seres imaginários /jornal-20 jun.10

Upload: pamela-zechlinski

Post on 15-Oct-2015

65 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Seres ImagináriosEditora: Instituto de Estudos Ibericose Ibero-americanos da Universidade de Varsó[email protected]:Abel Murcia Agata Bojanowska Agata Derdak Agata Szmusiak Agnieszka Ulińska Aleksandra Józiak Anna Działak Anna Kalewska Anna Milak Anna Wilk Daniela Capillé Jan Rydzak Katarzyna Dembowska Katarzyna Hajost-Żak Katarzyna Skonecka Kornel Stanisławski Małgorzata Krawczyk Małgorzata Siedlecka Magdalena Duszczyk Magda Sulek Magdalena Żebrowska Marek Cichy Marta Machowska-Dias Marta Jędraszczyk Milena Górnicka Monika Różanek Monika Szablińska Natalia Nagler Olga Ostrowska Sylwia Jakubas Urszula Bilińska

TRANSCRIPT

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    1/76

    seres imaginarios

    Ano 7 # 20Junho | Junio 2010ISSN: 1731- 0997

    ?

    seres imagin

    arios

    Ano 7 # 20Junho | Junio 2010ISSN: 1731- 0997

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    2/76

    Junho 20102 ?

    UMACRNICAIMAGTICApor Jakub JankowskiProfessor de Lngua Portuguesa

    da Universidade de Varsvia

    {CRNICA}

    D : ou uma vila onde eu no nasci mas que ser l na mi-nha terradas conversas por vir. E por onde tenho andado desde que li pela boca daminha av a minha primeira bd, desde que deixei cair aquela ma verde naquelejardim (do outro lado da rua) sob o olho vigilante da minha mesma av. Esbocem

    isto: uma vila cheia de pessoas de carne e osso. Presentes em carne e osso. Todos os dias, a todasas horas, em todos os seus lugares sob todas as luzes imaginveis. O meu tio a levantar-se s seisdo Vero, s escuras do Inverno, a minha outra AvSeis-e-meia da Primavera, a viver pelas suassete quintas do Outono. Tracem isto: ser unha e carne com esta passagem do tempo, com essa,com aquela... Ser imaginrio porque a imaginao como azeite, vem sempre tona. Ser ima-ginrio porque a imaginao morre como a ltima. Ser bicho imaginrio de sete cabeas para a

    memria instvel, esquecvel, dolorosa, passageira, roubada...Pintem isto: umaalma, uma alma como seria? De que seria? Para que seria? Quem seria?Seria o qu? Princpio da vida e do pensamento, parte imaterial do ser

    humano, princpio espiritual em oposio matria, substncia ouparte principal de algo. Almas do padeiro, almas do outro mundo,

    tretas, tretas, tretas...Fotografem isto: um olhar que quer ver paraalm de... Captem isto: uns cabelos brancos que querem cres-cer... Reparem nisto: todos estes verbos so da primeira con-jugao... Imaginem isto: um tumor imaginrio que s se vna radiografia. Um bom parceiro na discusso,com bons argumentos, com boas deixasembora nunce deixe de ter a ltima pa-lavra. Empolgante como uma discusso

    sem fim. Imaginrio, porm irrevogvel.Sim, ser imaginrio a todo o custo entre

    seres imaginrios. Ser alma. Reparem quetodos estes verbos so da primeira...

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    3/76

    Junio 2010 3?

    EMDEFESADOSSERESIMAGINRIOSpor Aleksandra Jziak

    Estudante do 3 anoEstudos Portugueses

    Universidade de Varsvia

    {CRNICA}

    seja frequente-mente associada com crianas. Ou com motoristas,nomeadamente quando se diz que conduzem semimaginao. Mas voltemos s crianas, uma vez

    que constituem um exemplo gracioso de seres imaginativos,criadores fecundos de seres imaginrios.

    A imaginao muitas vezes contraposta ao conhecimento,como faculdades que se condicionam numa relao inver-samente proporcional. Quer dizer, quanto maior e mais

    vasto o conhecimento, tanto menor a fora e a habilidadeda imaginao. Curiosamente, nessa relao, a imaginaoparece menos subjugadora, pois o seu desenvolvimento nobloqueia nem impossibilita o progresso do conhecimento.O reino da imaginao tranquilo, harmonioso e pacfi-co. Quando, porm, o conhecimento entra em aco, a suaexpanso rpida e impiedosa, obrigando a imaginao acontentar-se com uma posio marginal e cada vez menora partir deste momento. interessante que, mesmo assim,Albert Einstein tenha considerado a imaginao mais impor-tante do que o conhecimento, j que este limitado.

    Por muito intil que esta digresso parea, podemos tirardela a seguinte concluso: se assim for, que um menorconhecimento signifique um maior domnio da fantasia (ai,esperem, e porque nos dizem ento que os livros enriquecema imaginao?), no admira que as crianas, viventes notempo abenoado da ignorncia legtima, antes da invasoda sabedoria escolar, sejam indivduos mais vulnerveis sgraas sedutoras do universo da imaginao.

    A fantasia e as suas criaturas so os melhores amigos dacriana. No , pois, sem justificao a letra da famosacano de infncia segundo a qual a fantasia para sedivertir sem parar. Alis, quem de ns, pelo menos uma

    vez na sua vida, no foi uma princesa, um cavaleiro ou umsuper-heri qualquer? Quantos de ns, sentados nas barrasdum escadote no recinto de recreio, no se tornaram piratascercados por um bando de tubares que, na verdade, eramapenas uma matilha de ces sem-abrigos do bairro? Alguns

    provavelmente procuraram gnomos silvestres sob as folhasdurante uma excurso ao bosque, ou uma ninfa aqutica que

    vivesse mesmo num charco. Quem, por fim, no acreditouno Pai Natal ou no preparou um cestinho para que o Coe-lhinho da Pscoa lhe deixasse alguns doces?

    E quantas aventuras perigosas e inesquecveis graas imaginao! Lembram-se de todas essas criaturas pavorosasque costumavam morar debaixo da cama? Ou dos terroresperturbadores durante uma noitada na tenda montada no

    ptio depois de um primo mais velho lhe ter contado algu-mas historinhas sobre fantasmas? Quantas vezes passarama noite em claro porque tinham a certeza de que as vossasbonecas se mexiam na prateleira e falavam entre si sussuran-do? E por quanto tempo no conseguiram entrar na cave ouno sto desde que descobriram que tinham sido habitadospor uns monstros? Sim, para cada um de ns est espreitao produto da nossa prpria imaginao, disse Hugh Walpole.

    E depois de nos ser oferecida a ddiva insubstituvel deler, quantas voltas ao mundo ou viagens ao centro da Terrarealizmos graas aos livros! Mormos no Fronto Verde ouestudmos na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

    Pensaram alguma vez no que se passou com todos estes seresimaginrios? O que fazem e onde agora moram? Pois decerteza j no debaixo das vossas camas ou no sto da casada av. p, diro vocs, eles nunca existiram na realidade!Tudo bem. J somos maduros, sbios, no precisamos maisde amigos imaginrios.

    S de vez em quando, por alguma ocasio, como porexemplo o lanamento de um filme novo de Tim Burton,lembramo-nos da existncia do mundo da imaginao. Sque agora precisamos de um efeito 3D para que esse mundo

    nos convena. E eu, que tambm no passo da simples cria-o imaginria de algum do alm deste texto escrito, emnome de todos os seres imaginrios abandonados por seresantigamente imaginativos, sinto-me obrigado a dizer: que

    vergonha!

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    4/76

    Junho 20104 ?

    {PROSA}

    QUEBRAROGESSOPaulo Mendes Pinto

    Coordenador da Ctedra de Estudos SefarditasFaculdade de Letras de Lisboa

    C , na Via Real, dei por mimcom pensamentos estranhos e estrbicos. Estra-nhos porque sempre aqui estive, no sei que medeu para daqui querer sair. Estrbicos porque vos

    vejo a passar sempre de lado, enfrentando-me apenas num

    breve momento em que, para provar a vossa arrogncia, es-to sempre de soslaio. Sim, aqui enquanto me imobilizo comeste peso imenso nos ombros, apenas vos vejo pelo canto dos

    vossos olhos. Ningum me encara de frente, olhos nos olhos.Simplesmente passam e sou incessantemente transformadoem paisagem

    No vos digo que j vi muita coisa. Para quem no se podemexer, o olhar o que nos sobra no escasso ngulo que a

    viso esttica consegue apanhar. E como eles se movem!Enfim, por vezes param vejo-os melhor. Mas nunca parama olhar para ns.

    Apesar deste tamanho imenso e deste ar ameaador, noos consigo assustar. Ao ver-me, h longos anos, com estecorpo musculado, pensei que seria um sucesso. Sim, fuie sou. As pequenas esfinges do outro lado da rua, se bemque frias, mesmo glidas, porque feitas de negro ferro, noconseguem tirar os olhos de mim. Como eu delas, enfim, geometria pura

    Esto em frente, sem mais nada para onde olhar, seno paramim. Mas a sua viso passa-me, ultrapassa-me. So comoraios x que seguem at ao infinito atravs do gesso do meuser. Frias, distantes, mas na minha frente, so a paixo pos-svel mas tal como com os que passam, sem ferro nemgesso nos movimentos, sem sorriso algum.

    Mas hoje sonhei acordado. Inquieto, mas parado. E se eume partisse? Ao menos iriam olhar para mim quando meestatelasse no cho! No, no bem um suicdio, at medava vida seria capaz de andar mais de um metro!

    E decidi-me. Vou-me atirar e deixar de suportar o mun-do nesta varanda ridcula! Mas nada aconteceu foi-menegado o drama e at o medo: nem sequer consegui fecharos olhos espera do embate!!! Mantive-me hirto, negando

    o meu desejo, enquanto sonhava cair. S que no cai

    Sinto-me quase l. Sei que tenho uma brecha nas costas, naligao parede poderosa. Ajudem-me e libertem-me desta

    funo de segurar um mundo que nem vejo! Sim, sou umAtlas musculado a segurar uma varanda ridcula Eu po-dia, espantem-se, at segurar o Mundo! Mas este mundo?

    Queria ver-vos, aqui a nem conseguir ver quem passa.

    Atlasa

    seguraro

    globo

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    5/76

    Junio 2010 5?

    MARIOLACarol Beltro

    Professora de Lngua Portuguesada Universidade de Varsvia

    {PROSA}

    D na cidade, Mariola seencantou com todas as convenincias e facilida-des de que no dispunha em seu vilarejo natal. Aprofuso de cores e luzes, a variedade de gente e

    a abundncia de possibilidades lhe deixavam excitada. Mas

    aquilo que mais deslumbrava Mariola era o estabelecimentocolorido que ficava bem em frente janela do seu quarto-e-sala. Naquele lugar as paredes brilhavam como o espaosideral, com estrelas, planetas e um grande sol desenhado.Brilhavam tambm algumas camas e as pessoas que saam del. Passados os primeiros meses de inibio, comum a quemsempre viveu no interior, Mariola comeou a freqentar olocal. A rotina era sempre a mesma: pagava alguns trocados recepcionista, a moa lhe abria uma cama, limpava-a, e Ma-riola tinha alguns minutos para se despir, lambuzar o corpocom um creme, pr culos especiais e se deitar.

    Potncia mxima! falava para si mesma, com satisfao.

    Fechada dentro daquela cama que mais lembrava um esquife,ela comeava a conquistar a cor da cidade grande. Sentia aluz das lmpadas emitida com fora e gostava da sensao desua pele queimando.

    Laranja combina com o qu? Acho que vou pintar o cabelode amarelo, vai ficar bom...

    Um dia, seguindo o ritual crematrio de costume, Mariolafoi encaminhada pela moa da recepo a uma nova cama,produto de ponta no mercado da artificialidade. Extasiada,percebeu que a cama era moderna mesmo, pois tinha atum mini-rdio para que ela manipulasse e pudesse ouvir suaestao preferida.

    novssima. Alis, voc vai ser a primeira a us-la. disse-lhe a recepcionista com um misto de inveja e aflio, pois ain-da no se sabia ao certo que efeitos podiam ter o raio daquelacama.A menina deitou-se, culos postos, rdio ligado Jesteszalona!..., cantava algum l da sua terra e a cama comeoua funcionar. Tudo ia bem, Mariola sentindo aquele calorzinhogostoso, como se estivesse no Saara em pleno agosto. Mas, derepente, uma voz estranha cobriu o som do rdio:

    Al, terrquea! H? Mariola abriu um olho. Voc pode nos ouvir? Qu? Mariola abriu o outro olho. Sim, pode nos ouvir! Viva! Queremos estabelecer contato

    com a Terra! Quem t falando? Isso uma brincadeira de mau gosto, poracaso?

    Mariola comeava a abrir a cama, quando foi advertida: No faa isso! Ou poder se arrepender...Ressabiada, decidiu no sair.

    Me arrepender por qu? Tem cmera a fora pra me filmarsem roupa?

    Nada disso, fique calma. Somos do planeta Tmbalon Alfa,aquele que est pintado ali na porta do banheiro. Viemos emmisso de paz.

    Cada vez que a voz emanava do alto-falante, as lmpadastremiam e ardiam com mais intensidade.

    Aaaaai!!! gritou Mariola depois daquele discurso to longo. Por favor, no saia da. Esta a primeira vez que consegui-mos estabelecer contato.

    Primeira e ltima, se depender de mim! Ai, ai!!! Aaaaaaaai!!! e Mariola levantou-se desembestada, a recepcionista j dolado de fora do quarto iluminado a esmurrar a porta.

    Ei, tudo bem a dentro? T tudo bem?

    Mariola abriu a porta, o cabelo amarelo-ovo eriado, o corpovermelho e cheio de pequenas queimaduras. Voc acha que est tudo bem? Olhe pra mim!

    A recepcionista, boquiaberta, s ouvia. E Mariola, apontandoo planeta Tmbalon Alfa na porta do banheiro, continuou:

    Tudo culpa daquela pintura ali! E essa cama com rdio!Melhor jogar no lixo!

    Saiu, para nunca mais voltar, nem ser vista.

    A recepcionista desconfiou que a luz muito forte pudesse lheter queimado alguns neurnios:

    Esse pessoal do interior...

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    6/76

    Junho 20106 ?

    APELIDARROBSDOSNOMESPRPRIOSDOSSERESMUITOENGENHOSAMENTEIMAGINADOS

    PORSTANISAWLEMpor Marta Machowska-Dias

    Licenciada em Estudos Portuguesespela Universidade de Varsvia

    O por excer-tos da minha tese de mestrado, escrita no ano2008/2009 sob a orientao do Prof. DoutorGerardo Beltrn e felizmente defendida em Julho

    de 2009, no 220 aniversrio da tomada de Bastilha. A ideiaoriginal foi analisar como se comportam na traduo paraportugus os recursos literrios ao servio do grotesco nafico cientfica de Stanisaw Lem. O material era to ricoque afinal me limitei aos nomes prprios de personagens,stios, criaturas e outros elementos do mundo dos contosgrotescos sobre Ijon Tichy (foi tambm necessrio tomar emconsiderao a edio norte-americana que serviu de base

    para a traduo portuguesa). A anlise desses nomes signifi-cou entrar num grande jogo de associaes e de imaginao.Revisitando este meu trabalho, vejo bem que, como aconte-ce sempre com obras da imaginao, se podia ter ido maislonge nesse jogo. Por isso, convido o leitor a uma reviso dasminhas ideias e a uma re-imaginao dos exemplos citados.Tratam-se de criaturas grotescas, isto de seres imaginadosno mbito do mundo grotesco e de acordo com as suas regras,bem como dos seus nomes.

    CRIATURASGROTESCASUma criatura de caractersticas hbridas pode servir de em-blema categoria esttica do grotesco, pois metonimicamentecondensa as suas particularidades (Dajnowski : 121). E osuniversos que Ijon Tichy percorre abundam em seres vivos queo leitor pode reconhecer como hbridos de vrios elementosque conhece do mundo real. Como resume Maciej Dajnowski,Dzienniki Gwiazdowepode servir como base para a elaboraode uma enciclopdia de astro-zoologia e astro-botnica. Osentes que Tichy observa nas suas andanas pelo cosmos so h-bridos esquisitos de animais, plantas e, de vez em quando, m-

    veis ou outro objectos inanimados. No ciclo Ze wspomnieIjona Tichego o conto Ratujmy kosmos o que mais abunda

    em criaturas de natureza grotesca. Podemos ler neste textosobre criaturas como mrwka krzesawka dreczypupa (umhbrido feito de uma cadeira e formigas ferozes), przebizaduporek (um hbrido de um insecto e uma broca) ou goryczkarozumna (um hbrido de uma batata e um crebro humano).

    A fauna e a flora do mundo representado trazem um problemacrucial para a traduo: um vocabulrio riqussimo, repleto deneologismos formais, nomes prprios e termos de linguagenscientficas. Podemos ento dizer que as criaturas grotescasformam parte do mundo representado e exigem uma lnguaprpria para o descrever. todo um universo novo, comelementos que tero de ser designados com novas palavras.Assim o tradutor encontra-se perante uma srie de palavrase expresses que provm das enciclopdias de biologia ou doquotidiano do mundo real, aberraes destas ou palavras queforam inventadas pelo autor e no se assemelham a nada queo leitor conhea. Cada categoria exigir que se empregue uma

    estratgia de traduo.

    MQUINASCOMOSERESGROTESCOSAqui quismos dar especial destaque a uma sub-classe de cria-turas grotescas da prosa lemeana: s mquinas. Estas criaescabem perfeitamente na categoria de criaturas ou seres, jque a maioria deles possui uma conscincia e uma persona-lidade, e esta ltima em muitos casos no menos interes-sante do que as personalidades dos humanos inventados porStanisaw Lem e dos que habitam o mundo ao qual chamamos

    real.

    ANTROPO-CREMATNIMOS: NOMESDEMQUINASUma categoria especial deve ser aberta para os nomes de todoo tipo de mquinas e aparelhos do conto Tragedia pralnicza.Como veremos, as mquinas, na sua grande maioria, no soapenas objectos mortos; dispem de uma inteligncia artificialavanadssima, muitas vezes igual ou superior dos huma-nos. Portanto no podem ser vistos como simples objectos.Por outro lado, o narrador, e a situao apresentada no conto,sublinham que as mquinas no tm um estatuto igual ao dos

    homens. As mquinas combinam em si caractersticas do serhumano e do objecto inanimado. Os seus nomes tambm noso criados de forma a se assemelharem aos nomes de sereshumanos. Por isso sero aqui tratados como uma categoriaseparada: antropo-crematnimos. Este termo abranger os no-

    {INVESTIGAO}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    7/76

    Junio 2010 7?

    mes prprios de mquinas, tanto daquelasque apresentam inteligncia e comporta-mento quase-humano, como daquelas cujograu de humanidade muito inferior, devi-do grande importncia das mquinas nomundo apresentado do grotesco da ficocientfica de Lem.

    Dois casos muito interessantes so osnomes das naves espaciais referidas nas no-tcias sobre a inteligncia artificial rebelde,em original Boydar e Horda Tympanii.

    Boydar uma nave cujo computadorinsurgiu-se contra a sua tripulao e contraos passageiros, suprimiu-os, e em segui-da instalou-se num planeta desabitado,multiplicando-se e tendo estabelecido um

    estado de robots1(Lem 1987: 83). O outrocaso envolve mquinas muito capricho-sas: Chegou ao ponto de um gesto poucopolido, o bater de uma porta, ser suficientepara fazer com que um frigorfico a bordose rebelasse foi exactamente o que aconteceu com o notvelGelafundo do trangalctico Intrpido2(Lem 1987: 83). Nastradues os nomes destas duas naves apresentam-se daseguinte maneira:

    polaco ingls portugus

    statek Boydar spaceship Jonathan naveJonathan

    transgalwaktykHorda Tympanii

    transgalacticIntrepid

    transgalcticoIntrpido

    A palavra Boydar um antigo nome masculino pola-co, que significa dom divino ou oferecido por Deus. Osignificado bvio para um falante de lngua polaca, pois aconstruo clara, o nome formado por dois elementosde base: boy - de Deus (liwiski, Tyszkiewicz 2005)e dar - ddiva, dom, presente (liwiski, Tyszkiewicz2005). Na traduo americana a nave aparece como Jona-than, tambm um nome masculino existente na tradioanglo-saxnica. O significado do nome Jonathan prati-camente igual ao de Boydar. Dois dicionrios de nomesprprios fornecem as seguintes definies: Biblical name,meaning God has given, composed of the same elements asthose of Matthew, but in reverse order3, From the Hebrewname (Yehonatan) (contracted to -(Yona tan)) meaning YAHWEH has given4. Embora o significadodos nomes seja igual, a sua situao pragmtica diferente.

    Jonathan um nome bastante frequente em pases da lnguainglesa, ao contrrio de Boydar, rarssimo na Polnia nasegunda metade do sculo XX. No entanto Boydar revelalogo o seu significado aos leitores e Jonathan no, pois oselementos de base que referem Deus e dom esto nele pre-

    sentes sob forma de palavras hebraicas sujeitas a um processode adaptao fontica. O resultado uma mudana no jogoque o nome cria: no original ele bvio, na traduo torna-se erudito, acessvel s para quem conhecer a etimologiahebraica do nome ou estiver curioso e procurar nos dicio-

    nrios. O tipo de jogo muda, mas mesmo assim permanecemuito lemeano, pois os jogos eruditos so muito frequentesna prosa de Lem. Em portugus o nome fica Jonathan. Otradutor decide deixar o nome prprio sem mudanas, noescolhe a verso portuguesa do mesmo nome Jonats, peloque o jogo se torna ainda menos acessvel. O leitor poderiaprocurar o significado do antropnimo ingls Jonathan,

    mas no tem indicaes para tal necessidade. Encontra umnome estrangeiro que lhe pode parecer mais um elemento domundo representado situado nos Estados Unidos alternativos.Se o tradutor tivesse optado pelo nome portugus Jonats,talvez o leitor tivesse um indcio de um significado oculto,pela associao com a personagem bblica desse nome. Emportugus seria tambm possvel recriar o jogo original deforma mais legvel para o leitor, por exemplo utilizando umnome proveniente de latim como Dominico ou derivandoum nome novo das palavras latinas deus, dei5 e donum,doni6. Um Deidon seria para o leitor portugus legvelqual Boydar para o leitor polaco, mesmo no sendo umnome humano existente. Esta ideia foi utilizada por JadwigaMaurizio, tradutora de Dzienniki Gwiazdowepara castelhano(Lem 1978: 62).

    A referncia deste nome um intertexto explcito com outroconto do volume Dzienniki Gwiazdowe, Podr jedenasta(Dcima primeira viagem) que no consta da colectnea portu-guesa. O narrador aponta para esta ligao: O leitor familiari-zado com os meus dirios de viagem deve recordar-se de queeu prprio me envolvi nesse assunto do computador e ajudeiresolv-lo7(Lem 1987: 83). J que o conto Podr jedenastano est traduzido para a lngua portuguesa, para o leitor por-tugus de Viagens de Ijon Tichyo intertexto inexistente.

    O segundo nome mencionado, Horda Tympanii represen-ta um tipo de jogo erudito. primeira vista o leitor polacoreconhece logo a palavra horda. Este substantivo colectivosignifica:

    {INVESTIGAO}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    8/76

    Junho 20108 ?

    1. u ludw koczowniczych turecko-mongolskich: wo-jsko, obz wojskowy, gwna kwatera chana; zjednoczeniernych plemion pod wadz jednego chana. 2. tum, zgraja,tuszcza. 3. u ludw zbieracko-owieckich: grupa ludzi stalemigrujcych po okrelonym terenie (Szymczak 1988).

    O equivalente portugus deste termo, alis menos vasto doque o termo polaco, seria horda: 1. tribo errante; 2. bandoindisciplinado; caterva; chusma ( 2008). Devido ao sig-nificado da palavra, o leitor polaco pode associar o nome shistrias ou lendas blicas, e o efeito reforado pela segundaparte da expresso Tympanii que parece referir-se a algumaterra, real ou mtica. Mas o jogo mais gracioso est reservadopara os leitores que conhecerem o termo anatmico latim

    chorda tympani, o nome de um nervo craniano. Para a gran-de maioria dos leitores polacos este termo completamentedesconhecido: a lngua polaca dispe de uma nomenclaturaanatmica prpria no baseada no latim e o conhecimentoda nomenclatura latina est reservado quase exclusivamenteaos mdicos. Um polaco no formado em Medicina pode co-nhecer este nervo como struna bbenkowa, mas altamenteimprovvel que conhea o nome em latim chorda tympa-ni. Stanisaw Lem, que era formado em Medicina, faz aquiuma piada temtica ligada sua profisso, criando um jogode palavras possvel graas a duas caractersticas da lnguapolaca: em primeiro lugar, as grafias ch e h representam

    o mesmo som; em segundo lugar, a morfologia sinttica comum entre o polaco e o latim, portanto pode confundir-seuma palavra latina emgenetivuscom uma palavra declinadano mesmo caso polaco (neste caso a terminao dogenetivuslatino -i quase igual terminao do dopeniacz, respectivocaso polaco, -ii).

    Em ingls a recriao deste jogo enfrenta vrios obstculos.A nomenclatura anatmica inglesa usa os termos latinos eo mesmo nervo em ingls designado pela mesma expres-so chorda tympani, mas acabam aqui as semelhanas.

    Horda poderia ser substituda por horde ((sometimesdisapproving) a large crowd of people (Wehmeier )),mas a pronncia das duas palavras chorda e horde emingls bastante diferente e, alm disso, a regncia nominalinglesa exigiria o uso da preposio of ou de uma ordemda expresso inversa, por exemplo Horde of Tympany ou

    Tympanys Horde. O mesmo aconteceria em portugus,caso o tradutor tivesse acesso ao jogo original polaco e qui-sesse reconstrui-lo. A morfologia analtica exigiria o uso dapreposio de, por exemplo Horda da Tympania. A duplaamericana de tradutores optou pela substituio do termopor uma palavra completamente diferente: Intrepid, umadjectivo de origem latina que significa (ormal, ofen humo-rous) very brave; not afraid of danger or difficulties (Weh-

    meier ). O tradutor portugus substitui Intrepid peloseu equivalente Intrpido (1. que no trpido; 2. deste-mido, ousado; 3. firme, resoluto (DLP 2008)). O resultadodestas decises o contrrio do resultado no caso anterior.Um jogo muito engraado mas extremamente hermtico foi

    substitudo por um nome que se refere s associaes imedia-tas provocadas pelo antropo-crematnimo Horda Tympanii,isto associaes com histrias blicas ou lendrias. Desta

    vez, devido a dificuldades provocadas pelas diferenas gra-maticais entre as lnguas, o leitor culto foi privado do prazerintelectual de descobrir que esse nome to nobre no maisdo que um nervo craniano com um erro ortogrfico.

    Notas

    1(...) kalkulatorw, powstawszy przeciw zaodze i pasaerom rakiety,pozby si ich, za czym, osiadszy na pustynnej planecie, rozmnoysi i zaoy pastwo robotw (Lem 1971: 371).

    2Dochodzio do tego, ze wystarczy jeden gest nie do grzeczny,jedno zatrzaniecie drzwi nazbyt gwatowne, aby pokadowa lo-dwka zbuntowaa si jak to si stao wanie z osawionym DeepFreezerem z transgalaktyku Horda Tympanii (Lem 1971: 371-372).

    3 http://www.askoxford.com/firstnames/jonathan?view=uk, acessoem 15.05.2009.

    4http://www.behindthename.com/name/jonathan, acesso em15.05.2009.

    5 http://catholic.archives.nd.edu/cgi-bin/lookup.pl?stem=deus&ending=, acesso em 15.05.2009.

    6 http://catholic.archives.nd.edu/cgi-bin/lookup.pl?stem=donum&ending=, acesso em 15.05.2009.

    7 Jak moe pamitaj czytelnicy tych sw, ktrzy zaznajomili siz moimi dziennikami podry, w afer Kalkulatora sam byemwmieszany i poniekd przyczyniem si do jej rozwizania (Lem1971: 371).

    Bibliografia

    D, Maciej (2005) Groteska w twrczoci Stanisawa Lema,Wydawnictwo Uniwersytetu Gdaskiego, Gdask.

    AAVV (2008), Dicionrio da Lngua Portuguesa (2008), Porto Edito-ra, Porto.

    L, Stanisaw (1971) Dzienniki Gwiazdowe. Czytelnik, Warszawa.

    L, Stanisaw (1983)Memoirs o a space traveller. Further remin-scences o Ijon Tichy, trad. Joel Stern e Maria Swiecicka-Ziemianek.Harcourt Brace & Company, New York.

    L, Stanisaw (1987) Viagens de Ijon Tichy, trad. Antnio Sabler.Editorial Caminho, Lisboa.

    L, Stanisaw (1978) Diarios de las estrellas. Viajes y memorias,trad. Jadwiga Maurizio. Editorial Bruguera, Barcelona.

    S, M, ed. (1988) Sownik Jzyka Polskiego. Pastwowe

    Wydawnictwo Naukowe, Warszawa.

    , Antoni e T-, Leokadia (2005[1983]) Sownik polsko-portugalski. Wiedza Powszechna, Warszawa.W, Sally, ed. (2000)Advanced Learners Dictionary o Cur-rent English, Oxford University Press, Oxford.

    {INVESTIGAO}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    9/76

    Junio 2010 9?

    APOESIADEOINATBONIDASILVA-REROou seja

    a competio na vida d-lhe sabor,a vossa me s tem amor para um de vocs1

    por Kornel StanisawskiEstudante do 5 anoEstudos Portugueses

    Universidade de Varsvia

    N poetasbrasileiros do sculo vinte huma compreensvel repetiodes interesses. Os seres humanos

    gostam de classificar o mundo em que vivemporque assim sentem-se mais seguros. Osmaiores nomes so venerados e as suas obrasanalisadas profundamente nas escolas prim-rias, enquanto outros nem so reconhecidospelas suas prprias famlias. Este comporta-mento permite-nos (ns = humanos) sentir-nos mais seguros. Afinal, mais fcil aceitaruma verdade como no sculo XX, no Brasil,h dois dos maiores poetas do sculo vinte,quatro poetas bastante importantes e uns 500mais que tm demasiado tempo livre em vezde uma verdade do tipo No Brasil, do sculo

    vinte h seis poetas que mantm uma relaode profunda amizade com os proprietriosdas maiores editoras ou uma como h 506poetas brasileiros do sculo XX, precisol-los todos para ter uma opinio. Enquantoesta atitude muito bem compreensvel, htrinta e oito anos encontrmos um autorque, na nossa opinio injustamente, no

    faz parte do cnone dos melhores poetasbrasileiros do sculo vinte, nem conhecido

    pela maioria dos professores da literatura brasileira. Ele atnem figura na Wikipedia, o que para muitos uma claraprova de que ele nunca existiu. Essas insinuaes no podem,todavia, minar a verdade de que no ano de 1972, no ltimodia da nossa estadia em Espanha, na biblioteca municipal deTordesilhas, numa pequena seco deAutores Extranjeros, naestante marcada O-P, entre as Poems and Related WorksdeOssian e de Alexandre Petrvi-tch, encontrmos e depois segurmos com as nossas prpriasmos um livroescrito numa mquina de escrever e encader-nado com uma srie de grampos, intitulado LIVRO 3 comuma inscrio feita com o mesmo tamanho e tipo de letra:

    transcrito e escrito por Oinat Boni da Silva-Rero [nova linha]1980, Mundo-Nantes. Abrimos o conjunto de folhas umpouco amareladas e procurmos o ndice, mas no o tendoencontrado, abrimos o livro escolhendo aleatoriamente umapgina e vimos o poema VIDA 41 que aqui transcrevemosna sua entidade:

    A vida como um pacote de chocolates.Causa obesidade.

    Esta brincadeira com a citao do filme Forrest Gump fez-nos virar a pgina para ver o poema VIDA 42:

    Uma vida sem sonhos no tem sentido.Sabes onde est o fuzil do av.

    {INVESTIGAO}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    10/76

    Junho 201010 ?

    bava de beber, desafiaram-nos a vislumbrar o que estava es-crito nos papis que segurava. Levantmo-nos e fomos atrsdele. A verdade era bastante estranha para nos fazer verificara nossa descoberta, mas isso no foi possvel: o homem viroue desapareceu numa ruazinha vazia. O que estava escrito nasfolhas era LIVRO 1. Deixmos a festa e fomos atrs dele,

    virmos na mesma rua que ele e gritmos atrs dele. Parou,olhou e perguntou Qu quieres? com um sotaque estra-nho. Respondemos que estvamos interessados nas folhasque tinha. O homem de repente bateu com a mala na nossacara e ps-se a fugir. Quando estava a uma distncia seguraparou e gritou No estoy haciendo nada de ilegal! e fugiu.O nosso nariz estava a sangrar um pouco, depois de uns

    instantes levantmo-nos e pusemo-nos a andar na direcodo hotel. Depois de 3 passos voltmos atrs e levmos a malaconnosco.

    Fechados no quarto abrimos a mala e o cheiro de um stoencheu a diviso. Na mala estava uma grande almofada eumas folhas de papel. Cada folha continha um poema e nadamais. Em conjunto eram 9 pedaos de poesia. As que nsintitulmos, erradamente, LIVRO 2.

    Sabemos que os trabalhos acadmicos se regem pelas suasprprias leis que no admitem esse tipo de contedo narrati-

    vo, mas sem ele quem acreditaria que a poesia de Oinat Bonida Silva-Rero mais do que uma inveno? Asseguramos queela real e verdadeira, pelo menos to real como a lei que nose pode dividir por zero e to verdadeira como os assuntosdos quais ela trata.

    Das escassas fontes que conseguimos encontrar ao longo dosquarenta anos que dedicmos ao estudo da obra do autor,soubemos pouco. claro que Silva-Rero nasceu em Matino,no estado da Santa Catarina no dia 31 de Junho 1945. Viveunuma famlia bastante rica, era filho nico, estudou Enge-nharia Nutica e no ano 1967 deixou a cidade para no l

    voltar mais2(no nos conseguimos pr em contacto com ospais dele nem com pessoas que o conheciam). Confirmmostambm que nos anos 1969-1971 viveu na cidade de Nantes(Frana), pois naqueles anos estava inscrito na bibliotecadaquela cidade (percorremos toda a seco da literatura

    Havia muitas perguntas sem respostas e o computador dabiblioteca no tinha acesso Internet. No existia nenhumaInternet. Quisemos logo procurar no catlogo o nome doautor, procurar dados sobre os seus livros, sentia-me in-completo sem essas informaes. Perguntmos com o nossoespanhol retardado assistente da biblioteca se ela sabiaalgo sobre o nosso raro encontro, mas como ela s estava asubstituir a pessoa que normalmente l trabalhava, no nospde ajudar. Perguntmos se podamos requisitar o livro, masa nica forma de levar a nossa recm-descoberta obra parafora da biblioteca municipal de Tordesilhas era fazer umacpia numa Xerox, aparentemente quase to velha como oTratado que dividiu o Mundo no descoberto entre Portugal

    e Espanha. Era o meu ltimo dia naquela cidade e, comoera o incio de Setembro, era o dia da anual festa da cidade.Havia, porm, um problema: para tirar cpias na mquina

    velha, era necessrio introduzir moedas e ela no aceitavaPesetas. Solo admite Tetradracmas de Atenas - a assistenteexplicou. Escondmo-nos e, ignorando o grande letreiro

    NO FOTO, conseguimos tirar seis fotografias com a nossamquina fotogrfica, a coisa mais moderna em todo o edifcio,antes da assistente nos apanhar. A mulher respeitava as regrasda biblioteca e todos sabem que a primeira regra No falaralto, mas o seu sussurar estranhamente no quis aceitar nacompanhia dele adjectivos como baixo, delicado ou que-no-transmitia-mensagens-de-dio-profundo.

    Ela tirou-nos uma fotografia com uma mquina daquelas queainda usavam placas sensveis luz e com uma enorme lm-pada de flash que assegurava na outra mo, e disse que a fotoia ser pendurada ao lado da entrada junto com as imagensdas pessoas que estavam interditas de entrar na biblioteca.No querendo ter mais problemas, samos do edifcio e noquisemos pensar mais no assunto.

    noite, sentados numa das incontveis festas espalhadas portoda a cidade e gozando do nosso ltimo dia no pas, umhomem de mau cheiro passou ao nosso lado. S o vimos detrs, numa mo segurava uma mala de carto, na outra umagaiola vazia e por debaixo do sovaco tinha um conjunto defolhas brancas. O seu lento andar e as duas cervejas que aca-

    a nica forma de levar a nossa recm-descoberta obrapara fora da biblioteca municipal de Tordesilhasera fazer uma cpia numa Xerox

    {INVESTIGAO}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    11/76

    Junio 2010 11?

    estrangeira, mas no encontrmos nenhumas das suas obrasinseridas entre os outros livros). Este todo o saber quepossuimos da bibliografia do autor. Nem sequer podemosdeterminar se a rara personagem que tinhamos encontradoem Tordesilhas no ano 1972 era o prprio poeta, um ladroou simplesmente um sem-abrigo que encontrara a mala deSilva-Rero.

    Os nicos dois conjuntos de poemas que conhecamos atento, o LIVRO 3 (que, afinal, tendo comprado Tetradracmasno mercado negro e pagando a um cidado cuja foto noestava pendurada junto entrada, conseguimos fotocopiar)e o chamado LIVRO 4 (que no quarto do hotel pensvamos

    ser o segundo) causaram-nos muitos problemas de naturezaeditorial (dos quais falaremos mais tarde neste trabalho). Ospoemas do LIVRO 3 so do ano de 1972, os que tnhamosencontrado na mala foram escritos mais tarde (facto, quefoi comprovado por um teste de Carbono 14 e pelas maisavanadas e complicadas ferramentas filolgicas). O LIVRO3 contm 25 poemas, o outro, provavelmente incompleto,tem 9. Os ttulos seguem um padro: [PALAVRA-TEMA] +[NMERO]. As palavras-temas so trs: AMOR, VIDAe MORTE. Todos os poemas tm ttulo, 20 so da srie

    VIDA, 12 da srie AMOR e dois da MORTE (vale a penamencionar que todos os poemas do LIVRO 4 so intitulados

    AMOR n). A numerao comea com os nmeros VIDA 37, AMOR 2, MORTE -2, o que sugere que o autor prova-velmente tinha comeado as trs sries no seu LIVRO 1 ounum LIVRO 2, da existncia do qual no sabemos nada.

    Os poemas nunca rimam, no mantm um ritmo fixo. Todosseguem o mesmo padro: introduz-se um clich ou umprovrbio no primeiro verso, normalmente um que introduzuma comparao de amor, vida ou morte, enquanto o segun-do verso responde a essa comparao de uma maneira poucoinesperada. Tomemos como exemplo o poema VIDA 393:

    A vida como um rio de diversas possibilidades.Na Sibria.

    Ou trs poemas da srie AMOR:

    AMOR 64

    Quem ama, sobreviver todas as dificuldades.Romeu e Julieta so as melhores testemunhas.

    AMOR 35

    O Amor como um grande fogo.Usam-no para fazer anncios de Burger King.

    AMOR 156

    Sem amor nada tem sentido.Com amor afogar-se tem mais.

    E ainda um poema da srie MORTE:

    MORTE 2:A morte no o fim.O sofrimento nunca acaba.

    O incio do poema sugere uma viso excitante e positiva davida, compara-a a um rio que corre, enquanto o segundoverso rompe essa iluso e as esperanas localizando o rio

    na Sibria onde os rios esto todos congelados. Esse padroacompanha toda a poesia de Silva-Rero. A sua obra parecerecolher aleatoriamente vrias citaes da cultura popular domundo do ocidente, col-las nas suas folhas soltas e, o maisimportante, coment-las.

    Os numerosos problemas editoriais com o LIVRO 4 torna-ram a publicao da obra de Silva-Rero um processo longo edifcil. Enquanto o LIVRO 3 era um produto final, um que oprprio autor publicou, o nosso chamado LIVRO 4 era umconjunto de folhas soltas, sem qualquer ttulo, sem nenhumadata. At ordenar os poemas foi uma tarefa difcil, reparemos

    na ordem que existe no LIVRO 3. Mesmo que os poemas te-nham nmeros, o autor mistura as sries, por exemplo pe 3poemas: VIDA 38- VIDA 40, um poema da srie AMOR2, logo o poema VIDA 41 e VIDA 42, depois AMOR3 - AMOR 6, depois MORTE 2... Como vemos, as trs s-ries, VIDA, AMOR e MORTE intercruzam-se sem qualquerpadro compreensvel.

    Este trabalho visa somente aproximar a um leitor potenciala existncia de Oinat Boni da Silva-Rero, um autor brasileiroque at agora ainda no recebeu a ateno que merece. Espe-ramos que os insensatos investigadores que ao longo dos anostm sugerido que este realssimo autor no existe, estirparoo mal que introduziram ao mundo da filologia.

    1 Oinat Boni da Silva-Rero, VIDA 54, LIVRO 3, p. 23.2 Registo paroquial da cidade de Matino, pp. 568-569, Matino1872-presente.3Oinat Boni da Silva-Rero, LIVRO 3, p.3.4Ibid., p.10.5Oinat Boni da Silva-Rero, LIVRO 3, p. 7.6Oinat Boni da Silva-Rero, LIVRO 4, (pginas sem numerao)

    {INVESTIGAO}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    12/76

    {GASTRONOMIA}

    o Ensaio sobre a cegueira nem ter visto o filme e no pretender l-lo nosprximos meses ou anos porque a minha pilha delivros para ler j muito alta e continua a cres-

    cer. Mas acabo de ter uma experincia que provavelmenteequivale ou ultrapassa qualquer leitura que uma pessoa visualpode fazer sobre o tema: passei algum tempo a comer emabsoluta escurido. No foi como estar em casa noite coma electricidade a falhar, foi mais uma negrura total em quea pessoa nem consegue ver as suas prprias mos. Como seme encontrasse de repente desprendida da realidade, comose ocorresse uma abstraco de mim e eu ficasse fora da rea-

    lidade, sem as coisas que normalmente nos rodeiam. Exceptoas coisas que se encontravam ao alcance da minha mo e queconstituram a parte essencial dessa noite.

    Garanto que foi uma experincia extraordinria. Para a tertive que ir a Pozna, mas valeu a pena passar vrias horasno carro e pagar a gasolina que est cada vez mais cara. EmPozna encontra-se o nico restaurante na Polnia, nestemomento, que serve refeies sempre em total escurido: o

    Dark Restaurant, localizado num prdio antigo na rua Gar-bary 48. Existe ainda um restaurante deste tipo em Bydgoszcz,mas a escurido funciona l como um eventaos fins-de-semana, no como a ideia principal do local.

    E a ideia principal deste tipo de estabelecimento surpreen-der o cliente, ensin-lo a apreciar o sabor em si prprio, noo relacionando com o aspecto da comida, e mostrar como opaladar se abre quando o mais poderoso dos nossos sentidosno est a funcionar. A visita ao restaurante demora bastantetempo, no nosso caso mais do que duas horas, porque ascondies invisuais exigem especial cuidado por parte dosempregados e por parte do prprio cliente (imaginem comersem ver nada e no se sujar, no partir nada, etc.).

    No incio entra-se numa ante-sala ainda suavemente ilumi-

    nada. L um empregado explica a ideia e as condies dorestaurante. Faz tambm uma pequena entrevista ao cliente:o que que no gostamos de comer, o que que por algumasrazes no podemos comer. E aqui est a piada o cliente es-colhe o tipo e o preo do conjunto que vai comer, mas depois

    no informado sobre o que que exactamente vai comer.As explicaes s vm no fim da aventura. Alm de conjuntosbsicos entrada + prato principal ou sopa + prato principal +sobremesa o restaurante oferece conjuntos chamados MoodFood e Bizarre Food. O primeiro consiste em refeiesque, graas sua composio bioqumica, podem influen-ciar positivamente o nosso humor. O segundo tipo propecomidas que no se costumam comer muito frequentemente.Optmos por estas duas coisas eu pelo Mood Food e o meucnjuge pelo Bizarre Food. No caso do Mood Food foi pos-svel pedir uma verso sem carne, o que me agradou imenso.Escolhem-se tambm as bebidas. A carta dos vinhos , alis, a

    nica coisa que se pode ver durante toda a noite.

    Depois, segurando um empregado pela mo, entra-se na sala.No corredor h uma srie de cortinas grossas que no deixamentrar nenhuma luz. Realmente no h luz na sala de jantar,no se v absolutamente nada e a sensao muito estranha. como estar todo o tempo com os olhos fechados num stiomuito escuro. O empregado ajuda-nos a sentar e convidaos clientes a apalparem a mesa e a familiarizarem-se com adistribuio da loia. Na mesa h sempre uma campainha queserve para chamar o empregado caso seja necessrio. J nessaaltura, antes de vir a comida, notmos um efeito curioso daescurido as pessoas, quando no se vem, comeam a falarmuito alto. certo que os companheiros esto muito perto,mas mesmo assim todos os clientes gritam uns com os outrospara terem a certeza de que os interlocutores vo ouvir.

    Quando vm os pratos, comea a parte principal da aventura.Pode-se comer com talheres ou mo. Ns optamos pelasegunda hiptese porque muito mais fcil e agradvel. E ou-tra surpresa da escurido num certo momento reparei queestava a lamber os dedos sem vergonha nenhuma. Ser queo comportamento civilizado s tem que ver com o facto deoutras pessoas estarem a ver? Seja como for, foi mesmo diver-tido comer assim, mo, sem ver o que estvamos a comer, e

    adivinhar o que era. Depois de alguns minutos habitumo-nos negrura e conseguimos trocar os pratos para cadaum de ns poder experimentar tudo e para conseguirmosadivinhar juntos os ingredientes. A comida foi saborosa, masno reparamos que o paladar tivesse funcionado de alguma

    FAAOFAVORDEIMAGINAROQUEESTACOMERUMJANTARNOMEIODOESCURO

    por Marta Machowska-DiasLicenciada em Estudos Portugueses

    pela Universidade de Varsvia

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    13/76

    forma extraordinria. Tudo sabia bem, mas no havia grandenovidade. Talvez a possibilidade de tocar a comida tenhaanulado um pouco o efeito. Ou talvez o efeito em si prpriono seja nada de exclusivo a este tipo de restaurantes, poisas pessoas de uma forma completamente natural costumamfechar os olhos a comer coisas especialmente deliciosas. Anica coisa que estranhei foi o peixe que me serviram comoprato principal. Normalmente gosto de peixe em qualquerforma e no protesto mesmo que seja peixe congelado e fritocomo na cantina da minha escola primria. Mas desta veztive uma sensao estranha e um tanto desagradvel de seratacada por um cheiro muito forte de peixe congelado e fritomais ou menos como na cantina minha escola. No creio quefosse esse o caso, porque o resto da comida prova que o DarkRestaurant tem um nvel bastante alto. Se calhar o peixe, que uma coisa muito forte em si prpria, demais para se comerno escuro. Se calhar o olfacto e o paladar estavam realmente

    mais sensveis e j no aguentaram o peixe.

    As adivinhas tambm no foram demasiado difceis, pelomenos no caso do Mood Food. A maior parte das coisas foibastante fcil identificar, por exemplo a entrada que consistiaem pra assada com queijo azul e uma mistura de alfacescom azeite e vinagre. A sobremesa gelados salpicados compimenta moda e morangos com doce de ginja tambm. Sotudo sabores muito fortes que se impem s papilas gusta-tivas e deixam pouco espao para dvidas. O Bizarre Foodparecia fcil tambm e at um bocado aborrecido, mas depoisrevelou-se no o ser. Tivemos a impresso de comer tortilhas

    com frango e vegetais como entrada, e bife de vaca comoprato principal. Mas a sobremesa no nos enganou: geladosde baunilha e tomate recheado com framboesas e amendoins.

    Para mim foi um pouco cansativo passar duas horas noescuro, especialmente depois do jantar, quando naturalficar com sono. Samos ento com a ajuda do empregado esentmo-nos mais uma vez na sala de estar decorada de umaforma acolhedora e algo foleirosamente romntica. Veio omomento de mais uma entrevista: Ento, o que que achamque comeram? E como j disse, no Mood Food adivinhmosquase tudo, mas no Bizarre no tanto. A ementa que a empre-gada nos apresentoupost actumfoi assim:

    Mood Food- entrada: pra assada com canela e queijo azul depositadanuma mistura de alfaces

    - prato principal: massa filo recheada com coregono-branco(Coregonus albula ou sielawaem polaco), croquetes de purde batata com molho de alecrim, pur de ervilhas

    - sobremesa: gelado de nata salpicado de pimenta moda,carpacciode morangos e gel de ginjas

    Bizarre Food- entrada: burritoscom testculos de boi, milho, cebola e

    molho mexicano- bifes de javali, croquetes de pur de batata e queijo, feijo moda de Sabudia (com natas e bacon)

    - sobremesa: gelado de baunilha, tomate com framboesa eamendoins

    Bem, a ideia dos testculos de boi passou-nos pelas cabeas,mas em forma de brincadeira. Sobre o javali nem pensmosporque no temos experincia com carne de caa. A mimrepugna-me a ideia de comer um animal to simptico, mas preciso admitir que o chefe do Dark Restaurant sabe prepararmuito bem a carne de caa: o bife estava tenro como lombode vaca de alta qualidade (tambm me repugna comer vaca,que no haja dvidas). A empregada elogiou os nossos talen-tos de detective gustativo e disse que as pessoas raramenteconseguiam identificar a pimenta ou o tomate na sobremesa.Custa-me a crer, especialmente em relao pimenta, mastalvez o esteretipo culinrio que temos inculcado seja emalguns casos mais forte do que a experincia emprica.

    O restaurante de Pozna abriu s h trs anos mas a ideia mais antiga. No se conhecem registos, mas correm boatosde que j no sculo XIX se organizavam jantares no escuro.

    Eu, pessoalmente, acredito que tal possa ter acontecidomuito mais cedo. A ideia no exige avanadas tecnologias,apenas um paladar desejoso de novas experincias. Nosanos 90 do sculo XX dois cientistas Andreas Heineke e Mi-chel Reilhac, em cooperao com organizaes de invisuais,procuraram desenvolver essa ideia e organizaram uma sriede eventos culturais e culinrios no escuro. O primeiro res-taurante escuro, o Blinde Kuh, abriu em 2000 em Zurique.Em 2004 abriu o Dans Le Noir? em Paris. Este ltimo pro-

    vavelmente o restaurante escuro mais conhecido do mundo.Actualmente tem filiais em Londres, Moscovo, Nova York,Banguecoque e Barcelona. Em 2008 funcionou em Varsvia,

    no Novotel, como um evento temporrio. Este restaurante,bem como o Blinde Kuh, exploram a ideia de uma formamais completaos empregados so todos cegos. No DarkRestaurant so pessoas equipadas com binculos de v isonocturna. O que ocorre no Dans Le Noir? uma inversoda relao incapacitado-guia que normalmente existe entreos invisuais e os visuais. Desta vez o visual quase com-pletamente dependente do cego. Mesmo que consiga comersozinho, ou at pr gua no copo, no pode por exemploir sozinho casa de banho. O objectivo do local, almda educao e entretenimento culinrio, sensibilizar aspessoas e faz-las reflectir sobre o fenmeno da cegueira. descobrir os outros sentidos e ganhar a experincia, mesmoque fragmentria, de como viver no escuro. E garanto-vosque, depois da amostra que tive no Dark Restaurant, umaexperincia rica, algo perturbadora, mas muito humana e

    viva.

    Se quiserem saber mais, visitem o site do Dans Le Noir?onde encontraro informaes sobre o funcionamento dorestaurante, desde a sua histria at aspectos tcnicos como asegurana: http://www.danslenoir.com

    E se tiverem 20 000 de sobra, podemos juntos abrir umafilial em Varsvia!

    Dark Restaurant,Pozna, ul. Garbary 48http://www.darkrestaurant.pl

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    14/76

    Junho 201014 ?

    ASPERSONAGENSFEMININASNAMITOLOGIAESLAVAtexto e ilustraes por Monika Szabliska

    Estudante do 4 anoEstudos Portugueses

    Universidade Marie-Curie Skodowska, Lublin

    A - o ho-mem e inundava a sua imaginao, fazia-o pensarnas foras que dirigiam o seu mundo. Perdido nafloresta, na luta constante pela sobrevivncia, ele

    tentava perceber o seu mbito, entrar em contacto com estemundo, enfeitiar as foras mgicas que conduziam a sua

    vida. E ento o mundo comeou a encher-se de personagensimaginrias. Em cada gruta, em cada rio, nas rvores e noscampos nasciam deuses e criaturas mgicas que se ocupavamda natureza e a governavam. s vezes criados pelo medo,outras vezes pelo encanto ou jbilo, povoavam os recantosda imaginao e da realidade. E o homem submetido a essas

    grandes foras, comeou a louv-las, suborn-las e dessemodo domin-las. Os fenmenos naturais, os animais, asplantas e as vozes que os acompanhavam, misturavam-se nacabea e produziam quimeras que exigiam ser denomina-das. O mundo mitolgico dos nossos antepassados, cheio decriaturas fantsticas como o nosso mundo visto pelos olhosmgicos. Um espelho cncavo, como um caleidoscpio ondedanam imagens masculinas e femininas com caractersticasmais ou menos definidas. Umas esquecidas, outras ainda vi-

    vas no nosso pensamento comum - na lngua, nas lendas, noscontos ou nas cantigas. Desapertando a nossa imaginaoentremos no mundo das personagens femininas da mitolo-gia eslava e analisemos as que ainda hoje em dia, de algumamaneira, esto presentes na nossa vida.

    Onde esto todas essas foras e criaturas que tanto apavora-vam o nosso passado? Nos recantos da natureza, da nossa ln-gua e da nossa imaginao esperam por ser redescobertasEste artigo baseia-se nas pesquisas de Biaczyski.1

    LESZA-BORANATambm chamada Borana-Wia ou Borana-Pomiana. Foi aSenhora da Floresta ou a Dominadora das rvores. Ocupava-

    se de todos os habitantes verdes da floresta. Apresentava-secomo uma senhora de vestido verde com um ceptro de carva-lho coroado com quatro folhas e quatro bolotas de oiro. Esteceptro foi tambm chamado o Ceptro ureo-Carvalho.

    Todos os seus cognomes tm a ver com a floresta, com asrvores e com a sua natureza. Lesza apesar de significar a

    Senhora da Floresta significa tambm: Aquela que d amadeira e Dominadora das rvores. Esse cognome refere-setambm ao seu vestido. Lesa significa o tecido entrelaadoem xadrez de verde claro e escuro. O cognome Wia vem de

    enredar, envolver, ondear, serpentear mas tambm dapalavra vital forte, jovem, fresca e de enredar, confundir,intrigar, dificultar podendo significar tambm louca,enganadora, sedutora, encantadora Pomiana significa

    aquela que responde, falante, que responde s vozes humanase a todas as vozes da floresta, que imita as vozes. Pomian

    foi o nome eslavo dado ao fenmeno hoje mais conhecidocomo eco. O cognome Borana significa: aquela que multipli-ca os bens da floresta, que d vida s plantas e aos animais e

    vem da palavra br, que significa floresta muito densa.

    {MITOLOGIA}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    15/76

    Junio 2010 15?

    WIY

    O plural da Wia, eram os demnios femininos da natureza.Nelas inspirou-se J.K. Rowling na criao das Vilas no quatrotomo de Harry Potter. Representadas como meninas jovens,bonitas, encantadoras, com o cabelo solto e corpo leve, de-licado, de orvalho e ventos entretecido2. Tinham asas e po-diam mover-se instantneamente aparecendo e desaparecen-do. Gostavam da dana e do canto. Podiam transformar-seem cisnes, em falces, em cavalos, em lobos ou em moinhosdo vento. Eram as rainhas dos feitieiros e das feitieiras,ocupavam-se da magia branca. Ajudavam as pessoas boasque eram perseguidas pelas pessoas ms. Tambm podiamfazer mal. Muitas vezes entravam no mundo do homem edurante a noite de lua cheia danavam no seu crculo at exausto. Se algum sem cuidado era atrado e absorvido por

    este crculo, danava com elas at morte era adanado.s vezes apanhavam homens e por meio de ccegas faziamcom que as pessoas se tornassem loucas ou acocegadas.

    LKWA-DDAA Senhora das guas que Caem, A Senhora da Chuva e a Se-nhora das Cataratas. Ocupa-se de todas as guas que descemou saltam. Ajuda outra deusa - a Perperuna durante a tem-pestade, enxuga a chuva dos seus escuros e nebulosos vesti-dos. lkwa-Dda tem um Caldeiro que torna a chuva mais

    fecunda. Para apergir a Terra ela mergulha o Hissope-Vividor,uma espcie de varinha de condo, no Caldeiro. Ambos osnomes da deusa evocam as palavras relacionadas com a guae a chuva. Da mesma palavra que lkwa foi criado o nomeda regio na Polnia, lsk (A Terra Da Chuva ).

    WDA

    De onde vem a famosa lenda polaca da Wanda que no que-ria um Alemo e se atirou ao abismo do rio? O nome Wandaassemelha-se ao nome dessa deusa Wda, conhecida tambmcomo Nurta. Era chamada a Senhora dos Lagos e das guasSuperficiais ou a Senhora dos Pntanos. Governava todasas guas doces, paradas os lagos, as marismas, os pntanose tudo o que estava superfcie e dentro deles. Trajada de um

    vestido azul-marinho e com um smbolo da sua fora umacana de pesca de oiro. O seu cognome Nurta poder estarrelacionado com a palavra indo-europeia que denomina umacorrente forte de gua. Os cronistas antigos conheciam-nacomo a deusa Nerthus. Este nome indica a relao com osstios escuros, os buracos e com o abismo. o outro cognomeWda podemos traduzi-lo como Aquela que tem o dom das

    guas. O sentido oscila tambm entre os verbos: pescar ecaminhar, vagabundear. O morfema da apesar da palavradar (em polaco dawa) indica a sua natureza divina erefere-se palavra diews que os Eslavos relacionavam como feminino.

    MOKOSZA

    A Senhora da Vida, do Destino e da Sentena do Cu . uma deusa muito poderosa porque tece as teias do destino.Com o seu marido Makosz, ela entrelaa o destino enredan-

    do a Matria do Mundo, chamada Baja. Mokosza tem a suaAranha-urea que est sempre no seu peito e que, segundo asordens da Mokosza, mata ou devolve as vidas, altera a senten-a do cu, traz a fortuna ou a desgraa ao homem. Nunca sesabe o que vai trazer. Desta crena vem a actual superstiode que no se deveria matar as aranhas porque isto podetrazer desgraa. Afinal so as tecedeiras do destino Umoutro atributo da Makosza a papoila. Essa planta que tempropriedades narcotizantes foi utilizada pelos adivinhos paraprever o futuro (e apresent-lo da maneira pouco clara).

    {MITOLOGIA}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    16/76

    Junho 201016 ?

    LICHO

    A Senhora do Desconhecido, A Dominadora do Nada, OGrande Raptor. Governa tudo o que desconhecido eestranho. Oculta todo o que encontra. Entre os seus atributosaparecem o Aloquete e a Chave. Tem tambm uma vassou-ra chamada: Miota-Wymiota. Apresenta-se como umagigante que devora as pessoas ou como uma mulher muitodelgada com apenas um olho. Hoje em dia a palavra lichonas lnguas eslavas est relacionada com o mal, a estupidez,as desgraas e a disparidade e est na origem dos ditos: OLicho no dorme, No procures o bem em licho, Que sejasraptado pelo licho!

    DZIEWANNA

    A Senhora do Amor e do Sentimento, A Senhora da Gra-a. Domina os sentimentos que no se dirigem pela razomas pelo corao e pela intuio. Pode causar problemasamorosos ou aliviar o sofrimento que os acompanha dao nome Senhora da Graa. As insgnias do seu poder soa Aliana de Oiro e o Boto de Rosa. No seu peito ou nosseus ombros esto sempre presentas duas Borboletas: aBorboleta Preta (mensageira do amor transitrio e infeliz)e a Borboleta Azul (mensageira do amor eterna e feliz).

    KRASAA Senhora da Beleza, A Senhora da Doura, Aquela queD Prazer. Cuida dos apaixonados, a deusa do amor fe-liz, da doura, do bom gosto, da beleza e do prazer. Entre

    os seus atributos aparecem o Clice Vermelho e o Corao deOiro. O seu nome relaciona-se com uma cor vermelha viva efaisca. Significa tambm: decorado, bonito e rico.

    MARZANNAA Rainha da Neve, A Senhora do Esquecimento e da Velhi-ce, A Dominadora da Impossena, A Senhora da Desinte-grao. Ela traz consigo a velhice, o esquecimento e a solido.Causa a desintegrao e o lento falecimento mas no a morte.O estado que provoca semelhante hibernao, uma imo-bilizao que faz lembrar a falta da vida. O costume popularna Polnia de fazer um boneco de palha no primeiro dia da

    primavera que depois ser queimado ou afogado provmdessa deusa.

    Estas e outras histrias das crenas populares do s mulhe-res propriedades que indicam a sua natureza fecunda. Aomesmo tempo a origem sobrenatural da mulher, que vemda floresta ou das guas, quer dizer dos espaos da naturezaonde dominavam as foras que o homem no podia contro-lar, deixa a impresso de que a natureza da mulher era(?)pouco conhecida, escura e enganadora. No mundo dirigidopelos homens talvez fosse tambm uma reflexo dos medosdos homens perante a fora atraente do feminino. Apesar de

    serem criaturas ameaadoras, poderosas e meio demonacas,as mulheres eram tambm senhoras dos prazeres desta vida edo amor.

    1 http://bialczynski.wordpress.com/2http://mitencyklopedia.w.interia.pl/boginka.html

    {MITOLOGIA}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    17/76

    Junio 2010 17?

    {TRADUCIN}

    OSMOUROSEOSSEUS

    TESOUROSMonika Ranek, Agata Szymusiak, Magorzata Krawczyk,Magorzata Siedlecka, Katarzyna Skonecka, Olga Ostrowskaalumnas de Galego

    O constructores dos castros,mmoas, castelos, petroglifos e penedos. Son unpobo mxico, hoxe agachado baixo terra, pero

    antes foron a Mourindade. Fan vida nocturna enormalmente son de cor negra ou terrosa, anda que algnsson louros e brancos, luminosos. Viven baixo as sas propiasconstruccins, sobre todo nos castros. Son un verdadeiropobo dos outeiros, das cuas e dos tmulos. Tamn vivenbaixo a auga, nos pozos. A pesar da sa calidade de mxicos,fan actividades propias dos humanos: cocian, lavan, torcen aroupa, tndena nos monumentos, van por auga, teen cabalos,habitan pazos e casas, cran galias e bois, matan porcos,comen, beben auga e vio, fan, tecen, moen, mallan e cocen;asanse en pedras en forma de baeira, van s feiras, compran,fan tratos cos mortais. Pero ademais, naturalmente, gardan

    tesouros s que non lles dan ningn aprecio. Usan doutores,parteiras de mouros e aleitadoras humanas. Pero o fundamen-tal o trato: o mouro ofrece o seu ouro a cambio dalgn favorou traballio, anda que o principal compromiso que se llesgarde o segredo. Se se conta, o ouro vlvese carbn ou cagallas.Poden provocar a norte de quen os molesta. Tamn poden sercanbales e raptar e comer nenos e maiores. E tamn raptanrapazas para encantalas e convertelas nas sas mulleres.

    M ,kurhanw i zamkw oraz twrcy malowidenaskalnych. S oni magicznym ludem Mou-

    rindadw, dzisiaj yjcym pod ziemi. Wiodnocny tryb ycia, przez co ich skra zwykle jest ciemnalub koloru ziemi, chocia zdarzaj si wrd nich rwnieblondyni o wietlistej cerze. Teraz zamieszkuj podziemiazbudowanych przez siebie grodw. S prawdziwie grskimludem, jednak mona ich spotka take pod wod i wstudniach. Pomimo swoich magicznych zdolnoci, yj jakzwykli ludzie: gotuj, pior, chodz po wod, hoduj konie,kury i woy, zamieszkuj domy i dwory, zarzynaj winie,

    jedz, pij wod i wino, przd, tkaj, mc ziarno i mielje na mk, myj si w kamiennych wannach, chodz natarg i handluj z ludmi. Przede wszystkim jednak strzeg

    skarbw, ktre nie maj dla nich zbyt wielkiej wartoci.Korzystaj z pomocy lekarzy, poonych i mamek. Podstawich relacji z ludmi jest wymiana oferuj zoto za przysugi,pod warunkiem zachowania tajemnicy. W przeciwnymrazie zoto zamienia si w wgiel lub gnj. S zdolne zabikadego, kto im si narazi. Zdarza im si nawet porywa ipoera ludzi. Oczarowuj take mode dziewczta czynic

    je pniej swoimi onami.

    fot. Santa Tecla (Pontevedra) lo mejor conservado castro galego

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    18/76

    Junho 201018 ?

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    19/76

    {VIDEOJOGOS}

    Junio 2010 19?

    U

    de umacriana ter passado a maioria da sua infnciafora do seu pas de nascimento a perda dosmatrizes culturais da ptria. Embora a minha

    famlia resolvesse instilar a identidade polaca no meu crebros marteladas atravs de milhares de cassetes a rebentarde contos tradicionais polacos, nenhum deles despertou acuriosidade deste aptrida a largo prazo. No caminho, porm,perdi uma grande parte da literatura infantil mundial, sendoa maior infelicidade no ter lido a obra mais importante deLewis Carroll numa idade de bendita inocncia, ainda comtempo para salvar o pensamento!

    Alice no Pas das Maravilhas uma daquelas escassas hist-rias que ultrapassam as fronteiras do seu gnero. Abundaem referncias subtis e bem escondidas, conforme a viso da

    funo da literatura de Carroll: umjack-in-the-box,umpasse-partout que oculta um inframundo de labirintos possveis sobuma fachada singela. Entrar no universo de Carroll comoentrar num armrio que resulta ser um tnel para outra di-menso. E o armrio vai mudando com o decorrer dos anos,

    vai transformando-se, vai envelhecendo, e cada vez que oviajante entra, a porta do armrio d para um mundo distinto,de paisagens vagamente conhecidas.

    O engenho deAlicereside tambm na universalidade dasmensagens, na profundidade surpreendente do contedo ena natureza crptica de alguns comentrios e episdios. De

    outro ponto de vista, encorajou hordas de leitores a procuraraspectos sombrios na obra, os quais, passadas vrias dcadas,acabaram por dar ao autor a felicidade de se tornar conheci-do como doente mental, esquizofrnico, satanista e, diga-sede passagem, at pedfilo. E ainda por cima sacerdote, aquidel-rei e louvado seja Deus.

    Cada qual tem a sua prpria verso da histria. Depois dadisneyficao dos anos 50, sucedeu-se o stop-motionde Janvankmajer e o fruto mais recente da imaginao de TimBurton, que fez da Alice uma cachopa salva-mundos em trsdimenses a viajar aos tropees por um Pas das Maravilhasem que pouco fazia sentido, muito menos o enredo. Mas hou-

    ve uma verso que teve em mim o efeito de um agulho nocorao, um canhonao nos ouvidos, um comboio a despeda-ar a todo o vapor a grande iluso da infncia. Este conto defadas, deturpado, distorcido e perverso, perdido num vaivmconstante entre a demncia e a sanidade, American McGees

    Alice.

    Escurido.

    No negrume da noite, uma centelha tremula na janela de umasolitria casa de fazenda que se ergue no meio do campo. Aterra circundante rida e vasta: s em frente da fachada oes-

    te se estendem filas de milho interminveis, at ao horizonte.A luz est apagada. Quatro almas adormecidas. S uma h-desobreviver noite.

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    20/76

    Junho 201020 ?

    A chaminha continua a tremular incertamente na lanterna. Ogato de uma rapariga que partilha a casa com a sua famliaacabou de derrubar a lmpada de leo. Na sua nova localiza-o, no cho da cozinha, a chama procura, rasteja, apalpa, ex-plorando o seu ambiente. Parece ser de madeira a superfcie.A chama arrasta-se timidamente pelo cho e ganha confiana.Cresce. Desenvolve-se. Degusta e engole. Expande-se. Torna-se mais robusta, labaredas a lamber o ar.

    O edifcio est em chamas. O cor-de-laranja brilha na caladada noite.

    A Alice acorda com um cheiro esquisito a bailar-lhe nasnarinas, como se houvesse uma grande fogueira l perto. Fazcalor, o que estranho no Outono ingls. A jovem pe-se dep, estica os braos, abre a porta e sai do seu quarto. Umaonda sufocante de ar a arder atira-a para trs, deixando-a semflego junto da parede e do retrato cado.

    O inferno j entrou na fazenda e pe-se vontade na escadade fogo. A entidade fogosa aproxima-se do quarto dos pais.O puxador j escalda. Ouvem-se clamores e gritos atrs daporta, desesperados e em vo.

    A Alice continua a encarar o muro de fogo. E a sua mente, osseus pensamentos esto cheios de terror, feito pnico, desfeito

    vcuo escancarado. Parece ouvir a voz do seu pai a gritar, masno meio do alvoroo, tudo naufraga num berro horrendo. Sd para supor que para ela salvar a sua prpria vida. Ela diri-ge-se para a escadaria, tropeando s cegas por todo o cami-nho, e cai dela com as tmporas a estourar de suor e os olhos aestourar de lgrimas. Fumo, degrau, fumaa, degrau, fumarada,degrau. Fumo, fumo, grossas nuvens de fumo, fumo, ar acrede fumo! Anda de gatas at alcanar o relvado. As labaredas

    danam alegremente em frente do seu rosto. Consegue dar umgrito de dor e desespero antes de perder a conscincia.

    Acorda. A noite preta, como de costume. Espigas amarelas abalouar na brisa. As runas da casa esto a arder em fogo lento,

    sem chama, sem grandiosidade, sobressaindo da terra queima-da em silncio. Uma tranquilidade estranha enche os pensa-mentos da rapariga enquanto a loucura se instala, a espalhar osmveis arrumadinhos da mente dela por todos os lados.

    Um gato roa a relva a uns passos dela. Segue-o impulsiva eautomaticamente, deixando a carnificina e a runa e a morte.

    Ao chegar a uma clareira na floresta, perde o rasto do animal.

    Um coelho vagamente familiar est sentado mesmo no centroda clareira. D uma olhada Alice e desaparece de sbito. AAlice entra na clareira. A terra firme abre-se de par em parnum buraco interminvel a fitar o cu e ela est a cair denovo, a cair eternamente at ao esquecimento.

    Vai parar nas entranhas da terra, numa pilha de folhas, apsuns minutos felicssimos no vazio entre a superfcie e o mun-do subterrneo. Olha ao seu redor e, de repente, reconheceo terreno. Mas as coisas no so como eram daquela vez. Pas das Maravilhas, como ests mudado. O ar espesso esufocante, o odor repugnante. Vrias plantas, retorcidas emutantes, salpicadas pelas gretas do cho, tm o ar de umaexperincia cientfica falhada. O Pas das Maravilhas pareceestar doente.

    Um rio de veneno e fel corre perto da pilha de folhas, fioamarelo talhando um solo feito rocha. Num ilhu situadoentre as duas margens, o Gato de Cheshire espreita sereno, aobservar a rapariga com um sorriso escarninho. Ossudo, res-sequido, descarnado e caveiroso, comunica uma mensagemsimples por entre a esquadra de dentes.

    Restabeleca a paz no Pais das

    Maravilhas. Prove que merece acordura que perdeu.O Gato esfuma-se no ar. A Alice est sozinha, de volta a ummundo perverso.

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    21/76

    Junio 2010 21?

    OSIGNIFICADODOSSONHOSCOMUMAPISCADELADEOLHO

    por Agata Bojanowska & Katarzyna DembowskaEstudantes do 3 anoEstudos Portugueses

    Universidade de Varsvia

    BRANCA DE NEVE estsnum bom momento para

    desfrutar dos amores: ao teu redor h 7homens que gostariam de te conhecer. BELA

    ADORMECIDA s mais activo! Ters de ter maisfora para chegar meta a que te propuseste. Se no:

    perders a ocasio da vida. BRUXA sonhar com uma bruxapode simbolizar maldade, destruio e foras femininas perigosas.

    BRUXA A COZINHAR tem cuidado porque algum deseja envenenar-te.

    BRUXA COM UM DENTE PRETO deves marcar uma consulta no dentista. BRUXACOM UM GATO PRETO d de comer aos teus peixes! BRUXA COM UMA VASSOURA em-preenders uma viagem longa ou irs visitar a tua sogra. BRUXA COM VERRUGAS deves visitar

    algum instituto de beleza. CINDERELA comprars novos sapatos de salto alto e de marca. DRCU-LA por fim encontrars o teu prncipe azul. Mesmo que, neste caso, seja mais um prncipe obscuro.

    DRAGO - sonhar com um drago quer dizer que tens tendncia a deixar-te levar pela tua paixo. Estatendncia poder causar problemas. Deves tentar ter maior autocontrole. DRAGO GORDO tempo

    de fazer jogging e emagrecer. DRAGO MAGRO come mais porque corres perigo de anorexia. DRAGOVERMELHO matricula-te num curso de kung-fu e vai para a China. DRAGO A CUSPIR FOGO significa queusas a sua raiva para conseguir o que queres. ESTRUMPFES tem cuidado porque uma seita est de olho emti. ESTRUMPFE POETA dedicars toda a vida literatura. Espera-te uma carreira cientfica. FADA-MADRI-NHA todos os teus sonhos e desejos vo-se cumprir. FANTASMA tens problemas evidentes com a vista. melhor no conduzires! FANTASMA BRANCO no foi nenhum sonho. Foram os teus filhos disfarados

    de fantasmas com um lenol. FRANKENSTEIN submeter-te-s a uma cirurgia plstica. GOBLIN signi-fica uma sorte afectiva, muita ternura, alegria e xito sentimental. MMIA so possveis acidentes epermanncia num hospital. SEREIA se um homem que sonha deves deixar de pensar tanto nocorpo feminino; se uma mulher - vais apanhar o teu namorado em flagrante. SEREIA A CANTAR

    ganhars um prmio num concurso voclico. UNICRNIO se um homem a sonhar ateno,algum quer roubar a tua esposa!; se uma mulher vais conhecer algum bem interessante.

    URSINHO POOH tens de estudar mais porque, doutra maneira, vais chumbar no exame.URSINHO POOH COM MEL fundars um apirio. URSINHO POOH COM CRISTVO

    o teu amigo trata-te como se fosses um brinquedo.URSINHO POOH COM LEITO muda de amigo porque o porco anda a fofocar sobre ti. VAMPIRO torna-

    te um dador de sangue de honra.VAMPIRO COM ALHO estsem perigo. E tem cuidado com o que comes. O teu

    sistema digestivo no funciona bem.

    Sonhamos que nos fartamos com seres imaginrios e parece que isso muito importante

    para saber quem somos. Abaixo apresentamos o nosso mini-dicionrio de sonhos com seres

    imaginrios, que esperamos possa ajudar a aumentar a confuso na interpretao.

    {PSICANLISEAMADORA}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    22/76

    {CINE}

    Junho 201022 ?

    LASMILVIDASDELABESTIAUNRECORRIDOPORLACOMPLEJARELACINENTRELOSSERESIMAGINARIOSYELCINEESPAOL

    Rafael Gonzlez TejelCrtico de cine

    E fantstico sesentero y pretransiciny un panorama actual en el queindustria y arte pugnan por ocupar

    el trono del cine espaol, se dej ver unmamfero de malos humos y oscuros ante-cedentes. lex de la Iglesia (Bilbao, 1965)sac del rebao de su enfermiza imaginaci-n el demonio ms terrorfico y original quese ha paseado por una pantalla peninsular,una cabra con alergia al plat, descendiente

    del ser imaginario ms temido, el Mal.

    La irrupcin de este animal coronaba El dade la bestia (1995) un filme imprescindiblepara entender la relacin entre los seresimaginarios y el cine espaol. Asomaba porla pantalla una bestia agonizante, para-digma de la compleja alianza establecidaentre el celuloide hecho en Espaa y esosmundos paralelos alejados de la realidad.En todo caso, un familiar directo de otrode esos monstruos fetenes a los que eltiempo elevar a la categora de icono, elfauno fabricado por Guillermo del Toro(Guadalajara, Mxico, 1964), estandartede una produccin, El laberinto del fauno(2006), rebosante de elementos extradosdel paraso de la imaginacin. De la Iglesiay Del Toro practicaron con sus pelculasun masaje cardaco providencial para laalicada fantasa del cine espaol. La bestiarespir. Todava sigue viva.

    El tercer vrtice del tringulo es ms joven y ejerce de sm-bolo contemporneo de la resistencia del fantstico. Viste derosa, lleva tatuajes en forma de cicatriz y se comunica a base

    de gruidos. Aunque parezca originaria de Egipto, guardaen el bolsillo de su nica vestimenta, una gabardina desgas-tada por los aos, un DNI que conduce hasta un casero delPas Vasco. Es la momia que Nacho Vigalondo (Cabezn dela Sal, 1977) hizo desfilar por esa disparatada pasarela quedenomin Los Cronocrmenes (2009), una produccin queabandera a una generacin de jvenes cineastas que se estnabriendo paso con un mecanismo de funcionamiento tanbsico como eficaz: una apuesta contundente por el cine degnero, tan maltratado histricamente en Espaa.

    Demonio, fauno y momia. Seres imaginarios sin parentesco

    directo con la mitologa, vivero habitual de individuos deesta raigambre y que en Espaa apenas ha tenido incidenciacinematogrfica. Lo mismo pasa con la dicotoma superh-roe-supervillano, sin cultivar en el campo del cmic espaol,ms prximo a legitimar personajes de un surrealismo cacomo Mortadelo y Filemn y Zipi y Zape, ambos traslada-dos al cine con mala fortuna. En el mbito de las leyendasgeneracionales, como un islote en medio del ocano se sitaRomasanta (Paco Plaza, 2003), ambientado en la Galicia delsiglo XIX y que se acerca, sin demasiado xito, a la historiareal de Manuel Blanco Romasanta, para los amigos El hom-bre lobo de Allariz. Un oasis en una industria que apenas haapostado por el imaginario colectivo. El motivo salta comoun resorte. Durante mucho tiempo, en Espaa no ha hechofalta imaginar ni fabricar leyendas. Los monstruos ya estabandemasiado cerca.

    Valgan los tres ejemplos citados, para los que no hay que via-jar demasiado en el tiempo, apenas una dcada, para plantearla relacin entre los seres maquillados por la mente del guio-nista y el producto final, aquel bajo el que dictan sentencia losdegustadores de palomitas y los que aspiran a vivir lo imposi-ble. Porque ante la achacosa realidad, no hay nada mejor quedejar volar la imaginacin. Y en esa labor pocas disciplinas sedefienden mejor que el cine, un billete a terrenos inexplora-

    dos poblados en tantas ocasiones por aquellos personajes queBorges clasificara en El libro de los seres imaginarios.

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    23/76

    {CINE}

    Junio 2010 23?

    Si la bestia, la momia y el fauno capitanean el renovadobatalln de seres imaginarios en estos tiempos en los queel cine de gnero gana peso y adeptos, hay que rendirhonores a los antepasados, a los pioneros, a aquelloscreadores que despejaron el camino. Entre aullidos delicntropos en huelga de hambre, el carisma de mons-truos de leyenda cocinados a la espaola y las presenciasfantasmagricas con vivienda en mansiones posedas porembrujos ancestrales se pueden escuchar los gritos de un

    viento que sopla nombres como Paul Naschy, Jess Franco,Segundo de Chomn, Jos Luis Cuerda, Daniel Monzn,Jaume Balaguer, Paco Plaza, Brian Yuzna y hasta el

    McDonaldizado Alejandro Amenbar.

    Hay que retroceder un siglo para encontrar al tatarabuelode los seres imaginarios. En 1908, Segundo de Chomnedific El hotel elctrico. Todava hoy provoca escalo-fros contemplar, bajo el ritual tcnico de la manivela, eldeambular de maletas sujetadas por la nada. Quedababautizada la primera generacin de espectros. Como casitodos, de aviesas intenciones. Seguira esta senda otraproduccin totmica obra de Edgar Neville y La torrede los siete jorobados (1947), un edificio al completo deseres imposibles y fantasmas.

    Despus, trazando una ruta rematadamente irregular, ellistado se extiende en nombres, aunque no en impor-tancia, cosas del cine espaol. Desde los hombres lobode Paul Naschy, dolo en Estados Unidos y annimo enEspaa, hasta los nios espectrales de Los otros (Ale-jandro Amenbar, 2001) y El orfanato (Juan AntonioBayona, 2007), hay un largo trecho lleno de piedras ypeligros, como los que infectan otra saga de prestigiointernacional, REC (2007), de Jaume Balaguer. Laeleccin ya queda en manos del espectador.

    LOSESCENARIOSDELABESTIALa magia que desprende todo ser imaginado se expan-de por los alrededores. Su personalidad y fsicose contagia a los escenarios, una comuninperfecta capaz de generar universos impo-sibles. Ningn turista ni madrileo dealma podr ver un Madrid como elreflejado por El da de la bestia.

    El influjo del demonio permite ver una ciudad llenade seales ocultas, poseda por una Navidad insana.Daniel Monzn la oscureci an ms en El corazndel guerrero (1996). La pelcula ideada por el autor dela multipremiada Celda 211 (2009) dibuj un Madridque arda en las llamas del consumismo, un juego de rolen la mente de su joven protagonista, un Bastian de Lahistoria interminable al que Monzn quit toneladas deingenuidad.

    Todo, hasta el paisaje ms irreal, est contaminado porla imaginacin. Una mente que no tiene lmites es la de

    Jos Luis Cuerda, que antes de tomarse demasiado enserio (Los girasoles ciegos, La educacin de las hadas)apost a principios de los 80 por una triloga imposi-ble (Total, Amanece que no es poco y As en la tierracomo en el cielo) en la que los seres irreales eran decarne y hueso. La bestia en aquellos aos 80 dormitaba yse mova a velocidad zombi -qu mal ha tratado el cineespaol a estos entraables seres-, aunque disfrutaba deespordicos sueos placenteros.

    Sigui durmiendo el resto de la dcada, con un cineespaol rendido a las subvenciones polticas. Slo des-

    pert a mediados de los 90 tras una revuelta capitaneadapor lex de la Iglesia, un superhroe de carne y hueso.El vasco se ha propuesto dar una vuelta al cine espaoldesde su nuevo puesto de director de la Academia delCine. La ltima ceremonia de los Premios Goya 2010,planificada al fin a la perfeccin, fue el primer paso.No estar slo De la Iglesia en esa lucha para demos-trar que el cine espaol, adems de dogmatizar ysocializar, puede entretener. Cuenta con las mejoresarmas de un creador: la imaginacin y, aqu radicasu singularidad, la perpetua compaa de una bes-tia de mil vidas que, como todo ser imaginario,sabe que nunca le dejar solo. Una autnticasuperviviente.

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    24/76

    Junho 201024 ?

    OSGORILLAZOSREISDOSSERESIMAGINRIOSNAINDSTRIAMUSICAL

    por Magdalena ebrowskaEstudante do 4 anoEstudos Portugueses

    Universidade Marie-Curie Skodowska, Lublin

    U um tipo de grupo musicalmuito peculiar. Os membros de tal banda no sopessoas reais, mas personagens animados, soeles que aparecem na televiso e nos outros mdia,

    nas capas dos lbuns e nos videoclipes. Enquanto isso, a m-sica gravada e produzida por msicos reais. O primeiro ho-mem a criar uma banda virtual, foi Ross Bagdasarian. O seugrupo, conhecido pelo nome dos Alvin and the Chipmunks,foi fundado em 1959. Contudo, o grupo que popularizou aideia das bandas virtuais no foi o de Alvin e os seus irmos.

    Em 2000, com o lanamento do seu primeiro single Tomor-

    row Comes Today, foram os Gorillaz que mudaram o signi-ficado do conceito de banda virtual para sempre. Graas aeles muitas pessoas ouviram este termo pela primeira vez. Oseu xito foi to imediato que no ano seguinte o quartetofoi nomeado pelo livro do Guinness World Records como aBanda Virtual de Maior Sucesso. At agora, os Gorillaz tmsurpreendido os seus fs com a sua msica, criatividade euma biografia cheia de mistrios e curiosidades.

    Mas quem na verdade se esconde por detrs desta banda tonica? So duas pessoas: um msico, Damon Albarn dosBlur, e um designer, Jamie Hewlett conhecido pela srie TankGirl. A ideia de criar uma banda virtual nasceu de maneirainesperada em 1998. Naquela altura os dois artistas compar-tilhavam um apartamento em Notting Hill. Enquanto Albarn

    se ocupava da produo musical, Hewlett criou as imagensdos quatro membros da banda: Murdoc, 2D, Russel e Noodle.Contudo, a famlia dos Gorillaz no acaba neste duetoAlbarn Hewlett. Apesar de esses dois formarem o ncleo dabanda, uma multido de msicos, produtores e outros espe-cialistas trabalha com eles para obter os efeitos to apreciadospelos fs. At agora, o grupo j colaborou com produtorescomo Dan the Automator ou o famoso Danger Mouse e comnumerosos artistas, entre eles: Bobby Womack, Lou Reed,Neneh Cherry, Martina Topley-Bird, De La Soul, Mf Doomou Mos Def. Alm disto, vrios grupos musicais, como o

    "London Community Gospel Choir", a "National Orchestra

    for Arabic Music" ou o "Hypnotic Brass Ensemble", foramconvidados para criar sons nicos e complementar as msi-cas particulares do grupo. No que diz respeito prpria msi-ca dos Gorillaz, impossvel classific-la como um gnero s.Os termos que a descrevem com mais frequncia so: rockalternativo, hip hop alternativo, trip-pop ou msica electrni-ca. E o que se tem notado que a sua msica evolui com cadalbum. Albarn, como coordenador principal dos contedosmusicais, no tem medo de experimentar e justapor diversosestilos, desde o pop at ao punk ou dub.

    A histria da banda pode ser dividida em quatro fases.Comea pela Phase One: Celebrity Takedown que estrelacionada com o primeiro e homnimo lbum do grupo.Segue-se Phase One Point Five, na altura do lanamento do

    {MSICA}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    25/76

    Junio 2010 25?

    primeiro DVD chamado como a primeira fase. um con-junto de videoclipes e esboos sequenciais de cinco msicasdo primeiro disco (Tomorrow Comes Today, Clint Eastwood,19/200, 5/4 e Rock the House), das gravaes dos visuais dosshows ao vivo e muitos contedos suplementares, como umaentrevista com 2D ou cinco curtos filmes chamados GorillazBites. A Phase Two - Slowboat to Hades est relacionada como segundo disco de originais Demon Days e, e finalmentePhase ree - Plastic Beach, tambm o nome do terceirolbum dos Gorillaz. No ano de 2006, apareceu o livro Riseo the Ogre1escrito por Cass Browne, um msico que tocoubateria durante a gravao do segundo lbum e nos concertosao vivo. Colaborando com os quatro Gorilas, Cass Browneapresenta uma biografia detalhada de cada um dos quatromembros da banda, assim como a sua actividade artstica at edio do seu segundo disco de originais Demon Days. Adescrio abaixo apenas um fragmento breve do conjuntode factos e histrias relacionadas com o grupo.

    O crebro e fundador dos Gorillaz o baixista diablico Mur-doc Faust Niccals. Nascido a 6 de Junho de 1966, Murdocteve uma infncia muito perturbada. A sua personalidadedistorcida, deve-a o baixista ao seu pai alcolico Sebastian Ja-cob Niccals ou segundo C. Browne: Jacob Sebastian Niccals,depende de quem fizer a pergunta2. Como podemos ler nabiografia do msico, Murdoc foi muitas vezes abusado peloseu pai. Em pequeno foi forado a actuar num talentshoworganizado num bar de bairro apenas para o pai obter as 2,5libras para satisfazer o seu vcio alcolico. Foi um momentotraumtico mas tambm significante na vida de Murdoc.Como ele mesmo menciona no Rise o the Ogre, referindo-

    se a uma destas humilhantes performances: Podia-se dizerque isso foi o dia em que os Gorillaz nasceram de verdade...desta semente de rejeio. A rejeio de todo o tipo de tretasdaquelas.3O baixista tem um irmo mais velho, Hannibal.Apesar dos dois irmos nunca terem tido bom contacto, foi

    Hannibal quem apresentou a Murdoc a maioria das suas ban-das favoritas, como os e Clash. Antes de fundar os Gorillaz,o baixista tocou em numerosas bandas falhadas. E j queestamos a falar sobre este personagem, vale a pena mencionarcomo que os Gorillaz encontraram a sede para sua ban-da - a Kong Studios. O autor do livro descreve-a como umafantstica catedral de tralha de tipo Willy Wonka em que vi-

    vem os Gorillaz.4O msico encontrou a manso no websiteGiganticdisusedhauntedstudiosinthemiddleofnowhere.com esoube logo que estava a olhar para a sede do seu grupo.

    O curioso sobre Murdoc o seu gosto por tudo o que diablico. O nmero 666 est sempre presente na sua vida(a prpria data do seu nascimento est cheia de 6) e o artistaaparece muitas vezes com acessrios marcados com estenmero ou relacionados com o Diabo. uma personagemmisteriosa, extremamente individualista, com muito carismae de pouca higiene pessoal. Alcolico, mulherengo so outrascaractersticas suas. Muitas vezes, tal e qual o seu pai, fora osseus colegas do grupo a actuar de acordo com a sua prpria

    ideologia. No se importa nada com a opinio dos outros oucom as consequncias das suas aces loucas.

    2D o pseudnimo artstico de Stuart Pot ou Stu-Pot, ovocalista principal e o teclista da banda. O nome 2D nasceudepois de um dos acidentes de Stu-Pot provocados por Mur-doc. O futuro vocalista dos Gorillaz, naquela altura sem umolho e em estado vegetativo (resultado do primeiro aciden-te), saiu disparado pelo pra-brisas do carro conduzido porMurdoc. Stu-Pot embateu de cabea contra o lancil e assimperdeu o segundo olho e os seus dois incisivos empurrados

    para algures dentro da sua cabea. Apesar de alguns interpre-tarem 2D como segunda dimenso, a origem deste pseud-nimo vem dos dois dentes perdidos dentro da sua cabea.

    2D nasceu a 23 de Maio de 1978 em Crawley, na Inglaterra,

    {MSICA}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    26/76

    Junho 201026 ?

    filho de David Pot, mecnico e de Rachel Pot, enfermeira. Acrnica tendncia de se encontrar em situaes perigosas uma das caractersticas principais de Stu-Pot. Aos 11 anos, ojovem caiu de uma rvore e perdeu todo o cabelo. Quandoo cabelo apareceu de novo na sua cabea, era azul-celeste.Juntando este aos dois acidentes j mencionados, consegui-mos compreender muitas curiosidades relacionadas com2D, comeando pela sua aparncia estranha e acabando nascircunstncias do seu primeiro encontro com Murdoc.

    Russel Hobbs, o Gorila n 3, baterista, nasceu a 3 de Junhode 1975 em Brooklyn. Desde pequeno que sempre foi muitotalentoso, contudo esteve sempre rodeado por uma auraestranha e por acontecimentos assustadores. Enquanto

    jovem, foi possudo pelo diabo e depois disso encontrou-seem estado de coma curado 4 anos mais tarde por um exor-cista. Na poca da escola secundria, o msico assistiu a umtiroteio em que todos os seus amigos morreram. No entanto,as suas almas, inclusive a alma do seu melhor amigo Del,entraram no corpo de Russel manifestando-se de vez emquando de maneira inesperada. Depois desta tragdiaRussel foi enviado pelos seus pais para a Inglaterra ondetrabalhou numa loja de discos em Soho (Londres). O seutalento e abundante conhecimento musical detectados porMurdoc. O msico excntrico raptou Russel, levou-o para aKong Studios e convenceu-o a tornar-se o terceiro membrodos Gorillaz.

    Noodle, a ltima a entrar nos Gorillaz. especialista emguitarra e ocasionalmente aparece como vocalista secund-ria. Nasceu a 31 de Outubro de 1991, sendo o membro maisjovem do grupo. Aos 10 anos, a pequena japonesa apareceudentro de uma grande caixa porta da Kong Studios. Ela mes-ma lembra este acontecimento curioso: s vezes coisas boas

    vm em pacotes grandes! Eu cheguei num caixote da FedEx.5

    A criana podia pronunciar apenas uma palavra em ingls:noodle que depressa se tornou no seu pseudnimo. Noodlesofreu de amnsia at 2003, quando, preocupada pelos sonhosestranhos relacionados com o seu passado, decidiu voltar aoJapo e conhecer os factos da sua vida. O que ela descobriu,

    assim como a histria dos incios da carreira dos Gorillaz,pode ser encontrado nas pginas do livro Rise o the Ogre.

    Para concluir a viagem pela banda virtual mais conhecida domundo vale a pena realar que o seu valor se encontra nosomente no modo hbil e original de juntar vrios estilosmusicais, mas tambm na manifestao visual da banda. Oscrticos reconheceram e reconhecem os mritos da banda

    e por isso j foram premiados diversas vezes. No fim destapequena homenagem, deixo-vos com mais um fragmentodo livro Rise o the Ogre: Inegavelmente, os quatro Gorillaz Murdoc, o cantor 2D, o baterista Russel Hobbs e a pequeninaguitarrista japonesa Noodle mudaram para sempre a faceda msica e o que est para alm dela. Uma combinao demsica inacreditavelmente criativa, animao, tecnologia, sa-gacidade e humor, os Gorillaz reinventaram as possibilidadesde diverso com cada lanamento.6

    1

    C. Browne & Gorillaz, Rise of the Ogre, Londres, Penguin Group,2006

    2Ibid., p.13; traduo prpria: () or Jacob Sebastian Niccals,depending on whos asking

    3Ibid., p.7; traduo prpria: You could say that was the day thatGorillaz were really bornfrom that seed of rejection. A rejectionof all of that kind of rubbish.

    4Ibid., p.36, traduo prpria: () the fantastic Willy Wonka-typecathedral of crap that Gorillaz live in.

    5Ibid., p.29; traduo prpria: Sometimes good things come in bigpackages! I arrived in a FedEx crate.

    6

    Ibid., p.9; traduo prpria: Undeniably, the four Gorillaz Mur-doc, singer 2D, drummer Russel Hobbs and the diminutive Japaneseguitarist Noodle have changed the face of music and beyond,forever. An incredibly creative blend of music, animation, techno-logy, wit and humour, the Gorillaz re-invented the possibilities ofentertainment with every release.

    {MSICA}

  • 5/25/2018 Seres Imaginrios /jornal-20 jun.10

    27/76

    Junio 2010 27?

    UNPEZCONBICIpor Kata Silvana

    ser imaginario

    S : sin hombre es como un pezsin bici. Bueno, en realidad somos unos peces que

    viven fuera del mar y encima pedalean. Somosmujeres y sabemos lo que somos pero hay otros que

    saben ms y mejor. Y son sus voces las que nos devuelven ala realidad de dulce Lolita, Bella Durmiente, naufraga sen-timental, hijita de su pap, ama de casa o loba devoradora.Este espacio es para que, de una vez por todas, veamos en el

    espejito un pez con bici antes de emprender un viaje al otrolado del espejo en busca de un pas de maravillas falsas.

    1- UNPEZCONBICIMe imaginaba sin bici pero con pedales. Y aqu estoy, conaletas y montando en un tndem. Adems, con alforjas. Allllevo unas cervezas, el ltimo nmero del Marca, pocos re-cuerdos qu