seja o doutor do milho versão 1 - brasil.ipni.netbrasil.ipni.net/ipniweb/region/brasil.nsf/0... ·...

4
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 63 – SETEMBRO/93 1 Seja o doutor do seu milho Você fez o "check-up" do seu milho este ano? Todo agricultor deveria aprender a reconhecer os sinto- mas que são ilustrados aqui sinais que demonstram que uma cultura de milho está deficiente em um ou mais nutrientes essenciais para o crescimento sadio da planta e para produções lucrativas. Você pode ser o doutor do seu milho. Esta é uma parte importante do manejo da cul- tura: examinar regularmente as plantas e identificar os sinais que significam problemas para o seu desenvolvimento. Os ótimos retornos econômicos de seu investimento na cultura depen- dem de um adequado suprimento de nutrientes em todo o período de desen- volvimento. Esses sintomas de deficiên- cia nutricional indicam que as neces- sidades não estão sendo supridas. Exa- mine a cultura várias vezes durante seu desenvolvimento. Algumas deficiências detectadas precocemente podem ser corrigidas por aplicação de fertilizantes em cobertura. Mesmo que elas não pos- sam ser corrigidas este ano, o conhe- cimento de onde elas ocorrem pode ser de valia para o planejamento do pro- grama de adubação para o próximo plantio. As folhas de milho sadias devem ter coloração verde escura brilhante. Isso indica altos níveis de clorofila, essenciais para captar a energia solar e produzir açúcares, necessários para o crescimento e o desenvolvimento da planta. Qualquer estresse ou falta de nutriente irá alterar a coloração e dimi- nuir a produção de açúcar. ARQUIVO DO AGRÔNOMO - Nº 2 Traduzido do artigo escrito por K.C. Berger, Professor de Solos da University of Wisconsin - College of Agriculture; revisado e adaptado por Dr. Harold F. Reetz, Jr., Diretor do Potash & Phosphate Institute (PPI). Doenças, como a causada por Helminthosporium, começam com pequenas manchas e gradualmente se espalham sobre a folha. Produtos químicos ocasionalmente podem queimar a ponta, as margens e outras partes em que tiveram contato. O tecido morre, a folha torna-se esbranquiçada. O sinal da fome de nitrogênio é um amarelecimento que começa na ponta e se move para o meio da folha, na forma de um V deitado. A deficiência de potássio aparece como uma queimadura ou secamento da ponta e das margens das folhas inferiores. A deficiência de fósforo marca as folhas com vermelho-púrpura, particularmente em plantas jovens. Folhas saudáveis brilham com uma coloração verde escura quando adequadamente alimentadas. A deficiência de magnésio causa listras esbranquiçadas (clorose internerval) paralelas à nervura principal e às vezes uma coloração púrpura na face inferior das folhas mais velhas. A seca provoca uma coloração verde acinzentada nas plantas; as folhas podem se enrolar e ficar com o diâmetro de um lápis. Ilustrações: Maynard Reece

Upload: vuongdat

Post on 10-Nov-2018

225 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 63 – SETEMBRO/93 1

Seja odoutor doseu milho

Você já fez o "check-up" doseu milho este ano? Todo agricultordeveria aprender a reconhecer os sinto-mas que são ilustrados aqui sinais quedemonstram que uma cultura de milhoestá deficiente em um ou mais nutrientesessenciais para o crescimento sadio daplanta e para produções lucrativas. Vocêpode ser o doutor do seu milho. Esta éuma parte importante do manejo da cul-tura: examinar regularmente as plantase identificar os sinais que significamproblemas para o seu desenvolvimento.

Os ótimos retornos econômicosde seu investimento na cultura depen-dem de um adequado suprimento denutrientes em todo o período de desen-volvimento. Esses sintomas de deficiên-cia nutricional indicam que as neces-sidades não estão sendo supridas. Exa-mine a cultura várias vezes durante seudesenvolvimento. Algumas deficiênciasdetectadas precocemente podem sercorrigidas por aplicação de fertilizantesem cobertura. Mesmo que elas não pos-sam ser corrigidas este ano, o conhe-cimento de onde elas ocorrem pode serde valia para o planejamento do pro-grama de adubação para o próximoplantio.

As folhas de milho sadias devemter coloração verde escura brilhante.Isso indica altos níveis de clorofila,essenciais para captar a energia solar eproduzir açúcares, necessários para ocrescimento e o desenvolvimento daplanta. Qualquer estresse ou falta denutriente irá alterar a coloração e dimi-nuir a produção de açúcar.

ARQUIVO DO AGRÔNOMO - Nº 2

Traduzido do artigo escrito por K.C. Berger,Professor de Solos da University of Wisconsin -College of Agriculture; revisado e adaptado porDr. Harold F. Reetz, Jr., Diretor do Potash &Phosphate Institute (PPI).

Doenças, como a causada por Helminthosporium, começamcom pequenas manchas e gradualmente se espalham sobre afolha.

Produtos químicos ocasionalmente podem queimara ponta, as margens e outras partes em que tiveram contato.O tecido morre, a folha torna-se esbranquiçada.

O sinal da fome de nitrogênio é um amarelecimento quecomeça na ponta e se move para o meio da folha, na formade um V deitado.

A deficiência de potássio aparece como uma queimadura ousecamento da ponta e das margens das folhas inferiores.

A deficiência de fósforo marca as folhas com vermelho-púrpura,particularmente em plantas jovens.

Folhas saudáveis brilham com uma coloração verde escuraquando adequadamente alimentadas.

A deficiência de magnésio causa listras esbranquiçadas (cloroseinternerval) paralelas à nervura principal e às vezes uma coloraçãopúrpura na face inferior das folhas mais velhas.

A seca provoca uma coloração verde acinzentada nasplantas; as folhas podem se enrolar e ficar com o diâmetrode um lápis.

Ilustrações: Maynard Reece

2 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 63 – SETEMBRO/93

DEFICIÊNCIA DE NITROGÊNIO (N)A deficiência de nitrogênio é

menos provável de ser detectada pre-cocemente, mas quando as plantas jo-vens apresentam leve coloração verdeamarelada, pode significar falta de N.Se a deficiência for detectada no início,a adubação nitrogenada em coberturapode ajudar a resolver o problema.

Depois que o milho alcançar aaltura dos joelhos, a taxa de crescimentoaumenta, e a demanda por N crescerapidamente. Exigências de 3,5 kg de N/ha.dia são comuns e podem ser duasvezes maior durante os períodos de picode demanda. Se não houver suficientenutriente disponível, as folhas inferio-res começam a amarelar no ápice, comamarelecimento progressivo ao longo danervura principal.

Visto que o N é um nutriente móvelna planta, os sintomas caminhamgradualmente para as folhas superioresda planta. As folhas inferiores morrem.

A análise de tecido para N podeser feita no campo, usando indicadoresquímicos ou aparelhos eletrônicos demedida, como o medidor de clorofila,para auxiliar na diagnose da deficiência.

Morte prematura da planta e espi-gas pequenas e palhentas resultam dadeficiência de N.

DEFICIÊNCIA DE FÓSFORO (P)A deficiência de fósforo geral-

mente aparece quando as plantas sãomuito jovens. Um sintoma inicial é acoloração púrpura-avermelhada dasfolhas. Colmos frágeis e delgados improdutivos ou com espigas pequenase torcidas também indicam deficiên-cia de fósforo. Condições de baixastemperatura e ar excessivamente secoou úmido no período inicial de cresci-mento, ou qualquer restrição física aodesenvolvimento das raízes, podem in-duzir aos sintomas de deficiência, aindaque haja adequado suprimento defósforo no solo. A deficiência de fósforotambém resulta em maturidade atrasada.

As altas taxas de absorção pordia, principalmente do florescimento àgranação, salientam a importância daalta fertilidade do solo para a nutriçãoadequada de fósforo.

DEFICIÊNCIA DE POTÁSSIO (K)

A deficiência de potássio mostra-se inicialmente como um amareleci-mento e bronzeamento ao longo das

1. Colmos saudáveis têm tamanho normal. O corte de uma seção do colmo abaixoda espiga mostra a medula branca, sadia.

5. Os sintomas de doença encontrados nos colmos incluem tecidos vascularesescuros no corte de uma seção superior e medula mais escura no corteinferior. A podridão do colmo inicia-se no seu interior, causando sua rupturae morte prematura, e enrugamento das espigas, com grãos palhentos e combaixo peso.

2. O potássio está faltando quando a parte seccionada mostra uma cor marromescura nos nódulos.

3. A deficiência de fósforo causa colmos delgados e quebradiços, muitas vezessem espigas. Note a coloração púrpura das folhas inferiores.

4. Perfilhos podem se formar quando o milho recebe muito nitrogênio no iníciodo crescimento. O corte de uma seção do colmo também mostra danos cau-sados pela broca.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 63 – SETEMBRO/93 3

Nas plantas saudáveis e produtivas as raízes se extendemem profundidade e exploram um grande volume do solo.

Espigas pequenas podem ser sinal de baixa fertilidade, população excessiva ououtros problemas.

A deficiência de potássio se traduz em espigas com poucos grãos na extremidadee com sementes soltas, não compactas no sabugo.

Corte de raízes causadopelo cultivador. As enxa-das estavam muito próxi-mas do colmo e muitoprofundas.

A deficiência de fósforodurante as primeiras semanasde desenvolvimento torna osistema radicular superficial,com pouca expansão.

Solos adensados em subsuperfície são os principais respon-sáveis pelo sistema radicular superficial. O milho com pou-cas raízes não pode resistir à seca e é facilmente derrubadopor ventos fortes.

O solo ácido é revelado quando a parte inferior do sistemaradicular está descolorida e deteriorada, particularmentequando as raízes secundárias laterais nascem do 3º ou 4º nós.

A deficiência de fósforointerfere na polinização e noenchimento dos grãos. Asespigas são pequenas, fre-qüentemente retorcidas, ecom grãos pouco desenvol-vidos.

O nitrogênio é essencial em todo período decrescimento. Se a planta esgotar o N no períodocrítico, as espigas ficam pequenas e com baixoconteúdo de proteína. Os grãos da extremidadeda espiga não enchem.

Cabelos verdes na maturidade podem ter como causao excesso de nitrogênio em relação a outros nutrientes.

Condições de seca atrasamo embonecamento; os grãosnão são bem polinizados.

Espigas normais, de milho bem adubado e produtivo, normalmente pesam de150 a 225 g. A extremidade das espigas pode não estar completamente ocupadacom grãos.

Espigas enormes, com mais de 225 g de peso e com sementes cobrindo aextremidade do sabugo indicam que a população de plantas pode estar abaixo dadesejável para produtividade máxima econômica.

As brocas de raízes des-bastam e engrossam asraízes, conforme se ali-mentam delas, e cons-troem túneis nas maiores.

O dano por produtoquímico tornou as raízestorcidas e encurvadas.Raízes secundárias late-rais entrelaçadas é outro

sintoma.

4 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 63 – SETEMBRO/93

das folhas. Ela pode ser uma indicação desolo ácido, especialmente em plantas jo-vens, sob cultivo mínimo. A aplicação decalcário dolomítico pode ajudar a corrigiro problema nos anos subseqüentes. Se oproblema não for pH ácido, as fontes deMg, tais como sulfato de potássio-magnésio,podem corrigir a deficiência.

A seca e o encurvamento das folhassuperiores podem indicar deficiência decobre (Cu). A deficiência de zinco (Zn) éindicada por listras cloróticas paralelas ànervura central das folhas jovens, encur-tamento dos internódios e plantas raquíticas.Colmos sem espigas ou espigas estéreis emsolos bem fertilizados, com alta populaçãode plantas, podem ocorrer devidos àdeficiência de boro (B).

A acidez do solo afeta a absorção demuitos nutrientes pela planta e pode cau-sar deficiências mesmo quando há supri-mento adequado de nutrientes no solo. Aanálise de solo deve ser usada regularmentepara identificar problemas de pH e moni-torar os níveis de P e K no solo.

A análise de nitrato no perfil do solofornece informações seguras que auxiliamna aplicação de N em regiões onde ele éretido no solo de uma safra para outra. Emregiões mais úmidas, o teste para nitratopode ser menos seguro que os testes parapH, P e K.

SEJA METICULOSO

Como um doutor em milho, sejameticuloso na avaliação do "paciente".

Observe a aparência geral da culturae compare as áreas problemas com a apa-rência "normal" das áreas saudáveis. Arran-que ou desenterre algumas plantas das

áreas "normal" e "problema". Inspecionecuidadosamente as raízes, quebre o colmoe examine o desenvolvimento da espiga.Observe, também, os problemas causadospor insetos e doenças. Amostras coletadasnas áreas "problema" e "normal" durante operíodo de crescimento podem fornecerinformações úteis para o diagnóstico atravésdas análises de laboratório.

Faça anotações detalhadas sobre oque você vê e sua exata localização nocampo. Use a câmera para documentar asáreas "normal" e "problema" em fotos,slides ou video. Se você usar uma câmerade video, discorra sobre os sintomas e ascondições de campo conforme você filma.Anote a localização no campo e a data emtodas as fotos. Tal documentação em ano-tações e fotos será valiosa no planejamentoda próxima safra.

Na época da colheita, retire e exa-mine as espigas antes de colher a cultura.Novamente, as anotações podem ser valio-sas ferramentas para ajudar a corrigir pro-blemas para a próxima safra. Espigas defor-madas, incompletas, e colmos improduti-vos podem indicar deficiência nutricional.Colete amostras de solo das áreas da lavou-ra onde tais problemas ocorrem, bem comodas áreas "normais". A comparação dasanálises de laboratório dessas amostrasajudará a completar o diagnóstico.

Ser um bom doutor em milho eaprender a identificar as deficiências nutri-cionais e outros problemas de saúde dasplantas são partes importantes de um ma-nejo responsável da cultura. A adubaçãoadequada, com base nas análises de solo,unida com outras práticas de manejo, é achave para uma produção eficiente e eco-nômica.

margens das folhas inferiores, movendo-segradualmente em direção à nervura princi-pal e às folhas superiores da planta. Outrosintoma comum de deficiência de K é umamancha marrom escura nos nódulos, nointerior do colmo, que pode ser reveladapelo corte longitudinal do mesmo. O ta-manho da espiga não é tão afetado como nadeficiência de N ou P, mas a extremidadedos grãos não se desenvolve e as espigasficam com os grãos não compactamenteenfileirados no sabugo, por resultado dadeficiência de potássio. Como o potássiotambém é o maior responsável pelo uso efi-ciente da água, os efeitos da seca são muitomais pronunciados quando seu suprimentoé inadequado.

Nos períodos de pico de demanda, oK é mais absorvido por dia que o próprio N,enfatizando a importância de altos níveisde fertilidade para se obter produções lucra-tivas.

DEFICIÊNCIA DE OUTROS NUTRIENTES

Além das deficiências de N, P e K,outras deficiências de nutrientes ocorremmenos freqüentemente, mas podem ser fa-tores muito importantes na determinaçãodos limites de produção.

A deficiência de enxofre (S) apresen-ta-se como uma coloração verde clara nasfolhas superiores e crescimento deficiente.É mais comum em solos arenosos ou combaixo teor de matéria orgânica. Vários ferti-lizantes que contém enxofre podem serusados para corrigir o problema.

A deficiência de magnésio (Mg)produz listras esbranquiçadas paralelas àsnervuras nas folhas inferiores, com desco-loração avermelhada ao longo das margens

CURVAS DE ABSORÇÃO DE MACRO E MICRONUTRIENTES PELO MILHO

Fonte: BÜLL, L.T. Nutrição mineral do milho. In: BÜLL , L.T. & CANTARELLA, H.; ed. Cultura do Milho. Piracicaba, POTAFOS, 1993.