semideuses e monstros - percy jackson e os olimpianos

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“Quando fui convidado para editar esta antologia, não soube bem o que pensar. Por que tantos escritores talentosos iriam querer escrever sobre meus livros i infantojuvenis? E mesmo assim, quando li seus textos, fiquei impressionado. Cada um tinha uma perspectiva diferente sobre Percy Jackson — todas fascinantes e intelectualmente instigantes.” - Rick Riordan, na introdução de Semideuses e monstros. A série Percy Jackson e os olimpianos conquistou milhões de fãs mundo afora. E engana-se quem pensa que só crianças e adolescentes foram inspirados pelos livros de Rick Riordan. Muitos adultos também se encantaram pelas aventuras, conflitos e angústias de Percy e seus amigos. Prova disso é Semideuses e monstros, uma coleção de ensaios que explora o universo da série com humor, leveza e boas doses de mitologia e história. Com prefácio do próprio Riordan, que também participou da edição e organização dos textos originais, em Semideuses e monstros o leitor descobrirá como reconhecer monstros que espreitam ao nosso redor, quais são as dores e as delícias de ser uma caçadora de Ártemis, qual deus do Olimpo melhor se sairia no papel de pai e, mais importante: verá que os deuses gregos, assim como nós, são repletos de falhas e imperfeições — o que os torna ainda mais irresistíveis.

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1. 1. 1. 1. INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO ———— RICK RIORDANRICK RIORDANRICK RIORDANRICK RIORDAN

Radiografando a Cabeça do Autor

Vários anos atrás, antes de Percy Jackson aparecer na minha vida, eu era conhecido principalmente como um escritor de romances de mistério para adultos. Numa noite, eu estava promovendo um evento com dois outros autores, e um deles estava expli-cando porque gostou do meu livro The Devil Went Down to Austin.

— A estrutura é maravilhosa — ele falou para a plateia. — É um livro sobre um mergulho longo, e enquanto os personagens vão mais fundo na escura água sombria, a trama também fica mais escura e sombria. O simbolismo é realmente esperto.

A plateia pareceu convenientemente impressionada. Eu pareci confuso. Eu uso simbolismo? Quem diria? Depois do evento, quando confessei ao outro autor que não fizera a estrutura

sombria intencionalmente, que talvez fosse apenas o resultado dos meus esboços errados, o queixo dele caiu. Ele estudou a minha escrita. Ele fez brilhantes avalia-ções. E eu estava só contando uma história? Impossível!

Isso não significa que as avaliações dele não foram valiosas, ou que o simbolis-mo não estava ali. Mas isso levanta uma questão importante sobre a diferença entre escrever uma história e analisá-la.

Qualquer livro, para crianças ou adultos, pode ser lido em vários níveis. Pode-mos simplesmente nos divertir com ele. Ou podemos procurar por significados es-condidos e matizes. Podemos até escrever análises sobre o livro, explorando-o de diferentes ângulos.

O trabalho do escritor é escrever o livro. O trabalho do cuidadoso leitor é en-contrar significado no livro. Ambos os trabalhos são importantes. Os significados que você encontra podem ilustrar, fascinar e surpreender. Eles podem surpreender até o autor. O autor, pelo menos esse autor, usa símbolos e temas subconscientemente. Eu não penso nisso mais do que um falante nativo de inglês conscientemente pensa so-bre a concordância do sujeito com o verbo enquanto fala.

A questão principal para Huckleberry Finn sempre foi uma das minhas favoritas citações de Mark Twain. Twain era inflexível que os leitores simplesmente lessem o livro, e não o examinassem procurando por morais ou mensagens, muito menos uma estrutura de enredo. Naturalmente, isso não impediu gerações de falantes da língua inglesa de escreverem suas teses de pós-graduação no romance.

Quando primeiro fui conduzido a editar esta antologia, eu não tinha certeza do que esperar. Por que tantos escritores talentosos iriam querer escrever sobre os meus livros de criança? E ainda assim, quando li as análises deles, fiquei pasmo. Cada um tinha um ângulo diferente de Percy Jackson — todos eles fascinando e provocando questões. Vários deles me fizeram pensar: “É isso que estou fazendo na série?” Senti-me como se alguém estivesse radiografando a minha cabeça. Subitamente, vi todas essas coisas acontecendo dentro de mim que eu nunca tive ciência.

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Talvez tenha sido por isso que Mark Twain tenha tentado espantar críticos que queriam interpretar a sua obra. Não que as interpretações sejam erradas. É que elas tendem a ser um pouco exorbitantes!

O Semideus Acidental

Nunca foi a minha intenção escrever a série Percy Jackson. Quando o meu filho mais velho estava na segunda série, ele começou a ter pro-

blemas na escola. Não conseguia se focar. Ele não queria se sentar e ler. Escrever era um desafio doloroso.

Sendo romancista e professor ao mesmo tempo, foi duro para mim aceitar que o meu filho odiava a escola. Então veio a decisiva reunião de pais, quando os profes-sores sugeriram que meu filho passasse por uma avaliação psico-pedagógica comple-ta. Algumas semanas depois, os resultados confirmaram: TDAH e dislexia.

Esses não eram novos conceitos para mim. Já ensinara vários alunos com dife-renças de aprendizado. Fiz algumas modificações. Eu preenchera formulários de ava-liação.

Mas quando a criança em questão é o seu filho, isso é diferente. Como eu poderia ajudá-lo a encontrar o sentido do que acontecia com ele?

Como eu poderia moldar o problema num modo positivo? No fim, acabei no que sabia de melhor — contar histórias. A graça salvadora do meu filho na segunda série foi mitologia grega. Essa era a

única parte do curso que ele achava divertido. Todas as noites, ele me pedia para contar histórias na hora de dormir dos mitos, e quando elas acabavam, ele me pedia para criar uma nova.

E então isso saltou da minha mente inesperadamente — como Atena da testa de Zeus —, o mito de como TDAH e dislexia viriam a ser. Eu criei Percy Jackson, um semideus grego na tradição de Hércules, Teseu e Perseu, exceto que Percy é um garo-to moderno. Ele tem TDAH e dislexia, e aprende que postas juntas, essas duas condi-ções indicam, sem sombra de dúvida, que ele tem sangue olimpiano.

Em O Ladrão de Raios, TDAH significa que você tem sentidos finamente recep-tivos. Você vê muito, e não pouco. Esses reflexos não funcionam bem numa tediante sala de aula, mas eles lhe manteriam vivo no campo de batalha. Dislexia indica que o seu cérebro está fortemente ligado ao grego antigo, então naturalmente ler inglês é uma batalha.

Meu filho não teve nenhum problema em gostar dessa teoria. Na história, Percy Jackson descobre que ser diferente pode ser uma fonte de

força — e uma marca de grandeza. Ser academicamente desamparado não significa que você seja uma pessoa desamparada. Percy foi o meu jeito de honrar todas as cri-anças que eu ensinei que têm TDAH e dislexia, porém com mais importância, ele era um mito para o filho entender o sentido de quem ele era.

Quando terminei de contar a história, o meu filho disse para eu escrevê-la. Eu estava em dúvida. Não achava que alguém fosse gostar dela, e eu não exatamente tinha muito tempo livre. Eu já estava ensinando em tempo integral e escrevendo um romance de mistério por ano. Mas arranjei tempo e escrevi O Ladrão de Raios.

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O meu filho adorou a versão final. Receoso, eu dei o manuscrito para alguns dos meus alunos. Eles também adoraram. Mandei-o para as editoras sob um pseudô-nimo para que não ficasse embaraçado pela inundação de notas de rejeição. Dentro de semanas, o livro foi a público e foi lançado pela Disney Book Group.

No fim daquele ano escolar, eu me tornei em tempo integral um escritor para crianças. A série Percy Jackson foi logo publicada por todo o mundo.

Se você me dissesse cinco anos atrás que alguém iria querer criar uma antologia de análises baseadas numa história de dormir que criei para o meu filho, eu lhe cha-maria de louco.

O Poder do Mito

Então, por que a série repercute com jovens leitores? Por que tantas pessoas ainda querem ler mitos gregos? Essas são histórias de muito tempo atrás sobre uma socie-dade muito diferente. Qual possível relevância elas poderiam ter no século vinte e um?

Certamente, você pode passar a vida sem saber nada de mitologia, mas essa se-ria uma existência bastante pobre. Mitologia é o simbolismo da civilização. Ela con-tém os nossos mais profundamente embutidos modelos. Uma vez que conhece a mi-tologia, você a vê em todos os lugares — dos nomes dos nossos dias da semana até a nossa arte e arquitetura. Seria um trabalho muito complicado ter que encontrar al-guma obra de literatura inglesa que não remeta alguma amplitude à mitologia clássi-ca, isso sendo uma missão de herói ou insinuações dos olimpianos.

Assim, conhecer a mitologia torna-te um membro mais informado na socieda-de, mas a sua importância vai além disso. A mitologia é um modo de entender a con-dição humana. Os mitos sempre foram a tentativa do homem de explicar fenômenos — e não só por que o sol viaja pelo céu. Os mitos também explicam amor, medo, ódio, vingança, e toda a extensão de sensações humanas.

Quando eu falo com grupos escolares, geralmente pergunto às crianças que deus grego elas gostariam de ter como pai/mãe. A minha resposta favorita foi de uma aluna no Texas que respondeu: “Batman!” Na verdade, a sugestão da garota de Bat-man como um deus grego não é tão absurda, já que essa é a mesma ideia em traba-lho: criar a versão de um super-herói da humanidade para que possamos explorar os nossos problemas, forças e fraquezas expressados. Se o romance dá vida a uma ori-gem microscópica, a mitologia a aumenta ao tamanho de um outdoor.

Contudo, os mitos não são algo que aconteceu no passado. Nós não os deixa-mos para trás com a Idade do Bronze. Ainda criamos mitos o tempo todo. Os meus livros, entre outras coisas, exploram os mitos da América como o farol da civilização, o mito de Nova York, e o mito do adolescente americano.

Quando a gente compreende a mitologia clássica, compreendemos algo de nos-sa própria natureza, e como tentamos explicar as coisas que não entendemos. E, en-quanto formos humanos, haverá coisas que não entendemos.

Num nível mais básico, a mitologia grega é simplesmente engraçada! As histó-rias têm aventura, magia, romance, monstros, bravos heróis, horríveis vilões, fantás-ticas missões. Como é possível não adorar?

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Mitologia especialmente conquista a simpatia de alunos da escola secundária porque eles podem se relacionar com a ideia de semideuses. Como Hércules, Jasão e Teseu, Percy Jackson é meio-humano, meio-deus. Ele está constantemente lutando para entender a sua identidade, já que anda em dois mundos, mas pertence aos dois. Estudantes da escola secundária entendem como é “estar no meio”. Eles estão entre a maioridade e a infância. Eles se sentem presos no meio o tempo todo, encruzilhados num estado inepto. Tudo está mudando para eles — fisicamente, socialmente, emo-cionalmente. O semideus é uma metáfora perfeita para a situação deles, que é por isso que a missão de um herói repercute com eles.

Quando promovo eventos escolares, normalmente brinco de um jogo trivial sobre mitologia grega com as crianças. Não importa que escola eu visite, ou quanto pouco mitologia os estudantes aprendem em sala de aula. Os alunos sempre sabem as respostas, e os adultos sempre ficam estupefatos. Posso quase garantir que algum professor vem até mim depois, de olhos arregalados, e diz:

— Eu não sabia que os nossos alunos conheciam tanto mitologia! Não é uma surpresa para mim. Jovens leitores possuem a mitologia. Eles a ve-

em como o herói. Eles ganham esperança nas suas próprias lutas seguindo as mis-sões. E sim, ás vezes eles até veem os professores como os monstros!

Sobre Esta Antologia

Nas seguintes páginas, você descobrirá o que realmente faz Dioniso pirar. Você aprenderá como assinar um boletim para os seus pais. Você explorará os monstros mais legais e os vilões mais terríveis da série Percy Jackson. Você decidirá se virar uma Caçadora de Ártemis é algo bom ou um erro desastroso. Você até aprenderá como descongelar os globos oculares e reconhecer a sua própria profecia. Qual das análises chega mais perto da verdade? Não sou eu que vou dizer.

Há mais ou menos um ano atrás, numa sessão de autógrafos para O Ladrão de Raios, um garoto levantou a mão na plateia e perguntou:

— Qual é o assunto do seu livro? Eu olhei para ele, inexpressivo. — Eu não sei. — Que droga! — ele disse. — Preciso disso para a minha resenha! Essa é a lição: Se você quiser saber o tema de um livro, a última pessoa que de-

ve ser perguntada é o autor. Esta antologia, entretanto, oferece perspectivas frescas e incríveis avaliações. Se você procura alguma coisa para revogar a Névoa dos seus olhos e lhe fazer dizer: “Arrá! Existem monstros!”, então você veio ao lugar certo.

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2. 2. 2. 2. RECONHECIMENTO DERECONHECIMENTO DERECONHECIMENTO DERECONHECIMENTO DE MONSTROMONSTROMONSTROMONSTROSSSS PPPPAAAARA INICIANTES RA INICIANTES RA INICIANTES RA INICIANTES ———— ROSEMARY CLEMENTROSEMARY CLEMENTROSEMARY CLEMENTROSEMARY CLEMENT----

MOOREMOOREMOOREMOORE

Todos os jovens heróis encontrarão monstros.

Isso já está determinado. Mas você os verá antes que

eles lhe vejam? Rosemary Clement-Moore oferece esse

guia de sobrevivência de bolso para semideuses, repleto

de dicas para ajudar você a: a) reconhecer os sinais de

alerta de que um monstro está próximo, b) evitá-lo se for

possível, e c) saber o que fazer quando tiver que lutar.

Estude bastante, semideus. Nunca se sabe quando garras

começarão a crescer na sua professora de matemática.

que você faria se acordasse um dia e encontrasse um sátiro na varanda de sua casa, e ele explicasse que iria lhe levar para um acampamento especial para pessoas como você: meio-deus, meio-humano?

Você poderia estar tentado a rir, achando que é uma travessura. Ou talvez você achasse que aquilo era incrível. Mas se você leu os livros de Percy Jack-son, você também estaria seriamente preocupado. Ser um semideus pode soar mara-vilhoso, mas no mundo de Percy, o filho de um deus pode esperar uma vida cheia de miséria e perigo. Heróis, eles estando numa missão ou só tentando terminar o ano escolar vivos, devem sempre ficar na ponta dos pés e na vigia procurando monstros.

Imagine viver no mundo de Percy: Aquela loja de donuts na esquina lhe dá um calafrio pela espinha? A popularidade de uma certa rede de café tem algo a ver com a sereia na sua logomarca? E quem é o homem sem casa debaixo da ponte perto do seu apartamento: Ninguém acha que é estranho ele usar um cachecol e capa o ano todo?

Ou talvez você more na zona rural, e subitamente vários rebanhos de gado es-tão desaparecendo misteriosamente. O problema é um coiote ou um monstro de pas-sagem lanchando as melhores vacas leiteiras do seu tio Walt? O que realmente come-çou aqueles fogos gregos na Califórnia: um campista descuidado ou uma quimera que cospe fogo?

Para Percy e os seus colegas, fazer esses tipos de perguntas podem significar a diferença entre vida e morte. Sem mencionar o sucesso de uma missão. Ignorar os instintos pode levar à morte... ou pior, uma derrota humilhante.

Se você de repente descobrir que é um semideus como os do mundo de Percy Jackson, não fique feliz em gastar todo o seu tempo escalando rocha e praticando para ser um arqueiro. Essas coisas são importantes, mas se você realmente quiser sobreviver ao ataque de um monstro, é necessário aprender como reconhecê-los. Desta maneira, você pode armar um plano de luta, ou escapada, que sempre parece mais prudente. Percy Jackson teve que aprender essas lições do jeito difícil. Enquan-to alguns dos seus colegas possam considerar as constantes ameaças de vida e opor-tunidades de ir ao limbo como crescimento pessoal, o sábio herói deve seguir o con-selho dos filhos de Atena e lutar com mais esperteza, e não com mais força.

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Felizmente, temos os triunfos — e erros — de Percy para aprendermos. Então, só no caso de você abrir a porta para um sátiro algum dia, cá está o que eu aprendi lendo os livros de Percy Jackson: como sobreviver num mundo cheio de monstros que querem matar você em três rápidas lições.

Lição Um: os Monstros e Você

A primeira coisa a ser percebida quando lidar com criaturas míticas é a natureza bá-sica do relacionamento entre herói e monstro: Há uma chance muito boa que até um encontro sem querer entre eles resultará em morte para um dos lados. Simplesmente determinado, heróis matam monstros, e monstros guardam rancor daquele fato.

Vamos pegar alguns exemplos do mundo antigo: Belerofonte, Teseu, Hércules e Perseu.¹ Todos eles heróis, todos eles assassinos de monstros — quimera, Minotauro, Hidra e Górgona. E os monstros nunca esquecem. Ser jovem também não lhe protege de nada; monstros não têm ética, então eles não tem um problema ético em eliminar os inimigos naturais enquanto eles ainda são jovens e vulneráveis.

Agora, um semideus tem certas vantagens sobre monstros. Dependendo do tipo de criatura que ele está encarando, o semideus pode ser mais rápido ou mais volátil. A sua habilidade de usar uma arma pode contar como a vantagem de, digamos, uma pele à prova de balas, como o do Leão de Nemeia, ou as setes cabeças que sempre crescem de volta, como as da Hidra. A metade humana deixa o herói mais esperto que o medíocre monstro, desde que o herói realmente use o cérebro. A metade deusa indubitavelmente também acrescenta vantagens, embora naturalmente essa parte dependeria totalmente do deus em questão.

A maior vantagem dos monstros — além das coisas óbvias como garras, dentes, veneno, e tamanho e força superiores — é que eles nunca realmente morrem. O cen-tauro Quíron nos conta que monstros são “modelos”. Um modelo é a ideia básica e original de alguma coisa. Isso significa que quando personagens similares estouram em livros e filmes diferentes, todos eles são baseados no modelo original. Por exem-plo, o personagem do “Fofo”, o cão de três cabeças que guarda a pedra filosofal no primeiro livro de Harry Potter, vem da ideia do Cérbero, o cão de três cabeças que guarda a entrada do Mundo Inferior.²

Assim, monstros, como ideias, nunca podem ser mortos, e eles têm memórias bastante longas. Se você é um herói e encontra uma criatura mágica, esta pode ter sido transformada em pó várias vezes ao longo dos anos por heróis assim como você. Seria algo sábio assumir que ele está guardando algum rancor e ficaria feliz em levar-lhe para a perdição.

Percy Jackson tem essa realidade severa forçada sobre ele sem termos incertos, e é uma experência de onde podemos aprender: Nada diz “os seus dias estão conta-dos” melhor que um Minotauro na sua porta de entrada.

Deve ser notado que filhos de deuses menos poderosos não vão atrair tanta atenção monstruosa quanto aqueles com pais mais poderosos. Você acharia “legal” se o seu pai olimpiano fosse um dos deuses maiores, mas esse tipo de status vem com um grande preço.

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Percy é o exemplo perfeito disso. Ter Poseidon como pai pode dar a ele alguns poderes incríveis, mas isso também o deixa como um alvo de alto perfil. Então, mesmo se você tiver habilidade notável para um semideus, não tem como garantir que isso lhe facilite as coisas.³

O mundo de deuses e monstros é cruel. Um herói não pode confiar no pai imortal por ajuda. Existem regras contra interferência direta, e parece que quanto maior no escalão um deus for, mais limitado ele ou ela é em oferecer ajuda. Depois de Annabeth Chase fugir da casa do pai, sua mãe Atena a ajuda certificando-se que a filha encontrará um meio-sangue mais velho e poderoso. Thalia, filha de Zeus4, leva os amigos quase à segurança do acampamento, mas quando ela está prestes a ser morta por uma horda de monstros, tudo que Zeus pode fazer é transformá-la numa árvore, no topo da Colina Meio-Sangue.

Ultimamente, está ficando mais frequente os heróis novos cuidarem uns dos outros. Um pai ou patrono podem ser de alguma ajuda, mas é a natureza do herói ter que batalhar com os monstros sozinho.

Marcações:Marcações:Marcações:Marcações: ¹: O original, não Percy Jackson de O Ladrão de Raios, etc. O antigo Perseu era o

filho de Zeus, não de Poseidon, então é curioso que a mãe dele tenha escolhido esse nome.

²: Quíron não teria usado esse exemplo, naturalmente, já que no mundo dele não existem essas coisas de bruxos. Isso teria sido algo estúpido.

³: Justamente o oposto, já que segundo o acordo entre os Três Grandes, você não deveria nem existir, e várias criaturas estariam tentando garantir que você não deveria existir mesmo.

4: Veja a marcação anterior: filha não-autorizada.

Lição Dois: Tipos de Monstros

Monstros podem ser categorizados de várias maneiras diferentes: por habitat, lealda-de, inteligência, letalidade e por aí vai. Pelo propósito dessa lição, vou separá-los em dois tipos principais: aqueles que lhe matarão de propósito — sendo por algo pessoal ou porque você entrou por acaso no covil deles — e aqueles que lhe matarão por acidente.

A maior parte dos monstros é bastante territorial; eles tendem a demarcar um terreno de caça e protegê-lo ferozmente. Quando o irmão de Percy, Tyson, é atacado por uma esfinge na cidade, pode ter sido só porque ele penetrou no território dela. Note que o fato que Tyson em si seja um monstro não lhe dá proteção.

Agora vemos o tipo de monstro que pode não ter nada contra você pessoalmen-te, mas não hesitará em matar você de qualquer jeito. Isso pode ser porque ele está (a) guardando alguma coisa que acha que você irá roubar; (b) esteja com fome; ou (c) os dois.

Heróis novos parecem encontrar esses tipos de monstros com mais frequência quando estão em missões, mas não sempre. Monstros podem ser encontrados em quase todos os lugares, e se você topar num dos terrenos de caça de uma Hidra, as chances são que uma das sete cabeças comerá você antes de conseguir explicar que

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estava meramente caminhando para o restaurante de iguarias na esquina para comer um pastrami com pão de centeio.

Alguns monstros ficam bastante isolados do mundo mortal. Percy tem que ir ao Mar de Monstros para encontrar Polifemo, o ciclope pastor com as ovelhas carnívo-ras, e Squila e Caríbdis, que entre eles destroem (de novo) o navio couraçado, CSS Birminghan, e sua tripulação. Mas outras criaturas dependem dos seres humanos para sobreviver. Nos tempos antigos, os monstros geralmente viviam às custas dos huma-nos roubando as ovelhas e bodes deles (ou ás vezes fugindo com as suas donzelas). No mundo moderno de Percy, vários monstros foram trabalhar no varejo, praticando a “vida às custas dos humanos” num jeito completamente diferente.

Esse tipo de criatura mágica não pretende matar você, mas matará simplesmen-te pelo emprego dele, completamente indiferente do seu destino.

Tomemos como exemplo a rede de lojas Donuts Monstro. Elas se espalham pe-lo país, cada uma conectada à vida de um monstro. As lojas se multiplicam como cabeças de Hidra, mas como na verdade o sucesso deles vem com o gasto dos clientes humanos — o equivalente moderno às ovelhas ou donzelas roubadas, por exemplo —, isso continua a ser visto.5

Outras aventuras de varejo são mais obviamente perigosas, como a loja da Me-dusa, que Percy, Annabeth e Grover passam na primeira missão deles. Nos velhos tempos, monstros que matavam e comiam humanos poderiam geralmente ser encon-trados no cruzamentos de estradas principais, onde havia mais tráfego. Agora mons-tros como Medusa abrem lojas. A sociedade mortal costumava se centrar nos cruza-mentos, mas isso agora isso foi revolvido para o varejo. Por essa razão, um herói inte-ligente deve ter cuidado nas lojas; ninguém quer pagar por um cheeseburguer passan-do a eternidade como um ornamento de pedra para enfeitar jardim.

Os monstros não consideram morte ou desmembramento como um falha no plano de negócios. Tomemos por exemplo as Greias. Quem pensaria que seria uma boa ideia colocar três velhas que compartilham um olho no controle de um táxi em Nova York?6 Já que as irmãs não podem passar o olho entre elas sem disparar um argumento violento, o único destino do táxi deve ser o desastre. E mesmo assim, pegar heróis no caminho deles é o trabalho das velhas desde a Grécia Antiga.

O fato delas não se importarem com o que acontece com os passageiros semi-mortais mostra porque nunca deve-se lidar com coisas imortais levemente. Mesmo quando uma criatura mágica for meramente uma varejista — mesmo quando, como as Irmãs Cinzentas, só querem tecnicamente ajudar —, isso pode ser muito perigoso.

Agora vamos ao monstro que na verdade leva a morte muito para o lado pesso-al. Em adição ao ódio natural entre monstro e herói, há outro motivo para que um horror com presas, com asas e com pele de couro queira matar meio-sangues como Percy. Muitos monstros são servos de vários deuses, que mantém as criaturas no ser-viço para cuidarem de trabalhos esquisitos (e ás vezes desagradáveis), como rastrear heróis, guardar tesouros e torturar semideuses que os deixam zangados.

Que significa que se você zangar um dos deuses, é provável que ele ou ela mande alguma coisa realmente sórdido para lhe dar a informação. Percy Jackson zanga vários deuses simplesmente por respirar, então ele provavelmente sente como se o mundo inteiro estivesse disposto a pegá-lo. Mas isso não é exatamente verdade. Na maioria do tempo, vários mundos estão dispostos a pegá-lo.7

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Quer você esteja lidando com a simplicidade da cabeça de touro do Minotauro ou a conveniente ferocidade das Fúrias, se um deus mandou um monstro atrás de você, há pouco que você possa fazer para evitá-lo. Assim, você pode estar se pergun-tando o porquê de eu me incomodar em mencionar isso numa lição sobre evitar con-flito com monstros.

Se você for um herói, e um deus vingativo (ou possivelmente apenas entedia-do) tenha enviado um monstro atrás de ti, você pode não conseguir sair muito bem disso, mas pré-reconhecimento da ameaça lhe permitirá controlar o campo de bata-lha; sábias táticas podem até igualar as coisas entre oponentes um mais forte que o outro.

Por exemplo, se você for um herói com uma quimera que cospe fogo no encal-ço, então você iria querer iniciar o confronto perto de uma fonte de água acessível — ou pelo menos longe de materiais combustíveis. Identificando cedo o monstro, você pode afastá-lo de curiosos, testemunhas oculares incômodas e prédios destrutíveis. Deve-se sempre tentar limitar ferimentos colaterais e danos de propriedade, já que isso reduz as chances de você ser procurado por autoridades convencionais.

Esse é um caso onde as aventuras de Percy nos mostra como não lidar com monstros. Pense em como a vida dele seria mais fácil se não gastasse tanto tempo procurado pela polícia ou explodindo carros, ônibus, ginásios escolares e monumen-tos nacionais. Benfeitores da lei mortal podem não parecer uma grande ameaça com-parada com uma tropa de touros de bronze ou um grupo de cães infernais, mas para quê acrescentar inconveniências desnecessárias numa missão já complicada?

Marcações:Marcações:Marcações:Marcações: 5: Se vivêssemos no mundo de Percy e os Olimpianos, eu definitivamente me

admiraria com uma rede de café com uma sereia na logomarca, para nenhum outro motivo a não ser convencer a sociedade mortal que é razoável pagar três dólares por uma xícara de café ser certamente um plano para acabar mais rapidamente com a Civilização do Oeste.

6: Embora isso explicasse muito sobre vários taxistas em Manhattan. 7: Com isso, eu quero dizer o mundo mortal, o mundo imortal e o Mundo Infe-

rior. Falando de Hades, ele deve ter um motivo especial para odiar Percy, mas todos os meio-sangues deveriam ter cuidado com ele. Ele é daquele tipo de garoto que nunca é convidado para brincar com os outros, mas tem super poderes e vários mi-lhões de anos para a sua disposição vir a ferver. Hades é compreensivelmente mal-humorado.

Lição Três: Localizando um Monstro

A questão de reconhecer monstros não é só memorizar os nomes e tipos de criaturas que você possa esbarrar na rua, apesar disso não doer. Se você está se perguntando se a sua professora de álgebra é uma Fúria ou só uma senhora de meia-idade com um monte de gatos, a coisa mais importante é usar a sua cabeça, começando com os seus olhos, ouvidos e nariz.

Criaturas com um espírito da natureza na ascendência, como ninfas, sátiros e ciclopes, podem sentir o cheiro de um monstro facilmente. Contudo, não é conveni-

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ente deixar uma ninfa ou sátiro com você o tempo todo. Um semideus esperto deve aprender a prestar atenção ao seu nariz. Isso leva prática, já que gastamos a maior parte das nossas vidas a não sentir o cheiro das coisas. As farmácias têm corredores inteiros dedicados a sabonetes e desodorantes, pós, perfumes e aromatizantes de ar, para que nunca tenhamos que ser incomodados por um aroma desagradável.8

Felizmente, monstros não geralmente se preocupam com coisas assim, o que os deixa mais fáceis de localizar. Gigantes canibais não usam fio dental. Enquanto nin-guém gostar de acusar o/a colega de ter halitose ou cheirar mal, se o seu companhei-ro de educação física puder derrubar um ônibus de dois andares com a respiração, esse pode ser um sinal para que você precise amarrar os tênis e se preparar para uma luta.

Ainda no dilema sobre se o seu vice-diretor é uma mantícora? Talvez você pos-sa “acidentalmente” acionar os detectores de fumaça em sala. Se o cheiro dele parecer como o cheiro do pelo de um cachorro molhado debaixo do terno, é melhor você faltar á detenção.

No mundo dos olimpianos, a Névoa pode obscurecer a sua visão, mas um herói sábio pode usá-la a seu favor. Se você não puder se lembrar como o seu parceiro de laboratório parece, ou tem dificuldade em olhá-lo no olho, a Névoa pode ser um fa-tor, algo que só aconteceria se você estivesse lidando com um não-humano.

E também, você pode estudar o jeito que a pessoa se veste. Nós tentamos ser sensíveis às diferenças culturais nas roupas, mas um monstro inteligente9 pode contar com isso para disfarçar o seu disfarce. Um véu da cabeça até os pés pode ser perfei-tamente inocente, ou ele pode esconder um rosto que poderia parar um relógio — literalmente — transformando-o em pedra.

Deve prestar atenção, também, ás escolhas de moda. Já que monstros nunca morrem, eles têm problema ficando em dia com a moda nas roupas e hobbies10. Se o seu novo professor usa uma camisa havaiana rasgada por um tigre todo dia, ou o no-vo aluno na escola nunca ouviu falar de um PlayStation, o melhor seria você não vi-rar as coisas para eles.

Contanto que você mantenha os olhos e orelhas abertos, monstros — com al-gumas exceções — serão demasiado fáceis de encontrar. Alguns deles são astutos, mas eles não são realmente muito bons em fingir serem humanos. Alguns podem conseguir por um tempinho, mas geralmente se denunciarão a um herói que estiver prestando atenção. O problema é que a maioria dos heróis — não como Percy e os seus companheiros, obviamente — podem estar muito focados em encontrar o tesou-ro ou encontrar a missão, que eles não prestam atenção.

Como alguma coisa esquisita ou fora do normal coloca você atento, nada — respiração fedorenta, más maneiras ou moda ruim — pode ser conclusivo sozinho. Seria uma vergonha ser deportado da escola (ou preso) por tentar apunhalar o dire-tor com uma caneta esferográfica só porque ele não usa a quantidade certa de deso-dorante11.

É aí que Percy nos dá um exemplo perfeito de como lidar com monstros: Olhe ele por inteiro. O que ele faz de mais importante quando lida com uma criatura míti-ca é usar o cérebro. Caso nada mais funcione, isso pode baixar a guarda do oponente. Ninguém realmente espera que um herói seja inteligente; o treinamento tende a focar mais nos músculos que na mente.

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Lembre-se da regra principal quando se está lidando com monstros, feiticeiras e deuses: Se a coisa parece boa demais para ser verdade, ela provavelmente é. A oferta de alguma coisa por nada sempre deve deixar um herói acautelado, e nenhum outro sentido lhe dirá que isso não seja o normal.

Marcações:Marcações:Marcações:Marcações: 8: Nada disso aparentemente muda o fato de que os monstros podem sentir o

cheiro de heróis com muita facilidade. 9: Isso não é sempre um oximoro, não mais do que “sábio herói” é. 10: Ou, o mais provável, eles simplesmente não se importam. 11: Coisa que você não faria, já que pode perceber a diferença entre ficção e rea-

lidade. Se você não puder, então tem um problema maior do que os monstros míti-cos.

Percy Jackson

Uma das coisas mais admiráveis em Percy Jackson é que ele aprende com os erros que comete ao longo de suas aventuras12. A educação clássica dele é quase inexisten-te, mas ele demonstra que, com êxito, lidar com um monstro precisa de mais do que memorização de fatos e história. Um herói tem que observar todos os pontos próspe-ros que façam um monstro desmontar do que passa como “normal” no mundo mor-tal. Uma criatura com um número anormal de cabeças é óbvia. Com mais frequência, o que Percy nota são os vários pequenos detalhes que se somam a uma coisa: um monstro e perigo imediato13.

Isso não se aplica apenas a identificar monstros e matá-los, mas como ele inte-rage com todos os não-humanos. Nas aventuras, Percy usa esses vários detalhes para decidir como lidar com cada monstro num princípio individual. Ele resgata mons-tros, até protege e se torna amigo deles. Talvez essa imparcialidade seja um resultado de ter um ciclope como irmão.

Ou talvez isso seja simplesmente parte da sua personalidade, e mais alguma coisa que o diferencia dos heróis. Nos encontros deles com deuses e monstros, Percy Jackson usa não só os músculos e a mente, mas também o coração. Isso o torna difí-cil de prever e controlar, que é o motivo dos deuses o considerarem tão potencial-mente perigoso, caso a profecia a respeito dele seja cumprida.

Mas isto também o torna um herói, não só no sentido semideus e clássico, mas do tipo humano também. Essa é a lição mais importante que podemos aprender nos livros de Percy Jackson e os Olimpianos. Você pode nunca ter que lidar com Mantí-coras e Górgonas, e o Minotauro pode não estar esperando para te pegar numa em-boscada no caminho da escola, mas nós todos temos que lidar com os nossos pró-prios monstros: valentões, pressão de casal, perigo desconhecido, preconceito, novos alunos na escola... uma lista sem fim que torna o nosso mundo desafiador mesmo se não formos semideuses.

Mas assim como Percy Jackson, você também pode conquistar sucesso em to-das as suas missões se aplicar essas mesmas lições: Evite conflitos quando puder, mantenha os olhos e ouvidos abertos e sempre olhe o problema por inteiro. E como Percy, nunca tenha medo em pedir para os amigos lhe ajudarem.

Page 13: Semideuses e Monstros - Percy Jackson e os Olimpianos

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Marcações:Marcações:Marcações:Marcações: 12: Pelo menos quando ele lida com monstros. Em outras questões, ele ainda

parece totalmente tapado. 13: Esse é, talvez, um produto da natural atenção de um herói a tantos detalhes

de uma vez só, isto é, a TDAH.

Rosemary Clement-Moore é a autora da série Maggie Quinn de romances de misté-rios sobrenaturais para adolescentes, incluindo Prom Dates from Hell, Hell Week e Highway to Hell. Em adição a livros, filmes, o SciFi Channel e Guitar Hero, ela adora histórias míticas de heróis e monstros. Apesar de Atena ser sua deusa preferida, Ro-semary tem uma queda por Hades, desde que ela representou Perséfone num musical (com ninfas cantando e dançando!) que escreveu com a classe numa escola de teatro. Os leitores podem visitá-la em www.rosemaryclementmoore.com.

Tradução não-oficial feita por Diego de T. A. D. Oliveira

Revisão final do texto feita por

Reuel d’Olivera A tradução deste texto foi feita a partir do disponibilizado no site da TeenLibris e no GoogleTM Books.