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Por Colin M. Fisher e Teresa M. Amabile Criatividade, improvisação e as organizações Por que ler: Entender como funciona o modelo de criatividade por meio da improvisação. Neste artigo: • As quatro etapas básicas do processo criativo tradicional. • A improvisação como potencial para gerar o novo. • Os elementos essenciais para estimular a criatividade improvisacional no trabalho. Criatividade * * Este artigo foi traduzido e reproduzido pelo LAB SSJ com a permissão da Rotman magazine.

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Por que ler: Entender como funciona o modelo de criatividade por meio da improvisação.

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Page 1: Seleção LAB SSJ - Criatividade, improvisação e as organizações

Por Colin M. Fisher e Teresa M. Amabile

Criatividade, improvisação e as organizações

Por que ler:Entender como funciona o modelo de criatividade por meio da improvisação.

Neste artigo:• As quatro etapas básicas do processo criativo tradicional.• A improvisação como potencial para gerar o novo.• Os elementos essenciais para estimular a criatividade improvisacional no trabalho.

Criatividade

*

* Este artigo foi traduzido e reproduzido pelo LAB SSJ com a permissão da Rotman magazine.

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As pesquisas sobre criatividade tiveram início no campo psicológico com a visão tradicional do processo criativo decorrente de The Art of Thought, obra seminal de Graham Wallas. Nesse trabalho, ele propôs quatro fases distintas para a criatividade:

1. Preparação, na qual o problema a ser resolvido é detectado e os dados relevantes são identificados;

2. Incubação, em que o problema é “deixado de lado” por um tempo, enquanto o inconsciente trabalha com ele;

3. Iluminação, em que a ideia ou solução aparece subitamente;

4. Verificação, em que a ideia ou solução é testada por meio do uso de critérios de aceitabilidade.

Teorias posteriores apresentaram variações sobre essas ideias. Em algumas delas, a incubação desempenha um papel proeminente; em outras, ela é combinada com a iluminação na etapa de criação de uma nova ideia. Geralmente, no entanto, as teorias que abordam o processo criativo incluem etapas distintas em sequência, passando-se da compreensão do problema para o desenvolvimento de soluções criativas, e daí para a seleção entre as diferentes soluções. Nós nos referimos a esta abordagem padrão como “criatividade de composição”, que parece dar conta de vários casos de criatividade nas organizações, tais como a criação de novos produtos por meio de processos stage-gate1 cuidadosamente planejados e rigorosamente executados.

No entanto, existe outra forma de processo criativo, em que há pouca evidência de fases distintas ao longo do tempo. Nós nos referimos a ela como “criatividade de improvisação”.

CRIATIVIDADE IMPROVISACIONALA improvisação condensa muitas das fases do modelo tradicional. Para improvisar, os atores devem identificar novos desafios e gerar respostas simultaneamente, com pouco ou nenhum tempo para se preparar. Na verdade, o processo de improvisação ocorre em uma única etapa: a resposta é gerada e executada conforme a tarefa é apresentada. A preparação deve acontecer antes, fora do quadro de ação.

Embora seja evidente que existem diferenças significativas entre os processos de composição e improvisação, é preciso delimitar claramente os dois processos para iluminar essas diferenças.

Na literatura sobre a criatividade musical há uma distinção consolidada entre compor e improvisar música. O saxofonista Steve Lacy explica sucintamente a diferença entre improvisação e composição:

“A diferença entre composição e improvisação é que na composição você tem todo o tempo que quiser para decidir o que dizer em 15 segundos, enquanto na improvisação você tem 15 segundos.” Como ele observa, a principal diferença entre os dois é o tempo disponível para a geração de resposta e a simultaneidade entre a geração da resposta e sua execução na improvisação. Recentemente, teóricos organizacionais começaram a considerar o papel da improvisação dentro das organizações, buscando inspiração conceitual na improvisação que acontece em artes performáticas como o jazz. Contudo, poucos têm estabelecido ligações explícitas entre isso e a literatura mais tradicional sobre criatividade organizacional.

O QUE É IMPROVISAÇÃO? A improvisação foi definida como “o ponto em que a composição e a execução

de uma ação convergem no tempo”; “o processo criativo e espontâneo de tentar alcançar um objetivo de uma nova forma” e “a concepção da ação à medida que ela se desenrola, por uma organização e/ou seus membros, com base na disponibilidade de recursos cognitivos, afetivos e sociais.”

Em cada definição, vemos o papel central de dois conceitos: novidade e tempo. A improvisação deve envolver a novidade e divergir, de alguma forma, dos planos ou projetos anteriores. Na verdade, a “concepção da ação conforme ela se desenrola” só pode ser reivindicada se a execução da resposta de alguma forma diverge dos planos e hábitos anteriores; se alguém está agindo de acordo com um plano ou hábito, então a ação foi concebida antes de seu desenvolvimento e o processo não é de improvisação.A improvisação é “criativa” no sentido de ser um processo que procura gerar novidade, mas que pode dar certo ou falhar. Igualmente fundamental para as definições de improvisação é o papel do tempo - todas essas definições propõem que a concepção do que fazer (geração de resposta) e o ato de fazê-lo (a execução de resposta) devem ser simultâneos ou convergentes no tempo.

Se classificarmos as ações organizacionais nessas duas dimensões, podemos resumir a ação organizacional utilizando as quatro categorias representadas na Figura I.As ações mais inovadoras aparecem nos dois quadrantes superiores e recebem frequentemente a denominação de “processos criativos”. De fato, tanto a improvisação como a composição podem gerar novos produtos ou resultados; o que as diferencia é o tempo entre o momento em que a ação é concebida e o momento em que a ação é executada.

Figura I - ÁREAS DE AÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA NAS ORGANIZAÇÕES

Novidade(Divergência em relação a planos ou ações anteriores)

Separação Temporal entre Geraçãode Resposta e Execução de Resposta

Baixa

Bai

xaAl

ta

Alta

I. Improvisação

III. ExecuçãoAlgorítmica

II. Composição

IV. PlanejamentoAlgorítmico

1 Stage-gate é um sistema gerencial em que o processo é dividido em estágios (stages) que culminam em um momento de avaliação (gates) para tomada de decisões e execução do estágio seguinte.

CONFORME OSÉCULO 21 AVANÇA,os criadores solitários de novas ideias tornam-se cada vez mais raros, à medida que em boa parte do mundo as equipes e grupos mais amplos se tornam o principal meio dentro das organizações para se chegar ao progresso. Convenientemente, estudiosos de gestão têm voltado sua atenção para a criatividade organizacional nos últimos anos.

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Na composição, há uma clara separação temporal entre o momento em que uma resposta é gerada e aquele em que ela é executada. Na improvisação, essa separação é mínima - as respostas são geradas e executadas simultaneamente.

Por exemplo: na composição musical, os compositores muitas vezes definem todos os detalhes de uma sinfonia - não só as notas e ritmos, mas a dinâmica (volume), o tempo, e muitas outras considerações expressivas - muito antes que uma orquestra sinfônica execute qualquer um deles. Em contraste, um músico de jazz escolhe notas, ritmos, dinâmica e todas as considerações expressivas ao mesmo tempo em que a música está sendo executada.

Os dois quadrantes inferiores representam as ações cuja novidade é menor. Quando alguém é forçado a agir no momento, com pouco tempo para o planejamento, mas responde de forma planejada ou habitual, temos o quadrante III - execução algorítmica. O termo “algorítmico” tem sido utilizado para descrever as instruções que especificam cada etapa de uma ação e que são aprendidas de cor. Da mesma forma, as ações de baixo nível de novidade que são configuradas no impulso do momento devem contar com elementos que são comumente usados ou que foram memorizados previamente.

Em contraste com a improvisação, a execução algorítmica é ou a execução de um plano composto, como um computador rodando um código, ou de uma resposta habitual. Por exemplo, os operadores de uma usina nuclear seguem procedimentos escritos detalhadamente em quase todos os aspectos do seu trabalho, especificando quais botões apertar, onde cada botão está localizado, como avaliar se apertar o botão gerou o resultado desejado, o que fazer se apertar o botão não trouxe o resultado esperado, e assim por diante. Respostas habituais, que devem competir com as respostas novas, também são exemplos de execução de algoritmos.

Quando a novidade é baixa e a separação temporal é alta, temos o planejamento algorítmico (quadrante IV). Planejar de maneira algorítmica é como criar a lista de procedimentos que os operadores das centrais nucleares devem seguir - os procedimentos a serem anotados são conhecidos (e muitas vezes regulados por lei), e o trabalho nesse caso é o de gravá-los com a maior precisão possível para que outros possam executar essas

instruções. A única preocupação é a de expressar o plano para que ele seja executado sem erros ou violações.

É claro que esses quatro tipos de ação raramente ocorrem em suas formas puras. Na prática, a improvisação geralmente envolve a execução de peças cujo material foi composto anteriormente, e muitas composições surgem parcialmente por meio de momentos de improvisação.Além disso, tanto a improvisação quanto a composição frequentemente dependem de um “vocabulário” de pequenos pedaços pré-existentes de ação - chamados de “ready-mades” no teatro de improviso ou “licks” no jazz - que introduzem muitos elementos que não são, em si mesmos, novos. No entanto, apesar destas zonas cinzentas, pensar sobre improvisação e composição como processos relativamente distintos tem implicações interessantes para a pesquisa sobre a criatividade.

Se situarmos a improvisação nas etapas descritas pela teoria componencial da criatividade, nós descobrimos que a improvisação é caracterizada pela forma como combina alguns aspectos do processo de composição. A improvisação descreve ações em que há uma alta divergência em relação a ações ou planos anteriores, combinada com uma baixa separação temporal entre a identificação do problema, a geração de ideias e sua execução. Assim, definimos a improvisação como “ações com um alto índice de novidade (divergência em relação a ações anteriores) e baixo índice de separação temporal entre concepção e execução”. As ações improvisacionais são dispostas em um continuum, dependendo do grau de novidade e do grau de separação temporal. Quando tais ações ocorrem em um contexto organizacional, são consideradas exemplos de improvisação organizacional. SÍNTESE E PROPOSTA DE MODELOA relação entre a improvisação e a criatividade não fica clara na literatura existente. Alguns teorizam que esses dois conceitos se sobrepõem mas são distintos, porque muitos produtos criativos não são improvisados; outros argumentam que a improvisação é um processo criativo que pretende gerar produtos criativos mas pode ou não ter êxito na geração de um resultado inovador e adequado. Propomos que a improvisação é um processo pelo qual os produtos criativos ou ações podem ser gerados, mas que nem toda improvisação resulta em criatividade verdadeira (ou seja, em “novidade adequada”).

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Nós acreditamos que a criatividade de improvisação pode ser provocada por três situações principais: 1. Emergência de CrisesNo incêndio de Mann Gulch2, de 1949, alguns bombeiros foram capazes de ir além do que aprenderam em seu treinamento. Eles sobreviveram deitando-se nas cinzas de um pequeno fogo que eles próprios criaram conforme o incêndio maior passava ao redor deles. Crises graves acontecem subitamente nas empresas também. Em 1982, três pessoas morreram depois de tomar o medicamento sem prescrição Tylenol, que continha vestígios de veneno. James Burke, CEO da Johnson & Johnson, que fabricava e vendia o Tylenol, teve que reagir rápida e decisivamente, contando apenas com um conhecimento incompleto sobre a origem do veneno (possivelmente introduzido durante o processo de fabricação) e com conselhos consideravelmente conflitantes. A decisão de Burke, que teve de ser tomada em um curto espaço de tempo sob os olhos do país inteiro, foi a de recolher todos os produtos Tylenol em todas as lojas imediatamente. Naquele momento, muitos analistas previram que esta decisão significaria o desaparecimento do produto. No entanto, hoje acredita-se que a decisão de Burke e as subsequentes ações imediatas (após a descoberta de que os produtos haviam sido adulteradas nas lojas por um cidadão individual) repuseram a confiança do público na marca e salvaram a empresa. 2. Oportunidades InesperadasEm 1970, o engenheiro, Ph.D. e empresárioGeorge Hatsopoulos estava tentando iniciar um negócio de fabricação de instrumentos em sua jovem e relativamente bem-sucedida empresa. Ele tinha algumas ideias de instrumentos de medição industrial que ele poderia projetar, mas nenhum desses instrumentos em mãos. Em um almoço de negócios, um executivo da Ford Motor Company reclamou que o Congresso norte-americano acabara de passar o Ato do Ar Puro, que exigia que todos os veículos novos monitorassem e controlassem os óxidos de nitrogênio com uma precisão de 1 ppm, mas naquela época não existiam instrumentos disponíveis para realizar essa tarefa. Imediatamente, Hatsopoulos prometeu que se a Ford fizesse uma encomenda com ele, ele entregaria em três meses um instrumentoque cumpriria esses requisitos.

Hatsopoulos não tinha nenhum produto (nem mesmo um protótipo), mas, após essa reunião fatídica no almoço, ele recebeu pedidos não apenas da Ford,

mas da Toyota e da Mercedes também. Ele descobriu que o preço não era um problema para eles, porque todos sabiam que o seu instrumento era o único que estaria disponível a tempo. A resposta improvisada de Hatsopoulos a essa oportunidade inesperada foi o início de uma grande história de sucesso empresarial: desse momento em diante, a Thermo Electron Corporation foi uma potência industrial por várias décadas. 3. Criatividade ComposicionalA criatividade improvisacional pode ser inserida dentro de um processo maior de criatividade composicional. Alguns estudiosos descobriram que a improvisação ajudou a acelerar os processos de inovação no desenvolvimento de produtos de informática. Na renomada empresa de design IDEO, pesquisadores descreveram a importância central de práticas de brainstorming altamente improvisacionais, com restrição de tempo, ao longo de todo o processo de concepção de novos produtos – um processo que pode levar várias semanas ou meses.

A Figura I especifica os elementos que são necessários para a improvisação: alto nível de novidade (divergência em relação a ações anteriores) e pouca separação temporal entre concepção e execução. Mas a improvisação requer um elemento adicional para alcançar o status de criatividade: a ação não deve só ser espontânea e inovadora, ela também precisa ser adequada, a fim de encaixar-se na definição de criatividade.

Uma diferença fundamental entre os dois tipos de criatividade está no fato de que, na improvisação, processo e produto não podem ser separados. Está nos concorrentes, antes de começar a gerar respostas. Na criatividade de composição, o processo de composição resulta em algum tipo de produto, serviço ou design, e este produto resultante é então avaliado em relação à criatividade. Por exemplo, uma pintura de Picasso pendurada na parede de uma galeria é criativa à medida que seus visitadores a consideram inovadora e adequada - expressiva ou esteticamente atraentes -, independentemente do processo por trás disso. Em contraste, na improvisação, a unidade de avaliação é o próprio ato de criação: a improvisação é tanto o processo de ação quanto o produto que é julgado como criativo ou não criativo.

Por exemplo, quando nós chamamos o comportamento Hatsopoulos naquele fatídico almoço de “criativo”, estamos caracterizando o que ele fez tanto como

2 Nesse incêndio, que atingiu a área da Floresta Nacional Helena, 13 bombeiros morreram tentando controlar as chamas.

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inovador (porque sua reação estava longe de ser a resposta típica ou esperada) quanto como adequada (porque ele respondeu perfeitamente às exigências da situação em que se viu). Como as suas ações improvisadas responderam adequadamente às demandas da situação, elas podem ser consideradas criativas. Assim, propomos que toda a criatividade de improvisação inclui um elemento-chave que não foi especificado pelos teóricos da improvisação: a capacidade de resposta a estímulos temporalmente próximos.

Estímulos temporalmente próximos consistem em quaisquer fatores situacionais relevantes que sejam observáveis no momento da ação ou imediatamente antes disso. Em uma banda de jazz, esses estímulos são geralmente o que outros membros do grupo estão tocando e o que o próprio indivíduo acabou de tocar. Bandas de jazz são criativas como um grupo à medida que elas são sensíveis e respondem ao que os outros membros do grupo tocam. Mesmo se as contribuições individuais dos membros do grupo foram inovadoras e apropriadas quando ouvidas individualmente, o grupo não seria considerado uma unidade de improvisação criativa a não ser que os membros do grupo respondessem bem uns aos outros.

Baseando-se em concepções anteriores

da criatividade organizacional (especialmente na teoria componencial da criatividade), nas concepções de improvisação nas organizações, e na nova ideia de capacidade de resposta a estímulos temporalmente próximos, propomos um modelo preliminar de improvisação criativa nas organizações (ver Figura II).

Nesse modelo, definimos a improvisação criativa como “ações de resposta a estímulos temporalmente próximos, em que as ações contêm um alto grau de novidade e pouca separação temporal entre a apresentação do problema, a geração de ideias e sua execução”. Tais ações estão dispostas em um continuum, dependendo do grau de novidade, do grau de separação temporal e do grau de resposta a estímulos temporalmente próximos. Quando tais ações acontecem em um contexto organizacional, elas são consideradas exemplos de criatividade de improvisação organizacional.

Em contraste com os modelos tradicionais de criatividade, o nosso contém duas características distintivas:

a. a preparação precede o processo de improvisação; e

b. Os estágios são “líquidos”, comapresentação de problemas, geração

de resposta e execução daresposta acontecendo de forma praticamente simultânea.

Na criatividade de composição, a preparação pode incluir o aprendizado de competências relevantes e a obtenção de informações necessárias para executar a tarefa. Por exemplo, quando uma equipe de uma agência de publicidade desenvolve uma campanha para um novo cliente, frequentemente ela pesquisa campanhas anteriores, aprende sobre a indústria e compara o cliente com seus concorrentes antes de começar a gerar respostas. Na criatividade de improvisação, no entanto, essa preparação não pode acontecer, porque ação imediata precisa ser imediata. Em vez disso, os indivíduos devem construir um depósito de conhecimentos e rotinas que sejam de rápido acesso e flexíveis a várias demandas situacionais. Os músicos de jazz, por exemplo, aprendem padrões comuns e a teoria antes de saber qual a música que eles vão tocar em uma jam session; as ideias utilizadas em um solo são geradas e executadas à medida que são tocadas. Da mesma forma, Hatsopoulos não preparou uma resposta às queixas de seu colega no almoço após contemplá-las; e sim relatou suas ideias ao executivo da Ford conforme elas surgiam em sua cabeça, baseado em sua extensa pesquisa, treinamento e experiência anteriores.

Elementos particularmente importantes dos componentes da criatividade que alimentam o processo de criatividade de improvisação:

Preparação

Resultado Criativos Improvisados• Inovadores, adequado, em um curto

espaço de tempo• Pode alimentar a fase de geração de

ideias da criatividade de composição

Improvisação(Processos

Simultâneos / Síncronos)

Geração de Resposta

Execução de Resposta

Apresentação do problema externo(estímulos temporalmente próximos)

Ambiente de Trabalho• Cultura Experimental• Fluxo de informações

em tempo real• Estruturas mínimas

Motivação IntrínsecaFoco no problema / oportunidade, em vez de na avaliação ou na preocupação com o fracasso

Processos derelevância criativa • Orientação a riscos• Capacidade de

resposta a estímulos temporalmente próximos

ExperiênciaFatos e rotinas bem memorizados, organizados de forma flexível na memória

Figura II - UM MODELO DE CRIATIVIDADE IMPROVISACIONAL

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ao risco e capacidade de reação a estímulos temporalmente próximos são especialmente importantes para a criatividade de improvisação.

A orientação ao risco muitas vezes é essencial para que um indivíduo se envolva com a improvisação em vez de procurar um caminho mais conhecido (se menos criativo) durante períodos de turbulência.

Similar ao seu papel na criatividade de composição, a motivação intrínseca é provavelmente importante para o envolvimento e a persistência com a improvisação. Uma pessoa intrinsecamente motivada que esteja improvisando pode se concentrar mais no problema que se apresenta, em vez de se concentrar na avaliação e seu impacto sobre recompensas e punições. Além disso, já que a improvisação é muitas vezes usada em vez da execução de algoritmos em tempos de crise, vários teóricos propuseram que a motivação interna vai aumentar não só a partir do êxito do processo, mas a partir da maior autonomia que a improvisação oferece aos membros de uma organização. Vários aspectos do ambiente de trabalho facilitam a criatividade de improvisação nas organizações. Pesquisas anteriores identificaram “uma cultura experimental” e “estruturas mínimas”, como condições importantes para a improvisação. É provável que uma cultura que tolera erros e promove a ação facilite a criatividade de improvisação; e por estruturas mínimas o que se quer dizer é que nos domínios em que a improvação é provável, os procedimentos são mais frouxos. Políticas mais sofisticadas tornariam as pessoas mais suscetíveis a obedecer a esses controles e executá-los algoritmicamente. O acesso à informação em tempo real e às estruturas que facilitam a sua comunicação também foi mostrado para aumentar os recursos que os improvisadores têm à sua disposição, multiplicando as fontes de ideias e soluções. EM SÍNTESEDe maneira geral, nosso modelo destaca alguns contrastes em relação aos modelos tradicionais de criatividade. Especificamente, o papel da preparação

e a natureza simultânea de apresentação do problema, geração de resposta e execução da resposta são contrastantes com as ideias lineares do processo criativo. Para facilitar a criatividade de improvisação, o indivíduo deve adquirir os conhecimentos necessários para operar fluentemente em seu campo sem adquirir também a falta de novidade que frequentemente acompanha a experiência.

Muitas questões permanecem sem resposta: quais vantagens e desvantagens podem advir da promoção da fluência necessária ao improviso? Existe uma habilidade criativa de ser sensível a estímulos temporalmente próximos e, em caso afirmativo, essa habilidade é estável em vários domínios? Alguns pesquisadores argumentam que alguns aspectos do pensamento criativo transcendem os campos. A resposta a estímulos pode ser uma habilidade similar? Em que medida, e em que condições, ela pode ser aprendida?

No final, uma coisa é certa: as organizações que não construírem uma capacidade de reagir de maneiras novas e adequadas às crises emergentes, oportunidades inesperadas e ambientes dinâmicos estarão em desvantagem competitiva, tanto quanto as organizações que não produzem novas ideias e produtos.

Colin M. Fisher é estudante de pós-doutorado em Comportamento Organizacional na Universidade de Harvard e trompetista de jazz profissional.

Teresa M. Amabile é professora de Administração e Negócios na Escola de Administração de Harvard.

This article originally appeared in Rotmanmagazine, published by the University ofToronto’s Rotman School of Management.

Tradução: LAB SSJ, 2011.

Após a preparação, chega o verdadeiro processo de improvisação. Como já descrito anteriormente, a improvisação é definida pela convergência temporal da geração de resposta e da execução. A geração e a execução de respostas são solicitadas e definidas pelos estímulos temporalmente próximos que constantemente alimentam e moldam o problema em questão - o problema apresentado pelo ambiente externo.Crises, como o caso de Burke, na Johnson & Johnson, são instigadas por estímulos externos que podem mudar ao longo do tempo. Conforme os acontecimentos se desenrolam e os dados se tornam disponíveis, as ações são moldadas em conformidade, e mesmo a natureza do problema pode mudar. Nesse sentido, os estímulos temporalmente próximos não apenas apresentam o problema, como também mudam à medida que as respostas são geradas e executadas. Os resultados criativos dessa improvisação são inovadores (por serem divergentes) e adequados (por responder a estímulos temporalmente próximos).

Como mencionamos anteriormente, esses resultados podem ser o resultado final, como em uma improvisação do jazz, ou podem representar possíveis respostas em um processo de composição, como no brainstorming estruturado utilizado na IDEO.

Os componentes que influenciam a criatividade de improvisação também diferem um pouco daqueles utilizados no modelo composicional tradicional. Na criatividade de improvisação, é importante ter antes da ação um grande número de fatos e rotinas bem estudados, que sejam ao mesmo tempo facilmente acessíveis e organizados de forma flexível. Diferente do que acontece com criatividade de composição, tais conhecimentos não podem ser obtidos depois que o problema é apresentado. Como a improvisação muitas vezes ocorre em resposta a crises ou oportunidades inesperadas, é provável que uma pessoa ou grupo com menos experiência improvise de forma menos criativa em tais situações.

Além disso, propomos que processos criativamente relevantes de orientação

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LAB: Existem pessoas especialmente criativas ou todos podem ser criativos?Leila Oliva: As duas alternativas são verdadeiras. As pessoas são diferentes e reagem de formas distintas dependendo da situação e do desafio de vida. Algumas podem reagir melhor do que outras e, por isso, serem vistas como “mais criativas” ou “mais inteligentes”. No entanto, todos nós somos dotados de inteligência e talentos que podem ser desenvolvidos. É importante sermos autoconfiantes e estabelecermos uma régua interna de desenvolvimento.

Para ser criativo, você deve cultivar sua autoestima e se autoavaliar constantemente para saber quanto “mais criativo” tem se mostrado. Um bom exemplo disso é a atitude dos empreendedores e inventores: eles seguem em frente, mesmo que, a princípio, ninguém valorize suas ideias. Todos nós temos o potencial de criar. Somos capazes de ter novas ideias e tomar decisões relevantes para a resolução de problemas, que varia de pessoa para pessoa. Os grupos dentro das empresas devem ser abertos o suficiente para receber e aceitar novas ideias, mesmo que sejam diferentes do que todos estão acostumados.

LAB: Em termos concretos, como alguém aprende inovação?LO: Num ambiente onde os erros são

possíveis e não passíveis de punição, os grupos devem desenvolver uma cultura de experimentação. Além disso, ter tempo para planejar é fundamental. Para solucionar um problema ou pensar em alguma coisa nova, as pessoas devem entender o contexto e experimentar soluções. Isso leva tempo...

Um exercício individual pode ser reservar um espaço para pensar diariamente. Isso somente é conseguido com disciplina: dedicar alguns minutos por dia para adquirir novos conhecimentos, pensar em como simplificar suas tarefas cotidianas, eliminar o que não agrega valor para si e para o grupo, manter-se focado no que precisa ser pensado, executado, avaliado. Para isso, usar técnicas simples de organização de ideias como o Mindmap podem facilitar a organização de um mundo complexo de informações. Outra ferramenta é o SCAMPER, que auxilia na geração de ideias. Ou então, ao participar de um brainstorming, vale colocar em prática uma das regras do improviso: quando alguém contribuir com alguma ideia na reunião, complemente-a com “SIM e...”

LAB: Como se dá o processo criativo?LO: O processo criativo envolve o novo e o tempo: como fazer algo novo, relevante, que agregue valor de forma ágil antes que os outros façam. Ele acontece em grupo e dentro de cada um de nós. Individualmente, a criatividade se manifesta de forma desordenada, mas é possível montar um modelo simplificado do processo criativo em cinco etapas: Preparação (criação de um repertório sobre determinado tema) > Geração de opções ou Divergência (busca por uma gama de alternativas) > Oportunidade de Criação (identificação do problema ou oportunidade) > Incubação (fase de descanso na qual não se trabalha com o problema de forma consciente) > Seleção de opções ou Convergência (momento de escolha da melhor solução).

Em grupo, o processo criativo pode

acontecer sequencial ou paralelamente. No primeiro, identifica-se o desafio, são compreendidos seus fatores, geram-se ideias, são selecionadas aquelas melhores para atender o desafio, desenvolve-se um plano de implementação e aprova-se com o grupo de interesse.

No caso do processo criativo ser em paralelo, existe a necessidade de estar sempre atento aos eventos que acontecem ao redor do problema: dentro da empresa, dentro da comunidade, no mundo etc. Isso ajuda a reduzir o tempo de entendimento do contexto e de aprender coisas novas. Aqui, as fases de geração de ideias e execução ocorrem ao mesmo tempo: à medida que as ideias são geradas, vão sendo testadas, aplicadas e o ajuste ocorre “em movimento”.

LAB: Como estimular a criatividade em perfis de público diferentes?LO: Antes de tudo, respeitar as características de cada um. Existem pessoas que têm mais facilidade em gerar alternativas, encontrar novos caminhos e maneiras de fazer as coisas. Enquanto outras têm mais aptidão para colocar uma ideia em ação.

Incentivar a diversidade de opiniões dentro de um grupo também é importante para estimular a criatividade. Ao invés de focar no que você não gosta a respeito de uma pessoa, direcione sua energia na maneira como podem se complementar. Para tanto, é preciso criar um ambiente em que diferentes opiniões possam ser aceitas e debatidas. Independentemente do perfil, as pessoas, em geral, querem contribuir, serem ouvidas e reconhecidas. Para facilitar um pouco esse desafio, vale identificar os talentos pessoais e focar no desenvolvimento deles.

Além disso, a autonomia pode ser um forte aliado para estimular a criatividade. Muitas vezes ela aumenta em função da liberdade que as pessoas têm para resolver seus problemas. Dessa forma, elas criam – naturalmente – soluções para si.

CRIATIVO, EU!?Ser visto como “criativo” é mais do que uma questão de opinião, a criatividade se manifesta particularmente nas pessoas e seu processo é quase um passo a passo. A consultora em Criatividade e Inovação Leila Oliva desmistifica o tema. “O segredo está na combinação do estímulo externo com o autodesenvolvimento”, diz.

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