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Abril Edição nº13 Distribuição gratuita com o Jornal Público. Encarte da responsabilidade de Página Exclusiva, Lda. Não pode ser vendido separadamente. Semana do Cérebro – Casa-Museu Egas Moniz Angiografia do Prof. Egas Moniz Tratamento do AVC Isquémico Neuroimagem no futuro

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Page 1: Semana do Cérebro – Casa-Museu Egas Moniz Tratamento do ... · Vogal: Joana Graça Vogal: Cláudia Pereira _Dra. Ana Mafalda Reis A evolução dos meios auxiliares de diagnóstico

Abril Edição nº13 Distribuição gratuita com o Jornal Público. Encarte da responsabilidade de Página Exclusiva, Lda. Não pode ser vendido separadamente.

Semana do Cérebro – Casa-Museu Egas Moniz

Angiografia do Prof. Egas Moniz

Tratamento do AVC Isquémico Neuroimagem no futuro

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Saúde Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia – Brainweek2

Abr2017

A SPNR foi criada em 1990 por um núcleo de fundadores que incluíram os pioneiros da Neurorradiologia de Lisboa, Coimbra e Porto. Sob a atual presidência de Pedro Vilela, esta sociedade visa divulgar e promover o desenvolvimento de toda a atividade científica nacional nesta área do conhe-cimento científico.

A Neurorradiologia é uma das especialidades médicas mais recentes em Portugal que utiliza técnicas de imagem para o diagnóstico, para a avaliação funcional e para a rea-lização de procedimentos terapêuticos em doentes (pediá-tricos e adultos) com patologias do encéfalo, da medula, dos órgãos sensoriais, do sistema nervoso periférico, da co-luna vertebral e da cabeça e pescoço. As técnicas de ima-gem usadas incluem a Radiologia Convencional, a Ultras-sonografia, a Tomografia Computorizada, a Ressonância Magnética e a Angiografia Digital. A Neurorradiologia tem uma forte vertente clínica, demonstrada pela integração no seu currículo da especialidade de dezoito meses de treino clínico em diferentes áreas das Neurociências e pela sua atividade de Neurorradiologia de Intervenção.

No âmbito das comemorações dos 25 anos, em 2015, a SPNR lançou o Prémio Egas Moniz em Neurorradiologia para galardoar, de forma bienal, o tributo individual ou ins-

titucional à afirmação do conhecimento científico neuror-radiológico. Focando “a legítima homenagem ao pioneiro mundial da angiografia cerebral”, Pedro Vilela enaltece a “admirável visão” de Egas Moniz ao criar “esta nova valên-cia de conhecimento médico, a angiografia diagnóstica e te-rapêutica, como parte da nossa atividade quotidiana”.

Direção da SPNRMembros da Direcção da SPNR – Sociedade Portuguesa de NeurorradiologiaPresidente: Pedro VilelaSecretário Geral: Pedro de Melo Freitas Tesoureiro: Teresa Palma

Assembleia GeralPresidente: Inês Carreiro Vogal: Tiago Parreira Vogal: Tiago Baptista

Conselho FiscalPresidente: Margarida Ayres Basto Vogal: Joana Graça Vogal: Cláudia Pereira

_Dra. Ana Mafalda Reis

A evolução dos meios auxiliares de diagnóstico e, em par-ticular, o desenvolvimento da imagem médica resultam de um conjunto de circunstâncias socioeconómicas e culturais ao longo dos séculos da história da Ciência e da Medicina, que levaram à necessidade de “tornar visível o invisível” para a avaliação e orientação terapêutica do Homem.

Ana Mafalda Reis, autora da tese “Imagem médica - sua génese e paradigma - interação com a urgência extra-hos-pitalar”, aborda o paradigma da investigação científica das décadas 20 e 40, dos quais se evidencia a realização da pri-meira angiografia cerebral, em 1927, por Egas Moniz. “Uma ideia inovadora e tradutora de sentido prático resultado de uma meditação prolongada e de numerosas experiências conduzidas com método rigoroso para obter uma imagem por radiologia convencional da árvore vascular cerebral, através da introdução de um produto de contraste opaco ao raio X nos vasos encefálicos pela artéria carótida interna e determinar a localização dos tumores cerebrais”, afirmou Babinski sobre o mérito do neurologista português.

O significado de uma descoberta científica avalia-se não só pela importância da aplicação imediata mas também em função das implicações para além do campo de investiga-ção a que primeiro foi destinada. A técnica de angiografia, depois de diferentes fases de experimentação, foi realizada com sucesso pela primeira vez no homem in vivo a 28 de

junho de 1927 e rapidamente aplicada noutros ramos da ciência médica com inúmeras utilizações nas áreas da Fi-siologia Básica e Medicina Clínica, resultando na criação da importante Escola Portuguesa de Angiografia.

Os primeiros “gabinetes” de Radiologia foram criados no início do século XX e tinham aparelhos de Radiologia rudimentares que exigiam tempos de exposição muito longos o que condicionou o aparecimento dos efeitos no-civos dos raios X e a necessidade de proteção dos opera-dores. Em junho de 1927, Egas Moniz equacionou então um importante desafio decorrente das influências do ambiente científico da época. Seguindo a linha de inves-tigação de Sicard, com a injeção intratecal de lipiodol para avaliação de compressões medulares, e de Dandy, com a injeção de ar no sistema ventricular para visuali-zação das estruturas intracranianas, o especialista por-tuguês desenvolveu o método inovador para tentar loca-lizar tumores cerebrais.

Egas Moniz, a quem foi atribuído o prémio Nobel em 1949, conseguiu o que pode ser considerado como o pri-meiro estudo funcional cerebral no Homem, a técnica de imagem em tempo real de visualização dos vasos intracra-nianos.

Um marco histórico que mudou o paradigma das Neuro-ciências em Portugal e no mundo e que, durante a Brain Week, será relembrado com a comemoração do 90º aniver-sário da primeira angiografia cerebral.

Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia – SPNR

90º aniversário da primeira Angiografia Cerebral

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SaúdeSociedade Portuguesa de Neurorradiologia – Brainweek 3

Abr2017

_Dr. Pedro Melo Freitas, Presidente da Brainweek

O evento científico e sociocultural “BRAIN WEEK 2017 - Semana do Cérebro e da Neu-rorradiologia” (BW´17) veicula, desde a sua conceção, os ideais da Neurociência ao servi-ço da comunidade científica e da comunidade em geral. A direção nacional da Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia (SPNR), sob o patrocínio científico da Ordem dos Médi-cos, assim como, de modo inédito, de todas as faculdades e cursos de Medicina e Ciências Biomédicas, em parceria organizacional com a CM Estarreja, a Casa Museu Egas Moniz e a Universidade de Aveiro, assumiu o desafio e a efetiva responsabilidade de organizar este evento inaugural.

“Este momento multidisciplinar será cer-tamente uma oportunidade de excelência, que com muita honra me coube a enorme responsabilidade de presidir e envolverá a comunidade científica nacional e interna-cional nas áreas das Neurociências diag-nósticas e terapêuticas, pretendendo-se igualmente que tenha um forte impacto na sociedade civil no que à promoção da saúde e prevenção da doença diz respeito”, asse-vera Pedro de Melo Freitas.

Individualidades nacionais, luso-brasi-leiras, europeias e norte-americanas na área da Neurorradiologia estarão presentes no evento, que decorrerá na região Centro do país com diversas atividades a ocorre-rem em Aveiro, Estarreja e Santa Maria da Feira, entre 31 de maio e 6 de junho de 2017. A abertura oficial do evento coincidi-rá com o Dia Mundial da Esclerose Múlti-pla, sendo este o ponto de partida para uma série de colóquios e reuniões temáticas re-lacionadas.

Estruturalmente, a Semana do Cérebro incluirá o XIII Congresso Nacional de Neu-rorradiologia (Estarreja, 1 a 4 de junho). “A

Semana do Cérebro e da Neurorradiologia

presidência do Congresso Nacional será compartilhada por Paulo Mendo, Augusto Goulão, Eduardo Medina, Costa Reis e Joa-quim Cruz, nomes distintos na afirmação da Neurorradiologia no país e no mundo. “Contaremos, igualmente, com a presidên-cia honorária da Sociedade Brasileira de Neurorradiologia (SBNR), com a presidên-cia da Sociedade Ibero Latino Americana de Neurorradiologia (SILAN) e com Alex Rovira, presidente da European Society of Neuroradiology (ESNR). Num ano que se pretende marcante pela multidisciplinari-dade das iniciativas na área das Neurociên-cias, a integração centralizada do ponto de vista geográfico e temporal do congresso anual permitirá aos participantes usufruir de todas as valências, cursos, colóquios, workshops, mas também de outros eventos de índole científico-cultural e artística”. Co-memorando-se em 2017 o nonagésimo ani-versário da 1ª Angiografia Cerebral, o con-gresso contribuirá também para assinalar a efeméride, enaltecendo a especialidade Neurorradiologia no seu todo, enquanto detentora de um posicionamento prepon-

No dia 31 de maio assinala-se o dia mundial da Esclerose Múltipla, um mar-co que não passa ao lado da organização da Brainweek que agendou para este dia a Reunião de Consenso sobre a temática, que culmina um processo de estudo que se prolonga há cerca de um ano entre a SPNR e o Grupo de Estudos de Esclerose Múltipla (GEEM).

“O que se pretende com esta ação con-junta é estabelecer um consenso nacional no diagnóstico, responsabilidade de Neu-rorradiologia, e na vertente clínica e tera-pêutica da Neurologia no tratamento da Esclerose Múltipla. Pretende-se que exis-ta uniformidade no diagnóstico, na for-ma como avaliamos por imagem um doente com esta patologia. Isso implica que estes doentes quando vão realizar

um estudo de imagem – ressonância magnética – seja feita com uma qualida-de de diagnóstico idêntica em todos as instituições públicas e privadas, permi-tindo uma comparabilidade exata entre os estudos”, explana Pedro Vilela, presi-dente da SPNR.

Neste sentido, passará a existir um do-cumento consensual orientador de como deve ser realizado um estudo de resso-nância magnética, ressalvando todas as especificidades técnicas que devem ser tidas em conta com doentes de Esclerose Múltipla (EM) como por exemplo que ti-po de sequências devem ser realizadas, os parâmetros técnicos dessas sequên-cias e a forma como se administra o con-traste e como se faz a aquisição das ima-gens – “deve ser uma aquisição tardia pa-

ra que haja um realce do caráter inflama-tório das lesões da Esclerose Múltipla”.

José Vale, neurologista, esclarece a im-portância da reunião consensual sobre esta matéria. “Este projeto da monitorização clínica e neurorradiológica da EM tem uma grande relevância para a nossa prática clí-nica. Dispomos atualmente de um grande número de fármacos que permitem um melhor controlo da atividade e da progres-são da doença e é nosso dever usá-los de forma adequada e de acordo com as reco-mendações internacionais. Neste contexto, o principal objetivo deste projeto é a defini-ção dos princípios (clínicos e neurorradio-lógicos) a serem seguidos no acompanha-mento dos doentes com esta doença em Portugal”. Esta iniciativa, liderada pelo GEEM e SPNR, conta com a participação

da maior parte dos responsáveis das con-sultas de EM, pretendendo-se assim esta-belecer um documento de consenso que uniformize estes procedimentos em todo o país. A concretização do projeto tem múlti-plas virtudes, a mais importante das quais é a certeza que uma monitorização atenta da evolução da doença irá permitir uma utilização mais efetiva dos recursos atual-mente disponíveis.

Outro dos grandes desafios a ser lança-do nesta reunião é tentar criar um repo-sitório de imagem de esclerose múltipla, isto é, um local onde se coloque de forma anónima os exames dos doentes para permitir a criação de uma base de dados que possibilite trabalhos de investigação científica quer na área da Imagem, quer na área Clínica.

derante do conhecimento na área das Neu-rociências e da Imagiologia Médica”, enal-tece o presidente do evento.

Porque o ideal humanista do médico tam-bém se transmite através da arte, a BW´17 in-cluirá igualmente uma vertente solidária com atividades artísticas integradas e a divulgação da campanha nacional “STOP AVC”. Ocorre-rão, ainda, iniciativas em parceria com insti-tuições do universo da saúde nacional e de apoio a estruturas e organizações de doentes.

“Ao colocar esta região como epicentro da Neurociência em geral e da Neurorra-diologia em particular, pretendeu-se um tributo cheio de simbolismo a uma das suas mais prestigiadas e históricas origens numa perspetiva de abertura com um evento am-plamente inclusivo da especialidade, reu-nindo todas as vertentes programáticas e curriculares e garantindo a continuidade de um fórum nacional de discussão neurorra-diológica alargada e privilegiada. A Neuror-radiologia assume-se como uma especiali-dade médica, primordial constituinte da co-munidade das Neurociências”, conclui Pe-dro de Melo Freitas.

Reunião de Consenso de Esclerose Múltipla

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Saúde Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia – Brainweek4

Abr2017

Vários estudos levados a cabo a nível mundial conseguiram comprovar cientificamente o benefício do tratamento endovascular no AVC. Pedro Vilela, presidente da Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia, revela ao Perspetivas em que consiste a recente mudança de paradigma nas vertentes de diagnóstico e intervenção da especialidade e os principais desafios adjacentes em contexto nacional.

_Dr. Pedro Vilela. Presidente da SPNR

“O ano de 2015 representa um marco his-tórico no tratamento do Acidente Vascular Cerebral (AVC) Agudo Isquémico. Vários estudos científicos, prospetivos e randomi-zados, realizados em diferentes partes do mundo, demonstraram, inequivocamente, que o tratamento endovascular (trombecto-mia mecânica), realizado nas primeiras ho-ras após o início dos sintomas, associa-se a uma significativa melhoria clinica dos doentes, com um número elevado destes

doentes a conseguirem retomar uma vida quotidiana (incluindo laboral) normal”, es-clarece Pedro Vilela. A trombectomia mecâ-nica trata-se de uma técnica realizada pelos neurorradiologistas. Este tratamento con-siste no cateterismo cerebral, ou seja, na navegação no interior dos vasos sanguíneos com dispositivos que vão diretamente ao local da oclusão, permitindo a remoção do coágulo através de um stent ou através de aspiração. Este tratamento é particular-mente eficaz nos AVC’s isquémicos com pior prognóstico – aqueles cuja artéria obs-truída é uma artéria de grandes dimensões (artéria proximal). Oclusões estas em que o tratamento químico, através da administra-ção intravenosa de um agente trombolítico, que dissolvia o trombo, não apresentava re-sultados satisfatórios.

Esta mudança de paradigma obrigou, por isso, os diferentes países a replanearem os processos de diagnóstico e tratamento do AVC, com a criação de centros de tratamen-to do AVC com equipas de Neurorradiolo-gia Terapêutica. Neste sentido, a trombec-tomia mecânica tem vindo a ser progressi-vamente implementada em Portugal, desde 2015. Esta técnica inovadora exige centros mais diferenciados com métodos de ima-gem mais sofisticados e profissionais espe-cializados na intervenção neurovascular.

Em Portugal, o ministério promoveu a criação de urgências metropolitanas de apoio ao AVC isquémico nas principais áreas do país: Porto, Coimbra e Lisboa. “Foram utilizados os recursos que já exis-tiam, isto é, os serviços de Neurorradiologia que dispunham de Neurorradiologia Tera-pêutica. Se, isoladamente, alguns destes serviços não eram capazes de cobrir 24h por dia, sete dias por semana, a conjugação dos esforços destes diferentes serviços de Neurorradiologia permitiu num curto espa-ço de tempo, ter essa cobertura nos hospi-tais nestas três grandes áreas metropolita-nas. No entanto, se analisarmos a distribui-ção geográfica da população portuguesa es-ta organização permite uma cobertura para a maior parte da população”, esclarece Pe-dro Vilela, ressalvando ainda a problemáti-ca das regiões mais distantes que urgem pe-

O novo paradigma no tratamento do AVC Agudo Isquémico

la definição da melhor estratégia por parte dos decisores políticos que poderá passar pela deslocalização de equipas especializa-das em Neurorradiologia Terapêutica para essas áreas ou com o aperfeiçoamento da rede de transportes, nomeadamente o heli-transporte.

O presidente da SPNR assume que a mu-dança de paradigma no tratamento desta patologia veio “equacionar e remodelar o sistema organizacional em três níveis dis-tintos”. Num primeiro nível, mais abran-gente, a organização nacional dependente dos decisores políticos, mas na qual os mé-dicos “como intervenientes no processo com outros profissionais de saúde devem revelar a motivação certa para que esta res-posta possa ocorrer de forma eficaz”. Num escalão intermédio está a organização lo-cal-hospitalar, na qual “a esfera médica de-ve atuar junto das administrações hospita-lares para delinear as melhores estratégias de operação no diagnóstico e tratamento do foro cerebrovascular”. E, por último, a or-ganização dos serviços de Neurorradiologia em que “a especialidade de Neurorradiolo-gia se tem organizado para responder as-sertivamente a este recente desafio”.

A realidade nacional teve vantagens na adaptação do tratamento endovascular por já possuir a especialidade de Neuror-radiologia, com as vertentes diagnóstica e terapêutica, com um programa de forma-ção específico de internos, possibilitando que num curto espaço de tempo haja “uma massa crítica de neurorradiologis-tas capazes de oferecer o diagnostico por imagem e o tratamento com base nas me-lhores práticas e em segurança para os doentes com AVC”. A intervenção no cé-rebro deve ser feita o mais rápido possí-vel. Por um minuto de oclusão cerebral, perdemos 1.9 milhões de neurónios, 14 biliões de sinapses e 14 km de fibra de substância branca, o que mostra a impor-tância de uma resposta eficaz e rápida as-sente na otimização e organização da dis-tribuição das unidades de AVC”, expõe o especialista, concluindo com a expressão adaptada às Neurociências: ”Time is brain”.

“A Neurorradiologia portuguesa mobilizou-se para assegurar os melhores cuidados à população no tratamento do

AVC agudo através de uma especialidade vocacionada para o diagnóstico e para a intervenção”

Dr. Egídio Machado – CHUC

“O tratamento do AVC agudo por trombectomia mecânica foi um enorme avanço permitindo diminuir a morbi-

mortalidade nos doentes com oclusão de grande artéria”

Dra. Luísa Biscoito – Lisboa

“Os neurorradiologistas responderam com rapidez e capacidade organizativa a este desafio, o que nos conferiu o reconhecimento,

até então exíguo, na prestação de cuidados de saúde altamente

diferenciados”Dra. Maria Luís

Silva – Hospital S. João

“Time is brain.” A rapidez do transporte inter-hospitalar e a celeridade de diagnóstico são

fatores-chave para o tratamento do acidente vascular cerebral.”

Prof. João Xavier – Hospital Santo

António

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SaúdeSociedade Portuguesa de Neurorradiologia – Brainweek 5

Abr2017

_Dra.s Daniela Seixas e Joana Graça

A evolução da prática clínica advém dos desenvolvimentos tecnológicos e científicos que a tornam, em última análise, possível. Este fenómeno acontece também no campo da ima-gem médica, no qual Daniela Seixas e Joana Graça são espe-cialistas. Ambas refletiram sobre o rumo da especialidade e revelaram ao Perspetivas o futuro reserva.

“Penso que a tendência para a Neuroimagem nas próximas décadas será na direção do que atualmente se chama big da-ta”, inicia Daniela Seixas. Neste sentido, Joana Graça prosse-gue a ideia evidenciando que “o aperfeiçoamento do sistema de comunicação e arquivo de imagem (PACS) permitirá parti-lhar e colecionar um número cada vez maior de dados da po-pulação em bancos de imagem, facilitando a integração da in-formação em atlas que representam variações normais e pato-lógicas da anatomia e função cerebrais. O concomitante de-senvolvimento de ferramentas de diagnóstico assistido por computador (CAD) será um importante apoio ao médico ima-giologista. A informação fornecida pelos exames de imagem é cada vez mais complexa, tendo que ser interpretada com maior celeridade devido ao crescente número de exames soli-citado. As ferramentas CAD processam as imagens digitais re-conhecendo padrões típicos e assinalando lesões suspeitas ao imagiologista, permitindo reduzir a margem de erro e melho-rar a acuidade diagnóstica”. Neste contexto, é interessante o conhecimento de projetos científicos como o Human Connec-tome Project e o Human Brain Project, sendo este último uma iniciativa europeia.

Segundo Daniela Seixas, “assistiremos também à integra-ção crescente de dados da genética nos estudos de imagem do sistema nervoso, permitindo entender mais facilmente o efei-to de determinados genes em problemas médicos tão comuns como a demência. A Neuroimagem, incluindo a ressonância magnética funcional, assumirá também um papel relevante no desenvolvimento de medicamentos, nomeadamente para o tratamento da dor. Paradoxalmente, acredito que irá acon-tecer na Radiologia e na Neurorradiologia uma espécie de re-

gresso às origens. Hoje em dia assiste-se a uma massificação dos exames de imagem médica, tais como a tomografia com-putorizada, a ressonância magnética (RM) e a ecografia, com redução do seu preço e da sua qualidade e consequente im-pacto negativo no diagnóstico. Os doentes e os médicos pres-critores procurarão de novo prestadores com melhor serviço, que privilegiem outra vez a execução de exames sem pressas e a qualidade dos seus médicos e equipamentos”.

A opinião de Joana Graça coincide e prossegue na aborda-gem ao futuro na área da Imagiologia. “Perspetiva-se tecnolo-gia ainda mais sofisticada, com maior rapidez e precisão. Es-pera-se que o desenvolvimento ocorra, por um lado, do ponto de vista morfológico com detalhe anatómico cada vez maior, aproximando-se da imagem microscópica histológica dos te-cidos, mas «in vivo». Por outro lado, é certo o desenvolvimen-to da imagem funcional em RM, melhorando a informação acerca das áreas de atividade cerebral, dos feixes de substân-cia branca que ligam estas áreas (Tratografia) e da composi-ção metabólica dos tecidos (Espetroscopia). Será, assim, pos-sível conhecer melhor as complexas redes funcionais cere-brais e criar mapas de conectividade cerebral cada vez mais detalhados, contribuindo para a melhor compreensão da or-ganização cerebral. A complementaridade entre técnicas de imagem diagnóstica e de intervenção será uma importante área de evolução. No passado recente a Angiografia Cerebral passou a incorporar a vertente de intervenção, permitindo tratar aneurismas, malformações arteriovenosas, estenoses e oclusões arteriais através de dispositivos sofisticados que na-vegam no interior dos vasos. Por sua vez, no futuro, as técni-cas diagnósticas de imagem, como a Ecografia Intravascular e a RM, terão um papel complementar à angiografia de inter-venção ao permitirem analisar com detalhe a parede dos va-sos”.

A história é, assim, um bom indicador de que a Neuroima-gem vai continuar a adicionar cada vez mais informação ana-tómica, fisiológica, funcional e metabólica, permitindo um diagnóstico mais precoce, uma terapêutica mais individuali-zada e uma melhor compreensão dos processos cognitivos.

O futuro da Neuroimagem

_Dra. Rosa Maria Rodrigues, Diretora da Casa Museu Egas Moniz

Egas Moniz constitui uma referência obrigatória quando se evocam os vultos do século XX, bem como da História da Medicina, dadas as suas descobertas no domínio da an-giografia cerebral, pela qual lhe foi atribuído o Prémio de Oslo, em 1945.

O testemunho no domínio da Arte centra-se na Casa Mu-seu Egas Moniz, que legou a Estarreja, a Portugal e ao mundo. Este espaço conserva o ambiente de extremado gosto, despertando uma constante evocação da personali-

dade relevante que nela passava longas temporadas e onde em cada pormenor deixou expressos os seus gostos e predi-leções.

Diamantino Sabina, presidente da Câmara Municipal de Estarreja, enaltece “a evocação a Egas Moniz na comemo-ração do 90º aniversário da realização da primeira angio-grafia cerebral, bem como na atribuição do Prémio Nacio-nal Egas Moniz em Neurorradiologia como momentos re-levantes do programa Brain Week 2017. Esta semana en-cerrará com a apresentação do projeto «Estarreja Brain City», onde se refletirá sobre estratégias para um futuro fluido e de permanente renovação para a cidade”.

Excertos de Egas Moniz“Quando em junho de 1927 consegui ver pela primeira

vez nos Raios X as artérias do cérebro, através dos ossos es-pessos do crânio, tive um dos maiores deslumbramentos da minha vida”.

“Não me considero um homem de letras, embora a elas me entregue nas horas de repouso. Foi à Ciência que dei o máximo do meu esforço e da minha atividade”.

Egas Moniz, o talento multifacetado

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Saúde SESARAM6

Abr2017

Em 2015, Tiago Rodrigues, neurorra-diologista, partiu do continente para a Região Autónoma da Madeira, onde en-controu apenas um colega da mesma es-pecialidade, o Dr. José Franco, que lá exercia funções há duas décadas corres-pondendo ao início da Neurorradiologia na ilha.

Portugal tem a particularidade de ser o único país da Europa onde a Neurorra-diologia é uma especialidade médica e não uma subespecialidade da Radiologia. No entanto, analisando o contexto portu-guês depreende-se que há desigualdades entre as várias regiões. A dicotomia lito-ral-interior é já antiga, mas as ilhas aca-bam também por sofrer carências ao ní-vel da prestação de cuidados de saúde. “Considero que dois neurorradiologistas são insuficientes para as necessidades da população madeirense. Não me refiro apenas à Neurorradiologia Diagnóstica, que pode ser colmatada (embora com al-gumas limitações) pela Telerradiologia, mas sobretudo à Neurorradiologia de In-tervenção. Estou a considerar alguns doentes que, para serem tratados de acordo com as linhas orientadoras, têm de ser intervencionados na região”, reve-la Tiago Rodrigues ao Perspetivas, con-cretizando a ideia com um exemplo: “No que se refere à patologia aneurismática, sabemos que um doente com rotura de aneurisma e consequente hemorragia su-baracnoideia não pode, na fase aguda, ser transferido por via aérea com segu-

Unidade do AVC conta com esta com-ponente extra-hospitalar, que pode ser ativada quer através dos Centros de Saú-de ou através do número de Emergência Nacional (112), dando conhecimento imediato ao chefe de equipa de urgência do Hospital Dr. Nélio Mendonça e ao médico de serviço na U-AVC. Relativa-mente à componente intra-hospitalar, procedeu-se à adaptação do circuito que estes doentes seguiam no serviço de ur-gência, de agilizar a observação do doen-te, a realização dos exames complemen-tares necessários e a realização dos trata-mentos adequados. Por fim, reforçou-se a equipa que prestava apoio à Unidade do AVC, ou seja à unidade que recebe es-tes doentes depois do tratamento, de mo-do a prestar os melhores cuidados aos doentes 24 horas por dia. Todas estas oti-mizações só foram possíveis pela vontade e disponibilidade do Serviço Regional de Saúde e de todos os intervenientes no processo em prestar os melhores cuida-dos de saúde aos doentes da região”, es-clarece o especialista.

Os custos adicionais para a disponibili-zação desta técnica são evidentes, po-rém, segundo Tiago Rodrigues, “é neces-sário que cidadãos comuns, utentes dos sistemas de saúde, profissionais de saúde e principalmente decisores políticos enca-rem os gastos na saúde como investimen-to, que é rentável a médio e longo prazo, desde que devidamente programados e enquadrados em princípios de equidade e sustentabilidade. No caso particular da trombectomia mecânica, é possível fazer com que cerca de metade dos doentes que de outro modo ficariam muito segu-ramente dependentes para o resto da vi-da, voltem a ser autónomos, reduzindo a duração dos internamentos hospitalares ou nas unidades de cuidados continuados e permitindo que alguns doentes possam voltar a desempenhar a sua atividade pro-fissional, com claros benefícios económi-cos posteriores”.

Remetendo-nos concretamente à reali-zação da primeira terapêutica endovascu-lar num doente com AVC isquémico agu-

do, a mesma foi bem-sucedida e o neu-rorradiologista do SESARAM descreve a intervenção: “Conseguimos remover o trombo de uma artéria cerebral de grande calibre e recanalizar totalmente os vasos dependentes dessa artéria. Contudo, o objetivo primário deste tratamento é tor-nar o doente novamente autónomo e, in-felizmente, a recanalização da artéria não se acompanhou de uma melhoria clinica considerável ou, pelo menos, da melho-ria clínica que pretendíamos. Não obstan-te, constituiu um ponto de viragem no tratamento dos doentes com AVC isqué-mico agudo na região da Madeira e espe-ramos que no futuro o sucesso angiográ-fico se acompanhe de sucesso clínico”.

Acima de tudo, importa ressalvar o avanço que este momento significa para a especialidade na região, mas igualmen-te os benefícios que o mesmo conduz pa-ra um cuidado qualitativo crescente dos doentes, visto que a população madei-rense apresenta uma taxa anual de AVC muito elevada. “Na prática estima-se que cerca 10% dos doentes com AVC possam receber este tratamento ou pe-lo menos é este o número que ideal-mente devemos tratar. O SESARAM realizou as alterações necessárias na sua orgânica funcional de forma a con-seguir prestar este tratamento emer-gente a todos os doentes. Aqueles que não são submetidos a este tratamento já eram e continuam a ser seguidos e trata-dos por uma equipa multidisciplinar com o objetivo de identificar a causa do AVC, prevenir a ocorrência de novos eventos e melhorar ao máximo a funcionalidade do doente”, assevera.

O neurorradiologista Tiago Rodrigues deixa, em jeito de conclusão, o alerta pa-ra a prevenção destas patologias. “Consi-dero fundamental despertar a população geral para a necessidade de adotar um es-tilo de vida saudável e de controlar fatores de risco vascular clássicos, tais como a hi-pertensão arterial, o diabetes ou o coles-terol elevado, de forma a minimizar ao máximo a probabilidade de ocorrência de um AVC”.

rança e tem de ser tratado nas primeiras 72 horas. Assim, o tratamento tem de ser realizado na Madeira ainda que esta janela terapêutica nos dê alguma mar-gem de manobra para contarmos com a colaboração de neurorradiologistas do Centro Hospitalar do Porto. A questão é ainda mais premente em relação ao AVC isquémico agudo porque a janela tera-pêutica, isto é, o tempo que temos para iniciar o tratamento, é relativamente es-treita (cerca de 6 horas) e o tratamento endovascular (trombectomia mecânica) deve ser iniciado o mais rapidamente possível. Deste modo, o tratamento tem, obrigatoriamente, de ser efetuado pelos médicos do SESARAM, que conta ape-nas com dois neurorradiologistas. É ne-cessária uma grande disponibilidade para assegurar a prontidão do tratamento a to-dos os doentes”.

Mesmo com algumas limitações e ca-rências, a especialidade de Neurorradio-logia do Serviço de Saúde da Região Au-tónoma da Madeira (SESARAM) tem da-do os passos certos para, cada vez mais, prestar um cuidado integrado de qualida-de à população. Um desses passos foi da-do no passado dia 3 de março com a rea-lização da trobectomia mecânica, dispo-nível agora para os doentes indicados. “Tornar este tratamento acessível a todos os doentes foi um processo complexo e que exigiu grandes mudanças e adapta-ções no funcionamento dos serviços en-volvidos. Em primeiro lugar foi necessá-rio criar uma equipa multidisciplinar para a realização da trombectomia mecânica, com neurorradiologistas, anestesistas, enfermeiros e técnicos de radiologia. Foi ainda necessário optimizar a «Via Verde do AVC» com intuito de minimizar o tem-po até aos tratamentos com evidência científica comprovada (trombólise endo-venosa e trombectomia mecânica). A

A trombectomia mecânica, inovadora técnica no tratamento do AVC, já chegou à Madeira pelas mãos de Tiago Rodrigues e José Franco, os únicos neurorradiologistas da ilha. A disponibilização desta técnica por parte do SESARAM veio colmatar uma grave lacuna na capacidade de resposta às necessidades da população.

AVC: A implementação da trombectomia mecânica na Madeira

Equipa da Unidade do AVC

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SaúdeSociedade Portuguesa de Anestesiologia 7

Abr2017

A cidade do Porto acolheu o Con-gresso da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia 2017, referência da ação interventiva da especialidade em Portugal. Foi nos dias 17 e 18 de mar-ço que teve lugar “o maior Congresso que a SPA organizou até aos dias de hoje”, informa a Dra. Rosário Órfão. Com o mais alargado número de par-ticipante, em comparação com even-tos anteriores (em 2012 inscreveram--se 810 participantes), este ano acor-reram ao Sheraton Porto Hotel & SPA mais de 930 profissionais de saú-de. O vasto programa ocupou três sa-las, que funcionaram em simultâneo, recebendo todas as palestras a aten-ção e a participação ativa dos presen-tes.

O programa foi elaborado de modo a abranger as várias áreas de atividade da Anestesiologia, sendo ainda o refle-xo do trabalho em equipas multidisci-plinares destes profissionais de saúde.

tre os congressistas internacionais real-ce-se a presença do presidente da So-ciedade Europeia de Anestesiologia, do presidente da National Association So-ciety European, o presidente da Socie-dade de Medicina Interna Europeia, do Brasil veio Rogean Nunes, membro do Comité Científico da Sociedade Brasilei-ra de Anestesiologia.

Principais temas em debateNum Congresso dedicado à Inova-

ção tecnológica mas também de con-ceitos, fundamental foi a presença de algumas autoridades responsáveis pe-la construção de programas inovado-res como o ERAS (Enhanced Reco-very After Surgery) “um programa com grande impacto, económico in-clusive”, tendo anestesiologistas e ci-rurgiões apresentado e discutido essas temáticas num diálogo que reforçou a importância da inovação ao serviço da qualidade, segurança e sustentabilida-de do Serviço Nacional de Saúde.

A nossa interlocutora, a Dra. Rosá-rio Órfão, entende que a Anestesiolo-gia sofreu uma grande evolução ao longo dos anos, sendo a qualidade e a segurança preocupações primordiais: “A inovação tecnológica permite aos especialistas melhorar muito a quali-dade e segurança dos cuidados presta-dos ao doente”.

Noutros espaços de discussão foram abordados aspetos médico-legais e da responsabilidade da Anestesiologia.

Destacam-se ainda- sessões de apre-sentação de recomendações elabora-das por grupos de trabalho multidisci-plinares criados sob a égide da SPA que reuniram durante um ano e apre-sentaram no Congresso consensos/recomendações em áreas como a abordagem da hemorragia obstétrica; a utilização de relaxantes neuromuscu-lares; e a manutenção da normoter-mia perioperatória.

No âmbito do Congresso que se realizou nos 17 e 18 de março, a SPA organizou quatro cursos: no dia 10 de março o Curso de Via Aérea Difícil, área em que a Anestesiologia é perita, especialmente dedicado ao treino dos internos; a 11 de março teve lugar o Curso de Fibroscopia e Via Aérea; no dia 15 decorreu o VII Curso de Introdução à Anestesiolo-gia, direcionado e oferecido aos in-ternos da especialidade do 1º ano (assim como a inscrição na SPA), mas também para internos do ano comum; no dia 18 realizou-se um curso de Competição em Simulação, pioneiro em Portugal, ministrado por uma equipa italiana. Um total de 14 internos de anestesiologia consti-tuíram três equipas que concorreram entre si em ambiente de simulação, a equipa vencedora foi convidada pelos formadores italianos para par-ticipar num evento semelhante, po-rém de dimensão internacional, que irá decorrer em Itália.

A Dra. Rosário Órfão manifesta to-da a sua satisfação e agradecimento, em nome da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, pelo sucesso da inicia-tiva que superou expetativas: “Não se-rá fácil replicar um programa de exce-lência, convenientemente divulgado facto que cativou muitos especialistas nacionais e internacionais, em dois dias históricos no percurso da Socie-dade”.

Tendo a formação contínua como um dos seus objetivos para 2018, a SPA está ainda a organizar cursos de Formação de Formadores em Aneste-siologia – CuFF-A; de Gestão de Re-cursos Humanos; Tertúlias de Aneste-siologia em Lamego; uma Reunião em pareceria com a Sociedade Cirur-gia Cardiotorácica e Vascular; e um evento com a APED e Serviço de Anestesiologia do Centro Hospitalar de Leiria e Pombal.

Além de anestesiologistas participa-ram outros profissionais como cirur-giões, internistas, imunoterapeutas, farmacêuticos, juristas, economistas, etc. “o que tornou ainda mais interes-sante e dinâmico o Congresso”. Edito-res de revistas europeias de anestesio-logia, assim como primeiros autores de artigos publicados nas mais sonan-tes revistas creditadas a nível mundial enriqueceram os debates intervindo em diversas temáticas. Destaque-se que o evento contou com comparên-cia do Bastonário da Ordem dos Médi-cos, Dr. Miguel Guimarães, “que mos-trou estar sensível e desperto para as características e para os principais problemas da nossa especialidade em Portugal”, comentou a presidente da SPA.

Durante os dois dias, as sessões de-correram em Português ou em Inglês sendo de destacar a comparência de to-dos os convidados estrangeiros. De en-

Decorreu no passado mês de março o Congresso da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia. O Perspetivas falou com a sua presidente, a Dra. Rosário Órfão, que nos apresentou as principais temáticas abordadas num espaço de debate centrado na Inovação, tecnológica e de conceitos.

Anestesiologia em debate pluridisciplinar

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Saúde APNEP8

Abr2017

A Associação Portuguesa de Nutri-ção Entérica e Parentérica (APNEP) é a Associação que congrega os profis-sionais de saúde envolvidos na nutri-ção clínica, incluindo nutricionistas, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, investigadores, psicólogos, adminis-tradores hospitalares entres outros profissionais, sendo na atualidade uma das maiores associações portuguesas com 1866 associados.

Estiveram presentes no Congresso que decorreu no passado mês de mar-ço, na cidade do Porto, um número recorde de 2786 congressistas, tendo

participado no evento mais de 250 palestrantes nacionais e internacio-nais.

O tema escolhido para o XIX Con-gresso Anual foi “O direito à nutrição adequada”.

Para a APNEP faz todo o sentido pensar na nutrição como um elemen-to essencial no bem-estar e promoção da saúde, mas também como arma te-rapêutica imprescindível para todos os doentes.

A vida começa com a nutrição e es-ta desempenha uma influência deter-minante no desenvolvimento emocio-nal, mental, físico e social de cada in-divíduo.

Mas se a nutrição é importante para todos, é fundamental no tratamento dos doentes.

Segundo o Dr. Aníbal Marinho, pre-sidente da APNEP, todos os indivíduos malnutridos ou com risco de malnutri-

Realizou-se no Porto a 27 e 28 de março de 2017, o XIX Congresso Anual da Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica.

XIX Congresso Anual da Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica

Anne de Looy - ONCA; Aníbal Marinho - Presidente da APNEP; Manuel Delgado - Secretário de Estado da Saúde;

Cristina Cuerda - ESPEN 2018; Fernanda Freitas - Moderadora

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SaúdeAPNEP 9

Abr2017

térica e de suplementos orais em con-texto de nutrição clínica.

E Portugal?Portugal encontra-se já a dar passos

neste sentido com a implementação do Compromisso para o Desenvolvi-mento e Sustentabilidade do SNS, em linha com o que já acontece noutros países.

Mas a atuação não deve ser estan-que ao hospital e deve ser prolongada

ção deveriam ser sistematicamente rastreados e ter acesso a cuidados nu-tricionais adequados, equitativos e de elevada qualidade.

A integração da terapêutica nutricio-nal no plano de intervenção médico, cirúrgico e farmacológico é crucial pa-ra a recuperação clínica e funcional do doente, para a qual devem convergir as competências específicas de cada profissional de saúde.

Apesar do aumento do reconheci-mento desta problemática, os dados provenientes de estudos realizados en-tre nós, mostraram que a frequência

da desnutrição se mantém extrema-mente elevada, afetando cerca de um em cada quatro doentes no momento da admissão hospitalar.

Um grande número destes doentes entra desnutrido nos hospitais, agravam o seu estado nutricional no internamen-to e têm alta hospitalar sem condições para que se possa promover uma recu-peração funcional adequada.

A nutrição clínica é, na maioria das vezes, uma solução com excelente re-lação custo-efetividade, segura e não invasiva no combate à desnutrição. A sua utilização encontra-se associada a menores taxas de morbilidade e de mortalidade.

para o ambulatório através da criação e implementação de soluções que se traduzem na melhoria da efetividade e/ou da segurança dos serviços conti-nuados com os cuidados domiciliários.

A APNEP apoia e defende que se deve implementar um programa siste-mático e obrigatório de rastreio da malnutrição, assim como garantir a acessibilidade da nutrição clínica no hospital e no ambulatório.

Só desta forma, poderemos comba-ter a malnutrição e a desnutrição em particular o que representará uma me-lhoria na qualidade de vida dos doen-tes e uma poupança económica para o SNS.

Este tipo de abordagem gera uma maior satisfação e qualidade de vida aos doentes, menores taxas de com-plicações apresentando uma diminui-ção considerável nos custos de trata-mento e de internamento que são uma parte significativa da despesa glo-bal da saúde.

São estes os desafios que temos na atualidade.

A maioria dos países da união euro-peia dispõe de uma abordagem inte-grada que garante a acessibilidade da nutrição clínica no hospital e no am-bulatório.

O exemplo que vem da nossa vizinha Espanha

Segundo a Dra. Cristina Cuerda, coordenadora do Grupo de Nutrição Artificial Domiciliária em Espanha, existe desde 1998 regulamentação ministerial neste âmbito.

O financiamento por parte do go-verno espanhol compreende a admi-nistração de nutrição parentérica, en-

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Saúde NEDAI10

Abr2017

to. O Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes (NEDAI) foi, em 1992, o primeiro a surgir. “Não havia uma organização dentro da sociedade que permitisse juntar grupos para partilharem experiências, começa-rem a criar uma rede de cuidados a nível hospitalar, protocolos e inves-tigação conjunta. Os centros e pro-fissionais estavam muito afastados quer fisicamente, quer cientifica-mente, daí a necessidade de se esta-belecer uma ligação e uma linha de comunicação para que não se per-dessem experiências e conhecimen-

tos”, releva António Marinho, atual coordenador nacional do núcleo de estudos.

A criação do NEDAI foi então subja-cente à necessidade de uma reorgani-zação e criação de trabalho conjunto, reunido um core de profissionais que trabalham nesta área com a possibili-dade de participar em estudos multi-cêntricos e em redes internacionais e integrar centros de referência, um dos grandes desafios para o futuro. Antó-nio Marinho assume que “a excelên-cia é o caminho a seguir”, assente na estrutura sedimentada ao longo dos

O rápido crescimento do conheci-mento médico, aliado à obrigatorie-dade da experiência na abordagem de certo tipo de patologias, como condição para garantir a qualidade, tem levado à necessidade dos inter-nistas aliarem à sua formação gene-ralista uma certa diferenciação. Nes-te contexto, a partir dos anos 90, no seio da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna surgiram múltiplos núcleos de estudo que reuniram, à volta de um tema, patologia ou gru-po de patologias, os internistas mais dedicados ao seu estudo e tratamen-

25 anos de existência do núcleo, que tem como principal cartão de visita “a única Consulta de Doenças Autoimu-nes, com expressão em todo o país, de diagnóstico e tratamento de doen-tes que manifestam este tipo de pato-logias”.

Autoimunidade é ainda um conceito que provoca assombro entre a socie-dade, apesar de ser um processo na-tural do organismo. Explicitamente, o objeto de estudo do NEDAI consiste na desregulação do sistema imunitá-rio que induz doença, isto é, a autoi-munidade patológica com manifesta-

O NEDAI estabelece como uma das prioridades do seu programa de ação, o reconhecimento efetivo da dimensão do envolvimento dos internistas portugueses no tratamento dos doentes com patologias autoimunes. António Marinho, coordenador nacional, narra a evolução do núcleo ao longo dos 25 anos e revela os desafios que perspetivam o futuro desta área.

25 anos a estudar a autoimunidade em Portugal

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SaúdeNEDAI 11

Abr2017

Os desafios do presente

Ao celebrar 25 anos de existência, o Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes enfrenta uma série de desafios que configuram um caráter decisivo no que diz respeito ao futu-ro da área. António Marinho enu-mera os quatro principais fatores que perspetivam o futuro do NEDAI e das doenças autoimunes em Por-tugal.

O primeiro grande desafio prende--se com a necessidade de criação de Centros de Excelência diferenciados em patologias muito específicas. Os aspetos financeiros, funcionais e or-ganizacionais são barreiras ineren-tes. No entanto, segundo o especia-lista o NEDAI assume este como um “grande objetivo a concretizar o mais breve possível”.

A formação integra o segundo de-safio que passa pela acreditação da consulta e pela certificação das com-petências dos internistas nesta área. “Temos planos de formação, mas que podem esbarrar nas questões le-gais. Estamos num ponto de decisão e deve haver, acima de tudo, bom senso para se chegar a um consenti-mento que permita identificar e cre-dibilizar os profissionais desta área. É um desafio muito grande porque será, no âmbito da Medicina Inter-na, o NEDAI que ditará se determi-nado médico tem competência para trabalhar nesta área”, explica Antó-nio Marinho.

O registo dos doentes tem sido o desafio constante do núcleo de estu-dos. As terapêuticas são mais caras, exclusivas e inovadoras e, por isso, o registo é fundamental para justifi-car o custo. “São cada vez mais os doentes registados e temos a nossa própria base de dados, a única den-tro da Sociedade Portuguesa de Me-dicina Interna, que inclui cerca de nove mil doentes”.

O quarto e último desafio está re-lacionado com os estudos multicên-tricos promovidos pela indústria far-macêutica nos quais o NEDAI é par-ticipante assíduo em ensaios sobre as doenças imunomediadas. “Têm surgido muitos estágios e muita for-mação que são conseguidas por es-

ções inflamatórias ou através de imu-nodeficiências. “Esta desregulação do sistema imune pode provocar dificul-dades em combater infeções peque-nas ou até fatais, processos inflamató-rios crónicos persistentes que podem provocar danos nos órgãos ou nos sistemas”, explica o especialista. A lis-ta de doenças autoimunes é, portan-to, extensa com diferentes sintomas, características e manifestações clíni-cas, mas com um problema transver-sal:   o sistema imunitário fica deso-rientado, atacando o próprio corpo e os órgãos que deveria proteger origi-nando patologias sistémicas, nomea-damente Alopecia Areata, Artrite Reumatóide, Cardiomiopatia Dilata-da, Doença Celíaca, Doença de Ch-ron, Esclerose Múltipla, Lupus Erite-matoso Sistémico, Psoríase, Tiroidite Autoimune, entre outras.

Dada a abrangência das doenças autoimunes, o conceito multidiscipli-nar é essencial no tratamento e acom-panhamento dos doentes que pos-suem estas patologias. Para António Marinho, “a porta de entrada deve ser a Medicina Interna, em que os inter-nistas assumem o papel de gestor do doente, que depois solicita as subes-pecialidades nos casos que necessi-tam de uma técnica ou terapêutica di-ferenciada num determinado aspeto”. Neste sentido, a abordagem geral e multidisciplinar do doente é funda-mental dado que a autoimunidade afe-ta vários órgãos e sistemas. “É preci-so que estas doenças crónicas sejam reconhecidas cada vez mais. Se o pú-blico em geral e os médicos de famí-lia  estiverem mais informados, estas doenças poderão ser diagnosticadas mais  precocemente e melhor trata-das”, assevera.

Corrigir as deficiências geradas no organismo é muito importante no tra-tamento destas patologias crónicas. É o que acontece ao tratar as tiroidites com suplementos de hormona tiroi-deia ou a Diabetes tipo 1 com insuli-na. É igualmente importante reduzir a inflamação com fármacos imunomo-deladores: imunossupressores e far-mácos biotecnológicos, que atuam so-bre o sistema imune. No entanto, o internista alerta para a problemática do custo dos medicamentos, que limi-

sas vias de financiamento. A minha função como coordenador nacional é captar os centros para a participa-ção nestes estudos”, revela o inter-nista, indicando que de momento os centros do NEDAI estão envolvidos em cerca de 15 ensaios na área do Lúpus e na área da Artrite Reuma-tóide e, ainda, num processo de re-classificação das patologias autoi-munes sistémicas com base no seu mecanismo, um gigante consórcio Europeu chamado PRECISADS.

Congresso Nacional e Reunião Anual do NEDAI

De 13 a 15 de abril, na Fundação Champalimaud, decorrerá o V Na-tional Congress on Autoimmunity e a XXIII NEDAI Anual Meeting que consiste no encontro por excelência que reúne os profissionais dedicados a esta área de estudos. “Ao contrá-rio das últimas edições transversais ao tema da Autoimunidade, o con-gresso deste ano será monotemáti-co sobre Lúpus porque é a doença que, nos últimos tempos, tem tido uma evolução do ponto de vista da sua patogénese e da sua terapêuti-ca. Achamos importante focar neste tema, que deve ser mais divulgado e acompanhado por internistas espe-cializados”, assevera o especialista.

O evento, presidido pela Prof. Doutora Francisca Moraes Fontes, contará com a presença de investi-gadores nacionais e internacionais de várias áreas que abordarão temas essenciais relacionados com o mote central do congresso. António Mari-nho, coordenador nacional do NE-DAI, garante que “o evento tem por base um programa eclético num lo-cal de prestígio para as Ciências e que abordará um tema nobre, trans-versal a várias especialidades e de-batido por um elenco de luxo”.

ta o acesso equitativo dos doentes aos tratamentos, algo que “tem tendên-cia para se agravar na próxima déca-da”.

Formação e Investigação

No âmbito da autoimunidade, há a necessidade de uma maior colabora-ção entre os doentes, a socieda-de,  os investigadores e os clínicos. E, sendo assim, a investigação po-derá ajudar a tratar  a causa das doenças autoimunes em vez de só tratar os seus sintomas ou complica-ções.

Todos os centros com consultas de doenças autoimunes com faculdades associadas têm alunos em formação académica básica e avançada nesta área, permitindo que internos e re-cém-especialistas se diferenciem nu-ma subespecialização no âmbito da Medicina Interna. O NEDAI tem de-sempenhado um papel crucial na promoção de estágios, deslocações e formações específicas na aquisi-ção de novas técnicas. “Isto não se prende apenas com a responsabili-dade moral do núcleo, mas pelo que representa termos profissionais ca-da vez mais diferenciados na nossa área que o NEDAI tem o orgulho de poder levar a apresentações de tra-balhos fora do país” (o ano passado cerca de 30 internos tiveram a opor-tunidade de participar em eventos internacionais), afirma o coordena-dor nacional, evidenciando a impor-tância de capitalizar uma parte fi-nanceira significativa na formação e capacitação dos centros e dos pro-fissionais que neles exercem as prá-ticas clínicas.

A formação e investigação são, assim, dois pilares sólidos e funda-mentais do núcleo de estudos coor-denado por António Marinho. Pro-va disso é a atribuição anual de dois prémios de dez mil euros no âmbito da investigação académica e de uma bolsa de investigação de igual valor. “Desde há 10 anos que temos tido sempre concorrentes aos prémios e, consequentemente, vencedores com muito mérito pelos resultados apre-sentados”, assegura.

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Saúde Associação Pediátrica Santarém e Médio-Tejo12

Abr2017

A Pediatria é um conceito “que não chega a ter dois séculos de história”. O primeiro hospital pediátrico surgiu em França, em meados do século XIX. Em Portugal foi a Rainha D. Estefânia, esposa do Rei D. Pedro V que, sensi-bilizada com as mortes provocadas pe-las epidemias que roubavam a vida a centenas de crianças, ofereceu o seu dote de casamento para a construção de um hospital inaugurado em 1860, o Hospital D. Estefânia.

Só em meados do século XIX se co-meça a olhar para a criança como pessoa individual que carece de cuida-dos diferenciados e, apenas no século

mento materno diminuiu. As fórmulas alternativas eram desequilibradas, con-tribuindo para o aumento da mortalida-de e morbilidade infantil. Até que, há cerca de 50 anos, a comunidade cientí-fica na área da Pediatria se apercebeu da extrema importância do estímulo ao aleitamento materno como forma de re-verter esta situação. “O desenvolvimen-to das sociedades só depende do bem--estar das crianças. Sem crianças saudá-veis – nos aspeto biológico, psicológico e educativo – não conseguimos nada”, foca a Dra. Aldina Lopes. Assim, a preocupação com as questões hospita-lares deve ser proporcional à preocupa-ção com o convívio e com o “saber ou-vir” a criança. Esta é uma das missões que a Associação Pediátrica Santarém e Médio-Tejo abraça.

Numa sociedade global que, em pouco mais de cinco décadas, sofreu alterações comportamentais brutais os nossos intervenientes realçam que as crianças são hoje excessivamente “mi-madas” e beneficiárias de uma aten-ção que compromete o seu desenvol-vimento saudável em todas as esferas acima descriminadas. Falamos, a título de exemplo, de valores assustadores de obesidade da população portugue-sa que já se manifestam na infância muito por via da incapacidade de os pais educarem, corretamente, para a saúde.

Associação Pediátrica Santarém e Médio-Tejo

Conscientes desta realidade que se ex-pande a todo o território num escala global, a visão agregadora das equipas de Pediatria do Centro Hospitalar do Médio-Tejo (Hospitais de Torres Novas, Abrantes e Tomar) e do Hospital de

Santarém deu origem à Associação Pe-diátrica Santarém e Médio-Tejo.

Criada em 2016, a Associação tem levado a cabo uma série de ações, ten-do já muito planos em mente. Com o seu foco numa fatia populacional de cerca de 500 mil habitantes, um quin-to destes cidadãos têm idades inferio-res aos 18 anos. Quem nos fala deste projeto são os pediatras Dra. Aldina Lopes, Dra. Alexandra Gavino e Dr. Aníbal Sousa.

Os objetivos estatutários da Associa-ção preveem promover o intercâmbio de conhecimentos técnicos e científicos; contribuir para o desenvolvimento da educação, informação e prevenção da saúde da criança e do adolescente; apoiar a manutenção de bibliotecas de Pediatria e promover congressos, coló-quios, entre outros eventos científicos; cooperar com entidades públicas e pri-vadas ligadas à Pediatria; aplicar (caso haja) donativos de beneméritos com o seu objetivo explicitado; e promover o Prémio Ribatejo.

A 3 e 4 de março de 2016 decorre-ram, em Torres Novas, as I Jornadas de Pediatria Santarém e Médio-Tejo “Do recém-nascido ao adolescente – o que importa saber”. O evento acolheu 186 participantes e visou a apresenta-ção de novidades sempre com o foco na atualização dos conhecimentos dis-cutidos em várias mesas. No primeiro dias as jornadas mantêm uma estrutu-ra assente em três temáticas “o re-cém-nascido e o lactente; a criança; o adolescente”. Já o segundo dia é dedi-cado à ligação da Pediatria com os cuidados de saúde primários, nomea-damente a Medicina Geral e Familiar.

Este ano as II Jornadas de Pediatria Santarém e Médio-Tejo “Do recém--nascido ao adolescente – o que im-porta saber” vão ter lugar nos dias 25 e 26 de maio, em Santarém, no Con-vento de São Francisco, dando conti-nuidade ao que se pretende ser um es-paço de discussão multidisciplinar e abrangente.

Se no primeiro dia o público-alvo são todos os profissionais ligados à saúde in-fantil, desde médicos de MGF, pedia-tras, enfermeiros, a internos; no segun-do dia, a ligação aos cuidados de saúde primários tem lugar de destaque, atra-

passado, a Academia Científica decla-ra que a criança tem fisiopatologias e desenvolvimento próprios, que são necessários conhecer.

Hoje, a Pediatria é a ciência do de-senvolvimento que contempla a fase pré-concecional até ao final do desen-volvimento do indivíduo. Em Portugal, desde 2010, a Pediatria abrange to-dos os indivíduos dos 0 aos 18 anos.

A complexidade do sercom o surgimento da era industrial e o

movimento feminista, as mães começa-ram a trabalhar e a prática do aleita-

A Associação Pediátrica Santarém e Médio-Tejo é um exemplo de união fora dos grandes Centros. Já nos dias 25 e 26 de maio vão ter lugar, em Santarém, as II Jornadas de Pediatria Santarém e Médio-Tejo "Do recém-nascido ao adolescente – o que importa saber".

O desenvolvimento das sociedades só depende do bem-estar das crianças

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SaúdeAssociação Pediátrica Santarém e Médio-Tejo 13

Abr2017

permite controlar a ocorrência, caso contrário abre caminho a um nicho da população desintegrada, que vai pade-cer de perturbações e com insucesso es-colar.

“O efeito da televisão, da internet e dos telemóveis induzem alterações nos hábitos da criança e do adolescente. Os transtornos mais comuns prendem-se com alterações de sono, maior taxa de reações violentas e agressividade, assim como problemas de concentração e an-siedade”, intervem a Dra. Aldina Lopes.

Em final de conversa a Dra. Alexan-dra Gavino mostra-se esperançosa no futuro da Pediatria, no Ribatejo e em Portugal: “Temos uma neonatologia fantástica, uma preocupação com o desenvolvimento da criança enorme, por isso com a ajuda de mais recursos

vés da escolha matérias de debate que façam ainda mais sentido na interliga-ção entre o cuidado hospitalar e o am-bulatório, prestado no centro de saúde.

Sob o lema “Do recém-nascido ao adolescente – o que importa saber” as Jornadas de Pediatria Santarém e Mé-dio-Tejo, afirmam-se como um espaço de discussão abrangente e multidiscipli-nar, que conta com a participação não só da Pediatria, mas também de outras especialidades como a Neonatologia, a Pedopsiquiatria, a Cardiologia Pediátri-ca, a Ortopedia, por exemplo.

Com a pretensão de levar as Jor-nadas a todas as cidades que aco-lhem os Hospitais de Santarém e Médio-Tejo ambiciona-se transmitir a ideia da unificação do distrito em torno da temática dos cuidados de saúde infantil.

Aliás, a Dra. Aldina Lopes realça que o impacto destas jornadas não se deno-ta unicamente no seio da classe dos pro-fissionais de saúde: “O facto de envolver os municípios que comparticipam, atra-vés da cedência dos espaços e da comu-nicação do evento, representa um alerta para a sociedade civil do Ribatejo. É im-portante que os cidadãos sintam que existem profissionais de saúde preocu-pados com a saúde das crianças”.

Importância da pediatriaOs pediatras e os enfermeiros da

área da Pediatria são profissionais “ca-pazes e fundamentais” na resolução e orientação da doença, física e com-portamental, na criança. Nesse senti-

na adolescência, poderemos ter adul-tos jovens saudáveis e ativos”.

do, a Associação Pediátrica Santarém e Médio-Tejo procura sensibilizar os organizamos oficiais para a carência destes profissionais no Ribatejo. “A nossa missão é dar a conhecer a Pe-diatria à região da Lezíria e Médio Te-jo, o esforço que estes profissionais fa-zem diariamente em prol das nossas crianças e adolescentes; numa visão holística da Pediatria, chamamos ou-tros profissionais a esta grande aven-tura de formar jovens mais saudáveis física e psicologicamente, com vista a alcançar uma sociedade mais evoluída no futuro”, realça o Dr Aníbal Sousa.

O especialista não deixa de fazer uma análise sobre as exigências e as principais lacunas sentidas dentro da especialidade na região de Santarém e Médio-Tejo, destacando de forma pe-rentória a falta de recursos humanos: “Se não surgirem incentivos para a deslocalização de jovens especialistas para a periferia, em cinco anos corre-mos o risco de uma percentagem con-siderável de hospitais distritais baixar drasticamente os seus números”.

Com a integração do grupo etário dos adolescentes (14-18 anos) na esfera da Pediatria, os hospitais de Santarém e Médio-Tejo verificam um preocupante volume de casos encaminhados pelos centros de saúde para a área do desen-volvimento: “Falamos de problemas de insucesso escolar, desenvolvimento e comportamento”. Dentro dos proble-mas detetados, a hiperatividade surge como uma das grandes perturbações da área do desenvolvimento. A sua dete-ção precoce e respetivo tratamento,

Prémio RibatejoDesde a primeira edição o Prémio

Ribatejo é um espaço direcionado aos internos da especialidade que pretendam nas II Jornadas de Pedia-tria Santarém e Médio-Tejo “Do re-cém-nascido ao adolescente – o que importa saber”apresentar os seus trabalhos científicos. No balanço das I Jornadas, a Dra. Alexandra Gavino realça que muitos destes trabalhos científicos vieram promover a interli-gação entre os serviços de pediatria dos hospitais do distrito para uma maior compreensão da realidade do distrito por todos os pares.

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Saúde GFS — Serviços Médicos do Coração14

Abr2017

Projeto criado e liderado pela Dra. Maria Graça Ferreira da Silva, a GFS — Serviços Médicos do Coração reve-la-se um espaço de Saúde onde o su-perior interesse de todos os profissio-nais envolvidos está na prestação de cuidados de saúde de qualidade e alta-mente personalizados. A organização administrativa da Clínica assenta num elevado grau de seriedade apresenta-do por toda a equipa médica e assis-tentes operacionais.

No contexto atual, em que o “país económico” padece de apoio, é de louvar a presença, fora dos grandes centros, de clínicas preparadas para acolher casos das mais variadas espe-cialidades, diagnosticando e orientan-do médicos de família e utentes.

Numa rápida análise ao mapa hospi-talar português é premente a necessi-dade “que as pessoas tenham a opor-tunidade de, perto da sua área de resi-dência, recorrerem a espaços de saú-

vascular para a prática desportiva, assunto, frequente, na ordem do dia e que “na idade pediátrica se apre-senta com maior acuidade compara-tivamente com a idade adulta”, ob-serva a Dra. Conceição Trigo.

As cardiopatias congénitas são pa-tologias relativamente frequentes. “Oito em cada 1000 recém-nascidos sofre de cardiopatia congénita, mas desse número só alguns terão neces-sidade de tratamentos mais comple-xos”, explica a especialista. Porém, a doença cardíaca pediátrica não se restringe às doenças mal formativas. A cardiologista explica que estas “abrangem também doenças do mio-cárdio, quer sejam sistémicas, gené-ticas ou neuromusculares, que a da-da altura comprometem também o músculo cardíaco”. Comuns são também as arritmias que, na idade pediátrica, devem ser avaliadas com rigor. Finalmente, falamos da pre-venção, “temática de enorme impor-tância na idade pediátrica, dado que na infância se podem detetar distúr-bios e tentar incutir ou modificar há-bitos de vida de forma a originar adultos saudáveis”.

Mas o que difere a ação da GFS — Serviços Médicos do Coração? É a di-ferenciação na abordagem relativa-mente ao tratamento dos doentes e à relação com a Medicina Geral e Fami-lar (MGF).

Ao GFS — Serviços Médicos do Coração chegam muitos pedidos de exame solicitados pelos médicos de família. Os profissionais da Clínica procuram, na realização do exame, “imaginando que se deteta uma ano-malia”, entrar desde o início em diá-logo com o médico de família”.

Ao  fazer o diagnóstico, é redigido um relatório explicativo que segue em carta endossada ao médico de MGF, numa atitude de proatividade entre profissionais de saúde. A Dra. Conceição Trigo realça que “as doenças cardíacas congénitas são um tema sensível; uma grande parte dos médicos de família não recebeu qualquer tipo de formação específica nessa área, porque não têm no seu esquema formativo uma passagem obrigatória pela Cardiologia Pediá-trica”. Assim, para além do relató-rio, em caso de deteção de alguma anomalia, “é efetuado um contacto (mesmo que seja por carta) com o médico de família para conversar-mos de outra maneira, ficando de imediato a equipa à disposição para prestar qualquer esclarecimento, através de todos os meios de contac-tos existentes, de modo a garantir o melhor cuidado para o paciente”. Nesta atitude de abertura e de gran-de diálogo gera-se uma forte ligação entre a comunidade da clínica com a comunidade da MGF e das outras es-pecialidades de saúde familiares que em muito beneficia os utentes.

Mas a GFS — Serviços Médicos do Coração não fica por aqui. O seu pa-pel de intervenção social alarga-se a um esquema de sessões clínicas com os médicos de família da região para discussão de temas científicos sobre todas as especialidades médicas da Clínica. No caso específico da Cardio-logia Pediátrica, a nossa interlocutora informa que, em 2016, decorreu a primeira reunião dedicada à Cardiolo-gia Pediátrica: “Foram abordados te-mas de interesse na área, sopro ino-cente (causa mais frequente de refe-rência), sinais e sintomas de doença cardíaca na idade pediátrica, revisão dos principais aspectos da ecocardio-grafia. Para o ano de 2017 estão agendadas novas iniciativas com espe-cial enfoque no diagnóstico pré-natal, risco cardiovascular e avaliação para a prática desportiva”, conclui.

de onde possa ser feita a primeira abordagem, o diagnóstico e a conse-quente orientação médica”. Em San-tarém isso acontece com o serviço que a GFS — Serviços Médicos do Cora-ção disponibiliza à população.

Estivemos à conversa com a car-diologista Conceição Trigo que nos falou da abordagem à Cardiologia Pediátrica e da transversalidade dos cuidados nas diferentes idades, para os vários assuntos e tipos de patolo-gia que possam surgir. A ação inter-ventiva deste espaço, situado em Santarém, procura, em parceria com as três especialistas em Cardio-logia Pediátrica, abordar de modo transversal os assuntos relacionados com a especialidade, iniciada com os cuidados prenatais. Ali são realiza-dos o diagnóstico pré-natal de doen-ças cardíacas, todos os exames não invasivos aplicáveis à idade pediátri-ca, assim como a avaliação cardio-

O Perspetivas busca na sua missão informativa dar voz a projetos que revelam a excelência da prática em múltiplas áreas. No caso da Saúde, apresentamos-lhe a GFS — Serviços Médicos do Coração, que desde a sua constituição, em 1997, se apresenta uma referência no diagnóstico e tratamento das doenças do coração, no Centro do país.

Desde o primeiro dia de vida ao serviço do coração

www.gfscoracao.pt

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Saúde Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses16

Abr2017

Em conversa com Mercedes Bilbao, presidente da AESOP e Anabela Mada-leno, vogal da direção nacional, come-çámos por abordar os motivos que culminaram com a criação da AESOP, em 1986: a falta de formação especí-fica à data, aliada a “uma enfermagem pouco autónoma” estiveram na géne-se de uma organização que, no decor-rer dos 31 anos de atividade, tem con-tribuído para o desenvolvimento e valo-rização da enfermagem perioperatória e para a qualidade e segurança dos cui-dados prestados ao doente em contexto perioperatório.

Neste contexto, o papel das Associa-ções congéneres, de vários países da Europa, revelou-se um veículo impulsio-nador para que em Portugal se consti-

la AESOP, que integrava também ou-tros profissionais de saúde. Desta forma determinamos as recomendações e o nível de qualidade e segurança a ter em conta em todos os blocos operató-rios”, contextualiza a presidente. Con-sequentemente, face a esta metodologia estabeleceu-se um padrão de qualidade em todo o país que garantia um nível se-guro de resposta às necessidades em cuidados de enfermagem perioperató-rios à população.

Paralelamente, no decorrer da sua ati-vidade, a AESOP emite pareceres e as-sume tomadas de posição acerca de múltiplas áreas que considera serem im-portantes e problemáticas no exercício de cidadania ativa enquanto profissio-nais de saúde. Com o intuito de exem-plificar o posicionamento face a estes conteúdos, são-nos dados dois exem-plos significativos. Uma das tomadas de posição diz respeito à “gestão da despe-sa e redução de desperdícios no Bloco Operatório”, nos primórdios da crise em 2011. Neste âmbito, o objetivo pri-mordial prende-se com a implementa-ção de medidas, tendo em conta a ma-nutenção ou melhoria do valor dos cuidados prestados “através da rela-ção entre a qualidade dos serviços prestados e os recursos investidos”, informam. No segundo exemplo, to-ma posição sobre as “Dotações Seguras em ambiente perioperatório”, tendo co-mo premissa garantir a qualidade dos cuidados, adequando o número e a qua-lificação de enfermeiros às necessidades da pessoa enquanto doente cirúrgico, “pois permitia aos enfermeiros gestores e respetivas instituições de saúde calcu-lar e fundamentar, com segurança, o nú-mero de enfermeiros necessários para prestar cuidados de qualidade à popula-ção”, revelam.

A excelente performance da AESOP reflete-se também no número de parce-rias estabelecidas. A nível nacional des-tacam-se, entre várias, a mais recente parceria com SPMS (Serviços Partilha-

dos do Ministério da Saúde) para a “in-formatização de registos clínicos no bloco operatório e de cirurgia de am-bulatório” e com o IPQ (Instituto Por-tuguês da Qualidade) na elaboração de normas para o reprocessamento de dispositivos médicos. Ainda em 2015, integra o Grupo de Trabalho do Minis-tério da Saúde que publica o Relatório de Avaliação da situação nacional dos Bloco Operatórios, com os objetivos de: proceder à avaliação da situação nacio-nal dos Blocos Operatórios em Portu-gal continental, caracterizar os blocos operatórios quanto à sua capacidade física, recursos humanos, produção e qualidade; analisar comparativamente as diferenças de optimização do BO; identificar os principais desajustamen-tos, bem como, propor medidas com vista à melhoria global do funcionamen-to

Em termos internacionais, o destaque recai sobre a EORNA (European Ope-rating Room Nurses Association) asso-ciação de enfermeiros perioperatórios dos diferentes países da Europa. Desde a sua fundação, a AESOP integra esta organização para definir competências e padrões de qualidade europeus. Com a intenção de promover debates relati-vos a assuntos atuais, a EORNA estabe-lece desde há 12 anos, temas anuais a serem debatidos no Dia Europeu dos Enfermeiros Perioperatórios (EPND) que se comemora no dia 15 de feve-reiro. Este ano, o foco incidiu sobre “a exposição ao fumo cirúrgico como ris-co profissional“. Será publicada pela AESOP a prática recomendada alusi-va a este problema, “sendo já reco-nhecido como um risco profissional que tem de ser prevenido e tratado”, afir-mam. Para esta comemoração a AE-SOP realizou um filme científico, envia-do para todos os blocos operatórios, com o qual se desenvolveu uma ação formativa e alerta para a problemática a nível nacional, envolvendo 55 hospitais em 20 distritos.

tuísse uma organização nesta vertente. A determinação em prol de um objetivo comum (potencializar a enfermagem es-pecializada no perioperatório, inexisten-te em Portugal) foi essencial: “Era ur-gente formar profissionais que, à data, estavam pouco preparados para o am-biente perioperatório. Ao longo dos seus percursos profissionais necessita-vam que a formação e competências fossem desenvolvidas”, indica Mercedes Bilbao. Posto isto, as enfermeiras Luísa Canto e Castro e Joana Araújo Simões (provenientes, na altura, do Hospital de St. Maria) e Maria José Dias Pinheiro (em funções no Hospital Dr. José de Al-meida), entre outras, fundam a AESOP.

A consciencialização em “operar co-mo um grupo” tornou-se percetível e, fazendo uma alusão ao primeiro Con-gresso realizado, as nossas interlocuto-ras referem como a AESOP percecio-na, naquele momento, “a dimensão do número de enfermeiros e os problemas comuns”, sendo que “juntos podería-mos ultrapassar as adversidades essen-ciais, relativas à formação e ao reconhe-cimento das competências únicas en-quanto especialidade clínica em enfer-magem”, consideram.

As Práticas Recomendadas para o Bloco Operatório são também uma questão sob o domínio da AESOP: “Co-meçaram a ser construídas e publicadas, fruto do trabalho de equipa liderada pe-

Fundada em 1986, a Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses (AESOP) é uma organização que tem como objetivo promover a melhoria dos cuidados de saúde no âmbito do bloco operatório (BO), ao mesmo tempo que organiza e promove formação profissional nessa área de cuidados. A Associação é responsável, para além da organização de fóruns, congressos e workshops onde se discutem temáticas relativas à atualidade, pela edição de uma revista e pela publicação de Práticas Recomendadas para o bloco operatório. De salientar, a responsabilidade pelo processo de reconhecimento da especialidade clínica em Enfermagem Perioperatória pela Ordem dos Enfermeiros, desde a sua fundação, mas que continua por regulamentar desde 2015.

Formação e reconhecimento da Enfermagem Perioperatória enquanto especialidade clínica

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SaúdeAssociação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses 17

Abr2017

prestado ao utente é o culminar de toda a ação. Deste modo, quando as pessoas se deslocam ao Hospital é fulcral que o mesmo esteja organizado para satisfa-zer as necessidades dos doentes. “O im-pacto é notório em todas as organiza-ções de saúde onde o Lean está imple-mentado, porque entendemos todo o processo cirúrgico do doente, sem er-ros, desperdícios ou paragens. O resul-tado final baseia-se na eficácia e garanti-da de qualidade”, acreditam. Ainda so-bre esta temática, dá-se o exemplo da Dinamarca, em que a administração pú-blica adotou esta metodologia, como meio preferencial para a redução do desperdício e a melhoria da performan-ce do sistema de saúde.

No tema da Liderança e Motivação na Gestão de Equipas, o objetivo central diz respeito ao incentivo, ânimo e estímulo das equipas que desenvolvem a prática clínica. Cláudia Telles de Freitas e Pedro Melo, através de um discurso motivacio-nal e com o exemplo metafórico de uma organização com moldes “idênticos” aos do Bloco Operatório foram de-monstrando o modo como as abelhas de uma colmeia operam em redor de um objetivo. No domínio hospitalar, o objetivo “ou centro das atenções” é o doente: elemento no qual a equipa se saúde se organiza para a prestação de serviços e cuidados de excelência.

Por último, o Fórum teve ainda espa-ço para cinco workshops e uma tertúlia relativa à Enfermagem em Cirurgia de Ambulatório. Estiveram presentes pro-fissionais de dez unidades de cirurgia de ambulatório e, por intermédio de uma análise SWOT, fizeram uma demonstra-ção da organização da unidade e parti-lharam o seu modo de funcionamento.

Problemas na regulamentação de Especialidade Clínica de Enfermagem Perioperatória

O assunto mais caro à AESOP, a es-pecialidade clínica de Enfermagem Perioperatória, mantem-se presente ao longo de varias décadas. Foi reco-nhecida pela Ordem dos Enfermeiros, no ano de 2015, após 29 anos de lu-ta e trabalhos incessantes desta asso-ciação, mas continua hoje por regula-mentar. Os esforços realizados em tor-no da operacionalização deste proces-

“Otimizar sem descuidar…”Nos dias 24 e 25 de março de 2017,

realizou-se, em parceria com o Centro Hospitalar de Setúbal, o 4.º Fórum Na-cional de Bloco Operatório com o tema “Otimizar sem descuidar”. Estes encon-tros bianuais, são eventos multidiscipli-nares que procuram debater temas da atualidade. Este ano o Fórum contou com cerca de 300 participantes e de-senvolveu-se a partir de três enunciados: Lista de verificação de segurança cirúr-gica; Eficiência no BO – Filosofia Lean da Indústria para a Saúde; Liderança e Motivação na Gestão das Equipas.

A Lista de verificação de segurança ci-rúrgica, implementada no mundo e em Portugal desde 2009, aqui com grande impulso inicial e sustentado ao longo dos anos pela AESOP, transporta consi-go inúmeros benefícios na área da segu-rança do doente cirúrgico, nomeada-mente na “prevenção de eventos ad-versos”, como nos refere Mercedes Bilbao. Em Portugal decidiu-se que, para haver obrigatoriedade, a lista te-ria de ter um apoio informatizado. Além da informatização, a DGS (Dire-ção Geral de Saúde) percebeu que, da-qui, retiraria alguns indicadores de saú-de inexistentes ou deficitária noutras áreas. Em suma, a presidente da AE-SOP alerta, além de validar as verifica-ções de segurança e de prevenção de complicações relacionadas com o pro-cedimento cirúrgico, para o “potencial de recolha de informação associada a esta lista, algo importante para definir

so (reconhecimento dos primeiros Enfermeiros Especialistas em Enfer-magem Perioperatória) continuam a ser uma prioridade para a AESOP. “Sem a regulamentação, não há en-fermeiros especialistas e continuamos com a mesma dificuldade em garantir a qualidade dos cuidados de enferma-gem, 24h por dia, em todos os Blocos Operatórios, que pretendemos que se-jam de excelência e sem riscos para o doente”, enfatizam. “Sem regulamen-tação, quem pode garantir de forma sistemática, que os profissionais de enfermagem a desempenhar funções no âmbito do Bloco Operatório, tem a competência necessária, de forma a prestar cuidados com o nível de quali-dade dos cuidados de saúde que a po-pulação espera de nós?”.

Neste âmbito e como forma de dar resposta, uma vez mais às dificuldades existentes no desempenho dos Enfer-meiros em contexto perioperatórios, a AESOP resolveu iniciar uma campa-nha de angariação de sócios sob o le-ma: “Criar uma comunidade de Enfer-meiros Perioperatórios - Tornar cada Enfermeiros Perioperatório (EPO) num sócio”. O objetivo é agregar mais associados a uma causa comum, que reduza o isolamento e reforce laços profissionais entre os enfermeiros pe-rioperatórios. “Acreditamos que só unidos e trabalhando juntos, teremos a força necessária para garantir uma prática profissional segura e de exce-lência. O desenvolvimento da nossa especialidade clínica começa com o empenho de cada um, participando nos projetos catalisados pela AESOP e trazendo outros enfermeiros para esta comunidade”, concluem.

benchmarking e melhoria dos critérios de segurança cirúrgica”, acrescenta.

A metodologia Lean como uma filo-sofia de gestão inspirada na indústria automóvel no Japão, no pós-guerra, foi na saúde aplicada, com a finalidade: fa-zer a coisa certa, no tempo certo, da forma certa, à pessoa certa! (Agency for Healthcare Research and Quality).

Nas últimas décadas, as organiza-ções de todos os setores têm utilizado este conceito para desenvolver resul-tados positivos e melhorar o potencial dos intervenientes. Em síntese, a fina-lidade é a de eliminar os desperdícios e aumentar a qualidade do produto fi-nal. Em Portugal, ainda não existem muitos Hospitais com projetos basea-dos nesta filosofia de trabalho, contu-do, mesmo no nosso país há organiza-ções hospitalares, como o Centro Hospitalar do Porto, que são um caso de sucesso. “Este exemplo demonstra--nos a necessidade em motivar as equipas a interiorizar esta filosofia e praticar a metodologia, como forma de criar valor, retirando desperdício e, por isso, sem aumento de custos. Pas-sa por conseguir olhar para os proces-sos em conjunto e no terreno, verifi-car onde se está a desperdiçar “ener-gia” e recursos, redesenhar processos e fluxos, para que tudo passe a funcio-nar com mais eficiência”, revela.

A motivação, a otimização dos pro-cessos e a satisfação dos utentes tem de estar sempre presente. Para as institui-ções que adotem esta filosofia, o serviço

ASSOCIAÇÃO DOS ENFERMEIROS DE SALA DE OPERAÇÕES

PORTUGUESES

www.aesop-enfermeiros.org

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Saúde Enfermagem do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra18

Abr2017

Em dezembro de 2011, o enfer-meiro António Marques assumiu o cargo principal da Direção de Enfer-magem do Centro Hospitalar Uni-versitário de Coimbra (CHUC) e de-parou-se com um universo de 2700 enfermeiros, inseridos em 95 servi-ços distintos das seis unidades que compõem o Centro Hospitalar – dois hospitais de adultos, um hospi-tal pediátrico, duas maternidades e um hospital psiquiátrico. “Com toda esta dimensão havia projetos e ini-ciativas muito interessantes nos ser-viços que achámos fundamental dar à luz para que os outros serviços co-nhecessem e pudessem apropriar--se, com as devidas adaptações”, re-vela António Marques.

No início da atividade como diretor de Enfermagem do CHUC, o nosso interlocutor rodeou-se de seis adjun-tos, atribuindo a cada um uma área de gestão: Estratégia, Cuidar, Quali-

aplicável, clarificador do escopo de ação dos enfermeiros e capaz de proporcionar direção e ferramentas específicas para um cuidar de eleva-da qualidade. Com uma visão clara do papel do enfermeiro no contexto hospitalar, a Direção de Enferma-gem do CHUC formou os seus pro-fissionais neste sentido, abordando quatro enquadramentos concetuais, que veio a divulgar também no livro recentemente publicado por aquela Direção «Tomada de decisão em En-fermagem no CHUC – O percurso da mudança». “O modelo de Meleis que aborda as transições que ocor-rem na vida das pessoas, com o in-tuito de objectivar a ação dos enfer-meiros no sentido de as ajudar a vi-verem as transições de forma saudá-vel, sobretudo a transição saúde-doença. O modelo de Orem, aborda os problemas de dependên-cia no autocuidado, proporcionando ferramentas para que os enfermeiros ajudem os doentes a gerir o seu au-tocuidado e o seu regime terapêuti-co, sendo capazes de dar respostas altamente diferenciadas nesta área que mais ninguém dá. O modelo de

Calgary permite estudar a família e providenciar ajuda para que encon-tre as melhores respostas aos pro-blemas para funcionar como suporte do doente, útil sobretudo na prepa-ração da alta para o domicílio. Por último, o modelo de Casey é mais utilizado na Pediatria e vê os pais co-mo verdadeiros parceiros, assim, o enfermeiro envolve-os nos cuidados, em função da sua vontade, desde a tomada de decisão à participação no processo de cuidar, desde os cuida-dos parentais aos cuidados de saú-de”, explica António Marques.

A partir destas teorias essenciais, promoveu-se a mudança de paradig-ma na Enfermagem do CHUC rumo à melhoria da qualidade dos cuida-dos, com resultados obtidos e com-provados, através de auditorias regu-lares e feedback aos gestores e pro-fissionais no sentido da introdução de medidas corretivas. Uma expe-riência formativa inovadora e pio-neira em todo o país.

A dinâmica recém-descrita só foi possível com o desenvolvimento concomitante dos projetos de siste-matização de cuidados, suportada

dade e Segurança, Pessoas, Desen-volvimentos Profissionais e Recursos Materiais. Posteriormente, António Marques definiu projetos prioritários para cada área. Por exemplo, na área do cuidar desenhou um progra-ma de caráter pioneiro e que apre-sentava um rumo operacionalizado por três projetos, da conceção de cuidados à sua sistematização e in-formatização, seguindo um caminho essencial para o incremento de uma melhoria da qualidade continuada na prestação de cuidados.

Com uma tradição formativa cen-tenária em Portugal, a Enfermagem tem sido orientada por um modelo biomédico, sendo que o desenvolvi-mento teórico e disciplinar próprio, que se esperaria viesse a emergir da teoria apreendida nas escolas e uni-versidades, não transmitiu um en-quadramento teórico que viesse a ser percepcionado como essencial,

António Marques, diretor de Enfermagem do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, implementou um extenso e pormenorizado plano estratégico que revolucionou o paradigma profissional dos enfermeiros desta unidade hospitalar, que se traduz num elevado nível de consecução dos objetivos propostos e dos ganhos obtidos.

O pioneiro percurso de mudança na Enfermagem de Coimbra

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SaúdeEnfermagem do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 19

Abr2017

Outros projetos estruturantes não têm a mesma possibilidade de tradu-ção em indicadores, à data, mas me-recem destaque, como “a sistemati-zação do regresso a casa dos doen-tes, dada a convicção de que o doen-te, em caso de dependência de cuidados, tem melhor qualidade de vida no seu ambiente do que numa unidade de cuidados continuados. Os enfermeiros conjugam sistemati-camente todos os ingredientes ne-cessários à decisão familiar de cuidar do doente em casa, diminuindo e ali-viando a dificuldade de cuidar de um doente dependente – capacitando multiprestadores de cuidados e mo-bilizando recursos de suporte à famí-lia na comunidade, por exemplo no âmbito da higiene e alimentação”.

Sessões bimestrais de Benchmarking

Como meio de integração inicial ao projeto de melhoria dos serviços de Enfermagem, iniciaram-se as reu-niões de benchmarking interno, que se traduziram em três livros com a publicação dos trabalhos apresenta-dos nestas reuniões. “Os serviços candidatavam-se com os seus proje-tos de excelência num formato pré definido por nós com a intencionali-dade de potenciar a partilha. Como cumpriram os objetivos, quais as es-tratégias, que dificuldades e resistên-cias encontraram, como contorna-ram as dificuldades, que resultados obtiveram, para que eventuais inte-ressados se pudessem apropriar des-tes trabalhos como exemplo e inspi-ração para desenvolverem um proje-to idêntico. Assim, todas as terceiras quartas-feiras de cada mês instaura-mos estas sessões (alternando com a divulgação de investigação). Como nem todos os 2700 enfermeiros vão às sessões, publicamos três livros, enviados aos serviços para que estes

por um sistema de informação faci-litador da qualidade da tomada de decisão clínica dos enfermeiros. Em apenas dois anos, todos os ser-viços de Enfermagem foram infor-matizados, acompanhando-se todo o processo de implementação de assessoria aos enfermeiros, audito-rias, criação e acompanhamento de indicadores automaticamente gerados, para que fosse possível promover a necessária reflexão so-bre a ação e a introdução das cita-das medidas corretivas, geradoras de melhoria da qualidade de cuida-dos.

Com todos os serviços de interna-mento informatizados, conforme o objetivo, procedeu-se à ampliação a contextos não planeados, como con-sultas e blocos operatórios. Além disso, esta medida permitiu produzir indicadores online para úlceras de pressão, quedas, ganhos em inde-pendência no autocuidado e no de-sempenho do papel dos prestadores de cuidados.

O acesso a estes indicadores pela Direção de Enfermagem e pelos en-fermeiros responsáveis de cada ser-viço, permitiu a sua utilização nos planos anuais e a sua avaliação em relatórios gerando novas melhorias. “Além disso, fizemos formação e ca-pacitação em liderança, inteligência emocional e metodologias de proje-to que têm ajudado a produzir resul-tados inequívocos nesses domínios. Por exemplo, podemos afirmar que no caso das úlceras de pressão tínha-mos uma taxa de incidência de 2.2% e agora temos 0.6%. Nas quedas a

possam revisitar os projetos”, expla-na António Marques.

Até agora realizaram-se 17 sessões de partilha de experiências bem-suce-didas, às quais assistiram 944 enfer-meiros, dos quais 91,6% as classifica-ram como boas ou muito boas. Estes fóruns geraram 17 normas ou proto-colos de orientação e 26 casos de in-corporação de novas práticas.

InvestigaçãoNo âmbito deste amplo projeto, a

Direção de Enfermagem do CHUC criou um Núcleo de Investigação, que conta com a colaboração de Unidades de investigação de escolas e universidades de todo o país e que tem como objetivo apoiar o desen-volvimento de estudos e projetos científicos no hospital. “Abrimos um concurso de investigação e recebe-mos mais de 30 candidaturas e as dez melhores foram alvo de uma orientação especial deste núcleo em articulação com a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. O pri-meiro classificado teve como prémio a dispensa da actividade no seu ser-viço para se dedicar exclusivamente à investigação durante um ano. A in-vestigação distinguida produziu um trabalho interessantíssimo no domí-nio dos ganhos de capacidade fun-cional dos doentes, pois mais de me-tade dos utentes apresentaram per-da funcional da baseline até a alta. Este projeto desenvolveu um estudo quase-experimental, comprovando os ganhos de capacidade funcional com um programa de cuidados cen-trado na funcionalidade. Isto deter-minou que, este ano, incorporemos no nosso plano de formação um cur-so específico de 18horas para capa-citar os enfermeiros neste sentido, permitindo recuperar a funcionalida-de dos doentes”, relata o diretor de Enfermagem do CHUC.

incidência rondava os 2.7% e agora temos 0.97%. Já no alívio da dor, a sua monitorização subiu de 71% pa-ra 85%”, indica António Marques.

Na componente de Processo apli-cou-se o modelo de Edwards De-ming, de melhoria contínua da quali-dade (recorrendo a uma check list de auditoria da DGS - Método de Ava-liação dos Cuidados de Enfermagem Hospitalares), com medição, intro-dução de medidas corretivas aos re-sultados alcançados, para voltar a medir e corrigir sucessivamente. Neste processo de avaliação, cada grelha de auditoria é aplicada e ob-tém-se um score de critérios atingi-dos e não atingidos, sendo depois elaborado um relatório dos serviços auditados para todo o hospital, com feedback aos enfermeiros-chefes da percentagem de sucesso, mas tam-bém das oportunidades de melhoria nos critérios não atingidos. “Neste processo de melhoria contínua esta-belecemos o limite de que nenhum serviço tivesse menos de 75% de cri-térios atingidos e definimos a meta de 90% como o nível de excelência. Quando começámos a medir tínha-mos 30 serviços (enfermarias) abai-xo dos 75% e neste momento temos zero. O serviço que tem um nível de qualidade mais baixo tem 76,8%. E os que tinham nível de excelência su-perior a 90% eram apenas cinco ser-viços e atualmente temos 31 acima desse valor. 68% dos serviços me-lhoraram o seu índice de qualidade e o índice global do CHUC evoluiu de 79% para 88,45%”, enumera o di-retor de Enfermagem do CHUC.

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Saúde Medicina Intensiva – Hospital da Universidade de Coimbra20

Abr2017

Rui Carrington da Costa reconhe-ceu, desde o início, como sendo pro-fundamente importante a existência de um Serviço de Reanimação nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), que a instituição acolheu e apoiou desde o primeiro momento.

Cerca do ano de 1958, o Prof. Dou-tor Antunes de Azevedo, docente da cadeira “Terapêutica Médica” na FMUC, tendo notícias de que existia uma epidemia de poliomielite nos paí-ses nórdicos, em que os doentes afeta-dos morrem por insuficiência respira-tória, manda comprar para o HUC um ventilador Engstrom - modelo 150 cujo fabrico em série tinha sido inicia-do em 1953.

Em janeiro de 1960 dá-se o início oficial do Serviço de Reanimação do HUC, com o primeiro internamento, no dia 29, de uma jovem mulher com

pessoal de enfermagem ao qual é exi-gida uma preparação especializada que lhes permita ser eficazes perante os variadíssimos problemas que lhes vão surgir”.

Homem de mente aberta e com uma visão à frente do seu tempo, Car-rington da Costa tinha já a consciência da necessidade que o doente crítico deve ter assistência imediata num cen-tro de referência. Em 1964, Carring-ton da Costa sonhou para a região Centro, e por certo extensível a todo o país, “uma drenagem rápida de doen-tes graves dos locais mais remotos, utilizando os helicópteros do exército tal como já se fazia em Paris, sob a di-reção do Prof. M. Cara”.

Em 1974 Carrington da Costa con-clui o seu doutoramento e é nomeado definitivamente diretor do Serviço de Reanimação dos HUC.

Em 1975 o Serviço participa nas re-uniões iniciais para a fundação da So-ciedade Portuguesa de Cuidados In-tensivos onde estavam presentes as fi-guras mais marcantes do país desta área.

Sabendo da importância da divulga-ção do trabalho realizado nesta área tão pouco conhecida, e tendo sempre em mente a obrigatoriedade de uma posição pedagógica, em outubro de 1978 tem início a organização das primeiras “Jornadas de Reanimação dos HUC” sob a forma de Simpósio Internacional, nesse ano sobre “Cho-que”, com publicação em livro das pa-lestras apresentadas. A organização destas jornadas continuou anual até 1995. Posteriormente só foi organiza-da a Jornada da comemoração dos 50 anos, em 2010.

Em 1980 foi dado início ao “Diag-nóstico de morte cerebral” que deram origem às primeiras colheitas de rins para transplante, que passam a ser ro-tina, continuando o CHUC, até aos dias de hoje no lugar cimeiro na doa-

ção de órgãos, e tendo atualmente co-mo Coordenador Hospitalar de Doa-ção o Dr. Armindo Simões.

Quando, em dezembro de 1983, e por razões de ordem pessoal, o Dr. Edward Richard Maul, chefe de servi-ço, sai do HUC e parte para o Fun-chal, cria lá um Serviço de Medicina Intensiva com o apoio da equipa do Serviço de Reanimação do HUC e muito especialmente do Dr. Armindo Rebelo, dirigido atualmente pelo Dr. Júlio Nóbrega.

A transferência do Serviço de Reani-mação para as instalações do novo edifício do HUC é feita em 1986. O Serviço crescia e a necessidade de preparar novos médicos era mais pre-mente. Os médicos existentes tinham--se dedicado em exclusividade, com grande esforço e dedicação ao Servi-ço, aprendendo com a pratica do dia a dia, tendo transitado de outras áreas para o Serviço de Reanimação, por-que a Instituição reconhecia o serviço prestado aos doentes graves ao longo dos anos. A necessidade de preparar novos médicos, que os havia, era pre-mente, mas havia um vazio legal, a to-dos os níveis.

De 1989 - 1994 o atual diretor do Serviço teve o privilégio de participar, regularmente, nos trabalhos do grupo “International Program for Chemical Safety” da Organização Mundial de Saúde.

Entre os anos de 1991 a 2000, o serviço passou a estar representado como membro do Council da Euro-pean Society of Intensive Care por

tétano pós-aborto, doença muito fre-quente na época. Por ironia só em 1962 se internaram os primeiros ca-sos de poliomielite. Desde o início do seu funcionamento o Prof. Dr. Antu-nes de Azevedo foi nomeado diretor de Serviço tendo sempre delegado to-das as funções em Dr. Carrington da Costa, que para além do trabalho clí-nico e académico, iria desenvolver o projeto do seu doutoramento. O Ser-viço era constituído, à data, por duas camas e dois ventiladores e todo o pessoal médico e de enfermagem era voluntário numa área completamente desconhecida nessa altura. “Não pos-so deixar de sublinhar a importância para a subsistência dos primeiros anos de José David Gomes (cirurgião) e Luis Cardoso d’Oliveira (mais tarde di-retor e professor da Cadeira de Pneu-mologia)”, refere o Dr. Jorge Pimen-tel, atual diretor do Serviço de Medici-na Intensiva.

Em 1964, após estágio de nove me-ses no Centro de Reanimação Respi-ratória do Hospital Claude Bernard, em Paris, Carrington da Costa publi-ca: “Reanimação Respiratória – su-gestão para a assistência no Centro do País”. Nele escrevia: “O conceito de reanimação alargou-se, evoluiu, ul-trapassou os limites da morte aparen-te, da recuperação de acidentados, es-tendeu-se a todos os ramos da medici-na, serviu a cirurgia… tornou-se vas-to, quase ilimitado…”, e firmava igualmente que era necessário “pes-soal médico bem treinado porque o estado dos doentes não se compadece com improvisações ou hesitações”. Igualmente importante é o papel do

A Medicina Intensiva (ou Reanimação como era inicialmente conhecida) é “uma disciplina que, graças a métodos apropriados de investigação, vigilância clínica e tratamento, permite assegurar o suporte das funções vitais, cuja falência ameaça a curto prazo a vida do doente e de que podemos esperar a reversibilidade”. (Maurice Rapin).

57 anos do Serviço de Medicina Intensiva em Coimbra

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SaúdeMedicina Intensiva – Hospital da Universidade de Coimbra 21

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que, hoje, está longe de ser resolvido na região centro onde o SMI do CHUC é referência.

Em 2000, o Dr. Jorge Pimentel con-clui o seu doutoramento na Faculdade de Medicina.

De 2003 a 2012, a Sociedade Euro-peia dá início ao projeto de ensino com o nome de COBATRICE (Com-petency - Based  Training in  Intensi-ve Care Medicine in Europe), no qual participou como Coordenador Nacio-nal desde o seu inicio, tendo sido um passo importante para o reconheci-mento e ensino uniforme, da Medici-na Intensiva.

Em 2003, é solicitado e executado, pela primeira vez, um levantamento nacional, que incluía espaço físico, apetrechamento e pessoal, sobre o número de Serviços/Unidades de Cui-dados Intensivos no país, executado pela Direção Geral de Saúde (DGS), tendo Jorge Pimentel, participado co-mo perito. O resultado foi publicado pela DGS como “Cuidados Intensivos – recomendações para o seu desenvol-vimento”, que, apesar de desatualiza-do, ainda pode ser consultado.

Na sequência do Regulamento Inter-no dos HUC foi criada a “Área de Gestão Integrada da Urgência e Cui-dados Intensivos” em 14 de maio de 2009, que passou a integrar o Serviço de Urgência e o Serviço de Medicina Intensiva e a equipa da VMER aqui se-diada, que teve como primeiro diretor o Dr. João Paulo Almeida e Sousa.

Em 2011 é criado o Centro Hospi-talar Universitário de Coimbra (CHUC) por publicação no Diário da República (30/2011 de 2 de março), por fusão dos dois Hospitais existentes em Coimbra – os Hospitais da Universida-de e o Hospital Geral. Neste último já existia desde 1983, um serviço idênti-co, iniciado e dirigido pelo Dr. Dinis Cunha Leal, mais tarde remodelado e ampliado, e inaugurado em 2000 co-mo o novo Serviço de Cuidados Inten-sivos do HG, sob a direção do Dr. Car-los Azevedo. Desde sempre existiu uma excelente colaboração entre os Serviços de ambas as instituições.

Quando, em agosto de 2012 foi proposto o processo de fusão dos Ser-viços, sendo o SMI do HG dirigido pe-la Dra. Paula Coutinho, efetivado em

Carrington da Costa, entre 1991 e 1994, e por Jorge Pimentel entre 1994 a 2000.

Em fevereiro de 1991, sob o ponto de vista organizativo, a “Sala de Rea-nimação” do Serviço de Urgência (ho-je denominada Sala de Emergência) passa a funcionar “sob a responsabili-dade direta do especialista do SMI” que também se deslocava, quando era chamado a todas as enfermarias do HUC para opinar ou avaliar a indica-ção de transferência para o SMI. Este facto tem importância porque tendo sido a postura do Serviço até ao pre-sente foi, mais tarde, apelidada na lite-ratura anglosaxonica, de “Serviço sem paredes” em oposição às unidades que não saíam do seu espaço físico.

Em 1992 foram criados, pela Portaria nº 422/92 de 22 de maio, os quadros hospitalares dos “Cuidados Intensivos “ do Hospital da Universidade de Coim-bra e do Hospital de Santo António no Porto. Até este momento, a organiza-ção dos Serviços/Unidades de Cuidados Intensivos variava de hospital para hos-pital, existindo unidades confinadas a uma determinada área hospitalar e ou-tras que serviam a instituição inteira, consoante o entender local; a existência de “um quadro de pessoal” ia sublinhar a importância institucional, embora continuasse a faltar o resto da legislação que suportasse o ensino e a progressão na carreira médica. Nos HUC o quadro foi denominado de “Reanimação Respi-ratória”.

Ponto histórico para a História da Medicina Portuguesa é, sem dúvida o início da transplantação hepática reali-zada de modo continuado pela equipa

outubro do mesmo ano, e tendo como adquirido o excelente relacionamento entre ambas as partes, parecia existi-rem as condições necessárias para uma evolução obrigatória no sentido da melhoria, sendo que os objetivos propostos estão longe de serem alcan-çados.

A não existência de uma “Unidade Intermédia” sob gestão da Medicina Intensiva pode pôr em causa a idonei-dade do Serviço na área da qual foi fundadora.

O Dr. Jorge Pimentel deixa a mensa-gem: “Aceito que eu possa ter uma ‘vi-são parcial’, porque sou intensivista em exclusividade há muitos anos mas, em meu entender, o funcionamento eficaz de um serviço que pela sua função de ‘manutenção de vida’, num hospital on-de se pratica a medicina mais avançada, é estruturante e prioritário.

A importância a que me referi está no facto de, em 2015 ter sido coloca-do no Portal da Saúde novo levanta-mento como resultado do ‘Grupo de Trabalho criado pelo Despacho n.º 4320/2013, do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde’.

Mais recentemente foi criado, pelo Ministério da Saúde, um Grupo de Trabalho no âmbito das Redes de Re-ferenciação, dirigido pelo Prof Dr. Jo-sé Artur Paiva e do qual fazem parte dois médicos deste Serviço, tendo por isso os números recentemente atuali-zados, onde se pode constatar a assi-metria (negativa) da região centro em relação às restantes do país”.

chefiada pelo Prof. Linhares Furtado; em 1992 é admitido o primeiro trans-plante hepático no seu pós operatório no SMI, assim como os seguintes 32 transplantes, altura em que se torna-ram autónomos.

Em outubro de 1994 Jorge Pimen-tel assume a direção do SMI.

A discussão continuada e frequente, e que envolvia as administrações hospita-lares sobre “o que era, que importância tinha e qual o lugar dos médicos que se dedicavam exclusivamente à prática da Medicina Intensiva”; não esqueçamos que a prática da Medicina Intensiva é ca-ra, porque envolve meios técnicos e pessoal altamente especializado a traba-lhar 24 sobre 24 horas. Tal fundamento leva o Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos a nomear a Comis-são Instaladora da subespecialidade de Medicina Intensiva ao abrigo do nº 3 do art. 2º, secção I do Regulamento do Co-légio das especialidades, ao qual o atual diretor presidiu.

Em maio de 1995, passa a designar--se “Serviço de Medicina Intensiva”.

Entre 1997 a 2001 o diretor do SMI do HUC é eleito membro para o Con-selho da Federação Mundial das So-ciedades de Medicina Crítica e Terapia Intensiva, lugar, mais tarde ocupado pelo Prof Rui Moreno (Lisboa).

A relação do número de leitos de in-tensivos para o total de camas de doentes agudos, que na altura era de 1%, estava largamente ultrapassada, e não eram necessários exercícios literá-rios; bastava, como aconteceu, verifi-car que os pedidos para admissão de doentes graves era superior ao núme-ro de camas disponíveis, problema

Ventilador Engstrom - modelo 150

Prof. Carringyon da Costa

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Saúde Hélder Pereira22

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Inegável mérito científico reconhecido em todo o mundo

Os altos voos são o resultado do tra-balho desenvolvido por Hélder Pereira ao longo dos anos na área de Ortope-dia e Traumatologia Desportiva. Ainda assim, não se esquece das Caldas das Taipas, local onde nasceu e cresceu com o desejo de ser médico. “Tive a possibilidade de fazer formação num centro que considero de excelência, o Hospital de Santo António, no Porto, e do ponto de vista ligado à ciência, tive a sorte e a honra de ser aluno dos pro-fessores Rui Luís Reis e Miguel Oliveira que me deram a oportunidade de aprender e dedicar-me à Engenharia de Tecidos e Medicina Regenerativa, área que considero ser o futuro da Medicina e na qual sou doutorando”, conta o or-topedista que desde cedo se dedicou à investigação “com o objetivo de tratar cada vez melhor os doentes e encon-

enorme impacto nos atletas que reque-rem da minha parte muita atenção e estudo”, refere. Ter nas “mãos” a car-reira profissional de reconhecidos joga-dores de futebol traz visibilidade e noto-riedade irreversíveis, mas também im-põe uma responsabilidade acrescida na proteção e defesa dos interesses do doente que é, ao mesmo tempo, figura pública. Lançou uma aplicação dedica-da ao combate à Morte súbita no Des-porto, “CPR 11 – Joga Seguro” tendo como embaixador em Portugal Luís Fi-go, o Presidente da Fundação Luís Fi-go. Com o apoio de vários atletas, trei-nadores, árbitros e agentes do Despor-to, esta campanha está a ser levada a todo o Mundo e traduzida em vinte e três idiomas. Este é um bom exemplo do “poder” do Desporto aplicado à de-fesa da vida.

O joelho e o tornozelo são objetos de estudos preferenciais, sobre os quais de-senvolveu investigações científicas pre-miadas a nível internacional. Tal reco-nhecimento conduziu a uma série de convites que se sucederam em catadupa, acumulando cargos e funções distintas. No contexto europeu atualmente é: Pre-sidente da Secção de Cirurgia do Torno-zelo e Pé da ESSKA (AFAS), past-presi-dent do Comité de Investigação da ESS-KA Basic Science Research; integra o corpo editorial do jornal da ESSKA (KSSTA) e de outros jornais de referên-cia na área de Ortopedia; editor do livro que, neste momento, é a “bíblia” da ci-rurgia do menisco – “The surgery of the meniscus”; coeditor do livro sobre o Tra-tamento e Instabilidade do Tornozelo (em elaboração); é revisor principal do American Journal of the Sports Medici-ne e de várias outras publicações de alto impacto na especialidade. É membro do Comité de patologia da perna, tornoze-lo e pé da ISAKOS (sociedade de âmbi-to Mundial). A partir de Portugal tem, as-sim, conseguido trabalhar ao mais alto nível para todo o mundo, sendo presen-

ça habitual em vários pontos do globo em palestras, congressos ou atividades formativas.

Investigações premiadasEm 2012, Hélder Pereira foi galardoa-

do com o melhor projeto de investiga-ção científica na área de Artroscopia e Traumatologia Desportiva pela Socieda-de Europeia ESSKA (European Society of Sports Traumatology Knee Surgery and Arthrology). “O projeto foi desen-volvido no âmbito do Grupo de Investi-gação 3B’s da Universidade do Minho, presidido pelo Vice-Reitor da Universi-dade do Minho, Prof. Dr. Rui Reis, orien-tado pelo professor Miguel Oliveira e constituído por uma equipa coesa e mul-tidisciplinar com colaboração do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim-Vila do Conde. O nosso principal objetivo nesse trabalho foi fazer uma caracterização do menisco humano em termos de proprie-dades específicas para estabelecermos uma base que nos permita estudar novas soluções para a substituição do menisco. Houve uma série de particularidades que nunca tinham sido feitas e penso que foi essa a razão que levou ao prémio”, ex-plica o investigador. O trabalho foi tam-bém premiado em Portugal pela Socie-dade Portuguesa de Ortopedia e Trau-matologia com o Prémio Jorge Mineiro.

Apesar de a cirurgia ortopédica mais frequente em todo o mundo ser o trata-mento da lesão meniscal, havia, segun-do Hélder Pereira, um universo de des-conhecimento em relação ao menisco tantas vezes ignorado. O primeiro estu-do que realizou em relação a esta ma-téria consistiu na avaliação das conse-quências da remoção do menisco, uma prática frequente. Após o prémio, o ortopedista integrou um grupo de estu-do da ESSKA no sentido de criar novas guidelines para o tratamento do menis-co e alertar de que há situações em que é melhor ter um menisco mais fragiliza-

trar respostas para problemas antigos e para outros mais recentes”.

No universo da Ortopedia, a Trau-matologia Desportiva tem aspetos pe-culiares que exigem aptidões próprias e soluções específicas, uma área na qual demonstra particular interesse, nomeadamente nas patologias associa-das à prática desportiva. “Como médi-co, considero que o desporto é relevan-te como promotor de saúde e como fonte de patologias específicas”, revela Hélder Pereira. Neste sentido, o espe-cialista nunca viu o tratamento de atle-tas de alta competição como um objeti-vo, mas este acabou por ser uma con-sequência do seu percurso profissional. “O principal objetivo é tratar doentes e, por isso, a alta competição não po-der ser uma opção. No entanto, há problemas e patologias que têm um

O percurso profissional de Hélder Pereira é um caso sério de sucesso e reconhecimento internacional na área de Ortopedia e Traumatologia Desportiva, particularmente no que concerne a patologias afetas ao joelho e ao tornozelo. Clínico nato e investigador por excelência, o cirurgião português tem desenvolvido diversas pesquisas científicas premiadas, sem descurar o exercício de funções no Sistema Nacional de Saúde. A partir de Portugal trabalha em termos clínicos para todo o mundo, ocupando cargos distintos a nível internacional.

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pia e o professor João Pedro, respon-sável pela Motricidade Humana são al-guns exemplos dos profissionais de re-ferência, em várias disciplinas, que tra-balham para servir atletas e pessoas de todo o país”, aclara o ortopedista, que também desempenha um importante papel na Ripoll y de Prado Sport Cli-nic, um centro de excelência da FIFA que ajudou a criar e que tem dinamiza-do uma série de acontecimentos em

do do que retirá-lo por completo. “A medicina tem que ser feita com cuida-do e há exames de diagnóstico que não podem ser vistos com frieza, mas com precisão, minúcia e integrados no tipo de paciente. Só depois podemos deci-dir o melhor tratamento que se adapta ao doente, sabendo que há mais op-ções em termos de tratamento conser-vador para o imediato, mas devemos pensar a médio e longo prazo. As fun-ções principais do menisco consistem em ajudar na transmissão de forças e em proteger a articulação do joelho. Quando se perde parte dessa proteção, sabemos que aumenta o risco de haver algum desgaste mais precoce nesse joelho. Às vezes isso é inevitável, mas outras vezes mais vale ter alguma pro-teção do que não ter nenhuma”, assi-nala o médico português.

A dedicação, inicialmente quase ex-clusiva ao joelho, alongou-se, fruto da ligação com o professor Niek van Dijk, à vertente artroscópica do tornozelo. A Sociedade Internacional de Artrosco-pia (ISAKOS) distinguiu e apoiou o projeto dirigido por Hélder Pereira, pe-lo norte-americano Kenneth Hunt, e pelo belga Pieter D’Hooghe, que está agora nomeado pelo congresso da ISAKOS como um dos melhores traba-lhos de investigação, que decorrerá em Junho em Xangai. “Desenvolvemos uma técnica de reparação artroscópica do complexo ligamentar externo do tornozelo usando uns dispositivos es-peciais que são menos agressivos para o tornozelo. Uma das vantagens desta técnica é que permite o controlo ar-troscópico total de todos os procedi-mentos, das várias articulações envolvi-das, sendo que o dispositivo usado é em fio, ocupando menos espaço e per-mitindo fazer uma cirurgia muitíssimo menos invasiva e ter uma recuperação tendencialmente mais rápida. Vamos agora publicar uma série de resultados clínicos, mas pelo que tem vindo a ser publicado tudo aponta que existem vantagens neste tipo de abordagem”, revela o investigador português.

Secção do Tornozelo e Pé da Sociedade Europeia

Desde que assumiu o cargo de presi-dente da Secção do Tornozelo e Pé da

Espanha. “É um grupo de excelência com algumas das pessoas de maior re-putação espanhola e mundial. O facto de me terem convidado desde o início para, primeiro criar o grupo, e depois ser diretor da área da investigação dá--me um orgulho enorme”.

Paralelamente a todos estes projetos, Hélder Pereira ainda exerce funções no setor público, no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim - Vila do Conde. “Pa-ra mim é fundamental como pessoa e como médico. Tenho um grupo de co-legas fantásticos do ponto de vista pes-soal e profissional. O serviço de Orto-pedia, sob a direção do Dr. Montes, tem sido várias vezes premiado e esta-mos a servir uma população que neces-sita dos nossos cuidados. Tudo isso faz com que me sinta muito útil, trabalhan-do em equipa e complementaridade”, conclui.

Sociedade Europeia (AFAS), Hélder Pe-reira tem levado a cabo um conjunto de ações, principalmente no âmbito da for-mação e da investigação. “Temos orga-nizado através da sociedade, três cursos de formação específica avançada de ci-rurgiões nesta área e colaboramos em quatro outros cursos, um deles na Uni-versidade do Minho. Fornecemos o nos-so apoio, patrocínio e conhecimento científicos para a realização destes cursos práticos. Para além disso, temos uma re-união de consenso bienal com alguns dos maiores experts mundiais, pois tentamos sempre, em temas mais controversos, estabelecer consensos que tragam a maior evidência existente a nível da ciên-cia sobre um determinado problema. Is-so requer envolver as pessoas com mais experiência nestes assuntos e recolher tudo o que já foi publicado e, com base nos resultados, lançar uma série de arti-gos que servem como orientação nestas questões”, explica o presidente da AFAS, indicando que o tema da reunião deste ano serão as lesões dos tendões pero-neais, que decorrerá em Londres.

Além disso, como presidente da sec-ção, o clínico português encetou um in-quérito aos membros da Sociedade pa-ra tentar perceber quem estes são, de-mográfica e clinicamente, para poder reunir dados que lhe permitam identifi-car os maiores problemas e planear os principais objetivos dos colegas que nesta área trabalham. “Se temos obri-gação de formação, precisamos de ter uma base de informação dos nossos membros para irmos de encontro às necessidades dos especialistas”, afir-ma. Tem ainda tentado estabelecer uma ligação mais próxima com a Rús-sia e os países em redor.

Centro de Traumatologia Desportiva da Taipas Termal e projetos paralelos

O Centro de Excelência Medicina Desportiva da Clínica Médica da Taipas Termal é “um espaço muito querido não só pelas origens, mas também pe-lo grupo que a constitui, que cresceu muito através da dinâmica do Dr. Ri-cardo Costa, presidente da direção, ca-paz de criar um espaço de excelência destinado ao grande público. O fisiatra António Cunha, a equipa de Fisiotera-

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As condições técnicas e humanas de excelência, a par da localização bucólica e da arquitetura moderna e luminosa do Lenitudes Medical Center & Research procuram proporcionar o bem-estar físi-co e psicológico de todos os utentes que frequentam o espaço.

O Dr. Sérgio Barroso é o diretor clíni-co do grupo Lenitudes, nomeadamente do Lenitudes Medical Center & Re-search sediado em Santa Maria da Fei-ra. As portas deste espaço, que comun-ga com a harmonia do amplo espaço verde que o envolve, abriram-se oficial-mente em 2015. A escolha desta locali-zação permite que este Centro de exce-lência no tratamento oncológico chegue a uma área populacional alargada que inclui o distrito de Aveiro e toda a área metropolitana do Porto, mas as suas portas estão também abertas para, to-dos aqueles – nacionais ou estrangeiros – que deponham naquela equipa a con-fiança necessária para procurar opinião ou tratamento, “com a certeza que todo o processo obedecerá aos mais elevados

“O cancro é das doenças crónicas aquela que apresenta um dos mais ele-vados índices de cura, porém tem que ser diagnosticada num estádio precoce. Hoje em dia, conseguimos detetar mui-tos tumores numa fase precoce e cura-mos uma percentagem muito elevada de casos”, alerta o nosso entrevistado, realçando que “os que não são curados podem ser tratados e estabilizados pos-sibilitando-lhes ter uma vida ativa com o mínimo de restrições e com qualidade”.

A abordagem oncológica inclui o diagnóstico e o tratamento nas suas diversas formas, nomeadamente a reabilitação do doente, e em determi-nadas fases os cuidados paliativos, o apoio ao doente e aos seus cuidado-res. Na Lenitudes prevalece a perspe-tiva do tratamento da patologia onco-lógica em toda a sua plenitude, em qualquer fase do percurso, atuando sempre no sentido positivo de ajudar as pessoas de uma forma muito indivi-dualizada.

O cancro é uma doença que afeta de forma particular a pessoa, mas também todo o seu círculo de influência. Nesse sentido, a equipa da Lenitudes pretende dar uma resposta multidisciplinar que proporcione ao doente e à familia uma sensação de bem-estar e confiança transmitidos pela equipa de profissio-nais altamente qualificados que os pode

ajudar nas diferentes fases de evolução da doença.

Naturalmente, o doente oncológico pode sofrer também de outras patolo-gias como a diabetes, tensão alta, coles-terol, etc., nesse sentido deve ser avalia-do e receber um tratamento global ajus-tado às suas necessidades.

Neste espaço de saúde distinto, a atenção recai também nas múltiplas es-pecialidades médicas que dispõe, que para além de servirem de suporte à área Oncológica, têm uma atividade própria com diagnóstico, tratamento e segui-mento de doenças não oncológicas do foro dessas especialidades.

A Cardio-Oncologia uma subdiferen-ciação da Cardiologia e da Oncologia oferece uma consulta direcionada para o cuidado específico do doente oncoló-gico, justificada entre outras razões, pe-lo fato de estas duas patologias serem as mais frequentes na nossa população e porque o doente oncológico tem carac-terísticas próprias que devem ser consi-deradas para que os tratamentos pos-sam ser efetuados de forma efetiva e se-gura.

Também a parte neurológica e neuro-cirúrgica estão a ser desenvolvidas, no-meadamente na área das demências, nas modernas técnicas neurocirúrgicas e na radiocirurgia conjuntamente com a radioncologia.

padrões de qualidade e responsabilida-de, sempre com o intuito de proporcio-nar aquilo que de melhor existe à data atual em termos do que é o standard in-ternacional de cuidados oncológicos”, salienta o Dr. Sérgio Barroso.

Na opinião do diretor clínico, “Portu-gal apresenta, num contexto geral, cui-dados oncológicos de bom nível”, no entanto, na Lenitudes almeja-se a dife-renciação por via de uma prática clínica mais individualizada, tecnologicamente avançada e realizada num ambiente di-ferenciador. Para além do espaço físico, falamos de tecnologia de ponta, utiliza-da por profissionais altamente qualifica-dos que se destacam nas suas diferentes áreas de intervenção. Esta tríade coloca a Lenitudes na linha da frente dos cuida-dos de saúde em Portugal.

Trabalhando para ser um Centro de excelência na área da Oncologia, a Le-nitudes Medical Center & Research e todos os profissionais que com ela cola-boram, dedicam à patologia oncológi-ca, uma atenção muito particular.

A Lenitudes Medical Center & Research é um espaço de saúde que cuida tendo em contas as diferentes dimensões da pessoa, muito para além da patologia apresentada, num ambiente leve, distinto, adaptado e de proximidade.

Tratamento holístico do indivíduo num ambiente diferenciador

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biópsias. A Lenitudes está equipada com dois blocos operatórios que permi-tem realizar cirurgia de ambulatório e outras de maior complexidade.

Para além de toda esta componente clínica de diagnóstico e tratamento sur-ge a Investigação. Localizada em instala-ções próprias direcionadas para a inves-tigação clínica, a Lenitudes Medical Center & Research, tem protocolos de colaboração com centros de conheci-mento (Universidades de Aveiro, Porto, Institutos Politécnicos) no sentido de se fazer investigação básica, mas também de vertente académica. “Sendo nós um Centro de excelência com uma compo-nente clínica fundamental relacionamo--nos com essas instituições que per si já fazem investigação laboratorial mais bá-sica complementando a nossa ação. A colaboração com outros parceiros na-cionais e internacionais incluíndo a In-dústria Farmacêutica é também muito importante, permitindo oferecer aos nossos doentes a possibilidade de parti-ciparem em estudos clínicos nacionais e internacionais que estejam a investigar novas tecnologias de tratamento e diag-nóstico . A investigação é de extrema importância, dado que dispomos hoje

O departamento de imagiologia, que inclui a medicina molecular/nuclear e a radiologia é também fundamental no apoio de imagem para toda a área on-cológica e das várias especialidades da Lenitudes Medical Center&Research, mas também enquanto centro de ima-gem de alta tecnologia e diferenciação para a realização de exames a doentes de ambulatório a nível individual e de outras instituições públicas e privadas coma as quais existem acordos de cola-boração.

Um Centro com muita VidaPassaremos a descrever as quatro

grandes áreas que compõem o Lenitu-des Medical Center & Research, sendo pertinente referir previamente que para além da excelência das instalações e dos equipamentos de ponta que dispõe, o Centro destaca-se, de forma evidente, pela sua vasta equipa médica e técnica, multidisciplinar e altamente qualificada. Falamos de médicos, enfermeiros, téc-nicos de radio-oncologia, medicina mo-lecular e radiologia, físicos, entre ou-tros.

No espaço de ambulatório os utentes podem aceder a uma vasta panóplia de consultas médicas nas mais diferentes especialidades, que estão preparadas para diagnosticar e tratar patologias do foro oncológico, mas também intervir nas áreas não oncológicas de cada es-pecialidade.

Existe também o Hospital de Dia, di-recionado para a especialidade de On-cologia, onde se realizam os tratamen-tos de quimioterapia, que hoje, para a generalidade dos casos é feita em ambu-latório. A aposta em tecnologias de ponta facilitam todo o processo, e per-mitem ao utente dar continuidade ao

de tratamentos que são muito mais efi-cazes do que eram há uns anos, mas não o sendo na totalidade, temos que continuar a trabalhar nesse sentido”.

Prevenir é agirA importância da consciencialização

para a prevenção e diagnóstico preco-ce, é uma das maiores causas sociais da Lenitudes. “É preciso estar atento aos sinais, valorizando algo que surja fora do que é normal em cada um de nós, parti-cularmente em indivíduos com antece-dentes pessoais ou familiares de doença oncológica. Este processo de sensibiliza-ção e informação é, e deve continuar a ser, feito pelo SNS, pela comunidade em geral e pelos media”. A Lenitudes não foge à sua responsabilidade estando a preparar um projeto de interação com agentes da sociedade entre os quais, a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e as escolas e empresas do distri-to, no sentido de promover atividades de vida saudáveis que vão desde a práti-ca de exercício físico até aos comporta-mentos alimentares e de consumo, isto é, influenciar para que se tenham estilos de vida mais saudáveis “Informação re-gular poderá ser ainda consultada no nosso site”, alerta o especialista.

tratamento no conforto do seu lar. Sen-do raros, nos casos em que é necessário pernoitar, o Centro dispõe de uma área de internamento devidamente prepara-da.

No Departamento de Imagem, um dos centros tecnológicos da Lenitudes, reside a Medicina Molecular com as mais avançadas técnicas e tecnologias, nomeadamente uma PET de última ge-ração que fornece informação muito precisa e de altíssima qualidade. Com vertente terapêutica e de diagnóstico, este departamento realiza exames para a área oncológica, mas também para a área cardiológica e outras patologias que não sendo malignas necessitam da ação da Medicina Molecular.

A vertente da Radiologia integra igual-mente todas as técnicas mais atuais, que permitem realizar desde uma radiogra-fia do tórax, até uma ressonância mag-nética de última geração, atuando tanto na Radiologia de Intervenção (biópsias dirigidas por Ecografia, TAC ou por Ressonância Magnética) como na Ra-diologia de Diagnóstico e terapêutica.

Em simultâneo, no Departamento de Radio-Oncologia faz-se o tratamento dos tumores por via de radiação. Neste espaço efetuam-se as técnicas mais atuais de acordo com os padrões mais elevados de qualidade das diversas mo-dalidades. A alta precisão dos equipa-mentos possibilita a destruição precisa da massa tumoral, preservando os teci-dos sãos. Resulta daqui um maior con-trolo da doença oncológica, a par da di-minuição de sintomas acessórios, e me-lhor qualidade de vida para o doente.

Por fim, falemos da Cirugia, o tercei-ro pilar de tratamento a par com a On-cologia médica e Radioncologia, que pode em alguns casos ser de diagnósti-co, por exemplo, no caso específico das

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Segundo dados da OCDE, Portu-gal tem mais médicos do que os ne-cessários sendo o quinto país da União Europeia com mais profissio-nais por mil habitantes, precisamen-te 4,3 médicos/mil habitantes, fican-do apenas atrás da Lituânia, da Estó-nia, da Áustria e da Grécia. Apesar do excesso de profissionais de saúde em Portugal, faltam médicos no Sis-tema Nacional de Saúde (SNS), prin-cipalmente em zonas mais interiores e periféricas, como é o caso de Vila Real e Algarve, fruto de uma boa parte destes profissionais se terem dedicado ao setor privado. Acres-centa-se ainda, segundo números da Ordem dos Médicos da Região Nor-te, que nos últimos quatro anos emi-graram cerca de 350 profissionais, estando quase um terço a especiali-zar-se noutro país.

Apesar das múltiplas chamadas de atenção da OM para o crescente au-mento do número de profissionais for-mados em Portugal, a posição do po-der executivo tem sido a de manter ou até mesmo alargar o numerus clausus em Medicina, inundando o mercado de trabalho e levando ao desemprego e à emigração. Quem beneficia com esta situação são as entidades privadas do setor, que passam a contratar pro-fissionais a preço de saldo.

Assim, ao contrário do que se possa pensar, os médicos excedentários não servirão para suprir as necessidades das regiões mais carenciadas, mas sim para aumentar a fuga para o setor privado e os números da emigração. A questão é preocupante, especialmente pelo cará-ter diferenciado desta área � diferente pela exigência da sua formação, pela elevada responsabilidade associada ao

seu exercício ou até pelos horários e nú-mero de horas contínuas de trabalho.

Se olharmos o problema por espe-cialidade e zona do país, percebemos que são mais as nuances do que o «preto e branco». Dados publicados em Diário da República há dois anos identificam as oito especialidades com mais falta de especialistas: Cardiolo-gia, Cirurgia Geral, Ginecologia-Obs-tetrícia, Medicina Interna, Ortopedia, Pediatria, Psiquiatria e Urologia. E as zonas do país: Alentejo, Cova da Bei-ra, Castelo Branco, Guarda, Oeste, Tâmega e Sousa e Algarve.

Neste sentido, não poderemos afir-mar veementemente que há escassez de profissionais nesta área em Portugal. Podemos antes afirmar que o nosso país não tem tido a capacidade de gerir da melhor forma as necessidades dos profissionais de saúde e dos utentes.

Ora, o que se depreende das esta-tísticas acima referidas é que Portu-gal forma profissionais de saúde sufi-cientes para as necessidades do país, mas falha depois na distribuição geo-gráfica dos mesmos, estando a maio-ria concentrada nos grandes centros e na zona litoral. As regiões do inte-rior ficam, assim, expostas à insufi-ciente assistência médica, visto que muitos profissionais preferem cons-truir uma carreira no setor privado ou no estrangeiro.

O poder de mudar o paradigma atual está nas mãos dos decisores po-líticos que têm a responsabilidade nes-ta matéria. Há muito a fazer para que o SNS se torne aliciante e para que os nossos profissionais de saúde não se-jam “obrigados” a emigrar para asse-gurar um emprego onde se sintam va-lorizados.

Faltam profissionais de saúde em Portugal. Há anos que esta "semente" se tem disseminado na sociedade portuguesa. Os dados contrariam esta tendência, mas ainda há uma quota-parte da população sem a devida assistência médica. Como pode isto acontecer?

Faltam, ou não, profissionais de saúde em Portugal?

Nova edição onlinedos Manuais MSD

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Ensino Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar28

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Instituição integrada na Universidade do Porto, o Instituto de Ciências Bio-médicas Abel Salazar (ICBAS) surgiu em 1975, fruto da ação de personalida-des da Universidade do Porto (UP) en-tre as quais se destacavam Corino de Andrade, Nuno Grande e Ruy Luís Go-mes. Comungando do pensamento de Abel Salazar, seu patrono, o ICBAS as-sumiu-se, desde a sua origem, como uma escola multidisciplinar e multipro-fissional na área das Ciências da Vida. A aposta recaiu numa formação abran-gente — em áreas como a Medicina, a Medicina Veterinária, as Ciências do Meio Aquático, a Bioquímica (em par-ceria com a FCUP) e a Bioengenharia (em parceria com a FEUP) — associa-das sempre à suprema valorização da investigação e por uma forma de edu-car pioneira à época.

“Há quatro décadas, só era possível ter médicos a lecionar cursos de Medici-na. Mas como queríamos, desde o iní-cio, químicos a ensinar Química, mate-máticos a ensinar Matemática ou físicos

moderna que hoje em dia se designa por One Health. Não podemos pensar na saúde humana com o foco no ser humano. Temos que olhar para a saúde humana como sendo resultante da inte-ração do humano com o meio ambien-te”. Atualmente verifica-se que hoje muitas das ameaças à saúde humana advêm de causas veterinária, por exem-plo o vírus influenza (H5N1) vulgo Gri-pe das Aves ou a Doença de Creutzfeldt--Jakob, vulgo Doença das Vacas Lou-cas. Ou seja, há aqui uma interação com o meio ambiente que é fundamen-tal e deve ser abordada nas suas mais variadas dimensões. “Pensar a saúde como sendo um território exclusivo dos médicos é um conceito do século XIX”. Assim sendo, a saúde deve ser encara-da como o resultado da interação de múltiplos fatores, abordada por múlti-plos profissionais em que, naturalmen-te, os médicos têm um papel determi-nante mas não podem estar sozinhos no ensino e na investigação daquilo que afeta as sociedades. É neste olhar global que o ICBAS tem recolhido meritório sucesso. Começando por ser uma esco-la isolada na sua ação inovadora, hoje é uma Instituição plenamente integrada num ciclo de escolas multidisciplinares — assumem a necessidade da multidis-ciplinaridade como essencial — que re-plicaram este modelo de ensino, disse-minado um pouco por todo o mundo.

InternacionalizaçãoA atual legislação impede as institui-

ções portuguesas que ministrem o Ensi-no de Medicina de receberem estudan-tes internacionais, “facto que não per-mite a interação entre alunos de dife-rentes proveniências”; mesmo assim o ICBAS desenvolve uma ação que não se resume ao espaço “Escola”, fomen-tado o intercâmbio de estudantes de ou-tras formas, nomeadamente ao abrigo do programa ERASMUS, e de modo

reforçado. Uma mobilidade que se re-flete na saída de estudantes portugueses para o exterior e na receção de estran-geiros — caminho fundamental na es-tratégia de difusão do nome da institui-ção além fronteiras.

Também a investigação assume um caráter global por ação dos múltiplos grupos que estão integrados em Labo-ratórios Associados e em projetos trans-nacionais, algo que muito apraz a dire-ção do ICBAS.

Num terceiro ponto surge uma forma de internacionalização, que não sendo mensurável pelos parâmetros habituais, é bandeira, no exterior, da qualidade do ensino ministrado no ICBAS. Ao longo de mais de 40 anos ao serviço do ensi-no é com reconhecido orgulho que a Escola acompanha o percurso de mui-tos dos seus ex-alunos que ocupam ho-je cargos de enorme relevância e dire-ção um pouco por todo o mundo, no-meadamente em laboratórios de inves-tigação nos EUA, em Inglaterra, na Suécia, Noruega, Holanda. “Este facto dá-nos imensa satisfação, porque para além da capacidade de criar uma rede, restrita inicialmente a cientistas estran-geiros que connosco colaboravam, nes-te momento estão englobados muitos cientistas formados aqui, que estão no

a ensinar Física, prescindimos da no-meação de Faculdade e assumimo-nos como Instituto”, informa o Prof. Dr. Sousa Pereira, diretor desta Instituição que é uma das mais vanguardistas Esco-las portuguesas.

O ICBAS está na linha da frente no que concerne à produção científica en-tre as instituições de ensino superior em Portugal. Sendo o ensino o core princi-pal da sua intervenção, o Prof. Dr. Sou-sa Pereira entende que este sai muito valorizado quando associado à investi-gação. Esta estratégia assumida pela UP como Universidade de investiga-ção, encontra no ICBAS uma assunção maior e de grande relevo, não só na es-fera universitária como na dinâmica com a própria região.

Numa visão atual da saúde, resultante de diversos fatores, a abordagem apre-sentada assenta na multidisciplinarida-de. “Tentamos que os nossos estudan-tes sejam preparados para trabalhar em equipa, fazendo uma abordagem aos problemas da saúde numa perspetiva

Pioneiro na sua ação educativa o ICBAS assume um método de ensino na área das Ciências da Vida onde a teoria vive da prática, numa comunhão que forma profissionais atentos “aos novos desafios de um mundo imprevisível”.

“O conformismo é meio caminho andado para a extinção”

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EnsinoInstituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar 29

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Aliás, salienta, “cada instituição pres-tadora de cuidados de saúde tem um modus operandi muito próprio que não se reproduz em estruturas idênticas. Portanto a nossa obrigação enquanto responsáveis pela formação dos estu-dantes é fornecer-lhes condições para que contactem com diferentes tipos de operadores de sistema, até para pode-rem escolher o que pretendem fazer de uma forma informada”.

Dados emitidos pela instituição reve-lam que os ex-estudantes estão em si-tuação de pleno emprego. Este sucesso deve-se sem dúvida ao prestígio do en-sino ministrado no ICBAS, a par da qualidade excecional dos estudantes; focados, conscientes e proativos. “Os nossos cursos ficam sempre no pri-meiro lugar das escolhas nos concur-sos de acesso, ano após ano. Devida-mente guiados, estes estudantes são capazes de fazer o seu caminho e en-contrar as saídas profissionais mais ajustadas para si”.

Olhando o futuro, o diretor assegu-ra que a oferta formativa do ICBAS “é consistente e manter-se-á, even-tualmente com pequenas reformula-ções na oferta pós-graduada”. O nível de estudantes em pós-graduações é muito elevado, a procura excede sem-pre o número de vagas, mas mesmo

estrangeiro, e continuam a interagir connosco”.

Esta capacidade é reflexo de uma mentalidade que o Prof. Dr. Sousa Pe-reira carateriza como “diferente” e se manifesta desde a fundação do Instituto como “de rutura com o existente”. “Não temos que nos conformar com os ditames de determinada época, mas agir consoante aquilo que entendemos serem as melhores práticas”, assevera.

Ensino fora de portasPara além das modernas instalações

que oferecem todas as condições para um ensino de qualidade — “biblioteca aberta 24 horas em período de exa-mes, laboratórios, museu a funcionar em permanência” — surgem as parce-rias que elevam o ensino em contexto de sala de aula. Muitos são os agentes que colaboram com o Instituto a todos os níveis nos vários cursos. Por exem-plo, em Medicina, realça-se a ação do Centro Hospitalar Universitario do Por-

assim a adequação das formações às necessidades da sociedade, “reformu-lando e direcionando as ofertas”, é constante. Neste caminho é funda-mental ouvir os parceiros: “Uma Uni-versidade moderna com a dimensão da UP tem que estar muito atenta à sociedade civil, percebendo em cada momento que tipo de profissionais são precisos, adaptando a sua oferta formativa”.

Em final de conversa lançámos a questão: “O que se espera deste Institu-to no percurso do século XXI?”. O Prof. Dr. Sousa Pereira garante “temos que nos manter uma instituição irreve-rente como temos sido até aos dias de hoje, porque no meio universitário o conformismo é meio caminho andado para a extinção. Assim, espero que continuemos a ser inconformados, rompendo com as tradições e com aqueles que são considerados os da-dos adquiridos. Temos que estar pre-parados para ir encarando os novos desafios sendo que o mundo hoje é imprevisível. Queremos estar na van-guarda, a formar profissionais que se-jam capazes de enfrentar os problemas do futuro com uma mente aberta e que consigam equacionar problemas de for-ma rigorosa mas, permanentemente, inovadora”.

to, entre outros como o Hospital Maga-lhães Lemos, o CHVNG/E, o IPO-Por-to, o Centro Hospitalar Póvoa de Var-zim-Vila do Conde, ARS’s, Santas Ca-sas da Misericórdia. Também a Medicina Veterinária se relaciona com numerosas clínicas e centros de investi-gação veterinários espalhados por todo o país. Todas as outras formações be-neficiam do mesmo volume e prestígio de parcerias com acesso a condições ímpares de ensino prático, numa ten-tativa efetiva de ensinar muito para além da sala de aula. “Os alunos têm que contactar com outras realidades”, reforça o diretor. Focando “uma velha matéria no Ensino” que se prende com a questão: “Devemos ensinar co-mo se deve fazer, ou como se faz?”. O ICBAS opta por uma ação concerta-da entre a teoria e a prática, ensinan-do como se deve fazer, mas mostran-do como se faz. “Se assim não for cor-remos o risco de estes estudantes serem confrontados no mercado com uma realidade intimidante”.

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Ensino Departamento de Ciências Médicas da Universidade de Aveiro30

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O Departamento de Ciências Médi-cas da Universidade de Aveiro foi cria-do em janeiro de 2016, no seguimen-to da oferta na área das Ciências Bio-médicas, anteriormente sediada na Secção Autónoma de Ciências da Saúde (SACS).

Este é um Departamento que apre-senta uma componente formativa ao nível do 1º Ciclo focada nas Ciências Biomédicas e na licenciatura de Enge-nharia Biomédica, que teve início no presente ano letivo (2016/17), tendo todas as vagas sido ocupadas por alu-

do na área da Gestão da Investigação Clínica, em colaboração com a Facul-dade de Medicina da Universidade No-va de Lisboa e a Escola Nacional de Saúde Pública. O professor Manuel Santos manifesta ainda a intenção de criar no futuro um programa doutoral em Ciências da Saúde direcionado pa-ra a área clínica.

No fundo, o core business do Depar-tamento de Ciências Médicas assenta nas grandes áreas da Anatomia Hu-mana, Fisiologia Humana, Patologia, Genética Humana e Infeção, Farma-cologia, Medicina Molecular, Medicina Regenerativa e Medicina Personaliza-da, o que permite aos seus docentes colaborar com outros departamentos dentro do universo da Universidade de Aveiro (UA), nomeadamente nas vá-rias ofertas ministradas pela Escola Superior de Saúde; Departamento de Física, no âmbito no curso de Enge-nharia Biomédica; assim como o De-partamento de Química, no mestrado de Bioquímica Clínica; e também com o Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV), através do envolvimento dos médicos no ensino e na investigação clínica.

Máxima adesão e exigênciacom uma procura surpreendente a

licenciatura em Ciências Biomédicas alcança níveis de adesão que rondam os 100%, a par da taxa de empregabi-lidade máxima. Podemos considerar que este feito se deve à excelência das práticas de ensino ministradas, assim como à consciência dos estudantes que “entram com expetativas muito bem definidas”.

Assim, grosso modo, o nosso inter-locutor apresenta-nos um panorama em que à partida 20% dos discentes do 1º Ciclo ambicionam enveredar para o curso de Medicina, finda a li-cenciatura em Ciências Biomédicas;

40% dos estudantes pretendem alcan-çar um percurso profissional ligado à indústria, demonstrando grande voca-ção para a Gestão de Ensaios Clíni-cos, facto que lhes permite trabalhar em hospitais com a colaboração da in-dústria farmacêutica – “daí a parceria estratégica com a Faculdade de Medi-cina da Universidade Nova de Lisboa e a Escola Nacional de Saúde Pública no mestrado em Gestão da Investiga-ção Clínica, submetidos recentemente à A3ES”; os restantes 40% investem num percurso de investigação com a conclusão do 3º Ciclo de estudos, ten-do o DCM o mestrado em Biomedici-na Molecular e um programa doutoral em Ciências Biomédicas que lhes abre as portas para o universo da investiga-ção. “Este nicho de alunos pretende dedicar-se à investigação em áreas pe-las quais nutrem especial interesse co-mo por exemplo, a demência, o can-cro ou as doenças infeciosas, metabó-licas, vasculares, reumáticas, respira-tórias, etc. procurando, à escala global, laboratórios que, trabalhando em cada área específica, complemen-tem o seu processo de doutoramen-to”, explana o diretor. Explicada a di-nâmica, naturalmente os índices de empregabilidade são extremamente elevados “dada a diversidade da oferta que permite canalizar os estudantes para nichos de mercado distintos”.

Aprender além fronteirasestes jovens procuram um ensino di-

ferenciado, inovador e desafiante. A frequência em projetos ou programas de estágio como o Erasmus + tem permitido a alguns estudantes estagiar fora do país, estando o Departamento a estabelecer protocolos com outras Faculdades de Ciências Médicas para a troca de docentes. Recentemente foi estabelecido o protocolo com a Uni-versidade de Estrasburgo, estando em

nos caracterizados pelo diretor, Ma-nuel Santos, como “excelentes”.

Com vista à prossecução dos seus estudos o 2º Ciclo oferece o mestrado em Biomedicina Molecular. Enquanto o 3º Ciclo, em colaboração com a Fa-culdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa, dá continuidade ao aprofundamento do conhecimento na área das Ciências Biomédicas.

Neste momento, o Departamento de Ciências Médicas (DCM) tem em curso a aprovação pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) de um novo mestra-

A inovação no ensino acontece de forma clara na dinâmica instituída ao recente Departamento de Ciências Médicas da Universidade de Aveiro. Este é um espaço onde o rigor e a exigência são valores partilhados de forma vincada entre os corpos docente e discente.

“A sala de aula é hoje um espaço público”

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EnsinoDepartamento de Ciências Médicas da Universidade de Aveiro 31

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sor é passiva, servindo de mediador perante a apresentação de um proble-ma a mesas de discussão compostas por um número máximo de dez alu-nos. O choque com um método de en-sino totalmente distinto do ensino tra-dicional repercute-se no ganho de competências (agilidade mental, capa-cidade comunicativa, gestão de equi-pas, etc.) que permite a estes jovens alcançar uma enorme vantagem com-petitiva no mercado de trabalho. Evi-dentemente este novo método tem custos e exige uma mudança de men-talidade quer de alunos como de pro-fessores. “Como é que adaptamos os edifícios para os novos métodos de ensino? Como formar e motivar os professores? Como poderão as uni-versidades, face aos constrangimentos financeiros inovar a este nível?”. Estas são questões de fundo que não depen-dem só das universidades, mas tam-bém do país que deve definir o que pretende para o futuro ao nível da ino-vação pedagógica. Manuel Santos considera que “dentro da sua capaci-dade, a Universidade de Aveiro tem dado passos importantes, através de projetos-piloto que têm surpreendido o mercado laboral”.

Ademais, o diretor referencia uma realidade que o DCM já encara com naturalidade mas que deve ser tida em conta no panorama de ensino nacio-nal. Perante “estudantes excelentes”, que entram na Universidade com uma expetativa muito exigente não há es-paço para ministrar aulas de qualidade mediana. Aliás, alerta, “a sala de aula hoje é um espaço público”. A infor-mação circula permanentemente, através das redes sociais. Tudo o que se passa no espaço de aula pode ser transmitido para o exterior, facto que

curso as negociações com a Universi-dade de Bari, em Itália. “Temos estu-dantes em todos os países onde se faz Ciência. Eles usufruem de uma mobili-dade muito grande. São alunos exce-lentes, proativos que definem muito bem o seu percurso”, enaltece o dire-tor do DCM da Universidade de Avei-ro.

Aliás, assente na sua experiência em vários países, o professor Manuel San-tos revela-nos que, aos seus olhos, Portugal tem um ensino superior de qualidade na generalidade dos casos, porém apresenta-se-lhe o grande de-safio da mudança, de forma a conse-guir acompanhar o ritmo da sociedade atual. “É necessário inovar também no ensino. A questão crítica prende-se em saber se conseguimos transpor a qualidade atual para as próximas dé-

instiga os docentes a evoluírem, sujei-tos a níveis de exigência sem compa-ração. Fruto do trabalho que tem vin-do a ser desenvolvido ao longo dos anos, no DCM “vive-se um bom am-biente de trabalho e o espírito de união entre os docentes”, realidade que atribui ao facto de ter um grupo de docentes “relativamente jovem, mas também ao método PBL que pre-vê a preparação de todos os docentes de forma concertada antes de cada aula. Uma turma de 70 alunos divide--se em grupos de 8 a 10 alunos, obri-gando a que vários docentes traba-lhem uma única disciplina numa ação coordenada e interativa”.

InvestigaçãoO Instituto de Biomedicina da Uni-

versidade de Aveiro (IBIMED) foi ava-liado em 2013/14 com nota máxima pela Fundação para a Ciência e Tec-nologia. Toda a investigação do DCM está debaixo do âmbito do IBIMED. O Departamento trabalha em múltiplas áreas, nomeadamente o envelheci-mento e as doenças crónicas, demons-trando grande interesse “em perceber como o envelhecimento acelera o aparecimento e desenvolvimento das doenças crónicas como por exemplo a diabetes, o cancro, as demências, as doenças cardiovasculares, entre ou-tras”. Uma atividade investigativa que visa contribuir para a melhoria da qua-lidade de vida dos cidadãos. O interes-se do Departamento nesta ação inves-tigativa consubstancia-se, de forma efetiva, através do memorando de en-tendimento com o Hospital de Aveiro no sentido de envolver os clínicos do hospital na investigação científica do DCM.

cadas. Manter, impõe inovar muito ra-pidamente”, refere. A estrutura clássi-ca das licenciaturas provavelmente não será adequada para “os estudan-tes do futuro que já olham para o email como algo do passado”. As re-des sociais ganharam um grande es-paço na dinâmica escolar e devem ser integradas naquilo que o nosso inter-locutor classifica como “um grande desafio que requer novos investimen-tos e formação contínua dos docen-tes”.

Com um ano de vida, o DCM nas-ceu com essa preocupação, tanto que a licenciatura de Ciências Biomédicas apresenta em algumas disciplinas um método de ensino novo, o Problem Based Learning (PBL), que se baseia na aprendizagem através da resolução de problemas. Aqui a figura do profes-

Departamento de Ciências Médicas

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Ensino Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática da Universidade de Aveiro32

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Texto

Formar engenheiros completos e preparados para o futuro

Fundado em 1974, o Departamen-to de Eletrónica, Telecomunicações e Informática (DETI) foi um dos pri-meiros departamentos a iniciar ativi-dade após a criação da Universidade de Aveiro em 1973. Na sua génese está uma forte ligação à região e à indústria na área das Telecomunica-ções que se mantém até aos dias de hoje, tal como o cunho prático que a instituição concede à sua oferta for-mativa. “Saber fazer e ter uma sólida formação de base é fundamental. Os

um ajuste da oferta às necessidades do mercado, que procura cada vez mais engenheiros eletrónicos e in-formáticos”. O DETI tem, assim, ajustado a sua ação por forma a dar uma resposta diferenciada aos alunos, mas também ter em aten-ção as necessidades da indústria empregadora. “Formamos profis-sionais para o mercado de trabalho e não para o desemprego e é uma grande satisfação saber que que es-tamos a dar resposta a esta exigên-

cia”, refere o diretor do DETI, indi-cando que só os melhores candida-tos são admitidos – “em alguns cur-sos, por cada aluno admitido ficam 16 candidatos do lado de fora”.

A oferta formativa do DETI procu-ra constituir-se de um conjunto de li-nhas diferenciadoras que visa ir ao encontro das aspirações dos alunos interessados nas áreas de Eletrónica, Telecomunicações e Informática. Distintas entre si, porém com cruza-mentos inevitáveis e complementa-res, a integração destas áreas no mesmo departamento torna-se nu-ma mais-valia. “A interdisciplinarida-de está presente nos cursos, tal co-mo na sociedade em que os desafios evoluem em complexidade e, por is-so, requerem a atenção de múltiplas disciplinas (os setores da Saúde, Energia e Transportes são alguns exemplos). Esta multidisciplinarida-de visa profissionais cada vez mais preparados para trabalharem com pessoas de várias áreas. Por isso, não formamos apenas engenheiros, mas sim profissionais abertos a ou-tras áreas, como a Gestão e o De-sign, e preparados para as exigên-cias da sociedade moderna. A for-mação estimula o empreendedoris-mo para que aos alunos tenham capacidade e iniciativa própria, uma vez que estamos a caminhar para uma economia do conhecimento que se sustenta na iniciativa destes profissionais, capazes de constituir empresas e contribuírem para a transformação progressiva da socie-dade”, explica o diretor Paulo Fer-reira.

nossos profissionais chegam às em-presas e rapidamente se integram e começam a trabalhar”, aclara Paulo Ferreira, diretor do departamento em entrevista ao Perspetivas.

Promover a ligação e consequen-te transição com o mundo indus-trial é um dos principais objetivos, dada a elevada percentagem de empregabilidade – “alguns alunos começam a ser solicitados ainda antes de concluírem o curso”. Se-gundo Paulo Ferreira, “tem havido

O Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática (DETI) da Universidade de Aveiro estabelece uma forte ligação à região envolvente e à indústria local, nacional e internacional, o que permite aos alunos um real contacto com as exigências da sua futura profissão. Operando em áreas em constante mutação, o DETI distingue-se pela componente prática que concede à oferta formativa e pelos inovadores projetos que desenvolve.

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EnsinoDepartamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática da Universidade de Aveiro 33

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Cabo Verde, um esforço de digitali-zação de todos os passos destes processos complexos, contribuindo para a eficiência de toda a máquina jurídica; temos projetos semelhan-tes em curso com a Assembleia Na-cional de São Tomé e Príncipe e com Timor-Leste que consistem na recolha e identificação de todos os processos e posterior informatiza-ção”, explica Paulo Ferreira.O fa-tor internacionalização é muito cla-ro nas duas unidades de investiga-ção, pois a maioria dos restantes projetos envolve entidades do con-texto europeu e mundial. Além dis-so, este contacto permanente com as empresas permite a atualização dos cursos através do acompanha-mento constante das tendências. Um papel que a docência do DETI desempenha também de forma ati-va. “O corpo docente é altamente qualificado (100% doutorado) e es-tá comprometido com este princí-pio e mais do que preparado para o desafio de formar um universo de 1200 alunos”, garante o diretor.

Inovadora parceria DETI-Rovisco Pais

Um dos projetos mais recentes do DETI aplica técnicas de realidade vir-tual ao tratamento de pessoas com algum tipo de incapacidade.

O Centro de Medicina de Reabili-tação da Região Centro – Rovisco Pais verificou que, após a alta hospi-talar, havia uma estagnação da recu-peração devido à dificuldade em sus-tentar fora das suas instalações algu-mas ações que vinham a ser pratica-das como terapêuticas de reabilitação. Por isso, surgiu a ideia de criar sistemas de realidade virtual que dessem às pessoas que precisam de fazer determinado tipo de exercí-cios um estímulo para o fazer, tor-nando a prática menos mecânica e mais interessante. O paciente é ex-posto a um ambiente virtual sob a forma de um jogo e o movimento é uma parte integrante do mesmo. O jogo está ainda concebido de forma a acompanhar o progresso do pa-ciente e promover a continuidade de melhoria. “Combinamos as nossas

Eletrónica, Telecomunicações e In-formática são as áreas de intervenção do referido departamento da Universi-dade de Aveiro (UA), disponibilizando nos três níveis de ensino superior as melhores soluções para os estudantes que pretendam fazer um percurso pro-fissional neste âmbito: licenciatura e mestrado em Engenharia Informática; mestrados integrados em Eletrónica e Telecomunicações e em Computado-res e Telemática; e, por fim, doutora-mentos – que incluem dois, em cola-boração com as Universidades do Mi-nho e Porto, um em Telecomunica-ções e outro em Informática. O cunho prático e o conhecimento sólido são princípios transversais a todos os cur-sos, que têm a principal missão de “formar profissionais completos devi-damente capacitados para responder de forma diferenciada e eficaz às exi-gências cada vez mais voláteis das suas profissões”, revela Paulo Ferrei-ra.

Unidades de InvestigaçãoO DETI integra duas unidades de

investigação, onde se desenvolvem projetos e pesquisas que contribuem para a evolução dos alunos, docen-tes e investigadores e para a concre-tização de práticas inovadoras no âmbito das áreas de intervenção, mas também na aplicação em outros contextos e setores da sociedade.

O Instituto de Telecomunicações (IT), laboratório associado, é uma as-

competências em realidade virtual com as necessidades de reabilitação do Centro Rovisco Pais sem custos adicionais para os envolvidos, elabo-rando ainda atividades formativas para os nossos alunos, das quais ex-traímos uma grande mais-valia para os pacientes, instituindo uma autên-tica inovação”.

Os ingleses chamam-lhes serious games, pois não é um jogo pelo pra-zer lúdico de jogar, mas que se pro-jeta em função de uma necessidade específica que interessa repetir e de-senvolver. A pessoa que joga, no fundo, está a ser submetida a um ins-trumento clínico – neste momento, o DETI já desenvolveu vários jogos.

Paulo Ferreira destaca, acima de tudo, o entusiasmo de todos os en-volvidos nesta pioneira parceria en-tre as duas instituições. “Seria possí-vel lecionar realidade virtual aos nos-sos alunos criando alguns jogos sem outro objetivo que não a aprendiza-gem. Porém, o índice de motivação dos alunos que têm visitado as insta-lações do Centro Rovisco Pais, con-tactando clínicos e pacientes e des-cobrindo que estão a contribuir ati-vamente para a melhoria das condi-ções de vida destes pacientes é totalmente diferente. Do lado do Ro-visco Pais, a motivação para traba-lhar nestas novas direções é eleva-díssima, e todos sentimos que esta-mos a desbravar novos caminhos que de outra forma não seriam pos-síveis”.

sociação sem fins lucrativos e con-grega seis universidades públicas e três empresas nacionais. O polo de Aveiro tem uma dimensão notável no contexto do IT e as principais te-máticas são as Comunicações Óticas (fibras óticas que sustentam grandes volumes de dados), Comunicações Rádio (essenciais para acesso à in-formação em qualquer lado), Redes e Multimédia e Ciências Básicas e Tecnologias de Suporte (camadas mais fundamentais dos sistemas de telecomunicações). Tem um grande número de projetos em curso e apresenta-se como uma instituição com bastante dinâmica e com um peso muito forte no contexto do De-partamento.

O IEETA dedica-se à Informática e subdivide-se em três grupos: Infor-mática Biomédica e Tecnologias Biomédicas (aplicações para a me-lhoria na Saúde), Robótica Inteligen-te e Sistemas Inteligentes (robots au-tónomos) e Sistemas de Informação e Processamento de Informação.

“Há ainda projetos que envolvem as duas unidades de investigação e o departamento como um todo, tais como o Smart Green Homes com a Bosch, que envolve cerca de dois milhões de euros; e o Smart Open Campus ou SOCA que en-volve cerca de 1.2 milhões de eu-ros. Há ainda um conjunto de pro-jetos com os PALOP, como seja o projeto de Informatização dos Pro-cessos de Código Civil e Penal de

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Ensino Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro34

Abr2017

O Departamento de Educação e Psi-cologia (DEP) da Universidade de Aveiro (UA) é uma unidade orgânica de ensino, investigação e cooperação com a socie-dade no âmbito das áreas científicas de Educação e de Psicologia.

As origens remontam à fase inicial da UA, com presença nos cursos de forma-ção de professores, porém, ao longo de mais de 40 anos, o DEP foi-se reestrutu-rando e alargando a outras vertentes de intervenção. “Acima de tudo, é um De-partamento qualificado, estável, reco-nhecido interna e externamente, com tradição na Universidade”, afirma Jorge Adelino Costa, Diretor do DEP em en-trevista ao Perspetivas.

A agregação de outras áreas de forma-ção, para além da Educação, não consti-tuiu um obstáculo à estabilidade do De-partamento. Apesar de serem distintas, estas entrecruzam-se. O fio condutor

ciedade mais exigente no que ao ensino diz respeito, prestar atenção às constan-tes alterações nas políticas educativas e aos processos de globalização, sem es-quecer as significativas mudanças nos saberes, nas atitudes, nos comporta-mentos e nos interesses dos alunos que pressionam os professores a uma per-manente adaptação. “Também as ofer-tas educativas e os modelos de organiza-ção e funcionamento das escolas e do sistema educativo se alteram e os pro-fessores têm que estar preparados para responder a estes novos desafios”, refe-re Jorge Adelino Costa.

Consciente destas realidades, o DEP procura que os planos curriculares pro-postos aos seus alunos conjuguem for-mação científico-pedagógica rigorosa e especializada com competências de ino-vação e de intervenção crítica e cidadã, sem descuidar o contacto com os con-textos educacionais. “É fundamental o contacto com a realidade do meio edu-cativo através de observações, vistas de estudo, projetos e estágios, permitindo aos alunos estar em sintonia com o que irão encontrar no exercício profissional da docência”.

Como é sabido, a conjuntura nacional no que diz respeito ao preenchimento das vagas de acesso aos cursos de Ensi-no tem vindo a demonstrar alguma re-cessão. No entanto, o DEP tem esgota-do, todos os anos, as vagas da Licencia-tura em Educação Básica e mantido ní-

veis elevados de matrícula no Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º CEB, situação menos favorável nos cursos direcionados para o ensino do 2.º e 3.º Ciclo do Ensino Básico e do Secundário.

Os doutoramentos em Educação (com seis áreas de especialização) e em Multimédia em Educação são tam-bém muito procurados. Este último re-sulta de uma parceria com o Departa-mento de Comunicação e Arte da UA no reconhecimento do papel crucial que as novas tecnologias desempe-nham no ensino e na aprendizagem tendo em conta o contexto digital da sociedade em que vivemos.

Para a articulação entre o ensino e a investigação, o DEP conta com o pa-pel estratégico desempenhado pelo Centro de Investigação Didática e Tec-nologia na Formação de Formadores (CIDTFF) que integra, atualmente, 100 investigadores doutorados. “Tra-ta-se de um centro qualificado e pres-tigiado que, há mais de 20 anos, colo-ca a investigação sobre a formação de professores no centro da sua missão”, afirma Jorge Adelino Costa.

São várias as áreas de investigação (Didáticas Específicas, Supervisão, Mul-timédia e Tecnologias Educativas, Políti-cas e Organizações, Qualidade e Avalia-ção) e são diversos os projetos financia-dos a serem desenvolvidos em todos es-tes domínios. No âmbito deste centro, designadamente dos seus laboratórios, são ainda definidos programas e proje-tos de prestação de serviços em respos-ta às muitas solicitações externas. O Jardim da Ciência é um desses casos, um espaço aberto às escolas com o ob-jetivo de promover a educação científica junto das crianças.

transversal são as pessoas, tendo em conta o desenvolvimento e bem-estar do indivíduo ao longo da vida. Assim, pe-rante esta perspetiva, o DEP forma pro-fissionais que lidam com crianças, jo-vens, adultos e idosos nas dimensões de Educação, Psicologia e Gerontologia.

Com um número de alunos a rondar os 750, dos quais 250 em programas doutorais, o Departamento de Educa-ção e Psicologia tem ajustado a sua or-ganização e funcionamento face à evo-lução destes públicos e às crescentes exigências destas áreas de intervenção.

Educação e formação de professores

A formação de professores encontra--se confrontada com um conjunto de exigências que não existiam há alguns anos. É necessário ter em conta uma so-

A missão do Departamento de Educação e Psicologia (DEP) da Universidade de Aveiro, na vertente de ensino, consiste na formação qualificada de profissionais que intervêm no desenvolvimento e bem-estar das pessoas nos domínios da educação e formação de professores, da psicologia e, mais recentemente, da gerontologia.

Compromisso com a qualidade e a cidadania

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EnsinoDepartamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro 35

Abr2017

Psicologia e Gerontologia

A segunda área de maior dimensão do Departamento é a Psicologia que integra uma licenciatura, um mestra-do profissionalizante – Psicologia da Saúde e Reabilitação Neurológica – e um programa doutoral.

As três ofertas formativas nesta área são sustentadas pelo CINTESIS, um centro de investigação que reúne in-vestigadores de várias universidades nacionais. O polo de Aveiro (que inte-gra também um grupo de docentes da Escola Superior de Saúde da UA) dis-põe de valências de investigação em várias áreas da psicologia, para as quais existem competências técnicas e equipamentos apropriados situados no PsyLab (laboratório organizado em áreas funcionais como o StressLab, o NeuroLab e o OlfactionLab).

Mais recentemente, o DEP integrou na sua área de intervenção a Geronto-logia com a oferta formativa de um doutoramento e um mestrado. “A ten-dência da procura deste mestrado na Universidade de Aveiro dá-nos conta de um público diversificado maiorita-riamente proveniente das áreas da Saúde, da Educação, da Psicologia e das Ciências Sociais. Um público que tem um particular interesse nesta di-mensão da sociedade, cada vez mais pertinente e a necessitar de profissio-nais especializados, dado o envelheci-mento da população. A nossa aposta é em candidatos já qualificados em de-terminadas áreas que procuram o Mestrado em Gerontologia Aplicada ou o Doutoramento em Gerontologia e Geriatria (este em colaboração com a UP/ICBAS) como especialização ou aprofundamento das suas áreas de ba-se”, explica o Diretor do Departamen-to.

Internacionalização e desafios futuros

Para além dos programas usuais de mobilidade de estudantes e pro-fessores e das redes de investigação com outros países, a internacionali-zação do DEP está cada vez mais vi-sível no Mestrado em Educação e Formação e nos programas douto-rais. Segundo Jorge Adelino Costa, “nos últimos anos, nomeadamente na área de Educação, mais de meta-de dos candidatos aos doutoramen-tos são estrangeiros, com predomí-nio para os países de língua portu-guesa como Brasil, Angola e Mo-çambique”. A crescente procura dos programas doutorais por parte de alunos estrangeiros confere um ca-ráter de referência à formação e in-vestigação do DEP, mas também no-vos desafios que estes públicos colo-cam.

Jorge Adelino Costa, Diretor do Departamento de Educação e Psico-logia, assume que “o desafio futuro passa pelo aprofundamento contí-nuo da qualidade. Depois de perío-dos de expansão, neste momento, procuramos a consolidação das ofer-tas educativas, permitindo a aposta numa ou outra nova vertente, mas sem descurar o pilar fundamental da génese do DEP que é a formação de professores. Pretende-se consolidar as competências técnicas das pes-soas que formamos e, consequente-mente, a qualificação das profissões. É ainda fulcral ter em conta a dimen-são pessoal e cidadã dos nossos es-tudantes, isto é, conjugar a aposta na qualidade dos desempenhos com a formação de profissionais críticos e intervenientes”. Um importante desafio e uma não menos importan-te necessidade societal.

Licenciaturas• Educação Básica• Psicologia Mestrados Profissionalizantes• Em ensino

- Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º CEB- Ensino de Inglês no 1.º CEB- �Ensino� do� 1.º� CEB� e� de� Português� e� História� e� Geografia� de�

Portugal no 2.º CEB- Ensino do 1.º CEB e de Matemática e de Ciências Naturais no 2.º

CEB- Ensino de Português e de Língua Estrangeira no 3.º CEB e no

ES, na especialidade de Alemão ou Francês ou Espanhol- Ensino de Inglês e de Língua Estrangeira no 3.º CEB e no ES, na

especialidade de Alemão ou Francês ou Espanhol- Ensino de Biologia e Geologia no 3.º CEB e no ES- Ensino de Matemática no 3.º CEB e no ES

• Em psicologia- Psicologia da Saúde e Reabilitação Neuropsicológica

Mestrados Académicos• Educação e Formação

Área de especialização:- Administração e Políticas Educativas- Didática e Tecnologia Educativa em Ciências e Matemática- Didática e Tecnologia Educativa em Línguas- Educação Especial- Educação Social e Intervenção Comunitária- Supervisão

• Gerontologia AplicadaProgramas Doutorais• Educação

Área de especialização:- Administração e Políticas Educacionais- Didática e Desenvolvimento Curricular- Diversidade e Educação Especial- História e Teoria da Educação- Psicologia da Educação- Supervisão e Avaliação

• Multimédia em Educação• Psicologia• Gerontologia e Geriatria

Departamento�de�Educação�e�Psicologia�Universidade�de�AveiroCampus�Universitário�de�Santiago�|�3810-193�AVEIRO�|�PORTUGAL

telefone:�+351�234�370�353/234�370�352e-mail: [email protected]��|��https://www.ua.pt/dep/

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Ensino Instituto Politécnico de Portalegre36

Abr2017

O Instituto Politécnico de Portale-gre, com 38 anos de atividade, é uma instituição preponderante para a re-gião onde está inserida. Numa primei-ra abordagem temática, Joaquim Mourato começou por fazer um balan-ço relativamente às quase quatro dé-cadas de existência. “Considero que a criação do Politécnico foi o investi-mento mais importante na região de Portalegre no pós 25 de Abril. Tem si-do a porta de entrada para o ensino superior de muitos jovens, que de ou-tro modo não poderiam aceder”. A qualificação para população da re-gião e do país é também destacado pelo presidente, através da “colabora-ção com as organizações públicas e privadas da região, no sentido da sua sustentabilidade e competitividade”. Deste modo, num estudo recente, so-bre o impacto do Politécnico nos Con-

bilidade social, que faz do IPPortalegre a única instituição de ensino superior publico em Portugal com tal distinção, dando-lhe uma identidade própria e diferenciada”. Consequentemente, a envolvência das organizações no pro-cesso de aprendizagem dos estudantes é uma realidade vivenciada através da participação em vários momentos ao longo dos cursos, com destaque para visitas de estudo, seminários ou está-gios.

Sucedem-se inúmeras parcerias de-senvolvidas, nomeadamente ENO-VE+, uma Feira de Emprego e Em-preendedorismo, relativa a um encon-tro anual entre a academia e as orga-nizações, que percorre a região. Neste contexto evidencia-se também a par-ceria com Câmaras Municipais na ela-boração de projetos educativos desses municípios, ou parceria com diversos empresários agrícolas para a prática de inúmeras atividades pelos estudan-tes, ao longo do curso, resultando, em muitos casos, em emprego. “Os estu-dantes são os principais beneficiários, quer direta quer indiretamente. Direta-mente quando me refiro a estágios curriculares, práticas pedagógicas, participação em projetos e patrocínio para prémios a atribuir aos alunos. In-diretamente quando respeita à investi-gação aplicada realizada em parceria com as empresas, à incubação de em-presas de base tecnológica, à consul-toria especializada, aos serviços labo-ratoriais, à formação específica de curta duração de acordo com as ne-

cessidades das empresas”, enuncia de-talhadamente Joaquim Mourato

Oferta formativa de excelência.O IPPortalegre contempla quatro

escolas: a Escola Superior de Educa-ção e Ciências Sociais (ESECS), a Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG), a Escola Superior de Saúde (ESS) e a Escola Superior Agrária de Elvas (ESAE).

No presente ano as novidades quanto à oferta formativa centram--se na oferta de Cursos Técnicos Su-periores Profissionais. “Temos cur-sos direcionados para áreas mais es-pecíficas do saber, alguns únicos na oferta de ensino superior em Portu-gal, como sendo a energia, o design de animação, a higiene oral e a equi-nicultura”, elucida. Já para áreas tra-dicionais do saber o realce vai para as engenharias, a gestão, a educa-ção e intervenção social, passando pela saúde, agricultura e comunica-ção”, enfatiza.

O Politécnico de Portalegre sofreu um forte impacto com o processo de Bolonha, ao qual se sucedeu “o dese-quilíbrio entre a oferta (vagas) e a pro-cura (candidatos) e a crise económica e social que atravessámos, que desmo-bilizou jovens do ensino superior”, destaca. Ainda assim, hoje em dia o IPPortalegre conta com cerca de 2400 estudantes em toda a oferta, conferente e não conferente de grau, e com cerca de 200 professores.

celhos de Portalegre e Elvas, concluiu--se que o valor ascende aos cerca de 30 milhões de euros. Anualmente é este o valor que entra na economia local, resultado do impacto direto e in-direto do IPPortalegre. Neste mesmo estudo, concluiu-se também que “por cada euro investido pelo Estado no fi-nanciamento do IPPortalegre existe um retorno de 3,43 euros”, sendo es-te impacto económico ainda associa-do à criação de cerca de 1000 empre-gos.

Paralelamente, a ligação com a co-munidade, tendo em vista a participa-ção em iniciativas e projetos de cariz económico-social e cultural, é uma premissa cada vez mais consumada. Para Joaquim Mourato, a relação com a comunidade tem vindo a ser fortale-cida. “Este é o significado da certifica-ção do sistema de gestão de responsa-

Em conversa com Joaquim Mourato, presidente do Instituto Politécnico de Portalegre (IPP), foi-nos dada a conhecer a realidade da instituição e o impacto que a mesma tem na região e para a comunidade de alunos.

Viver e estudar em Portalegre

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EnsinoInstituto Politécnico de Portalegre 37

Abr2017

A vertente de apoio ao empreendedoris-mo é uma aposta estratégica do IPPortale-gre, que passou a contar com um suporte fí-sico, a BioBIP – Bioenergy and Business In-cubator of Portalegre, enquadrada no Siste-ma Regional de Transferência de Tecnologia do Alentejo. “A sua implementação traduz--se na criação de uma estrutura de suporte a atividades de I&DT aplicada, cujo conheci-mento gerado é passível de transferência pa-ra o meio económico e social, por via da criação de novas empresas, prestação de serviços às atuais e fortalecimento da rela-ção entre o Politécnico e o tecido produti-vo”, contextualiza o nosso interlocutor. A BioBIP está estruturada numa Incubadora de Empresas - BioBIP – In (pré- incubação, in-cubação e desenvolvimento empresarial), num Centro de Bioenergia - BioBIP – Ener-gia (Centro de experimentação semi-indus-trial, à escala piloto, com apoio laboratorial) e numa FabLab - BioBIP fab.lab. Esta é a nossa oferta para que, na actualidade, “ter-mos mais de 20 empresas ou projectos de incubação”, completa Joaquim Mourato.

Uma formação com base na proximidade

A relação de proximidade com os estudan-tes é outra característica que diferencia a Instituição. Nesta linha orientadora salienta-

-se um programa de mentorado com jovens do 2º ano a acompanhar um grupo pequeno de estudantes novos, “bem como o facto de termos também o nosso gabinete de apoio psicopedagógico”, indica. Deste modo, o acompanhamento dos jovens revela-se es-sencial num período tão importante das suas vidas. Assim sendo, o presidente dá-nos a conhecer outro Programa, denominado co-mo IPP Amigo. O mesmo tem como objecti-vo auxiliar os estudantes que estão impedi-dos de recorrer ao apoio social direto (bolsas de estude), assim esta iniciativa pretende re-duzir ou tornar o estudante isento do paga-mento de alojamentos nas residências do IP-Portalegre, e providenciar senhas de refei-ção bem como um cabaz mensal de alimen-tos (com apoio de parceiros).

Em paralelo, a colaboração dos estudantes, através de serviços ou tarefas em prol da co-munidade académica, são um veículo impor-tante e vivenciado na Instituição. Nesta pers-pectiva, salientam-se os projectos de alimenta-ção saudável ou os descontos que respeitam ao programa Cidades Amigas dos Estudantes, em locais como ginásios, clínicas, escolas de condução, entre muitas outras. Em suma, esta oferta integrada, através de inúmeros descon-tos significativos, são um fator crucial para a permanência dos estudantes na região, ao mesmo tempo em que aproveitam para reali-zar determinados objetivos.

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Ensino Instituto Politécnico de Beja38

Abr2017

Seria impensável imaginar o distrito de Beja sem uma Instituição capaz de potencializar o Alentejo em termos eco-nómicos e culturais. O caminho percor-rido ao longo das últimas décadas é o espelho de um espaço onde se fomenta todo um processo de aprendizagem e de onde têm saído profissionais de ex-celência. A influência que o IPBeja tem para o Interior constata-se, numa pri-meira fase, no modo como atua face à desertificação. A recessão demográfica da região é um fenómeno visível e as estruturas governamentais têm como missão conter o fluxo populacional que se move para o Litoral.

Vito Carioca, presidente do Instituto, alerta para a necessidade de se fortale-cerem políticas “para combater os pro-blemas demográficos evidentes”, sendo esta premissa essencial para se incre-mentar uma “aposta na internacionali-zação”. Atualmente, esta medida pre-tende dinamizar o paradigma vigente e

Neste contexto de crescimento terri-torial, Vito Carioca faz referência ao conceito de “Cidade Criativa”. A criati-vidade é um processo mental para a criação de novas ideias, ou a relação de ideias já existentes. Neste âmbito, a “ci-dade criativa” atua como o principal promotor para o desenvolvimento eco-nómico, social e territorial de uma de-terminada cidade. Richard Florida, o impulsionador deste pensamento, pretende que as cidades se consigam adaptar ao futuro, identificando e aproveitando os recursos inerentes às mesmas, e ajudando-as a atingir o seu potencial. O presidente do IPBeja, se-guidor e admirador desta perspetiva, afirma que “as cidades criativas são ci-dades do conhecimento, com forte li-gação às Instituições do Ensino Supe-rior”. Na sua ótica “as autarquias têm de ter um pensamento proativo”, com destaque para “os componentes cultu-rais”, que estão na causa da fixação das pessoas, inclusive dos estudantes. Em suma, é fulcral compreender o modo de como as cidades podem pensar e agir com mais imaginação, sempre com a intenção de criarem condições que pro-piciem o bem-estar da população.

Ensino diferenciadorO IPBeja é composto por quatro es-

colas que abrangem múltiplas áreas do saber: a Escola Superior Agrária, a Es-cola Superior de Educação, Escola Su-perior de Tecnologia e de Gestão e a Escola Superior de Saúde. “Procura-mos fazer apostas educativas em áreas muito específicas. Por isso mesmo des-tacamo-nos nas áreas de Gestão, da Enfermagem, do Desporto, do Ciber-crime e do Ciberterrorismo”, conside-ra.

Com cerca de 2500 estudantes, a identidade do IPBeja baseia-se na quali-dade, uma ideia chave que atravessa “todo o meu ministério”. Esta forma de pensar o ensino representa o modo co-mo se transmite o conhecimento aos jovens estudantes, permitindo-lhes uma preparação adequada às necessidades do mercado atual. Para o presidente, “a formação dos quadros do corpo docen-te é um parâmetro essencial” e um princípio basilar ao funcionamento do Instituto.

No que respeita ao ensino, as carac-terísticas práticas do politécnico dife-renciam-no no panorama atual. Com um pensamento estruturado face a esta

está a ser consolidada com a chegada de estudantes estrangeiros. “Temos as residências cheias, com cerca de 103 estudantes oriundos da Guiné, Angola ou Cabo Verde”, indica. A política vem sendo adotada por todos os Institutos do Interior e, no caso do IPBeja, “o ob-jetivo passa por aumentar a vinda do número de alunos”. O empenho e com-promisso em estimular a formação aca-démica no território obrigam a inúme-ras viagens e contactos com esses paí-ses: “É um trabalho contínuo com liga-ções aos diferentes governos locais. Temos mesmo um responsável por es-ta vertente relativa aos alunos interna-cionais”, elucida. Ainda assim, o nosso entrevistado alerta novamente para “medidas que promovam a fixação, porque se não forem os governos a mudar o paradigma, só os Institutos e Universidades não conseguem”, com-pleta.

O Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) apresenta um impacto significativo na economia e no desenvolvimento cultural da região. Adaptado aos mercados emergentes, as ofertas formativas da Instituição procuram promover o conhecimento relativo às necessidades contínuas da sociedade.

De Beja para o mundo

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EnsinoInstituto Politécnico de Beja 39

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corpo docente e, também, pelas óti-mas estruturas laboratoriais. O inves-timento em instalações capazes de corresponder com as exigências atuais são o resultado de um investi-mento em laboratórios de qualidade mundial. “Apenas se consegue acredi-tar e validar as estruturas de suporte ao conhecimento se tivermos exce-lentes estruturas laboratoriais”, confir-ma Vito Carioca.

Empregabilidade e esforços futuros

O IPBeja adapta a sua oferta forma-tiva consoante a escala de empregabi-lidade disponibilizada, todos os anos, pelo Ministério. “Existe uma estrutura que estuda as questões da empregabi-lidade e, quando planificamos novos desenhos curriculares e novos cursos, temos em conta este enquadramento. Esta é também uma forma que encon-tramos para nos adaptarmos àquilo que o mercado pede”, esclarece. A garantia de emprego para quem fre-quenta o Instituto reflete-se na per-centagem “acima da média” de alu-

matéria, o nosso interlocutor acredita que as ofertas formativas devem res-ponder às necessidades contínuas e diárias: “O ensino politécnico deve ser um ensino profissionalizante e li-gado à realidade e contextos da socie-dade. A sociedade evolui todos os dias e devemos acompanhar este progres-so com estudos que nos permitam perceber quais as suas dificuldades, bem como o modo como as superar”. Para completar a linha de pensamen-to que define o papel do ensino Poli-técnico, Vito Carioca preserva a ideia de estimular e incentivar quatro ou cinco áreas de estudo: “O ensino po-litécnico é o conjunto de todas as componentes específicas que são abordadas nas suas regiões. Deve-mos, diariamente, estar preparados para dar respostas diferentes”. A títu-lo de exemplo destaca o caso do aero-porto de Beja, para ilustrar o modo de como as instituições devem estar pre-paradas para que o aeroporto funcione a qualquer momento. “O nosso modo de atuação tem de estar organizado pa-ra futuros estudos de logística e aero-náutica, por exemplo. Em suma é a ne-

nos que conseguem atingir os objeti-vos profissionais. Na Escola Superior de Tecnologia e Gestão, ainda no 2º ano, são vários os jovens referencia-dos por inúmeras empresas para, posteriormente, exercerem a profis-são.

Em relação ao futuro, Vito Carioca é da opinião que o instituto deve ser pen-sado tendo em conta o modo como o Alentejo perspetiva o futuro. O objeti-vo passa por aperfeiçoar diferentes áreas, com destaque para a vertente agrícola. “Atualmente estamos a es-pecializarmo-nos na agricultura traba-lhada com a tecnologia, por isso mes-mo já temos dois tratores inteligen-tes”. Contudo, os avanços alcançados com o auxílio tecnológico devem ser acompanhados pela vertente huma-nista, “pois é com as pessoas que pro-movemos desenvolvimento”. Assim sendo, é através desta última mensa-gem de incentivo a todos os interve-nientes, que o presidente demonstra a importância que cada um tem para a evolução do Instituto: “Se todos se sen-tirem motivados, o IPBeja será ainda mais forte”.

cessidade que impõe à instituição local um reajustamento da oferta”, acrescen-ta.

É a estrutura direcionada para os mercados emergentes, a principal causa da preparação e dos estudos re-lativos às áreas acima descritas (Ci-berterrorismo e Cibercrime). O cená-rio de entusiasmo intrínseco a estas temáticas tem como consequência a presença dos docentes como consul-tores em organizações como a NA-TO, revela. Este enquadramento le-vou também à presença de Vito Ca-rioca no Panamá. As conversas com os responsáveis do Conselho de Se-gurança do país da América Central determinaram uma formação de se-gurança nacional relativa ao Panamá a ocorrer em Portugal. Já em setem-bro do presente ano “vêm os primei-ros 25 alunos daquele país realizar o mestrado em Segurança no nosso Ins-tituto”, salienta.

O excelente desempenho protago-nizado em áreas indispensáveis ao mundo é protagonizado pelo saber científico e técnico. O equilíbrio entre ambos consegue-se pela primazia do

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EnsinoColégio do Rosário 41

Abr2017

Com uma história e tradição longa, sempre associada à inovação, o Colégio do Rosário é uma referência em termos educativos na formação das novas gera-ções na cidade do Porto. Esta congrega-ção religiosa, com três colégios em Por-tugal (Porto, Fátima e Lisboa) e outros em diferentes países, acredita, desde as suas origens, que “pessoas bem forma-das colaboram na transformação do mundo”, e entende a educação como prioridade na sua Missão.

Uma visão educativa com matriz ca-tólica, que bebe a sua essência “no ca-risma e espiritualidade” do Instituto Religioso, visão assumida por profes-sores e auxiliares que, mais do que “o caráter de escola”, se reveem na mis-são de educar, de formar pessoas ca-pazes de colaborarem na transforma-ção da sociedade, numa clara aproxi-mação ao projeto de Deus.

Assim revela a Irmã Mª Teresa No-gueira, diretora e administradora do Rosário: “a nossa perspetiva de Edu-cação centra-se nos alunos e no seu desenvolvimento integral, com pro-postas consistentes e inovadoras que estimulem o desenvolvimento de to-dos, cada um na sua singularidade e em todas as suas dimensões. Preten-de-se o desenvolvimento pleno das suas capacidades e talentos, de uma aprendizagem sólida, da sua inteligên-cia emocional e espiritual, das capaci-dades relacionais e sociais; uma com-petência cultural e intelectual enraiza-da em valores humanos e espirituais,

vamente os alunos se assumam como agentes do seu desenvolvimento e cons-trução do seu futuro.

Valorizando a formação para a Ci-dadania, o Colégio do Rosário desen-volve um programa próprio de “De-senvolvimento Humano” versando Di-reitos Humanos, Sustentabilidade e Ecologia, Promoção da Paz, Técnicas de Debate, Ciência Politica, Estilos de Liderança. “Entendemos esta área e os temas escolhidos, como centrais na nossa responsabilidade de formar lide-ranças futuras comprometidas com a transformação do mundo, com crité-rios de Justiça, de Vida e Dignidade para todos”.

A Educação Moral e Religiosa Cató-lica, a Educação da Interioridade, os dias de reflexão/ retiro, a celebração da Eucaristia fazem parte do progra-ma destinado a todos os alunos. E há também mais propostas para quem as procura: Peregrinações a Fátima, a Santiago de Compostela, Taizé, Gru-pos de Jovens, Catequese ligada à Pa-róquia, são algumas apostas.

Todo o ambiente e programa descri-tos refletem-se nos excelentes resulta-dos que os alunos apresentam, colo-cando o Colégio do Rosário no topo do ranking nacional de escolas. A Ir-mã Teresa Nogueira realça que estes alunos “marcam a vida do Colégio pe-los excelentes resultados que apresen-tam, mas também pela sua presença tão completa e participativa, na vida académica, nas atividades de volunta-riado, dinâmicas de pastoral e vida cristã, na arte, no desporto”.

Ser InterventivoA par da componente cultural e

científica de excelência, no Colégio do Rosário procura-se a formação de boas pessoas, bons cidadãos, bons cristãos. Este desenvolvimento está acautelado através de projetos de soli-dariedade, sedimentados progressiva-

mente desde as idades mais precoces. “a ideia é educar a atitude de solidarie-dade; não importa ser melhor do que os outros, mas sim, ser o melhor pos-sível para os outros”.

Desenvolvem-se projetos de volunta-riado, tais como o “Espaço Raíz” – cen-tro de desenvolvimento comunitário no bairro de Ramalde, onde alunos do se-cundário colaboram no apoio escolar a crianças, e os mais novos são envolvi-dos em programas com os idosos.

No Projeto de Acompanhamento So-cial (PAS) – destinado às pessoas Sem--abrigo da cidade, colaboram alunos do 3º ciclo na preparação de kits e alunos do secundário nas “equipas de rua”, acompanhados por adultos. E há mo-mentos em que o Colégio acolhe nos seus espaços os sem-abrigo deste proje-to, tais como a Festa de Reis.

No culminar, surge, para os alunos finalistas, a possibilidade de participa-rem na missão internacional, “um mês de Missão em Timor” promovida pela Congregação, num projeto de serviço à população timorense, com o acolhimento e apoio da Comunidade das Irmãs em missão neste país.

O Colégio do Rosário assume um sentido claro de comunidade educati-va aberta, em interação com a comu-nidade local e com uma consciência alargada à comunidade global. Apos-ta, também, na comunidade interna: docentes e auxiliares educativos são valorizados. “Somos uma comunidade educativa com valores e ideais, com sentido de pertença, estima mútua e responsabilidades partilhadas. Cultiva-mos o trabalho em equipa, a partilha de boas práticas, os hábitos de refle-xão, de investigação, e estimulamos a formação contínua. Estes são valores com os quais influenciamos os nossos alunos. Queremos dar-lhes o nosso melhor, transmitir saberes, alargar ho-rizontes e testemunhar exemplos de vida. Que no futuro, sejam capazes de marcar a diferença a favor de uma so-ciedade mais justa, onde todos te-nham Vida em abundancia”.

que favoreça a maturação harmoniosa da sua identidade.”

A admissão dos alunos é feita aos três anos de idade ou na entrada de cada novo ciclo de estudos, consoante as vagas existentes. Não há testes no processo de admissão, mas procura--se aferir a sintonia e convergência da família com este Projeto.

Muitas destas crianças fazem um ca-minho integral desde os três anos até ao término do ensino secundário. Um per-curso repleto de oportunidades nesta que é a “sua segunda casa”, onde se evi-dencia o acompanhamento personaliza-do, a competência e a dedicação dos professores e auxiliares, a alta fasquia de exigência e o rigor acompanhado de afeto, as condições de aprendizagem e a qualidade de instalações.

Esta filosofia educativa também se tra-duz em propostas diferenciadoras que caracterizam o currículo da Instituição. “Acreditamos que é importante capaci-tar os nossos alunos para a vivência livre e participativa no mundo global”. O de-senvolvimento da inteligência emocio-nal assim como da consciência fonológi-ca são projetos diferenciadores no ensi-no Pré-escolar. No 1º Ciclo, surge o “projeto de rotatividade” que pretende alargar a interação e estimular a adapta-ção à mudança. O projeto de inglês ini-cia-se aos 3 anos, prolongando-se até ao 12º ano, através do contacto diário com a língua inglesa e inclui a certifica-ção das aprendizagens, de acordo com o sistema da Universidade de Cambrid-ge. A partir do 2º ciclo, outros projetos diferenciadores ganham importância nas áreas da formação humana e acom-panhamento. Cabe ao diretor de turma a monotorização de um projeto de acompanhamento individual e em pe-quenos grupos, a fim de que, progressi-

Integrando a missão internacional das Irmãs do Sagrado Coração de Maria, o Colégio Nossa Senhora do Rosário, presente no Porto desde 1871, revela-se pela excelência das boas práticas educativas que culminam na formação de cidadãos do mundo, atentos e pró-ativos.

Educar com visão integral e profundo respeito pelo desenvolvimento do aluno, em todas as dimensões

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Ensino Colégio do Sagrado Coração de Maria42

Abr2017

Integrado na missão internacional das Irmãs do Sagrado Coração de Maria, o Colégio de Fátima é uma referência de ensino na região, que apresentava na al-tura uma forte necessidade de escolari-zação. A partir do dia 29 de abril de 1951, a casa que fora construída com o intuito de acolher peregrinos passa a funcionar como escola, contribuindo ati-vamente para o desenvolvimento da co-munidade local.

Em Portugal, para além do Colégio do Sagrado Coração de Maria, em Fáti-ma, existem mais dois colégios (Colégio do Sagrado Coração de Maria, em Lis-boa e Colégio Nossa Senhora do Rosá-rio, no Porto) que, a par de outros em diferentes países, entendem que as boas práticas educativas com matriz católica culminam na formação de cidadãos conscientes e ativos na sociedade.

Na fidelidade a esta visão cristã, os Colégios do Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria desenvol-vem a sua missão educativa e formativa, que “impulsiona a colaboração com Deus na transformação do mundo” através da transmissão de valores funda-

ano letivo, visa estreitar a ligação entre o colégio e instituições locais de solida-riedade social que acolhem crianças ou lares de idosos. Os nossos alunos apa-drinham e visitam regularmente essas instituições, levando essencialmente ale-gria através da partilha de canções e poemas”, revela Serafim Costa, diretor do colégio, evidenciando que “tudo isto concorre para a construção de um ser humano mais solidário”.

Com uma oferta curricular do 5º ao 9º ano de escolaridade, o Colégio situa-do em Fátima prima pela excelência da qualidade de ensino com a missão de gerar o sucesso escolar dos seus alunos. “Olhando para a realidade do colégio, efetivamente temos uma população es-colar muito especial. Do universo de 500 alunos, 199 têm carências econó-micas, isto é, estão classificados no es-calão A ou B, representando 40 % da população escolar. Não nos preocupa-mos tanto com os rankings, mas sim com o sucesso do aluno, ou seja, conse-guir que no seu percurso escolar o aluno faça os cinco anos sem retenções e si-multaneamente cresça em todas as di-mensões do ser humano”, afirma o dire-tor da instituição de ensino. Dados do Ministério da Educação classificaram o Colégio do Sagrado Coração de Maria, em 2016, na 72º posição, em 1218 es-colas, no indicador global dos percursos diretos de sucesso. “Estamos fora do ranking das melhores notas, pois para além dos 40% de alunos carenciados, temos ainda 8% de alunos com necessi-dades educativas especiais e outros alu-nos institucionalizados”, afirma.

Na continuidade da melhoria do su-cesso escolar dos alunos do Colégio, a Instituição tem implementado projetos e iniciativas que permitam a concretiza-ção da missão primordial. Há dois anos que o Projeto +Sucesso procura, assim, envolver os alunos e as famílias no pro-cesso de ensino. “Procuramos promo-ver atitudes positivas face à aprendiza-gem, desenvolvendo as capacidades dos alunos para definirem objetivos e persis-tirem na sua concretização e, ao mesmo

tempo, fomentarem o sentimento de pertença à escola”, assevera Serafim Costa, que prossegue na descrição do planeamento deste projeto. “Começa-mos por reunir com os pais e alunos para incutir a importância da escola e clarificar a situação de partida, anali-sando os resultados que os alunos tra-zem do ano letivo anterior e identifi-cando as dificuldades e as condicio-nantes ao sucesso dos alunos. Estabe-lecendo objetivos individuais a curto e longo prazo, os alunos preenchem uma ficha de compromisso, onde es-pecificam as estratégias que tanto eles como os pais vão implementar para atingir as metas a que se propõem. O papel da escola passa por criar condi-ções, acompanhar e monitorizar os re-sultados que os alunos vão obtendo e, ao mesmo tempo, ir reajustando as es-tratégias se necessário”.

Os bons resultados são uma evidência quando o professor Serafim Costa indi-ca ao Perspetivas que, no ano letivo an-terior, “a taxa de sucesso dos alunos que conseguiram transitar para o ano letivo seguinte foi de 99,4%”. Um fator grati-ficante para os 34 docentes e 23 auxi-liares que, em conjunto, “trabalham e contribuem ativamente para a forma-ção de futuros cidadãos mais justos, so-lidários e atentos ao bem comum”.

Com tradição na localidade de Fáti-ma, o Colégio desempenhou ao longo dos quase 66 anos um importante pa-pel para o desenvolvimento da região. A ligação próxima com a comunidade é estabelecida através de uma série de protocolos / colaboração com várias entidades locais, nomeadamente o San-tuário de Nossa Senhora de Fátima, a Câmara Municipal de Ourém, a Unida-de de Saúde Familiar de Fátima, os Bombeiros Voluntários de Fátima, entre outras. “Somos uma escola aberta, de proximidade, com tradição na cidade de Fátima há mais de 65 anos e ao longo desta existência fomos estabelcendo uma rede de colaboração com várias entidades públicas, privadas e eclesiásti-cas”, conclui o diretor Serafim Costa.

mentais aos alunos em projetos e ativi-dades complementares à aprendizagem que seguem os princípios orientadores do ideário da entidade titular, dos quais se destaca a formação integral da pes-soa, a educação para a justiça, a integra-ção ética no mundo global, o espírito de comunhão e fraternidade evangélica e a exigência de qualidade, desenvolvendo uma cultura de rigor. No âmbito destas atividades estão os 15 clubes de com-plemento curricular, como o aTerra, Ciências, Dança Criativa, História, Jo-gos Matemáticos, Programação e Ro-bótica, Espanhol, Música, Voleibol, en-tre outros que são disponibilizados aos alunos segundo os seus interesses.

“À parte destes projetos desenvolve-mos dois mais amplos que desempe-nham um papel de cariz solidário na co-munidade escolar da própria Instituição e na comunidade local. O Centro de Apoio Solidário é um projeto com vá-rios anos, que procura recolher e distri-buir produtos alimentares e de higiene para ajudar alunos de famílias mais ca-renciadas. O Projeto Educação para a Justiça é um projeto que, ao longo do

O Colégio do Sagrado Coração de Maria, presente em Fátima desde 1951, assume a missão de providenciar uma educação integral às crianças da região. Para além das atividades letivas, os alunos participam em vários projetos e iniciativas extracurriculares que promovem a formação de

cidadãos conscientes e ativos na sociedade, seguindo os pricípios cristãos orientadores.

A qualidade do ensino aliada aos projetos complementares para a formação integral do aluno

Direção Pedagógica do Colégio

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EnsinoColégio do Sagrado Coração de Maria 43

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O Colégio do Sagrado Coração de Maria, fundado em 1941 em Lisboa, é pertença do Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria (IRSCM), tal como os outros dois Co-légios (Porto e Fátima), em Portugal.

Partindo do Ideário das presenças e obras do IRSCM, cuja centralidade é a pessoa de Jesus Cristo e a sua missão evangelizadora, o Colégio centra a sua ação educativa em três vertentes essen-ciais: ensino de qualidade, evangeliza-ção num contexto de intervenção social e formação da comunidade educativa, como refere Margarida Marrucho, dire-tora pedagógica desta instituição.

“Temos a consciência muito concre-ta de que a educação é uma forma de evangelizar, daí que uma das premis-sas do nosso projeto educativo seja a evangelização. Para as crianças, esta premissa concretiza-se num contexto de intervenção social. Existe a preocu-pação em abrir as portas do Colégio e estabelecer pontes com outras institui-

da às funções que cada um desempe-nha, nas vertentes científica e pedagó-gica. Os desafios atuais, com o avanço das novas tecnologias, exigem uma maior adaptação ao contexto em que as crianças estão inseridas, determi-nando uma atualização e inovação constantes”, afirma.

Como resultado destas duas premis-sas conjuntas, concretiza-se a formação integral dos alunos, através de um ensi-no de qualidade e exigência com desen-volvimento de dons e competências, em ordem ao ingresso no ensino superior. No entanto, segundo Margarida Marru-cho, “a exigência da qualidade não é fa-zer bem a todo o custo, mas vem do amor que temos pelas crianças e do ser-viço que pretendemos prestar através de boas práticas”. Querendo servir mais e melhor, o Colégio do Sagrado Cora-ção de Maria de Lisboa está, desde se-tembro de 2016, certificado em três normas ISO: Ambiente, Qualidade e Segurança, “num compromisso sério de melhoria contínua”.

Com oferta curricular desde o Pré-es-colar até ao Ensino Secundário, a referi-da instituição adapta as atividades e os objetivos educativos e evangelizadores de acordo com as distintas faixas etá-rias a que se destinam. O tipo de lin-guagem e abordagem tem de ser, por certo, diferente e adequado com as preocupações, vivências e maturidade dos alunos. “Com os nossos alunos celebramos vários momentos do ano litúrgico e do calendário escolar, trans-mitindo-lhes que a festa faz parte da vida. Por exemplo, o dia do Colégio é um dia de festa, onde promovemos di-versas atividades e onde celebramos uma Eucaristia de Ação de Graças, re-conhecendo o Colégio que somos”. A partir dos cinco anos, os alunos come-çam a ter formalmente o Despertar da Fé e com a transição para o 1º ano do ensino básico, frequentam as aulas de Educação Moral e Religiosa Católica,

onde desenvolvem uma leitura cristã do mundo e da sociedade.

A formação do desenvolvimento pes-soal das crianças e dos jovens alia-se ao sucesso académico evidenciado pelo Colégio. Um sucesso que, segundo a di-retora do mesmo, “deve-se ao trabalho, dedicação e compromisso dos professo-res com o sucesso dos alunos, mas tam-bém à predisposição destes para a aprendizagem”. Cabe também ao cor-po docente despertar e cativar os alunos para as suas responsabilidades perante o ensino que lhes é prestado – “uma ta-refa árdua, mas gratificante”.

O vasto conjunto de atividades ex-tracurriculares permite desenvolver competências e aptidões e outro tipo de capacidades como o trabalho em equipa, a concentração e a definição de objetivos. «Às vezes relacionar aqui-lo que se consegue fazer numa ativida-de de enriquecimento curricular com o estudo, é muito bom. Num ambiente de alegria, harmonia e companheiris-mo, estas atividades complementam tudo o resto. Para algumas crianças, o futebol mostra-lhes capacidades como a concentração e o treino, que devem transpor para as diferentes disciplinas como a Matemática, o Português, o Inglês… O trabalho, a insistência, o foco e a atenção levam a perceber que, em conjunto, tudo é mais fácil».

Aberto à comunidade envolvente, o Colégio do Sagrado Coração de Maria estabelece “várias e boas relações com diversas instituições, sempre com o objetivo de formar os seus alunos numa perspetiva de abertura ao mun-do para que possam ser, no futuro, o melhor que o mundo precisa”, conclui a professora Margarida Marrucho.

ções diversas e adequadas às diferen-tes faixas etárias dos alunos. Estas parcerias são estabelecidas com o ob-jetivo de sensibilizar os alunos para outras realidades e, assim, permitir que se sintam co-responsáveis pela transformação que, enquanto cida-dãos, podem vir a fazer mais tarde”, explica a diretora do Colégio. Além deste contacto permanente com ou-tros contextos educativos e sociais, os alunos têm ainda “momentos de ora-ção, de recolhimento, interioridade e reflexão com o intuito de promover o desenvolvimento da fé”.

Os valores e ideais apreendidos na vertente evangelizadora são também uma parte integrante do objetivo de formar a comunidade educativa. “Pa-ra além da formação transversal que todos nós precisamos, como as rela-ções humanas, resolução de conflitos, relações interpessoais e formação reli-giosa, existe também a necessidade de uma formação adequada e direciona-

O projeto educativo do Colégio do Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, assenta em três premissas essenciais para a formação e o desenvolvimento integral dos seus alunos enquanto futuros cidadãos ativos. Como linha orientadora transversal à ação educativa está a evangelização inserida num contexto de intervenção social.

“A exigência da qualidade de ensino vem do amor que temos pelas crianças”

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Ensino Escola Profissional Infante D. Henrique44

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Situada no Porto, desde 1995, a Escola Profissional Infante D. Henri-que (EPIDH) conta com 27 anos de experiência. Este estabelecimento de ensino nasceu em 1990, através de um contrato programa celebrado entre os Ministérios da Justiça e da Educação. Nessa altura, a escola es-tava situada em Izeda, no concelho de Bragança.  

No ano de 2000, transformada em Escola Pública, foi integrada na rede dos estabelecimentos de ensino do Ministério da Educação com a dupla tutela do Ministério da Educação e do Ministério da Justiça, mantendo a designação de Escola Profissional In-fante D. Henrique. 

A missão deste estabelecimento pas-sa por promover a formação pessoal,

ção diz respeito, um dos marcos da atuação da EPIDH, no ano transato, prendeu-se com a implementação do modelo CAF (Common Assess-ment Framework), um processo de autoavaliação que revelou resultados “extremamente positivos”, divulga a diretora. Dos nove parâmetros de avaliação em consideração o valor mais baixo apresentado ronda os 65% estando relacionado com os re-sultados finais dos alunos, número muito condicionado pelas desistên-cias dos jovens, encaminhados pelas instâncias formais de controlo, quan-do atingem a maioridade. Recorde--se que esta instituição de ensino com dupla tutela do Ministério da Educação e do Ministério da Justiça acolhe, muitos, jovens que apresen-taram dificuldades no ensino regular e encontram ali uma alternativa no seu percurso académico. Por outro lado, parâmetros que avaliam a lide-rança, a qualidade do ensino ou a ar-ticulação com a comunidade e com os parceiros atingiram percentagens na ordem dos 80 a 90%. 

Promoção do sucesso escolar 

No final do ano de 2016 todas as escolas foram chamadas a apresen-tar um projeto de promoção do su-cesso escolar. A direção da EPIDH expôs um projeto assente em quatro medidas, que revela já os seus frutos na diminuição do número de desis-tência de alunos no 1º e 2º ano es-colares.  

O primeiro projeto designado “Participa, descobre o que não sa-bes”, implica a implementação de uma dinâmica diferenciada e um maior investimento e integração dos alunos do 1º ano, que começaram a participar nas aulas do 3º ano, “nu-ma tentativa conseguida de suscitar

curiosidades”. Num universo de 230 alunos, dez dos quais estrangeiros, a EPIDH manifesta igualmente a preo-cupação de transmitir a mensagem de que “todos os alunos são iguais dentro do espaço escolar”. Nesse sentido, este ano foi instituído o uni-forme escolar, medida que devida-mente explicada foi aceite pela ge-neralidade como um sinal de perten-ça a uma Instituição. 

A segunda ação sob o nome “Ri-gor e partilha rumo ao sucesso” dire-ciona-se ao trabalho colaborativo entre docentes e a dinamização de projetos multidisciplinares. 

O terceiro projeto prevê a criação de um restaurante aberto à comuni-dade, que deverá abrir portas no de-curso do terceiro período, contando com a presença de uma turma do curso de Cozinha/Pastelaria, que confeciona as refeições, e outra de Restaurante/Bar, que suportará to-do o serviço de mesa. De premente importância para a Escola é o facto de este projeto ser uma janela para o trabalho desenvolvido dentro da Ins-tituição, proporcionando aos estu-dantes maior componente técnica, criando, ainda, respostas para a rea-lização de FCT. A Dra. Olga Sá cap-ta a nossa atenção para a crescente dificuldade na colocação de estudan-tes em locais de estágio, fruto da en-trada de adolescentes muito jovens, “alguns com apenas 14 anos”, o que levanta problemas aos quais a Esco-la tem que dar resposta. 

O quarto projeto, “Arrisca apren-de fazendo”, procura o desenvolvi-mento de atividades que vão ao en-contro das pretensões dos estudan-tes sob a orientação dos docentes. Na extensão do projeto “Justiça pa-ra Todos”, promovido por um con-junto de entidades, nomeadamente a Direção Geral de Reinserção Social e o Ministério da Justiça, a escola

escolar e profissional de jovens, para além das diretrizes conferidas a todas as escolas profissionais. Os seus prin-cípios orientadores assentam no Sa-ber, na Qualidade Educativa, na Cida-dania e na Inclusão, fazendo com que o seu projeto educativo conjugue o ensino com os valores e os princípios do saber ser e saber estar. De acordo com a diretora, a Dra. Olga Sá, “o projeto de formação profissional e re-inserção social nunca foi abandonado. É essa a nossa origem, é a matriz do nosso projeto, mas estamos abertos à comunidade e acolhemos qualquer jo-vem que procure formação profissio-nal com rigor técnico em hotelaria e restauração ”. 

Com o intuito de se destacar no que à qualidade e ao rigor da forma-

Não podemos ficar indiferentes ao trabalho desenvolvido pela Escola Profissional Infante D. Henrique. Trabalhando com uma população jovem que, em algum momento, se viu confrontada com as adversidades da vida, alunos, professores e direção enfrentam preconceitos e apresentam atividades meritórias, formando jovens qualificados que surpreendem o mercado de trabalho.  

Instituição que preza o rigor e a qualidade técnica 

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EnsinoEscola Profissional Infante D. Henrique 45

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que transmitiram uma resposta po-sitiva a este ensejo. “Daquilo que vamos auscultando junto da rede de entidades com as quais colabo-ramos na colocação dos nossos alunos em formação em contexto de trabalho, as unidades hoteleiras têm interesse nesta ação pois per-mite-lhes formar os seus quadros”, foca a diretora. Naturalmente tal reação diz muito da qualidade da formação que a Escola oferece e que cativa o interesse de grandes unidades hoteleiras de quatro e cin-co estrelas. “O rigor e a qualidade técnica que implementámos no projeto e nas aulas dão oportunida-de aos alunos de terem formação de qualidade, algo que confirma-mos quando eles vão para o merca-do de trabalho e depois regressam

desafiou duas turmas a participar (1º e 2º ano) na construção de uma his-tória centrada na temática do bullying, que tendo sido já submetida à entidade que tutela o projeto, rece-beu um feedback extremamente po-sitivo. 

Atividades e projetos 

O plano anual da EPIDH contem-pla a atividade curricular e as ativi-dades de complemento curricular que se pretende sejam diversifica-das e toquem áreas distintas, com o intuito de fornecer uma forma-ção abrangente e ampla a estes es-tudantes. 

O dinamismo e a procura inces-sante por tornar a escola num espa-ço onde os jovens possam conviver e aprender de forma livre e interventi-va, permitiu que, em 2016, a EPI-DH tenha sido condecorada com os prémios Eco-Escola e Bandeira Ver-de. Estas ações promovem ativida-des de defesa do ambiente como a plantação de árvores ou a recolha de garrafas PET, que têm cativado a atenção dos alunos.  

Além disso, no mesmo ano, atra-vés de uma iniciativa conjunta da Di-reção-Geral da Educação (DGE) e do Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural, recebeu o selo de “Escola Intercultural

à escola dando a conhecer as novi-dades e os seus sucessos”. Caso re-cente é o do chef André Silva, an-tigo aluno da EPIDH que recebeu uma estrela Michelin pela Casa da Calçada, em Amarante. 

A EPIDH ganhou ao longo dos anos um know-how muito importan-te, que lhe permite ser um estabele-cimento de qualidade assegurada e reconhecida. A Dra. Olga Sá parti-lhou os valores que guiam o estabe-lecimento de ensino e que são assu-midos como os pressupostos do tra-balho que anualmente se desenvolve com muito empenho, saber e rigor: Receber, Integrar, Educar e Formar. Estes quatro pilares espelham a mentalidade da escola que, para além de formar profissionais, forma pessoas.

A EPIDH aceitou também o desa-fio proposto pela Fundação EDP no projeto “Escolas Solidárias”. Uma das ações realizadas centrou-se na organização e confeção de um jantar de Natal num lar de 3ª idade. A ade-são e a motivação dos alunos foi de tal forma evidente que já este mês se prevê a realização de um lanche de Páscoa direcionado para as crianças que frequentam um espaço social. “Estas ações têm o condão de mos-trar a estes jovens que apesar dos as-petos menos bons das suas vidas, há sempre alguém que precisa deles”, enaltece a Dra. Olga Sá. 

Para além das atividades acima descritas, ao longo de todo o ano le-tivo são convidados profissionais a participar no ciclo “À conversa com…”, com o intuito de transmiti-rem aos estudantes as exigências da profissão. Por exemplo, a Dra. Ma-ria João Oliveira, diretora de Recur-sos Humanos no Yeatman Hotel, em Vila Nova de Gaia, falou sobre os critérios na seleção de colabora-dores para esta reputada unidade hoteleira, depoimento que permitiu expandir mentalidades e perspetivas aos jovens que ambicionam atingir o topo nas suas carreiras profissionais.  

Formar e várias frentes 

Para o ano letivo 2017/18 a dire-ção da Escola prevê manter quatro turmas de Técnico de Restauração (duas de Restaurante/Bar e duas de Cozinha/Pastelaria), e mais uma tur-ma de Rececionista de Hotel, “face ao estudo do mercado de trabalho que demonstra a carência de profis-sionais qualificados”.  

A EPIDH apresentará também a sua candidatura para acolher um Centro Qualifica o que lhe permiti-rá ministrar formação de aperfei-çoamento ou acreditação de for-mação a trabalhadores ou a pes-soas que estão fora da escolarida-de. Esta iniciativa nasceu também da necessidade sentida por algu-mas das entidades com as quais a Escola colabora, assim como a As-sociação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (APHORT)

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Ensino Escola Profissional de Teatro de Cascais46

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Percorrendo os espaços que con-templam a EPTC verificamos, desde logo, a emoção e o entusiasmo trans-versal a todos os alunos. A base para o sucesso reflete-se na simbiose entre o talento e as capacidades individuais, conciliadas à disciplina incutida. O re-sultado tem como base a coesão de uma equipa composta por uma dire-ção unida e por professores e alunos excecionais. No decorrer dos 25 anos são muitos os que, em busca do so-nho, tentam matricular-se na EPTC. Contudo, devido ao facto da procura ser superior às vagas disponíveis, os candidatos ficam sujeitos a inúmeras provas para serem admitidos na Insti-tuição: efetuam provas de Inglês e Português, testes psicotécnicos e uma audição onde se avaliam as capacida-des relativas à memória, concentração e expressão corporal.

Em conversa com Ana Clara Justi-no, diretora pedagógica, ficamos a

minhados para o sistema de tutoria. Este processo implica um esforço am-pliado entre o discente e o docente, originando uma maior disponibilidade e carga pedagógica aos professores. Contudo, a dinâmica implementada contempla uma resposta positiva às fragilidades que os alunos possam apresentar, sendo as mesmas “ultra-passadas na escola e não fora dela”, acrescenta.

Em consonância com esta linha orientadora, Ana Clara Justino indica que outra questão pertinente prende--se com o modo como a Escola tencio-na “abrir-se ainda mais à comunida-de”. Para se organizarem nesse senti-do, é primordial ter a noção que, co-mo Instituição, “temos um papel importante na sociedade”. Deste mo-do, a diretora pedagógica assume os esforços delineados para desenvolver várias atividades para o exterior, esta-belecendo uma relação com a comuni-dade.

Conceção de ensino e formaçãoA EPTC está na génese da forma-

ção de múltiplos talentos portugueses e, para Carlos Avilez, a ambição sem-pre foi formar profissionais para o fu-turo. Consequentemente, é neste es-paço que se perspetivam os desafios ao longo dos percursos profissionais, e se prepararam os alunos para uma superação constante. O modelo de formação tem, obrigatoriamente, de respeitar critérios de disciplina, exi-gência e qualidade. Ainda assim, no momento em que a Escola assume a responsabilidade perante os cerca de 150 alunos, o acompanhamento indi-vidual é assumido pelo corpo docente.

A evolução e o crescimento dos es-tudantes abrange um modelo com-preendido entre a componente curri-cular e prática. O curso, com a dura-ção de 3 anos, contém uma carga ho-rária assinalável: aprendizagem em ambas as vertentes e preparação para

o mercado de trabalho desde o pri-meiro ano. Inicialmente, os alunos realizam vários trabalhos individuais e têm contacto com as obras de autores como Gil Vicente e António José da Silva. Aqui, é essencial o desenvolvi-mento da compreensão do texto e de outras estratégias importantes para os anos que restam. No segundo ano in-cidem-se em Shakespeare “onde os cânones estão todos presentes” e, por último, o terceiro ano é dividido entre a tragédia grega e os autores contem-porâneos. Nos termos contemporâ-neos, os textos possuem uma densida-de e complexidade inegáveis “e abor-dam emoções e fragilidades humanas também complexas”. Ana Clara Justi-no esclarece sobre a dificuldade de tra-balhar um texto sobre a violência ou a sexualidade se os alunos não soube-rem e/ou conseguiram lidar com estas problemáticas. Neste seguimento, “o 2ºano corresponde à fase da prepara-ção mais incessante, altura em que te-mos uma responsabilidade acrescida acerca do sucesso ou insucesso do ca-minho do aluno”.

Nesta aprendizagem, a maturidade é destacada pela diretora pedagógica. Em peças como o Hamlet é visível o progresso dos aprendizes e o modo como, para além de decorar um texto, analisam detalhadamente todas as pa-lavras. Esta evolução deve-se, sobretu-do, ao crescimento pessoal dos jo-vens, no que respeita ao domínio das emoções. É o vínculo entre o conheci-mento próprio e a arte de interpretar que torna viável a representação de múltiplas personagens.

Em paralelo com a exigência, a identidade da EPTC assenta no reco-nhecimento e na felicidade dos resul-tados finais obtidos, pelo modo como os alunos respondem às adversidades. “Compensa perceber que os alunos conseguem ter atuações fantásticas. Estão aptos a apresentar Genet ou as Bacantes, peças perfeitamente díspa-res”. Em suma, mesmo com as dife-

perceber qual a atual pedagogia prati-cada: “Atualmente introduzimos um sistema de tutoria, para os alunos que chegam com determinadas dificulda-des”. O Ensino Profissional diferencia--se do regular, nomeadamente pelas imposições do sistema modular, que implica que os alunos façam todos os módulos. Com o intuito de responder às dificuldades dos que aparecem com debilidades, por exemplo, no Portu-guês e Inglês, o objetivo passa por “al-terar o paradigma do avanço de ano com módulos chumbados”. Assim, os estudantes com dificuldades são enca-

A Escola Profissional de Teatro de Cascais (EPTC) prestes a completar 25 anos diferencia-se pela excelência técnica e pedagógica que, aliadas à inovação, constituem um projeto direcionado para a formação de futuros profissionais. Desde a sua fundação, a Instituição procura analisar os procedimentos positivos, ao mesmo tempo em que se reinventa e encontra novas soluções para o modelo de ensino.

A formação começa aqui

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EnsinoEscola Profissional de Teatro de Cascais 47

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renças inerentes a cada estudante e com os di-ferentes percursos que possam vir a desenvol-ver, existe a consciência que, no momento em que terminarem a sua passagem pela Escola, vão transportar conhecimentos para toda a vi-da. Já relativamente ao mercado de trabalho, a diretora finaliza constata que “mesmo com as contrariedades da profissão, o emprego nesta área está a aumentar com a produção nacional assegurar o futuro dos jovens”.

25 anos em prol de um objetivo“Quando há 25 anos fui convidado pelo

Ministro da Educação Engº Roberto Carnei-ro para criar uma escola de teatro, assumi a responsabilidade de organizar um projecto que envolvesse com grande qualidade os jo-vens que pretendiam seguir esta profissão. Ao longo de 25 anos, e com o apoio de um quadro de professores de grande qualidade e prestígio, desenvolvemos um ensino muito especializado e de referência nesta escola. Têm saído alunos que são motivo de orgu-lho e prestígio, e que nos dão a garantia de estarmos a cumprir com a nossa obrigação com uma escola de teatro de referência”, é deste modo que Carlos Avilez faz o balanço do trajeto percorrido no decorrer destes anos.

Enquanto encenador, Carlos Avilez conside-ra-se jovem, irreverente, provocador e, cada vez mais, apaixonado pela profissão: “O meu trabalho resulta dos mestres com que trabalhei e dos jovens com que trabalhos”. Para isso, os principais conselhos e valores com os quais,

desde sempre, elucidou os jovens artistas pas-sam pela disciplina, profissionalismo e respei-to pela profissão que vão abraçar.

Atualmente está em cena a peça Splendid’s, uma encenação de Carlos Avilez que pode ser vista no Teatro Mirita Casemi-ro em Cascais até ao dia 14 de Maio. “Fazer Genet é uma experiência única e é uma for-ma de nos aproximarmos de um teatro dife-rente e sagrado”. Paralelamente, em termos futuros ésta a ser preparada a pela “Os Ir-mãos Karamazov” de Fiódor Dostoiévski: “Um texto muito belo da literatura mundial. Com uma adaptação muito especial, implica um processo de representação também mui-to especial. É um desafio muito grande para os jovens actores interpretarem e com-preenderem personagens muito complexas e um ambiente muito estranho”.

Numa última abordagem ao Teatro em Por-tugal, o encenador considera que “estamos numa fase muito boa, porque, cada vez mais, há jovens nos palcos e nas plateias de teatro”, conclui.

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