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Paulo Mittelman Psicólogo Clínico Professor do Curso de Pós Graduação em Prevenção e Tratamento de Abuso de Drogas da PUC / RJ Segurança Baseada no Comportamento Usando algumas ferramentas da Análise Transacional

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Paulo Mittelman

Psicólogo Clínico

Professor do Curso de Pós – Graduação em Prevenção e Tratamento de Abuso de Drogas da PUC

/ RJ

Segurança Baseada no Comportamento Usando algumas ferramentas da Análise Transacional

O que é Segurança Baseada em Comportamento

(Behavior-Based Safety) ou Segurança Comportamental

• Alguns Conceitos Importantes:

• A Segurança Baseada em Comportamento é o uso da Psicologia

Comportamental para promover a segurança no ambiente de trabalho, no

trânsito e na área de saúde.

• O Comportamento Seguro de um trabalhador, de um grupo ou de uma

organização é definido como sendo a capacidade de identificar e controlar

os riscos presentes numa atividade no presente, de forma a reduzir a

probabilidade de ocorrências indesejadas no futuro, para si e para os outros.

• Ao trabalhador devem ser dadas condições (capacitação e abertura) para

Pensar, Sentir e Agir considerando os riscos aos quais está exposto e as

melhores formas de controlá-los. É preciso haver coerência entre

Pensamento, Sentimento, Ação e Objetivo final.

• Comportamento Seguro é aquilo que o trabalhador faz e que contribui para

a não ocorrência de acidentes (ex.: o uso de EPI’s, o cumprimento de

normas de segurança, uso adequado de ferramentas e equipamentos, estar

em adequadas condições físicas e psicológicas, etc.)

Características Principais da Segurança Baseada em

Comportamento (Behavior-Based Safety)

1. Criar um processo contínuo que define o conjunto de comportamentos que

reduzem o risco de lesões relacionadas ao trabalho.

2. Coletar dados sobre a freqüência de comportamentos críticos de

segurança.

3. Avaliar as barreiras internas (crenças estabelecidas, etc.) dos empregados

e as barreiras internas (pressão excessiva por produção, tempo, etc.) da

empresa às mudanças na direção dos comportamentos seguros.

4. Garantir o feedback com ênfase nos comportamentos seguros como um

valor para todos.

5. Adotar as práticas psicológicas que estimulam e mantêm os

Comportamentos Seguros (além de corrigir as distorções que estimulam

os comportamentos críticos): Princípios de reforçamento positivo,

Modelagem de comportamentos saudáveis e seguros, Correção de

distorções cognitivas no processo de percepção e Estímulo aos processos

de auto – proteção e desenvolvimento interpessoal.

6. Garantir a manutenção de todo esse processo numa Cultura de Melhoria

Contínua.

Percepção de Risco e Comportamento Seguro

• Percepção De Risco:

É a capacidade da pessoa em identificar (atribuir um significado) uma determinada situação ou condição de trabalho como possível de causar dano. Isso é determinado por vários fatores: Bom funcionamento de seu “aparato sensorial” (acuidade visual, auditiva, etc), adequado nível de informação para decodificar os estímulos como sendo de risco e capacidade de articular essa informação com o conjunto de medidas de segurança.

Quem não percebe os riscos não tem condições de escolher o meio mais seguro de agir.

Mas atenção:

Percepção de Riscos e Comportamento Seguro não são sinônimos!Se existirem pressão desmedida por produção, “Cultura do Heroísmo”, condições de trabalho

precária, despreparo técnico e emocional, o fato de perceber os riscos não levará, isoladamente a uma mudança de comportamento.

O Comportamento Seguro é um resultado de fatores (internos ao indivíduo e do ambiente de trabalho) que permitem às pessoas agir de maneira preventiva no trabalho.

BBS – Segurança Baseada no Comportamento

BBS – Behavior-Based Safety

C o m p o r t a m e n t o s

Grave

Ou Fatal

Lesões leves

Perdas materiais ou

processo

Incidente / Quase Acidente

(Relato de Perigo)

(Claudio Maceratesi)

Pirâmide de Bird ou da ICNA (Insurance Company of North

America)

• A Pirâmide de Acidentes (ou Pirâmide de Bird) é o resultado de um estudo estatístico que representou um marco histórico para a segurança. Este estudo foi realizado em 1969 por Frank E. Bird Jr. Para realizá-lo, Bird analisou 1.753.498 acidentes industriais que foram reportados por 297 companhias, as quais representavam 21 grupos industriais diferentes, empregando 1.750.000 colaboradores que trabalharam cerca de 3 bilhões de homens-horas durante o período de exposição analisado. O resultado deste estudo é a famosa relação 1-10-30-600 entre os níveis da pirâmide.

• Para 1 acidente humano grave,

• 10 acidentes humanos leves,

• 30 acidentes com dano material e

• 600 quase-acidentes.

Instrumentos da Psicologia para ajudar a lidar com as

Questões Comportamentais

• Modelos Comportamentais de Aprendizagem.

• Modelos Cognitivos de Manutenção de Padrões.

• Modelos da Análise Transacional.

Modelos de Aprendizagem.

Modelos de Crenças e Distorções Cognitivas.

A abordagem Cognitivo-Comportamental procura integrar

esses modelos num conjunto de técnicas consistentes de

mudança.

Fundamentos Teóricos da

Cognitivo-Comportamental

R.I.

R.C.

Estímulo incondicionado (e.i.)

(alimento)

Condicionamento Clássico ou Respondente

(Pavlov)

Estímulo condicionado (e.c.)

(som)

Resposta

Modelos de Aprendizagem (I)Modelos de Aprendizagem (I)

comportamento reforço

aumenta

a freqüência

da resposta

diminui

a freqüência

da resposta

+

-

Condicionamento Operante(Skinner)

Modelos de Aprendizagem (II)Modelos de Aprendizagem (II)

Modelos de Aprendizagem (III)

Aprendizagem por Observação e Modelagem

Interação entre cognição, comportamento e influências ambientais

Características do modelo

3 fatores Características do observador

Conseqüências reforçadoras

atenção

retenção

produção

motivação

Teoria da aprendizagem Social

(Albert Bandura)

4 mecanismos

Modelos Cognitivos

situação pensamento resposta

“A perturbação emocional não é criada pelas situações,

mas pelas interpretações dessas situações.”

( Epicteto , século I D.C. )

Os pensamentos influenciam as emoções e o

comportamento

Os pensamentos podem ser distorcidos a partir de

crenças pessoais.

Crenças intermediárias: regras, atitudes, suposições

Crenças centrais: padrões e estruturas cognitivas profundas

interações iniciais com o mundo

regras básicas de vida, rígidas

Crenças centrais

Crenças intermediárias

PercepçãoSituaçãoemocionais

reações comportamentais

fisiológicas

Modelo CognitivoModelo Cognitivo

(Aaron (Aaron BeckBeck))

Abordagem da Análise

Transacional para ajudar a

compreender algumas

incoerências e estimular a

Implantação e Manutenção do

Comportamento Seguro

Como Eu Penso, Sinto e me Relaciono (I)Nossas crenças e processos internos interferem na nossa percepção e interação com a realidade externa. Esquemas da Análise Transacional ajudam a entender esse processo.

Estados do Ego

Emoções “Agradáveis” e

“Desagradáveis”,

Impulsos

e Aspectos Biológicos

Conceitos Racionais, Percepção do “Aqui e Agora”,

Objetivo

Conceitos de “Certo” e “Errado”, Juízos de Valor,

Conceitos Morais, etc.P

A

C

Pai

Adulto

Criança

Como Eu Penso, Sinto e me Relaciono (II)

Muitas vezes nossa capacidade de pensar de forma objetiva é influenciada por

nossos valores morais e preconceitos ou por nossos desejos, medos e outras

emoções. Isso é chamado de Contaminação pela A.T..

Adulto

contaminado

pela Criança

Adulto

contaminado

pelo Pai

P

A

C

Pai

Adulto

Criança

Adulto

Criança Adaptada

Rebelde

Como Eu Penso, Sinto e me Relaciono (III)

Nossos Estados do Ego possuem sub-divisões e modos de funcionamento positivo (ok) ou

negativo (não ok). Nossos processos internos interferem na nossa relação com o outro.

Pai Crítico

Pai Nutritivo

Criança Adaptada

Submissa

+

Perseguição

Salvação

Proteção

Permissão

PC+: Protetor

PN+: Permissor

PC- : Perseguidor

PN- : Salvador

CAS: Criança Submissa

CAR: Criança Rebelde

Uso da Análise Transacional para entender alguns

Problemas de Comunicação no Ambiente de

Trabalho:

• Todas as vezes que duas ou mais pessoas estão juntas, cedo ou tarde, vão

se comunicar, seja por meio de palavras, gestos ou olhares. A Análise

Transacional dá a esse fenômeno o nome de “Transação”: Uma das

pessoas envia um estímulo (mensagem) e a outra dá uma resposta.

Transação = Estímulo + Resposta

A transação é, então, a unidade básica da comunicação humana.

As transações se realizam através dos Estados do Ego de uma

pessoa e da outra.

Existem tipos de Transações eficazes e saudáveis e tipos de

Transações que tendem a ser as responsáveis pelas

dificuldades que ocorrem nas relações interpessoais em geral

e no Ambiente de Trabalho em particular.

Transações “Saudáveis” e “Não Saudáveis”- I

• Saudáveis:

Diretas (ou Complementares): Quando o estímulo enviado é recebido e

respondido pelo Estado de Ego previsto e esperado. A Transação Direta é a

base do relacionamento saudável.

-Você pode me dizer que horas são?

- São 11:30h.

PAI

ADULTO

CRIANÇA

PAI

ADULTO

CRIANÇA

Transações “Saudáveis” e “Não Saudáveis”- II

• Outro exemplo de Transação Saudável: (Direta ou Complementar):

Quando o estímulo enviado é recebido e respondido pelo Estado de Ego previsto e

esperado. A Transação Direta é a base do relacionamento saudável.

- Minha filha foi atropelada! Preciso ir ao hospital!

- Claro! Pode ir. Procure o Serviço Social pra nós ajudarmos você.

Transações “Saudáveis” e “Não Saudáveis”- III

• Transações Cruzadas: Responsáveis por algumas dificuldades nas

Relações Interpessoais e nas Relações de Trabalho.

Transação Transferencial:

- Você pode me dizer que horas são?

- Eu não tenho culpa de ter chegado atrasado! Faltou luz lá em casa e o despertador

não tocou!

Transações “Saudáveis” e “Não Saudáveis”- IV

• Outro exemplo de Transação Cruzada: (Responsável por algumas

dificuldades nas Relações Interpessoais e nas Relações de Trabalho).

Transação Desumanizada:

- Minha filha foi atropelada! Preciso ir ao hospital!

- Seu horário de saída é 17:00h.

Como o Conceito de Estímulo (ou

Carícia), da Análise Transacional

pode contribuir para a Melhoria

nas Relações Interpessoais

A Importância de se aprender a trocar estímulos

positivos saudáveis (“Carícias”)

• Carícia (toque, afago, estímulo) é qualquer coisa que fazemos que dá a entender ao outro que sabemos de sua existência.

• É a unidade de reconhecimento humano.

• Estudos de R.Spitz (1945) mostraram que bebês que não recebiam estimulação física durante grandes períodos, sofriam transtornos psíquicos e em seguida um quadro de prostração que podia levar à morte.

• O processo de troca de carícias começa no nascimento com o toque físico. Depois passa para palavras, olhares, gestos e aceitação.

Alimento Carícia

=

Corpo Psiquismo

Se uma pessoa não está conseguindo obter carícias

positivas vai se engajar, mesmo de forma não

consciente, em atividades para obter carícias, ainda que sejam

negativas.

• Claude Steiner considerava o Álcool e Outras Drogas como “Carícias de Plástico”.

Classificação de Carícias

1. Pela emoção que convidam a sentir:

• Positivas: Convidam a emoções agradáveis.

• Negativas: Convidam a emoções desagradáveis.

• Falsas Positivas: De lástima (“Coitado, é um dependente químico.”) e Adulatórias.

2. Pela influência no bem estar:

• Adequadas: Carícias que aumentam o bem estar a longo prazo.

• Inadequadas: Carícias que provocam mal estar a longo prazo, ainda que pareçam agradáveis a curto prazo.

3. Pelas condições para dar ou receber:

• Incondicionais: Dadas ou recebidas pelo simples fato de a pessoa existir.

• Condicionais: Dadas ou recebidas pelo que se faz ou se tem.

4. Pelo meio de transmissão:

• Físicas: São as mais poderosas.

• Verbais

• Gestuais

• Simbólicas

Áreas de Troca de Carícias

• Cada pessoa tem uma “cota de carícias” que necessita. O ideal é que haja uma distribuição uniforme pelas áreas.

• Se todas as “fichas” estiverem colocadas em apenas uma área e essa vier a faltar (por qualquer razão), a “cota” cairá imediatamente para zero (vazio existencial).

SOCIAL E

LAZER

PROFISSIONAL

PAR

FAMILIAR

Leis da Economia de Carícias (Steiner-1971)

Normas parentais preconceituosas que impedem a sadia troca de

estímulos sociais contrutivos.

1. Não dê as carícias positivas que quer dar.Justificativas:

“As pessoas que recebem elogios ficam mal acostumadas”.

“Todos os pais amam seus filhos. Não há por que ficar dizendo isso para eles.”

2. Não aceite as carícias positivas que merece.Justificativas:

“Começaria a depender dos outros.”

“Aceitá-las é falta de modéstia.”

3. Não peça as carícias positivas que precisa.Justificativas:

“Se ele realmente me amasse, saberia do que preciso.”

“Eu tenho dificuldade de ouvir um não.”

“Elas só tem valor se forem espontâneas.”

4. Não se dê carícias positivas.Justificativas:

“É falta de modéstia, é vaidade.”

“É narcisismo.”

5. Não recuse carícias negativas.Justificativas:

“Se te criticam, é para o teu bem.”

“A gente tem que aceitar o que nos dão.”

“Você não pode lutar contra o destino.”

Leis da Abundância de Carícias

1. Dê as carícias positivas que quer dar.

2. Aceite as carícias positivas que merece.

3. Peça as carícias positivas que precisa.

4. Dê a si mesmo as carícias positivas.

5. Recuse as carícias negativas.

“Peça 100% das vezes as carícias que você necessita.

Isto não quer dizer que você vai obter 100% das

carícias que pedir mas, com certeza, vai obter mais

do que se não pedir.”

(Claude Steiner)

Jogos Psicológicos e Codependência

Os jogos psicológicos são uma série de transações entre os Estados de Ego

dos participantes, mantendo uma relação de codependência entre os mesmos.

• Propiciam uma grande quantidade de carícias (todas negativas).

• Confirmam crenças pré-existentes.

• Possibilitam a alternância de papéis e posições existenciais no triângulo

dramático“.

Salvador

Vítima

Perseguidor

“Salvamos as pessoas de suas responsabilidades. Cuidamos

dessas responsabilidades por elas. Mais tarde, ficamos furiosos

com elas pelo que nós fizemos. Então nos sentimos usados e

lamentamos por nós. Esse é o padrão, o triângulo.”(Melody Beattie)

Dinâmica de Trabalho:Procure responder às questões que serão apresentadas da

forma mais detalhada possível. Você pode usar o que lhe foi apresentado anteriormente neste Workshop, sua própria experiência de vida, seu convívio com os colegas de trabalho e sua experiência de trabalho na empresa. Você não precisa assinar suas respostas. Depois de respondido, compartilhe o que você respondeu com os colegas de seu grupo de trabalho. Vocês devem procurar então, elaborar algumas sugestões para serem discutidas com os demais participantes do Workshop. Sua contribuição é muito importante para nós!

Questões:

(para serem respondidas individualmente e depois debatidas em grupo)

1. Procurando imaginar seu ambiente de trabalho e de seus

colegas, procure descrever pelo menos três comportamentos

críticos à segurança.

2. O que, na sua opinião, poderia ser feito, no sentido de se

estimular os comportamentos seguros no dia a dia de seu

ambiente de trabalho?

3. O que você considera que seria necessário mudar na rotina

de trabalho (sua e de seus colegas), para que o maior número

de pessoas possível pudesse participar da implantação e

manutenção de um Programa de Segurança baseada no

Comportamento?

Paulo Mittelman

Psicólogo Clínico

Professor do Curso de Pós – Graduação em Prevenção e Tratamento de Abuso de Drogas da PUC / RJ

[email protected]

Obrigado!