seminário iv - nov. 2013 - orçamento participativo

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 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA SEMINÁRIO TEMÁTICO IV COPRODUÇÃO DO BEM PÚBLICO: ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM JOINVILLE Gean Carlos Kuhlkamp Michel Ubirajara Becker Rafael José Kraisch Rafael José Valler Suellen Maria Jovita Rodrigues Joinville – SC Nov/2013

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

1.1 TEMA PROBLEMA................................................................................................ 4 1.2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 4

1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................... 4

1.2.2 Objetivos Específicos ...................................................................................... 4

1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 5

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................. 5

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 6

2.1 CIDADANIA ........................................................................................................... 62.2 PARTICIPAÇÃO .................................................................................................... 7

2.2.1 Participação Social........................................................................................... 9 

2.3 NOVO SERVIÇO PÚBLICO ................................................................................ 11

2.3.1 Princípios Que Fundamentam O Novo Serviço Público ............................. 12 

2.4 COPRODUÇÃO DO BEM PÚBLICO................................................................... 13

2.5 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO ......................................................................... 17

3 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM JOINVILLE (2009-2012) ............................ 19 3.1 ORGANIZAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO – ANO 2009......... ................................. 19 

3.2 A CONDUÇÃO DO OP – ANO 2010/2011 E 2012.................. ........................... 25

3.3 AS OBRAS.................... ..................................................................................... 26

5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 28 

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 30 

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1 INTRODUÇÃO

1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA

Observando a proposta do Seminário Temático IV “Revestido dos

princípios que fundamentam o Novo Serviço Público e da coprodução do

serviço público como elemento relevante, escolher uma ação de determinado

órgão público, na esfera da União, do Estado ou do Município, baseado no

critério de acessibilidade, e dissertar sobre os processos gerenciais

identificados, ou seja, explicar como se dá a participação integrada do estado,

das empresas e da sociedade civil organizada na produção de serviço público”,

esta equipe buscou, dentro da “Gestão Pública Municipal”, uma ação voltada

para a coprodução do bem público. Sendo assim, o tema Orçamento

Participativo em Joinville foi escolhido, pois trata-se de tema atual e de grande

relevância para a sociedade.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Apresentar e contextualizar o Orçamento Participativo em Joinville

(2009-2012) como ferramenta utilizada para participação social e coprodução

do bem público.

1.2.2 Objetivos Específicos

a) Apresentar a organização e implementação do Orçamento

Participativo em Joinville (2009);

b) Verificar como se deu a condução do Orçamento Participativo em

Joinville (2010-2012);

c) Destacar os resultados da realização do Orçamento Participativo

em Joinville;

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 CIDADANIA

O conceito de cidadania, em sua origem, vem da Grécia antiga,

onde significava vivência política ativa na comunidade, na cidade (pólis).

Durante muito tempo a idéia de cidadania esteve ligada aos privilégios, pois os

direitos dos cidadãos eram restritos a determinadas classes e grupos de

pessoas. Ao longo da história, o conceito de cidadania foi se aprimorando e na

Idade Moderna uniu os direitos universais com o conceito de nação,

introduzindo os princípios de liberdade e igualdade perante a lei e contra os

privilégios. Mas ainda era uma cidadania restrita às elites, porque dependia dos

direitos políticos, vetados para a maioria. (D’Urso, 2005).

Atualmente o conceito de cidadania foi ampliado, constitui um dos

princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito e pode ser traduzido

por um conjunto de liberdades e obrigações políticas, sociais e econômicas.

Ser cidadão hoje implica em exercer seu direito à vida, à liberdade, ao trabalho,

à moradia, à educação, à saúde, à cobrança de ética por parte dosgovernantes. (D’Urso, 2005).

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira,

“cidadania é a qualidade ou estado do cidadão”, entende-se por cidadão “o

indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no

desempenho de seus deveres para com este”.

No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra civita ,

que em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego na palavrapolitikos  – aquele que habita na cidade.

Podemos definir cidadania como um status jurídico e político

mediante o qual o cidadão adquire direitos civis, políticos e sociais; e deveres

(pagar impostos, votar, cumprir as leis) relativos a uma coletividade política,

além da possibilidade de participar na vida coletiva do Estado. Esta

possibilidade surge do princípio democrático da soberania popular. (D’Urso,

2005).

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A cidadania tem dois aspectos: o institucional, porque envolve o

reconhecimento explícito e a garantia de certos direitos fundamentais, embora

sua institucionalização nunca seja constante e irredutível; e o processual,

porque as garantias civis e políticas, bem como o conteúdo substantivo, social

e econômico, não podem ser vistos como entidades fixas e definitivas, mas

apenas como um processo em constante reafirmação, com limiares abaixo dos

quais não há democracia. Democrático, no sentido liberal, é o país que, além

das garantias jurídicas e políticas fundamentais, institucionaliza amplamente a

participação política. (Lima, 2012).

Segundo Dalmo Dallari (1998):

“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa

a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo

de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou

excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa

posição de inferioridade dentro do grupo social”.

A cidadania não surge do nada como um toque de mágica, nem tão

pouco a simples conquista legal de alguns direitos significa a realização destes

direitos. É necessário que o cidadão participe, seja ativo, faça valer os seus

direitos. Construir cidadania é também construir novas relações e consciências.

A cidadania é algo que não se aprende com os livros, mas com a convivência,

na vida social e pública. É no convívio do dia-a-dia que exercitamos a nossa

cidadania, através das relações que estabelecemos com os outros, com a

coisa pública e o próprio meio ambiente. A cidadania deve ser perpassada por

temáticas como a solidariedade, a democracia, os direitos humanos, a

ecologia, a ética.

2.2 PARTICIPAÇÃO

A palavra participação tem origem no latim particeps, que quer dizer

participante, aquele que tem parte em, faz parte de, toma parte em, aquele que

partilha ou tem quinhão. Tal significado pode parecer simples, mas muitas

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interpretações podem surgir dos diferentes conceitos que estasexpressões

geram em relação à forma e à intensidade de participação dos indivíduos

(BORDENAVE,1994).

O conceito de participação é visto por Pedro Demo como um

processo em constante vir-a-ser, que, em sua essência, trata da autopromoção

e de uma conquista processual. “Não existe participação suficiente, nem

acabada. Participação que se imagina completa, nisto mesmo começa a

regredir” (Demo, 1993). Desta forma a participação não deve ser vista como

uma concessão do poder público:

“Participação é um processo de conquista, não somente na

ótica da comunidade ou dos interessados, mas também do

técnico, do professor, do pesquisador, do intelectual. Todas

estas figuras pertencem ao lado privilegiado da sociedade,

ainda que nem sempre ao mais privilegiado. Tendencialmente

buscam manter e aumentar seus privilégios. Se o processo de

participação for coerente e consistente, atingirá tais privilégios,

pelo menos no sentido de que a distância entre tais figuras e os

pobres deverá diminuir” (Demo, 1993).

Para Fernando G. Tenório e Jacob E. Rozenberg a participação

integra o cotidiano de todos os indivíduos. Por desejo próprio ou não, somos,

ao longo da vida, levados a participar de grupos e atividades. Esse ato nos

revela a necessidade que temos de nos associar para buscar objetivos, que

seriam de difícil consecução ou mesmo inatingíveis se procurássemos alcançá-

los individualmente. Assim a participação e a cidadania referem-se àapropriação pelos indivíduos do direito de construção democrática do seu

próprio destino. “Sua concretização [destino] passa pela organização coletiva

dos participantes, possibilitando desde a abertura de espaços de discussão

dentro e fora dos limites da comunidade até a definição de prioridades, a

elaboração de estratégias de ação e o estabelecimento de canais de diálogo

com o poder público” (Tenório e Rozenberg, 1997:103).

A participação que se espera, segundo Tenório e Rozenberg (1997),deve obedecer aos seguintes pressupostos:

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impulsiona mudanças na dinâmica da participação popular nos negócios do

Estado.

Em decorrência desse movimento, houve pressão por parte da

sociedade para que o Estado propiciasse direitos concretos aos indivíduos,

levando em conta o contexto social e econômico existente, de forma a

aumentar os direitos e as liberdades anteriormente conquistados.

Para atender a esses anseios, o Estado ao implementar políticas

públicas precisa reconhecer a existência de conflitos de interesses numa

sociedade plural de forma a promover a ampliação e a consolidação de esferas

públicas democráticas para que sejam simultaneamente respeitados os direitos

à igualdade e à diferença (COMPARATO, 2003). As políticas públicas passam

a funcionar, portanto, como instrumento de aglutinação de interesses diversos

em torno de objetivos comuns, podendo ser utilizadas pelo Estado como

elemento de planejamento, racionalização e participação popular.

Os direitos fundamentais passam a ter conteúdo social, através da

introdução dos direitos sociais referentes ao trabalho, assistência e atividade

econômica, em seguida aparecem os direitos dos grupos (família, associações,

sindicados, mediadores e corpos intermediários), e por último, os direitoseconômicos e sociais ampliam os direitos civis já apropriados (seguro social,

trabalho, lazer, educação, cultura e greve). Verifica-se, todavia que se trata de

uma conquista tardia, pois alguns desses direitos que começaram a ser

exercidos pelos cidadãos ingleses no século XVIII, só no final do século XX

passaram a ser pleiteados pelos latino-americanos.

A importância das políticas públicas na consolidação da democracia

tornou-se evidente quando a sociedade foi em busca de formas deconcretização dos direitos de primeira geração, em particular os direitos

humanos. Em seguida, foram perseguidos os direitos sociais de segunda

geração que visavam garantir o exercício do primeiro e estavam vinculados aos

direitos econômicos, sociais e culturais. Os de terceira geração são os mais

abstratos, pois englobam os direitos das gerações futuras, como por exemplo

os referentes ao meio ambiente (CARVALHO, 2003).

Essa participação cidadã se transforma em ampliação daspossibilidades de acesso dos setores populares aos atos de gestão, segundo

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uma perspectiva de desenvolvimento da sociedade civil e de fortalecimento dos

mecanismos democráticos, e contribui para garantir a execução eficiente dos

programas de compensação social que surgiram no contexto das políticas de

ajuste estrutural.

2.3 NOVO SERVIÇO PÚBLICO

Uma nova maneira de pensar sobre administração pública e sobre

burocracia pode funcionar para transcender os limites do pensar atual e abrir

novas possibilidades para um serviço público de nível mais elevado.

(DENHARDT, 2012).

O novo serviço público como alternativa para a nova administração

pública tem origem em uma tradição mais humanista. (DENHARDT, 2012).

O novo serviço público retira sua inspiração da teoria política

democrática (especialmente enquanto preocupada com a conexão entre

cidadãos e seus governos) e de abordagens alternativas à gestão e

ao design organizacional que procedem de uma tradição mais humanística na

teoria de administração pública. (DENHARDT, 2012).Na administração pública tendo em vista uma nova proposta

de Serviço Público, é necessário que o gestor público - administrador -

enxergue o cidadão como cidadão, e não meramente um consumidor de bens

e serviços públicos, como quer a lógica de mercado p.ex. Assim é, que a

maioria dos teóricos e profissionais públicos, na atualidade, buscam um maior

entendimento da relação cidadão - governo. Como sugestão, sugem três

propostas básicas de mudanças para a nova administração: 1 - mudança dohábito mental do gestor - o cidadão é mais que um ser consumidor de bens e

serviços, no contexto da cidadania cabe a necessária participação que

necessita ser oportunizada a todo tempo. 2 - Demonstrar o real interesse e

responsivilidade pelo cargo ou função que ocupa, isso resulta em maior

confiança por parte do cidadão pois percebe que suas demandas tem, na figura

do gestor, um buscador de soluções atinentes aos direitos do cidadão. 3 - A

responsabilidade do envolvimento do gestor não é personalistica, não seenvolve especificamente com o direito de um único indivíduo, mas de todos

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quanto possa alcançar determinado direito. Estas propostas tendem a uma

relação mais democrárica para soluções de problemas públicos. Afinal o

cidadão tem que estar em primeiro lugar. (DENHARDT, 2012).

Os integrantes do governo têm de colocar as necessidades e os

valores dos cidadãos em primeiro lugar em suas decisões e ações; eles devem

estender suas mãos de maneira nova e inovadora para compreender o que

está preocupando os cidadãos e têm de responder às necessidades e

interesses dos cidadãos. (DENHARDT, 2012).

Se, nessa visão da nova administração pública o referencial é o

cidadão de mãos dadas com a administração pública de forma harmônica,

responsiva e construtiva, há que se observar que a manutenção dessa

estrutura necessita de um operador dinâmico que possa, se não antever

problemas ou conflitos, pelo menos possa resolvê-los em curto espaço de

tempo. Isso implica muito mais que gestão, implica em liderança ativa, cuja

sinergia está na proporção direta das atitudes éticas e cívicas entre cidadão e

administrador público, numa via de mão dupla. (DENHARDT, 2012).

A base ética da cidadania se torna então a base para a postura ética

do administrador público. Sua obrigação última é “prover bens e serviçospúblicos no sentido de promover o bem comum da vida comunitária, por cujo

intermédio se formam o caráter e a virtude cívica”. (DENHARDT, 2012).

O esboço do novo serviço público descrito por Denhardt e Denhardt

é uma alternativa para a velha administração pública e a nova Gestão Pública.

Duas grandes dimensões servem de tema: Promoção do valor e dignidade do

serviço público; e, democracia, cidadania, e interesse público como valores

essencias da administração pública. (DENHARDT, 2012).

2.3.1 Princípios Que Fundamentam O Novo Serviço Público

Denhardt (2012) elabora sete princípios-chave para o Novo Serviço

Público:

  Servir cidadãos, não consumidores;•  Perseguir o interesse público;

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•  Dar mais valor à cidadania e ao serviço público do que ao

empreendedorismo;

•  Pensar estrategicamente, agir democraticamente;

•  Reconhecer que a accontability não é simples;

•  Servir em vez de ‘dirigir’;

•  Dar valor às pessoas, não apenas à produtividade.

O Novo Serviço Público sustenta que a administração pública deve

começar com o reconhecimento de que a existência de uma cidadania

engajada e esclarecida é crítica para a governança democrática. A ‘alta’

cidadania é importante e ao mesmo tempo atingível, porque o comportamento

humano não é apenas questão de auto-interesse, mas também envolve

valores, crenças e preocupação com os outros. Os cidadãos são os donos do

governo e são capazes de atuar juntos em busca do bem maior. (DENHARDT,

2012).

2.4 COPRODUÇÃO DO BEM PÚBLICO

A coprodução do bem público é um conceito desenvolvido no final

da década de 1970. Consiste no envolvimento de diversos segmentos da

comunidade na produção dos serviços públicos, incluindo a participação direta

do cidadão, em conjunto com outros agentes públicos e privados. Os seus

componentes principais são a descentralização, a desconcentração e a

participação (Nadir Júnior, Salm, & Menegasso, 2007; Witt, 2007).

Segundo Witt (2007, p. 67), a definição de coprodução “baseia-se noreconhecimento da importância da interação entre o Estado e a sociedade civil

na ressignificação da esfera pública”. E completa afirmando que:

Quando os cidadãos coproduzem ocorre a reunião de esforços

voluntários dos indivíduos ou dos grupos pelo acesso a serviços em maior

quantidade e de melhor qualidade. Baseando-se nessa definição e de acordo

com a natureza dos benefícios conquistados, três tipos distintos de coprodução

podem ser identificados: coprodução individual, coprodução grupal ecoprodução coletiva (KISSLER, 2003).

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A produção do bem público é algo que interessa a todos dentro da

população; e assumindo-se que há, na sociedade, forças poderosas que

podem ser mobilizadas para esse objetivo, forças essas que se localizam fora

do aparato estatal, cumpre então examinar um design alternativo para o estado

que permita a utilização de tais forças na busca de um melhor atendimento das

necessidades dos seres humanos (p. 68).

A coprodução do bem público refere-se, portanto, à produção de

forma conjunta de certo bem ou serviço que seja de interesse público.

Podem ser considerados atores dessa coprodução o Estado, a

sociedade e ainda o setor privado.

É a união desses atores, num trabalho de confiança e ação conjunta,

que possibilita que a prestação do serviço público seja realizada de forma

eficiente e eficaz (Ronconi, 2008).

Nadir Júnior, Salm e Menegasso (2007, p. 65) destacam que na

coprodução os “governos locais assumem um papel de coordenação e

liderança, mobilizando atores governamentais e não governamentais, assim

como diversos interesses e recursos para a produção do bem público”.

Destacam, ainda, que a coprodução do bem público possibilita a“mobilização de diversas instâncias da sociedade em torno da solução de um

problema de interesse público, cujo enfrentamento ultrapassa a capacidade de

ação isolada do Estado”.

Brudney e England (1983, p. 63-64) defendem uma tipologia para a

coprodução, baseada no modo de organização das pessoas. Os autores

identificam três níveis de envolvimento nos processos de coprodução:

individual, em grupo e coletiva.No nível individual, há duas formas de atividade coprodutora, a

depender da natureza do serviço prestado: a primeira ocorre quando a pessoa

é a beneficiária da ação, a exemplo da educação e do atendimento médico. A

segunda consiste nos comportamentos que os cidadãos voluntariamente

realizam para seu próprio consumo, como acionar alarmes de incêndio e

informar policiais de falhas nos equipamentos de controle de tráfego. Embora

estas atividades envolvam participação ativa dos cidadãos, sem organização ecoordenação, os benefícios agregados para a cidade são mínimos. Segundo os

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autores, estas atividades são de tão baixo nível dentro do contexto mais amplo

do significado e propósito da coprodução que é difícil distingui-los da noção de

dever cívico.

O segundo nível envolve a participação ativa de um grupo de

cidadãos voluntários, podendo requerer mecanismos de coordenação formais

entre os agentes oficiais e os grupos de cidadãos. O exemplo mais apropriado

é o das associações de bairro onde pessoas unem esforços para melhorar a

quantidade e/ou qualidade dos serviços quem utilizam.

Embora potencialmente efetiva, os autores apontam três limitações a

esse tipo de coprodução.

Primeiro, uma vez que os serviços produzidos se limitam ao nível de

um grupo, os benefícios podem ser incorporados apenas por aqueles poucos

seletos. Segundo, esses poucos indivíduos que recebem os benefícios podem

 já gozar de uma melhor qualidade de vida em comparação a outros subgrupos

da cidade. Por fim, o grau de cooperação e coordenação produzido entre os

agentes dos serviços e os consumidores é problemático.

A coprodução coletiva, por fim, é muito semelhante à coprodução

em grupo, com a principal diferença de que as atividades resultam em benscoletivos, cujos benefícios podem ser apreciados tanto pela cidade quanto pela

coletividade. Neste caso, o grau de coprodução é significativo, sendo que as

ações podem estar baseadas em doações aos cofres públicos ou mediante o

trabalho voluntário de cidadãos.

Nesse caso, existe a participação conjunta dos cidadãos com a

administração pública. Os mesmo autores ressaltam que a coprodução é um

conceito que diz respeito ao processo de prestação de serviços públicos; prevêo envolvimento direto dos cidadãos, junto com os agentes públicos, no

desempenho e na entrega de serviços públicos de uma localidade. Consiste

numa estratégia que visa à participação cidadã na construção da democracia.

Para Marschal (2004), trata-se de um processo no qual cidadãos e governo

compartilham da responsabilidade conjunta de produzir serviços públicos.

Cabe destacar a importância do papel do cidadão nos processos de

coprodução. Os cidadãos deixam de apenas executar as políticas públicas, epassam a fazer parte do processo de formulação, implementação e avaliação

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das mesmas. Para Marschal (2004 como citado em Salm, Ribeiro &

Menegasso, 2007), sem a participação ativa do cidadão, a capacidade do

governo em prover bens e serviços públicos é severamente comprometida.

Nesse sentido a coprodução deve ser entendida como ativo

envolvimento do público geral e, especialmente, daqueles que serão

diretamente beneficiados pelo serviço (Whitaker, 1980). Para o autor, os

cidadãos podem e devem exercer importante influência na política por meio de

sua participação na execução de programas públicos, o que se dá mediante o

ajustamento das expectativas dos agentes públicos com a dos cidadãos.

A coprodução, na condição de estratégia para que os serviços

públicos sejam produzidos de maneira eficiente e eficaz, mostra-se uma grande

alternativa para responder aos anseios da sociedade.

A coprodução reafirma os valores da democracia, da cidadania e do

interesse público ao colocar ênfase na participação ativa, ação conjunta e

inclusão dos cidadãos na comunidade política; reconhece os excluídos como

cidadãos e gera espaços públicos de participação e controle social (Ronconi,

2010).

Na coprodução desaparece a concepção tradicional do Estado comonúcleo exclusivo da formulação e implementação das políticas públicas;

cidadãos passam a ser coprodutores e parceiros, na perspectiva de

compartilhamento de responsabilidades. Essa perspectiva não implica um

Estado enxuto, mas um Estado que, sendo ativador das forças da sociedade

civil, possibilita “a inclusão, na agenda das políticas públicas, dos interesses

dominados, em um processo simultâneo de transformação da institucionalidade

e construção de identidades coletivas” (Fleury, 2006, p. 07).Apesar da incorporação relativamente recente da participação da

comunidade nos modelos de administração pública, a prática indica que

iniciativas como esta sempre foram realizadas por organizações comunitárias.

Em seus estudos sobre justiça comunitária, observando a falência do modelo

profissional de polícia e a opção por um modelo construído com a comunidade,

O'Brien e Barzemore (2004) identificam indícios que remetem à participação da

comunidade na produção do bem público, no caso, em sistemas de segurançapública no final dos anos 1980. Para Draibe (2002) estudos e práticas dessa

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formas descentralizadas de governo. A campanha "Diretas Já", clamando pelo

direito da população eleger o Presidente da República, expressava

fundamentalmente o sentimento da população de querer estar presente à cena

política. (WIKIPÉDIA, 2011).

Orçamento Participativo é um mecanismo governamental da

Democracia Participativa que permite aos cidadãos influenciar ou decidir sobre

os orçamentos públicos de prefeituras municipais, através de processos de

participação cidadã (WIKIPEDIA, 2011).

O Orçamento Participativo é um meio de gestão pública que visa

romper com a tradição autoritária das políticas públicas, recorrendo à

participação direta e um forte engajamento da população em diferentes fases

da preparação e implementação orçamentária em prol de melhorias locais, com

uma preocupação pela definição de prioridades para a distribuição dos

recursos de investimento. O principal objetivo do OP é estimular e provocar

uma dinâmica estabelecendo um mecanismo sustentado de gestão conjunta

dos recursos públicos, através de decisões partilhadas sobre a distribuição dos

fundos orçamentários e de responsabilização administrativa no que diz respeito

à efetiva implementação dessas decisões de tão grande importância para avida das pessoas. Os recursos de investimento são distribuídos de acordo com

a combinação de “critérios gerais”, estabelecidos pelas instituições

participativas e de “critérios técnicos” (viabilidade técnica ou econômica

definida pelo Executivo e normas jurídicas federais, estaduais ou da própria

cidade, cuja prática cabe ao Executivo).

Para a Coordenadoria das Cidades (2011):

“A principal riqueza do Orçamento Participativo é a

democratização da relação do Estado com a sociedade. Esta

experiência rompe com a visão tradicional da política, onde o

cidadão encerra sua participação política no ato de votar, e os

governantes eleitos podem fazer o que bem entendem. No

Orçamento Participativo, o cidadão deixa de ser um simples

coadjuvante para ser protagonista ativo da gestão pública.”

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3 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM JOINVILLE (2009-2012)

3.1 ORGANIZAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO – ANO 2009

O Orçamento Participativo teve início em Joinville com a

determinação do governo (2009-2012) de implementar este tipo de gestão

baseado nas experiências feitas em outras cidades do país que eram

administradas pelo mesmo partido político, onde já havia histórico de sucesso

como por exemplo em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, onde o

programa do Orçamento Participativo já dura mais de 20 anos, inclusive com a

continuidade mesmo com a alternância do poder e a ocupação da prefeitura

por outro partido político. Nesta cidade, por exemplo, o Orçamento Participativo

obteve sucesso e já faz parte do processo administrativo do município.

A partir de janeiro de 2009, com a participação da Secretaria de

Planejamento, Gabinete do Prefeito, Secretaria de Comunicação e Secretarias

Regionais, iniciam-se as reuniões internas que buscam dar formatação para a

implantação do Orçamento Participativo na cidade. O projeto foi baseado em

programas já implantados e foi capitaneado pela secretaria de Planejamento daprefeitura de Joinville e pelo gabinete do prefeito. A Secretaria da Comunicação

coube toda a parte de informação e divulgação do projeto junto aos munícipes

e as secretarias regionais coube ser o braço prático, responsáveis em reunir a

comunidade em suas áreas de abrangência e de juntamente com outras

secretarias de governo também executar parte das obras a serem escolhidas.

Em março de 2009 o governo municipal iniciou o processo de

implantação do PPA Participativo (Plano Pluri Anual) no período de 2010-2013,com o tema “Suas prioridades, nosso futuro” que teve seis etapas: Avaliação

dos programas existentes, Estudo e Organização do programa de governo

aprovado, Trabalho Interno nas Unidades (definição das metodologias,

indicação dos programas, ações e indicadores, entrega do material

consolidado, para sistematização). Dividiu a cidade em quatro regiões. Em

cada uma delas realizou uma grande audiência pública. Na quinta etapa foi

feita a sistematização das propostas e na sexta e última etapa oencaminhamento a Câmara de Vereadores. Iniciava-se o processo de

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construção de um projeto que tem por finalidade a co-produção do serviço

público, pois a partir deste momento a comunidade é convidada a conhecer,

participar e opinar sobre o orçamento público e a decidir onde será aplicado

parte destes recursos.

Figura 01: PPA Participativo - DimensõesFonte: Arquivo Prefeitura Municipal de Joinville

Foi a primeira vez que a cidade e os joinvillenses tiveram a

explicação do que é o PPA, o que é planejamento orçamentário,

responsabilidade fiscal, processo de elaboração do PPA, organograma,

dimensões da Educação, Gestão, Saúde, Planejamento Urbano, Cidadania,

Turismo, Cultura e Esporte e Crescimento Econômico. Explicações de como

participar, elaboração da Lei de Orçamentária Anual (LOA) e do cicloorçamentário participativo.

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Como posso participar??

O PPA planeja a execução dos programas degoverno. Todo o cidadão pode sugerir quaisações devem ser priorizadas, incluídas oumodificadas pela gestão atual;

Exemplo

• Programas de pavimentação

• Construção e reforma de praças;

• Construção de escolas;

• Metas de esgotamento;

Figura 02: Como posso participar?Fonte: Arquivo Prefeitura Municipal de Joinville

As plenárias do PPA aconteceram em 16 de março no bairro

Aventureiro (região norte), 17 de março no bairro Paranaguamirim (região sul),

18 de março no bairro Comasa (região leste) e 19 de março no bairro Vila Nova

(região oeste) e contaram com a participação de mais de 2000, cobrindo desta

maneira todas as regiões da cidade..

Orçamento

2010

Orçamento

2011

Orçamento2012

Orçamento2013

Planejamento = visão de futuroTransparência = controle social

Participação

PopularPrefeituraVereadoresComunidadeSociedade

Investimentos

ObrasAçõesProgramasAtividadesPrioridades

Ciclo Orçamentário Participativo

Figura 03: Orçamento Participativo - CicloFonte: Arquivo Prefeitura Municipal de Joinville

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Este foi o “ponta-pé” inicial para a formatação do Orçamento

Participativo. No PPA participativo a Prefeitura Municipal conseguiu dados

importantes para orientação do Orçamento Participativo. O resultado da

plenária do PPA e das sugestões dadas pela população presente ficaram

assim quantificadas por área social: 21% de solicitações para a saúde, 14%

segurança, 13% infraestrutura, 12% educação, 9% trânsito, 7% água e

saneamento, 7% esportes , com outros temas com 4% de solicitações.

Em julho de 2009 tiveram início às plenárias do OP. A cidade foi

novamente dividida em regiões, mas desta vez obedecendo à divisão das 13

secretarias regionais e a secretaria distrital.

Escolas municipais, associações de moradores, igrejas, centros

sociais, sociedades esportivas e de governo foram palco das plenárias que

reuniram mais de cinco mil pessoas das regiões dos bairros: Iririú, Itaúm,

Jardim Paraíso, Nova Brasília, Paranaguamirim, Vila Nova, Aventureiro, Boa

Vista, Boehmewaldt, Centro, Comasa, Costa e Silva, Fátima e Pirabeiraba.

As plenárias tinham início às 19 horas com apresentações culturais

locais. Ás 19:30 iniciavam os trabalhos da plenária com as explicações do

orçamento participativo, sua proposta, os valores a serem disponibilizados,regras nas escolhas dos delegados, estatuto, encaminhamentos e a eleição

dos delegados.

A comunidade presente era dividida em quatro grupos por cores

relacionadas ao bairro de residência (a maioria das regionais é composta por

três ou mais bairros de abrangência). Cada grupo tinha direito de escolher um

delegado a cada dez pessoas presentes de sua região. Os presidentes das

associações de moradores já eram delegados natos. A pessoa não poderia sereleita delegada se ocupasse cargo de confiança na Câmara de Vereadores ou

na Prefeitura. Foi feita a divulgação com panfletos, outdoor, campanha

publicitária nas rádios e na televisão, para que a população pudesse participar

das plenárias.

Em setembro de 2009, após a escolha dos delegado em todas às 13

secretarias regionais e na distrital de Pirabeiraba, a prefeitura sintetiza os

resultados e põe na programação orçamentária de governo para o ano de 2010a execução das primeiras obras selecionadas. Foram destinados o valor de 10

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milhões de reais para atender as demandas escolhidas nas plenárias regionais

onde cada secretaria regional teria em média 715 mil reais para cobrir as

despesas das obras escolhidas. Na tabela abaixo vemos a destinação

orçamentária do Orçamento Participativo, apresentada na Câmara de

Vereadores, onde constam as aplicações dos recursos pelas unidades da

prefeitura responsáveis pela gestão dos recursos:

UNIDADES VALOR %

Secretaria da Administração 250.000,00 2,50Secretaria da Infra-Estrutura Urbana 2.654.550,00 26,55Fundação Municipal 25 de Julho 104.000,00 1,04Fundação Municipal de Esporte, Lazer e Eventos de Joinville 758.000,00 7,58Fundação Cultural de Joinville 922.000,00 9,22Fundação Municipal de Meio Ambiente 114.000,00 1,14Fundo Municipal de Desenvolvimento e Urbanização Joinville 5.197.450,00 51,97TOTAL 10.000.000,00 100,00

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

Figura 04: Orçamento Participativo – RecursosFonte: Arquivo Prefeitura Municipal de Joinville

Este mesmo orçamento também ficou dividido entre os órgãos da

administração da prefeitura para a execução das obras. Ficaram assim

destinados os recursos em função das obras escolhidas pela comunidade:

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51,97%

26,55%

9,22%   7,58% 2,50% 1,14%   1,04%

OP : Órgãos Responsáveis

 Figura 05: Orçamento Participativo – Órgãos ResponsáveisFonte: Arquivo Prefeitura Municipal de Joinville

O ano de 2009 foi um ano de muitas plenárias e discussões junto à

comunidade. Foram mobilizadas em torno de sete mil pessoas entre plenárias

regionais, plenárias locais, reuniões com delegados, reuniões na comunidade,

mobilização em escolas, imprensa, meios de comunicação, etc... As pessoas

foram convidadas a participar e atenderam este chamado. Foram eleitos 384

delegados. Houve espaço para explanações, debates, eleições de pessoas da

comunidade. No que se referem às eleições dos delegados, os presidentes de

associações de moradores já estavam eleitos naturalmente, pessoas membras

dos conselhos locais de saúde, APPs (Associações de pais e professores) das

escolas estaduais e municipais, membros de conselhos paroquias ligados a

igrejas sejam católicas e evangélicas também foram eleitos.

Um outro grupo de delegados chamou a atenção. As pessoas que

tinham em suas ruas a falta de pavimentação, ou de desmoronamento ou de

alagamento, também se organizaram e se fizeram presentes na escolhas de

seus delegados, tentando indicar representatividade junto ao grupo de

delegados do Orçamento Participativo visando a solução dos seus problemas.

Isto demonstrou certo grau de amadurecimento popular, de organização e de

luta diante dos problemas impostos.

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3.2 A CONDUÇÃO DO OP – ANO 2010/2011 E 2012

Os delegados eleitos reuniram-se continuamente a partir de 2009.

No ano de 2010 eles elegeram entre sí um representante de cada uma dos 14

grupos de delegados que se reuniam nas 14 regiões de atuação do Orçamento

Participativo. Este representante era responsável em ser o interlocutor do

grupo de delegados e conseqüentemente da comunidade junto aos demais

grupos de delegados e a prefeitura. Este grupo tinha a função de fiscalizar e

avaliar as obras, desde o cronograma de execução até o seu término, assim

como acompanhar a execução e construção das leis orçamentárias do

município. Este conselho se reunia bimestralmente. Foi criado também um

regimento interno por sua coordenação com base nos regimentos das cidades

que já possuíam a experiência do O.P. Depois de elaborado foi apresentado

em uma das reuniões do conselho ao qual juntos modificaram alguns itens e o

aprovaram. Os capítulos do regimento interno tratam: a) da organização

interna do O.P. que tem como base a coordenação, os delegados e os

conselheiros; b) da metodologia do orçamento participativo; c) dos recursos

financeiros.No ano de 2010 a mesma metodologia aplicada em 2009 foi

executada e mais uma vez reuniu-se a comunidade para saber dela quem

seriam seus representantes (delegados) e quais as suas necessidades.

Novos delegados foram eleitos e outros conseguiram suas

reeleições. Algumas obras escolhidas em 2009 já tinham sido iniciadas e a

partir de Maio de 2010 algumas começaram a ser entregues. No decorrer do

processo muitos delegados desistiram de suas atribuições, ora porcompromissos pessoais assumidos, ora por não concordar com a metodologia

empregada, ora por querer que as obras e promessas fossem executadas com

mais rapidez.

No final do ano de 2010 a cidade foi mais uma vez castigada com

fortes chuvas que a deixaram em estado de calamidade e muitos dos recursos

que inicialmente estavam destinados para o Orçamento Participativo, foram

remanejados emergencialmente para reconstrução de pontes, ruas,atendimento a desabrigados, etc... Com isso o Orçamento Participativo sofre

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um duro golpe, atrasando ainda mais as obras que já penavam pela burocracia,

pela falta de experiência de governo e de delegados na escolha e na projeção

orçamentária das obras escolhidas, acarretando a não realização de novas

plenárias nos anos de 2011 e 2012.

Nos dois primeiros anos de O.P foram delegadas demandas para o

poder público que já preenchiam completamente a capacidade de investimento

da prefeitura. No entanto os delegados continuaram a se encontrar, seja nas

secretarias regionais, nas reuniões dos conselhos, em reuniões dos delegados,

comunidade e poder público para as devidas cobranças.

3.3 AS OBRAS

Ao final dos quatro anos de governo da gestão 2009-2012, tempo

este que durou o Orçamento Participativo na cidade de Joinville, mais de 100

obras foram realizadas com a ajuda da comunidade. Praticamente todos os

bairros da cidade receberam obras do Orçamento Participativo que foi

construído com a intervenção social, na escolha de delegados, de

representantes, de obras e de prioridades.Houveram sim falhas. Muitas das obras escolhidas pelas 14

plenárias espalhadas pela cidade ficaram sem resposta, principalmente obras

ligadas a infraestrutura como pavimentações, implantação de tubos, obras de

combate a enchentes, ensaibramentos, algumas praças, entre outras

reinvindicações.

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4 CONCLUSÃO

O Orçamento Participativo foi instituído em Joinville, segundo o

relatório da Secretaria de Planejamento e Gestão em seu relatório final de

gestão elaborado no final de 2012, com a missão de proporcionar uma

interação entre o munícipe e o poder executivo.

O Orçamento Participativo proporcionou uma descentralização das

obras, fazendo com que todos os bairros tivessem uma obra executada ou com

intervenção do OP.

No que nos pede o trabalho do seminário temático, acreditamos que

o modelo do Orçamento Participativo, não entrando no mérito de governo ou de

êxito pleno do projeto, trouxe para a cidade de Joinville uma realidade até

então desconhecida, a participação popular nas decisões governamentais. Até

então nunca se tinha conversado com a comunidade sobre orçamento

municipal, PPA, LOA, LDO, custo da máquina pública, custo de obras, a

prioridade nas execuções, escolhas de delegados que tiveram acesso a

prefeitura em reuniões, informações, planilhas financeiras e muitas informações

que antes passavam muito distantes destas pessoas.A coprodução do bem público se deu através de uma longa

caminhada, que começou com a realização das plenárias do Orçamento

Participativo, onde se reuniu a comunidade abertamente para quem quisesse

participar. Destas reuniões se tirou delegados escolhidos pela população

presente, onde presidentes de associações de moradores já eram delegados

natos e tinham o direito de participar do projeto do orçamento participativo.

Esta coprodução estendeu-se ainda pela eleição de novosdelegados que eram representantes em nível municipal com deveres perante o

município, delegados e a comunidade que estes representavam.

Foram quatro anos de duração do Orçamento Participativo na cidade

de Joinville. Destes, os dois primeiros anos foram de escolhas de delegados e

de formação de conselhos.

Paralelamente as obras começaram a ter início em 2010 e

perpassaram os anos de 2011 e 2012, chegando ao final do mandato dagestão que implementou o Orçamento Participativo com mais de 100 obras

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realizadas em praticamente todos os bairros da cidade.

Houve efetivamente a coprodução do bem público. A sociedade civil

se uniu a entidades e ao governo municipal nas discussões, escolhas,

fiscalização, execução, inauguração e proteção de diversas obras que

efetivamente saíram do papel e consolidaram esta parceria que dá uma nova

cara para a administração pública.

Muitas obras ficaram pendentes. Seria muito importante que o atual

governo pudesse manter este projeto, reformulando-o a sua maneira ou

implementando outro projeto que pudesse proporcionar à população de

Joinville mais uma vez a experiência de tomar decisões e discutir com o

governo eleito democraticamente os destinos de pelo menos parte dos

recursos arrecadados com o pagamento de impostos de todo o cidadão.

Associações de moradores, igrejas, escolas, moradores dos bairros,

comerciantes, grupos de jovens, grupos escoteiros, todos tiveram a

possibilidade de opinar, discutir, estabelecer prioridades e posteriormente

cobrá-las. O poder público de Joinville deu um grande passo para que a

sociedade e o poder público pudessem dialogar.

Não foi uma experiência fácil, não houve uma interação perfeita,visto que a gestão que proporcionou esta experiência acabou não se

reelegendo. Muitos contratempos jogaram contra esta iniciativa: a inexperiência

de parte do governo na condução do processo, a inexperiência por parte da

população na escolha das prioridades, eventos climáticos que comprometeram

parte dos recursos, a crise financeira municipal que absorveu grande parte dos

recursos disponíveis e que tirou da infraestrutura a possibilidade de

investimentos para a execução de grande parte das obras que não foramrealizadas, o atraso das obras por falta de recursos ou por falta de

planejamento e consequentemente os entraves da burocracia, a centralização

de boa parte das obras escolhidas em uma ou duas secretarias municipais que

não estavam preparadas para a execução rápida dos projetos escolhidos.

Ou seja, esta iniciativa teve pontos fracos, mas não tira dela a

grande realização de ter envolvido a sociedade e poder público num amplo

debate sobre suas necessidades e prioridades e na coprodução do bempúblico.

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