sem titulo no momento -...

74
Prólogo E naquele instante o meu mundo inteiro parou. Senti o mundo parar de girar e o chão aos meus pés ceder. Meu coração disparava sem acreditar no que lia, simplesmente não pode ser verdade, alguns dias antes estávamos juntos fazendo planos para ficarmos juntos, para mudarmos de vida juntos... E agora... Eu estava só. Naquele momento quis gritar e mais nada, então uma única lagrima rolou de mais olhos, e eu senti naquele instante que aquele adeus tinha sido pra sempre. Como pode? Em alguns instantes voce está feliz sorrindo e sua vida é perfeita e no outro instante nada mais faz sentido. Sem ele, minha vida já não era nada. Não existia um eu sei ele e nada absolutamente nada fazia mais sentido. Na ultima vez ele disse que me amava, e que dessa vez íamos ficar juntos, pra sempre, e eu acreditei em cada palavra, eu senti cada palavra porque naquele momento éramos uma só pessoa. Agora estava tudo acabado, a vida a tinha dado fim aos nossos dias. Sai correndo sem rumo, sem saber o que fazer, sem saber pra quem correr. Pra quem eu iria correr afinal? Se era pra ele que eu sempre corria? Quem iria me dizer agora que vai ficar tudo bem, que tudo vai mudar. Como seguir nessa estrada sozinha. Cansada de correr cai de joelhos no chão e deixei a chuva levar minhas lagrimas, e a dor se transformou em grito e naquele instante ajoelhada no chão, na chuva o meu coração acelerado gritando então parou, um silencio enlouquecedor em seguida as batidas do meu coração só diziam: Meu amor, meu amor, meu amor...

Upload: others

Post on 25-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Prólogo

E naquele instante o meu mundo inteiro parou. Senti o mundo parar de girar e o chão

aos meus pés ceder. Meu coração disparava sem acreditar no que lia, simplesmente

não pode ser verdade, alguns dias antes estávamos juntos fazendo planos para

ficarmos juntos, para mudarmos de vida juntos... E agora... Eu estava só. Naquele

momento quis gritar e mais nada, então uma única lagrima rolou de mais olhos, e eu

senti naquele instante que aquele adeus tinha sido pra sempre. Como pode? Em

alguns instantes voce está feliz sorrindo e sua vida é perfeita e no outro instante nada

mais faz sentido.

Sem ele, minha vida já não era nada. Não existia um eu sei ele e nada absolutamente

nada fazia mais sentido. Na ultima vez ele disse que me amava, e que dessa vez íamos

ficar juntos, pra sempre, e eu acreditei em cada palavra, eu senti cada palavra porque

naquele momento éramos uma só pessoa. Agora estava tudo acabado, a vida a tinha

dado fim aos nossos dias.

Sai correndo sem rumo, sem saber o que fazer, sem saber pra quem correr. Pra quem

eu iria correr afinal? Se era pra ele que eu sempre corria? Quem iria me dizer agora

que vai ficar tudo bem, que tudo vai mudar. Como seguir nessa estrada sozinha.

Cansada de correr cai de joelhos no chão e deixei a chuva levar minhas lagrimas, e a

dor se transformou em grito e naquele instante ajoelhada no chão, na chuva o meu

coração acelerado gritando então parou, um silencio enlouquecedor em seguida as

batidas do meu coração só diziam: Meu amor, meu amor, meu amor...

Page 2: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

1|Come as U R

Meu nome? Bem, me chamam de G., festas é meu code nome RS. Ok. Chega de

formalidades. Sou uma garota normal de 17 anos que freqüenta uma escola particular

de ensino médio e adora estudar e encontrar os amigos. Bem, eu realmente seria uma

pessoa normal se na maior parte do tempo eu não fosse uma total pirada. Adoro

festas, álcool, sexo e drogas. E por favor não me comparem a uma *Hell da vida.

Não faço o tipo de rebelde sem causa... Sou revoltada com a vida, essa vida de merda

que tanto me enojo. Tenho pena das pessoas, dessas pessoas mesquinhas, hipócritas.

Chego a ter preguiça das pessoas, nojo na verdade. Pessoas hipócritas que sou

obrigada a sorrir e dar bom dia a cada manhã, pessoas que eu queria que não

existissem, que me enchem o saco. Meus amigos, bem, se é que posso chamá-los

assim, estão todos como eu, presos neste mundo grotesco onde o dinheiro compra

tudo... Menos o amor. Há o amor o que posso falar dele? Nada, é uma grande merda

criada pra alienar as pessoas. Fazê-las ficarem babacas e sorrindo à toa, eu o repudio.

Eu não sei quando isso tudo realmente começou, mas quando começou, eu era uma

garota normal que só queria ficar na minha, mas quando começou foi devastador... Lá

se foi uma parte da vida, lá se foi uma garota com planos, sonhos, com tanta vida, lá

estava eu parada em um corredor, olhando fixadamente tudo que eu acreditava ser

pra sempre, uma família acabada condenada ao fracasso, um perverso, um alcoólatra

destruindo um lar... Gritos, uma verdadeira confusão de sons, tapas, choros, o fim de

tudo.... Nesse momento morria sonhos, morria uma infância, morria uma garota, e ao

mesmo tempo eu nascia!

Eu tinha 14 anos a primeira vez que fumei o primeiro cigarro, seguido do primeiro

porre, encher a cara e extravasar para aliviar a dor que por anos me atormentava...

Um pai alcoólatra e uma mãe ausente, uma vida vazia, repleta de solidão... Depois

disso, as coisas só pioraram...

Eu não sou louca por completo, também vivo um vida normal. Vou a escola, convivo

com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular e tal. A

tarde gosto de ficar na minha lendo algum livro ou com minhas amigas da escola o

perigo é quanto to só, ai é que a coisa toda começa, é incontrolável.

Bem, já é quase hora do almoço e eu ainda estou deitada, cheguei em casa as 7h da

manhã, completamente doidona, a M está largada no chão, cheiramos pelo menos uns

7 gramas de pó na noite anterior, tomando vodca, sinceramente é uma surpresa eu

estar viva ainda, dei sorte há 1 mês.

- O que houve?

- Há Meu Deus G! Finalmente você acordou. – M é sempre meio exagerada.

Page 3: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Como se sente amor? – Como é? Minha mãe aqui.

-Estou ótima, quero ir pra casa.

- Amor temos de esperar o médico lhe dar alta. Fico feliz que esteja bem.

Fala sério? De onde ela apareceu? Ela estava de férias do trabalho ou algo assim? É.

Quase morri, felizmente ou infelizmente quase, não foi dessa vez que morri de uma

overdose.

Enfim, na noite passada M e eu dançamos feito loucas em cima da mesa da boate,

dancei como se o mundo fosse acabar. Saímos de lá com dois caras pirados D e I, há! E

aquele amigo deles o C, um garotinho bobo. Ele não subiu com a gente pro

apartamento do D, fizemos uma festa particular, depois cheiramos pó e mais, e

transamos , enchemos a cara e pronto. Agora estamos aqui.

- Vamos M, acorda sua vadia! Não agüentou aquelas fileiras não? – E fiquei rindo.

- CALA A BOCA SUA PIRANHA ME DEIXA DORMIR! – Se virou zangada.

- Bem acho que eu vou ter de ir ao almoço com as meninas sozinhas, vamos ter de

fofocar sobre a noite sem você. Pena que serei eu a contar sobre a noite com D e I...

M se levantou sem falar mais nada, se tem uma coisa que ela odeia é ficar por fora das

fofocas, e claro que ela não perderia um almoço no Hotel, (não vou citar os nomes dos

locais que freqüento, não interessa a vocês) todos estavam lá. Isto é todos inclusive D

e I, e claro aquele amigo deles, o C que é até bonitinho que todos sabem que é afim de

mim, um anjo admirando o capeta.

- Você deveria ficar com aquele tal de C, super gracinha ele afim de você.

- Como assim? Aquela criança que anda com o D e I pra cima e pra baixo? Nossa cê ta

me zuando não é? Ele até que é bonitinho mais é um bebezinho. Não rola.

A M tem sempre essas idéias estúpidas, na verdade ela só quer limpar o caminho para

ela poder ficar com I, todos sabem que ela é afim de ficar com ele, mas ele namora a

mim, então ela se conformou em sair com D de vez enquando, aquela vadia se

conformaria com qualquer um.

Esses almoços são sempre um saco, já falei que odeio essas pessoas? São todas

mesquinhas e vazias, que saem por ai pagando de riquinho enquanto passam a

semana ralando em uma loja qualquer onde com certeza nenhum deles compram

então, não corre o risco de ninguém encontrá-los. Bem eu trabalhar? Não, não preciso

disso, acho que sou privilegiada por ainda ter quem me sustente. Ai, isso tudo me

cansa, preciso sair desse ambiente cercado de pessoas fúteis preciso levantar, ver o

Page 4: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

mar. Saio rapidamente da mesa, droga, quem é esse porra? Esbarrei no meu

namorado o I.

- Amor, estava indo lhe cumprimentar. Porque está saindo com tanta pressa? Está indo

cheirar alguma coisa sem mim? – E sorrir com aquele sorriso nojento no qual eu

mesma já enjoei.

- Há! Oi, não tinha te reparado aqui, estava indo lá pra orla.

- Precisando refletir a vida G? Procure um padre e confesse seus pecados. Se é que

alguém teria saco de escutar sua vidinha estúpida. Aceita um drink? - R, sempre tão

simpática. Adora me irritar, mas dessa vez não vou perder o controle, não mesmo.

- Oi querida, é sempre um prazer revê-la. Porque você não pega esse seu drink e sua

má educação e da a porra do fora daqui, não vê que eu estou conversando com meu

namorado. –Perdi o controle, já era.

Sai do hotel puxando o I comigo, não iria deixá-lo ali só com aquele bando de piranha.

Sai deixando por um instante aquela vida mesquinha pra trás.

Ali estava o mar, calmo, ó céus! Como eu poderia passar ali tantas vezes e não reparar

em como tudo é lindo, como isso me acalma. Na certa estou sempre louca com tanto

álcool e cocaína. Como foi que minha vida foi acabar assim?

Conheci o I 4 anos antes, estávamos em uma boate, claro identidade falsa existe pra

isso. Dançamos a noite inteira, ele disse que tinha algo pra nós, topei, saímos da boate

e fomos para casa dele.

- Toma!

- O que é isso? – Ele me passou um saquinho com pedrinhas brancas.

- É pó, nunca cheirou?

- Não.

- Presta atenção. – Ele pegou uma pedrinha, amaçou toda com o cartão de credito e

puxou com uma cédula enrolada. Então eu fiz o mesmo.

Não me lembro de ter sentido algo tão bom antes disso, foi uma sensação diferente de

qualquer baseado... Era uma sensação de euforia, queria dançar gritar pirar. Senti meu

nariz sangrar, não me importava queria mais.

- Você não está me escutando G? – I interrompe meus pensamentos.

- Há sim claro! E concordo. – Sorri, não fazia idéia do que ele estava falando.

- Então vamos.

Page 5: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

-Vamos pra onde? – Do que ele estava falando?

- Você está bem G? Te chamei pra darmos uma volta na praia. Vamos?

- Vamos nessa! Não! Tenho uma idéia melhor tá com seu carro ai? Tenho algo pra

gente.

- Vamos dar uma volta G.

- Ok. Vou pro seu carro com ou sem você.

E I foi me seguindo, era sempre assim, sempre o que eu queria, não importava o que

ele quisesse ou o que qualquer outra pessoa quisesse, tudo sempre acabava do meu

jeito. Sempre do meu jeito.

Page 6: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

2| Don't Want It All

A tarde passou rápido, rápido, não lembro bem como cheguei em casa, só sei que

cheguei, o que aconteceu? Não sei, provavelmente fiquei de porre e o I me trouxe. Me

acordei, fui direto para o banho, já são 10h da noite, estou atrasada como sempre, M

não demora a chegar. Me troquei com pressa e desci onde M já estava me esperando

em seu carro.

- Aonde vamos hoje, estou afim de pirar.

- E quando você não está? – risinhos.

- Verdade. Podíamos matar o tempo em algum bar e em seguida irmos para a boate.

- Concordo. Combinou algo com o I?

- Não. Mas ele nos acha.

Eu já estava de saco cheio do I. Só de saco cheio.

Entramos no carro e fomos em rumo a mais uma noite como outras tantas. Saio todas

as noites, não sei mais o que é estar em casa, nem me lembro qual foi a ultima vez que

vi meus pais, acho que foi semana passada quando cheguei bêbada de um aniversario

ou no hospital quando eu tava me recuperando.

Matamos o tempo no bar de sempre. Logo D e C apareceram, mas onde está o I?

Como assim ele não apareceu ainda? Espero que venha logo. Depois de uma garrafa de

vinho e dois drinks nada do I, então fomos para a boate. Como sempre a casa cheia,

cheia das mesmas putas e idiotas que nós conhecemos, mas o I ainda não estava ali.

Compramos uma garrafa de vodca, um dose, duas, três. A M estava dançando com o

D, e o amigo deles o C estava falando alguma coisa, provavelmente sem importância. O

deixei falando só e fui ate o banheiro, ainda tinha me restado uma grama de pó, baixei

a tampa do vazo e coloquei tudo pra dentro. Cansada de tudo isso, cansada dessa vida

que so me leva cada vez para baixo, eu precisava sair dali. Bêbada completamente

desorientada fora da boate, mal conseguindo me equilibrar me ajoelho no chão

vomitando tudo, não o álcool, ou as coisas que comi, vomitando a desgraça que é

minha vida, vomitando o nojo que sinto dessas pessoas, vomitando a hipocrisia,

colocando pra fora toda essa vida mesquinha, um namorado que odeio e que nem se

importa, provavelmente deve estar com outra putinha por ai....

- Posso lhe ajudar? Vi você saindo do banheiro tão rápido. O que houve? – Era o

mascotinho dos meninos, o C.

- Oi, não foi nada, eu estou bem.

Page 7: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Está mesmo? Posso te acompanhar até em casa, não tenho carro nem nada mais

podemos ir de taxi moramos na mesma rua e

- Ok. Cala a boca, só me deixa em casa, obrigada.

Entramos no taxi, desabafei toda minha raiva do I, eu realmente estava com raiva, ele

some nem pra dar satisfação, vai ver foi em cana de novo aquele babaca. O C foi bem

legal comigo, mesmo eu o tratando mal todas as vezes, ele até que é gracinha, mas só

isso. Acho que acabei desmaiando em seu colo no caminho, acordei em sua casa....

- Está tudo bem, mandei minha irmã ligar para sua mãe falando que era a M que você

iria dormir na casa dela.

- Obrigada. Mas não faria diferença pra minha mãe.

- Você não deveria falar assim.

- É verdade, ela não se importa mesmo, aposto que ate ficou com raiva por ter ligado

pra ela tarde... Desculpe pela noite passada, você não tem de ta escutando minhas

merdas e tal.

- Está tudo bem G, eu gosto de você, você sabe disso. Não é de hoje, já faz muto

tempo. Quero te ver bem ok? – Ele me beijou. COMO ASSIM ELE ME BEIJOU??? E eu

deixei, deixei ele me beijar, me envolver em seus braços, um beijo ardente, me senti

sua, me senti bem, me senti leve. Mas não, não posso.

- Você não deveria ter feito isso garotão.

- Desculpe, não faço o seu tipo mesmo não é? Você vive saindo com caras do tipo do I

ou do D, que não estão nem ai pra nada, que não ligam pra vida e muito menos pra

você.

- Acertou.

- Posso te ligar?

- Depois de me insultar? Há sim sim, claro garotão, vá lá que curta sua vida perfeitinha

de babaca filhinho da mamãe.

Sai realmente irritada. Tudo bem que era verdade mais ele não tinha o direito de jogar

na minha cara.

É. Passei a tarde do domingo toda esperando ele ligar. Não, ele não me ligou, em vez

disso tive de escutar as mensagens que o I deixou na caixa postal inventando as piores

desculpas possíveis. É ele estava com alguma puta. Desculpá-lo? Não agora.

Page 8: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Já é noite e o C não telefonou, mais porque eu estaria esperando a ligação de um

pirralho que nem beijar sabe? Ok, admito que ele beija bem e tal, que me fez sentir

bem e só. Para. Ele é só um babaca e só. Nem sei porque estou pensando nisso ainda.

Nem sei...

Quando cheguei em casa adivinha só? É justamente isso eu estava só, quem me dera

saber por onde minha família anda. Estou apenas cansada de tudo isso, por favor não

me julguem, eu não tive escolha, eu sei que todo mundo tem um momento que tem

uma escolha, sempre tem, mais eu não tive tá legal? Depois que voce entra nesse

barco por mais que saiba que é de certa um naufrágio, é inútil, você não consegue

voltar, jamais.

Fui deitar enquanto estava deitada lembrei do ultimo dia de aula na 2ª serie quando

eu ia mudar de escola, não sei porque mas, me veio em mente.

- Porque voce vai pra outra escola? – Era o V, meu melhor amigo na época.

- Minha mãe falo que fica mais perto de casa, e também meus amigos estudam lá.

- Vou poder te ligar pra gente conversar? E voce vai pra minha festinha de aniversario?

Vai ser do Batman.

- Claro, eu adoro o Batman.

- Tá bem então, vou te ligar pra saber como é a escola nova e seus amigos. Vou sentir

saudades.

- Eu também V.

E aquele abraço acabou se tornando em um abraço coletivo. Recebi ligação dele

algumas vezes nos primeiros 3 meses, depois o vi no aniversario do E, brincamos com

o palhaço, contei como estava a escola, ele falo que a mãe dele estava meio doente e

eles iam se mudar. Depois disso nunca mais ouvi falar no V, até um ano antes, mas não

quero lembrar disso agora.

Cansada de tanto pensar, acabei adormecendo. Adormencendo em meio aquela

confusão de pensamentos, e porque esse garoto não saiu da minha cabeça? Deveria

desculpar o I? Ele foi tão idiota.

Page 9: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

3|In Bloom

HAAAAAAAAAAAAAAA DROGA! Atrasada para aula de novo, eu já mencionei a minha

escola? Odeio aquele lugar, não sei nem porque ainda estou lá. Acho que por causa

das minhas amigas, ou por causa da vida que eu finjo ter, bancando a garota quietinha

e estudiosa. Cansada de viver de aparências, felizmente é o ultimo ano da escola. Eu

vou mudar de vida, tenho dado duro estudando pro vestibular. Embora já seja maio,

logo começam as inscrições e eu não sei, eu realmente não sei o que fazer, o que

quero ser. Na verdade nunca parei para pensar nisso.

Porque a vida é assim hein? Só tenho 17 anos. Vestibular é um passo grande. Deveria

ser proibido temos que decidir nossas vidas aos 17 anos. Eu não estou preparada. Acho

que deveríamos acabar a escola, tirar 2 anos de férias, conhecer o mundo e ai sim,

parar de viver. Sério, vocês já repararam que depois que você entra na faculdade e

depois começa a trabalhar nossas vidas acabam, vejam seus pais. E outra e se o curso

que eu escolher hoje não seja a minha vontade em 2 anos, se eu tomar uma decisão

errada e tal? Não vou poder corrigir isso depois, seria perda de tempo. Ai! Vamos para

de pensar nisso. Já mencionei que odeio aulas de biologia? Eu vou prestar vestibular

para direito, acho uma matéria tão desnecessária.

Me levanto eu vou até o professor que espera a turma copiar o assunto.

- Posso ir ao banheiro.

- Já terminou de copiar?

- Claro.

- Então vá volte logo.

Essa escola é um tédio, não sei o que está havendo aqui sempre que vou ao banheiro

ou tomar água vem alguma idiota dessa que trabalha no pátio e me segue, as chamo

de cão de guarda, mais é claro que não sabem disso, droga. Estou eu na cordenação de

novo, não consigo ficar sem responder alguém.

- Mas eu só fui ao banheiro e tomar água? É proibido agora?

- Mentira ela estava conversando com as meninas da 8ª serie no banheiro.

- Não vejo problema nisso. Eu fui ao banheiro, estava ajeitando o meu cabelo, elas

estavam lá, não vejo problema em dar um Oi a uma amiga minha. Não vou engolir

ninguém.

- Você não deveria sair da aula pra ficar de conversa no corredor.

Page 10: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Ai quer saber? Eu já falei, que saco, é proibido usar o banheiro agora? E minhas

colegas de turma que matam aula e vocês nem falam nada, agora toda vez que eu vou

ao banheiro é essa palhaçada. Estou perdendo aula vou subir.

Que idiotas! Quando vão parar com isso? Como se não bastasse a minha vida

maravilhosa ainda tenho de agüentar esses idiotas no meu refúgio, ir para a escola

agora não me é mais interessante, isso cansa.

Em fim aquela manha chata acabou, desviei a atenção de amigos e sai da escola, em

geral volto com minha amiga, mais dali eu iria encontrar o I, não vou sair por ai

explicando a minha vida, não vou envolver ninguém nisso.

- Oi.

- Oi.

- O que quer falar comigo?

- Quero terminar.

- Como assim? VOCE ESTA TERMINANDO COMIGO?

- Cansei disso I, sério, não está mais dando certo, você...

- Você voltou para casa com o C naquela noite, eu sei.

- Eu não estava bem, e ele me acompanhou já que meu namorado estava com alguma

puta por ai.

- Eu não estava com ninguém G, você é louca?. Aconteceu algo? Você e aquele babaca

ficaram?

- Ele me beijou.

- É por isso que está terminando comigo? Por causa de um babaca?

- Não I, por causa de você. Você é sempre tão idiota comigo. E outra enjoei de você.

- Como é?

-Tchau.

- Só pra te avisar que o seu namoradinho, não está mais morando aqui, ele não te

falou que estava de mudança, foi morar com o pai. Sua vadia!

Eu não consigo acreditar que eu realmente fiquei sentida por saber que ele não está na

cidade. Bem, estou mais aliviada por ter terminado com o I, vai me poupar desses

sentimentos grotescos como ciúmes e amor, isso me dar náuseas.

Page 11: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Passei a semana toda estudando, será que isso não acaba nunca? É sexta feira e estou

cansada demais para pensar em sair, será que realmente vale a pena isso? Morrer de

estudar por causa de uma Universidade? Acho que hoje não vou sair, vou apenas ficar

na minha em casa, alugar uns filmes e curtir a noite. Droga o telefone está tocando.

- Oi D!

- Oi G, e aê tudo bem contigo?

- Há! Está tudo bem, por quê?

- Soube que terminou com I, liguei apenas para falar que vai rolar festinha daquelas na

casa dele, se tiver interessada em badalação hoje lá é o lugar.

- E vai ter o que de bom pra mim?

- Seu fornecedor vai estar lá. Estamos te esperando para zuar. Já sabe né gata? Festa

sem você não é festa.

Acho que mereço isso, depois de uma semana de estudos, quem liga para descanso?

Devo confessar que sinto falta do I, uma oportunidade para voltarmos, e claro,

extravasar esse estresse todo porque nem eu sou de ferro.

- Ótimo! Dou uma chegada por lá.

- Ok.

Vamos gente, não me julguem a festa vai ser legal, devo confessar que ainda tenho

pensado naquele amigo deles o C, ele sei lá, é todo gracinha, queria que o I fosse

gracinha assim também. Então que roupa usar? Hun... Acho que aquele jeans preto

com o tomara que caia vermelho vai ficar ótimo. Claro, combinando com minhas unhas

perfeitamente pintadas de Gabriela com rebu. O telefone toca. É a M.

- Hello bitch!

- Você é uma vadia mesmo G. – Risos- Olha você vai aparecer mesmo lá na casa do seu

namorado, soube que todos vão estar lá.

- Ele não é mais meu namorado.

- Você ainda não contou porque terminaram. Aposto que chifrou ele, você faz isso com

todos.

- Isso não importa. O que importa é que vamos voltar hoje.

- Você sempre tão confiante hein?

- Claro, eu posso. Vou me arrumar nos vemos lá.

Page 12: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Olha só a vadia, querendo pescar alguma coisa só pra me queimar pra galera. Até

parece que eu vou da corda. Porque eu ando com ela ainda? Bem, nesse mundo todos

nós vivemos de conveniência e a M é uma delas, ela tem muito mais contatos que eu,

é fácil entrar em qualquer boate estando com ela, e conseguir todo tipo de drogas,

claro que esse detalhe eu não me preocupo tanto, tenho meu fornecedor.

Chegando à casa do I todos estavam lá. Eu disse todos sem exceção. Todo tipo de

gente, todo tipo de idiota. Pessoas que tem tudo na vida e por não ter mais nada a

desejar fodem com a própria vida no submundo das drogas. Olha lá, de um lado

traficantes, acabando com a vida desses pobres coitados, alias, com nossas vidas.

- Oi G! Como anda a vida? Vai querer quantas gramas hoje? – Meu fornecedor, um

babaca. O I e o D trabalham pra ele, é... meu namorado é um traficante. Não sei pra

que ele pergunta se estou bem, ele só ta interessado em vender, me deixar pirada e

depois me comer, é o que ele sempre quer.

- Oi. Estou bem, obrigada. Por hora não vou querer nada. Estou atrás do I. O viu por ai?

Ei me manda uma cerveja também.

Pego a cerveja com um idiota qualquer.

- O seu namorado, estava doidão por ai.

- Ok, vou procurar obrigada.

Lá estava ele. Lindo. Meu príncipe drogado. O I é um garoto que possui uma beleza do

tipo, eu tenho de tomar conta sabe, é só eu descuidar 1 min que essas vadias caem em

cima. Quem é aquela puta dando em cima dele? E porque ele está dando moral?

- I, oi.

- Amor, isso é uma miragem, não estou te vendo aqui.

- Meu deus você já está pirado. O D me falou que iria rolar festinha aqui, então vim te

ver, achei que, sei lá. Você pudesse me desculpar, e então a gente voltar. Mas, você

está assim então a gente conversa outra hora quando você...

É. Me puxou e me beijou. Adoro o modo como ele me envolve em seus braços, como

se fosse me proteger e não fosse largar mais. Aposto que ele faz o mesmo com todas

essas putas. Ele é um canalha na verdade. Também não sou uma santa. Nós fazemos a

perfeita união de um perverso com uma puta, uma relação restritamente baseada em

sexo, onde ambas as partes só não querem acabar só, nesse mundo, o maior medo é

terminar sozinho. Como se realmente um de nós acabasse a noite só, faça-me o favor.

- Tenho pó, vamos separar duas fileiras e pirar juntos como sempre.

Page 13: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Nem preciso falar que eu fui. Ficamos no quarto dele enquanto a festa rolava. Na sala

rolava uma verdadeira orgia, todo mundo transando com todo mundo sem o mínimo

conhecimento de preservativo, proliferando todo tipo de doença. Pessoas drogadas, M

fazendo stripper com outras putas. Alguém provavelmente tendo uma overdose. E nós

estávamos no quarto proliferando o amor. Ops. Apenas proliferando o desejo carnal.

Pelo menos por minha parte. Nunca gostei do I, apenas me convêm. Ok. Senti falta e

tal.

Então ele me comeu. Transamos feito dois animais selvagens. É. Foi bom como toda

transa. Foi vazia como toda ela, o que me leva a ficar mal. Eu já falei que tenho

depressão pós-copula? Pois é, sempre fico deprimida, mas também não consigo parar.

Sou levada pelo desejo, apenas sexo sem amor. Não sinto nada, absolutamente nada.

Cansada de fingir orgasmo. Às vezes, o que eu só quero é ficar só.

- Porque está pegando suas roupas? Já vai?

-Vou. Eu não posso chegar tarde em casa.

- Qual é G. Não caio nessa.

- Pois é I, eu realmente tenho de ir. Tenho muitas coisas pra fazer, eu só passei mesmo

para te ver.

- Te amo. – Como assim? Ele ta me zuando? Não deveria existir amor. Ele não pode

estar falando sério. Isso deveria ser retórico?

- Já vou.

Sai às pressas da casa dele, na sala ainda pude observar a M transando com D e opa!

Quem é aquele outro cara com ela? Vi o JJ largado no chão. Uma overdose? Talvez. Eu

precisava sair dali urgente, sumir de tudo isso que me afeta tanto. Não entendo esse

não é meu mundo, preciso fugir dele antes que ele acabe comigo.

Ele me ama. O I me ama. E só. Não deveria existir amor. Me sinto mal agora largada no

meio fio em frente a sua casa. Logo vai começar a chover. Ele me ama. Eu não o amo.

Ele colocou tudo a perder. Não quero mais vê-lo. Ele vai me odiar por isso eu sei que

vai.

Page 14: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

4|All Apologies

Tenho ignorado o I nas ultimas duas semanas, nem tenho ido para a balada com a

desculpa que estou em semana de prova, mas as provas não podem durar a vida toda

e nem eu agüento mais, preciso de pó, preciso realmente cheirar, fumar um baseado

sei la qualquer coisa, é sexta feira, preciso pirar, por pra fora o inferno que há dentro

de mim. Duas semanas é o suficiente, já basta. Vou pegar o celular e ligar pro D.

- Oi gatinho.

- Oi G! Milagre, você sumiu esses dias. Por onde andou?

- Há! Eu estava em semana de prova, você sabe, alguém aqui precisa estudar. Vamos

sair?

- Cadê o I? Soube que voltaram.

- Como? Não, não. Não quero mais nada com ele.

- Posso passar ai de que horas?

- Agora. Estou esperando. Beijos

Ótimo. Se eu ficar com o D o I vai desencanar desse lance de amor. Pra que amor? Essa

porra chega e acaba com você, deixa você grotesco, bobo, não sabe mais o que fala, ou

o que faz, vive nas nuvens. Eu renego isto. Desde o inicio I sabia que a nossa relação

era só sexo.

Dois anos antes eu já havia ficado com o D, acabei por amar e terminei com ele. Não ia

da certo sabe, esses marginais não são para manter um relacionamento.

-Quero terminar!

-Mas porque G te fiz alguma coisa, estávamos ate indo bem. Devagar como você

queria.

- Pois é D, não ta dando sabe, gosto de você, mas acho que é melhor só amizade.

- Tudo bem então se você quer assim.

Foi um relacionamento curto, em um daqueles intervalos que eu e o I brigávamos, mas

eu comecei a gostar ai fudi tudo.

O D é um cara legal, sempre foi legal comigo. Ele é lindo também, loiro, com um cabelo

corte surfista e de olhos verdes. Uma beleza que começa a ser apagada com o

constante uso de drogas, acho até que ele está envolvido com crack., bem pelo menos

é o que dizem por ai.

Page 15: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Até que ponto todos nós vamos chegar? Envolvidos com essas porcarias. Dia após dia

um de nós deixa de existir. Não estou aqui para julgar até porque não tenho esse

direito mas, que droga! Esses idiotas não caíram nessa vida por capricho, tem toda

uma historia por trás deles, por trás de todos nós.

- Aonde pensa que está indo?

- Minhas provas acabaram, vou encontrar o pessoal lá da escola.

- Me pediu?

-Há! Mãe. Você não estava, achei que não houvesse problema, vou dormir na casa da

M depois, ela vai comigo.

-Tudo bem. Vá.

Pronto, e esse foi o maior dialogo que eu tive com minha mãe desde o inicio do ano.

Quase não nos vemos quando me acordo para ir a escola ela já tem saído, quando eu

chego ela ainda está no trabalho, quando vou dormir ela nem chegou ainda. Nada

mudou nos últimos 7 anos. Um silencio e mais nada. Queria que fosse diferente sabe?

Queria poder contar com ela. Minha vida não tem sido fácil. Claro que eu a compliquei

me metendo em tudo isso que me meti. Eu achei que tinha o controle da situação, mas

quando você entra nessa vida não sai mais, é um caminho sem volta. Queria que ela

me escutasse, me ajudasse.

Minha saúde não vai bem, tenho me sentido enjoada. Acho que é o uso freqüente das

drogas. Castigo por ter transformado meu nariz em um verdadeiro aspirador de pó.

Perdi o controle da minha própria vida. Seja o que deus quiser.

Quando eu desci D já estava me esperando.

- Você está linda.

- Obrigada senhor bonitão. Algo de bom para hoje?

- Vamos à boate, hoje a noite promete.

Se depender de mim a noite realmente promete.

-Escuta G, podemos antes parar em algum restaurante para jantar?

- Er tudo bem. Não estou com muita fome, ando meio enjoada mais se voce quer tudo

bem.

Fomos para um restaurante em algum lugar na ZN, o ambiente bem agradável, D pediu

uma pizza e eu pedi um vinho. Por um longo tempo ficou um silencio meio

constrangedor, até que eu resolvi falar.

Page 16: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- O que é que tá pegando D?

- Hã? O que?

- Qual é. O que tá acontecendo? Tem algo pra falar?

- É só que, eu estava pensando em nós sabe. O que deu errado G? O que eu fiz de

errado? Eu me pergunto isso todos os dias.

- Você não fez nada de errado o...

- É eu sei ‘o erro sou eu’ e bla bla bla. O que é que rola G. Poxa conversa comigo vei, eu

quero saber o que se passa na sua cabeça.

- Olha D, não vem bancar o pscicologo pro meu lado não como se voce tivesse a vida

mais perfeita do mundo ok? Não se mete na minha vida ta? A gente não deu certo e

pronto meo para com isso.

Por longos segundos D ficou me olhando. Um olhar caloroso, acolhedor. Um olhar que

te abraça e diz que vai ficar tudo bem, sem dizer nada. Por um instante veio toda uma

vida na minha cabeça, como foi que tudo isso começou? Como vim parar aqui?

- Quem fez isso com voce pequena? Quem te magoou tanto? Sempre livre, sempre

com todos mais nunca de ninguém. Uma garota que tem tudo mais não quer nada.

Familia, estudo, amigos. G voce tem tudo sabia? Deveria dar valor a isso. Olha pra

voce, isso não é vida G, cai fora enquanto ainda pode.

Cair fora enquanto ainda posso. Meu deus como queria ter escutado esse conselho

como eu queria ter seguido isso, teria evitado uma serie de acontecimentos

posteriores.

Peguei a garrafa de vinho e virei de uma vez.

- Vamos nessa, quero dançar. Tenho bala aqui pra nós dois, to afim de pirar com voce

essa noite baby, não estraga isso.

Chegamos à boate, disse ao D que ia comprar um drink. Comprei meu drink favorito,

comopolitan, procurei o meu fornecedor e fui ao banheiro coloquei 1 grama de pó pra

dentro. Me sentindo bem e ranovada parti para a pista de dança. Dancei feito puta ate

enlouquecer completamente o D. Ofereci a ele a bala que tinha. Tudo ficou muito

louco depois disso, houve uma serie de acontecimentos meio misturados em minha

memória agora. D pegou a garrafa de vodca de um estranho qualquer subiu no balcão

do bar e começou a dançar, me seduzir e me desafiou a dançar com ele, enquanto isso

seguranças nos mandavam parar, descemos tomei a vodca da mão do D e tomei como

se fosse água, estava morta de sede. Na tentativa de me equilibrar cai por cima de D.

Ele me envolveu em seus braços nos beijamos e dançamos como se só houvesse nós

Page 17: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

dois, sem se importar com aquele bando de otario. Foi quando eu vi, ele, I, parado na

entrada da boate com um olhar vago. Parecia procurar alguém, seus olhos

encontraram os meus, ele me viu abraçada com D. Ele vem andando para perto.

-Eu pensei que você estava ocupada demais para sair. O que está acontecendo? É esse

babaca que está comendo você agora?

-Eu realmente estava ocupada, pra sair com você.

Ele apertou meu braço com toda força que pode, I estava prestes a perder o controle

como já tinha feito várias vezes. D o puxou e eles começaram a brigar. Sai da boate

sem pensar duas vezes. Estava frio do lado de fora, e eu já estava completamente

bêbada.

Estou condenada a isso. Destruo tudo o que toco, tudo o que possuo, pouco a pouco

me acabando sem encontrar um sentindo para minha existência.

Não demorou muito e D veio atrás.

-Está tudo bem G? Meu deus voce está chorando?

- Não é nada é só que... – É só que eu vivo sempre machucando as pessoas, destruindo

tudo que aparece pela frente, so não tive coragem de admitir em voz alta. - Vamos

sair daqui. Posso dirigir?

- Você nem carteira têm, alias, voce nem sabe dirigir.

-O que importa? Voce me ensina. Não existem leis para nós não é verdade?

Peguei a chave do carro. É. Dessa vez eu tava no comando. Liguei o som nas alturas,

abri a vodca que estava no banco de trás e começamos a beber. Botei o pé no

acelerador e partimos. Deixei o vidro do carro baixo, queria sentir o vento da noite em

mim.

Eu não sei por que eu havia saído de casa hoje, mais deu certo. Eu não sei realmente o

que fiz mais realmente deu certo. Ele disse que me ama. Como ele pode fuder com

tudo só em falar isso. Estávamos indo tão bem mais que droga I. De qualquer modo

que futuro nós temos? A maioria de nós irá morrer antes dos 25 anos, em algum

acidente de carro, uma overdose ou levar um tiro na cabeça por ta devendo a algum

traficante ou se meter com gente da pesada. E quando não agüentar mais essa vida e

passar a questionar tudo, um suicídio, como eu tentara um ano antes.

- Mãe? Onde estou?

- Você está bem? Fiquei preocupada achei que fosse te perder. – Tinha voz de choro.

Page 18: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Eu realmente tentara me matar, ingeri comprimidos demais. Eu tinha chegado ao poço

de tudo, ao limite da minha vida. Meu namorado um babaca que me deu um chute, eu

amava o V, transamos e no outro dia era como se ele não me conhecesse. Idiota!Ainda

tinha minhas amigas idiotas uma família ausente, uma vida aparentemente perfeita,

repleta de falhas. Eu me sentia vazia, menos até do que me sinto hoje. Pena que

fracassou, e eu estou aqui hoje....

-G CUIDADOOOOOOOOOOOOOOO!

Foi a ultima coisa que escutei até acordar no hospital completamente dolorida. É, bati

com o carro e pelo que parece acabou toda sua parte traseira quando tentei evitar o

acidente. D está bem, até melhor que eu, pois os médicos me falaram que ele já teve

alta. Eu me sinto bem, não entendo porque ainda estou aqui. Deveriam me da alta.

Minha mãe não está aqui, em vez disso só conseguiram localizar minha amiga M, que

acaba de entrar no quarto com um ar de preocupação.

- Você é louca G, nem ao menos aprendeu dirigir ainda. Que idéia a essa hein?

- Cadê minha mãe, M?

- Não consegui encontrá-la, desculpe. Mas que ótimo que você está bem. Falei com D,

ele recebeu alta antes de você acordar. I está lá fora.

- O que ele está fazendo aqui, quem falou a ele?

-Eu achei que ele deveria vir G, ele gosta de você. Ontem quando vocês foram embora

da boate ele ficou lá chorando feito um bebe.

- Foi ai que você aproveitou para ficar com ele?

- Errr.

-Sabia, você é uma vadia mesmo. –Risos-

-Há! Para! Eu sei que você não quer mais nada com ele se não, não tinha o largado

para ficar com D.

-Você é esperta. Quero sair daqui logo. Será que vão demorar para me darem alta? Há!

Oi! Você é o medico que está me atendendo?

- Boa Tarde! Como se sente Srtª G?

-Estou muito bem não entendo porque não me deram alta ainda.

-Estávamos esperando o resultado de uns exames. Lamento informar que você perdeu

seu bebe.

-Bebe? Que bebe?

Page 19: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

-Você estava com um mês de gestação. Sinto muito. E já vamos lhe dar alta.

Como assim? Eu grávida. Grávida do I. Eu perdi um bebe. Perdi um filho graças a toda

minha imprudência, se eu ao menos soubesse, eu nem imaginava. Me sinto um lixo no

momento. Não sei por que fiquei tão mal pela vida de um ser que nem imaginava que

existia. Mas estou mal.

- G voce está legal? – A voz de M era um eco em minha mente.

- Gravida? Eu estava grávida M. Como eu... quero sair daqui.

Não voltei para casa. Liguei apenas para informar que eu estava dormindo na casa de

M. Como se alguém realmente se importasse como estou. Saímos do hospital M, I e eu

fomos para o bar e pedimos uma garrafa de vinho. Não contei a I sobre o bebe, ele

nem sabia então era melhor que ficasse assim.

-Espero que você não faça mais uma coisa dessas G, eu fiquei realmente preocupado

meu amor. Onde você estava com a cabeça?

-Vamos I, você não é minha mãe para ficar me dando sermão, até parece que você é

todo certinho. –todos nós rimos.

-Verdade. Me conta você e o D realmente estão juntos? – M, querendo deixar claro

pro I que eu o havia traído com o D, é traído, teoricamente não tinha terminado com

ele ainda.

-Eu não estou com ninguém. Estou sempre sozinha você sabe disso.

-Ninguém rouba o coração da G, todos sabem disso.

Ninguém rouba o meu coração. Ela estava errada. Alguem já havia feito isso e

pisoteado nele como se fosse um nada, depois disso o tranquei e joguei a chave fora.

Nunca mais amar alguém

-Preciso ir pra casa.

- Eu te levo, voce deve esta cansada, deveria estar em repouso.

- Não I, obrigada, ainda tenho de ligar pro D e ver como vai ficar o lance do carro dele.

- Há! Claro, seu namoradinho.

- Ele não é nada meu, você sabe, conversamos depois tá?

- Ok. Se cuida, vê se agora para com isso.

Page 20: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Realmente estava na hora de largar toda essa loucura viver uma vida normal, ser uma

pessoa normal. Seria possível se eu já não estivesse completamente envolvida pra

querer pular fora.

Fui andando para casa, meu corpo todo doía mais eu precisava andar e pensar a

respeito de tudo. Como eu podia ser tão tão.....

- Alô?

- G você está bem? Não fiquei no hospital pra falar com você, vi o I e não quis arrumar

problemas.

- Oi D, Estou legal. Eu so, poderíamos conversar depois? Estou na rua estou indo pra

casa e.. tchau.

Desliguei o telefone. Precisava me desligar do mundo. Mais que droga esse telefone

que não para de tocar.

- Oi?

- Oi G. Queria saber se vamos estudar juntas na segunda.

Há! Claro tinha esquecido desse detalhe. Grupo de estudos. Já devo ter mecionado

que tenho uma vida normal fora dessa.

- Oi R, vamos sim, podemos repassar historia e química.

- Está bem. Beijos

- Beijos.

Eu tinha alguns amigos normais na escola.

Minha vida em casa? A verdade é que, minha mãe não é uma má pessoa. Ela só está

ocupada demais pra tudo. E eu precisava dela.

- Filha. Chegou. Se divertiu esse fim de semana.

- Sim claro, estava com a M.

- Que machucado são esses?

- Há! O irmão da M estava nos ensinando a andar de Skate, acabei caindo. O pai ligo?

- Ligou sim. Mandou um abraço.

- Ele é um idiota. Nunca está em casa.

- Não fale assim do seu pai, ele trabalha muito.

Page 21: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Mãe ele é um alcoólatra! Há! Quer saber, não vou discutir com voce. Estou cansada

vou dormir ok? Beijos

Evitei uma briga. Esses diálogos normais entre mãe e filha para nós é algo raro. Eu

passo tanto tempo a culpando por tudo, que acho que esqueci que essa distancia toda

em parte foi culpa minha também. Mãe eu te amo. E essa é a única verdade.

Amanha seria um outro dia. Não muito diferente de hoje.

Page 22: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

5|Where Did You Sleep In The Last Night?

Meu deus o que é isso que está fazendo barulho? Haaaaaaaaaaaaa 7h. Tenho prova

em meia hora, as ultimas provas antes das férias de meio de ano, ainda bem nessa

altura do campeonato já estamos todos exaustos, teremos 3 semanas de ‘descanso’

até voltar a ralar na escola de novo.

Passei um tempo em casa depois do acidente, apenas estudando. Quando não era

estudando em casa era com as meninas na casa da R. Nada de festas, nada de pó nem

álcool. Eu estou bem. Mas ainda sim falta algo. Na escola a mesma pressão de sempre

e eu ainda não entendo porque essa perseguição toda na escola, eu não sou nenhuma

delinqüente, podem ter certeza que não estou vendendo maconha no banheiro da

escola, eu apenas sigo a minha rotina de anos. Como se não bastasse todos os meus

problemas ainda tenho de aturar isso! Cansada de ir parar naquela coordenação todos

os dias, apenas por ir tomar água ou ir ao banheiro. Minha mãe falou que vai me tirar

da escola. Espero mesmo.

A prova foi normal como as outras. Agora me deixe falar. Já fiz a minha inscrição pro

vestibular. O processo seletivo mais ridículo do mundo. Então, depois daquela pressão

toda que me foi feita chegou o dia de escolher, claro, fiquei com medo de escolher

algo no qual eu pudesse me arrepender depois, em vez de direito acabei colocando

historia. Não sei por que me preocupei tanto em escolher um curso, realmente, não

tenho certeza se vou viver tanto assim.

Sai da escola e resolvi ir ao centro fazer compras apenas pra relaxar, apesar de ser

inverno o sol estava lindo. Eu precisava relaxar. Nas últimas semanas eu não tive

contato com meus amigos, M me ligava de vez enquando para saber como eu estava,

claro que ela não estava realmente interessada na minha saúde, a única coisa que ela

queria realmente saber era se eu havia mencionado sobre o bebe ao I, ela tem medo

que ele queira voltar comigo agora que ela ta conseguindo ter chances com ele.

Alguém esbarrou em mim.

- Oi, desculpe. G?

- C? Oi, e ai? Como cê ta?

Era ele o C e ele estava tão diferente, ainda sim lindo. Ele deixou crescer a barba, de

um jeito bem largadinho, esta com um brinco na orelha. E o seu cheiro o mesmo de

antes, mas com um leve cheiro de maconha.

- Eu estou, bem acho. Mas e você? O que houve? você sumiu! E está tão diferente.

-Pois é, estou bem, passei um tempo lá na casa do meu pai. Sabe como é né.

- E a escola?

Page 23: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Eu larguei, acho que volto próximo ano, não estava dando conta mesmo. Mas e ai?

Como vão as coisas? E você e o I?

- Nós terminamos.

- Sério?

-Você sabe, já não estávamos mais dando certo. Mas olhe você, nem está parecendo

mais o garotinho da mamãe. O que houve? Esta tão diferente.

Ele não tinha mais aquele olhar tímido, nem meigo e o sorriso que antes era infantil

agora me dilacerava completamente. O que teria acontecido com C?

-Pois é. Os caras lá de perto de onde meu pai mora ficaram enchendo o saco ai resolvi

experimentar um visual novo. Sabe né? Novas experiências.

-Mas porque você sumiu assim sem falar nada?

- Problemas G, desculpe, voce entende coisa de familia, quer ajuda? – Ele pegou

minhas coisas e segurou minha mão.

-Obrigada, você não quer ir lá pra casa, minha mãe não está, podemos conversar

direito ai você me conta o que houve.

Ele topou ir para minha casa. Fomos conversando no meio do caminho sobre besteiras

de algumas festas que fomos, sobre musica e essas coisas. Nossa como ele me fez rir,

fazia tempo que não sentia essa vontade tão natural de rir. Como a pessoa fica babaca

quando está apaixonada, eu não conseguia parar de observá-lo, cada jeito cada fala.

Sempre que ele ia contar algo ele mexia o lábio meio de lado, e ficava piscando os

olhos, mexendo as mão e sempre parava para respirar e falava ‘tá ligado?’. Eu não sei

porque eu estava feliz em vê-lo.

-Então essa é sua casa?

-É. Sempre dou festinhas aqui, você nunca veio?

-Eu costumava evitar os lugares que eu pudesse evitar te ver com o I. G, não é segredo

para ninguém que eu sou completamente louco por você, eu voltei por você.

-Eu... Eu confesso que pensei em você nos últimos meses, fez até falta e fiquei muito

puta quando você não ligou mais e sumiu seu otario. – Sorri e dei um soco de leve em

seu ombro.

- Há! Como você é forte doeu. – E ficamos rindo.

Page 24: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Ele me abraçou, e ele é lindo. E eu estava apaixonada, e mais uma vez eu conquistava

o coração de alguém. Mas eu sinto que dessa vez é diferente, algo nele me hipnotiza.

Ele segurou meu rosto e me olhou fixamente.

- Eu não sei o que é isso mais voce não sai da minha cabeça.

- Isso não está certo C.

- O que é certo então G?

Nos beijamos, um beijo ardente e apaixonado, eu o desejava e ele me desejava, fomos

para o meu quarto, tirei a blusa dele e ficamos nos amaços na cama.

-Para G, para. Eu tenho que ir.

-O que? – Fiquei meio irritada. - Eu pensei que você quisesse...

- Não agora ok?

-OK. Tudo bem se você não quiser, desculpe. – Estava realmente irritada.

-Sabe G, eu quero realmente algo com você, não quero ser só mais um na sua vida

entende?

-Aham, sei.

- O que foi sua boba? Vem cá.

Ele começou a fazer cócegas em mim.

- Para C, para com isso.

- Vai parar de fazer cara feia?

- Vou sim, eu prometo.

- Pronto parei.

Fiquei olhando pra ele, com um sorriso de boba. Meu coração estava a mil, meu deus

como ele era lindo e fascinante como eu não havia reparado isso nele durante todo

esse tempo. Desde aquele dia há alguns anos.

- Hey C, vem cá, vem conhecer minha amiga G que te falei.

Ele veio correndo, estava com a bochecha rosada e o cabelo bagunçado. Quando me

viu abriu um sorriso.

- Há! Oi G. Tudo bem?

- Oi, prazer. Tudo bem sim.

Page 25: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

O silencio permaneceu alguns segundos até aparecer D soltando suas piadinhas.

- Olha só, finalmente C está conhecendo sua amada. Sabia que ele não para de falar

sobre você?

- É Verdade? – E ri pra ele.

- Não, não liga pra o que esse idiota fala. Eu tenho de ir errr foi um prazer te conhecer.

E saiu correndo. Achei ele fofo na época e só.

- G tá me escutando? Que cara de boba é essa?

- Nada, eu só estava lembrando de quando nos conhecemos.

- Há! Sim eu lembro, não me perdôo ate hoje por ter saído naquela hora em vez de ter

ficado mais tempo.

- Eu gosto de você

Ele ficou alguns segundos me olhando e meu coração disparou esperando uma

responta, ele sorriu e falou:

-Você gosta e eu te amo. Eu vou indo, mais tarde te ligo pra gente se ver.

-Tudo bem então.

Ótimo agora eu estava completamente apaixonada. Apaixonada e com medo. Medo

de me entregar de novo e me magoar. Não foi fácil quando V me largou. Não foi nada

fácil. Mais o C parecia ser completamente diferente e bem, já está mais que na hora de

deixar alguém entrar na minha vida.

Depois que C saiu fui ficar um pouco no MSN e lá estava M online

M. P. diz: Nossa. C sumiu hein? O q c andou aprontando?

G.G diz: Oi pra vc tbm. Ñ andei aprontando nd. Estava apenas estudando para as provas. Amiga vê so, passei o

dia com C e foi lindo *-*

M.P. diz: COMOASSSSSSSSSSSSSSSIMMMMMMMMMMMMMM? CONTA TUDO! ELE TÁ NA CIDADE?

G.G diz: Ele está tão diferente amiga, foi fofo, acho que estou apaixonada.

M.P. diz: G cuidado. Já escutei essa historia antes. Lembra cm foi cm o V?

G.G diz: Eu sei, mas agora é diferente. Olha eu tenho de ir. Nos vemos mais tarde no bar de sempre?

M.P. diz: Te ligo bjs

Page 26: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Dormi o resto da tarde eu estava realmente cansada. A semana foi bem longa com

aquelas provas toda. Acordei com o celular tocando. Era uma mensagem!

‘ Amor. Quero te ver, vem aqui pra casa. Beijos’

Era ele! O C, ai minha nossa! Claro que vou encontrá-lo. Como a vida fica mais perfeita

quando estamos apaixonados, agimos feito bobos. Eu nem posso acreditar que ele

realmente roubou meu coração. Ele está tão estranho. Tão mudado. Mas gosto assim.

- Oi...

- Oi.

- Você saiu meio com pressa hoje. –risos-

- Eu sei, desculpa, é que.. Nada. Loquei uns filmes vamos assistir?

- Bem, estou esperando a M me ligar, fiquei de encontra-la no bar mais tarde vamos?

- Voce ainda anda com essa garota? Fala sério.

- Há deixa de ser bobo vamos. Por mim.

- Voce não estaria querendo me usar pra fazer ciúmes ao I não?

- Afff... Sinceramente pensei que você fosse menos idiota. Eu vou nessa.

Me virei irritada em direção a porta. E C me segurou pelo braço.

- Me desculpa eu não quis falar assim. Ok. Vamos. Vem cá me da um abraço.

Ele me abraçou. Abraçou tão forte como se eu estivesse prestes a ir há algum lugar. Ele

voltou com algo estranho no olhar. Algo o havia machucado.

- Você quer conversar algo C?

- G é complicado, vamos deixar isso para depois. Fiz pipoca venha. - Sorriu-

- C, não me esconde nada tá? Se não quer falar tudo bem.

Ele me abraçou. Me fala gente? Como uma pessoa pode ser assim tão gracinha?

Passamos o resto do dia juntos, assistimos filmes e rimos bastante, acendemos um

baseado e ficamos largados, até meu celular tocar.

- G você não vem pro bar? I e D estão por aqui.

- Há! Estou já chegando M... – olhei pra C eu estava já esquecida- er C vai comigo

algum problema.

- C? Olha só, quer dizer que estão namorando?

Page 27: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Escutei os gritos de I ao fundo.

- ME DA ESSE CELULAR M COMO ASSIM ELA ESTA NAMORANDO OUTRO.

- Olha G vou desligar to te esperando beijos.

Ela desligou. Otimo eu iria encontrar o I.

- Bem, acho que temos de ir então.

- O que foi? Voce ficou meio tensa.

- O I está lá.

- Algum problema prefere que eu não vá.?

- Bem, aconteceu muitas coisas quando voce passou um tempo fora sabe.

- O que?

- Podemos falar sobre isso depois?

-Ok voce quem manda!

Page 28: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

6| Misery Loves Company

Chegamos ao bar e lá estava todos esperando. Minha melhor amiga M e meus ex I e D.

Esta noite vai ser meio tensa. I me fuzilou com os olhos, vi a hora ele pular dali e me

enforcar. D estava sorridente, feliz por me ver. M, bem M estava surpresa.

- Oi.

- G finalmente voce chegou, Oi C tudo bem? – Falou M com sua falsa empolgação.

- Estou ótimo. E ae D, I... beleza?

- E ae cara! Puxa vida olha só você esta diferente heim malandro? Como foi lá com seu

pai? – D sempre atencioso com todo mundo.

- Há cara o de sempre. Sabe né? Cê conhece meu pai. Ele é um saco quando quer.

Depois desse breve dialogo houve um longo silencio até a voz de I interromper.

- Mais olha só se não é o babaca e a puta. Vocês formam um belo casal de otários.

- I PARA COM ISSO VOCÊ PROMETEU FICAR QUIETO- Gritou M puta da vida.

- Eu estou quieto, só não entendo porque ninguém aqui fala o que realmente esta

pensando. Porque voce não fala M? Você mesma disse que achava um absurdo G estar

com outro sem antes nem se quer ter terminado comigo. Não é G?

Ok. Fiquei sem falas. Eu realmente não tinha chegado a terminar com ele mas, qual é?

Tava na cara que não tinha mais nada entre nós.

- Olha I, vá se ferrar seu babaca!

- Bem gente vamos parar de discursão, acho que não é hora nem lugar pra isso ok?

- É D tem razão. – M concordando com D? Que puta quem ela quer afinal?

Eu sabia que ia ser um erro ir ali com C, eu deveria ter ficado em casa na minha, mais

não tenho de sempre complicar tudo.

- Boa noite senhores! O que vão querer para beber?

- Traz duas cervejas. E pra garota ali uma vodca.

- Não I, vou ficar com uma água Tonica, obrigada.

Na hora todos pararam na mesa para me olhar e M foi a primeira a falar.

-Voce não vai beber? Quem é voce e o que fez com minha amiga?

- Há! Para só não estou afim.

Page 29: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Olha quem diria que eu ia escutar isso de voce. – I e suas ironias idiotas.

O clima tenso passou e todos começaram a conversar como velhos amigos sobre a

droga de vida deles e os problemas de família, essas coisas sabe. Enquanto eles

conversavam comecei a me sentir estranha o que eu estava fazendo ali? Ali

definitivamente não era o meu lugar. Eu deveria estar em casa assistindo algum filme

com minha mãe e rindo de besteiras ou com minhas amigas da escola fazendo

qualquer coisa diferente dessa vida de merda. Nesse momento já não conseguia

lembrar do porque de tudo isso, dessa revolta toda, dessa vida mundana.

Quando eu era criança minha mãe me levava para passear em uma praça perto de

casa. Quando eu fecho os olhos ainda me vejo com meus 2 anos, no balanço, depois

me vejo aos 5 brincando de bola, assistindo TV, depois me vejo aos 10 terminando a

escolinha. Depois não vejo mais nada, nada alem do que sou hoje. Mas afinal o que

sou? Porque tudo isso aqui, cara, não faz sentindo.

A vida não faz sentindo quando você não se sente vivo. Escutei essa frase uma vez, não

lembro onde mais ela resume tudo, para mim a vida já não era o bastante, eu tinha

tudo e ainda sim queria mais e mais, só que não sabia o que realmente queria. Minha

vida inteira eu sempre soube que faltava algo, mas nunca soube o que. Tentei

preencher esse vazio com noite e mais noites de farra, e agora nada disso fazia

sentindo, nada.

- G o que foi? – Escutei a voz de C meio preocupada.

- Nada. Não foi nada.

- Como nada G, voce tá ai há minutos sem falar nada nem escutar o que a gente fala.

- Eu... eu so tenho de ir.

Me levantei e sair correndo do restaurante enquanto escutava o C correr atrás de

mim, corri algumas quadras até que cansei. E parei sem ar e o C segurou meu braço.

- O que é que está havendo ficou louca? Sair correndo desse jeito! Seus amigos ficaram

la preocupados.

- Me deixa tá? Me esquece! Da pra sumir?

Ele fez cara de tem não estava entendendo nada, gaguejou um pouco antes de falar.

- O que está acontecendo?

- Por favor C, pelo seu bem, se afasta de mim ok?

- G, o que voce esta falando é absurdo!

Page 30: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Olha, me escuta. Some da minha vida, pelo seu bem. Por favor eu—

- Escuta aqui G, eu te amo. Não vou te deixar nunca so porque voce tá ai surtada.

- Eu não te amo.

- Vem cá pequena.

Ele me abraçou. Ele deveria ir embora. Ir embora antes que eu destruísse a vida dele

como fiz com a minha. Se ele ficasse mais um segundo ia ser tarde demais. E ele ficou.

Como uma pessoa podia ser assim? Com ele eu me sentia bem, me sentia outra

pessoa, eu me sentia completa e isso me deixava morrendo de medo.

-Eu te amo C, não me deixa nunca.

- Eu nunca vou te deixar G, escutou bem, nunca.

- Promete?

- Prometo. Vamos pra casa?

- Não! Acho que quero voltar no restaurante, sabe, não quero que a galera pense que

sou louca.

E fomos andando rindo de mãos dadas. Meu deus como eu o amava. Como podia ter

acontecido isso? Nem pelo V eu havia sentido igual, tudo na minha cabeça agora era o

C, e meu mundo agora era ele, e tudo na minha cabeça girava em torno disso. E seria

justamente este sentimento avassalador que ia nos destruir com o tempo.

- Você é maluca G. – M veio sorrindo e me abraçou.

- Sabe como é né? Sempre tenho esses surtos.

- Então – interrompeu I- vamos para alguma boate?

Fomos parar em um bar de garagem onde tocava o melhor do rock’n’roll. Estava

tocando uma banda cover de Nirvana. Kurt é o meu ídolo ok? Me identifico com alguns

aspectos da vida dele, não gosto da Curtney mas também não acho que ela o tenha

matado como muitos acham. Ele fez o ‘certo’ era o que queria e se tornou mito,

grande Kurt.

- Vou pegar um drink. Já volto amor.

- Esta bem.

Ele não é uma gracinha? Fiquei parada ao som de Smell Like Teen Spirit, e I se

aproximou.

Page 31: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Você está bem G?

- Estou sim obrigada, porque não estaria?

- Você surtou naquela hora. Eu te conheço, o que é que esteja passando nessa sua

cabeça não vai demorar muito a explodir.

- Hmm. – Pra mim tudo o que ele falava era completamente indiferente. Será que ele

não percebia isso? Tudo naquele bar era indiferente exceto a banda. O vocalista era

simplesmente lindo e não parava de olhar pra mim e eu? Bem não conseguia tirar os

olhos. Não sou nenhuma vadia nem nada disso como devem estar pensando é só que,

cara! O guri da banda era realmente lindo, a cara do Kurt. Rs.

- Você fica uma gracinha com essa cara de raiva.

- E você fica idiota ai falando sozinho.

-Uhhhhhhhhhh! Tambem gosto de você G. O que você olha tanto?

- Nada, estou vendo a banda. Tocam bem demais né?

- A banda ou o vocalista? Tão típico de você G... Tá com um já de olho em outro.

- Cale sua boca seu idiota.

Ele me segurou com força com toda raiva do mundo. Eu o encarei firme e forte, tava

pra nascer o idiota que ia me intimidar.

- Me solta I. Me solta ou eu grito.

- Eu amo você. Não percebe? Eu perdoei sua traição com o D, eu perdôo tudo se voltar

pra mim. Podemos até esquecer esse seu lance ridículo com esse garoto.

- As coisas não são sempre como você quer garanhão!

- Não?!

Ele me beijou, com toda a raiva que tava sentindo, eu tentei empurra-lo mas ele

estava me segurando com força demais então o deixei me beijar. Depois enfim, cedi

completamente. Algo em mim queria aquele beijo, talvez só talvez uma parte de mim

ainda sentisse algo. Era tão errado, mais naquele momento me pareceu tão certo. Eu

queria ter contado a ele sobre o bebe. Quando paramos de nos beijar lá estava C

segurando as bebidas.

- C, eu...

- Eu pensei que não rolasse mais nada, enfim acho que estou sobrando aqui, toma aqui

seus drinks.

Page 32: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- C espera, por favor, vamos conversar! C!

Ele saiu correndo feito louco do bar e eu fui atrás empurrando todo mundo que

estivesse no caminho.

- C ESPERA POR FAVOR. – Ele se virou e ficou me encarando. Eu segurei sua mão.- Me

escuta, não é isso que você está pensando.

- É isso que você sempre diz pra todos?

- C, eu te amo. O que aconteceu ali não significou nada.

- E você espera que eu acredite? Olha só pra você. Vai lá é com ele que você quer

estar.

Ele respirou fundo, e eu não sabia o que falar ele tentou se soltar das minhas mãos

mais eu simplesmente não podia deixa-lo ir.

- Eu amo você C! Não importa o que aconteceu ali, não significou nada. Me perdoa.

- Eu amo você pequena. – Beijou minha testa- Só quero que você tome as decisões que

forem melhor pra ti.

Descalça e de mãos dadas com C, saímos andando pela cidade sem falar

absolutamente nada so sentindo a brisa da noite. Ele era legal demais pra mim, bom

demais pra ser verdade. Andamos por alguns minutos, nada romântico essa parte. Ué.

Eu cansei. Pegamos um taxi e fomos pra casa dele.

Na porta da casa dele ele me pegou pelos braços.

- Para com isso C! Me coloca no chão.

- Faz de conta que acabamos de casar e essa é nossa casa, nossa lua de mel. Faz de

conta.

Ele me levou até o quarto dele e me colocou na cama.

- Eu gosto do seu quarto.

- E eu de você pequena.

Ele me beijou suave e delicadamente, um beijo longo e apaixonado. Um beijo que só

senti nos lábios dele e de mais ninguém. Ficamos um bom tempo nos amassos. Ele

tirou minha roupa fiquei apenas com calcinha e sutiã.

- Eu te amo C.

Page 33: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Tirei sua blusa. Tentei desabotoar sua calça mas ele não deixou. Continuamos nos

amaços. Tentei desabotoar de novo. E de novo ele não deixou. Então eu parei e sentei

na cama.

- O que foi G?

- O que foi? Você é broxante sabia?

- Eu só acho que não é o momento.

- Qual é o seu problema hein garoto? – Enquanto falava me levantei pegando minhas

coisas pra me vestir- Não é o momento? Estamos aqui só nós dois, eu to afim de

transar com você e sei que você está também, está esperando que momento? Sua

mãe chegar ou coisa assim. – Ele me puxou de volta pra cama.

- Eu só acho que a gente tem de fazer isso no momento certo.

- Eu não te entendo. Me trás pra sua casa, me deixa afim e para. Foda-se. Eu vou pra

casa.

- Vai não, fica aqui.

- Então me explica o que tá acontecendo.

- Eu, te amo só isso. Não quero estragar tudo. Deita aqui, dorme comigo. Vamos ficar

juntos.

-Está bem.

Me deitei abraçada com ele e naquela noite não falamos mais nada, não fizemos mais

nada. Se era o momento certo que ele queria, eu ia esperar.

Page 34: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

7|Eu nunca, nunca mais deixarei você partir...

Na manhã seguinte acordei com um belo café da manhã, o C é tão gentil, um doce. Sua

voz suave de ‘Bom dia ‘, um beijo na minha testa. É. Ele definitivamente roubara meu

coração, e eu não estava pronta pra isso, digo, nunca mantive um relacionamento

estável. Além do mais tinha muitas coisas que ele não sabia de mim coisas que

precisavam ser contadas.

- Eu estava grávida.

- O que?

- Bati com o carro do D. Quando eu estava no hospital eu soube.

- Era do I? Você está bem?

- Era sim. Não sei, não tenho certeza se estou bem também não sou insensível.

- Ele sabe?

- Não, não achei necessário contar. Eu não queria que isso tivesse acontecido, mais

também não sei se eu iria querer ter.

Cai no choro. Chorei pela vida de uma criança que nunca irei conhecer. O C me

abraçou só então me senti segura. Eu estava bem. Pela primeira vez na vida eu me

sentia completa, eu estava realmente feliz e isso me assustava. Será que é normal

sentir medo assim?

- Eu tenho de ir.

- O que?

Sai sem falar mais nada, ele resmungou algo que não escutei eu só precisava sair dali

rápido eu precisava pensar.

- Alô M?

- Nossa, você sumiu ontem depois de beijar o I.

- Cala a boca sua vadia. Preciso tomar um drink, me encontra no bar de sempre em 2h?

- Por Deus G, não são nem 10h e você já quer beber? – Risos-

- Como se você não gostasse da idéia sua vadia. – Risos-

Desliguei o telefone e fui me arrumar. Precisava de um bom drink, um pouco de pó e

uma boate, e o dia só estava começando.

Page 35: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Eram 11h e eu esperava a M no bar do hotel enquanto tomava o meu cosmo. Não me

lembrava mais porque havia ligado para ela, não sei nem mesmo o que estava fazendo

lá. Pensando bem, realmente poderia dar certo com o C, porque não? Ele era legal e

todo gracinha, nossa como ele parece uma criança.

- Por favor, outro cosmo e a conta!

- Vai fugir sem ao menos me esperar? Que feio sua vadia!

- Oh! M, pensei que não fosse mais vir.

- Pra que a pressa G? Bem, o que queria falar.

- Eu não sei se posso continuar isso com o C.

- Ficou balançada com o beijo que I lhe deu?

- Foi só um beijo Ok? E eu já me entendi com o C. A questão é eu amo o C.

- Que gracinha. Isso é bom G.

- Para! Não é nada bom eu...

- Vocês transaram? OMG!

- Para sua vadia, não. Mais só porque ele não quis.

- Como assim? Me conta.

- Antes dele ir embora, lembra do dia da boate que ele me levou pra casa?

- Há! Lembro, mentira. Vocês ficaram?

- Ele me beijou. Devo confessar que não parei de pensar nisso. Depois ele foi embora e

tentei voltar com o I, ate aquele idiota dizer que me amava e estragar tudo. Agora o C

voltou e está tão diferente, e ao mesmo tempo estranho.

- Ele sempre foi estranho. –Risos-

- Não seja maldosa. O fato é que, estou sentindo algo muito forte que não sei nem

explicar.

- Amiga, relaxa, não seja tão má com você mesma, deixa rolar, você não precisa ser

uma vadia a vida toda. – risos.

Deixar rolar. Claro. Eu estava fazendo muita tempestade em como d’agua. Eu estava

sentindo algo pelo C e isso era realmente bom, e bonito até.

Page 36: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Passamos o resto das férias juntos, vivendo um romance as escondidas, tudo parecia

perfeito. Passeios noturnos a beira mar, por do sol juntos, dormir e acordar juntos.

Vivendo duas vidas em uma só vida. O inverno é bem chuvoso na cidade, assistíamos

filmes juntos riamos. Foram 3 semanas juntos na mais perfeita harmonia. Eu era ele,

completamente ele. Durante esse tempo nada de álcool ou drogas, nada de baladas

nem putaria. Eu vivia e respirava ele. E agora minha vida fazia sentindo.

- Quem será a pessoa do Orkut fake?

- Você já viu as fotos e os comentários?

- Tem foto daquela sua amiga lá.

Esse era o assunto do início do segundo semestre na escola, o maldito Orkut fake que

falava da vida de todo mundo, e eu era legal demais pra deixar que falassem de

alguma amiga minha. Chegando em casa procuro esse Orkut e tentei resolver, resolvi.

Mais foi a maior merda que eu fiz, isso me infernizou o resto do ano letivo todo. Não

vou revelar aqui coisas que sei a respeito disso, e nem o nome daquele bando de idiota

daquela escola, também não vou relatar aqui o modo como me senti mal com tudo

isso, não vou fazer a felicidade de vocês seus mesquinhos. Minha vida estava indo

bem, não iria deixar ninguém estragar isso. A pesar de tudo, nada iria estragar.

Uma semana antes meu avô havia morrido. Se não fosse o C eu realmente teria

perdido o controle, não pude da um beijo de despedida em sua mão, nem dizer o

quanto eu o amei, do meu modo mais amei. I miss you grandpa.

Page 37: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

8|I try to believe you, but I don't.

Naquela semana o C não deu sinal de vida,liguei algumas vezes na casa dele e ele

nunca estava, mais que porra. Não acredito que ele sumiu assim. Fui então atrás dele

na vila, eu realmente não gostei do que vi.

- O que está acontecendo com ele I?

- É a heroína. Você não sabia que o seu namorado é mo viciadão. Passou um tempo na

casa do pai tentando curar isso, voltou bem pelo visto. Vocês sumiram.

- Como assim? Eu não estou entendendo.

- O C sempre foi viciado, caiu na heroina há alguns meses, depois de provar com uns

amigos na casa do pai.

- E como vocês o deixam usar isso.

- Não seja hipócrita G! Não banque a santa agora. Todos sabem que você adoraria

tomar um pico. Vamos relaxe.

Foi ai que tudo desmoronou novamente. Tomei um pico, e juro que foi o ultimo. É uma

sensação de prazer maravilhosa, mais não vale a pena, nada nesse meu mundinho vale

a pena. E mais uma vez eu colocava toda a minha vida a perder. E agora parecia que

aqueles dias com o C não haviam existido, depois disso todo o inferno aflorou-se de

dentro pra fora de mim.

Não via o C há duas semanas, durante esse tempo sai com vários caras, não me

pergunte o nome, é difícil demais lembrar de todos. M e eu extravasamos tudo o que

tínhamos pra extravasar. Reatei meu namoro com I. Na escola estava cada vez pior,

não falo do meu rendimento escolar, claro que não, minha vida de boa garota

estudiosa ia bem, mais agora todo mundo pegava no meu pé. Como se não bastasse

toda essa confusão na minha vida ainda tinha de sofrer calunias de alunos e

funcionários da escola a respeito daquela porra de fofoca na internet.

- Não, não fui eu. Mas eu bem que poderia ter feito. Confesso que até pensei. – Falei

pra L.

- Tem idéia de quem seja? Isso tem cara de ser coisa de criança, e coisa de alguém que

eu conheça, deve ser uma dessas vadias do 1º ano que não tem o que fazer, e vive sua

vidinha de merda e pra ocupar o vazio foder com os outros.

- Tem muita gente dizendo que é você.

- Quem me dera ter tempo pra isso. – baixei a cabeça-

- O que foi?

Page 38: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Estou de saco cheio disso. La vem.

E era assim todas as vezes que eu parava para falar com alguém. Eu poderia ter

processado a escola por danos pscicologicos. Não podia ir ao banheiro, nem tomar

água, nem falar com ninguém que vinha uma daquelas vadias atrás, a escola se tornara

um presídio e eu precisava sair dali de imediato. Não sei se devo mencionar a parte do

lesbica e maconheira, não devo revelar tanto.

Nossa como aulas de matemática eram chatas, era a ultima aula da sexta feira e eu iria

estar finalmente livre, eu iria pra casa da M, iríamos beber e puxar um. A noite iríamos

para o bar e depois dançar e foder por ai.

Dez minutos antes do sinal tocar chega uma mensagem no meu celular,era o C.

‘G, ACHO QUE A GENTE PRECISA CONVERSAR, TENHO MUITA COISA PRA TE FALAR, EU

TO METIDO COM TANTA COISA, QUERIA QUE VOCE SOUBESSE. TE AMO, ESTOU NA

PRAÇA PERTO DA SUA ESCOLA.’

- Vamos ao cinema hoje?

- Há! Gente não vai dar, tenho de estudar, vejo vocês segunda.

E sai ao encontro do C na praça.

- Voce está mal. O que está acontecendo?

- Eu me meti em muita merda G, estou devendo, estou me drogando e eu amo voce.

- E precisava sumir assim de mim? Eu posso te ajudar.

- Você voltou com I, voce não lembra mais das férias?

- Foi realmente bom, eu pedi que voce não me escondesse nada, eu gosto de voce, eu

realmente queria estar com voce.

- Eu tenho AIDS.

O mundo inteiro desabou aos meus pés. Eu não podia acreditar no que acabava de

escutar, ele não poderia estar falando sério.

- G, fala algo.

- O que voce quer que eu fale? Como aconteceu?

- Usei a seringa de um cara, depois soube que ele tinha AIDS, fiz os exames e deu

positivo.

- Por isso você não quis transar?

Page 39: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Tambem.

- Tambem?

- Eu nunca fiz isso com ninguém G, pode parecer bobo e meio mulherzinha mais eu

queria que fosse com alguém especial, mas agora. Você vai me deixar?

- Eu sinceramente eu, não sei, eu gosto de voce, tenho de pensar eu.

-Eu entendo perfeitamente, quem vai querer ficar com um doente, sou uma bomba

relógio que pode explodir a qualquer momento.

- Não fala isso.

E o beijei. Dane-se que ele era um marginal, dane-se que ele tinha essa porra de AIDS,

dane-se o mundo, eu o amo e ele era meu, e eu era completamente sua. Naquele

momento eu estava disposta a tudo, mas até quando?

Page 40: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

9| I couldn't tell you .Why she felt that way.

O mês de agosto passou rápido, graças a Deus é o mês mais longo do ano pois não tem

feriado. Tédio. A essa altura do campeonato eu já estava pirando na escola, em 3

meses era a 1ª fase do vestibular da UFPE, e no inicio de dezembro eu teria de viajar

para N.M para fazer as provas da UPE. Eu estava realmente saturada de estudos e aula.

Havia pego pesado demais no inicio do ano estudando com as meninas.

- Vamos, sem brincadeira, vamos voltar passa o assunto. Babilonia? – Disse eu para as

meninas.

- Sério mesmo. Eu não estou entendendo nada disso e já cansei de escrever. – Demos

risadas-

- Já são 18h, estou com fome e cansada, deveríamos fazer uma pausa.

Escutamos alguém batendo na porta. Era a mãe de T.

- Comprei pizza para vocês.

Naquele dia saímos da casa de T as 23h, correndo para pegar o ônibus, e foi assim todo

o primeiro semestre nessa correria toda. Eu quase não dormia, quando estava

estudando eu realmente estudava quando tinha folga ia ver o pessoal, puxar um e tal.

Setembro começara lindo, o sol começava a aparecer mais, a cidade já estava mais

aquecida, e toda aquela chuva de inverno e estragos deixada para trás. Eu estava com

o C e me sentia bem, estávamos indo muito bem. Na escola estava tudo um inferno

com aquela merda de fofoca na internet. Meu Orkut tinha mais visualizações que o

normal, ate aquele bando de vadio da coordenação andou fuçando minha vida, bem,

Orkut cancelado. Minha mãe ameaçara me tirar da escola caso não parassem com essa

perseguição pro meu lado, melhorou um pouco depois disso, mas eu já estava

contando as horas para largar tudo isso e poder viver uma vida só.

Já fazia um tempo que eu não encontrava nenhum dos meninos só o C, claro. Também

não via mais a M, e ela também não me ligava. Deve esta pegando o I por ai. Foi o que

sempre quis. Diminui minhas saídas, eu estava disposta a mudar de vida, se eu

soubesse antes que seria assim nunca teria entrado nessa vida, nunca teria feito as

coisas que fiz. Um ano antes eu estava devendo muita grana a meu fornecedor e eu

realmente não tinha como pagar.

- To muito fudida M.

- O que houve G?

- Estou devendo grana ao fornecedor, voce sabe bem o que vai acontecer se eu não

pagar.

Page 41: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Se voce quer ajuda eu tenho um programa para você.

Foi ai que eu soube o como a M sustentava a vidinha de garota riquinha dela. Ela

vendia o corpo em trocar da vida mesquinha que mantinha. Idiota. Acabei topando. Eu

realmente precisava. Fiz isso umas 4 vezes. Os caras não eram alguns caras que eu já

havia conhecido por ai, em boates e jantares. Eram todos amigos do pai da M, eram

todos pai de família. Eram todos fracassados. Em vez de reunião de trabalho estavam

comendo uma puta por ai, enquanto aquela idiota o esperava em casa para jantar, e

ele nunca chegava na hora.

Eu me sentia suja, eu me sinto suja. Não falo só dos caras com quem me envolvi por

dinheiro, falo dos caras com quem sai a vida toda, das drogas usadas, dos dias

perdidos de ressaca. Entrei nessa vida por me sentir sozinha e vazia, sem família, sem

amigos. E continuo assim. Não sei a partir de que ponto eu comecei a perder o

controle, se é que algum dia eu o tive.

Tenho 17 anos e já vivi demais. Nada na vida tem mais graça, digo, nada teria graça se

não fosse o C, eu o amo e tenho medo de admitir isso, confesso ter medo também. Eu

preciso sair dessa vida, assim vou tirar o C dessa, acho que de uma forma indireta eu o

meti nisso. Eu o amo.

- Então estamos namorado?

Era uma manhã de sábado, C havia dormido na minha casa. Não, minha mãe nem

imaginava, estava ocupada demais tratando do divorcio, finalmente. C estava todo

gracinha, estava bastante empolgado com nós. Nós. Esse era um grande problema pra

mim.

- Namorando? Você não acha meio rápido demais?

- Como assim? Eu te amo, você me ama, já estamos meio que juntos há algum tempo.

- C, eu gosto de você, eu realmente gosto, mais você não acha que assim já está bom?

Juntos.

- Claro amor, por hora se você quer assim.

E sorriu pra mim. Acendeu um baseado. Fumamos juntos. Rimos juntos de besteira,

daquele jeito de quando estamos chapados.

- Deveríamos parar com isso.

- Com o que?

- Drogas, essa vida, sei lá. Quero uma vida a seu lado G, vamos casar e ter 2 filhos. E

vamos ser muito felizes.

Page 42: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- E já não somos agora? – Risos-

- Claro que somos.

E me beijou docemente. Qualquer um se perguntaria como um marginal assim pode

ser uma pessoa tão doce e delicada. E virgem. Claro que eu quero, mais com ele vai ser

diferente, eu estou completamente apaixonada. Espero que isso dure para sempre.

- Posso ficar indo te pegar na saída da escola?

- NÃO.

- Por quê? Tem vergonha de mim G?

- Não é isso, é só que, por enquanto prefiro que isso seja só nosso entende?

- Claro, entendo.

- Poxa, não fica com raiva, eu quero ta com você, só você, como se o mundo não

existisse.

Passamos todo o dia nisso, sem fazer nada deitados conversando besteira e tudo o

mais. No fim da tarde eu estudei um pouco, enquanto o C tomava banho. Estava tudo

indo muito bem, até o celular dele tocar.

- Oi.

- Certo, certo, eu estou indo.

- Estou sim, eu levo. Tchau. Amor, eu vou nessa.

- Pra onde você vai?

- Tenho umas broncas para resolver, a gente se vê amanha?

- Ok. Acho que vou ao bar conversar com a M, faz tempo que não a vejo.

- Certo. Te amo.

Dispensei os sermões da M, dispensei a companhia irritante dela, não queria ouvi-la

falar de como tem sido tudo tão bom, não queria saber das baladas nem de porra

nenhum, estou com C e tenho de estudar, e é isso que importa.

O mar estava lindo, a brisa que o mar soprava me acalmava. E isso bastava. Já fazia um

tempo, e eu precisava de pó. Eu precisava de qualquer coisa para realmente me sentir

bem. Eu amo o C e deveria estar feliz. Enquanto observava o mar pensava em como

tudo isso havia começado e me perguntava onde isso iria parar.

- D? Estou na praia. Preciso conversar com alguém.

Page 43: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- O que houve G?

- Eu não sei.

Não sabia ao certo porque eu ligara pro D, nós sempre nos demos bem e eu precisava

conversar. E o D era a única pessoa que podia me acalmar agora. Todo o tempo desde

que entrei nessa vida o D sempre falava pra eu cair fora, e eu sei que ele tava certo.

- G, sai dessa. Estamos juntos agora, daí você vai dar suas crises vai voltar com o I, é

sempre assim não é?

- Para.

- Cai fora ou você vai acabar mal.

E ele estava certo, já estava tudo mal. Só faltava acabar.

- G!

- Que bom que você veio.

- Manda a bronca.

- Eu deveria ter te escutado enquanto era hora.

- O que foi?

- Não é segredo que estou com o C, e eu estou completamente envolvida, não posso

cair fora se ele não estiver comigo.

- O cara te ama mais larga ele, vai viver tua vida. Você sempre foi a garotinha mimada

que procura uma aventura, tá na hora de parar G. Não vamos poder te proteger pra

sempre. A coisa é bem mais complicada do que você pensa.

- Não estou entendendo.

- O C é traficante, não como o I ou eu ou qualquer outro dos meninos ele esta

envolvido com coisas pesadas demais, sabe. Ninguem anda mais com ele. Só você.

- Eu pensei que fossem amigos.

- Eramos G, éramos. Eu estou pulando fora, ou pelo menos tentando, e você deveria

fazer o mesmo, já chega dessa vida. Ano que vem vou voltar a estudar, e depois uma

faculdade.

- Eu queria conseguir largar fácil. Preciso de um drink, obrigada D.

Dei um beijo em seu rosto e sai andando algumas quadras até o bar de sempre. Eu

sinto falta da minha família, não vejo meus pais a décadas nem sei como anda o lance

Page 44: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

do divorcio e tudo o mais. Pedi um cosmopolitan. A vida poderia ser bem mais simples

se eu não a tivesse complicado tanto. Eu precisava tirar o C dessa pra sairmos juntos.

Eu o amo.

A noite estava bem quente. Peguei uma garrafa de vinho, coloquei o DVD de

bonequinha de luxo e fiquei imaginando como a minha vida seria se eu fosse a Holly.

Fiquei bêbada e adormeci antes dos créditos finais. Não sonhei nada.

Page 45: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

10|Everythings changing... Onde quer que eu vá.

Agora é fato. Meus pais se separaram e ele foi morar em Ouro Preto, nem se despediu

de mim. Tudo bem. Normal. Achei que minha mãe fosse ficar mais arrasada mais não.

‘Querida G,

Mamãe vai passar o fim de semana no Rio.

Comporte-se’

É. Estou sozinha o fim de semana todo. Como sempre, estou só a vida inteira, eu não

mereço isso. Fui largada na vida cedo demais, aprendi a me virar sozinha, não preciso

dela nem de ninguém. Só precisava tomar uma ducha, logo eu ficaria melhor. Me servi

de uma dose de vodka e entrei na banheira, acendi um cigarro e liguei para o C.

- Oi?

- C? É a G. Tudo bem?

- Oi amor, estou bem sim, você me acordou.

- São meio dia você não deveria estar dormindo. Saiu ontem?

- É. Tinha muitas coisas para resolver.

- Eu amo você. Só isso C. Larga tudo isso vei, por favor. Fica só comigo, vamos ficar

juntos, você vai seguir seu tratamento de HIV... e

- G, para com isso. Você está só em casa?

- Estou, vou passar o fim de semana sozinha.

- Ok, estou indo ai.

Até o presente momento eu não lembrava de ter sentido tanto medo, só agora eu

sabia no que realmente estava metida. Maldita vida sem rumo essa que eu tomei.

Ontem a tarde quando eu voltava da escola resolvi pegar um caminho mais curto, eu

tinha pressa. Um sujeito me parou colocando um revolver em minhas costa.

- Calma, não grite ou eu vou atirar. Escute bem, eu sei quem você é G, também sei que

é a namoradinha do C. Tenho um recado pra ele.

- O que?

- Fale pro seu namoradinho que ou ele paga o que me deve ou eu mato você.

Page 46: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Ele me deu um tapa nas costas. Andei até em casa completamente sem rumo, me

sentia tão perdida, tão assustada, sinceramente eu não sabia nem o que pensar, tanto

que eu nem lembro como cheguei. Apenas tomei uma garrafa de vodka e acordei

apenas agora.

Eu sabia que eu estava indo longe demais nessa vida, varias e varias vezes eu tentei

mudar isso, sei o que estão pensando, mais é tão difícil sair quando se entra nessa, e

eu precisava tirar o C. dessa pra sair também. Começar uma vida nova. Entendam, eu

sempre tive tudo o que eu quis e não é minha culpa. Eu não pedi pra ser assim. A vida

inteira eu procurei respostas para minhas perguntas, eu me senti só a vida inteira, não

que eu tenha deixado de me sentir. Mas é que, tudo era completo vazio, e eu amava o

C. isso me fazia feliz, isso me completava. O fato dele ta com HIV e estar metido nessas

coisas não mudava em nada o que eu sentia por ele. E eu realmente queria muito que

ele desse valor a isso.

Estava no meu quarto quando me assustei com alguém entrando pela janela.

- Hoje você poderia ter entrado pela porta baby. – sorri e beijei o C.

- Desculpe é o costume.

- Voce está bem amor?

O C estava com uma aparência estranha orelhas, muito pálido e parecia estar cada vez

mais magro. Nada parecido com o cara bonitinho e saudável que conheci.

- C, o que está havendo.

- Nada amor.

- Por favor não minta pra mim! Uns caras vinheram me procurar disse que se voce não

pagasse o que deve iriam me matar.

C ficou em silencio, com um olhar vago apenas me olhando, depois foi so um surto

geral. Ele deu um murro no espelho do meu guarda roupa, sua mão ficou sangrando

muito, tinha pedaço de espelho em todo lugar.

- DROGA! NÃO ACREDITO QUE FORAM ATRÁS DE VOCÊ.

- CALMA C, CALMA!

- CALMA G? Eu te amo, não imagino algo te acontecendo por minha causa.

- Hey, eu sei me virar. O que está havendo C? Conversa comigo.

- Temos que terminar G.

- Como? Voce estar louco!

Page 47: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Para G, isso nunca deveria ter começado, vivemos em mundos completamente

diferentes. Olha pra você, tem um futuro, uma vida toda pela frente, e olha pra mim.

Naquele momento meu mundo estremeceu completamente, ele não podia me deixar,

não podia nem pensar nisso, éramos só nós dois.

- C, eu te amo. Te amo muito, e quero estar com você pra tudo então me fale.

- Estou devendo muita grana a um cara ai, ando me escondendo mais cedo ou tarde os

caras me acham, vou da um jeito de pagar, e vou falar pra deixarem voce em paz, que

não estamos mais juntos.

- Eu quero estar com você.

- Eu não quero mais nada com voce. Foi bom ok? Nos divertimos muito juntos, mas já

deu o que tinha que dar.

- Você não está falando serio. – Claro que ele não estava falando serio, como poderia

estar? Ele me ama certo?

- Nunca falei tão serio em toda minha vida. Eu não te amo mais.

- Eu entendo que voce esteja preocupado mais assim não vai resolver nada.

Ele me segurou no braço com tanta força que achei que ia quebra-lo. E olhou bem em

meus olhos. Nunca tinha visto um olhar tão frio, cheio de raiva.

- PARA DE FINGIR QUE NÃO ESTÁ ENTENDENDO G. MAIS QUE PORRA! EU-NÃO-TE-

AMO-MAIS. ACHO QUE NUNCA AMEI OK? ME ESQUECE FALOU? VA VIVER SUA

VIDINHA DE GAROTINHA MIMADA E NÃO ME PROCURE NUNCA MAIS.

E me jogou em cima da cama. E saiu pela janela. Fiquei sem falas, ele estava mentindo

certo? Essa raiva ia passar. Ele estava tão frio, que quase acreditei que ele não me

amava, apenas não podia ser verdade, ele era minha vida inteira, e não importava o

que acontecesse eu ficaria ao lado dele.

Chorei horas sem parar. Chorei até me faltar ar nos pulmões, e eu precisava sair,

precisava esfriar a cabeça. Então pensei em ligar para a M. Pra que? Não era com ela

que eu queria falar, ela era só mais uma idiota. Eu sabia extamente com quem

precisava conversar. A.

Procurei o numero de A na minha agenda, já fazia um bom tempo que não nos

falávamos. Alias, eu não falava mais fazia uns meses, quase 1 ano já. A ultima vez que

conversamos estávamos na casa dela vendo filme e conversando.

- Você não cansa de ver bonequinha de luxo G?

Page 48: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Não gata, você sabe que eu adoro esse filme. Vamos não fuja do assunto, você falou

que estava apaixonada quem é ele?

- Hummm não sei se eu deva contar agora sabe.

-Vamos sua bobona me conta.

Fiz cócegas nela, ficamos rindo.

- Ok se não quer falar.

Ficamos deitadas na cama vendo o filme, nossa eu amava passar o tempo com A, ela

me entendia tão bem, estava comigo depois daquele drama todo por causa do V, me

apoiou tanto.

-G.

Virei o rosto para olhar pra ela então ela me beijou. Foi um beijo delicado e ao mesmo

tempo eufórico, e por um instante eu correspondi, por um grande instante na verdade.

Até que a empurrei.

- Você ficou louca garota? Mais que saco! – Comecei a pegar minha coisas para ir

embora, estava realmente com raiva.

- G, desculpa foi impulso podemos so esquecer isso?

- NÃO. CALA A BOCA.

- G calma não precisar agir assim desculpa.

-Foda-se. Não fale comigo.

Sai puta da vida. Ela me ligou ainda algumas semanas mas eu ignorei.

Achei o numero dela e fiquei pensando se ligava ou não, pelo menos era alguém que

costumava me entender. Claro se ela ainda quisesse falar comigo depois de eu ter sido

tão estúpida.

- Hey A! Sou eu G.

-Oi...?

- Olha, eu queria pedir desculpas por ter agido daquela maneira.

- Ok, você tinha todo o direito.

- Eu preciso te ver, estou precisando conversar com você, sinto falta da sua amizade.

- Tudo bem G, onde podemos nos encontrar? Vou pra sua casa?

Page 49: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Não! Quer dizer, prefiro encontrar com você na praia pode ser?

-Tudo bem!

- Obrigada A.

- Te vejo la garota.

Otimo, fiquei realmente feliz dela ter falado comigo depois de tudo. Ainda éramos

amigas e ela iria me ajudar a me sentir melhor com tudo isso do C rolando.

Page 50: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

11| Sobre uma garota

Cheguei a praia, fiquei sentada na areia esperando A. Enquanto esperava tentei ligar

pro C. Caixa postal.

- C por favor. Eu te amo, vamos conversar, você não pode simplesmente terminar

comigo assim, me liga.

Não podíamos terminar, eu o amava ele me amava, estava disposta a fugir com ele se

fosse preciso. Aqueles meses com o C foram os mais felizes da minha vida e finalmente

minha vida parecia ter algum sentido então, não podia simplesmente acabar desse

jeito. Mais que droga! Só queria que ele realmente me contasse o que estava

acontecendo.

-G.

-A, oi. Que bom que você veio. – ela sentou ao meu lado.

- Obrigada por ter vindo.

- Você sabe que pode sempre contar comigo, somos amigas. O que tá pegando?

- Ai A, é tanta coisa que tá acontecendo na minha vida.

Não consegui segurar as lagrimas. Ela me abraçou, enxugou minhas lagrimas olhou nos

meu olhos.

- Tenho todo tempo do mundo garota, pode contar o que quiser pra mim, e não chore.

- Me desculpa por ter te tratado mal antes?

- Claro G, a culpa foi minha eu não deveria.. Enfim, me conte tudo.

Então contei tudo o que estava acontecendo pra A. Desde as minhas brigas com I, o

rolo com D e o acidente de carro. O bebe. Falei sobre o C, sobre como estava

apaixonada, como ele era diferente. Falei sobre a doença dele, sobre como tudo foi

maravilhoso no começo e como tudo começou a desabar.

- Estou com medo A. Você me conhece bem, poucas coisas me fazem sentir medo, mas

estou realmente assustada.

- Vem cá, não fica assim G. – me abraçou- Você é uma garota doce, não merece está

passando por isso, nem sei porque voce se mete nessas loucuras.

- Eu sei, você tem razão.

Page 51: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Linda, você tem um futuro pela frente, eu sei que você ama esse garoto, vejo isso nos

seus olhos, nem quando você se descontrolou pelo V eu vi tanta sinceridade. Mas G,

nem sempre temos o que queremos, as vezes simplesmente não dá certo sabe....

E enquanto ela falava, reparei o quanto ela estava mais bonita, os olhos cor de mel, o

sorriso, o cheio familiar, me senti bem em esta com ela. Dei um beijo em sua

bochecha.

- Obrigada.

- O que foi isso?

- Nada, só obrigada por vir aqui, escutar meus dramas de sempre, você poderia

simplesmente ter me ignorado.

- Mas estou aqui.

-Eu sei. Obrigada.

- Vamos! Pare de agradecer. Vamos alugar uns filmes e ver la em casa. Compramos

pipoca e tal.

- Otima idéia. Mas eu escolho o filme.

- Não sendo bonequinha de luxo pra mim está ótimo.

- Haaaaaaa para como sabia que eu ia escolher esse?

- Você é tão previsível G, te conheço melhor que você mesma.

- Verdade.

Ela passou o braço sobre meus ombros e saímos conversando sobre os filmes, e eu

insistindo que deveríamos assistir bonequinha de luxo.

Chegamos na locadora, depois de tanta discursão ela acabou cedendo. Pegamos

bonequinha de luxo, ai ai meu filme favorito nem preciso falar não é?

- Nossa! Seu quarto está diferente.

- É bom reformar as vezes.

- Claro.

Ela foi ajeitando as coisas pra assistimos o filme e eu fiquei deitada na cama pensando,

e pensando.

- Ei gatinha está pensando no que?

Page 52: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Meus pais se separaram.

-Não brinca! Como assim?

- Eu não sei, voce sabe que quando se trata de assunto familiar eu fico na minha. Mas

apesar de tudo sabe, sinto falta. Papai está em Ouro Preto agora e mamãe viajou. E eu

fiquei aqui largada como sempre.

- G, sinto muito. –Se sentou ao meu lado- Como se sente?

- Não sei A, já imaginava que cedo ou tarde eles iam se separar, fazia muito tempo que

não dava certo. Sinto falta de ter um momento em família sabe? Sinto falta de uma

vida normal.

- Te entendo, me senti assim quando meus pais se separaram.

- Eu lembro. Estamos todos condenados a famílias fracassadas? – sorri

-É. Parece que sim. Então, vamos assistir mesmo esse filme?

- Para, claro que vamos.

- Tudo bem, você quem manda. Senti saudades G.

- Senti muito sua falta A.

E mais uma vez estávamos assistindo bonequinha de luxo, o começo e a clássica cena

da Audrey tomando café da manhã na frente da TIffany’s. Acho que eu amava tanto

esse filme por me sentir um pouco como a Holly as vezes.

A era uma amiga super legal, passamos muitas coisas juntas, a verdade é que eu senti

algo com aquele beijo, tentei fugir daquilo afinal, era errado certo? Não fiquei com

raiva dela em momento algo, fiquei com medo de ter sentido aquilo, alias eu já sentia

há algum tempo, na época eu ignorei, mas naquele momento nós duas vendo o filme

eu tive uma sensação de Dejavú.

A e eu tínhamos muita coisa em comum, curtíamos as mesmas bandas, nirvana, RHCP,

Silverchair entre outras que agitou o rock mundo a fora. Gostavamos dos mesmos

filmes, ok, menos Bonequinha de luxo mas ela sempre fazia um esforço pra assistir, na

verdade eu acho até que ela gostava.

Enquanto assistia o filme, a observava de vez enquando, ela estava simplesmente

linda, seu cabelo tinha uma mexa dourada do raio do sol que entrava pela janela.

Depois de algum tempo ela reparou que eu estava a observando me olhou e sorriu.

- O que foi G? Desistiu de assistir o filme?

- Não, não só me distrai, estava pensando.

Page 53: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Pensando sobre o que? Posso saber?

Nossa, quase esqueci daquele sorriso, tão familiar, me fazia tão bem, me sentia em

casa. Aquele olhar acolhedor. Lar é onde nosso coração está. E naquele momento meu

coração estava ali, e eu estava em casa, sabia que podia falar qualquer coisa.

- Sobre uma garota.

- Sobre uma garota?

- É.

-Que garota posso saber?

- Uma amiga.

- E o que pensava.

- Pensava no quanto eu gostava dela, mais que uma amiga. Pensava no quanto lutava

para não sentir aquilo, ai um dia enquanto assistíamos Bonequinha de Luxo ela me

beijou.

Silencio. Ficamos em silencio absoluto por alguns minutos, apenas nos olhando, o

clima ficou um pouco tenso e eu sinceramente não sabia porque estava falando

aquelas coisas, as palavras apenas me vinham na ponta da língua e eu não conseguia

controlar.

- Quando ela me beijou, senti algo forte, cheguei a corresponder mais ai, fiquei

assusta, com medo e reagi mal. Fiquei com raiva gritei, mais em nenhum momento

fiquei com raiva dela. E eu queria que ela soubesse disso. Que ela não teve culpa de

nada que se o beijo aconteceu foi porque queríamos.

Parei, respirei. Mais que droga G, o que eu estava falando? Agora já era. Era só seguir

em frente.

- Eu passei semanas pensando nessa garota sabe, tentando esquecer, e por algum

tempo eu acho que consegui isso. Mais ai eu senti falta, e quando mais precisei foi ela

que eu quis procurar e não sabia o porque apenas liguei e estou aqui agora, olhando

pra ela e falando tudo isso.

Otimo. Silencio de novo, essa deveria ser a hora que ela falaria algo mais só fazia me

olhar como quem procura algo.

- O que você está querendo dizer G? Porque tudo isso?

- Eu não sei.

Page 54: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Olha G, voce sabe o que sinto por voce, sabe que é mais que amizade. Pra que revirar

isso agora?

- Eu já disse eu não sei, estávamos aqui, assistindo me veio um dejavu, não sei apenas

achei que eu deveria falar.

- Então isso quer dizer...?

- Eu gosto de você A, eu já gostava antes, eu tinha tanto medo do que sentia.

- E..? – ela riu

- Está rindo do que?

- Sua cara de boba ai. Olha só G sendo sincera não só com os outros mais com ela

mesma, gostei de ver.

- Para ok?

- Ok, parei.

Meu Deus, como ela estava linda, como eu sentia falta.

Ficamos nos olhando, uma esperado a outra falar algo, meu coração batia forte, senti

todos os meus sentidos desaparecer. Naquele instante, nada me vinha a cabeça,

nenhum problema. C? Quem era C? Não consegui lembrar naquele instante. Olhar nos

seus olhos era como mergulhar neles, e eu estava bem, eu sabia o que queria, e sabia

o que ela queria, então eu sabia o que fazer.

Naquele momento todos os problemas sumiram. Meus pais, o C. Nem conseguia

lembrar quem era C.

Toquei o seu rosto, olhei bem nos seus olhos. Ela colocou uma mexa de cabelo atrás da

minha orelha, sorriu pra mim, eu sorri e a beijei. Ela me beijou. E não foi qualquer

beijo, foi um beijo bom, e demorado. Um beijo correspondido, um beijo delicado e

com pressa, pressa de que aquele instante fosse único. E naquele momento eu me

senti bem.

O instante depois do beijo foi marcado por total silencio. Eu não tinha o que falar,

absolutamente nada, ficamos nos olhando por um tempo, então sorri.

- Bem vou pegar mais refrigerante pra mim você quer?

- Ok.

Fui na cozinha pegar mais um pouco de coca-cola e aproveitei pra dar uma ligada pro

C, eu precisava realmente falar com ele, ainda mais depois disso.

Page 55: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Mas novamente caiu na caixa postal:

‘Oi aqui é o C, não posso atender no momento então deixe recado que eu retorno ok?’

- C, please! Me liga de voltar, precisamos conversar ok ? Te amo

Ele não podia está fugindo de tudo assim, estavamos juntos nessa. Iamos sair juntos,

ele so precisava entender isso, eu o amo e não abro mão disso. Por hora não sabia o

que fazer com o que tinha acabado de acontecer com A, resolvi voltar pro quarto

fingindo que nada aconteceu.

- Está aqui o refri baby.

- Você demorou. Está tudo bem?

- Estava tentando ligar pra C mas de novo foi pra caixa postal.

- Sei. Você merece mais que isso G, muito mais do que um telefone sempre em caixa

postal. Larga essa vida linda.

- Eu o amo A. Eu não vou a lugar algum sem ele, nunca.

- Então é realmente serio?

- É sim. Ele é minha vida inteira, sem ele eu simplesmente não sou.

- Entendo, então... ?

- Então o que?

- A gente não vai mais rolar, não é.

Otimo. Não sabia bem o que responder, eu queria e ao mesmo tempo não queria. Mas

que porra! O que estava acontecendo comigo?

- Olha...

- G, tudo bem se não rolar mais, não precisa inventar desculpas.

- Eu só quero que saiba que pra mim isso não foi qualquer coisa ok? Eu quis, eu gostei

ok? Mas nesse momento tenho complicação demais na minha vida.

- É não vai rolar.

- Não foi o que eu disse.

- Então...

Eu a beijei. Eu estava com vontade e pronto. E foi ótimo ok? Ela beija muito bem.

Page 56: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Eu preciso pensar, só isso, tudo bem?

- Ok G.

- Eu tenho de ir.

- Já? Seu filme nem acabou ainda?

- Eu só preciso ir, dar uma volta, pensar.

- Tudo bem. Me liga qualquer coisa.

- Ok. Obrigada.

Depois que sai do apartamento de A fui dar uma volta na orla, pensar um pouco nessa

confusão toda. Era coisa demais acontecendo, coisa demais para mim, eu precisava

relaxar, precisava de um bom tapa.

- G?

- Oi D! Desculpa está te ligando você está ocupado?

- Não não imagina linda, voce sumiu. O que tá pegando?

- Você viu o C hoje?

- Não, ele não está com você?

- Não, ele terminou comigo.

- O que está havendo?

- Nada, preciso de um baseado, pode me encontrar em 2h na vila?

- Tudo bem, Tchau.

- Tchau.

Page 57: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

12| Sliver

Duas horas depois eu estava em casa esperando D chegar. Enquanto isso fiquei

olhando fotografias antigas da minha família. Eramos uma família comum de classe

média, aparentemente perfeita. Minha primeira infância foi maravilhosa, marcada de

muito carinho familiar, depois as coisas mudaram, e mudaram muito, ou vai ver

sempre fora daquele jeito mais eu era muito nova pra perceber.

Ainda não falei muito da minha família, mas também não tem muito o que falar.

Quando criança passava muito tempo com babá ou na casa dos meus avôs. O pouco

tempo que eu passava com meus pais eles estavam brigando, com o tempo os via com

uma freqüência cada vez menor.

Agora eles estavam separados. Minha família oficialmente acabada. Eu sempre achei

que nossa família ia mal, mais nunca achei que fosse terminar assim, cada um para um

lado. Minha idéia de família era outra, a mesma de quando tinha meus 3 anos, não que

eu lembre de muita coisa sabe? Mas lembro de coisas importantes como brincadeiras

no parque, na praia e meus pais felizes. A primeira grande brigas dele veio 5 anos

depois.

- SEMPRE NEGOCIOS, VOCÊ NUNCA TEM TEMPO PRA MIM OU PRA SUA FILHA.

- ALGUEM PRECISA COLOCAR DINHEIRO DESSA CASA PRA SUSTENTAR SEUS LUXOS E

DA O MELHOR CONFORTO A NOSSA FILHA.

- NÃO GRITE COMIGO!

Eles brigaram feio naquele dia, quanto mais papai crescia profissionalmente pior as

coisas ficavam em casa, e pra compensar isso me mimaram demais. Demais mesmo.

Sempre que brigavam, eu me escondia dentro do guarda roupa até as gritarias passar.

Depois com o tempo meus pais passaram a me deixar mais na casa dos meus avôs, até

eu me entender por gente.

Eu sentia falta de uma família, na verdade foi disso que eu sempre senti falta. Tentei

suprir essa necessidade com álcool, drogas, festas, mas nada, absolutamente nada foi

suficiente pra preencher o vazio. Até eu encontrar ele.

Meu amor. Agora C era tudo na minha vida, todo o apoio que eu tinha tive agora era

voltado pra ele, apenas ele. Cada pensamento do dia, cada suspiro era por ele, e sem

ele, eu não era. Eu não poderia mais viver, sem o C nada mais fazia sentido na minha

vida, tudo voltava ao começo.

Escutei alguém batendo na porta e fui atender porque deveria ser o D.

Page 58: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Oi G!

- Entra!

Ele entrou, e me seguiu até o quarto.

- O que tá pegando?

- Eu não posso ficar sem ele D não posso.

Comecei a chorar descontroladamente. Era tão fácil desabafar com D.

- Calma G, calma. Chora o que tiver de chorar depois conversamos.

Tinha muita coisa presa dentro de mim, eu precisava desabafar com alguém e D

sempre foi um bom amigo apesar de tudo.

Ele me olhou nos olhos enxugou minhas lagrimas e disse:

- Calma gata, eu to aqui, me conta o que está acontecendo.

- Eu estou com medo. Me sentindo tão só. Meus pais se separaram. O C envolvido com

isso tudo, ai ele termina comigo. Ele não pode me deixar D! Fala com ele. Ele disse que

não me ama mais mas eu sei que ama.

- Esquece o cara G, você vai acabar mal estando com ele.

- O que você sabe D?

- O C é um cara perigoso. Ele se envolveu com gente grande demais. Pula fora

enquanto da tempo garota.

- Eu não entendo, ele não era assim.

- Sempre foi G! O rostinho de anjinho dele te enganou mesmo não é? O C é um

pilantra, traficante dos grandes, não viver muito. Se você quiser viver com ele vai ter

de viver fugindo e um dia vai acabar mal. Você sabe que a maioria de nós não chega

nem aos 21.

- Eu sei. Eu o amo.

- Eu sei, mas esqueça. Você é uma boa garota, tem uma vida toda pela frente G. Viva

apenas viva ok?

- Sinto que você está me escondendo algo.

- Sou seu amigo, não te escondo nada ok? Vou estar sempre por perto quando voce

precisar.

Page 59: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Obrigada.

E o abracei. Ele estava certo. Estava na hora de largar tudo aquilo e começar uma nova

vida, longe de tudo isso, e esquecer o C era a prioridade agora. Eu o amava mais sabia

que isso ia me destruir se continuasse. Todos estavam certo todo o tempo.

- Volte pra sua vida normal. Vestibular vem ai gata.

- É verdade. Você trouxe o que te pedi?

- Não baby. O primeiro passo pra sua nova vida é ficar limpa, longe de tudo isso.

- Obrigada por tudo.

Depois que D foi embora resolvi organizar algumas coisas na minha vida. Primeiro fui

organizar as coisas da escola, fazer outro horário de estudos, eu precisava de dedicar

agora, manter o foco. Depois liguei para minha mãe.

- Filha oi. Algum problema?

- Liguei pra saber quando você volta.

- Segunda-Feira estou chegando.

- Tudo bem. Notícias do papai?

- Não.

- Ok. Tchau mãe.

Eu estava sozinha, como estive minha vida inteira. Esse buraco que nunca fecha, nada

nem ninguém vai curar esse vazio. Agora eu estava mais só do que quando L me

deixou.

- Feliz aniversário little G!

- Não acredito! L! Quando você voltou?

Era meu aniversário de 9 anos, e minha irmã mais velha finalmente voltara do

intercanbio em paris. Desculpe, inda não tinha mecionado ela, é que me traz tantas

lembranças falar. Bem, como L era? Linda, era a mulher que eu queria ser quando

crescesse, na época ela tinha 17 anos, nossa como eu a amava. Ela era minha

referencia.

-Voltei pra te ver querida. Senti saudades da minha irmanzinha.

- Porque demoro tanto pra voltar L?

- Desculpe pequena. Como vão as coisas.

Page 60: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Mamãe e papai ainda brigam. Muito. Isso não vai acabar nunca não é. Quando vai

começar?

- O que G?

- A vida L, a vida, isso não é vida.

- Shiiiuuu pequena, não fale essas coisas.

- Promete nunca ir embora de novo?

- Prometo.

E como todos foi mais uma promessa não cumprida. Eu acreditei nas pessoas a minha

vida inteira, e todas elas apenas mentiram pra mim todo o tempo.

Minha irmã era uma garota intensa. Ela e mamãe brigavam muito por causa do seu

consumo de álcool, depois que cresci soube do seu envolvimento com drogas e tudo o

mais. E a historia se repete. Quem disse que um raio não cai duas vezes no mesmo

lugar?

Eu estava decidida a mudar de vida. Eu precisava tentar, continuar, seguir em frente eu

simplesmente não podia desistir, não depois de ter chegado tão longe. A vida nem

sempre é fácil, mas vale a pena tentar. E agora eu fiz uma escolha.

Page 61: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

13| School Days

Minha vida estava uma completa loucura na escola quanto mais tempo eu passava li

mais eu odiava aquele lugar. Felizmente já estava acabando tudo aquilo. As aulas

estavam cada vez mais cansativas, e eu já estava completamente saturada. Cada aula

(principalmente biologia) era uma eternidade.

Os boatos na escola rolavam solto ainda. Coisa que vinha me deixando irritada com

uma freqüência maior. Já não podia fazer nada, nem ir ao banheiro nem tomar água

que falavam. É eu deveria ter processado. Só pra avisar se um de vocês, seus merdas,

estiverem lendo isso, eu odeio todos vocês, e não possuem mérito nenhum na minha

formação escolar. Só os queridos professores claro.

O dia passava cada vez mais lento. E o intervalo parecia estar menor.

- Cara! 20min de intervalo não dá nem pra lanchar direito.

- É isso é um saco.

- Tambem acho, ando me sentindo uma prisioneira nessa escola.

- Sò você G? Todos nós. Então, estudar lá em casa hoje?

- Errr não vai dar R.

- Porque? Vai fazer o que hoje?

- Minha mãe chega hoje de vigem e eu queria estar em casa. – mentira-

- Tudo bem. Estudamos amanha?

- Claro.

Aula de matemática, química, física, historia. 1, 2,3 horas depois estávamos livres. Pelo

menos naquele dia. Sai da escola e fui correndo me encontrar com A na casa dela. É.

Estavamos juntas. Na noite anterior eu liguei pra ela.

- A. Eu pensei muito.

- E ae?

- Eu quero ficar com você. Eu quero tentar.

- Ótimo! Nossa. Vem aqui em casa amanha depois da aula pra gente conversar melhor.

- Ok. Beijos linda.

Page 62: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Confesso que estava totalmente nervosa. Parei alguns minutos na frente da porta do

apartamento e fiquei pensando de batia a porta ou não. E bati. Ela atendeu sorridente.

Estava linda. Linda mesmo. E me abraçou.

- Que bom que veio G!

- Achei que fosse desistir.

- É eu também. – risos- Então...

- Está com fome?

- Bastante.

- Sabia, não sou lá muito boa na cozinha mais vamos almoçar.

Almoçamos. Enquanto isso conversávamos sobre a escola, lugares, família, o de

sempre. Depois fomos para o quarto dela e ficamos sentadas na cama por um longo

tempo sem falar nada. Ai ela quebrou o silencio.

- Você mudou de idéia?

- Não, é só que..

- É estranho?

- Isso.

- Tudo bem.

Ela colocou a mão sobre minha perna, chegou mais perto de mim e me beijou. Nesse

momento meu coração acelerou e eu deixei me levar pelo momento. Ficamos nos

amassos algum tempo. Até que a coisa começou a esquentar mais e eu me afastei.

- O que foi?

- Nada. Humm porque não vemos um filme?

- Vamos, o que foi? Pode conversar o que quiser comigo. Não precisa ficar assim

estranha.

- É só que tudo isso é novo demais pra mim. Vamos apenas com calma.

- Ok você não quer...

- Não que eu não queira mas, me entende não é?

- Entendo sim, você nunca fez isso com uma garota, entendo, desculpe.

Sorri e a beijei.

Page 63: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Todos os dias depois da aula eu ia encontrar A em sua casa. Estavamos nos dando

super bem e eu estava adorando passar um tempo com ela. Alias, um grande tempo.

Quando não estávamos juntas estávamos no telefone.

- Nossa G como queria beijar sua boca agora. – sorriu-

- E eu a sua baby, mas tenho de estudar, tenho simulado amanha. Preciso me dar bem.

- Podemos nos ver amanha amor?

- Sou toda sua depois do simulado. O que faremos?

- Pensei em pegarmos um cinema, ficamos tempo demais na minha casa.

- Esta bem linda.

Minha mãe entrou no meu quarto.

- Eu preciso desligar tchau. Oi mãe.

- Com quem estava falando? Algum namorado?

- Não não, estava falando com A.

- Você passa tempo demais conversando com essa garota e ainda vive na casa dela.

- É. Ela me ajuda com algumas matérias sabe.

- Entendo. Não vá dormir tarde.

- Tudo bem.

Depois que minha mãe saiu do quarto passei um SMS pra A.

‘ Desculpa, minha mãe entrou no quarto e tive de desligar’

Ela respondeu logo.

‘ Quando vai contar a ela?’

‘O que?’

‘Sobre nós.’

‘Não sei, preciso de tempo, vou dormir boa noite.’

‘Boa noite’

A verdade era que eu não pretendia contar coisa alguma a minha mãe. Imagina. Ela iria

surtar, e iria querer acabar com isso, não não, bom demais assim.

Page 64: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

No dia seguinte lá estava eu. Sabado de manhã na escola para um simulado mega

chato como todos os outros. Entrei na sala, estávamos todos com cara de sono, alguns

de ressaca outros ainda bêbados.

Fui a ultima a sair da sala, simulado chato, mas fácil. Tirando química e biologia, acho

que tinha me dado bem. Quando sai da sala para a minha surpresa, A estava no pátio

me esperando.

- Surpresa!

- O que faz aqui?

- Vim te ver baby. – E veio me beijar, e eu me afastei. – O que foi?

- Aqui não, tem muita gente.

- Há! Me desculpe, não sabia que era segredo. – E se virou com raiva.

- Para A, é so que eu mesma preciso de um tempo pra entender.

- Entender o que? Voce gosta de mim e eu gosto de voce qual é o problema?

- Eu prefiro que no momento as coisas fiquem entre nós.

- Tudo bem como ainda não existe um ‘nós’ me procure quando existir. – Se virou e

saiu pra fora da escola com raiva.

Fui atrás dela logo em seguida e segurei sua mão.

- Espera A, vamos conversar em outro lugar, por favor. Me escuta.

- Tudo bem.

Pegamos um taxi e fomos caladas o caminho todo até o shopping. Chegamos no

shopping e fomos para a praça de alimentação.

- Pronto, fale.

- Eu quero ficar com você A. Mas vamos com calma.

- Ok.

- Não fica chateada, preciso acostumar as pessoas aos poucos.

- Tudo bem G, não estou chateada com isso, eu entendo é só que você deveria ter me

falado isso antes. Droga.

- Desculpe.

- Tá legal.

Page 65: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Não lembro qual foi o filme que assistimos. Sentamos atrás e ficamos nos pegando a

sessão toda. Eu realmente gostava de estar com ela. Sempre que ficávamos a coisa

esquentava um pouco e eu me afastei ofegante.

- Bem. É melhor pararmos aqui.

- Qual é G, nignuem vai nos ver, não tem quase ninguém nessa sala. – Ela me puxou

mais pra perto de me beijou, um beijo muito ardente se quer saber. Ela falou no meu

ouvido.- Porque não experimentar algo novo?

E assim avançamos um pequeno passo. Os amassos ficaram mais intensos. Sua mão

deslisou tentando desabotoar meu jeans. E o filme acabou. Eu me afastei e ficamos

rindo.

- Ha! Mais que droga. – ela riu e me beijou. - Vamos lá pra casa?

- Eu tenho de ir pra casa da verdade.

- Não está fugindo está G?

- Claro que não. Eu queria muito muito ir pra sua casa e tudo o mais, mas eu tenho

muita coisa pra fazer ainda hoje tá?

- Tudo bem. Vou nessa.

- Espera.

Dei um beijo nela.

- Agora pode ir.

Ela se virou rindo e foi embora. Na mesma hora peguei o telefone e liguei pro I.

- Não acredito. Você me ligando?

- Passa lá em casa hoje?

- Demorou. E sua mãe?

- Não vai estar em casa.

- Tudo bem, até mais tarde.

- Beijos.

Eu não sabia bem porque tinha ligado. Corri pra casa para esperar o I.

Page 66: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

13| Lithium

Eu sou depressiva. Depressivos não são felizes porque se fossem felizes não teriam

mais motivos para serem tristes, o que é deprimente. Depressivo gosta de ser assim.

Temos essa mania de auto-destruição. Quando tudo vai bem, ficamos mal por

estarmos bem porque de algum modo achamos que não merecemos essa felicidade.

Se ser feliz significa não ser mais depressivos, isso é um grande problema. E eu estava

feliz com A e isso estava me assustando, me apavorando.

Medo. A verdade é que depressivos teem medo de serem felizes porque quando se

está feliz, e ai vem a queda, de muito alto, dói machuca. Quando você já vive no seu

drama não, uma dor a mais uma a menos não é novidade, é isso que nos tornam vivos.

Ser feliz é deixar de viver. Assim como C e eu. A felicidade nos era tediante. Somos

exatamente iguais, todo o tempo em busca da auto-destruição porque é disso que

nossa vida é feita e sendo assim nunca daremos certo com ninguém se não for um com

o outro.

Não sei se você me entende, mais é assim que a coisa funciona. Eu estou feliz e isso

está me deixando mal. Talvez por isso eu tenha ligado pro I, porque de certo modo eu

sabia que aconteceria algo que me deixaria mal, e foi isso que aconteceu.

Depois de ligar pro I fiquei esperando e pensando porque eu realmente tinha ligado.

Quando ele chegou ficamos conversando na sala. Contei pra ele tudo. Sobre o C, a

ameaça que recebi por causa dele, falei sobre o modo como ele terminou comigo e

depois sumiu e eu não sabia mais nada dele, e finalmente falei que estava namorando

uma garota.

- Então é isso. O cara te dá um fora e você vira gay?

- Para I.

- Desculpe é só que. G namorando uma garota? Quem diria. Você está feliz.

- Eu não sei.

- Que tal ficarmos felizes como nos velhos tempos?

- O que tem ai na mochila.

- Hummmm – fez cara de quem não ia falar. – É melhor não.

- Vamos I, me mostre.

- Tem uma vodka, e um pouco de pó e uns baseados.

Page 67: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

-Perfeito. Vou pegar copo e gelo.

Fui na cozinha peguei copo e gelo. Liguei o som alto. Ficamos bebendo a vodka,

cheirando pó e dançando feito dois velhos amigos pirando em um dia qualquer. Peguei

a garrafa de vodka e virei uma boa parte.

-CARALHOOOOOOOOOO GGGGG VOCÊ É LOUCAAAA.

- VOCÊ SEMPRE SOUBE DISSO.

Ficamos rindo alto pulando feito dos loucos, ai eu tropecei e caímos no chão. Ele ficou

me olhando um tempo.

- Você está mais linda do que quando namorávamos.

- Ai para. Obrigada.

- Agora olhando pra você eu não consigo me lembrar porque te deixei partir.

- Eu terminei com voce lembra?

- É verdade. Eu queria te dar um beijo agora.

E eu quis que ele me beija-se, não sei se foi a vodka, o pó junto com o calor do

momento mas eu o beijei. Ele me pegou pelos braços me jogou no sofá e ficamos nos

amassos. Enquanto ele beijava meu pescoço eu arrancava a blusa dele.

- Eu quero ser sua I, agora. – E o beijei.

- E eu sempre vou ser seu.

Nem preciso falar mais nada. Transamos. E sexo casual é o tipo de coisa que me faz

ficar mal demais. Eu não senti absolutamente nada enquanto o I me tocava. No calor

do momento é muito bom, o ruim é quando acaba. Ai sim é muito ruim. Quando fico

só, fico arrependida, e tudo o que quero é sumir.

Tenho depressão pós-sexo. É sempre assim. As vezes fico tão mal que quero morrer.

Eu não deveria fica assim certo? É algo bom e natural. Mas eu não consegui ficar bem

depois disso. Não sei se fiquei mal por amar o C ou por estar traindo A.

O ponto chave de um depressivo é se machucar e ainda fazer com que quem voce

gosta se machuque e te machuque. Depois de pensar um pouco liguei pra A.

- G! Oi. Não esperava uma ligação sua.

- Oi amor. Eu liguei pra, sei lá, conversar.

- Já terminou as coisas que tinha pra fazer? Eu poderia ir ai e podíamos fazer algo

juntas.

Page 68: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Olha. Preciso te contar uma coisa.

- Vai terminar comigo não é?

- Fiquei com meu ex.

- Hoje?

- Sim.

- Depois de termos saído juntas? Era isso que tinha pra fazer? Vocês transaram?

- Eu..

- Não fala. Eu sei. É típico de voce magoar as pessoas, eu já deveria esperar. Espero

que tenha valido a pena.

- Não! A! Me escuta por favor.

- Escutar o que G? Não tem mais nada pra falar.

- Por favor me desculpa. Me desculpa. Vamos conversar.

- Acho que não tem mais nada pra conversar.

- Não! Por favor! Vem aqui em casa vamos conversar.

- Tudo bem. Eu vou. Sua mãe está em casa?

- Não. Ela nunca está.

- Ok. Chegarei logo.

Acho que essa mania de auto destruição é uma característica hereditária. Minha irmã

era assim. Sempre fazia algo pra estragar com tudo. Ela fazia isso constantemente na

nossa relação.

- Você prometeu me ajudar com a lição de casa.

- É o que pirralha? Se liga.

- Você bebeu?

- Escuta aqui vá tomar conta da sua vida e se falar algo pra mamãe você vai ver.

Nesses momentos eu a odiava com a mesma intensidade com que a amava quando ela

era um doce de pessoa. Eu acho que nunca vou entender porque ela se sentiu daquele

jeito, nunca vou entender porque ela fez aquilo. Embora eu tenha seguido seus passos,

eu não tenho certeza se o que sinto hoje foi o mesmo que ela sentiu. Se foi o mesmo.

Não justifica ela ter acabado mal.

Page 69: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

Amor e ódio. Essa era minha relação com L. Ela era a pessoa que eu mais admirava. Ela

era linda e não tinha medo de absolutamente nada na vida, e tinha muita sede de

viver. Se antes eu a admirava e amava. Agora que ela me largo eu a odeio, e nunca vou

conseguir entender a razão por ela ter reagido desse jeito.

Ela foi embora e me deixou só com a confusão toda da nossa família, eu era só uma

criança, uma criança completamente sem chão. Só e perdida. Foi duro assumir o papel

dela e segurar a barra de tudo aquilo.

Agora eu estava colocando minha relação com A a perder. Tão típico de mim. Estragar

tudo, isso eu fazia muito bem.

I’m so happy ‘cause today I’ve found my friends (...) And I’m not sad and just maybe I’m

to blame for all I’ve heard (…)

Eu tinha tudo pra ser uma pessoa feliz. Absolutamente tudo. E nunca entendi porque

não consigo ser. As vezes me pergunto de onde vem essa angustia toda, essa dor. Eu já

me sentia assim muito antes de tudo, eu já nasci assim. Já nasci essa contradição. As

vezes feliz, as vezes triste, as vezes colorida, as vezes em preto e branco. Nunca tive

um humor constante, ele sempre foi assim oscilante. Depois do que rolou com a

minha irmã começou a vir a tona esse humor, depois a confusão com meus pais, só

piorou as coisas.

- Oi A, obrigada por vir. – Finalmente ela chegou.

- Vai, sem cerimônias, fala logo.

- Eu não quero que a gente termine.

- Terminar o que G? Como vai terminar algo que nunca começou?

- Hã?

- Qual é não podemos estar juntas é sempre tudo em segredo.

- Desculpa.

- Eu não te entendo. Não estou com raiva pelo que você fez eu só não entendo porque

você faz isso com você mesma.

- Eu também não entendo A. – Eu a abracei.

- Relaxa. Entre a gente tá tudo bem tá. Não faz mais isso ok?

- Tudo bem. – a beijei.

- Cadê sua mãe?

Page 70: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Não faço a mínima idéia.

- Entendo.

- Eu to com sede, vou pegar um pouco de vodka quer?

- Deixa de ser alcoólatra G! – ficou rindo, e como tinha um sorriso lindo. – mas eu

aceito baby.

- Eu sabia. Você é linda.

- Obrigada. Você que é.

Ela ficou me olhando meio estranha, ficou encostada na parede enquanto eu colocava

a vodka.

- O que você tem?

- Como assim?

- Sei lá, você ficou estranha, me olhando desse jeito.

- Que jeito?

- Você tem algo para falar? Cê tá estranha.

- Na verdade é que eu estava pensando sobre, mais cedo sabe... No cinema... A gente e

tals.

- Há! Sim... Que tal vermos um filme?

- Você não vai querer conversar sobre isso não é? Vai preferir fazer de conta que não

teve nada demais?

- Não A, é só que, você me deixou um pouco sem graça.

- E então...

- Olha A, tudo isso é novo pra mim sabe? Eu não sei se...

- Se é hora de avançarmos? Entendo G relaxa. – Ela me pegou pela minha mão – Vem,

vamos pro seu quarto, acho que você está precisando descansar.

- É, estou mesmo.

Ficamos deitadas juntas, abraçadas conversando besteiras, falando coisas gracinhas,

enquanto rolava bonequinha de luxo no DVD (so pra variar), até que adormecemos.

Page 71: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

14| Suicidal Dreams

No meu mundo, as drogas dominam a todos. Não adianta correr cedo ou tarde ela vai

fazer parte da sua vida. Aonde quer que você vá.

Setembro passou rápido demais. Aliás o tempo passava rápido quando eu estava com

A, passávamos tempo demais juntas, namorando, estudando, vendo filmes e jogando

conversa fora. Estavamos indo muito bem obrigada.

Na escola a coisa já não era tão tranqüila assim. Estavamos há um mês do vestibular e

eu não conseguia mais me concentrar nos estudos, ou seja, todos nós a essa altura do

campeonato já estávamos cansados demais era hora de descansar pra não saturar a

mente. Pelo menos essa era a minha desculpa. Nem assistir aulas mais em conseguia.

No meio da aula de química pedi pra ficar um pouco do lado de fora porque estava

com dor de cabeça. Fui até a secretaria peguei um remédio e fiquei deitada no pátio

esperando passar a dor para voltar para a aula.

- Porque não está na sala?

- Estou com dor de cabeça, o professor deixou eu ficar descansando aqui fora.

- Porque não descansa na sala?

- Porque é justamente a minha alergia ao ar condicionado que está me deixando com

dor de cabeça baby.

- Se você não for pra sala vou ter de te levar para a coordenação.

- Não precisa me levar. Eu sei o caminho muito bem já. Graças a Deus esse inferno está

acabando e eu vou me livrar de todos vocês.

Fui andando com raiva pra cordenação, o remédio não ia mais fazer efeito de maneira

alguma, eu estav extremamente irritada, e queria ser provocada só pra ter um motivo

pra arrumar confusão.

- O que faz aqui de novo?

-É proibido ter alergias e dores de cabeça nessa escola. Assim como é proibido ir

tomar água, ir ao banheiro, da ‘oi’ para minhas amigas. Sabe é proibido ser normal

nessa escola então. Aqui estou.

- Porque não está na aula?

Page 72: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Dor de cabeça. Tomei remédio e estava deitada na minha esperando passar para

voltar para a aula. E como sempre me mandaram pra cá.

- Você está sempre matando aula?

- Como é a história? Tem amigas minhas que passam o dia todo fora da sala e nunca as

vi sendo mandadas para cá. Qual é o problema de vocês? Preconceito racial? Já que ela

é mais branca que eu. Ou seria por causa do boato que sou gay? Isso é homofobia.

Qual é a de vocês hein? Isso é uma escola ou um quartel.

Na hora o meu telefone tocou avisando que tinha uma mensagem:

‘G, me liga quando puder. É urgente. É sobre a M. Beijos, seu amor, I.’

- Tenho de ir.

- Aonde pensa que vai?

- Já não foi o bastante minha presença aqui? Tenho coisas melhores para fazer.

Sai da coordenação e fui em direção ao banheiro já discando o numero do I.

- Oi I, o que tá pegando? O que ela aprontou dessa vez?

- G, eu não sei nem como falar...

- Para de enrolar. O que eu tenho de resolver dela agora?

- Ela teve uma overdose de heroína.

- Como assim? Ela está bem?

- G...

- ELA ESTÁ BEM I????????

- Ela não agüentou, o coração parou.... Sinto muito.

- Eu preciso desligar, tenho aula.

- Você está bem?

- Nos falamos mais tarde I.

Desliguei o telefone e fiquei sentada no chão do banheiro tentando processar o que I

havia dito. Até que a ficha caiu e eu comecei a chorar.

M era mais uma de nós que ia embora vitima de heroína, vitima do abandono familiar,

vitima desse mundo medíocre onde so pensam em dinheiro e esquecem que somos

apenas humanos e precisamos de um pouco de atenção e apoio. Agora M não estava

Page 73: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

mais aqui. E eu sentia uma angustia muito grande, um medo. Há alguns meses

estávamos saindo juntas, rindo nos divertindo e agora ela simplesmente não estava

mais em lugar algum.

É verdade que eu a odiava algumas vezes, mas ela era minha amiga, uma das

melhores, ela esteve sempre presente quando meu mundo começava a desabar.

Não a julguem, e nem estou dizendo que a vida que ela seguiu, da qual eu também

faço parte, foi uma coisa correta a se fazer, e também não foi a única opção. Mas para

pessoas fracas e vulneráveis é a saída mais fácil. Assim como eu, M tinha muitos

problemas na família e pra compesar isso eles davam tudo o que ela queria, até que o

mundo dela desmoronou de vez e seus pais se separaram e ela foi morar com a avó,

que não aceitava dinheiro para os luxos dela. Para manter sua vida ela passou a trocar

sexo por dinheiro e foi se afundando cada vez mais.

Não a julguem. É angustiante uma vida assim, e eu a entendo, afinal já tentara me

matar antes. Eu sei como ela se sentia todos os dias. A vida não faz sentido quando

você não se sente vivo. E as drogas de alguma maneira nos fazia sentir melhor, e cada

vez mais a necessidade de usa-la é maior, é um suicídio a longo prazo.

Eu costumava planejar minha morte, assim como a M e tantos outros. Ela vivia dizendo

que nunca ia chegar aos 18, mas que se chegasse iria largar essa vida toda.

Infelizmente a vida tomou esse rumo. Ela era uma boa garota, so precisava que

tivessem dito isso a ela para que ela pudesse acreditar, se convencer disso.

- Eu não agüento mais G. Essa vida. Quando que a verdadeira vida vai começar?

- Hey, relaxa.

- Você acha que temos algum futuro?

- Claro M! Claro que temos. Um dia vamos largar tudo isso, vamos encontrar um cara

legal na faculdade, namorar, casar ter filhos e seremos felizes.

- Você realmente acredita nisso?

- Não. Mas podemos sonhar não podemos?

Ela era uma garota magnífica e inteligente. Gostava de ler, ir ao cinema, assim como

eu ela também tinha uma vida normal, porque tudo o que ela queria era ser normal. E

eu nem pude dizer adeus.

Descanse em paz little M, vou lembrar sempre de você.

- Oi filha, o que esta fazendo só ai no quarto?

- Mãe.

Page 74: sem titulo no momento - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2927911.pdf · com todos aqueles babacas, estudo, tenho de estudar né? Ano de vestibular

- Eu soube da M, eu sinto tanto filha.

Sentir o abraço da minha mãe naquele momento foi confortante demais. Fiquei

chorando deitada em seu colo por algum tempo. Ela me disse que ia ficar tudo bem,

que as coisas acontecem quando tem de acontecer.

- Será que a M vai pra onde ela foi mãe?

- Eu sei o quanto isso é difícil pra você, e como te faz lembrar do que aconteceu. Ela vai

ficar bem sim.

Adormeci no colo da minha mãe. Como colo de mãe é confortante.

Naquela noite sonhei que estava em uma praia, e encontrava a M, e no sonho ela me

dizia que tudo ia ser diferente, que eu teria uma vida ótima.

- Como posso acreditar M.

- Hey lembra? Voce vai conhecer um cara legal casar ter filhos e ser muito feliz.

- Esse era o seu plano também.

- Não se preocupe comigo G. Agora outros planos virão.

- Eu vou sentir saudades.

-Eu também G. Sinto muito por te deixar.

- Tambem sinto.

E ela me abraçou. E eu estava feliz. Sonhei que estava feliz. E isso foi bom. E assim eu

me despedi da minha amiga, mesmo em sonhos. Ela iria ficar bem. Todos nós iríamos

ficar muito bem algum dia.