Open Government Partnership, 2015b. Disponvel em:. Acesso em: 23 nov. 2015.

    ROUSSEFF, D. Discurso da presidenta da Repblica, Dilma Rousseff, durante cerimnia de lana-mento da parceria para Governo Aberto. Portal do Planalto, 20 set. 2011. Disponvel em: . Acesso em: 23 nov. 2015.

    SOPAULO. Decreto no54.794, de 28 de janeiro de 2014. So Paulo: Secretaria do Governo Munici-pal, 2014. Disponvel em: . Acesso em: 23 nov. 2015.

    TRANSPARENCY INTERNATIONAL. The Anti-Corruption Plain Language Guide. [S.l.], 2009. Disponvel

    em: . Acesso em: 23 nov. 2015.

    UNESCO. Direito informao: pea-chave nas engrenagens da sociedade do conhecimento. CGU,2010. Disponvel em: . Acesso em: 23 nov. 2015.

    (crdito: Mnica Casanova/

    CGM).

  • 7/26/2019 Srie Cadernos Formao: Governo Aberto

    41/41