separata 2014
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BRASÍLIA - 2014
CÂMARA DOS DEPUTADOS
54ª Legislatura – 4ª Sessão Legislativa
Nº 1 / 2014
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S U M Á R IO P R E F Á C I O ..................................................................... 5
ARTIGOS E DISCURSOS
J A N E I R O .................................................................................. 9
F E V E R E I R O .......................................................................... 21
M A R Ç O ...................................................................................... 39
A B R I L ........................................................................................ 59
M A I O ............................................................................................ 76
J U N H O ....................................................................................... 97
A G O S T O .................................................................................... 117
O U T U B R O ............................................................................... 129
N O V E M B R O .......................................................................... 140
D E Z E M B R O ........................................................................... 175
HISTÓRIA
B I O G R A F I A ............................................................... 186
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livre, mediante autorização e
reprodução da fonte com créditos.
GABINETE POLÍTICO
Brasília / DF – CEP: 70160-‐900
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INTERNET
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PREFÁCIO São poucas as pessoas que podem olhar para um caminho de mais de 20 anos e constatar o quanto cresceram. Trabalhar com Jandira Feghali é fazer parte de um mandato coletivo, onde as ideias são valorizadas e, principalmente, se convertem em conquistas efetivas.
Neste última legislatura (2011-‐2015), dois projetos de lei de sua autoria se converteram em leis no país – A Lei Cultura Viva e a obrigatoriedade de fornecimento de bolsas de colostomia pelos planos de saúde. Outras leis tiveram a participação decisiva de Jandira como relatora ou articuladora, à exemplo do reajuste do valor das bolsas dos médicos residentes e a manutenção do vencimento dos médicos para a jornada de 20 horas semanais.
Várias lutas foram travadas com repercussão direta na vida de brasileiros e brasileiras que têm no mandato uma voz sempre presente. Inúmeros temas fizeram parte desses quatro anos, todos debatidos e com posição firme de nossa deputada, manifestada em diversos meios de comunicação e em discursos no Plenário da Câmara dos Deputados.
Neste último ano, com o acirramento da disputa política, a pauta esteve concentrada na defesa de um projeto político que saiu vitorioso das urnas, mas
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não deixou de dar atenção às principais demandas e questionamentos da sociedade.
Nesta publicação, o mandato apresenta uma coletânea dos principais temas tratados por Jandira. Artigos e pronunciamentos que construímos junto a ela, com muito debate e reflexão. Num processo onde crescemos juntos.
Esperamos que a leitura desses textos seja uma oportunidade para você também participar deste mandato, conhecendo suas ideias e interagindo com análises próprias. Essa tem sido nossa experiência com uma parlamentar que divide, agrega, compartilha e constrói a partir de todos o que se dispõe a fazer parte desta caminhada.
Boa leitura!
Beatriz Figueiredo
Carlos Henrique Miranda
Romário Galvão
-‐ Coordenação política do mandato -‐
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ARTIGOS E DISCURSOS
JANEIRO
Despolitização, não!
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Quando era bem pequena tinha uma curiosa mania junto à minha mãe. Na mesa da cozinha analisava seus meticulosos dedos separando com paciência os feijões do jantar. A refeição costumava ser maravilhosa, enchendo nosso lar de um aroma único. “É preciso separar os bons dos ruins para ser perfeito”, dizia saudosa e querida ao nos ver comendo.
Não há sabedoria mais verdadeira do que o simbolismo de sua frase, floreada por nossos sonhos e vivências. E é por causa deste ensinamento que me pego muitas vezes indignada ao assistir uma crescente campanha contra a política, pautada por interesses do poder econômico, neo-‐liberais e de monopólios da informação. Todos veladamente à favor, acredite, da não-‐política.
Enquanto a desinformação cresce segregando grandes feitos da política, generalizando tudo e todos, em assembleias e no Congresso Nacional, faço um chamamento ao povo brasileiro contra a despolitização. Um momento em que é preciso renovarmos os laços democráticos entre povo e eleitos, cidadãos e seus anseios junto aos parlamentos regionais ou nacional.
De forma decisiva, e no bater do relógio, é momento de reforçarmos a política como instrumento popular,
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sem rejeitar nossa maior conquista democrática que é o voto livre. A chamada não é pela obrigatoriedade de uma caminho ou de outro, mas pela consciência de escolha e da importância dela nos rumos de sua comunidade. Que seja feita com plenitude.
Um famoso manifesto brasileiro, escrito pelo militante histórico do Partido Comunista do Brasil, Bernardo Jofilly, transversa uma verdade vestida em metáfora: “Toda noite tem aurora / E toda aurora tem seus galos / clarinando no escuro o dia por nascer”. O amanhecer é, realmente, um recomeço. É viver outras perspectivas e expectativas. Onde a possibilidade de um novo momento se faz repleto de esperança. Este momento é de esperança. E é a política que ditará as possibilidades.
Como dizia minha mãe, basta escolher o grão certo.
Nossas vidas no trânsito
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Domingo, madrugada.
Dirigia pela Rua do Catete, na Zona Sul do Rio, quando uma enorme bola de gás luminosa surgiu por trás de um semáforo anunciando a blitz da Operação Lei Seca. Uma fila de carros já se formava naquele ponto, enquanto as equipes profissionais selecionavam os motoristas que deveriam prestar esclarecimentos. Entre eles, eu.
Desci do carro, fui bem atendida pelos agentes e convidada a assoprar o bafômetro. Uma atitude normal, simples, protocolar, que revelaria em instantes o nível zerado de álcool em meu sangue. Há uma simbologia muito forte em torno daquela movimentação sobre o etilômetro, muito maior que apenas testar a responsabilidade no trânsito. Diferente de mim, haviam motoristas alcoolizados por ali. Grave.
Para alcançar a meta determinada pela Organização das Nações Unidas (50% de redução de acidentes no trânsito até 2020), o Brasil tem avançado. Desde a vigência da lei seca, em 2008, o país dá passos positivos no combate à maléfica combinação de bebida alcoólica e o volante, causa maior de todas as perdas de vidas em nossas estradas.
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No Rio, por exemplo, de acordo com dados da ONG Rio Como Vamos, a lei conseguiu reduzir de 846 acidentes desta natureza para 741, se comparados os primeiros semestres de 2012 e o mesmo período de 2013, com queda de 142% (de 324 para 187) no total de mortes no trânsito fluminense daquele período.
Ainda assim, famílias inteiras vêm sendo desfeitas por conta da condução sob os efeitos do álcool. O Instituto Avante Brasil mostrou que as mortes no trânsito no Brasil aumentaram quase 65% em 10 anos. Só no ano passado 60.752 pessoas faleceram no trânsito, sendo pedestres e motociclistas as principais vítimas.
É preciso que os governos atentem para políticas públicas que reafirmem a lei em vigor, salvando cada vez mais vidas. Uma máxima que precisa ir além da fiscalização, com campanhas educativas chegando em escolas, casas noturnas e clubes, locais onde a nova geração seja esculpida com um olhar mais cauteloso sobre o trânsito.
Naquele dia, ter conseguido chegar em casa de forma tranquila não foi fruto apenas de minha responsabilidade como motorista, mas também daqueles que trafegaram comigo pelas ruas. É uma consciência social que precisa ser ampla e irrestrita. Respeitar a lei me deu a possibilidade de vivenciar novos domingos e outras madrugadas. Ainda bem.
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O rolê e a nova classe C
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Na última década, desde que 42 milhões de brasileiros ascenderam socialmente para uma nova faixa de consumo, o Brasil viu um novo rosto surgir em espaços antes considerados reservados aos mais abastados. Como se esse rosto nunca tivesse existido. Famílias viajando pela primeira vez de avião, adquirindo produtos da linha branca e computadores. O acesso ao crédito, novos postos de trabalho e a melhora na renda do brasileiro (fruto dos governos Dilma e Lula) deram novas possibilidades a esses cidadãos. Cidadãos que sempre existiram, mas marginalizados pela concentração de renda do capital representado por segmentos detentores de poder durante décadas.
E, da mesma forma que os mais ricos torceram o nariz para esses novos consumidores, também condenam os jovens que iniciaram o movimento do “Rolezinho”, um “rolê” ou “passeio”, na gíria jovem. Meninos e meninas, mais especificamente da periferia dos grandes centros urbanos, que querem se divertir ou entreter. Marcam um ponto de encontro e vão com suas roupas da moda, tênis de marca ou acessórios que seus pais não conseguiriam comprar uma década antes. É o rolezinho dos filhos dos trabalhadores que melhoraram suas condições de vida. Não são ladrões nem vândalos.
Defendemos o direito de trabalho dos comerciantes, assim como o direito de ir e vir. Contudo, não podemos esquecer que locais, como shoppings, são
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objeto de desejo também desses jovens que crescem agora num cenário diferente, consumindo marcas e modelos de roupa que faziam parte apenas da realidade dos filhos dos mais ricos. São jovens ambicionando, aos poucos e em diferentes dimensões, as mesmas coisas que os outros podem consumir, vestir ou transitar.
Contudo, os jovens de periferia, ainda sem alternativas culturais e de lazer, são reprimidos de forma descontrolada e despreparada, com violência policial, como ocorreu num templo do consumo paulista. Cassetetes e bombas de fumaça voaram no ar em ação parecida como a que manifestantes viram nas ruas em junho do ano passado. E mais inusitado, contra jovens que apenas queriam se divertir. Turmas da USP circulam em festas com centenas de jovens nos mesmos shoppings e nenhum policial é acionado.
Ao Brasil cabe ouvir e atender demandas democráticas, incorporar seu povo sem discriminação, garantir cultura e educação para todos, lazer e renda. O Brasil, com toda sua diversidade tem um único povo. Superar preconceitos e desigualdade é missão política onde os protagonistas são seus cidadãos.
“Nação / Digna / Nação / Indigna / Indignação / Ação / Nação / Digna”
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(Batalha/2001)
Seriedade na mobilidade urbana
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Quem bem se lembra das cenas, um dia inimagináveis, de agentes da concessionária Supervia tencionando passageiros na estação de Madureira com seus apitos? Como um flashback de períodos ditatoriais no Brasil, lá estavam funcionários agredindo cidadãos que só queriam usufruir o direito de ir e vir – o mesmo que é concedido pelo Estado à empresa sob regime de exigências e obrigações junto ao povo.
E quando os trens descarrilaram durante trajeto em São Cristóvão, na última semana, vimos novamente o caos instalado na cidade. Assim como a mídia e a internet registraram, sem poder seguir viagem, trabalhadores e estudantes jogados à própria sorte foram obrigados a sair dos vagões paralisados desafiando os quilômetros de chão quente e desnivelado dos trilhos da Supervia. Uma cena imoral para o morador do Rio.
A mobilidade urbana fluminense tem se tornado uma pauta crônica e desprezada pelo poder público, e que vem se refletindo cada vez mais na realidade do cidadão. É um setor que carece há anos de fiscalização e regulação com jeito sério de Governo, seja pela própria secretaria estadual de Transportes ou por seu braço específico para isso: a Agetransp. Mas nada disso ocorre com afinco ou seriedade, expondo ao risco e ao stress, de forma concomitante, milhares de usuários. De acordo com a própria companhia foram cerca de 500 falhas só em 2013.
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No verão carioca, sofre não só pelo calor quem tenta chegar ao trabalho ou em casa, partindo de um lado a outro na cidade do Rio e particularmente na Região Metropolitana, seja da Baixada Fluminense ou em municípios como São Gonçalo e Niterói. O cidadão sofre exatamente por ter de utilizar serviços e concessões de transporte público que caminham à margem de segurança e austeridade gerencial, dentro de razões a serem apuradas, pois há muito vem sendo denunciadas. O volume de investimento das concessionárias se mostra aquém das necessidades. Basta estar no asfalto do dia-‐a-‐dia e não dentro dos gabinetes refrigerados para compreender a realidade de 10 milhões de cidadãos.
Uma forma de fugir do emaranhado arcaico dos trens urbanos é investir em metrô com prioridade para Zona Oeste da capital e Baixada, e a Linha 3 para o outro lado da baía. É importante a expansão de VLT’s (Veículos Leves sobre Trilhos) no processo de desenvolvimento urbano, em substituição ao uso quase exclusivo da malha rodoviária, cada vez mais congestionada com carros e ônibus convencionais. Além disso, garante sua eficiência na defesa ambiental, sem emissão de carbono.
No panorama fluminense, é preciso voltar-‐se para onde o fluxo e a concentração da massa trabalhadora é maior, buscando manter integrados os diversos modais com preço acessível. E ir além: fazer da fiscalização e regulação uma ferramenta real do
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Governo, sem maquiagens, promiscuidade e desrespeito com o povo e nosso estado.
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FEVEREIRO
É barbárie?
Quando um grupo de jovens da Zona Sul do Rio acha natural descer de suas motos para espancar um morador de rua – suspeito de praticar furtos e roubos pelo Flamengo – constatamos que, em muitos
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aspectos, a sociedade dá sinais de retrocesso. Motivados por uma espécie de “justiça pelas próprias mãos”, esses jovens são o retrato de tudo que deveríamos condenar e combater.
É no compasso da onda de violência e da omissão do Estado que a sociedade vai gerando e incorporando a noção de “justiceiros”, perigosamente se aproximando das ideias higienistas do neonazismo. Atacam moradores de rua, índios, homossexuais numa ótica preconceituosa, numa tentativa de expurgar das áreas públicas os que consideram “sub-‐cidadãos”. Um ato injustificável e que, ao contrário do que se pensa, não contribui em nada para diminuir estatísticas de violência nos centros urbanos.
Há um cenário crítico que se consolida a partir da banalização da violência. A noção de que a ação violenta é plenamente justificada constitui um passo largo em direção ao retrocesso e uma afronta aos direitos humanos.
O perfil majoritário de quem segue sendo queimado em praça pública ou amarrado nu a um poste é revelador. De acordo com o Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Rio, somente 13% dos moradores de rua fluminenses são analfabetos, sendo que 65% deles não ingerem bebidas alcoólicas e outros 62% garantem não usar droga de espécie alguma. Ou seja, há uma grande
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parcela de gente sem oportunidade ou incentivo do Estado, jogada à própria sorte na selvageria do capitalismo moderno.
No caso dos criminosos de fato, a polícia e a Justiça precisam responder com celeridade em seus papéis investigativo e de julgamento para que a impunidade não seja argumento para essas inaceitáveis condutas.
O governador, em sua condição de chefe de Estado, deve cumprir seu papel e atrelar diferentes secretarias dentro de uma ampla política pública com função de evitar a marginalização de cidadãos (uso de drogas, abandono escolar e desemprego).
No Brasil, o panorama segue estarrecedor. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República federal aponta que 195 moradores de rua foram assassinados de janeiro a junho do ano passado, sendo que apenas 13 casos se transformaram em ação penal ou em denúncia no Ministério Público local.
É preciso promover a Justiça sem excluir ou segregar, por meio de instituições independentes e fortes. Estendendo a mão àqueles que precisam de emancipação. É desta forma que promoveremos o fim da barbárie do povo contra o próprio povo.
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Metas progressistas
É reiniciado o trabalho legislativo no ano de 2014. Ano de eleições gerais, de grandes embates políticos e de construção de uma disputa que definirá para onde caminharemos no Brasil. A esquerda política tem grande responsabilidade no processo, pois é
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partícipe do governo Lula e Dilma desde o início e sensível às demandas do povo. Precisamos estabelecer o aprofundamento programático e o apontamento de uma plataforma estruturante para a economia sustentável, assim como a incorporação do trabalho, uma reforma urbana que humanize as cidades, o avanço das reformas democráticas e fortalecimento de políticas universais e de equidade.
O parlamento, de perfil heterogêneo e com a esquerda em minoria, precisa responder à sociedade construindo grandes acordos que resultem na aprovação de projetos e medidas marcadamente populares e democratizantes. Evoluímos em 2013 em algumas matérias, a exemplo da destinação dos royalties do Pré-‐Sal para educação e saúde, mas não podemos passar por 2014 sem votar leis que democratizem a comunicação, como o Marco Civil da Internet, evoluir na reforma política que retire o financiamento de empresas nas campanhas, enfrentar medidas estruturantes na reforma urbana – como legado dos eventos esportivos –,aumentar o orçamento de investimentos em inovação, infraestrutura e logística do Brasil, a produtividade e renda para os trabalhadores e ampliar recursos para saúde e cultura com toda sua diversidade.
Todas essas questões se darão numa conjuntura polarizada pela disputa eleitoral e grandes debates sobre os 50 anos do Golpe Militar, onde reafirmaremos nossa convicções de liberdade e
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direitos humanos. A sociedade não aceita retrocessos, provocações e violência. Não aceita falsos argumentos que justifiquem caminhar para trás.
Retomar a consciência e ação coletiva na política são desafios colocados a nós, militantes partidários vinculados às lutas e movimentos sociais, minimizando o descrédito e fincando ideias e ações que nos permitam acreditar no Brasil e no protagonismo de cada um de nós.
O capitalismo rentista nos pressiona para que nos agachemos diante de suas exigências e já encontrou quem vocalize suas propostas nessas eleições. O discurso oposicionista, sem novas propostas, tenta dar nova roupagem às velhas ideias. Mas o povo não é bobo. Bobo é quem o subestima!
O aniversário de 50 anos da instalação do Regime reforça determinadas bandeiras, principalmente no que se refere à garantia de nossos direitos enquanto cidadãos no combate à violação das liberdades. É também um ano em que os eleitores decidirão sobre seus representantes, com a chance única de interferir na eleição de deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da República. É hora de rever conceitos e práticas e rumar em direção ao campo progressista, lutando contra as forças que se mostram cada vez mais
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ameaçadoras ao direito de expressão e dos direitos humanos.
A reforma política é uma bandeira que precisa ser mantida em 2014. O nosso sistema eleitoral necessita de mudanças profundas para equiparar homens e mulheres nos pleitos, eliminando a influência do poder econômico no financiamento das campanhas e acatando o financiamento público eleitoral. A participação da sociedade neste processo é fundamental, pressionando o Parlamento e exigindo sua aprovação.
Não nos esqueçamos que 2014 também é ano de Copa do Mundo. No país do futebol, do esporte que desconhece as fronteiras de classe num espírito de confraternização e jogo limpo, sua realização é uma conquista. Uma oportunidade de, com orgulho, mostrar o Brasil para o mundo e, ao mesmo tempo, gerar empregos, renda, capacitação profissional, além da transformação urbana por meio de sua mobilidade e infraestrutura. Quando 46% da população mundial voltar os olhos para o Brasil será nossa diversa e rica cultura a chegar aos mais longínquos recantos do planeta.
Vencer essas etapas com capacidade e convicção é dar sentido à luta que se faz, sem esquecer de que um projeto para o Brasil começa junto ao povo e para o povo.
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Pela democracia, contra a violência
Este princípio vale com igual força para outros partidos e democratas que enfrentaram a maior barbárie que este país já vivenciou em seu solo, que é
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a violência de Estado executada pela Ditadura Militar. No ano que completamos 50 anos de vivência deste triste capítulo, é importante que tenhamos em nossos corações e mentes uma posição muito clara: que nunca se repita o que ocorreu em 1964.
E é desta reflexão que chamamos a atenção para o foco da luta legítima de nossa sociedade, que toma as ruas sem violência e, de forma pacífica, reivindica mais direitos. É por conta desta liberdade conquistada com muito esforço que devemos contrapor, em voz uníssona, todos aqueles que irresponsavelmente se utilizam de instrumentos que podem gerar danos ou mesmo a morte. Essas ações não tem o apoio da maioria, afastam o estudante, o trabalhador e o movimento social das ruas e desvirtua a pauta que deve protagonizar as manifestações. Expressamos por isso nossa solidariedade à família e amigos de Santiago
Mas não podemos em nenhuma hipótese aceitar que, a ação dessas minorias sirva à manipulação e justifique o fortalecimento de uma direita reacionária e a aprovação de leis restritivas à liberdade e democracia, como a chamada “Lei Antiterrorismo”, baseada em leis fascistas internacionais, cujo objetivo central seja a criminalizarão da atuação política e dos movimentos sociais. Precisamos investigar e punir culpados pela morte de pessoas, mas isto deve valer também para o violência de Estado que ceifa vidas quase que
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diariamente, sem repercussão na mídia, dando segmento à ideologia de Segurança nacional. Devemos ainda voltar nossos olhos e esforços para combater aqueles que alimentam a “cultura da barbárie”, que teimam em fazer justiça seja pelas próprias mãos – e pela própria ótica –agredindo gays, índios, e moradores de ruas, minorias de uma jovem nação como a nossa.
Nossa luta é pela democracia, pela liberdade de expressão, de manifestação, de comunicação e de organização, mantendo o povo nas ruas, junto de suas pautas. Não podemos dar conforto aos que não conseguem viver com a democracia e objetiva impedir as vozes do povo.
Nossa solidariedade a todos aqueles que lutam pela liberdade, sem violência de parte alguma, seja de provocadores, seja de Estado – esta última, sem traço algum de igualdade com outras formas de violência.
Cozinha de horrores
As propostas para uma lei antiterrorismo emergem do caldeirão legislativo com ingredientes nada palatáveis. Com aroma de repressão extrema e caldo de totalitarismo à la Franco, o texto que visa punir
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‘terroristas’ está mais para um jantar indigesto que, na prática, viola direitos civis.
O problema, é claro, não está somente na receita. Direto das panelas da direita política conservadora, chama a atenção as consequências geradas àqueles que serão servidos como assombrosos quitutes: o povo.
Falo de movimentos sociais, sindicatos, entidades trabalhistas e a própria sociedade por inteiro. Não é uma legislação que caminha no sentido de garantir a proteção do cidadão pelo Estado, mas do Estado contra o cidadão.
A pergunta é inevitável: em que pé mesmo caminha nossa democracia?
A agilidade com que o Parlamento e diferentes governos tentam pregar a visão de que é importante uma lei antiterrorista quando, na verdade, se debruçam às pressas sobre temas já tipificados em nosso Código Penal, seja por meio da proposta apresentada pelo secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, ou pelo PLS 499/2013, em tramitação no Senado Federal.
Basta um rápido olhar para alguns artigos de nosso Código Penal; o artigo 132, sobre exposição da vida ou saúde de uma pessoa com perigo direto ou eminente; o 148 para casos de sequestro de pessoas; ou o 121 em situações de provocar a morte.
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Exemplos simples para mostrar que nossa legislação já contempla a punição para os crimes agora alvo de uma lei antiterrorismo.
Lá fora, quem muito se mexe contra o terrorismo, em seu conceito mais básico, são países que estão declaradamente em guerra com outras nações ou agentes internacionais. Aqueles que são, constantemente, alvo de ataques terroristas. Se utilizam destes argumentos para torturar, espionar, restringir direitos civis ou até mesmo o direito à defesa – seja de seus próprios cidadãos ou estrangeiros. Perfilam-‐se com estas bandeiras as legislações antiterroristas britânicas e estadunidenses, acumuladoras de mortes de inocentes, como a do brasileiro Jean Charles. Ironicamente a lei estadunidense é pomposamente conhecida com “Ato Patriótico”.
É desta fonte que iremos beber?
O Brasil precisa sim é atuar contra a atual Lei de Segurança Nacional, editada em 1983 pelo general João Figueiredo e mantida ainda viva no seio de nossa República. É um mal que precisa ser exterminado com visão de Estado e coragem de quem quer enfrentar o debate em alto nível.
Ou será que continuaremos com uma lei que permite, por exemplo, que moradores do Complexo da Maré sejam presos com punição extrema por
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protestarem no meio da Avenida Brasil? Que uma manifestação seja coibida no compasso dolorido e mortal das polícias militares? Que a liberdade de expressão seja coagida, coibida e pressionada quando o povo tenta chamar a atenção do Estado?
A cozinha de horrores da repressão está a todo vapor.
Com a palavra, a sociedade brasileira.
Diálogo venezuelano
É preciso um sopro de temperança e clareza na crise que se instala na Venezuela. O país latino-‐americano atravessa um mar revolto em protestos sociais, mas navega sob a égide da democracia. Uma República que possui governo eleito por seu povo e com uma
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Constituição Federal que deve ser cumprida. Uma Lei Maior aprovada por 80% de sua população.
Nós defendemos o direito de manifestação de um povo e reiteramos a necessidade de que esse processo social seja feito de forma pacífica. Como em qualquer nação, assim como no Brasil, é preciso acabar com a violência crescente nos protestos, que gera mortes e acaba por desvirtuar o tema que se conclama nas ruas. A urgência social é colocada de lado na presença da dor e da morte.
Não se pode aceitar que essa violência e a ação de provocadores se mantenham na nau das manifestações, assim como ocorre com forças opositoras e externas que tentam reverter o quadro político e independente dos países da América Latina. Com profundos interesses capitalistas e de exploração econômica, tentam fazer deste sensível momento um trampolim próprio para uma disputa de poder, submergindo o país em caos e instabilidade.
A Venezuela possui autonomia plena para lidar com suas demandas internas e não nos cabe interferir. Assim como anunciaram os países da União de Nações Sul-‐Americanas (UNASUL) e do Mercosul, fazemos ao povo irmão venezuelano um chamado à paz e à tranquilidade, reforçando o Estado de Direito e respeitando suas instituições. Que o diálogo entre
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Governo e povo exista e, mais do que isto, seja canalizado por todas as vias democráticas.
Alerta vermelho ao Brasil
Alerta amarelo na América do Norte: os Estados Unidos, diante de sua soberba imperialista, desafia nossa soberania no debate sobre a política cultural. Enquanto seguimos tentando proteger nossa diversidade, pluralidade e difusão ao conhecimento,
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a potência estadunidense segue bisbilhotando nossas posturas e posições.
É, sim, mais um registro de afronta à privacidade brasileira, vigiada em todos os sentidos e em todos os assuntos. Com a cultura, é claro, não seria diferente. Vivemos numa América Latina que emerge gradualmente contra a constante ocupação de produtos estrangeiros hegemônicos, entre tantos, o cinema norte-‐americano. É extremamente positivo que a secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura (Minc), por exemplo, alimente uma política que estimule o cinema brasileiro ao estabelecer cotas para exibição do produto nacional.
Os documentos revelados este mês em seguidas reportagens na imprensa trazem à luz o monitoramento internacional no campo do direito autoral brasileiro. Como bem disse o ex-‐ministro do Minc, Gilberto Gil, trata-‐se de uma manifestação previsível para quem ainda acredita que “distribui a visão ideológica e programática do mundo inteirinho”. Com essa linha de pensamento, basta olharmos para as tentativas dos Estados Unidos de controlar a agenda internacional da propriedade intelectual, inclusive por meio da polêmica negociação secreta de tratados como o Trans-‐Pacific Partnership (TPP).
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Essa invasão nos traz muitas lições. E a maior delas é de que os Estados Unidos possuem uma visão clara sobre esse assunto, e não hesitam em colocá-‐la em prática ou regulamentá-‐la em seu país.
Felizmente, no mesmo campo internacional, o Brasil vem se mantendo como um líder progressista. Isto ficou claro no ano passado com nosso protagonismo para que se tornasse realidade o inovador Tratado de Marrakesh, que estabelece limites aos direitos autorais em benefício dos deficientes visuais.
Mas no nível interno, nacional, não tem sido possível detectar a mesma clareza de propósitos, apesar da importante aprovação, também no ano passado, da nova Lei da Gestão Coletiva de Direitos Autorais, relata por mim na Câmara dos Deputados e que reintroduz a fiscalização ao sistema ECAD.
É urgente que o Poder Executivo envie, após mais de seis anos de discussão, sua proposta para reformar a Lei Geral do Direito Autoral, parada na Casa Civil e já discutida por toda esplanada ministerial. Neste projeto o Brasil dará sua resposta, apontando caminhos para o mundo e resgatando o direito autoral como incentivo, e não um obstáculo à difusão do conhecimento e de nossa rica e genuína cultura.
No mesmo sentido, é importante que o Parlamento tenha coragem de votar o projeto do Marco Civil da Internet, outra ferramenta importante no combate à
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espionagem estadunidense. O Brasil tem tudo para regulamentar este campo ainda passível de invasões de ataques cibernéticos de todo tipo.
Este é mais um poderoso alerta para o nosso país.
Só que vermelho.
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MARÇO Um “te amo” sem resposta
A jovem Francisca Glaiciane Oliveira, de 18 anos, era chamada na Rocinha só de Gleice. Gostava assim. Como muitas meninas que povoam áreas populares e a periferia das nossas cidades, também sonhava em cursar uma faculdade e oferecer, assim, um futuro
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melhor para sua filha, de apenas dois anos. Antes de desaparecer na segunda-‐feira (3), talvez tenha sido dela a última lembrança de Gleice: um “te amo” dito pela pequenina na soleira da porta.
Dois dias após seu desaparecimento, Gleice foi encontrada morta. O laudo cadavérico do Instituto Médico Legal aponta estrangulamento e violência sexual. Um crime chocante desenhado pelo corpo amarrado dentro de um bar na própria comunidade. A jovem se tornou mais uma inaceitável vítima das estatísticas de feminicídio no Rio de Janeiro.
A região onde Gleice mora desponta como uma das áreas do estado que mais acumulam ocorrências de ameaça às mulheres. De acordo com números da Secretaria Estadual de Segurança, é a segunda mais violenta, com 3.751 casos em 2012, seguidos de 15 mortes por homicídio doloso (com intenção de matar).
A cultura machista, ainda predominante, tem raízes profundas. Apesar do progresso nas últimas décadas, a cada morte e caso de violência de gênero nos deparamos com a força dessa cultura. É nela que prevalece a visão da mulher como propriedade, da mulher como ser de segunda categoria e sujeita a qualquer tipo de violência. Essa visão fortalece a desigualdade e está na raiz dos casos como o de Gleice.
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Precisamos romper com essa concepção econômico-‐cultural. Da queima de sutiãs, na luta pela emancipação e acesso aos direitos até então negados às mulheres, entramos numa fase mais difícil. Não se trata mais de ir às ruas pelo direito ao voto, pelo divórcio e pelo ingresso nas universidades. Entre tantos avanços, esbarramos num muro alto, onde a violência se dá contra uma pessoa pelo simples fato dela ser mulher. Esse muro só será derrubado quando a sociedade se revoltar contra essa e outras injustiças cometidas.
A luta está em curso. Vemos com esperança uma crescente marcha consciente feita por mulheres vítimas de violência ou não, e pela parceria com homens que almejam a igualdade e a paz. Na busca por justiça, a cidade do Rio já acumula média de 20 mil procedimentos de ações em varas, delegacias e juizados especiais sobre violência de gênero. Além de instaurar os inquéritos, é preciso que a justiça também aplique rigorosamente as leis e impeça a impunidade. Sem morosidade ou interpretação errônea, é, de fato, uma grande sequência de etapas que precisam ser cumpridas com eficácia pelo Estado.
Desejamos e lutamos por um futuro melhor para as mulheres, indicando que há amparo legal sempre. Que o hoje e o ‘amanhã’ sejam mais promissores e livres de desigualdades para todas nós, inclusive para a pequena filha de Gleice e tantas outras
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crianças privadas da convivência materna pelas atitudes que subjulgam, desrespeitam e violentam as mulheres. Por uma cultura com mais amor e menos dor.
Por uma cultura com mais “te amo” na soleira da porta retribuído a cada retorno ao final do dia.
Erros em ciclo
É desesperador que inúmeras famílias fluminenses enfrentem constantemente a dor e o sofrimento num ciclo vicioso. Mais recente é a morte da trabalhadora Cláudia Ferreira que nos choca. Envolta em tragédia,
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a cidadã é mais uma vítima da ingerência perpetrada pelo Estado em diferentes faces. Baleada dentro do Morro da Congonha, em Madureira, a mãe de quatro filhos é levada precariamente por policiais no porta-‐malas da viatura. A caminho do hospital, seu corpo despenca do carro e tomba no asfalto, sendo arrastado por 250 metros.
Também nos solidarizamos ao oficial Leidson Acácio, subcomandante da UPP da Vila Cruzeiro e que fora assassinado por traficantes durante patrulhamento no Parque Proletário. Um jovem jogado ao front da batalha contra o impiedoso tráfico de drogas carioca.
É inaceitável que famílias inteiras se desfaçam prematuramente e de modo tão cruel. Cláudia, negra, pobre e moradora da periferia. Leidson, negro, policial e arremessado prematuramente à guerra contra o narcotráfico. Duas vidas interrompidas por um Governo que não planeja sua polícia, funcionando ao compasso da violência e da inabilidade.
Talvez, Cláudia e Leidson pudessem estar vivos hoje se a corporação tivesse o preparo necessário que a principal força da segurança pública exige. Não basta que neste momento o Estado informe que o BOPE treinará policiais destacados em UPP’s de alta periculosidade. Ou que se faça o pesar pela morte da cidadã, que portava apenas R$ 4 para compra de um pão. É preciso ir além.
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A sociedade está cansada e combalida demais pelos erros públicos que se avolumam ao longo da história. E é por conta deles que o povo não admite mais fracassos do Estado e de todas as instituições democráticas que o compõem. Faz-‐se urgente uma mudança estrutural na relação das forças de segurança com o povo para investigar e punir, de forma preparada e humanizada.
É preciso encerrar o ciclo de erros que se repetem e provocam ausências, abraços e afetos perdidos. Mães, pais, filhos e irmãos representados por Cláudia Ferreira – mulher simples e trabalhadora.
Mordaça moderna
Em 1964, o criador da internet, o físico britânico Timothy John Berners-‐Lee, possuía apenas 9 anos. Naquela época nem sonhava criar a mais importante
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ferramenta da comunicação mundial e que, nos atuais tempos, centra o debate no Congresso Nacional. Sob o debate da liberdade de expressão e da democracia, a internet brasileira vive um paralelo curioso com o sombrio período do Regime Militar.
É no Marco Civil da Internet, projeto do Governo editado em 2011 e discutido amplamente com entidades do setor e toda a sociedade civil ao longo desses anos, que isso fica mais claro. Faz parte de seu eixo principal princípios como a ‘neutralidade de rede’, estratégica contra uma espécie de censura velada do poder econômico.
Ela funciona assim: operadoras de telecomunicação, controladoras poderosas do fluxo de informações na web, não podem discriminar seus usuários de acordo com interesses comerciais. Na prática, isso se resume em momentos que o acesso a um site ou blog seja controlado por elas, assim como postagem de textos, áudios ou vídeos. Muitas vezes, as teles ‘barram’ o carregamento de informações de um usuário para facilitar o de outros.
Essa espécie de bloqueio momentâneo estabelecido pelas operadoras, que todos enfrentamos na internet o tempo todo, rompe com o conceito de ter na rede mundial de computadores um campo vasto da troca de ideias e de informações. Cria-‐se um cenário que ricos se sobressaem aos mais pobres no acesso e na profusão de suas expressões. É a ditadura do “quem
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paga mais, pode mais”, onde empresas privam os cidadãos do fluxo de informações, focados na busca de mais dividendos.
Contudo, a internet não pode ser um simples palco para que grandes empresas privem cidadãos brasileiros do fluxo de informações na busca do lucro, impedindo a livre comunicação. Isso deve ser respeitado como conquista de nossa Constituição Federal de 1988, que determina que é livre a manifestação do pensamento, assegurando direitos individuais e coletivos.
A História do Brasil é um aprendizado rico para o debate que se faz sobre restrição à liberdade de expressão. Nos 50 anos de aniversário do vergonhoso Golpe Militar, a internet brasileira deve entrar em cena estruturada em marco legal específico, coerente com o século XXI. Chegamos a quase 20 anos de uso da web sem estes direitos e deveres claramente estabelecidos.
Não lutamos tanto tempo para ver um tipo de censura substituída por outra – a do poder econômico – restritiva à maioria do povo brasileiro.
#VaiTerMarcoCivil
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A luta pela democracia
nos une
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Na semana que antecede o aniversário do Golpe de 64, é impossível não pensar nos inúmeros militantes do Partido Comunista do Brasil que perderam suas vidas no combate à ditadura militar. Na trincheira entre a opressão e a liberdade, a coragem se fazia sempre presente nestes homens e mulheres de ideias progressistas. Seus nomes até hoje ecoam em nossos 92 anos de História com profunda admiração e respeito.
Há quase 12 anos o Brasil vive novos rumos com um governo comprometido com o combate às desigualdades, com o desenvolvimento, a geração de emprego e com políticas sociais universais. Tem sido uma experiência inédita e os resultados indicam o êxito dessas políticas. O PCdoB tem orgulho de participar deste projeto, contribuindo para os avanços e somando-‐se às justas reivindicações da sociedade. Somos um partido que já enfrentou preconceitos e arbitrariedades, mas soube manter a coerência e, acima de tudo, lutar pela democracia. Esta postura é uma responsabilidade constante e se fortaleceu em momentos difíceis desses 92 anos de trajetória.
Nosso partido se mobiliza para reforçar pilares na melhor distribuição de renda e na emancipação do cidadão enquanto ser humano. É o salto civilizacional que uma sociedade precisa alcançar, melhorando sua economia, saúde, educação e cultura de forma concreta e não utópica. São aspectos sociais
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de todas as esferas de governo e que, repetidamente, se mostram como os mais caros anseios da população.
Certamente, o PCdoB ficará firme no combate à sanha das trevas que tentam ressurgir no Brasil e no Mundo. Neste embate ideológico contra forças reacionárias, nosso partido manterá sua postura, impedindo retrocessos e na luta para que novas conquistas sejam alcançadas, na garantia das liberdades individuais e de todos os demais direitos assegurados em nossa Constituição.
Perto de completar uma centena de anos, as bandeiras comunistas ainda inspirarão muitos corações e mentes na busca por um país melhor. É um sentimento energizante que ultrapassa as barreiras do tempo, aflorando Brasil afora. Como a História mostrou, nosso partido se fez necessário no passado e se mostra capacitado para o futuro, porque ele tem ideias sobre o que lutar.
Prosseguimos, com coragem e determinação. Atentos e dispostos a denunciar as ações reacionárias contra o povo brasileiro. A luta pela democracia nos une e nos anima. Nos encoraja a continuar no bom combate, uma justa homenagem aos bravos comunistas que perderam suas vidas para que o país vivesse dias melhores e plenos de liberdade.
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O teatro editorialista
Anoitece no Brasil. Dispensando os tradicionais três toques de uma sirene, comum em teatros, a jornalista Rachel Sheherazade já está no palco. Nem
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se aproxima dos memoráveis âncoras brasileiros, vestida com tantos traços dramáticos. É uma personagem em cena travestida de “defensora do povo e da paz”. A mensagem que emite a seguir é de incitação ao ódio e é por causa dela que o Partido Comunista do Brasil acionou o Ministério Público Federal.
Na televisão, uma concessão pública irrigada com dinheiro público via verba publicitária (R$ 150 milhões da União ao ano), Rachel esquece o Código de Ética da profissão e atropela os direitos humanos. Com um tom afetado na voz – irônico – a editorialista desfia um rosário de apelos morais fáceis, com frases de efeito e declarações inflamadas. Conclama a sociedade, que vive um momento justo de reivindicações, a se unir a ela numa verdadeira cruzada. Ali não há argumentos, só interesses comerciais famintos por pontos no Ibope temperados com o desrespeito à Constituição Federal.
O show de horrores incita a população a praticar ‘justiça pelas próprias mãos’, passando por cima da competência do Estado, por meio de suas estruturas investigativas, repressivas e jurídicas. A morosidade observada nessas estruturas não devem justificar atitudes individuais ou de grupos que se acham detentores do poder paralelo de julgar e punir. Ao veicular esta mensagem pela televisão, vestida do respeitado manto jornalístico e formador de opinião,
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a jornalista ultrapassa o limite entre informar ou emitir opinião e incita crimes, caindo em nosso Código Penal. Artigo 287: Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autoria de crime.
É preciso deixar claro àqueles que não compreendem a totalidade da movimentação do PCdoB contra o crime que isto não caminha no sentido de privar a jornalista da liberdade de expressão. Jamais! Somos todos defensores históricos da comunicação e liberdades individuais. Contudo, crime não seria fomentar o ódio e a violência dentro do subsídio pelos tributos que todos pagamos? A televisão é uma concessão pública e deve respeitar as leis brasileiras, como todos nós. Todos devem respeitar o sistema democrático, que concede direitos e limites.
As forças reacionárias e conservadoras presentes no Brasil bebem na fonte daquilo que Sheherazade propaga em seu espaço. Um se alimenta do outro, num ciclo interesseiro, pernicioso, sem se exporem abertamente numa bandeira específica ou na luta política. Um quer a audiência que vem com a polêmica, o outro a introdução de ideias retrógradas na sociedade. Os reais interesses dos cidadãos, o Estado democrático de direito tão duramente reconquistado, a liberdade e a paz não são colocados neste tabuleiro.
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Essas forças, que ora ressurgem gesticulando à sociedade como “defensores da gente de bem” – ou simplesmente quem pensa igual a eles – se utilizam dos mais vis instrumentos ideológicos e desvirtuam o debate de ideias, caluniam sob pretexto de censura, constroem todo tipo de argumento vazio no desespero de serem confrontados.
Me mantenho ao lado dos que, ao contrário, defendem o democrático e amplo debate, o respeito às leis, a promoção da cultura de paz e da justa cobrança do pleno funcionamento das instituições republicanas.
Ditadura e censura nunca mais.
DISCURSO
Em março, Jandira, como líder do PCdoB, ofereceu representação pela bancada à Procuradoria-‐Geral da
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União contra jornalista do SBT, Rachel Sheherazade e a emissora, por apologia e incitamento ao crime, à tortura e ao linchamento. No discurso, a parlamentar aponta o enfrentamento de manifestações agressivas e contrárias à iniciativa e ao posicionamento do partido.
“Sr. Presidente,
trago hoje à tribuna uma reflexão e, ao mesmo tempo, uma grande indignação.
No momento em que estamos debatendo o território livre da Internet (Marco Civil da Internet) -‐ e, na opinião do PCdoB, deve permanecer livre, neutro, garantindo a privacidade -‐, devemos discutir o efeito da política na comunicação e vice-‐versa, como a comunicação também impacta a política.
Todos aqui devem saber que o PCdoB entrou com representação no Ministério Público contra o SBT. Fizemos isso porque a liberdade de opinião não pode dar guarida à incitação ao crime, ao ódio, à violência, à ruptura do Código Penal e da Constituição Brasileira. Essa representação bateu recorde de comentários no Facebook. Setecentos e vinte mil internautas comentaram essa representação, com uma grande maioria apoiando. O que pedimos é a interrupção da verba publicitária para o SBT e que se analise, criminalmente, o que está ocorrendo, mas
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também a questão da concessão, pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e pelo Governo Federal.
O que vemos na resposta a isso? Uma grande maioria apoiando a iniciativa, mas uma parcela muito agressiva, de muito baixo nível, fundamentalmente no enfrentamento ideológico, porque eu sou comunista e a nossa bancada é do PCdoB.
Um segundo exemplo que eu dou é o da Deputada Manuela d'Ávila, que foi assaltada em Porto Alegre ao entrar na garagem da sua casa. Armas foram apontadas para a sua cabeça e a do seu companheiro. Levaram o carro e, por pouco, não invadiram a sua residência. Obviamente, por ser a pessoa que é, com a projeção política que tem, esse assalto teve grande repercussão.
Nós vimos também, além das mensagens de solidariedade, que foram majoritárias, que um grupo bastante orquestrado a agrediu muito. Alguns disseram que o assalto se justificava porque seria distribuição de renda; alguns disseram que ela deveria ter morrido porque é defensora dos direitos humanos; e uma grande maioria atacou a Deputada Manuela por ser ela comunista.
Por que eu dou esses dois exemplos? E expresso a minha solidariedade à Deputada Manuela e a toda a bancada do PCdoB. Porque hoje, no Brasil, começa a
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ter respiro uma opinião ultrarreacionária, que antes se escondia e se disfarçava, ficava na defensiva porque o País avançou na democracia, porque foram criadas a Comissão da Verdade e a Comissão da Anistia. A democracia avançou no Brasil, apesar de não ser plena ainda, mas avançou. E até aqui essa reação foi muito tímida.
Neste momento, nós estamos vendo que foi convocada uma marcha em São Paulo, contra a Presidenta Dilma Rousseff, pela derrubada da Presidenta Dilma, pelo fechamento do Congresso Nacional, contra os comunistas e propondo intervenção militar. Haverá uma marcha na rua, em São Paulo. E há uma expressão pouco tímida hoje daqueles que defendem a tortura, que defendem o regime militar e que acham que os comunistas são um erro no Brasil, que não deveriam existir, que são um problema para a democracia brasileira, que nos vinculam aos déspotas, aos ditadores etc.
Eu quero daqui reagir frontalmente a isso e prestar, em nome da bancada, como Líder, profunda solidariedade à Deputada Manuela. Nós vamos enfrentar essa Direita reacionária no debate político, vamos enfrentá-‐la cerceando a incitação ao crime e ao ódio na TV aberta ou em qualquer meio de comunicação, porque liberdade de expressão não é isso, e vamos enfrentá-‐la também tomando as providências devidas: apurando, identificando os IP e fazendo processos judiciais e inquéritos policiais.
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Aliás, a Deputada Manuela foi ameaçada de morte. Quando ela anunciou, no Facebook, nas redes sociais, que abriria processos, escreveram assim: "Processo igual a senha de morte". Nós temos enfrentado isso nas redes sociais. Quando apaguei uma mensagem de muito baixo nível, muito agressiva, a resposta foi a seguinte: "Não adianta apagar a minha mensagem porque tenho 200 fakes e não adianta tentar identificar o meu IP porque está na Holanda e em qualquer outro país, fugindo da identificação brasileira".
Ou seja, nenhuma pessoa do povo, um democrata, sabe o que é IP -‐ para usar essa linguagem. É óbvio que é alguém informado, é óbvio que é um movimento orquestrado, porque muitas mensagens têm o mesmo teor, o mesmo conteúdo.
Então, cabe não só ao Partido Comunista do Brasil, mas também a toda a Esquerda brasileira, a quem também presto solidariedade, o enfrentamento dessa pauta ultrarreacionária contra o Estado Democrático de Direito, contra a democracia, contra o Brasil.
Muito obrigada, Sr. Presidente.”
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ABRIL
Ao povo o que é do povo
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Há uma explicação para a dificuldade de aprovarmos uma reforma política de peso no Congresso Nacional. Recentemente, a Procuradoria Geral da República nos brindou com dados que, apesar de estarrecedores, comprovam a deformidade de nosso modelo de financiamento de campanhas: apenas 191 empresas privadas concentraram 60% das doações nas eleições de 2010. Desta minoria, só 10 empresas foram responsáveis por um terço de todo o dinheiro injetado nas campanhas.
Poder público, obviamente, é do povo. Não precisamos recorrer ao latim para defender a urgência de mudanças significativas frente à premissa de que nosso país, de maneira inaceitável, ainda caminha pela História pautado pelo interesseiro do poder privado. Um poder escuso que nasce de promessas do grande empresariado e se prolonga em parte dos governos e legislativos democraticamente eleitos, corrompendo suas decisões e afastando-‐os da sociedade.
Neste sentido, são louváveis as posições já tomadas por seis ministros do STF em declarar inconstitucional o financiamento via pessoas jurídicas nas eleições. A decisão do Supremo será fundamental para o caminho mais justo, transparente e democrático, qual seja a adoção do financiamento público de campanhas eleitorais.
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A mudança que acreditamos estar mais próxima da sociedade e de suas demandas é possível por meio do Projeto de Iniciativa Popular da Reforma Política e Eleições Limpas, texto apoiado por nós, além de 90 entidades da sociedade civil, liderados pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a Ordem dos Advogados do Brasil. Já são 161 assinaturas no parlamento apoiando esta proposta.
O Partido Comunista do Brasil e mais nove partidos, contudo, não apoiam a PEC originada do grupo de trabalho pela reforma política do Congresso Nacional. Não apoiam por acreditarem que não enfrenta as demandas estruturais sobre o tema. Pelo contrário: reforça e amplia a influência do poder econômico e a corrupção nas eleições. Pelo texto, até milionárias concessionárias de serviço público poderiam contribuir com recursos para as eleições.
Não se pode pregar o fim das desigualdades socioeconômicas de nosso país enquanto a elite econômica impõe sua voz dentro do poder público. E isso começa, paradoxalmente, no ano em que a democracia é festejada e se renova pelo processo eleitoral. A política precisa se desprender do comprometimento econômico com poucos, para que o poder seja plenamente de todos e para todos. Afinal, todo o poder do povo emana na justiça de um sistema representativo de sociedade brasileira, composta em sua maioria por trabalhadores.
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64, um Partido presente
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Uma vez sim e outra também, a História nos mostra que a luta de classe incomoda. É como um cutucão nas elites abastadas, que se alimentam do abismo criado pelas desigualdades. Qualquer governo que acene com ações políticas que visem a redução desses contrastes enfrentará a ira daqueles que defendem o degrau intransponível entre classes. É questão de tempo. Forças como estas, que deram o tom em 1964, até hoje suspiram numa débil sobrevida.
Jango foi mártir de um processo que teve como justificativa sua predileção por reformas à esquerda, ditas “comunistas”. Apoiado em temas mais próximos ao povo, combateu a contradição e lidou com a síncope imediata dos que eram contra. No famoso discurso da Central do Brasil, no Rio, quando sinalizou para reformas agrária e urbana, a classe média alta se viu profundamente agredida. Enquanto os ricos ansiavam por um levante militar que abafasse as reformas populares, os jornais anunciavam a morte de 5 milhões de crianças no Nordeste pela fome e pobreza.
É claro que conquistar a democracia não foi fácil, o que custou milhares de vidas de nossos militantes e colegas de resistência ao regime militar. Este último sempre impiedoso, ofensivo e covarde. Os
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guerrilheiros do Araguaia, por exemplo, tiveram a liderança dos dirigentes comunistas João Amazonas e Maurício Grabois, baluartes de um partido que sempre respirou ideias progressistas e populares. Era o sonho de dar voz e vez aos trabalhadores mais pobres, uma chance mais real às suas famílias. O PCdoB tem uma história que se confunde com a própria História do Brasil e de luta pela liberdade.
Apesar do que se seguiu nos posteriores anos de chumbo e repressão, onde a censura fora violentamente empurrada garganta abaixo de todos os brasileiros, a criatividade manteve-‐se por perto. Face inteligente de nossa gente, manifestada de forma ousada na arte e na cultura, a crítica ao regime ainda pulsava dentro de todos nós. Foi assim na música, nas artes plásticas, no direito e na opinião jornalística, através de atores sociais presentes até hoje.
Com um dos olhos no passado (para que não se esqueça!) e a mente no futuro, seguimos hoje relembrando nossos heróis e desenhando um amanhã em que o povo seja contemplado cada vez mais pelo Estado. Hoje, o nosso duelo vai contra o que é atrasado e ceifador de direitos, através do debate de ideias, de forma honesta e com cara limpa, junto da coragem para assumir a convicção de que o caminho é pela esquerda. Condições somente possíveis num Brasil que vive as suas doces liberdades de expressão e da luta política.
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Os 50 anos do golpe de 64 chegam mais do que uma triste memória, mas como um grande convite à renovação de nossas bandeiras políticas, reforçando metas e a energia necessária para promover mudanças através do Congresso Nacional.
Em retribuição a todos os inúmeros cidadãos brasileiros que deram suas vidas pela nossa democracia e liberdade, é nosso dever garantir que as desigualdades que confortam os mais ricos, os reacionários e a forças retrógradas sejam superadas de uma vez por todas.
Também reiteramos que se abram os arquivos secretos da Ditadura, julgando e punindo todos os crimes militares do período. Pela verdade e justiça!
#DevolveGilmar
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Seis. Esse é o número de votos no Supremo Tribunal Federal a favor de eliminar o poder econômico de campanhas eleitorais. Maioria que já decide como inconstitucional o financiamento por parte de pessoas jurídicas, embora ainda não possa ser comemorado. Após pedido de vistas pelo ministro Gilmar Mendes, o processo não pode ser concluído e a pauta passou a dormitar.
É no vácuo de seu trâmite na Suprema Corte que reitero sua importância para o Brasil. A cada centavo doado pelas empresas às campanhas eleitorais, aumenta a influência em decisões fundamentais para a sociedade, principalmente no que se refere à sua representação nos parlamentos. Em 2010, 60% do total arrecadado veio de apenas 1% dos doadores. Ou seja, empresas. Para impedir que o financiamento privado continue pautando as prioridades governamentais e desvirtuando o processo democrático, que o STF conclua a votação!
Na maré de imprevisibilidade da Justiça, a bancada do PCdoB não esmorece. Integrando a Coalizão parlamentar pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, nossa ação política levará à sociedade civil a urgência do tema. De forma incisiva, seja nos veículos de comunicação, seja nos estados e por meio da representatividade das mais de 90
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entidades civis que o apoiam, estaremos presentes promovendo este debate. Será um chamado à mobilização pela Reforma Política.
É importante destacar, ainda, que somos contra qualquer proposta que impeça a construção de uma reforma verdadeiramente democrática. Não existe alteração legítima sem por fim à participação do poder econômico ou acabar com cláusulas de barreira restritivas ao pleno funcionamento dos partidos. Partidos pequenos precisam ter condições justas e não obstáculos, porque ideologias não podem ser medidas.
A Reforma Política é o caminho mais eficáz para corrigir distorções de representatividade parlamentar, visto que a maioria do povo brasileiro, composta por mulheres, trabalhadores, negros, ainda não se vê refletida no Congresso Nacional.
É mais do que hora de um levante que relembre a bela mobilização que culminou com a Lei Ficha Limpa, quando o que era mais essencial à sociedade foi içado ao centro dos debates e, apesar de todos os percalços, foi aprovada e sancionada. Acabar com a corrupção, estimular a democracia, fomentar a equidade e garantir a transparência são desejos máximos de nossa população. Que o STF a ouça.
Muito mais que uma UPP
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Bastaram 15 minutos para que o complexo de favelas da Maré fosse ocupado pelo poder militar do governo do Rio. Logo em seguida, num espetáculo midiático, 2,7 mil homens das Forças Armadas chegaram. A farda se fazia presente. A ação do atual governo do estado perpetua o programa de pacificação de comunidades carentes dominadas pelo poder armado do tráfico, mas ainda reacende dúvidas sobre sua eficácia social.
O questionamento que faço caminha relembrando o passado. Os ‘coturnos’ serão uma nova etapa no processo civilizacional daqueles cidadãos ou mais um regime de exceção, em que o toque de recolher priva os mais pobres de seu cotidiano? A chegada do Estado precisa superar as características publicitárias da pacificação e da encenação e mudar de uma vez por todas o jogo para o carioca da Maré.
São 150 mil vidas crentes de uma esperança anunciada como a salvação da opressão praticada por facções criminosas e a possibilidade de serem atendidas por serviços públicos de qualidade. O abandono na comunidade por políticas públicas é tamanho que, em todos os indicadores, a desproporção de serviços e o contingente populacional é marcante.
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Montanhas de lixo e esgoto a céu aberto, muito entulho e doenças que se alastram. Na falta de poder público, restou a degradação. A recente ocupação, que teve seu ápice no fim de semana, precisa solidificar bases da cidadania e reintegrar o território ao que é mais essencial sobre direitos humanos, Saúde, Educação e moradia.
O Estado precisa evitar que seus policiais, como o Leidson, morram na mira do tráfico. Também deve evitar as graves distorções de uma polícia militarizada, que em alguns casos julga, pune ou executa suspeitos, se pondo acima do próprio Estado Democrático de Direito. Moradores de favelas não podem ser tratados como subcidadãos quando o controle do ir e vir se torna absoluto pela polícia. Não nos esquecemos de Amarildo nem de Cláudia Ferreira.
A escala de progresso social precisa, a partir de agora, superar todas as dificuldades já acumuladas em décadas de exclusão. Essa superação, contudo, só pode ser impulsionada por ideias que priorizem o ser humano que mora na Maré e não somente uma bandeira política de governo. A pacificação não pode se pautar apenas como proteção às elites e se distanciar das demandas mais preciosas: as populares.
Que a Segurança não se limite a interesses eleitorais, mas ao trabalho pleno e integrado, protegendo a vida
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do povo e lhe dando o justo tratamento de cidadão carioca.
Ameaças serão investigadas
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Pelo livre território da internet – tema em que o Partido Comunista do Brasil atuou na recente aprovação do Marco Civil – surgiram ameaças contra a honra, moral e à vida de nós, parlamentares comunistas e cidadãos brasileiros.
Rompendo o limite do que diz nossa Constituição ao garantir a ‘liberdade de expressão, vedado o anonimato’, um grupo apócrifo ultraconservador vem tentando nos intimidar com o que há de mais baixo nas provocações. Por meio de identidades falsas e, na certeza da impunidade, espalham mentiras e boatos sem fundamento, com um único e escuso objetivo: nos agredir.
Contudo, a mesma bancada que representa o ideário da liberdade e da democracia, e na mesma semana em que prestamos homenagem aos inúmeros deputados cassados pela ditadura – Leonel Brizola, Almino Affonso, Plínio de Arruda Sampaio e outros – não se intimidou e acionou todos os instrumentos cabíveis dentro do Estado Democrático de Direito, como a Polícia Federal, o Ministério da Justiça e a presidência da Câmara dos Deputados.
É importante ressaltar que a internet e as redes sociais são espaços voltados para o fomento à expressão e debate de opinião. Todos nós defendemos que esta possibilidade esteja cada vez
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mais acessível a todos os cidadãos. Mas não podemos permitir que nestes mesmos locais a exaltação ao crime e as ameaças registradas, tipificando crimes em nosso Código Penal, continuem impunes.
Foram iniciados nesta semana os inquéritos de investigação para levantar a real autoria dos ataques covardes de alguns internautas anônimos. Feito isso, as ‘pessoas físicas’ responderão por seus atos, sendo julgadas e responsabilizadas pela Justiça. Será que manterão suas ameaças quando a verdade vir à tona?
Ideologias e posições políticas, sejam quais forem, existem para se discutir democraticamente as melhores propostas para o País. Não se pode calar uma voz ou descerrar uma bandeira na base da agressão e da intimidação. Por isso, digo, continuaremos fortes em nossa luta progressista, recorrendo sempre que for necessário à Justiça, para manter viva a chama da democracia.
A hora é agora
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O povo do Rio de Janeiro está cansado.
Cansado de lamentar e chorar a morte de jovens e adultos, negros e brancos, homens e mulheres, praticamente todos os dias da semana. Cansado das falhas sistemáticas em todas as áreas sociais e na dificuldade de ser ouvido por um Governo em dívida com a sociedade. O divórcio entre os movimentos sociais e o Estado do Rio de Janeiro já apontava isso.
O cenário é grave e nos apresenta o retrocesso político da atual gestão somado a possibilidade de reaproximação de forças retrógradas ao poder. Diante disso, o Partido Comunista do Brasil vem reafirmando a necessidade de um novo caminho para o nosso Estado, pavimentado a partir de um olhar mais amplo e generoso, que perceba novos atores, seu potencial criativo, a pluralidade étnica, as especificidades de gênero e idade, as diferentes culturas e necessidades. Um olhar que trate o Estado como um corpo único, mas que enfrente as profundas desigualdades existentes.
Os gritos vem de todas as partes. É preciso sair da zona de conforto, ir às ruas, bem perto da realidade e entender melhor o que está acontecendo. É preciso mobilizar a sociedade e evitar que a luta por seus direitos leve à negação da política com ‘P’ maiúsculo. Precisamos oxigenar a luta política com as estéticas do povo e com a ética da solidariedade e da generosidade. É momento de reconhecermos nossas
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conquistas e avançarmos mais, muito mais. Para isto, precisamos pensar pela esquerda. Necessitamos pensar em reformas que reestruturem e não em maquiagens. Os direitos básicos da vida precisam ser garantidos universalmente, mas queremos ir além.
Como diz a frase já incorporada ao imaginário popular, “não queremos a paz dos cemitérios”, queremos a paz das artes, das escolas, da integração entre as pessoas, do som de risadas e dos debates em cada esquina, da certeza de usufruir do direito à saúde, à educação, ao endereço certo da moradia. Queremos a paz de uma polícia preparada e respeitada, que não se contamina pelo crime, e que cumpra o seu papel de proteção dos cidadãos.
Temos lutado no plano nacional pela reforma política, que impeça empresas de contribuírem em campanhas eleitorais, pela reforma urbana, agrária, tributária e da comunicação, que possibilite liberdade e pluralidade de opinião. Precisamos fazer com que estas lutas reflitam no nosso Estado, particularmente a reforma urbana melhorando a qualidade de vida nas cidades, que hoje vivem o caos no trânsito e no transporte.
Chega de choro e vela.
Quem sabe faz a hora e o povo é sábio!
A hora é agora.
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MAIO
Menos impostos,
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mais renda
O Legislativo tem se esquivado de enfrentar a enorme carga tributária brasileira que se impõe todos os meses. O cidadão que vive de seu trabalho sabe bem a dor no bolso que ela causa. Não é à toa que 40% de sua renda se dilui mensalmente em impostos das três esferas, junto daquelas embutidas nos produtos e serviços.
A regressão em nosso modelo tributário beneficia os mais ricos e penaliza os mais pobres. Uma família com renda de até dois salários mínimos gasta cerca de 49% da renda familiar no pagamento de tributos, enquanto aqueles com renda superior a 30 mínimos arcam apenas com 26% de sua capacidade econômica. Injusto.
Recentemente, no feriado do Trabalho, a presidenta Dilma Rousseff anunciou o reajuste de 4,5% na tabela do imposto de renda, elevando o patamar mínimo de isenção. É um passo importante, ao contrário do verdadeiro confisco aplicado pelo Governo FHC, quando a tabela se manteve congelada. Criticar o índice proposto parece fácil. Difícil é explicar a ausência de uma política de reajuste nos 8 anos em que a atual oposição esteve no governo.
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Mudar esse panorama e conferir progressividade ao nosso modelo é missão deste Parlamento. Ainda que se recorra a alívios pontuais mediante desoneração fiscal – extremamente necessários para diferentes setores da economia e sua competição no mercado interno, como IOF, PIS/Cofins – é preciso mais. Encontrar caminhos e enfrentar a resistência para implementar um modelo onde os que têm menos e os que têm mais sejam tributados proporcionalmente é o desafio a ser superado.
O projeto de Contribuição sobre Grandes Fortunas é um passo neste sentido. Seu objetivo explica uma saída: a taxação de pessoas que têm patrimônio acima de R$ 150 milhões no Brasil. Eles são menos de mil habitantes e podem gerar R$ 14 bilhões ao País para ampliar os investimentos em saúde.
A aprovação não é tarefa fácil, é claro. Mas se faz necessária no momento que os milionários não pagam imposto. Por essa razão, o peso do imposto de renda recai, em grande parte, sobre a renda do trabalhador e da classe média, fechando os olhos para a distribuição de lucros e a participação dos resultados, por exemplo. Modelos tributários devem seguir circunstâncias e se orientar em um projeto de desenvolvimento com distribuição de renda. Cabe ao Congresso Nacional retomar a discussão e criar caminhos viáveis. Quem agradece é o povo.
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Caminho Simples
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A revisão da Lei Complementar 123, de 2006, vai além da possibilidade do ingresso de incorporar inúmeras atividades econômicas no regime tributário diferenciado. É também um passo do Parlamento para garantir oxigênio à economia do país e a todos que se encaixam na condição de pequenas ou médias empresas – uma força motriz importante para o País.
Apesar da enorme contribuição que as grandes empresas dão, ainda são os pequenos negócios que empregam e fomentam o mercado interno. Na seara que abrange exclusivamente o pequeno trabalhador, há condições novas que chegam para estimulá-‐lo e torná-‐lo mais forte.
O acesso universal ao Super Simples englobará atividades, por exemplo, de cunho intelectual, científica, desportiva ou cultural. Essa atualização, segundo estimativa do Ministério da Micro e Pequena Empresa beneficiará mais de 447 mil empresas, envolvendo cerca de 140 atividades.
O impacto é substancial, tornando mais ágil e facilitada a entrada de novos empreendedores no Cadastro Nacional Único – com inscrição unificada, tendo o CNPJ como principal identificador –, além da liberação de alvarás mediante controle de risco e segurança do negócio, sem transtornos burocráticos e passíveis de informalidade e corrupção.
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Ressalto também uma importante alteração feita por nós no que tange os Micro Empreendedores Individuais. Em comum acordo com o deputado relator e o ministro Guilherme Affif, a proposta anula todas as multas decorrentes da Lei Complementar 139, de 2011, que retirava a exclusividade do pagamento de 20% às empresas do setor de construção civil. O dispositivo visava coibir a precarização no segmento da construção civil e de oficinas de veículos e, desvirtuado, prejudicou diversas empresas.
Para tornar o mercado mais justo e propiciar condições de crescimento ao pequeno empresário, há que se aprovar o texto final do Super Simples na próxima semana, pois ainda resta a análise dos destaques para conclusão. O Parlamento já avançou muito nesta direção. O caminho é Simples.
Fornalha Acesa
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Ao apresentar algumas hipóteses para o desaparecimento dos suplícios, no início do século XIX, Michel Foucault nos presenteia com o argumento de que “a execução pública é vista como uma fornalha em que se acende a violência”. Abandona-‐se, então, o “sofrimento físico, a dor do corpo”, como punição aos crimes.
Note-‐se que os suplícios eram praticados pelo Estado, que considerava, então, que a pena deveria ser aplicada publicamente e de forma tão desumana quanto possível, a ponto de desestimular outras práticas criminosas. Como se não fosse a certeza da punição, e não a pena, principal elemento repressor dos crimes.
Em pleno século XXI, o Brasil assiste a uma prática banida na Idade Média e reacende uma fogueira que, fora de controle, já dá sinais das possíveis consequências. Desde janeiro, nosso país vai contando o aumento de casos fatais de espancamento público de inocentes.
Fabiane, mãe de duas filhas, está na última opção, sendo a mais recente vítima da ação dos justiceiros. Foi a 20ª de uma onda de execução sumária no país, entre as 37 já contabilizadas por entidades nacionais de Direitos Humanos. Caminhando pela rua, foi atacada por moradores do próprio bairro. Como se fosse a coisa mais natural e esperada. A expressão cruel da banalização da violência.
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Investigar, prender, julgar e punir são competências do Estado. Essas tarefas podem não estar a contento ou se dar de forma mais lenta do que o desejável, mas não se pode defender que passem a ser responsabilidade dos cidadãos. A descrença popular não é argumento – como se houvesse – para rejeitar as instituições democráticas, substituindo-‐as pela barbárie.
Neste cenário, se faz urgente uma reflexão sobre o poder e a responsabilidade das concessões públicas de Rádio e TV. Vale lembrar que 97% dos lares brasileiros possuem televisão, que ainda é o principal meio de informação no Brasil. Mais ainda, sobre a atitude inconsequente de alguns ao divulgar denúncias na internet, onde inocentes são transformados em alvo fácil de turbas descontroladas.
Por meio de discursos subliminares ou de forma mais direta, afrontam todas as regras básicas e diretrizes universais do Código Penal e da Carta Magna, ao implantar a ideia de que o cidadão tem o direito de se defender da violência via a justiça com as próprias mãos.
Nada justifica tamanha barbaridade. Todos merecem o tratamento equânime da justiça e das autoridades policiais. Um pai de família desaparecido, uma trabalhadora arrastada por um camburão, uma mãe linchada. Para onde caminha o que chamamos
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‘civilização’? Quantos mais devemos chorar para que a indignação, ainda da minoria, se transforme em ações efetivas para que todos, sociedade, meios de comunicação e autoridades, entendam que o caminho não é este e que não há espaço no Brasil ou em qualquer lugar do mundo para justiceiros e seus linchamentos.
Indignação e luta para a melhoria dos serviços públicos, sim. Incitação ao crime, não. Entre a civilização e a barbárie, fiquemos com a primeira. Como o exemplo lúcido do marido de Fabiane, que no lugar da vingança sangrenta preferiu a justiça do Estado.
E a população?
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Comecei minha vida pública com a bagagem de minha experiência sindical. A partir da luta na saúde firmei a convicção de que a mobilização é instrumento poderoso quanto se faz ausente o diálogo.
Em geral, as greves colocam reivindicações justas e defensáveis. Derivam, muitas vezes, de descasos históricos e da falta de pontes adequadas para construção de uma correta negociação, ou quando uma liderança perde a legitimidade e comando do processo negocial junto à categoria que representa.
Os trabalhadores representam a grande força na produção ou nos serviços. Devem ter direitos e deveres e, no segundo caso, prestar serviços ao povo. Merecem respeito dos seus patrões, públicos ou privados. Merecem ser ouvidos por estes e negociar para evitar que serviços essenciais faltem à população, que a cada dia enfrenta ausência de transporte, de escolas ou de atendimento de saúde. O povo trabalhador não quer e não merece viver essas dificuldades ou sair de um movimento grevista com aumento da passagem do seu transporte, ou com perda de ano letivo de seus filhos.
O caos hoje instalado no Rio de Janeiro nao pode ser argumento para violência, venha ela de onde vier. A população não quer assistir novas cenas de truculência das forças de segurança, nem novas mortes de cinegrafistas.
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Devemos encarar esse momento com responsabilidade e serenidade, pois a desmedida sensação de descontrole associado aos grandes eventos, como percebemos na grande mídia, não nos levarão a comportamentos minimamente civilizados, como vem acontecendo recentemente nas ruas e nos bairros de diversas regiões do país
Esse impasse só tem um caminho: a negociação. Ela envolve empregados, empregadores e deve ser mediada pelo poder público, patrão ou concedente de serviços.
As informações desencontradas tumultuam ainda mais o processo. Para que ele tenha êxito é preciso ter em mente os direitos dos trabalhadores, da sociedade e combiná-‐los com as possibilidades reais do processo de negociação.
A população espera soluções rápidas. Vamos a elas!
MP 627, tributação justa
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A Lei nº 12.973/14, fruto da Medida Provisória 627, atualiza a legislação tributária para estabelecer formas de tributação para as grandes empresas brasileiras, como as que possuem ações em bolsa, as que têm filiais no exterior e os bancos. Essas mudanças decorrem de vitórias judiciais do governo brasileiro, já que havia grande resistência por parte dessas empresas em pagar um tributação mais justa.
Para as empresas que têm ações em bolsa, as alterações colocaram fim a uma situação que permitia que elas apresentarem resultados maiores para distribuir lucros e uma conta menor para pagar impostos. Agora esses cálculos foram unificados e foi estabelecido que as empresas também paguem impostos sobre os lucros que obtiverem em suas filiais no exterior. Os bancos passarão a pagar mais tributos, especialmente dirigidos para a seguridade social.
Durante a tramitação da MP, houve avanços e retrocessos. Uma conquista importante foi a diminuição da tributação para as cooperativas artísticas. Deixou de ser cobrado uma parcela que acabava incidindo duplamente sobre as rendas dessas entidades. Era uma luta antiga de inúmeros artistas e produtores de cultura do país, que vivem do esforço da sua arte. A mudança incentivará o setor e favorecerá a formalização da categoria.
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Dois grandes retrocessos, aprovados contra o voto da bancada do PCdoB, foram vetados pela Presidenta Dilma. O primeiro era um grande perdão de multas aplicadas aos planos de saúde que desrespeitaram direitos de seus participantes. O texto reduzia essas multas a uma parcela bastante insignificante. O segundo permitia que os recursos do Fundo de Renovação da Marinha Mercante fossem utilizados para obras em portos. Importante ressaltar que os portos já possuem outras formas de financiamento e esses recursos são fundamentais para que os estaleiros nacionais cumpram o desafio de aparelhar a Petrobras e as demais empresas para a exploração do Pré-‐Sal e para a expansão do transporte aquaviário. Foram vetos importantes e justos e a bancada do PCdoB somará forças para que não sejam derrubados.
Ampliar a tributação sobre o lucro das grandes empresas permite utilizar esses recursos para manutenção de políticas públicas que, neste governo, vêm combatendo a miséria, promovem a segurança alimentar de crianças e financiam a expansão de serviços públicos na educação e na saúde. Pelos avanços e pelos vetos que barraram os retrocessos, temos muito a comemorar com a nova Lei.
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Fé(s)
Não há civilização no mundo que as diferentes faces do sagrado coexistam tão pacificamente como no
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Brasil. Sua pluralidade estampada em tantos credos, reforçada no simbólico de cada fé de nosso povo, é uma qualidade de poucas nações. São mitos com características básicas da Teologia, como elementos divinos, princípios de crenças sobre as pessoas, o que somos e porque viemos ao mundo. Esta realidade tem causas profundamente democráticas.
Muitos não sabem, mas veio de Jorge Amado a emenda que inseriu na Constituição de 1946 a liberdade religiosa no Brasil. Comunista, o escritor de Tieta do Agreste foi deputado na Assembleia Constituinte de 1946, deixando ao país um legado precioso sobre direitos e garantias das liberdades individuais. Hoje, o inciso VI do artigo 5º da Constituição determina a liberdade de consciência e de crença. Os ventos da democracia sopram em defesa do Estado laico, protegendo o exercício da fé de cada um, ou mesmo da ‘não-‐fé’.
Na contramão da tolerância e de qualquer razoabilidade, o juiz Eugenio Rosa, da 17ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, através de perigosas e particulares interpretações, negou a retirada de vídeos do Youtube que agrediam religiões de matriz africana. O argumento é de que por não serem religiões ‘oficiais’, não há “malferimento de um sistema de fé”. Ou seja, não há ofensa em dizer que tais crenças são ‘coisa do diabo’ e que ‘devem ser combatidas’.
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Com uma simples canetada, carregada de preconceito e intolerância, negou a religiosidade do povo brasileiro, inerente a sua formação cultural diversa. Perpetuou a perseguição contra a fé, o direito da livre crença e, neste caso, contra as religiões Umbanda e Candomblé, hoje praticados por meio milhão de brasileiros.
Não cabe à Justiça e dela não depende o reconhecimento da religião, mas é sua obrigação respeitar o que diz a Carta Magna, construída por tantas aspirações progressistas, como a de Amado. A decisão do juiz Eugenio Rosa desqualifica a magistratura.
Ao permitir que a empresa Google Inc. – responsável pelo Youtube – mantenha no ar ataques contra símbolos ou denominações religiosas, ampara o ódio, a violência física, psicológica e moral aos fieis destes credos. A Justiça se torna cúmplice, quem diria, dos crimes praticados contra os terreiros, as mães e os pais de santo, o simbólico e a tradição oral de parte de nosso povo. Corretamente, o Ministério Público Federal interpôs recurso contra a decisão. Tem nosso apoio e da sociedade brasileira.
Para defender e proteger a liberdade religiosa, o Estado deve olhar para todas as crenças de igual forma. Não há no Brasil uma religião oficial, nosso povo convive com a Umbanda e o Candomblé há séculos. Cada um é livre para optar pela que melhor
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lhe permite dialogar com o intangível, com a força superior que lhe renova na procissão daquela fé. Para tanto, todos os credos podem e devem coexistir, sem ofender um ao outro, permitindo que atabaques, liras angelicais em altares católicos, coros pentecostais, neopentecostais e cantos kardecistas soem juntos uma música de paz.
Que atraso é esse?
É grande a repercussão da frase estampada em camiseta da Ellus em desfile recente da marca. Com
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os dizeres “Abaixo este Brasil atrasado”, resta indagar a que atraso se refere. Com certeza não é uma justa indignação contra a utilização do trabalho escravo, sinal maior de atraso, uma vez que a Ellus enfrenta inúmeras denúncias no Ministério do Trabalho sobre estabelecer condições análogas de trabalho escravo a seus funcionários. Tão pouco se dirige ao atraso de nosso sistema tributário, bastante regressivo, exigindo uma reforma ampla que promova uma tributação mais justa e capaz de gerar desenvolvimento econômico e social. Qual seria, então, o alvo?
Para responder essa pergunta temos que, em primeiro lugar, verificar com quem dialoga a marca. Com produtos caros, inacessíveis para grande parte da população, a mensagem é claramente um reflexo do pensamento de uma elite que tenta, a todo custo, fazer voltar o foco da política governamental para os interesses do mercado e do setor financeiro.
Seria interessante questionar a marca porque não é feita uma campanha de mesmo teor na Espanha ou outros países europeus, onde a recessão predomina e o índice de desemprego atinge a marca gravíssima de 57% entre os jovens. Para eles, o Brasil se afunda no atraso quando combate a pobreza. Quando insiste em promover as mudanças necessárias para eliminar as desigualdades. O “atraso” que condenam, nós defendemos.Temos, sim, muito ainda a avançar, mas
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isso não significa desconhecer o quanto já conquistamos.
A poucos dias da Copa do Mundo, contribuem para o clima de derrotismo e negativismo contra tudo e todos. Os críticos de plantão espinafram as conquistas e escondem os bons resultados nacionais. Esse clima é exatamente aquele que a Ellus ajuda a difundir com sua camiseta. O orgulho de ser brasileiro e mostrar ao mundo nossa capacidade em receber turistas de todas as partes está sendo sepultado. Nossa hospitalidade está sendo convertida em hostilidade contra a Copa, contra a política, contra tudo. Esse é o verdadeiro atraso.
Cultura em #TEIA
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Foi lá no Rio Grande do Norte, que a cultura popular e o poder público se entreolharam ao som do repente, da magia do regional, do diverso e do plural. Sob o símbolo do Jaguará, um simpático cachorrinho do folclore nacional, a edição deste ano da Teia da Diversidade vem firmando a busca por um sistema de fomento mais justo à Cultura.
Eventos como este solidificam e dão mais força à luta de quem compreende a área como estratégica à emancipação do cidadão nas questões de sua identidade, direito à arte, ao lúdico e na possibilidade de se reinventar nosso país. O Estado não cria algo que é intrínseco ao povo, como a cultura. Isso é essencial ao ser humano. Cabe, sim, ao governante criar condições saudáveis de que ela seja cada vez mais incentivada na sociedade.
Os mais de 3 mil Pontos de Cultura do Brasil apostam nisso. Em pontinhos, pontos e pontões, atingindo mais de 8 milhões de brasileiros, os agentes de cultura dão vida a traços genuínos de nossa arte popular, que vão da tradição oral à pintura, passando por todas as expressões culturais.
É neste sentido que lutamos pela aprovação da Lei Cultura Viva. O texto, de minha autoria, transforma um dos melhores programas criados no Governo Lula e Dilma em política de Estado, já referência em toda a América Latina. Além de propiciar um ambiente saudável para a promoção da área, traz a
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possibilidade de que mais agentes culturais mantenham vivas suas inúmeras formas de expressão artística.
Ouvimos do presidente da Câmara o compromisso em votar a Lei Cultura Viva antes da Copa do Mundo, em junho. Tramitando no Senado Federal, nossa expectativa é de que a presidenta Dilma Roussef a sancione com igual agilidade.
Do jongo negro, na essência da influência africana, às danças ciganas e cantigas de roda, a Teia da Diversidade ecoa suas pautas com alegria, mostrando que há um Brasil criativo pedindo o fortalecimento do exercício dos direitos culturais e do diálogo. Esta parceria entre sociedade, gestores e governos é tecida com força e coragem, apontando soluções reais para a nossa Cultura e para todos brasileiros que dela vivem. O benefício é de todos!
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JUNHO
Os gols da Copa
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“Uma mentira contada mil vezes torna-‐se verdade”.
É este lema da propaganda nazista, ecoado por Goebbels na década de 30, que devemos combater ao enfrentar o diálogo sobre o legado da Copa do Mundo. Mais de mil vezes se repete que os investimentos para o Mundial colidem com os necessários gastos nas áreas sociais. Que esses recursos fazem falta em hospitais ou escolas. Mas, ao analisar o orçamento federal, vemos que o argumento não prospera, apesar de ter ganho o status de verdade. Isso porque os investimentos em infraestrutura não concorrem com os gastos em saúde e educação, todos importantes.
Vamos aos dados. Para cada R$ 1 real de investimento público, outros R$ 3,4 vieram do setor privado. Dos R$ 25 bilhões investidos, entre recursos públicos e privados, quase R$ 18 bilhões (72%) foram destinados a obras de infraestrutura e melhoria de serviços, com destaque para transportes, portos, aeroportos, telecomunicações e setor de turismo. São recursos carimbados para a infraestrutura em áreas importantes para a população, com ou sem Copa.
É preciso tratar com honestidade o legado do Mundial. Ele não é composto só de aeroportos melhores e mais modernos, ou das obras que favorecem a mobilidade urbana. Passam pelo avanço da internet banda larga, a ampliação da rede de
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energia e o aperfeiçoamento da segurança. Esse conjunto de aportes geraram empregos em setores como construção civil, indústria de materiais de construção e eletroeletrônicos, além de impulsionar os serviços turísticos e o varejo.
Os investimentos na agilidade e eficácia do deslocamento urbano atingem atualmente 40 empreendimentos sobre mobilidade espalhados pelo país. Ao fim das obras terão sido construídos ou aprimorados mais de 450 quilômetros de trilhos e corredores de transportes rodoviários pelas cinco regiões onde os jogos ocorrerão.
Da fibra óptica na Amazônia ao 4G nas grandes metrópoles, do surgimento de novos VLTs aos BRTs, do investimento em capacitação via Pronatec ao aumento da capacidade produtiva, do fomento ao esporte estudantil ao atleta de ponta, o país alia a oportunidade de sediar um evento de grande porte com crescimento econômico e social.
É claro que há contrastes a serem observados neste caminho. Não podemos, nem devemos fechar os olhos para intervenções indevidas no espaço urbano que, em algumas áreas, foi apropriado por grandes corporações privadas. Da mesma forma é necessária visão crítica a processos de deslocamentos e remoções de grupos e comunidades sem ausculta e respeito às suas histórias no contexto das suas cidades.
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Mesmo com a necessidade de avançarmos em diversas análises, a Copa do Mundo, distante da campanha baixo-‐astral que setores da mídia e de grupos políticos de oposição tentam instalar, se revela mais que uma tentativa de conquistar o sexto campeonato em casa. Um grande evento deve ser incorporado como algo benéfico à nação e tratado patrioticamente acima das disputas político-‐eleitorais. Devemos ser brasileiros altivos do nosso país e do nosso povo, principalmente quando os olhos do mundo estão voltados para nós.
Boa sorte, Brasil!
O nosso desenvolvimento
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O IBGE acaba de publicar os resultados da economia brasileira no primeiro trimestre de 2014. O Brasil cresceu 1,9% em comparação ao começo de 2012; 0,2%, em relação ao final de 2013 e 2,5%, no acumulado dos últimos quatro trimestres – critério pelo qual o PIB é medido.
O desempenho é pequeno e temos necessidades que demandam um crescimento maior. E, exceto a oposição e a grande imprensa, que já tomaram partido e torcem pelo pior, todos os segmentos da sociedade esperam resultados melhores.
Nesse contexto, seria ingênuo ou puro oportunismo político desconhecer que o mundo vive o sexto ano de uma de suas maiores crises. Mas, mesmo crescendo pouco, as opções políticas do governo brasileiro têm construído um ambiente social muito diferente do que ocorre em outros países.
Aqui, o desemprego cai. Somente em 2013, foram gerados mais de 1,2 milhão de postos de trabalho com carteira assinada. Desde 2008, início da crise, foram 10,8 milhões de novos empregos formais – 4,6 milhões nos últimos três anos, quando o país cresceu menos.
Se no Brasil, o ano passado terminou com um milhão de novos trabalhadores com carteira assinada, pelo resto do mundo, o desemprego cresceu. E o ano terminou com 202 milhões de desempregados, cinco
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a mais do que em 2012. A OIT ainda prenuncia que, nessa tendência, até 2018, o mundo terá 18 milhões de desempregados a mais.
Aqui, o rendimento do trabalho cresce. Mesmo durante a crise mundial, de 2008 a 2014, os trabalhadores acumulam ganhos de 19,6% acima da inflação. Isto é resultado direto de menores índices de desemprego e da política de valorização do salário mínimo. Ao contrário, lá fora 48% dos empregados ocupam postos precários, com salários limitados, de tempo parcial e sem proteção social.
O Governo Federal adota várias medidas para enfrentar a crise mundial e os seus efeitos. São incentivos creditícios e fiscais, renúncias tributárias, subsídios em diversas linhas de financiamento e ainda amplia os investimentos.
São várias as críticas a esse rumo, vindas dos que defendem seguir caminhos ortodoxos adotados pelos países de economia avançada, cortar gastos públicos e elevar os juros. Mas escondem que isto significa dar adeus aos empregos, à renda do trabalho. Um caminho que não recuperou a economia de outras nações e ainda criou cinco milhões de novos desempregados, somente em 2013.
Para a economia crescer mais, é preciso romper de vez com o eixo das políticas neoliberais. Ainda hoje, por exemplo, o ajuste fiscal continua sendo um
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importante parâmetro para avaliação das políticas públicas. Essa lógica de ajuste continua subordinando o fazer público ou os critérios pelos quais as políticas são avaliadas.
A sociedade exige desenvolvimento. É preciso aliar crescimento econômico com distribuição de renda e maior garantia para os direitos de cidadania. As saídas pelas vias de mercado não equacionam itens de uma agenda que inclui saúde, educação, transporte, segurança. Demandam um maior comprometimento do setor público, com mais e melhores gastos, com planejamento e uma capacidade de orientar todos os segmentos da sociedade para um projeto nacional.
Enfermagem em campo
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O maior objetivo de qualquer luta na saúde deve ser o bem-‐estar dos pacientes. Os brasileiros que madrugam para conseguir uma consulta, exames ou um leito numa unidade pública sabem do que falo. De um maior financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS) à valorização dos profissionais, é na ponta, ou seja, neste cidadão, que deve estar o foco das reivindicações políticas.
A redução da jornada de trabalho da Enfermagem para 30 horas semanais é parte importante desse processo e se alinha à redução da carga horária do conjunto dos trabalhadores com a especificidade de lidar com vidas. Com profissionais dedicados, mas sobrecarregados e esgotados, quem perde é a atenção básica e especializada do país. Há hospitais em que apenas um plantonista é obrigado a cobrir setores inteiros.
O funcionamento do SUS pode dar um salto de qualidade se uma demanda como esta, defendida há mais de 50 anos pela categoria, fosse acolhida pelo Parlamento. Esta luta passou por uma vitória significativa na década de 90, quando um projeto foi aprovado no Congresso Nacional, mas lamentavelmente vetado pelo governo FHC.
Agora, se coloca novamente nas mãos da Câmara, onde aguarda acordo para aprovação. Importante
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lembrar que há municípios e estados que já adotam por meio de leis locais as 30 horas, ou até menos, o que demonstra a viabilidade da proposta. No entanto, é preciso superar o vácuo legal nacional para a categoria, qualquer que seja seu vínculo profissional.
A dura queda de braço tem sido pautada por argumentos de gestores públicos e privados, onde a insuficiência de financiamento marca a resistência, já que os estudos mostram impacto de R$ 14,7 bilhões. Outro argumento constante é o de que não haverá profissionais no mercado para atender a uma nova demanda.
É preciso esclarecer que estes questionamentos têm sido respondidos com sensibilidade pelos profissionais de enfermagem. O impacto, por exemplo, seria minimizado por um escalonamento de cinco anos para implementar a redução da carga horária. Ademais, estatísticas apontam a existência de 985 mil profissionais aguardando inserção no mercado de trabalho. A incorporação desses profissionais permitiria atendimento abrangente e eficaz em diversas unidades hospitalares do país.
A bancada do Partido Comunista do Brasil tem se empenhado para que esta demanda tenha resposta urgente. Após inúmeras reuniões com lideranças partidárias na Casa, temos um prazo precioso a cumprir: votar e aprovar o Projeto de Lei 2.295, de
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2000, antes do recesso de julho. Seria um belíssimo gol em plena Copa do Mundo.
Triagem que não salva
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A morte do reconhecido fotógrafo Luiz Claudio Marigo revela uma série de erros. A sensibilidade dos passageiros ao buscar socorro na unidade esbarrou no sistema de triagem altamente falho de um hospital. Entre a burocracia sem fim e a vida humana, prevaleceu a primeira.
Há que se prestar o socorro, tendo ou não emergência no hospital. Vale lembrar que o ônibus ficou parado durante quase uma hora na porta do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), com um imenso tumulto criado em torno da tentativa de ressuscitação de Luiz, ignorado na porta da unidade de saúde. Absurdamente, o único socorro possível ali era do SAMU, através do 192.
A prioridade de um atendimento deve ser sempre salvar vidas. Em segundo plano, o que é necessário se fazer depois ou que protocolo seguir. Mesmo que a ambulância tenha chegado bem depois, o que é lamentável, Luiz poderia estar vivo se o primeiro atendimento tivesse se dado.
Atender o cidadão com qualidade e eficácia é parte essencial do Sistema Único de Saúde ou de qualquer unidade privada, garantindo respeito a todos. Para isso, é preciso ter em mente o quão frágil e importante é a vida de cada um. Nunca é fácil perder um ente querido. Mais difícil ainda quando sabemos
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que poderia ter sido diferente. Na porta do hospital, na calçada ou dentro de um ônibus, sem distinção ou burocracias, a sociedade pede apenas um pouco de humanidade, solidariedade e responsabilidade.
É preciso que as autoridades competentes apurem todas as responsabilidades deste episódio, como a instrução que o vigilante da porta tem para casos como este. Quem orientou o segurança a praticar uma espécie de triagem improvisada, barrando pedidos de socorro urgentes? E o que faz a direção do INC na humanização de sua porta de entrada? Onde está o treinamento a todos os funcionários que ali trabalham?
Com a palavra, a direção do Instituto.
Obstrução oportunista
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É lamentável que a oposição na Câmara dos Deputados, em sua luta política contra o Governo Federal, invista contra as demandas populares. Numa semana dita de “esforço concentrado”, o Parlamento concluiria a votação de inúmeros projetos, mas o que se viu foi uma obstrução oportunista de democratas e tucanos.
À pretexto de derrubar o decreto presidencial que valoriza e organiza a participação da sociedade nos rumos das políticas públicas, a chamada Política Nacional de Participação Social, estes partidos, se dizendo à favor do povo, atacam o povo.
A Lei Cultura Viva, por exemplo, pauta de mais de 3 mil Pontos de Cultura e com alcance em 8 milhões de brasileiros, foi escanteada por esta manobra. O texto, de minha autoria, chegou a ter sua urgência aprovada, mas foi afogada no mar de embolações dos oposicionistas. Milhares de militantes da Cultura contavam com uma boa notícia na terça-‐feira, muitos aguardando no corredor de acesso ao Plenário da Câmara, todos pegos de surpresa. Que decepção!
A obstrução também impediu a votação de outros projetos importantes como o PL dos farmacêuticos, a PEC 170 e o Direito de Resposta.
Em tempos de discussão sobre a urgente democratização da mídia, o Parlamento perdeu a oportunidade de responder à grande mídia por suas
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consecutivas tentativas de criminalização da política e de agressão àqueles que são eleitos pelo voto popular. Generalizam a todo instante, como se todos os parlamentares e agente públicos fossem ficha-‐suja, mantendo todos em suspeição constante.
É por conta de ações irresponsáveis de alguns veículos de comunicação que o Direito de Resposta precisa ser aprovado no Brasil. Cidadãos citados numa reportagem, por exemplo, não podem ser ouvidos apenas 15 dias depois e somente mediante decisão judicial. O “outro lado” dos fatos tem que ser dado em, no máximo, três dias, seguindo a lógica da atual velocidade em que notícias e boatos se difundem.
Apesar da pauta qualificada, atravessamos a semana sem dar um único voto. Um atentando à democracia brasileira e à vontade popular. Ficou claro que os partidos da oposição trabalham contra o povo. Fosse o contrário não se voltariam contra ele no justo direito de fazer oposição.
A nossa Copa
Um sorridente alemão se mistura ao festivo samba da Lapa com a mesma facilidade com que um curioso
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japonês passeia pelas coloridas ruas de Salvador. Em diversos cantos, mexicanos cantantes, argentinos fanáticos, franceses animados, italianos efusivos. O Brasil, como nunca antes, virou o palco do mundo, celebrando a Copa com orgulho e paixão.
A força com que os turistas, vindos de todas as partes do planeta, se movem para cá mostra a importância do que assistimos a cada jogo. Depois de uma semana da abertura oficial do torneio, o Brasil vem dando de goleada nas “centrais do pessimismo”. O Ministério do Turismo, em seu primeiro balanço, apontou que ao menos 270 cidades brasileiras já vêm sendo beneficiadas com o fluxo de 2,3 milhões de espectadores do torneio e gerando mais de R$ 6 bi.
É o que acontece em regiões como o Norte, segundo os organizadores. No próximo domingo, Manaus receberá ao menos 35 mil visitantes dos Estados Unidos ávidos pelo jogo na cidade-‐sede. Essa intensa circulação de estrangeiros se deu em Fortaleza, por exemplo, com a chegada de 3,6 mil mexicanos. Essa forte atração turística fomenta o comércio local, impulsionando a geração de renda e emprego.
A estrutura de chegada para tanta gente também vem dando retorno positivo. O aumento de 400 mil metros quadrados em terminais de aeroportos pelo país expandiu a capacidade de receber e enviar
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passageiros nos voos comerciais, permitindo tranquilidade a esta mobilidade.
Obviamente, a Copa não veio como solução de nossos problemas. Longe da cegueira ufanista, sabemos que há muito contrastes para eliminar. As paralisações e greves em diversas capitais vêm ocorrendo, dando o tom de que há demandas trabalhistas a serem vistas. É importante frisar que a realização de um grande evento é voltada para outros fins, como a possibilidade de melhoras a infraestrutura das cidades. Esta responsabilidade está sendo cumprida junto de elementos muito intrínsecos ao Brasil, como a boa convivência entre a diversidade, a acalorada hospitalidade e sua consequente união.
Os bons pontos que o Brasil vem conquistando, dentro e fora de campo, incomodam uma elite, que teima em apelar para hostilidades e falta de respeito. É vergonhoso ainda assistir pequenos grupos dispostos a xingar a presidenta Dilma Rousseff, como se viu na abertura da Copa. Na falta das justas reivindicações, para estes resta a tentativa de desqualificação de uma mulher democraticamente eleita pela maioria da nação.
A festa que se segue não é um show de megalomania nem o circo de horrores apresentado pelos grupos de oposição ao Governo. O que se vê é a bonita combinação da nossa alegria com nossa estrutura construída, dentro de um caldeirão de diferentes
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povos, todos prontos para celebrar o esporte e suas alegrias.
Para frente, Brasil!
Para Rose
Uma felicidade do destino fez meu caminho cruzar com o de Rose Marie Muraro. Eu na luta pela saúde,
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ela incansável feminista. Nosso encontro ampliou meus horizontes e abracei o mundo do feminismo com o entendimento de que a luta pela igualdade de gênero se dava em muitos fronts e se alimentou, por muito tempo, da força e da formulação de Rose.
A morte da patrona do feminismo brasileiro nos deixou a todos um pouco órfãos. Sua herança vai além da enorme contribuição à causa feminista, onde atuou com determinação e coerência. Suas ideias, sua espiritualidade, sua análise da realidade e seu potencial em transformá-‐la, seus mais de 40 livros, seus filhos e netos, sua luta pelos direitos das mulheres, são constante lembrança das muitas mulheres que foi Rose Marie. Todas possíveis.
Irreverente, bem-‐humorada, apaixonada e sempre disposta a enfrentar uma boa polêmica, características que suplantavam as dificuldades que, desde cedo, enfrentou, com problemas de visão e, mais tarde, na luta contra o câncer. Teorizou até o fim. Enquanto teve forças manteve acesa a chama da luta social.
Como explicar que, numa só pessoa, coubessem tantas Roses, uma mais questionadora e sensível que a outra? Como entender o que a movia e como, a cada momento difícil, ela se superava e, com uma gargalhada efusiva, desafiava o inesperado?
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Essa a grande lição que nos deixa. Muitos motivos ela possuía para se voltar para si mesma, seus problemas e suas angústias. Quantos mais apareciam, mais ela se doava à luta coletiva. Afirmava que quando abandonássemos a crença de sermos deus, passaríamos a enxergar o deus dentro de nós. O “eu” dando espaço, finalmente, para nosso potencial transformador da realidade de todos.
Seu legado é concreto, mas também espiritual. Nossa obrigação é levá-‐lo adiante, para que as gerações que não tiveram a felicidade de com ela conviver, se beneficiem de sua energia e inspiração.
“… Com teu bico colocaste na minha mão esquerda / A semente da morte / E na direita a semente da vida / Para que com as duas juntas / Eu fizesse a escolha de cada momento, / Ligando o instante à sua profundidade eterna.”
(Pássaro de Fogo – Rose Marie Muraro)
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AGOSTO Uma injustiça tributária
a enfrentar
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A sociedade brasileira vive bombardeada pela afirmação de que a carga tributária no Brasil é alta, que afeta negativamente a produção e o consumo de bens e serviços. Essa unanimidade tem as suas razões, mas foi construída com o propósito de esconder interesses que se beneficiam do atual processo de financiamento e de alocação dos recursos públicos.
A carga tributária poderia ser menor para acompanhar a situação de outros países com grau de desenvolvimento econômico e social similar ao nosso, mas a principal distorção do sistema tributário brasileiro sempre foi a injustiça tributária.
Ao contrário do verificado nos países mais desenvolvidos, onde a maior parte da tributação recai sobre o patrimônio e a renda das pessoas, o sistema tributário brasileiro tem uma parcela importante de arrecadação na tributação indireta, sobre o consumo.
A distorção do nosso sistema tributário aumentou muito quando, entre 1996 e 2003, a principal diretriz das políticas públicas esteve voltada para a produção de significativos ajustes fiscais. A carga tributária aumentou consideravelmente nesse período, passou de 26,4% para 31,9% do PIB. E o ônus desse ajuste
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recaiu particularmente sobre as famílias de menores rendas.
Estudo do IPEA mostra que, em 2003, as famílias com renda de até dois salários mínimos estavam submetidas a uma carga de 48,8%. Em 1996, esse patamar era de 28,2%. A esse segmento social foi imposto um acréscimo de 20,6 pontos percentuais na sua participação no financiamento do Estado brasileiro e, naturalmente, das políticas de superávit fiscal praticadas no período. Para as famílias com renda superior a trinta salários mínimos, em 2003, a tributação alcançava 26,3% de sua renda. Em 1996, esse percentual era de 17,9%, ou seja, o esforço extra foi de apenas 8,4 pontos.
Esse direcionamento, determinado no período, pela apropriação da renda dos mais pobres agravou distorções. Ao final de 2003, a tributação direta, que incide sobre propriedades e rendas, das famílias com renda de até dois salários mínimos consumia 3,1% dessa renda. Para as famílias com renda superior a trinta salários, ou seja, no mínimo quinze vezes mais, essa tributação era de 9,9%. Já a tributação indireta, que incide sobre o consumo, inclusive de bens e serviços essenciais, para as famílias de menores rendas, equivalia a 45,8% da renda líquida (após a tributação direta). Para as famílias de maiores rendas, 16,4%.
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Nesse sistema injusto, 16,3 milhões dos brasileiros estão obrigados a apresentar e pagar Imposto de Renda. Analisando os dados relativos a essas declarações, fornecidos pela Secretaria da Receita, percebe-‐se o tamanho da concentração patrimonial. Na base da pirâmide, mais de 97% dos declarantes possuem apenas 49% do patrimônio declarado. No topo, 0,1%, cerca de 18 mil pessoas, concentram 26% do patrimônio do conjunto das pessoas físicas.
Infelizmente, as mudanças na estrutura tributária ocorridas a partir de 2003 pouco modificaram essa realidade de injustiça fiscal. Grandes inovações se deram no campo da alocação dos recursos públicos, menos para o superávit e mais para as políticas públicas, inclusive os benefícios de distribuição de renda. Mas o desrespeito à capacidade econômica do contribuinte, uma das marcas do nosso sistema tributário, ainda está a espera de solução. Enquanto essas mudanças não ocorrem, a atual regressividade exclui da política tributária a possibilidade de produzir efeitos distributivos, que poderiam diminuir as desigualdades em nosso país.
A dificuldade em aprovar a reforma tributária que o país precisa está em romper com determinados interesses. É possível perceber que, tanto do ponto de vista da justiça tributária, quanto do respeito à Federação, os interesses de uma minoria titular de altíssimas rendas financeiras têm prevalecido sobre a imensa maioria da população. Para inverter essa
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realidade, o país precisa de mudanças na estrutura tributária que priorizem a justiça fiscal e o modelo federativo.
Por justiça fiscal, é preciso diminuir a tributação sobre o consumo e agravar os impostos sobre a renda e o patrimônio. Isto significa diminuir a tributação sobre os mais pobres e sobre significativas parcelas da classe média. O Imposto de renda no Brasil, em comparação com o praticado nos demais países desenvolvidos, tem uma das menores parcelas de isenção, mesmo a alíquota mínima – 7,5% – é uma das maiores. Em contrapartida temos uma das menores alíquotas máximas e, ainda assim, abrangendo uma parcela desproporcionalmente alta dos contribuintes. Esse imposto demanda mudanças radicais para ficar mais seletivo, diminuir drasticamente a tributação sobre as rendas do trabalho e alcançar as rendas financeiras e as demais rendas do capital.
É preciso implantar a tributação sobre grandes fortunas, as grandes heranças e os ganhos dos rentistas, ao passo em se diminuem os encargos tributários sobre o consumo, a circulação de bens e serviços e sobre os segmentos sociais de menor capacidade econômica.
As principais mudanças devem considerar a necessidade de dar efetiva capacidade ao estado para atender adequadamente à prestação de serviços, ao
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financiamento dos direitos sociais e à oferta de bens públicos ao conjunto dos seus habitantes, enfim ao desenvolvimento do conjunto das políticas públicas.
As alterações no marco de exploração do petróleo no Pré-‐Sal podem indicar um caminho alternativo para financiar políticas públicas fundamentais. Não por acaso, o Congresso e o Governo vincularam parte daquelas receitas públicas à saúde e à educação.
No caso da tributação sobre grandes fortunas, o reconhecimento de que os mais privilegiados podem contribuir com o bem estar geral pode ser exemplificado por matéria publicada no The New York Times, em que o norte-‐americano Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, defendeu a implantação de maior tributação aos mais ricos nos Estados Unidos da América, manifestando desconforto por pagar, relativamente, menos impostos (17%) que a média de seus funcionários (36%). Também um grupo de 16 megamilionários franceses recentemente publicou na revista “Le Nouvel Observateur” um apelo por maior taxação dos mais ricos.
Dados da Secretaria da Receita Federal do Brasil comprovam a concentração de renda no Brasil e apontam para esta importante fonte de recursos que poderiam ser destinados ao financiamento da saúde pública. Em nota técnica da Coordenadoria Geral de Estudos Econômico-‐tributários e de Previsão e
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Análise de Arrecadação, vemos que, em 2008, 997 contribuintes declararam patrimônio superior a R$ 100 milhões.
Pela mesma nota, observamos que a Contribuição Sobre Grandes Fortunas, no modelo adotado pelo substitutivo que apresentei ao PLP 48/11, incidiria sobre menos de 40 mil contribuintes. Para este universo, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, a partir dos dados da Receita Federal, aponta para uma expectativa de arrecadação anual de R$ 12,8 bilhões.
Neste modelo, 74% do total arrecadado viriam de apenas 900 indivíduos cujas fortunas ultrapassam R$ 120 milhões. Seria, de fato, uma contribuição sobre grandes fortunas.
A Receita informa que ao longo de 2009 – um ano de crise, vale lembrar – o patrimônio das pessoas que superam a casa dos R$ 100 milhões, elevou-‐se de R$ 418 bilhões para R$ 542 bilhões, crescendo 30% num único ano.
Nesse contexto, uma tributação adicional representaria muito pouco para a capacidade de acumulação patrimonial desse reduzidíssimo segmento social, mas representaria um significativo aporte de recursos para a saúde pública que atende aos 190 milhões de brasileiros. Mais do que isso
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seria um primeiro passo a combater a regressividade de nosso sistema tributário.
DISCURSO
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Relatora da Lei Maria da Penha em 2006, Jandira foi à tribuna da Câmara dos Deputados registrar o oitavo aniversário de sanção da legislação no Brasil.
“Sr. Presidente,
assumo esta comunicação para registrar aqui uma comemoração: os 8 anos em vigor da Lei Maria da Penha. Amanhã, 7 de agosto, a Lei Maria da Penha fará 8 anos.
O primeiro registro que quero fazer, como Relatora que fui dessa lei -‐ diria que foi uma lei que me deu um enorme aprendizado de vida -‐, é que rodei os quatro cantos deste País para formular um texto que representasse as diversas regiões, a cultura das mulheres brasileiras, as diversas diferenças institucionais, as realidades diferenciadas de norte a sul do Brasil. Eu não queria fazer uma lei baseada na realidade do Estado do Rio de Janeiro. E eu considero que esse texto ficou muito próximo da diversidade brasileira.
Essa lei, que foi um orgulho relatar e que eu entendo já traz um enorme benefício às mulheres brasileiras, poderá trazer muito mais, quando de fato tiver
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implementação nacional em todos os Estados, em todos os Municípios brasileiros.
A Lei Maria da Penha é considerada pela ONU uma das três melhores leis do mundo no combate à violência doméstica e familiar contra a mulher.
Segundo pesquisas da Secretaria de Políticas para as Mulheres e de diversos institutos, apenas 2% da população brasileira, Deputada Benedita, não conhece a Lei Maria da Penha, uma das leis mais conhecidas no Brasil. Não a conhecem em detalhe, não sabem todos os direitos que a lei dá às mulheres, não sabem todos os deveres que ela determina, mas a conhecem. Isso é um fenômeno das leis brasileiras, isso é muito bom para as mulheres brasileiras.
Pelos dados mais atualizados que temos da comemoração dos 7 anos desta Lei, já foram expedidos 100 mil mandados de prisão e mais de 300 mil vidas de mulheres foram salvas no Brasil, em função da Lei Maria da Penha.
É bom que a gente diga que a Secretaria de Políticas para as Mulheres, depois de ter transformado o Disque 180 em Disque-‐Denúncia, que encaminha a denúncia diretamente aos órgãos de segurança, já conseguiu fazer com que muitos casos sejam atendidos. Em 2013, depois dessa mudança, do total de 106.860 casos que chegaram ao Disque 180, 62% foram direcionados ao sistema de segurança.
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Com relação aos Estados que hoje dão maior cobertura, nós já temos o Distrito Federal, o Rio de Janeiro, o Espírito Santo, o Pará e Pernambuco com maior número de Municípios que atendem as mulheres. É bom também dizer que a violência física corresponde a 54% dos casos relatados e a psicológica, a 30%.
No ano passado, houve 620 denúncias de cárcere privado e 340 de tráfico de pessoas. Vejam que, apesar da existência da lei, ainda é altíssima a estatística de violência contra a mulher.
Nós precisamos superar culturalmente esse processo de dominação, de propriedade e de agressão às mulheres. A lei é um grande instrumento, mas ela, por si só, não resolve, porque nós precisamos superar essa relação de posse, de propriedade, que se tem na relação de gênero.
Portanto, Sr. Presidente, quero comemorar a conquista, a existência da lei, todas as vidas salvas, todos os processos atendidos no Brasil, mas quero apelar para que as mulheres continuem denunciando, continuem enfrentando e também para que os homens entrem em outro processo cultural, em outro processo de relação, para que a gente possa ter mais vidas salvas, mais famílias mantendo sua estrutura e consiga ter uma cultura de paz no Brasil.
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Parabéns ao Governo brasileiro que busca cumprir a lei! Parabéns às mulheres que começam a denunciar! Parabéns a nós todos por termos feito a lei!
Faço um apelo para que o Brasil entre numa cultura de paz, a fim de que mude a realidade do País.
Obrigada, Sr. Presidente.”
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OUTUBRO O saracutico do capital
financeiro
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O capital financeiro está em polvorosa! Um verdadeiro “rebuliço internacional”. Com a proximidade do segundo turno da eleição presidencial, no dia 26, os grandes bancos e setores empresariais têm feito de tudo na tentativa de impedir a reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Se esgueiram por publicações internacionais ditando regras para esta ou aquela nação. Recente manchete da revista The Economist é um exemplo perfeito dessa estratégia panfletária.
Ao estamparem em sua capa uma ilustração com Carmen Miranda, mas com as frutas de seu simbólico adorno de cabeça estragadas, acenam para o mundo com uma péssima e desrespeitosa mensagem sobre um Brasil carente de mudanças. O editorial é explícito no apoio à candidatura do tucano Aécio Neves. Em campanha aberta, a publicação britânica pede votos para o candidato perfeitamente aliado ao modelo neoliberal. Chegam a dizer que o projeto de Aécio beneficiará brasileiros mais pobres, numa ineficaz tentativa de vendê-‐lo como algo atrativo.
O projeto liderado por Aécio é aquele que conhecemos bem nos anos 90. É o mesmo adotado por FHC que, em discurso televisionado, assumiu aumentar juros, impostos, provocar arrochos salariais, trazer o desemprego e empurrar milhões de brasileiros jovens a um horizonte sem oportunidades. Não há a menor possibilidade do trabalhador brasileiro sair vitorioso com o projeto
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do PSDB para o Brasil de 2015. Não há a mínima chance do Brasil olhar os mais pobres com Armínio Fraga, aquele que acha o salário mínimo alto, como ministro da Fazenda. Seria um pesadelo!
Aécio é um político que passou sua vida pública inteira posicionando-‐se contra os trabalhadores. Na Constituinte foi contra as 40 horas semanais e a remuneração de 100% nas horas extras trabalhadas. Anos mais tarde empenhou-‐se pela flexibilização da CLT, ideia de seu mentor FHC, e desejou impor medidas duras contra o trabalhador ao sugerir o parcelamento do 13º salário e o rebaixamento do FGTS de 8% para 2%. Também foi contra o aumento real do salário mínimo no Senado Federal, chegando a recorrer ao STF contra sua valorização. Uma longa lista de ataques ao trabalhador!
As forças do sistema financeiro internacional querem fazer de tudo para apontar Aécio como o preferido desta eleição. Tentaram o mesmo com José Serra em 2010 e fracassaram. A revista segue panfletando e dando importância zero aos muitos sucessos dos governos Lula e Dilma nos últimos anos de crise internacional. Fecham os olhos ao fato de que, apesar da crise internacional que pôs o Reino Unido de joelhos, no Brasil houve pleno emprego, aumento da renda e redução da desigualdade.
Se as manchetes nacionais já são tentativas bizarras da Grande Mídia de elevar Aécio a um pedestal, as
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internacionais não ficam distantes da ação intervencionista. Diante destas manobras, o Brasil continuará seguro e firme no projeto de esquerda iniciado por Lula e liderado agora por Dilma. Não haverá pitacos que desmontem as inúmeras conquistas que alcançamos na última década. O saracutico do capital internacional está com seus dias contados.
Venceremos!
O abismo tucano
O eleitor está diante de uma encruzilhada. Um dos caminhos pode levar a um abismo escuro, onde com apenas um passo pode-‐se perder conquistas da
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última década. Não falo apenas do combate à miséria que retirou 42 milhões de brasileiros da extrema pobreza, do ingresso de 7,1 milhões de jovens em universidades públicas e da taxa de desemprego mais baixa da história. Falo de um modelo falido da década de 90 que querem trazer de volta como salvação para o Brasil.
O projeto neoliberal liderado por Aécio Neves é aquele que, diferentemente das gerações mais novas, vivi de perto. Já não faz mais parte do cotidiano dos nossos filhos a falta de perspectiva de quem terminava o Ensino Médio e deparava com o mercado de trabalho restrito. As ideias tucanas sempre tiveram compromisso com o grande capital.
Aécio propõe um caminho repleto de políticas já testadas e reprovadas. Observe a renda do brasileiro. O salário mínimo hoje tem aumento real e é instrumento de distribuição de renda. Na era tucana, o Brasil quebrou três vezes com desemprego, arrocho salarial e a criação do fator previdenciário.
No atual governo a crise internacional vem sendo enfrentada com geração recorde de empregos, manutenção de direitos trabalhistas e aumento de capacitação profissional. E não para por aí. As ações ilícitas que surgem são investigadas, e os autores, punidos.
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Já na era tucana, vários escândalos ocorreram sem apuração. Sequer conseguimos instalar uma CPI no Congresso. Lembro o Mensalão de FHC para aprovar a emenda da reeleição, as negociatas do Sivam, a Pasta Rosa, o caso Opportunity, o mensalão mineiro, a lesão ao patrimônio público com as privatizações da Vale e telecomunicações. O PSDB desviou, corrompeu e alimentou a concentração da renda de uma elite.
No entanto, Lula e Dilma deram um salto na indústria naval. Lembro que nos anos 90 me perfilei aos trabalhadores do Rio que viviam sua crise. Os estaleiros pareciam enormes montanhas de sucata em Angra, Niterói e capital. Felizmente, o atual governo multiplicou os antigos 2 mil operários em 80 mil trabalhadores, tornando-‐se a quarta maior indústria naval do mundo.
Aécio é como FHC, defende a mesma política com as mesmas pessoas. É aquele que votou no Parlamento diversas vezes contra o trabalhador, que perseguiu professores mineiros e sindicatos, que defende arrochos salariais e governou Minas de seu apartamento no Leblon. Representa a volta de um Brasil injusto e desigual.
Deste abismo queremos distância.
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DISCURSO
Jandira aborda no Plenário da Câmara a reeleição da Presidenta Dilma Rousseff, faz crítica às manifestações
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de preconceito durante às eleições e manipulação de eleitores por parte da chamada Grande Mídia.
“Sr. Presidente,
colegas Parlamentares, minhas primeiras palavras desta tribuna após o segundo turno, pela Liderança do PCdoB, são de homenagem e de congratulações à Presidenta reeleita Dilma Rousseff.
Todos nós vivemos intensamente essa campanha e registro aqui o meu orgulho pela atitude, pela postura da Presidenta Dilma Rousseff, que em momento algum, apesar de tudo, abaixou a cabeça, desqualificou o pleito ou permitiu que algo lhe abatesse diante do confronto político. Foi a posição de uma guerreira, de uma mulher, de fato, de coração valente, como foi a marca de sua campanha.
Enfrentou muitos adversários, particularmente aqueles que tiveram liderança no primeiro turno e se somaram, num segundo momento, ao candidato do PSDB, como fez Marina Silva e outros candidatos de oposição. Mas ela enfrentou centralmente algo que, em minha opinião, este Congresso precisa debater: a manipulação, a contrainformação e o golpismo de uma mídia oligopolizada que temos no Brasil.
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Além disso, é importante também abordar aqui um aspecto que foi agudo nesse processo eleitoral: o ódio de classe, o preconceito. Foram várias as ofensas, não só contra a esquerda, contra o PT, mas contra os nordestinos. Agressões em redes sociais e nas ruas. Chegaram a agredir cadeirante, pessoas que colavam adesivos, que tinham opinião pública e a ostentavam democraticamente. E o preconceito se estende até este momento.
Eu gostaria, inclusive, de destacar o que fez a revista Veja. Na véspera da eleição, a revista antecipou uma edição manipuladora das informações, típica dos golpistas que este País já conheceu e com os quais conviveu.
O Jornal Nacional, na véspera da eleição, também foi algo tenebroso, digno de nota. Aliás, apesar da autocrítica feita pela atitude às vésperas da eleição Lula/Collor, repetiram o equívoco, não do debate, mas colocando no centro o conteúdo divulgado pela Veja, aquela matéria absolutamente inconsistente, agressiva e manipuladora, com acusações inaceitáveis tanto à Presidenta Dilma como ao ex-‐Presidente Lula. E ainda deram mais tempo na televisão para o candidato adversário na edição do jornal.
No dia da eleição, não foram poucas as notícias de que o doleiro Alberto Youssef, internado no dia 25,
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tinha morrido, numa clara tentativa de sugerir, insinuar uma queima de arquivo.
Sinto-‐me muito feliz com a vitória que obtivemos, particularmente, na Região Sudeste -‐ no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Aliás, há quem brinque dizendo que onde o Senador Aécio mora, no Rio de Janeiro, e em sua terra natal, Minas Gerais, o pessoal não vota.
Foi uma votação importante da Presidenta em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e uma vitória muito significativa em todo o Nordeste, mas, particularmente, em Pernambuco, com um simbolismo muito grande.
Numa eleição atravessada pela tragédia, pelo preconceito e pelo ódio de classes; numa eleição atravessada por uma mídia que se portou de forma golpista de manhã, de tarde e de noite, é de se valorizar muito não só a avaliação do Governo, mas também a vitória da Presidenta Dilma e a dedicação da militância de todos os partidos nesta eleição.
Quero homenagear aqui a militância dos nossos partidos, o povo que se aliou e a juventude brasileira. Quero homenagear o povo brasileiro, que acreditou no Brasil, que acreditou na solidariedade, que acreditou na superação das desigualdades e no futuro.
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Parabéns, Presidenta! Parabéns a todos nós! Um abraço a todos os militantes dos partidos.
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NOVEMBRO
Ditadura nunca mais!
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Os coléricos gritos que partem de pequenos grupos de direita não devem ressoar no Brasil. Nossa jovem democracia possui pilares fortes, talhados no sangue, no sofrimento e na luta de milhares de cidadãos que combateram as forças da Ditadura. Lá estavam militantes do Partido Comunista do Brasil e de tantos outros partidos, movimentos de esquerda, democratas e cidadãos comuns que querem liberdade de expressão e o direito de ir e vir. Uma época jamais esquecida por todos nós
É de uma minoria, uma minúscula parcela da sociedade, que partem estes sons guturais. Tentaram, no final de semana, dar corpo aos pedidos de impeachment da presidenta Dilma Rousseff – democraticamente eleita –, e apelaram, inclusive, pela intervenção das Forças Armadas contra nossa democracia, exalando todo tipo de discurso fascista. Ecoaram rancor pela perda nas urnas, rechaçando as regras mais republicanas de uma escolha popular. Ou seja, são maus perdedores.
Manifestações como essas expõem o lado sombrio e perverso das forças de direita que se escondiam no armário. Agora, derrotados, tentam espalhar mentiras sobre o processo eleitoral, distorcendo a realidade da votação e espalhando boatos sobre a “injusta” derrota de Aécio Neves, o candidato neoliberal representante do conservadorismo. Os reacionários estão fazendo de tudo para atropelar a
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Constituição. Querem lesar a democracia “no tapetão”!
As poucas mais de 2 mil pessoas que estiveram em São Paulo não representam nem de perto os milhões de eleitores, muito menos aqueles que optaram pelos tucanos. Nossa nação não sucumbirá novamente ao pensamento retrógrado de um regime militar. Enquanto nossos corações estiverem quentes e pulsarem o calor dos avanços progressistas, a atual e futuras gerações não permitirão uma volta à ditadura.
O caminho para solução dos problemas de nosso povo é e sempre será pela democracia. Com governos democraticamente eleitos, com projetos nacionais escolhidos pela maioria da população. É desta forma que nós, do PCdoB, nos mobilizamos junto a Lula e Dilma para reforçar projetos para melhor distribuição de renda e para a emancipação do cidadão. Luta constante pela melhoria da economia, saúde, educação, cultura e segurança de forma concreta e não utópica. Aspectos sociais de todas as esferas de governo e que, repetidamente, se mostram como os mais caros anseios da população.
É exigido de nós que de forma imediata ampliemos os instrumentos de liberdade e pluralidade de opiniões, avançando com a democratização da comunicação, ao mesmo tempo que devemos possibilitar a representação institucional ampla da
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sociedade, garantindo a reforma política sem o financiamento eleitoral de empresas privadas.
A juventude brasileira não cederá ao canto da sereia que parte de setores conservadores de nossa sociedade. A nação tem demonstrado claramente que não apoia este clamor pela intervenção militar, liderado por pop stars do atraso ou celebridades oportunistas. Nossa nação é muito mais do que isto e o capítulo da Ditadura foi condenado e encerrado para nunca mais voltar. Mesmo que marchem, não passarão!
O drama do teto
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Enquanto crianças tocam os pés no chão de barro, seus pais trabalham em cima de madeira e plástico. Barracos se formam como castelos imaginários, à base de suor e sorrisos. Numa linha tênue entre o desamparo das ruas e o dilema de uma moradia digna, 200 famílias formam a ocupação Zumbi dos Palmares, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, clamando pelo direito a um teto, garantido pela Constituição Federal, mas ainda letra morta para muitos.
Esses homens e mulheres vêm resistindo a todos os tipos de dificuldades em sua trajetória. Da falta de condições mínimas de cidadania a incêndios criminosos. A ocupação Zumbi nos lembra como os grandes centros urbanos são injustos, tentando expulsar os que não têm condições de se ajustar às condições por eles impostas. Os aluguéis são caríssimos e há falta de moradia popular. Embalados pela pobreza, famílias inteiras são arremessadas para as calçadas das cidades, num golpe duro do mercado imobiliário.
São Gonçalo precisaria de 25 mil unidades habitacionais para resolver essa complexa questão. Na capital faltam 220 mil, totalizando 515 mil no Estado do Rio. Segundo um estudo da Fundação João Pinheiro, essa demanda se alastra pelo país. Proporcionalmente, Manaus é a capital com maior déficit (23%). Entre os estados, o problema é maior no Maranhão (27%). A cidade de São Paulo desponta
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com um déficit de 700 mil unidades – o maior do Brasil.
O problema também é recorrente em toda a nossa América Latina. Um estudo do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, em 2000, mostrava déficit de 51 milhões de moradias na região continental.
Esse passivo nacional não foi devidamente enfrentado na década de 90, particularmente pelo Governo FHC. O início da mudança só foi ocorrer no segundo Governo Lula, com a criação do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, totalizando 1,5 milhão de residências entregues até o final do primeiro Governo Dilma. Ainda assim, cabe às prefeituras o papel de dialogar e procurar a solução do déficit habitacional, propondo parcerias com a União, tendo esta o importante papel do fomento às políticas de melhor distribuição de renda.
Nossa nação tem a importante missão de enfrentar com coragem a falta de moradia. Discussão que precisa ser feita sem preconceito, intolerância e ódio. Nós, brasileiros, temos o dever de defender que todos os cidadãos tenham garantidos aspectos fundamentais da vida, como educação, saúde, trabalho e moradia. E é nessa pauta que mora nossa luta e de tantos movimentos sociais que se engajam por uma sociedade mais justa e igualitária, sem
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famílias marginalizadas à beira de avenidas ou embaixo de pontes.
A ocupação Zumbi dos Palmares é uma mostra do grito ainda rouco que toma o mundo, no combate às desigualdades do capitalismo moderno. Voz que toma coro, felizmente, com a sabedoria de líderes internacionais, como o Papa Francisco: “Nenhuma família sem teto, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem trabalho e direitos”, disse recentemente. Que possamos, como Francisco, ecoar a urgência desta luta, banindo da vida de tantos brasileiros a falta de um teto.
Sombras do atraso
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Mais uma eleição se avizinha. Desta vez, são 513 eleitores destinados a escolher o novo mandatário de um dos três poderes da República: a Câmara dos Deputados. Instituição democrática que não pode estar rebaixada a serviços de grupos econômicos ou interesses não republicanos. Este espaço de poder não pode ser de alguns, e sim da verdadeira representação dos interesses de toda a nação.
A escolha do próximo presidente da Câmara é decisiva para o futuro da nação. Essa escolha deve levar em conta a próxima legislatura, que já aponta para uma ação político-‐institucional complexa, particularmente se isolada das demandas da sociedade, de projetos estruturantes e democráticos, políticas sociais, direitos do trabalho e direitos humanos. Bancadas representativas de grandes grupos de poder, por exemplo, ganharam robustez e as chamadas “minorias” e diversas bancadas que se relacionam com a luta popular tiveram seu tamanho reduzido.
Neste difícil cenário, o parlamentar que conduzir a próxima presidência precisará ter firmeza para enfrentar lobbies contrários aos avanços progressistas e pautar demandas populares em Plenário, sem ceder a interesses escusos – cada vez mais constantes e rejeitados pelo povo. Se o comando da casa não patrocinar a permeabilidade aos movimentos sociais, ao diálogo com as diversas forças e com o governo eleito, corremos o risco de
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ver a Casa do Povo transformada em casa de horrores, numa verdadeira ‘marcha à ré’ na história do Parlamento.
As candidaturas identificadas com o retrocesso não possuem coerência com as conquistas do século XXI. Na verdade representam sua antítese. Forjadas nos interesses privados, buscam atrair setores da oposição na tentativa de colocar refém o governo eleito por 53 milhões de brasileiros e impor uma pauta que não interessa ao Brasil.
Esse “tiro”, que pretende alvejar um projeto soberano e independente ao Brasil, terá como escudo a inteligência política, maturidade dos parlamentares e as forças sociais. A sociedade, definitivamente, não pode aceitar este tipo de comando na Casa do Povo. Deve rechaçar qualquer opção que não respeite a diversidade humana e a pluralidade ideológica. Não aceitará qualquer opção que arranhe ainda mais a imagem do parlamento brasileiro.
A bancada do PCdoB tem esta mesma preocupação e trabalha para defender um candidato que esteja disposto a agregar forças e levar a Instituição para a construção de caminhos respeitáveis, éticos e politicamente sintonizados com o povo brasileiro. Em tempos de intensa mobilização da sociedade por mais conquistas e na defesa das reformas profundas e democráticas, é preciso que os partidos que compõem a governabilidade do projeto iniciado por
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Lula e mantido por Dilma defendam-‐no com unhas e dentes.
É preciso mais que resistir. É preciso ampliar e vencer. A presidência da Câmara, um dos maiores postos de poder da nação, não pode transitar pelas sombras do atraso.
Um Brasil para nossos Pedros
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Pedro tem 13 anos e é negro. Filho de trabalhadora doméstica, tem quatro irmãos e mora numa favela. Estuda em escola pública, frequenta Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no primeiro sinal de febre procura a emergência pública. Joga bola no campo de areia, solta pipa perto de avenida movimentada e gosta de roupa da moda. O boné de aba reta, pago a muito custo, nunca sai da cabeça. Um jovem como tantos outros, mas um fator o distingue dos demais.
Pedro tem 3,7 vezes mais chance de ser assassinado do que qualquer amigo branco. Pedro vive num país que a cada três homicídios, dois são de negros, como ele. Levando-‐se em conta os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Pedro ou qualquer amigo negro está muito mais próximo da violência urbana ou da morte que qualquer outro cidadão branco. Violência que mata, fere e destrói famílias. Uma crueldade para com aqueles que são parte indivisível de nós, de nossa Cultura e de nossa História.
Etnia e classe econômica caminham juntas nas estatísticas desse Brasil ainda desigual, onde quem é “preto e pobre” morre ou tem dificuldades por ser “preto e pobre”. Das chacinas sociais nas periferias às truculências de uma polícia militarizada desde a Ditadura, o cidadão negro vive e enfrenta diariamente obstáculos de uma contradição histórica, intensificada pela exploração capitalista
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que atravessou os séculos e ainda persiste, inadmissivelmente, no século XXI. Segundo o DIEESE, salários de negros e negras são 36% menores e 60% da população desempregada há mais de 1 ano é negra.
O Brasil de hoje, felizmente, combate este cenário. Diferente da lamentável vista grossa com que governos anteriores aos de Lula e Dilma faziam à problemática da desigualdade social, a nação hoje encontra caminhos para valorizar, proteger, defender ou corrigir tais distorções. Estudar, ir à faculdade, ter o primeiro emprego e as condições básicas de cidadania são prioridades nas políticas destes governos.
No Parlamento também há formas de valorização, reconhecimento e fomento à cultura negra, como os projetos de lei dos mestres e mestras de tradição oral, de minha autoria, e do Cultura Viva, já sancionado, a aprovação das cotas em concurso público e nas universidades públicas. Essas políticas reinserem na sociedade a importância das tradições e manifestações culturais afro, alicerces de toda a nossa miscigenação cultural.
Há um longo caminho para se percorrer no combate às desigualdades e garantir aquilo que é direito da maioria de nossa população, que é negra. Se há chance de Pedro chegar à vida adulta sem ser parte das estatísticas de uma sociedade historicamente
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injusta, esta chance deve ser aproveitada agora. Por um Brasil de todos os brasileiros, sem preconceitos, violência ou discriminação social. Um Brasil para nossos Pedros. Afinal, o destino de ninguém deve ser selado pela aparência ou cor de pele. Que o Dia de Zumbi reforce e ative nosso combate contra o preconceito e a discriminação. Essa luta é de todos nós, brancos e negros.
O canto de sereias
Será que há no DNA dos Estados nacionais o cromossoma da corrupção? Desde que se constituiu a superestrutura do Estado temos denúncias de
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desvios, superfaturamentos, propinas. Esquemas parecem tomar conta do cenário há séculos, numa mistura perniciosa de interesses. A falta de ética, a conduta duvidosa de agentes públicos e privados, a busca pelo dinheiro fácil, envergonham a todos que ainda acreditam no oposto: na ética, no fruto do trabalho, no interesse coletivo.
Em nome destes, que quero acreditar são ampla maioria, há que se investigar a fundo, punir, evitando antecipações e pré-‐julgamentos e, principalmente, impedindo que a democracia seja violada com ações intempestivas que tentam impingir a governantes atos e supostas autorizações para os ilícitos, com o claro objetivo de interromper o mandato de uma presidente legitimamente eleita, sem qualquer prova da sua participação.
Para além de apurar é necessário que façamos reformas estruturantes como aríetes desta luta em defesa dos recursos públicos e contra políticas que se destinam somente a determinados grupos econômicos. Fundamental neste caminho é a aprovação de uma reforma política que acabe com o financiamento de empresas nas campanhas eleitorais. Não porque isso determine, de forma generalizada, comportamentos questionáveis, mas porque limitaria distorções, dificultaria a fraude e a violação dos direitos dos cidadãos, verdadeiros destinatários dos recursos orçamentários.
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Nas regras atuais, com o financiamento privado empresarial e sem limite de gastos aprovado no congresso, algo exigido em lei, mas não cumprido, todos os partidos acabam recorrendo ao financiamento de empresas para garantir minimamente a sobrevivência numa tentativa de furar o bloqueio de campanhas milionárias que nublam a disputa, tornando-‐a desleal e injusta.
Sabemos que há aqueles que recebem apoio para poder levar seus nomes aos eleitores, porque nos projetos em que acreditam há defesa sincera do desenvolvimento nacional, da ampliação da infra-‐estrutura urbana de transporte de massa, de setores industriais para geração de emprego, da inovação e desenvolvimento de tecnologias nacionais na draconiana competição com empresas internacionais. Não guardam qualquer relação com improbidade, ilegalidades ou desvios.
O que vemos, no entanto, é que parcela do legislativo e dos executivos, em todos os níveis, se rendem – no Parlamento, nos governos e em empresas públicas ou fundos de pensão – chegando a comportar-‐se como despachantes de interesses das empresas e do próprio bolso. Cedem, assim, ao canto de sereias, a interesses nada republicanos.
Defendo a investigação e, sem generalizações irresponsáveis, que se separe o joio do trigo, sem
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misturar relações saudáveis com empresas nacionais com atitudes ilícitas.
Prevenir, coibir e acabar com a corrupção passa, necessariamente, por não aceitar que qualquer agente público seja corrupto e por dificultar a ação dos corruptores. Nesse sentido, a reforma política é urgente, tendo a vedação de contribuição empresarial como principal foco, eliminando boa parte da corrupção eleitoral e suas terríveis consequências.
Vamos às ruas coletar 1.500.000 assinaturas para completar a iniciativa popular e fazê-‐la tramitar no Congresso Nacional com a força da opinião pública. Vamos reivindicar que o Ministro Gilmar Mendes devolva, com seu voto, a ação impetrada pela OAB, no Supremo Tribunal Federal, que afirma ser inconstitucional a contribuição de empresas em campanhas eleitorais. Já temos maioria de votos naquele tribunal e a votação precisa ser finalizada.
Vamos lutar por eleições limpas! Por controle institucional e social dos governos, parlamentos, sistema de justiça e órgãos públicos. Por garantias democráticas e respeito ao dinheiro público!
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Emprego e investimentos, prioridades para combater
a crise
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Uma das funções do Congresso é votar leis para estabelecer as prioridades da ação governamental. As exigências de aplicação mínima de recursos orçamentários em determinada área ou a fixação de metas de resultado são exemplos que materializam essas prioridades.
Nesses últimos dias, a mídia conservadora e segmentos da oposição derrotada nas urnas, junto com o projeto que defendiam, têm feito inflamados discursos para defender que a prioridade maior do Governo deva ser poupar recursos públicos para atender aos interesses do setor financeiro e privado.
Tal polêmica ocorre porque a recém-‐eleita Presidenta Dilma Rousseff, muito acertadamente, decidiu manter a prioridade de ampliar os investimentos públicos como medida indispensável para a geração de empregos e a valorização dos salários, para enfrentar a crise internacional.
Eis a razão pela qual a Comissão Mista de Orçamento aprovou a sugestão do Governo que permitirá a utilização de recursos do superávit para a ampliação dos investimentos do PAC ou para compensar as diversas renúncias tributárias que o governo tem utilizado para manter a produção nacional e o emprego dos brasileiros.
Diversos países têm adotado posturas semelhantes. Ao contrário do que ocorria em 2006 e 2007, os
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governos das maiores economias estão procedendo da mesma maneira. Para se ter ideia, 17 dos 20 países mais ricos terminarão o ano consumindo mais recursos do que o arrecadado com impostos. Os EUA, por exemplo, neste ano vão gastar, excluindo os juros, 3,37% do PIB a mais do que o que geraram em impostos. Nesta mesma linha caminham Reino Unido (3,47%); Japão (6,28%); França (2,32%); Canadá (2,11%), China (0,54%) e a Índia (2,59%).
No resto do mundo, o desemprego é recorde, há precarização de serviços públicos e de direitos dos trabalhadores. No Brasil, desde 2008, o governo tem priorizado essas medidas de enfrentamento aos efeitos da crise. E, como uma das consequências, temos os menores índices de desemprego das últimas décadas.
É exatamente aí que as prioridades se encaixam.
Ao invés de simplesmente poupar dinheiro, é preciso investir em programas desenvolvimentistas como as obras do Programa de Aceleração do Crescimento. São obras de infraestrutura, saneamento, construção de creches, portos, mobilidade urbana e acesso a recursos hídricos. Somente até setembro de 2014, nossos investimentos chegaram a R$ 47 bilhões, bem acima dos R$ 31 bilhões gastos no mesmo período do ano passado. Esta política do Governo Dilma permitiu, entre outras, a construção de 5 mil creches
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para as populações de baixa renda. É assim que se constroem as mudanças que a sociedade exige.
O Brasil também vem adotando uma política estratégica de incentivo ao mercado com constantes desonerações de impostos, possibilitando que empresas produzam mais barato e, consequentemente, cidadãos consumam mais barato. A previsão é de que o Governo abra mão de ao menos R$ 100 bilhões de impostos até dezembro, impedindo que a recessão que o resto do mundo vive elimine aqui os empregos, por exemplo.
O recado da presidenta Dilma Rousseff nas eleições foi simples e direto: não promoveremos o arrocho salarial dos trabalhadores e a paralisação de programas sociais devido à crise internacional. Esta mensagem a diferenciou do projeto tucano, liderado por Aécio Neves e chancelado por FHC, que governou priorizando os mais ricos e escanteando os mais pobres.
Vale lembrar que durante os governos tucanos de FHC, ante as crises, agia-‐se de maneira oposta. Por priorizar exclusivamente a produção de superávits, a cada problema, o governo elevava os impostos e chegou a paralisar os investimentos. Além do desemprego e dos índices de pobreza, o país viveu o apagão de 2001. As consequências dessas políticas foram tão desastrosas que o Brasil teve que pedir
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socorro ao FMI por duas vezes, em menos de cinco anos.
Todo país precisa manter ajustadas as contas públicas. E o Brasil praticou altos índices de superávit de 2003 a 2008. Mas, desde o início da crise internacional combinou responsabilidade com o dever de manter emprego e renda, diminuir desigualdades sociais e regionais, ampliar os serviços públicos e investir massivamente em educação e infraestrutura. O verdadeiro interesse público, que a oposição não consegue alcançar, é determinar que a vontade dos rentistas não esteja acima das necessidades da sociedade, nem do imperativo de construirmos um novo Brasil, desenvolvido e muito mais justo.
DISCURSO
Jandira discursa na Câmara durante Grande Expediente relatando a experiência da eleição no Rio
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de Janeiro, no Brasil e as demandas no Parlamento por reformas estruturantes e políticas progressistas.
“Sr. Presidente,
colegas Parlamentares, é nosso dever aqui registrar, como primeira palavra, o agradecimento aos eleitores que nos mantiveram no Parlamento brasileiro.
Quero parabenizar não apenas a bancada do PCdoB, uma bancada combativa, guerreira, que nesta campanha fez com que voltassem para cá Parlamentares muito aguerridos, além de Parlamentares novos, de Estados que aqui não tinham representação pela nossa legenda. Mas quero parabenizar também um conjunto de Parlamentares que conquistaram, como nós, a reeleição, além de fazer uma homenagem a todos os outros Parlamentares. Apesar de muitos terem realizado um excelente trabalho no Parlamento brasileiro, não conquistaram o retorno.
Nesse processo todo, há um registro importante, Deputado Ananias, que nós precisamos fazer: a eleição do ex-‐Deputado Flávio Dino para Governador do Maranhão. Ele é o primeiro Governador eleito pela legenda do Partido Comunista do Brasil, o que
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nos enche de orgulho, de alegria e também de responsabilidade. Enfrentamos ali uma campanha difícil, uma campanha anticomunista, eivada de injúrias. Mas nem isso impediu o sentimento de mudança da população maranhense, que buscava de fato uma vida melhor, a superação de desigualdades, a superação do estado de insegurança e de orfandade política que existe naquele Estado.
Precisamos aqui, em nome da Liderança do PCdoB, parabenizar com força o ex-‐Deputado Flávio Dino, que passou por problemas pessoais terríveis e os superou, colocando na ordem do dia a sua contribuição coletiva à vida do povo brasileiro.
Nossa bancada regozija-‐se do resultado dos seus Parlamentares e também se solidariza com todos os que não retornaram, para os quais rendemos as nossas homenagens.
Mas é bom pontuar algumas questões que nos chamaram muito a atenção. No Estado do Rio de Janeiro, 40% da população não votou para Deputado; 45% não votou para Senador. Isso expressa algo sobre o qual nós aqui alertamos durante muito tempo no Congresso Nacional: a criminalização da política.
Se, por um lado, junho foi um marco histórico neste País, um marco de busca de mudanças, de grandes mobilizações sociais, pedindo mais Estado, mais
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saúde, educação e direitos, uma luta anticorrupção, ele foi aproveitado pela grande mídia brasileira para fazer uma propaganda antipolítica e antiesquerda.
Foi uma criminalização da política profunda, que fez com que muitos eleitores não conseguissem sequer prestar atenção ao horário eleitoral gratuito, não quisessem receber e ler os materiais de prestação de contas, de qualificação do seu próprio voto ou buscar o voto consciente, num processo que define a vida do Brasil, que define a vida dos seus Estados, que define os seus representantes nos dois níveis e que garante a representação na Casa Federativa do Senado Federal.
Essa criminalização é um pouco do discurso para o povo, dizendo assim: "Povo, você não precisa votar. Deixe com a gente. Você não precisa participar ou interferir. Deixe que os nossos nós os elegemos". E, ao olharmos o resultado das eleições para o Parlamento brasileiro, com todo o respeito a todos que se elegeram, nós precisamos ter a franqueza de analisar que muitas polêmicas que a sociedade colocou nas ruas, muitas bandeiras e demandas apresentadas terão muito mais dificuldade de avançar, pelo grau do conservadorismo do perfil da Câmara que vai se iniciar a partir de 2015.
Isso é preocupante para a sociedade brasileira, porque nós precisamos, mais do que nunca, apostar numa reforma política que tire do financiamento das
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campanhas o poder econômico, vitória já vislumbrada no Supremo Tribunal Federal, mas que o Ministro Gilmar Mendes, infelizmente, retirou de pauta com um pedido de vista. É preciso que essa pauta retorne e que consigamos concluir a votação.
Nós precisamos, mais do que nunca, encarar a pauta estruturante da democracia brasileira, que é a democratização da comunicação, sem a qual não há pluralidade. Hoje, os grandes meios de comunicação funcionam como um diário oficial parcial de determinadas candidaturas da Oposição contra o atual Governo Dilma, sustentando posições conservadoras e reacionárias contra o avanço da política brasileira.
Esta é uma questão estratégica da democracia, e os Parlamentares democratas progressistas, de esquerda ou não, precisam assumir as duas bandeiras estruturantes deste País, que são a reforma política e a reforma dos meios de comunicação.
Digo mais: este processo deu-‐se com um resultado, na minha opinião, muito consciente da população brasileira. A Presidente Dilma, apesar de ter, diariamente, a crítica, a injúria, a difamação e a tentativa de desmoralização pelos grandes meios de comunicação, chegou à frente no primeiro turno, numa eleição cruzada pela tragédia da perda do nosso querido amigo Eduardo Campos, que fez uma
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ascensão meteórica da sua vice, Marina Silva, contra quem pessoalmente eu não tenho nada a dizer.
Mas é preciso que compreendamos o papel que essa candidatura cumpriu no processo da eleição presidencial no Brasil. Com todas as suas contradições e a saída da onda emocional que o Brasil viveu, ela própria se desconstruiu pelas contradições que expressou nas suas posições políticas fundamentais não apenas no campo comportamental, mas no campo econômico e social.
Com isso, nós tivemos, também com grande reforço da mídia brasileira, a ida para o segundo turno de Aécio Neves. E esse embate, agora, será de fato um embate claro, cristalino, límpido e aberto entre aqueles que querem avançar por dentro de um projeto que melhorou o Brasil, e o fez não apenas por meio de políticas assistenciais -‐ esse discurso nós precisamos superar.
Nós temos, sim, políticas assistenciais necessárias no Brasil, mas o País avançou em muito mais coisas. Diante da crise internacional, nós nos seguramos. Avançamos na ciência e tecnologia; avançamos na educação brasileira; avançamos na infraestrutura, na logística, em políticas de gênero, em políticas para a juventude. Isso é inegável, numa visão da diversidade e da pluralidade brasileira, que não foram ofendidas nem violadas pelo Governo da Presidenta Dilma.
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Neste momento, o Brasil deve escolher entre a possibilidade real de manter um projeto que anda para frente, buscando avanços fundamentais necessários no Brasil, ou aquele projeto que já foi experimentado na política brasileira. Naquele momento, nós tivemos profundos retrocessos no Brasil: no emprego, na economia, na dependência externa, na política internacional, na saúde, na educação.
Em todos os itens para os quais nós olharmos, o período do PSDB no Governo foi de atraso e de submissão às grandes potências internacionais. Aqui não vai um discurso panfletário. São dados reais e concretos. Nós não podemos permitir que esse retrocesso se apodere de novo do Brasil, fazendo com que percamos conquistas importantes e retrocedamos em todos os campos, inclusive no campo do desrespeito à diversidade e à pluralidade brasileiras, que espero não se consolide dentro deste Parlamento.
Precisamos debater abertamente aquilo que sempre foi tabu, aquilo que sempre foi polêmico e que vitima as pessoas nas ruas. Necessitamos avançar aqui na discussão da diversidade religiosa, acompanhar a diversidade da sociedade em todos os aspectos. Precisamos reconhecer que temos que enfrentar questões polêmicas.
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Nós vivemos, no Rio de Janeiro, a morte de duas mulheres: uma, inclusive, com o meu nome, Jandira; a outra, Elisângela. Ambas perderam a vida em clínicas clandestinas de aborto, com falsos médicos. Esse debate deixou de ser feito porque não se enfrenta a realidade brasileira. Quero aqui ser solidária à família dessas duas mulheres e dizer que encaramos essa questão como um problema de saúde pública, como um problema democrático de respeito à vida das mulheres e das suas famílias.
Deixo aqui, Deputado João Ananias (faz menção ao parlamentar que preside a sessão), uma mensagem muito forte do nosso partido, o Partido Comunista do Brasil: nós não arredaremos pé até o último dia de eleição para garantir as vitórias do povo brasileiro, já consolidadas, na nossa opinião, no projeto que a gente vem sustentando e que começou com o Presidente Lula, que teve o apoio do nosso partido coerentemente, desde 1998, tanto nas eleições que ele ganhou, quanto nas que perdeu.
Neste momento, faço um apelo ao Partido Socialista Brasileiro e ao PSOL para que olhem esse quadro e reconheçam, neste momento, a necessidade de um posicionamento político claro a favor do Brasil. Não consigo imaginar que o PSB, que teve uma posição programática que nós respeitamos no processo eleitoral, quando a polarização se dá entre Dilma e a frente esquerda e o PSDB, não consigo imaginar que o PSB, um tradicional e histórico partido de
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esquerda, se posicione no campo conservador do retrocesso do Brasil.
Então, o apelo que nós fazemos é que juntemos forças e consigamos contribuir para uma mudança profunda, mas a partir do que já conquistamos, não zerando os nossos avanços, para tentar reconstituir algo que tem Armínio Fraga como possível Ministro da Fazenda, cujas posições na economia e nas relações com o povo trabalhador nós sabemos bem quais são.
O Partido Comunista do Brasil tem claro que precisamos avançar mais. O Partido Comunista do Brasil tem claro que já conquistamos muito e precisamos conquistar mais. E nós rendemos nossas homenagens ao nosso partido, que, com coerência absoluta e profunda, foi para dentro das coligações no Brasil inteiro, sustentando de norte a sul a eleição de Dilma Rousseff, sem dissidências. Nós trabalhamos para eleger os Governadores com lealdade e para eleger as bancadas parlamentares no nosso campo e nas nossas coligações.
Tenho muito sentimento pelas perdas que tivemos na bancada, que são Parlamentares absolutamente respeitados em todo o Brasil, respeitados aqui dentro, Parlamentares que vão fazer muita falta ao nosso trabalho neste Parlamento -‐ muita falta. Entre eles, está o nosso Senador Inácio Arruda, que ocupou o espaço da campanha proporcional muito tarde e
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não conseguiu reconstruir a sua campanha, perdendo o mandato. Trata-‐se de um quadro político respeitável do nosso partido que aqui não retornará em 2015, mas continuará dando a sua contribuição pelo seu Ceará, Estado do Deputado João Ananias, que não concorreu, mas é para o Brasil, sempre foi e continuará sendo um grande dirigente do Partido Comunista do Brasil.
Sentiremos falta também da nossa companheira Perpétua Almeida, que, ao concorrer ao Senado Federal, teve a sua candidatura literalmente atropelada pelo poder econômico, por um grande esquema que se colocou dentro do Estado do Acre.
Deixo o meu carinho e a minha solidariedade a Inácio Arruda e Perpétua Almeida, como já disse, a Osmar Júnior, grande Parlamentar do Piauí, que sofreu as consequências da derrota da coligação, e aos companheiros Assis, Cadoca, Protógenes e Milhomen, que farão muita falta nas lutas que travamos no Congresso Nacional. Meu carinho e a minha solidariedade a todos os Parlamentares que sairão deste Parlamento a partir de 2015 e minhas congratulações a todos que, com muito esforço, retornarão para continuar dando a sua grande contribuição ao povo brasileiro. Ouço a Deputada Benedita da Silva.
Deputada Benedita da Silva (PT/RJ) discursa: Deputada Jandira Feghali, eu quero cumprimentá-‐la
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pelo brilhante pronunciamento que ora faz. V.Exa. tem a sensação, como temos, de que haveremos de buscar no PSB, no PSOL aqueles que, em sua trajetória política, sempre puderam somar com este País e que sonharam junto o sonho de ver mudanças em nosso País. Quero também manifestar a minha solidariedade por todos os comunistas que deixarão de estar nesta Casa, mas que aqui souberam somar com todos e fazer com que este País pudesse avançar. Vamos lamentar, mas, ao mesmo tempo, dizer da nossa alegria que o PCdoB está, pela primeira vez, governando o Maranhão. Nós queremos somar, neste momento, a nossa solidariedade em relação àqueles que não alcançaram êxito no mandato para 2015, mas, ao mesmo tempo, queremos dizer que é bom ter o PCdoB governando o Maranhão. Foi uma das maiores experiências que tive, no Estado do Rio de Janeiro, fazer campanha ao seu lado. Já nos conhecemos há tempo, mas tivemos a oportunidade de compartilhar politicamente o nosso sonho no Estado do Rio de Janeiro. E quero dizer mais ainda: que não haverá retrocesso, porque eu acredito na sensibilidade do povo brasileiro, daqueles que não têm, talvez, uma maior representação nessas últimas eleições para este Congresso, mas que, sobretudo, estão com seus olhares voltados para os compromissos daqueles que, juntamente com eles, começaram a construir este sonho e o colocaram de
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volta, como é o meu caso, o de V.Exa. e o de tantos outros. Parabenizo o PCdoB e V.Exa.
Deputada Jandira volta a discursar: Deputada Benedita da Silva, eu agradeço suas palavras e coloco com muito carinho que, de fato, a nossa experiência no Estado do Rio de Janeiro foi muito afetuosa, solidária, muito companheira e parceira no projeto político para eleger Lindbergh Farias Governador do Estado do Rio de Janeiro. Foi uma campanha bonita, uma campanha limpa, de propostas, uma campanha politicamente densa. No entanto, enfrentamos uma máquina poderosa do Governo do Estado, que colocou o nosso Senador Lindbergh fora da disputa do segundo turno.
Mas não me arrependo da construção que lá fizemos, recuperando um campo à esquerda no Rio de Janeiro que há muito tempo não se constituía, que juntou o PCdoB, o PT, parte do PDT, o PSB e o PV. Essa construção há muitos anos não fazíamos no Rio de Janeiro. E é necessário que o Estado do Rio de Janeiro feche um ciclo de 16 anos de um mesmo grupo político, e que agora já consolida 8 anos com o PMDB.
O Rio de Janeiro é um Estado desigual, com profundos problemas de segurança, onde a saúde faliu, com uma educação desqualificada, onde a Baixada Fluminense é tratada como algo inferior, onde a vida das pessoas não é respeitada, onde os
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próprios projetos chamados inovadores daquele Governo não se sustentaram. Não conseguem dar conta nem desses projetos, e a população, apesar de querer mudança, não conseguiu superar o enfrentamento com a grande máquina assistencialista do Governo do Estado.
Tenho convicção do caminho que escolhemos. A Esquerda precisa avançar, porque é ela quem tem a história e a prática vinculadas ao movimento social, ao movimento popular, e é quem tem a agudeza de perceber as necessidades de superação das desigualdades do nosso Estado.
Quero parabenizar a sua garra, a sua determinação, a sua ousadia, a de Lindbergh Farias e a de todos nós que participamos daquela coligação até o último minuto, para garantir a presença do Senador Lindbergh no segundo turno.
Para finalizar, Deputada Benedita, quero deixar aqui os meus parabéns por sua reeleição e de todos os companheiros da coligação.
Agradeço, mais uma vez, aos eleitores que me trouxeram de volta ao Parlamento brasileiro para mais 4 anos de luta e de labuta aqui dentro. Tenham a certeza de que nós continuaremos batalhando e fazendo um trabalho para que o Governo Dilma avance mais nas reformas estruturantes, que incluem não apenas a reforma política e a reforma da
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comunicação, mas também a reforma urbana, a reforma agrária e a possibilidade de fazermos aqui uma tributação progressiva -‐ e não regressiva -‐ para ampliar a distribuição de renda neste País.
A saúde merecerá uma atenção especial da Presidenta Dilma, porque nós precisamos do financiamento dos 10% do Movimento Saúde+10 e da contribuição sobre grandes fortunas para a saúde. Precisamos avançar para as mulheres e para os jovens, garantindo a pluralidade e a diversidade brasileira, que dispensam discriminação e preconceito de etnia, de orientação sexual, de gênero ou de classe social, porque nós precisamos garantir que este Brasil seja isonômico no tratamento das políticas públicas.
Parabéns ao meu partido, PCdoB! Parabéns a todos aqueles que labutaram! E vamos à luta, na divergência de alto nível, sabendo que enfrentaremos uma guerra que não será limpa, porque temos conhecimento de como a grande mídia funciona e como os esquemas financeiros funcionam.
Vamos lutar! Tenho a convicção de que nós reelegeremos a Presidenta Dilma para continuar governando o Brasil.
Muito obrigada, Presidente.
Deputado João Ananias (PCdoB/CE), presidindo a sessão: Parabenizo a Deputada Jandira Feghali pelo
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belo pronunciamento. Ao mesmo tempo, parabenizo-‐a pela recondução da Líder do nosso Partido, o PCdoB, durante esse ano. V.Exa. foi reconduzida para mais um mandato, que, com certeza, exitoso será como tantos outros que exerceu.
Parabéns, Deputada Jandira Feghali, por toda a sua luta!
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DEZEMBRO
Nosso Pergaminho das
Admoestações*
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Há 13 anos, no nascer do século XXI, nosso país era vergonhosamente condenado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) por negligência no combate à violência de gênero. A invisibilidade das agressões só teve solução legislativa em 2006, com o surgimento do marco histórico que é a Lei Maria da Penha, contra todo tipo de agressão doméstica. Passados oito anos de lei em vigor, é chegado o momento do Brasil dar um gigantesco salto qualitativo neste campo.
Uma nação que registra um caso de agressão contra mulher a cada 15 segundos e que um milhão delas entram para as estatísticas de violência todo ano precisa levar a sério a legislação e suas demandas. De acordo com o relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional, os equipamentos públicos de atendimento às mulheres agredidas ainda são escassos.
A média de promotorias especializadas por estado é de 2,3, a de casas-‐abrigo 2,6 e juizados especiais de violência doméstica, criados na lei, 3,3. Uma media claramente insuficiente para atender a demanda das mulheres. As defensorias chegam a absurda quantia de uma unidade por federação e em Alagoas, o segundo estado onde mais se assassinam mulheres no Brasil, existem apenas três delegacias da mulher.
Os problemas também se avolumam onde há centros de atendimento. Na delegacia de Manaus, por
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exemplo, 4,5 mil inquéritos foram engavetados nos últimos anos pela falta de agentes suficientes. Em razão do acúmulo, muitos crimes acabaram sequer chegando à Justiça. É o que ocorre também em Minas Gerais, onde ao menos três juizados especializados contabilizam juntos 58 mil processos à espera dos olhos de um juiz.
É obrigação do Estado e dos cidadãos cumprir a lei. Introduzir na educação o respeito à mulher de maneira transversal nos currículos escolares, criar as estruturas no judiciário, colocar orçamento, garantir atendimento especializado no sistema de saúde, constituir os centros de referência, ampliar o número de delegacias da mulher, e particularmente manter as campanhas de prevenção. Esses são itens mínimos para coibir e para que os casos de violência doméstica contra a mulher tenham uma resposta adequada do poder público.
Ao Parlamento, já coube uma grande tarefa de alcance internacional, que foi aprovar a lei Maria da Penha, mas cabe ter a ousadia de avançar ainda mais. Aprovar o Projeto de Lei 7371/2014 que cria o Fundo Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, voltado para receber recursos do orçamento, doações, convênios e rendimentos para investir em políticas como assistência às vítimas, medidas pedagógicas e campanhas de prevenção; o PL 6239/2013, que torna crime de tortura a violência doméstica; o PL 6296/2013 que concede
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um auxílio-‐transitório da Previdência para mulheres em risco social provocado por violência doméstica e familiar.
É coerente com os avanços da sociedade no respeito à diversidade humana aprovar o PL 8032/2014, que traz para a lei a proteção aos transexuais e transgêneros que vivem e se identifiquem como mulheres e que sofrem dupla discriminação institucional.
O Brasil chegará em 2015 maior do que era em 2006 no que tange a proteção das vítimas de violência doméstica. E mais do que isso: com maior proteção e conscientização. Essa é uma grande conquista da lei Maria da Penha. É necessário registrar marcantes avanços. Milhares de vidas já foram salvas, muitas prisões em flagrante já foram realizadas, denúncias crescem e processos estão em andamento.
Ao contrário do que a famosa pintura chinesa de meados do primeiro milênio, conhecida por “Pergaminho das Admoestações” e que pretendia levar às mulheres daquela época uma mensagem de submissão e obediência, a Lei Maria da Penha se consolidou como a não aceitação da subalternidade. Mais do que uma bela pintura, a qual bastaria admirar e refletir, a realidade exige esforço e investimentos para atingir plenamente seus objetivos. Para isso, temos que agir hoje.
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*O artigo também é assinado pela biofarmacêutica Maria da Penha, que inspirou o nome da lei.
Nós e o Uruguai
A vitória presidencial de Tabaré Vasquez no Uruguai consolida o crescimento da oportuna e histórica
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coalizão de forças de esquerda no país vizinho. O oncologista de 74 anos, o primeiro a quebrar a hegemonia centenária da centro-‐direita em 2005, com a Frente Ampla, volta ao poder da nação, que se transforma gradualmente em vitrine progressista para todos nós, brasileiros, e mundo.
Os 3,4 milhões de uruguaios, hoje liderados pelo incansável e carismático José Pepe Mujica, dá mostras de que o ciclo de um governo à esquerda foi extremamente frutífero na consolidação da democracia e das bases constitucionais daquele país. Isso se revelou na aprovação de leis como a descriminalização do aborto, a legalização da maconha, o matrimônio igualitário e a adoção de crianças por casais homoafetivos. Um avanço considerável de ajustes sociais modernos, sem amarras conservadoras. Um exemplo de laicidade do Estado.
São conquistas como estas que instigam o Brasil, nação de limites geográficos extraordinários e com população 80 vezes maior. Nos permitem vislumbrar outras políticas sociais efetivas, além das iniciadas aqui por Lula e Dilma, com solidez.
O povo uruguaio, ao eleger novamente um governo de esquerda com maioria popular, deixa claro seu apoio a este projeto. Após tantos anos de gestões à direita, tal como aqui, com déficit econômico e medidas neoliberais radicais, como o corte de
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emprego, a mensagem expressa no resultado das urnas é de que a sociedade não admite retrocessos. No Brasil, vivemos recentemente esta disputa de projetos e também saiu vitorioso o mais avançado.
A maioria de nosso país rejeitou o projeto tucano, preferindo deixar no passado o arrocho e o fomento às desigualdades sociais. A reeleição de Dilma livrou o Brasil de um grupo ligado apenas aos interesses do capital financeiro. Ao contrário do que o ex-‐presidenciável tucano Aécio Neves disse recentemente, o povo brasileiro, na verdade, não elegeu uma organização criminosa, mas sim o projeto mais avançado.
Essa onda progressista da América Latina também levou-‐nos a vários governos avançados. Ela trouxe Bachelet de volta ao poder, quebrou governos neoliberais na Argentina e no Peru;, conseguiu avançar na Venezuela e avançou na Bolívia, com a reeleição de Evo Morales, o índio latino-‐americano que ninguém achava que iria se reeleger. Da mesma forma, ninguém achava que Mujica faria um sucessor pelas polêmicas estabelecidas, masque tiveram resultado no Uruguai.
A vitória de Dilma Rousseff no Brasil, como foi a de Lula, contribui e muito para que esse avanço da América Latina possa persistir, indo contra a quebra da integração latino-‐americana, contra a quebra da UNASUL e pela persistência do BRICS. Esse avanço
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regionalizado e de bloco vai contra a visão de bloco de setores imperialistas e que tentam dominar econômica e culturalmente o nosso País e as economias da América Latina, em especial da América do Sul.
Parabéns ao povo uruguaio! Parabéns, Vasquez e Mujica!
Os cães ladram
A vitória da presidenta Dilma Rousseff ainda soa como música fúnebre aos ouvidos da direita. Ao conquistar um pleito pela quarta vez com maioria
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popular no Brasil, o projeto à Esquerda sepulta mais uma vez a opção neoliberal. Sempre festejada pelas forças conservadoras e reacionárias, desta vez a direita esperneia onde e quando pode. Para evitar o inevitável ostracismo dos derrotados, há quem aposte no palanque diário, como o tucano Aécio Neves, ou no ódio, como todos os seus seguidores.
O que vem ocorrendo no Brasil é lamentável. Uma polarização ensandecida e fomentada quase que diariamente pelos partidos de oposição e a Grande Mídia interesseira e partidarizada. Ainda há personagens grotescos que disseminam raiva e intolerância aos quatro cantos, pregando o que há de mais baixo no debate de ideias, atacando mulheres parlamentares ou militantes de partidos e movimentos sociais. É o caso de pessoas como o escritor Olavo de Carvalho e movimentos virtuais minoritários, típicos de uma linha de pensamento fascista, repleta de crimes como ameaça de morte e incitação ao ódio, muitas das vezes erroneamente encobertados como liberdade de expressão.
Pela internet atacam instituições, a democracia, outros cidadãos e a política. Incitam a população de dentro de suas redomas a cometer crimes, a perseguir pessoas que pensam diferente, seja comunista ou não, por exemplo. Ataques virtuais como estes não serão tolerados por nós, parlamentares de esquerda e suas bancadas no
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Congresso Nacional. A devida resposta aos covardes virá da justiça.
Ainda que as ruas sejam ocupadas por uma minoria inexpressiva e sem representatividade alguma numa cidade ou outra, o Brasil está longe de aceitar a hipótese de um golpe contra a democracia ou o famigerado pedido de impeachment de Dilma. Estas poucas pessoas marcharão ressoando livremente suas ideias retrógradas, recalcadas na derrota do pleito presidencial, mas não verão nossa nação se curvar novamente a um modelo excludente e perpetuador das desigualdades.
Primeiro porque a sociedade não aceitará esse golpe. Os 51 milhões de brasileiros que optaram pela continuidade da presidenta rechaçam qualquer possibilidade de intervenção militar. Segundo porque há uma clara diferença entre o Governo Dilma e os investigados pela Polícia Federal na Operação Lava-‐Jato. Defendemos a investigação e prisão, mas confundir isto é querer enxergar os fatos nacionais de forma míope.
Gradualmente, a agressividade dos fascistas será devidamente recompensada com uma lufada de democracia. O Congresso chancelará o projeto que flexibiliza o superávit primário do governo federal e se preparará para renovar-‐se em 2015. A democracia seguirá firme, consolidando-‐se cada vez mais. Ainda que gritem e esperneiem “das galerias” ou “das
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marchas nas ruas”, o Brasil não aceitará o ódio. Muito menos ser representado por uma minoria golpista.
Felizmente, não passarão!
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HISTÓRIA
BIOGRAFIA
CRÉDITO: ENY MIRANDA
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Com 30 anos na luta política e seis mandatos concluídos (cinco como deputada federal e um estadual), Jandira é reconhecidamente uma grande liderança da esquerda brasileira. Esteve presente na luta pela Anistia, no ‘Diretas Já!’ e
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pelo fim do Regime Militar. Foi deputada constituinte da Alerj, esteve lado a lado com Lula, na eleição de 1989 e participou ativamente do “Fora, Collor!”. Sem dúvida, Jandira foi a maior liderança feminina da esquerda no combate ao projeto neoliberal do Brasil, contra as privatizações e o arrocho salarial da Era FHC.
Mãe e médica por formação, sua luta na defesa da população do Rio é intensa. Jandira é implacável no Congresso Nacional ao representar nosso estado, como aconteceu na defesa dos royalties do petróleo do Rio.
Jandira Feghali é parlamentar Ficha-‐Limpa, já foi considerada doze vezes pelo DIAP* uma dos 100 políticos mais influentes da Câmara dos Deputados e eleita três vezes consecutivas uma dos parlamentares que mais atuam no Congresso Nacional. Já foi secretária municipal de Cultura do Rio de Janeiro, secretária de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói, presidenta da Frente Parlamentar em Defesa da Cultura e a primeira presidenta da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados.
ATUAÇÃO
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Atual líder do PCdoB na Câmara dos Deputados (2014), Jandira Feghali é autora de inúmeras leis que beneficiam diretamente você. Foi relatora da Lei Maria da Penha, que combate a violência doméstica no Brasil e é considerada pela ONU uma das legislações mais modernas do mundo. Nos últimos 7 anos, 300 mil mulheres já foram salvas por conta desta lei.
Sua atuação também se destaca na Saúde. Defensora de um SUS universal, com melhor financiamento e que funcione com qualidade para todos, Jandira sempre lutou pela melhoria dos hospitais do Rio e as condições de trabalho de seus funcionários. É responsável pela emenda constitucional que assegura duplo vínculo a todos os profissionais de saúde, da lei que obriga os planos de saúde a realizar cirurgia reparadora de mama em casos de câncer e do fornecimento de bolsas coletoras aos pacientes ostomizados. Direitos garantidos por lei.
Pela Cultura, Jandira é autora da Lei Cultura Viva, que beneficia mais de 3 mil Pontos de Cultura e 8 milhões de brasileiros; esteve à frente da criação do Vale-‐Cultura, recurso extra ao trabalhador para ir ao teatro, cinema ou
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museu e a Nova Lei do Ecad, responsável por democratizar o repasse de direitos autorais a milhares de compositores de nosso país. Defendeu o Marco Civil da Internet e a emenda constitucional que isenta a produção de CDs e DVDs de artistas brasileiros, conhecida como PEC da Música.
Em outubro de 2014, foi eleita para o sexto mandato como deputada federal pelo Rio de Janeiro.