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Como ensinar por meio de gêneros textuais? Este documento, que consiste em orientações didáticas para o ensino de Língua Portuguesa do 6° e 7° anos, é especialmente dedicado aos professores dessa área, na rede estadual de Goiás. Em continuidade ao processo da Reorientação Curricular, realizamos em 2008, com professores representantes das unidades escolares estaduais das diversas regiões do Estado, encontros de formação para a construção de sequências didáticas de alguns gêneros textuais propostos nas matrizes curriculares de Língua Portuguesa - Caderno 5, da série Currículo em debate. Nesses encontros, aprofundamos estudos sobre o ensino de Língua Portuguesa na perspectiva de gêneros textuais; vivenciamos metodologias com o objetivo de possibilitar ao professor articular, no trabalho com a língua e o gênero, a oralidade, a leitura, a escrita, a análise e reflexão sobre a língua (direcionada às exigências e características de cada gênero); desenvolvemos sequências didáticas - atividades ligadas entre si – para que os estudantes tenham oportunidade de conhecer a proposta de trabalho, tenham clareza sobre o conteúdo que será ensinado e cheguem gradualmente ao domínio desse conteúdo/conceito, tornando, assim, a aprendizagem mais significativa e prazerosa. Para se ensinar dessa forma, primeiro é preciso planejar, gradativamente, cada etapa do trabalho a ser desenvolvido, levando em consideração a organização do tempo e a diversidade dos grupos de estudantes. O planejamento é fundamental no desenvolvimento do trabalho pedagógico. Planejar torna possível definir o que se pretende alcançar, prever situações e obter recursos (materiais ou humanos), organizar as atividades, dividir tarefas para facilitar o trabalho, avaliar com o objetivo de replanejar determinadas atividades ou criar outras. Permite- nos, também, refletir sobre situações não previstas na complexa dinâmica da sala de aula e agir de modo mais adequado. O planejamento na escola deve estar a serviço do conjunto de professores que o realizou, ser fonte de consultas ao longo do ano, atender a necessidades práticas dos professores, permitir a observação de atividades que proporcionaram aprendizagens e aquelas que precisam ser melhoradas, proporcionar uma avaliação constante do processo de ensino e aprendizagem oferecido. Como ferramenta de organização do trabalho 1

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Page 1: SEQÜÊNCIA DIDÁTICA - HISTÓRIAS DA TRADIÇÃO … · Web viewEm continuidade ao processo da Reorientação Curricular, realizamos em 2008, com professores representantes das unidades

Como ensinar por meio de gêneros textuais?

Este documento, que consiste em orientações didáticas para o ensino de Língua Portuguesa do 6° e 7° anos, é especialmente dedicado aos professores dessa área, na rede estadual de Goiás.

Em continuidade ao processo da Reorientação Curricular, realizamos em 2008, com professores representantes das unidades escolares estaduais das diversas regiões do Estado, encontros de formação para a construção de sequências didáticas de alguns gêneros textuais propostos nas matrizes curriculares de Língua Portuguesa - Caderno 5, da série Currículo em debate.

Nesses encontros, aprofundamos estudos sobre o ensino de Língua Portuguesa na perspectiva de gêneros textuais; vivenciamos metodologias com o objetivo de possibilitar ao professor articular, no trabalho com a língua e o gênero, a oralidade, a leitura, a escrita, a análise e reflexão sobre a língua (direcionada às exigências e características de cada gênero); desenvolvemos sequências didáticas - atividades ligadas entre si – para que os estudantes tenham oportunidade de conhecer a proposta de trabalho, tenham clareza sobre o conteúdo que será ensinado e cheguem gradualmente ao domínio desse conteúdo/conceito, tornando, assim, a aprendizagem mais significativa e prazerosa.

Para se ensinar dessa forma, primeiro é preciso planejar, gradativamente, cada etapa do trabalho a ser desenvolvido, levando em consideração a organização do tempo e a diversidade dos grupos de estudantes.

O planejamento é fundamental no desenvolvimento do trabalho pedagógico. Planejar torna possível definir o que se pretende alcançar, prever situações e obter recursos (materiais ou humanos), organizar as atividades, dividir tarefas para facilitar o trabalho, avaliar com o objetivo de replanejar determinadas atividades ou criar outras. Permite-nos, também, refletir sobre situações não previstas na complexa dinâmica da sala de aula e agir de modo mais adequado.

O planejamento na escola deve estar a serviço do conjunto de professores que o realizou, ser fonte de consultas ao longo do ano, atender a necessidades práticas dos professores, permitir a observação de atividades que proporcionaram aprendizagens e aquelas que precisam ser melhoradas, proporcionar uma avaliação constante do processo de ensino e aprendizagem oferecido. Como ferramenta de organização do trabalho pedagógico, o planejamento deve auxiliar os professores no alcance das aprendizagens esperadas, de modo que o ensino cumpra sua finalidade.

Para que os conteúdos tenham significado e representem aos estudantes possibilidades de alcançar os conhecimentos que precisam dominar, de acordo com os objetivos propostos, o planejamento sistemático das aulas, deve considerar:

a) atividades para identificação dos conhecimentos prévios - atividades que visam identificar o que os estudantes já sabem/ouviram falar sobre o assunto; como? Por quem souberam? Por que meio de comunicação?

b) atividades de ampliação dos conhecimentos - atividades propostas para desenvolver novos conteúdos de forma significativa, a fim de que os estudantes se apropriem dos mesmos.

c) atividades de sistematização dos conhecimentos - atividades de retomada do percurso e do levantamento do que foi aprendido. Consiste no momento de sínteses e de

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aplicação dos conceitos aprendidos em novas situações; no momento de registro e divulgação das aprendizagens desenvolvidas ou produtos finais.

Assim, ao organizar uma sequência didática para alcançar um objetivo de ensino, o professor precisa considerar a necessidade de envolvimento dos estudantes na proposta de trabalho, partindo de seus conhecimentos prévios sobre o assunto, o tema ou, no nosso caso, no gênero em estudo. É preciso que os estudantes conheçam os objetivos do trabalho que será realizado, o que irão aprender ao desenvolver as atividades propostas. Assim, poderão também avaliar suas aprendizagens, identificar dúvidas, dar pistas ao professor sobre necessidades de retomadas ao longo do processo.

A leitura e a produção de textos, orais ou escritos, exigem contato com textos do gênero em estudo para a ampliação do repertório dos estudantes. É necessário realizar com eles um estudo detalhado das características, usos sociais e esferas de circulação de cada gênero.

Esse trabalho exige do professor organização e sistematização dos conhecimentos com os estudantes, situações constantes de análise e reflexão sobre a língua, produções coletivas, individuais, aprimoramento e reescrita dos textos produzidos por eles. (Ver orientações de reescrita ao final do documento).

Apresentamos, a seguir, o resultado desse trabalho: o presente documento consta das sequências didáticas de Contos populares e Contos Literários, elaboradas pela equipe de Língua Portuguesa da COEF/SEDUC; e de Gêneros digitais, produzida por professores das subsecretarias de Jataí, Luziânia, Minaçu, Pires do Rio e Porangatu.

Com base nos estudos realizados nos encontros, foi solicitado que os professores produzissem sequências didáticas de outros gêneros textuais, propostos na matriz curricular do 6° ano, para compor este caderno.

Coube à equipe da COEF sistematizar as sequências didáticas do gênero textual selecionado, dentre os enviados pelos professores das diversas regiões. Para realizar essa seleção, levou-se em consideração a quantidade de sequências didáticas recebidas.

Agradecemos, professor (a), a sua participação nos encontros realizados e o seu envolvimento nas tarefas propostas, o que contribuiu imensamente para a produção deste material.

Ressaltamos que é imprescindível a socialização deste Caderno entre os professores da área, pois o seu estudo, a sua utilização de forma crítica e a realização das atividades, aqui apresentadas, abrirão novas possibilidades de ensino e subsidiarão o planejamento conjunto de novas sequências didáticas para os demais gêneros textuais que compõem a proposta de Língua Portuguesa para o ensino fundamental da rede estadual de Goiás.

Equipe de Língua Portuguesa da SUEBAS

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Arivaldo Alves Vila Real1Arminda Maria de Freitas Santos2

Janete Rodrigues da Silva3

Neuracy Pereira Silva Borges4

Rosely Aparecida Wanderley Araújo5

Terezinha Luzia Barbosa6

CONTOS POPULARESGÊNERO: CONTOS POPULARES PÚBLICO ALVO: estudantes do 6º anoNúmero de aulas: 2 aulas

OBJETIVO:

Ouvir, ler, compreender, apreciar, contar e recontar contos populares

Expectativas de Ensino e aprendizagem

Compreender e apreciar contos populares Aperfeiçoar a fala, a escuta, a leitura e a escrita Promover a participação em situações prazerosas de leitura Valorizar a leitura literária como fonte de apreciação e lazer Saber selecionar livros literários para ler, apreciar, interpretar e socializar com os colegas Procurar formas de acesso ao livro (trocas, empréstimos entre amigos, empréstimos entre

bibliotecas) Compreender os contos populares como elemento da cultura local, com base nos aspectos

culturais e linguísticos que caracterizam as pessoas e o lugar onde vivem Valorizar a cultura, os acontecimentos e as memórias das pessoas e do local onde vivem

1ª Atividade: Quem não gosta de uma boa história?

Expectativas de Ensino e aprendizagem

Ouvir histórias contadas pelo(a) professor(a), colegas de classe, equipe escolar e comunidade local

1 Especialista em Língua Portuguesa, autor de propostas curriculares e formador da SEDUC

2 Especialista em Planejamento Educacional, autora de propostas curriculares e formadora da SEDUC

3 Especialista em Administração Educacional, autora de propostas curriculares e formadora da SEDUC

4 Especialista em Língua Portuguesa, autora de propostas curriculares e formadora da SEDUC

5 Especialista em Língua Portuguesa, autora de propostas curriculares e formadora da SEDUC6

Especialista em Língua Portuguesa, autora de propostas curriculares e formadora da SEDUC

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ATIVIDADES PARA IDENTIFICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS

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Contar contos populares utilizando as estratégias de interação com textos narrativos da tradição oral

Planejar a contação de histórias/contos populares em função do público ouvinte Recontar histórias ouvidas ou lidas, observando as características do gênero

Resgatar histórias contadas pelos antepassados

Sugerimos que o professor memorize um conto popular e prepare-se com antecedência

para contá-lo como se fosse um fato acontecido com algum antepassado seu, ou com alguma

pessoa bastante conhecida na comunidade local.

Proponha que os estudantes se sentem no chão ou em

almofadas, na sala de aula ou em outro ambiente. Peça-lhes

para imaginar que estão em volta de uma fogueira, em uma

noite ao ar livre, quem sabe no meio do mato, ou às margens

de um rio, como o Araguaia ou outro rio da região. Que

imaginem o fogo, o silêncio, o perfume do mato, o barulho das

águas do rio, cachoeiras...

Você pode sugerir a fogueira com uma grande vela, ou com papel celofane, amarelo ou

vermelho, com as pontas do papel imitando labaredas; o rio e a cachoeira, com imagens em

transparências ou cartazes confeccionados com recortes de revistas, ou ainda outros recursos

possíveis e disponíveis. Se possível, esse momento pode ser realizado em ambientes fora da

escola (jardins, praças, museus, bosques etc.).

Conte a história da melhor maneira que você puder e incentive os estudantes a comentá-la

livremente. Se necessário faça algumas perguntas, como: Então, vocês ouviram a história,

gostaram? Essa história é diferente de outras que vocês conhecem? O que é diferente ou o que

chamou a atenção de vocês nessa história? “Acham que ela realmente aconteceu ou é só

imaginação? Vocês conhecem o nome deste tipo de história? Peça também que comentem seu

desempenho: veja se observaram os recursos que você usou para que eles ficassem atentos à

história. Registre as observações que achou pertinentes, inferindo explicações. Esta avaliação,

portanto, tem de ser o mais fiel possível sobre o que os estudantes trazem de conhecimentos e

quais dificuldades você já percebe que os estudantes têm, pois isso vai orientar a mediação que

fará no aprofundamento dos conhecimentos com os estudantes.

Comece essa atividade contando um conto popular aos estudantes. Chame a atenção

deles para o fato de que as histórias da tradição oral muitas vezes são carregadas nos aspectos

fantasiosos, exagerados. Às vezes, um mesmo fato pode ter muitas versões. Pergunte a eles se

conhecem o ditado, Quem conta um conto aumenta um ponto.

Professor (a)!Ao longo dessa sequência didática inserimos orientações que subsidiarão seu trabalho. Antes de realizar as atividades propostas leia com muita atenção. É uma forma de ajudá-lo (a) a levar informações completas para a sala de aula. Bom trabalho!

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Contadores de históriasOs contadores de histórias falam pausadamente e capricham na entonação - mais baixa ou mais alta, conforme o trecho da história -, imitam vozes, barulhos, sons da natureza etc. Tudo isso contribui para prender a atenção dos ouvintes. E isso se ensina e se aprende.

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Em seguida, pergunte se gostariam de contar uma história também. Se necessário

estimule-os, instigando-os a se lembrar de histórias que ouviram da família ou de amigos. Talvez,

nesse momento, não se lembrem de muitas. Caso isso aconteça, peça que escutem algumas

histórias dos pais, avós, pessoas da comunidade e tragam para recontá-las na aula seguinte.

Dessa forma, ao longo do tempo, o repertório irá melhorar.

2ª Atividade: De conto em conto...

Expectativas de Ensino e aprendizagem

Recontar histórias de tradição oral, ouvidas ou lidas, observando a temporalidade e o encadeamento dos fatos, utilizando estratégias de interação com o texto, como o ritmo, a entonação, as pausas, os efeitos de humor, de emoção etc.

Reconhecer a relevância de elementos que contribuem para estabelecer a comunicação contador/ouvinte: a voz, o olhar, a expressão facial, os gestos, postura corporal

Organizar a sala de aula de forma a criar um ambiente para uma sessão de contação de histórias

Número de aulas: 2 aulas

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Ambiência da sala de aulaOrganize a sala de forma a criar um ambiente para iniciar uma sessão de contação de histórias. Torne ambiência da sala de aula significativa envolvendo todos os estudantes. Selecione livros com títulos da tradição oral do acervo da biblioteca e crie um cantinho de leitura. Proponha momentos diários de leitura prazerosa do material exposto, para dar significado e utilidade à ambiência.

Nesse momento, observe os conhecimentos e habilidades que os estudantes já trazem para identificar lacunas e dificuldades, o

que favorecerá a ampliação dos conhecimentos.

A escuta, o registro e a leitura dessas histórias possibilitam a aproximação dos estudantes com algumas características do texto

narrativo: cenário, personagens, complicação e desfecho. Ao mesmo tempo, propiciam a percepção das peculiaridades desses

gêneros.

É fundamental ressaltar os aspectos discursivos dos gêneros: tema, intencionalidade do texto, a quem se destina, em que contexto

foi produzido.

Suas características textuais: cenário, personagem, complicação.

Marcas linguísticas: seleção lexical, metáforas, tempos verbais etc.

Marcas de oralidade, que também são características do gênero.

Com esse trabalho estaremos promovendo a formação de um leitor crítico, capaz de perceber relações entre o texto lido e outros

(lidos anteriormente); de relacionar texto e contexto e texto e experiências vividas; de comparar diferentes versões de um mesmo

fato; de identificar valores e posicionar-se sobre eles etc.

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Inicie conversando com os estudantes. Pergunte a eles se gostam de ouvir, ler ou contar

histórias. Registre no quadro ou em um cartaz, o nome de algumas histórias que eles

mencionarem. Comente com eles algumas histórias que são contadas por pessoas comuns,

como se fossem fatos realmente acontecidos. Fale sobre as histórias e acontecimentos que os

mais velhos contam para os mais jovens, explicando que muitos aspectos da cultura de um povo

são transmitidos, de uma geração à outra, pela tradição oral, pelos contos populares. Ajude-os a

se lembrar e contar “causos”; histórias maravilhosas, moralizantes, de esperteza, de

assombração, contos de fada; fábulas, lendas e mitos etc. Crie um ambiente que favoreça a fala

e a escuta dos estudantes. Deixe-os expressarem-se à vontade!

3ª Atividade: Um conto popularTexto: O diabo e o granjeiro, de Tatiana Belinky

Expectativas de Ensino e aprendizagem

Recontar histórias de tradição oral, ouvidas ou lidas, observando a temporalidade e o

encadeamento dos fatos, utilizando estratégias de interação com o texto, como o ritmo,

a entonação, as pausas, os efeitos de humor, de emoção etc.

Ler com fluência e autonomia, construindo significados e inferindo informações implícitas

Falar e ouvir o outro com atenção, respeitando o seu ponto de vista

Desenvolver a argumentação oral e escrita

Dialogar com respeito

Esperar a vez de falar

Produzir sínteses/resumos de sentenças de júri

Número de aulas: 2 a 3 aulas

Encerre a sessão de contação de histórias, recontando o conto popular O diabo e o

granjeiro. Para isso, caso seja possível, memorize-o, desenvolvendo as mesmas estratégias

anteriormente utilizadas para a apresentação do primeiro conto. Após a contação proponha a

leitura compartilhada do texto, procurando demonstrar que as estruturas dialógicas utilizadas

pelos participantes da hora do conto permitem e favorecem a construção das concepções e

noções que facilitam o desenvolvimento do interesse e das habilidades necessárias para ler e

apreciar textos literários. É importante que os professores e contadores de histórias tenham

consciência do jogo da linguagem durante esses eventos para que a atividade, além de um

momento de prazer, seja produtiva na formação de leitores assíduos e competentes.

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Antes da leitura de qualquer texto, é importante promover uma conversa com os estudantes, para despertar o interesse, aguçar a curiosidade, e mesmo, conforme o caso, levantar hipóteses sobre o seu conteúdo; sobre o que o título sugere; se tem conhecimento do (a) autor (a) do texto; se conhecem outros textos do (a) autor (a); se conhecerem, que tipo de histórias eles imaginam que será contada etc.

Em seguida, proponha aos estudantes uma discussão sobre a atitude da mulher do granjeiro. Divida o quadro em duas partes e peça que os estudantes levantem argumentos favoráveis e contrários à atitude da mulher. Anote os argumentos dos estudantes, alternando as duas partes para a atividade ficar mais interessante. Posteriormente, analise com a classe a consistência dos argumentos e contra-argumentos. Após essa atividade, proponha o julgamento da mulher do granjeiro, explicando

brevemente como é um julgamento. Nesta atividade os estudantes terão mais oportunidade de

falar e escutar, bem como de produzirem argumentos orais e escritos, sem contar que é

prazerosa, alegre e que promoverá integração e cooperação no grupo.

Escolha o juiz, o advogado de defesa e o promotor. Sorteie uma aluna para ser a ré, isto é,

a mulher do granjeiro e quatro estudantes para serem testemunhas de acusação e de defesa.

Divida o restante dos estudantes em dois grupos, que serão os jurados e os assistentes do júri.

Aconselhe os dois advogados a se reunirem com suas respectivas testemunhas e a organizar sua

participação no julgamento. Eles devem anotar o que as testemunhas vão dizer, para ver a ordem

em que vão chamá-las e para que possam formular perguntas de acordo com os depoimentos.

Oriente o juiz e os jurados para que não se deixem levar por simpatias, mas que votem em

função dos argumentos e provas apresentados.

É importante que você os ajude na produção de textos para o julgamento. Para isso, oriente-os sobre as diferenças entre a linguagem coloquial e a formal; a importância da utilização de argumentos coerentes e coesos, ligados por elementos linguísticos que estabelecem relações de causa, consequência, explicação, nos textos argumentativos; as características e os elementos próprios de uma síntese/resumo de uma sentença etc. Marque o julgamento para a próxima aula, dando tempo para que as duas partes possam preparar-se adequadamente. Oriente-os a trazer de casa os trajes necessários para caracterizar cada integrante do tribunal do júri. Organize a sala para o julgamento: a sua mesa para o juiz, cadeiras ao lado direito para os jurados, carteiras em frente à mesa do juiz para os dois advogados. As testemunhas podem sentar-se nas demais carteiras, atrás dos advogados. O julgamento inicia-se com o promotor apresentando a acusação; em seguida, o advogado de defesa diz se sua cliente se considera culpada ou inocente. Apresentam-se as testemunhas de acusação, contando fatos que indiquem que a mulher é culpada. Depois, apresentam-se as testemunhas de defesa, contando fatos que mostrem que ela é inocente. O promotor faz o resumo do caso: com base no depoimento das testemunhas, pede a condenação da ré. O advogado de defesa faz o sumário da defesa; com base no depoimento das testemunhas, pede a absolvição da ré. Os jurados retiram-se para deliberar. Ao voltar, devem entregar, por escrito, o veredicto ao juiz, que o lerá e dará a sentença. A seguir, faça com eles no quadro-giz o resumo do caso, destacando os argumentos favoráveis e contrários e peça que registrem tudo no caderno.

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4ª Atividade: Reconhecendo o gênero “contos populares”Texto: A procissão dos mortos, de Cecília Pereira de Souza

Expectativas de Ensino e aprendizagem Ler com fluência e autonomia, construindo significados,

inferindo informações implícitas, identificando e analisando os

elementos da narrativa

Ler e analisar um conto popular

Número de aulas: 2 a 3 aulas

Com relação a esse texto, é importante dizer que é uma história recontada pela autora Cecília Pereira de Souza, e transcrita do livro Histórias Populares de Jaraguá, organizado pela professora goiana Ione Maria Valadares (suporte textual). É importante também falar um pouco de Jaraguá, cidade do interior de Goiás, conhecida nacionalmente pelo comércio de confecção e revenda de jeans.

Após essa conversa, organize a classe em duplas e proponha-lhes a leitura silenciosa do conto popular A procissão dos mortos. Em seguida, estimule-as a comentar livremente o texto, entre si (duplas):

O que você achou dessa história? Acredita que as pessoas depois de mortas podem voltar à terra? Sabe o que é procissão e o seu sentido? Já participou de uma ou pelo menos já viu alguma na sua cidade Você conhece alguém que vive falando mal dos outros?

É importante que os estudantes percebam que o texto em estudo é uma história de assombração - em que os mortos apareceriam para castigar o personagem da “janeleira”, que se preocupava com a vida alheia -, recontada com a intenção de transmitir crenças e valores.

Convide algumas duplas para fazerem a leitura oral do conto, observando as estratégias de interação com a classe.

Agora é o momento de os estudantes aprenderem mais com o texto. Para isso, você deve iniciar aqui um estudo sobre os elementos da narrativa. Faça-o de uma forma leve, problematizando as questões e fazendo com que os estudantes levantem hipóteses e as confirmem, recorrendo sempre ao texto.

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É fundamental fazer registros sobre a participação dos estudantes, observar se estão expondo suas opiniões e ideias, se compreendem as leituras feitas, quais os principais problemas apresentados por eles. Essa observação possibilitará a você planejar as intervenções necessárias para que eles avancem. Os estudantes que apresentam muitas dificuldades em contar, escutar e ler histórias devem participar de todas as atividades e receber ajuda para o que ainda não conseguem fazer sozinhos. Insista para que acompanhem as leituras, participem dos comentários orais, tentem reproduzir trechos das histórias do jeito que souberem, escrevam os títulos, nomes dos personagens, enfim, tudo o que for possível requerer deles nesse momento.

ATIVIDADES PARA AMPLIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS

Page 9: SEQÜÊNCIA DIDÁTICA - HISTÓRIAS DA TRADIÇÃO … · Web viewEm continuidade ao processo da Reorientação Curricular, realizamos em 2008, com professores representantes das unidades

O conto lido é um texto narrativo, muito semelhante aos contos tradicionais. Discuta com os estudantes até que ponto esta história segue o modelo descrito abaixo:

a história é contada por um (narrador) que sabe tudo o que acontece e também o que os personagens pensam e sentem;

em geral, é apresentada uma situação inicial - o local onde se passa (cenário), a época em que acontece (tempo-época), a apresentação das personagens;

depois acontece um fato que altera esta situação inicial; normalmente é um problema que precisa ser resolvido (conflito);

a história se desenvolve até chegar ao ponto máximo de suspense (clímax); finalmente, a situação se resolve, seja como a fórmula clássica “E foram felizes

para sempre...”, seja com um final que não é feliz ou, ainda, o final fica em aberto (desfecho).

Peça que os estudantes registrem no caderno as conclusões a que chegaram após a

discussão, justificando-as com exemplos do texto, como: quem é o narrador? Onde se passa a

história? Quem são os personagens? Existe um conflito na história lida? Qual? Como é o

desfecho?

5ª Atividade: Ampliando os conhecimentosTexto: Uma noite no paraíso, de Sylvia Manzano

Expectativas de Ensino e aprendizagem

Ler e analisar um conto popular Analisar a caracterização das personagens e de espaços feita por meio de adjetivos e locuções adjetivas

Número de aulas: 2 a 3 aulas

Antes da leitura do texto, proceda da mesma forma proposta na 4ª atividade (antecipação da leitura).

Em seguida, proponha que leiam individualmente a

história Uma noite no paraíso, procedendo à discussão

coletiva.

Estimule-os a comentar livremente o texto, em duplas ou

em pequenos grupos, usando as questões a seguir, ou

acrescentando outras:

Você gostou da história? Acredita que isso possa

acontecer de verdade?

Que parte achou mais interessante? E a mais

engraçada?

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Esses comentários são importantes, pois auxiliam o estudante a organizar o que leu e

enriquecer sua leitura com aspectos levantados pelos colegas. É importante dizer aos estudantes

que esse é mais um conto popular e que irá ampliar o seu repertório.

Ainda nos grupos, peça aos estudantes que procurem palavras ou expressões que indicam

como são as personagens e os lugares do texto. Proponha-lhes que construam um quadro com

duas colunas, e que na primeira escrevam os nomes dos lugares (cenários) e das personagens

que aparecem no texto; e, na segunda, as palavras ou expressões que caracterizam esses

nomes. Peça aos grupos que socializem os seus registros e faça as anotações no quadro-giz,

utilizando o seguinte diagrama:

Personagens/Lugares Características

Questione sobre os motivos que os levaram a selecionar tais palavras ou expressões e

que expliquem a relação existente entre elas.

É importante que você tenha levantado previamente em seu planejamento todos os

nomes de personagens e lugares do texto, e com as palavras e expressões que os caracterizam.

Chame atenção da classe para as palavras ou expressões que, porventura, foram relacionadas

por eles e que não podem integrar o quadro, ou mesmo para as palavras ou expressões que

deveriam constar do quadro e que eles não relacionaram.

Retome somente a primeira coluna do quadro para que a turma analise se as palavras ou

expressões estão no singular ou no plural; no masculino ou no feminino. Em seguida, apresente-

lhes a segunda coluna para que observem a relação existente entre as duas. (ideia de

concordância: número e gênero). Peça aos estudantes que observem atenciosamente as palavras

inseparáveis e feliz, utilizadas para caracterizar os nomes amigos e São Pedro, respectivamente. Pergunte-lhes se essas palavras poderiam ser utilizadas para caracterizar

também nomes femininos. Por quê? (ideia de gênero). Estimule-os a dar exemplos utilizando

estas palavras, para caracterizar seres no feminino.

Confirme os conceitos formulados durante esta atividade no livro didático e na gramática,

depois sistematize as conclusões a que os estudantes chegaram no quadro-giz e peça que

registrem tudo no caderno.

6ª Atividade: Lendo e analisando mais um conto popular

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Texto: O caso do espelho, de Ricardo Azevedo

Expectativas de Ensino e aprendizagem

Ler com fluência e autonomia, construindo

significados e inferindo informações implícitas

Comparar os diversos contos populares lidos ou

ouvidos

Reconhecer o valor expressivo da pontuação

(pontuação de final de frase: ponto de exclamação, ponto de interrogação, ponto final;

reticências; travessão e dois pontos em discurso direto) para marcar as sequências

narrativas

Número de aulas: 4 a 6 aulas

Proceda como nos textos anteriores, conversando inicialmente com a classe (antecipação

da leitura).

Peça aos estudantes que leiam individualmente o texto O caso do espelho e solicite que

respondam as questões seguintes: O texto é uma ficção ou não-ficção, ou seja, a história tem

personagens baseadas na realidade ou não? Peça que justifiquem.

Construa um quadro e proponha uma comparação entre os textos lidos nesta sequência

didática, para que os estudantes identifiquem as semelhanças e/ou diferenças entre os quatro tipos

de contos populares que foram lidos e analisados.

O d

iabo

e o

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anje

iro

A

proc

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orto

s

Um

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O

caso

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es

pelh

o

O lo

biso

mem

Outros contos lidos

Autor

Tipos de conto popular

Tempo/época

Tempo/duração

Verso/prosa

Personagens

Caracterização dos personagens

Cenários

Características dos cenários

Tipo de narrador

Conflito

Clímax

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Desfecho

Após registrar coletivamente todas as informações neste quadro (papel pardo) pergunte

quais características são comuns a todos os textos e o que os diferencia. Registre as respostas no

quadro-giz e peça-lhes para registrar no caderno. Converse com a classe sobre as diferenças das

situações de produção de cada um dos contos. É importante que os estudantes percebam que o

mesmo gênero pode ter leituras muito diferentes, dependendo de quem escreveu, da região, da

cultural local, onde e quando publicou, qual a intencionalidade. Algumas perguntas podem orientar

esta discussão: Onde cada um dos textos costuma ser publicado? Quem são atualmente seus

prováveis leitores? Qual seria a intenção dos autores ao escreverem histórias desse gênero?

Sistematize no quadro as conclusões mais significativas sobre as questões discutidas e

peça-lhes para registrá-las no caderno.

Esse texto permite também retomar ou introduzir o travessão, enfocando especificamente

as marcas que distinguem, no texto escrito, as falas dos personagens e do narrador.

Discuta com os estudantes a necessidade de indicar (marcar) quem fala quando se

escreve. Quando falamos, temos o(s) outro(s) à nossa frente e, portanto, vemos quem está

falando. Já na escrita isso não acontece e é preciso fazer marcas: é preciso ajudar o leitor a saber

quem está falando naquele momento, se é o narrador ou se é algum personagem.

Solicite aos estudantes que observem o texto e apontem os trechos onde os personagens estão

falando e onde quem fala é o narrador.

Sugerimos, como atividade, um jogo dramático que pode ajudar os estudantes a

compreender o uso do travessão.

Divida a classe em grupos de cinco estudantes e proponha que façam uma leitura oral do

texto, nos grupos. Em seguida, escolha cinco estudantes (um para cada personagem e um para o

narrador) para fazer uma leitura dramatizada do texto. Use um microfone (ou improvise um objeto

para desempenhar a sua função) e combine apenas com esses cinco que, cada vez que um

personagem falar, o microfone passará às mãos do estudante que representa essa personagem.

Não conte ao restante da classe o que vocês combinaram. Proponha que a classe acompanhe a

leitura e tente descobrir qual marca, no texto, corresponde à mudança de mãos do microfone.

Após a leitura, sistematize com a classe que o travessão (que, na leitura, correspondeu ao

microfone) marca a fala do personagem.

Peça que registrem suas conclusões no caderno e registre você também aspectos

importantes que tiver observado, com relação à aprendizagem dos estudantes.

Questione-os sobre as outras marcas:

a) Qual o sinal que está sempre antes do travessão? (dois pontos)

b) Para que serve esse sinal?

Após levantar as hipóteses, registre-as no quadro-giz e peça-lhes para sistematizar no caderno.

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Abra uma discussão sobre as marcas da oralidade: gestos, expressões fisionômicas,

ritmos, entonação de voz – questione-os como estas aparecem no texto.

Enfatize a entonação de voz, pedindo-os para ler trechos do texto com ponto de interrogação e

ponto final.

Questione sobre o teor desses trechos: se estão perguntando ou afirmando. Como

podemos identificar esse recurso na fala? (entonação) Como podemos identificar na escrita?

(ponto de interrogação/ponto final)

Não se esqueça de que essas atividades têm por função avaliar os conhecimentos e

habilidades que os estudantes já trazem que favorecerá a ampliação dos conhecimentos.

Proponha que relembrem de todos os contos já lidos e peça-lhes para retirar exemplos de frases

que expressam ameaça, surpresa, grito, afirmação, ordem, suspense, espanto, e outras

exclamativas.

Após registrá-las no quadro-giz peça-lhes que façam a leitura, individualmente, em voz

alta, e observem o que essas frases expressam na fala e como são representadas na escrita.

Após a discussão sistematize no quadro-giz os usos do ponto de exclamação e peça-lhes

que registrem no caderno.

Converse com seus estudantes que ao falar algo ou contar uma história, as pessoas, às

vezes, intencionalmente, demoram completar o que querem dizer, dão pausa durante a conversa.

Diga-lhes que na escrita existe um sinal que representa essa pausa da fala chamado de

reticências. Indique o parágrafo do texto O caso do espelho em que as reticências aparecem.

Peça para dramatizarem essa passagem e faça com que percebam que o personagem deu uma

pausa na fala. Ao perceber que eles formularam o conceito, registre no quadro-giz e, os

estudantes, no caderno.

7ª Atividade: Comparando textos Texto: O lobisomem e Um ser fantástico, de Samir Curi Meserani

Expectativas de Ensino e aprendizagem

Ler com fluência e autonomia, construindo significados, inferindo informações implícitas, selecionando e checando as hipóteses levantadas

Fazer uso do dicionário para verificar o significado de palavra desconhecidas Correlacionar corretamente os tempos verbais aos fatos narrados Refletir sobre o valor das expressões que marcam o tempo passado nos textos narrativos Comparar a configuração dos textos narrativo e informativo

Número de aulas: 4 a 6 aulas

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Antes da leitura dos textos, siga as mesmas orientações propostas nas atividades anteriores; pergunte-lhes se conhecem alguma história de lobisomem, deixe-os contá-las e comentá-las livremente.

Em seguida, distribua o texto O lobisomem, de Samir Curi Meserani e peça aos estudantes que o leiam silenciosamente. Solicite que formem pequenos grupos e discutam com os colegas as seguintes questões:

O que acharam dessa história? Vocês acreditam que essa história é verídica, isto é, aconteceu de verdade? Existe algum trecho no texto que mostre que vocês têm razão? Mariza é a heroína dessa história porque salvou o menino. Como isso

aconteceu? Por que hoje Mariza diz a seus estudantes que “essa história de lobisomem é

bobagem”? O que vocês acham que significa a frase “o lobo do homem é o próprio homem”?

Pergunte a turma se tem alguma palavra ou expressão que dificultou sua leitura: Peça que anotem o que não conseguiram entender e, ao lado, o que imaginam

que elas significam.

Solicite que procurem no dicionário e vejam se acertaram.

Sugira que montem um quadro com três colunas: uma para relacionar as palavras desconhecidas; outra para o que acham que as palavras significam e a terceira coluna para escrever o que diz o dicionário.

Questione aos estudantes se é possível identificar o tempo em que os fatos se deram, embora a data da história não esteja claramente expressa no texto:

Há expressões que marcam o momento exato em que as ações ocorreram? Pelos verbos usados, é possível saber se a ação ocorre no presente ou no

passado? Observe se percebem que no texto predomina o pretérito perfeito, pedindo-lhes para

apontar algumas frases onde aparece esse tempo verbal:

No texto existem verbos que não estão no pretérito perfeito? Aponte-os.

Qual a diferença de sentido entre os verbos das seguintes frases do texto:

a) Mas, na noite em que fez treze anos, ele saiu correndo até uma

umburana, em frente de sua casa, estrebuchou e virou lobisomem.

b) O menino estava predestinado a ser um lobisomem. Seus pais

rezavam todas as noites para que esse destino não se cumprisse.

Problematize a questão acima, se possível apresentando outros trechos do texto, ou até

mesmo de outros textos, para que os estudantes percebam que o pretérito perfeito indica uma

ação pontual, completamente terminada no passado, e que o pretérito imperfeito indica uma ação

habitual no tempo passado, fato cotidiano que se repete muitas vezes.

Peça-lhes que sistematizem as conclusões a que chegaram, no caderno.

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Divida a turma em trios e solicite que cada trio sublinhe todas as palavras - não só os

verbos que mostram que os episódios ocorreram no passado. Em seguida, cada grupo faz a

leitura das palavras assinaladas. À medida que forem lendo, registre as respostas corretas no

quadro.

Como atividade complementar, sugerimos um trabalho com o texto Um ser fantástico, do

mesmo autor. Antes de distribuir o segundo texto à turma , faça uma antecipação da leitura, com

algumas questões, como:

Você acredita em lobisomem? Que características tem esse ser fantástico, para receber esse nome? Como você acha que ele é antes de se transformar? E depois da

transformação? O lobisomem é uma lenda brasileira, ou é conhecida de outros povos?

Em que condições você acha que um ser humano pode se transformar em lobisomem?

Como você acha que as pessoas podem se defender do lobisomem? Como fazer para quebrar o encanto para sempre (para ele voltar ao

normal)?Em seguida, distribua o texto aos estudantes e faça com eles uma leitura compartilhada,

utilizando, no desenvolvimento da mesma, as estratégias de leitura.Chame a atenção dos estudantes para as diferenças entre os dois textos, dizendo-lhes que

o primeiro (O lobisomem) é um texto narrativo, de ficção, que apresenta cenário, personagens, complicação e desfecho. Em contrapartida, Um ser fantástico é um texto que não conta uma história sobre o lobisomem, mas traz informações sobre esse personagem folclórico; trata-se, portanto, de um texto informativo.

Por último, organize os estudantes em grupos heterogêneos, para que se ajudem mutuamente, e oriente-os para verificar as palavras cujo significado desconhecem; incentive-os a descobrir o que significam pelo sentido do texto, antes de recorrer ao dicionário. Se for o caso, ajude-os na procura. Pode-se montar aqui o mesmo quadro sugerido acima.

8ª Atividade: Produções de textos (coletiva e individual)

Expectativas de Ensino e aprendizagem

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ATIVIDADES PARA SISTEMATIZAÇÃO DOS CONHECIMENTOS DOS ESTUDANTES

Por que sistematizar?Para identificar, reconhecer e organizar os conteúdos trabalhados, entender as características que definem os temas e assuntos estudados, compreender e explicar como eles se relacionam e se articulam entre si, com as experiências e com os conhecimentos prévios dos estudantes e com outros conhecimentos.A sistematização possibilita chegar a uma maior apropriação crítica dos conhecimentos, reconstituir e recriar outros, recuperar e socializar as experiências mais significativas vividas pelo grupo no processo ensino e aprendizagem. É um momento privilegiado da prática pedagógica que possibilita a reflexão e a análise na retomada de pontos relevantes dos conteúdos trabalhados (sem registros não há como sistematizar e produzir novos conhecimentos).Pode ser realizada no final de uma aula, no final de um conteúdo específico, de uma sequência didática, ou em outros momentos considerados pertinentes e relevantes pelo professor.

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Produzir contos populares numa situação real de uso, considerando sua finalidade,

os possíveis leitores e as características do gênero

Recontar histórias da tradição oral a partir dos contos populares ouvidos e lidos

Utilizar estratégias textuais para marcar a relação lógico-discursiva nas narrativas de

tradição oral

Caracterizar as personagens nos contos populares produzidos

Identificar e caracterizar o espaço e o tempo nos contos populares

Reproduzir contos populares, observando a sequência cronológica dos fatos

Empregar os discursos direto e indireto nos contos populares

Utilizar os diferentes níveis de linguagem (coloquial, culta, regionalismo, jargão, gíria) nos

contos populares, conforme a situação

Número de aulas: 4 a 5 aulas

A. Produção coletiva de texto Produzir um texto coletivamente ajuda os estudantes a resgatar e organizar os recursos

aprendidos nas atividades anteriores.

O texto coletivo exige negociação. A produção coletiva precisa ocorrer de forma

organizada para que haja espaço para a troca entre estudantes mais e menos experientes e a

oportunidade para o crescimento de todos. É fundamental o papel do professor na condução das

perguntas e orientações, ao mesmo tempo em que deve cuidar para promover a concentração e a

atenção. Explique aos estudantes que a escrita coletiva é uma etapa importante para a

preparação dos textos que produzirão individualmente.

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Conto popularÉ um relato oral e tradicional de contornos verossímeis e também ocorrendo dentro do maravilhoso e do sobrenatural. Pode mencionar fatos possíveis, como também referir-se a animais dotados de qualidades humanas e episódios com abstração histórico-geográfica. O conto é de importância capital como expressão da psicologia coletiva no quadro da literatura oral de um país. As suas diversas modalidades, os processos de transmissão, adaptação, narração, os auxílios da mímica, entonação, o nível intelectual do auditório, sua recepção, reação e projeção, determinam o valor supremo como um dos mais expressivos índices intelectuais populares. O conto ainda documenta a sobrevivência, o registro de usos, costumes e fórmulas jurídicas esquecidas no tempo. A moral de uma época distante continua imóvel no conto que ouvimos nos nossos dias.

Folclore Brasileiro / Nilza B. Megale - Petrópolis: Editora Vozes, 1999.

Algumas classificações dos contos populares: Aarne-Thompson divide-os em três grandes grupos: contos de animais, estórias populares, gracejos e anedotas. Luís da Câmara Cascudo classifica-os em: contos de encantamento, contos de exemplo, fábulas, contos religiosos,

contos de adivinhação, anedotas, causos. Nelly Novaes Coelho distribui-os em: contos maravilhosos e contos de fadas, lendas e mitos, fábulas, contos

contemporâneos.

Optamos nesta sequência em trabalhar anedotas, causos, mitos e lendas.

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Relembre com eles todas as atividades. Ajude-os a fazer um rápido resumo de tudo o que

aprenderam sobre as histórias ouvidas e lidas. Você pode anotar os pontos principais em um

cartaz e afixá-lo na sala.

Proponha o reconto do texto A procissão dos mortos. Hora de recontar! Ajude a turma

escrever o primeiro parágrafo e vá anotando no quadro-giz. Incentive-os a expandir as ideias

propostas no texto; a caracterizar os espaços e os personagens com mais precisão; a utilizar

palavras e expressões regionalistas para manter o tom gostoso dos contos populares; a enfatizar

o clímax e até alterar o desfecho. Leia em voz alta para ver se todos concordam. Inclua as

alterações sugeridas

Faça perguntas, instigue-os para que coloquem as

ideias no texto. Lembre-os de utilizar os tempos verbais

corretamente, a pontuação para organizar a narrativa e

expressar as emoções. Sentimentos, impressões e

sensações não podem faltar e devem ser revelados ao

longo do texto.

Depois de escrito é preciso escolher o título. Ajude-os

a pensar em algo bem sugestivo. O titulo tem que dar pista do que será contado no texto.

Tudo pronto, releia com os estudantes, pergunte-lhes se o texto está gostoso de ser lido.

Se eles estão satisfeitos com a escrita, se é possível fazer alguma coisa para melhorá-la. Para o

aprimoramento do texto, revise-o com muito cuidado. Parabenize-os pelo sucesso, diga-lhes que

eles já são escritores e que são capazes de produzir um texto individualmente.

B. Produção individual de textoPara a produção do texto individual, os estudantes devem escolher um dos contos ouvidos

ou lidos, diferente daquele que foi usado para o texto coletivo. Dê um clima de desafio a esse ato

de produção. Estimule o desejo pelo ato de produzir, de serem escritores de um conto popular.

Comece recuperando o que já foi trabalhado:

Retome os aspectos trabalhados nas atividades, observando com o grupo o cartaz

elaborado, antes da produção coletiva

Relembre de todos os contos lidos e ouvidos

9ª Atividade: Reescrita de textos (coletiva e individual)

Expectativas de Ensino e aprendizagem

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Reescrever o texto visando assegurar clareza, coerência, coesão,

ampliação das ideias e a presença dos elementos característicos do

gênero textual produzido

Observar o uso da língua de maneira a dar conta da variação

intrínseca ao processo linguístico no que se refere a: variedades

regionais, urbanas e rurais; variedades sociais; expressões do

passado e do presente

Analisar os termos utilizados no diálogo entre os interlocutores e as palavras e expressões

que revelam as finalidades com que se comunicam

Reformular os textos produzidos a partir da reescrita pessoal e coletiva orientada pelo

professor

Levantar hipóteses, formular regras e conceitos, relativos à ortografia, à acentuação

gráfica e à pontuação, recorrendo a dicionários, gramáticas, manuais técnicos, outros

textos, internet etc.

Comparar o texto inicial com o texto reescrito coletivamente

Analisar o emprego dos discursos direto e indireto nas narrativas

Reconhecer o valor expressivo da pontuação (pontuação de final de frases: ponto de

exclamação, ponto de interrogação, ponto final, reticências; travessão e dois pontos em

discurso direto) para marcar as sequências narrativas

Reescrever textos (trechos) revendo a pontuação de final de frases

Refletir sobre as características e ações dos personagens a partir do emprego de adjetivos

Explorar adequadamente as flexões verbais nos textos narrativos

Correlacionar corretamente os tempos verbais aos fatos narrados

Analisar a caracterização dos personagens e de espaços feita por meio de adjetivos e

locuções adjetivas

Fazer reformulações que assegurem, também, as características próprias dos contos

populares

Número de aulas: 4 a 5 aulas

A. Reescrita coletiva de texto B. Reescrita individual de textoAnexos

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Professor (a), neste material foi incluído um manual com orientações de reescrita de textos. Sugerimos um estudo de todos os passos para uma boa reescrita e que você selecione apenas o que for necessário para o gênero textual em estudo. Planejar é fundamental para o sucesso da reescrita. Bom trabalho!

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O diabo e o granjeiroLenda alemã contada por Tatiana Belinki

Um pobre lavrador precisava construir a casa de sua pequena granja, mas não conseguia

realizar esse sonho, pois o que ganhava mal dava para alimentá-lo, junto com sua mulher. Por

mais economia que fizesse, não conseguia juntar o necessário para começar a construção.

Um dia, estando a caminhar pelo seu pedaço de chão, mergulhado em triste pensamento,

deu com um velho esquisito que lhe disse com voz desagradável:

– Pára de preocupar-te, homem. Eu posso resolver o teu problema antes do primeiro canto

do galo, amanhã cedo.

– Como assim? – espantou-se o lavrador.

– Tu precisas construir a casa da granja, certo?

Pois eu me encarrego de construir e entregar-te essa obra, antes do canto do galo, em

troca de uma pequena promessa tua.

– Que promessa? Não tenho nada para te oferecer em troca de tal serviço.

– Não importa: o que quero que me prometas é um bem que tu tens mas ainda não sabes.

É topar ou largar.

O pobre granjeiro pensou com seus botões o que é que eu tenho a perder? e, sem hesitar

mais, respondeu ao velho que aceitava o trato e fez uma promessa.

– Só que quero ver a casa da granja construída, amanhã, antes do canto do galo –

observou, ainda meio incrédulo.

E voltou correndo para casa, para comunicar à esposa o bom negócio que acabara de

fechar.

A pobre mulher ficou horrorizada:

– Tu és um louco, marido! Acabas de prometer àquele velho, que só pode ser o próprio

diabo, o nosso primeiro filho, que vai nascer daqui a alguns meses!

O homem, que não sabia da gravidez, pôs as mãos na cabeça, mas não havia mais nada a

fazer: o pacto estava selado. Porém, a mulher, que não estava disposta a aceitá-lo, ficou

pensando num jeito de frustrar o plano do diabo. E naquela noite, sem conseguir dormir, ficou o

tempo todo escutando apavorada o barulho que o demônio e seus auxiliares infernais faziam, ao

construírem a tal obra, com espantosa rapidez.

A noite ia passando, aproximava-se a madrugada. Mas, pouco antes de o ceu clarear,

quando faltavam só umas poucas telhas para a conclusão da obra, a atenta mulher do granjeiro

pulou da cama e, rápida e ágil, correu até o galinheiro, onde o galo ainda não despertara.

Tomando fôlego, imitou o canto do galo, com tal perfeição que todos os galos da vizinhança, junto

com o seu próprio, lhe responderam com um coro sonoro de cocoricós matinais, momentos antes

do romper da aurora.

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Como um trato com o diabo tem de ser estritamente observado, tanto pela vítima como por

ele mesmo, a obra em final de construção teve de ser parada naquele mesmo instante, por quebra

de contrato antes do primeiro canto do galo.

E o diabo, espumando de raiva por se ver assim ludibriado e espoliado, se mandou de

volta para o inferno, junto com seus acólitos, para nunca mais voltar àquele lugar.

Mas a casa da granja permaneceu construída, para alegria do granjeiro, faltando apenas

umas poucas telhas que jamais puderam ser colocadas.

Transcrito de Nova Escola, São Paulo, v.10, n.84, p.30-1, maio 1995

A procissão dos mortosCecília Pereira de Souza

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Aqui em Jaraguá, no largo do Rosário, morava u’a mulher. Ela ficava sempre na janela

para explorar a vida dos outros, para falar da vida alheia. Essa mulher só vivia falando, olhando,

murmurando. Falava de um, de outro, de moça, de tudo.

Entardecia e ela continuava na janela. Chegava a noite, todo o mundo ia dormir, ela

continuava lá, até a meia-noite, explorando o tempo.

Um dia, dizem, quando ela estava na janela, passou bem em frente uma procissão. Era

uma procissão muito grande. Ela ficou olhando um, olhando outro, mas não reconheceu ninguém.

Quando, então, saiu dessa procissão u’a moça, chegou perto de sua janela e disse:

– Olha, dona, a senhora toma essas velas aqui. Eu quero que a senhora guarde elas pra

mim até amanhã. Eu quero que a senhora me entregue elas amanhã, nessa mesma hora.

Ela recebeu as velas, mas ficou receosa, porque não estava reconhecendo ninguém

daquela procissão.

Depois que a procissão acabou, foi olhar as velas e viu que aquilo era canela de defunto.

Era osso da canela de defunto.

Ela ficou muito nervosa e não conseguiu dormir a noite inteira, pensando naquilo,

imaginando que tinha de devolver aqueles ossos.

Na noite seguinte, ficou lá na janela com as velas na mão. Quando veio a procissão, a

moça que tinha entregado as velas aproximou-se dela e falou:

– Olha, escuta aqui. Isso aqui é uma procissão dos mortos. Essas velas são ossos de

quem já morreu. Você não fique na janela mais, explorando a vida dos outros não, porque isso é

muito feio, é muito ruim, é até pecado.

Transcrito de Ione M. O. Valadares (org), História popular de Jaraguá. Goiânia: CECUP/UFG,

1983. p.37.

Uma noite no paraíso

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Sylvia Manzano

Certa vez, dois amigos inseparáveis fizeram o seguinte juramento: aquele que casasse

primeiro chamaria o outro para padrinho, mesmo que esse outro estivesse no fim do mundo.Pois

bem: um dos amigos morre e o outro, que estava noivo, não sabendo o que fazer, vai pedir

conselhos a seu confessor. O pároco assegura que a palavra deve ser mantida. Então o noivo vai

até o túmulo do amigo convidá-lo para o casamento.

O morto aceita o convite de muito bom grado. No dia da cerimônia, não diz uma palavra

sobre o que

vira no outro mundo. No final do banquete ele fala:

– Amigo, como lhe fiz este favor, você agora deve me acompanhar um pouquinho até

minha morada.

O recém-casado, não resistindo à curiosidade, pergunta como era a vida do outro lado.

O morto, fazendo um pouco de suspense, responde dessa forma:

– Se quiser saber, venha também ao paraíso. O outro concorda. O túmulo se abre e o vivo

segue o morto. A primeira coisa que vê é um lindo palácio de cristal, onde os anjos tocavam para

os beatos dançarem e São Pedro, muito feliz, dedilhava seu contrabaixo. Mais adiante, o amigo

lhe apresenta nova maravilha: um jardim onde as árvores, em vez de folhas, tinham pássaros de

todas as cores, que cantavam.

– Vamos em frente – diz o morto ao amigo, que fica cada vez mais deslumbrado. – Agora

vou levá-lo para ver uma estrela.

O recém-casado percebe que não se cansaria nunca de admirar as estrelas, os rios, que

em vez de água eram de vinho, e a terra, que era de queijo. De repente o noivo cai em si, lembra-

se da noiva que ficara a esperá-lo e pede:

– Compadre, preciso voltar para casa, minha esposa deve estar preocupada.

– Como preferir.

Assim dizendo, o morto o acompanha até o túmulo, sumindo logo a seguir. Ao sair do

túmulo, o vivo fica assombrado com o que vê ao redor: no lugar daquelas casinhas de pedra meio

improvisadas há palácios, bondes, automóveis; as pessoas todas vestidas de modo diferente.

Para se certificar, pergunta o nome da cidade a um velhinho que por ali passava.

– Sim, é esse o nome desta cidade.

No entanto, ao chegar à igreja é atendido por um bispo muito importante que, consultando

os arquivos

existentes ali, descobre que trezentos anos atrás um noivo havia acompanhado o padrinho ao

túmulo e não tinha voltado nunca mais.

Transcrito de Nova Escola, São Paulo, v.9, n.75, p.30-1, maio 1994.

O caso do espelho

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Ricardo Azevedo

Era um homem que não sabia quase nada.

Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata.

Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado

do lado de fora. O homem abriu a boca, apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:

– Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?

– Isso é um espelho – explicou o dono da loja.

– Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.

Os olhos do homem ficaram molhados.

– O senhor... conheceu meu pai? – perguntou ele ao comerciante.

O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro

e moldura de madeira.

– É não! Respondeu o outro. – Isso é o retrato do meu pai. É ele, sim! Olha o rosto dele.

Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?

O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho,

baratinho.

Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou,

cuidadosamente, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira.

A mulher ficou só olhando.

No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta

da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz

tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.

– Ah, meu Deus! – gritava ela desnorteada. – É o retrato de outra mulher! Meu marido não

gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele

macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!

– Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher,

chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.

– Que foi isso, mulher?

– Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?

– Que retrato? – perguntou o marido, surpreso.

– Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!

O homem não estava entendendo nada.

– Mas aquilo é o retrato do meu pai!

Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:

– Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho

lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?

A discussão fervia feito água na chaleira.

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– Velho lazarento coisa nenhuma! – gritou o homem, ofendido.

A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo.

Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa.

– Que é isso, menina?

– Aquele cafajeste arranjou outra!

– Ela ficou maluca – berrou o homem, de cara amarrada.

– Ontem eu o vi escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele

saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!

A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato.

Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou

de novo. Soltou uma sonora gargalhada.

– Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha

cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que

eu já vi até hoje!

E completou feliz, abraçando a filha:

– Fica tranquila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!

Conto popular recontado por Ricardo Azevedo

O Lobisomem

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Samir Curi Meserani

Contam que em Lambari, perto de Porto Martins, um casal teve um filho homem depois de

já ter sete filhas mulheres. O menino estava predestinado a ser um lobisomem. Seus pais

rezavam todas as noites para que esse destino não se cumprisse. Mas, na noite em que fez

trezes anos, ele saiu correndo até uma umburana, em frente de sua casa, estrebuchou e virou

lobisomem. Já estava pronto para percorrer sete vilas, quando ouviu uma algazarra. Eram seus

colegas de classe que estavam vindo para fazer-lhe uma festa de aniversário, de surpresa.

Quando viram a fera, saíram em disparada. Menos uma menina de nome Mariza, que, além de

não acreditar em lobisomem, usava óculos por ser muito míope.

Na correria, um colega derrubou seus óculos no chão. Sem enxergar direito, Mariza foi em

frente, carregando o bolo de aniversário e uma faca para cortá-lo. O lobisomem avançou. Mariza,

vendo sem nitidez um vulto que avançava sobre o bolo, cutucou-o com a faca, pensando que

fosse um convidado guloso. Gritou: – Sai pra lá e espera! Primeiro o aniversariante!

Ao cutucar com a faca, feriu a pata do lobisomem, que começou a sangrar. E a fera, na

mesma hora, transformou-se novamente no menino, que se apressou a cortar o bolo.

Enquanto isso, a turma voltava para cantar o Parabéns pra você.

O menino cresceu normal e nunca mais se transformou em lobisomem. Terminado o

colégio, montou uma doceria chamada Ao Bolo do Lobo, que até hoje existe em Lambari. Mariza

formou-se em História e tornou-se professora. Diz a seus estudantes que essa história de

lobisomem é bobagem, que nunca viu nenhum. A propósito, gosta de citar o filósofo Hobbes, para

quem o verdadeiro lobo do homem é o próprio homem.

Transcrito de Os incríveis seres fantásticos, São Paulo: FTD, 1993, p.24

Um ser fantástico

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Samir Curi Meserani

O lobisomem é um ser fantástico e assustador que, como o nome indica, é meio lobo, meio

homem.

Durante os dias de semana é um homem comum, magro, alto, de pele macilenta, com um

olhar melancólico. Normalmente afável e calma, de uma hora para outra pode tornar-se irritadiço.

De vez em quando dá longos suspiros, como se fossem uivos silenciosos. E, às sextas-feiras,

precisamente à meia noite, esse homem se transforma. Adquire característica de lobo: as orelhas

crescem, surgem pêlos espessos no rosto e no corpo, a boca se escancara mostrando dentes

afilados. As mãos mais parecem patas ou garras. Torna-se então perigoso para os outros animais,

sobretudo para o homem.

É difícil saber de onde o lobisomem é originário. O maior estudioso dos seres fantásticos

do Brasil, o folclorista Câmara Cascudo, afirma que se trata de um bicho universal, encontrável

em todos os países. Em cada um ele recebe um nome diferente: Licantropo (na Grécia),

Versiopélio (em Roma), Volkdlack (nos países eslavos), Loup-Garou (na França), Obototen (na

Rússia), Banramr (nos países nórdicos)... Nossos caboclos dizem Lobisome e têm muito medo

dele.

Sexta-feira, da meia-noite às duas da manhã, o lobisomem sai numa corrida barulhenta e

atropelada para percorrer ou sete cemitérios, ou sete outeiros, ou sete encruzilhadas, ou sete

vilas. Nas vilas, sítios e fazendas por onde passa, os moradores rezam e atiçam os cães para

persegui-lo, para afugentá-lo. Perto das casas, plantam arruda e alecrim. Percorridos os sete

lugares, ele retorna ao local de partida, onde há uma umburana, árvore frondosa na qual esconde

sua roupa, e volta à forma humana...

Diz a lenda que lobisomem é filho homem que nasce depois de sete filhas mulheres e só

começa a se transformar depois dos trezes anos de idade. Trata-se de uma sina, de um triste

destino. Mas que pode ser curado, desencantado. Para tanto, basta um ferimento, ainda que

pequeno, que sangre, ou um tiro de bala untada em vela que ardeu numa missa.

Transcrito de Os incríveis seres fantásticos, São Paulo: FTD, 1993, p.23

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ContoS LiteráriosArivaldo Alves Vila Real7

Arminda Maria de Freitas Santos8

Janete Rodrigues da Silva9

Neuracy Pereira Borges10

Rosely Aparecida Wanderley Araújo11

Terezinha Luzia Barbosa12

GÊNERO: CONTOS LITERÁRIOS

OBJETIVO: Ouvir, ler, compreender, apreciar, contar e recontar contos

PÚBLICO ALVO: estudantes do 7º ano

1ª Atividade: Quem conta um conto aumenta um ponto?

Expectativas de ensino e aprendizagem Valorizar a leitura literária como fonte de entretenimento e prazer Partilhar com os colegas as percepções de leitura de contos lidos e ouvidos

Número de aulas: 2 aulas

Ambiente a sala. Mobilize os pais, estudantes, colegas, voluntários para o trabalho coletivo. Apresente o gênero aos estudantes

ressaltando a importância de conhecer e ser

capaz de apreciar e produzir textos narrativos.

Proponha que participem de todas as

atividades. Eles serão os artesãos que

enredarão outros leitores. Diga-lhes que o

artesão, ao mesmo tempo em que aprende um

ofício, produz peças que, de início, são

rudimentares, mas que vão se aprimorando e,

7 Especialista em Língua Portuguesa, autor de propostas curriculares e formador da SEDUC

8 Especialista em Planejamento Educacional, autora de propostas curriculares e formadora da SEDUC

9 Especialista em Administração Educacional, autora de propostas curriculares e formadora da SEDUC

10 Especialista em Língua Portuguesa, autora de propostas curriculares e formadora da SEDUC

11 Especialista em Língua Portuguesa, autora de propostas curriculares e formadora da SEDUC12

Especialista em Língua Portuguesa, autora de propostas curriculares e formadora da SEDUC

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ATIVIDADES PARA IDENTIFICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS

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às vezes, transformam-se em obras de arte. Mostre-lhes que você acredita que eles podem se

transformar de artífices em artistas e que, para isso, vão trabalhar intensamente: lendo,

produzindo e aprendendo.

Converse sobre contos: conhecem algum? Qual? Ouviu de alguém? Quem? Leu em algum

livro? Conhecem algum autor de contos? Quais personagens conhecem? Como são essas

personagens? Como era o lugar onde essas histórias aconteceram? Quando aconteceram essas

histórias? Crie um quadro com os estudantes para registrar as informações dessa conversa.

2ª Atividade: Muito prazer em ler

Expectativas de ensino e aprendizagem Apreciar, interpretar e socializar as leituras com os colegas Antecipar o conteúdo das leituras com base em indícios como autor, título do texto, ilustrações

etc. Ler contos, de escritores relevantes no cenário literário nacional

Número de aulas: 2 aulas

Leia o conto Sonho de Uma Noite de Verão de Shakespeare, tradução de Mário Quintana,

Anexo 1, ou outro à sua escolha. Utilize a antecipação como estratégia de leitura para despertar a

curiosidade e as expectativas dos estudantes. Em seguida, investigue qual é o papel de cada

personagem, onde se passa a história, o que parece mais diferente ou curioso naquele local.

Instigue a troca de comentários sobre a leitura. Ajude os estudantes a formar uma linha de

raciocínio. Assim, o estudante será despertado para a leitura de contos.

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Ambiência da salaPara o trabalho com contos, ambiente a sala de aula de modo que o estudante tenha acesso ao gênero. Organize a Prateleira da Leitura, nela coloque os livros selecionados pelos estudantes na biblioteca ou do acervo pessoal para A Hora do Conto. Crie um ambiente propício à leitura com tapetes, esteiras, almofadas. Para o Palanque do Conto decore um caixote. Confeccione um caderno para registrar os livros lidos. Envolva todos no trabalho, cada um contribui com o que pode e todos são capazes de ajudar. Faça um cartaz bem bonito de boas vindas e viaje com os estudantes pelo mundo dos contos!

O conto literário é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho), ainda que contenha os mesmos componentes do romance. Entre suas principais características estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total: o conto precisa causar um efeito singular no leitor; muita excitação e emotividade.

Há algumas características que podem nos ajudar a identificar ou até mesmo a produzir um conto: É uma narrativa linear e curta, tanto em extensão quanto no tempo em que se passa. A linguagem é simples e direta, não se utiliza de muitas figuras de linguagem ou de expressões com

pluralidade de sentidos. Todas as ações se encaminham diretamente para o desfecho. Envolve poucas personagens, e as que existem se movimentam em torno de uma única ação. As ações se passam em um só espaço, constituem um só eixo temático e um só conflito.

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3ª Atividade: A hora do contoExpectativas de ensino e aprendizagem Valorizar a leitura literária como fonte de entretenimento e prazer

Construir critérios para selecionar leituras e desenvolver padrões de gosto pessoal

Identificar, na comparação de contos as características das obras lidas

Recontar contos utilizando, autonomamente, as estratégias de interação com textos

narrativos

Ouvir contos narrados pelos escritores da região ou por pessoas da comunidade local

Número de aulas: 3 aulas

Acomode os estudantes em círculo e disponha, no centro, diversos livros de contos da

Prateleira da Leitura. Apresente os contos e comente que são histórias sobre outros lugares e

épocas. Transporte-os para essas realidades. Leia em voz alta um texto já selecionado, com

assuntos instigantes, que mostre, por exemplo, terras distantes e exóticas. Teça comentários e

compartilhe suas impressões.

Diga que durante o trabalho com contos eles terão momentos para ler livros - A Hora do

Conto. Peça que cada um escolha um livro do gênero, anote os contos escolhidos no caderno de

registros e dê tempo suficiente para leitura prazerosa. Após a leitura, oportunize um tempo para

que os estudantes apresentem a sua história no Palanque do Conto. Aproveite esse momento para

comparar contos do mesmo autor, de autores diferentes, do estilo de cada autor, a descrição dos

espaços e do tempo, a caracterização dos personagens; apresentar suas impressões, suas

emoções. Comente que os livros contêm contos de vários lugares do mundo e que todos podem

escolher um exemplar para ler durante a semana e comentar no próximo palanque. A Hora do

Conto deve acontecer pelo menos uma vez por semana, despertando nos estudantes o gosto e

interesse pela leitura de livros literários.

4ª Atividade: Histórias e mais histórias

Expectativas de ensino e aprendizagem Antecipar o conteúdo das leituras com base em indícios como autor, título do texto, ilustrações

etc. Ler com fluência e autonomia, construindo significados e inferindo informações implícitas Consultar fontes de diferentes tipos e suporte para pesquisas sobre os diversos tipos de contos

literários Perceber a intencionalidade implícita nos tipos de contos literários

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ATIVIDADES PARA AMPLIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS

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Número de aulas: 4 a 5 aulas

Conhecendo as características dos gêneros da narrativa, os estudantes poderão melhor

apreciar e produzir textos que falem de amor, mistério, ficção, aventura, terror, fatos do cotidiano

etc. Eles já conhecem essas características pelo uso, ou seja, pelas leituras e produções que já

fizeram durante a vida escolar.

Nesse momento, ofereça-lhes informações que os ajudarão a organizar esses

conhecimentos. Baseado no texto, A narração: sonhos e histórias (quadro 3), converse com os

estudantes sobre texto narrativo e sobre alguns dos mais conhecidos gêneros narrativos: os

contos.

Organize a classe em seis grupos produtivos, solicitando que cada grupo leia o texto,

Gêneros da narrativa (quadro 4). Dê aos estudantes um tempo para que pesquisem na biblioteca

sobre o tipo de conto que está estudando (histórias de mistério, de terror, histórias policiais, de

ficção científica, histórias de amor, histórias do cotidiano). Ensine-os a pesquisar, utilizando para

isso, textos informativos sobre como desenvolver uma boa pesquisa.

Nas atividade de produção vamos apresentar-lhes a sinopse de alguns dos mais conhecidos gêneros da narrativa, adaptados da coleção Quem conta um conto, coordenada por Samir Meserani e publicada pela editora Atual. Se quiserem saber mais, peça-lhes que leiam nos livros didáticos, acervo da biblioteca, na internet sobre os aspectos das narrativas. É importante que você, professor também leia os livros de contos à disposição. Para seduzir os estudantes é necessário que o professor mostre paixão pelo gênero. Com essa atividade você proporcionará aos estudantes subsídios para as atividades de produção de textos. Oriente-os a preparem uma apresentação da pesquisa realizada para a sala.

5ª Atividade: Tecendo uma históriaTexto: Biruta, de Lygia Fagundes Telles

Expectativas de ensino e aprendizagem Ler com fluência e autonomia, construindo significados, inferindo informações

implícitas e verificando hipóteses Ler contos identificando seus elementos textuais Conhecer e analisar os elementos da narrativa: espaço, tempo, personagens (falas,

sentimentos e ações); enredo, conflito, desfecho, presentes no conto Analisar o emprego dos discursos direto, indireto e indireto livre, distinguindo as falas

do narrador e dos personagensNúmero de aulas: 4 a 5 aulas

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A narração: sonhos e histórias

Pode-se narrar qualquer coisa. Já se disse que narrar é uma forma de o homem sobreviver. No tempo das cavernas, os homens sentavam-se em volta de uma fogueira e contavam para os demais o que lhes tinha acontecido durante o tempo em que estiveram fora, caçando. Pode-se narrar qualquer coisa. Já se disse que narrar é uma forma de o homem sobreviver. No tempo das cavernas, os homens sentavam-se em volta de uma fogueira e contavam para os demais o que lhes tinha acontecido durante o tempo em que estiveram fora, caçando. Provavelmente, já naquela época, enfeitavam um pouco suas histórias, mostrando como eram corajosos e quantos perigos tinham enfrentado. Aos poucos, eles acharam que contar para os que viviam com eles era pouco, sendo preciso registrar essas histórias, para que as gerações futuras também soubessem o que lhes tinha acontecido. Assim, gravavam suas aventuras nas paredes das cavernas.

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Faça o seguinte questionamento aos estudantes: O que será que torna uma história tão

interessante? Abra espaço para que se coloquem livremente. Explique-lhes que o conto que será

trabalhado com eles, contém uma grande carga dramática que certamente os cativará.

O conto em questão é Biruta, de Lygia Fagundes Telles, Anexo 3, cuja leitura e estudo permitirão

conhecer melhor os recursos de que o autor de narrativas normalmente se utiliza para enredar

seus leitores.

Proponha, uma leitura silenciosa pelos estudantes, para que conheçam a história. Deixem

que extravasem as emoções provocadas pelo conto e relatem experiências semelhantes vividas

por eles ou pessoas conhecidas.

Será interessante que, após esse momento, as dificuldades quanto ao significado de

palavras sejam anotadas no quadro de giz e, através da discussão com a classe, da inferência do

sentido pelo contexto ou da pesquisa em dicionário, sejam esclarecidas.

Em seguida, proponha uma segunda leitura, agora voltada para referências do texto aos

personagens, à sequência de ações, ao espaço, ao tempo e ao foco narrativo. Sugira que cada

estudante leia um trecho em voz alta. À medida que a leitura se desenvolve, vá chamando a

atenção dos estudantes para esses aspectos, seguindo com eles o roteiro de estudo a seguir.

Desenvolva em pequenos grupos produtivos - estudantes com mais dificuldades junto com

outros que já avançaram mais, para que todos possam usufruir mais dessa troca de experiência, o

que favorece o confronto de diferentes pontos de vista e pode tornar essa experiência mais rica. O

roteiro de estudo a seguir, propõe várias atividades que exigirão dos estudantes concentração e

esforço. Esteja atento ao ritmo do grupo, dosando as atividades no tempo disponível, de forma

que não se sintam sobrecarregados nem demorem mais tempo do que o necessário para

desenvolvê-las.

Professor, antes de começar o trabalho em grupo converse com os estudantes sobre o fato

do conto ser muito comovente, sobre o que sentiram durante a leitura. Oriente-os para que

conversem com os colegas sobre a história, suas impressões, seus sentimentos e de como é bom

compartilhar o que sentimos.

O roteiro a seguir vai ajudá-lo a entender melhor como se organiza uma narrativa. Leia as

informações e perguntas abaixo com atenção, complete ou responda em seu caderno e volte ao

texto sempre que necessário, para confirmar suas hipóteses.

Análise do texto Biruta

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Roteiro de estudo do texto Biruta

1. Identificação

a. Nome do autor

b. Nome da obra

c. Nome da editora

d. Local e data de publicação

Estrutura da obra

2. Assunto: é o principal acontecimento a partir do qual se desenvolve a história.

a. Qual é o assunto do conto Biruta?

3. Enredo: é a organização dos fatos e ações vividas pelos personagens, numa determinada

ordem. Essa ordem pode ser linear, quer dizer, o que acontece antes vem contado antes, o que

acontece depois vem contado depois. Às vezes, essa ordem linear pode ser interrompida para

voltar ao passado, relembrando algo que aconteceu antes do momento que está sendo narrado.

No conto Biruta, é usado esse procedimento: o narrador utiliza a técnica da retrospectiva ou

flash-back, fazendo com que Alonso se recorde de coisas passadas.

a. Você seria capaz de dizer em que momentos isso acontece?

b. Observe os fatos abaixo e anote presente ao lado dos que são contados no momento em

que acontecem; e passado nos que são relembrados por Alonso.

Alonso lava a louça numa bacia.

Alonso volta à garagem triste e sozinho.

No asilo, Alonso recebe a visita da madrinha.

Alonso empresta Biruta a dona Zulu.

Animado, Alonso conversa com Leduína sobre o pedido de Zulu.

Zulu bate em Alonso por causa da carne que Biruta roubou.

Leduína conta a Alonso a verdade sobre Biruta. Alonso entrega a louça a Leduína

na cozinha.

Biruta é colocado no carro e parte com Zulu e o doutor.

c. Copie os fatos narrados no presente, na sequência em que eles ocorrem.

4. Verossimilhança: é a coerência ou lógica interna da história. Os fatos narrados, mesmo

inventados, devem decorrer uns dos outros de forma que o leitor aceite que possam ter ocorrido; o

leitor precisa ser convencido de que os fatos narrados são possíveis, dentro da história.

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a. Como você avalia a verossimilhança do conto Biruta? O que é narrado é verossímil, ou

seja, você aceita que pudesse acontecer?

5. Tempo: uma história passa-se num tempo determinado, que pode ser declarado pelo narrador

ou que você pode inferir (descobrir qual é) a partir de pistas que o texto fornece.

No conto Biruta, menciona-se automóvel e, pelo que diz Leduína, compra-se carne em açougues que fecham cedo (será que não havia supermercados, como hoje, que fecham mais tarde?).

a. Você consegue deduzir a época em que acontece essa história?

b. Em que dia do ano se passa a história? Em que momento desse dia?

c. Por que a escolha desse dia para desfazer-se de Biruta torna mais cruel a atitude de Zulu?

6. Personagens: os personagens são seres que vivem as ações. Através do enredo, percebemos

o relacionamento entre eles. Podem ser caracterizados fisicamente (aparência, cor, idade etc.) e

psicologicamente (qualidades, defeitos, manias, gostos etc.), através do que fazem ou do que o

narrador diz sobre elas.

Personagem principal é aquele em tomo do qual se desenvolve o enredo. No caso do

conto Biruta, Alonso é o personagem principal.

a. Como era Alonso fisicamente? E psicologicamente?

b. Que tipo de trabalho fazia e onde dormia?

c. Como era Biruta? Por que mexia nas coisas e as estragava?

d. Como era o relacionamento de Alonso com Biruta? Por que o cãozinho era tão importante

para ele?

e. Por que dona Zulu adotou Alonso?

f. Compare dona Zulu e Leduína. Que diferença há entre elas, quanto ao modo de tratar o

menino?

g. Como o marido de dona Zulu se relacionava com Alonso?

7. Espaço: é o lugar onde se passam as ações e fatos vividos pelos personagens.

Em Biruta, as ações acontecem na casa de dona Zulu, mas Alonso e Biruta não

compartilham do espaço ocupado pelo casal.

a. Qual é o espaço reservado a Alonso e Biruta?

b. Que relação há entre esse espaço e a forma como Alonso é tratado pela dona da casa?

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8. Narrador: quem conta uma história é sempre o narrador, que pode participar dela como

personagem ou então colocar-se de fora, narrando apenas aquilo que se passa com todos os

personagens.

a. No caso de Biruta, em que posição se coloca o narrador?

9. Opinião a. Escreva algumas linhas dando sua opinião a respeito desse conto, expondo em que medida

ele o emocionou.

Após o término do trabalho, cada grupo irá expor suas respostas, no Palanque do Contos,

discutindo as várias possibilidades de interpretação levantadas (não se pode esquecer o caráter

polissêmico da obra literária); os estudantes devem compreender que várias interpretações são

possíveis e aceitáveis, desde que respaldadas pelo texto. Caso alguns estudantes façam

interpretações que nada têm a ver com o texto, procure dialogar com eles para descobrir o que os

levou a tais interpretações e, assim, poder ajudá-los.

À medida que a discussão se desenvolve, caberá a você dar destaque para aspectos mais

sutis ou ainda não mencionados pelos estudantes e que tenham relevância para a análise do

conto.

6ª Atividade: Contos e históriasTexto: Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector

Expectativas de ensino e aprendizagem Ler com fluência e autonomia, construindo significados e

utilizando as estratégias de leitura: antecipação e verificação de

hipóteses.

Ler contos de autores goianos e escritores relevantes no cenário nacional.

Correlacionar corretamente os tempos verbais aos fatos narrados.

Analisar o valor do tempo passado empregado nos contos.

Número de aulas: 4 a 5 aulas

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Professor, fizemos, no Anexo 3, algumas observações sobre o texto Biruta, esperando contribuir para sua discussão com os

estudantes. Essas observações pretendem apenas organizar subsídios teóricos que você já domina, de modo a que possa

apresentá-los aos estudantes sempre que necessário, durante a leitura, estudo e discussão dos contos.

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Convide os estudantes a ler o conto, mas antes, faça a antecipação da leitura. Após a

leitura do texto, pelo professor, crie um espaço de discussão para que os estudantes expressem

suas impressões a respeito. Lembre-se da relação existente entre o título e a temática proposta

no texto, o sofrimento da protagonista por não conseguir o seu objeto do desejo (livro), depois o

prazer de ter esse objeto tão desejado pelo tempo que quisesse e, ainda, o exercício de crueldade

expresso pelas desculpas da menina gorda. Oriente-os a refletir sobre os diversos aspectos

propostos, voltando ao texto para confirmar ou refutar suas hipóteses.

Discuta com a classe as respostas dadas, mostrando aos estudantes as várias

possibilidades de interpretação levantadas. Os estudantes devem compreender que várias

interpretações são possíveis e aceitáveis, desde que respaldadas pelo texto.

Retome oralmente algumas características textuais desse conto (personagens, conflito, espaço...)

de forma que os estudantes os percebam e os relacionem.

Oriente os estudantes a circular, no texto em estudo, todos os verbos que estão no

passado e problematize com eles para que reflitam sobre alguns aspectos: a autora utiliza a flexão

dos verbos para marcar o tempo que já se foi? Os tempos verbais estão adequados? Os verbos

assinalados foram utilizados da mesma forma (flexão)? Quais são os tempos verbais mais

utilizadas nesse texto? Por quê?

Escreva no quadro o seguinte fragmento o amor pelo mundo me esperava, andei pulando

pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Pergunte aos estudantes se existem expressões

(ações) que representam o passado. Em que tempo ocorreu a ação de esperar cair? Em se

tratando dos verbos esperar e cair, qual deles indica uma ação completamente acabada no

passado? Podemos chamar essa ação de pontual? Qual deles indica uma ação que era habitual

no tempo passado, um fato cotidiano que se repete muitas vezes? Os tempos verbais combinam

entre si? Por quê? Qual dos dois fatos passados poderíamos classificar como pretérito perfeito?

Por quê? Como se classificaria então o outro fato passado? Por quê?

Instigue os estudantes a definirem então pretérito perfeito e pretérito imperfeito e registre as

respostas no quadro-giz. Depois oriente-os a pesquisar (gramáticas, livro didático etc.) para saber

que outros conceitos os autores apresentam para os dois pretéritos (perfeito e imperfeito).

Compare as informações pesquisadas com as hipóteses levantadas pelos estudantes,

fazendo os acréscimos necessários.

Professor, é importante que você, como par avançado, sistematize com eles o resultado das

discussões (conclusão) e esclareça as possíveis dúvidas sobre o assunto.

Após a sistematização os estudantes poderão escolher qual conceito sobre verbos eles

preferem registrar no caderno: o construído por eles ou o do manual de gramática.

8ª Atividade: O mundo das personagens

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Texto: Ninho de Periquitos, de Hugo de Carvalho Ramos Expectativas de ensino e aprendizagem Ler contos de autores goianos e de escritores relevantes no cenário literário nacional

Conhecer a cultura local, com base nos aspectos culturais e linguísticos presentes nos contos

de escritores regionais e locais

Analisar as formas do oral, o falar cotidiano, as marcas da goianidade, nos contos lidos

Analisar o emprego de adjetivos e locuções adjetivas para a caracterização das personagens

e dos espaços nas narrativas

Produzir texto narrativo coerente com o perfil do personagem criado

Número de aulas: 4 a 6 aulas

Inicie esta atividade relembrando aos estudantes que nas anteriores leram vários contos

interessantes e analisaram elementos da narrativa.

Diga-lhes que para envolver o leitor, é preciso que ele participe dos fatos narrados, viva o que os

personagens estão vivendo, veja o cenário, como se este estivesse diante de si. Uma narração

deve prender a atenção do leitor, ao contar os fatos.

Explique que desenvolverão exercícios de escrita de textos envolvendo os aspectos trabalhados

até agora, enfocando a criação de personagem. Comente que, antes, farão a leitura do conto

Ninho de Periquitos, do escritor goiano Hugo de Carvalho Ramos, anexo 4.

Peça que durante a leitura observem bem as personagens, como são, o que fazem, como se

comportam.... Não se esqueça de fazer a antecipação da leitura, pois é imprescindível conversar

com os estudantes sobre o texto no intuito de despertar-lhes a curiosidade e interesse.

Proponha que formem trios para desenvolverem o trabalho. Oriente-os para que realizem uma

primeira leitura em grupo para conhecer a história. Em seguida convide-os a realizarem a leitura

coletiva. Pergunte aos estudantes se gostaram da história, se conhecem alguma história parecida,

que sentimentos ela lhes desperta e se conhecem todas as palavras do texto. Comente que o

autor utilizou uma linguagem regional, valorizando a cultura local e respeitando a variedade

linguística – o sertanejo – especificamente. Como foi visto nos contos analisados, o sucesso de

uma narrativa depende, em grande parte, da construção dos personagens. Há personagens muito

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Hugo de Carvalho Ramos era filho do poeta Manoel Lopes de Carvalho Ramos e de Mariana Fenelon Ramos. Iniciou seus estudos na cidade natal (Cidade de Goiás) onde, desde cedo, impressionou seus mestres pelo fascínio demonstrado pela literatura, que o levou a ler os clássicos universais ainda na adolescência. Ultrapassada a primeira etapa dos estudos, transferiu-se para o Rio de Janeiro, matriculando-se, em 1916, na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais. Em 1920, estando prestes a concluir o curso jurídico e estando já abatido por crise de depressão, viajou ao interior de Minas Gerais e São Paulo. No ano seguinte, novamente de volta ao Rio de Janeiro, vítima da angústia e da depressão, cometeu suicídio. Iniciou-se cedo na carreira literária escrevendo em prosa e em verso. Sabe-se que alguns de seus contos mais conhecidos foram escritos aos quinze ou dezesseis anos. Em 1917 publicou Tropas e Boiadas, uma coletânea de contos de inspiração sertaneja, que mereceu referências elogiosas da crítica nacional.

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simples, chamados tipos ou lineares, que apresentam muito poucas características, por exemplo o

mocinho bom e justo ou o bandido mau e corrupto. Distribua aos estudantes o texto informativo

Criando um Personagem. Leia e discuta o texto com eles. Em seguida, converse com a classe

sobre a importância do trabalho em grupo, utilizando o texto do quadro abaixo.

Divida a classe em grupos e peça-lhes que releiam o conto Ninho de Periquitos para

caracterizarem uma das personagens, elaborando uma ficha conforme as orientações

apresentadas no texto informativo, anexo 5.

Depois de elaborarem a ficha de caracterização dos personagens, os estudantes devem

apresentá-la para os outros grupos. Registre no quadro-giz as conclusões dos grupos e as

confirmem com base no texto em estudo. Peça que registem tudo no caderno.

Nesse momento, peça que observem as palavras utilizadas na caracterização dos

personagens para que possam aprofundar um pouco sobre a análise linguística, partindo do

conhecimento que já possuem, pois quanto maior esse recurso, maior será sua capacidade de

olhar criticamente para o próprio texto, criando novos jeitos de dizer, É esse jeito que produzirá

efeitos de sentido para aquilo que se diz, enriquecendo o texto.

Nesta perspectiva sugerimos que selecione um ou mais fragmentos do texto e ajude os

estudante a analisarem e encontrarem esse efeito de sentido. Utilize o exemplo a seguir e

estimule-os a pensarem como a caracterização dos personagens e de outros elementos do conto

compõe um elo importante para a compreensão do texto. Janjão, olho aguçado para o trabalho

paterno. A palavra destacada, considerada adjetivo, quando analisada separadamente parece não

dizer algo significativo, no entanto quando lida e analisada no interior do conto, conectadas umas

às outras, vai contruindo um sentido diante dos olhos do leitor; ou seja, revelam coisas, dá

informações, ajudam a compreender a história.

Nesse fragmento, é possível perceber que o adjetivo aguçado ligada ao substantivo olhos

caracteriza Janjão, criança de 10 anos, que é atenta e observadora.

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Conversando sobre o trabalho em grupo Assim como este, muitos outros trabalhos são propostos para serem realizados em grupo. Isso acontece porque acreditamos

que as pessoas aprendem umas com as outras e que todas podem se desenvolver muito mais quando têm oportunidade de

confrontar suas ideias com as dos colegas. Entretanto, isso só acontece se todos participarem igualmente de todas as atividades

e disserem o que pensam realmente, se todos se esforçarem.

Quando há um trabalho para ser feito em grupo, de nada adianta dividi-lo e distribuir um pedaço para cada um, porque com isso

cada um fica somente com a visão da sua parte e perde a visão do todo. Pior ainda é quando só um ou dois trabalham (porque o

grupo acha que são mais inteligentes, ou mais estudiosos) e os outros ficam olhando, sem coragem ou com preguiça de

participar. Além de não ser justo, os que nao participam deixam de aprender.

Mesmo não sabendo direito como fazer, é preciso tentar. É assim que aprendemos. As atividades propostas podem ser

realizadas por todos os estudantes, especialmente se uns ajudarem os outros. Quando um colega não sabe, deve- se dar dica,

fazer junto, mas não fazer pelo outro. Quando fazemos pelo outro, não ajudamos, atrapalhamos, impedimos o outro de aprender.

Além disso, às vezes, há colegas que acham que não sabem, porque nunca tentaram, mas eles podem se surpreender e

descobrir que têm muito o que ensinar ao grupo.

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Professor, você pode prosseguir com essa análise, pedindo que os estudantes

reconheçam no texto outras palavras que consideram adjetivo, observando como elas são

utilizadas no texto. Isso poderá ser feito com o apoio do livro didático e de gramáticas.

Características físicas:

nome e apelido: Janjão

idade, aparência (aproximados): 10 anos (... sua primeira dezena tristonha de anos.)

olhos, cabelos e pele, boca, nariz, pernas etc: olhos aguçados, observador, atento

(...olho aguçado para o trabalho paterno...)

condições de saúde: boa (comiam jacuba de farinha de milho)

Em seguida, organize com a turma a apresentação do personagem caracterizado para os

outros grupos. Vá registrando no quadro as conclusões dos grupos e discuta com base no conto

em estudo. Peça para registrarem tudo no caderno.

Proponha aos estudantes que, para a próxima aula, tragam imagens de pessoas (da

comunidade - destaque/histórica) de revistas, jornais, personagens de histórias infantis e infanto-

juvenis e outras, para a elaboração de um pequeno texto narrativo.

Recolha as imagens (selecione, se for o caso – atente para as imagens) que os estudantes

trouxeram e as espalhe pela sala, peça aos estudantes que escolham uma. Oriente-os a discutir

sobre quem seria essa personagem: suas características, seus hábitos, sua idade, sua profissão,

etc. Relembre-os sobre os elementos necessários para a produção de uma narrativa (ver

atividades 4 e 5). Para esse trabalho, organize a turma em grupos produtivos e mãos a obra.

Estimule-os a usarem a criatividade da melhor forma que puderem. Estes textos poderão

ser lidos pelos estudantes no Palanque do Conto, numa próxima aula bem preparada e planejada

juntamente com eles.

Ao ler a narrativa para os colegas, estes poderão dar sugestões para aperfeiçoá-la

tornando-a mais interessante. Esta produção poderá ser revisada na atividade de reescrita

coletiva.

8ª Atividade – Expandindo ideias, produzindo a históriaTextos: Nhola dos Anjos e a cheia do Corumbá, de Bernardo Elis

Enchente deixa criança órfã

Expectativas de ensino e aprendizagem Valorizar a leitura como fonte de entretenimento e prazer

Antecipar o conteúdo da leitura com base em indícios como autor, título do texto, ilustrações

etc.

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ATIVIDADES PARA SISTEMATIZAÇÃO DOS CONHECIMENTOS DOS ESTUDANTES

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Conhecer a cultura local, com base nos aspectos culturais e linguísticos presentes no conto

em estudo

Expandir ideias de textos narrativos

Comparar os textos narrativo e informativo

Produzir contos numa situação real de uso, considerando sua finalidade, os possíveis leitores,

os elementos e as características do gênero.

Produzir narrativas com base em histórias ouvidas e lidas, observando a sequência

cronológica dos fatos.

Observar o uso da língua de maneira a dar conta da variação intrínseca ao gênero.

Comparar as diferentes possibilidades de estruturação de frases e períodos nos contos.

Número de aulas: 4 a 5 aulas

Comece essa atividade conversando com os estudantes sobre o texto Nhola dos Anjos e a

cheia do Corumbá com entusiasmo e emoção para despertar-lhes a curiosidade e interesse pela

leitura da história. Explique que o texto narra uma história bonita e muito emocionante que

aconteceu no interior de Goiás, escrita por um escritor goiano. Mostre o livro de Bernardo Élis que

contém a história, fale sobre o autor, o título, o suporte etc. enfim, faça uma boa propaganda da

história para que os estudantes façam antecipações, inferências e sintam-se motivados para a

leitura do texto. Em seguida, peça aos estudantes que façam uma leitura silenciosa do texto.

Dê o tempo que for preciso para que todos os estudantes leiam e apreciem a história.

Quando todos tiverem terminado a leitura, abra um espaço para os comentários ou reconto da

história, dando oportunidade para que todos participem dessa socialização. Com os estudantes

em círculo proponha uma discussão coletiva com a turma, partindo de questionamentos sobre o

texto como: Como se sentiram ao ler a história? Vocês acham que esse fato aconteceu

realmente? Por que Clemente, ao invés de tentar salvar sua mãe, a empurrou para dentro do rio?

Como Clemente deve ter se sentido ao perceber que a mãe fora tragada pelas águas? Vocês

acham que essa ação da natureza tem se repetido nos dias atuais? O que podemos fazer para

impedir que essa ação se repita?

É importante que o professor atente para as variações linguísticas presentes no texto.

Chame a atenção e procure mostrar aos estudantes as palavras e expressões da oralidade

(linguagem rural) empregada pelo autor para marcar a cultura local, dar vida, beleza e

originalidade ao texto. Faça com que os estudantes percebam os diferentes usos da linguagem

presentes no texto, marcando uma mesma situação de comunicação. Para facilitar a

compreensão dos estudantes, comprove essas situações de comunicação com trechos do próprio

texto.

Apresente aos estudantes o segundo texto Enchente deixa criança órfã:

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Criança fica órfã, após perder os únicos membros de sua família – o pai e a avó - que foram levados pela forte cheia do Capivari, no Corumbá.

Em seguida, converse sobre o modo como as pessoas escrevem seus textos. Há pessoas

que ao contar um fato qualquer acrescentam muitos detalhes desnecessários e isto acaba

cansando o leitor; outras são tão sucintas que conseguem transformar uma história interessante

numa simples informação. Entretanto, há outras, como os escritores, que, ao narrar um fato, por

mais simples que seja, o fazem com tanta criatividade que emociona e prende a atenção do leitor,

levando-o a viver a história, participar dos acontecimentos. Uma boa história deve conter todas as

informações que contribuam para dar vida e sentido ao texto, devendo descartar todos os fatos

irrelevantes.

Explique que os dois textos narram o mesmo fato, porém o segundo foi escrito de modo

bem sucinto, resumido, cujo objetivo é informar o leitor sobre um acontecimento. O primeiro é um

texto mais amplo, por apresentar uma linguagem figurada, metafórica. O autor utiliza vários

recursos linguísticos, as palavras são trabalhadas com mais criatividade, dando sentido, beleza e

originalidade ao texto para atrair, emocionar, entreter e divertir o leitor.

Com base nessas informações, proponha a ampliação da história Nhola dos Anjos e a

cheia do Corumbá, iniciando pela única personagem que sobreviveu a essa tragédia no Corumbá

– o neto de Nhola.

Ajude os estudantes a transformar o trecho apresentado numa narrativa interessante,

criativa, criando outras personagens, de acordo com as orientações propostas na sétima

atividade.

Para incentivar e ajudar os estudantes na construção do texto, inicie essa atividade

fazendo alguns questionamentos a respeito da vida do menino, após a perda de sua família:

Como deve ter sido a vida do menino após a morte do pai e da avó? Será que foi adotado por

alguma família generosa ou continuou sozinho no mundo passando fome e frio?

Será que continuou no mesmo lugar ou veio para a cidade? Foi para a escola ou ficou na rua,

sendo explorado pelo trabalho infantil etc.? Anote todas as respostas dos estudantes num cartaz

para ajudá-los na elaboração do texto e poder consultá-las sempre que for necessário. Dê

sugestões, ajude-os a organizar as ideias e construir os parágrafos introdutórios da história.

Lembre-os de que além do menino, que deverá ser a personagem principal, eles precisam criar

outras personagens que farão parte da história; e que essas personagens desenvolvem ações em

alguma época e lugar. Portanto, precisam pensar no cenário, onde e quando as ações vão

acontecer; fale sobre os elementos da narrativa estudados na 4ª atividade que os ajudarão no

trabalho de produção. Construído os parágrafos introdutórios, divida a sala em grupos e proponha

a cada grupo que termine sua história. Quando todos os grupos terminarem sua produção, peça

que releiam seus textos e façam as alterações que julgarem necessárias. O professor pode

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orientá-los a trocarem os textos entre os grupos, ler a produção um do outro e dar sugestões para

melhorá-los.

Por fim, proponha a reescrita do texto, conforme as orientações do Manual de Reescrita.

9ª Atividade: Reescrita de textos (coletiva e individual)

Expectativas de ensino e aprendizagem Revisar e reescrever o texto, melhorando seus aspectos discursivos e gramaticais,

assegurando clareza, coesão e coerência. Fazer reformulações que assegurem, também, as características próprias do gênero.

Número de aulas: 5 a 7 aulas

Anexos

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Professor (a), neste material foi incluído um manual com orientações de reescrita de textos. Sugerimos um estudo de todos os passos para uma boa reescrita e que você selecione apenas o que for necessário para o gênero textual em estudo. Planejar é fundamental para o sucesso da reescrita. Bom trabalho!

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Gêneros da narrativa Estes são alguns dos mais conhecidos gêneros narrativos:

Histórias de mistérioSão narrativas que contam acontecimentos oscilando entre o natural e o sobrenatural. Ao lado de

personagens comuns costumam aparecer fantasmas, fadas, bruxas, vampiros, almas penadas,

anjos protetores, duendes, sacis etc. O objetivo dessas histórias é provocar urna reflexão no leitor

sobre os limites do conhecimento, causando estranheza e, às vezes, medo.

Histórias de terrorSão histórias que utilizam o sobrenatural com a finalidade específica de provocar susto, medo e

até pânico. O autor cria um clima (ou atmosfera) que provoca no leitor medo e ansiedade.

Conseguir esse clima é mais importante para a história do que os personagens monstruosos ou

os perigos que enfrentam os herois.

Histórias policiais São histórias de enigmas e de suspense, decorrentes de um crime de morte — já praticado ou em

vias de realização. Seu objetivo é instigar o leitor a decifrar o enigma, acompanhando para isso as

investigações de um detetive, em geral corajoso e de raciocínio lógico brilhante, recolhendo

indícios, observando os suspeitos, preparando armadilhas. Nas histórias clássicas, o crime já está

consumado e o que interessa é a investigação, não o crime. Os detetives mais famosos dessas

histórias, elegantes e intelectualizados, são Sherlock Holuies (de Conan Doyle), Hercule Poirot e

Miss Jane Marple (de Agatha Christie) e o inspetor Maigret (de Georges Simenon). Existe uma

outra linha de policiais que mostra detetives mais rudes e violentos, em geral convocados para

impedir um crime ou perseguir criminosos violentos e profissionais. Nesse caso, não há enigma a

desvendar; ele é substituído pela ação e pelo suspense decorrente dela. Há dois autores norte-

americanos que se notabilizaram neste gênero: Dashiell Hammett e Raymond Chandler.

Ultimamente, as histórias policiais vêm cedendo espaço para as de espionagem, cujo heroi mais

famoso é James Bond (de lan Flemming), que fez enorme sucesso no cinema. Outro autor que

ganhou fama no cinema foi Alfred Hitchcock, ao combinar o policial na linha do enigma e o policial

de suspense.

Histórias de ficção científicaOs elementos mágicos e sobrenaturais das histórias tradicionais são substituídos por ingredientes

científicos e tecnológicos ou por especulações filosóficas. Elas costumam ser divididas em vários

subgêneros, mas os mais comuns são: a space opera, a ficção hard e a science-fantasy.

A space opera é o tipo de história em que os personagens desafiam impérios galácticos,

combatem alienígenas que mais parecem bichos de pelúcia ou monstros do pântano. Tudo é

grandioso, com um final geralmente épico. Guerra nas estrelas (Star wars) é um exemplo típico de

space opera.

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Na ficção hard (pesada), as histórias são construídas levando em conta os conhecimentos da

Física e os problemas que os seres humanos deverão enfrentar, ao explorar o espaço: não existe

gravidade artificial, as viagens são longas, geralmente em naves de muitas gerações e os objetos

são geralmente de pequena importância no contexto do universo. Um bom exemplo de ficçã hard

é 2001, uma odisseia no espaço.

A science-fantasy passa-se em universos nos quais a Física não é a mesma que nós

conhecemos: seres paranormais são comuns ou existem forças incompreensíveis. Essa é talvez a

mais criativa de todas as formas de ficção científica, pois cria realidades alternativas bastante

interessantes. As histórias de Jornada nas estrelas (Star trek) são típicamente desse estilo.

Fonte: Alves e Silva, 1995, p. 16

Histórias de amorSamir Meserani chama a atenção para o fato de amor ser um tema e não um gênero. O que se

convencionou chamar de histórias de amor é o gênero popular que utiliza a estrutura do conto de

fadas: uma heroína conhece um “príncipe encantado” e se apaixona por ele. O amor entre eles

cresce, mas surgem vários obstáculos que devem ser transpostos: oposições familiares, intrigas,

diferenças de classe social etc., até que tudo se resolva e haja o clássico fina feliz, com o

casamento dos herois, que viverão felizes para sempre. Os textos são enfeitados com hipérboles

(figuras de exagero) e metáforas (figuras de comparação). Os cenários são descritos

minuciosamente e constituem moldura românticas para as ações dos personagens.

Histórias do cotidianoSão aquelas em que predomina o dia-a-dia das pessoas: seus problemas, sonhos, realizações.

Nesse tipo de conto não há regras fixas. Como na vida, os finais nem sempre são felizes.

Normalmente, esses gêneros se entrelaçam. Acontecimentos fantásticos ou casos de amor

podem acontecer durante uma investigação policial; ficção científica pode vir misturada com um

clima de terror e encontros amorosos. O que marca este ou aquele gênero são as características

predominantes na história.

Fonte: Material Ensinar e Aprender, Caderno 2, Língua Portuguesa

Elementos da narrativa do conto Biruta

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Narrador e foco narrativo (ou ponto de vista)

É através da visão do narrador que a narrativa nos é transmitida. Basicamente, este pode-

se colocar em duas posições ou situações: a de contar a história como personagem, portanto em

primeira pessoa, ou colocar-se fora da história, contando-a como quem nos transmite algo que

acontece diante de seus olhos, isto é, em terceira pessoa.

O foco narrativo de primeira pessoa, se por um lado restringe essa visão panorâmica dos

fatos, por estar preso aos olhos e à personalidade de um único personagem, por outro ganha em

emoço. Já na terceira pessoa, o narrador pode jogar com o fato de ser um espectador privilegiado,

que tudo vê e que, por vezes, sabe até os segredos, emoções e sentimentos mais íntimos e

inconfessos de seus personagens, transitando assim da condição de simples observador à de

narrador onisciente.

O conto Biruta é narrado na terceira pessoa; o narrador coloca-se fora da narrativa, mas

descarta a pretensa objetividade de mero observador: cola- se ao personagem, aproximando-se

mais dele através do discurso indireto livre. Com isso, o leitor é levado a participar mais

intensamente do drama do menino, pois nada é antecipado, de modo que sentimos junto com

Alonso o impacto final da perda do melhor amigo.

Ação, enredo

Numa narrativa a ação compreende tudo o que acontece na história: os fatos e atos

envolvendo os personagens.

As ações de uma narrativa se organizam através do enredo, isto é, de uma sequência e

encadeamento que se tecem a partir de duas linhas condutoras:

sequência lógico-causal: as ações seguem-se como decorrência umas das outras;

sequência cronológica ou temporal: os fatos são narrados em ordem linear ou não.

Em Biruta, os fatos em sua maioria são narrados no tempo presente, isto é, no momento

em que ocorrem. Mas, em alguns momentos, são narrados em retrospectiva: Alonso recorda-se

de que Biruta roubara a carne da geladeira semanas atrás e também relembra sua vida no asilo.

TempoNuma narrativa, o tempo pode ser entendido de duas formas: tempo-época e tempo-

duração. 0 primeiro indica o momento histórico dos acontecimentos narrados. Em alguns textos,

esse tempo histórico pode vir claramente mencionado ou estar implícito na caracterização dos

personagens e do espaço.

O tempo duração é o que transcorre do começo ao fim da história narrada (horas, dias,

meses, anos etc.).

Quanto à organização da ação narrativa, isto é, à sequência em que se apresentam os

fatos, esta pode ser cronológica linear ou não-linear. Na primeira, os fatos são narrados na ordem

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de sua ocorrência; na sequência não-linear, há uma interrupção da sucessão linear, para serem

contados fatos do passado através de uma retrospectiva ou f/ash-back. É possível também incluir-

se uma prospectiva, em que se antecipa um fato futuro, conhecido pelo narrador, mas não pelos

personagens.

Nos romances psicológicos, onde a ação é muito mais interna do que externa, uma outra

ordem temporal se impõe: a da simultaneidade, em que prevalece a associação livre de ideias;

presente, passado e futuro se misturam num mesmo plano como se tudo fosse presente.

Em Biruta não se menciona a época histórica em que ocorrem os fatos, mas pode-se

deduzir, por pistas como a presença do automóvel, que se passa em época recente. Todavia, a

referência ao pé de meia que o cãozinho rasgou ou especialmente ao açougue que fechava cedo

pode nos remeter a 20 ou 30 anos atrás. Há apenas a menção ao dia de Natal, o que, associado a

toda a situação exposta no enredo, torna mais cruel o desfecho da narrativa.

Quanto à duração do conto, do momento em que Alonso está lavando a louça até o

momento em que tem notícia da perda do amigo, passam-se apenas algumas horas. O passado

(as artes de Biruta e o tempo do asilo) é rememorado através de um f/ash-back que interrompe a

linearidade da narrativa.

Personagens Os personagens são peças-chave dentro da narrativa. É com eles que ocorrem os fatos, é

através de seus dramas, suas experiências, paixões, sofrimentos e vitórias que se provoca a

empatia do leitor.

Personagens são geralmente definidos através de suas ações, isto é, mostram-se

enquanto agem, ou através de qualificação, quando o narrador descreve seu modo físio,

psicológico e social de ser. Em sua construção os personagens podem ser lineares, simples,

formados de poucas características, que tendem a revelá-lo como protótipo do bem ou do mal.

Ou, então, são complexos, mais trabalhados, imprevisiveis, cheios de conflitos e até

contraditórios em suas atitudes.

Podem ter papel determinante no desenvolvimento do enredo — serão, então,

protagonistas (personagens principais) ou podem ser coadjuvantes nesse processo (personagens

secundários). Em muitas histórias, há personagens, secundários ou não, que se contrapõem ao

personagem principal: são os antagonistas.

Fala das personagens

Para representar o que os personagens dizem em determinadas situações, o narrador

lança mão basicamente de dois processos: o discurso direto e o discurso indireto. No primeiro,

através de marcas como verbos de elocução, dois pontos, travessões ou aspas, o narrador mostra

diretamente as talas dos personagens; no segundo, é o narrador quem nos conta o que foi dito.

Há ainda um recurso da prosa mais moderna: o discurso indireto livre, quando o narrador

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reproduz a fala do personagem sem nenhuma indicação. As reflexões do personagem e a faia do

narrador misturam-se no mesmo discurso— apenas o contexto nos esclarece o que pertence a

um ou a outro.

No caso do conto Biruta, a qualificação dos personagens é parcimoniosa mas consistente,

e esses acabam se revelando muito mais através de suas ações. Alonso é um menino franzino

(pulsos finos, bracinhos tinos, rostinho pálido) e maltratado (mãos arroxeadas, mãos de velho,

andar de velho), submisso, leal e corajoso, a ponto de pagar pelos erros do amigo (o caso da

carne), compreensivo (sabe que Biruta é como criança), triste e amargo em suas recordações.

Solitário e carente, projeta em Biruta sua necessidade de dar e receber carinho.

Biruta é pequenino e branco, uma orelha em pé e outra completamente caído e tem olhinhos

ternos; ainda filhote, é como criança; bastante peralta, causa transtornos a Alonso; carinhoso,

lambe as lágrimas e as mãos do amigo que apanhara em seu lugar. Representa o apoio afetivo do

menino.

Leduína, a empregada, apesar de não revelar carinho pelo menino, defende-o algumas

vezes e mostra-se direta e franca quando decide contar a Alonso a verdade sobre Biruta. É

socialmente mais próxima de Alonso. Zulu é impaciente, violenta e cruel. Há vezes em que é

sorridente e simpática, desconcerta Alonso, que fica sem saber o que fazer; mente para enganar

Alonso e afastá-lo de Biruta. O Doutor, marido de Zulu, pouco é citado. Sabe-se dele apenas que

é indiferente ao destino do garoto e que, ainda que não concorde com a decisão da mulher em

levar Biruta embora (era Natal), nada faz para impedi-la.

Espaço

Os personagens movimentam-se dentro de um certo espaço e este pode muitas vezes

auxiliar em sua caracterização, na medida em que permite transmitir determinadas ideias ao leitor

com maior intensidade. Às vezes, porém, o espaço assume apenas um caráter decorativo,

tornando-se não mais que um cenário, pano de fundo sobre o qual se desenrolam as ações. No

caso do conto de Lygia Fagundes TelIes, o espaço desempenha papel importante, por mostrar

claramente a marginalização e a solidão de Alonso. Adotado para ser um empregado não-

remunerado, ele não compartilha do espaço-casa, vivendo na garagem onde dorme com o cão

num velho colchão metido num ângulo da parede em lençois rasgados.

Criando uma personagem Como foi visto nos contos analisados, o sucesso de uma narrativa depende, em grande parte, da

construção dos personagens. Há personagens muito simples, chamados tipos ou lineares, que

apresentam muito poucas características, por exemplo o mocinho bom e justo ou o bandido mau e

corrupto. Esses personagens aparecem nas historias infantis e nas de massa (novelas de

televisão, algumas historias em quadrinhos), porque não exigem nenhum esforço intelectual para

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serem compreendidos, isto é, são bastante previsíveis, é facil adivinhar como eles vão agir em

cada situação. Por outro lado, há personagens mais complexos, misteriosos e imprevisiveis, mais

ricos são bandidos e mocinhos ao mesmo tempo, são herois e covardes, sao capazes do bem e

do mal, da justica e da injustiça.

Ha duas maneiras de caracterizar um perosnagem, seja ele linear ou complexo: uma é pela

qualificação, outra pela ações. No primeiro caso, o personagem é descrito pelo narrador ou por

outros personagens: características físicas (estatura, aparência, idade, cor etc.), características

psicológicas (personalidade, qualidades e defeitos, sonhos, desejos, emoções, pensamentos,

frustrações, carências), características sociais (familia, amizades, atividades, situação econômica

etc.). No segundo caso, o personagem vai-se definido pelo que faz, isto é, por suas ações o leitor

vai percebendo como ele é. Algumas vezes essas ações não são externas: passam-se na cabeça

dos personagens, são ações interiores, psicológicas. Entretanto, essas duas possbiidades se

completam, pois os autores recorrem tanto à qualificação quanto à ação para mostrar a

personagem.

Características físicas: nome e apelido (se tiver);

idade, aparência (aproximados);

olhos, cabelos e pele, boca, nariz, pernas etc;

condições de saúde

Características psicológicas qualidades, habilidades, defeitos, dificuldades;

o que gosta, adora, provoca irritação, detesta em relação a comidas, divertimentos, estudo,

trabalho, esportes, religião, política, roupas;

o que deseja, de que tem medo;

o que faz questão de mostrar, o que faz questão de esconder;

hábitos, manias.

Características sociais: família: como são e o que fazem seus integrantes, estado civil (solteiro, casado etc);

condições econômicas: vantegens e dificuldades;

moradia: localização, como é a casa, como é a vizinhança;

moradia: localização, como é a casa, como é a vizinhança;

relações afetivas: namoros, quem são seus amigos e inimigos, como são;

trabalho e/ou estudo: o que faz, onde;

lazer: como ocupa seu tempo livre, se diverte, lugares que frenquenta;

acontecimentos que marcaram sua vida.

Fonte: Material Ensinar e Aprender, Caderno 2, Língua Portuguesa

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Biruta Lygia Fagundes Telles

Alonso foi para o quintal carregando uma bacia cheia de louça suja. Andava com dificuldade, tentando equilibrar a bacia que era demasiado pesada para seus bracinhos finos. — Biruta, êh, Biruta! — chamou sem se voltar. O cachorro saiu de dentro da garagem. Era pequenino e branco, uma orelha em pé e a outra completamente caída. — Sente-se aí, Biruta, que vamos ter uma conversinha. — disse Abonso pousando a bacia ao lado do tanque. Ajoelhou-se, arregaçou as mangas da camisa e começou a lavar os pratos. Biruta sentou-se muito atento, inclinando interrogativamente a cabeça ora para a direita, ora para a esquerda, como se quisesse apreender melhor as palavras do seu dono. A orelha caída ergueu-se um pouco, enquanto a outra empinou, aguda e reta. Entre elas, formaram-se dois vincos, próprios de uma testa franzida no esforço da meditação. — Leduína disse que você entrou no quarto dela — começou o menino num tom brando. — E subiu em cima da cama e focinhou as cobertas e mordeu uma carteirinha de couro que ela deixou lá. A carteira era meio velha e ela não ligou muito. Mas se fosse uma carteira nova, Biruta! Se fosse uma carteira nova! Me diga agora o que é que ia acontecer se ela fosse uma carteira nova!? Leduína te dava uma suna e eu não podia fazer nada, como daquela outra vez que você arrebentou a franja da cortina, lembra? Você se lembra muito bem, sim senhor, não precisa fazer essa cara de inocente!... Biruta deitou-se, enfiou, o focinho entre as patas e baixou a orelha. Agora, ambas as orelhas estavam no mesmo nível, murchas, as pontas quase tocando o chão, Seu olhar interrogativo parecia perguntar: “Mas que foi que eu fiz, Abuso? Não me lembro de nada...” — Lembra sim senhor! E não adianta ficar aí com essa cara de doente, que não acredito, ouviu? Ouviu, Biruta?! — repetiu Alonso lavando furiosamente os pratos. Com um gesto irritado, arregaçou as mangas que já escorregavam sobre os pulsos finos. Sacudiu as mãos cheias de espuma. Tinha mãos de velho. — Alonso, anda ligeiro com essa louça! — gritou Leduína, aparecendo por um momento na janela da cozinha. — Já está escurecendo, tenho que sair! — Já vou indo — respondeu o menino enquanto removia a água da bacia. Voltou-se para o cachorro. E seu rostinho pálido se confrangeu de tristeza. Por que Biruta não se emendava, por quê? Por que não se esforçava um pouco para ser meihorzinho? Dona Zulu já andava impaciente, Leduína também, Biruta fez isso, Biruta fez aquilo... Lembrou-se do dia em que o cachorro entrou na geladeira e tirou de lá a carne. Leduina ficou desesperada, vinham visitas para o jantar, precisava encher os pasteis, “Alonso, você não viu onde deixei a carne?” Ele estremeceu. Biruta! Disfarçadamente foi à garagem no findo do quintal, onde dormia com o cachorro num velho colchão metido num ângulo da parede. Binita estava lá, deitado bem em cima do travesseiro, com a posta de carne entre as patas, comendo tranquilamente. Alonso arrancou-lhe a carne, escondeu-a dentro da camisa e voltou à cozinha. Deteve-se na porta ao ouvir Leduína queixar-se à dona Zulu que a carne dasaparecera, aproximava-se a hora do jantar e o açougue já estava fechado, “que é que eu faço, dona Zulu?!”Ambas estavam na sala. Podia entrever a patroa a escovar freneticamente os cabelos. Ele então tirou a carne de dentro da camisa, ajeitou o papel já todo roto que a envolvia e entrou com a posta na mão. — Está aqui, Leduína. — Mas falta um pedaço! — Esse pedaço eu tirei pra mim. Eu estava com vontade de comer um bife e aproveitei quando você foi na quitanda. — Mas por que você escondeu o resto? — perguntou a patroa, aproximando-se. — Porque fiquei com medo. Tinha bem viva na memória a dor que sentira nas mãos corajosamente abertas para os golpes da escova. Lágrimas saltaram-lhe dos olhos. Os dedos foram ficando roxos, mas ela continuava batendo com aquele mesmo vigor obstinado com que escovara os cabelos, batendo, batendo como se não pudesse parar nunca mais. — Atrevido! Ainda te devolvo pro asilo, seu ladrãozinho!

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Quando ele voltou à garagem, Birutajá estava lá, as duas orelhas caídas, o focinho entre as patas, piscando, piscando os olhinhos temos. “Biruta, Biruta, apanhei por sua causa, mas não faz mal. Não faz mal.” Biruta então ganiu sentidamente. Lambeu-lhe as lágrimas. Lambeu-lhe as mãos. Isso tinha acontecido há duas semanas. E agora Biruta mordera a carteirinha de Leduína. E se fosse a carteira de dona Zulu? — Hem, Biruta?! E se fosse a carteira de dona Zulu? Já desinteressado, Biruta mascava uma folha seca. — Por que você não arrebenta as minhas coisas? — prosseguiu o menino elevando a voz. — Você sabe que tem todas as minhas coisas pra morder, não sabe? Pois agora não te dou presente de Natal, está acabado. Você vai ver se ganha alguma coisa. Você vai ver!... Girou sobre os calcanhares, dando as costas ao cachorro. Resmungou ainda enquanto empilhava a louça na bacia. Em seguida, calou-se, esperando qualquer reação por parte do cachorro. Como a reação tardasse, lançou-lhe um olhar furtivo. Biruta dormia profundamente. Alonso então sorriu. Biruta era como uma criança. Por que não entendiam isso? Não fazia nada por mal, queria só brincar... Por que dona Zulu tinha tanta raiva dele? Ele só queria brincar, como as crianças. Por que dona Zulu tinha tanta raiva de crianças? Uma expressão desolada amarfanhou o rostinho do menino. “Por que dona Zulu tem que ser assim? O doutor é bom, quer dizer, nunca se importou nem comigo nem com você, é como se a gente não existisse. Leduína tem aquele jeitão dela, mas duas vezes já me protegeu. Só dona Zulu não entende que você é que nem uma criancinha. Ah, Biruta, Biruta, cresça logo, pelo amor de Deus! Cresça logo e fique um cachorro sossegado, com bastante pelo e as duas orelhas de pé! Você vai ficar lindo quando crescer, Biruta, eu sei que vai!” — Alonso! — Era a voz de Leduína. — Deixe de falar sozinho e traga logo essa bacia. Já está quase noite, menino. — Chega de dormir, seu vagabundo! — disse Alonso espargindo água no focinho do cachorro. Biruta abriu os olhos, bocejou com um ganido e levantou-se, estirando as patas dianteiras, num longo espreguiçamento. O menino equilibru penosamente a bacia na cabeça. Biruta seguiu-o aos pulos, mordendo-lhe os tornozelos, dependurando-se com os dentes na barra do seu avental. — Aproveita, seu bandidinho! — riu-se Alonso. — Aproveita que eu estou com a mão ocupada, aproveita! Assim que colocou a bacia na mesa, ele inclinou-se para agarrar o cachorro. Mas Biruta esquivou-se, latindo. O menino vergou o corpo sacudido pelo riso. — Ai, Leduína, que o Biruta judiou de mim!... A empregada pôs-se a guardar rapidamente a louça. Estendeu-lhe uma caçarola com batatas: — Olha aí para o seu jantar. Tem ainda arroz e carne no forno. — Mas só eu vou jantar? — surpreendeu-se Alonso, ajeitando a caçarola no colo. — Hoje é dia de Natal, menino. Eles vão jantar fora, eu também tenho a minha festa. Você vai jantar sozinho. — Alonso inclinou-se. E espiou apreensivo para debaixo do fogão. Dois olhinhos brilharam no escuro: Biruta ainda estava lá. Alonso suspirou. Era tão bom quando Biruta resolvia se sentar! Melhor ainda quando dormia. Tinha então a certeza de que não estava acontecendo nada. A trégua. Voltou-se para Leduína. — O que o seu filho vai ganhar? — Um cavalinho — disse a mulher. A voz suavizou. — Quando ele acordar amanhã, vai encontrar o cavalinho dentro do sapato dele. Vivia me atormentando que queria um cavalinho, que queria um cavalinho... Alonso pegou uma batata cozida, morna ainda. Fechou-a nas mãos arroxeadas. — Lá no asilo, no Natal, apareciam umas moças com uns saquinhos de balas e roupas. Tinha uma que já me conhecia, me dava sempre dois pacotinhos em lugar de um. A madrinha. Um dia, me deu sapatos, um casaquinho de malha e uma camisa. — Por que ela não ficou com você? — Ela disse uma vez que ia me levar, ela disse. Depois, não sei por que ela não apareceu mais... Deixou cair na caçarola a batata já fria. E ficou em silêncio, as mãos abertas em torno da vasilha. Apertou os olhos. Deles, irradiou-se para todo o rosto uma expressão dura. Dois anos seguidos esperou por ela. Pois não prometera levá-lo? Não prometera? Nem lhe sabia o nome, não sabia nada a seu respeito, era apenas “a madrinha”. Inutilmente a procurava entre as moças que

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apareciam no fim do ano com os pacotes de presentes. Inutilmente cantava mais alto do que todos no fim da festa, quando então se reunia aos meninos na capela. Ah, se ela pudesse ouvi-lo! “...O bom Jesus é quem nos traz a mensagem de amor e alegria”...— Também, é muita responsabilidade tirar criança pra criar! — disse Leduína desamarrando o avental. — Já chega os que a gente tem. Alonso baixou o olhar. E de repente, sua fisionomia iluminou-se. Puxou o cachorro pelo rabo. — Êh, Biruta! Está com fome, Biruta? Seu vagabundo! vagabundo!... Sabe, Leduína, Biruta também vai ganhar um presente que está escondido lá debaixo do meu travesseiro. Com aquele dinheirinho que você me deu, lembra? Agora ele não vai precisar mais morder suas coisas, tem a bolinha só pra isso. Ele não vai mais mexer em nada, sabe, Leduína? — Hoje cedo ele não esteve no quarto de dona Zulu? O menino empalideceu. — Só se foi na hora que fui lavar o automóvel... Por que, Leduína? Por quê? Que foi que aconteceu? Ela hesitou. E encolheu os ombros. — Nada. Perguntei à toa. A porta abriu-se bruscamente e a patroa apareceu. Alonso encolheu-se um pouco. Sondou a fisionomia da mulher. Mas ela estava sorridente. O menino sorriu também. — Ainda não foi pra sua festa, Leduína? — perguntou a moça num tom afável. Abotoava os punhos do vestido de renda. — Pensei que você já tivesse saído... — E antes que a empregada respondesse, ela voltou-se para Alonso: — Então? Preparando seu jantarzinho? O menino baixou a cabeça. Quando ela lhe falava assim mansamente, ele não sabia o que dizer. — O Biruta está limpo, não está? — prosseguiu a mulher, inclinando-se para fazer uma carícia na cabeça do cachorro. Biruta baixou as orelhas, ganiu dolorido e escondeu-se debaixo do fogão. Alonso tentou encobrir-lhe a fuga: — Biruta, Biruta! Cachorro mais bobo, deu agora de se esconder... — Voltou-se para a patroa. E sorriu desculpando-se: — Até de mim ele se esconde. A mulher pousou a mão no ombro do menino: — Vou numa festa onde tem um menininho assim do seu tamanho. Ele adora cachorros. Então me lembrei de levar o Biruta emprestado só por esta noite, O pequeno está doente, vai ficar radiante, o pobrezinho. Você empresta seu Biruta só por hoje, não empresta? O automóvel já está na porta. Ponha ele lá que estamos de saída. O rosto do menino resplandeceu. Mas então era isso?!... Dona Zulu pedindo Biruta emprestado, precisando do Biruta! Abriu a boca para dizer-lhe que sim, que o Biruta estava limpinho e que ficaria contente de emprestá-lo ao menino doente. Mas sem dar-lhe tempo de responder a mulher saiu apressadamente da cozinha. Viu, Biruta? Você vai numa festa! — exclamou. — Numa festa com crianças, com doces, com tudo! Numa festa, seu sem-vergonha! — repetiu, beijando o focinho do cachorro. —Mas, pelo amor de Deus, tenha juízo, nada de desordens! Se você se comportar, amanhã cedinho te dou uma coisa. Vou te esperar acordado, hem? Tem um presente no seu sapato... — acrescentou num sussurro, com a boca encostada na orelha do cachorro. Apertou-lhe a pata. — Te espero acordado, Biru... Mas não demore muito! O patrão já estava na direção do carro. Alonso aproximou-se. — O Biruta, doutor. O homem voltou-se ligeiramente. Baixou os olhos. — Está bem, está bem. Deixe ele aí atrás. Alonso ainda beijou o focinho do cachorro. Em seguida, fez-lhe uma última carícia, colocou- o no assento do automóvel e afastou-se correndo. — Biruta vai adorar a festa! — exclamou assim que entrou na cozinha. — E lá tem doces, tem crianças, ele não quer outra coisa! — Fez urna pausa. Sentou- se. — Hoje tem festa em toda parte, não, Leduína? A mulher já se preparava para sair. — Decerto. Alonso pôs-se a mastigar pensativamente. — Foi hoje que Nossa Senhora fugiu no burrinho? — Não, menino. Foi hoje que Jesus nasceu. Depois então é que aquele rei manda prender os três. Alonso concentrou-se: — Estava. — E tão boazinha. Você não achou que hoje ela estava boazinha? — Estava, estava muito boazinha... — Por que você está rindo?

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— Nada — respondeu ela pegando a sacola. Dirigiu-se à porta. Mas antes, parecia querer dizer qualquer coisa de desagradável e por isso hesitava, contraindo a boca. Alonso observou-a. E julgou adivinhar o que a preocupava. — Sabe, Leduína, você não precisa dizer pra dona Zulu que ele mordeu sua carteirinha, eu já falei com ele, já surrei ele. Não vai fazer mais isso nunca, eu prometo que não. A mulher voltou-se para o menino. Pela primeira vez, encarou-o. Vacilou ainda um instante. Decidiu-se: — Olha aqui, se eles gostam de enganar os outros, eu não gosto, entendeu? Ela mentiu pra você, Biruta não vai mais voltar. — Sabe, Leduína, se algum rei malvado quisesse matar o Biruta, eu me escondia com ele no meio do mato e ficava morando lá a vida inteira, só nós dois! — Riu-se metendo uma batata na boca. E de repente ficou sério, ouvindo o ruído do carro que já saía. — Dona Zulu estava linda, não? — Não vai o quê? — perguntou Alonso pondo a caçarola em cima da mesa. Engoliu com dificuldade o pedaço de batata que ainda tinha na boca. Levantou-se. — Não vai o quê, Leduína? — Não vai mais voltar. Hoje cedo ele foi no quarto dela e rasgou um pé de meia que estava no chão. Ela ficou daquele jeito. Mas não te disse nada e agora de tardinha, enquanto você lavava a louça, escutei a conversa dela com o doutor: que não queria mais esse vira-lata, que ele tinha que ir embora hoje mesmo, e mais isso, e mais aquilo... O doutor pediu pra ela esperar, que amanhã dava um jeito, você ia sentir muito, hoje era Natal... Não adiantou. Vão soltar o cachorro bem longe daqui e depois seguem pra festa. Amanhã ela vinha dizer que o cachorro fugiu da casa do tal menino. Mas eu não gosto dessa história de enganar os outros, não gosto. É melhor que você fique sabendo desde já, o Biruta não vai voltar. Alonso fixou na mulher o olhar inexpressivo. Abriu a boca. A voz era um sopro. —Não?.. Ela perturbou-se. — Que gente também! — explodiu. Bateu desajeitadamente no ombro do menino. — Não se importe, não, filho. Vai, vai jantar. Ele deixou cair os braços ao longo do corpo. E arrastando os pés, num andar de velho, foi saindo para o quintal. Dirigiu-se à garagem. A porta de ferro estava erguida. A luz fria do luar chegava até a borda do colchão desmantelado. Alonso cravou os olhos brilhantes num pedaço de osso roído, meio encoberto sob um rasgão do lençol. Ajoelhou-se. Estendeu a mão tateante. Tirou debaixo do travesseiro uma bola de borracha.

— Biruta — chamou baixinho. — Biruta... —e desta vez só os lábios se moveram e não saiu som algum. Muito tempo ele ficou ali ajoelhado, segurando a bola. Depois apertou-a fortemente contra o coração.

Trancrito de Venha ver o pôr-do-Sol & outros contos.São Paulo: Ática, 1998, p. 51-9.

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Ninho de PeriquitosHugo de Carvalho Ramos

Abrandando a canícula pelo virar da tarde, abandonou a rede

de imbira onde se entretinha arranhando uns respontos na viola,

após farta cuia de jacuba de farinha de milho e rapadura que

bebera em silencio, às largas colheradas, e saiu ao terreiro,

onde demorou a afiar numa pedra piçarra o corte da foice.

Era pelo domingo, vésperas quase da colheita.

O milharal estendia-se alem, na baixada das velhas terras

devolutas, amarelecido já pela quebra, que realizara dias antes,

e o veranico, que andava duro na quinzena.

Enquanto amolava o ferro, no propósito de ir picar uns galhos

de coivara no fundo do plantio para o fogo da cozinha, o Janjão

rondava em torno, rebolando na terra, olho aguçado para o trabalho paterno.

— Não se esquece, o papá, dos filhotes de periquito que ficavam lá no fundo do grotão, entre

as macegas espinhosas de "malicia", num cupim velho do pé de maria-preta. Não

esquecesse...

O roceiro andou lá pelos fundos da roça, a colher uns pepinos

temporões, foi ao paiol de palha de arroz mais uma vez avaliando com a vista se possuía

capacidade precisa para a rica colheita do ano; e, tendo ajuntado os gravetos e uns cernes de

coivara, amarrava o feixe e ia já a recolher caminho de casa, quando se lembrou do pedido do

pequeno.

— Ora, deixassem lá em paz os passarinhos.

Mas naquele dia assentava o Janjão a sua primeira dezena tristonha de anos e, pois, não valia

por tão pouco amuá-lo.

O caipira pousou a braçada de lenha, encostando-a à cerca do roçado; passou a perna por cima

e, pulando do outro lado, as alpercatas de couro cru a pisar forte o espinharal ressequido que

estralejava, entranhou-se pelo grotão - nesses dias sem pinga d’água - galgou a barroca fronteira

e endireitou rumo da maria-preta, que abria ao mormaço crepuscular da tarde a galharada esguia,

toda tostada, desde a época de queima, pelas lufadas de fogo que subiam da malhada. Ali

mesmo, na bifurcação do tronco, assentada sobre a forquilha da arvore, à altura do peito,

escancarava a boca negra para o nascente a casa abandonada dos cupins, onde um casal de

periquitos fizera ninho essa estação.

O lavrador alçou com cautela a destra calosa, rebuscando lá por dentro os dois borrachos. Mas

tirou-a num repente, surpicadela incisiva, dolorosa, rasgara-lhe por dois pontos, vivamente, a

palma da mão.

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E enquanto olhava admirado, uma cabeça disforme, oblonga, encimada à testa duma cruz,

aparecia à aberta do cupinzeiro, fitando-o persistente, com seus olhinhos redondos, onde uma

chispa má Luzia malignamente...

O matuto sentiu uma frialdade mortuária percorrendo-o ao longo da espinha...

Era uma urutu, a terrível urutu do sertão, para a qual nem a mezinha domestica, nem a dos

campos, possuíam salvação...

— Perdido... completamente perdido...

O réptil, mostrando a língua bífida, chispando as pupilas em cólera, a fitá-lo ameaçador,

preparava-se para novo ataque ao importuno que viera arrancá-lo da sesta. O caboclo, voltando a

si do estupor, num gesto instintivo, sacou da bainha o largo "jacaré" inseparável e amputou-lhe a

cabeça dum golpe certeiro.

Então, sem vacilar, num movimento inda mais brusco, apoiando a mão molesta à casca

carunchosa da arvore, decepou-a noutro golpe, cerce quase à juntura do pulso.

E enrolando o punho prendido. É que uma mutilado na camisola de algodão, que foi rasgando

entre os dentes, saiu do cerrado, calcando duro, sobranceiro e altivo, rumo de casa, como um

deus selvagem e triunfante apontando a mata companheira, mas assassina, mas perfidamente

traiçoeira...

Transcrito de Tropas e boiadas. Rio de Janeiro: Instituto Centro-Brasileiro de Cultura, 1917, p. 1915.

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HUGO DE CARVALHO RAMOSPouco se pode dizer sobre a vida deste escritor. Teve a infância e a mocidade atribuladas e um suicídio que cortou para sempre sua vida inquieta, quando mal completara 28 anos de idade. O único livro que deixou, Tropas e Boiadas merece ser colocado no mesmo plano em que pairam Pelo Sertão e Os Caboclos, de Afonso Arinos e Valdomiro Silveira.

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Felicidade clandestinaClarice Lispector

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio

arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas.

Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com

balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de

ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho

barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de

paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás

escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho.

Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias,

altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia

de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe

emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como

casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um

livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E,

completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia

seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava

devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e

sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia

emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta,

saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a

andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí:

guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha

vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí

nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranquilo e

diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo.

Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia

seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia

se repetir com meu coração batendo.

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E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel

não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para

eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me

fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o

livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a

outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos

espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua

recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina

à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada

de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar

entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa

exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta

horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua

filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi

então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro

agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia

mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou

pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu

não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar.

Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo

levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração

pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter.

Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei

ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o,

abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que

era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia.

Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase

puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

Clarice Lispector. In: Felicidade Clandestina - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998

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Nhola dos Anjos e a cheia do Corumbá Bernardo Élis

— Fio, fais um zoio de boi lá fora pra nois.

— O menino saiu do rancho com um baixeiro na cabeça, e

no terreiro, debaixo da chuva miúda e continuada,

enfincou o calcanhar na lama, rodou sobre ele o pé,

riscando com o dedão uma circunferência no chão mole — outra e mais outra. Três círculos

entrelaçados, cujos centros formavam um triângulo equilátero.

Isto era simpatia para fazer estiar. E o menino voltou: — Pronto, vó.

— O rio já encheu mais? — perguntou ela.

— Chi, tá um mar d'água! Qué vê, espia, — e apontou com o dedo para fora do rancho. A velha

foi até a porta e lançou a vista. Para todo lado havia água. Somente para o sul, para a várzea, é

que estava mais enxuto, pois o braço do rio aí era pequeno. A velha voltou para dentro,

arrastando-se pelo chão, feito um cachorro, cadela, aliás: era entrevada. Havia vinte anos

apanhara um "ar de estupor" e desde então nunca mais se valera das pernas, que murcharam e

se estorceram.

Começou a escurecer nevroticamente. Uma noite que vinha vagarosamente, irremediavelmente,

como o progresso de uma doença fatal.

O Quelemente, filho da velha, entrou. Estava ensopadinho da silva. Dependurou numa forquilha a

caroça, — que é a maneira mais analfabeta de se esconder da chuva, — tirou a camisa molhada

do corpo e se agachou na beira da fornalha.

— Mãe, o vau tá que tá sumino a gente. Este ano mesmo, se Deus ajudá, nois se muda.

Onde ele se agachou, estava agora uma lagoa, da água escorrida da calça de algodão grosso.

A velha trouxe-lhe um prato de folha e ele começou a tirar, com a colher de pau, o feijão quente

da panela de barro. Era um feijão brancacento, cascudo, cozido sem gordura. Derrubou farinha

de mandioca em cima, mexeu e pôs-se a fazer grandes capitães com a mão, com que entrouxava

a bocarra.

Agora a gente só ouvia o ronco do rio lá embaixo — ronco confuso, rouco, ora mais forte, ora

mais fraco, como se fosse um zunzum subterrâneo.

A calça de algodão cru do roceiro fumegava ante o calor da fornalha, como se pegasse fogo.

Já tinha pra mais de oitenta anos que os dos Anjos moravam ali na foz do Capivari no Corumbá.

O rancho se erguia num morrote a cavaleiro de terrenos baixos e paludosos. A casa ficava num

triângulo. de que dois lados eram formados por rios, e o terceiro, por uma vargem de buritis. Nos

tempos de cheias os habitantes ficavam ilhados, mas a passagem da várzea era rasa e podia-se

vadear perfeitamente.

No tempo da guerra do Lopes. ou antes ainda. o avô de Quelemente veio de Minas e montou ali

sua fazenda de gado, pois a formação geográfica construíra um excelente apartador. O gado,

porém, quando o velho morreu, já estava quase extinto pelas ervas daninhas. Daí para cá foi a

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decadência. No lugar da casa de telhas, que ruiu, ergueram um rancho de palhas. A erva se

incumbiu de arrasar o resto do gado e as febres as pessoas.

"— Este ano, se Deus ajudá, nois se muda." Há quarenta anos a velha Nhola vinha ouvindo

aquela conversa fiada. A princípio fora seu marido: "— Nois precisa de mudá, pruquê senão a

água leva nois". Ele morreu de maleita e os outros continuaram no lugar. Depois era o filho que

falava assim, mas nunca se mudara. Casara-se ali: tivera um filho; a mulher dele, nora de Nhola,

morreu de maleita. E ainda continuaram no mesmo lugar a velha Nhola, o filho Quelemente e o

neto, um biruzinho sempre perrengado.

A chuva caía meticulosamente, sem pressa de cessar. A palha do rancho porejava água, fedia a

podre, derrubando dentro da casa uma infinidade de bichos que a sua podridão gerava. Ratos,

sapos, baratas, grilos, aranhas,o diabo refugiava-se ali dentro, fugindo à inundação, que aos

poucos ia galgando a perambeira do morrote.

Quelemente saiu ao terreiro e olhou a noite. Não havia ceu, não havia horizonte — era aquela

coisa confusa, translúcida e pegajosa. Clareava as trevas o branco leitoso das águas que

cercavam o rancho. Ali pras bandas da vargem é que ainda se divisava o vulto negro e mal

recortado do mato. Nem uma estrela. Nem um pirilampo. Nem um relâmpago. A noite era feito um

grande cadáver, de olhos abertos e embaciados. Os gritos friorentos das marrecas povoavam de

terror o ronco medonho da cheia.

No canto escuro do quarto, o pito da velha Nhola acendia-se e apagava-se sinistramente,

alumiando seu rosto macilento e fuxicado.

— Ocê bota a gente hoje em riba do jirau, viu? — pediu ela ao filho. — Com essa chuveira de

dilúvio, tudo quanto é mundice entra pro rancho e eu num quero drumi no chão não.

Ela receava a baita cascavel que inda agorinha atravessara a cozinha numa intimidade

pachorrenta.

Quelemente sentiu um frio ruim no lombo. Ele dormia com a roupa ensopada, mas aquele frio que

estava sentindo era diferente. Foi puxar o baixeiro e nisto esbarrou com água. Pulou do jirau no

chão e a água subiu-lhe ao umbigo. Sentiu um aperto no coração e uma tonteira enjoada. O

rancho estava viscosamente iluminado pelo reflexo do líquido. Uma luz cansada e incômoda, que

não permitia divisar os contornos das coisas. Dirigiu-se ao jirau da velha. Ela estava agachada

sobre ele, com um brilho aziago no olhar.

Lá fora o barulhão confuso, subterrâneo, sublinhado pelo uivo de um cachorro.

— Adonde será que tá o chulinho?

Foi quando uma parede do rancho começou a desmoronar. Os torrões de barro do pau-a-pique

se desprendiam dos amarrilhos de embiras e caíam nágua com um barulhinho brincalhão —

tchibungue — tibungue. De repente, foi-se todo o pano de parede. As águas agitadas vieram

banhar as pernas inúteis de mãe Nhola:

— Nossa Senhora d'Abadia do Muquém!

— Meu Divino Padre Eterno!

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O menino chorava aos berros, tratando de subir pelos ombros da estuporada e alcançar o teto.

Dentro da casa, boiavam pedaços de madeira. cuias. coités, trapos e a superfície do líquido tinha

umas contorções diabólicas de espasmos epiléticos, entre as espumas alvas.

— Cá, nego, cá, nego — Nhola chamou o chulinho que vinha nadando pelo quarto, soprando a

água. O animal subiu ao jirau e sacudiu o pelo molhado, tremulo, e começou a lamber a cara do

menino.

O teto agora começava a desabar, estralando, arriando as palhas no rio, com um vagar irritante,

com uma calma perversa de suplício. Pelo vão da parede desconjuntada podia-se ver o lençol

branco. — que se diluía na cortina diáfana. leitosa do espaço repleto de chuva. — e que arrastava

as palhas, as taquaras da parede. os detritos da habitação. Tudo isso descia em longa fila, aos

mansos boleus das ondas, ora valsando em torvelinhos, ora parando nos remansos enganadores.

A porta do rancho também ia descendo. Era feita de paus de buritis amarrados por embiras.

Quelemente nadou. apanhou-a, colocou em cima a mãe e o filho, tirou do teto uma ripa mais

comprida para servir de varejão, e lá se foram derivando, nessa jangada improvisada.

— E o chulinho? — perguntou o menino, mas a única resposta foi mesmo o uivo do cachorro.

Quelemente tentava atirar a jangada para a vargem. a fim de alcançar as árvores. A embarcação

mantinha-se a coisa de dois dedos acima da superfície das águas, mas sustinha satisfatoriamente

a carga. O que era preciso era alcançar a vargem, agarrar-se aos galhos das árvores. sair por

esse único ponto mais próximo e mais seguro. Daí em diante o rio pegava a estreitar-se entre

barrancos atacados, até cair na cachoeira. Era preciso evitar essa passagem, fugir dela. Ainda se

se tivesse certeza de que a enchente houvesse passado acima do barranco e extravasado pela

campina adjacente a ele, podia-se salvar por ali. Do contrário, depois de cair no canal, o jeito era

mesmo espatifar-se na cachoeira.

— É o mato? — perguntou engasgadamente Nhola, cujos olhos de pua furavam o breu da noite.

Sim. O mato se aproximava. discerniam-se sobre o líquido grandes manchas, sonambulicamente

pesadas, emergindo do insondável— deviam ser as copas das árvores. De súbito. porém. a sirga

não alcançou mais o fundo. A correnteza pegou a jangada de chofre, fê-la tornear rapidamente e

arrebatou-a no lombo espumarento. As três pessoas agarraram-se freneticamente aos buritis.

mas um tronco de árvore que derivava chocou-se com a embarcação, que agora corria na garupa

da correnteza.

Quelemente viu a velha cair nágua, com o choque, mas não pôde nem mover-se: procurava, por

milhares de cálculos, escapar à cachoeira. cujo rugido se aproximava de uma maneira

desesperadora. Investigava a treva, tentado enxergar os barrancos altos daquele ponto do curso.

Esforçava-se para identificar o local e atinar com um meio capaz de os salvar daquele estrugir

encapetado da cachoeira.

A velha debatia-se, presa ainda à jangada por uma mão, despendendo esforços impossíveis por

subir novamente para os buritis. Nisso Quelemente notou que a jangada já não suportava três

pessoas. O choque com o tronco de árvore havia arrebentado os atilhos e metade dos buritis

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havia-se desligado e rodado. A velha não podia subir. sob pena de irem todos para o fundo. Ali já

não cabia ninguém. Era o rio que reclamava uma vítima.

As águas roncavam e cambalhotavam espumejantes na noite escura que cegava os olhos,

varrida de um vento frio e sibilante. A nado, não havia força capaz de romper a correnteza nesse

ponto. Mas a velha tentava energicamente trepar novamente para os buritis. arrastando as pernas

mortas que as águas metiam por baixo da jangada. Quelemente notou que aquele esforço da

velha estava fazendo a embarcação perder a estabilidade. Ela já estava quase abaixo das águas.

A velha não podia subir. Não podia. Era a morte que chegava. abraçando Quelemente com o

manto líquido das águas sem fim. Tapando a sua respiração. tapando seus ouvidos. seus olhos.

enchendo sua boca de água, sufocando-o, sufocando-o, apertando sua garganta. Matando seu

filho que era perrengue e estava grudado nele.

Quelemente segurou-se bem aos buritis e atirou um coice valente na cara aflissurada da velha

Nhola. Ela afundou-se para tornar a aparecer, presa ainda à borda da jangada, os olhos fuzilando

numa expressão de incompreensão e terror espantado. Novo coice melhor aplicado e um tufo d'

água espirrou no escuro. Aquele último coice, entretanto. desequilibrou a jangada. que fugiu das

mãos de Quelemente, desamparando-o no meio do rio.

Ao cair. porém, sem querer. ele sentiu sob seus pés o chão seguro. Ali era um lugar raso. Devia

ser a campina adjacente ao barranco. Era raso. O diabo da correnteza, porém, o arrastava. de tão

forte. A mãe. se tivesse pernas vivas. certamente teria tomado pé, estaria salva. Suas pernas.

entretanto, eram uns molambos sem governo. um estorvo.

Ah! se ele soubesse que aquilo era raso. não teria dado dois coices na cara da velha. não teria

matado uma entrevada que queria subir para a jangada num lugar raso, onde ninguém se

afogaria se a jangada afundasse...

Mas quem sabe ela estava ali, com as unhas metidas no chão. as pernas escorrendo ao longo do

rio?

Quem sabe ela não tinha rodado? Não tinha caído na cachoeira. Cujo ronco escurecia mais ainda

atreva?

— Mãe. Ô. mãe!

— Mãe, a senhora tá aí?

E as águas escachoantes, rugindo, espumejando. refletindo cinicamente a treva do ceu parado.

do ceu defunto. do ceu entrevado, estuporado.

— Mãe, ô, mãe! Eu num sabia que era raso.

— Espera aí, mãe!

O barulho do rio ora crescia, ora morria e Quelemente foi-se metendo por ele a dentro. A água

barrenta e furiosa tinha vozes de pesadelo, resmungo de fantasmas, timbres de mãe ninando

filhos doentes, uivos ásperos de cães danados. Abriam-se estranhas gargantas resfolegantes nos

torvelinhos malucos e as espumas de noivado ficavam boiando por cima, como flores sobre

túmulos.

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— Mãe! — lá se foi Quelemente, gritando dentro da noite, até que a água lhe encheu a boca

aberta, lhe tapou o nariz, lhe encheu os olhos arregalados, lhe entupiu os ouvidos abertos à voz

da mãe que não respondia, e foi deixá-lo, empazinado, nalgum perau distante, abaixo da

cachoeira.

Transcrito de Caminhos das Gerais. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro: 1975, p.3-9 .

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Bernardo Élis Fleury de Campos Curado (1915 – 1977), nasceu em Corumbá de Goiás (GO). Advogado, professor, poeta, contista e romancista. Iniciou seus estudos com seu pai, o poeta Érico José Curado e, depois, na capital do estado, onde matriculou-se no grupo escolar. Em 1936, assumiu as funções de escrivão da Delegacia de Polícia de Anápolis. Nesses tempos, já havia participado de acontecimentos literários do Brasil central, escrevendo poesias e enviando colaborações de cunho modernista para os jornais de Goiânia. Em 1939, transferiu-se para essa cidade, onde foi nomeado secretário da Prefeitura Municipal, tendo exercido as funções de prefeito por duas vezes. Com um livro de poesias e outro de contos, que pretendia publicar, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, em 1942. Não conseguindo seu intento, voltou a Goiás. Fundou a revista Oeste e nela publicou o conto Nhola dos Anjos e a cheia do Corumbá. Em 1944, seu livro de contos Ermos e gerais foi publicado pela Bolsa de Publicações de Goiânia, obtendo sucesso e elogios de toda a crítica nacional. Nesse ano casou-se com a poetisa Violeta Metran. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Goiânia, em 1945. Nesse ano participou do 1º Congresso de Escritores de São Paulo, tendo conhecido diversos escritores nacionais. De volta a Goiânia, fundou a Associação Brasileira de Escritores, da qual foi eleito presidente.Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Ivan Lins na Cadeira nº 1, em 23 de outubro de 1975, e recebido em 10 de dezembro de 1975, pelo acadêmico Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.Recebeu inúmeros prêmios literários: Prêmio José Lins do Rego (1965) e Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (1966), pelo livro de contos Veranico de janeiro; Prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras, pelo seu Caminhos e descaminhos; Prêmio Sesquicentenário da Independência, pelo estudo Marechal Xavier Curado, criador do Exército Nacional (1972). Em 1987, recebeu o Prêmio da Fundação Cultural de Brasília, pelo conjunto de obras, e a medalha do Instituto de Artes e Cultura de Brasília.

Algumas obras:A terra e as carabinas (romance em folhetim publicado no jornal " Estado de Goiás), (1951); Primeira chuva, poesia

(1955); Ermos e gerais, contos (1944); O tronco, romance (1956); Caminhos e descaminhos, contos (1965); Veranico de janeiro, contos (1966); Marechal Xavier Curado, criador do Exército Nacional, estudo (1972); Seleta de Bernardo Élis. Org. de Gilberto Mendonça Teles; estudo e notas de Evanildo Bechara (1974); Caminhos das Gerais,

contos (1975); André Louco, contos (1978); Vila Boa de Goiás (1978); Apenas um vilão, novela e contos (1984); Chegou o governador, romance (1987); Obra Reunida de Bernardo Élis (1987)

(Fonte: Academia Brasileira de Letras)

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Gênero Digital:e-m@il

Andréa Jacinta da Costa13

Cleane França Fernandes Venâncio14

Dilma Braz de Oliveira15

Elma de Abreu Ramos Caixeta16

Helaing Aparecida Guerino17

Ieda Caixeta da Silva18

Ivanice Alves de Oliveira19

Laynne Beatriz Nunes20

Lúcia Geralda Aparecida21

Luciene Aparecida Marques22

Maria Abadia Braga Silva23

Maria do Carmo M. de Paula24

Maria do Socorro Rosa Silva25

Marly Aparecida da Silva26

Mary Lucy Oliveira Lunezzo27

Síntia Palhares Ferreira Silva28

Ronaldo José Cardoso29

Sônia Felipe de Oliveira Rodrigues30

Sueli Batista dos Santos Souza31

Vaneide Teles dos Santos Dourado32

Equipe de Sistematização33

1ª Atividade: Para início de conversa

Expectativas de ensino e aprendizagem Discutir a importância do uso da informática nas práticas interacionais da sociedade contemporânea

13 Colégio Estadual Senador Antonio de Ramos Caiado. Santa Cruz de Goiás. SER Pires do Rio

14 Escola Estadual Antônio Rodrigues dos Santos. Colinas do Sul. SRE Minaçu.

15 Colégio Estadual Santo Antônio de Canabrava. Distrito de Santo Antônio. SRE Minaçu.

16 Colégio Estadual Alceu de Araújo Roriz. SRE Luziânia.

17 Colégio Estadual Senador Antonio de Ramos Caiado. Santa Cruz de Goiás. SER Pires do Rio

18 CEPLOS. SRE Luziânia.

19 Colégio Estadual Antônio Albino Ferreira. SRE Minaçu.

20 Subsecretaria Regional de Educação de Minaçu.

21 Subsecretaria Regional de Educação de Minaçu.

22 Colégio Estadual Cônego Ramiro. SRE Luziânia.

23 Escola Estadual Polivante Dante Mosconi. SER Jataí

24 Colégio Estadual Senador Antonio de Ramos Caiado. Santa Cruz de Goiás. SER Pires do Rio

25 Subsecretaria Regional de Educação de Minaçu.

26 Colégio Estadual Senador Antonio de Ramos Caiado. Santa Cruz de Goiás. SER Pires do Rio

27 Colégio Estadual João Roberto Moreira. Naveslândia. SER Jataí

28 Colégio Estadual Valdomiro Lopes Rezende. Estrela do Norte. SRE Porangatu.

29 Subsecretaria Regional de Educação de Jataí

30 Colégio Estadual Ministro Santiago Dantas. SRE Minaçu.

31 Colégio Estadual Alceu de Araújo Roriz. SRE Luziânia.

32 Colégio Estadual Epaminondas Roriz. SRE Luziânia.

33 Arivaldo Alves Vila Real, Arminda Maria de Freitas Santos, Janete Rodrigues da Silva, Rosely Aparecida Wanderley Araújo – Técnicos de Desenvolvimento Curricular de Língua Portuguesa da Superintendência do Ensino Básico – SEDUC/GO.

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ATIVIDADES PARA IDENTIFICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS

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Número de aulas: 1 aula

Inicie a aula com uma pequena conversa sobre comunicação. Explore o tema, perguntando aos estudantes quais são os meios de comunicação mais utilizados atualmente. Caso não citem a informática, estimule-os a fazê-lo, dizendo-lhes que irão entrar em contato com o mundo do computador e da internet, que propõe novas maneiras de ler, escrever, de buscar informações e de se comunicar.

Divida a classe em pequenos grupos para que respondam as seguintes questões:a. Você utiliza o computador com frequência?b. Sabe acessar a internet? Com qual objetivo o faz?c. Tem o hábito de enviar e receber e-mails e torpedos?d. Comunica-se pelo MSN? Tem Blog? Etc.e. Você conhece o significado dessas expressões?

É importante que cada grupo eleja um relator que irá socializar para a classe os resultados das discussões realizadas no grupo.

Após a socialização dos grupos, ajude-os a organizar a discussão feita sobre a importância da internet para o mundo moderno, os benefícios que ela trouxe para a comunicação e a influência que ela exerce no dia-a-dia de cada um. Registre tudo no quadro - giz e peça que os estudantes façam o mesmo no seu caderno.

2ª Atividade: Rompendo fronteirasMúsica: Pela internet, de Gilberto Gil

Expectativas de ensino e aprendizagem

Ler com fluência e autonomia, construindo significados e inferindo informações implícitas

Dialogar sobre a estrutura e a linguagem utilizada nos textos de correspondências digitais

Número de aulas: 2 aulas

Comece esta atividade ouvindo a música “Pela internet”,

de Gilberto Gil. Chame a atenção dos estudantes para as

palavras que pertencem a linguagem da informática. Pergunte-

lhes se já conhecem o significado dessas palavras e vá

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ATIVIDADES PARA AMPLIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS

A maioria das inovações da área de informática foram produzidas nos Estado Unidos, assim muitos termos usados são procedentes da Língua inglesa. Além dos termos, a maioria das siglas usadas nessa área também se origina do inglês, como www (World Wide Web) que pode ser traduzida aos estudantes como teia de alcance mundial.

Nesse momento, professor(a), você terá oportunidade de diagnosticar os conhecimentos que a sua turma já possui sobre o gênero em estudo; o que lhe dará subsídios para o planejamento das aulas seguintes.

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registrando as respostas no quadro-giz. Explique aos

estudantes que o desenvolvimento e a expansão da informática

obrigaram os usuários a utilizarem um novo vocabulário para

designar as ferramentas e as tarefas realizadas no computador.

Em seguida, solicite que os estudantes identifiquem no

texto, palavras próprias da navegação em mar ou rio,

procurando seus respectivos significados no dicionário.

Registre o resultado da pesquisa no quadro e peça que eles

façam o mesmo no seu caderno. Peça-lhes, ainda, que

localizem no mapa-múndi, previamente afixado na classe, os

lugares de diferentes pontos do planeta citados na música,

registrando tudo no quadro.

Finalmente promova uma conversa com a classe, para que os estudantes percebam que a

internet rompe fronteiras e como isso é reafirmado pelo cantor e compositor Gilberto Gil, na sua

canção. Para isso é necessário que eles consigam estabelecer a relação existente entre os

lugares citados na música, as palavras próprias da navegação em mar ou rio e a internet.

Registre as conclusões das discussões no quadro-giz.

3ª Atividade: Comunicar é preciso

Expectativas de ensino e aprendizagem

Reconhecer os recursos utilizados na configuração de

e-mails, blogs e torpedos

Dialogar sobre a estrutura e a linguagem utilizada nos textos

digitais em estudo

Discutir a importância desses gêneros digitais nas práticas

interacionais da sociedade contemporânea

Número de aulas: 2 aulas

Inicie esta atividade retomando a aula anterior, dizendo aos estudantes que, ao romper

fronteiras, a internet abriu um grande leque de oportunidades jamais imaginadas. A qualquer

momento do dia ou da noite é possível se comunicar com pessoas de diferentes países e de

qualquer continente - o que mais se faz on line é trocar correpondências -, um recurso bem mais

barato e mais rápido que o correio convencional. A troca de mensagens pela internet permite que

se envie também fotos, vídeos, músicas, documentos e até programas.

Explique-lhes, ainda, que assim como o usuário do correio convencional, o usuário da

internet também precisa ter um endereço: o endereço eletrônico. É através dele que se envia e se

recebe mensagens.

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Apresente-lhes, através de data show (se possível), alguns endereços, com os diversos

sites seguros (gmail, hotmail, yahoo, bol etc.). Peça aos estudantes, que já possuem endereço

eletrônico, que demonstrem aos colegas como se faz para se cadastrar. Com base nos exemplos

apresentados por você e pelos colegas, na sala de aula, oriente os demais estudantes a criarem

seu endereço e a registrá-lo no caderno. Faça uma lista com os endereços eletrônicos de todos os

estudantes, para ser utilizada nas próximas atividades.

Caso não seja possível realizar o processo com o data show,

desenvolva-o por meio de outros recursos, como transparências, cartazes,

quadro-giz etc.

Após esse momento, divida a sala em duplas e peça-lhes que

escrevam um bilhete ao colega, solicitando-lhe emprestado um livro para

fazer uma pesquisa escolar.

Finalize essa aula com o registro sistematizado das discussões

realizadas.

4ª Atividade: Navegar também é preciso

Expectativas de ensino e aprendizagem Manusear o computador para criar endereços eletrônicos e e-mails

Refletir sobre o uso da linguagem digital - mais informal, livre, rápida

Utilizar o celular e computador para produzir e enviar mensagens digitais

Número de aulas: 2 aulas

Leve os estudantes ao laboratório. É importante lembrar, professor (a), que o sucesso da aula

dependerá de um planejamento prévio com o dinamizador do laboratório de informática. Peça

que as mesmas duplas, formadas para desenvolverem a atividade anterior

(criação de bilhete), dirijam-se a um computador para cadastrarem os próprios endereços

eletrônicos, com base no seguinte passo a passo:

a) Digitar a página do e-mail:

HTTP://www.hotmail.com.br

b) Abrir o NAVEGADOR

INICIAR

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PASSO A PASSO

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PROGRAMAS

1ª PÁGINA:

Entrar com seu

login e senha

2ª PÁGINA:

65

Invente um nome para seu e-mail. Depois clique aqui para ver se ele já existe, se existir invente outro e assim por diante, até que você encontre um que não exista.

Clique aqui para terminar o cadastro e espere abrir a página de seu e-mail.

Invente uma senha com no mínimo 6 números ou números e letras.

Escolha uma pergunta e responda no retângulo abaixo a resposta que você quiser e que irá lembrar depois, caso você precise.

Se você tiver outro e-mail digite ele aqui, senão deixe em branco.

Escreva todos seus dados pessoais.

As letras que estiverem escritas acima no retângulo cinza, você digita neste espaço.

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3ª PÁGINA

Apresente aos estudantes a lista de endereços da turma e peça-lhes que adicionem todos

os contatos na sua caixa de mensagens. Em seguida indique-lhes a dupla com a qual devem

corresponder-se.

Distribua a cada dupla uma cópia de um e-mail, trazido de casa por você, com o mesmo

assunto do bilhete escrito pelos estudantes na aula anterior.

Peça-lhes que comparem a linguagem utilizada nas duas correspondências, por exemplo:

palavras reduzidas, abreviadas, onomatopeias - recursos bastante utilizados no e-mail, que não

estão presentes no bilhete.

Em seguida, oriente-os a transformarem o bilhete escrito por eles em e-mail e enviarem-no

à dupla indicada por você, de forma a contemplar todas elas.

Finalize esse momento, solicitando-lhes que imprimam os e-mails produzidos. Recolha-os

para serem usados nas próximas atividades.

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Durante a atividade é fundamental que você, professor (a), juntamente com o dinamizador, oriente cada dupla, de forma pontual, atendendo-as nas suas necessidades específicas no momento da produção dos e-mails .

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5ª Atividade: Reescrita Coletiva

Expectativas de ensino e aprendizagem Reescrever o texto visando assegurar a presença dos elementos

característicos dos gêneros digitais

Analisar os termos utilizados no diálogo entre os interlocutores e as

palavras e expressões que revelam as finalidades com que se

comunicam

Comparar o texto inicial com o texto reescrito coletivamente

Número de aulas: 2 aulas

6ª Atividade: Reescrita Individual

Expectativas de ensino e aprendizagem Revisar e reescrever o texto, melhorando seus aspectos discursivos e

gramaticais, assegurando clareza, coesão e coerência. Fazer reformulações que assegurem, também, as características

próprias do gênero.

Número de aulas: 2 aulas

Retome com os estudantes o que foi desenvolvido na aula anterior, chamando-os à reflexão sobre a linguagem do e-mail. Nesse momento, professor (a), os estudantes devem observar se utilizaram na sua correspondência uma linguagem rápida, livre, mais informal e objetiva; e recursos como símbolos, gírias, palavras abreviadas, reduzidas, próprios desse gênero.

Em seguida, leve-os novamente ao laboratório de informática e peça-lhes que respondam o e-mail que receberam, tomando como base o texto reescrito coletivamente na aula anterior.

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Professor (a), neste material foi incluído um manual com orientações de reescrita de textos. Sugerimos um estudo de todos os passos e que você selecione apenas o que for necessário para o gênero textual em estudo. Planejar é fundamental para o sucesso da reescrita. Bom trabalho!

ATIVIDADES PARA SISTEMATIZAÇÃO DOS CONHECIMENTOS

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Anexos

Pela internet, de Gilberto Gil

Criar meu web siteFazer minha home-pageCom quantos gigabytesSe faz uma jangadaUm barco que veleje...(2x)

Que veleje nesse informarQue aproveite a vazanteDa informaréQue leve um orikiDo meu velho orixáAo porto um disqueteDe um micro em Taipé...

Um barco que velejeNesse informarQue aproveite a vazanteDa informaréQue leve meu e-mail láAté CalcutáDepois de um hot-linkNum site de Helsinque

Para abastecerAihê! Aihê! AihêEu quero entrar na redePromover um debateJuntar via InternetUm grupo de tietesDe Connecticut

Eu quero tá na redePromover um debateJuntar via InternetUm grupo de tietesDe Connecticut...

De Connecticut de acessarO chefe da MacMilícia de MilãoUm hacker mafiosoAcaba de soltarUm vírus pra atacarProgramas no Japão...Eu quero entrar na rede

Pra contactarOs lares do Nepal Os bares do Gabão

Que o chefe da políciaCarioca, avisaPelo celularQue lá na Praça OnzeTem um videopôquerPara se jogar...Jogar ah! ah! Ah!... (4x)

Eu quero entrar na redePromover um debateJuntar via InternetUm grupo de tietesDe ConnecticutEu quero tá na redePromover um debateJuntar via InternetUm grupo de tiétesDe Connecticut...

De Connecticut de acessarO chefe da MacMilícia de MilãoUm hacker mafiosoAcaba de soltarUm vírus pra atacarProgramas no Japão.

Eu quero entrar na redePra contactarOs lares do NepalOs bares do Gabão...

Que o chefe da políciaCarioca, avisaPelo celularQue lá na Praça OnzeTem um vídeo-pôquerPara se jogar...

Ah! ah! ah!Jogar ah! ah!..(3x)Connect show! Connect show!Connect show! Connect show!Connecticut, ConnecticutConnecticut…

Reescrita de textos na escola: a (re) construção do sujeito-autor

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Inventivo e livre ao elaborar suas canções, Gilberto Passos Gil Moreira, um dos maiores nomes da música popular brasileira, é um verdadeiro sincretismo musical. Transitando entre o baião, o funk, o rock, o afoxé, o samba, o reggae, o pop e a bossa nova, suas composições, de grande riqueza rítmica e melódica, mesclam a modernidade da vida urbana, como a tecnologia, aos elementos da cultura popular brasileira, como o carnaval, a religiosidade e a cultura africana, sem deixar de cantar o amor e a amizade. Nascido em Salvador, na Bahia, passou seus primeiros oito anos de vida em Ituaçu, em meio à banda local, aos sanfoneiros, aos cantores e violeiros, à música de Bach e Beethoven e de grandes ídolos do rádio, em especial Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Em Salvador, formou-se em Administração de Empresas e conheceu, em 1963, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia e Tom Zé, com quem se apresentou em público pela primeira vez com o show "Nós, por Exemplo", no Teatro Vila Velha (1964). Formado, conseguiu um estágio na Gessy Lever e mudou-se para São Paulo. Em 1966, concorreu como compositor no I Festival Internacional da Canção, da TV Rio, com "Minha Senhora", na voz de Gal, e no II Festival de MPB, da Record, com "Ensaio Geral" (classificada em 5ª lugar), cantada por Elis Regina. Em 1966, Elis Regina gravou "Louvação". Com o sucesso da música, foi convidado a gravar seu primeiro LP, "Louvação", e abandonou a carreira de administrador. Influenciado pelos fenômenos da contracultura, pelo psicodelismo dos Beatles, pela montagem de "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, dirigida por José Celso Martinez Corrêa, e pelos filmes de Glauber Rocha, iniciou o movimento tropicália, cujo deboche e irreverência revolucionaram a música popular brasileira. Durante o III Festival de MPB da TV Record, em 1967, com "Domingo no Parque" (cantada com os Mutantes), causou polêmica e obteve o 2ª lugar. Ao lado de Caetano Veloso, Gal, Rogério Duprat, Torquato Neto e os Mutantes lançou o disco "Tropicália ou Panis et Circensis" (1968). Com o Ato institucional número 5, foi preso e obrigado a exilar-se. Depois de passar dois meses na prisão, gravou "Aquele Abraço" e partiu para Londres (1969), onde lançou o disco "O Sonho Acabou". Regressou ao Brasil em 1972, quando surgiu "Expresso 2222", "Refazenda" (1975), "Os Doces Bárbaros" (1976), "Refavela" (1977), "Refestança" (1977), "Realce" (1979), revisitou a tropicáilia com Caetano Veloso, em "Tropicália II" (1993), gravou "Unplugged" (1994) e "Quanta" (1997). Gilberto Gil foi premiado com o Grammy na categoria de World Music em 1999, com o disco "Quanta Gente Veio Ver".

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Reescrita

ORIENTAÇÕES PARA A REESCRITA DE TEXTOS

2. Reescrita coletiva de textos

Os procedimentos descritos a seguir basearam-se em documento (São Paulo, 1985) cujos autores

foram orientados pelos professores João Wanderley Geraldi, Lilian Lopes Martin da Silva e Raquel

Salek Fiad. Estes procedimentos devem tornar-se rotina de aperfeiçoamento dos textos dos

estudantes.

Para proceder a uma reformulação de ordem geral, visando clareza, coerência e coesão:

selecione, dentre os textos produzidos pelos estudantes, um que seja representativo dos

problemas da classe (ou seja, que apresente pelo menos um problema significativo para a

classe como um todo)

convide o autor do texto a ocupar lugar de destaque, para que possa ser consultado

sempre que necessário

copie na lousa o texto (ou traga o texto já copiado em papel pardo) corrigido em seus

aspectos ortográficos e morfossintáticos — concordância nominal e verbal, conjugação

verbal, uso de pronomes etc.

proponha questões à classe em função dos aspectos a serem reestruturados, anotando as

respostas na lousa; por exemplo, completando informações (o quê? quem? quando?

onde?); eliminando redundâncias; expandindo ideias (por quê? como?); utilizando recursos

de coesão (conjunções, pronomes. advérbios, tempos verbais adequados); eliminando

contradições; pontuando e paragrafando adequadamente

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Professor (a),Inserimos neste material as orientações gerais para reescrita de textos que podem ser utilizadas na reescrita de qualquer gênero textual em estudo. Orientamos que siga apenas os passos necessários ao gênero em estudo de acordo com os aspectos gramaticais trabalhados nos conteúdos de análise e reflexão sobre a língua.

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discuta com os estudantes a importância das informações obtidas para a clareza,

compreensão e aperfeiçoamento do texto

reescreva o novo texto ou trecho na lousa com a classe, incorporando as alterações

discutidas

peça aos estudantes para comparar o texto reescrito com o original; solicite que verifiquem

em seus próprios textos se há problemas da mesma natureza e que, nesse caso, os

corrijam.

Os procedimentos para reformulações de ordem específica visam assegurar:

nos textos narrativos, domínio da configuração da narração; sequência cronológica

(diferentes possibilidades); passagem do discurso direto para o indireto e vice-versa;

comparação entre diversas narrativas, observando os recursos utilizados e os diferentes

níveis de linguagem (coloquial, jargão, culta, gíria, regionalismos)

nos textos informativos, fidelidade aos fatos dos relatos, notícias ou reportagens;

comparação entre diferentes formas de titular e configurar notícias e reportagens;

relevância das informações

nos textos argumentativos, a manifestação de opinião; estabelecimento de correlações

entre o fato, sua análise e os argumentos apresentados; domínio da configuração da

dissertação, considerando a opinião defendida (tese); os argumentos apresentados

(pertinência, finalidade e embasamento); a contra- argumentação; e a coerência entre tese

e argumentos.

nos textos persuasivos, configuração de propagandas, anúncios; a eficácia da mensagem

nos textos prescritivos, configuração de receitas, bulas, manuais de instrução; clareza e

precisão das informações e instruções

nos textos práticos, configuração de cartas familiares, memorandos, ofícios,

requerimentos, currículos; os elementos indispensáveis a esse tipo de texto

nos resumos, síntese e fidelidade das ideias; presença dos elementos fundamentais do

texto

ASPECTOS MORFOSSINTÁTICOS

Para trabalhar os aspectos morfossintáticos dos textos, estes serão os procedimentos rotineiros:

selecione a dificuldade de maior frequência no grupo-classe: flexão verbal, concordância

verbal e nominal, uso de pronomes etc.

a partir de trechos escolhidos entre as produções dos estudantes, aponte as incorreções e

solicite que formulem hipóteses sobre a forma correta; conduza-os a descobrir normas

práticas para contornar a dificuldade no futuro e, sobretudo, ensine-os a consultar a

gramática e o dicionário para sanar suas dúvidas

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solicite aos estudantes que corrijam seus textos em duplas, em pequenos grupos ou

individualmente.

Veja um exemplo das etapas para trabalhar, por exemplo, a flexão verbal.

1ª etapa: reconhecimento do verbo assinale nos textos dos estudantes verbos com problemas de conjugação

selecione alguns trechos de textos que contenham esses problemas e copie-os na lousa

junto com os estudantes, proceda ao reconhecimento dos verbos, chamando sua atenção

para terminações indicadoras de tempo, número e pessoa.

2ª etapa: identificação do tempo verbal retome os trechos e pergunte se o fato já aconteceu, está acontecendo ou vai acontecer,

associando-o a presente, pretérito, futuro...

3ª etapa: autocorreção

peça aos estudantes que, em grupos, corrijam seus textos, confirmando com você.

Quanto a outros aspectos morfossintáticos, os estudantes devem ser capazes de comparar e

transformar diferentes estruturas, como as que se seguem. Lembre-se, esta não é uma lista de

conteúdos e habilidades, apenas um rol de sugestões do que pode ser trabalhado em função dos

problemas detectados nos textos dos estudantes.

a. Emprego de verbos: aplicar adequadamente as flexões verbais

comparar textos, reconhecendo as diferentes possibilidades de correlação temporal

correlacionar corretamente os tempos verbais.

b. Sintaxe de colocação: perceber a equivalência na substituição do nome pelo pronome

comparar as diferentes colocações pronominais nas variedades culta e coloquial

comparar diferentes possibilidades de ordem entre os constituintes da oração

formalizar o uso da colocação pronominal determinada pela variedade culta.

c. Concordância verbal: perceber diferentes possibilidades de concordância verbal

comparar os diversos usos de concordância verbal nas variedades culta e coloquial

formalizar o conhecimento de estruturas e usos específicos da variedade culta

nas várias relações verbo-sujeito

no emprego dos verbos impessoais

no uso dos pronomes “que” e “quem”

na utilização da voz passiva

no uso dos pronomes indefinidos como recurso de estilo

d. Concordância nominal:

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perceber diferentes possibilidades de combinações nominais; observar as variações de significado e estilo em função de diferentes posições e

combinações nominais comparar os diversos usos da concordância nominal nas variedades culta e coloquial conhecer estruturas e usos específicos da variedade culta:

na variabilidade das combinações entre artigo, substantivo e adjetivo na invariabilidade do advérbio e expressões adverbiais, em suas relações com

outras classes gramaticais na utilização dos diferentes processos de nominalização: substantivar, adjetivar,

adverbializar

e. Regência nominal e verbal: observar as relações nos diferentes processos de complementação verbal e nominal, com

ou sem o uso de preposições reconhecer as diferenças de significado decorrentes das diversas possibilidades de

regência comparar o uso das regências nas variedades culta e coloquial formalizar o uso das regências na variedade culta

f. Transformações de período: comparar diferentes possibilidades de estruturação de períodos formalizar o conhecimento de coordenação e subordinação utilizar diferentes possibilidades de coordenação e subordinação, mantendo a equivalência

de significado reconhecer e utilizar recursos de precisão e concisão textuais

Síntese dos procedimentos básicos de reescrita de textos

Quanto à organização textual Quanto à forma gramaticalSeleção do texto a ser trabalhado coletivamente Seleção de um problema gramaticalCorreção ortográfica e gramatical pelo professor Escolha dos trechos a serem trabalhadosVisualização do texto (quadro-giz, cartaz) Visualização dos trechos (quadro-giz,

cartaz)Levantamento e registro das hipóteses de solução Levantamento e registro das hipóteses de

soluçãoAnálise e seleção das hipóteses Pesquisa e orientação para solução do

problemaReescrita coletiva dos trechos Reescrita coletiva dos trechosComparação do texto reescrito com o inicial Sistematização da questão gramaticalCópia do texto reescrito Registro da sistematizaçãoReescrita individual dos textos com problemas semelhantes.

Reescrita individual dos textos com problemas semelhantes.

Ortografia

No trabalho com ortografia, dois aspectos devem ser considerados: um é de natureza intelectual

(onde se buscam as regras), o outro de natureza convencional (onde é necessária a memorização

das convenções). Esses aspectos devem ser trabalhados ora coletivamente ora individualmente,

conforme a necessidade.

Quando houver incidência de dificuldades comuns à classe, é melhor que sejam trabalhadas

inicialmente no coletivo, uma por vez. Selecione, dentre os textos dos estudantes, trechos que

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contenham a dificuldade e anote-os no quadro-giz, na forma original. Solicite que os estudantes

formulem hipóteses sobre a forma correta, explique a regra (se houver) e, finalmente, faça a

correção.

Explicite normas práticas de algumas grafias. Por exemplo, o emprego de m antes de p e b; mal e

mau; mas e mais; há, à, a, ah!; por que e porque; ou terminações verbais (quando é am e quando

é ão).

O trabalho individual com ortografia complementa as atividades anteriores e visa desenvolver o

hábito da autocorreção. Peça aos estudantes que procurem em seus textos, previamente

assinalados por você, a dificuldade trabalhada, corrigindo-a. Combine com os estudantes marcas

(círculo ou grifo) para assinalar a palavra a ser corrigida. As anotações nos textos dos estudantes

serão feitas a lápis, para que possam ser apagadas após a correção.

Apresentamos a seguir exemplos da forma como pode orientar individualmente o trabalho de

autocorreção. Estão organizados em níveis, para que, aos poucos, o estudante vá ganhando

autonomia na correção ortográfica de seus textos.

À medida que dominar completamente a correção em uni nível, passe a proceder com ele no

seguinte.

1. Você assinala as palavras incorretas no texto do estudante, registrando-as

corretamente abaixo do texto, na ordem de ocorrência dos erros; o estudante apaga

o erro, escreve a palavra corretamente e apaga também suas correções

2. Você assinala os erros à margem da linha em que estes ocorreram e registra essas

palavras corretamente abaixo do texto, na ordem de ocorrência; o estudante procura

as palavras erradas na linha assinalada e corrige-as como no procedimento anterior

3. Você assinala as palavras incorretas, no texto do estudante ou na margem,

registrando-as corretamente abaixo do texto, em ordem alfabética; o estudante

localiza-as e procede à correção, como nos níveis anteriores

4. Você não assinala as palavras incorretas, mas registra-as corretamente em ordem

alfabética, abaixo do texto; o estudante procura as palavras incorretas, a partir da

lista que você fez, e corrige-as em seu texto

5. Você assinala as palavras incorretas nos textos dos estudantes ou na margem, mas

não as registra abaixo dos textos; anote os erros de todos os estudantes e registre-os

na lousa em ordem alfabética; os estudantes corrigem as palavras assinaladas

consultando a lista feita no quadro-giz.

6. Você faz uma lista das palavras incorretas encontradas nos textos dos estudantes,

registrando-as na lousa em ordem alfabética, mas não as assinala; os estudantes

procuram na lista da lousa para ver quais as palavras que devem corrigir em seus

textos.

7. Você assinala as palavras incorretas nos textos dos estudantes ou na margem e

pede-lhes que procurem no dicionário, para corrigi-las; os estudantes apagam os

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erros, bem como as marcas feitas, e corrigem-nos.

Oriente os estudantes a usar o dicionário: ensine-os a localizar palavras (ordem alfabética da

primeira letra, da segunda, da terceira...); esclareça que as palavras vêm sempre indicadas no

masculino e no singular, que os verbos aparecem no infinitivo, explicite as abreviaturas mais

comuns.

Provavelmente, alguns dos estudantes ainda terão problemas de alfabetização que poderão

comprometer a legibilidade de seus textos. Estes precisarão de um atendimento individualizado,

que exige inicialmente detectar a natureza do problema: chame o estudante e peça-lhe que leia o

texto que produziu; vá registrando ao lado a grafia correta. Converse com ele para saber se o erro

foi fruto de distração ou se realmente não conhece a grafia de determinados sons (por exemplo, r,

g, nh); se omite letras (por exemplo, escrevendo velo em vez de velho); se coloca letras

desnecessárias (escrevendo canato em vez de canto); se muda a ordem das letras para

“regularizar” a sílaba (escrevendo secola em vez de escola): ou, ainda, se emenda palavras

(amoto em vez de a moto, derrepente para de repente) etc.

Entregue as produções individuais para que cada estudante retome o exercício e faça a revisão do próprio texto. Para ajudar na tarefa, prepare um cartaz com o roteiro abaixo.

3. Reescrita individual de textos

Roteiro para revisão1. O título do texto é sugestivo? Instiga o leitor?2. O texto traz palavras e expressões que situam o leitor no tempo e no espaço da narrativa?

Há outros trechos em que é possível acrescentá-las?3. O texto descreve personagens e espaços com características que remetem o leitor a

concretizar suas ideias?4. O escritor expressa suas sensações, emoções e sentimentos por meio das ações das

personagens e do cenário?5. Há no texto trechos com marcas da linguagem oral (“né”, “daí” etc.) que devem ser

transformadas em discurso escrito?6. Os verbos no pretérito e imperfeito são usados da maneira certa?7. O texto consegue envolver o leitor? Ele desperta o interesse e prende a atenção?8. Há alguma palavra que não está escrita corretamente? E a pontuação está adequada?

Os estudantes podem usar lápis ou caneta de cor diferente para destacar mudanças. Eles podem marcar a reorganização ou o acréscimo de ideias, a correção de palavras, as mudanças na pontuação.Ao final do exercício, os estudantes passarão o texto a limpo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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