semanario angolense

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www.semanario-angolense.com SÁBADO 05 DE JULHO 2014 Kz 250,00 EDIÇÃO 572 ANO X [email protected] DIRECTOR SALAS NETO «MUZONGUÉ» NOVO «PORTA-VOZ» DO MPLA EM BENGUELA A polémica ascensão de David Nahenda Esta perigosíssima febre hemorrágica parece estar sem controlo na Guiné-Conacri, tendo já atingido também a Libéria e a Serra Leoa. Há sérios riscos de a epidemia vir a instalar-se igualmente entre nós, devido ao forte movimento migratório em direcção ao nosso país desde aquela zona do continente. Instada pelo SA, a Directora Nacional de Saúde Pública, Adelaide de Carvalho, diz que Angola tem estado em alerta permanente, para tentar evitar a «entrada» da doença. Há rumores de possíveis casos suspeitos no Uíge e no Soyo, mas ela descartou-os ÉBOLA: ALERTA MÁXIMO! Epidemia vem-se alastrando pela África Ocidental A hora e a vez de A. Paulino

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A noticia de angola em SA.

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www.semanario-angolense.com SÁBADO  •  05 DE JULHO 2014

Kz 250,00EDIÇÃO 572 ANO X

[email protected]

DIRECTOR

SALAS NETO

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«MUZONGUÉ» NOVO «PORTA-VOZ» DO MPLA EM BENGUELA

A polémica ascensãode David Nahenda

Esta perigosíssima febre hemorrágica parece estar sem controlo na Guiné-Conacri, tendo já atingido também a Libéria e a Serra Leoa. Há sérios riscos de a epidemia vir a instalar-se igualmente entre

nós, devido ao forte movimento migratório em direcção ao nosso país desde aquela zona do continente. Instada pelo SA, a Directora Nacional de Saúde Pública, Adelaide de Carvalho, diz que Angola tem

estado em alerta permanente, para tentar evitar a «entrada» da doença. Há rumores de possíveis casos suspeitos no Uíge e no Soyo, mas ela descartou-os

ÉBOLA: ALERTA MÁXIMO!Epidemia vem-se alastrando pela África Ocidental

A hora e a vezde A. Paulino

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2 Sábado, 05 de Julho de 2014.

Em Foco

Director: Salas Neto Editores — Editor Chefe: Ilídio Manuel; Política: Salas Neto; Economia: Nelson Talapaxi Samuel

Sociedade: joaquim Alves; Desporto: Paulo Possas; Cultura: Salas Neto; Grande Repórter: joaquim AlvesRedacção: Pascual Mukuna, Rui Albino, Baldino Miranda, Adriano de Sousa, Teresa Dias, e Edgar Nimi

Colaboradores Permanentes: Sousa Jamba, Kanzala Filho, Kajim-Bangala, António Venâncio,Celso Malavoloneke, Tazuary Nkeita, Makiadi, Inocência Mata, e António dos Santos «Kidá»

Correspondentes: Nelson Sul D’Angola (Benguela) e Laurentino Martins (Namibe).Paginação e Design: Sónia Júnior (Chefe), Carlos Inácio e Osvaldo Bala Fotografia: Nunes Ambriz e Hélder Simões

Impressão: Lito Tipo Secretário de Redacção: Dominigos Júnior

Adminstracção: Marta PisaterraAntónio Feliciano de Castilho n.o 119 A • Luanda

Registro MCS337/B/03 Contribuinte n.o 0.168.147.00-9Propriedade: Media Investe, SA. República de Angola

Direcção: [email protected]; Edição: [email protected];Política: [email protected]; Economia: [email protected];

Sociedade: [email protected]; Cultura: [email protected];Desporto: salasnetosa09@@gmail.com; Redacção: [email protected];

Administracção e Vendas: [email protected]/[email protected];Publicidade e Marketing: [email protected]; sítio: www.semanario-angolense-ao.com

As opiniões expressas pelos colunistas e colaboradores do SA não engajam o Jornal.

Apesar do seguro au-tomóvel de responsa-bilidade civil ser uma obrigação em Angola,

a maior parte das viaturas que diariamente calcorreiam pelas es-tradas do país, sobretudo em Lu-anda não está segurada.

Não existem dados oficiais em relação às viaturas em circulação, mas a Associação dos Concessio-nários de Equipamentos e Trans-portes (ACETRO) estima entre 400 e 500 mil o número de carros, o que fará de Angola um dos maiores parques automóveis de África.

Só que esse parque de automó-veis será também um dos mais de-sordenados do continente, no qual se cruzam viaturas para todos os gostos e feitios, desde marcas do topo gama às meras latas rolantes, que diariamente cirandam pelas estradas e avenidas do país, mor-mente na sua capital.

Por incrível que pareça, apenas menos de três por cento das via-turas em circulação possuem o respectivo seguro automóvel, se-gundo revelou esta semana à Lusa o director-adjunto da Direcção Na-cional de Viação Trânsito (DNVT),

Conceição Gomes. Os dados apontados, já de si bas-

tante assustadores, tornam-se mais preocupantes se tivermos em linha de conta que Angola figura entre os países com maior sinistralidade rodoviária do mundo, com todo o cortejo de mortos e feridos, assim como de danos materiais que se conhece.

O aviso feito recentemente pela Polícia Nacional de que, a partir desta semana, os agentes regula-dores do trânsito iriam autuar so-bre os automobilistas infractores, aplicando multas ou procedendo à apreensão das suas viaturas, não constitui uma novidade.

Trata-se, em boa verdade, de um aviso que já dura há «séculos», que remonta à entrada em funciona-mento do actual Código da Estra-da, um instrumento jurídico que, há sete anos, viria a tornar obriga-tório o seguro automóvel de res-ponsabilidade civil.

Porém, ao longo desse tempo todo, temos vindo a assistir, ano após ano, aos sucessivos apelos da polícia aos automobilistas para que estes honrem o pagamento do se-guro automóvel obrigatório, mas os

resultados têm sido, convenhamos, praticamente nulos, a avaliar pelo irrisório número de viaturas actu-almente seguradas.

Associando à falta de uma cultu-ra de pagamento de impostos, nos quais se incluem indirectamente o seguro automóvel de respon-sabilidade civil, deve-se também reconhecer que as empresas segu-radoras não têm estado a honrar as suas obrigações contratuais, o que leva ao afastamento de muitos au-tomobilistas, embora isso não deva servir de pretexto para o não cum-primento da lei.

Há notícias de que há segurado-ras que levam uma eternidade para efectuar o pagamento das despesas resultantes de estragos provocados a terceiros por clientes seus, tendo uma delas chegado ao extremo de fazer «dançar» o prejudicado em dado acidente durante seis meses para cobrir uma factura de pou-co mais de 80 mil kwanzas, o que confirma o «despreparo» da maio-ria. Se com esta «miudeza» é assim, que só aconteceu depois de grande pressão do «beneficiário», nem dá para imaginar se fosse para indem-nizar com um carro novo.

Por seu lado, a Polícia de Trân-sito, a quem compete a fiscalização no terreno do pagamento do segu-ro automóvel, não deve limitar-se a «carpir lágrimas» sobre o fraco índice de viaturas seguradas, mas assumir também as suas «culpas no cartório», já que ela terá fraquejado nos momentos em que devia agir com a sua máxima força para fazer cumprir a lei.

Que desta vez a polícia leve a sério e de forma honesta o seu tra-balho de fiscalização e punição dos infractores, devendo para tal afas-tar-se da prática de actos menos dignos como, por exemplo, o recur-so à «gasosa», sob pena de perder a pouca autoridade que ainda lhe resta neste capítulo!■

De aviso em aviso…QUI

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03REFUGIADOS EM RISCO DE FOMEO Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refu-

giados (ACNUR) e o PAM alertaram para os cortes nos for-necimentos de alimentos para refugiados. Num encontro em Genebra com representantes africanos, as duas agências da ONU advertiram que a falta de fundos obrigou aos cor-tes nas rações de cerca de 800 mil refugiados em África.

FIFA CRITICADAO presidente do Uruguai, José Mujica, conhecido

pela linguagem inflamada e directa, criticou a FIFA nos seguintes termos: «Eles podem punir, mas não infligir sanções fascistas». Depois de ter dado como provado que Luis Suárez mordeu o ombro de Chielli-ni no jogo frente à selecção italiana, do Grupo D do Mundial, a FIFA castigou de imediato o uruguaio.

SEGURO AUTOMÓVELAs empresas de seguros em Luanda registam

grandes afluências desde terça-feira, data em que co-meçou a vigorar o seguro obrigatório de responsabi-lidade civil automóvel. Algumas estenderam os seus serviços para mais uma hora e meia. Na ENSA a en-chente registou-se logo à entrada da agência central.

TAAG INVESTE EM PORTUGALA TAAG vai investir 266 milhões de

Kwanzas (dois milhões de euros) numa loja no centro da cidade do Porto, Portugal, para corresponder ao aumento da procura dos serviços no norte daquele país europeu, anunciou a companhia.

POLÍCIA PRENDE SUSPEITOSA Polícia Nacional deteve de 27 a 29 de Julho, em

Luanda, 111 suspeitos de vários crimes, apreendeu 12 quilos de liamba, 12 armas de fogo e recuperou quatro viaturas que tinham sido roubadas. No mesmo período registaram-se 32 acidentes de viação, que resultaram em 13 mortes, 23 feridos e prejuízos materiais avultados.

100 ANOS DA I GUERRA MUNDIALA obra do director bósnio, Haris Pasovic, foi protagonizada

por 300 participantes de 12 países, numa ponte próximo do lugar do magnicídio. Em 28 de Junho de 1914, o servo-bósnio Gavrilo Princip assassinou a tiros o herdeiro do trono austro-

-húngaro, Francisco Ferdinando, e a sua mulher Sofía. Um mês depois, começou o primeiro conflito mundial.

AMÉRICA E EUROPA DOMINAMA Europa mantém-se em prova com a Alemanha, Bél-

gica, França e a Holanda, enquanto a América do Sul está representada pela Argentina, Brasil, Colômbia e a Costa Rica. O velho continente e a América do Sul confirmam assim a sua hegemonia, enquanto a África e a Ásia não conseguiram figurar entre as oito melhores do Mundo.

SELECÇÃO SUB-17Um torneio destinado a definir a Selecção Nacio-

nal que vai participar dos Jogos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que se disputará em Luanda, entre 23 de Julho e 2 de Agosto decorrerá em Luanda. AFA, Petro, 1º de Agosto, Interclube, Brilhantes e Asa também vão participar.

Associando à falta de uma cultura de paga-mento de impostos, nos quais se incluem in-directamente o seguro automóvel de respon-sabilidade civil, deve-se também reconhecer que as empresas seguradoras não têm esta-do a honrar as suas obrigações contratuais, o que leva ao afastamento de muitos auto-mobilistas, embora isso não deva servir de pretexto para o não cumprimento da lei

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O jornalista Rogério Sitoe, até então director editorial do jornal «No-tícias», foi recentemente afastado do cargo, sob a justificação de que

o grupo de media proprietário da publicação, detido maioritariamente pelo Banco Central de Moçambique teve necessidade de «im-primir uma nova dinâmica» no diário. Tal argumento foi apresentado em Maputo pela presidente do Conselho de Administração da Sociedade de Notícias, Esselima Macome, num encontro com jornalistas e outros fun-cionários do jornal convocado a propósito.

Mas a imprensa moçambicana faz uma in-terpretação diferente das razões que ditaram o afastamento de Rogério Sitoe, um profis-sional com créditos firmados no ambiente jornalístico de Moçambique.

O semanário Savana associa a medida com a ida de Rogério Sitoe a Sadjundjira, centro de Moçambique, onde vive actualmente o presidente da Resistência Nacional Moçam-bicana (Renamo, oposição), Afonso Dhlaka-ma, para uma conferência de imprensa cuja cobertura pelos órgãos de comunicação so-cial moçambicanos terá gerado simpatia da opinião pública em relação aos argumentos do líder da oposição no diferendo que o opõe ao Governo sobre a lei eleitoral.

«Sadjundjira decapita Notícias», assim escreveu em título o diário, sugerindo que a presença de Rogério Sitoe num dos baluartes do principal partido da oposição, o texto que escreveu sobre a conferência de imprensa e a actual tensão política provocaram o seu afas-tamento do «Notícias».

«A deslocação de Sitoe, um jornalista com

bom recorte profissional, não foi vista com bons olhos por alguns decisores do regime, sobretudo pela forma como tratou o assunto Sadjundjira», realça o Savana.

Por seu turno, o diário MediaFax «agarra» na falta de experiência e passado no jorna-lismo do novo director-editorial do Notícias, Jaime Langa, para fundamentar que a exone-ração de Rogério Sitoe se deve ao seu «rigor e profissionalismo».

«Jaime Langa foi colocado no cargo apenas por conveniência político-governamental. Ou seja, a ideia é simplesmente para assegu-rar que o controlo dos conteúdos editoriais do Notícias não fuja do Governo, como nal-gum momento parecia estar a acontecer ten-do em conta o alto grau de profissionalismo e isenção do anterior director, Rogério Sitoe», escreveu o MediaFax.

O Canal de Moçambique também aponta a «destituição de Rogério Sitoe» como resul-tado da sua ida a Sadjundjira, referindo que a indicação do novo director editorial do No-tícias foi articulada entre o accionista Banco de Moçambique, Governo e Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder.

«Rogério Sitõe foi destituído, entre outras razões, por ter ido a Sadjundjira cobrir a con-ferência de imprensa do líder da Renamo e ter escrito um texto que não agradou à Freli-mo», diz o jornal, citando fontes internas do Notícias.

Instado pela imprensa em Maputo para se pronunciar sobre as razões da sua exonera-ção, Rogério Sitoe tem declinado falar a res-peito do tema. ■

Por ter «conversado» com Dlakhama

Demitido directordo jornal «Notícias»

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N. Talapaxi S.

Depois de 22 anos ins-titucionalmente ador-mecidos, os Países Africanos de Língua

Oficial Portuguesa (PALOP), ao reunirem-se em Luanda, na Ci-meira que aconteceu na segunda--feira, 30 de Julho, resolveram acordar, dando um outro sinal de vida à sua instituição congregado-ra. Para já, a mudança expressa-se no nome: agora é FORPALOP – Fórum dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

Um encontro assim, a esse nível e com esse carácter, entre os cinco componentes da instituição, não decorria desde 1992, quando foi realizada a Cimeira de São Tomé e Príncipe. Entre 1979 e 1992, fo-ram realizadas dez cimeiras. De lá para cá, os encontros entre si decorreram mais por força da so-lidariedade que caracteriza a rela-ção desse quinteto de nações, sem o selo de formalidade ou vincula-ção que os caracterizava.

Esse espírito de congregação já reunia os revolucionários de An-gola, Moçambique, Cabo Verde,

Guiné-Bissau e São Tomé e Prín-cipe desde os primórdios da luta de libertação contra o colonialis-mo. Em 20 de Abril de 1961, em Casablanca, Marrocos, eles cria-ram a Conferência das Organiza-ções Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP). Essa cor-poração foi o embrião, que, pouco depois das independências, viria a dar lugar, já em 1979, ao grupo dos PALOP.

Segundo o director para Áfri-ca e Médio Oriente do Ministério das Relações Exteriores de Ango-la, Joaquim do Espírito Santo, a solidariedade, sendo um elemen-to basilar do património histórico e cultural que os PALOP constru-íram juntos ao longo da luta para a independência, é uma bússola que vai continuar a orientar a acção dos cinco países que o en-formam para a sua afirmação no concerto africano e também no Mundo

Foi na linha dessa contextua-lização que a reunião de Luanda proclamou o FORPALOP. Terá reconhecido que a criação dos PALOP obedeceu aos objectivos de um espaço de cooperação polí-

tico-diplomática e de solidarieda-de, segundo a necessidade que a realidade da época impunha, com todas as implicâncias decorrentes da então recente saída beligerante desses países do jugo colonial.

Além disso, as instabilidades individuais dos membros, so-bretudo no campo político, não deixariam de se reflectir na vida da organização. Nessa altura, as situações de guerra civil nos PA-LOP, quase de um modo geral, reinavam. Ressentidos com esses constrangimentos, os PALOP ca-minhavam por caminhar, titube-antemente.

Na sombra da CPLP

Todavia, esse mesmo caminhar de «mangonha» não deixou de manter a cooperação entre eles, que manteve a aproximação com Portugal e com o Brasil, e sob a visão de uma progressiva confi-guração de espaços geopolíticos mundiais, ajudou a criar as con-dições necessárias para o surgi-mento, em 1996, da CPLP - Co-munidade dos Países de Língua Portuguesa.

Pode-se dizer que foi desde esse momento que aos PALOP a so-nolência começou «a lhes cuiar» - debaixo da sombra da CPLP. No jogo de interesses no âmbito dessa nova instituição, os PALOP eram os coadjuvantes necessários num cenário em que portugueses e brasileiros eram portadores de ambições de protagonismo.

Entretanto, deve-se ter em conta também que foi no bojo da CPLP onde as diferenças, e até as distâncias, entre os componentes africanos se terão tornado menos «notáveis», diante de um ama-durecimento das suas posições, concorrendo tal facto para uma reavaliação e consequente redefi-nição das estratégias dos PALOP.

Para Jorge Carlos Fonseca, Pre-sidente de Cabo Verde, e até então titular da presidência dos PALOP, falando na abertura da Cimeira de Luanda, hoje a organização já não responde completamente aos desafios da actualidade, por falta de instrumentos mais ajustados ao novo cenário internacional. Por isso, é necessário pensá-la em novos moldes que lhe confiram mais rigor, sentido útil e alcance

operacional.«Os Cinco» chegaram com

toda a força à capital angolana, dispostos a dar outro rumo aos PALOP, com a assinatura do Acto Constitutivo do FORPALOP. «A institucionalização do Fórum dos PALOP», disse o presidente an-golano, José Eduardo dos Santos, na abertura do evento, «permiti-rá aos nossos países uma melhor afirmação e promoção dos seus interesses no contexto das organi-zações internacionais, regionais e sub-regionais em que se inserem».

Escolhido agora como líder do Fórum, Dos Santos considera que «os PALOP têm problemas específicos comuns que requerem instrumentos diferenciados de intervenção fora do contexto da CPLP».

«Da harmonização que entre nós se estabelecer, depende em grande medida a nossa força e influência na hora de se tomarem as decisões em espaços mais alar-gados, onde se discutam os pro-blemas e se procurem soluções, em prol das causas africanas», sublinhou o presidente anfitrião da cimeira.

De PALOP a Fórum dos PALOP

Saindo da «sombrinha» da CPLPNa cimeira que ocorreu em Luanda, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe resolveram dar outra roupagem à instituição que os une, para saírem do marasmo que os encobria. Assinaram o Acto Constitutivo

do FORPALOP, em substituição dos PALOP. E prometem assumir o seu devido lugar entre as nações

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O Comunicado Final expedido ao fim da ci-meira é demais gene-ralizado para dar uma

ideia mais convincente da vitali-dade que os discursos têm vindo a atribuir ao novo momento dos PALOP nascido em Luanda.

Além da manifestação dos abraços de compadres, descritos tradicionalmente e que são de praxe nesses rituais, da escolha do primeiro presidente da orga-nização, que nos próximos dois anos (até 2016) será José Eduardo dos Santos, da indicação de Cabo Verde para albergar a próxima ci-meira do «Fórum», prevista para 2016, o que o Comunicado relata, no que toca à inovação propria-mente dita, é o seguinte:

«Os Chefes de Estado e de Go-verno dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa reco-mendaram a revisão dos acordos e protocolos de cooperação exis-tentes entre os cinco países, bem como a identificação de outras áreas de cooperação futura, com particular realce para a vertente empresarial, tendo em vista refor-çar os programas de cooperação

em torno dos objectivos comuns e partilhados».

E para não ficar só nisso, o documento diz também que «a Cimeira encorajou o Presidente eleito a prosseguir os esforços na

materialização das acções identifi-cadas e não concluídas, no quadro da cooperação dos cinco Países Africanos de Língua Oficial Por-tuguesa, com vista a uma actua-ção conjunta cada vez mais signi-

ficativa e influente».Porém, alguns aspectos pontia-

gudos que talvez devessem mere-cer alguma alusão no registo das considerações finais não tiveram referência. Não se vai julgar taxa-

tivamente que deixaram de ser to-cados. É duvidoso que assim seja, pois, afinal, na conversa dos cinco «muatas» à porta fechada, muito terá sido dito mas não se achou conveniente tornar público.

Entende-se que essa cimeira tenha visado essencialmente o lançamento do FORPALOP, não cabendo a si pôr lenha em nenhu-ma fogueira. Todavia, uma cita-ção dos posicionamentos a tomar diante das principais makas não seria pior do que um abecedário generalizado de objectivos que qualquer organização internacio-nal que se quisesse prezada grafa-ria nas suas doutrinas.

Dentro de dois anos, o encontro está marcado para Cabo Verde. Na segunda Cimeira do Fórum PA-LOP, muita água vai passar debai-xo dessa ponte para o futuro. Até lá, para tornar a instituição mais robusta, coesa, interveniente e efi-caz, como disse o presidente ces-sante dos PALOP, «será necessário que os seus integrantes se revejam e se realizem nas suas dimensões estratégicas e programáticas; urge mobilizar e consolidar vontades, para se chegar à vontade comum».

O secretário executivo da Comunidade dos Pa-íses de Língua Portu-guesa (CPLP), Murade

Isaac Murargy, mostrou-se «mui-to satisfeito» com o surgimento do Fórum dos Países de Língua Oficial Portuguesa (FORPALOP), afastando qualquer «colisão» fun-cional entre as duas organizações.

«A constituição do Fórum PA-LOP dará uma grande força à CPLP, por existência de questões específicas dos países africanos, das quais os ex-africanos não con-seguem tratar», disse Isaac Mu-rargy.

Insistindo na inexistência de possíveis «choques» entre a CPLP e o Fórum PALOP, Murargy dis-se que o ressurgimento do então «Grupo dos Cinco» países africa-

nos de língua portuguesa, agora com a designação de FORPALOP, «é um ganho que permitirá dar maior robustez e força à CPLP».

O responsável da secretaria exe-cutiva da CPLP apontou o caso da Guiné-Bissau, no que diz respeito às especificidades africanas, como exemplo de assunto da alçada do FORPALOP. Para ele, «a falta de conhecimento das suas especifi-cidades de país africano levou a certas incompreensões».

«A Guiné-Bissau tem pequenos problemas, porque tem especifici-dades próprias de raízes africanas, que precisam de ser entendidas», afirmou, admitindo mesmo que «se o FORPALOP existisse já, tal-vez a Guiné-Bissau não passasse pela fase que viveu».

O FORPALOP é um órgão mul-

tilateral, que privilegiará a con-certação politico-diplomática e a cooperação, bem como o aprofun-damento das históricas relações de amizade e solidariedade entre os «Cinco».

Entre os princípios que regerão o Fórum, destacam-se a igualda-de, soberania e independência dos Estados membros, a não ingerên-cia nos assuntos internos de cada um e o respeito dos princípios de-mocráticos.

A entidade defende o respeito dos direitos humanos e o Estado de direito, integridade territorial, promoção da paz e da segurança internacionais, a resolução pací-fica de conflitos, bem como a ob-servância do preceituado no Acto Constitutivo da União Africana.

In Angop

Fortalecer a «nova» instituição é o objectivo

Missão séria para JES

Murargy nega eventual choqueEm jeito de reacção ao ressurgimento da força dos cinco países africanos de língua oficial portuguesa, com a constituição do Fórum PALOP, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa negou qualquer possibilidade de choque de interesses

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6 Sábado, 05 de Julho de 2014.

Nelson Sul D’Angola (*)

A designação de David Nahenda, no passado dia 24 de Junho, para o cargo de secretário

para informação e propaganda do Comité Provincial do MPLA, em substituição de Zacarias Da-voca, que agora ocupa a função de secretário para os assuntos políticos, económicos e eleitorais, que por sua vez sucedera ao agora vice-governador Victor Sardinha Moita, não só passou desperce-bido para a imprensa do fim-de--semana como também para os órgãos oficiais do governo.

A notícia da sua ascensão aca-baria por surpreender os meios políticos e sociais benguelenses, em meio a algum cepticismo, pelo facto de David Nahenda ser uma figura não muito quista por cá.

Segundo fontes do Semanário Angolense, a elevação de David Nahenda para o prestigiado cargo de secretário para informação, te-ria obedecido aos interesses de um núcleo restrito da comissão execu-tiva do partido local, que preten-deu com o «black-out» evitar qual-quer «bloqueio» à sua nomeação.

Consta que a sua ascensão teria sido feit a contra-gosto do primei-ro secretário provincial do MPLA, Isaac Maria dos Anjos, que se veria obrigado a render-se aos ditames do grupo que o promoveu, para evitar uma «guerra interna» entre os membros da comissão executi-va do partido em Benguela.

No entanto, segundo as nossas fontes, é possível que a promoção

de Nahenda vise dotar-lhe de po-der político suficientemente capaz de evitar uma eventual detenção sua num processo-crime em que está envolvido, instaurado pelo ministério público, sob a acusa-ção de peculato. «É pouco prová-vel que, agora que foi alcandorado nesse cargo, que o coloca pratica-mente como a terceira pessoa do partido em Benguela, a PGR ga-nhe coragem para mandar detê-lo, sabendo-se como o poder político interfere e influencia as decisões do judiciário», explicou uma das

fontes que temos estado a citar.Para elas, apenas nesse sentido se

pode compreender a sua ascensão, uma vez que não se reconhece a David Nahenda capacidade intelec-tual e bagagem política suficientes para responder a contento as eleva-das responsabilidades e exigências do cargo que passou a ocupar mui-to surpreendentemente.

«Se quisermos ser um parti-do forte e dinâmico, temos que passar a colocar as pessoas cer-tas nos lugares certos», disse um militante de proa do partido dos

camaradas. Acrescentando: «Um secretario para informação deve ser um mobilizador nato e uma pessoa com boa capacidade orató-ria, requisitos que todos sabemos que escapam a David Nahenda».

De resto, a ascensão de David Nahenda acontece numa altura em que o partido no poder em Benguela atravessa um mau mo-mento em termos de adesão desde as eleições gerais de 2012. Na ver-dade, é cada vez mais fraca a ade-são que o MPLA vem registando nas suas actividades de massas,

como sinal de que algo não vai bem em termos de mobilização, ficando-se por se saber se é resul-tado do desencanto dos cidadãos pelo sofrível desempeno da sua governação ou se terá a ver com o facto de muitos militantes não verem compensados o «litro» que dão pela sua causa.

Quem é quem

Mas, quem é o homem de quem se fala? David Luciano Nahenda, natural da Ganda, foi durante 7 anos o primeiro secretário da JM-PLA nesse município, tendo, em 2009, sido guindado ao cargo de secretário provincial da organiza-ção. Aos 43 anos, é estudante do último ano do curso de Ciências da Educação no ISCED/Bengue-la, uma das unidades orgânicas da Universidade Katiavala Bwila.

Ao nível da administração pública, já foi responsável da repartição municipal da educa-ção na Ganda, tendo sido exo-nerado por suposto desvio de fundos públicos calculados em largos milhões de dólares. Em consequência disso, há cerca de quadro meses havia sido encar-cerado na cadeia do Cavaco, por ordem do Ministério Publico.

Estranhamente, foi posto em liberdade provisória, com termo de identidade e residência, quan-do os restantes implicados no mesmo processo-crime permane-cem detidos, a aguardarem o jul-gamento atrás das grades.

É este o novo «porta-voz» do MPLA em Benguela. ■

É o novo «porta-voz» do MPLA em Benguela

A curiosa ascensão de David Nahenda

O segundo secretário provin-cial do MPLA, Veríssimo Sapalo, em conversa com o Semanário Angolense, des-

dramatizou a polémica em torno da ascensão de David Nahenda, revelando ainda que as remodelações registadas foram feitas em função das vagas deixa-das por dois dos seus dirigentes.

Uma das vagas foi deixada por Vic-tor Moita, que é agora vice-governador, obrigado a abandonar o seu cargo par-tidário por incompatibilidade funcio-nal, ao passo que a outra ocorreria por morte do titular, o «camarada» Francis-co Florentino, que era o secretário para

administração e finanças, lugar que será preenchido por Rosa Anastácia de Sou-sa.

«São mudanças necessárias e espera-mos que essas pessoas correspondam às funçoes que foram indicadas», disse.

Quanto a polémica da ascensão de David Nahenda, Veríssimo Sapalo disse que o seu partido respeita aquilo que é a visão exterior da questão, mas sublinha que essa visão pode não ser a real.

«Somos daqueles que acreditam que ninguém nasceu ‘quadro’. E como nin-guém nasceu ‘quadro’, resta-nos apenas trabalhar para corresponder às exigên-cias que a sociedade nos impõe», defen-

de o segundo secretário provincial do partido dos camaradas em Benguela.

Questionado se o MPLA não teme que venha a ser acusado de estar a dar co-bertura a um militante com sérios pro-blemas judiciais, Veríssimo Sapalo disse o seguinte: «Sabemos que o processo decorre os seus trâmites. Respeitamos o trabalho dos orgãos de justiça, mas en-quanto não for provado em sede do tri-bunal a sua culpabilidade, o partido tem de seguir os seus estatutos, que defendem que não se pode sancionar quem sobre si nada de mal foi provado». ■

(*) Em Benguela

«Camaradas» desdramatizam

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Capa

Sábado, 05 de Julho de 2014. 7

A Organização Mundial da Saúde (OMS), os Médicos Sem Frontei-ra (MSF) e a Federação

Internacional de Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho pediram às autoridades da Guiné-Cona-cry um maior envolvimento dos meios de comunicação do Estado para o controlo da epidemia de Ébola. Os parceiros do governo na luta contra o Ébola pediram ainda maiores garantias de segurança para as equipas que têm sido viti-mas de ameaças em Guéckédou, o epicentro da epidemia, a 680 km de Conacri.

Em Guéckédou, circularam rumores segundo os quais jovens revoltosos estariam a ameaçar atacar, esta semana, o Centro de Tratamento por vírus Ébola, para impedir que os trabalhadores hu-manitários realizassem as activi-dades habituais de busca activa e isolamento de casos, nas aldeias.

Cerca de 25 aldeias estão relu-tantes a qualquer intervenção nas suas comunidades e ameaçam de-ter tanto as viaturas humanitárias como os seus ocupantes, caso es-tes lá entrem. No último fim-de--semana, os trabalhadores huma-nitários receberam ordens para não se movimentarem até que a situação voltasse à normalidade. Esta situação ameaçou seriamente a implementação das actividades de controlo do Ébola na prefeitura de Guéckédou, com sérios riscos para o alastramento da epidemia.

Até esta data, a actual epide-mia de Ébola que teve origem na Guiné-Conacri alastrou-se já para alguns países vizinhos, como a Libéria e Serra Leoa, o que forçou a OMS a enviar 150 peritos para ajudar na resposta ao surto epidé-mico, em áreas como a vigilância activa de casos, comunicação e mobilização social, controlo da infecção, logística e gestão de da-dos.

Numa reunião realizada na passada segunda-feira, dia 30 de Junho, os parceiros contra o Ébo-la informaram aos ministros da Saúde e da Comunicação Social da Guiné-Conacri que poderiam suspender as suas actividades na região de Guéckédou, se nada fos-se feito como garantia de seguran-

ça para as equipas destacadas que tentam travar o alastramento da doença.

Vinte e cinco (25) aldeias repar-tidas por 7 das 9 sub-prefeituras de Guéckédou têm oferecido re-sistência às actividades de contro-lo do vírus Ébola, as quais incluem recomendações para aplicação de normas para a realização de fune-rais, seguimento de pessoas que estejam em contacto com vítimas da doença e actividades de sensi-bilização. Além disso, tais aldeias também recusam a presença de agentes humanitários nas suas localidades, havendo persistentes rumores de um ataque contra o Centro de Isolamento para o tra-tamento de doentes de Ébola. O isolamento e tratamento de do-entes é uma das medidas para o controlo do Ébola, ao passo que durante os funerais as pessoas são aconselhadas a não tocar nem la-var o corpo dos defuntos, o que contraria os rituais seguidos pelas comunidades locais. Por isso, a ignorância destas normas e a falta de mensagens de educação para a saúde têm gerado protestos nas aldeias.

«Veículos dos MSFs e da OMS foram danificados na semana pas-sada. Pedimos um forte envolvi-mento das autoridades para que possamos continuar a trabalhar para travar a propagação desta epidemia», declarou em Conacri o Dr. René-Zitsamalé Coddy, repre-sentante da OMS na Guiné e co-ordenador interino das operações desenvolvidas pelo sistema das Nações Unidas e por outros par-ceiros internacionais nesse país. «A consequência de uma suspen-são das actividades seria a impos-sibilidade de seguir os contactos com os casos de Ébola com um elevado risco de explosão de novos focos e a propagação da epidemia, incluindo outras localidades pró-ximas de Guéckédou», acrescen-tou ele.

O representante da OMS la-mentou a escassez de informação para um esclarecimento correcto das populações, afirmando: «Não sentimos um forte envolvimen-to dos meios de comunicação do Estado, ou da sociedade civil. De-vem ser feitos esforços para uma maior informação e sensibilização das comunidades, tendo em vista

a adopção de medidas de preven-ção».

O Dr René Zitsamalé-Coddy lançou ainda um apelo aos pro-fissionais de saúde, para um controlo mais eficaz da infecção nas unidades sanitárias, e parti-cularmente em Conacri. «Apesar de todas as medidas tomadas, in-cluindo a formação, a educação, a criação de instalações para a la-vagem regular das mãos e o uso de luvas, alguns profissionais de saúde não aplicam as medidas de prevenção e controlo da infec-ção que estão a ser recomenda-das para reduzir a transmissão nosocomial, colocando-se des-necessariamente em situação de risco», sublinhou a propósito.

Em resposta a estes apelos, e falando em nome do grupo de Coordenação Interministerial contra o Ébola, o ministro da Saúde da Guiné-Conacry pro-curou tranquilizar os presentes sobre os incidentes que ocorre-ram em Guéckédou, asseguran-do que tudo seria feito para que os funcionários humanitários continuassem a trabalhar naque-la localidade e em todo o país.

«Foram transmitidas instruções ao Prefeito da região para que tudo volte à normalidade», disse ele, anunciando o envolvimento dos líderes comunitários, reli-giosos e do Presidente da Assem-bleia Nacional nos esforços para o controlo da epidemia de Ébola no país.

Por sua vez, o ministro da Comunicação disse que tinha tomado «boa nota» das reco-mendações para um maior en-volvimento dos meios de comu-nicação do Estado na divulgação de mensagens de sensibilização para o controlo da epidemia.

Até 29 de Junho, a Guiné-Co-nacri tinham notificado um total de 412 casos e 302 óbitos (o que equivale a 73,3% de letalidade. Deste número, foram confirma-dos laboratorialmente 293 casos e 193 mortes pela doença, ha-vendo ainda 88 casos prováveis (com 82 mortes) e 31 casos sus-peitos (com 27 mortes). Só na re-gião de Gueckédou, o epicentro da epidemia, foram totalizados 243 casos com 202 óbitos, o que corresponde a uma taxa de leta-lidade de 83,1%.

Doença vai avançando assustadoramente

Ébola ameaça África OcidentalNa Guiné-Conacri, onde se iniciou o actual surto, há ameaças absurdas contra a segurança do pessoal das agências

internacionais envolvido no combate à epidemia, que já atingiu também a Libéria e a Serra Leoa

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À medida que continua a aumentar o número de casos e de mortes pelo vírus Ébola na Guiné, Libéria e Serra Leoa, a Organização Mundial da Saúde avisa que é necessário tomar medidas drásticas.

Até o momento, a Organização Mundial da Saúde tem pres-tado apoio técnico com o destacamento de uma equipa multidis-ciplinar de mais de 150 peritos, envolvidos numa variedade de actividades de resposta ao surto epidémico, nomeadamente vigi-lância, comunicação e mobilização social, controlo da infecção, logística e gestão de dados.

Não obstante, tem-se verificado um aumento significativo no número diário de casos e de mortes por Ébola notificados, assim como novos distritos afectados durante as últimas três semanas, o que torna este actual surto epidémico de Ébola no maior de sempre, não só em termos do número de casos e de mortes, mas também em termos de propagação geográfica.

«Não se trata mais de um surto específico a um país, mas é an-tes uma crise sub-regional que exige uma acção robusta por parte dos governos e dos parceiros. A OMS está profundamente pre-ocupada com a transmissão transfronteiriça que se verifica nos países, bem como com o potencial para um maior alastramento internacional. É urgentemente necessário intensificar os esforços de resposta; promover a colaboração e a partilha de informação transfronteiriça de casos suspeitos e de contactos, em linha com as orientações da OMS, e mobilizar todos os sectores da comu-nidade para assegurar o livre acesso às zonas afectadas. Esta é a única forma de se enfrentar eficazmente este surto», afirmou o Director Regional da OMS para África, Dr. Luís Sambo.

Numa tentativa para evitar uma maior propagação deste vírus no espaço de tempo mais curto possível, a Organização Mundial da Saúde organizou entre 2 e 3 deste mês, em Accra, capital do Ghana, uma reunião especial dos ministros da saúde dos onze (11) países e parceiros envolvidos na resposta ao surto do vírus Ébola, na qual se discutiu as melhores formas de enfrentar co-lectivamente a crise, além de se gizar um plano operacional de resposta inter-países abrangente.

As decisões tomadas nesta reunião, em que não confirmamos a participação de Angola, seriam cruciais para se enfrentar os actuais e futuros surtos epidémicos.

Luís Sambo preocupado

O vírus Ébola que já causou mais de 250 mortes na Guiné-Conacri e na Li-béria desde Janeiro é uma

nova estirpe, o que indica que não procede de outros focos conhecidos de infecção em África, indicaram cientistas.

«A análise sugere que esta estirpe viral na Guiné-Conacri (‘EBOV gui-neense’) evoluiu em paralelo com es-tirpes existentes na República Demo-crática do Congo (RDC) e no Gabão a partir de um antepassado comum recente, não tendo sido posterior-mente introduzida na Guiné», con-cluiu uma equipa de virólogos, cujos trabalhos são divulgados na última edição da revista norte-americana New England Journal of Medicine.

Inicialmente, responsáveis de saú-de pública tinham evocado a possi-

bilidade de uma infecção na Guiné--Conacri pelo vírus Ébola do Zaíre, antigo nome da RDC.

Os autores do estudo agora publi-cado dizem que os primeiros casos de Ébola na Guiné-Conacri começaram provavelmente em Dezembro de 2013 ou talvez antes e o vírus circulou des-percebido durante algum tempo.

A investigação continua para iden-tificar a fonte animal do vírus. São geralmente morcegos frutívoros, in-dicaram os cientistas.

O novo vírus Ébola provocou me-nos casos de febre hemorrágica na Guiné-Conacri do que as anteriores epidemias na África Central.

«Os sintomas clínicos dos primei-ros casos eram sobretudo febre, vómi-tos e diarreia muito forte. Não foram constatadas hemorragias internas na maioria dos doentes cuja infecção foi

confirmada até ao momento em que a amostra de pacientes para esta in-vestigação foi estabelecida”, referem os autores do estudo que analisaram o sangue de 20 doentes hospitalizados na Guiné-Conacri.

A taxa de mortalidade do vírus Ébola na Guiné-Conacri é de 86 por cento entre os primeiros casos con-firmados e de 71 por cento nos casos suspeitos, indicam os virólogos.

Dependendo da estirpe do vírus, a mortalidade da febre hemorrági-ca afecta entre 30 e 90 por cento dos casos. O vírus propaga-se através de contactos directos com as pessoas infectadas.

Os cientistas assinalam que «a emergência do vírus ébola na Guiné--Conacri alerta para o risco de outros surtos naquela parte da África Oci-dental».

Segundo cientistas norte-americanos

Vírus de nova estirpe

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Kim Alves

A directora nacional de Saúde Pública, Adelai-de de Carvalho, disse, em conversa com o

Semanário Angolense, que o ví-rus do Ébola é uma epidemia de grande repercussão que dificulta o controlo e exige uma mobiliza-ção muito grande e um aturado exercício de transmissão de men-sagens para que a população possa perceber como se transmite, no sentido de se diminuir esse risco de transmissão.

«Nós em Angola, tivemos em Março um alerta, por causa de um caso na província do Uíge, de uma jovem de 20 anos. Tão logo se to-mou conhecimento, foram toma-das medidas de investigação, com recolha de amostras, tendo sido descartada a possibilidade de que se tratasse de algum um caso de febre hemorrágica, Ébola ou Mar-burg», referiu a médica.

Conforme explicou, até ao momento, não houve outro aler-ta através do sistema nacional de vigilância epidemiológica inte-grada por doenças e resposta, que está estabelecido desde o nível municipal, nos diferentes postos de saúde; provincial, a nível dos hospitais provinciais e hospitais gerais e a nível central onde existe o departamento de higiene e epi-demiologia.

«Este sistema garante um fluxo de informação local até ao nível central e existe uma lista de do-enças consideradas de notificação obrigatória, doenças prioritárias, cuja notificação deve ser feita nas primeiras 24 horas, pessoalmen-te, por telefone ou por email. Ao tratar-se de doenças como febre hemorrágica viral, que são de co-municação obrigatória e urgente, desencadeia-se todo um proces-so de notificação, investigação e controlo. Há depois um conjunto de doenças cuja comunicação tem um critério semanal, mensal ou trimestral. Portanto existem pato-logias e doenças definidas dentro desse sistema, que permite real-mente acompanhar dentro do país e também detectar algum exemplo de casos prioritários», comentou.

Segundo ela, Angola está, des-

de Março, em alerta permanente, sendo que as unidades sanitárias, a nível municipal e a nível pro-vincial, estão já informadas da ocorrência do surto epidémico na Guiné Conacri, com a orientação de reforçarem a vigilância epide-miológica. «Os funcionários da Saúde, nos diferentes níveis, têm que estar preparados para reagir de imediato perante um caso que se enquadre na definição da doen-ça. Nós temos uma definição sobre o que é a febre hemorrágica viral suspeita, porque só se pode consi-derar efectivamente febre hemor-rágica viral depois de confirmação laboratorial», revelou.

Cuidados a ter

A directora nacional de Saúde Pública fez questão de informar o que está orientado aos funcioná-rios do sector sobre os cuidados que têm de ter no seu labor em relação à doença. Segundo ela, se um funcionário tiver um caso suspeito em mãos deve informar imediatamente, para se iniciar a investigação de dados, como a proveniência do doente, tratando de saber se ele esteve em algum

país afectado ou se há outros casos nas redondezas do local do qual proveio, até confirmar se se está realmente diante de uma febre he-morrágica ou não.

«Por outro lado, para além da notificação e investigação, uma importante acção que deve ser empreendida a nível das diferen-tes unidades sanitárias é o refor-ço das medidas de bio-segurança e de protecção individual. Quer dizer que as unidades sanitárias e os profissionais da Saúde têm que tomar cuidado e aplicar o que está definido, como a utilização de lu-vas no manuseio de doentes ou de secreções dos doentes, indepen-dentemente de se tratar ou não de febre hemorrágica», alertou.

Segundo ela, as medidas de bio--segurança têm de ser aplicadas sempre. «A lavagem das mãos, com água e sabão, depois de qual-quer intervenção ou acto, deve ser frequente. Observou um doente, lavou as mãos com água e sabão; vai observar outro, lavar as mãos com água e sabão; foi ao quarto de banho, lavou as mãos com água e sabão; antes de tocar nos alimen-tos, lavar as mãos com água e sa-bão», explicou.

Adelaide de Carvalho esclare-ceu ainda que a lavagem das mãos com água e sabão, para além de outras medidas de bio-seguran-ça e protecção individual, é das medidas mais importantes que devem ser tomadas, porque re-duz consideravelmente o risco da transmissão epidemiológica. Para além disso, o pessoal da Saúde deve estar preparado para saber receber um caso suspeito, exis-tindo normas claras sobre como tratar disso, o que implica desde já o isolamento do doente, para se evitar o possível risco de contami-nação de outras pessoas. O pesso-al que trata deste tipo de doentes deve cumprir escrupulosamente todas as medidas de higiene indi-vidual, de bio-segurança e de pro-tecção individual recomendadas.

Relativamente aos rumores de que na província do Zaire, nome-adamente no município do Soyo, há alguns meses atrás, foram de-tectados dois casos de Ébola em dois imigrantes ilegais, a directora nacional de Saúde Pública afir-mou: «São rumores e os rumores devem sempre ser investigados, mas nós não recebemos essa no-tificação e não temos informação

daquela província da ocorrência de situações anómalas na região que nos possa levar a uma investi-gação para confirmar ou descartar esses rumores».

Reforçando, disse: «Qualquer rumor deve ser investigado dentro daquilo que são as normas de vi-gilância epidemiológica e até que se conclua a investigação não se pode falar com certeza do que se trata. Só depois de se chegar a um diagnóstico laboratorial e isolar o vírus ou a bactéria é que se pode dizer, com certeza, que se trata disto ou daquilo. Basta haver um caso para a doença espalhar-se ra-pidamente».

Revisão das medidas

Adelaide de Carvalho infor-mou também que, desde o mês de Março do corrente, assim que se declarou a epidemia do Ébola na Guiné-Conacri, estão registados cerca de 726 casos com cerca de 400 óbitos, mas a Libéria e a Serra Leoa têm também casos regista-dos.

«Trata-se de facto de uma epi-demia de alta magnitude que está a atingir muita gente e, de acordo com a investigação e o acompa-nhamento que está a ser feito pelas equipas dispostas a nível nacional, os factores culturais colocam-se como elementos de carácter bas-tante importante no controlo da epidemia», elucidou.

«Hoje, o mundo é uma aldeia global, pelo que estamos alertas para a situação, tal como é reco-mendado pela Organização Mun-dial da Saúde e por outras instân-cias de regulamentos sanitários internacionais. Os países limítro-fes da região epidémica, como a República Democrática do Congo (RDC), Ghana, Costa do Marfim, Mali, etc., que têm as fronteiras mais próximas da Guiné Cona-ckry, da Libéria e da Serra Leoa, estiveram reunidos (entre 2 e 3 deste mês, em Acra) ao mais alto nível, justamente para que sejam revistas possíveis lacunas identi-ficadas relativamente às medidas tomadas desde o início da epide-mia, para perceberem melhor essa magnitude tão grande do proble-ma», disse a rematar.

Já houve um caso suspeito (mas descartado) em Março último

Angola está em alerta permanenteO surgimento da doença do vírus Ébola, uma perigosíssima febre hemorrágica, na África Ocidental, com forte tendência

de alastramento, ameaça a saúde pública a nível regional e mundial. As autoridades angolanas, segundo informou a directora nacional de Saúde Pública, Adelaide de Carvalho, têm estado em alerta permanente, não vá o «diabo» tecê-las…

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A Febre Hemorrágica Ébola (FHE) é uma do-ença infecciosa grave, muito rara, frequen-

temente fatal, causada pelo vírus Ébola. O seu contágio pode ser por via respiratória, ou contac-to com fluidos corporais de uma pessoa infectada. Ao contrário dos relatos de ficção, é apenas mo-deradamente contagiosa.

O vírus foi identificado em 1976 no antigo Zaire (actual República Democrática do Congo), perto do rio Ébola, que acabou por servir de nome para o «bicho», sendo a descoberta atribuída a uma equi-pa comandada por Guido van Der Groen, chefe do laboratório de Microbiologia do Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia, na Bélgica.

Diferentes estirpes do Ébo-la causaram epidemias com 50 a 90% de mortalidade na República Democrática do Congo, Gabão, Uganda e Sudão. A segunda epi-demia ocorreu em 1979, quando 80% das vítimas morreram. Em Maio de 1995, a cidade de Mesen-go, a cento e cinquenta quilóme-tros de Kikwit, no Zaire, foi atin-gida pelo vírus, que matou mais de cem pessoas. Há suspeitas de casos no Congo e no Sudão. O pri-meiro desse tipo de vírus apareceu em 1967, foi o Marburg, a partir de células dos rins de macacos verdes do Uganda e com um novo surto em 2014 na África Ocidental, em países como Serra Leoa, Guiné e

Guiné Equatorial, a OMS vai mar-car em Ghana uma reunião de emergência pra conter o surto.

Quem é quem

O ebolavirus é um filovírus (o outro membro desta família é o vírus Marburg), com forma fila-mentosa, com 14 micrômetros de comprimento e 80 nanômetros de diâmetro. O seu genoma é de RNA fita simples de sentido nega-tivo (é complementar à fita codifi-cante). O genoma é protegido por capsídeo, é envelopado e codifica sete proteínas.

Há três tipos: Ebola–Zaíre (EBO–Z), Ebola–Sudão (EBO–S) com mortalidades de 83% e 54% respectivamente. A estirpe Ebo-la–Reston foi descoberta em 1989 em macacos, Macaca fascicularis, importados das Filipinas para os Estados Unidos, tendo infectado alguns tratadores por via respira-tória.

Fala-se agora de uma nova es-tirpe do vírus, surgida na Guiné--Conacri, país onde «rebentou» o actual surto epidémico da doença, que já se alastrou também para a Libéria e Serra Leoa.

Epidemiologia

Nunca houve casos humanos fora de África, mas já houve casos em macacos importados nos Esta-dos Unidos e Itália. Os casos iden-tificados desde 1976 são apenas

1500, dos quais cerca de mil re-sultaram em morte. Não foi ainda identificado o reservatório animal do vírus.

O Ébola, como os outros ví-rus, adere à célula do hospedeiro, onde entra ou apenas injecta o seu material genético, o genoma. Este usa a estrutura da célula para se reproduzir e cada nova cópia do genoma obriga a célula a fazer o invólucro de proteína. Os novos vírus deixam a célula do hospe-deiro com capacidade de infectar outras células.

Até há alguns anos, o pesso-al médico era aconselhado, mais por ignorância e cautela do que por ciência, a usar equipamentos especiais de proteção (como fatos e tendas de vácuo) quando lidava com doentes de Ébola. No entanto, hoje se sabe que o vírus Ébola não é realmente altamente contagioso, ao contrário do que diz muita fic-ção em circulação no ocidente.

Ele é transmitido apenas pelo contato directo, e as populações afectadas são infectadas em alto número devido à cultura de gran-de parte das aldeias africanas, onde é usual a família lavar o corpo dos mortos manualmente antes do enterro. Já se tem pes-quisas feitas de que o Ébola pode ser transmitido pelo ar, de porco para porco, ou de porco para o ser humano (uma nova variação do vírus), mas o vírus só é contagio-so de humano para humano pelo contacto directo com secreções e

sangue. Hoje o pessoal médico é aconselhado apenas a usar luvas de látex e filtro respiratório.

Devido a isso é praticamente impossível haver uma epidemia em larga escala de Ébola nos pa-íses ocidentais, pois a higiene bloquearia qualquer expansão de casos. No entanto, o risco para o pessoal médico e laboratorial é considerável, se não forem toma-das regras de higiene.

Sintomatologia

A infecção pelo vírus Ébola produz febre hemorrágica. A in-cubação pode durar de 2 a 21 dias. O vírus multiplica-se nas células do fígado, baço, pulmão e tecido linfático onde causa danos signifi-cativos. A lise (destruição) das cé-lulas endoteliais dos vasos sanguí-neos leva às tromboses e depois hemorragias.

Os primeiros sintomas são ines-pecíficos, como febre alta, dores de cabeça, falta de apetite, e con-juntivite (inflamação da mucosa do olho). Alguns dias mais tarde surge diarreia, náuseas e vômitos (por vezes com sangue), seguidos de sintomas de insuficiência he-pática, renal e distúrbios cerebrais com alterações do comportamen-to devido à coagulação intravascu-lar disseminada com enfartes nos órgãos. O estágio final é devido ao esgotamento dos factores sanguí-neos da coagulação, resultando em hemorragias extensas inter-

nas, edema generalizado e morte por choque hemorrágico. As fezes são geralmente pretas devido às hemorragias gastrointestinais e poderá haver ou não sangramento do nariz, ânus, boca e olhos. De-pendendo da sua estirpe, há casos de hemorragias na derme, ocasio-nando o sangramento pelos poros do corpo. A morte surge de 1 dia a duas semanas após o inicio dos sintomas.

A taxa de mortalidade da do-ença e o tempo para o falecimen-to de uma pessoa dependem da estirpe do vírus e do estado de saúde das populações afectadas. Em geral, o Ébola mata as suas ví-timas em poucos dias, e a morta-lidade pode variar de 50% a 90%.

O diagnóstico é feito pela ob-servação directa do vírus com microscópio electrónico em amostra sanguínea ou por detec-ção com imunofluorescência de antigênios.

Não há vacina, cura, nem tra-tamentos eficazes. Os doentes devem ser postos em quarentena e os familiares devem ser impedi-dos de ter qualquer forma de con-tacto com o doente, ou mesmo de tocar o corpo após o falecimento. Devem ser administrados cuida-dos básicos de suporte vital como restabelecimento de electrólitos e fluidos perdidos, além de possí-veis tratamentos paliativos.

In Internet

Uma doença habitualmente fatal

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As autoridades sanitárias angola-nas já tiveram uma experiência com uma doença mais ou menos similar ao Ébola que lhes pode

ser de grande utilidade, caso (Deus que seja surdo) a actual febre hemorrágica que vem afectando alguns países da África Ociden-tal (Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa) franqueie as portas do nosso território.

Isto aconteceu no início de 2005, quan-do a Organização Mundial da saúde co-meçou a investigar o surto de febre he-morrágica então diagnosticada no país, que foi centrado no nordeste da província do Uige, depois de um longo período em que não se sabia que doença estranha era aquela que assolava a região. Era afinal o «Malburg», uma doença parente próxima do «Ébola».

Na altura, o ministério da Saúde era di-rigido pelo agora falecido Sebastião Velo-so, tendo o combate ao surto sido um teste muito sério às suas capacidades como go-vernante de um pelouro tão sensível como este. No entanto, se a memória não nos atraiçoa, seria o então vice-ministro José Van-Dúnem, actual titular, quem teria a coragem de seguir para o foco do surto, numa altura em que viajar para o Uíge causava arrepios, incentivado assim os pro-fissionais da saúde, entre estrangeiros e na-cionais, envolvidos no combate à perigosa epidemia.

O foco da doença veio à tona em Março de 2004, afectando essencialmente crian-ças. Um médico observou que uma crian-ça, que posteriormente morreu, exibiu si-nais de febre hemorrágica. Em Outubro, a média semanal de morte foi de três a cinco

crianças. Em 22 de Março de 2005, com o número

de mortos a se aproximar aos 100, a causa da doença foi identificada como o vírus de Marburg. Até Julho de 2005, o Ministério da Saúde de Angola relatou que mais de 300 casos haviam sido fatais. Houve casos em 7 das 18 províncias, mas o foco prin-cipalmente limitou-se à província do Uíge. O vírus também afectou os profissionais de saúde, incluindo 14 enfermeiros e dois médicos.

Houve especulações de que a alta taxa de mortalidade entre as crianças nos estágios iniciais do foco em questão se deveu prova-

velmente ao facto do surgimento inicial da doença ter sido detectado na área pediátri-ca do Hospital do Uíge.

Países com ligações aéreas directas, como Portugal, rastrearam passageiros sa-ídos de Angola.

O governo angolano pediu ajuda inter-nacional, salientando que existiam apenas cerca de 1.200 médicos em todo o país, sen-do que em algumas províncias unicamente dois. Profissionais de saúde também quei-xaram-se sobre uma escassez de equipa-mentos de protecção pessoal, como luvas, batas e máscaras. A Organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) relatou que quando

sua equipa chegou no hospital provincial no centro do foco, descobriu que operavam sem água e electricidade. O rastreamento de contacto foi complicado pelo facto de que as estradas do país e outras infra-estru-turas estavam devastadas depois de quase três décadas de guerra civil. Por outro lado, o troço viário e caminhos rurais tinham um mapa repleto de minas terrestres.

Uma inovação no foco de Angola foi o uso de um laboratório portátil operado por uma equipa de médicos e téccnicos canadenses. O laboratório, que podia ope-rar com uma bateria de carro, eliminou a necessidade de enviar amostras de sangue fora do país para testes. Isso reduziu o tem-po de retorno em dias ou semanas para cer-ca de quatro horas.

No Uíge, uma ala de isolamento foi espe-cialmente equipada no Hospital Provincial. Porém, foi relatado que permaneceu vazia durante grande parte da epidemia, mesmo sendo um centro com recursos de resposta ao foco.

Famílias atingidas se recusaram a pres-tação de cuidados hospitalares, resistindo a entrega de desinfectantes distribuídos no âmbito da «estratégia de redução danos».

Enquanto isso, no Hospital Américo Boavida,em Luanda, uma equipa interna-cional preparou uma ala de isolamento es-pecial para lidar com casos de zonas rurais. O local tinha a capacidade de acomodar até 40 pacientes, mas havia alguma resistência em se dar tratamento médico, porque a do-ença quase invariavelmente resultou(a) em morte.

Vandakeya Kalitangue

Combate ao surto de Malburg de 2004/2005

Uma experiência valiosa

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Efeméride

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António Quino (*)

Angola tem uma imen-surável responsabili-dade na preservação, divulgação e valori-

zação da língua portuguesa no mundo, em geral, e, em particu-lar, no continente africano.

Isso se deve ao facto, não só da sua influência político-económi-co-cultural na região, à sua posi-ção geo-estratégica, mas também pela força e projecção de desen-volvimento que a tem tornado num país de destino de emigran-tes de várias latitudes do planeta.

Tudo isso propicia um dina-mismo invisível na necessidade de aprendizagem.

Não está em causa o poder de Moçambique nesse proces-so, porque também existe tal responsabilidade, embora em proporções desiguais; nem o do Brasil pelo mundo, pois actual-mente é o maior «embaixador» dessa língua pelas organizações internacionais.

Portanto, vemos populações inteiras de expatriados cuja fi-nalidade é a socialização com a língua portuguesa, que hoje é tão nossa quanto dos cidadãos por-tugueses. Aprender português torna-se um indicador de per-manência e integração dos que se querem fixar no nosso país.

Se esses elementos represen-tam, em si, uma verdadeira mo-tivação para que possamos pôr a andar um melhorado processo de

ensino na mesma carruagem do da aprendizagem por comunida-des que a assumem como língua segunda, infelizmente um certo conservadorismo nosso tem vin-do a funcionar como travão.

Por exemplo, não faz muito tempo, em conversa com um jo-vem cidadão português, além do imponente emprego que lhe ofe-receram, estando pela primeira vez em Angola, mostrou-se ma-ravilhado com a forma viva que

acha estar a língua portuguesa a ser utilizada em Angola, com as palavras a ganharem novas nuan-ces semânticas, a construção de cadeias frásicas inovadoras, o en-riquecimento lexical, a mobilida-de dos conectores nas frases, etc..

Segundo este cidadão portu-guês, essa vivacidade da língua portuguesa só a sentia no Brasil, pois, para ele, em Portugal, a lín-gua andava mofa, sisuda e quase sem crescimento.

Fiel a esses capítulos a que até aqui referi, a língua portuguesa em Angola tem o futuro garan-tido. A coabitação com outras línguas num mesmo espaço terri-torial é uma valia que só o tem-po permitirá avaliar. Nada indica que ela venha a perder terreno. Pelo contrário.

A criatividade dos falantes an-golanos, associada às vivências e experiências das desafiantes déca-das de instabilidade, coloca(ra)m

na boca do angolano um produto linguístico bastante fértil; uma língua em potencial crescimento nos seus mais diversos aspectos.

Entretanto, e julgo que este é o cerne, essa inovação deve ser acompanhada para que se respei-te um instrumento regulador de qualidade (não me refiro à fala, mas à língua), para se criar refe-rências e referentes, com base nas normas que felizmente existem. E, nesse aspecto, a escola não tem ajudado muito.

Devemos ter a coragem de per-guntar, com sinceridade: Por que o grosso dos nossos alunos não consegue ser proficiente na fala, produzir discursos e pensamen-tos lógicos, dominar a língua es-crita e a leitura? Porquê, se até a língua veicular é a portuguesa?

Na minha experiência de do-cente, desde o ensino de base à universidade, e mesmo como utente da língua, defendo que se deve revigorar o modelo de ensi-no/aprendizagem da língua por-tuguesa em Angola.

Como redefinição, julgo que o papel do ensino da língua portu-guesa nas nossas escolas deve va-lorizar cada vez mais a leitura, in-terpretação e a produção de textos.

Contra o modelo de ensino centrado na estrutura linear da língua e numa gramática por ve-zes “desconectada”, defendo que o ensino da língua portuguesa deve permitir que o aluno aprenda, no mínimo, a ler e a escrever com proficiência e evitar-se os chama-dos analfabetos funcionais.

É um desafio que a todos deve envolver, em particular os docen-tes de língua portuguesa, como eu.

(*) Jornalista, escritor e docente universitário

O futuro da língua em Angola promete

A adopção da língua do antigo colonizador como «língua oficial» foi um processo comum à grande maioria dos países africanos. No entanto, em An-gola deu-se o facto pouco comum de uma intensa

disseminação do português entre a população angolana, a ponto de haver uma expressiva parcela da população que tem como sua única língua o idioma herdado do colonizador.

Entre 1575 e 1592 estima-se que tenham desembarcado em Angola 2340 portugueses, embora apenas 300 permane-cessem em Luanda em 1592, pois 450 teriam sido vítimas de guerras e doenças e os restantes ter-se-iam fixado no inte-rior, onde assimilaram as línguas e culturas africanas3 . O número de mulheres europeias na colónia seria muitíssimo reduzido, o que significa que a larga maioria dos filhos dos colonos, mestiços, eram educados por mulheres africanas

que lhes ensinavam as suas línguas4 .Só durante o século XX é que o português se tornou gra-

dualmente a língua mais falada nas áreas urbanas de Angola. Este facto ficou a dever-se, essencialmente, ao aumento do número de colonos portugueses, tanto homens como mulhe-res, a maioria dos quais preferia fixar-se nos centros urbanos costeiros, em detrimento das zonas do interior. E apenas na década de 1950 se reuniram as condições para a generaliza-ção do português a todo o território angolano, pois só então a maioria da população precisou efectivamente de dominar esta língua.

Apesar de ser um processo impositivo, a adopção do por-tuguês como língua de comunicação corrente em Angola propiciou também a veiculação de ideias de emancipação em certos setores da sociedade angolana, facilitando a comuni-

cação entre pessoas de diferentes origens étnicas. O período da guerra colonial foi o momento fundamental da expansão da consciência nacional angolana. De instrumento de do-minação e clivagem entre colonizador e colonizado, o por-tuguês adquiriu um carácter unificador entre os diferentes povos de Angola1 .

Com a independência em 1975, o alastramento da guerra civil, nas décadas subsequentes, levou à fuga de muitas cente-nas de milhares de angolanos das zonas rurais para as gran-des cidades — particularmente Luanda — levando ao seu desenraizamento cultural. Data desta época a construção de enormes zonas de habitações precárias (os musseques), que ainda hoje caracterizam a capital angolana.

In Wilkipédia

Um pouco de história

Page 14: Semanario Angolense

Efeméride

Soberano Canhanga (*)

Os desvios à norma (uso popular ou vulgar da língua) coabitarão com o uso normativo, sem

que para tal surja uma nova lín-gua ou essa desarticulação pode levar a nova forma de comunicar (por oralidade e escrita)? Os ex-cessivos desvios, os empréstimos/importações de outras línguas africanas (angolanas) e o génio criador/inventivo de novos vocá-bulos (neologismos) levarão ao surgimento do «Angolês»? Poderá ou não surgir em Angola, dentro de séculos, uma língua distinta do Português Europeu e da miríade de idiomas expressos no universo angolano?

Partindo de estudos sincrónicos e diacrónicos (evolução histórica) das línguas, atentos às tendências, autores como Carlos Figueiredo, Francisco Edmundo, G. Bender, Amélia Mingas, entre outros, apontam os desvios visíveis na utilização da Língua Portuguesa em Angola como propiciadores do surgimento de uma «nova» língua a que designam por «Angolês», «Português Angolano», etc..

Atendendo que as línguas têm sempre diferentes níveis de uti-lização (vulgar/popular, padrão/norma e erudito/científico), evo-lução, transformação e gestação de novas identidades linguísticas, urge tecer algumas considerações a propósito da Língua de Camões falada em Angola.

O idioma Português não é mais do que a evolução de um conjunto de idiomas ibéricos que parte dos Celta, do Latim, do Castelhano, etc., que, em contacto com reali-dades linguísticas (morfológicas e fonológicas) africanas, ame-ricanas e asiáticas, delas tomou empréstimos e ganhou ampli-tude. O caminho trilhado pelas línguas ibéricas, até se chegar aos idiomas actuais, será, com o tempo, replicado nos países em que o Português chegou por via da colonização/imposição. Essa tendência pode ser observada em Cabo Verde, onde, do Português e das Línguas africanas da Áfri-ca Ocidental levou ao surgimento do crioulo, que já é língua nacio-nal daquele país, coabitando com o Português, língua oficial. Por mais que defendamos a pureza

da língua de Camões, teremos de nos vergar, um dia, à evidência e reconhecer facto semelhante em Angola.

O surgimento do «Angolês», ou outra designação que lhe for atri-buída, será apenas uma questão de tempo, de maior criatividade dos falantes, uniformidade semântica dos vocábulos em todo o território e criação de um instrumento mor-fológico e sintáctico distinto das línguas que lhe dão origem (Por-tuguês Europeu e línguas bantu e não bantu do território angolano).

Há hoje um novo paradigma linguístico que emerge nos nossos bairros, nas nossas sanzalas, nas aldeias, nas falas do povo que sente «ser mais importante comunicar do que as críticas dos gramáticos». Há uma nova língua que se vai dis-tanciando cada vez mais da norma, que se expande através da música e da literatura, uma língua que é fa-lada e que facilita a comunicação, que já é lida e muito cantada.

Vejamos o caso da expressão «Ontem levei uma torra de ka-trungugu e fiquei malayke». Será isso Português, uma gíria ou emergência de uma nova forma de comunicar, que se populariza cada vez mais?

Autores como Carlos Figuei-redo (em «Projeto Libolo/Portu-guês de Angola») acentuam nos seus estudos que o «Angolense» ou Português de Angola é já um facto: «Ele já existe e só os con-

servadores, que continuam pre-sos à norma europeia, é que não querem admitir isso». Figueiredo atesta ainda que «a confirmação científica do uso de desvios fixa definitivamente a mudança na língua (paradigma dominante), o que constatam já os estudos exis-tentes em sociolinguística quan-titativa». Em Angola, sustenta, o desvio sistemático à norma pa-drão faz com que se passe de facto social a fenómeno (abrangente) ou seja de algo pontual para algo sis-temático.

Angola como Nação que já te-mos à mão precisa de uma nova identidade, distinta daquela dese-nhada pela potência colonial. Tal passará também, a meu ver, pela tangibilidade da comunicação. A função primeira da língua é co-municar ou passar a mensagem. Durante largos anos, os portu-gueses incutiram aos angolanos a ideia de que as línguas bantu eram sinónimo de desprestígio social. A nossa identidade milenar, que não se perdeu ao longo dos 500 anos de presença europeia, irá refundar-se numa nova forma de articulação oral que passa para a escrita e daí para uma nova norma.

É a consciencialização do «homo angolensis» que se reflec-te nos verdadeiros usos de fala de milhões de pessoas. O «Angolen-se» é e será tão-somente o «resgate da herança dos nossos antepassa-dos africanos que foi maltratada,

vilipendiada e subvertida durante séculos». Essa é a homenagem que todos nós lhes devemos.

Posto isso, as questões que co-loco são:

1) Temos razões para continu-armos a alinhar com a norma in-ternacional da Língua Portugue-sa? Aqui a resposta é SIM.

2) Vamos a tempo de escolari-zar todos os angolanos ao ponto de falarem o Português «camo-niano»? A minha resposta é NÃO.

3)Teremos cada vez mais an-golanos (escolarizados ou não) a falar a LP com laivos de africanis-mo? A resposta é SIM.

Em remate: vão coexistir os que tenderão para o «Português Europeu» e tantos outros (maio-ria) a marcarem a sua identidade milenar na língua oficial que fa-lam, imposta pelo antigo coloni-zador, resultando num crioulo. A preocupação de alguns escritores angolanos de levarem, de forma explícita, essa identidade (antes representada apenas nas falas dos personagens) para o discurso es-crito, marca já um ponto de rup-tura ou anunciação de uma nova realidade tangível e inexpurgá-vel. Há hoje a preocupação de os escritores não só escreverem as pronúncias (redacção difusa), mas atentos à grafia correcta, de acor-do aos idiomas bantu e à semânti-ca que encerra.

Que discurso deve levar hoje à escola/universidade um professor

de Língua Portuguesa? Do meu ponto de vista, dizer que já temos uma nova língua (ainda não pau-tada/normatizada) pode parecer um pouco arriscado. O melhor caminho é ir alertando (gradua-lismo) que há uma iminência que se vai clarificando com os estudos que se realizam neste domínio. Os estudantes de hoje serão os cien-tistas de amanhã. Quando tiver-mos estudos suficientes e um quó-rum que permita a apresentação do paradigma, ai sim sairemos (sairão) a público os anunciantes da nova língua que espero que caminhe em paralelo com aquela herdada da imposição colonial e que, felizmente, nos permite nes-ses dias, construir uma Nação num diverso mosaico cultural e etnolinguístico.

Quando os estudiosos defini-rem uma pauta sobre: como se deverá escrever as palavras (léxico próprio), quais as construções sin-tácticas, como se vocaliza e quais os significados (semântica), aí te-remos uma nova língua, distinta daquelas que lhe deram origem. E isto não levará milénios para acontecer.

Nota: Essa reflexão contou com subsídios de vários amigos do face-book e podem ser lidos em www.mesumajikuka.blogspot.com

(*) Comunicólogo e escritor

Não estará o «Angolês» já aí a chegar?

14 Sábado, 05 de Julho de 2014.

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Efeméride

Sábado, 05 de Julho de 2014. 15

N. Talapaxi S. (*)

Se a Lingua Portuguesa faz 800 anos, o quêe é que nós temos a ver com isso? Tudo. Sim, nós, os

angolanos (e demais africanos fa-lantes do português), temos tudo a ver com isso, mesmo que, ao contrário dos portugueses, não tivéssemos nenhum motivo para comemorar essa data (e não sei se temos e nem porquê teríamos que ter).

O certo é que, por mais que sejamos kimbundos, umbun-dos, kikongos, nganguelas, tchokwes,kwanhamas e outros bantus, toquemos batuques, can-temos massembas e dancemos tchiandas, enfim, apesar de quais-quer africanidades que possamos exibir, nós nao falamos apenas a Lingua Portuguesa. Nós somos a Lingua Portuguesa. Nós pensa-mos em Português.

Certamente, não será esse o ju-ízo dos nossos cotas, já que eles estarão sempre agarrados à ne-cessidade de conservação das nos-sas línguas nacionais (com muita razão). Também não é a ideia de muitos dos chamados intelectuais, para quem o Português é a língua materna. Para todos em geral, a Língua Portuguesa (a oficial) é es-trangeira. Então, «sermos» a Lin-gua Portuguesa ou «pensarmos» por meio dela, afigura-se como uma aberração.

Mas, no fundo, basta matutar. Depois de quase cinco dos oito séculos de existência dessa língua terem sido dedicados à coloniza-ção em África e ela ter sido um dos principais instrumentos de moldagem do homem coloniza-do, mormente com a rigorosidade do processo de assimilacionimo em que a cultura europeia nos foi dada a engolir, «naturalmente», o resultado não poderia ser diferen-te.

Isso, porém, sem deixar de res-

saltarque essa preocupação com a língua nunca foi exactamente ob-jecto de cuidados aquando da co-lonização. Afinal, os africanos ile-trados eram considerados «fora» da história, só «entrando» nela através das formas de dominação, tendo a política de não-educação sido uma maneira de manter o estatuto de inferioridade do colo-nizado.

Assim, fomos feitos como uma espécie de RoboCop - a figura semi-homem e semi-máquina que o cineastra holandês Paul Verho-eveninventou num dos filmes de Hollywood. Cabeça e alguns membros humanos e o resto do corpo feito de um conjunto de metais automatizados. Um sujei-to movido à memória electrónica, com lapsos de lembranças huma-nitárias.

No nosso caso, a cabeça con-tinuou fisicamente africana, mas

fomos automatizados ao modo ocidental, sendo a memória por-tuguesa com «lapsos» de lembran-ças africanistas.

A rigor, deixamos de sersim-plesmente indígenas africanos, mas também a rígida «civilização» imposta sobretudo depois que movimentos revolucionários co-meçaram a lutar contra a ocupa-ção lusitana, nãoconseguiram nos tornar inteiramente«europeus».

A transformação resultou nes-se «humanóide»estereotipado de alma africana e fazeres mistura-dos, onde a língua é a maior ex-pressão da identidade portuguesa e o seu «DNA» está igualmente presente de alguma maneira nas nossas faculdades mentais.

Quando se diz que portugueses e angolanos (e por extensão outros luso-falantes africanos) são povos irmãos, «biologicamente», esse é um deslavado conto-da-carochi-

nha. Os tugas que o narram, fa-zem-no para se «cambombiarem» e os angolanos que o repetem, para se «cachicarem».

Mas não deixa de haver um quê de verdade na existência dessa«irmandade», partindo-se do princípio de que a convivên-cia, por mais desigual que tenha sido, estabeleceu uma determina-da igualdade de pensamento, por meio do uso da mesma língua.

Além das fortunas vindas dos recursos naturais que ajudaram a edificar as grandes metrópoles que hoje fazem o orgulho dos eu-ropeus, particularmente dos por-tugueses, entre outros ganhos, se há algum elemento que realmente pode simbolizar com dignidade a história dos descobrimentos e ex-plorações lusitanas pelo mundo, esse elemento é a língua.

O facto de falarmos a Língua Portuguesa, como o cume da mol-

dagem promovida pelo regime colonial, é prova de que os seus in-tentos foram concretizados, mes-mo que o sonho de um reinado lu-sitano eterno tenha desmoronado.

Agora inventou-se uma ferra-menta ideológica para recuperar o espaço perdido além-mar, numa tentativa apagar a história colonial e as relações polêmicas com os povos antes dominados, median-te um esforço para controlo da língua-mãe, a Lusofonia. A idéia de uma pátria lingüística deixa subentendido que Lisboa é a capi-tal do «território virtual» lusitano onde aos os africanos se destina a «inferioridade intelectual».

O Novo Acordo Ortográfico firmado entre os países de língua portuguesa é um tiro desse pensa-mento hegemónico português que saiu pela culatra. O Brasil roubou a cena com a maior parte das al-terações a seu favor, incomodando assim profundamente a intelectu-alidade tuga. Os países africanos, em maior ou menor grau, resis-tem.

E pode-se ter certeza de uma coisa. A metamorfose natural de uma língua tem força. Do mesmo modo que a Lingua Portuguesa um dia nasceu das mobilidades inflingidas pelo tempo ao Latim, assim também está no prelo do tempo a normatização das varian-tes de cada pais que actualmente se expressa nesse idioma.

O último «espaço imperial» de Portugal é a Língua Portuguesa, diante das suas antigas colónias, com excepção do Brasil, que des-garrou-se cedo do poder lusitano, cortou o cordão umbilical e segue totalmente independente o seu ca-minho.

Herdeiros e saudosistas fazem de tudo para manter viva a chama do «império». Constituem uma «corte fiel» de intelectuais lusó-fonos, dando azo à manutenção desse ideal de superioridade lin-guística. Mas, a língua portuguesa popular de Angola (assim como a variante dos outros africanos) não vai precisar mais de meia dezena de séculos para declarar a inde-pendência linguística da nossa nação.

(*) Jornalista

Língua Portuguesa

O último «espaço imperial» de PortugalA metamorfose natural de uma língua tem força. Do mesmo modo que a Lingua Portuguesa um dia nasceu

das mobilidades inflingidas pelo tempo ao Latim, assim também está no prelo do tempo a normatização das variantes de cada pais que actualmente se expressa nesse idioma

Page 16: Semanario Angolense

Internacional

Depois de ter sido inter-rogado durante cerca de 15 horas, o ex-Pre-sidente francês Nicolas

Sarkozy foi constituído arguido por suspeita de corrupção e tráfi-co de influências.

No processo foram também interrogados e também consti-tuídos arguidos o seu advogado Thierry Herzog e o alto magistra-do Gilbert Azibert.

O caso provoca grande como-ção em França, onde a instituição do Presidente tem especial prestí-gio e onde há uma forte protecção da sua imunidade (Jacques Chirac, outro antigo Presidente condena-do, foi-o por acções cometidas en-quanto presidente da Câmara de Paris, e acabou por ser condenado a uma pena, suspensa, de prisão, não chegando a ser detido).

O timing, com a discussão da

liderança no partido de Sarkozy para um congresso é Outubro, levou a acusações dos partidários do antigo presidente.

O actual líder, François Hollan-de, reagiu esta quarta-feira ao caso sublinhando o princípio da independência da justiça e disse ainda que Sarkozy deve beneficiar da «presunção de inocência».

Sarzoky foi ouvido na segunda--feira e, após chegar ao gabinete anticorrupção da Polícia Judiciá-ria em Nanterre, ficou detido para interrogatório.

Depois de questionado, foi con-duzido ao Tribunal de Grande Ins-tância de Paris, onde chegou por volta das 23h30, e foi constituído arguido por violação do segredo profissional, corrupção e tráfico de influência activos, segundo um comunicado citado pela agência francesa AFP. Estes crimes têm

penas de até dez anos de prisão.Sarkozy deixou o local pelas

2h da manhã, precisa o diário Le Monde, 18 horas depois do início do período de detenção (que po-deria ser de 24 horas, extensível por mais 24), sem estar submetido a quaisquer medidas de controlo judiciário, indicava ainda o co-municado.

O processo segue agora para a fase de investigação, e depois um juiz decidirá se formaliza uma acusação ou não.

Em causa está uma alegada tentativa de Sarkozy de obter in-formações sobre processos em que era investigado – do caso das suspeitas de financiamento ilegal do antigo ditador líbio Muammar Khadafi à sua campanha para as presidenciais de 2007 às verbas dadas por Liliane Bettencourt, herdeira da L’Oréal. Escutas ao

seu telefone feitas no início do ano passado pareciam mostrar que o Presidente tinha informa-ção sobre os processos e referiu--se mesmo a alguém que lhe daria essas informações.

Mais: há suspeitas ainda de que prometeu um cargo a um alto magistrado – Azibert, também constituído arguido – para não só lhe dar informação como para in-fluenciar o processo. Azivert pe-diu recentemente que as agendas de Sarkozy, usadas no âmbito do caso Bettencourt, que terminou com Sarkozy ilibado, não pudes-sem ser usadas noutros processos que decorrem ainda, como o do financiamento líbio – algo que be-neficiaria o antigo Presidente. A decisão acabou por ser a contrária e as agendas poderão ser usadas.

As escutas a outros responsá-veis relevaram ainda várias ten-

tativas de pessoas próximas de Sarkozy se informarem sobre o processo líbio, interpelando di-rectamente os investigadores.

Uma das principais razões para a constituição de Sarkozy como arguido terá sido a utilização deste de um segundo telefone registado num nome falso, com o qual tinha conversas com o seu advogado, que tinha também outro telefo-ne com outro nome. Numa delas, ainda segundo as escutas, teriam combinado conversas para ter nos telefones normais, mostrando sa-ber que estavam sob escuta.

A investigação surge no mo-mento em que Sarkozy se prepa-rava para concorrer à liderança do seu partido como primeiro passo para uma nova candidatu-ra presidencial – por isso, os seus apoiantes criticam-na como ten-do um objectivo político. ■

Após 15 horas interrogatório em França

Nicolas Sarkozy constituído arguido

SARKOZY Na terça-feira à noite quando foi levado da polícia judiciária para o tribunal Pascal Rossignol/Reuters

Investigadores suspeitam de corrupção e tráfico de influências por parte do antigo Presidente francês. Sarkozy terá tido informações sobre processos em que era investigado e influenciado um alto magistrado.

16 Sábado, 05 de Julho de 2014.

Page 17: Semanario Angolense

Internacional

Sábado, 05 de Julho de 2014. 17

Um dia após a declara-ção do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) Barack Oba-

ma anuncia o reforço das tropas americanas em Bagdade. A capi-tal iraquiana irá receber mais 200 militares, perfazendo um total de 750 dedicados à proteção da em-baixada americana e do Aeropor-to Internacional de Bagdade.

A «proteção de cidadãos e da propriedade americana» é a razão apresentada para o envio de nova leva de soldados, anunciada esta segunda-feira. Num documento dirigido ao presidente da Câmara dos Representantes, John Boeh-ner e ao senador Patrick Leahy, Barack Obama reiterou que «estas forças se irão manter no Iraque até que a segurança se torne tal que deixe de ser necessário».

Entretanto, a cidade de Tikrit continua a ser palco das lutas en-tre os jihadistas rebeldes e forças governamentais. Desde 11 de Ju-nho, a cidade que foi esta terça--feira alvo de um ataque aéreo que atingiu o palácio em que Saddam Hussein vivia, continua a ser con-

trolada pelas forças sunitas.Partes da base militar Speicher,

a norte de Tikrit, também foram tomadas pelos rebeldes, apesar dos esforços das tropas iraquia-nas. Foram desmentidos relatos de que uma coluna militar, que

vinha em auxílio das tropas do país para proteger a base, foi bar-rada pelos rebeldes jihadistas.

Auxílio internacional tarda em chegar

Apesar das investidas dos re-beldes e as dificuldades do exér-

cito iraquiano em defender-se do EIIL o governo norte-americano não parece estar a planear, num futuro próximo, o envio de tropas que combatam ao lado dos milita-res do Governo.

Haider Al-Abadi, membro do

parlamento e porta-voz do Da-wah - partido do atual primeiro--ministro - já disse publicamen-te: «Estamos à espera que os Estados Unidos nos apoiem». E ameaçou que se os EUA não agi-rem, talvez recorram à ajuda do Irão ou da Turquia.

Na Europa, Angela Merkel, já fez questão de sublinhar que os EUA têm «responsabilidade especial» sobre este assunto e que não tencio-na enviar tropas para a região.

Independência curda

Por seu lado, Benjamin Ne-tanyahu, primeiro-ministro israelita, veio defender que os curdos devem aproveitar este momento para reclamar a sua independência. «Um povo luta-dor que provou o seu compro-misso político e moderação», caracterizou-o Netanyahu.

Porém, para o vice primeiro--ministro turco, Bulent Arinc, a situação deve permanecer tal qual como está e apelou a que o país se-guisse o seu “caminho como uma sociedade integrada”. ■

EUA recusam-se combater rebeldes sunitas ao lado do exército iraquiano

OS JIHADIStas sunitas vão ganhando terreno em solo sírio e iraquiano / STRINGER/REUTERS

Obama envia mais 200 militares para proteger a sua embaixada no Iraque, mas reitera que não irão combater ao lado do exército iraquiano. Merkel sublinha que problema no país é da especial responsabilidade dos EUA.

Representantes do Exército da Nigéria anunciaram ter des-mantelado uma célula do grupo islamita Boko Haram. Na operação foi detido o seu suposto líder, Babuji Ya’ari. Respos-ta ou não a esta acção, uma bomba explodiu esta terça-feira

manhã num mercado na cidade de Maiduguri, provocando um número de mortos ainda por confirmar. A BBC fala em 15.

Segundo o porta-voz do ministério da Defesa, general Chris Oluko-lade, há indícios de que o núcleo agora desfeito esteve envolvido no sequestro das mais de 200 jovens em Abril. Muitas continuam desapa-recidas e o grupo afirma que não as vai liberar até que as autoridades libertem todos os militantes presos.

Ya’ari, descrito como um homem de negócios, ligado à venda de trici-clos, é acusado de ter usado a sua participação num grupo civil contra o Boko Haram para encobrir precisamente o seu trabalho de espionagem a favor desta organização e para lhe facilitar o fornecimento de armas.

Babuji Ya’ari, que, de acordo com a BBC, não comentou as acusa-ções, é ainda associado ao assassinato em Maio um líder tradicional, o emir de Gwoza. Duas mulheres ligadas à mesma célula foram também detidas.

Uma nova série de ataques realizados no último domingo contra vá-rias igrejas no nordeste da Nigéria, atribuídos ao Boko Haram, fizeram mais de 50 mortos. ■

In «Expresso»

Destruída célula do grupo Boko Haram

VÁRIOS ATAques no domingo, atribuídos ao Boko Haram, fizeram, pelo menos, 54 mortos / EPA

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18 Sábado, 05 de Julho de 2014.

Por: Makiadi

O pior onze do Mundial 2014

Internado em psiquiatria por ser ateu

Incendiou a casa para matar uma aranha

Nebraska solta 306 presos por engano

José Mourinho no seu melhor (9)

- “Sou bom e não tenho vergonha de o dizer!”- “Tenho a certeza de que, no próximo ano, vamos ver campe-

ões nacionais.” [Janeiro de 2002, por altura da sua apresentação como treinador do FC Porto]

- “As minhas ambições não terminam no FC Porto nem no fu-tebol português. Mas no dia em que deixar este clube, também deixo o futebol português.” [Junho de 2003, depois de ganhar o campeonato português com o FC Porto]

- “A palavra medo não está no meu dicionário futebolístico!” [Maio de 2010] ■

O jornal italiano “Gazzetta dello Sport”divulgou a lista do pior onze do Mundial de futebol de 2014, que está a

decorrer no Brasil. O jornal português “A Bola” reto-

mou o assunto, tendo destacado inclu-sivamente que há dois jogadores portu-gueses que fazem parte do pior onze do Mundial. São eles João Pereira e Pepe.

Eis o grupo das maiores desilusões do campeonato mundial de futebol, que tem como treinador o inglês Roy Hodgson: Akinfeev (Rússia); João Pe-reira (Portugal), Pepe (Portugal), Piqué (Espanha), Jordi Alba (Espanha); Mun-tari (Ghana), Gerrard (Inglaterra), Bo-ateng (Ghana); Cassano (Itália), Diego Costa (Espanha) e Balotelli (Itália). ■

Um cidadão nigeriano foi internado numa psi-quiatria da cidade de Kang, apenas por ser ateu.

De acordo com a estação televisiva BBC de Londres, Mubarak Bala, de 29 anos, foi internado por admitir não ser muçulmano. Para além do próprio, que fez a denúncia através do Twitter, a organização denomi-nada União Ética e Humanista Internacional denunciou a decisão das autoridades, que atenta contra a liberdade de culto de um cidadão.

Mubarak está a comunicar-se com o mundo exterior através de telemóveis levados clandestinamente para o hospital psiquiátrico em que se encontra. ■

Uma norte--americana do estado do Kansas

está a ser acusada de incêndio criminoso, por ter decidido ate-ar fogo à própria casa para (como afirmou) pretender matar uma aranha que viu dentro

da residência. Ginny Griffith,

de 34 anos, residente em Hutchinson, ficou aterrorizada ao ver uma aranha. Decidiu então juntar várias to-alhas e atear-lhes fogo, para destruir a própria casa e, assim, matar a aranha.

Os bombeiros, chamados ao local, encontraram chamas activas e fumo a sair do duplex de Ginny. O incêndio foi contro-lado e Ginny foi presa por incêndio crimino-so agravado. ■

Acima de três centenas de criminosos fo-ram soltos por

engano, pelas autoridades judiciais do estado norte--americano de Nebraska.

Em declarações à es-tação Nebraska TV, o governador do Nebraska, Dave Heineman (na foto), afirmou que as autorida-des estão a tentar voltar a prender parte dos crimi-nosos.

O erro deveu-se a maus cálculos de datas de liberdade condicional por bom comportamento, feitas por um funcionário

estadual. Uma vez que a maior parte dos antigos prisioneiros está em liber-dade há mais tempo do que seriam as suas penas, no caso de não se volta-rem a comportar mal, poderão manter-se em li-berdade.

Mas há 25 prisioneiros para os quais foram emi-tidos novos mandatos de captura. ■

Page 19: Semanario Angolense

Crime

Sábado, 05 de Julho de 2014. 19

Criminalidade em Luanda

Assalto a Banco BIC inferniza Jardim do ÉdenUm grupo, de quatro delinquentes armados, assaltaram nesta manha de segunda-feira, 30, uma agências

do banco BIC localizada no município do Kilamba Kiaxi, propriamente no Jardim do Éden, na Camama, levando consigo cinco milhões de Kwanzas.

Telma Dias

Os autores, que se faziam transportar em moto-rizadas e, empunhando armas de fogo, entra-

ram e ameaçaram os presentes e exigiram dinheiro. Enquanto dois integrantes vasculhavam o banco, pedindo maior volume de dinhei-ro, outros dois supervisionavam a área externa da agência.

Mas como onde há fumo há fogo, com os pequenos alarmes, gritos de desespero em tom baixo dos funcionários, os guardas aper-ceberam-se, esperando pela saída dos assaltantes para que pudessem reagir.

Porém dada a situação, os me-liantes que vigiavam o cenário fora do banco presumindo do grande perigo que os dois ami-gos corriam, tentaram desarmar um dos guardas, tentando puxar a arma, mas ante a resistência do segurança, este foi alvejado com duas balas, tendo uma sido na per-na e a outra na barriga.

Os disparos despertaram a atenção da vizinhança e dificultou a saída dos delinquentes do esta-belecimento bancário, de onde o indivíduo que transportava o saco de dinheiro saía agitado, temendo as consequências da grande con-fusão que criaram, ao ponto de uma parte do dinheiro assaltado se ter espalhado pelo local.

População apanha um

No momento em que dos me-liantes procuravam se livrar do perigo, um deles, na tentativa de fuga, abandonou a arma e refu-giou-se num quintal de uma resi-dência ao lado, onde, no entanto, teve a pouca sorte, pois, foi acolhi-do pela população local.

Agarrou-o, deu-lhe uma valente e impiedosa surra, cada morador batia a seu bel-prazer, tendo uns até tentado derrubá-lo com blocos de cimento no rosto. O meliante por pouco não pereceu às mãos da população. Graças a Deus, mi-nutos depois, a polícia surgiu e salvou-o das garras da nossa po-pulação brava», contou uma zun-gueira, moradora do bairro, que no momento do ocorrido estava a caminho de uma das suas zungas pela cidade.

O Semanário Angolense no lo-cal conseguiu entrar em contacto com um dos jovens que participou da captura do assaltante e contou que o sucedido parecia um filme narrado por grandes personagens do cinema.

«Foi incrível, nunca tinha visto algo igual desde que existo como homem, eles chegaram com tudo, com muita garra, atitude e profis-sionalismo, não fosse os disparos, nós não teríamos dado conta do assalto e provavelmente o guarda acabaria por sofrer mais dispa-ros», afirmou.

Caso o assalto tivesse sido bem--sucedido, eles teriam feito ralis com as motorizadas, levantando

poeira de grandes proporções para pôr em pânico a fim de que não os reconhecesse. Naquele instante, a polícia surgiu no local. mas a po-pulação, furiosa, recusava-se em entregar-lhe o meliante, preferin-do fazer justiça por mãos próprias.

Polícia promete esclarecer

Os valores em dinheiro esvo-açavam no chão à vista de todos, enquanto uns agrediam o acusado e outos se apoderavam do dinheiro, recolhiam e guardavam em bene-fício próprio. O Jardin do Éden é uma área habitualmente e onde não tem não há registo de actos crimi-nosos.

Quando a nossa equipa de re-portagem chegou ao local, o bairro parecia triste e calmo, e todo cida-dão que passava ao lado do banco, principalmente de motorizada, era motivo de desconfiança por parte dos quardas do banco ou de ho-mens que comercializam produtos à beira da estrada.

O vai e vem de um dos repórteres do SA no local despertou curiosida-de a um dos funcionários de uma loja ao lado, cujo olhar atento e si-lencioso demonstrou insegurança e dúvida, chamando de seguida alguns de seus subordinados, e lá ficaram eles a cuchichar, controlan-do os movimentos.

Este jornal contactou a chefe do Gabinete de Comunicacao e Ima-

gem do Comando Provincial da Po-lícia Nacional de Luanda, Engrácia da Costa, onde nos foi confirmada a

ocorrência e prometeram trabalhar para que seja prestado o devido es-clarecimento. ■

Bandidos baleiam e assaltam 4 milhões de Kwanzas

Um jovem foi balea-do na quarta-feira, 02, no membro superior esquerdo,

por dois homens, que anfa-vam de uma motoriza, quan-do aquele tentava reagir a um assalto, minutos depois de ter saído de um banco na Ingom-bota.

A vítima, que conduzia uma viatura, de vidros fu-mados, acompanhado de uma jovem, foi perseguido pelos bandidos e, sem que

suspeitasse, os assaltantes interpelaram-no, partiram um dos vidros do carro, ame-açando-os com uma arma de fogo. Segundo informações de algumas fontes, a quantia em causa foi levantada em benefício de uma empresas localizada no projecto Nova Vida. Os assaltos a bancos na cidade de Luanda somam e seguem-se e os bandidos vão--se esmerando cada vez mais, sem que haja uma resposta eficaz por parte da polícia.

Page 20: Semanario Angolense

Crime

Ladras especializadas em bebidas espirituosasMais de trinta garrafas de bebidas espirituosas foram roubadas, há dias, por um grupo de mulheres numa loja, após terem

simulado que eram clientes que simulam serem clientes da loja, no município de Cacuaco.

Telma Dias

Duas supostas integran-tes do grupo tentaram mais uma ação, mas fo-ram apanhadas em fla-

grante por funcionários do esta-belecimento, com sete garrafas na roupa interior. As últimas bebidas estão avaliadas à volta de mais de 30 mil Kwanzas.

Trata-se de Eva Domingos, co-nhecida como «Vivi», moradora do 11 de Novembro, que disse ao Semanário Angolense que nunca antes tinha roubado e que o im-pulso do sofrimento em casa com os filhos, obrigou-a a planear uma ação criminosa.

«Vivi», viúva e mãe de três fi-lhos, empregada doméstica, ex-plicou que entraram na loja com o objectivo de fazer compras e que, posteriormente, iriam para a Pra-ça do Kikolo comprar roupas para vestir. «Não sei explicar a vontade que senti no momento para rou-bar, confesso que nunca roubei antes, e peço perdão pelo que fiz,» confessou, supostamente arre-pendida do acto.

Outra ladra é Marisa Sebastião, conhecida como Mariza, 45 anos, que também admitiu que roubou com o intuito de vender as garra-fas e aumentar no dinheiro que ti-nha em casa guardado para com-prar algumas «caixas de tomate e kiabo.» Moradora do Catinton, é solteira e mãe de quatro filhos, vendendo produtos agrícolas para o sustento de seus rebentos.

Encorajamento?

«O dinheiro do negócio que ti-nha guardado em casa já não era suficiente para voltar a comprar outra caixa de tomate, por isso, de repente veio-me a ideia de roubar nessa loja. Ganhei mais coragem quando dias antes presenciei uma senhora roubar garrafas nessa loja», recordou.

Acrescentou que tal mulher saiu sem nenhum transtorno, mas chegada fora do estabelecimento, a assaltante compensou-a com uma garrafa de whisky para que ela calasse a boca. «Em função das

dificuldades que vivo, decidi fazer o mesmo», confessou a acusada.

Depois de terem sido desco-bertas, alguns clientes da loja es-bofetearam as mulheres, ao ponto de as garrafas escondidas caírem e se partirem no local. Mário Pe-reira, gerente do estabelecimento comercial, frisou ao SA que a situ-ação do desaparecimento de gar-rafas de bebidas espirituais da loja tem sido frequente nos últimos quinze dias, roubadas por mulhe-res jovens e adultas.

O nosso interlocutor contou ainda que os valores das garrafas que mais desaparecem variam de quatro mil Kwanzas a quatrocen-tos cada. «Foi no sábado quando os funcionários supervisionavam a loja e encontramos caixas va-zias, só assim acreditámos que estamos perante roubos que co-meçava a ganhar contornos alar-mante.»

Desde que foi aberta, a loja nunca antes tinha registado roubo de grande vulto, mas o surgimen-to de várias caixas vazias infil-tradas em prateleiras despertou a atenção do gerente em recorrer às

câmaras de vigilância para que ti-vesse prova dos sucessivos roubos.

Grupo organizado

E as imagens gravadas revela-ram que, antes das duas, tinha en-trado um grupo de cinco mulheres, que rondavam o estabelecimento e, minutos depois, separaram-se cada uma delas em prateleira dife-rente, cada uma com o seu papel, enquanto três roubavam as garra-fas, uma fiscalizava a área e outra ainda fazia a cobertura.

Esse grupo de cinco planearam o roubo de forma profissional, le-vando uma média de vinte e cin-co garrafas, sem deixar rasto, pois elas não apresentavam indícios de roubalheira, entraram e saíram com a maior naturalidade, aban-donando assim as compras que colocavam nos carrinhos.

Deduz-se que as senhoras pren-didas sejam as responsáveis das demais desaparecidas, e cúmplice das cinco mulheres que roubam a primeira vês. Depois apanharam

uma cidadã gravida com uma gar-rafa de uísque velho, justificando o roubo com a fuga de seu marido em casa em que nem preocupa-se em dar sustento aos filhos.

«Normalmente essas senho-ras vêm acompanhadas de outras mulheres, trajam panos ou roupas grandes para que possam escon-der o maior número de garrafas entre as pernas e na cintura. Para organizar melhora acção crimi-nosa, elas enchem os carrinhos de compras com produtos volumosos e descartáveis, como papel higié-nico, guardanapos e outros bens tudo para simular», contou o res-ponsável.

Depois do roubo, elas saem to-das juntas, uma fica à0 espera do registo das descartáveis,outras permanecem apenas de pé, atrás de outras, esperando para não despertar a atenção aos guardas. Outras ainda, depois de tudo, depositam produtos no carro e posteriormente abandonam-nos dentro da loja. A Ango Mart, um estabelecimento com cerca de 40 trabalhadores, conta com 42 ca-maras de vigilância. ■

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Crime

Sábado, 05 de Julho de 2014. 21

Marginais revelam método de roubar motorizadasPelo menos, quatro indivíduos assaltantes de motorizadas foram apanhados pela polícia do Comando de Divisão

de Cacuaco, com armas de fogo, quando protagonizavam uma das suas ações. Os quatro indivíduos são provenientes do Sul do país e venham a Luanda com o objectivo de fazer assaltos à mão armada, roubo

de motorizadas para posteriormente venderem na sua terra natal e vice-versa.

Telma Dias

O argumento dos cri-minosos é que se tor-naram delinquentes desde a altura que

sofreramm assalto e roubo de suas motorizadas, por isso, cansa-dos com a situação, os assaltados transformaram-se em assaltantes, servindo a injustificável história como alicerce de todos os assaltos.

Tomás Cathiliva, confessou que os assaltos de motorizadas têm sido realizados por eles às 18 horas, um período em que tem ficado mais calmo, proporcionado tranquilida-de para o assalto. Tomás, conheci-do por Cathiliva, pai de três filhos, vive com esposa, fazia biscatos de mototaxi, mas depois do tercei-ro roubo, decidiu dar o troco pela mesma moeda, transformando-se num bandido profissional de mo-torizadas.

«A arma que uso é do meu ir-mão mais velho, tirei sem o seu consentimento, com propósito de intimidar as vítimas e prevenção de algum eventual acidente ou tro-ca de tiro em caso de resistência por parte da vítima. Aprendi a usar arma de fogo com um dos meus amigos, que também está embria-gado neste mundo», afirmou o jo-vem, 24 nos, natural do Huambo.

«Assaltamos apenas três moto-rizadas, quando saíamos na Vila de Cacuaco de motorizada, a ca-minho da Cerâmica, quando de repente vimos um jovem de moto-rizada na esquina, fechamos o ca-minho e ameaçamos com a arma, enquanto um fica com arma, ou-tro pega a motorizada e íamos pra casa», ajuntou o criminoso.

A venda do produto roubado

Ele precisou que começou essa prática há um mês e que já rea-lizaram três assaltos na zona da Cerâmica. Lingken, Commuter e kawisiki são as marcas preferidas pelos meliantes, pois o preço ren-de mais.

«A primeira motorizada que as-saltámos vendemos por trinta mil, e a terceira por vinte e cinco mil Kwanzas, dias depois, dividimos, por cada pessoa, dez mil Kwanzas. O grupo, de três, são provenientes da província do Huambo, vieram com objectivo de «desenrascar um meio de subsistência para sua fa-

mília, fazendo mototaxi, mas que se transformaram em delinquen-tes.

Tchiliva, confirma que a esqui-na da Cerâmica é um dos lugares que tem facilitado o roubo de mo-torizadas. «Os meus amigos en-ganaram-me, a primeira vez, fui convidado para ir passear e, como estava bêbado, percebi que eles es-tavam a realizar um assalto», con-testou Vasco Costa, de 27 anos.

No dia seguinte, entrou na onda, chegaram à Vila, cogitaram outra acção, em que foi apanha-do pela população, que, indignada com os vários roubos na área es-pancou-o brutalmente, ao ponto de quase ter sido queimado.

«Fui espancado, momentos a seguir, a população juntou muitos pneus com intuito de me queimar, pegaram-me nos braços, junta-ram-me as pernas, graças a Deus.

a polícia apareceu no momento e me salvou, confesso que senti um alívio», contou o bandido, que, de tantos ferimentos, foi transporta-do para o hospital.

Depois de ter sido capturado pela polícia, ele manteve-se calado com medo de que fosse agredido pelos seus companheiros, expli-cou Costa condutor das motoriza-das depois dos roubos. No terceiro e último assalto, os delinquentes

exibiam-se com a moto roubada sem nenhum receio, circulando pela cidade, sem medo de serem interpelados pela polícia, muito menos pelo dono da motorizada.

Um belo dia, numas dessas pas-seatas, uma das vítimas, reconhe-ceu as marcas de sua motorizada e travou-se de razões com o assal-tante. Minutos depois, a polícia apareceu, prendeu-o e conseguiu encontrar os seus cúmplices. ■

Page 22: Semanario Angolense

Economia

De olho no futuro

Industrialização longe do PIB investe no longo prazo

A contribuição da indús-tria para o Produto Interno Bruto (PIB) do país representa cerca de

6,25% , de acordo com os números apresentados pelo Secretário de Estado da Indústria, Kiala Ngone Gabriel, em entrevista concedida, na semana passada, a Agencia An-golana de Notícias (Angop).

O responsável industrial fez perceber que nos próximos anos visa-se que a participação da in-dústria nacional no PIB venha s ser de pelo menos 15%. E mesmo assim essa taxa «não represente nada» para um país que se preten-de industrializar, comentou.

«Gostaríamos de estar na or-dem de 25% por ano; seria o ide-al. Os países hoje industrializados estão na ordem dos 70%, mas em média. Em países com as nossas características 15% seria uma boa base de partida», estimou o Secre-tário da Indústria.

Ele acrescentou que o programa de industrialização, que aguarda aprovação, prioriza tudo o que sirva para substituir de forma competitiva as importações. E acabou por falar um pouco sobre o que está sendo feito em sectores no âmbito do processo de relança-mento da actividade industrial no país.

Indústria têxtil

Até ao final deste ano a indús-tria têxtil poderá ver concluídas as obras de reabilitação, moderniza-ção e ampliação da empresa Áfri-ca Textil, em Benguela. Enquanto que está em fase de conclusão a restauração da Textang II, em Lu-anda. E no Dondo, província do Kwanza Sul, a renovação da fábri-ca SATEC está em bom curso.

Todo esse processo de reabili-tação destas estruturas de antigas fábricas em prol da reativação da rede industrial têxtil angolana tem um custo estimado de dois biliões de dólares (200 biliões de kwanzas), a serem desembolsados pelo Estado.

As obras no complexo indus-trial África Textil estão na fase final. Trata-se de um empreen-dimento gigante, com o dobro

do antigo tamanho. A SATEC, no Dondo, Kwanza Norte, regista igualmente progressos na reno-vação das infra-estruturas e tudo indicando que em 2015 estejam terminadas. E a Textang II aguarda apenas pela reinauguração. É uma questão de tempo.

Quanto à matéria-prima que ali-mentará as indústrias, Kiala Ngone Gabriel disse o Ministério da Agri-cultura e do Desenvolvimento Ru-ral já anunciou o relançamento da produção de algodão no país. E já há empreendedores económicos e industriais interessados na imple-mentação do programa.

O Secretário de Estado da Indús-

tria lembrou que o país sofreu uma estiagem no ano passado e espera que os efeitos sejam superados para se puder contar com algodão na-cional. Mas, enquanto isso, outros agentes económicos terão de capa-citar-se para importar o produto.

Com a entrada em funcionamen-to destas unidades fabris, prevê-se a criação de mais de três mil postos de trabalho, de um aumento da ri-queza nacional e a substituição de importações, de forma competitiva.

Indústria de cimento

No entender de Kiala Ngone Gabriel, a actividade cimenteira

está a ser motivo de orgulho. «A nossa preocupação é com a quan-tidade da matéria prima principal, o clinker, que o país pode produ-zir. As necessidades apontam que 85 a 90% do cimento é importado. O país está a gastar divisas», disse.

«Há condições no país para se produzir o clinker. A dinamiza-ção da sua produção promoverá o emprego, pelo que encorajamos a criarem-se as condições. Este é o grande desafio», considerou.

Pólos industriais

As províncias de Malanje e Uíge e as regiões do Bom Jesus (Luan-

da), Caála (Huambo), Soyo (Zai-re), e Saurimo (Lunda Sul) estão identificadas para, provavelmente, servir de Pólos de Desenvolvimen-to Industrial, disse o secretário de Estado da Indústria, Kiala Ngone Gabriel.

Como a Comissão para a Eco-nomia Real do Conselho de Mi-nistros mostrou-se receptiva ao projecto de construção de novos pólos industriais, espera-se que eles venham a constar do Progra-ma de Investimentos Públicos de 2015.

O responsável pela indústria explicou que o processo dos pó-los é longo e não acaba em três ou

Olhando para as cifras, a indústria nacional «não representa nada» no bolo do Produto Interno Bruto, onde o petróleo reina absoluto. Mas os investimentos bilionários que estão sendo feitos permitem sonhar com uma participação modestíssima de 15% nos próximos anos, e no longo prazo, criando assim também milhares de empregos.

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Economia

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De olho no futuro

Industrialização longe do PIB investe no longo prazoOlhando para as cifras, a indústria nacional «não representa nada» no bolo do Produto Interno Bruto, onde o petróleo reina absoluto. Mas os investimentos bilionários que estão sendo

feitos permitem sonhar com uma participação modestíssima de 15% nos próximos anos, e no longo prazo, criando assim também milhares de empregos.

quatro anos, uma vez que se trata da industrialização do país em toda a sua extensão. «Termos pelo menos um Pólo em cada provín-cia só que os custos nos levam a não falar ainda no assunto».

A Comissão para a Economia Real também discutiu sobre aa operacionalização dos pólos e a possibilidade de se contar com o sector privado na sua construção, gestão e promoção. O processo de criação de pólos de desenvolvi-mento teve início em 1998.

Com a criação de pólos de de-senvolvimento industrial, o sector preconiza a criação de empregos, riqueza, crescimento da indús-

tria nacional e atingir o objectivo do governo, que é a substituição competitiva das importações.

Censo industrial

O Censo Industrial que decor-re no país, segundo o Secretário, já cobriu seis províncias onde foram licenciadas mais de 1.500 unidades de produção. O prazo de conclusão deste levantamento é o mês de Outubro, altura em que uma base de dados com nú-mero de empresas mais próximo da realidade e se poderá conhecer o verdadewiro tecido industrial do país. ■

Uíge – 97 anos

Apoio garantido ao investimento privado

No IV Forum de Oportunidades de Negócios e Investimentos, inserido nas comemorações do aniversário da cidade do Uige, o governador garantiu

apoio ao investimento privado e o Ministro da Economia indicou a agro-indústria como uma das «minas» a explorar.

O Governo Provin-cial do Uíge garante apoio a classe em-presarial privada

para dinamizar a economia da região, de acordo com o apelo feito, na cidade capital da pro-víncia, na semana passada, pelo mandatário local, governador Paulo Pombolo.

«Reafirmamos aqui o forte compromisso e disponibilidade para apoiar todos os interessa-dos em implementar projectos viáveis e realizáveis na nossa província», vincou o responsá-vel quando procedia a abertura do IV Fórum de Oportunida-des de Negócios e Investimen-tos, promovido no quadro das comemorações dos 97 anos da elevação da sede provincial a ca-tegoria de cidade.

Para Paulo Pombolo, é fun-damental o papel do governo na criação de condições para a realização de negócios dos que queiram investir na província, através das micro, pequenas ou médias empresas, constribuindo para gerar emprego e promover qualidade de vida à população

local.

No âmbito do Plano Nacional de Desenvolvimento, o gover-nador enumerou como desa-fios, para a província, orientar a especialização produtiva, por forma a passar-se da agricultura de subsistência para a produção mercantil, recuperar a transfor-mação dos produtos, desenvol-ver a exploração florestal, entre outras iniciativas.

O IV Fórum Provincial so-bre Oportunidades de Negócios e Investimentos, que termina sexta-feira, junta empresários nacionais e estrangeiros, admi-nistradores municipais, repre-sentantes de partidos políticos e de autoridades religiosas, além de outras franjas sociais.

Agro-industrialização

O ministro da Economia, Abrahão Gourgel, sugeriu a ela-boração de uma estratégia para a industrialização da actividade agrícola na província e aprovei-

tamento dos recursos endóge-nos face a existência abundante de matérias-primas locais. Ele considerou ainda ser urgente que o Uíge passe da agricultura camponesa de subsistência para a produção extensiva, com vis-ta a abastecer suficientemente o mercado.

Para o ministro «num hori-zonte de curto prazo, vislumbra--se um excelente potencial para a actividade de industrialização de tubérculos e raízes, viradas à alimentação humana e animal, a produção de arroz, de óleo ve-getal e de palma, assim como a indústria de transformação da madeira, orientada para a cons-trução civil».

Abraão Gourgel sustentou que «a província tem, entre ou-tros pontos fortes, uma sólida base de recursos naturais, que abrange desde as materiais pri-mas agrícolas até aos recursos minerais e geológicos», cuja va-lorização pressupõe a sua expo-sição nos mercados e explica a importância dos investimentos públicos na construção de estra-das e caminhos-de-ferros. ■

Page 24: Semanario Angolense

Economia

Taxa da inflação

MERCADOS (29-Junho-2014)

Cambial - Nesse semana o BNA vendeu divisas no valor de USD 600 milhões. A taxa de câmbio média de referência do mercado cambial in-terbancário (MCI) foi de USD=Kz 97,823.Os bancos compraram divi-sas aos clientes foi no montante de USD 341,9 milhões, à taxa média de USD=Kz 99,185. Operações Fiscais - Para a gestão corrente do Tesouro Nacional, o bNA, como operador do Estado, colocou no mercado pri-mário Títulos do Tesouro no montante de Kz 8,6 mil milhões, sendo Kz 6,2 mil milhões em Bilhetes do Tesouro (BT) e Kz 2,4 mil milhões em Obrigações do Tesouro (OT). Da emissão de OT, cerca de Kz 200,0 mi-lhões foi em leilão de preço, em moeda nacional sem indexação. A taxa de juro média para essa emissão foi de 6,99%aa, para a aturidade de 2 anos, sem variação face à semana precedente. Operações Monetárias - Para a regulação da liquidez o BNA realizou no mercado monetário operações de mercado aberto (OMA), para absorver liquidez, no mon-tante de Kz 1,5 mil milhões, na maturidade de 63 dias. ■

Giro economicoPolícia Fiscal apreende moeda

nacional e estrangeira

A Polícia Fiscal apreendeu, de 20 a 24 de Junho último, em al-guns aeroportos do país e postos fronteiriços, valores em moeda nacional e estrangeira, no âmbito da estratégia de combate ao desca-minho de capitais e transgressões cambiais. Segundo uma nota da polícia, a unidade fiscal aeropor-tuária de Luanda apreendeu, no dia 24 de Junho, 12 mil dólares norte-americanos, pertencentes a um cidadão de nacionalidade russa quando pretendia embarcar para o Dubai. No dia 22, acrescen-ta a nota, durante o acto de revisão de bagagens, com destino ao por-to, a Polícia Fiscal Aeroportuária e os funcionários das alfândegas apreenderam 200 mil kwanzas a um cidadão de nacionalidade por-tuguesa.

A unidade fiscal da província do Cunene, no posto fiscal da Santa Clara procedeu, no dia 21, a apreensão de 112 mil kwanzas pertencentes a um cidadão ango-lano quando pretendia seguir via-gem à República da Namíbia. No dia 20, foi apreendido de um ci-dadão angolano 100 mil kwanzas, quando pretendia embarcar, com valores não estipulados por lei, para a Cidade do Porto, Portugal.

Cooperativa de crédito

Na Lunda Norte, uma coopera-tiva de crédito para empresários vai ser instituída na cidade do Dundo, pela representação local da Câmara de Comércio e Indús-tria. A cooperativa visa proporcio-nar aos agentes económicos priva-doa as condições financeiras para o exercício eficiente da actividade.

N’Dalatando hotel 4 estrelas

N’Dalatando, capital do Kwan-za Norte, conta com nova unidade hoteleira de quatro estrelas, ergui-da por um investimento privado. Pertencente a empresa hoteleira Terminus”, foi construído em dois anos e custou cerca de 15 bilhões de kwanzas. Com 50 quartos e um anfiteatro com 50 lugares, entre outros itens, o hotel foi erguido no espaço do antigo hotel Bragança, dispõe de serviços de padrões in-ternacionais e emprega 53 pesso-as. N’Dalatando, a 190 km de Lu-anda, conta agora com três hotéis de grande dimensão.

Comprou. Tem 1 ano de garantia

Estabelecimentos comerciais de Luanda oferecem de 24 h a um ano de garantia, caso o artigo apresen-te problemas no prazo estipulado, salvaguardando assim os direitos dos consumidores. Caso o estabe-lecimento, na condição de clien-te, receba de um fornecedor uma mercadoria que não esteja em condições de ser comercializada, faz-se a troca após ser detectada a anomalia.

Feira «agro» fatura 42 milhões

Mais de 42 milhões de kwan-zas foram arrecadados no leilão de gado, realizado durante a feira agro-pecuária que decorreu de 23 a 29 de Junho último, no Nami-be, anunciou o director provin-cial da Agricultura, Gabriel Félix, considerando o evento positivo. A realização deste evento, com a exposição de produtos agrícolas, leilão do gado e a participação de algumas províncias do país como Huíla, Cunene, Huambo, Bié e Cuanza Norte permitiu a troca de experiência e informação.

INADEC nos confins

O núcleo do INADEC no Mo-xico quer abrir este ano represen-tações em todos os municípios da região, para melhorar as acções de fiscalização de produtos, segundo o porta-voz da instituição, Vale-riano Quintas. O facto visa tam-bém contribuir para a promoção das políticas que salvaguardam os direitos dos clientes. A imple-mentação efectiva do projecto vai contar com o apoio financei-ro do Ministério do Comércio e das administrações municipais. O Moxico tem uma superfície de 22.023Km2, com um milhão de habitantes, aproximadamente, distribuídos em dez municípios.

Há carne nacional suficiente

O governador da província de Malange, Norberto dos Santos «kwata Kanawa», garantiu que a produção nacional de carne é suficiente para abastecer o país a julgar pelo número de criadores de gado e de animais existentes

em toda extensão do território. O governante, que participou no leilão do gado da quarta edição da feira agropecuária, na provín-cia do Namibe, disse ainda que o mais importante é que a classe de empresários ligados ao ramo da pecuária esteja unida e juntos tra-çar políticas que visem diminuir a importações de carne. No leilão do gado da feira mais de cinquen-ta cabeças de gado bovino foram vendidas, assim como ca bem como cavalos, porcos, cabritos, ovelhas e aves.

1000 cabeças no leilão da ExpoCunene

Mil e 200 cabeças de gado bovi-no serão leiloadas durante a Expo/Cunene 2014, que se realiza a par-tir do dia 19 deste mês, na cidade de Ondjiva, no âmbito dos 44 anos da província do Cunene, a assina-lar-se no próximo dia 10. Os ani-mais, maioritariamente de raça brahamen, branco, mix, simba e zebu, são de criadores nacionais e do norte da vizinha República da Namíbia. O leilão é uma das maiores atracções da Expo/Cune-ne, realiza-se anualmente no ani-versário da província. Com uma população estimada em 750 mil habitantes, a província do Cunene está dividida administrativamen-te por 273 aldeias, 20 comunas e seis municípios (Cuanhama, Na-macunde, Ombadja, Cahama, Cuvelai e Coroca).

Feira Internacional de Pescas

Em Novembro deste ano o Mi-nistério das Pescas vai realizar, no Bengo, a primeira Feira Interna-cional das Pescas e da Aquicul-tura de Angola. Uma delegação ncabeçada pelo director geral do Instituto de Apoio às Indústrias de Pesca e Investigação Tecno-lógica, Manuel Fernandes, este-ve na província a incentivar os operadores do sector das pescas a participar no evento. O Bengo é rico em recursos hídricos e com potencial em aquicultura, pelo que se espera uma participação desta província nesta Feira Inter-nacional das Pescas e da Aquicul-tura de Angola. ■

24 Sábado, 05 de Julho de 2014.

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Opinião

Sábado, 05 de Julho de 2014. 25

Isaac Paxe (*)

Tem sido regra nos diver-sos meios sociais o ques-tionamento da educação entre nós, sempre que

um fenómeno desafia os limites da nossa tolerância no convívio com a diferença. A besta da vez é o reality show Big Brother Angola (BBA). A estupefacção de muitos tem tido como base o «défice» no nível cultural demonstrado pe-los concorrentes. Este «défice», como se a cultura se sujeitasse a medidas estanques, é identificado essencialmente no domínio da língua portuguesa, no conteúdo das suas conversas e no despudor, além, no caso das meninas, da sua obsessão pelo cabelo «alheio». Por isso, como acreditam estes críti-cos, o BBA não deveria ser acei-te como produto de consumo na nossa sociedade, mesmo sendo exibido em canal de televisão co-dificado, isto é, pago.

Mas, os concorrentes do BBA são de uma sociedade que todos os dias nos revela o que a casa nos dá a ver. Então, o «défice» pode não ser da cultura dos «brothers», mas sim do tipo de sociedade que des-de 1975 temos tentado construir. E a cultura é com razão chamada para esta discussão, porque é ela que informa os projectos de ca-rácter público de uma sociedade, se vista na relação entre o Estado e o Cidadão. A cultura é por ataca-do o resultado da produção histó-rica desta sociedade e constitui-se dos seus valores e princípios, da sua arte, da ciência, das crenças, dos conhecimentos e dos saberes, etc.. E, nos tempos actuais, a cul-tura é também influenciada por movimentos globais que, devido a várias razões ( principalmente políticas e económicas), se batem pela «cultura mundial comum». Nessa condição, a cultura, como um todo, não é estanque. Ela recria-se, quer pela acção das di-ferentes gerações das sociedades, quer também pela «invasão» dos movimentos mundiais para a cul-tura comum.

Esta característica da cultura desafia os processos da sua cons-trução na perspectiva de um pro-jecto de cidadania. Os projectos desta naturezacobram umproces-

so sistematizado assente essen-cialmente num ideal. O processo sistematizado é traduzido em um sistema de educação pública, sen-do configurado num direito de ci-dadania devido às responsabilida-des dos Estados Constitucionais. Mas, para que a educação pública angolana nesta condição de direito seja útil para os cidadãos e para a sociedade como um todo,é preciso que o seu ideal se fundamente na narrativa histórica nacional e tam-bém «reinvente» a abordagem que a educação escolar empresta ao na-

cionalismo angolano.O nacionalismo que aqui evo-

camos é, como caracterizado pelo estudioso brasileiro Anísio Tei-xeira, a tomada de consciência da nação, da sua existência, de sua personalidade e dos interesses dos seus filhos, na sua condição de indivíduos e de membros de um colectivo. Se levado para as necessidades da educação, este nacionalismo cobra da escola pú-blica uma acção volvida ao pró-prio país, cujos estudos foquem, entre outros aspectos:

1. Nas suas línguas, para que se possa compreender a relação en-tre os falantes e a língua que lhe édisponibilizada nos múltiplos ambientes da sua socialização e, para o caso da língua portugue-sa em particular, a necessidade de pensarmos numa variante local a formalizar, uma vez que a história da aprendizagem desta língua re-sultou no português que «mal fa-lamos e pior escrevemos» (ver SA n.º 519 de 15 de Junho de 2013).

2. Na história, para se compre-ender as dinâmicas sociais, polí-

ticas, antropológicas dos povos que constituem a população de Angola e como essas dinâmicas nos podem informar sobre o que temos feito ao longo dos tempos, o que somos e porque somos o que somos. É buscar compreen-der também as nuances do desen-volvimento da sociedade e das re-lações entre os diferentes grupos (opressores, oprimidos, margina-lizados, privilegiados, «vencedo-res», «derrotados», etc.).

3. Nos seus problemas e nas so-luções dadas aos mesmos ou que não têm sido dadas. Do colonia-lismo ao projecto do Socialismo de partido único, passando pela guerra, e agora os desafios da de-mocratização do país, cada um destes factores produziu proble-mas específicos que se fossiliza-ram, em muitos casos, nas nos-sas relações sociais. Poderíamos falar, por exemplo, da cultura da violência, do desrespeito à vida humana, a violação dos direitos e das liberdades dos cidadãos, a ex-ploração económica que perpetua a pobreza, a corrupção, etc..

Uma educação pública funda-mentada por um projecto nacio-nalista pode ser o contraponto para os ditames da «cultura co-mum» sob a égide de redes po-líticas e económicas de alcance mundial, informadas pelos velhos projectos do imperialismo bur-guês do ocidente europeu. E para a educação escolar, como meca-nismos de operacionalização dos fundamentos do nacionalismo da escola, abre-se a perspectiva de resolvermos o «velho» proble-ma que enferma o nosso sistema de ensino, isto é, a formação de mão-de-obra especializada para atender às necessidades do mer-cado, necessidades estas muitas vezes produzidas pelas agendas económicas internacionais, em detrimento do atendimento das dimensões cognitivas, morais e políticas conducentes à educação de cidadãos sujeitos e conscientes dos seus direitos e deveres.

Concluindo: urge pensarmos num ideal nacionalista que sirva de fundamento para a educação pública oferecida aos cidadãos no gozo dos seus direitos, como obri-gam os princípios de um Estado constitucional. É com isso tenho fé que projectos como o BBA não ocupariam tanto espaço na agenda das questões da nação a debater. ■

(*) Docente do ISCED/Luanda

Desafios da educação escolar públicaA propósito do alegado «défice» cultural dos concorrentes ao «Big Brother-Angola»

Page 26: Semanario Angolense

Opinião

Chegou a vez de visitar o Senhor Ministro da Energia e Águas, pessoa por quem tenho apreço,

pelas mudanças positivas que in-troduziu no sector (fundamental-mente na área de distribuição de energia eléctrica). Não nos esque-çamos que (ao contrário do que muitas vezes sucede), foi devido ao bom trabalho que fez à frente da distribuidora de electricidade EDEL que ascendeu inicialmente ao posto de vice-ministro. Pode ter havido também outras razões, mas temos de convir que sempre que a essas «outras razões» se aliam a competência, o saber-fa-zer e o saber-ouvir, ficamos todos (Estado e cidadãos) bem servidos.

O mais comum, por cá, é ou-virmos chamadas de atenção em relação à distribuição de energia eléctrica, mas não era de esperar outra coisa, até porque (como se sabe) a nossa opinião pública tem normalmente memória curta. De facto, tenho de afirmar que o maior problema do sector da energia e águas não é a distribui-ção de electricidade, mas a distri-buição de água.

Se assim é, porquê então que as pessoas se referem comummen-te ao contrário? Pois funciona a mesma regra, quando um estu-dante universitário afirma que é pobre, quando alguém diz que a criminalidade está a aumentar em Angola ou quando aquele mesmo estudante ou um qualquer «polí-tico» (as aspas são propositadas!) se ficam pela declaração do senso comum (que, por sinal, até está de acordo com o seu interesse par-ticular) que diz que há ditadura em Angola. Nos três casos, todas essas pessoas referem um concei-to, mas estão a falar de outra coi-sa – e não se distanciam do senso comum, perguntando-se até que ponto podem não ter razão (como devemos fazer quando aborda-mos as questões segundo o rigor científico). Mas, não me vou de-bruçar hoje sobre nenhuma des-tas três matérias, que deixo para próximas audiências. E quanto aos comentários acerca da evolu-

ção do processo de democratiza-ção em Angola, não me esqueci da promessa que fiz aos leitores – voltarei a eles tão logo termine outras obrigações que tenho actu-almente em mãos.

No caso da dúvida a respeito da área mais problemática, diz-se co-mummente que é a da distribuição de energia eléctrica porquê? Por-que (tal como sucede nos outros três casos citados) existe realmen-te essa percepção, motivada neste caso por um facto muito simples, em relação ao qual não prestamos a devida atenção: as pessoas po-dem guardar e conservar água, mas ainda não foi inventado ne-nhum aparelho que nos permi-ta guardar energia eléctrica em casa, para consumirmos depois. Podemos estar uma semana sem receber água em casa, mas não sentirmos sequer essa falta (desde que haja água armazenada para esse período). Já a falta de ener-gia eléctrica, durante qualquer meia hora que seja, arromba ver-dadeiramente connosco. Mesmo

que tenhamos gerador de energia eléctrica, vamos sentir esse efeito no bolso e na pele. E esta falta vai prevalecer sobre a outra (da água), que é normalmente menos perce-bida e menos sentida, se compa-rarmos o tempo que ficamos sem um e sem o outro bem. Até por-que o efeito de ficarmos sem água durante vinte horas por dia não se equipara a ficarmos sem ener-gia eléctrica durante quatro horas por dia (sobretudo durante o dia no local de trabalho e durante a noite em casa).

Portanto, o que se passa é que sentimos mais qualquer interrup-ção no fornecimento de energia eléctrica do que idêntica interrup-ção no fornecimento de água. Daí pensarmos (erradamente) que o busílis do sector hoje em análise é o da distribuição de energia eléc-trica.

Mas se nos distanciarmos des-ses subjectivismos que coman-dam a nossa existência e os nossos interesses egoístas, então conclui-remos necessariamente que o ver-

dadeiro busílis está na distribui-ção de água. É um assunto que é muito mais simples de resolver do que o da distribuição de energia eléctrica (quanto mais não seja, por exigir menos tecnologia), mas que não está resolvido. É um as-sunto que começou a ser resolvi-do com a sedentarização em larga escala (com a criação de vilas e, depois, de cidades), já lá vão mui-tos séculos, mas que em pleno séc. XXI, numa capital africana, não está resolvido. Resta acrescentar que essa capital é de um país que dispõe de água até para exportar para países vizinhos…

Já que é gritante a falta de água e hoje (no 39.º ano desde a proclamação da independência e 12 anos depois da assinatura do cessar-fogo que marcou o ter-mo da guerra civil) continuamos sem vislumbrar qualquer solução duradoura para esse problema, temos de perguntar ao Sr. Minis-tro se não será de mandar colocar tanques em vários pontos altos da cidade de Luanda e doutras lo-

calidades, para deixarmos de ter de andar de trás para diante com baldes e bidons para transporte de água. Mas seria preciso fazer chegar água potável a tais tan-ques, obviamente.

Alguma solução tem de ser en-contrada, porque não podemos continuar a mandar construir tanques para armazenar água em cada habitação. E nas novas construções, tem de deixar de se projectar espaço e acessórios para guarda e bombagem de água.

Estou recordado do antes cha-mado «Projecto Nova Vida», para o qual se projectou de facto uma «nova vida», sem tanques de água nem geradores de energia eléctri-ca. Pois um amigo que lá mora confidenciou-me que chegam a ficar duas semanas sem receber água em casa. E depois, quando recebem, ou a água vem com tão pouca pressão que nem chega ao 3.º andar em que ele mora (já para não falar dos quintos andares…). Mas no final do mês, a cobrança diz respeito a 30 dias de abasteci-

…o Ministro da Energia e Águas (27)

Água a conta-gotas remete-nos à Idade Média

26 Sábado, 05 de Julho de 2014.

Page 27: Semanario Angolense

Opinião

Sábado, 05 de Julho de 2014. 27

mento de água, 24 horas por dia.Não está certo que a EPAL

cobre por um serviço que pres-ta mal, ou que simplesmente não presta. Diz-me esse cidadão que, feitas as contas por excesso, a EPAL deveria ter-lhe cobrado pelo abastecimento de água em Maio último, somente cerca de 12,5% daquilo que cobrou. E em relação ao mês de Junho que ago-ra findou, deveria cobrar-lhe so-mente 6% daquilo que vai cobrar. E reparem os leitores que há por lá contadores, que serviriam para a EPAL cobrar apenas aquilo que é consumido, mas que a empresa simplesmente ignora, para nitida-mente tirar benefício.

Quer dizer que, no caso desse cidadão e seus vizinhos, a EPAL cobra em demasia para o servi-ço que presta. As pessoas pagam para ter água em casa, 24 horas por dia – e não têm. Por isso, as pessoas são forçadas a viver como já não se vivia na Idade Média, mas têm de pagar como se jorras-se água dos seus chuveiros a qual-quer hora do dia. Não está certo!

Cobrar 8 vezes acima (como naquele caso, em Maio) ou 18 vezes acima (em Junho) do que se deveria cobrar não é apenas um atentado ao consumidor. É a EPAL dizer-nos na cara (e no bolso) que estamos com os olhos vendados e que temos de nos ver-gar, se pretendermos receber água em casa apenas de manhãzinha, em 4, 6 ou 10 dias do mês. Pois nem na Idade Média era assim.

Eis a questão que me trou-xe hoje à conversa consigo, caro Ministro. Se os consumidores da EPAL decidissem em bloco pro-cessar a empresa, acredito que o Estado angolano não teria como pagar tão grande indemnização.

Urge pôr cobro a isso, Senhor Ministro. Se quem dirige a EPAL (seja no topo, seja nos postos in-termédios, seja nos de base) não está capacitado para encontrar as soluções que deles se espera, en-tão que se encontrem as pessoas certas para acabar de vez com as negociatas à volta da distribuição de água, que servem apenas para manter a actual situação. Não se admite que hoje, em pleno ano de 2014, as crianças angolanas que vivem em vilas e cidades conti-nuem a ter de transportar água à cabeça. Já devíamos estar a resol-ver esse problema no meio rural, quando ainda nem o resolvemos na própria capital do país…

Mãos à obra, Senhor Minis-tro. Sem haver necessidade de olhar para o calendário eleitoral, resolva-se de uma vez por todas o problema da distribuição de água, para que possamos exigir às pes-soas maior produtividade e para que possamos todos beneficiar de mais tempo de vida saudável.

Espero que numa próxima visi-ta ao seu Ministério, haja melho-res notícias. Até lá. ■

Rita Filomena Mununga (*)

Confesso que, quando ouvi dizer que have-ria de se realizar o Big Brother Angola,

jamais imaginei que perderia o meu tempo para escrever este texto sobre esse reality show.

O Larama representa um pouco da essência do homem angolano em geral e a mais fiel descrição do puro caluanda em particular: tagarela (manda mui-ta lata), extrovertido e convenci-do que sabe muito, distingue-se entre muitos porque a sua forma de ser chama a atenção.

Mas, será que é apenas isso? A minha resposta é não, por-que este é apenas um dos ele-mentos que o distinguem dos de mais concorrentes do BBA. Existem muitos outros, mas o grande segredo do seu suces-so é apenas um e vou revelá-lo mais a frente…

De volta aos elementos, exis-te um outro importantíssimo: Larama tem a melhor estraté-gia de jogo.

Contrariamente ao que acre-ditam os seus poucos opositores, que, pelos vistos, não assistem ao programa, o Larama é muito inteligente, sendo o único con-corrente que foi com a estratégia

de jogo devidamente montada: nunca fala por trás, fala na cara, nunca fala mal de ninguém (não faz fofoca), procura não dar des-taque a ninguém que não seja a ele mesmo. Ao falarem mal dele, devido à sua personalidade forte, os outros candidatos não sabem que isto o torna numa vítima, dando-lhe mais destaque. Ele não procura ser o perfeitinho, não cria grupinhos, tem sempre frases filosóficas, sejam dele ou não, bem como histórias para contar, sejam verdadeiras ou in-ventadas. Levou ao programa um lema que é ao mesmo tempo uma música e que está hoje na boca do povo: «Quando a justiça chegar, ninguém vai se meter». E isto são marcas que ele criou.

Tem autoconfiança que che-gue. Num dos bate-bocas no qual todos estavam contra ele, havia dito: «Ninguém na casa tenta contra mim, quem tentar será vencido».

Tem o dom de fazer rir as pes-soas e ele usa isso a seu favor no jogo. Portanto, isto deu tão cer-to que até o silêncio dele dá gra-ça às pessoas, que querem vê-lo mesmo dormindo.

Ele não é vazio

- Tem um sotaque puramente caluanda, mas expressa-se bem.

- Algumas vezes, quando as suas companheiras da casa azul pas-

sam horas a fofocar, ele passa por elas e diz: «Toté, vão se queimar!». Quem acompanha o programa, sabe que o grupo das fofoqueiras anda conotado. Ele nunca as ad-verte de forma clara porque sabe que aquela acção pode prejudicá--las aqui fora. Por isso, não pode despertá-las, o objectivo é que elas caiam mesmo no buraco…

- Chamou atenção a um dos concorrentes dizendo que ele estava a promover a infidelidade porque mesmo sendo casado as-sediava abertamente uma outra mulher lá dentro.

- Aconselhou as suas amigas a se darem ao respeito, sendo que elas permaneciam deitadas e a acariciar um homem que tem namorada na casa, um discurso digno e bonito que durou cerca de 15 minutos.

Larama é bom de dicas. Con-fesso que eu não fazia ideia desta e aprendi com ele: «A aliança é colocada no dedo anelar esquer-do porque os romanos acredi-tavam que naquele dedo existia uma veia que tinha contacto di-recto com o coração».

E, corrigindo uma das con-correntes, lançou esta: «Cacau, não se diz leite moça, diz-se leite condensado, leite moça é uma marca».

A revelação do mito

Para além dos factores aci-ma descritos, vejamos agora porque é que Larama tem tan-

tos fãs, entre pessoas de dife-rentes idades e sexo.

Por que é que o Larama levou milhares de pessoas a assistirem ao reality show?

O filosofo Osho, no seu livro «Coragem, a alegria de viver perigosamente», refere que a maioria das pessoas no mun-do é simplesmente um produto da sociedade e nada mais: têm máscaras, não são livres, por-que andam tão presas às regras sociais que são todas iguais, esquecendo-se de ser autênticas.

Para ele, as pessoas autênticas, de espírito livre, que não estão preocupadas em seguir as regras sociais para agradar às outras, têm mais possibilidade de faze-rem sucesso, de terem muitos fãs ou seguidores, às vezes mes-mo sem protagonizarem algo de muito especial. Como o próprio Larama havia afirmado na casa, «somos todos loucos, só que uns mais concentrados que os outros». A maior parte das ditas «concen-tradas» reprimem esse lado louco, por medo de serem julgadas, mas pessoas como o Larama são livres das regras sociais e não permitem que lhes seja colocadas máscaras.

Penso que aí está o motivo pelo qual eu e milhares de pes-soas somos fãs do Marechal, Chefe do Estado-Maior, Gene-ral, Deputado, PhD, Engenhei-ro, Excelência, Majestade e Dr. Luís Larama. ■

(*) In facebook

Um fenómeno chamado Larama

Page 28: Semanario Angolense

Opinião

A retoma do presente tema tem a ver com a recente e renovada tentativa de harmoni-

zar o interesse público na limpeza e recolha de resíduos sólidos, com a actividade empresarial exercida pelas operadoras. A defesa do in-teresse público, reconheça-se, tem constituído um nobre desiderato do GPL, ao qual se apegou com notável sentido de responsabili-dade, na pessoa do seu governa-dor, e que, segundo opinião geral, tem resultado em mudanças de atitude por parte das empresas operadoras integrantes do siste-ma, assim como da própria Elisal.

A abordagem deste tema não é tarefa fácil. Em realidade, ainda que os enormes esforços até ago-ra desenvolvidos nesta acertada direcção mereçam o nosso re-conhecimento, pode-se concluir que estes não abarcam todos os aspectos negativos por corrigir, e que os modelos mais ou menos bem delineados e adoptados, com base nos estudos e inquéritos até agora já realizados, necessitam de novos condimentos para surtirem efeitos palpáveis.

A questão de fundo parece-nos não ter sido ainda suficientemente tratada pelas instituições gover-namentais envolvidas no proces-so, permitindo que o GPL assuma uma liderança no combate com fraquíssimos apoios exógenos.

É ponto assente também que um processo de limpeza de uma cidade tão superlotada demogra-ficamente como Luanda arrasta consigo dispêndios financeiros astronómicos, e que, pela com-plexidade do processo, abre ca-minhos para permanentes dis-cussões técnicas que visem o seu melhoramento, tornando inevitá-vel um apelo à inovação e criativi-dade. Mas, ao engenho financeiro para estimular e resolver dívidas, dever-se-á acrescentar as exigên-cias da lei.

Para o caso em análise, pro-mover ensaios seguros em enge-nharia tecnológica e financeira que visem a melhoria do sistema com a injecção de mais meios ro-lantes e outros diversos, medidas do cunho administrativo e legal devem ser tomadas, sob pena de um desmoronamento precoce de

todo o nosso castelo de soluções.Enveredar por caminhos no-

vos, para a consolidação das con-quistas já obtidas no processo, é a direcção que o texto toma pela frente, para que o mal possa ser debelado com sucesso. E uma das frentes cuja importância e signi-ficado ainda não foram devida-mente tratados, mas que pode constituir a solução airosa é, sem sombra de dúvida, o controlo sis-temático e o monitorização do processo de recolha e limpeza, através de um sistema integrado de fiscalização do serviço, que imponha regras e princípios de cumprimento obrigatório, devi-damente assegurados por me-canismos práticos e legítimos de penalização aos incumpridores e premiação aos mais dedicados. A esta filosofia correctiva, há que se juntar-se um mecanismo de con-curso (limitado ou à negociação), mediante o qual todas as pessoas colectivas interessadas no serviço fossem então submetidas a pro-cedimentos previstos na lei, res-peitados como instrumentos de realização da transparência que vise a competitividade, a eficácia

e a eficiência empresarial.Considero que a montagem e

materialização de técnicas de con-tratação pública, tal como defini-do na lei, poderão trazer ao siste-ma novas valências, a destacar a fiscalização e a adopção de planos de trabalho, à semelhança do que se faz referência nos artigos 245.º, 266.º e 268.º da lei da contratação pública n.º 20/10 de 7 de Setem-bro. Se acrescermos a esta prática os procedimentos constantes das regras anuais de execução do Or-çamento Geral do Estado, já em vigor desde 2011, teremos ataca-do o mal pela raiz, e deste modo tornar exequível um programa de limpeza e recolha compatível com o interesse público, tal como mais acima referenciado e defendido pelo governo da província com a acutilância que agora nos dá a observar o seu titular nas últimas intervenções públicas que profe-riu a propósito.

O complexo processo da lim-peza e recolha de resíduos sólidos da província de Luanda deve-rá contar com a participação de mais instituições que lidam com a adjudicação de serviços e seu

financiamento público, face às exigências que comportam cer-ta dinâmica e requerem recursos que não estão assim tão próximos ou disponíveis junto do conce-dente. A ajuda exógena que aqui se refere tem a sua razão de ser na complexidade tecnológica do pro-cesso, na dimensão e extensão do serviço e na implicância social de larga escala que envolve a saúde dos cidadãos, a imagem da cida-de capital, o turismo e por fim a economia no seu todo pelas avul-tadas somas de verbas necessárias para remunerar o serviço.

Adianta, pois, focalizar o tema com certa destreza e rigor, para um entendimento útil dos con-teúdos e dispositivos constantes da legislação angolana em vigor sobre a matéria, desafio que não pode ser esgotado num brevíssi-mo artigo de algumas linhas es-critas.

Após uma pequena incursão pela lei, havemos reparar que vi-gora um conceito de concessão de serviço, para além de que abun-dante literatura a define tal como o legislador angolano na sua ver-são mais actualizada. Segundo a

lei angolana, por concessão de um serviço público, entende-se o con-trato pelo qual o co-contratante, concessionário, se obriga perante uma entidade pública contratan-te, concedente, a gerir, em nome próprio, sob sua responsabilidade e em respeito pelo interesse públi-co, por um determinado período de tempo, uma actividade de ser-viço público, sendo remunerado pela entidade pública contratan-te, com a totalidade ou parte das receitas geradas pela actividade concedida.

Quanto a esta matéria, pouco ou nada mais há a acrescentar. De tão óbvia, resta-nos apenas o dever de recordar que, no caso, o co-contratante é a ELISAL e o concedente é o Governo da Pro-víncia de Luanda, ou a entidade que eventualmente tenha auto-rizado a despesa, nos termos da legislação aplicável.

Já em relação à fiscalização do serviço (concessão), muito há que falar. Trata-se de um dispo-sitivo previsto na lei e do qual a ELISAL nunca se socorreu nos termos exactos em que a lei prevê. A nossa experiência mostra que o co-contratante ELISAL, apre-senta-se simultaneamente como concessionário, operador ocasio-nal nalguns casos de intervenção estratégica e, paradoxalmente, como o fiscal do modelo. Não sei se me engano, mas é exactamente esta a única fórmula incorrecta que conheço, que pode levar a um estado de improvisação e insuces-so todas as nossas idosas esperan-ças num sistema de recolha eficaz e eficiente para a cidade de Luan-da. Infelizmente.

Junta-se a esta demolidora in-suficiência, por razões históricas obviamente, a inexistência dos procedimentos previstos na lei da contratação pública para a es-colha das melhores operadoras e «subconcessionárias», através da-quilo que se designa por concurso limitado ou público (o procedi-mento de negociação é o mais re-comendado neste caso concreto), de acordo com os critérios e o po-der discricionário do concedente, tendo em conta a defesa, realmen-te, do interesse público no que em matéria de limpeza e higiene da cidade diz respeito. ■

Por uma Luanda mais limpa

28 Sábado, 05 de Julho de 2014.

Page 29: Semanario Angolense

Sociedade

Sábado, 05 de Julho de 2014. 29

Ilídio Manuel

A fiscalização do seguro automóvel de respon-sabilidade civil pelos agentes da Polícia de

Trânsito, no começo desta se-mana, está a criar não só sérios embaraços aos automobilistas incumpridores, como também a gerar alguma polémica no seio da opinião pública.

Por um lado, há quem defenda que o seguro deve ser pago, en-quanto outros contestam a medi-da, a ponto de considerá-la como

«anti-popular», já que, na sua óp-tica, a mesma teria como objectivo penalizar ainda mais os proprietá-rios dos veículos de «baixa renda», que serão a maioria.

Alguns cibernautas têm vindo a manifestar o seu descontenta-mento nas redes sociais por acha-rem que a medida destinar-se-á ao enriquecimento de algumas figuras da nomenclatura política e económica do país, supostamente com ligações às empresas segura-doras.

Num outro extremo, há quem esteja de acordo com o pagamen-

to do seguro automóvel, já que o mesmo, em caso de acidentes, constituíra uma garantia de res-sarcimento de danos causados a viaturas de terceiros, não deixan-do, porém, de manifestar o seu receio em relação às seguradoras, que, como se sabe, nem sempre têm honrado com as suas obriga-ções contratuais.

Em relação a este último assun-to, um cibernauta admitia que o seguro automóvel «é importante», em qualquer parte do mundo, mas que o mesmo se tornasse eficaz era necessário que ambas partes, ou

seja, entidade seguradora e segu-rado se aprestassem a a cumprir com os seus deveres. Depois de ci-tar alguns casos de incumprimen-to das obrigações por parte das seguradoras em Angola, ele ques-tiona, por exemplo, se existe um horizonte temporal para as referi-das empresas honrarem com a sua parte junto dos seus clientes e se, em caso de incumprimento, elas devem ser sujeitas a penalizações.

Sabe-se desde há muito que al-gumas das entidades seguradoras que actuam nesse ramo de activi-dade não têm estado a assumir as

suas responsabilidades, sem que disso resultasse qualquer género de sanções ou penalizações. Por esta e outras razões é que muitos proprietários de meios rolantes têm vindo a questionar-se sobre a viabilidade da subscrição dos contratos jurídicos com as entida-des seguradoras. Embora se saiba que a crise de falta confiança en-tre as entidades seguradoras e se-gurados ter sido aproveitada por muitos incumpridores crónicos de impostos, no caso do seguro automóvel obrigatório, para não honrarem com a sua parte. ■

Há quem considere a medida de «anti-popular»

Seguro automóvel: entre o descontentamento e a desconfiança dos automobilistas

Resquícios de um Estado provi-dência

Uma das razões, que pre-sumivelmente terá contribuí-

do para o não acatamento voluntário do pagamento do seguro automóvel terá a ver com os 16 anos de vigência de uma espécie de Estado providência, um perí-odo durante o qual o cidadão comum foi quase que desabituado a pagar os seus impostos.

Para além dessa falta de cultura de pa-gamento de impostos, não se deve tam-bém negligenciar o recurso individual à compra viaturas na ausência de uma rede eficaz e diversificada de transportes pú-blicos, capaz de satisfazer as necessidades colectivas.

A compra no passado de um número massivo de viaturas de ocasião no exte-rior do país, muitas das quais quase que a cair de podre, ajudou a minimizar os

problemas pessoais e familiares da falta de transportes colectivos, mas não foi, ao longo de várias décadas, acompanhada da obrigatoriedade do pagamento do se-guro, assim como de inspecções regula-res técnicas aos veículos.

Estes meios rolantes, além de ofe-recerem pouca confiança, têm sido os que mais se envolvem em acidentes de viação, devido às suas deficiências de natureza técnica.

De igual modo, a deficiente autua-ção policial contra os incumpridores «ajudou» também a criar um senti-mento de impunidade, já que as auto-ridades policiais, ao invés, de fazerem da fiscalização do seguro automóvel um imperativo permanente, limitam--se, de quando em vez, a ameaçar os automobilistas com pesadas coimas, assim como com a apreensão dos seus meios rolantes. ■

Resquícios de um Estado providência

Page 30: Semanario Angolense

Sociedade

Dezoito meses sem salário

Greve na empresa Paviterrapor melhores condições laborais

Samir Gomes, o gestor, garante que a situação será resolvida brevemente

Kim Alves Hélder Simões (fotos)

Decorre o tempo seco, mas o saneamento e limpeza de Luanda e suas periferias, assim

como a terraplanagem e reabilita-ção das ruas interiores, secundá-rias, terciárias e as operações de tapa-buraco, continuam a espera de milagres, situação que deixa os luandenses agastados, já que to-dos os anos repete-se o cenário e a promessa de melhorias neste tem-po, por parte dos responsáveis da província e dos municípios nunca se cumprem.

A população está preocupada porque, com o passar dos anos, cada vez mais os bairros estão a fi-car degradados. Mesmo as antigas zonas nobres como o São Paulo, Bairro Popular, Terra Nova e Hoji--ya-Henda, só para citar estas, têm as suas ruas totalmente estragadas e irreconhecíveis.

As ruas no mau estado em se encontram, dão uma imagem de-gradante, desleixada e suja aos bairros, mesmo que haja casas bo-nitas e bem pintadas. Não se com-preende que obras que vão todos os dias custando milhões de dólares, porque Angola é o único país do mundo onde qualquer mediocri-dade custa milhões, tenham que ser refeitas constantemente. Não há uma só estrada a nível de Luan-da que dure ao menos um ano sem qualquer tipo de intervenção.

Recentemente, a esperança dos luandenses renasceu quando foi anunciado que a Empresa de Ter-raplanagens e Pavimentações (PA-VITERRA), paralisada há alguns anos, estava a ser reabilitada para

voltar ao seu trabalho anterior.Tendo sido uma empresa que,

antes da paralisação, trabalhou a sério e fez obras nas estradas que deixaram saudades a quantos co-nheceram, os cidadãos rejubilaram quando souberam que a mesma ia retomar as suas actividades. Assim criou-se uma grande expectativa, porque cansados de obras de «esfe-rovite» ou «descartáveis» que estão a ser feitas no país, com destaque para Luanda, o reaparecimento da Paviterra não podia acontecer em melhor momento.

Contudo, nesta quinta-feira (3), os trabalhadores daquela empresa entraram em greve para reivindi-car o pagamento de dezoito meses de salários em atraso. Durante o tempo de paralisação muitos tra-balhadores tinham a esperança na sua reabertura e mantiveram-se nos seus postos de trabalho. Foi assim que se acumulou a dívida de dezoito meses de salários por pagar.

Para a reabilitação da empresa, foi criada, pelo ministro da Cons-trução, Waldemar Pires Alexan-dre, criou uma Comissão de Ges-

tão coordenada pelo gestor Samir Kitumba da Silva Gomes. A Pavi-terra é uma das mais antigas em-presas do ramo da Terraplanagens de Angola e foi formada por Decre-to n.º 181-A/8 do Conselho de Mi-nistros, há 33 anos atrás.

Salários serão pagos

Abordado pelo Semanário An-golense (SA) sobre a greve dos trabalhadores, Samir disse que a situação ultrapassa a Comissão de Gestão, porquanto esta já en-controu o problema, mas garan-tiu que tudo está a ser feito, junto com o Ministério de tutela, para que o problema seja ultrapassado sem prejuízo para ninguém. «É de facto uma situação constran-gedora, sobretudo para os chefes de família, ficar tanto tempo sem auferir salário. Mas tudo está a ser feito e, brevemente, a situação vai voltar ao normal. É preciso calma porque a empresa está a ser reabi-

litada como todos sabem e depois vamos ter de produzir para que si-tuações desta índole não voltem a acontecer», frisou.

De acordo com o gestor, a Co-missão de Gestão foi prorrogada para mais seis meses, até Setem-bro do corrente ano. «Depois va-mos aguardar que o Instituto do Sector Empresarial Público (ISEP) crie as condições para a transição de SA para EP. Quer dizer, a Pavi-terra ainda se rege pelos estatutos de uma sociedade anónima mas com capitais públicos e a inten-ção é passar para empresa pública. Como o accionista principal das empresas públicas em Angola é o ISEP, do Ministério da Economia, vamos passar para um modelo-ti-po de estatutos como da Sonangol, da Epal, entre outras empresas pú-blicas. Já fizeram visitas ás instala-ções da empresa e vamos aguardar para que os nossos ministros, o da Construção e o da Economia reú-nam para o remate final», revelou.

Enquanto isso, explicou, vai a Comissão de Gestão trabalhando para manter os trabalhadores, ar-ranjar obras e desenvolver a em-

presa para manutenção dos postos de trabalho. «Por enquanto esta-mos a revitalizar a empresa em todos os sentidos e temos segu-rança interna, um posto médico, refeitórios, um edifício no Prenda, temos a frente Uíge, a frente Bié e vamos reconquistar a manuten-ção do troço Andulo – Calussinga e Bailundo – Katchiungo. Vamos dar início aos trabalhos, vamos aguardar o aval do INEA que é o dono dessas manutenções e va-mos fazer um trabalho corrente para combate à fome e à pobreza. Temos também a empreitada de Kenguela Norte, na província de Luanda, com onze quilómetros de terraplanagem, mas tencionamos ficar com um troço de 40 quiló-metros até aos Ramiros».

Segundo Samir Gomes, num futuro breve será a Paviterra a fiscalizadora das empresas, na-cionais ou estrangeiras, que ob-tenham contratos para a reabili-tação ou construção de estradas. «A Paviterra é a única empresa do sector da construção que executa manutenção e terraplanagem e é objectivo do Ministério relançar a empresa em todos sectores, com programas específicos, vias espe-cíficas para fazer render a empre-sa, por isso é necessário reestrutu-rar devidamente a empresa para que tudo isso aconteça. Estamos a trabalhar e a caminhar para lá», afirmou o responsável, acrescen-tando que a manutenção das ruas de Luanda é um dos objectivos, mas também a obtenção do maior número de obras para que a em-presa tenha lucros e possa então caminhar por si. Até ao fecho da presente edição a situação nas ins-talações da empresa era calmo. ■

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Sociedade

Sábado, 05 de Julho de 2014. 31

Nelson Sul D’Angola (*)

Depois de quase dois me-ses de turbulência que opunha «Dufa» Rasga-do e Jorge Gabriel para

à liderança da associação da As-sociação Acácias Rubras, eis que os dois arqui-rivais chegaram a consenso, ainda que para alguns observadores, seja apenas para «inglês ver». Se Jorge Gabriel é o novo presidente de direcção da associação, Dufa Rasgado é dora-vante o presidente de mesa da sua assembleia-geral, substituindo o embaixador Hermínio Escórcio, que, entretanto, manifestara a sua indisponibilidade de continuar à frente do cargo.

Aparentemente, o «acordo de cavalheiros» entre as duas corren-tes, ou seja, «dufistas» e «gabrie-listas», celebrado um dia antes da votação em assembleia, parece ter posto duma vez por todas uma pedra nas «divergências inter-nas».

No entanto, um olhar profun-do na composição das figuras que integram a nova direcção reve-la um Jorge Gabriel, presidente com poderes esvaziados e que dificilmente poderá desempenhar as suas funções sem qualquer «obstáculo». Só para se ter uma ideia, na direcção ora eleita da Associação Acácias Rubras, o em-presário Jorge Gabriel tem como vice-presidentes três figuras de-claradamente pró-Dufas. Trata-se da deputada Teresa Cohen, o jor-nalista Francisco Rasgado e o im-previsível e controverso «político da Canata» Jorge Valentim.

Daí que qualquer passo que Jorge Gabriel pretenda dar só será possível com o beneplácito dos seus «vices» que, diga-se em abo-no da verdade, serão mais difíceis em relação aos propostos inicial-mente por si, agora colocados em cargos de menos visibilidade e poder.

Jorge Gabriel, que terá, pelos vistos uma coabitação difícil com os seus colaboradores directos, pode ter ganho uma batalha, já que a escolha para presidente da associação recaiu sobre um «ben-guelense da terra», em detrimento de um benguelense na diáspora», como é o caso de «Dufa» Rasgado.

Para além disso, há uma outra questão que não se pode ignorar e que será interessante observar nos próximos tempos, a convi-vência entre o secretário da ad-ministração e finanças, Adérito Areias -que entrou pela ala de Jorge Gabriel, e o responsável do conselho fiscal da associação, Du-milde das Chagas Rangel – entrou pela ala de Dufa-. Ambos, como é do conhecimento público, têm um pendente de longa data e pa-rece que as feridas ainda não fo-ram completamente cicatrizadas.

Reza a estória que, ao tempo em que Dumilde Rangel era o governador de Benguela, Adérito Areias e mais alguns «benguelen-ses» teriam boicotado uma acti-vidade governamental que visava influenciar o presidente da Repú-blica, José Eduardo dos Santos, a

demitir Dumilde Rangel da go-vernação da província. De lá para cá, Rangel nunca perdoou Areias.

Mas apesar das divergências no passado, os responsáveis da asso-ciação garantiram que tudo farão para levar a bom porto os desti-nos da instituição.

Por exemplo, Jorge Gabriel, apresentou o discurso optimista. Temos que esquecer, sem dúvida, o que de tudo de mal se fez, e ten-tar no futuro fazer o melhor. Farei de tudo para cumprir o que está o nosso programa».

Já Teresa Cohen garantiu que os associados saíram daquela reu-nião mais unidos, por entender que foi possível conciliar os inte-resses e as vontades que existiam da parte dos associados.

«Precisamos de olhar para os projectos mais importantes de desenvolvimento que confiram condições de vida da população da província e não para o passa-do», afirmou Cohen.

Dufa Rasgado alinhou no mes-mo diapasão. «Temos que procu-rar defender cada vez mais os su-periores interesses de Benguela e do seu povo» sublinhou. ■

(*) Em Benguela

Resta saber por quanto tempo

«Acordo de cavalheiros» mantém Jorge Gabriel à frente da Associação «Acácias Rubras»

As divergências no seio da Associação dos Naturais e Amigos da Província de Benguela, vulgo «Acácias Rubras», parecem já terem sido sanadas, depois da eleição da nova direcção, no passado dia 28 de Junho, que só foi possível graças a um «acordo de cavalheiros» entre «dufistas» e «gabrielistas». Apesar de os seus protagonistas terem garantido que tudo farão para levar a bom porto os destinos da

instituição, há quem olhe para o referido acordo como sendo «peças de um teatro», com capítulos bem mais interessantes a ser exibidos nos próximos tempos.

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Sociedade

Município do Cazenga

Mil e uma dificuldades para obter assistência médicaA população do Cazenga clama pela reconstrução urgente dos centros de Saúde do Asa Branca e Hoji-ya-Henda, devido as dificuldades de acesso aos serviços de saúde no município

Maria Kiluanji

Bairros do Hoji-ya-Henda e Asa Branca, bem como de moradores de alguns bairros que dependiam desses centros para assistência médica e, agora, são obrigados a dobrar esforços para beneficiarem dos serviços de saúde.

Alternativas difíceis

Uma das alternativas, segundo Madalena Mateus, munícipe do Cazenga, é o hospital

municipal, situado na zona do Kalawenda, bastante longe do lo-cal onde habita, cujas vias de aces-so são extremamente complicadas para lá chegar, principalmente em tempo chuvoso, em que fica tudo alagado.

Os moradores afirmam ser ur-gente a reconstrução desses cen-tros, uma vez que fazem falta a população local e dos arredores. Por isso os munícipes imploram ao governo que construa um hos-pital com maior capacidade de atendimento aos pacientes e que o processo decorra com a maior urgência.

De noite, quando surge algum problema de saúde com os fami-liares, os moradores afirmam ser difícil chegar às outras unidades sanitárias por falta de transporte e, também, por receio da delin-quência.

«Estamos mal e a morrer por falta dos primeiros socorros», di-zem os moradores acrescentando que «muitas parturientes acabam por dar à luz em casa e até mesmo perdem a vida por falta de assis-tência médica».

Dona Madalena Mateus conta que desde que fechou o centro do Asa Branca muitas mães e jovens acabam por fazer o parto sem chegar ao hospital, por causa das condicionantes descritas e outras fazem-no mesmo em casa, princi-palmente aquelas que apanham as dores de parto na calada da noite, por falta de um centro de saúde próximo.

Outra situação que preocupa os cidadãos do Cazenga, refere-se aos hospitais dos Cajueiros e o muni-cipal que estão sempre abarrota-dos de pacientes. Apesar de algum

aumento da oferta, a demanda continua a ser maior e o problema das enchentes continua, o que faz com que os munícipes recorram aos postos médicos dos bairros, às vezes com problemas graves.

Dona Madalena mencionou que com a existência do pavilhão a trabalhar, a população estava bem melhor. «Mesmo altas horas da noite, uma criança atacada por febres ou outra doença, recorria--se logo para o centro e tudo fica-va resolvido. Hoje a situação está muito mal, para ir a consulta com uma criança, tem que se levantar às cinco horas da madrugada para marcar o lugar, caso contrário ficam sem consultar a criança e isso faz com que algumas pessoas recorram a automedicação, tudo porque não querem ver o seu pa-rente sofrer», lamenta, reconhe-cendo ter dado medicamento ao seu filho sem alguma prescrição médica. Eu estava desesperada», confessou.

Muitas dificuldades

Passados quase dois anos, di-zem os moradores do Asa Bran-ca, ainda não se viu a presença de responsáveis do município ou do governo provincial para dar um pouco de esperança à população que já estava acostumada a buscar os serviços de saúde no hospital mais próximo. Por este motivo, a população do Cazenga pede às au-toridades que sejam mais breves no processo de construção dessas unidades sanitárias e que se criem as melhores condições de atendi-mento para o bem-estar da popu-lação e do próprio Executivo.

Dona Luísa, também morado-ra do Cazenga, disse que quando esteve grávida passou por muitas situações, desde as consultas pré--natal até ao nascimento do seu bebé que, por pouco, não vinha ao mundo por falta de transporte para a sua deslocação até ao hos-pital dos Cajueiros. Segundo a nossa interlocutora, o trajecto da zona em que vive até ao hospital dos Cajueiros encontra-se intran-sitável e não permite a circulação de viaturas, sendo também uma zona de alto risco, tendo em conta que os sinais de parto começaram

a meia-noite.Dona Luísa explica que duran-

te o percurso, de casa para o hos-pital, teve muitas dificuldades, a bolsa rebentou pelo caminho e quase perdeu o filho e a própria vida porque teve muita hemorra-gia até chegar para ser atendida de emergência.

Por este facto, o SA tentou con-tactar a repartição de Saúde do município do Cazenga para saber como anda o projecto de recons-trução desses centros que foram encerrados há mais de dois anos, mas sem sucesso.

Contactada a administração municipal do Cazenga, através do gabinete do assessor do admi-nistrador, aquele afirmou que as

obras dos dois centros são da res-ponsabilidade do governo provin-cial de Luanda e da direcção pro-vincial da Saúde. Enquanto isso, a população clama por mais centros de saúde para atender as necessi-dades do município.

Promessas demoradas

De recordar que, recentemente, a directora provincial da Saúde de Luanda, Rosa Bessa, prometeu aos munícipes do Cazenga, para ain-da este ano, a construção de mais um hospital municipal e um cen-tro de Saúde de referência, para

uma maior cobertura no âmbito da municipalização dos serviços de saúde, adiantando que as uni-dades serão erguidas nos locais onde foram desactivados os cen-tros de saúde do Hoji-ya-Henda e Asa Branca, em consequência das inundações na época chuvosa.

«No Hoji-ya-Henda, vai surgir um hospital municipal e no Asa Branca um centro de Saúde de re-ferência com todas as condições de atendimento ao público, para acudir as necessidades daque-la população que sofre por falta desses bens», disse Rosa Bessa na altura.

Mas o SA constatou que, pas-sado todo este tempo, ainda nem sequer se fez alguma coisa para a

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Sociedade

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construção do centro de referên-cia do Asa Branca, enquanto no antigo centro do Hoji-ya-Henda já é visível o arranque dos trabalhos de vedação e demolição da antiga estrutura.

Por outro lado, o director clí-nico do hospital municipal do Cazenga, Walter Santos, disse que o número de pacientes aumen-tou substancialmente desde que foram encerrados os centros do Hoji-ya-Henda e do Asa Branca, uma vez que o hospital atende pa-cientes vindos de quase todos os bairros do Cazenga e arredores.

O índice de atendimento nesta altura é muito elevado, principal-mente na pediatria, consulta ex-terna e na maternidade.

O número baixou um pouco na época chuvosa devido a interdição da via que dá acesso ao hospital. Naquela altura tudo fica inunda-do por ali em virtude do terreno argiloso que demora muito tem-po secar e a viatura que se atrever a passar fica logo enterrada. As pessoas que antigamente recor-riam aos dois centros encerrados, fazem-no agora naquele hospital, por ser relativamente próximo, embora a questão do acesso seja um verdadeiro drama.

O Cazenga é um dos sete mu-nicípios da província de Luanda, com uma população estimada em dois milhões de habitantes, dis-tribuídos pelas comunas do Tala--Hadi, Cazenga e Hoji-ya-Henda.

Município do Cazenga

Mil e uma dificuldades para obter assistência médicaA população do Cazenga clama pela reconstrução urgente dos centros de Saúde do Asa Branca e Hoji-ya-Henda, devido as dificuldades de acesso aos serviços de saúde no município

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Crónica

Você quer viajar pela TAAG. Liga para o «call center» a solicitar reserva. «Não há luga-

res», diz uma simpática voz. «Por-quê?», pergunta espantado. «Por-que temos três aviões avariados», lá vem a explicação.

Mas há sempre aquele amigo que conhece os truques da casa. Ele aconselha: «Vai ao aeroporto e fala com o fulano de tal. Paga a gasosa e põem-te no avião». E você, desesperado, com reuniões já marcadas e negócios inadiáveis, segue o conselho. Dito e feito: com a «gasosita» aos homens de terra da TAAG, sai o bilhete e o lugar. E não se espante, porque o melhor da festa nem é isso.

Você faz o check-in, espera pelo habitual atraso e finalmente entra para o autocarro. Pouquíssima gente. «Este deve ser o segundo autocarro», pensa lá com os seus botões. Desce junto do avião, identifica a bagagem, sobe as esca-das e entra. Espanto: o avião leva mais ou menos metade dos pas-sageiros. E vêm então à sua mente as dezenas de passageiros que fi-caram em terra, porque alegada-mente não havia lugar. Ou porque não tinham mais dez mil kwanzas para dar a gasosa aos muadiês da loja da TAAG. Ou porque recu-saram-se a entrar no esquema da

corrupção…Se a TAAG fosse uma empre-

sa privada, bem, isso era lá com eles. Entrassem em bancarrota e fechassem a dita cuja, o problema era dos patrões que tinham inves-tido na companhia e não sabiam torna-la eficiente para rentabilizar os seus kitádis. Mas não é esse o caso. A TAAG é uma empresa pú-blica, que trabalha com fundos do OGE. O que significa que trabalha com o dinheiro dos contribuintes. Com o nosso dinheiro. Logo, nós (os contribuintes) é que somos os patrões da TAAG. E nessa condi-ção, vem a pergunta que não pode calar: por que é que a TAAG deixa passageiros em terra e viaja com metade da lotação do avião?

E a resposta parece aterradora-mente simples: porque esta desor-ganização interessa a muito boa gente para se organizar. À custa do prejuízo da empresa.

É esta a mesma pergunta que fizemos aos tripulantes de cabina, do voo ido do Lubango no dia 30 de Julho, depois de termos pas-sado por todas as peripécias des-critas acima. «Isso é problema do pessoal das lojas», retrucou uma simpática hospedeira, com um «sorriso pepsodent», como dizí-amos nos bons e velhos tempos. «Fazer mais como então?», lamen-tei com os meus botões.

Só que a coisa é mais séria que isso, pelo que deve ser encarada à mesma medida. Curiosos e incon-formados, fomos atrás da notícia e falámos com fontes ligadas à TAAG. E o que apercebemos deu--nos o fôlego suficiente para escre-ver este artigo. Para que quem de direito – e no caso estamos a fa-lar do Ministro dos Transportes – não continue a assobiar para o lado, deitando pela sanita abai-xo o que as duas administrações anteriores da TAAG antes desta efectuaram. É que a nossa compa-nhia de bandeira, depois daquela interdição de um ano no espaço europeu, estava a dar mostras de querer definitivamente fugir dos tempos aziagos a que nos tinha habituado.

Já parecia lembrança do passa-do as quedas no aeroporto, mes-mo com OK, como acontecia a quem não tivesse cunha na dita cuja ou bué de kumbú para bancar nos mangas do check in. Tempos em que era preciso sair do auto-carro «nas corridas» sob o risco de «quedar» mesmo nas escadas do avião, porque alguém «dera» talões de embarque em número superior ao da lotação do avião. E em que todas estas tropelias da TAAG eram consideradas nor-mais. São esses os tempos que pa-recem estar de volta.

Lembranças mesmo parecem ser os tempos em que a adminis-tração de Pimentel Araújo retirou, ainda que parcialmente, a com-panhia da lista negra da União Europeia. Ou os tempos de Rui Carreira e Companhia, em que os voos eram pontuais, ao ponto de passageiros perdê-los, porque estavam a contar um atraso que acabava por não acontecer. Essas é que parecem ser agora mobília de um museu dos tempos que o tem-po levou.

Resumindo e concluindo: fon-tes bem colocadas na TAAG, in-conformadas com a situação, ju-ram a pés juntos que promoveram a queda da administração ante-rior, precisamente porque estava a impor ordem na casa, o que estava a tirar o pão da boca de muito boa gente. Que agora esfrega as mãos de contente. Mãos essas besun-tadas com o dinheiro que extor-quem aos pobres passageiros.

E o esquema acontece na maior das calmas, à luz dia. Ao ponto que é quase impossível acreditar que os responsáveis da companhia não tenham dele conhecimento. Ou não suspeitem. Porque, numa em-presa séria, se um Boeing 737 -300 fosse utilizado com uma taxa mé-dia de 50% - como nos pareceu ser – depois de cancelamentos conse-cutivos e diminuição das frequên-

cias, já despoletaria pelo menos um estudo das causas do «fenóme-no». Pelo menos, um gestor qual-quer quereria saber por que razão o sistema «diz» que os voos estão cheios mas os aviões voam vazios. Numa empresa séria, dizia. Não na TAAG, ao que parece…

Daí que as autoridades do Mi-nistério dos Transportes se devam mexer. Porque, de outra forma, tornam-se coniventes de uma si-tuação a todos os títulos prejudi-cial, não só para a companhia, mas também para os contribuintes que a sustentam. O Ministro Augus-to da Silva Tomás, que habituou a sociedade com uma postura de seriedade e de competência pouco comuns, tem agora uma oportu-nidade para mostrar que não está a perder o fôlego.

Os patamares que o país já al-cançou, principalmente depois do fim da guerra, já não se compade-cem com estas trambiquices. Prin-cipalmente agora que, por via de um desempenho diplomático a to-dos os títulos muito bem consegui-do, atrai os olhos de meio Mundo. E as invejas de outro meio Mundo.

Alguém ainda se lembra dos cri-mes de sabotagem económica? Pois é isso mesmo o que se verifica na TAAG nestes dias. Ah, se fosse nos tempos da outra senhora, era cadeia com esta gente. Na certa.

Será que o tempo dos esquemas e gasosas regressou à nossa TAAG?

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Crónica

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Um dos ditos mais popu-lares em Umbundu é «Ombalunduvutima», o que significa que ser

do Bailundo tem a ver com o co-ração e não com declarações. Para muitos de nos do Planalto Cen-tral que vivemos na Zâmbia, este princípio nos foi incutido com muito rigor. Os mais velhos di-ziam-nos que era mesmo necessá-rio saber várias línguas para pas-sar despercebido ou então poder fazer negócios ominlu com os ou-tros. Na Zâmbia, há as tais etnias pejorativamente descritas como basixkoloko ou a gente do oeste, onde o sol cai às seis da tarde. A maioria dos zambianos coloca os Ovimbundus, Luchasis, Lundas, Luvales, Mbundas e Tchokwe na mesma categoria. Isto está a mu-dar porque ultimamente muita gente da região Oeste da Zâmbia vem adquirindo poder político e económico. Há também casos de gente de origem Ovimbundu que se destacou no sistema go-vernamental zambiano. Estamos aqui a lidar com, talvez, a terceira geração de angolanos que se ins-talaram na Zâmbia. A primeira geração (estamos a falar de uma certa elite) vinha das minas da África do Sul, tendo-se instalado na província de Copperbelt, onde havia minas de cobre.

Havia também indivíduos do Planalto Central que iam traba-lhar nas minas sul-africanasl e, no final do contrato, descobriam que iriam voltar para a terra na-tal com as mãos a abanar – sem o jazzking, a bicicleta ou mesmo dinheiro para dar os parentes. Estes tentavam a sua sorte, mais uma vez, nas minas zambianas. Esta foi, por exemplo, a trajectó-ria do meu avô materno, Mateus Kanjila. Ele trabalhou nas minas de Joanesburgo (onde aprendeu a falar as línguas locais) e depois foi empregado de mesa num hotel da Cidade do Cabo, tendo também montado camelos na gincana de Windhoek. Depois de ter espa-lhado as asas pela África Austral, o meu avô regressou a Angola, para trabalhar nas missões do Dondi e Chissamba, no Bié. Há, porém, homens que, depois de terem buscado uma esposa da sua

aldeia natal, preferiram instalar--se ao longo do caminho-de-fer-ro: lembro-me de mais velhos que citavam os nomes das famílias a partir do Dilolo (na RDC) ou até mesmo de Joanesburgo – os Ca-lundungos do Ndola, Kusenyas do Kabwe, Katombela de Francis-town e Sukuakueche de Salisbury (antiga denominação de Harare). Todas estas famílias tinham um sonho: regressar para Angola, okutiukilakimbo.

Para muitos, o termo kimbo era mesmo sinónimo de Angola. Em 1974, depois do «25 de Abril», muita gente do Planalto Central que vivia na Zâmbia vendeu os seus bens e despediu-se dos vizi-nhos. Alguns meses depois, uns regressaram, então como refugia-dos, sem dinheiro – mas cheios de histórias. Fizemos parte deste grupo. Nem tudo o que dizia era negativo. Avoyokaputuwatun-guile (o português construiu mesmo), diziam alguns quando tentavam explicar as maravilhas arquitectónicas de Luanda, Hu-ambo, Kuito e Menongue. Muitos mantinham o sonho de regres-sar à terra (okutiukilakimbo), insistindo que os seus filhos fa-lassem um Umbundu perfeito. E

isto leva-me a um jovem nascido na Zâmbia numa dessas famílias oriundas do Planalto Central. O avô deste individuo era enfer-meiro numa das grandes minas zambianas, onde o seu pai e tios nasceram. O velho Graciano ad-mirava muito os missionários americanos e incutiu nos seus fi-lhos um amor intenso pelo saber. O Cheya, neto do velho Graciano, não só adquiriu do seu avô uma paixão pelo saber, como também um amor profundo por Angola. Ele fala perfeitamente várias lín-guas zambianas – mas, o dialecto que sempre o encheu de alegria é o Umbundu. Há cerca de dez anos atrás, aqui em Jacksonville, Esta-dos Unidos, alguém mo apresen-tou. Fiquei altamente impressio-nado com o domínio que o Cheya tinha da língua Umbundu.

Ele, como vários imigrantes africanos nos Estados Unidos, dedicou-se seriamente aos es-tudos e ao trabalho. A um cer-to momento, o Cheya casou-se com uma linda afro-americana, com quem fez bebes lindíssimos – todos com nomes do Planal-to Central de Angola. A esposa afro-americana ficava altamente impressionada quando nos ouvia

a falar em Umbundu, insistindo para que ele ensinasse a língua aos seus filhos. Depois houve uma fase em que a avó do Cheya veio viver com ele aqui nos Es-tados Unidos. Era tão bom ver a velha, com a sua Bíblia em Um-bundu, a contar-nos histórias do Bié e da Zâmbia do passado. A avó do Cheya até conhecia a Sim-bovala – a amiga da minha avó, de quem a minha mãe passou a ser xará. A minha filha chama-se Simbovala. Foi muito bom ter a makulu connosco; ela foi falando aos seus bisnetos sobre kimbo Kongola.

O Cheya passara a trabalhar para um empresa americana e a viajar por várias partes do conti-nente africano. Ele é um produto típico da globalização. Formado numa das melhores universidades dos Estados Unidos, o Cheya é al-tamente sofisticado. Com o andar do tempo, ele ganhou, cada vez mais, um ar de afro-americano da classe média. Há um mês, recebi uma mensagem do Cheya no meu «whatsapp», a dizer que estava em Luanda. Eu disse-lhe que era im-portante que não se preocupasse só com negócios; ele tinha que tentar conhecer bem Angola. Só

que o Cheya, como vários jovens de famílias com longas raízes na Zâmbia, não fala Português – só fala Umbundu e Inglês.

Na segunda-feira, encontrei--me com o Cheya, que estava al-tamente animado depois da sua ida a Angola. Ele disse que muita gente achava estranho que ele não falasse Português, mas apenas Umbundu e Inglês, com sotaque americano. O Cheya disse-me que quis ir ao Kuito, kimbo, num fim de semana, mas não havia voo. Ele dormiu num pequeno hotel perto da estação, onde, à madru-gada, apanhou um autocarro da Macon. Disse que a qualidade do autocarro era impressionante. As-sim que foi amanhecendo, ele foi vendo resto de Angola. Quase fe-chando os seus olhos de emoção, o Cheya fala das montanhas, rios, vales e outras maravilhas que viu de Angola. Num controlo, o polí-cia pegou no seu passaporte ame-ricano e foi lhe fazendo perguntas – que ele respondia em Umbun-du. O polícia chamou os seus co-legas para verem este negro ame-ricano a falar Umbundu. O Cheya disse aos polícias que estava a caminho do Kuito para conhecer a terra dos seus avós. Os polícias louvaram a família que fez com que ele tivesse ainda a língua. O Cheya disse que aquele foi um dos momentos mais emocionantes da sua estadia em Angola. Os que estavam no autocarro pensaram que a polícia estava a complicar a sua vida para ter uma gasosa ou qualquer coisa assim. Não. A po-lícia estava a dar boas vindas a um neto da terra. No Kuito, o Cheya ficou muito comovido pela sim-plicidade e benevolência das pes-soas. Ele tinha uma lista de paren-tes que queria conhecer. Muitos, infelizmente, já haviam falecido. Contudo, no Kuito, ele fez muitas amizades com gente que lhe deu uma espécie de excursão acompa-nhada à volta da cidade. O Cheya fecha os olhos com horror quan-do pensa na tragédia que o Kuito conheceu. Mas, este sentimento triste é subitamente substituído por um entusiasmo animado pe-las potencialidades de Angola. O Cheya agora só fala do kimbolietu – que muito adorou!

Um Umbundu americano no Bié

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Cultura

Encerrada «semana da moda» em Angola

As tendências de moda para o ano que vem foram já apresentadas ao público angolano no maior even-to afim do país, o «Angola Fashon Week». Abri-lhantado por estrelas internacionais, o evento de-

correu no centro cultural Paz-Flor, em Luanda.Durante três dias, cerca de 15 estilistas nacionais mos-

tram o que de melhor se faz em terras angolanas em termos de moda, além de participantes de peso vindos do estrangei-ro, como é o caso das marcas Neon (Brasil) e Meche Correa (Peru). Aliás, o Brasil também esteve em evidência fora das passarelas, assumindo boa parte da produção por meio da empresa «Cia. Paulista de Moda». Por conta dessa empresa ficou, por exemplo, a direcção criativa, o styling e o fashon vídeos. Ela dividiu responsabilidades de produção com a Haldja Model.

Falando do desfile propriamente dito, pode ser rotulado de deslumbrante. Os estilistas apresentaram criações belas, inéditas e bastante desejáveis. Alguns, como Alex Kangala, apresentaram igualmente peças de elevado valor artístico mas que já mereceram aplausos em outras paragens do mun-do como Nova York e Hong Kong, onde esteve recentemente. Antonieta Almeida, vinda de São Tome, foi uma das estilis-tas que se notabilizou trazendo trajes femininos modernos em tecidos africanos. De resto, as marcas do continente es-tiveram bem patentes além dos tecidos. Antonieta também foi ousada ao trazer peças feitas com material reaproveitado (casca e fibra de coco). Por outro lado, Analoyd apostou nos vestidos coloridos e bem sensuais. O verde, o roxo e o azul tiveram muita expressão.

Quanto ao quesito modelos, a organização do «Angola Fashon Week» esmerou-se. A modelo, actriz e apresentado-ra da televisão brasileira Adriane Galisteu, 41 anos, foi uma das estrelas internacionais que prestigiou a edição deste ano do «Angola Fashon Week». Ela, que saltou para as luzes da ribalta quando namorou com o falecido piloto Ayrton Sen-na, emprestou a sua beleza e elegância a varias grifes nas passarelas de Luanda, exibindo-se inclusivamente em trajes tipicamente africanos, um deles feito por Antonieta Almei-da. Além de Galisteu, esteve Patrícia de Jesus, a modelo que se tornou numa das primeiras negras brasileiras de grande sucesso na área da moda. De Angola, as internacionalissimas Sharam Diniz e Maria Borges também se fizeram notar. ■

Adriano de Sousa

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Cultura

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É «a vez do homem do ponta pé»Muzongué (nosso) da Tradição homenageia António Paulino

O malanjino António Pauli-no sobe este domingo (6) ao palco do Centro Cultu-ral e Recreativo Kilamba,

em Luanda, como o homenageado do mês de Julho do programa Muzongué da Tradição.

A ida do artista ao espaço é, segundo o seu gestor, Estevão Costa, uma for-ma de se promover o reconhecimento pelo seu contributo em prol da afirma-ção, divulgação e valorização do estilo semba dentro e fora de portas.

Segundo a fonte, na senda da sua agenda de promoção do nacional, a casa procura desta vez trazer a público um artista cuja carreira tem um regis-to marcado de sucessos.

«A cada edição o Kilamba procu-ra homenagear um artista e desta vez recai para o António Paulino, cujas músicas fizeram e continuam a fazer dançar muitos angolanos”, realçou.

Para além da homenagem, a jorna-da vai também contar com os présti-mos de Augusto Chacaia, bem como promover recordações a Artur Nunes, David Zé, Urbano de Castro e Teta Lando, que serão «imitados» por Su-zanito, Gaby Moi, Legalize e

Kiaku Kaidaf, respectivamente.Paulino António Domingos, autor

dos sucessos «Ponta pé» e «Joana», en-tre muitos outros, nasceu em Malan-ge, comuna do Quela, a 7 de Abril de

1954. Iniciou a sua carreira em 1971, quando foi convidado a participar numa das edições dos «Kutonocas», onde gravou também o seu primeiro single, que incluía os temas «Joana» e «Balabina».

O seu grande sucesso, «Ji Henda iá Mamã» (saudades da mamã), um tema em que o compositor lamenta, de for-ma melancólica, a morte inesperada da sua mãe, surge em 1973, com o con-junto Jovens do Prenda.

O músico também passou, na déca-da de 70, pelos Kiezos, com os quais actuou durante mais de 10 anos.

António Paulino tem no mercado os discos «Hima», «Balabina», «Kanjila» e «Mana Colela».

O Musongué da Tradição é um pro-grama criado pelo «Kilamba» em Fe-vereiro de 2007, que visa a promoção, divulgação e valorização da música popular urbana, com destaque para o semba, produzida no «antigamente». O evento acontece em regra no primei-ro domingo de cada mês, com duração de umas seis horas, com música ao vivo e os competentes comes e bebes, tudo isso por cerca de 100 dólares.

Como já é habitual, o Semanário Angolense vai lá estar para a devi-da cobertura, num esforço que tem a mesma «idade» do evento. ■

In Angop

Ministra em Mbanza CongoA

ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, foi à cidade de Mbanza Congo, província do Zaire, para avaliar a terceira fase das escavações arqueológicas destinadas a inscrição da cidade de Mbanza Congo na lista do património mundial da Unesco.

À sua chegada, Rosa Cruz e Silva foi recebida pelo governador do Zaire, Joanes André, com quem trocou algumas informações a respeito dos trabalhos desenvolvidos por es-pecialistas angolanos e estrangeiros no tocante ao projecto de inscrição da cidade de Mbanza Congo, a património mundial.

O projecto «Mbanza Congo, Cidade a Desenterrar para Preservar» foi lançado em 2007, na sede provincial do Zaire, pelo Ministério da Cultura, com a realização de uma mesa redonda internacional que abordou a mesma temática. ■

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Desporto

As Palancas Negras e os compromissos internacionais

Filemon procura os melhorespara formar uma selecção forte

Paulo Possas

O seleccionador nacio-nal de futebol, Romeu Filemon, continua a trabalhar arduamente,

no sentido de encontrar jogadores com os quais pensa formar uma equipa capaz de «atacar» a conten-to a fase de grupos do Campeona-to Africano das Nações, marcado para Janeiro de 2015, no Reino do Marrocos.A selecção nacional inicia a sua campanha já em Setembro, com uma deslocação ao Gabão, na pri-meira jornada do seu grupo.O trabalho no país está a ser feito através da observação directa de jogadores, nos treinos e nos jogos oficiais, tanto em Luanda, como no resto do país. No último fim-

-de-semana, Romeu Fiçemon des-locou-se ao Lubango, onde assistiu ao jogo entre o Desportivo da Huíla e o FC Bravos do Maqui.«Estamos aqui para observar novos jogadores para a selecção nacional. Vamos analisar todos aqueles que demonstrem qualidade para mere-cer a convocação. É óbvio que não vamos pegar em todos, mas sim naqueles que possuem característi-cas próprias para o efeito», disse o seleccionador nacional.Antes da sua ida ao Lubango, o téc-nico nacional, em companhia dos seus adjuntos,José Kilamba e André Makanga, fo-ram vistos a acompanhar os treinos do campeão nacional, Kabuscorp do Palanca, que na última convoca-tória para a digressão à Europa con-tribuiu apenas com dois jogadores.

Romeu Filemon esclareceu que a visita aos domínios do Kabuscorp do Palanca enquadra-se no progra-ma de trabalho que elaborou, que visa o acompanhamento aos clubes que participam do Girabola. «Pre-tendemos fazer uma aproximação aos níveis do trabalho que os clubes têm feito e queremos estar atentos para perceber como os treinadores têm trabalhado», sublinhou.«A impressão é das melhores e a ideia com que ficamos é a das mais positivas. O Kabuscorp é uma equi-pa que tem um plantel que muito pode oferecer à selecção nacional. Esperemos que, nas próximas con-vocatórias, possamos contar com mais jogadores do Kabuscorp na selecção», disse ainda o técnico na-cional.Romeu Filemon, ao lado director

técnico das Palancas Negras, Raúl Chipenda, e do vogal de direcção, João Lusivikueno, esteve já na Eu-ropa a sondar jogadores nascidos em Angola, assim como filhos de emigrantes angolanos no estrangei-ro que possam reforçar as Palancas Negras.Em Maio passado, do estrangei-ro, o treinador convocou Vetokele (FC Copenhaga da Dinamarca), Alexandre (Ohlden Athletic, se-gunda divisão inglesa), Domini-que do Lausana, da Suíça) e Kun-sunga (joga na Holanda), Freedy (Belenenses de Portugal) e Djalma Campos, que foram utilizados nos

recentes amistosos com o Marrocos e Irão.Ao que soube o Semanário Ango-lense, as Palancas Negras poderão enfrentar os Simbas da RDC an-tes da ida a Libreville, no quadro de mais dois jogos amistosos de preparação que a federação prevê proporcionar à selecção nacional.«Estamos a lançar as bases de uma equipa forte. Espero que possa-mos ter tempo para trabalhar em conjunto. Gostava que antes do próximo amigável que tivéssemos oportunidade de voltar a juntar o grupo por alguns dias», manifes-tou Romeu Filemon. ■

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Desporto

Sábado, 05 de julho de 2014. 39

Preparação parao CAN de Sub-17 no Níger

Palanquinhas em dificuldades

O seu adversário para nas eliminatórias do campeonato africano que acontece no Níger

em 2015. O desfecho do jogo entre as selecções de Moçambique e da Namibia é que dita o adversário.

A equipa nacional angolana vem trabalhando com algumas dificuldades, como a falta de um campo regular para se treinar, tal como voltou a acontecer ao longo desta semana. Essa carência obri-gou já o grupo de trabalho a ficar de braços cruzados, como ocorreu na última segunda-feira, quando, posto no Estádio da Cidadela, nin-guém lhe abriu as portas, porque estaria a ser alvo de manutenção.

Tratando-se de jogares jovens, quase todos em época escolar, a federação também mostra falhas,

ao não ter arranjado um calendá-rio em que se compatibilize o tem-po de treinos aos estudos, o que atrapalha os planos do treinador Nzuzi André.

Situações como estas estiveram já na base, em Maio deste ano, do fracasso de uma outra selecção jo-vem, a de Sub-20, que, por falta de campos regulares, e de um trei-nador especifico para os guarda--redes, não conseguiu eliminar a sua congénere do Lesotho, dei-tando assim por terra o sonho de vir estar presente na fase final do «africano» da categoria, que se disputará no Senegal, também em 2015.

A falta de um treinador especí-fico para guarda-redes é uma fa-lha que já atingiu a própria selec-ção de honras na sua preparação

para o último CAN, que decorreu na África do Sul. Na altura, foi José Kilamba quem fez o que pode com Lamá, Landu e Neblu, numa competição em que as Palancas Negras tiveram um desempenho para esquecer.

O vice-presidente Raul Chi-penda, em defesa da sua dama, diz que a selecção de Sub-17 está a ser tratada o melhor possível, por forma a que inicie a campanha de qualificação sem sobressaltos, mas, na prática, não é o que se vê.

De resto, um outro facto que pode espelhar algum «descuido» da federação é facto da insti-tuição não ter enviado qualquer emissário ao jogo entre moçam-bicanos e namibianos, como se disse já, entre os quais sairão os adversários das Palanquinhas.

Homem que «deu» o título

Kabuscorp «enxota» Edouard Antranik

O terceiro lugar com que o Kabuscorp do Palanca fechou a primeira volta do Girabola não agradou à direcção do clube, que atribuiu a responsabilidade por esta «derra-pagem» ao búlgaro Edouard Antranik, técnico que deu

o título de campeão à turma de Bento Kangamba.Sabendo que seria despedido, o técnico sérvio jogou na antecipa-

ção, pedindo a sua demissão antes de ser enxotado, o que acabaria por surpreender o «empresário da juventude» e seus pares. Con-versando sobre o caso, as partes acabariam por anunciar o divórcio por «acordo mútuo», o que representaria a sexta «chicotada psico-lógica» deste ano no Girabola.

O comando técnico está agora entregue a um dos então adjuntos de Edouar Antranik, o também búlgaro Zoran Maki.

«Não havia mais clima no plantel e condições anímicas para o treinador continuar o seu trabalho, facto que obrigou as duas par-tes a optarem pela rescisão amigável», anunciou o clube do Palanca em comunicado de imprensa.

«Depois de uma conversa, as duas partes chegaram a acordo com total compreensão, de que a melhor solução seria anular o contrato de forma amigável. Queremos agradecer o trabalho realizado pelo técnico Edouard Antranik e desejar-lhe a melhor das sortes para o futuro», lê-se ainda no documento.

Zoran Maki assumiu o comando do Kabuscorp do Palanca com uma «base» de 30 pontos, frutos de nove vitórias, três empates e igual número de derrotas. O novo técnico começou bem a sua em-preitada, ao bater o Recreativo da Caála, na abertura da segunda volta, por 3-1. ■

Benfica nao se justifica

A direcção do Benfica do Lubango, numa clara atitude de incumprimento, avisou à direcção da Federação Angolana de Fu-tebol (FAF) que não tem como justificar,

por escrito, a sua falta de comparência em Cabinda, onde deveria defrontar o Sporting local, no último final de semana, para o jogo da primeira jornada da segunda volta do Girabola.

Em casos de falta de comparência de uma equipa, os regulamentos da federação dão 72 horas para que ela se justifique, mas a direcção do clube do Luban-go apenas revelou à imprensa local que dificuldades financeiras estiveram na base na sua ausência em Cabinda, recusando-se a entrar em pormenores so-

bre o caso e remetendo assim a «bola» para o campo da FAF, que mais não terá do que averbar a compe-tente derrota por 3-0.

«Não temos argumentos nenhuns para justificar a não ida da equipa à Cabinda. É do conhecimen-to público que o Benfica vive graves problemas fi-nanceiros. Foi por falta de verbas para suportar a viagem. Até onde sabemos, nesses casos, nada há por se justificar», disse fonte do clube encarnado da Huíla, que, no entanto, garantiu que a equipa está a trabalhar para neste sábado receber o Recre-ativo do Libolo, no Estádio 11 de Novembro, no Lubango, a contar para a 17.ª jornada, segunda da etapa final da competição. ■

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Desporto

Teste para o «Mundial» de basquetebol

Macedo satisfeito com desempenhoda selecção nacional no Egipto

O selecionador sénior masculino de basque-tebol, Paulo Macedo, manifestou-se satisfei-

to com o desempenho da selecção nacional no torneio internacional que disputou no Egipto, entre 22 e 26 de Junho último, em saudação aos 100 anos do Ettehad, um clube local, no quadro da sua prepara-ção para o «Mundial» de Espanha, que se inicia a 30 de Agosto e vai até 14 de Setembro.

No torneio, realizado em Ale-xandria, a selecção nacional efectuou cinco jogos, nos quais começou por perder (72-75) com a equipa aniversariante, para de-pois encetar uma série de vitórias, diante das selecções da Tunísia (62-56), Jordânia (75-67) e Ko-weit (95-67), antes de voltar a ser derrotada (72-73) com o Ettehad, classificando-se no segundo lugar da competição.

«A nossa participação no Tor-neio Internacional de Alexandria é de todo positivo, pese embora não termos conseguido vencer a prova. Foi um torneio que se en-quadra no âmbito da nossa pre-

paração para o Campeonato do Mundo de Espanha, apesar de não termos levado a nossa principal equipa. Estamos a trabalhar no processo de renovação, pelo que

aproveitamos para experimentar novos jogadores que futuramen-te podem integrar a selecção A», avaliou o treinador, à chegada ao país.

Além das prestações individu-ais de Bruno Fernandes, Sílvio Sousa e Alexandre Jungo, jovens campeões africanos de sub-16, o seleccionador evitou fazer uma

avaliação da produção dos jogado-res seniores que levou que, como se sabe, são maioritariamente do seu clube, o 1.º de Agosto.

«Apesar do pouco tempo de preparação, o grupo teve um com-portamento fantástico e fiquei surpreendido com a entrega dos jogadores durante o torneio. No futuro, estes rapazes podem as-sumir a selecção A sem qualquer problema”» resumiu o selecciona-dor.

No «Mundial», Angola figu-ra no Grupo D, com sede em Las Palmas, ao lado da Austrália, Li-tuânia, Coreia do Sul, México e Eslovénia.

Os Estados Unidos da América, campeões em título, figuram no Grupo C, juntamente com Fin-lândia, Nova Zelândia, Ucrânia, República Dominicana e Turquia. Espanha, Egipto, Irão, França, Sérvia e Brasil fazem parte do Grupo A, ao passo que no Grupo B estão a Argentina, Senegal, Fili-pinas, Croácia, Porto Rico e Gré-cia. ■

Paulo Possas

Aníbal sofre pressãoe convoca Nacissela

Como já era de esperar, depois da polémica convocatória em que excluiu jogadoras como Catarina Camufal, Ngiendula Fili-pe e Ngiendula Filipe para o Campeonato

do Mundo, a decorrer na Turquia em Agosto, o se-leccionador nacional Aníbal Moreira viu-se obri-gado agora a convocar as referidas atletas por terem recebido, segundo fontes seguras, pressões dos mi-nistério da Juventude e Desportos e da Família, da Promoção da Mulher e da Organização da Mulher Angolana (OMA).

Aníbal Moreira tinha alegado que a selecção pre-cisa de ser renovada e, por esta razão, não contaria mais com as referidas jogadoras, que ainda o ano passado ajudaram a selecção a ser campeã africana.

O treinador convocou as jogadoras, mas não procedeu a nenhuma «emenda», ou seja, manterá as 15 atletas que convocou antes. Só a base Astride Vicente é que ficou mesmo de fora, apesar de ter

participado nos dois títulos africanos, no Mali em 2011 e Moçambique em 2013.

A concentração de todas a s jogadoras acontece no dia 1 de Agosto na sede da federação, na Cidade-la Desportiva, mas, antes, o técnico Aníbal Moreira e o presidente de direcção da Federação Angolana de Basquetebol, Paulo Madeira, irão conceder uma conferência de imprensa.

O grupo de jogadoras, agora completo é formado por Fineza Eusébio, Ana Gonçalves, Helena Zumo, Sónia Guadalupe, Letícia André, Rosa Gala, Luísa Tomás e Nacissela Maurício (1º de Agosto), Rose-mira Daniel, Clarisse Mpaka, Mereciana Fernan-des, Catarina Camufal, Ngiendula Filipe e Nadir Manuel (Grupo Desportivo Interclube), Helena Viegas (Universidade Lusíada), Artemis Afonso e Mafalda Barcelos, ambas a militarem no basque-tebol português, Whitney Miguel, atleta que actua em França. ■

40 Sábado, 05 de julho de 2014.

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Desporto

Sábado, 05 de julho de 2014. 41

Cartaz do Mundial para hoje, sábado para completar quadro dos semi-finalistas

Fecho dos quartos de final em grande

Depois do grande cartaz de ontem, sexta-feira, em que estiveram em

campo os velhos rivais e vi-zinhos Brasil-Colômbia, e, também, o França Alema-nha, os quartos-de-final do Campeonato do campeona-to do Mundo oferece hoje, sábado, mais dois aliciantes jogos, entre a Holanda-Costa Rica, marcado para as 21 ho-ras de Angola e o Argentina--Bélgica, para, antes, às 17 horas.

Quer as equipas de on-tem em confronto, quer as de hoje fizeram por merecer, como se diz, para estarem nos quartos-de-final, uma fase onde apenas consegui-ram chegar os representan-tes da América do Sul e da Europa, com realce para este último continente que recu-perou no Brasil a liderança de selecções presentes neta fase, ao colocar quatro re-presentantes, contra três da América do Sul.

Esta prestação das selec-ções europeias inverte o que aconteceu em 2010 e, desta vez, apesar de actuarem na América, onde nunca ven-ceram a prova, as selecções do «velho continente» têm 50 por cento de chegarem às meias-finais, sobretudo a Holanda e a Bélgica.

Retirando as edições de 1930, 1950 e 1982, que não ti-veram «quartos», ou fases se-melhantes, apenas, por uma vez, registou-se a presença de mais de um representante fora da Europa e da América do Sul: aconteceu em 2002, com o apuramento dos Es-tados Unidos, Senegal e da anfitriã Coreia do Sul.

A Europa, apesar de ter colocado metade das equi-pas nesta fase, está longe dos seus melhores registos. Em 2006, a edição realizada na Alemanha, a Europa teve seis selecções. Em 1994, os «quartos» jogaram-se com sete europeus e o Brasil que acabou tetra-campeão. No que toca aos sul-america-nos, contam com a segunda maior representação de sem-

pre como em 1970 e 1978, edições que se realizaram no México e na Argentina.

Pela primeira vez na his-tória dos Mundiais todos os líderes da fase de grupos que se tinham apurado para os oitavos-de-final do Campe-onato do Mundo consegui-ram também a qualificação para os quartos-de-final.

Ou seja, todos os primei-ros classificados da fase de grupos deste Mundial elimi-naram os seus adversários e conquistaram o passe para os quartos-de-final, confir-mando o favoritismo diante dos segundos apurados na ronda inaugural da compe-tição.

Contudo, isso não signi-fica que a confirmação do favoritismo do Brasil, Holan-da, Colômbia, França, Costa Rica, Alemanha, Argentina e Bélgica foi fácil de ser al-cançada, pois nada menos do que cinco dos oito jogos dos oitavos-de-final exigiram um prolongamento.

Os nervos dos adeptos foram colocados à prova em duas disputas de penaltes du-rante essa fase do Mundial, onde brasileiros e costa rique-nhos puderam dormir alivia-dos, após superar os chilenos e gregos, respectivamente, na grande lotaria dos 11 metros.

Além disso, excepto a par-tida entre a Colômbia e o Uruguai, os outros dois jogos que não precisaram do pro-longamento, Holanda-Méxi-co e França-Nigéria, foram decididos nos 15 minutos fi-nais da partida.

O saldo dos oitavos-de--final foi de 18 golos em oito partidas, uma média de 2,25 por jogo, abaixo do saldo de golos total do torneio de 2,7. Nenhum jogo desta fase teve mais de três golos.

A Holanda até antes des-tes quartos-de-final tinha o maior número de finaliza-ções, 12 em quatro partidas, e a Colômbia, que ontem defrontou o Brasil, vinha em segundo, com 11 golos. James Rodríguez, da Colôm-bia, era o artilheiro do tor-neio com cinco golos. ■

«Depois do Colômbia-Brasil e do França/Alemanha de ontem, o cartaz oferece outros dois jogos duros: Costa Rica/Holanda e Bélgica/Argentina». É melhor copiar directamente daqui.

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Desporto

Na maior cimeira da bola

Equipas africanas não resistiramA África, representada desta vez pela Argélia, Ghana, Nigéria, Argélia e Costa do Marfim não passou para os quartos-de-final do

Campeonato do Mundo. que desta vez decorre no Brasil, significando assim um retrocesso, porque em 2010, na África do Sul, pelo menos os Black Stars do Ghana conseguiram brilhar até à referida fase.

A derradeira esperança estava depositada sobre a Argélia, mas, depois do afastamento ante-

rior das restantes embaixadoras do continente ainda na fase de grupos – nomeadamente o Ghana e a Cos-ta do Marfim, também ficou arre-dada dos quartos-de-final.

Na história dos mundiais em que participou, a Argélia já ti-nha registado três afastamentos, duas na fase de grupos e uma nos quartos-de-final, enquanto os ni-gerianos chegaram uma vez aos «oitavos», em quatro participações: em 1990, perderam por 2-1 com a Itália, após prolongamento.

Ao caírem nos «quartos» deste mundial fica o registo de a Argélia e Nigéria falharem a aproximação aos Camarões, Senegal e Ghana, as únicas selecções africanas que já chegaram – todas uma vez - aos quartos de final do Mundial.

Os Camarões foram os primei-ros a conseguir em 1990, na Itália, onde afastaram a Colômbia (2-1,

após prolongamento), nos «oita-vos», com um «bis» de Roger Milla, para depois caírem perante a Ingla-terra (2-3, após prolongamento).

Em 2002, foi a vez do Senegal que superou a Suécia por 2-1, com um «golo de ouro» de Henri Cama-ra (104 minutos), no primeiro jogo a eliminar e nos «quartos» caiu da mesma forma por 1-0, diante da Turquia – golo de Ilhan Mansiz, aos 94.

Na última edição, em 2010, o Ghana fez cair os Estados Unidos nos «oitavos» (2-1, após prolonga-mento) e esteve quase nas «meias--finais», no jogo com o Uruguai, salvo com o tempo extra a acabar por uma grande defesa... de Luis Suarez.

Com 1-1 e o tempo a acabar, Asamoah Gyan teve um penalty para fazer história, mas falhou e no desempate por grandes penalida-

des, os sul-americanos venceram por 4-2.

Mas seja como for das equipas africanas, tanto argelinos como nigerianos deram verdadeiras provas de resistência, porque os magrebinos «tombaram» apenas no prolongamento em que os ale-mães, favoritos ao título, se viram obrigados a jogar a todo o vapor, só ganhando graças aos golos de Schurrle (92) e Ozil (120), contra o

de Djabou, já nos descontos do pe-ríodo extra.

A França bateu a Nigéria no Estádio Mané Garrincha, em Bra-sília, e «inscreveu» no historial a sua oitava presença entre os oito melhores do Mundial, enquanto os africanos regressam a casa após subirem um «degrau» nos seus ar-quivos, pois foi a primeira vez que disputaram os oitavos de final de uma fase final de campeonato do Mundo.

A resistência africana durou até aos 79 minutos, quando o guarda--redes Enyeama, na única falha durante uma grande exibição, não conseguiu afastar conveniente-mente a bola, após a marcação de um canto, o que Paul Pogba apro-veitou com sucesso.

O segundo golo francês foi marcado na própria baliza pelo nigeriano Joseph Yobo, numa al-tura em que os africanos já joga-vam desesperados, quando decor-ria o segundo minuto do período de descontos. ■

Desde 1986

O «Mundial» com mais decisões no tempo extra

Os oitavos de final do Mundial de 2014 de futebol foram os mais equilibrados desde que

esta fase foi introduzida em defi-nitivo, em 1986, com apenas três jogos decididos nos 90 minutos e dois, um máximo, nas grandes pe-nalidades.

Exceptuando 1934 e 1938, quando a prova começava logo com «oitavos», a edição de 1990 era a que contabilizava menos jo-gos decididos em 90 minutos, qua-tro, mais três em prolongamento e um em penaltes.

No que respeita a grandes pe-nalidades, nunca dois «oitavos» tinham sido decididos na «lota-ria», como aconteceu agora, sendo

dessa forma que o Brasil afastou o Chile e que a Costa Rica fez his-tória face à Grécia, de Fernando Santos.

Dos oito encontros disputados, só um ficou, aliás, decidido com antecedência, o que colocou frente a frente a Colômbia e o Uruguai, devido a dois golos de James Ro-driguez, aos 28 e 50 minutos.

Nos outros desafios decididos no tempo regulamentar, a França só se desembaraçou da Nigéria com tentos aos 79 minutos (Paul Pogba) e 90+2 minutos (Joseph Yobo, na própria baliza).

A Holanda esteve a perder com o México desde os 48 minutos (golo de Giovani Dos Santos) e vi-rou mesmo a acabar, com tento de

Wesley Sneijder, aos 88 minutos, e um penálti convertido por Klaas--Jan Huntelaar, aos 90+4 minutos.

O prolongamento decidiu os últimos três jogos, sempre com vi-tórias pela margem mínima, duas por 2-1 e uma por 1-0, resultado com que a Argentina bateu a Su-íça, graças a um golo de Angel Di Maria, aos 118 minutos.

A Alemanha e a Bélgica esti-veram a vencer Argélia e Estados Unidos por 2-0, respectivamente, mas também venceram pela mar-gem mínima.

André Schürrle, aos 92 minu-tos, e Mesut Özil, aos 120 minutos, marcaram os tentos germânicos, e Kevin De Bruyne, aos 93 minutos, e Romelu Lukaku, aos 105 minu-

tos, os belgas. Os do argelino Ab-delmoumene Djabou, aos 120+1 minutos, e do norte-americano Julian Green, aos 107 minutos, de nada valeram.

Se alemães, argentinos e belgas precisaram de prolongamento, o

Brasil e a Costa Rica necessitaram do desempate por grandes penali-dades para afastar o Chile e a Gré-cia, de Fernando Santos, respecti-vamente.

Depois de 1-1 nos 120 minutos, os «canarinhos» venceram por 3-2 na «lotaria», enquanto os costa-ri-quenhos qualificaram-se pela pri-meira vez para os «quartos», como os colombianos, com um triunfo por 5-3. Não falharam nenhum pontapé.

Em matéria de golos, os 18 apontados são o terceiro registo mais baixo, com a curiosidade de sete terem acontecido em prolon-gamento, algo que se explica pelo equilíbrio e as «enormes» exibi-ções de vários guarda-redes. ■

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Desporto

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Baleado após o Mundial de 1994

Colômbia recorda a morte de EscobarA

Colômbia, que ontem defrontou o Brasil, está mergulhada na nostal-gia de exactos 20 anos,

contados a partir da madrugada de um sábado de 1994, na cidade de Medellín, onde a defesa Andrés Escobar foi morto a tiro depois de discutir com pessoas que o insul-tavam e o provocavam por causa do autogolo que havia marcado na derrota por 2-1 com os Estados Unidos que determinou a elimi-nação da selecção no Mundial da-quele ano.

A selecção havia perdido para a Roménia na estreia por 3-1, e en-trou em campo no dia 22 de Junho, para a segunda ronda, precisando ganhar aos donos da casa. Aos 33 minutos, com o placar em zero a zero, Escobar entrou de carrinho para cortar um cruzamento e co-locou a bola na sua própria baliza. E a equipa não conseguiu reagir.

O crime teve lugar num par-que de estacionamento. Durante a noite, numa discoteca, os irmãos Pedro e Santiago Gallón passaram quase o tempo todo a provocar Es-cobar. Olhavam para ele, gritavam «golo contra» e riam. Apelidado de «Cavalheiro», pela sua elegân-cia e lealdade em campo, o defesa suportou o quanto pôde antes de ir conversar com os dois e pedir respeito. Mas não adiantou e, para evitar confusão, ele afastou-se.

Quando entrou no carro para ir embora, viu os irmãos em con-versa no parque. E aí cometeu a

imprudência que acabou sendo fa-tal, desceu e reiniciou a discussão. Num dado momento, Santiago, o mais velho dos Gallón, gritou: «Você não sabe com quem está a meter-se». Foi a senha para o seu motorista sair da camioneta em que aguardava os patrões e atirar seis vezes contra Escobar. Depois veio a saber-se que eles estavam ligados ao narcotráfico.

O assassino foi condenado a 43 anos de prisão, mas cumpriu ape-nas 11 e foi libertado por «bom comportamento» em 2005. Pedro

e Santiago Gallón não foram pro-cessados. A Colômbia vivia um período particularmente violen-to da sua história naquela altura da década de 1990, por causa da guerra entre os líderes de cartéis da droga e o governo. Mas, por mais que a população convivesse com a rotina de crimes, a morte de Andrés Escobar por um moti-vo tão banal provocou uma gran-de comoção no país.

Mais de 100 mil pessoas esti-veram no seu funeral, e todos os anos há uma romaria ao seu tú-

mulo no dia de aniversário da sua morte. Para honrar a sua memó-ria, em 2002 uma estátua dele foi inaugurada em Medellín.

«Andrés foi vítima da grande intolerância que existe na socie-dade colombiana. A sua morte não foi um facto isolado», disse Francisco Maturana, técnico da Colômbia no Mundial de 1994. O médio Carlos Valderrama, que era o melhor amigo de Escobar na se-lecção, contou, anos depois do cri-me, que o chão parecia ter sumido sob os seus pés quando recebeu a

notícia. “Eu só perguntava: Por-quê? Não podia acreditar que al-guém fosse capaz de tirar a vida de uma pessoa tão especial por causa de um autogolo.»

Escobar tinha 27 anos, estava noivo e, no fim daquele mês de Julho, devia apresentar-se ao Mi-lan, que antes da Copa do Mundo o havia contratado ao Nacional de Medellín. Mas seis tiros à queima--roupa impediram-no de realizar os seus sonhos e criaram uma mancha que envergonha os co-lombianos. ■

Costa Rica

Jogadores vão «estudar» futebol no Parlamento

Os deputados do parlamento da Costa Rica aprovaram uma moção, que convi-da a selecção a visitar aquela assembleia depois da presença no Mundial de 2014 e

estudam decretar o 20 de Junho como Dia Nacional do Futebol.

Com o voto favorável de 41 dos 57 deputados, a selecção costa-riquenha que vai defrontar a Holan-da a 5 de Julho nos quartos de final do Mundial2014, pode visitar o parlamento assim que regresse a casa

A Costa Rica eliminou a Grécia orientada por Fernando Santos, nos oitavos de final (após desem-pate por grandes penalidades), nunca tinha chegado tão longe num Mundial.

Na primeira fase, a Costa Rica venceu o chamado «grupo da morte» (D), à frente do Uruguai, já elimi-

nado, da Itália e de Inglaterra.Antes do Mundial de 2014, a melhor prestação

dos costa-riquenhos num Campeonato do Mundo datava de 1990, na Itália, quando foram afastados nos oitavos de final pela antiga Checoslováquia.

A 20 de Junho de 1990, a Costa Rica garantiu o apuramento para os oitavos de final, depois de ven-cer a Suécia por 2-1. No mesmo dia, mas deste ano, os costa-riquenhos conseguiram igual feito depois de baterem a Itália, por 1-0. Por estes dois motivos, o parlamento está a estudar um projecto para decre-tar 20 de Junho o Dia Nacional do Futebol.

Nas outras duas presenças em fases finais do Mundial, na Coreia do Sul e Japão, em 2002, e na Alemanha em 2006, a Costa Rica não passou da fase de grupos. ■

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Sábado, 05 de Julho de 2014. 44Sábado, 05 de Julho de 2014. 44Sábado, 05 de Julho de 2014. 44

Diz-se que se errar é hu-mano, persistir no erro é diabólico. O seleccionador nacional dos seniores femi-ninos, o nosso amigo Aníbal Moreira, parece ter levado em devida conta esta máxi-ma, ao recuar na sua decisão de excluir a valiosa Nacissela Maurício da equipa nacional que vai levar ao «Mundial», sob pretexto de que a se-nhora já estaria «velhinha», embora se saiba muito bem quais as verdadeiras razões. Há informações de que o homem foi forçado pela «chefia» a reconsiderar a sua posição, algo que já terá feito ao convocar a extremo-poste do 1.º de Agosto. Se, por um lado, isto é bom para o país, por outro, fragiliza-o em grande medida, pela falta de coerência que daí subjaz. ■

Não é justo nem aceitável o que as Edições Novem-bro, a empresa pública que detém o Jornal de Angola, vem fazendo em matéria de remuneração, ao pagar um «balúrdio» a um assessor do seu PCA, enquanto a esma-gadora maioria dos seus pro-fissionais nacionais, alguns dos quais em nada lhe ficam a dever, como o «Mestre Va-dito» ou o Paulo Pinha, se-quer cheguem a um terço do que é atribuído ao «melhor repórter do mundo», como José Ribeiro o qualifica. Se-gundo o Club-K, o «sumo pontífice» limpa qualquer coisa como 12 mil euros de salário-base, mais que o do-bro do que ganha o próprio PR. O que dói mais é que a «brincadeira» é feita com o nosso dinheiro. Arre! ■

O MPLA de Benguela está sendo acusado de dar cobertura a um seu militan-te a braços com a justiça, ao promovê-lo ao importante cargo de secretário local do partido dos camaradas para a informação e propaganda. Trata-se de David Nahenda, um antigo director munici-pal da Educação na Ganda, acusado de envolvimento num esquema capcioso de que resultou o descaminho de uns bons milhares de dólares. A figura chegou a ser encarcerada, mas depois libertada estranhamente, enquanto os outros acusados continuam na «choça» à es-pera do julgamento. O «M» desdramatiza o caso, por nada estar já provado em tri-bunal, mas tal não parece ser uma decisão avisada.■

«Esta semana, vamos fa-lar do Ébola. Diz lá ao ‘teu’ ministro para revelar o que é que o seu pelouro pensa fazer como medida de pre-venção», assim pedimos, no domingo, a alguém bem po-sicionado no Ministério da Saúde para que nos facilitas-se o trabalho que tínhamos em agenda. E como foi faci-litado. Sem quaisquer buro-cracias, logo na segunda-fei-ra recebemos a garantia de que a directora nacional da Saúde Pública estaria dispo-nível na quarta para respon-der às nossas inquietações. Não foi preciso o medieval «escrevam uma carta» nem nada parecido, como o exi-gem a quase totalidade das instituições públicas e até privadas. Aí está um bom exemplo de modernidade. ■

Sempre defendemos que as acusações de tráfico de pessoas e facilitação de pros-tituição que impediam so-bre o «empresário da juven-tude» eram forçadas. E tudo indica que havia razões para isso: Bento Kangamba aca-ba de ser ilibado pela justiça brasileira por falta de provas, com o seu advogado a defen-der que não houve qualquer «interferência presidencial» no processo, como chegou a circular. O que mais es-pantou enquanto decorria a «fustigação» contra si é que o homem se manteve calmo e sereno, sem sinais de es-morecimento pelo que já di-zia ser uma cabala. Ganhou o Girabola com um pé às costas e não deixou de ser o mobilizador-mor do «Ême» em Luanda. É nguzo! ■

Já houve vezes em que falar bem da distribuição de energia eléctrica acabou por ser agoirento, já que logo de-pois recomeçaram os «apa-gões» que nos tiram do sério, como se houvesse alguém chateado com os elogios e de-cidisse então sabotar o «be-neficiário» com o arreliante liga-desliga. Oxalá assim não volte a acontecer. Como reconhece o «nosso» Paulo de Carvalho na sua «audiên-cia», a distribuição de ener-gia eléctrica melhorou muito nos últimos tempos, num sinal de que é possível resol-ver o problema a contento. Nós mesmos temos estado a sentir isso ultimamente. Pena é que em relação à água não aconteça já igual. Mas há fé que se chegará lá. Se mais cedo, melhor.■

«M» de BenguelaAníbalMoreira

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