separar as peças - clipquick · quando não há reconciliação, a solução de-sejável é o...
TRANSCRIPT
No divórcio por mútuo consentimento, pode tratar da papelada e pagar os impostos
numa conservatória do registo civil. Na falta de acordo, a mediação familiar
é mais rápida e informal do que os tribunais
Separar as peças
abemO
casamento está em crise. Segun-do o Instituto Nacional de Esta-
tística, registaram-se cerca de
40 mil casamentos em 2009,quase menos 3 mil do que em
2008. Paralelamente, o número de divórcios
triplicou entre 1990 e 2009, com mais de 24mil, tanto em 2008 como em 2009. Estes pro-cessos põem fim a uma relação que durou, em
média, 14,8 anos. A proporção de separações
por mútuo consentimento tem aumentado.
Em outubro de 2008, foi eliminada a figu-ra do divórcio litigioso. No seu lugar, surgiuo divórcio sem consentimento de um dos
cônjuges. Antes, nestes casos, só era possíveldissolver o casamento devido a separação,ausência prolongada do cônjuge ou violaçãode um dos cinco deveres conjugais — respeito,
fidelidade, coabitação, cooperação e assistên-
cia. Atualmente, um cônjuge que pretendadivorciar-se sem o consentimento do outro
pode alegar simplesmente ter deixado de
gostar do companheiro. Basta que o motivo
comprometa a possibilidade de vida em co-
mum para ser aceite em tribunal.Em maio e junho de 2011, recolhemos a ex-
periência de quem se separou ou divorciou nos
últimos 10 anos ou ainda estava em processode divórcio. Lançámos um pedido de colabora-
ção no nosso portal, no Facebook e via newslet-
ter. No total, responderam-nos 191 portugue-ses. Embora a amostra não seja representativada população, permite identificar tendênciassobre o processo de divórcio no País.
Mais simples com consentimentoProblemas de relacionamento, deixar de
gostar do outro, infidelidade e dificuldades
financeiras são os principais motivos que le-varam os inquiridos a divorciar-se ou a sepa-rar-se nos últimos 10 anos. Em quase metade
dos casos, o casamento terminou após 10 ou
mais anos de vida em comum; em 21%, durou
menos de 5 anos.
Quando não há reconciliação, a solução de-
sejável é o divórcio por mútuo consentimento,até pela rapidez. Durou menos de 6 meses paratrês quartos dos inquiridos, enquanto cerca de
metade dos processos litigiosos se arrastaramdurante mais de 2 anos em tribunal. Além dis-
so, o processo por mútuo consentimento temmenos custos com advogados e não requer
audiências em tribunal, que desgastam a
família.
O ideal é que ambas as partes se entendam
quanto ao destino e uso da casa, responsabili-dades parentais dos filhos menores, pensão de
alimentos e relação de bens e valores comuns.
Podem então avançar para um processo pormútuo consentimento, via escolhida por 74%dos inquiridos. Caso não haja acordo em re-
lação a alguns destes aspetos, a mediação fa-miliar pode ser a solução antes de recorrer ao
tribunal. Mas só 1% optou por esta alternativa.
Num divórcio por mútuo consentimen-
to, os cônjuges não têm de indicar o motivo
que os leva a esta decisão, e o procedimentoé relativamente simples. Dirigem-se a umaconservatória do registo civil com balcão de
divórcios (quase todas têm) e fazem o pedido.Ao requerimento escrito e assinado pelos dois,
devem juntar:> acordo sobre o exercício das responsabi-lidades parentais a aprovar pelo MinistérioPúblico ou certidão da sentença de regulação
judicial relativa aos filhos menores (se existi-
rem). Este acordo especifica com quem ficama residir, o regime de visitas do outro proge-nitor, valor da pensão de alimentos e modo
como é paga;> acordo sobre a pensão de alimentos a pa-gar ao ex-cônjuge ou declaração de que os
cônjuges prescindem de alimentos;> acordo sobre o destino da casa da família;> certidão da convenção antenupcial, caso
haja;> lista com o valor dos bens comuns, incluin-do casa, veículos, hipotecas e empréstimos.
Se os ainda cônjuges conseguirem chegara acordo quanto à partilha dos bens, podemformalizá-la logo na conservatória.
Após a entrega do requerimento, os
? cônjuges são convocados para umaconferência. Confirmada a vontade de
se divorciarem e, desde que haja acordo em
relação a todos os aspetos da separação, é
decretado o divórcio.
A conservatória do registo civil cobra€ 250 pelo processo e € 250 pela partilha do
património conjugal e registo dos bens: se
houver mais de 5 imóveis, pede € 25 por cada
bem suplementar e € 20 adicionais por cada
bem móvel (carro ou mobília, por exemplo).Quem não tem meios está isento desde que
apresente um comprovativo da SegurançaSocial. Se as dificuldades financeiras só se
aplicarem a um dos elementos, o outro pagametade das despesas do processo.
Ministério Público protege menoresO divórcio é, geralmente, difícil para os filhos
menores. Metade dos pais que responderamao inquérito reconhecem que o processoafetou consideravelmente as crianças. Mas o
Advogados e diálogo tornam divórcio
"0 papel dos advogadosfoi importante,
peia paciência
e capacidade de mediar
conflitos resultantes
das divergências de
interesses. Sem isso,
o divórcio teria sido
certamente muito mais
doloroso e conflituoso"
Quando se divorciaram?Após 10 anos de casamento, no final de
2007. Foi uma decisão que levou meses
a ser tomada, pois não tínhamos a certezade que seria a melhor solução para ambos
e para as nossas filhas, na altura com 5
e 8 anos. Mas as nossas vidas começarama seguir rumos diferentes e acabámos poravançar. Contámos com a ajuda de uma
amiga advogada, que permitiu que
o processo decorresse o mais informal e o
menos conflituoso possível, procurandosempre respeitar os interesses de cada
um. Mais tarde, outra amiga advogadaajudou-nos com a partilha da casa: umpapel difícil, mas muito importante pelapaciência e capacidade de mediar conflitos
de interesses. Graças ao aconselhamento,
pudemos recorrer a um processo por mútuoconsentimento: pagámos € 250
na conservatória e ficou tudo resolvido emcerca de 4 meses.
A partilha dos bens e a guardadas filhas geraram conflitos?Embora as minhas filhas vivam comigo,as responsabilidades parentais são
partilhadas. Passam uma tarde por semanae dormem todas as sextas-feiras e umsábado sobre dois em casa do pai.
tempo atenua os problemas: no período quese seguiu ao divórcio, o número desceu para20% , ainda assim uma percentagem relevante.
Quando há filhos menores, a regulaçãodo poder paternal passa sempre pelo Minis-tério Público, que dispõe de 30 dias para se
pronunciar sobre o acordo. Caso considere
que os interesses das crianças não estão de-vidamente protegidos, indica as alteraçõesnecessárias. Redigido o novo acordo, este é
submetido a avaliação. Após 30 dias, se o Mi-nistério Público nada disser, o conservador
O PODER PATERNAL,VISITAS E PENSÕES
DOS FILHOS MENORES
SÃO APROVADOS
PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
marca a conferência e decreta o divórcio.
Embora a lei procure que as responsabi-lidades parentais se mantenham a cargo de
ambos os progenitores, persiste a tendênciade as crianças ficarem ao cuidado da mãe. As-
sim foi com 82% dos inquiridos, embora, emmetade dos casos, o pai partilhe das decisões
mais importantes. São poucos os casos de
menores entregues ao pai ou a viver altema-damente com o pai e com a mãe.
Sem consentimento,o tribunal decideNo divórcio sem consentimento, que substitui
o antigo divórcio litigioso, o cônjuge que pre-tende a dissolução do casamento deve alegar:> separação de facto durante um ano segui-do. Esta rutura não significa forçosamenteque o casal vive em locais diferentes; podehabitar a mesma casa, mas não partilha cama,nem refeições e não faz vida em conjun- ¦«to. A prova da separação de facto nestas »
menos dolorosoMas somos flexíveis. Às vezes, trocamos
dias, por conveniência. No verão, passam
15 dias de férias com o pai.Quanto à partilha dos bens, cada um ficou
com um carro e dividimos as mobílias
sem grandes desavenças. Mas têm surgido
alguns conflitos financeiros. O pai limita-se
a pagar uma pensão mensal pelas duas e
nunca houve aumentos. Passei a pagar o
empréstimo da casa sozinha desde o iníciode 2012, assim como o colégio, pois o paialega falta de recursos. Poderia iniciaruma
guerra em tribunal, mas provavelmenteseria muito dispendiosa e levaria anos,sem garantias. Tenho agora de trabalharmais para conseguir fazer face às despesas.
Felizmente, conto com o apoio da família
para as ir buscar à escola: por vezes, voltomuito tarde, pois tive de arranjar um
segundo emprego.
Como reagiram as criançasao divórcio?Foi doloroso. A adaptação à nova forma
familiar, aos novos ritmos (fica no pai, fica
na mãe, casa nova, parceiros novos, meios-
-irmãos), os medos de perder o amor do paiou da mãe, etc, tudo isso afeta as crianças.Ambas sofreram com o facto de o pai já não
estar em casa. Mas só nos apercebemosdisso posteriormente.
Foram acompanhadas por psicólogos e umadelas continua a ser. É preciso vincar muitobem que a separação diz respeito à relaçãodos pais e que nada tem a ver com a relaçãode amor com os filhos. É preciso manter essa
postura fielmente e de forma consistente,
promovendo a continuidade das relaçõescom toda a família dos dois lados, para queas crianças não percam a confiança no queé dito e nas relações. Apesar de a relação dos
pais ter terminado, as outras mantêm-se e
outras se iniciam. A experiência de estarem
também tanto na casa do pai, como da avó,
como da mãe, é hoje encarada naturalmente
e até com vivacidade.
Que conselhos daria a quem estejaem processo de divórcio?Pesar muito bem se é mesmo esse o passoa dar, pois, por vezes, só nos apercebemosdas reais dificuldades mais tarde. Quandonão há mais nada a fazer pela relação, a viado conflito só aumenta a dor e a destruiçãodo que resta. A paciência, o diálogo, o
ser capaz de ceder de parte a parte são
aspetos fundamentais. Nunca nos devemos
esquecer de que somos nós, os adultos, quedevemos fornecer apoio aos filhos e não o
contrário. Se for muito difícil gerir, a ajuda
psicológica e o aconselhamento jurídicoajudam a minimizar os danos do processo.
TUTELA PARTILHADA
Novas regras no IRS
do próximo ano
¦ Ate 2011, a tutela partilhadanâoestava contemplada no Código do
IRS, o que obrigava os pais separadosou divorciados a muita "ginástica",sobretudo quando só tinham um filho.Na prática, apenas um deles podiaapresentar despesas com o filho. A DECO
manifestou-se várias vezes para a
situação ser corrigida.
¦ Na declaração de IRS a entregar em2013, os pais que, por divórcio, separaçãojudicial de pessoas e bens, declaraçãode nulidade ou anulação do casamento,
partilhem as responsabilidadesrelativas aos filhos passam a deduziras despesas "ameias". Nestas incluem--se as deduções à coleta pessoalizantes,as relativas aos dependentes comdeficiência, prémios de seguros,
encargos de saúde, educação, com larese benefícios fiscais. Cada progenitordeduz os encargos que suportou com os
dependentes também a seu cargoaté 50% dos tetos máximos fixados.
a circunstâncias não é fácil, podendo ser
preciso recorrer a testemunhas;> ausência do outro cônjuge sem notíciasdurante mais de um ano;> deterioração das faculdades mentais do
outro cônjuge, que há mais de um ano com-
prometa a possibilidade de vida em comum;> outro facto que demonstre a rutura de-finitiva do casamento (por exemplo, teremdeixado de se amar).
O requerimento, onde consta o motivo do
pedido de dissolução, é entregue no Tribunalde Família ou, caso não exista, no Tribunal de
Comarca da residência daquele que instaura
a ação. Junte meios de prova e as certidões de
casamento e de nascimento dos filhos.O juiz marca uma data para a tentativa
de conciliação, obrigatória, ao contrário do
que sucede no divórcio por mútuo consen-timento. Se os cônjuges se reconciliarem,o processo extingue-se. Caso o juiz consigaobter o acordo dos cônjuges para mútuo con-
sentimento, segue os termos desta modalida-de. Tal sucedeu a 26% dos inquiridos, cujos
processos passaram de litigiosos para mútuoconsentimento. Quando não há conciliaçãonem acordo quanto aos termos do divórcio, o
processo segue para julgamento.A seguir à tentativa de conciliação, o côn-
juge contra quem foi instaurado o proces-so tem 30 dias para contestar por escrito.No julgamento, são apresentadas as provase ouvidas as testemunhas indicadas pelas
partes. Se um dos elementos discordar dadecisão do tribunal, pode recorrer da sen-
tença, primeiro para a Relação, depois, parao Supremo.
As questões patrimoniais, como o destinoda casa, são tratadas noutro processo — o in-ventário para partilha de bens comuns.
500 euros em advogadoEmbora não seja obrigatório recorrer a advo-
gado no divórcio por mútuo consentimento,a sua contratação pode ser aconselhável paragarantir a salvaguarda dos interesses das par-tes e dos filhos. Nos processos litigiosos, temsempre de o contratar. Cerca de três quartosdos inquiridos com processos por mútuoconsentimento ou litigioso contrataram ume cerca de 40% consideram-no útil. Quemficou insatisfeito critica o elevado custo, alentidão e a incompetência. Cerca de 35%denunciam o facto de este não ter passadorecibo dos honorários, o que é ilegal.Os inquiridos pagaram entre € 500 e
€ 2820 com advogados, valor a que é precisojuntar as custas judiciais.
Pensão para ajudar cônjuge e filhosQuase 20% das mulheres inquiridas recebem
pensão de alimentos. O valor médio ronda
Alternativa ao tribunalA mediação familiar é mais rápida e informai.
Custa 50 euros a cada elemento do casal
Que conflitos podem sermediados?> regulação, alteração e incumprimento doexercício das responsabilidades parentais;> divórcio ou separação de pessoas e bens;> reconciliação de cônjuges separados;> atribuição e alteração de pensõesde alimentos;> uso dos apelidos do outro cônjuge;> utilização da casa de morada da família.
Como pedir?Este serviço funciona em todo o País.
Qualquer dos cônjuges pode pedir a
sua intervenção contactando o Sistemade Mediação Familiar por mail (smf@
dgae.mj.pt) ou telefone (808 262 000).O Gabinete de Resolução Alternativa de
Litígios entra em contacto com ambos oselementos do casal para uma audiênciaindividual. Numa segunda fase, reúne-os
para uma audência conjunta.
Quanto tempo dura?As sessões de mediação não têm um prazodefinido. Duram, em média, 1 a 3 meses.
Para mais informações, consulte a páginado Gabinete para a Resolução Alternativade Conflitos (www.gral.mj.pt).
€ 200 mensais. Para apurar o direito à pen-são e seu montante, o tribunal considera, porexemplo, a duração do casamento, idade e es-
tado de saúde dos cônjuges, as suas qualifica-
ções e possibilidades de emprego. Quem pedea pensão não pode exigir a manutenção do
padrão de vida que tinha durante o matrimó-nio. Apensão é uma "ajuda"; cabe a cada um
garantir a sua subsistência após o divórcio.
Se houver filhos menores, o tribunal dá
prioridade à pensão de alimentos para estes.
Quase dois terços das mulheres inquiridas re-
cebem-na: em média, € 155 para uma criançaou € 250, quando há mais.
Para o bem e para o malCom o divórcio, cada cônjuge perde os be-nefícios a que tinha direito por casamento.Os cônjuges deixam de ser herdeiros um do
outro e, caso um venha a falecer durante
o processo, os seus herdeiros (pais, filhos)
prosseguem a ação, para evitar que aquele de
quem estava a divorciar-se herde bens.
Nas relações patrimoniais entre o casal, o di-vórcio tem efeitos desde o início do processo.
Significa isto que, nos regimes de comunhão
geral ou de bens adquiridos, os salários rece-
bidos por cada um passam a pertencer a cada
um em exclusivo. Porém, relativamente a ter-
ceiros, o divórcio só tem efeitos a partir da data
em que é registado, o que pode originar dívidas
comuns, mesmo depois de iniciado o processo.
¦ O divórcio por mútuo consentimento é mais
simples e rápido. Os cônjuges têm de estar de
acordo sobre as responsabilidades parentais,
prestação (ou não) de alimentos, destino da
casa, bens comuns e seu valor. Podem então
dirigir-se à conservatória do registo civil,
requerer o divórcio, tratar de toda a papeladae pagar eventuais impostos.
¦ Caso não haja acordo, o processo decorre
no tribunal, embora a mediação familiar sejauma alternativa.
¦ Uma vez decretado o divórcio, têm um ano
para atualizar o estado civil e o apelido no
cartão do cidadão, no passaporte e, se houver
mudança de residência, na própria carta de
condução. Para alterar a propriedade do carro,leve os documentos do veículo a um postode atendimento do Instituto da Mobilidade
e dos Transportes Terrestres ou a umaconservatória de registo automóvel.
Se tiver feito partilha, atualize o registo
predial da casa.
Empréstimo só para umPara manter a casa de família, os divorciados são
confrontados com aumento do spread, das garantias
e com a exigência de contratar novos produtos
Nummomento em que o número de di-
vórcios tem crescido, muitos casais em
separação debatem-se com a dificulda-de de encontrar uma solução para o créditoà habitação. Nalguns casos, é ponderada a
possibilidade de manterem o empréstimoem nome de ambos mesmo após o divórcio,
por exemplo, até venderem a casa. Mas, namaioria das vezes, a titularidade do créditoacaba por ser transferida para o cônjuge quefica com o imóvel, obrigando-o a alterar o
contrato.Temos recebido relatos de consumidores a
queixarem-se de os bancos aproveitarem esta
mudança na titularidade para encarecer o
crédito, nomeadamente através da subida do
spread. Tal reflete-se num aumento (muitas
vezes, substancial) dos encargos para o mem-bro do ex-casal que conserva o empréstimo.Não só passa a ser o único a suportar a pres-
tação antes paga a meias, como a vê agravada- cenário particularmente difícil dada a atual
conjuntura.Numa destas situações está o nosso asso-
ciado Rui Belo Lopes, 39 anos, de Sintra. Mais
de 2 anos depois de decretado o divórcio e
sem chegar a acordo com o banco, mantémo crédito à habitação com a ex-mulher. "Será
difícil pagar sozinho a prestação, sobretu-do com a subida substancial do spread e a
exigência de contratar outros produtos",contou-nos.
Em 2006, Rui Belo Lopes contraiu um cré-
dito à habitação no Montepio. O spread era de
0,8%, mas foi mais tarde revisto para 0,3 porcento. Em meados de 2009, na sequência do
divórcio, o associado decidiu ficar com a casa.
Em novembro, obteve a certidão de divórcio,alterou o imóvel para o seu nome no registo
predial e contactou o banco para alterar o
contrato do crédito. Em abril de 2010, o Mon-
tepio fez-lhe uma proposta que implicava a
subida do spreaã para 1,25%, bem como a
contratação de outros produtos (por exem-
plo, um seguro).Por considerar a proposta pouco interes-
sante, não a aceitou de imediato. Mas, ao fimde alguns meses, concluiu que não obteriaoutra mais vantajosa e voltou ao banco paraa aceitar. Este alegou que a proposta caducara
e que seria necessário reavaliar o caso. Como
o documento não mencionava o prazo de
validade, a advogada do associado pediu, ao
longo de vários meses, ao Montepio que jus-tificasse a sua posição. Mas em vão. In- mmsatisfeito, Rui Belo Lopes contactou-nos Ui
? no início deste ano. Aconselhámo-lo a
reportar o ocorrido ao Banco de Portu-
gal, entidade supervisora do setor bancário.
Assim o fez, mas até ao fecho desta edição
ainda não recebera resposta.Sem muitas esperanças de obter um des-
fecho favorável, o associado disse-nos não
compreender a posição das instituições
bancárias que agravam vertiginosamente os
spreads. "O banco não está a minimizar o ris-
co associado ao crédito, antes pelo contrário.
O risco de incumprimento é maior. O Mon-
tepio nunca propôs, por exemplo, incluir umfiador ou outro titular no contrato, essas sim,medidas que poderiam baixar o risco".
Alertados por consumidores como Rui Belo
Lopes, decidimos averiguar a posição dos
bancos perante divorciados que pretendammanter sozinhos ou com o ex-cônjuge o cré-dito da antiga casa de família. Em fevereiro,questionámos as instituições que operam nomercado do crédito à habitação em Portugal.Obtivemos 14 respostas. Só o Banco BIC, BPN,
Cajá Duero, CGD e Deutsche Bank não cola-
boraram connosco.
Separados mas a partilhar o créditoManter o contrato com dois titulares, mesmo
que temporariamente, é uma opção cada vezmais recorrente. Numa fase inicial, os ex-côn-
juges são muitas vezes obrigados a continuara partilhar a casa, por não terem condiçõesfinanceiras para prosseguir vida em separado.
Em quase todos os bancos consultadosé possível conservar o crédito em nome de
DE 1% PARA 5% DE SPREAD
PRESTAÇÃO DA CASA SOBE 235 EUROS
* Crédito à habitação de 100 mil euros, 30 anos, Euribor 6 meses (média de fevereiro), spread inicial
de 1% e prestação de 387,11 euros. Simulámos o aumento da mensalidade com o spread agravado
Vender metade da casa ao "cx"Declare o negócio no anexo G, Se usar o ganho para comprar outra habitação,não paga imposto
Quemse separa não precisa de informar
o Fisco. Mas, se quiser, basta indicá-lono quadro 6 do modelo 3 na primei-
ra declaração de IRS que entregar após a
separação.Os cônjuges separados de facto, mas ainda
não divorciados, podem fazer a entrega con-
junta ou separada. Se optar por preencher emseparado, regra geral, só tem direito a metadedos tetos da generalidade das deduções.
Informar o patrãoOs trabalhadores por conta de outrem quese divorciem devem comunicar essa alte-ração tão cedo quanto possível à entidade
empregadora.É possível que a taxa de retenção na fonte a
aplicarão ordenado seja atualizada, pois está
dependente do estado civil do contribuinte,da composição do agregado, do vencimentomensal e de o trabalhador ou algum elemen-to do agregado familiar ter (ou não) um graude invalidez permanente igual ou superior a
60 por cento.
Deduzir a pensão no I RSQuando há filhos menores e a tutela fica a
cargo de um só progenitor, é recorrente o
outro ter de pagar uma pensão de alimentosfixada por tribunal ou acordo homologado.Quem paga pode deduzir no IRS até 20%,com o limite mensal de 419,22 euros. Mesmo
que pague mais, o fisco só aceita o montanteacordado. Indique-o no campo 601 do quadro6 do anexo H.
Embora a sentença ou o acordo prevejama atualização anual da pensão (por exem-plo, consoante a taxa de inflação publicadatodos os anos pelo Instituto Nacional de
Estatística), o contribuinte pode querer pa-gar mais. Para este aumento voluntário dovalor da pensão ser reconhecido, tem de ser
homologado.Já um pai que pague uma pensão de ali-
mentos a um filho que é seu dependentepara efeitos fiscais (ou seja, o filho faz partedo agregado do pai e este deduz as despesasde saúde ou educação da criança), não podedeclarar a pensão no IRS.
ambos sem alterar as condições iniciais. Só o
BES e o Banco Best exigem a atualização do
contrato com o novo estado civil e verificam
se existem fatores que aumentem o risco.
Se for o caso, o contrato pode ser revisto.
Mais risco, mais spreadTransferir o crédito para o nome do elemento
do casal que fica com a casa é a situação mais
comum, mas também a mais problemática.
Segundo as instituições contactadas, é preci-so avaliar o risco associado à nova realidade.
Podem até nem aceitar a eliminação de umdos titulares se considerarem que o risco daí
resultante é demasiado alto.
Se não houver entraves à saída de um titu-lar, todos os bancos revêem as condições do
contrato caso a nova avaliação de risco assim
o exija. Activoßank, Novagalicia Banco, Ban-
co Big e Millennium bcp admitem mesmo queas condições iniciais são sempre alteradas.
Só o Barclays é exceção: desde que a avaliaçãodo risco comporte a saída do titular, não há
motivo para alterações.No Millennium bcp, Activoßank, Novaga-
licia Banco, Banco Big, Banco Popular, BBVA,
Banif, Crédito Agrícola e Montepio, além do
agravamento do spread, as garantias podemter de ser reforçadas. O BPI também reava-
lia as garantias e, se necessário, exige o seu
reforço, por exemplo, com a inclusão de umfiador. Pode considerar outras alternativas,como acordar um novo prazo para o emprés-timo. Os clientes do Santander Totta também
podem contar com a subida do spread de base
para valores próximos dos praticados paraquem vai contratar agora.
No BES e no Banco Best, depende do cliente
e do risco da operação. Se houver interesse da
instituição e pouco risco do cliente, as condi-
ções iniciais até se podem manter.
Limites à escalada de spreads
¦ Quem se divorcia fica
quase sempre numa situaçãofinanceira fragilizada, queé ainda penalizada pela
conjuntura económica.
Nestes casos, o agravamentodas condições do crédito da
casa, devido à saída de umdos titulares — com a subida
em flecha do spread —, pode
até resultar em novos casos
de sobre-endividamento.
¦ Nestas situações, é
imperativo fixar limitesàs alterações contratuais
impostas pelos bancos,sobretudo quando sai umdos titulares. Dado que estas
instituições justificam a
alteração das condiçõescom o aumento do risco
do empréstimo, deveriamconsiderar garantiasalternativas. A inclusão de
um novo titular ou fiador,
por exemplo, podem sersuficientes para que o nívelde risco inicial seja mantido,deixando de haver motivo
para as condições contratuais
serem agravadas. Mesmo
que o sejam, têm de respeitarcertos limites. Ja enviámos
cartas ao Banco de, Portugale ao Governo a alertar paraesta nova realidade social.
O cônjuge que recebe uma pensão de ali-mentos em seu nome ou no de um depen-dente tem de declará-la como rendimento da
categoria H, no quadro 4 do anexo A, com o
código 406. Os valores até € 4104 anuais não
pagam imposto; aos montantes superiores, é
aplicada a taxa correspondente à totalidade
dos rendimentos.
Proteja-se de dívidas fiscais alheiasAs dívidas fiscais, mesmo que só pertençama um dos cônjuges, são da responsabilida-de de ambos se contraídas no período em
que entregaram a declaração em conjunto.Para evitar responder por uma dívida de IRS
que não é sua, submeta a declaração em se-
parado. Se houver filhos, consulte as novas
regras da tutela partilhada na pág. 11.
O facto de um contribuinte estar sepa-rado só tem relevância para o Fisco se tiver
entregado a declaração de rendimentos em
separado. Caso não o faça, só deixa de ser res-
ponsável pelas dívidas fiscais do ex-cônjuge
quando for decretado o divórcio. Assim, se
os ex-cônjuges não entregarem declarações
separadas, relativamente aos anos em que o
imposto é devido, há uma responsabilidadesolidária pelo seu pagamento. Na prática,como ainda existe um vínculo conjugal, as
Finanças tanto podem exigir de um como do
outro o pagamento de impostos em atraso. ¦
MAIS-VALIAS
Declarar a transação ao fisco
¦ Há várias implicações fiscais quando um dos ex-cônjuges vende a sua parte da casa
ao outro. Embora esta transação esteja isenta de imposto municipal sobre transmissões
onerosas de imóveis (IMT), o mesmo não acontece em relação ao imposto municipalsobre imóveis (1MI). Mais: quem vende tem úe declarar onegócio na declaração de IRS.
¦ À partida, o novo proprietário teria de pedir a reavaliação do imóvel, se este tivessesido comprado pelo casal antes de 2004, Porém, este ano, todo o património imobiliárioanterior a essa data está a ser avaliado pelo Estado segundo as novas regras do IMI.
Logo, não precisa de solicitar a reavaliação.
¦ Quem vende a sua parte da casa declara a transação no anexo G e assinala a quota-parte (%) na coluna da contitularidade. No quadro 4, inscreve a percentagem referente ao
valor de venda ("de realização", nos impressos) e de aquisição que lhe cabe.
¦ Exemplo: o Rui e a Ana separaram-se, e o Rui vendeu a sua parte, em 2012, por 50 mileuros. A casa fora comprada por ambos em partes iguais (50%) ppr 100 mil euros.
Então, o Rui inscreve 50 mil euros no quadro 4 do anexo G e, na coluna da contitularidade,a percentagem que detinha no imóvel: 50 por cento. 0 Rui pode reinvestir a mais-valia,desde que a casa fosse a sua habitação própria e permanente, e o ganho seja reinvestido,no prazo de 3 anos, noutra habitação própria e permanente.