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Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 SENSORIAMENTO REMOTO PARA DIAGNÓSTICO, MONITORAMENTO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL DO BIOMA PAMPA Alexandre André Feil 1 Virgílio José Strasburg 2 Iara Regina Chaves 3 Malisia Balestrin Lazzari 4 Resumo: O Brasil possui em sua extensa área territorial, espaços naturais com particularidades e riqueza de recursos hídricos, de fauna e de flora. Existem seis desses espaços caracterizados pelo IBAMA como biomas: a Amazônia, o Cerrado, a Caatinga, a Mata Atlântica, o Pantanal e o Pampa. Desses, o Pampa é o único bioma brasileiro restrito a um único estado o Rio Grande do Sul e ocupa 63% de sua área. Seu ecossistema é campestre com predomínio de vegetação gramínea e alguns arbustos dispersos. No entanto nos últimos anos vêm sofrendo enorme pressão pela desenfreada expansão das monoculturas e das pastagens com a introdução de espécies exóticas. Isso tem levado a uma rápida degradação do solo e descaracterização das paisagens naturais e empobrecimento desse bioma, comprometendo o potencial de desenvolvimento sustentável da região. A utilização da tecnologia de sensoriamento remoto ou geoprocessamento aplicada geograficamente no espaço do bioma Pampa têm oferecido elementos que permitem o monitoramento ambiental dessa área viabilizando assim, as informações necessárias para subsidiar ações de planejamento, desenvolvimento e intervenção na detecção de mudanças ocorridas na paisagem. Palavras-chave: Bioma Pampa; Sensoriamento Remoto; Monitoramento Ambiental; Desenvolvimento Regional; Espécies Exóticas. 1. Introdução Hodiernamente, observamos grande utilização das técnicas de geoprocessamento, tanto por cientistas e pesquisadores quanto por organizações fiscalizadoras, principalmente quando se trata de espaço, ou seja, abrangência de grande espectro de espaçamento e/ou área abrangida. Esta ferramenta gradualmente avança para a geração de informações, armazenamento e análise. Para a finalidade de detecção do tipo de uso e coberturas de solos, preocupações ambientais, análise das questões sociais e as mudanças climáticas de grandes áreas terrestres, o sensoriamento apresenta importantes avanços metodológicos. 1 Docente na Univates e Doutorando em Qualidade Ambiental pela Universidade Feevale. E-mail: [email protected] 2 Docente na UFRGS e doutorando na Universidade Feevale. E-mail: [email protected] 3 Doutoranda em Qualidade Ambiental pela Universidade Feevale. E-mail: [email protected] 4 Mestranda em Qualidade Ambiental pela Universidade Feevale. E-mail: [email protected]

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Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional

Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013

SENSORIAMENTO REMOTO PARA DIAGNÓSTICO, MONITORAMENTO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

DO BIOMA PAMPA

Alexandre André Feil1 Virgílio José Strasburg2

Iara Regina Chaves3 Malisia Balestrin Lazzari4

Resumo: O Brasil possui em sua extensa área territorial, espaços naturais com

particularidades e riqueza de recursos hídricos, de fauna e de flora. Existem seis desses espaços caracterizados pelo IBAMA como biomas: a Amazônia, o Cerrado, a Caatinga, a Mata Atlântica, o Pantanal e o Pampa. Desses, o Pampa é o único bioma brasileiro restrito a um único estado – o Rio Grande do Sul – e ocupa 63% de sua área. Seu ecossistema é campestre com predomínio de vegetação gramínea e alguns arbustos dispersos. No entanto nos últimos anos vêm sofrendo enorme pressão pela desenfreada expansão das monoculturas e das pastagens com a introdução de espécies exóticas. Isso tem levado a uma rápida degradação do solo e descaracterização das paisagens naturais e empobrecimento desse bioma, comprometendo o potencial de desenvolvimento sustentável da região. A utilização da tecnologia de sensoriamento remoto ou geoprocessamento aplicada geograficamente no espaço do bioma Pampa têm oferecido elementos que permitem o monitoramento ambiental dessa área viabilizando assim, as informações necessárias para subsidiar ações de planejamento, desenvolvimento e intervenção na detecção de mudanças ocorridas na paisagem. Palavras-chave: Bioma Pampa; Sensoriamento Remoto; Monitoramento Ambiental; Desenvolvimento Regional; Espécies Exóticas.

1. Introdução

Hodiernamente, observamos grande utilização das técnicas de

geoprocessamento, tanto por cientistas e pesquisadores quanto por organizações

fiscalizadoras, principalmente quando se trata de espaço, ou seja, abrangência de grande espectro de espaçamento e/ou área abrangida. Esta ferramenta gradualmente avança para a geração de informações, armazenamento e análise. Para a finalidade de detecção do tipo de uso e coberturas de solos, preocupações ambientais, análise das questões sociais e as

mudanças climáticas de grandes áreas terrestres, o sensoriamento apresenta importantes

avanços metodológicos.

1 Docente na Univates e Doutorando em Qualidade Ambiental pela Universidade Feevale. E-mail:

[email protected]

2 Docente na UFRGS e doutorando na Universidade Feevale. E-mail: [email protected]

3 Doutoranda em Qualidade Ambiental pela Universidade Feevale. E-mail: [email protected]

4 Mestranda em Qualidade Ambiental pela Universidade Feevale. E-mail: [email protected]

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Neste sentido o tema deste estudo é sensoriamento remoto ou geoprocessamento para diagnosticar e monitorar o Bioma Pampa. O estudo delimita-se exclusivamente a esse bioma localizado no estado do Rio Grande do Sul. O alicerce central é investigar a importância e as argumentações do sensoriamento remoto utilizado para diagnosticar e monitorar o Bioma Pampa. Para isto, os alicerces secundários consistem em: a) revisar as pesquisas e publicações realizadas frente ao sensoriamento remoto utilizado em biomas; b) caracterizar o bioma pampa antes e depois da introdução da monocultora de espécies arbóreas; c) Identificar e analisar possíveis impactos causados no cenário atual em função da introdução das espécies arbóreas; e d) destacar como o sensoriamento remoto contribuiria para diagnosticar e monitorar os efeitos ambientais provocados pela ação humana nesse bioma.

Este estudo justifica-se, pela grande importância do Bioma Pampa ao ecossistema

do Sul do Brasil, e em função do desinteresse a este pelos organismos de proteção

ambiental brasileira a cerca do assunto. Umas das particularidades existentes no país e

inclusive no mundo é que há uma preocupação muito grande de áreas degradadas, buscando remediar o dano causado, quando o mais sensato deveria ser a preocupação de não permitir que estas áreas fossem degradadas, tutelando e protegendo áreas como o

bioma pampa que está em plena fase de agressão ambiental. Em função de sua extensão o referido bioma apresenta uma área aproximada de 177.767 Km2 ocupando 63% da área total

do estado do Rio Grande do Sul. Nesta lógica, vê-se uma sinalização da problemática que

vem ao encontro da pergunta: A ferramenta sensoriamento remoto ou geoprocessamento de dados tem a possibilidade de mensurar a exploração irregular do bioma pampa e o avanço de sua degradação ambiental?

Ao encontro da problematização e da justificativa vem à relevância que o Bioma Pampa exerce sobre o equilíbrio do ecossistema da América do Sul e quiçá ao ecossistema global.

2. Materiais e Métodos

O presente trata-se de um estudo de revisão sobre o Bioma Pampa localizado no Rio Grande do Sul, e para melhor entendimento foi estruturado em 3 etapas:

1) A Etapa da caracterização do Bioma Pampa foi realizada através de um estudo bibliográfico e descritivo, utilizando-se as principais fontes de referências oficiais e artigos científicos descrevendo a situação atual quanto à biodiversidade do bioma.

2) Esta etapa consistiu em fazer uma análise de avaliação do Bioma Pampa à partir de dois cenários. O primeiro foi relacionado ao ano de 2004 no qual foram utilizados dados secundários de pesquisas de mapeamento da vegetação do Bioma Pampa com a utilização de 22 imagens do satélite Landsat 5 TM e 7ETM+ e as classes do uso do solo obtidas pela interpretação de imagens do Software Carta Linux realizadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) (MMA et al., 2007). O segundo cenário, referente ao ano de 2009, foi obtido de dados secundários do IBAMA e MMA (2011) que utilizou 163 imagens digitais (111 imagens do CBERS-2B CCD e 52 do Landsat 5TM), e que fez a identificação e classificação das áreas do Bioma Pampa com o auxilio do Software Arc Map à partir da detecção visual.

3) Nesta etapa foi realizada uma descrição utilizando fontes bibliográficas com dados sobre a importância da utilização do sensoriamento remoto como base para o

diagnóstico e monitoramento com base na avaliação dos resultados da comparação dos estudos do período entre 2004 e 2009 no Bioma Pampa.

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Após elaborar estas etapas foi realizada uma análise da importância do

sensoriamento na utilização para diagnóstico e monitoramento do Bioma Pampa, e as

principais contribuições que proporciona para o desenvolvimento e a preservação do bioma.

3. Caracterização do Bioma Pampa

O Bioma Pampa representa um dos seis biomas brasileiros, juntamente com a Amazônia, o Cerrado, a Caatinga, a Mata Atlântica e o Pantanal (Gráfico 1) (MMA, 2007). Os biomas são regiões de biodiversidade própria, principalmente pela fisionomia da vegetação nativa e, com base no Gráfico 1, o bioma pampa é o penúltimo bioma em área abrangida no Brasil, com aproximadamente 177.767 Km2, representando 2,07% da área total do país, e em último lugar está o Bioma Pantanal representando 1,76% em relação à área total do país.

Gráfico 1 – Área de cada Bioma brasileiro em Km2 e em percentual.

Fonte: Gráfico elaborado pelos próprios autores, com base nas informações do IBGE (2004).

O Bioma Pampa (campos sulinos ou “pampas”, termo indígena que significa região plana) localiza-se no extremo sul do Brasil e se estende até o Uruguai e a Argentina, é o único bioma brasileiro restrito a uma única unidade federativa, a do Rio Grande do Sul (Figura 1) (MMA, 2007).

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Figura 1: Localização e distribuição geográfica do bioma Pampa no sul do Brasil.

Fonte: Santos e Silva (2011, pg. 50)

O Bioma Pampa se caracteriza pelo predomínio de campos nativos, e também de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, butiazais, afloramentos rochosos, entre outros. Seu ecossistema é campestre com predomínio de vegetação gramínea e alguns arbustos dispersos. A vegetação mais densa, composta por árvores, localiza-se nos arredores dos cursos d'água e nas encostas de planaltos, assim como os banhados, áreas alagadas que se distribuem próximas ao litoral (IBAMA & MMA, 2011).

Considerado uma das áreas de campos temperados com maior significância globalmente, o clima da região é caracterizado como subtropical, com grande amplitude térmica, ou seja, ocorrência de geadas e neve em algumas regiões durante o inverno e temperatura chegando a 35ºC no verão. Em relação à precipitação, gira em torno de 1.200mm anuais com pouca variação sazonal (IBAMA & MMA, 2011).

O bioma pampa é um conjunto de ecossistemas muito antigos, e apresenta a flora e fauna de enorme biodiversidade, entretanto muitas espécies ainda não foram catalogadas pela ciência. Porém, há estimativas de 3000 espécies de plantas, e segundo dados do MMA (2013), existem mais de 450 espécies de gramíneas (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode, cabelos-de-porco, dentre outras), em torno de 150 espécies de leguminosas (babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo) e 70 espécies de cactáceas. Já entre as espécies vegetais típicas, destaca-se o Algarrobo (Prosopis algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana) arbusto que unicamente encontra-se no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí - RS.

A fauna do Bioma pampa é composta por aproximadamente 500 espécies de aves, onde evidencia-se a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o quero-quero (Vanellus chilensis), o caminheiro-de-espora (Anthus correndera), o joão-de-barro (Furnarius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus saturninus) e o pica-pau do campo (Colaptes campestres). Há também mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, entre os quais o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja), o tatu-

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mulita (Dasypus hybridus), o preá (Cavia aperea) e várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp.). Além destas espécies também abriga muitas espécies endêmicas, como o tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), o beija-flor-de-barba-azul (Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) e as ameaçadas de extinção tais como o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), o caboclinho-de-barriga-verde (Sporophila hypoxantha) e o picapauzinho-chorão (Picoides mixtus) (MMA, 2013).

Conforme IBAMA e MMA (2011), o bioma pampa é considerado um patrimônio natural, genético e cultural nacional e global, e também cobre grande parte do Aquífero Guarani. Entretanto, vem sofrendo enorme pressão pela introdução desenfreada de espécies arbóreas exóticas, modificando e impactando seu cenário original.

4. Análise do Cenário Anterior e do Cenário Atual do Bioma Pampa em Relação à Introdução de Espécies Arbóreas

Na figura 2 é apresentado o mapa da cobertura do Bioma Pampa em 2004, enquanto no gráfico 2 é possível identificar três tipos de formações vegetais: a campestre, que representa 23,03% da área total do Bioma Pampa, a Florestal, que representa 5,38% da área total do Bioma e a área de Transição, com 12,91% , e as áreas de uso antrópico é representada por 48,7% da área total do Bioma. A classe de água representa 9,98%, desta área. Dos números apresentados 41,32% representa a área total do Bioma Pampa com sua cobertura vegetal original, e 58,68% de área modificada por algum tipo de uso antrópico (MMA, 2013).

Figura 2: Mapeamento pelo sensoriamento remoto do bioma Pampa em 2004

Legenda

Campestre

Florestal

Transição

Água

Antrópico Rural

Antrópico Urbano

Fonte: Adaptado de (MMA et al., 2007)

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Gráfico 2 – Características do Uso do Solo do Bioma Pampa em 2004.

Fonte: Gráfico elaborado pelos próprios autores, com base nas informações do (MMA et al., 2007).

Apesar desta riqueza, o bioma pampa apresenta menor representatividade no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), pois menos de 0,5% de sua área é protegida por Unidades de Conservação. A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado a uma rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do Bioma Pampa, comprometendo o potencial de desenvolvimento sustentável da região, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2007). Pelas estimativas realizadas, a perda do hábitat natural em 2002 era de 41,32% e em 2008, 36,03%, significando a supressão de 2.183 km², entretanto no período de 2008 a 2009 a supressão apresentou um menor avanço, com 331 km² equivalente a 0,18% (IBAMA & MMA, 2011).

Historicamente, a exploração de grande parte do Bioma Pampa é realizada pela pecuária (colonização ibérica), que apresenta grande resultado econômico e, além disto, conserva os campos nativos. Recentemente o bioma pampa vem apresentando uma invasão da plantação de eucalipto e acácia, e, segundo Feil et al. (2011), o retorno econômico para a região é menor em relação à exploração da pecuária e ainda apresenta maior degradação ambiental do Bioma Pampa.

O bioma pampa, de acordo com Sell e Figueiró (2011) é visto como sendo a parte “pobre” do Rio Grande do Sul, neste sentido, o modelo de desenvolvimento que está sendo empregado é o agroexportador baseado no latifúndio monocultor, através da implantação de vastas áreas de silvicultura e a introdução de espécies exóticas de pinus, eucalipto e acácia, pela região. Este bioma apresenta os fatores potenciais para o rápido crescimento da silvicultura, que são o baixo preço da terra e da mão-de-obra, somados aos abundantes subsídios, tendo como resultante madeira a um baixo custo. Entretanto, a introdução da silvicultura (arbóreas exóticas) não devolve a biodiversidade, pois não são consistentes com o habitat natural existente no bioma pampa (SELL; FIGUEIRÓ, 2011).

Para Santos e Silva (2011) à medida que os campos, as matas nativas e os solos agrícolas são invadidos por plantações de espécies exóticas, os resultados se traduzem em empobrecimento, degradação ambiental e perda da própria identidade cultural regional.

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Boldrin (2010) e MMA (2007) também alertam para o processo de arenização na

região do bioma pampa, que consiste no processo de retirada de cobertura vegetal em solos arenosos, em regiões de clima úmido. O solo na região de Alegrete – RS, por exemplo, é arenoso, que inspira cuidados no manejo em função da erosão e da desertificação (MMA, 2007). Este problema se intensificou com a mobilização intensa de máquinas agrícolas nos solos, excessivo pisoteio do gado e a expansão da soja sobre o solo frágil.

As lavouras de árvores introduzidas trazem interferências para o meio natural local, principalmente por burlar a legislação ambiental e as leis da própria natureza através do modo de plantio. Por ser uma área de declividade acentuada, seria necessário o plantio em curvas de nível, o que certamente diminuiria a perda de solo por erosão e/ou lixiviação. Passado o corte/colheita, as grandes áreas ficam expostas às ações da água e do vento, aumentando ainda mais o processo erosivo. Estas áreas de plantio necessitam de mais água em relação à vegetação nativa, o que acaba reduzindo o fluxo das águas e a vazão dos rios. As lavouras ocupam topos de morros, encostas dos arroios e rios e até mesmo as estradas (SELL; FIGUEIRÓ, 2011).

Observa-se também alteração na dinâmica natural das espécies e esta interfere com no habitat de muitos animais que deixam a mata nativa, acuados, e acabam invadindo as propriedades da região. Além da fauna, algumas espécies da flora que se encontram nas áreas de plantio dessas árvores, estão ameaçadas de extinção, tais como aroeirão, pinheiro-brasileiro, butiá, canela amarela, etc. Outra característica que está muito presente é a fumaça, tanto a oriunda da queima da madeira para produção do carvão, quanto da queima dos galhos e restos das árvores que não tem aproveitamento comercial (SELL; FIGUEIRÓ, 2011). A Campanha Gaúcha e a Fronteira Oeste vêm se consolidando nos últimos anos como referência na produção da uva de alta qualidade para a fabricação de vinhos finos. Os produtores são impulsionados pelo programa “Juntos Para Competir”, desenvolvido pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Rio Grande do Sul (Sebrae/RS) – por meio do Projeto Pólo de Fruticultura do Pampa Gaúcho –, pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). O crescimento da área de silvicultura plantada no estado cresceu de 360 mil hectares em 2002, para 563 mil no ano de 2010. É importante ressaltar que a silvicultura, por tratar-se de um modelo de monocultura que descaracteriza o Bioma Pampa, também causa a degradação do solo (CARNEIRO et al. 2012). A descaracterização da imagem cênica natural do bioma pampa pela introdução de arbóreas exóticas (Figura 2) pode causar enormes impactos hídricos, pois as arbóreas consomem pelos menos 30L de água por dia, neste sentido, podem drenar a água dos lençóis freáticos, principalmente em regiões de solo raso, em que a água subterrânea se encontra próxima à superfície, como é o caso do bioma pampa (JOBBÁGY et al. 2006).

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Figura 3: Mapeamento pelo sensoriamento remoto do bioma Pampa em 2009.

Legenda

Vegetação Nativa

Área Antrópica

Água

Fonte: Adaptado de IBAMA e MMA (2011).

Gráfico 3 - Características do Uso do Solo do Bioma Pampa em 2009.

Fonte: Elaborado pelos próprios autores, com base nas informações do IBAMA e MMA (2011).

Atualmente, a vegetação campestre original já foi descaracterizada em torno de 51%

( 64.000 km²) pela ação antrópica para urbanização e atividades econômicas (HASENACK et al., 2007). Para Boldrini et al. (2010), a vegetação, o solo, as condições geológicas e geomorfológicas, os aspectos hidrológicos e a ordem climática tornam o território não homogêneo. Desta forma, é importante a realização de estudos para compreender as atividades econômicas que poderiam ser compatíveis e não degradantes ao bioma local. Overbeck et al. (2007), destaca que a falta de conhecimento básico sobre a biodiversidade

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dos campos nativos e o baixo número de áreas efetivamente protegidas em Unidades de Conservação, torna o Bioma Pampa negligenciado, quando comparado aos outros cinco biomas brasileiros. Em análise da comparação do cenário do Bioma Pampa em 2004 (Gráfico 2) com o cenário em 2009 (Gráfico 3), percebe-se uma expansão antropizada, principalmente por monoculturas de pastagens de espécies exóticas e pela introdução de espécies arbóreas exóticas, um avanço de 13,48%, representando aproximadamente 9.930 Km2. Destaca-se também que, neste período de 5 anos, a vegetação nativa (florestal, campestre e de transição) encolheu, dando espaço às áreas antropizadas em aproximadamente 9.930 Km2, sendo que a área ocupada pela água se manteve estável neste período de análise.

Gráfico 4 – Comparativo das características do comportamento da vegetação nativa e das áreas antrópicas do cenário em 2004 e do cenário em 2009.

Fonte: Elaborado pelos próprios autores

O IBAMA e MMA (2011) acrescenta que a criação de unidades de conservação, a recuperação de áreas degradadas e a criação de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental. No tocante, Feil et al. (2011) e IBAMA e MMA (2011), o fomento às atividades econômicas de uso sustentável é outro elemento essencial para assegurar a conservação do Pampa, onde a diversificação da produção rural, a valorização da pecuária com manejo do campo nativo, juntamente com o planejamento regional, o zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossistêmicos são o caminho para assegurar a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico e social.

5. Sensoriamento Remoto: O Diagnóstico e o Monitoramento

A utilização das técnicas de sensoriamento remoto possui legitimidade no desenvolvimento de monitoramento dos biomas, incluído o Bioma Pampa. Com essa tecnologia, o estudo, a análise e o planejamento do uso do solo e do monitoramento ambiental se tornam mais acessíveis. Apresentando a vantagem de envolver elevado número de informações simultaneamente, as imagens de satélite possibilitam a realização

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de análises periódicas em grandes extensões de áreas. Além disso, destaca-se que o recurso multiespectral dos sensores disponíveis no satélite fornece uma imagem de alta definição (IMPAGLIAZZO, 2009; IBAMA & MMA, 2011; SANTOS & SILVA, 2011).

Aplicando-se as técnicas de sensoriamento remoto ou geoprocessamento nos programas de gestão ambiental se propicia o monitoramento e a fiscalização das áreas de forma rápida e precisa, além de gerar retorno na relação custo/benefício. O uso desse recurso fornece instrumentos adequados para promover efetivamente, dentro das políticas públicas da esfera Federal, Estadual ou Municipal, a fiscalização, o licenciamento e o monitoramento ambiental (IMPAGLIAZZO, 2009).

A utilização da tecnologia de sensoriamento remoto, aplicada geograficamente, oferece elementos que subsidiam a dinâmica da análise espaço-temporal, ressaltando a importância de alvos, viabilizando, assim, o planejamento e a detecção de mudanças ocorridas na paisagem (IMPAGLIAZZO, 2009; IBAMA & MMA, 2010; SANTOS & SILVA, 2011).

O sensoriamento remoto possui a incumbência de auxiliar na gestão do solo, no tipo de cultura plantada, na mata ciliar ou nativa, nos reflorestamentos planejados ou passionais, nos perímetros urbano e rural, nos corpos hídricos e nascentes, entre outros, pela comparação de imagens com intervalos de tempo (variação de períodos) tabulando tabelas para apurar as diferença em hectares positivas ou negativas. Desta forma, através do sensoriamento remoto, é possível diagnosticar, monitorar e desenvolver o Bioma Pampa de forma eficiente em tempo e custos, a ainda com as variações apuradas destacar os “hot pots” ou ”white pots”. E, em caso de “hot pots” realizar uma visita de campo para apurar a gravidade do impacto causado, e assim deliberar as medidas corretivas (IMPAGLIAZZO, 2009; SANTOS & SILVA, 2011; OLIVEIRA et al., 2012).

6. Considerações Finais

A relevância atribuída ao Bioma Pampa através de pesquisas e pelos órgãos de proteção ambiental é insignificante, quando comparada com os Biomas da Amazônia, Cerrado e da Mata Atlântica, provavelmente pelo tamanho, esquecendo da importância. É imprescindível destacar que o Bioma Pampa apresenta uma grande variedade de espécies e que muitas ainda não foram catalogadas, e, portanto, há uma grande diversidade de patrimônio natural, que cobre uma parte do bem de valor mais precioso da humanidade, que é o Aquífero Guarani. Estas informações já são suficientes para aumentar à relevância atribuída a preservação e pesquisa do bioma pampa sendo possível assim desenvolver esta região com segurança e equilíbrio.

A rápida degradação e descaracterização deste bioma compromete a potencialidade do desenvolvimento sustentável da região. Conclui-se que o sensoriamento remoto ou geoprocessamento propicia uma enorme aderência ao monitoramento, fiscalização e ao desenvolvimento do Bioma Pampa, adequando o gerenciamento do diagnóstico ambiental com o desenvolvimento desta região. Pois, sem dúvida o desenvolvimento é necessário, mas de forma organizada e controlada, minimizando a degradação do patrimônio social, cultural e principalmente o ambiental desta forma proporcionando o desenvolvimento econômico.

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7. Referencias

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