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MINISTÉRIO DA DEFESA COMANDO DA AERONÁUTICA SEGURANÇA OPERACIONAL MCA 81-1 MANUAL DO GERENCIAMENTO DO RISCO À FADIGA NO ATC 2020

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MINISTÉRIO DA DEFESA COMANDO DA AERONÁUTICA

SEGURANÇA OPERACIONAL

MCA 81-1

MANUAL DO GERENCIAMENTO DO RISCO À

FADIGA NO ATC

2020

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MINISTÉRIO DA DEFESA COMANDO DA AERONÁUTICA

DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO

SEGURANÇA OPERACIONAL

MCA 81-1

MANUAL DO GERENCIAMENTO DO RISCO À

FADIGA NO ATC

2020

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MINISTÉRIO DA DEFESA COMANDO DA AERONÁUTICA

DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO

PORTARIA DECEA No 258/DGCEA, DE 11 DE NOVEMBRO DE 2020.

Aprova a edição do MCA 81- “Manual do Gerenciamento do Risco à Fadiga no ATC”.

O DIRETOR-GERAL DO DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO, de conformidade com o previsto no artigo 19, inciso I, da Estrutura Regimental do Comando da Aeronáutica, aprovada pelo Decreto nº 6.834, de 30 de abril de 2009, e considerando o disposto no artigo 10, inciso IV, do Regulamento do DECEA, aprovado pela Portaria nº 2.030/GC3, de 22 de novembro de 2019, resolve:

Art. 1o Aprovar a edição do MCA 81-1, “Manual do Gerenciamento do Risco à Fadiga no ATC”, que com esta baixa.

Art. 2o Este Manual entra em vigor em 1º de dezembro de 2020.

Ten Brig Ar HERALDO LUIZ RODRIGUES Diretor-Geral do DECEA

(Publicado no BCA nº 206, de 13 de novembro de 2020)

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SUMÁRIO

1 DISPOSIÇÕES PRELIMINARES ..................................................................................... 9

1.1 FINALIDADE ..................................................................................................................... 9

1.2 OBJETIVO .......................................................................................................................... 9

1.3 ÂMBITO ............................................................................................................................. 9

1.4 ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................................ 9

1.5 CONCEITUAÇÕES .......................................................................................................... 10

2 FADIGA HUMANA NO ATC........................................................................................... 17

2.1 PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS PARA O GERENCIAMENTO DA FADIGA HUMANA

NO ATC ............................................................................................................................ 17

2.2 INFLUÊNCIA DA FADIGA NO DESEMPENHO HUMANO ....................................... 40

2.3 CONHECIMENTO E EXPERIÊNCIA OPERACIONAL ............................................... 50

3 ABORDAGEM PRESCRITIVA X ABORDAGEM FRMS ........................................... 56

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS TIPOS DE ABORDAGENS PARA O GERENCIAMENTO

DO RISCO À FADIGA .................................................................................................... 56

4 GERENCIAMENTO DA FADIGA HUMANA – ABORDAGEM PRESCRITIVA ... 58

4.1 CUMPRIMENTO DOS LIMITES PRESCRITIVOS E REQUISITOS ASSOCIADOS . 58

4.2 GERENCIAMENTO DO RISCO À FADIGA HUMANA POR MEIO DO SMS .......... 62

5 GERENCIAMENTO DA FADIGA HUMANA – ABORDAGEM FRMS ................... 91

5.1 DISPOSIÇÕES INICIAIS ................................................................................................. 91

5.2 CRITÉRIOS GERAIS PARA A IMPLEMENTAÇÃO .................................................... 91

5.3 REQUISITOS MÍNIMOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO FRMS ........................... 92

6 DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS .................................................................................... 96

7 DISPOSIÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 97

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 98

Anexo A – Protocolo para Cochilo Controlado no Horário de Trabalho................... 100

Anexo B – Formulário para Reporte de Indício de Fadiga (RIF) ............................... 102

Anexo C – Formulário para Reporte Voluntário de Fadiga (RVF) ............................ 105

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Anexo D – Tabela para Análise das Escalas Planejadas e Cumpridas ............. 107

Anexo E – Relatório de Análise de Fadiga .......................................................... 111

Anexo F – Plano de Segurança Operacional (Safety Case) ................................. 112

Anexo G – Método para Avaliar o Número de Fatores de Fadiga Associados a um

Tipo de Operação ou a um Padrão de Trabalho Específicos .......... 117

Anexo H – Diário de Sono e Vigília ...................................................................... 121

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PREFÁCIO

A partir de 2011, a ICAO passou a reconhecer, formalmente, a fadiga humana como um risco à segurança operacional, podendo ocasionar a diminuição dos diferentes tipos de desempenho humano, tornando-se, dessa forma, um possível fator contribuinte para acidentes e incidentes na aviação, já que os controladores de tráfego aéreo desempenham funções de natureza crítica à segurança operacional.

De acordo com a ICAO, define-se Fadiga Humana como:

“Um estado fisiológico de redução da capacidade de desempenho mental ou físico resultante da perda de sono, do período estendido de vigília, do ciclo circadiano e/ou da carga de trabalho (atividade mental e/ou física) que podem prejudicar o estado de alerta de uma pessoa e sua capacidade de desempenhar adequadamente tarefas operacionais que possuam relação com a segurança operacional.”

Figura 1 - Condicionantes da Fadiga no ATC

Por esse motivo, a ICAO publicou a Emenda 50B ao Anexo 11, tornando compulsório que os Estados implementem, até novembro de 2020, o gerenciamento da fadiga humana nos órgãos de controle de tráfego aéreo.

Com o objetivo de prover suporte aos Estados na implementação dos SARP relativos ao Gerenciamento do Risco à Fadiga, a ICAO publicou o DOC 9966 Manual for the Oversight for Fatigue Management Approaches e o Fatigue Management Guide for Air Traffic Services Providers.

Para a implementação do gerenciamento da fadiga humana, a ICAO propõe duas abordagens distintas, a Abordagem Prescritiva e a Abordagem do FRMS, ambas baseadas nos

FADIGA

PERDA DE SONO

PERÍODO ESTENDIDO DE VIGÍLIA

CICLO CIRCADIANO

INFLUÊNCIA DA CARGA DE

TRABALHO

Reduçã o dã Cãpãcidãde de Mãnutençã o do Alertã

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Princípios Científicos, sendo a primeira de cumprimento obrigatório e a segunda de implementação facultativa.

Por fim, é fundamental pontuar que, independentemente da abordagem pela qual o PSNA optar, os limites prescritivos devem ser estabelecidos considerando os Princípios Científicos que regem a ciência da fadiga e devem ser proporcionais ao contexto operacional, ao tipo de serviço prestado e à complexidade de cada órgão ATC.

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1 DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

1.1 FINALIDADE

Esta publicação tem por finalidade estabelecer os procedimentos e processos relativos ao Gerenciamento do Risco à Fadiga nos órgãos ATC do SISCEAB.

1.2 OBJETIVO

a) Evidenciar os fundamentos dos princípios científicos afetos à fadiga humana em ambientes de prestação de serviços de tráfego aéreo;

b) Reconhecer, a partir de uma perspectiva operacional, a inter-relação entre fadiga e desempenho humano em ambientes de tráfego aéreo;

c) Estabelecer as diferenças e semelhanças entre as abordagens Prescritiva e FRMS, assim como os requisitos associados;

d) Estabelecer os processos relativos às atividades de Gerenciamento do Risco à Fadiga (identificação de perigos, avaliação dos riscos e mitigação da fadiga) a serem implementados pelos PSNA; e

e) Estabelecer o conteúdo e o público-alvo para divulgação, treinamento e capacitação do gerenciamento da fadiga no SISCEAB.

1.3 ÂMBITO

Os procedimentos e processos aqui regulamentados é de observância obrigatória a se aplica às Organizações e Entidades Provedoras dos Serviços de Navegação Aérea que possuem órgão ATC.

1.4 ABREVIATURAS E SIGLAS

ATC Controle de Tráfego Aéreo (Air Traffic Control)

ATCO Controlador de Tráfego Aéreo (Air Traffic Controller)

ATS Serviços de Tráfego Aéreo

CTM Carga de Trabalho Mensal (ICA 63-33)

DECEA Departamento de Controle do Espaço Aéreo

EPSNA Entidade Provedora de Serviços de Navegação Aérea

FRMS Sistema de Gerenciamento do Risco à Fadiga (Fatigue Risk Management System)

GRF Gerenciamento do Risco à Fadiga

ICAO Organização de Aviação Civil Internacional (International Civil Aviation Organization)

OPSNA Organização Provedora de Serviços de Navegação Aérea

PFH Pesquisa de Fatores Humanos

PIMO Programa de Instrução e Manutenção Operacional

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PSNA Provedor de Serviços de Navegação Aérea

RELPREV Relatório de Prevenção

RCSV Relatório ao CENIPA para Segurança de Voo

RICEA Relatório de Investigação do Controle do Espaço Aéreo

RIF Reporte de Indício de Fadiga Pós-ocorrência de Tráfego Aéreo

RISAER Regulamento Interno de Serviços da Aeronáutica

RVF Reporte Voluntário de Fadiga

SARP Normas e Padrões Recomendados (Standards and Recommended Practices)

SIGCEA Sistema de Informações Gerenciais do SEGCEA

SISCEAB Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro

SMS Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional (Safety Management System)

SPI Indicadores de Desempenho de Segurança (Safety Performance Indicators)

SWS Sono de Ondas Lentas (Slow Wave Sleep)

WOCL Janela de Baixa no Ciclo Circadiano (Window of Circadian Low)

1.5 CONCEITUAÇÕES

Para efeito do disposto neste Manual, os termos e expressões abaixo relacionados têm os significados a seguir.

1.5.1 ABORDAGEM PRESCRITIVA

É aquela na qual o PSNA deve manter suas operações dentro dos Limites Prescritivos estabelecidos e, adicionalmente, devem realizar o gerenciamento dos riscos relativos à fadiga por meio de seu SMS.

1.5.2 ABORDAGEM FRMS

Uma abordagem sistemática, orientada por dados, para monitorar e gerenciar continuamente os riscos à segurança relacionados à fadiga, com base nos princípios científicos, no conhecimento e experiência operacional que visam garantir o desempenho do ATCO com um nível adequado de alerta.

1.5.3 ALARME INTERNO

Momento no ciclo do relógio biológico interno em que o indivíduo fica muito propenso a acordar e torna-se difícil adormecer ou permanecer dormindo. Ocorre cerca de 6horas após a Janela de Baixa no Ciclo Circadiano (Window of Circadian Low), no final da manhã ou no início da tarde e pode incrementar a restrição de sono ou o risco à fadiga, após um turno noturno.

1.5.4 CICLO CIRCADIANO

O ciclo ou ritmo circadiano é o período de cerca de 24 horas sobre o qual o ciclo biológico de quase todos os seres vivos se baseia.

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1.5.5 CICLO DE SONO NÃO REM/REM

Alternância regular de sono Não REM e sono REM durante um período de sono, em um ciclo com duração aproximada de 90 minutos.

1.5.6 CIRCUNSTÂNCIAS EXCEPCIONAIS PREVISTAS

Situações operacionais esperadas, mas excepcionais, relacionadas a assegurar a prestação adequada de serviços de tráfego aéreo durante um evento de curto prazo (por exemplo, os Jogos Olímpicos) ou para atender a uma necessidade operacional específica que requeira variações mínimas por longos períodos de tempo (por exemplo, estender o tempo de serviço de um único ATCO, uma vez por semana, a cada verão, para atender às demandas sazonais de tráfego).

1.5.7 CIRCUNSTÂNCIAS EXCEPCIONAIS IMPREVISTAS

Situações operacionais inesperadas, mas excepcionais, que não ocorrem regularmente e que não poderiam ser razoavelmente previstas com base em experiências passadas, como, por exemplo, mau tempo ou mau funcionamento do equipamento, o que pode resultar em ajustes nas necessidades operacionais, principalmente no que se refere aos horários de trabalho.

1.5.8 CONTRAMEDIDAS ESTRATÉGICAS E OPERACIONAIS

Estratégias pessoais de mitigação utilizadas pelos indivíduos para reduzir seu próprio risco de fadiga. Pode ser dividido em contramedidas estratégicas (para uso em casa, por exemplo, bons hábitos de sono, cochilos antes do trabalho noturno) e contramedidas operacionais, como, por exemplo, o uso estratégico de cafeína e cochilo controlado.

1.5.9 DISTÚRBIOS DO SONO

Uma série de problemas que impossibilitam a obtenção de sono restaurador, mesmo quando se passa tempo suficiente tentando dormir. Alguns exemplos são a apneia obstrutiva do sono, a insônia, a narcolepsia e movimentos periódicos dos membros durante o sono.

1.5.10 ENTIDADE PROVEDORA DE SERVIÇOS DE NAVEGAÇÃO AÉREA (EPSNA)

Entidade Autorizada e/ou Operadora, responsável por uma ou mais Estações Prestadoras de Serviços de Telecomunicações e de Tráfego Aéreo (EPTA), provedoras dos Serviços de Navegação Aérea do SISCEAB.

1.5.11 ESCALA DE SERVIÇO

Documento emitido periodicamente que estabelece os dias e os horários de trabalho mensal a serem cumpridos pelo efetivo operacional nos órgãos operacionais.

1.5.12 ESTADO DE VIGILÂNCIA

igil ncia, por defini o, é “um estado de prontid o para detectar e responder a pequenas mudan as, ocorrendo em intervalos de tempo aleat rios no ambiente” (Mackworth, 1957, pp. 389-390).

1.5.13 FADIGA

Um estado fisiológico de redução da capacidade de desempenho mental e/ou físico resultante da perda de sono, do período estendido de vigília, do ciclo circadiano e/ou da carga de

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trabalho (atividade mental e/ou física) que podem prejudicar o estado de alerta de uma pessoa e sua capacidade de desempenhar adequadamente tarefas que possuam relação com a segurança operacional.

1.5.14 FADIGA ACUMULATIVA OU DÉBITO ACUMULADO DE SONO (CUMULATIVE SLEEP DEBT)

Condição que ocorre quando não existe tempo de sono suficiente entre vários períodos de fadiga aguda, não havendo a recuperação adequada entre eles. Com o acúmulo do débito de sono, aumenta progressivamente o comprometimento do desempenho operacional e a sonolência objetiva, além do que, as pessoas tendem a se tornar menos confiáveis na avaliação de seu próprio nível de comprometimento.

1.5.15 FADIGA AGUDA OU TRANSITÓRIA

Deterioração acumulada ao longo de um período único de trabalho, a partir do qual a recuperação completa é possível no próximo período de descanso.

1.5.16 FADIGA ATIVA

Existe uma distinção entre fadiga ativa e fadiga passiva. A fadiga ativa é derivada de tarefas contínuas e prolongadas relacionadas ao ajuste perceptivo-motor.

1.5.17 FADIGA COGNITIVA

A fadiga cognitiva, por outro lado, está geralmente relacionada ao cansaço relacionado ao esgotamento de ativos de processamento de informações (Kahneman, 1973; Warm, Matthews, & Finomore, 2008), motivação reduzida (Lee, Hicks, & Nino Murcia, 1991), ou estresse (Aaronson et al., 1999).

1.5.18 FADIGA CRÔNICA

Consiste na presença de fadiga acumulativa constante por longo período.

1.5.19 FADIGA CIRCADIANA

A fadiga circadiana refere-se à redução do desempenho humano durante as horas noturnas de trabalho, particularmente durante a “janela de baixa no ciclo circadiano” (WOCL – Window of Circadian Low) de um indivíduo.

1.5.20 FADIGA PASSIVA

Em contraste à fadiga ativa, a fadiga passiva acontece em tarefas que exigem monitoramento com requisitos de resposta perceptuais-motores raros ou mesmo nulos (Desmond & Hancock, 2001). Ao dirigir, a fadiga passiva poderia acontecer em veículos com altos níveis de automação, o que poderia reduzir o alerta do motorista e aumentar a probabilidade de colisão (Saxby, Matthews, Warm, Hitchcock, & Neubauer, 2013). Apesar de tanto a fadiga passiva quanto a monotonia acontecerem sob baixa carga de trabalho, eles refletem diferentes construções da cognição humana. A fadiga passiva se concentra mais sobre o aspecto de esgotamento de recursos, a monotonia reflete um estado afetivo.

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1.5.21 INÉRCIA DO SONO

Caracteriza-se pela desorientação transitória, torpor e comprometimento do desempenho que podem ocorrer logo após o despertar. O tempo e a intensidade da inércia do sono são maiores quando o indivíduo não dormiu o suficiente, acordou do sono de ondas lentas (estágios Não REM 3 e 4) ou acordou durante a Janela de Baixa no Ciclo Circadiano (WOCL - Window of Circadian Low).

1.5.22 JANELA DE SONOLÊNCIA DA TARDE (AFTERNOON NAP WINDOW)

Período de aumento da sonolência no meio da tarde. Esse período varia de pessoa para pessoa, mas para a maioria ocorre geralmente entre 15h e 17h. Para alguns o grande ponto de baixa ocorre por volta das 13h às 15h. A variação no período vespertino está relacionada à variação da temperatura corporal, que gera o efeito conhecido como período de sono secundário. É um bom momento para tentar tirar um cochilo. Por outro lado, é também um momento em que é mais difícil ficar acordado, onde a ocorrência de microssonos não intencionais é mais provável, especialmente se o sono recente tiver sido restrito.

1.5.23 JANELA DE BAIXA NO CICLO CIRCADIANO (WOCL – WINDOW OF CIRCADIAN LOW)

Período no ciclo do relógio biológico circadiano em que a fadiga e a sonolência são maiores e as pessoas são menos capazes de realizar trabalhos mentais ou físicos. O WOCL ocorre no período do dia quando se dá o ponto mais baixo no núcleo da temperatura corporal, geralmente na madrugada, entre 2h e 6h, considerando que a pessoa esteja totalmente adaptada ao fuso horário local. No entanto, esse ponto exato é variável de pessoa para pessoa.

1.5.24 LIMITES PRESCRITIVOS

Conjunto de parâmetros relativos aos períodos máximos de trabalho e aos períodos mínimos de não trabalho estabelecidos para cumprimento obrigatório pelos PSNA que utilizam a abordagem prescritiva para o gerenciamento dos riscos relacionados à fadiga.

1.5.25 MICROSSONO

Refere-se a um curto período (segundos), quando o cérebro se desprende do ambiente (cessa o processamento visual, de informações e sons) e desliza incontrolavelmente em sono Não REM leve. Os microssonos são um sinal de extrema sonolência fisiológica.

1.5.26 MONOTONIA

Uma situação de monotonia caracteriza-se pelo rebaixamento dos estímulos provenientes da tarefa, seja na quantidade ou na variedade, nas atividades a serem executadas pelo ATCO, tornando-se enfadonho.

1.5.27 NECESSIDADE DE SONO

Refere-se a quantidade regular de sono necessária para manter níveis ótimos de alerta e desempenho durante a vigília. A necessidade de sono é muito difícil de quantificar na prática por causa das diferenças individuais. Além disso, muitas pessoas vivem com restrição crônica do sono e, quando têm a oportunidade de dormir sem restrições, o sono pode ser mais longo do que a sua “necessidade de sono” teórica, devido à recuperação do sono.

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1.5.28 ORGANIZAÇÃO PROVEDORA DE SERVIÇOS DE NAVEGAÇÃO AÉREA (OPSNA)

Designação genérica atribuída às Organizações Regionais do DECEA responsáveis pelos Destacamentos de Controle do Espaço Aéreo (DTCEA) e pelos Centros Operacionais Integrados (COI), provedores dos serviços de navegação aérea prestados pelo SISCEAB.

1.5.29 PERÍODOS DE NÃO TRABALHO (NON DUTY PERIOD)

Períodos contínuos durante o qual o controlador de tráfego aéreo está livre de todas as suas atividades laborais.

1.5.30 PERÍODOS DE TRABALHO (DUTY PERIOD)

Período que tem início quando o ATCO é convocado pelo PSNA para se apresentar ou iniciar uma atividade e que termina quando este estiver livre de todas as suas atividades laborais.

1.5.31 PLANO DE SEGURANÇA OPERACIONAL (SAFETY CASE)

Avaliação de segurança operacional específica, documentada, na qual o PSNA apresenta uma argumentação estruturada e comprovada por evidências consistentes, que tem por objetivo demonstrar que é capaz de manter um nível de desempenho da segurança operacional aceitável, quando aplicado a uma situação operacional específica em um contexto operacional definido.

1.5.32 PROCESSO HOMEOSTÁTICO DO SONO

Necessidade biológica pelo sono de ondas lentas (estágios Não REM 3 e 4), que se acumula ao acordar e diminui exponencialmente durante o sono.

1.5.33 PROVEDOR DE SERVIÇOS DE NAVEGAÇÃO AÉREA (PSNA)

Órgão operacional provedor de um ou mais dos serviços prestados pelo SISCEAB. Por conven o, no rasil, tal servi o é con ecido como “Controle do spa o Aéreo”, abrangendo as áreas de Tráfego Aéreo, Informações Aeronáuticas e Comunicações, Navegação e Vigilância, de Meteorologia Aeronáutica e de Busca e Salvamento.

1.5.34 QUALIDADE DO SONO

Capacidade do sono em restaurar o cérebro da função de vigília. O sono de boa qualidade tem o mínimo de perturbação no ciclo Não REM/REM. A fragmentação do ciclo Não REM/REM ocasionada por despertares durante o sono, ou por breves despertares que levam o cérebro para um estágio mais leve do sono, sem realmente acordar, diminui o valor restaurador do sono.

1.5.35 RELÓGIO BIOLÓGICO CIRCADIANO

Trata-se de um marca-passo neural, posicionado no cérebro, que monitora o ciclo diurno/noturno (por meio de uma via de entrada de luz especial nos olhos) e que determina a preferência dos seres humanos por dormir à noite. O trabalho em turnos é problemático porque requer uma mudança no padrão sono/vigília, que sofre resistência do relógio biológico circadiano, já que este permanece “travado” no ciclo dia/noite.

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1.5.36 RESTRIÇÃO DE SONO

Obter menos sono do que o necessário para restaurar o cérebro. Os efeitos da restrição do sono se acumulam, levando ao comprometimento do desempenho e ao aumento progressivo da sonolência. A necessidade de sono se acumulará até o ponto em que as pessoas adormecem incontrolavelmente (microssonos).

1.5.37 SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO RISCO À FADIGA (FRMS)

Um meio orientado por dados de monitoramento e gerenciamento contínuos dos riscos de segurança relacionados à fadiga, baseado em princípios científicos, conhecimento e experiência operacional que visa garantir que o pessoal operacional está trabalhando nos níveis adequados de alerta.

1.5.38 SOBREAVISO FORA DO LOCAL DE TRABALHO (ON-CALL)

É um tempo definido, durante o qual o Provedor ATS requer que um profissional esteja disponível para o trabalho ou para uma tarefa determinada.

1.5.39 SONO

Estado reversível no qual o controle consciente do cérebro está ausente e o processamento cerebral das informações sensoriais do ambiente é mínimo. O cérebro fica “off-line” para classificar e armazenar as experiências do dia e reabastecer as necessidades essenciais dos sistemas, deteriorados pelas atividades de vigília.

1.5.40 SONO IRRESTRITO

Sono que não é interrompido por nenhuma demanda. O sono começa quando o indivíduo se sente sonolento e não precisa ser adiado por nenhum motivo. Além disso, o indivíduo pode acordar espontaneamente e não utiliza despertador.

1.5.41 SONO SEM MOVIMENTOS OCULARES RÁPIDOS (NÃO REM)

Um tipo de sono associado à desaceleração gradual da atividade elétrica no cérebro (ondas cerebrais medidas por eletrodos presos ao couro cabeludo, conhecido como EEG). Como as ondas cerebrais desaceleram durante o sono Não REM, elas também aumentam de amplitude, com a atividade de grandes grupos de células cerebrais (neurônios) se tornando sincronizados. O sono Não REM é geralmente dividido em 4 etapas, com base nas características das ondas cerebrais. Os estágios 1 e 2 representam um sono mais leve. Os estágios 3 e 4 representam um sono mais profundo e são conhecidos como sono de ondas lentas.

1.5.42 SONO COM MOVIMENTOS OCULARES RÁPIDOS (REM)

Um tipo de sono durante o qual a atividade elétrica do cérebro se assemelha ao da vigília. No entanto, de vez em quando os olhos se movem sob as pálpebras fechadas – movimentos rápidos dos olhos –, e isso é muitas vezes acompanhado por contrações musculares e ritmo cardíaco e respiração irregulares. As pessoas que são acordadas durante o sono REM normalmente se lembram de forma vívida de seus sonhos. Ao mesmo tempo, o corpo não consegue se mover em resposta aos sinais do cérebro, por isso os sonhos não são “encenados”. O estado de paralisia durante o sono REM é às vezes conhecido como “Bloqueio REM”.

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1.5.43 SONO DE ONDAS LENTAS

Os dois estágios mais profundos do sono Não REM (estágios 3 e 4), caracterizados por grande amplitude das ondas lentas cerebrais.

1.5.44 SONO RESTAURADOR

Sono necessário para a recuperação dos efeitos da perda aguda do sono (em um período de 24 horas) ou do débito de sono acumulado (em vários períodos consecutivos de 24 horas).

1.5.45 TEMPO NA POSIÇÃO OPERACIONAL

Período durante o qual um ATCO permanece em uma posição operacional exercendo as prerrogativas inerentes a sua Licença de Controlador de Tráfego Aéreo.

1.5.46 TRABALHO EM TURNOS

Qualquer padrão de trabalho que requeira que o indivíduo esteja acordado quando, de acordo com o circadiano, deveria estar dormindo.

1.5.47 TURNO DE SERVIÇO NOTURNO

Para efeito do gerenciamento da fadiga no ATC, entende-se por turno de serviço noturno aquele que envolve todo ou parte do período compreendido entre 1h30min e 5h29min da manhã.

1.5.48 ZONA DE MANUTENÇÃO DA VIGÍLIA NOTURNA (EVENING WAKE MAINTENANCE ZONE)

Período de horas do ciclo circadiano do relógio biológico, pouco antes da hora usual de dormir, quando é muito difícil adormecer. Como consequência, ir para a cama mais cedo geralmente resulta em levar mais tempo para adormecer, em vez de dormir mais. Pode levar à restrição do sono e aumento do risco de fadiga, quando o início do próximo turno de trabalho é cedo.

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2 FADIGA HUMANA NO ATC

2.1 PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS PARA O GERENCIAMENTO DA FADIGA HUMANA NO ATC

2.1.1 As demandas operacionais na aviação continuam a mudar em resposta ao desenvolvimento tecnológico e às necessidades comerciais, no entanto, a fisiologia humana permanece inalterada.

2.1.2 O gerenciamento da fadiga humana no controle de tráfego aéreo representa uma oportunidade de aplicar os avanços na compreensão científica sobre a fisiologia humana para fazer frente aos riscos à fadiga na aviação.

2.1.3 A fadiga resulta na redução da capacidade dos seres humanos em desempenhar funções operacionais e pode ser considerada um desequilíbrio entre:

a) as exigências físicas e mentais de todas as atividades desempenhadas durante a vigília (não apenas aquelas relacionadas ao trabalho); e

b) a recuperação dessas demandas, que ocorrem durante o sono.

2.1.4 Seguindo essa linha de pensamento, para reduzir a fadiga nas operações aéreas, são necessárias estratégias para gerenciar as demandas das atividades desempenhadas enquanto o indivíduo está acordado e melhorar seu padrão de sono.

a) Ciência do sono – Particularmente os efeitos de não se obter a quantidade de sono suficiente (em uma noite ou várias noites), e como se recuperar da perda de sono; e

b) Ritmos circadianos – Ciclos diários do comportamento e fisiologia humana que recebem influência do relógio biológico circadiano (um marca-passo que atua no cérebro). Os aspectos de fisiologia e comportamento humano que demonstram os ritmos circadianos são:

b1) os sentimentos subjetivos de alerta e sonolência;

b2) a capacidade de realizar trabalho mental e físico; e

b3) a capacidade de adormecer e permanecer dormindo (propensão ao sono).

2.1.5 A ICAO estabelece que os limites prescritivos de horários de trabalho e de não trabalho sejam baseados nos princípios científicos, com o objetivo de realizar o gerenciamento da fadiga dos profissionais que atuam em atividades críticas à segurança da aviação. Esses princípios dizem respeito a:

a) Necessidade de dormir – os períodos de vigília precisam ser limitados. Dormir o suficiente (quantidade e qualidade) regularmente é essencial para restaurar o corpo e o cérebro;

b) Perda e recuperação do sono – reduzir a quantidade ou a qualidade do sono, mesmo que por uma única noite, diminui a capacidade de funcionamento do corpo e aumenta a sonolência no dia seguinte;

c) Efeitos dos ciclos circadianos no sono e no desempenho humano – o relógio biológico circadiano afeta o momento do dia em que sentimos sono e a qualidade do sono e produz altos e baixos no desempenho diário em várias tarefas; e

d) Influência da carga de trabalho na fadiga – a carga de trabalho pode contribuir para o nível de fadiga de um indivíduo. A baixa carga de trabalho pode deflagrar a sonolência fisiológica, enquanto a alta carga de trabalho pode exceder a

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capacidade de um indivíduo, já fatigado.

2.1.6 PRINCÍPIO CIENTÍFICO 1 – A NECESSIDADE DE DORMIR

2.1.6.1 Os períodos de vigília devem ser limitados. Dormir o suficiente (quantidade e qualidade), de forma regular, é essencial para restaurar o cérebro e o corpo.

2.1.6.2 Você já se perguntou o que acontece a partir do momento em que você adormece à noite até quando você acorda de manhã? Se você tiver dormido bem, você vai acordar se sentindo fisicamente e mentalmente restaurado. Suas experiências do dia anterior terão sido classificadas, armazenadas e ligadas às suas memórias já existentes para que você acorde com uma sensação perfeita de quem você é. Se você não dormiu bem, você sabe que o dia que virá não será fácil.

2.1.6.3 Estamos destinados a gastar cerca de um terço de nossas vidas dormindo. A quantidade ideal de sono por noite varia entre os indivíduos, mas a maioria dos adultos saudáveis requer entre 7 e 9 horas sono. Há uma crença generalizada de que o tempo de sono pode ser trocado com o objetivo de aumentar a quantidade de tempo disponível para as atividades de um estilo de vida com dias cada vez mais cheios. A ciência do sono deixa muito claro que o sono não pode ser sacrificado sem consequências negativas.

2.1.6.4 O sono tem múltiplas funções, dentre elas: papel vital na memória e na aprendizagem, na manutenção do estado de alerta, no desempenho, no humor e no estado geral de saúde e bem-estar.

2.1.6.5 Tipos de Sono

2.1.6.5.1 Uma complexa série de processos ocorre no cérebro durante o sono. Vários métodos têm sido usados para examinar esses processos, desde a reflexão sobre os sonhos até o uso de técnicas médicas avançadas de imagens. Os cientistas do sono, tradicionalmente, têm olhado para o sono por meio do monitoramento dos padrões elétricos nas atividades das ondas cerebrais, dos movimentos dos olhos e do tônus muscular. Essas medidas indicam que existem dois tipos de sono muito diferentes: (1) Não REM, sono sem movimentos oculares rápidos, e (2) REM, sono com movimentos oculares rápidos.

2.1.6.5.2 Sono Não REM (non-rapid eye movement sleep)

2.1.6.5.2.1 Durante o sono sem movimentos oculares rápidos, sono Não REM, a atividade das ondas cerebrais gradualmente diminui, se comparado com a atividade das ondas cerebrais de um indivíduo acordado. O corpo está sendo restaurado através do crescimento muscular e do reparo de danos nos tecidos. Às vezes, o sono Não REM é descrito como o momento em que “o cérebro e o corpo estão silenciosos”. Durante uma noite normal de sono, a maioria dos adultos passa cerca de três quartos do tempo de sono em sono Não REM.

2.1.6.5.2.2 O sono Não REM é dividido em 3 estágios, baseados nas características das ondas cerebrais. Os estágios 1 e 2 representam o sono mais leve, quando não é difícil de acordar a pessoa. Normalmente é por onde começa o sono.

2.1.6.5.2.3 O estágio 3 Não REM é conhecido como sono de ondas lentas (slow-wave sleep) ou sono profundo. Nesse estágio, o cérebro para de processar as informações do mundo exterior e uma grande quantidade de células cerebrais, os neurônios, disparam em sincronia, gerando grandes ondas elétricas lentas. É mais difícil acordar do estágio 3 de sono Não REM, pois várias partes sequenciais do cérebro precisam ser reativadas. Também no estágio 3, há a consolidação da memória, necessária para a aprendizagem.

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2.1.6.5.2.4 Quanto mais tempo você estiver acordado e quanto mais fisicamente ativo você estiver, mais atividade de ondas lentas seu cérebro irá mostrar no seu próximo período de sono. Essa atividade de ondas lentas reflete a necessidade de sono do seu cérebro que se acumulou enquanto você estava acordado. É frequentemente descrito como o “processo homeostático do sono”. Assim, a sono de ondas lentas explica a ideia tradicional de que o sono restaura os indivíduos das demandas das atividades de vigília. A ideia central é que o sono de ondas lentas restaura o corpo das demandas do dia.

2.1.6.5.3 Sono REM (rapid eye movement sleep)

2.1.6.5.3.1 Durante o sono com movimentos rápidos dos olhos (sono REM), a atividade das ondas cerebrais é semelhante à atividade cerebral quando o indivíduo está acordado. No entanto, durante o sono REM, de vez em quando os olhos movem-se sob as pálpebras fechadas – são os c amados “movimentos oculares rápidos”, muitas vezes acompanhado por espasmos musculares e ritmo cardíaco e respiração irregulares. A maioria dos adultos passa, normalmente, cerca ¼ (um quarto) do seu tempo de sono, no sono REM.

2.1.6.5.3.2 Durante o sono REM, o cérebro está se reparando, as informações do dia anterior estão sendo consolidadas, classificadas e relacionadas às memórias armazenadas. As pessoas quando despertam durante o sono REM podem se lembrar, de forma vívida, dos sonhos. Durante o sono REM, o corpo não se move em resposta aos sinais do cérebro, para que os sonhos não sejam encenados. Os sinais efetivamente ficam bloqueados no tronco cerebral e não passam através da medula espinal. De fato, às vezes as pessoas experimentam uma breve paralisia quando acordam de um son o, quando a revers o desse “bloqueio M” demora um pouco para acontecer. Por causa desses recursos, o sono M s ve es é descrito como “cérebro ocupado e corpo paralisado”.

Figura 2 - Proporção dos tipos de sono noturno em um adulto jovem.

2.1.6.6 Ciclo Não REM/REM

2.1.6.6.1 Durante um período normal de sono noturno, os sonos Não REM e REM se alternam em ciclos médios de 90 minutos, mas pode variar dependendo de aspectos individuais e do ambiente onde o sono está ocorrendo.

2.1.6.6.2 O diagrama da figura abaixo representa um ciclo Não REM/REM de sono noturno em um adulto jovem e saudável, que dorme às 23h e acorda às 7h30min. Um sono real não é tão organizado quanto este, pois inclui momentos de excitações (transições para um sono mais leve) e breves

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despertares. Os estágios do sono estão indicados no eixo vertical e o tempo é representado no eixo horizontal.

Figura 3 - Ciclo Não REM/REM de sono noturno em um adulto jovem e saudável.

2.1.6.6.3 O sono se inicia através do estágio 1, Não REM, depois progride para o estágio 2, Não M (ve a a letra “A” da figura 3), e, depois de algum tempo, progride para o sono de ondas lentas

(Slow Sleep Waves – SWS) no estágio (ve a a letra “ ” da figura ). Com cerca de -90 minutos de sono, ocorre uma mudança no sono de ondas lentas. Essa mudança geralmente é marcada por movimentos do corpo, à medida que o indivíduo passa rapidamente pelo estágio 2, Não REM (veja a letra “C” da figura ), e depois para o primeiro período de sono REM da noite (os períodos de sono REM estão representados pelas faixas pretas da figura 3). Após um curto período de sono REM, o indivíduo volta novamente a um estágio de sono Não M mais leve (ve a a letra “D” da figura 3), depois ao sono de ondas lentas e, assim, o ciclo se repete. Pela manhã, o indivíduo acordará do sono REM e provavelmente será capaz de lembrar que estava sonhando.

2.1.6.6.4 A cada ciclo Não REM/REM de uma noite normal de sono:

a) a quantidade de sono de ondas lentas (SWS) diminui (pode até mesmo desaparecer, em ciclos posteriores);

b) em contraste, a quantidade de sono REM aumenta progressivamente.

2.1.6.6.5 As pessoas às vezes experimentam desorientação ou tontura quando acordam do sono pela primeira vez. Esse fenômeno é conhecido como inércia do sono. Pode ocorrer quando as pessoas acordam de qualquer fase do sono, mas normalmente é pior após períodos mais longos de sono, ou seja, quanto mais tempo o indivíduo dormir, maior será a inércia do sono.

Quadro 1 - Implicação Operacional 1

ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO PARA LIDAR COM A INÉRCIA DO SONO

A possibilidade de ocorrência da inércia do sono às vezes é usada como um argumento contra os cochilos no ambiente de trabalho. Isso ocorre porque não é desejável que um indivíduo, em tendo sido acordado para atender a uma emergência, tenha seu desempenho operacional prejudicado pela inércia do sono.

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O risco da inércia do sono pode ser reduzido pela aplicação de um protocolo de retorno ao trabalho que estabeleça tempo suficiente para a inércia do sono se dissipar (consulte a Implicação Operacional 5: O Cochilo como Mitigação da Fadiga). Sugere-se que sejam permitidos ao menos de 10 a 15 minutos, antes de o controlador reiniciar o trabalho ativo.

2.1.6.7 Fatores que Afetam a Qualidade do Sono

2.1.6.7.1 A qualidade do sono, ou seja, seu efeito restaurador, depende do período de sono conter ciclos ininterruptos de sono Não REM/REM. Isso sugere que ambos os tipos de sono são necessários e que um não é mais importante do que o outro. Quanto mais o ciclo Não REM/REM é fragmentado (quando o indivíduo acorda ou se agita, o que move o cérebro para um estágio mais leve do sono sem realmente acordar), menor o seu valor restaurador, em termos de como o indivíduo se sente e funciona no dia seguinte.

Quadro 2 - Implicação Operacional 2

PROCEDIMENTOS PARA MINIMIZAR AS INTERRUPÇÕES DO SONO

Os ciclos de sono Não REM/REM ininterruptos são a chave para o sono de boa qualidade. Por esse motivo, devem ser elaborados procedimentos para minimizar possíveis interrupções durante os turnos de trabalho e de não trabalho. Todo o pessoal operacional deve ser informado a respeito desses procedimentos, para garantir que um indivíduo que esteja durante um período de sono protegido não seja acordado ou chamado desnecessariamente. Por exemplo, um contato para notificar um controlador, que saiu de um turno noturno de trabalho, sobre uma mudança na escala, não deve ocorrer durante o início da tarde, ou durante a noite, ou ainda na manhã seguinte, de forma a preservar o sono restaurador.

Para obter mais informações sobre os procedimentos para proteger o sono de um indivíduo durante o sobreaviso, consulte a Implicação Operacional 4: Protocolos para o Sobreaviso.

Para obter mais informações sobre procedimentos para proteger o cochilo de um controlador durante os períodos de trabalho, consulte a Implicação Operacional 5: O Cochilo como forma de Mitigação da Fadiga Humana.

2.1.6.7.2 Influência da Idade na Qualidade do Sono

2.1.6.7.2.1 Ao longo da idade adulta, o sono muda significativamente. Em um estudo com 2.685 homens e mulheres entre 37 e 92 anos, verificou-se que nos homens a quantidade de tempo despendido no sono de ondas lentas (SWS) diminuiu com a idade e a quantidade de tempo nos estágios mais leves do sono aumentou. Essa mudança foi vista principalmente em homens, havendo pouca mudança nos estágios do sono com o aumento da idade para as mulheres. A qualidade do sono também diminui com a idade, quando medida pela quantidade de tempo acordado durante uma noite de sono.

2.1.6.7.2.2 Ainda não está claro se essas mudanças nas características do sono relacionadas ao envelhecimento reduzem sua eficácia na restauração das funções de vigília. Os estudos laboratoriais, que interrompem experimentalmente o sono, são tipicamente conduzidos com adultos jovens.

2.1.6.7.2.3 Nos ambientes de aviação, a experiência profissional pode ajudar a reduzir risco potencial de fadiga, já que os controladores aprendem com o tempo a gerenciar o sono em diferentes turnos e padrões de trabalho.

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2.1.6.7.2.4 Do ponto de vista científico e prático, a idade não é um aspecto específico a ser considerado em termos de gerenciamento da fadiga.

2.1.6.7.3 Distúrbio do Sono

2.1.6.7.3.1 Os diversos tipos de distúrbios do sono podem reduzir a quantidade e a qualidade do sono, já que impossibilitam a obtenção de sono restaurador, mesmo quando as pessoas passam tempo suficiente na cama tentando dormir.

2.1.6.7.3.2 Os distúrbios do sono representam um risco real para os controladores de tráfego aéreo, pois, além de dificultarem o sono restaurador, o trabalho em escalas naturalmente impõe restrições nas horas disponíveis para dormir.

2.1.6.7.3.3 Os treinamentos em gerenciamento do risco à fadiga devem incluir informações sobre os distúrbios do sono e seus tratamentos, onde procurar ajuda se necessário, além de quaisquer requisitos relacionados à necessidade de se apresentarem aptos e íntegros para a operação.

2.1.6.7.4 Cafeína, Nicotina e Álcool

2.1.6.7.4.1 A cafeína, a nicotina e o álcool interferem na qualidade do sono. A cafeína (no café, chá, bebidas energéticas, refrigerantes, chocolate e em alguns medicamentos de venda livre) estimula o cérebro, tornando mais difícil adormecer e interferindo na qualidade do sono. Algumas pessoas são mais sensíveis aos efeitos da cafeína do que outras, mas mesmo aqueles que estão acostumados a beber muito café terão um sono mais leve e mais agitado se beberem café perto da hora de dormir (embora possam não notar). A nicotina nos cigarros também é um estimulante e afeta o sono de maneira semelhante.

2.1.6.7.4.2 O álcool, por outro lado, aumenta a propensão ao sono, mas também perturba a qualidade do sono. Enquanto o corpo está processando álcool o cérebro não consegue obter o sono REM (a uma taxa de aproximadamente uma bebida padrão por hora). A pressão pelo sono REM aumenta e, como consequência, o sono noturno geralmente contém períodos REM mais intensos. Como consequência, o sono é mais agitado (por causa do sono REM).

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Quadro 3 - Implicação Operacional 3

USO DA CAFEÍNA COMO ESTRATÉGIA DE MITIGAÇÃO

A cafeína pode ser útil para reduzir temporariamente a sonolência no trabalho, pois bloqueia uma substância química no cérebro (adenosina) que aumenta a sonolência. A cafeína leva aproximadamente 30 minutos para fazer efeito e pode durar até 5 horas (mas as pessoas diferem amplamente em o quão sensíveis são à cafeína e por quanto tempo os efeitos duram).

Para utilizar a cafeína como estratégia de mitigação da Fadiga e obter o máximo benefício do seu uso:

- pode-se usá-la antes de um período do dia que normalmente está mais associado à fadiga e sonolência, como, por exemplo, as primeiras horas da manhã;

- deve-se evitá-la quando o estado de alerta do indivíduo é alto, como, por exemplo, no início de um turno de serviço; e

- deve-se usá-la em momentos em que se espera que o nível de sonolência seja alto, como, por exemplo, no final de um longo período de trabalho ou de acordo com o relógio biológico circadiano, quando a sonolência é maior.

É importante lembrar que a cafeína não anula a necessidade de dormir e só deve ser usada como estratégia de curto prazo.

2.1.6.7.5 Fatores do Ambiente

2.1.6.7.5.1 Os fatores ambientais também podem interferir na qualidade do sono. Alguns aspectos relevantes a serem considerados são:

a) A luz brilhante aumenta o estado de alerta (e pode ser uma contramedida de curto prazo para aliviar temporariamente a fadiga no ambiente de trabalho);

b) É muito mais fácil dormir em um quarto escuro. Cortinas pesadas ou uma máscara podem ser usadas para bloquear a luz;

c) Sons repentinos também perturbam o sono. Os sons do ambiente podem ser mascarados usando-se um ruído branco de fundo, como, por exemplo, ligar um ventilador ou o ar-condicionado;

d) Adormecer exige ser capaz de baixar a temperatura corporal (perdendo calor através das extremidades), por isso é mais fácil dormir se o quarto estiver mais fresco do que quente. Para a maioria das pessoas 18-20° C é a temperatura ambiente ideal para o sono;

e) Uma superfície confortável, em que o corpo fique totalmente esticado, também é importante para a qualidade do sono.

2.1.6.7.6 Qualidade do Sono no trabalho

2.1.6.7.6.1 Estudos com tripulantes de voo e com controladores de tráfego aéreo que realizam um sono planejado no trabalho mostram que esse sono é mais leve e mais agitado do que o esperado.

2.1.6.7.6.2 No entanto, há boas evidências de que os cochilos no trabalho melhoram o alerta e a velocidade de reação e são uma valiosa estratégia de mitigação no gerenciamento da fadiga.

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2.1.6.7.6.3 Tentar dormir em locais diferentes ou sob circunstâncias diferentes pode ter consequências para a qualidade do sono. Um estudo realizado com controladores de tráfego aéreo durante um sono planejado no local de trabalho, no turno da noite, mostrou que em parte do tempo disponível para dormir o controlador se manteve acordado, e que o tipo de sono alcançado foi o sono leve Não REM (apesar de o sono ter ocorrido em um momento ideal do ciclo circadiano). Os ATCO também relataram que acharam moderadamente difícil adormecer e que a qualidade do cochilo foi relativamente ruim.

2.1.6.7.6.4 Embora o sono fosse mais leve e mais perturbado do que o esperado, descobriu-se que o cochilo efetivamente melhorou o alerta e a velocidade de reação dos ATCO no final do turno da noite. Esse estudo, assim como outros em diferentes cenários, mostra que os cochilos são uma valiosa estratégia de mitigação no gerenciamento da fadiga (consulte a Implicação Operacional 5: O Cochilo como Forma de Mitigação da Fadiga Humana).

2.1.6.7.7 Qualidade do Sono no Sobreaviso

2.1.6.7.7.1 O sono também pode ser agitado se houver a expectativa de ser acordado e chamado de volta ao trabalho, a qualquer momento.

2.1.6.7.7.2 Um estudo de laboratório comparou o sono de pessoas que foram informadas que poderiam ser acordadas durante a noite para responder a um ruído com o sono dessas mesmas pessoas em outra noite, quando não receberam nenhum tipo de instruções. Nesse estudo, o ruído nunca ocorreu, então, em nenhum momento, o sono não foi perturbado por fatores externos. Mesmo assim, os resultados mostraram que as pessoas demoraram mais para dormir e passaram mais tempo acordadas durante a noite, quando havia a expectativa de serem acordadas.

2.1.6.8 Os Impactos da Vigília Estendida

2.1.6.8.1 Quanto mais tempo um indivíduo permanece acordado, mais degradado será seu estado de alerta e seu desempenho. Isso se dá devido a um aumento da pressão homeostática para o sono, associada ao tempo de vigília. O sono é a única maneira de reverter isso.

2.1.6.8.2 O National Transportation Safety Board dos EUA examinou a relação entre tempo de vigília e os erros em 37 acidentes com aeronaves (1978-1990), em que ações ou inações de tripulações de voo foram fatores causais ou contribuintes. O tempo de vigília médio no momento do acidente foi de 12 horas para os copilotos e de 11 horas para os comandantes. Seis tripulações foram classificados como tempo de vigília baixo (tanto os copilotos quanto os comandantes estavam abaixo da mediana) e seis tripulantes foram classificados como tempo de vigília alto (tanto os copilotos quanto os comandantes estavam acima da mediana). Para as equipes de baixo tempo de vigília, o tempo médio de vigília foi de 5,3 horas para os copilotos e 5,2 horas para os comandantes. Para equipes de tempo de vigília alto, o tempo médio de vigília foi de 13,8 horas para os copilotos e 13,4 horas para os comandantes. No geral, as equipes com tempo de vigília alto cometeram cerca de 40% mais erros do que as equipes de tempo de vigília baixo (12,2 contra 8,7 erros), principalmente devido a mais erros de omissão (ligados à atenção). Em termos de tipos de erros, as equipes com tempo de vigília alto cometeu significativamente mais erros processuais e erros de decisão tática do que as tripulações com tempo de vigília baixo.

2.1.6.8.3 Com os controladores de tráfego aéreo, pessoal de manutenção de aeronaves e equipe técnica de voo, a pesquisa demonstrou que o cochilo durante um período de trabalho pode melhorar o desempenho e/ou estado de alerta.

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Quadro 4 - Implicação Operacional 4

PROTOCOLOS PARA SOBREAVISO EM CASA OU NO LOCAL DE TRABALHO

Embora os indivíduos que estejam trabalhando em funções de sobreaviso em casa ou no local de trabalho não tenham certeza de que serão acionados, ainda assim os princípios científico devem ser aplicados.

É importante estabelecer protocolos para os períodos de trabalho fora da escala de serviço, com o objetivo de:

Minimizar interrupções durante os períodos circadianos, quando é mais provável que os indivíduos estejam dormindo (a influência dos ciclos circadianos no desempenho são amplamente discutidos no item 2.1.8 , Efeitos dos Ciclos Circadianos sobre o Sono e sobre o Desempenho).

Durante os períodos de sobreaviso em casa ou no local de trabalho haverá momentos em que é mais provável que o indivíduo esteja dormindo. Portanto, durante esses horários, deve-se evitar ao máximo interrupções, como chamadas de telefone não urgentes do trabalho.

Minimizar o número de horas contínuas de vigília antes e durante os períodos de trabalho não planejados.

Quando a probabilidade de realmente acontecer o acionamento for alta, é desejável que seja estabelecido um período mínimo de antecedência para o acionamento, de forma que o indivíduo possa se planejar para obter algum período de sono antes. Se os períodos mínimos de notificação não forem operacionalmente viáveis e o operador tiver que trabalhar por um período longo ou se for acionado no final do dia ou durante a noite, os cochilos poderão reduzir o aumento da pressão por sono durante as horas de vigília prolongadas. Deve ser considerada a instalação de locais apropriados para o sono ou cochilo e o estabelecimento de protocolos para os cochilos controlados (consulte a Implicação Operacional 5: Cochilo como uma Estratégia de Mitigação de Fadiga).

Elaborar uma escala de serviço com algum nível de previsibilidade.

Os indivíduos podem manter um nível de alerta melhor se tiverem uma ideia geral do que se espera deles. Portanto, a hora do dia para o potencial acionamento deve ser previsível e consistente, e o número de dias consecutivos que um indivíduo pode estar sujeito a atribuição de trabalho fora da escala de serviço deve ser limitado. Essa medida fornece algum nível de consistência nas escalas de serviço e permite que os indivíduos se planejem e administrem seus períodos de sono.

Quadro 5 - Implicação Operacional 5

O COCHILO COMO ESTRATÉGIA DE MITIGAÇÃO DA FADIGA

Se uma pessoa estiver acordada por um período longo de tempo ou se não tiver tido uma noite de sono adequada por um ou mais dias, sempre será melhor obter um pouco de sono do que nenhum.

O cochilo controlado é uma estratégia de mitigação que pode ajudar o controlador a manter o nível de alerta e o desempenho operacional a curto prazo, até que seja possível um sono adequado.

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O cochilo controlado não deve ser usado como um meio para aumentar a extensão do período de trabalho, o que exigiria um período de sono mais longo e a provisão de um ambiente adequado (dormitório).

Cochilo antes do trabalho: Quando um turno de serviço começa mais tarde no dia (por exemplo, turno noturno ou pernoite), um cochilo antes do início do trabalho irá reduzir o período contínuo de vigília e ajudar a manter o desempenho e o alerta durante o período de trabalho. Verificou-se que o cochilo antes do trabalho não reduz a quantidade de sono obtido durante o descanso no pernoite, mas ajuda a chegar até lá com mais integridade.

Cochilo Controlado durante um período de serviço: Um cochilo controlado durante um período de trabalho pode ajudar a manter o desempenho durante períodos de trabalho prolongados ou durante os períodos de trabalho noturnos. Como esses cochilos são controlados, dependerão do contexto e do local em que ocorrerão (por exemplo, para ATCO: no órgão ATC ou em instalações de repouso separadas; para pilotos de linha aérea: em instalações designadas de descanso da tripulação ou no convés de voo (descanso controlado); para pilotos da Aviação Geral: na aeronave ou no chão). O tempo do cochilo controlado dependerá em grande parte do tempo que o controlador terá disponível longe do trabalho, mas deve permitir tempo suficiente para que os indivíduos adormeçam (as pessoas podem levar mais tempo que o habitual para adormecer nessas circunstâncias) e tempo suficiente depois de acordar antes de reiniciar as tarefas, para garantir que a inércia do sono tenha se dissipado (consultar Implicação Operacional 1: Mitigação estratégica para inércia no sono).

Se o cochilo for aplicado durante um período de serviço, é necessário estabelecer protocolos específicos para garantir a integridade operacional e operações seguras, para isso a utilização do Protocolo de Cochilo Controlado é fundamental. Um exemplo de Protocolo de Cochilo Controlado está disponível no Anexo A desta Norma.

Outro aspecto crítico é que os indivíduos sejam orientados a não deixar de se preparar para o trabalho. Ou seja, que eles não durmam menos antes do trabalho noturno porque assumem que vão poder tirar um cochilo controlado durante o trabalho, nesses casos o benefício geral de permitir a cochilo poderá ser negado.

O uso do Protocolo de Cochilo Controlado e a permissão de utilizar o cochilo controlado como estratégia de mitigação da fadiga é uma decisão de cada órgão ATC. Além disso, o órgão ATC precisa prover instalações adequadas para que o cochilo controlado atinja seu objetivo de mitigar a fadiga.

2.1.7 PRINCÍPIO CIENTÍFICO 2 – A PERDA E A RECUPERAÇÃO DO SONO

2.1.7.1 Reduzir a quantidade ou a qualidade do sono, mesmo que por uma única noite, diminui a capacidade de ativar as funções básicas humanas e aumenta a sonolência no dia seguinte.

2.1.7.2 Mesmo para as pessoas que têm sono de boa qualidade, a quantidade de sono é muito importante para restaurar as funções do estado de vigília.

2.1.7.3 Estudos sobre Restrição do Sono em Laboratório

Numerosos estudos de laboratório analisaram os efeitos de se “Cortar” o sono à noite por uma ou duas horas (conhecido como restrição do sono). Perder apenas duas horas de sono em uma

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noite já possui o potencial de reduzir o estado de alerta no dia seguinte e degradar o desempenho em muitos tipos de tarefas.

2.1.7.3.1 Os -Dependente da Restrição de Sono

2.1.7.3.1.1 Os efeitos da restrição de sono, noite após noite, se acumulam, de modo que as pessoas se tornam progressivamente menos alertas e menos funcionais a cada dia que passa.

2.1.7.3.1.2 Esse efeito é descrito como débito acumulado de sono, que pode ocorrer na aviação quando:

a) são planejados períodos mínimos de não trabalho em vários dias consecutivos de trabalho; ou

b) o horário de início e/ou de fim dos turnos se sobrepõe aos horários normais de sono, durante vários dias seguidos.

2.1.7.3.1.3 Os efeitos da restrição do sono, noite após noite, se acumulam. Quanto menos sono por noite, mais rápida a degradação do desempenho.

2.1.7.3.1.4 Quanto menor o tempo disponível para o sono a cada noite que passa, mais rápido o declínio do estado de alerta e do desempenho operacional. Por exemplo, em um estudo de laboratório descobriu-se que gastar 7 horas na cama por 7 noites consecutivas não foi suficiente para evitar um progressivo abrandamento no tempo de reação. O declínio foi mais rápido para o grupo de participantes que passou apenas 5 horas na cama a cada noite, e ainda mais rápido para o grupo que passou apenas 3 horas na cama cada noite. Esse fenômeno é descrito como um efeito dose-dependente da restrição de sono.

Figura 4 - Impacto dos diferentes tempos de sono noturno no desempenho durante a vigília

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2.1.7.3.2 Alguns Tipos de Tarefas são Mais Afetadas que Outras

2.1.7.3.2.1 O sono em quantidade insuficiente afeta muitas facetas do funcionamento cognitivo, mas os efeitos mais críticos são encontrados quando a tarefa requer velocidade de processamento mental e atenção.

2.1.7.3.2.2 Alguns estudos de imagem cerebral sugerem que as regiões do cérebro envolvidas em tarefas mentais mais complexas, como, por exemplo, antecipar eventos, planejar e determinar cursos relevantes de ação, particularmente em situações novas, são as mais afetadas pela perda de sono e têm a maior necessidade de sono para recuperar sua função normal.

2.1.7.3.3 Como Você Funciona versus Como Você se Sente

2.1.7.3.3.1 Após vários dias de restrição de sono, as pessoas se tornam pouco precisas em julgar seu próprio estado de alerta e desempenho.

2.1.7.3.3.2 Nos primeiros dias de severa restrição do sono (por exemplo, 3 horas de sono), as pessoas estão cientes de que estão ficando progressivamente mais sonolentas. No entanto, depois de vários dias elas passam a não notar mais nenhuma diferença em si, mesmo que a capacidade de se manter alerta e o desempenho continuem a diminuir. Em outras palavras, com o acúmulo progressivo da restrição de sono, as pessoas tornam-se cada vez menos confiáveis em avaliar seu próprio estado funcional.

2.1.7.3.3.3 Nesses casos, os testes, tanto objetivos quanto subjetivos, são úteis no gerenciamento da fadiga. Testes objetivos de medição da fadiga e sonolência são considerados mais confiáveis para medir o nível de degradação relacionado à fadiga.

2.1.7.3.4 O Sono Pode se Tornar Incontrolável

2.1.7.3.4.1 A Sonolência eventualmente torna-se t o “esmagadora”, que resulta em um microssono incontrolável.

2.1.7.3.4.2 A pressão pelo sono aumenta progressivamente com a sucessão dos dias com restrição de sono. Eventualmente, essa pressão torna-se t o “esmagadora” que as pessoas podem adormecer incontrolavelmente por breves períodos, conhecidos como microssonos. Durante um microssono, o cérebro se desconecta do ambiente, ele para o processamento visual das informações e dos sons.

2.1.7.3.5 Algumas Pessoas são Mais Afetadas pela Perda de Sono do que Outras

2.1.7.3.5.1 Os indivíduos variam amplamente em suas capacidades de tolerância à perda de sono. Pelo menos em laboratório, algumas pessoas demonstraram ser mais resistentes aos efeitos da restrição de sono do que outras (diferenças interindividuais). Atualmente, há muito esforço de pesquisa destinado a tentar entender por que isso acontece, mas ainda é muito cedo para isso ser aplicado no gerenciamento de fadiga (por exemplo, recomendando diferentes estratégias de mitigação individual para pessoas que são mais ou menos afetadas pela restrição do sono).

2.1.7.3.6 Recuperação dos Efeitos da Restrição de Sono

2.1.7.3.6.1 A recuperação do padrão normal de sono após um débito acumulado de sono leva pelo menos duas noites de sono irrestrito. O sono irrestrito é aquele em que o indivíduo acorda naturalmente, sem a ajuda de despertador e sem limitação de hora.

2.1.7.3.6.2 A restrição prolongada de sono pode ter efeitos no cérebro que podem continuar afetando o estado de alerta por dias ou até semanas depois.

2.1.7.3.6.3 Os estudos em laboratórios disponíveis ainda não dão uma resposta clara à questão de quanto tempo os indivíduos levam para se recuperar desses efeitos. No entanto, as seguintes conclusões são confiáveis:

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a) O sono perdido não é recuperado hora por hora, embora o sono de recuperação possa ser ligeiramente mais longo que o sono normal noturno;

b) São necessárias pelo menos duas noites consecutivas de sono irrestrito para que o ciclo de sono Não REM/REM se normalize; e

- Normalmente, na primeira noite de recuperação, ocorrerá mais de sono de ondas lentas, mas isso pode limitar o tempo disponível para o sono REM.

- Na segunda noite de recuperação, o cérebro alcança o sono REM.

- A recuperação do ciclo normal Não REM/REM pode levar mais tempo se a recuperação do sono não ocorrer no período noturno, ou se o indivíduo não estiver adaptado ao fuso horário local.

c) Se a restrição do sono persistir durante várias noites, a recuperação do estado de alerta e do desempenho exigirá mais do que duas noites consecutivas de sono irrestrito.

- Três oportunidades de sono noturno, de 8 horas, não são suficientes para se recuperar de 7 noites de sono restritos a 7 horas por noite.

- Também foi demonstrado que prolongar o sono para 10 horas por uma noite não é suficiente para se recuperar dos efeitos cumulativos de 5 noites de sono restritos a 4 horas por noite.

2.1.7.3.6.4 Durante a restrição de sono de nível baixo, mas prolongada, pode ser que o cérebro de alguma forma reconfigure a maneira como ele gerencia as tarefas, para que o indivíduo possa se adaptar, estabelecendo-se em um nível estável, mas abaixo do ideal, de alerta e desempenho. No entanto, os estudos sugerem que o retorno ao desempenho ideal pode ser um processo lento. Para isso, períodos mais longos de folga, como férias anuais, podem ser importantes para a recuperação total.

2.1.7.3.6.5 A recuperação do alerta e do desempenho depois do débito de sono acumulado pode demorar mais do que duas noites de sono irrestrito.

Quadro 6 - Implicação Operacional 6

PERMITIR A RECUPERAÇÃO POR MEIO DO SONO

Como os efeitos da restrição do sono são acumulativos, as escalas de serviço devem ser elaboradas para permitir oportunidades periódicas de recuperação mais extensas. As oportunidades de recuperação precisam ocorrer com mais frequência quando a restrição diária de sono é maior, devido ao acúmulo mais rápido da fadiga.

A recomendação habitual para uma oportunidade de recuperação é proporcionar no mínimo duas noites consecutivas de sono sem restrições. Isso não significa estar necessariamente 48 horas fora da escala de serviço. Uma interrupção de 48 horas a partir da meia-noite, por exemplo, não permitirá, para a maioria das pessoas, duas noites consecutivas de sono irrestrito (a maioria das pessoas vai dormir antes da meia-noite). Por outro lado, um intervalo de 40 horas, começando às 20h, permitirá à maioria das pessoas duas noites consecutivas de sono irrestrito.

2.1.7.3.7 O Valor da Recuperação do Sono Dividido

2.1.7.3.7.1 O sono dividido (um curto período de sono à noite e outro curto período de sono durante o dia) é comum em alguns tipos de operações de aviação. Um padrão comum de escala no

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controle de tráfego aéreo é um turno matutino seguido por um turno noturno com um intervalo de descanso curto de 8-9 horas no meio. Nesses casos, o sono da noite anterior ao turno da manhã é muitas vezes curto e um cochilo é obtido entre os turnos da manhã e da noite.

2.1.7.3.7.2 Estudos laboratoriais sugerem que ter um período de sono restrito durante a noite e um cochilo durante o dia tem valor de recuperação equivalente a uma quantidade total idêntica de sono, tirada em uma única noite. No entanto, há de se considerar que estes são estudos de curto prazo que ocorrem em ambientes laboratoriais escuros e silenciosos, sem distrações, e os participantes estão totalmente adaptados ao fuso horário. Essas condições nem sempre se aplicam em operações 24 horas por dia, 7 dias por semana, portanto, é necessário considerar cuidadosamente antes de aplicar os resultados para o pessoal da aviação.

2.1.7.3.7.3 Uma vantagem importante do sono dividido é que ele reduz o tempo em que um indivíduo está continuamente acordado.

2.1.7.4 Restrição do Sono a Longo Prazo e Consequências na Saúde

2.1.7.4.1 O sono curto crônico pode ter efeitos negativos na saúde das pessoas a longo prazo. As evidências de estudos de laboratório e de estudos epidemiológicos que rastreiam o sono e a saúde de um grande número de pessoas ao longo do tempo indicam que as pessoas que relatam uma média de menos de 7 horas de sono por noite correm maior risco de se tornarem obesas e desenvolver diabetes do tipo 2 e doença cardiovascular.

2.1.7.4.2 Ainda há um debate sobre se o sono curto habitual realmente contribui para esses problemas de saúde ou se está apenas associado a eles. O que está claro é que a boa saúde depende não só de uma boa dieta e de exercícios físicos regulares, mas também de dormir o suficiente, regularmente. O sono não pode ser sacrificado sem consequências para a saúde.

2.1.8 PRINCÍPIO CIENTÍFICO 3 – EFEITOS DO CICLO CIRCADIANO NO SONO E NO DESEMPENHO HUMANO

2.1.8.1 O relógio biológico circadiano afeta a quantidade e a qualidade do sono e produz altos e baixos no desempenho, em várias tarefas.

2.1.8.2 Dormir à noite não é apenas uma convenção social. Está programado pelo nosso relógio biológico circadiano, uma antiga adaptação da vida à rotação de 24 horas do nosso planeta.

2.1.8.3 O relógio biológico circadiano é um marca-passo no cérebro, sensível à luz através de uma via de entrada, por meio de células especializadas na retina dos olhos (separados da visão), que percebem a variação de luminosidade no ambiente.

2.1.8.4 Como outros mamíferos, temos um relógio mestre circadiano localizado em um pequeno aglomerado de células (neurônios) no fundo do cérebro. As células que compõem o relógio mestre são intrinsecamente rítmicas, gerando sinais elétricos mais rápidos durante o dia do que durante a noite. No entanto, eles têm a tendência de produzir um ciclo global que é um pouco lento. Para a maioria das pessoas, o “dia biológico” gerado pelo relógio principal é ligeiramente maior que 24 horas.

2.1.8.5 O relógio biológico circadiano programa os humanos para a vigília diurna e a sonolência noturna.

2.1.8.6 Esse relógio mestre, também conhecido como relógio biológico circadiano, recebe informações sobre a intensidade da luz através de uma conexão direta de células especiais na retina dos olhos (este caminho especial de entrada de luz não está envolvido com a visão). Ser sensível à

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luz permite que o relógio biológico circadiano fique em sintonia com o ciclo dia/noite. No entanto, também cria problemas para aqueles que precisam dormir fora do ritmo do ciclo dia/noite, ou quem tem que voar através dos fusos horários e experiencia mudanças repentinas no ciclo dia/noite.

2.1.8.6.1 Outras partes do cérebro e alguns outros órgãos, incluindo fígado, rins e intestinos, contêm osciladores periféricos que geram seus próprios ritmos circadianos locais. De fato, cada célula do corpo contém os “genes do relógio” que são o maquinário molecular para gerar ritmos circadianos. O relógio biológico circadiano no núcleo supraquiasmático está no topo de uma hierarquia, mantendo os ritmos em outras partes do cérebro e do corpo em sintonia com o ciclo dia/noite e entre si.

2.1.8.7 Exemplos de Ritmos Circadianos

2.1.8.7.1 Não é possível medir diretamente a atividade elétrica do relógio biológico circadiano no Sistema Nervoso Central (SNC) dos seres humanos. No entanto, muitos ritmos circadianos, em termos de fisiologia e comportamento, podem ser medidos como uma forma de rastrear indiretamente o ciclo do relógio biológico circadiano.

2.1.8.7.2 A temperatura corporal central é frequentemente utilizada como um ritmo de marcação para o ciclo do relógio biológico circadiano porque é relativamente estável e fácil de monitorar. No entanto, nenhum ritmo mensurável é um marcador perfeito do ciclo do relógio biológico circadiano. Por exemplo, mudanças no nível de atividade física também causam alterações na temperatura corporal.

2.1.8.7.3 O relógio biológico circadiano afeta todos os aspectos do funcionamento do ser humano, resultando em ciclos de alto e baixo desempenho.

2.1.8.8 Regulação do Sono: O Relógio Biológico Circadiano e o Processo Homeostático do Sono

2.1.8.8.1 O relógio biológico circadiano é um dos principais processos que regulam o tempo e a qualidade do sono. O outro refere-se ao processo homeostático do sono, que será descrito em mais detalhes abaixo.

2.1.8.8.2 O relógio biológico circadiano tem conexões com centros de promoção do sono e despertar no cérebro, modulado por ele, para controlar o ciclo de sono/vigília. Também influencia o tempo e a quantidade de sono REM. Logo após atingir a temperatura corporal mínima, o cérebro vai rapidamente para o sono REM e permanece nele por mais tempo do que em qualquer outro momento no ciclo do relógio biológico circadiano. Isso às vezes é descrito como um ritmo circadiano na “propensão do sono REM”. Assim, durante uma noite normal de sono, os períodos mais longos de sono REM ocorrem nos últimos ciclos Não REM, próximos à manhã (veja Figura 3 – Ciclo Não REM/REM de sono noturno em um adulto jovem e saudável).

2.1.8.8.3 O relógio biológico circadiano exerce forte influência sobre o sono, criando janelas de promoção do sono e janelas quando o sono não é promovido.

2.1.8.8.4 A Figura abaixo demonstra a relação entre o sono normal à noite e o ciclo do relógio biológico circadiano, destacando as seguintes relações:

a) O sono normalmente começa cerca de 5 horas antes temperatura corporal mínima;

b) O despertar normalmente ocorre cerca de 3 horas após temperatura corporal mínima;

c) A propensão ao sono REM (a curva tracejada) atinge o pico logo após a temperatura corporal mínima;

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d) À medida que a temperatura corporal começa a subir, o relógio biológico circadiano envia um sinal cada vez mais forte ao centro cerebral de promoção da vigília, às vezes chamado de “sinal de alerta circadiano”. Cerca de 3 horas depois de acordar a pressão homeostática para o sono é baixa e o sinal de alerta circadiano é forte o suficiente para tornar muito difícil adormecer ou permanecer dormindo. Às vezes, isso é chamado de despertador interno;

e) O sinal de alerta circadiano é mais forte antes da hora normal de dormir, por isso é muito difícil adormecer algumas horas mais cedo do que o habitual. Essa parte do ciclo do rel gio biol gico circadiano é con ecida como “ ona de manutenção da vigília noturna”.

Figura 5 - Relações entre o sono e o ciclo do relógio biológico circadiano rastreado pelo ritmo circadiano da temperatura corporal central.

2.1.8.8.5 O período do ciclo do relógio biológico circadiano, quando a temperatura corporal diária está em torno da mínima, é quando as pessoas geralmente sentem mais sono e são menos capazes de reali ar tarefas mentais e físicas. sse período é c amado de “ anela de aixa do Ciclo Circadiano” ( OC ).

2.1.8.8.6 O segundo processo que regula a quantidade e a qualidade do sono é o processo homeostático do sono.

2.1.8.8.7 Esse processo pode ser resumido como: a necessidade de sono se acumula no seu cérebro enquanto você está acordado e a única maneira de descarregar essa pressão é dormindo. O processo homeostático pode ser rastreado pela quantidade de ondas lentas de sono (SWS).

2.1.8.8.8 Durante a vigília, a pressão pelo sono de ondas lentas (SWS) aumenta. Quanto mais tempo você estiver acordado, maior a quantidade de sono de ondas lentas você terá nos primeiros ciclos Não REM/REM, na próxima vez em que o indivíduo dormir.

2.1.8.8.9 Durante o sono, a quantidade de ondas lentas (SWS) diminui em cada subsequente ciclo Não REM/REM. Em outras palavras, a pressão para o sono de ondas lentas é descarregada durante o período de sono.

2.1.8.8.10 Para o sono, descarregar a pressão homeostática parece ser prioridade. O sono de ondas lentas (SWS) é sempre maior nos primeiros ciclos Não REM/REM, independentemente de quando esse sono ocorre no ciclo do relógio biológico circadiano.

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2.1.8.8.11 O relógio biológico circadiano e o processo homeostático do sono interagem para produzir dois períodos de pico de sonolência em 24 horas.

2.1.8.8.12 A sonolência é maior quando as pessoas estão acordadas durante a Janela da Baixa do Ciclo Circadiano (WOCL), o que ocorre por volta das 3-5 horas da manhã para a maioria das pessoas em rotina normal com o sono à noite.

2.1.8.8.13 A sonolência aumenta novamente no início da tarde, s ve es c amada de “ anela de onolência da Tarde”, por volta de -17h horas para a maioria das pessoas. O sono restrito durante

a noite torna mais difícil ficar acordado durante a Janela de Sonolência da Tarde seguinte.

2.1.8.8.14 O timing dos dois picos de sonolência é diferente para as pessoas que são tipos matutinos (cujos ritmos circadianos e os períodos de sono preferidos ocorrem mais cedo do que a média) ou tipos vespertinos (cujos ritmos circadianos e períodos de sono preferidos ocorrem mais tardes do que a média).

2.1.8.8.15 Ao longo da adolescência, a maioria das pessoas se torna mais vespertina. Ao longo da idade adulta, a maioria das pessoas se torna mais matutina.

2.1.8.8.16 Os efeitos combinados da pressão homeostática do sono e do relógio biológico circadiano podem ser considerados como definidores das “ anelas de quando o sono é promovido” (os períodos matinais e vespertinos de pico de sonolência) e das “Janelas quando o sono não é promovido” (a hora do despertador interno no final da manhã e a zona de manutenção da vigília à noite).

2.1.8.9 Como a Luz Atua para Sincronizar o Relógio Biológico Circadiano

2.1.8.9.1 As células (neurônios) no relógio biol gico circadiano geram sinais elétricos “disparos” mais rapidamente durante o dia do que à noite. A exposição à luz aumenta efetivamente a taxa de células do relógio biológico circadiano.

2.1.8.9.2 Dependendo de quando a luz é recebida, há três resultados possíveis:

a) A luz da manhã encurta o ciclo do relógio biológico circadiano nesse ciclo (conhecido como avanço de fase);

b) A luz no meio do dia não altera o comprimento do ciclo do relógio biológico circadiano (nenhuma mudança de fase); ou

c) A luz à noite prolonga o ciclo de relógio biológico circadiano nesse ciclo (conhecido como atraso de fase).

2.1.8.9.3 A Figura abaixo mostra graficamente como essas diferentes respostas são possíveis. A linha sólida em cada painel representa o ritmo circadiano na taxa de disparo nas células do relógio biológico circadiano.

a) No painel esquerdo, a luz acelera a parte ascendente do ciclo do relógio biológico, levando a um avanço de fase;

b) No painel do meio, a luz não causa mudança de fase; e

c) No painel direito, a luz desacelera a parte de queda do ciclo do relógio biológico, levando a um atraso de fase.

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Figura 6 - Efeitos da luz no relógio biológico circadiano.

2.1.8.9.4 A luz brilhante causa mudanças maiores no ciclo do relógio biológico circadiano do que a luz fraca (dimmer), e o relógio biológico é particularmente sensível à luz azul.

2.1.8.9.5 Em resumo, para um indivíduo totalmente adaptado ao fuso horário local e que esteja dormindo regularmente à noite:

a) a exposição à luz, após o ponto baixo da temperatura circadiana pela manhã, resultará em um avanço de fase do ciclo do relógio biológico;

b) a exposição à luz no meio do dia terá um efeito mínimo sobre o ciclo do relógio biológico; e

c) a exposição à luz à noite antes do ponto da temperatura baixa circadiana resultará em atraso de fase do ciclo do relógio biológico.

2.1.8.9.6 A luz da manhã encurta o ciclo do relógio biológico circadiano e luz à noite alonga esse ciclo.

2.1.8.9.7 Em teoria, isso significa que apenas a quantidade certa de exposição à luz, na mesma hora, todas as manhãs aceleraria o ciclo do relógio biológico circadiano ligeiramente, apenas o suficiente para sincronizá-lo com exatamente 24 horas. Na prática, ficar em sintonia com o ciclo dia/noite é mais complexo que isso. Nas sociedades modernas e industrializadas, as pessoas vivenciam muitas exposições acidentais à luz, particularmente à luz exterior brilhante. Além disso, o relógio biológico circadiano é sensível a outras indicações de tempo do ambiente, por exemplo, seu ciclo também pode ser movido para trás ou para frente por episódios de atividade física.

2.1.8.9.8 A capacidade do rel gio circadiano de “travar” o ciclo dia noite de oras é uma característica da sua utilidade para a maioria das espécies, permitindo que sejam diurnas ou noturnas, conforme necessário, para aumentar sua capacidade de sobrevivência. No entanto, isso pode criar desafios para indivíduos envolvidos em operações 24/7 porque faz com que o relógio corporal circadiano resista à adaptação a qualquer padrão além de dormir à noite.

2.1.8.10 Trabalho em Turnos

2.1.8.10.1 Do ponto de vista da fisiologia humana, o trabalho por turnos pode ser definido como qualquer padrão de serviço que exija que um indivíduo esteja acordado durante o período no ciclo do relógio biológico circadiano, quando eles normalmente dormiriam se pudessem escolher seu próprio horário.

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2.1.8.10.2 Quanto mais o sono for deslocado da parte ideal do ciclo do relógio biológico circadiano, mais difícil se torna para os indivíduos obterem um sono adequado (ou seja, maior a probabilidade de sentirem a restrição do sono).

2.1.8.10.3 Por exemplo, indivíduos que trabalham à noite costumam estar de plantão durante a maior parte do tempo ideal para dormir. Isso acontece porque o relógio biológico circadiano está “travado” no ciclo dia/noite e não inverte sua orientação para promover o sono durante o dia, já que o indivíduo está acordado e trabalhando à noite.

Figura 7 - Relações entre sono após um trabalho noturno e o ciclo do relógio biológico circadiano.

2.1.8.10.4 Os turnos da manhã também causam consequências para o sono, já que o sono noturno anterior a ele é truncado. Ir dormir mais cedo na noite anterior não funciona para a maioria das pessoas por causa da ona de manuten o da vigília da noite, que dificulta “pegar” no sono. xistem vários estudos mostrando que em comparação com os turnos da tarde ou dia, os ATCO obtêm o menor tempo de sono antes dos turnos da manhã.

2.1.8.10.5 Além de obter um período de sono menor e de pior qualidade, há outras consequências para aqueles que trabalham em turnos. Um padrão alterado de trabalho e sono (se permanecer consistente ao longo de vários dias) fornece pistas para o relógio biológico circadiano se realinhar. Essas pistas do padrão de trabalho e sono entram em conflito com os estímulos luminosos que o relógio biológico circadiano está recebendo. Diferentes ritmos no corpo ficam fora de compasso, resultando numa ruptura circadiana. Como consequência, o indivíduo pode experimentar fadiga, piora no humor e mudanças no desempenho.

2.1.8.10.6 Velocidade e Direção da Rotação dos Turnos

2.1.8.10.6.1 Os padrões de rotação dos turnos podem ser classificados de acordo com a velocidade (rápida ou lenta) e a direção (para frente ou para trás).

2.1.8.10.6.2 Quando os períodos dos turnos de serviço mudam rapidamente de um dia para o outro (também conhecido como uma escala de rotação rápida), então o relógio biológico circadiano não chega a se adaptar ao padrão de trabalho e de descanso. A vantagem disso é que, nos dias de folga, o relógio biológico circadiano de um indivíduo ainda está alinhado com o ciclo normal de dia/noite e os sintomas dos distúrbios do ciclo circadiano são pequenos. A desvantagem dos turnos de rotação

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rápida é que, em determinados momentos, como no turno da noite, um indivíduo trabalhará quando sua pulsão circadiana de sonolência está alta e, por consequência, seu desempenho será mais baixo.

2.1.8.10.6.3 A escala de rotação lenta (por exemplo, uma semana de turnos pela manhã) é mais provável que resulte em alguma adaptação circadiana, no entanto, nos dias de folga, o indivíduo estará ligeiramente fora de alinhamento com o ciclo normal do dia/noite e haverá alguma necessidade de adaptação.

2.1.8.10.6.4 Os períodos dos turnos também podem girar para frente (cada turno ou conjunto de turnos sucessivos começando mais tarde do que a anterior, ex. manhã, tarde, turno da noite) ou para trás (cada turno sucessivo ou série de turnos começando mais cedo do que o anterior, ex. tarde, manhã, turno da noite). Pelo que sabemos sobre o relógio biológico circadiano, pode-se esperar que os turnos de rotação no sentido horário sejam preferíveis, pois o relógio circadiano normalmente fica um pouco lento, e este tipo de rotação facilita que os indivíduos possam ir dormir mais tarde e acordar um pouco mais tarde. No entanto, não há muita informação que dê suporte a isso.

2.1.8.10.6.5 De fato, um estudo em laboratório, cuidadosamente conduzido, comparou escalas de controle de tráfego aéreo, com turnos de rotação rápida, girando para frente e para trás, e não encontraram diferença na quantidade de sono obtida ou no desempenho dos indivíduos em qualquer um desses padrões.

2.1.8.10.6.6 No entanto, o que o estudo descobriu é que independentemente da direção do turno de rotação:

a) quanto menor a quantidade de sono obtida antes do turno da manhã, mais altas são as classificações de fadiga; e

b) ao final do turno da noite, o desempenho do ATCO é mais fraco.

2.1.8.10.6.7 O relógio biológico circadiano não é capaz de adaptar-se imediatamente a uma mudança nos horários de trabalho que ocorrem no trabalho por turnos e no trabalho noturno.

Quadro 7 – Implicação Operacional 7

REQUISITOS PARA A ELABORAÇÃO DE ESCALAS DE SERVIÇO

O horário perfeito para o corpo humano é realizando atividades diurnas e dormindo de forma irrestrita durante a noite. Qualquer outra configuração compromete a saúde humana.

Existem, no entanto, princípios gerais para a elaboração da escala de serviço, baseados na ciência da fadiga, que devem ser levados em consideração ao planejar os horários de serviço:

O rel gio biol gico circadiano n o se adapta completamente a orários alternados, como turnos rotativos ou trabalho noturno. Não há diferença clara entre a rotação no sentido horário versus anti-horário.

empre que um período de servi o se sobrep e ao tempo abitual de sono de um indivíduo, pode-se esperar que ele restrinja o sono. Por exemplo: início do turno muito cedo, finais de turno muito tarde e trabalho noturno.

uanto mais um período de trabal o se sobrep e ao período abitual de sono de um indivíduo, menor quantidade de sono o indivíduo provavelmente obterá. Trabalhar permanentemente no período natural de sono noturno é o pior caso.

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O serviço noturno também exige trabalhar durante o período do ciclo circadiano quando a capacidade de autoavaliação da fadiga é menor e o humor é pior, e por isso será necessário um esforço adicional para manter o estado de alerta e o desempenho. Cochilar antes e durante o turno de trabalho noturno é uma estratégia útil (discutida na Implicação Operacional 5: Cochilo como Mitigação da Fadiga).

O trabal o noturno também obriga o indivíduo a dormir mais tarde do que o normal no seu relógio biológico, logo, ele terá um tempo limitado para dormir antes que o sinal de alerta circadiano o acorde. Isso pode levar a um sono restrito após o turno noturno. Para proporcionar a oportunidade de sono mais longa possível, turnos noturnos devem ser agendados para terminarem o mais cedo possível e os indivíduos precisam dormir o mais rápido possível após o término do serviço.

A ona de manuten o da vigília noturna ocorre nas poucas oras antes da ora abitual de dormir. Isso torna muito difícil adormecer mais cedo do que o habitual, para se preparar para um turno cedo da manhã. Trabalhar nos primeiros turnos da manhã foram identificados como uma causa de sono restrito nas operações da aviação.

m períodos de servi o consecutivos que resultam em sono restrito, os indivíduos irão acumular débitos de sono e a deficiência relacionada a fadiga aumentará.

Para se recuperar de um débito de sono, os indivíduos precisam no mínimo de duas noites completas de sono irrestrito seguidas. A frequência dos períodos de descanso devem estar relacionados com a taxa de acúmulo de débito de sono.

2.1.9 PRINCÍPIO CIENTÍFICO 4 – A INFLUÊNCIA DA CARGA DE TRABALHO

2.1.9.1 A carga de trabalho pode ter impacto no nível de fadiga de um indivíduo. Baixa carga de trabalho pode deflagrar a sonolência fisiológica, enquanto a carga de trabalho elevada pode exceder a capacidade de um indivíduo fatigado. Logo, tanto as altas cargas de trabalho quanto as baixas podem contribuir para a fadiga.

2.1.9.2 A definição de fadiga da ICAO descreve a carga de trabalho como atividade “mental ou física” e recon ece que é uma causa potencial da fadiga.

2.1.9.3 A carga de trabalho é, no entanto, um conceito complexo e não existe definição universal ou maneira acordada de medi-la. Contudo, três aspectos da carga de trabalho são comumente identificados:

a) A natureza e quantidade de trabalho a ser realizado (incluindo o tempo na tarefa, a dificuldade e a complexidade da tarefa e a intensidade do trabalho);

b) Imposições/controle do tempo (incluindo se o tempo é guiado pelas demandas das tarefas, por fatores externos ou pelo próprio indivíduo); e

c) Fatores relacionados à capacidade de desempenho do indivíduo (por exemplo, experiência, nível de habilidade, esforço, histórico de sono e fase circadiana).

2.1.9.4 Os fatores que contribuem para a carga de trabalho e as consequências da carga de trabalho precisam ser considerados para cada tipo de operação que está sendo regulada. Provavelmente serão muito diferentes em uma situação operacional em comparação com outra. Por exemplo, a natureza da carga de trabalho será muito diferente no controle de tráfego aéreo em comparação com a tripulação de voo, mas também diferentes em um Centro de Controle de Área (ACC) em comparação com uma Torre de Controle (TWR) ou em um Controle de Aproximação (APP).

2.1.9.5 Na maioria dos tipos de operações, há uma aceitação bastante ampla do conceito de que

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níveis intermediários de carga de trabalho contribuem menos para a degradação do desempenho.

2.1.9.6 Situações de baixa carga de trabalho, com poucos ou nenhum estímulo, podem levar ao estado de monotonia e tédio, o que poderia deflagrar a sonolência fisiológica, degradando o desempenho do operador. Além disso, a baixa carga de trabalho também pode resultar no indivíduo ter que fazer um esforço maior para permanecer envolvido com a operação, o que por sua vez também aumenta sua carga de trabalho.

Figura 8 - Diagrama de influência da monotonia em tarefas repetitivas.

2.1.9.7 A monotonia tem sido descrita como tendo dois componentes: um componente cognitivo e um afetivo (Stager, Hameluck, & Jubis, 1989). Hill e Perkins (1985) definiram o componente cognitivo em como uma pessoa percebe e constrói a tarefa. O componente afetivo vem do conflito entre os estímulos inadequados e a incapacidade de ser estimulado pelo meio ambiente (Barmack, 1939; Fenichel, 1951; Hill & Perkins, 1985). Ocorre quando as pessoas devem permanecer em um ambiente entediante e não podem escapar, ou podem tentar procurar um novo estímulo, mas falhar. O estado afetivo é a coexistência de estímulos como fome e insatisfação, até mesmo a frustração.

2.1.9.8 A monotonia pode se manifestar quando a novidade de um estímulo desaparece ou a falta de estímulos atinge um ponto de saciedade, exacerbado em ambientes de trabalho pela incapacidade de buscar novos estímulos (Barmack, 1939; Scerbo, 1998).

2.1.9.9 No entanto, não há consenso e há pouca pesquisa sobre os aspectos temporais da monotonia, como, por exemplo, quanto tempo o indivíduo leva para alcançar um estado de monotonia e que condições ou diferenças individuais afetam o tempo em que um estado de monotonia é alcançado. Os estudos propõem que quando as pessoas se deparam com uma tarefa entediante, as mudanças comportamentais resultantes podem ser resumidas em um dos três comportamentos categóricos: (a) pensamento não relacionado à tarefa (TUT), (b) engajamento em outras tarefas (também conhecido como distração) ou (c) mudar o engajamento da tarefa.

2.1.9.10 Tarefas típicas de vigilância, portanto, são naturalmente repetitivas e, às vezes, poderiam ser monótonas ou consideradas monótonas. A degradação da vigilância, ou seja, o declínio na eficiência de desempenho ao longo do tempo é comumente medido em termos da taxa de detecção correta de sinais críticos e tempo de reação retardado (Parasuraman, 1986).

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2.1.9.11 Muitos estudos mostram que o decréscimo de vigilância ocorre após 20 a 30 minutos para uma tarefa que requer atenção sustentada (Wickens, Lee, Liu, & Gordon-Becker, 2011). Pode demorar um pouco ou mais tempo para se observar um decréscimo de vigilância dependendo do tipo de estímulo, saliência do estímulo, probabilidade do estímulo, incerteza temporal, taxa do evento, perda de sono etc. (Davies & Parasuraman, 1982; Loh, Lamond, Dorrian, Roach, & Dawson, 2004; Quente, Finomore, Vidulich e Funke, 2015).

2.1.9.12 A situação de monotonia muitas vezes se estabelece a partir de fatores como: um ATCO que tem muita familiaridade com a tarefa, tarefas repetitivas, períodos prolongados de simples monitoramento, ou baixo volume de tráfego aéreo. Esses fatores podem levar o operador à monotonia e, consequentemente, à baixa na atenção.

2.1.9.13 No outro extremo, situações de alta carga de trabalho podem exceder a capacidade de um indivíduo fatigado, resultando novamente na degradação do desempenho. A alta carga de trabalho também pode ter consequências no sono, devido ao tempo necessário para o indivíduo “desacelerar” ou relaxar depois de um turno de trabalho muito exigente.

2.1.9.14 Poucos estudos tentaram investigar a influência da carga de trabalho sobre a fadiga ou a interação potencial entre a carga de trabalho e outras causas de fadiga, como tempo na tarefa, tempo acordado, perda de sono e hora do dia. Um estudo realizado em cima de classificações de fadiga pelos ATCO encontrou alguma correlação entre a autoavaliação de carga de trabalho e o tempo na tarefa tendo efeito na fadiga. Quando a carga de trabalho foi baixa, os níveis de fadiga permaneceram relativamente estáveis em períodos de trabalho contínuos de até 4 horas. No entanto, quando a carga de trabalho era alta, houve um rápido aumento da fadiga após 2 horas de trabalho. Esses efeitos da carga de trabalho tornaram-se mais evidentes quando os controladores estavam acordados há pelo menos 12 horas. A carga de trabalho em horas variadas do dia também influenciou na taxa de fadiga, sendo mais assinalados os níveis baixos e altos de carga de trabalho do que em níveis intermediários.

2.1.9.15 Do ponto de vista operacional, os intervalos durante o período de trabalho se mostraram uma maneira importante de reduzir o declínio no desempenho que ocorre com o aumento do tempo na tarefa.

Quadro 8 - Implicação Operacional 8

PROVER OPORTUNIDADES DE PAUSAS DURANTE O TURNO DE TRABALHO

Do ponto de vista operacional, as pausas durante um período de serviço são uma maneira importante de reduzir o declínio no desempenho com o decorrer do tempo na tarefa, devido aos efeitos da alta carga de trabalho. Tais pausas diferem dos períodos de descanso entre os turnos de serviço que são projetados para permitir o sono, bem como a preparação para o trabalho futuro.

O período de tempo de ocupação ininterrupta e a duração da pausa entre eles depende do tipo de tarefa que está sendo realizada. Por exemplo, o desempenho em tarefas que requerem atenção sustentada, como o monitoramento de um evento pouco frequente, demonstrou melhorar com intervalos curtos e frequentes. Como com qualquer operação contínua, em que uma tarefa realizada por uma pessoa é entregue a outra pessoa, é fundamental considerar o risco da passagem de serviço em si. Em alguns casos, transferências menos frequentes (talvez com níveis mais altos de supervisão) podem estar associadas a uma menor exposição global ao risco.

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2.2 INFLUÊNCIA DA FADIGA NO DESEMPENHO HUMANO

2.2.1 O estado de fadiga tem base na interação combinada dos ritmos circadianos, estado de alerta, sonolência e efeitos do débito de sono. Essencialmente, todos os aspectos do desempenho humano podem ser negativamente influenciados pelo débito de sono, cujos efeitos incluem sonolência excessiva, degradação física, psicomotora e comprometimento do desempenho cognitivo.

2.2.2 TIPOS DE FADIGA HUMANA

2.2.2.1 Segundo a ICAO, fadiga é um estado fisiológico de redução da capacidade de desempenho mental ou físico resultante da perda de sono, do período estendido de vigília, do ciclo circadiano e/ou da carga de trabalho (atividade mental e/ou física) que podem prejudicar o estado de alerta de uma pessoa e sua capacidade de desempenhar adequadamente tarefas operacionais que possuam relação com a segurança operacional.

2.2.2.2 Para efeito de aplicação no Gerenciamento do Risco à Fadiga, no âmbito do SISCEAB, serão considerados os tipos de fadiga e suas nomenclaturas e conceitos correspondentes, abaixo descriminados.

2.2.2.3 Fadiga Acumulativa ou Débito Acumulado de Sono (Cumulative Sleep Debt)

Condição que ocorre quando não existe tempo de sono suficiente entre vários períodos de fadiga aguda, não havendo a recuperação adequada entre eles. Com o acúmulo do débito de sono, aumenta progressivamente o comprometimento do desempenho operacional e a sonolência objetiva, além do que, as pessoas tendem a se tornar menos confiáveis na avaliação de seu próprio nível de comprometimento.

2.2.2.4 Fadiga Aguda ou Transitória

Deterioração acumulada ao longo de um período único de trabalho, a partir do qual a recuperação completa é possível no próximo período de descanso.

2.2.2.5 Fadiga Ativa

Existe uma distinção entre fadiga ativa e fadiga passiva. A fadiga ativa é derivada de tarefas contínuas e prolongadas relacionadas ao ajuste perceptivo-motor.

2.2.2.6 Fadiga Cognitiva

A fadiga cognitiva, por outro lado, está geralmente relacionada ao cansaço relacionado ao esgotamento de ativos de processamento de informações (Kahneman, 1973; Warm, Matthews, & Finomore, 2008), motivação reduzida (Lee, Hicks, & Nino Murcia, 1991), ou estresse (Aaronson et al., 1999).

2.2.2.7 Fadiga Crônica

Consiste na presença de fadiga acumulativa constante por longo período.

2.2.2.8 Fadiga Circadiana

A fadiga circadiana refere-se à redução do desempenho humano durante as horas noturnas de trabalho, particularmente durante a “janela de baixa no ciclo circadiano” (Window of Circadian Low – WOCL) de um indivíduo.

2.2.2.9 Fadiga Passiva

Em contraste à fadiga ativa, a fadiga passiva acontece em tarefas que exigem monitoramento

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com requisitos de resposta perceptuais-motores raros ou mesmo nulos (Desmond & Hancock, 2001). Ao dirigir, a fadiga passiva poderia acontecer em veículos com altos níveis de automação, o que poderia reduzir o alerta do motorista e aumentar a probabilidade de colisão (Saxby, Matthews, Warm, Hitchcock, & Neubauer, 2013). Apesar de tanto a fadiga passiva quanto a monotonia acontecerem sob baixa carga de trabalho, ambas refletem diferentes construções da cognição humana. A fadiga passiva se concentra mais sobre o aspecto de esgotamento de recursos, a monotonia reflete um estado afetivo.

2.2.3 SINTOMAS DA FADIGA

2.2.3.1 Para que a fadiga possa ser gerenciada, é importante que todos sejam capazes de reconhecer seus sintomas em si mesmos e nos colegas de trabalho.

Os controladores de tráfego aéreo podem apresentar alguns dos sintomas mostrados na tabela abaixo, sendo que nem sempre as pessoas conseguem associá-los à fadiga:

SINTOMAS COGNITIVOS

SINTOMAS EMOCIONAIS

SINTOMAS DA FADIGA VISUAL

SINTOMAS FÍSICOS

Sensação de cansaço mental.

Apatia. Pálpebras pesadas. Sonolência.

Dificuldade em se manter alerta e se concentrar no que está fazendo.

Variações de humor.

Sensação de dor, irritação ou queimação em um ou nos dois olhos.

Cansaço crônico.

Capacidade reduzida em identificar informações importantes.

Irritabilidade. Olhos lacrimejantes.

Dores musculares, sensação de músculos doloridos ou fracos.

Julgamento ruim e menos criterioso.

Habilidade de comunicação reduzida.

Vermelhidão nos olhos. Dores de cabeça.

Tomada de decisão mais lenta.

Desmotivação. Dificuldade em focar a visão ou visão dupla.

Tontura.

Reações mais lentas.

O indivíduo pode sentir-se constantemente para baixo e sem esperança.

Dores de cabeça. Coordenação motora prejudicada.

Menor probabilidade em detectar erros, tanto os seus próprios quanto os dos outros.

Perda de apetite.

Esquecimentos e lapsos de memória.

Comprometimento do sistema imunológico.

Tabela 1 - Sintomas da Fadiga

2.2.4 FADIGA E ESTADO DE ALERTA

2.2.4.1 Um estado de alerta adequado corresponde a um estado de ativação ótimo do cérebro, o qual permite ao ser humano captar as informações importantes ou excluí-las, dentro de um determinado ambiente. O nível de alerta determina o quão bem uma pessoa pode executar uma tarefa. Portanto, sempre que o estado de alerta for afetado pela fadiga, o desempenho humano pode ser

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significativamente prejudicado.

2.2.4.2 O estado de alerta varia de acordo com a hora do dia, devido às influências do mecanismo circadiano.

Figura 9 - Ciclos Circadianos

2.2.4.3 O relógio biológico irá produzir efeitos de sonolência em períodos específicos, independentemente das atividades exercidas (estar trabalhando ou em repouso). Portanto, além das horas consecutivas de trabalho, é preciso considerar os efeitos decorrentes do período do dia em que a atividade está sendo desenvolvida.

2.2.4.4 Em alguns casos, a hora do dia pode ter mais efeito sobre o estado de alerta que o número de horas consecutivas de trabalho. O estado de alerta também pode ser influenciado por inúmeros outros fatores:

Figura 10 - Condicionantes do estado de alerta

2.2.4.5 O estado de alerta pode ser promovido de algumas formas, tais como: atividades musculares como corrida, caminhada, alongamento ou até mesmo mascar chiclete; cochilos estratégicos e controlados; a luz pode reduzir a sonolência; o ar frio e seco pode aumentar o estado de alerta, assim

ESTADO DE

ALERTA

Variação da Temperatura

Corporal

Atividade muscular

Condições Ambientais

do Sono

Condições de Saúde

Sensação de Perigo

Alimentação e Uso de

Medimentos

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como o calor pode provocar sonolência; e alguns aromas, como o da menta, podem induzir a um estado de alerta.

2.2.5 RELÓGIO BIOLÓGICO

2.2.5.1 O relógio biológico regula o ciclo diário de atividade e inatividade. Em condições normais, o ciclo circadiano trabalha com variações nas vinte e quatro horas do dia, orientado pelo ciclo claro-escuro e por atividades sociais. Praticamente todas as funções do corpo são programadas de acordo com o ciclo claro-escuro, conforme abaixo:

a) Ritmos Circadianos – um ciclo a cada 20 ou 28 horas;

Ex.: secreção de melatonina e cortisol

b) Ritmos ultradianos – um ciclo em intervalos menores que 20 horas;

Ex.: batimentos cardíacos.

c) Ritmos infradianos – um ciclo em intervalos maiores que 28 horas.

Ex.: ciclo menstrual feminino.

2.2.5.2 Conforme a regulação dos ciclos circadianos, muitas das funções fisiológicas do ser humano se expressam com maior intensidade durante o dia. Os ritmos circadianos influenciam, dentre outras, as seguintes funções: a atividade, o sono, a temperatura corporal, a alimentação, a digestão, a função renal, os hormônios no sangue.

2.2.5.3 O ciclo intrínseco do relógio biológico humano é ajustado automaticamente em cada manhã por influência da luz do dia, e se adapta ao ciclo de 24 horas. Esse processo de sincronização é conhecido como arrastamento (entrainment). Em geral, o ciclo circadiano tem uma duração de 25 horas, mas pode ser reajustado cerca de duas horas a cada dia, permitindo-nos viver confortavelmente um dia entre 23 a 27 horas.

2.2.6 CICLO VIGÍLIA/SONO

2.2.6.1 Em condições normais, o ciclo vigília/sono segue um ritmo de 24 horas, sendo que aproximadamente um terço deste tempo é gasto dormindo. O ciclo não é o mesmo para todas as pessoas, uma vez que o pico principal de alerta pode ocorrer mais cedo ou mais tarde durante as 24 horas. Embora os ritmos individuais variem, o ciclo de todos os seres humanos apresenta dois pontos extremos distintos (máximo e mínimo).

a) Alta do Ciclo Circadiano – Precedendo os períodos de máxima sonolência, as pessoas apresentam períodos ou picos de máximo alerta. Durante os picos de máximo alerta, o sono é difícil e frequentemente de má qualidade, isto é, não tem o mesmo valor restaurador como o sono durante a máxima sonolência.

b) Baixa do Ciclo Circadiano – O grande ponto de baixa ocorre durante a madrugada no período entre 2h00min e 6h00min (Janela de Baixa do Ciclo Circadiano); o outro ponto de baixa ocorre no período da tarde, por volta das 13h00min às 15h00min (Janela de Sonolência da Tarde). Durante esses momentos de baixa, pode ser particularmente difícil manter-se alerta.

2.2.6.2 A variação no período vespertino está relacionada à variação da temperatura corporal, que gera um efeito conhecido como período de sono secundário.

2.2.6.3 Esse fenômeno é internacionalmente conhecido como post lunch dip. A ICAO faz referência a esse fenômeno como afternoon nap window (DOC 9966, 2012). No Brasil, também é conhecido como “efeito feijoada”. Ressalta-se, contudo, que a baixa ocorrida nesse período vespertino não está relacionada ao comportamento alimentar. Desse modo, pode haver aumento na frequência de

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episódios de sonolência nesse período, independentemente do consumo ou não de alimentos.

Figura 11 - Correlação entre temperatura corporal e ciclo sono/vigília. Imagem adaptada de Menna-Barreto (1997).

2.2.7 FUNÇÃO DO SONO

2.2.7.1 Embora ainda se saiba pouco a respeito da função do sono, as pesquisas sugerem que os estágios 3 e 4 (níveis mais profundos do sono Não REM) podem estar relacionados com a restauração corporal, bem como o sono REM favorece o fortalecimento e a organização da memória.

2.2.7.2 Uma atividade física intensa durante a vigília pode causar mais sono de estágios 3 e 4, enquanto a aprendizagem de tarefas novas pode resultar numa proporção aumentada de sono REM.

2.2.7.3 Em situações nas quais o ser humano não desfruta adequadamente do sono nos estágios 3 e 4, bem como do sono REM, ocorrem efeitos de sonolência e estado de alerta reduzido no dia seguinte. No sono subsequente, o sono terá maior demanda por esses estágios.

2.2.8 QUANTIDADE DE SONO

2.2.8.1 O alerta e o desempenho têm relação direta com a quantidade e qualidade de sono. Contudo, as necessidades de sono das pessoas são de caráter individual, variando conforme fatores endógenos e ambientais.

2.2.8.2 Não existe uma quantidade absoluta de sono que deva ser obtida. As pessoas devem dormir o suficiente para estarem alertas no dia seguinte. De forma geral, mais de 90% da população precisa de algo em torno de 7,5 a 8,5 horas de sono por dia de 24 horas. Um sono de 8 horas contém de 4 a 5 episódios de sono REM. A maior parte do sono de Estágio 4 acontece no início da noite.

2.2.8.3 Contrariando informações difundidas pelo senso comum, as necessidades de sono não mudam com a idade; o que muda são os padrões de sono. Tipicamente, com a idade se torna mais difícil adormecer (pegar no sono) ou se manter dormindo. As pessoas mais velhas não necessitam de menos sono do que quando eram mais jovens, mas frequentemente têm mais dificuldade de dormir o suficiente.

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2.2.9 DÉBITO DE SONO

2.2.9.1 Dormir menos que o necessário de maneira recorrente pode levar a um débito de sono acumulativo. Isso ocorre quando uma quantidade insuficiente de sono se estende por vários dias consecutivos.

2.2.9.2 Dormir menos de maneira crônica resulta em baixo desempenho, independentemente do ciclo circadiano e longo tempo de vigília.

2.2.9.3 O débito de sono, mesmo que ocorrendo de forma menos intensa, pode prejudicar significativamente o desempenho. Uma vez que o débito de sono aumente, o sono restaurador pode ajudar a manter ou recuperar os níveis de desempenho, e no caso da fadiga deve-se associar o descanso com os limites prescritivos de horários de trabalho dos controladores de tráfego aéreo, propostos em regulamentos de gerenciamento dos riscos da fadiga.

2.2.9.4 O débito agudo de sono é decorrente das situações em que o indivíduo permanece em vigília, sem dormir, por mais tempo que o normal. Ao ser privado de sono por um longo período, o ser humano irá, normalmente, necessitar de duas noites de sono para se recuperar totalmente.

2.2.9.5 O débito agudo poderá ocorrer ao permanecer sem dormir por um período maior que 16 horas de vigília por dia. Quanto maior for o tempo de vigília, maior será a pressão para o sono.

2.2.9.6 Ressalta-se que o sono não tem sempre a mesma qualidade e nem sempre proporciona a recuperação plena. Fatores como as condições ambientais onde o sono ocorre (ruídos, luminosidade, qualidade da superfície, distrações etc.) influenciarão na capacidade restauradora desse sono.

2.2.10 MATEMÁTICA DO SONO

2.2.10.1 O ciclo vigília/sono pode ser comparado, considerando a normalidade dos ritmos biológicos, a um sistema de crédito e débito no qual a pessoa recebe aproximadamente dois pontos para cada hora de sono até um máximo de 16 pontos, e tem aproximadamente 1 ponto reduzido para cada hora acordado. O problema aparece quando esse cálculo fica no negativo, nesse caso, o estado de alerta poderá ser comprometido. É necessário observar os seguintes pontos abaixo:

a) Não se pode armazenar sono; quanto menos pontos se tem, maior é a pressão para o sono;

b) Normalmente, quando tiver pouco ou nenhum crédito de sono (zero pontos), a pessoa dormirá por cerca de 8 horas;

c) Isso será seguido de um período de vigília aproximado de 16 horas (dedução de 16 pontos);

d) Dessa forma, um sono recuperador reali a dep sitos no “banco do sono”, enquanto a vigília realiza saques; e

e) Quando se faz saques demais e o saldo no banco do sono fica baixo, a pressão por dormir se torna extrema, especialmente depois de 24 horas de vigília, seja qual for a hora do dia.

2.2.11 QUALIDADE DO SONO

2.2.11.1 De forma similar ao que se observa em relação à quantidade de sono, o alerta e o desempenho também se relacionam diretamente com a qualidade do sono. Um sono de qualidade é um sono restaurador. Porém, o sono não tem sempre a mesma qualidade e, em algumas ocasiões, não proporciona a recuperação plena.

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2.2.11.2 Um dos fatores contribuintes para um sono restaurador é a sincronização do relógio biológico, pois nessas condições o sono é mais propenso a ocorrer prontamente, ser de melhor qualidade e de maior duração. Para que se possa sentir descansado e alerta, os vários estágios de sono têm de ocorrer nas proporções adequadas.

2.2.11.3 Os estágios do sono têm ciclos específicos, cada um com duração de cerca de 90 minutos. Um sono de qualidade e restaurador necessita de 4 a 5 ciclos de sono ininterruptos. O simples fato de se estar cansado não é suficiente para garantir um bom sono.

2.2.11.4 A hora em que se dorme pode ser tão crítica para a duração do sono quanto o tempo que se passa acordado. Se a hora de dormir não estiver em sincronia com o relógio biológico, torna-se difícil dormir de maneira apropriada e a qualidade do sono fica comprometida.

2.2.11.5 .A ICAO estabelece protocolos procedimentais para o uso do cochilo controlado como estratégia de mitigação eficaz que deve ser usada quando se fizer necessária, em resposta a uma condição de fadiga, durante o turno operacional. Porém, adverte que essa estratégia não deve ser usada como uma estratégia planejada para permitir a extensão de períodos de serviço.

2.2.12 O AMBIENTE DO SONO

Normalmente, o sono ideal ocorre num ambiente soporífico, ou seja, aquele em que é fácil estabelecer o sono. Os fatores do ambiente soporífico incluem dormir em uma cama confortável, num quarto escuro, em ambiente silencioso, com temperatura agradável, com fluxo de ar fresco e sem interrupções.

2.2.13 FATORES QUE IMPACTAM O SONO

2.2.13.1 Distúrbios do Sono

2.2.13.1.1 Há grandes diferenças entre os indivíduos quanto a sua capacidade de dormir fora de sincronia com os ritmos biológicos e a sua tolerância a perturbações do sono. Mais de 5% da população sofre de distúrbios do sono e muitos não sabem disso.

a) Apneia do Sono: É o distúrbio no qual o indivíduo sofre breves e repetidas interrupções da respiração (apneias) enquanto dorme, o que pode levá-lo ar a acordar várias vezes durante o sono, frequentemente, sem perceber. É uma das causas mais comuns de sonolência excessiva durante o dia. Associa-se frequentemente com a obesidade e pode ser causada por obstrução das vias aéreas ou por danos à parte do cérebro que controla a respiração;

b) Narcolepsia: Consiste em uma doença caracterizada por ataques incontroláveis de sono que podem ocorrer diversas vezes num dia. Sua causa é desconhecida, embora possa ser neurológica; e

c) Insônia: Caracteriza-se mais como uma perturbação do sono do que um distúrbio. Acredita-se que esse problema afete entre 15% a 30% da população adulta. Porém, em alguns grupos, como o de trabalhadores por turnos, acredita-se que a ocorrência de insônia seja mais próxima dos 65%.

2.2.13.1.2 As pessoas que sofrem de insônia geralmente se queixam de dificuldades para dormir, permanecer dormindo ou acordar cedo, caracterizando um sono de má qualidade. As queixas diurnas incluem fadiga, sonolência, desempenho degradado, dores e ansiedade.

2.2.13.1.3 Muitos casos de insônia pioram devido a fatores psicológicos, incluindo a preocupação com o próprio sono insuficiente. Pode ser causada também por hipertireoidismo, diabetes, contrações musculares ou estimulantes.

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2.2.13.1.4 A insônia clínica descreve a condição em que a pessoa tem dificuldade de dormir em condições normais, regulares e em fase com o seu ritmo circadiano. É uma incapacidade de dormir quando o sistema fisiológico está sendo demandado por sono.

2.2.13.1.5 A insônia situacional descreve a condição em que uma pessoa tem dificuldade em dormir numa situação particular, por exemplo, quando os ritmos biológicos são perturbados, ou quando alguém está tentando dormir em ambiente não adequado. Isso ocorre quando o organismo biológico do indivíduo não está na fase de sono.

2.2.13.2 Horários Irregulares de Sono e Vigília

2.2.13.2.1 O ciclo circadiano é perfeitamente sincronizado com o despertar diurno e sono noturno. Por isso, horários irregulares representam um desafio ao gerenciamento do risco da fadiga.

2.2.13.2.2 O principal problema do trabalho em turnos é a dessincronização do relógio biológico. Embora o ciclo circadiano consiga se ajustar em uma ou duas horas por dia, as escalas de trabalho dos ATCO demandam ajustes a uma variação de 8 ou 12 horas, o que não possibilita essa sincronização.

2.2.13.2.3 São necessários vários dias para que o corpo se ajuste a um novo horário e, durante esse tempo, o ciclo circadiano permanece fora de sincronia com o mundo à volta do indivíduo. Nessas situações, o relógio biológico promove o despertar quando ainda é necessário dormir, e induz a dormir quando é necessário permanecer acordado.

2.2.13.2.4 Horários irregulares que incluem rodízio de turnos, incluindo o noturno, desorganizam a sincronização do ciclo circadiano. A ressincronização do ritmo circadiano leva aproximadamente um dia para cada hora de diferença.

2.2.13.2.5 O corpo consegue se ajustar vagarosamente a sucessivas noites de trabalho por escala e sono diurno. Nas duas primeiras noites de trabalho por turno, existe uma queda no alerta durante as primeiras horas da madrugada. São necessários alguns dias de trabalho noturno para que o estado de alerta e o sono diurno melhorem. Entretanto, ao final de um período de trabalho noturno ou de alguns dias de folga, o ciclo circadiano precisa se ajustar novamente.

2.2.13.2.6 O sono diurno tem maior proporção de estágios 1 e 2 do que o normal, por isso somos despertados mais facilmente. Durante o sono diurno, os estágios 3 e 4 são encurtados, esses estágios são os mais restauradores por incluírem o sono mais profundo e o REM.

2.2.13.2.7 Os trabalhadores que precisam dormir durante o dia têm maior propensão ao sono mais curto e despertares frequentes.

2.2.13.2.8 Portanto, isso significa que o indivíduo ainda poderá se sentir fatigado, mesmo tendo dormido de 6 a 8 horas.

2.2.13.2.9 Por ter dormido de 6 a 8 horas, o indivíduo pode pensar que está descansado. Por isso, somente a avaliação do próprio indivíduo a respeito do seu estado de alerta pode não ser suficiente para se determinar se a fadiga é um fator subjacente.

2.2.13.2.10 Se os horários de trabalho ocorrerem em turnos variáveis ou alternados, isto é, se a pessoa não permanecer em determinado horário o suficiente para ajustar-se, então o indivíduo não irá se ressincronizar.

2.2.13.2.11 Horários de trabalho que estão sempre mudando não permitem tempo suficiente para um período de sincronização, colaborando para a privação do sono.

2.2.13.2.12 Quando possível, as tarefas críticas para a segurança, horas extras ou extensão de jornadas de trabalho devem ser programadas para os horários em que as pessoas estão mais alertas no contexto de seu ciclo circadiano, exemplo entre 7h00min e 23h00min.

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2.2.13.2.13 No caso das escalas com turnos de trabalhos alternados entre os períodos do dia, recomenda-se que o rodízio no sentido inverso aos ponteiros do relógio seja evitado, pois essa condição obriga os trabalhadores a antecipar o horário de dormir.

2.2.13.2.14 As Escalas de Serviço que promovem condições favoráveis ao desempenho humano são aquelas em que:

a) O rodízio é feito no sentido horário: manhã, tarde, noite, madrugada e volta para manhã;

b) O tempo de trabalho da noite é mais curto no final de uma série de turnos; e

c) O rodízio é realizado de maneira gradual, permitindo melhor adaptação circadiana ao turno.

2.2.14 TIPOS DE ESCALAS (ROTAÇÃO, VELOCIDADE)

2.2.14.1 Além dos problemas inerentes aos turnos noturnos e diurnos, planejar escalas de serviço também é um desafio. O planejamento de escalas é um tópico delicado, e ainda não foi encontrada uma solução totalmente satisfatória para os sistemas de escalas em todos os cenários de órgãos de controle de tráfego aéreo.

2.2.14.2 Como pode ser visto na Tabela abaixo, existem vários tipos de rotação de turnos para cobrir o período de 24 horas de operações nos órgãos de controle de tráfego aéreo.

Horário Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7

HORÁRIO FIXO

Semana 1: 5 dias

Semana 2: 5 dias

Semana 3: 5 dias

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

07h-15h

FOLGA

FOLGA

ROTAÇÃO LENTA

Semana 1: 5 dias

Semana 2: 5 dias

Semana 3: 5 dias

07h-15h

15h-23h

23h-07h

07h-15h

15h-23h

23h-07h

07h-15h

15h-23h

23h-07h

07h-15h

15h-23h

23h-07h

07h-15h

15h-23h

23h-07h

FOLGA

FOLGA

ROTAÇÃO RÁPIDA

Sentido Horário

Sentido Anti-Horário

07h-15h

15h-23h

07h-15h

15h-23h

15h-23h

07h-15h

15h-23h

07h-15h

23h-07h

23h-07h

FOLGA

FOLGA

Tabela 2 - Exemplos de Rotação de Turnos usados em órgãos de controle de tráfego aéreo

2.2.14.3 A escala com turnos em horário fixo envolve trabalhar sempre no mesmo turno. A escala de rotação mais lenta envolve trabalhar cinco dias seguidos em um turno específico e depois alternar para outro turno na semana seguinte. Outras escalas implicam uma rotação rápida dos turnos durante a semana. Embora a configuração exata possa variar, existem dois tipos principais de rotação rápida: no sentido horário e no sentido anti-horário.

2.2.14.4 No sentido horário, a semana de trabalho começa com um turno da manhã, alternando no final da semana para o turno da tarde e, finalmente, para o turno noturno. No sentido anti-horário, a semana de trabalho começa com um turno da tarde, depois avança para um turno da manhã, para finalmente terminar com um turno noturno. Os estudos apontam que para a maioria das pessoas o sentido horário, na rotação rápida, favorece melhor adaptação ao ciclo circadiano.

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2.2.15 EFEITOS DA FADIGA NO DESEMPENHO OPERACIONAL

2.2.15.1 Durante as horas noturnas, e em grau menor durante o período no meio da tarde, o desempenho humano é dificultado de maneira significativa, seja em função de prejuízos às habilidades, ao tempo de reação ou ao raciocínio cognitivo.

2.2.15.2 A forma mais extrema de fadiga é o sono incontrolável, que pode levar ao adormecimento contra a própria vontade. Os episódios podem ser um microssono, cochilo ou um episódio mais longo. Enquanto adormecido, o indivíduo está perceptivamente isolado, isto é, não está consciente do que se passa à sua volta.

2.2.15.3 A fadiga pode afetar a capacidade do indivíduo em responder a estímulos, incluindo reações lentas a estímulos normais, anormais ou mesmo de emergência.

2.2.15.4 Num estado de fadiga, leva-se mais tempo para perceber estímulos, mais tempo para interpretá-los ou entendê-los e mais tempo para reagir a eles, uma vez que tenham sido identificados.

Figura 12 - Impacto da Fadiga no desempenho operacional.

2.2.16 MOTIVAÇÃO

2.2.16.1 Embora eventualmente a motivação possa sobrepujar os efeitos da fadiga, esse efeito motivacional é limitado e pode terminar com pouco ou nenhum aviso.

2.2.16.2 A fadiga pode resultar em motivação reduzida em relação a se obter um bom desempenho. Isso pode se traduzir numa disposição de assumir riscos e um relaxamento com a segurança operacional, o que normalmente não seria tolerado se a pessoa estivesse alerta.

2.2.17 PROMOÇÃO DA MANUTENÇÃO DO ESTADO DE ALERTA NO TRABALHO

2.2.17.1 Assim como existem medidas para garantir um boa noite (ou dia) de sono, também existem

Afeta a

capacidade de

julgar distância,

velocidade e

tempo.

Efeito sobre a

capacidade de

resolver

problemas.

Pode levar ao

esquecimento ou

negligência

quanto a

procedimentos.

Reversão a

antigos hábitos

e lembrança

incorreta de

eventos

operacionais.

Pode levar as pessoas a

deixar de avaliar a gravidade

de um problema ou situação,

apresentar uma lógica

incorreta e implementar

ações corretivas

inapropriadas.

Quando fadigadas as

pessoas ficam

preocupadas com

tarefas simples, menos

vigilantes e pouco

atentas ao seu

desempenho.

Favorece a

degradação da

consciência

situacional.

Pode reduzir a

atenção levando

as pessoas a errar

ou negligenciar a

sequência de

execução de uma

tarefa.

FADIGA

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estratégias para manter o estado de alerta no trabalho.

2.2.17.2 Estratégias para os ATCO

a) Faça pequenos intervalos durante o turno;

b) Tente trabalhar com um “colega”. Conversar com colegas de trabalho pode ajudar a mantê-lo alerta. Além disso, os colegas de trabalho podem estar atentos a sinais de sonolência uns nos outros;

c) Tente se exercitar durante os intervalos. Use a sala de descanso, dê uma caminhada, se alongue ou suba escadas;

d) Tente fazer três refeições normais por dia. Faça lanches saudáveis, evitando alimentos que podem incomodar o estômago;

e) Se você beber uma bebida com cafeína (café, chá e refrigerantes), faça-o no início do turno, por exemplo, antes das 3 da manhã para o trabalhador noturno;

f) Não deixe as tarefas mais tediosas ou enfadonhas para o final do turno, quando é provável que você se sinta mais sonolento. Os trabalhadores noturnos atingem seu período mais baixo por volta das 4 da manhã. Este é o horário em que os erros humanos são mais prováveis; e

g) Troque ideias com seus colegas sobre maneiras de lidar com os problemas do trabalho em turnos. Busque o setor de fatores humanos para que possam obter informações e orientações.

2.2.17.3 Estratégias para as Organizações

Há uma série de maneiras de tornar o local de trabalho mais seguro e produtivo, tais como:

a) Instrução para o pessoal operacional a respeito da necessidade de dormir e os perigos da fadiga;

b) Instalação de luzes brilhantes nas áreas de trabalho. Um local de trabalho bem iluminado sinaliza ao corpo que é hora de estar acordado e alerta. Forneça uma copa e um forno de micro-ondas, no qual os ATCO possam se alimentar de forma saudável;

c) Programação de turnos para permitir intervalos e dias de folga suficientes, especialmente quando os ATCO são realocados para turnos diferentes. Planeje tempo suficiente entre os turnos para permitir que os funcionários não apenas durmam o suficiente, mas também cuidem de suas vidas pessoais;

d) Evitar a utilização de horas extras, sempre que possível; e

e) Incentivar o Cochilo Controlado, proporcionando um espaço adequado para dormir e tempo para cochilos programados. Uma pequena pausa para dormir pode melhorar o estado de alerta, julgamento, segurança e produtividade.

2.3 CONHECIMENTO E EXPERIÊNCIA OPERACIONAL

2.3.1 A gestão eficaz da fadiga requer não só a consideração dos princípios científicos, mas também precisa ser baseada no conhecimento e na experiência operacional adquiridos por meio da prestação dos serviços de tráfego aéreo ao longo do tempo e da identificação dos riscos relacionados à fadiga nessas operações. Essas duas fontes de conhecimento são complementares.

2.3.2 A ciência geralmente visa desenvolver princípios que possam ser amplamente aplicados. Muitas das descobertas dos estudos científicos que sustentam os Princípios Científicos não foram

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realizadas especificamente com ATCO, mas os resultados são estendidos para uso nas Operações ATC, já que estamos falando de seres humanos. Isso significa que o conhecimento do contexto operacional e organizacional, bem como a compreensão das necessidades e motivações da força de trabalho devem ser consideradas ao lado da ciência, para que seja possível desenvolver uma abordagem de gerenciamento da fadiga apropriada.

2.3.3 Observe que a experiência operacional prévia, sozinha, também não é suficiente para o gerenciamento da fadiga, tanto na abordagem prescritiva quanto por meio do FRMS. Casos que envolvam a segurança operacional exigem mais do que apenas o argumento de que “sempre fizemos dessa maneira”. São necessárias evidências de que os princípios científicos, a avaliação e a mitigação dos riscos foram observadas.

2.3.4 Os fatores contextuais são categorizados considerando as operações de controle de tráfego aéreo e o contexto organizacional mais amplo. No entanto, pode-se argumentar que alguns fatores pertencem a ambas as categorias e claramente os dois contextos interagem em seus efeitos sobre o gerenciamento da fadiga.

2.3.5 FATORES NO CONTEXTO OPERACIONAL QUE PODEM CONTRIBUIR PARA A FADIGA HUMANA

2.3.5.1 Alguns aspectos locais das condições ambientais e de trabalho podem afetar os níveis de fadiga dos ATCO.

2.3.5.2 O contexto operacional abrange os fatores que os ATCO enfrentam diariamente, por exemplo, o clima, a topografia ao redor do aeroporto, os atrasos dos tráfegos, a complexidade específica do espaço aéreo, o nível de experiência dos ATCO, as interações com outros profissionais da aviação (por exemplo, pilotos), operações imprevistas e a gestão de diferentes demandas operacionais.

2.3.5.3 O quadro abaixo identifica alguns dos fatores presentes no contexto operacional que podem influenciar na fadiga do ATCO. Alguns ou todos os fatores podem ser relevantes, dependendo das tarefas específicas a serem cumpridas pelo ATCO, durante o dia de trabalho.

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Quadro 9 – Contexto Operacional

FATORES DO CONTEXTO OPERACIONAL

POSSÍVEIS EFEITOS NA FADIGA HUMANA

Condições do local de trabalho

A qualidade das instala es para o repouso e suas políticas de uso.

Nível de automa o.

Nível de autoridade e responsabilidade.

Disponibilidade de pessoal de suporte.

Temperatura e ruído.

Disponibilidade de alimentos e água.

Localização geográfica

Topografia.

Distância dos grandes centros (localização remota).

Clima.

Tempo gasto para o deslocamento.

Carga de trabalho olume de tráfego.

Intensidade das tarefas.

Operações Imprevistas

Frequência das varia es excepcionais previstas ou imprevistas nos horários de trabalho.

Frequência das modificações nas escalas de trabalho programadas.

Frequência de sobreavisos e a probabilidade de ser acionado.

Frequência das atividades não programadas.

Interação com os outros profissionais de aviação

A necessidade de se comunicar com os pilotos em um idioma diferente do seu.

quipe de olo.

quipe do aeroporto.

Níveis de experiência profissional

Demandas operacionais semel antes podem resultar em maiores níveis de carga de trabalho para ATCO inexperientes do que para ATCO experientes.

ATCO experientes podem precisar apoiar e supervisionar pessoal inexperiente, aumentando a carga de trabalho.

Existência de muitos estagiários no turno pode aumentar a carga de trabalho, principalmente se ocorrerem simultaneamente.

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FATORES DO CONTEXTO OPERACIONAL

POSSÍVEIS EFEITOS NA FADIGA HUMANA

Configurações do efetivo operacional

A capacidade do rg o ATC de oferecer oportunidades adequadas de recuperação do sono e preparação, para evitar a fadiga acumulativa.

Pessoal operacional suficiente para cobrir doen as e outras ausências.

Estabilidade profissional.

Mudan a nos arran os de emprego (por exemplo, uso de contratados e obrigações e restrições contratuais).

Pessoal suficiente para cobrir demandas operacionais específicas que adicionem quantidade de trabalho e requeiram aumento de pessoal operacional.

2.3.6 FATORES NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL QUE PODEM CONTRIBUIR PARA A FADIGA HUMANA

2.3.6.1 O conhecimento a respeito do contexto organizacional no qual o Provedor ATS opera pode fornecer a compreensão das pressões que os Provedores ATS enfrentam e os fatores que afetam a forma como eles serão capazes de lidar com os problemas relacionados à fadiga.

2.3.6.2 Além disso, dentro de uma organização, o conhecimento sobre a composição, os comportamentos e os costumes dos profissionais que ali trabalham fornece a compreensão do contexto para as questões relacionadas à fadiga, que podem afetar tanto os ATCO individualmente quanto os grupos de ATCO que trabalham em setores específicos, bem como a melhor forma de gerenciá-los.

2.3.6.3 O quadro abaixo identifica algumas das áreas em que o contexto organizacional pode influenciar na fadiga.

Quadro 10 - Contexto Organizacional

FATORES DO CONTEXTO

ORGANIZACIONAL POSSÍVEIS EFEITOS NA FADIGA HUMANA

Estabilidade na carreira

Press es comerciais.

Altera o nos acordos de trabalho (por exemplo, acordos trabalhistas, contratação de funcionários).

Estrutura de gerenciamento da fadiga

O gerenciamento da fadiga está integrado s atividades diárias de gerenciamento de riscos, ou é responsabilidade de um grupo ou indivíduo independente.

Comportamento em reportar aspectos de

segurança

Cultura efetiva de reportes.

Facilidade de notifica o de perigos relacionados fadiga umana.

mplica es para um ATCO ao emitir um reporte.

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A es do Provedor AT em resposta a reportes de fadiga.

FATORES DO CONTEXTO

ORGANIZACIONAL POSSÍVEIS EFEITOS NA FADIGA HUMANA

Quantitativo de controladores

uficiente para poder oferecer oportunidades adequadas de recuperação por meio do sono e preparação, durante e entre períodos de trabalho, de forma a evitar fadiga acumulativa.

uficiente para cobrir doen as e outras ausências.

uficiente para prover níveis de autonomia consistentes com níveis de experiência.

2.3.7 RESPONSABILIDADES DOS ENTES ENVOLVIDOS NO GERENCIAMENTO DA FADIGA

2.3.7.1 A responsabilidade pelo gerenciamento da fadiga deve ser compartilhada entre os PSNA e os Controladores. A experiência operacional fornece informações sobre como essa responsabilidade compartilhada é compreendida e implementada.

2.3.7.2 Os Provedores ATS são responsáveis por fornecer

a) recursos adequados para o gerenciamento de fadiga;

b) ambiente de trabalho que tenha ênfase apropriada nas mitigações do risco relacionado à fadiga;

c) mecanismos robustos de reporte de fadiga;

d) evidência de respostas apropriadas aos reportes de fadiga (feedback);

e) escalas de serviços (escalas + atividades extras) que permitam que a fadiga no trabalho seja mantida em um nível aceitável, bem como oportunidades adequadas para descanso e sono; e

f) informação e treinamento de conscientização sobre como funciona a abordagem de gerenciamento de fadiga do PSNA e como o ATCO pode gerenciar melhor sua própria fadiga.

2.3.7.3 Os Controladores são responsáveis por:

a) aproveitar ao máximo os períodos de folga/repouso para obter um sono adequado;

b) se apresentar para o trabalho apto, íntegro e em condições para trabalhar;

c) gerenciar seus próprios níveis de fadiga; e

d) relatar problemas de fadiga.

2.3.7.4 Reportes de Fadiga

2.3.7.4.1 Uso do Reporte Voluntário de Fadiga (RVF)

2.3.7.4.1.1 O gerenciamento da fadiga, seja pela abordagem prescritiva ou por meio do FRMS, depende da identificação dos riscos à fadiga e de reportes de segurança eficazes. Os ATCO devem se sentir confortáveis em levantar questões legítimas sobre a fadiga, sem medo de retaliação ou punição, tanto dentro como fora da organização. Os problemas associados à fadiga são difíceis de detectar se as pessoas não quiserem ou não puderem reportar.

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2.3.7.4.1.2 Para incentivar o preenchimento dos RVF, bem como o compromisso contínuo da equipe em reportar os riscos à fadiga de forma voluntária, o PSNA deve:

a) Ter processos claros e bem definidos para dar suporte, bem como facilitar o acesso e a emissão dos Reportes Voluntários de Fadiga;

b) Deixar claro que a organização espera que os ATCO relatem riscos à fadiga;

c) Estabelecer um processo para o que fazer quando um ATCO se considerar muito fatigado para executar tarefas críticas num padrão aceitável de segurança. Relato de “N o Apto para o Trabalho;

d) Identificar como a organização processará os reportes voluntários de fadiga, inclusive reconhecendo o recebimento dos relatórios e fornecendo feedback para os ATCO que relataram;

e) Fornecer feedback aos ATCO sobre as medidas que porventura foram tomadas em resposta aos riscos à fadiga identificados;

f) Tomar medidas apropriadas, consistentes com a política declarada, em resposta aos reportes voluntários de fadiga; e

g) Manter a integridade do sistema de reportes de segurança e da confidencialidade do relator.

2.3.7.4.2 Uso do Reporte de Indício de Fadiga (RIF)

2.3.7.4.2.1 O Reporte de Indício de Fadiga (RIF), diferentemente do Reporte Voluntário de Fadiga, é caracterizado como mandatório e constitui valiosa ferramenta a ser utilizada nos processos do SMS, com vistas a possibilitar a pesquisa de indício de fadiga nas investigações dos Acidentes/Incidentes Aeronáuticos ou dos Incidentes de Tráfego Aéreo.

2.3.7.4.2.2 O RIF deve ser preenchido pelo(s) ATCO envolvido(s) numa Ocorrência de Tráfego Aéreo, conforme o procedimento estabelecido no item 4.2.6.2.4.2.

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3 ABORDAGEM PRESCRITIVA X ABORDAGEM FRMS

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS TIPOS DE ABORDAGENS PARA O GERENCIAMENTO DO RISCO À FADIGA

3.1.1 A implementação do gerenciamento da Fadiga nos órgãos ATC deverá ser realizada por meio de uma das abordagens descritas a seguir. Para:

a) Abordagem Prescritiva – o Provedor ATS deve cumprir os limites prescritivos máximos e mínimos de horários de trabalho e de não trabalho estabelecidos e gerenciar os riscos à fadiga por meio da estrutura do SMS já utilizados para gerenciar outros tipos de perigos; e/ou

b) Abordagem FRMS – o Provedor ATS deve desenvolver e implementar um Sistema de Gerenciamento de Riscos à Fadiga Humana (FRMS), que deverá ser aprovado pelo DECEA.

3.1.2 A Abordagem Prescritiva é de cumprimento obrigatório e a Abordagem FRMS é de cumprimento opcional pelos PSNA.

3.1.3 Essas abordagens compartilham três requisitos básicos importantes, descritos a seguir.

3.1.4 Em primeiro lugar, a definição dos limites prescritivos e o Gerenciamento da Fadiga por meio do SMS ou do FRMS devem ser baseados nos Princípios Científicos e na Experiência e Conhecimento Operacional, descritos nos Capítulos 2 e 3, respectivamente. Devem levar em consideração:

a) a necessidade de um sono adequado para restaurar e manter todos os aspectos da função de vigília (incluindo vigilância, desempenho físico e mental e humor);

b) que as rotinas diárias contribuam para a manutenção não só da capacidade de realizar o trabalho mental e físico, mas também para a propensão ao sono (capacidade de adormecer e permanecer dormindo), que são conduzidas pelo relógio biológico do ciclo circadiano;

c) a contribuição da carga de trabalho para a fadiga e para a degradação do desempenho mental e físico; e

d) o contexto operacional e o risco à segurança que um indivíduo com redução da capacidade psicofísica representa nesse contexto.

3.1.5 Em segundo lugar, os limites prescritivos estabelecidos pelos Provedores ATS devem ser proporcionais ao contexto operacional, ao tipo de serviço prestado e à complexidade de cada órgão ATC.

3.1.6 Em terceiro lugar, já que todas as atividades de vigília podem levar o indivíduo ao estado de fadiga e não apenas as demandas de trabalho, o gerenciamento do risco à fadiga deve ser pautado no conceito de Responsabilidade Compartilhada entre os Provedores de Serviços de Tráfego Aéreo e os ATCO, conforme abaixo:

a) Os PSNA são responsáveis por:

- desenvolver e aplicar treinamento e conscientização a respeito das estratégias de gerenciamento da fadiga;

- estabelecer e implementar os seus limites prescritivos (horários de trabalho e de não trabalho) que permitam que os indivíduos desempenhem suas funções com segurança; e

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- desenvolver e implementar processos para monitorar e gerenciar os perigos relacionados à fadiga.

b) Controladores de Tráfego Aéreo são responsáveis por:

- apresentarem-se aptos e íntegros para o trabalho;

- fazerem uso apropriado dos períodos de folga para dormir; e

- reportarem riscos relacionados à fadiga, sempre que observados.

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4 GERENCIAMENTO DA FADIGA HUMANA – ABORDAGEM PRESCRITIVA

4.1 CUMPRIMENTO DOS LIMITES PRESCRITIVOS E REQUISITOS ASSOCIADOS

4.1.1 Ao estabelecerem seus próprios limites prescritivos, os PSNA devem baseá-los nos princípios científicos. No geral, isso significa que devem:

a) proporcionar oportunidades adequadas de sono antes dos períodos de serviço;

b) limitar a duração dos períodos de trabalho e identificar mínimos para os períodos de não trabalho, de forma a permitir uma recuperação adequada;

c) limitar os períodos de trabalho consecutivos e totais em períodos definidos, a fim de prevenir a fadiga acumulada;

d) considerar o impacto do início das atividades operacionais em horários diferentes do dia;

e) considerar o impacto de assumir funções dentro de uma Janela de Baixa do Ciclo Circadiano;

f) considerar se a tarefa está sendo realizada por uma única pessoa ou uma equipe;

g) considerar o impacto da carga de trabalho durante o período de trabalho; e

h) evitar longos períodos de vigília ao atribuir tarefas fora da escala de serviço (por exemplo, sobreaviso, reuniões operacionais, treinamentos etc.).

4.1.2 CUMPRIMENTO DOS LIMITES PRESCRITIVOS

4.1.2.1 Para comprovar a conformidade com os limites máximos regulatórios para horários de trabalho e limites mínimos de não trabalho, os PSNA devem manter tanto os registros das escalas de serviço planejadas quanto as reais (cumpridas), bem como os registros do tempo de ocupação da posição operacional e dos descansos.

4.1.2.2 A análise dos períodos realmente trabalhados comparados com os planejados, juntamente com os Reportes Voluntários de Fadiga, podem ser usados pelo PSNA para identificar os riscos à fadiga associados às práticas de elaboração de escalas operacionais, como parte das atribuições do SMS existente.

4.1.2.3 Na abordagem prescritiva, podem ser incluídas medidas de variações excepcionais dos limites prescritivos, para o atendimento de circunstâncias operacionais excepcionais imprevistas e previstas. A capacidade de usar essas flexibilizações do horário de trabalho e/ou reduções de descanso dependem da avaliação do ATCO de que estão aptos e íntegros para continuar a trabalhar.

4.1.2.4 Onde tais variações forem estabelecidas, o PSNA deve gerenciar a frequência do seu uso como parte de seus processos do SMS, em conformidade com os requisitos e critérios estabelecidos em norma específica do DECEA.

4.1.3 ELABORAÇÃO DAS ESCALAS DE SERVIÇO OPERACIONAL ATC APLICANDO OS PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS

4.1.3.1 Os Princípios Científicos relacionados à fadiga devem ser usados para a elaboração das escalas de serviço operacional ATC. Devem levar em consideração fatores como a dinâmica da perda e da recuperação do sono, o relógio biológico circadiano e o impacto da carga de trabalho sobre a fadiga, juntamente com requisitos operacionais e fatores contextuais. Quando a ciência da fadiga e o conhecimento e experiência operacional são aplicadas na elaboração das escalas operacionais, os riscos à fadiga relacionados à escala podem ser previstos e minimizados.

4.1.3.2 Como os efeitos da perda de sono e da fadiga são acumulativos, as práticas de elaboração

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das escalas de serviço precisam acomodar os efeitos dos diferentes tipos de turnos que são trabalhados pelos ATCO (turnos da manhã, turnos da tarde, turnos noturnos, pernoites etc.) e os efeitos de trabalhar numa sequência de diferentes tipos de turnos em um período mensal.

4.1.3.3 A seguir estão listados os princípios gerais para elaboração de escalas, baseados na ciência da fadiga.

a) O horário de trabalho perfeito para o corpo humano é diurno, com sono irrestrito à noite. Qualquer outra configuração compromete a saúde humana;

b) O relógio biológico circadiano não se adapta totalmente a horários alternativos, como o trabalho noturno;

c) Sempre que um período de trabalho se sobrepõe ao horário habitual de sono do ATCO, pode-se considerar que ele terá um sono restrito. Exemplos de sono restrito incluem horários de início de turno muito cedo, horários de trabalho que terminam tarde da noite e pernoite;

d) Quanto maior a frequência em que o período de trabalho se sobrepuser ao horário habitual de sono do ATCO, menor será a propensão ao sono. Trabalhar durante o período habitual de sono noturno é o pior cenário possível;

e) O serviço noturno (pernoite) também requer trabalhar durante todo o período do ciclo circadiano, nesse cenário a capacidade de autoavaliação da fadiga e o humor pioram. Além disso, um esforço adicional é necessário para manter o estado de alerta e o desempenho operacional;

f) Em períodos de trabalho consecutivos com sono restrito, os ATCO acumularão um débito de sono, o que aumentará, progressivamente, as deficiências e os riscos relacionados à fadiga;

g) Para se recuperarem do débito de sono, os ATCO precisam de no mínimo duas noites completas de sono irrestrito seguidas. A frequência e a duração dos períodos de recuperação devem ser proporcionais ao índice de acúmulo do débito de sono;

h) Quando de sobreaviso em casa, quanto maior a probabilidade de ser convocado, mais a recuperação do sono será afetada; e

i) Os ATCO precisam de descanso entre os períodos de ocupação ininterrupta da posição operacional para serem capazes de sustentar o desempenho durante os períodos de intensa demanda cognitiva.

4.1.3.4 Os princípios supracitados devem ser usados para desenvolver regras de elaboração de escalas para diferentes órgãos ATC.

4.1.3.5 As escalas precisam ser publicadas com antecedência suficiente para permitir que os ATCO se planejem para os períodos de trabalho, de repouso e de folga. Apesar das mudanças tardias na escala serem inevitáveis, os PSNA precisam manter as alterações em menor número possível, de forma a minimizar seus impactos.

4.1.3.6 Onde os ATCO estão autorizados a trocar turnos de serviço, o PSNA deverá estabelecer procedimentos específicos para permitir as trocas de serviço, de forma que:

a) os limites de horários de trabalho estabelecidos não sejam excedidos no momento da troca de turno ou em um momento posterior, quando a escala mensal já estiver sendo aplicada; e

b) as trocas de turnos devem ser monitoradas para evitar conflitos com os princípios de elaboração das escalas de serviço operacional ou práticas desenvolvidas pelo PSNA.

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4.1.4 ESTABELECIMENTO DE ATIVIDADES FORA DA ESCALA DE SERVIÇO

4.1.4.1 Dentro dos limites prescritivos estabelecidos, o estabelecimento de tarefas não programadas para atender às necessidades operacionais imprevistas é comumente realizada mediante diferentes abordagens, como, por exemplo, sobreaviso em casa e mudanças na escala de serviço de última ora. Por conveniência, o termo “sobreaviso” será usado para cobrir todas essas abordagens.

4.1.4.2 Os desafios específicos relacionados às atividades fora da escala de serviço são: sua imprevisibilidade e a possibilidade de que o ATCO realmente tenha que realizar tarefas durante o sobreaviso.

4.1.4.3 As seguintes considerações são importantes para o gerenciamento da fadiga, ao se elaborar as escalas de sobreaviso para os ATCO:

a) A necessidade de prover oportunidades de sono irrestrito, antes e depois da realização das atividades fora da escala de serviço: Como em qualquer outro período de trabalho, o ATCO precisa de uma oportunidade para planejar seu sono (tanto quanto possível), para permitir que possam desempenhar suas atividades de trabalho num nível satisfatório. Ele também precisa ter oportunidade de se recuperar da fadiga acumulada do período de trabalho anterior;

b) Ajustar a duração do período de permanência em sobreaviso, à antecedência do período de notificação: Uma notificação com pouca antecedência requer que o ATCO esteja totalmente descansado e imediatamente pronto para assumir o trabalho. Uma notificação realizada com mais antecedência pode oferecer ao ATCO a oportunidade de se preparar (dormir) para o trabalho, permitindo que o mesmo esteja disponível por mais tempo. Portanto, a duração do período de sobreaviso deve estar diretamente relacionada à antecedência do período de notificação;

c) O tempo de antecedência do acionamento deve ser ajustado ao tempo de permanência no sobreaviso; e

d) Tendo em vista que o tempo de sobreaviso é contado como tempo de trabalho, o período de permanência no sobreaviso é proporcional ao nível de fadiga que ele provavelmente produzirá.

4.1.4.4 O PSNA deve estabelecer processos para assegurar que as atribuições de atividades fora da escala de serviço sejam gerenciadas ativamente, para evitar que o ATCO trabalhe quando já estiver acordado por um longo tempo. Tais processos têm como objetivo:

a) proporcionar oportunidades de sono protegidas (antes, durante e depois das atividades fora da escala de serviço);

b) identificar a antecedência mínima para a notificação de mudanças nas atividades planejadas; e

c) limitar a duração e o número de dias consecutivos para os quais eles podem estar sujeitos a atividades fora da escala de serviço.

4.1.5 GERENCIAMENTO DA FADIGA NAS VARIAÇÕES DOS LIMITES PRESCRITIVOS

4.1.5.1 Mesmo quando o gerenciamento da fadiga é realizado sob os requisitos da abordagem prescritiva, pode ser autorizada a utilização de alguma flexibilidade para permitir ao PSNA variar os limites prescritivos estabelecidos, a fim de atender às necessidades operacionais e aos riscos em determinadas circunstâncias excepcionais específicas.

4.1.5.2 Nesse caso, a intenção do princípio normativo da ICAO é minimizar e não encorajar o ato de “regular através das variações”. Não se destina a oferecer uma alternativa rápida e fácil a um

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FRMS, quando seria necessária uma abordagem mais abrangente de gerenciamento de risco de fadiga.

4.1.5.3 As variações devem ser restritas à duração das circunstâncias excepcionais e gerenciadas usando estratégias de mitigação e podem ser autorizadas para atender às seguintes situações:

a) variações inesperadas e fora do controle do PSNA; ou

b) pequenas variações esperadas, de menor vulto, com o objetivo de atender a uma necessidade operacional excepcional.

4.1.5.4 As responsabilidades do PSNA no gerenciamento da fadiga em relação às variações são discutidas a seguir.

4.1.5.5 Variações para Atender a Circunstâncias Excepcionais Imprevistas e Riscos Associados

4.1.5.5.1 Circunstâncias operacionais imprevistas referem-se àquelas situações inesperadas ou excepcionais, que não ocorrem regularmente ou que não possam ser minimamente previstas, com base nas experiências passadas.

4.1.5.5.2 No entanto, quando as circunstâncias puderem ser razoavelmente previstas (por exemplo, condições sazonais conhecidas ou aumentos diários específicos no tráfego aéreo), espera-se que o PSNA realize um planejamento compatível com a demanda esperada. Nesse caso, o PSNA deve aplicar medidas de mitigação, por exemplo, programar “períodos de buffer” (planejamento de tempo adicional para permitir a variabilidade operacional) ou prover recursos adicionais para permanecer dentro dos limites prescritivos estabelecidos, e não extrapolar esses limites.

4.1.5.5.3 Contudo, reconhece-se que podem ocorrer circunstâncias operacionais imprevistas às quais um PSNA precise responder imediatamente, demandando extrapolar, excepcionalmente, os limites prescritivos.

4.1.5.5.4 Caso o PSNA necessite atender a circunstâncias operacionais imprevistas, súbitas e extremas (como um desastre natural extremo ou fechamento inopinado do espaço aéreo), deve assegurar que é capaz de manter um nível aceitável do desempenho da segurança operacional.

4.1.5.5.5 O PSNA deverá monitorar a frequência do uso das variações e manter evidências do cumprimento dos requisitos regulamentares.

4.1.5.6 Variações para Atender a Circunstâncias Excepcionais Previstas e Riscos Associados

4.1.5.6.1 Poderão ser autorizadas pequenas variações nos limites prescritos para atender, em circunstâncias excepcionais, às necessidades operacionais esperadas e aos riscos associados. Tal autorização fica condicionada a que o PSNA demonstre que será capaz de gerenciar ativamente os riscos específicos da fadiga quando as variações ocorrerem.

NOTA: Exemplos de circunstâncias operacionais esperadas, mas excepcionais, incluem garantir a prestação adequada dos serviços ATS durante um evento de curto prazo ou atender a uma necessidade operacional específica que exija variações mínimas por períodos prolongados.

4.1.5.6.2 Para tanto, o PSNA deve apresentar um Plano de Segurança Operacional (Safety Case) que demonstre que será mantido um nível de segurança equivalente ou superior àquele alcançado, quando estiver gerenciando os riscos sem a utilização das variações.

4.1.5.6.3 O Plano de Segurança Operacional (Safety Case) deve ser realizado em conformidade com o Anexo F e seu Apêndice1.

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4.2 GERENCIAMENTO DO RISCO À FADIGA HUMANA POR MEIO DO SMS

4.2.1 Na Abordagem Prescritiva, os PSNA, além de cumprir com os Limites Prescritivos estabelecidos, devem usar a estrutura já existente do seu SMS para gerenciar os riscos relacionados à fadiga.

4.2.2 O processo do PSNA para atribuir responsabilidades para o gerenciamento da fadiga é o mesmo utilizado no seu SMS para os outros tipos de perigos.

4.2.3 É baseado nos 4 componentes do SMS, já que os processos relativos ao gerenciamento do risco à fadiga deverão ser incorporados à estrutura do SMS. Para isso, os PSNA deverão atualizar seus processos já existentes ou, quando necessário, estabelecer novos processos:

a) Política e Objetivos da Segurança Operacional;

b) Gerenciamento do Risco;

c) Garantia da Segurança Operacional; e

d) Promoção da Segurança Operacional.

4.2.4 Os itens abaixo descrevem os processos e ferramentas utilizadas no SMS para identificar e mitigar os riscos relacionados à fadiga.

4.2.5 POLÍTICA E OBJETIVOS DA SEGURANÇA OPERACIONAL

4.2.5.1 A Política de Segurança Operacional deve contemplar o Gerenciamento do Risco à Fadiga na formalização do compromisso com a Segurança Operacional.

4.2.5.2 Os Sistemas de Gerenciamento da Segurança Operacional das OPSNA e das EPSNA devem contemplar o Gerenciamento do Risco à Fadiga nos elementos e componentes de seus SMS.

4.2.5.3 As OPSNA e as EPSNA devem revisar os seus SMS, considerando pelo menos os seguintes aspectos:

a) A Política de Segurança Operacional, contemplando o compromisso e a responsabilidade com o GRF;

b) Incluir no componente Gerenciamento do Risco à Segurança Operacional o elemento Gerenciamento do Risco à Fadiga;

c) Incluir no componente Garantia da Segurança Operacional processos relativos ao Gerenciamento do Risco à Fadiga;

d) Incluir no componente Promoção da Segurança Operacional a promoção do Gerenciamento do Risco à Fadiga; e

e) O MGSO deve considerar no seu escopo o GRF para todos os órgãos ATC subordinados.

4.2.6 GERENCIAMENTO DO RISCO À FADIGA

4.2.6.1 Os PSNA deverão desenvolver e manter processos documentados de identificação de perigos, avaliação e mitigação de riscos relacionados à fadiga humana, conforme figura 13, abaixo.

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Figura 13 - Processo de Gerenciamento do Risco à Fadiga, na abordagem prescritiva, por meio do SMS

4.2.6.2 Identificação de Perigos

4.2.6.2.1 O ponto de partida de todo gerenciamento de riscos é a identificação de perigos. A fadiga humana é considerada um perigo identificado, principalmente quando associada ao trabalho em turnos. Em geral, a fadiga não é considerada um evento aleatório, ela ocorre em padrões esperados e deve ser analisada e prevista, de forma a ser adequadamente gerenciada.

4.2.6.2.2 Existem muitas maneiras de identificar os perigos relacionados à fadiga. Dependendo do tamanho do PSNA e da maturidade dos seus processos de SMS, algumas ou todas as ferramentas descritas a seguir podem ser utilizadas:

a) Um PSNA de pequeno porte e não complexo pode realizar a identificação de perigos relacionados à fadiga por meio de discussões em reuniões de seu Comitê de Segurança ou a partir de um grupo com experiência operacional compatível;

b) Os resultados relacionados à fadiga, coletados a partir das avaliações, vistorias e inspeções de segurança operacional, conduzidas interna ou externamente;

c) Os dados de segurança operacional relativos à fadiga, coletados por meio do Reporte Voluntário de Fadiga, RELPREV, RCSV, RIF, Investigações de Incidentes de Tráfego Aéreo, Acidentes/Incidentes Aeronáuticos; e

d) Os dados coletados por meio dos processos do SMS do PSNA para monitorar tendências relacionadas à fadiga nos indicadores de desempenho de segurança operacional (SPI).

4.2.6.2.3 A identificação de perigos relacionados à fadiga ocorrerá por meio das ferramentas já existentes no SMS, além de outras específicas para o gerenciamento do risco à fadiga. No mínimo, a identificação dos perigos à fadiga deve ser realizada por meio das ferramentas de prevenção descritas a seguir.

4.2.6.2.4 Processos Reativos

4.2.6.2.4.1 Os processos reativos devem identificar a contribuição dos perigos relacionados à fadiga após a ocorrência de um evento com potenciais consequências negativas à segurança, a fim de determinar como o impacto da fadiga poderia ter sido minimizado.

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4.2.6.2.4.2 Reporte de Indício de Fadiga (RIF)

4.2.6.2.4.2.1 O Reporte de Indício de Fadiga (RIF), Anexo B, é caracterizado como reporte mandatório de fadiga e deve ser preenchido após uma Ocorrência de Tráfego Aéreo.

4.2.6.2.4.2.2 Tem por objetivo subsidiar as investigações de incidentes de tráfego aéreo, com informações relacionadas à suscetibilidade a condições de fadiga (quantidade e qualidade de sono, fatores circadianos, tempo de vigília, problemas de saúde relacionados a distúrbios de sono, uso de substâncias psicoativas e autopercepção de fadiga).

4.2.6.2.4.2.3 O(s) ATCO envolvido(s) em Ocorrências de Tráfego Aéreo, deve(m) responder às perguntas de triagem de fadiga (vide item 4.2.6.2.4.2.4), com a finalidade de verificar a necessidade do preenchimento do Reporte de Indício de Fadiga (RIF), conforme o processo de investigação de Ocorrências de Tráfego Aéreo, estabelecido em norma específica do DECEA.

NOTA: Para efeito do Gerenciamento do Risco à Fadiga, ATCO envolvido em Ocorrência de Tráfego Aéreo é aquele que, no momento da ocorrência, tinha a responsabilidade de manter a prestação de serviço ATS para a(s) aeronave(es) envolvida(s) na ocorrência.

4.2.6.2.4.2.4 Perguntas de Triagem de Fadiga

4.2.6.2.4.2.4.1 Para determinar se o RIF deverá ser preenchido, os ATCO envolvidos na ocorrência de tráfego aéreo deverão responder às perguntas de triagem de fadiga, na página web do DECEA ou da respectiva SIPACEA, de forma a identificar suscetibilidade do indivíduo a um estado de fadiga no momento da ocorrência. O(s) ATCO envolvido(s) deve(m) responder às seguintes questões:

a) Nas últimas 72 horas você dormiu menos de 8 horas ou menos que o habitual ou o sono foi de má qualidade?

b) Você estava acordado por mais de 16 horas até o momento da ocorrência?

c) A ocorrência se deu em períodos críticos do ritmo circadiano, em que a capacidade de manter vigilância reduz significativamente (1h às 6h local)?

d) Você está se sentindo cansado devido à grande quantidade de trabalho no turno?

e) Você está se sentindo cansado devido à pouca quantidade de aeronaves ou a poucos estímulos durante o turno de trabalho?

4.2.6.2.4.2.4.2 As perguntas de triagem são questões dicotômicas que admitem apenas respostas afirmativas “ M” ou negativas “N O”. As quest es est o relacionadas à análise preliminar do débito de sono, à identificação de períodos de vigília estendida, à janela de baixa do ritmo circadiano, assim como à dificuldade do indivíduo em prestar atenção em um campo de estimulação por um período prolongado, tendo como consequência a baixa manutenção da vigilância.

4.2.6.2.4.2.5 Se a resposta for NÃO para todas as perguntas de triagem, estará descartada a suscetibilidade ao estado de fadiga. Neste caso, não deve ser dado andamento ao processo de reporte da fadiga como possível fator contribuinte à ocorrência em questão. Logo, o RIF não deverá ser preenchido.

4.2.6.2.4.2.6 Se pelo menos uma dessas perguntas for respondida com um SIM, o(s) ATCO envolvido(s) deverá(ão) preencher o RIF, ainda durante ou ao final do turno de serviço no qual se deu a ocorrência. É fundamental que as Perguntas de Triagem e o RIF sejam respondidos ainda durante o turno, para que o(s) ATCO seja(m) capaz(es) de resgatar da memória as informações sobre sua rotina de sono e vigília e sua autopercepção de fadiga, no momento da ocorrência.

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4.2.6.2.4.2.7 Como nesse momento ainda não se sabe exatamente se houve envolvimento de outras posições operacionais, deve-se considerar, primordialmente, a posição operacional na qual se deu a ocorrência. Porém, se de imediato for possível verificar o envolvimento ativo de outras posições operacionais, esse ATCO também deverá responder às perguntas de triagem de fadiga e, caso necessário, preencher o RIF.

4.2.6.2.4.2.8 O preenchimento das perguntas de triagem de fadiga e do RIF devem ser realizados em conformidade com o processo de investigação de Ocorrências de Tráfego Aéreo, estabelecidos em norma específica do DECEA.

4.2.6.2.4.2.9 Posteriormente, caso a ocorrência seja classificada como incidente de tráfego aéreo, o RIF será analisado pelos investigadores do aspecto psicológico, de forma a extrair as informações fundamentais, para que a possível presença de fadiga seja identificada ou não, durante o processo de investigação. Caso a ocorrência não seja classificada como incidente, as informações do RIF serão automaticamente inseridas no Banco de Dados de Fadiga, no SIGCEA, para que possam ser gerados dados de gerenciamento de segurança operacional.

4.2.6.2.4.3 Investigação da Fadiga nos Incidentes de Tráfego Aéreo

4.2.6.2.4.3.1 A partir da implementação do gerenciamento do risco à fadiga no SISCEAB, as investigações de incidentes de tráfego aéreo deverão verificar a presença da fadiga como possível fator contribuinte.

4.2.6.2.4.3.2 A metodologia de investigação da fadiga por meio dos RICEA, assim como todo o material de apoio aos investigadores encontram-se amplamente descritos no MCA 63-7 “Investigação do Fator Humano, Aspecto Psicológico, nos Incidentes de Tráfego Aéreo”, visando à padronização de aspectos a serem incluídos no rol das variáveis do aspecto psicológico.

4.2.6.2.4.3.3 O principal objetivo é verificar se a fadiga constituiu possível fator contribuinte nos incidentes de tráfego aéreo, já que a fadiga se configura como um perigo relacionado ao desempenho humano no ATC.

4.2.6.2.4.3.4 Outrossim, a identificação da fadiga contribui para o levantamento de informações relevantes ao aprimoramento do gerenciamento do risco à fadiga no SISCEAB.

4.2.6.2.5 Processos Proativos

Os processos proativos devem apoiar na identificação dos perigos relacionados à fadiga e suas mitigações, nas operações correntes dos serviços de tráfego aéreo.

4.2.6.2.5.1 Reporte Voluntário de Fadiga (RVF)

4.2.6.2.5.1.1 A notificação voluntária de perigos tem um papel essencial no Gerenciamento da Segurança Operacional. O principal objetivo do Reporte Voluntário de Fadiga é identificar condições latentes e/ou indícios de suscetibilidade à fadiga, de modo a propor medidas mitigadoras e gerenciar o risco à fadiga.

4.2.6.2.5.1.2 O RVF deve ser utilizado para que os indivíduos possam fornecer informações significativas sobre possíveis riscos à fadiga percebidos no transcorrer da rotina operacional.

4.2.6.2.5.1.3 O RVF também deve ser utilizado pelo ATCO para reportar quando não se sentir íntegro e apto para assumir o serviço, devido à fadiga.

4.2.6.2.5.1.4 A metodologia a ser utilizada pelo pessoal de Fatores Humanos para o processamento dos Reportes Voluntários de Fadiga deve ser similar à metodologia utilizada para a análise dos RELPREV afetos aos Fatores Humanos.

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4.2.6.2.5.1.5 Ressalva-se que a análise dos Reportes Voluntários de Fadiga deve ser realizada sob a perspectiva dos Princípios Científicos, detalhados no item 2.1 desta Norma.

4.2.6.2.5.1.6 Os profissionais devem ser encorajados a reportar a fadiga por meio de uma cultura justa e eficaz de reportes de segurança, na qual existe a compreensão clara que define a fronteira entre o desempenho aceitável (que pode incluir erros não intencionais) e o desempenho inaceitável (como as violações). Para incentivar a comunicação aberta e honesta dos perigos relacionados à fadiga, o PSNA deve ser capaz de distinguir claramente:

a) os erros humanos não intencionais – que são aceitos como uma parte natural do comportamento humano e são reconhecidos e gerenciados dentro do SMS; e

b) as violações das regras e procedimentos estabelecidos – o PSNA deve ter processos independentes, no SMS, para lidar com a violação intencional.

4.2.6.2.5.1.7 Os procedimentos relacionados abaixo deverão ser cumpridos pelos PSNA ao utilizarem os Reportes Voluntários de Fadiga:

a) deverá ser utilizado o formulário constante no Anexo C desta Norma;

b) podem ser emitidos por controladores ou por outros profissionais ligados à área operacional;

c) devem ser analisados e tratados com a mesma referência metodológica utilizada para o tratamento dos RELPREV;

d) devem ser de caráter voluntário e confidencial;

e) o formulário deverá ser disponibilizado na página web do DECEA ou da respectiva SIPACEA, para facilitar a utilização (preenchimento e envio) por qualquer profissional da área operacional que queira relatar algum perigo identificado referente à fadiga;

f) devem analisar e implementar as ações recomendadas emitidas no Relatório de Análise de Fadiga ou propor soluções alternativas que solucionem a condição latente identificada;

g) devem controlar o cumprimento das ações recomendadas emitidas no Relatório de Análise de Fadiga;

h) devem emitir feedback ao emissor do RVF;

i) deverão ser realizadas palestras ao efetivo ligado à operação para que compreendam claramente como os dados são coletados, por que os dados estão sendo coletados, como serão analisados e como os resultados e ações recomendadas serão implementadas na organização;

j) deverá ser utilizado quando o ATCO não iniciar ou não concluir o período de trabalho, devido à fadiga; e

k) informações sobre os procedimentos para reportar a fadiga, bem como a importância do RVF, devem ser contempladas em todos os treinamentos em gerenciamento do risco à fadiga.

4.2.6.2.5.1.8 Após ações de promoção que visam incrementar a conscientização sobre a importância de gerenciar a fadiga, é provável que haja um aumento da quantidade dos reportes voluntários. Este “pico” não representa necessariamente um aumento nas ocorrências ou do risco de fadiga. Pode ser simplesmente devido ao fato de as pessoas estarem mais conscientes sobre a importância de reportar. Outros indicadores de desempenho de segurança podem precisar ser avaliados conjuntamente para decidir se o aumento no reporte deve desencadear ações adicionais.

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4.2.6.2.5.1.9 Os PSNA devem incentivar os ATCO a usarem o sistema de Reporte Voluntário de Fadiga, de forma que seja possível identificar os perigos relacionados à fadiga, como, por exemplo:

a) um período de trabalho foi concluído, mas o ATCO acredita que o nível de fadiga que ele ou outros indivíduos sofreram foi significativo e que a margem de segurança não foi mantida durante todo o tempo de ocupação da posição operacional, ou foi mantida apenas após alguma ação mitigadora não planejada (por exemplo, rotação de tarefas, redução da carga de trabalho, atraso da hora de início do serviço subsequente, criando a oportunidade para um cochilo, aumentando a supervisão/monitoramento etc.);

b) o ATCO percebe algo em seu ambiente operacional que provavelmente terá impacto na sua capacidade em se manter alerta, ou na de outros, de tal forma que a margem de segurança possa ter sido reduzida a um nível insatisfatório; e

c) assim como qualquer outro perigo, uma série de reportes citando a fadiga em um horário específico de um turno pode indicar que será necessário tomar ações para avaliar e mitigar esse perigo.

4.2.6.2.5.1.10 Processamento do Reporte Voluntário de Fadiga (RVF)

4.2.6.2.5.1.10.1 Os RVF deverão ser preenchidos na página web do DECEA ou de suas Organizações Regionais.

4.2.6.2.5.1.10.2 Ao ser finalizado o preenchimento, o RVF deverá ser disponibilizado, por meio do SIGCEA, para a SIPACEA correspondente ao órgão ATC que deu origem ao RVF.

4.2.6.2.5.1.10.3 O RVF deverá ser encaminhado para o setor de Fatores Humanos da SIPACEA, que deverá indicar um(a) analista de Fatores Humanos para realizar a análise e o processamento do RVF.

4.2.6.2.5.1.10.4 A análise e o processamento do RVF deverão ser formalizados por meio do Relatório de Análise de Fadiga (Anexo E).

4.2.6.2.5.1.10.5 Após conclusão do Relatório de Análise de Fadiga, o(a) analista de Fatores Humanos deve elaborar uma resposta para feedback ao eminente do RVF.

4.2.6.2.5.2 Análise de RELPREV e outros meios de comunicação contendo informações sobre fadiga.

4.2.6.2.5.2.1 Ao analisar um RELPREV ou relato proveniente de outro meio de comunicação como e-mail, ofício, SAC etc., sendo identificado um contexto de suscetibilidade de fadiga, deverá proceder conforme a metodologia de análise de Reporte Voluntário de Fadiga.

4.2.6.2.5.2.2 A análise desses relatos deve ser formalizada por meio do Relatório de Análise de Fadiga, conforme Anexo E.

4.2.6.2.5.3 Mensuração da Fadiga dos ATCO do SISCEAB

4.2.6.2.5.3.1 As ferramentas de medição de fadiga podem ser subjetivas (baseadas inteiramente na lembrança ou percepções de um indivíduo) ou objetivas (como testes de desempenho e diferentes tipos de monitoramento fisiológico).

4.2.6.2.5.3.2 Cada tipo de medida possui vantagens e desvantagens. Para decidir quais tipos de dados devem ser coletados, a consideração mais importante deve ser o nível esperado do risco de fadiga.

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4.2.6.2.5.3.3 Se o risco de fadiga for baixo, medidas mais simples podem ser adequadas, ao passo que se o risco de fadiga for considerado alto, então as medidas escolhidas para uso precisam ser mais abrangentes.

4.2.6.2.5.3.4 Mensuração Coletiva da Fadiga

4.2.6.2.5.3.4.1 A finalidade da mensuração é realizar o mapeamento do nível de fadiga dos ATCO no momento da sua aplicação, por órgão ATC, com o objetivo de estabelecer medidas mais assertivas de gerenciamento da fadiga, já que será possível identificar as características das rotinas de sono e vigília, nível de sonolência, além do nível de autopercepção da fadiga.

4.2.6.2.5.3.4.2 A mensuração coletiva da fadiga deverá ser realizada periodicamente, em âmbito nacional, com intervalo definido pelo DECEA, para propiciar o acompanhamento da eficácia das ações de gerenciamento da Fadiga no SISCEAB, visando à manutenção dos níveis de segurança operacional.

4.2.6.2.5.3.4.3 O público-alvo serão todos os ATCO que concorrem às escalas operacionais. A mensuração coletiva ocorrerá em duas fases, sendo a primeira fase com uma amostra total dos ATCO e a segunda, com uma amostragem parcial dos ATCO.

4.2.6.2.5.3.4.4 O método sugerido para a Fase 1 inclui a aplicação dos seguintes questionários:

a) uestionário de Trabal o em Turnos Alternados aseado e adaptado do “Survey of ShiftWorkers” de autoria de Folkard. Tem por objetivo, levantar os dados sobre a rotina de sono e vigília de forma individualizada e, assim, identificar e compreender os efeitos psicofisiológicos (físicos e mentais) que podem ser experimentados por aqueles que trabalham em turnos alternados;

b) Escala de avaliação de Fadiga: Baseada e adaptada do Fatigue Assessment Scale (FAS), de Michielsen et al. 2004, trata-se de um questionário, com simples preenchimento, contendo dez itens subdivididos, para avaliar a fadiga física e mental. Com cinco categorias de resposta, a ferramenta avalia a frequência de sintomas relacionados à fadiga; e

c) Escala de Sonolência de Epworth: Publicada em 1991 por Johns MW, foi desenvolvida através da observação da natureza e da ocorrência da sonolência diurna. É uma ferramenta para medir o impacto da sonolência em oito situações da vida cotidiana, ela se propõe a medir a sensação de sonolência excessiva.

4.2.6.2.5.3.4.5 Todos os instrumentos citados acima serão aplicados em formulário único, via web, com link no site do DECEA, por meio da plataforma já utilizada para aplicação de pesquisas em seu efetivo.

4.2.6.2.5.3.4.6 Serão anônimos e a aplicação deverá ser acompanhada de palestras de promoção sobre o gerenciamento do risco à fadiga, de forma a motivar a adesão e o incentivo ao preenchimento dos instrumentos. O feedback do resultado do órgão ATC será dado de forma organizacional e não individual.

4.2.6.2.5.3.4.7 A metodologia de aplicação sugerida para a Fase 2 será na modalidade presencial. O público-alvo sugerido para essa fase será uma amostragem parcial dos ATCO, considerando critérios como: classe de órgão, PSNA com scores mais elevados na fase anterior etc. A duração de aplicação dessa fase será por um período e turnos preestabelecidos, de acordo com escala operacional. Nesta fase, os psicólogos dos Regionais poderão ser incluídos para coleta de dados. O feedback do resultado nesta fase será dado de forma pessoal, uma vez que os níveis aqui identificados dizem respeito às particularidades do indivíduo.

4.2.6.2.5.3.4.8 O método sugerido para a segunda fase inclui a aplicação das seguintes ferramentas:

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a) The Karolinska Sleepiness Scale (KSS): É uma escala que solicita as pessoas a classificar como se sentem em relação ao sono no momento da aplicação. Essa ferramenta estabelece níveis de sonolência, considerando quantidade e qualidade do sono, além de queixas relacionadas a sintomas da fadiga e problemas de saúde que possam interferir no sono;

b) The Samn-Perelli Crew Status Check: Essa escala solicita que as pessoas avaliem seu nível de fadiga no momento, sendo uma versão simplificada da lista de Verificação Samn-Perelli;

c) NASA TLX (Task Load Index): Se trata de uma avaliação multidimensional subjetiva e amplamente usada que classifica a carga de trabalho percebida. Tem por objetivo avaliar a eficácia de uma tarefa, sistema, equipe ou outros aspectos do desempenho. Foi usado com sucesso em todo o mundo para avaliar a carga de trabalho em vários ambientes, como os cockpits de aeronaves estações de trabalho de comando, controle e comunicação, supervisão e controle de processos, além de simulações e testes de laboratório; e

d) PVT (Psychomotor Vigilance Task): Essa ferramenta tem sido utilizada desde o final dos anos 90 em pesquisas sobre privação do sono, pois oferece uma forma simples de rastrear mudanças no estado de alerta comportamental causadas por sono insuficiente. O objetivo do PVT é medir a atenção sustentada e dar uma medida numérica da sonolência, contando o número de lapsos de atenção do indivíduo testado.

4.2.6.2.5.3.4.9 Cabe ressaltar que qualquer outra metodologia escolhida para a mensuração da Fadiga deve levantar, no mínimo, os seguintes dados:

a) questões demográficas (ex.: idade, sexo etc.);

b) questões específicas sobre a população (ex.: onde você mora, trabalha etc.? Quanto tempo você gasta no trajeto casa-trabalho?);

c) questões sobre autopercepção da fadiga (ex.: Você se sente fatigado depois de um dia de trabalho? Você identifica colegas de trabalho que estão fatigados?);

d) questões de conscientização sobre o tema fadiga (ex.: Para você, quais técnicas são mais eficazes na gestão da fadiga?).

4.2.6.2.5.3.4.10 Devem ser observadas as melhores práticas no planejamento e aplicação dos questionários, conforme a seguir:

a) Garantir que as perguntas sejam apropriadas e facilmente compreendidas pelo grupo específico a ser estudado (ex.: TWR, APP e ACC);

b) Assegurar aos participantes que todos os dados coletados serão confidenciais, não poderão ser rastreados e as respostas terão, invariavelmente, caráter não punitivo;

c) Falar sobre a pesquisa de forma clara e frequente; salientar os benefícios em longo prazo dos resultados da pesquisa e informar os links para a pesquisa em todos os meios de comunicação disponíveis; e

d) Se a pesquisa for realizada on-line, em um ambiente em que alguns indivíduos podem não ter acesso fácil ao computador, é importante prover estratégias alternativas para a participação.

4.2.6.2.5.3.5 Mensuração dos Níveis de Fadiga nas Operações Correntes (Individual)

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4.2.6.2.5.3.5.1 Trata-se de um método para lidar com os perigos à fadiga, identificados por meio da mensuração dos níveis de fadiga nas operações correntes.

4.2.6.2.5.3.5.2 O objetivo dessa mensuração é prover uma ferramenta para diminuir a probabilidade que um ATCO fatigado, apresentando níveis inadequados de alerta, assuma uma posição operacional incompatível com seu estado de prontidão para executar tarefas críticas à segurança.

4.2.6.2.5.3.5.3 Alguns testes simples de desempenho são considerados indicadores da capacidade do ATCO para realizar suas funções. Os itens a seguir devem ser considerados ao escolher os testes de desempenho para monitorar a fadiga e a sonolência do ATCO durante as operações de controle de tráfego aéreo:

a) Quanto tempo dura o teste?

b) Pode ser concluído em vários intervalos de tempo (por exemplo, várias vezes em um turno de serviço), sem comprometer a capacidade de um ATCO de atender aos requisitos da sua tarefa?

c) Foi validado? Por exemplo, foi demonstrado que é sensível aos efeitos da perda de sono e do ciclo do relógio biológico circadiano sob condições experimentais controladas?

d) É preditivo de tarefas mais complexas, por exemplo, desempenho do ATCO durante uma situação de emergência?

e) Foi usado em outras operações de aviação e os dados estão disponíveis para comparar os níveis de desempenho?

4.2.6.2.5.3.5.4 Sugere-se a utilização do teste PVT – Psychomotor Vigilance Task – antes de assumir seu posto de trabalho, o que permitirá a mensuração de alterações no desempenho relacionadas à fadiga, por meio da mensuração do tempo de reação a estímulos.

4.2.6.2.5.3.5.5 A mensuração poderá ocorrer por uma demanda da chefia do PSNA, do chefe de equipe, do supervisor ou do próprio operador, ou ainda de forma aleatória para todos os controladores.

4.2.6.2.5.3.5.6 Trata-se de uma abordagem amplamente aceita para a coleta de medidas objetivas de desempenho durante as operações, já que é um teste simples e rápido. A mensuração do tempo de reação por meio do PVT dura em torno de 5 minutos e pode ser aplicado em vários momentos durante o dia, fornecendo ao indivíduo a medida de seu desempenho em momentos e cenários operacionais distintos. O momento específico para as avaliações pode variar de acordo com as necessidades.

4.2.6.2.5.3.5.7 O PVT possui propriedades desejáveis incluindo (a) nenhuma curva de aprendizado (isto é, nen um efeito de “prática”) e (b) demonstra sensibilidade perda de sono em uma variedade de diferentes ambientes e populações (Dinges & Kribbs, 1991; Dinges & Powell, 1985).

4.2.6.2.5.3.5.8 As avaliações conduzidas em ambientes operacionais podem ser administradas por meio de computador do tipo desktop, dispositivos portáteis, como tablets e smartphones, ou totens disponibilizados no ambiente operacional.

4.2.6.2.5.4 Comparação das Escalas de Serviço Operacional Planejadas com as Cumpridas

4.2.6.2.5.4.1 Os parâmetros de horários de trabalho e não trabalho estabelecidos e aplicados nas escalas de serviço terão impacto na capacidade do ATCO de manter um nível adequado de alerta ao longo dos períodos de trabalho.

4.2.6.2.5.4.2 Por esse motivo, visando ao gerenciamento do risco à fadiga, a ICAO recomenda que os PSNA realizem a supervisão sistemática das escalas de serviço dos órgãos ATC, com o objetivo

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de identificar condições latentes nas práticas de planejamento e de aplicação das escalas. As análises devem ser apropriadamente embasadas nos Princípios Científicos.

4.2.6.2.5.4.3 Os dados sobre quanto e quando os ATCO realmente trabalharam podem ajudar a identificar momentos em que a fadiga pode ter sido maior do que o esperado, em comparação com o planejamento original. A análise da escala planejada, por sua vez, demonstra o quanto a organização tem tido sucesso em cumprir os limites prescritivos e proporcionado uma escala na qual o controlador consiga gerenciar sua fadiga adequadamente, mediante oportunidades de sono.

4.2.6.2.5.4.4 Ocasionalmente, a escala de serviço cumprida pelo ATCO é diferente da escala planejada pela organização, devido à necessidade de realizar trocas de serviço ou de efetuar modificações de última hora. Logo, para fins de gerenciamento da fadiga, não basta analisarmos a escala planejada, é necessária a análise da escala realmente cumprida.

4.2.6.2.5.4.5 A análise dos períodos realmente trabalhados, comparados com os planejados, podem ser usados pelos PSNA para identificar:

a) os riscos de fadiga associados às práticas de elaboração de escalas operacionais;

b) os momentos em que a fadiga pode ter sido maior do que o esperado em comparação com o planejamento original; e

c) se o PSNA tem um planejamento realista da escala operacional (sem grandes diferenças entre escalas de serviço planejadas e cumpridas).

4.2.6.2.5.4.6 Como parte dos processos rotineiros do SMS, as configurações de escalas devem ser monitoradas regularmente para avaliar se os perigos identificados justificam uma ação mitigadora.

4.2.6.2.5.4.7 A amostra das escalas a serem analisadas deverá ser de 5% do efetivo operacional, escolhidos de forma aleatória, e com periodicidade mensal.

4.2.6.2.5.4.8 Para que a análise das escalas de serviço planejadas e cumpridas possa ser realizada periodicamente, os PSNA devem manter, por um período mínimo de 2 anos, os registros dos períodos de trabalho e de não trabalho (folga/repouso/descanso) dos ATCO, para fornecer as evidências de conformidade com os limites estabelecidos, especificados pelo seu regulador.

4.2.6.2.5.4.9 O Formulário de Parâmetros a serem observados e a intenção relacionada a cada item estão contidas no Anexo D deste documento e deve ser utilizado como material de apoio para realizar a análise das escalas planejadas e cumpridas.

4.2.6.2.5.4.10 A análise das condições observadas deverá ser realizada sob duas perspectivas:

a) dos Princípios Científicos detalhados no item 2.1 desta Norma; e

b) dos parâmetros normativos contidos no Manual ou Modelo Operacional do órgão ATC.

4.2.6.2.5.4.11 Deve-se salientar que é importante analisar os parâmetros sob a perspectiva dos Princípios Científicos, mesmo se estiverem sendo atendidos do ponto de vista prescritivo nas escalas planejadas e cumpridas, pois é preciso verificar se os parâmetros normativos estabelecidos pelo PSNA estão promovendo um contexto adequado de gerenciamento da fadiga e atendendo aos princípios científicos, ou se precisarão ser reestudados.

4.2.6.2.5.4.12 Esse tipo de métrica, se necessário, aponta para possíveis mitigações no âmbito organizacional. Por exemplo, aumentar o número de ATCO em um período específico, alterar o horário de início de um determinado turno ou gerenciar trocas de turnos, dentre outros.

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4.2.6.2.5.4.13 Os resultados das análises devem ser registrados no Formulário de Análise de Fadiga, constante no Anexo E. No relatório devem ser apontadas e justificadas as condições latentes identificadas, afetas aos parâmetros descritos em cada item.

4.2.6.2.5.4.14 Ao final da análise comparativa das escalas, se pertinente, deverão ser emitidas ao PSNA propostas de ações mitigadoras relacionadas a condições latentes identificadas nas práticas de planejamento e aplicação das escalas de serviço. Essas propostas deverão ser apropriadamente justificadas e embasadas nos Princípios Científicos.

4.2.6.2.5.4.15 Os PSNA devem analisar e implementar as ações recomendadas emitidas no Relatório de Análise de Fadiga ou propor recursos alternativos que solucionem a(s) condição(ões) latente(s) identificada(s).

4.2.6.2.5.5 Análise das Escalas de Serviço Operacional Planejadas

4.2.6.2.5.5.1 Os Princípios Científicos devem ser usados para a elaboração das escalas de serviço operacional ATC. Devem levar em consideração fatores como a dinâmica da perda e da recuperação do sono, do relógio biológico circadiano e do impacto da carga de trabalho sobre a fadiga, juntamente com requisitos operacionais e fatores contextuais. Como os efeitos da perda de sono e da fadiga são cumulativos, as práticas de elaboração das escalas de serviço precisam acomodar os efeitos dos diferentes tipos de turnos que são trabalhados pelos ATCO (turnos matutinos, turnos da tarde, turnos noturnos, pernoites etc.) e os efeitos de trabalhar numa sequência de diferentes tipos de turnos em um período mensal.

4.2.6.2.5.5.2 Quando a ciência da fadiga e o conhecimento/experiência operacional são aplicadas na elaboração das escalas operacionais ATC, os riscos à fadiga relacionados à escala podem ser previstos e minimizados.

4.2.6.2.5.5.3 O objetivo desta atividade é identificar, por meio da análise das escalas planejadas, antes de serem aprovadas e cumpridas, os arranjos de turnos de trabalho que não estejam de acordo com os Princípios Científicos ou com os horários de trabalho prescritos pelo PSNA, podendo afetar as oportunidades de sono e descanso dos ATCO.

4.2.6.2.5.5.4 A metodologia de análise a ser aplicada deverá ser similar a descrita no item 4.2.6.2.5.4, sendo que, nesse caso, apenas a coluna de escalas planejadas deverá ser preenchida.

4.2.6.2.5.5.5 O Formulário de Parâmetros a serem observados e a intenção relacionada a cada item estão contidas no Anexo D deste documento e deve ser utilizado como material de apoio para realizar a análise das escalas planejadas.

4.2.6.2.5.5.6 Ao final da análise das escalas planejadas, se pertinente, deverão ser emitidas ao PSNA ações recomendadas relacionadas a condições latentes identificadas nas práticas de planejamento das escalas de serviço. Essas propostas deverão ser apropriadamente justificadas e embasadas nos Princípios Científicos.

4.2.6.2.5.5.7 Os resultados das análises devem ser registrados no Formulário de Análise de Fadiga, constante no Anexo E. No relatório, devem ser apontadas e justificadas as condições latentes identificadas, afetas aos parâmetros descritos em cada item.

4.2.6.2.5.5.8 Os PSNA devem analisar e implementar as ações recomendadas emitidas no Relatório de Análise de Fadiga ou propor soluções alternativas que solucionem a(s) condição(ões) latente(s) identificada(s).

4.2.6.2.5.6 Pesquisa de Fatores Humanos – PFH

4.2.6.2.5.6.1 A metodologia de gerenciamento da Fadiga por meio das PFH tem como objetivo a identificação de condições latentes no ambiente de trabalho ou nos processos organizacionais que possam incrementar a fadiga dos controladores nas operações normais rotineiras.

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4.2.6.2.5.6.2 Para tal, deverão ser utilizados os instrumentos (questionário, entrevista e protocolo de observação de campo) já existentes na PFH com foco nos aspectos condicionantes para a fadiga.

4.2.6.2.5.6.3 No relatório de PFH, caso haja aspectos de indícios de fadiga, serão computados os dados apurados no quadro de condições latentes, na análise, e deverão constar propostas de ações mitigadoras para esses indícios.

4.2.6.2.5.7 Reuniões do Comitê Local de Segurança do próprio PSNA ou a partir de um Pequeno Grupo de Membros com Experiência Operacional Compatível

4.2.6.2.5.7.1 Um PSNA de pequeno porte e não complexo poderá realizar a identificação de perigos e mitigação dos riscos relacionados à fadiga, por meio de discussões em reuniões no próprio PSNA.

4.2.6.2.5.7.2 Relatórios de Auditorias, Vistorias, Inspeções ou Avaliações de Segurança Operacional

4.2.6.2.5.7.3 Os resultados das Auditorias, Vistorias, Inspeções ou Avaliações de Segurança Operacional relacionadas à fadiga, conduzidas interna ou externamente, poderão ser incorporados ao Gerenciamento da Fadiga no SISCEAB.

4.2.6.2.5.8 Bancos de Dados de Fadiga

4.2.6.2.5.8.1 O Banco de Dados de Fadiga tem como objetivo armazenar os dados coletados através dos processos do gerenciamento da fadiga, por meio do SMS, para propiciar a identificação de tendências relacionadas à fadiga e o monitoramento dos indicadores de desempenho de segurança operacional (SPI), tais como a comparação dos períodos de trabalho planejados e cumpridos e o quantitativo dos Reportes Voluntários de Fadiga recebidos através do sistema de reportes de segurança.

4.2.6.2.5.8.2 Também permitirão propiciar análises mais acuradas, que contribuam efetivamente para o estabelecimento de medidas mitigadoras de gerenciamento da fadiga, bem como para subsidiar a realização de pesquisas científicas nacionais e internacionais.

4.2.6.2.5.8.3 É importante ressaltar a necessidade do desenvolvimento do Banco de Dados de Fadiga em sistema automatizado (SIGCEA e/ou outros) que, no mínimo, deverá armazenar os dados de segurança colhidos por meio das seguintes ferramentas do SMS: RIF, RICEA, RVF, Formulário de Análise de Escalas Planejadas e Cumpridas e Questionário da PFH.

4.2.6.2.5.9 O quadro baixo apresenta as ferramentas que serão utilizadas para identificação de perigos relacionados à fadiga, por meio do SMS.

Quadro 11 - Ferramentas de Identificação de Perigos à Fadiga

REATIVAS PROATIVAS

Reporte de Indício de Fadiga após Ocorrência de Tráfego Aéreo (RIF)

Reporte Voluntário de Fadiga (RVF)

Investigação de Incidentes de Tráfego Aéreo Mensuração da Fadiga dos ATCO do SISCEAB (Fatigue Survey)

Reporte Voluntário de Fadiga (RVF) Mensuração dos níveis de fadiga nas operações correntes

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Análise Comparativa das Escalas de Serviço Planejadas e Cumpridas

Análise Amostral das Escalas de Serviço Planejadas

Análise de RELPREV

PFH (Pesquisa de Fatores Humanos)

Reuniões do Comitê de Segurança do próprio PSNA ou a partir de um pequeno grupo de membros com experiência operacional compatível (PSNA de pequeno porte)

Relatórios de Auditorias, Vistorias, Inspeções e Avaliações de segurança operacional, internas ou externas

Banco de Dados de Fadiga

Indicadores de Desempenho de Segurança (SPI)

4.2.6.3 Avaliação do Risco à Fadiga

4.2.6.3.1 Os PSNA deverão definir metodologias de avaliação dos riscos à fadiga que possam ser aplicadas frente a situações operacionais e mudanças, principalmente aquelas com potencial de afetar os horários de trabalho e não trabalho, carga de trabalho e escalas de serviços dos ATCO, que, se não tiverem seus riscos mitigados, possuem potencial alto de gerar fadiga nos operadores.

4.2.6.3.2 Uma vez identificado o perigo de fadiga, o nível do risco que ele representa deve ser avaliado em termos de severidade e probabilidade de ocorrência e classificado por meio da matriz de risco. Dependendo do nível da classificação encontrada, deverá ser tomada a decisão sobre a necessidade, ou não, de mitigar esse risco.

4.2.6.3.3 Avaliar os riscos associados à fadiga pode ser um desafio, pois:

a) a fadiga pode diminuir a capacidade de um indivíduo para executar quase todos os tipos de tarefas operacionais; e

b) existem muitos fatores que podem contribuir para a degradação do nível de desempenho de um indivíduo, e muitos desses fatores são imprevisíveis.

4.2.6.3.4 Por isso, as metodologias atuais de avaliação de riscos em geral, quando são aplicadas à fadiga, demonstram ser limitadas em algum grau, pois ainda não está claro como as interações complexas que existem entre os fatores condicionantes da fadiga devem ser pesadas. Todos os métodos de avaliação dos riscos relacionados à fadiga precisam ser usados com pleno reconhecimento de suas limitações. Além disso, é preciso considerar que a eficácia da aplicação das metodologias de avaliação de risco está diretamente relacionada ao conhecimento e à experiência dos avaliadores.

4.2.6.3.5 Então, como analisar o nível de risco que a fadiga representa? A fadiga raramente é a única causa de uma ocorrência, mas é, com certa frequência, um provável contribuinte, em níveis variados.

4.2.6.3.6 O nível de risco que a fadiga representa depende da tarefa que está sendo executada e do contexto ou cenário operacional em que ela está sendo realizada.

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4.2.6.3.7 A Figura 14 abaixo demonstra que não apenas a capacidade do indivíduo de realizar tarefas críticas à segurança sofre um declínio com o aumento do tempo de trabalho e, por consequência, da fadiga, mas também diminui sua capacidade de responder ao aumento inesperado na complexidade das tarefas. Tal aumento pode estar relacionado ao gerenciamento das ameaças, como, por exemplo, quando o ATCO, já fatigado ou com sua capacidade de desempenho já degradada, se depara com o aumento inesperado no tráfego aéreo ou com alguma situação complexa de tráfego. Por outro lado, a carga de trabalho baixa pode deflagrar a sonolência fisiológica.

Figura 14 - Risco real de fadiga no ATC (desempenho humano x tempo de trabalho x

exigência da tarefa).

4.2.6.3.8 Os procedimentos de avaliação de risco devem rever os perigos identificados relativos à fadiga e relacioná-los:

a) ao contexto operacional;

b) a sua probabilidade;

c) a possíveis consequências;

d) à eficácia dos controles preventivos existentes; e

e) às medidas de recuperação.

4.2.6.3.9 O PSNA deverá desenvolver e implementar procedimentos de avaliação de risco que determinem quando os riscos associados à fadiga exigem uma mitigação. A avaliação do risco à fadiga poderá ser útil para apoiar os Provedores ATS na definição se determinado cenário operacional requer ou não ações de mitigação da fadiga.

NOTA: Uma vez identificado o perigo à fadiga, o nível do risco que ele representa para a operação deve ser avaliado em termos de severidade e probabilidade de ocorrência e classificado por meio da matriz de risco.

4.2.6.3.10 Matriz para Avaliação dos Riscos Relacionados à Fadiga

4.2.6.3.10.1 Normalmente, os riscos à segurança são definidos como a projeção da probabilidade de ocorrência da fadiga e da severidade das consequências de um perigo ou situação.

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4.2.6.3.10.2 A Matriz de Avaliação do Risco normalmente é utilizada pelos PSNA para avaliar todos os tipos de riscos e ajudar a decidir se será necessário investir recursos na mitigação do risco à fadiga.

Probabilidade

do

Risco

Severidade do Risco

Catastrófico

A

Crítico

B

Significativo

C

Pequeno

D

Insignificante

E

Frequente

5

5A

4A

3A

Aci

de

nte

5B

4B

Gra

nd

e r

ed

uçã

o d

as

ma

rge

ns

de

se

gu

ran

ça

5C

Re

du

ção

sig

nif

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a d

as

ma

rge

ns

de

se

gu

ran

ça

5D

4D

5E

4E

Ocasional

4

4C

3C

2C

Remoto

3

3B

2B

3D

3E

2E

1E

Improvável

2

2A

2D

1D Extremamente

improvável

1

1A

1B

1C

Tabela 3 - Matriz de Avaliação do Risco à Segurança Operacional

4.2.6.3.10.3 Espera-se que os PSNA, ao utilizarem a matriz de risco, customizem as categorias de severidade e probabilidade. Cabe ressaltar que a utilidade da Tabela 3, nas avaliações do risco de fadiga, é limitada, pois a pior consequência de um desempenho afetado pela fadiga, ao executar uma tarefa crítica de segurança, é sempre catastrófico.

4.2.6.3.10.4 Aspectos a serem considerados quanto aos riscos à fadiga:

a) para compreendermos a severidade da consequência, é necessário considerar não apenas o quão fatigado o ATCO possa estar, mas também as características do impacto operacional no desempenho do indivíduo e como esse desempenho diminuído se manifestará no local de trabalho; e

b) o que determina a severidade das consequências é a complexidade ou criticidade da tarefa que está sendo realizada. Por exemplo, se um ATCO adormece no trabalho enquanto executa uma tarefa administrativa, não haverá consequências imediatas para a segurança. No entanto, se o mesmo ATCO adormecer no seu posto de trabalho durante a execução uma tarefa crítica à segurança, a consequência poderá ser um acidente. Da mesma forma, quanto maior a demanda da tarefa, relacionada à capacidade de desempenho humano, maior será a severidade das consequências.

4.2.6.3.10.5 Em outras palavras, para avaliar diferentes tipos de riscos à fadiga usando uma matriz são necessárias diferentes classificações de severidade, de forma a refletir melhor a variedade de possíveis consequências no desempenho afetado pela fadiga. Já as classificações de probabilidade dependerão dos tipos de classificação de severidade da fadiga que serão utilizados.

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4.2.6.3.10.6 Portanto, ao utilizar matrizes de avaliação de risco no gerenciamento de risco à fadiga, é necessário que os especialistas em fadiga personalizem suas matrizes, selecionando cuidadosamente como a severidade e a probabilidade serão classificadas.

4.2.6.3.10.7 A seguir, são apresentadas algumas opções de como as classificações de severidade e probabilidade podem ser adaptadas para avaliar diferentes riscos à fadiga.

4.2.6.3.11 Classificação da Severidade

4.2.6.3.11.1 Como mencionado, diferentes classificações de severidade podem ser necessárias para refletir melhor a variedade de possíveis consequências do desempenho operacional afetado pela fadiga. Exemplos de métodos para classificar a severidade do risco à fadiga são:

a) A classifica o de severidade pode refletir os “níveis percebidos de fadiga” com base no fato de que quanto mais cansado um indivíduo se sente, maior é a probabilidade de seu desempenho operacional diminuir. Para esse tipo de avaliação, sugere-se a Escala de Samn-Perelli (Tabela 4 ).

b) A classificação de severidade pode refletir “o n mero de fatores de fadiga relevantes associados a uma tarefa ou padr o de trabal o específico”, conforme descrito no Anexo G.

4.2.6.3.11.2 Nível de Percepção da Fadiga (Samn-Perelli)

4.2.6.3.11.2.1 A classifica o de severidade pode refletir os “níveis percebidos de fadiga” com base em que, quanto mais fatigado um indivíduo se sente, é mais provável que seu desempenho diminua. No contexto da avaliação do risco da fadiga, é apropriado considerar o nível de percepção de fadiga para definir sua severidade.

4.2.6.3.11.2.2 Um exemplo de escala para medir a fadiga subjetiva pode ser a de Samn-Perelli Crew Status Check. Essa escala pode ser utilizada para avaliar o risco da fadiga, de forma subjetiva, mediante, por exemplo, reportes de fadiga ou pesquisas sobre um determinado turno ou padrão de trabalho. Nesse caso, solicita-se ao pesquisado que “assinale a senten a que descreve como ele está se sentindo naquele exato momento”. A Tabela 4, abaixo, apresenta as sentenças a serem assinaladas. A tabela possui os valores (de A – E) que podem ser correlacionados à Tabela de Probabilidade de Risco, de forma a se estabelecer a classificação do risco à fadiga.

4.2.6.3.11.2.3 A classifica o da severidade pode estar relacionada ao nível de “desgaste para cumprir a tarefa”, neste contexto, resultante da fadiga. A “grande redução nas margens de segurança”, a “redu o significativa” ou o nível da capacidade de desempenho para atender à tarefa ou para lidar com uma ameaça estão diretamente ligados à classificação de severidade da matriz de risco, conforme Tabela 4, abaixo.

Avaliação de Samn-Perelli

Significado Valor

7 Completamente exausto; incapaz de trabalhar efetivamente

A

6 Muito cansado; com dificuldade de concentração B

5 Moderadamente cansado; enfraquecido (desanimado, para baixo, com pouca energia)

C

4 Um pouco cansado; não totalmente disposto D

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3 Bem; relativamente revigorado E

2 Muito ativo; responsivo (reagindo rapidamente e positivamente), mas não em nível máximo

E

1 Totalmente alerta; bem desperto; extremamente disposto

E

Tabela 4 - Exemplo de classificação da severidade da fadiga: nível de percepção da fadiga

4.2.6.3.12 Classificação da Probabilidade

4.2.6.3.12.1 Geralmente, a probabilidade da fadiga é baseada em estimativas subjetivas de quantas vezes uma consequência específica da fadiga, relacionada ao desempenho operacional, pode ocorrer. Por ser dependente do contexto, existem infinitas variáveis que podem influenciar as consequências operacionais. Normalmente é baseada na frequência de exposição ao risco.

4.2.6.3.12.2 Quando um aspecto específico da fadiga, relacionado a um tipo específico de turno ou horário de trabalho, está sendo avaliado (por exemplo: < 7 horas de descanso entre turnos; início do turno antes das 7h), é preferível mensurar a frequência com que um indivíduo pode ser exposto a ele, para determinar a classificação de probabilidade.

4.2.6.3.12.3 A classificação de probabilidade mais utilizada é a apresentada abaixo, proposta pela OACI, na Tabela 5. No entanto, pode ser que essa classificação não seja a mais adequada dependendo do tipo de classificação da severidade escolhido. Além disso, a classificação da probabilidade pode não ser necessária se a avaliação estiver sendo realizada para um único turno.

4.2.6.4 Mitigação do Risco à Fadiga

4.2.6.4.1 Mesmo trabalhando dentro dos limites prescritivos, ainda pode haver a necessidade de o PSNA mitigar seus riscos à fadiga, limitando ainda mais os horários de trabalho e não trabalho

Probabilidade Significado Valor

Frequente Esperado acontecer muitas vezes (aconteceu frequentemente)

5

Ocasional Esperado acontecer às vezes (aconteceu com pouca frequência)

4

Remoto Improvável, porém possível que aconteça (aconteceu raramente)

3

Improvável Muito Improvável que aconteça (não se tem conhecimento de que tenha acontecido)

2

Extremamente Improvável

Quase inconcebível que aconteça 1

Tabela 5 - Classificação da Probabilidade de Ocorrência da Fadiga

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estabelecidos, devido a alguma condição específica de seu ambiente operacional, como, por exemplo, aspectos da carga de trabalho ou outros fatores.

4.2.6.4.2 Além de estabelecer limites mais restritivos do que aqueles já prescritos e elaborar escalas de serviço, usando os princípios científicos, outras mitigações do risco também podem ser consideradas:

a) Oportunidades para que os ATCO tirem cochilo controlado;

b) Oportunidade de ter o sono protegido em períodos de folga, repouso e descanso; e

c) Aumento do efetivo operacional.

4.2.6.4.3 Os processos do SMS devem exigir que tais mitigações sejam revisadas e avaliadas regularmente para verificar se o resultado obtido se mantém satisfatório.

4.2.6.4.4 Quando aplicado, o processo de avaliação do risco determina se um risco à fadiga requer ou não mitigação. O mais importante a ser considerado, na escolha das mitigações da fadiga, é o nível estimado de risco à fadiga. Os recursos (pessoal, tempo e financeiro), muitas vezes limitados, precisam ser priorizados para os riscos em que as ações mitigadoras são mais necessárias, para efetivamente controlar o risco à fadiga.

4.2.6.4.5 O PSNA será o responsável por decidir se determinado risco requer ou não ações mitigadoras. Recomenda-se que os profissionais de fatores humanos sejam consultados para identificar quais são as ações mitigadoras mais apropriadas a cada situação.

4.2.6.4.6 A seleção cuidadosa de ações mitigadoras eficazes para a fadiga é baseada em dados, em vez de refletir um dese o de “fa er algo” ou baseada no “ac ismo”. A identifica o das a es mitigadoras mais adequadas deverá ter origem em estudos científicos relevantes e na experiência do PSNA no gerenciamento da fadiga ou na experiência de outros provedores semelhantes.

4.2.6.4.7 Como já abordado anteriormente, os controles efetivos e estratégias de mitigação vão além do estabelecimento dos limites prescritivos relativos aos períodos de trabalho e de não trabalho. Para tarefas muito longas, turnos que iniciam muito cedo pela manhã, que terminam tarde da noite ou que ocorrem no período noturno, os controles e mitigações precisam ser considerados de acordo com as atividades a serem realizadas e da sequência de dias de trabalho. Deve ser dada especial atenção às influências do ciclo circadiano nos períodos de sono e vigília, independentemente do tempo de descanso e de trabalho.

4.2.6.4.8 As estratégias de mitigação que se concentram apenas em uma tarefa isolada podem não abordar os efeitos da fadiga cumulativa e se tornar ineficaz com o decorrer da escala de serviço. Portanto, a identificação de ações mitigadoras para fazer frente à fadiga, requer uma ampla compreensão do conhecimento dos princípios científicos, da experiência operacional e dos regulamentos aplicados.

4.2.6.4.9 O Quadro 11 abaixo fornece alguns exemplos de mitigações para o gerenciamento dos riscos à fadiga, no nível organizacional. Estes exemplos não são exaustivos.

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Quadro 11 - Exemplos de perigos e estratégias de mitigação de riscos à fadiga no ATC, em nível organizacional

PERIGO RELACIONADO

À FADIGA

CONTROLES REGULATÓRIOS

MITIGAÇÃO

Muitas horas de trabalho Limitar o número de horas de trabalho operacional.

Estabelecer restrições nos procedimentos operacionais com pouca oportunidade de desvio dos horários estabelecidos.

Intervalo muito curto entre os turnos

Requisito mínimo de tempo de folga entre um turno operacional e a hora de início do próximo turno.

Software programado para impossibilitar a atribuição de turno com menos do que o tempo de folga necessário.

Muitos turnos de trabalho numa semana

(7 dias)

Número limite de turnos estabelecidos para trabalhar em uma semana.

Garantir que os ATCO tenham tempo suficiente para se recuperar por meio do sono (sono restaurador), ficando indisponível para o trabalho.

Ocupação da posição operacional durante a

baixa no ciclo circadiano

Permitir aos ATCO a oportunidade de sono reparador antes e/ou após um provável período de trabalho, durante a baixa no ciclo circadiano.

Assegurar que os ATCO tenham a ampla oportunidade de descanso durante os turnos e ampla oportunidade de sono entre os turnos para os quais foram escalados (folga ou repouso).

Oportunidades de sono após turnos noturnos

(pernoites)

Garantir o tempo mínimo fora de serviço (repouso) depois do final do turno noturno (pernoite).

Estabelecer limites de escalação para turno após um pernoite, por exemplo, outro turno da noite ou folga no dia seguinte.

4.2.6.4.10 Apesar de grande parte das ações mitigadoras serem de âmbito organizacional, poderá haver a necessidade de mitigar a fadiga no âmbito individual. Logo, no caso de necessidade de orientação de algum controlador, o setor de Fatores Humanos das SIPACEA, em grupo ou individualmente, poderá orientá-lo a realizar a atividade de registros no Anexo H (Diário de Sono e Vigília), de forma que sejam colhidas informações sobre seus hábitos reais de horários de trabalho e sono/vigília. Esses Diários fornecerão uma base para ajustar os horários, se necessário, ou aplicar outras intervenções. No caso do Diário Sono/Vigília, as pessoas serão solicitadas a registrar seu tempo de sono, tempo de vigília, avaliar subjetivamente sua sonolência e estado de alerta antes e depois dos períodos de sono, classificar a qualidade do sono, indicar a necessidade de mais sono, a existência de quaisquer distúrbios de sono e outras informações julgadas pertinentes, relacionadas às suas rotinas de sono e vigília.

4.2.6.5 Monitoramento da Eficácia das Ações Mitigadoras

4.2.6.5.1 Tão importante quanto emitir ações mitigadoras é verificar se essas ações realmente foram ao encontro de seus objetivos originários. Se os efeitos planejados realmente surtiram efeito na prática.

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4.2.6.5.2 Os principais métodos para monitorar a eficácia das Ações Mitigadoras são os Indicadores de Desempenho de Segurança Operacional (SPI), Avaliações Subjetivas de Alerta/Sonolência e Avaliações Objetivas de Tempo de Reação.

4.2.6.5.3 Indicadores de Desempenho de Segurança Operacional (SPI)

4.2.6.5.3.1 Para realizar o monitoramento da eficácia das ações mitigadoras será necessária a criação de indicadores de desempenho da fadiga (SPI) que permitam esse monitoramento.

4.2.6.5.3.2 Os dados sobre fadiga colhidos por meio dos diversos processos de gerenciamento do risco à fadiga podem ser usados para gerar indicadores de desempenho de segurança relacionados à fadiga, que forneçam uma métrica para monitorar a eficácia das ações mitigadoras e dos controles da organização.

4.2.6.5.3.3 Se as tendências nos SPI indicarem que os controles ou as mitigações não são adequados e que o risco à fadiga ainda permanece, então uma avaliação detalhada do risco deve ser conduzida de acordo com os processos do PSNA e, quando necessário, deverão ser emitidas novas propostas de mitigações.

4.2.6.5.3.4 O monitoramento contínuo dos níveis de fadiga fornece um mecanismo para a melhoria contínua das regras de planejamento das escalas de serviço, baseadas em evidências da operação.

4.2.6.5.3.5 A seguir, podemos verificar algumas métricas a partir da escala, por ATCO, que podem ser utilizadas para averiguar a eficácia das ações mitigadoras:

a) porcentagem de trabalho realizado no turno;

b) total e média de horas de serviços operacionais por mês;

c) total e média de horas trabalhadas por mês;

d) número dos períodos mínimos de folga por mês, assim como o percentual de todos os períodos de folga;

e) número de “n o aptos para o trabal o” devido à fadiga, a partir da verificação de escalas de serviço anteriores, assim como uma porcentagem de todos os períodos de trabalho;

f) número de períodos de trabalho estendidos (além do previsto, tanto em termos de horas mensais quanto em termos de tempo de ocupação contínua da posição operacional);

g) porcentagem do uso e do tempo dos cochilos controlados; e

h) porcentagem de sobreavisos nos quais os controladores realmente foram acionados.

4.2.6.5.3.6 Se as mitigações atingirem um padrão aceitável (isto é, as SPI relevantes atingirem seus valores aceitáveis predefinidos ou metas), elas se tornam parte das operações normais. Se os controles e mitigações não reduzirem o risco de fadiga para um nível aceitável, será necessário revê-los e corrigi-los na etapa apropriada. Isso pode exigir que sejam reunidas novas informações e dados adicionais, reavaliar os riscos de segurança associados ao perigo e/ou implementação e avaliação de novos controles e mitigações.

4.2.6.5.3.7 Os SPI são também uma fonte crítica de informações para os processos de garantia de segurança operacional do SMS.

4.2.6.5.4 Avaliações Subjetivas de Alerta/Sonolência

4.2.6.5.4.1 Outra forma de verificar se as ações mitigadoras estão surtindo efeito no gerenciamento da fadiga é utilizar avaliações subjetivas de alerta/sonolência. Os testes subjetivos são ferramentas

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úteis para avaliar proativamente o nível de fadiga dentro das operações. Eles podem ajudar a identificar aspectos dos horários de trabalho específicos ou fatores que estão contribuindo para a fadiga. Essas avaliações, quando realizadas em diferentes momentos do dia ou do turno de trabalho, podem fornecer uma base para o monitoramento da eficácia das ações mitigadoras e medidas de gerenciamento do risco à fadiga já aplicadas (ex.: mudanças no local de trabalho, nas políticas ou outras intervenções).

4.2.6.5.4.2 As ferramentas validadas e sugeridas pela ICAO para avaliar o estado subjetivo de alerta/sonolência incluem a Karolinska Sleepiness Scale (KSS) (Akerstedt & Gillberg, 1990), a Samn-Perelli Scale (Samn & Perelli, 1982) e a Stanford Sleepiness Scale (SSS) (Hoddes et al, 1973).

4.2.6.5.4.3 Nas avaliações subjetivas de alerta/sonolência normalmente é solicitado aos indivíduos que avaliem seus níveis de fadiga, sonolência ou alerta, em um ou em vários momentos determinados no dia. Por exemplo, os indivíduos são convidados a avaliar seu estado de alerta/sonolência antes e depois de cada período de sono, ao chegar para o trabalho (imediatamente após o briefing), após cada tempo de ocupação contínua na posição operacional, ao final do turno de trabalho e ao chegar em casa após o trabalho. Esses levantamentos tendem a ser curtos e muito rápidos. Eles podem ser administrados em múltiplas vezes durante o dia ou através de um ciclo de trabalho para verificar como a fadiga, a atenção ou a sonolência mudam durante o dia ou período de serviço. É importante que sejam cientificamente validados para garantir que os dados coletados sejam confiáveis e que meçam as variáveis de interesse em todas as horas do dia e em níveis variados de perda de sono.

4.2.6.5.5 Avaliações Objetivas de Tempo de Reação

4.2.6.5.5.1 O PVT – Psychomotor Vigilance Task – oferece uma forma simples de rastrear mudanças no estado de alerta comportamental causadas por sono insuficiente. O objetivo do PVT é medir a atenção sustentada e dar uma medida numérica da sonolência, contando o número de lapsos de atenção do indivíduo testado.

4.2.6.5.5.2 Pode ajudar a identificar aspectos dos horários de trabalho específicos que estão contribuindo para a fadiga. Essas avaliações, quando realizadas em diferentes momentos do dia ou do turno de trabalho, podem fornecer uma base para o monitoramento da eficácia das ações mitigadoras e medidas de gerenciamento do risco à fadiga.

4.2.7 GARANTIA DA SEGURANÇA OPERACIONAL

4.2.7.1 Os PSNA devem estabelecer processos e atividades que garantam que o gerenciamento do risco à fadiga por meio da estrutura do SMS funcione conforme concebido e produza os resultados esperados.

4.2.7.2 A “ arantia da eguran a Operacional” contempla o controle contínuo dos processos internos da organização, bem como o entorno das operações do PSNA, de modo a detectar mudanças ou desvios que possam introduzir novos riscos à segurança operacional ou propiciar a degradação dos controles dos riscos já existentes.

4.2.7.3 As atividades de Garantia da Segurança Operacional devem incluir a seleção e a implementação de medidas para a solução das deficiências nos processos sistêmicos, que possam ter um impacto adverso na segurança operacional.

4.2.7.4 Monitoramento do Desempenho do Gerenciamento à Fadiga

4.2.7.4.1 O ponto de partida para que um PSNA entenda o status da fadiga na sua organização é a coleta de dados relativos à fadiga. Para isso, os PSNA deverão registrar esses dados, de forma sistemática, no Banco de Dados de Segurança Operacional do SIGCEA. Com esses dados o PSNA poderá estabelecer:

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a) tendências dos reportes voluntários e mandatórios de fadiga (como época do ano, horário no turno, Órgão ATC etc.);

b) o nível de exposição à fadiga;

c) o nível de conhecimento do efetivo sobre fadiga; e

d) realizar correlações para aumentar a compreensão das tendências de segurança referentes à fadiga.

4.2.7.5 Indicadores de Desempenho de Segurança Operacional Relativos à Fadiga (SPI)

4.2.7.5.1 Os dados monitorados no GRF podem ser usados para gerar indicadores de desempenho de segurança relacionados à fadiga (SPI). Os SPI são também usados na garantia da segurança operacional para verificar se o GRF está resultando em um nível aceitável de risco relacionado à fadiga.

4.2.7.5.2 Os SPI fornecem uma métrica para orientar a tomada de decisões. Por exemplo, mudanças nos SPI podem sinalizar um novo risco de fadiga, e eles também podem ser usados para rastrear a eficácia de novas mitigações.

4.2.7.5.3 Para que os SPI sejam úteis na tomada de decisões, valores ou metas aceitáveis precisam ser definidos. Esses valores ou metas aceitáveis precisam ser adequados ao nível de risco em uma determinada operação e/ou nas regiões de risco “tolerável” ou “aceitável”.

4.2.7.5.4 Espera-se que ter uma variedade de SPI dê uma indicação mais confiável dos níveis de fadiga e do desempenho do GRF. Os SPI também podem precisar ser revisados conforme a mudança das circunstâncias operacionais e é importante observar que diferentes SPI podem ser apropriados em diferentes tipos de operações. Os SPI podem mudar conforme a evolução dos processos do GRF e conforme as operações evoluem.

4.2.7.5.5 Os PSNA devem realizar um processo de seleção e desenvolvimento de Indicadores de Desempenho para a Fadiga (SPI) utilizando os dados coletados por meio dos processos de SMS do PSNA, com o objetivo de monitorar as tendências relacionadas à fadiga.

4.2.7.5.6 Geralmente os SPI podem ser desenvolvidos a partir de três áreas:

a) SPI operacionais que monitoram as causas da fadiga relacionadas ao trabalho;

b) SPI baseados em dados reativos de fadiga, como, por exemplo, o número de reportes de fadiga em uma escala específica ou padrão de trabalho, incidentes relacionados à fadiga e nível de absenteísmo; e

c) SPI com base no monitoramento proativo dos níveis reais de fadiga do ATCO.

4.2.7.5.7 Os tipos mais comuns de Indicadores de Desempenho da Segurança Operacional (SPI) relacionados à fadiga são:

a) Discrepâncias entre escalas planejadas e escalas cumpridas;

b) Índice de reportes (voluntários e mandatórios) de segurança de fadiga/não fadiga;

c) Porcentagem de reportes voluntários de fadiga em que o emissor recebeu feedback;

d) Percentual de Incidentes com contribuição da Fadiga;

e) Nível de Fadiga (autopercepção da fadiga – Samn-Perelli);

f) Número de ATCO e outros profissionais que receberam treinamento em gerenciamento do risco à fadiga;

g) Número de relatórios (voluntários e mandatórios) de fadiga por pessoa em cada PSNA;

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h) Relatórios de fadiga por mês para cada mês do ano; e

i) Número de materiais de promoção de segurança de fadiga lançados no ano etc.

4.2.7.6 Gerenciamento de Mudanças

4.2.7.6.1 Os PSNA devem considerar nos processos para Gerenciamento de Mudanças de seus SMS, as mudanças, de qualquer natureza, que possam apresentar perigos potenciais relacionados à fadiga.

4.2.7.6.2 Os processos formais para o Gerenciamento de Mudanças são os mesmos a serem utilizados no seu SMS, assim como é realizado para os demais tipos de perigos consequentes de mudanças.

4.2.8 PROMOÇÃO DO GERENCIAMENTO DO RISCO À FADIGA

4.2.8.1 O sucesso do Gerenciamento da Fadiga no SISCEAB depende da conscientização de todos aqueles cujo papel na organização possui o potencial de influenciar o nível de fadiga dos ATCO que possuem alguma responsabilidade frente aos processos de gerenciamento do risco à fadiga, a respeito de como a fadiga pode interferir no desempenho humano e, consequentemente, na segurança operacional, como também das formas existentes para diminuir a probabilidade disso acontecer.

4.2.8.2 Para isso, quanto mais conhecimento e informação as pessoas obtiverem sobre as condicionantes e os efeitos da Fadiga no desempenho humano maior deverá ser seu comprometimento com o gerenciamento desse perigo.

4.2.8.3 A promoção do GRF é de responsabilidade das Organizações e Entidades de Serviços de Navegação Aérea envolvidas. Os PSNA que gerenciam a fadiga utilizando a Abordagem Prescritiva devem prover treinamento e capacitação em GRF, no mínimo básico, para todos os envolvidos com a área operacional, já que suas funções nas organizações possuem o potencial de influenciar o nível de fadiga dos ATCO.

4.2.8.4 Esse treinamento pode ser incluído nos treinamentos já existentes do SMS ou ocorrer de forma independente, sendo recomendado o treinamento periódico. A frequência, o intervalo entre os treinamentos e o nível de aprofundamento do conteúdo abordado precisam ser proporcionais ao nível esperado de risco de fadiga nas operações.

4.2.8.5 É necessário o arquivamento dos registros de realização desses treinamentos e das atividades de comunicação e divulgação realizadas, para que sejam utilizados como evidência objetiva.

4.2.8.6 Todos os profissionais cujo papel na organização possui o potencial de influenciar o nível de fadiga dos ATCO precisam ter um nível adequado de treinamento e informação sobre gerenciamento do risco à fadiga.

4.2.8.7 Além disso, como parte das atividades do SMS, a divulgação e comunicação de informações (como avisos para a manutenção do nível de comprometimento com a segurança ou informativos de segurança) devem incluir, periodicamente, tópicos de gerenciamento do risco à fadiga.

4.2.8.8 Assim sendo, o Plano de Promoção do Gerenciamento do Risco à Fadiga dos PSNA deverá ter a estrutura a seguir.

4.2.8.9 Comunicação e Divulgação de Informações Relacionadas à Fadiga no ATC

4.2.8.9.1 O sucesso do GRF por meio do SMS depende de uma comunicação eficaz em toda a organização. A comunicação dos requisitos e justificativas são fundamentais para desenvolver uma base forte e o incremento do comprometimento em todos os níveis da organização, fundamentais para a implementação do GRF.

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4.2.8.9.2 São propostas as seguintes ações:

a) Palestras de Promoção do gerenciamento da fadiga em Seminários, Reuniões Operacionais, Reuniões de Elos SEGCEA etc.: palestras proferidas por psicólogos, com distribuição de material informativo (folder) e banner. Podem ser incluídos outros profissionais, como médicos psiquiatra/neurologista, para falar sobre fisiologia do sono e prevenção;

b) Material impresso: informativos de segurança operacional, folders, banners, matérias em revistas do setor aeronáutico etc.;

c) Material Digital: postagens no site intraer e internet, e-mails, videoaulas etc.;

d) Reuniões de Segurança Operacional: palestras nas reuniões das CSO, reunião de Elos, palestras em seminários etc.; e

e) Workshops periódicos de Fadiga: encontros onde os envolvidos com o GRF, nos diversos níveis, possam tirar dúvidas, realizar trocas de boas práticas aplicadas, resultados obtidos, óbices e soluções encontradas.

4.2.8.10 Capacitação e Treinamento em Gerenciamento do Risco à Fadiga no ATC

4.2.8.10.1 O conteúdo dos programas de capacitação e treinamento deve ser adaptado para garantir que cada grupo possua o conhecimento e as habilidades necessárias para exercer seu papel no gerenciamento da fadiga, devendo contemplar, no mínimo:

a) os princípios científicos relacionados ao gerenciamento da fadiga e da saúde geral do sono;

b) conteúdo específico sobre as características operacionais únicas de cada PSNA;

c) informações sobre opções para o estabelecimento de estratégias de mitigação individual;

d) familiari a o com procedimentos para atividades como “troca de turno”; e

e) informa es sobre o relat rio de “n o apto para o trabal o” devido fadiga ou para atribuição de atividades não programadas.

4.2.8.10.2 Em todos os pontos acima, é fundamental que o gerenciamento da segurança reforce uma política de reportes voluntários e mandatórios de fadiga que sejam não punitivos. A melhor maneira de tornar claro o aspecto “n o punitivo” do relat rio é permitir que os profissionais saibam exatamente como a organização lida com os reportes de fadiga. Nesse sentido, algumas organizações fazem grande esforço para estabelecer um padrão de segurança em que:

a) Se você está doente, avise à sua chefia e, se necessário, não venha trabalhar;

b) Se estiver se sentindo fatigado, faça um autorreporte (Reporte Voluntário de Fadiga); e

c) Se você notar fadiga em outra pessoa, fale com ela e reporte.

4.2.8.10.3 Conteúdo dos Treinamentos de Acordo com a Função dos Profissionais (público-alvo) no Gerenciamento do Risco à Fadiga

4.2.8.10.3.1 Grupo 1 – Efetivo Operacional (ATCO, Manutenção Operacional e Estagiários)

4.2.8.10.3.1.1 Conteúdo Mínimo do Treinamento:

a) Os princípios científicos que sustentam o gerenciamento da fadiga;

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b) Responsabilidades dos ATCO e do PSNA, no gerenciamento da fadiga;

c) Causas e consequências da fadiga na(s) operação(ões) em que eles trabalham;

d) Como identificar a fadiga em si e nos outros;

e) Como usar o sistema de Reporte Voluntário de Fadiga, incluindo como reportar se estiverem se sentindo muito fatigados para realizar tarefas críticas à segurança;

f) Estratégias pessoais que podem usar para melhorar seu sono em casa e para minimizar seu próprio risco de fadiga, e da fadiga de outros, enquanto eles estão trabalhando, incluindo as estratégias de mitigação da fadiga em casa e no trabalho; e

g) Distúrbios do sono e seus tratamentos, onde procurar ajuda se necessário, e quaisquer requisitos relacionados à adequação para se manterem aptos ao trabalho operacional.

4.2.8.10.3.1.2 O quadro abaixo apresenta alguns exemplos de estratégias individuais para a mitigação da fadiga, que podem ser abordadas nos treinamentos para os ATCO. São chamadas de contramedidas e podem ser utilizadas de forma estratégica (para uso em casa, por exemplo, bons hábitos de sono, cochilos antes do trabalho noturno), e contramedidas operacionais, por exemplo, o uso estratégico de cafeína e cochilo controlado, durante o turno operacional.

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Quadro 12 – Exemplos de Perigos e Estratégias de Mitigação de Riscos de Fadiga no ATC, em Nível Individual

PERIGO RELACIONADO

À FADIGA Contramedidas Estratégicas Contramedidas Operacionais

Dormir em casa, com sono interrompido

pelo bebê.

Buscar uma parte tranquila da casa para dormir um pouco antes de se apresentar para o trabalho.

Dormir o máximo possível num período de 24 horas, antes de se apresentar para o serviço.

Cochilar nos dormitórios ou salas de descanso no local de trabalho.

Fazer uso estratégico da cafeína durante o turno de trabalho.

Dificuldade para dormir nas

instalações de descanso disponíveis no local de trabalho.

Maximize o sono em 24 horas antes do turno.

Use máscara de olhos, tampões para os ouvidos e o despertador.

Evite a cafeína por 3-4 horas antes de tentar dormir. Faça uso estratégico de cafeína após o período de descanso.

Sono não restaurador.

Consulte um especialista em distúrbios do sono.

Respeite completamente o tratamento recomendado.

Acionamentos imprevisíveis tornam

difícil garantir um sono adequado, antes do período de serviço.

Certifique-se de que o ambiente de sono seja escuro e tranquilo, e use medidas de higiene do sono para maximizar a qualidade do sono.

Maximize o tempo de recuperação em dias de folga.

Quando se sentir sonolento enquanto espera pelo acionamento (sobreaviso), tente dormir (priorize o sono a outras atividades).

Cochile usando as instalações de descanso no local de trabalho, maximize o sono durante os períodos de descanso e faça uso estratégico de cafeína durante o turno.

Um ATCO extremamente

fatigado devido a uma sequência

específica de turnos de trabalho, se

deparando com altos picos de tráfego.

Emita um Reporte Voluntário de Fadiga associando a fadiga à sequência específica de turnos.

Cochile usando as instalações de descanso no local de trabalho.

Maximize o sono durante os períodos de descanso disponíveis.

Faça uso estratégico de cafeína durante o turno.

Solicite ao supervisor que faça a gestão do tempo na posição operacional.

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4.2.8.10.3.2 Grupo 2 – Efetivo Envolvido em todas as Etapas do Planejamento das Escalas Operacionais

4.2.8.10.3.2.1 Conteúdo Mínimo do Treinamento:

a) Os princípios científicos que sustentam o gerenciamento da fadiga;

b) Como a escala de serviço afeta as oportunidades de sono e pode interferir no ciclo do relógio biológico circadiano, o risco criado pela fadiga e como pode ser mitigado através da própria escala de serviço;

c) O uso e as limitações de quaisquer ferramentas automatizadas de escala ou de outros algoritmos que possam ser usados para prever a fadiga de um ATCO a partir da escala de serviço mensal e do turno;

d) Como identificar a fadiga em si e nos outros;

e) Como os reportes de fadiga são gerados e analisados;

f) Estratégias pessoais que eles podem usar para melhorar seu sono em casa e para minimizar seu próprio risco de fadiga, e da fadiga de outros, enquanto eles estão trabalhando; e

g) Distúrbios do sono e seus tratamentos, e onde procurar ajuda se necessário.

4.2.8.10.3.3 Grupo 3 – Responsáveis por Tomar Decisões Gerenciais

4.2.8.10.3.3.1 Conteúdo Mínimo do Treinamento:

a) Os princípios científicos que sustentam o gerenciamento da fadiga;

b) Uma compreensão geral da fadiga no ATC e do risco à segurança que a fadiga representa para a organização;

c) As responsabilidades e as consequências das decisões das diferentes partes interessadas no gerenciamento da fadiga, incluindo eles próprios;

d) As ligações entre o gerenciamento de fadiga e as outras partes do sistema de gerenciamento de segurança (SMS) do PSNA;

e) Requisitos regulatórios para o gerenciamento da fadiga;

f) Como identificar a fadiga em si e nos outros;

g) Estratégias pessoais que eles podem usar para melhorar seu sono em casa e para minimizar seu próprio risco de fadiga, e da fadiga de outros, enquanto eles estão trabalhando; e

h) Informações básicas sobre distúrbios do sono, seus tratamentos e onde procurar ajuda, se necessário, para que eles possam tomar decisões organizacionais sobre como lidar/gerenciar os indivíduos afetados.

4.2.8.10.3.4 Grupo 4 – Efetivos das SIPACEA, ASSIPACEA e Fatores Humanos

4.2.8.10.3.4.1 Conteúdo Mínimo do Treinamento:

a) As responsabilidades e as consequências das decisões das diferentes partes interessadas na implementação do GRF;

b) As ligações entre o gerenciamento de fadiga e as outras partes do sistema de gerenciamento de segurança (SMS) do PSNA;

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c) Ligações entre o GRF e outras partes da organização, por exemplo, a Seção de Planejamento de Escalas, Seção Operacional, Departamento Médico, Seções de Segurança Operacional etc.;

d) Requisitos regulamentares para o GRF;

e) Os princípios científicos que sustentam o GRF;

f) Como identificar a fadiga em si e nos outros;

g) Estratégias pessoais que eles podem usar para melhorar seu sono em casa e para minimizar seu próprio risco de fadiga, e da fadiga de outros, enquanto eles estão trabalhando;

h) Informações básicas sobre distúrbios do sono, seus tratamentos e onde procurar ajuda, se necessário, para que eles possam tomar decisões organizacionais sobre como lidar/gerenciar os indivíduos afetados; e

i) Capacitar os psicólogos investigadores do aspecto psicológico na identificação da fadiga nos incidentes de tráfego aéreo.

4.2.8.11 Incremento da Cultura de Segurança Operacional relacionada à Fadiga

4.2.8.11.1 A cultura de segurança operacional da organização se expressa, principalmente, por meio das atitudes daqueles que a compõem. Por esse motivo, o plano de promoção da fadiga tem a importante missão de aumentar a consciência situacional do efetivo, nos diversos níveis organizacionais, a respeito do gerenciamento da fadiga. É fundamental manter o efetivo informado, para que cada membro da organização possa compreender e valorizar o gerenciamento da fadiga como um importante pilar para o incremento da segurança operacional no ATC.

4.2.8.11.2 Nesse sentido, é fundamental garantir que os profissionais envolvidos sejam lembrados regularmente da importância da fadiga para a segurança.

4.2.8.11.3 As ações estratégicas permanentes por parte dos PSNA podem incluir:

a) Avisos Operacionais ou Informativos de Segurança: com o objetivo de manutenção do nível de comprometimento com a segurança e de incentivo do Reporte Voluntário de Fadiga;

b) Alertas periódicos nos briefings a respeito da importância da autoavaliação e da avaliação dos companheiros de equipe quanto à fadiga.

4.2.8.12 Atribuições e Responsabilidades na Promoção do GRF

4.2.8.12.1 As Organizações e as Entidades Provedoras de Serviços de Navegação Aérea devem assegurar e proporcionar os meios para que todos os seus órgãos ATC realizem treinamento sobre Gerenciamento do Risco à Fadiga.

4.2.8.12.2 O programa de Capacitação e Treinamento estabelecido pelas OPSNA e EPSNA nos seus SMS devem contemplar treinamento sobre GRF, de modo a assegurar que o pessoal da organização receba o conteúdo que os habilitem a desempenhar suas funções, considerando o gerenciamento do risco à fadiga.

4.2.8.12.3 As atribuições e responsabilidades relativas ao treinamento sobre fadiga, são as que se seguem.

4.2.8.12.3.1 Organizações e Entidades Provedoras dos Serviços de Navegação Aérea

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a) Estabelecer, nos seus Planos de Capacitação e Treinamento, conteúdo sobre Gerenciamento do Risco à Fadiga;

b) Proporcionar os meios e os recursos necessários para a execução do Plano de Capacitação e Treinamento; e

c) Supervisionar, por meio das SIPACEA ou setor correspondente das EPSNA, a realização do treinamento planejado, contendo o Gerenciamento do Risco à Fadiga.

4.2.8.12.3.2 SIPACEA ou Setor Correspondente das EPSNA

a) Apoiar os PSNA nos treinamentos básicos em gerenciamento do risco à fadiga;

b) Realizar a divulgação de informações sobre GRF, como parte do SMS;

c) Solicitar aos PSNA subordinados o envio do Plano de Capacitação e Treinamento sobre gerenciamento do risco à fadiga; e

d) Supervisionar a realização do treinamento sobre GRF nos PSNA ou EPTA subordinadas.

4.2.8.12.3.3 PSNA (DTCEA, COI, COP e EPTA)

a) Elaborar um Plano de Capacitação e Treinamento sobre Gerenciamento da Fadiga, considerando conteúdo com nível adequado de treinamento, de acordo com as funções desempenhadas pelos profissionais do PSNA;

b) Realizar treinamento básico recorrente em gerenciamento do risco à fadiga. Esse treinamento pode ser incluído nos treinamentos de SMS já existentes ou ocorrer de forma independente;

c) Providenciar para que todos os profissionais, cujo papel na organização tem o potencial de influenciar o nível de fadiga dos ATCO, possuam um nível adequado de treinamento e informação sobre gerenciamento do risco à fadiga;

d) Planejar a frequência, o intervalo entre os treinamentos e o nível de aprofundamento do conteúdo abordado, de modo a serem proporcionais ao nível esperado de risco de fadiga nas operações. O conteúdo dos programas de treinamento deve ser customizado para garantir que cada grupo possua o conhecimento e as habilidades necessárias para exercer seu papel no gerenciamento da fadiga;

e) Incluir, como parte das atividades do SMS, a divulgação de informações (como avisos para a manutenção do nível de comprometimento com a segurança ou informativos de segurança) com tópicos abordando o gerenciamento do risco à fadiga;

f) Manter os registros de realização desses treinamentos e das atividades de comunicação e divulgação realizadas, para que sejam utilizados como evidência objetiva; e

g) Arquivar os registros de realização desses treinamentos e das atividades de comunicação e divulgação realizadas, para que sejam utilizados para análise do desempenho do GRF (SPI).

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5 GERENCIAMENTO DA FADIGA HUMANA – ABORDAGEM FRMS

5.1 DISPOSIÇÕES INICIAIS

5.1.1 O Sistema de Gerenciamento do Risco à Fadiga – FRMS constitui uma abordagem orientada por dados para monitorar e gerenciar, continuamente, os riscos à segurança operacional relacionados à fadiga, com base em princípios e conhecimento científicos, bem como na experiência operacional, que visa garantir que o pessoal operacional relevante esteja trabalhando com níveis de alerta adequados.

5.1.2 O FRMS é um sistema especializado que utiliza princípios e processos semelhantes aos do SMS para gerenciar o risco à fadiga no ATC. É compatível e integrado ao SMS, procurando alcançar um equilíbrio realista entre segurança, produtividade e custos.

5.1.3 Na abordagem prescritiva, a fadiga é um dos possíveis riscos que o SMS deve considerar. A identificação dos perigos relacionados à fadiga é, basicamente, realizada por meio de ferramentas reativas dos SMS dos PSNA. Já com a implementação do FRMS, o PSNA deve identificar e avaliar, adicionalmente, os riscos potenciais de fadiga, antes de realizar operações no âmbito do FRMS, além de identificar e avaliar os riscos reais de fadiga de forma proativa durante as operações.

5.1.4 Uma abordagem FRMS exigirá que recursos adicionais sejam alocados ao gerenciamento de fadiga, processos aprimorados, especificamente estabelecidos para lidar com riscos de fadiga e treinamento mais abrangente sobre gerenciamento de fadiga do que o necessário quando se utiliza a abordagem prescritiva para gerenciar a fadiga.

5.1.5 No entanto, quando um PSNA for capaz de demonstrar processos de SMS maduros para gerenciar efetivamente seus riscos de fadiga, ele estará bem posicionado para poder progredir e fazer a transição para o estabelecimento de um FRMS, que deverá ser aprovado pelo DECEA, caso deseje sair dos limites prescritivos.

5.2 CRITÉRIOS GERAIS PARA A IMPLEMENTAÇÃO

5.2.1 Conforme estabelecido em norma específica do DECEA, as OPSNA e as EPSNA devem implementar o Gerenciamento do Risco à Fatiga nos seus órgãos ATC por meio da Abordagem Prescritiva.

5.2.2 Após a implementação por meio da Abordagem Prescritiva, as Organizações e Entidades Provedoras dos Serviços de Navegação Aérea, caso entendam pertinente operar fora das restrições dos Limites Prescritivos estabelecidos, poderão, oportunamente, pleitear a transição da Abordagem Prescritiva para a Abordagem FRMS do Gerenciamento dos Riscos à Fadiga, em todos ou em parte de seus órgãos ATC subordinados.

5.2.3 Para pleitear a transição para o FRMS, o PSNA deverá ter o seu SMS aceito pelo DECEA, demonstrar que os riscos da fadiga estão sendo gerenciados com eficácia por meio dos processos do SMS, que possuem um banco de dados e SPI de fadiga consolidados, bem como deverá atender aos requisitos e critérios para a implementação do FRMS, conforme estabelecido em legislação específica do DECEA.

5.2.4 Cada PSNA precisa trabalhar de forma coordenada com o DECEA no sentido de desenvolver um FRMS adequado à natureza e ao nível do risco de fadiga nas operações cobertas por seu FRMS, de modo a garantir que o FRMS ofereça um nível de segurança equivalente ou aprimorado ao alcançado ao operar dentro dos limites prescritivos.

5.2.5 A implementação de um FRMS é feita em quatro fases. Cada uma dessas fases deve ser revisada e aprovada pelo DECEA, antes de dar início à implementação da próxima fase.

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Figura 15 - Processo de Implementação do FRMS

5.2.6 A estrutura de um FRMS é similar à estrutura de um SMS, para refletir a necessidade de integração entre esses sistemas.

5.2.7 O FRMS do PSNA deve contemplar os requisitos mínimos de cada um dos quatro componentes de um FRMS:

a) Política e Documentação do FRMS;

b) Processos de Gerenciamento do Risco à Fadiga Humana;

c) Processos de Garantia da Segurança Operacional do FRMS; e

d) Processos de Promoção do FRMS.

5.3 REQUISITOS MÍNIMOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO FRMS

5.3.1 POLÍTICA E DOCUMENTAÇÃO DO FRMS

5.3.1.1 Política do FRMS

5.3.1.1.1 A Organização e/ou Entidade Provedora dos Serviços de Navegação Aérea deve definir suas Políticas para o FRMS, com todos os elementos e componentes claramente definidos.

5.3.1.1.2 A Política deve contemplar, pelo menos, os seguintes conteúdos:

a) definir o objetivo das operações do FRMS;

b) refletir a responsabilidade compartilhada entre a administração do PSNA, os controladores de tráfego aéreo e outros envolvidos;

c) indicar claramente os objetivos de segurança do FRMS;

d) ser assinado pelo executivo Administrador Responsável (AR) pela organização e pelo PSNA;

e) ser comunicado, com endosso visível, a todas as áreas e níveis relevantes da organização do PSNA;

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f) declarar o compromisso da administração OPSNA ou EPSNA com os reportes de segurança efetivos;

g) declarar o compromisso da administração OPSNA ou EPSNA com a provisão de recursos adequados para o FRMS;

h) declarar o compromisso da administração OPSNA ou EPSNA com a melhoria contínua do FRMS;

i) exigir que os termos de responsabilidade estejam claros para a administração OPSNA ou EPSNA, controladores de tráfego aéreo e todos os outros envolvidos; e

j) exigir revisões periódicas para garantir que a Política permaneça relevante e apropriada.

NOTA: A Política do FRMS deve ser revisada quando da revisão da Política do SMS ou com período menor, caso necessário.

5.3.1.2 Documentação do FRMS

5.3.1.2.1 O PSNA deve desenvolver e manter atualizada a documentação do FRMS, que deve descrever e registrar, pelo menos, o seguinte:

a) Política e objetivos do FRMS;

b) Processos e procedimentos do FRMS;

c) as linhas de prestação de contas (responsabilidades intransferíveis), as responsabilidades e as autoridades nesses processos e procedimentos;

d) mecanismos de envolvimento contínuo da administração do PSNA, controladores de tráfego aéreo e todos os outros envolvidos;

e) programas de treinamento no FRMS, os requisitos do treinamento e os registros de presença;

f) os horários de trabalho e os períodos de folga planejados e reais, os períodos de descanso entre as ocupações ininterruptas na posição operacional, com as variações significativas e as razões observadas para as variações; e

g) os resultados dos dados coletados por meio do FRMS, recomendações e ações tomadas.

5.3.2 PROCESSOS DE GERENCIAMENTO DO RISCO À FADIGA HUMANA

5.3.2.1 Identificação de Perigos Relacionados à Fadiga Humana

5.3.2.1.1 O PSNA deve desenvolver e manter três processos fundamentais e documentados de identificação de perigos relacionados à fadiga humana, indicados a seguir.

5.3.2.1.2 Processo Preditivo

5.3.2.1.2.1 O processo preditivo deve identificar os perigos relacionados à fadiga, examinando a escala de serviço operacional do controlador de tráfego aéreo e levando em consideração os aspectos que reconhecidamente afetam o sono e a fadiga e seus efeitos no desempenho operacional. Alguns dos métodos de análise incluem:

a) serviços de tráfego aéreo ou indústria com experiência operacional e dados coletados em tipos similares de operações ou de outras indústrias com trabalho por turnos ou operações de 24 horas;

b) evidências baseadas nas práticas de planejamento de escalas de serviço; e

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c) modelos biomatemáticos.

5.3.2.1.3 Processo Proativo

5.3.2.1.3.1 O processo proativo deve identificar os perigos relacionados à fadiga nas operações reais dos serviços de tráfego aéreo. Alguns dos métodos de análise incluem:

a) autorrelato de riscos à fadiga humana;

b) levantamentos/pesquisas de fadiga;

c) dados relevantes do desempenho do controlador de tráfego aéreo;

d) bases de dados de segurança disponíveis e estudos científicos;

e) rastreamento e análise das diferenças nos horários trabalhados planejados e reais; e

f) observações durante operações normais rotineiras ou avaliações especiais.

5.3.2.1.4 Processo Reativo

5.3.2.1.4.1 O processo reativo deve identificar a contribuição dos perigos relacionados à fadiga humana nos reportes e nos eventos associados com potenciais consequências negativas à segurança, a fim de determinar como o impacto da fadiga poderia ter sido minimizado. No mínimo, o processo pode ser acionado por qualquer um dos seguintes meios:

a) reportes de fadiga – Reporte de Indício de Fadiga pós-ocorrência (RIF);

b) reportes confidenciais – Reporte Voluntário de Fadiga (RVF);

c) Relatórios de auditorias – Vistorias e ou Inspeções; e

d) incidentes – Investigação de Ocorrências de Tráfego Aéreo.

5.3.2.1.5 Avaliação do Risco Relacionado à Fadiga

5.3.2.1.5.1 O PSNA deve desenvolver e implementar procedimentos de avaliação de risco que determinem quando os riscos associados exigem mitigação.

5.3.2.1.5.2 Os procedimentos de avaliação de risco devem rever os perigos relacionados à fadiga identificados e conectá-los:

a) aos processos operacionais;

b) a sua probabilidade;

c) a possíveis consequências; e

d) a eficácia dos controles preventivos existentes e das medidas de recuperação.

5.3.2.1.6 Mitigação do Risco

5.3.2.1.6.1 O PSNA deve desenvolver e implementar procedimentos de mitigação do risco à fadiga que:

a) selecionem as estratégias de mitigação adequadas;

b) implementem as estratégias de mitigação; e

c) monitorem a implementação e eficácia das estratégias.

5.3.2.2 Processos de Garantia da Segurança Operacional do FRMS

5.3.2.2.1 O PSNA deve desenvolver e manter os processos de garantia da segurança operacional do FRMS para:

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a) prover monitoramento contínuo do desempenho do FRMS, análise de tendências e medidas para validar a eficácia dos controles dos riscos à fadiga. As fontes de dados podem incluir, mas não estão limitados a:

a1) relatórios de perigo e investigações;

a2) auditorias vistorias, inspeções e pesquisas; e

a3) revisões e estudos de fadiga (internos e externos);

b) prover um processo formal para o gerenciamento de mudanças. Isso deve incluir, mas não está limitado a:

b1) identificação das mudanças no ambiente operacional que podem afetar o FRMS;

b2) identificação das mudanças dentro da organização que podem afetar o FRMS; e

b3) consideração de ferramentas disponíveis que poderiam ser usadas para manter ou melhorar o desempenho do FRMS antes de implementar as mudanças; e

c) prover a melhoria contínua do FRMS. Isso deve incluir, mas não está limitado a:

c1) a eliminação e/ou modificação de controles preventivos e medidas de recuperação que tenham consequências não desejadas ou que não sejam mais necessárias devido a mudanças nas operações ou ambiente organizacional;

c2) avaliações de rotina das instalações, dos equipamentos, da documentação e dos procedimentos; e

c3) a determinação da necessidade de introduzir novos processos e procedimentos para mitigar novos riscos relacionados à fadiga.

5.3.2.3 Processos de Promoção do FRMS

5.3.2.3.1 Os processos de Promoção do FRMS dão apoio ao desenvolvimento do FRMS, da melhoria contínua de seu desempenho geral e à manutenção dos níveis ótimos de segurança operacional. Os itens a seguir devem ser estabelecidos e implementados pelos PSNA como parte de seus FRMS:

a) Programas de treinamento para garantir competências que sejam proporcionais aos papéis e responsabilidades da gerência, dos ATCO e de todos os outros profissionais envolvidos no FRMS; e

b) Um plano efetivo de comunicação do FRMS que:

b1) explique as políticas, os procedimentos e as responsabilidades no FRMS para todos os envolvidos; e

b2) canais de comunicação usados para disseminar informações relativas ao FRMS.

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6 DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

6.1 O Plano de Segurança Operacional (Safety Case), a princípio, deve ser utilizado pelo PSNA para demonstrar que será capaz de manter suas operações em um nível de segurança operacional aceitável, mesmo quando precisar variar os limites prescritivos para o atendimento a circunstâncias operacionais excepcionais previstas, conforme item 4.1.5.6 .

6.2 Excepcionalmente, a partir de 1º de março de 2021 até 31 de dezembro de 2022, o PSNA que julgar não ser possível implementar, integralmente, todos os parâmetros dos limites prescritos poderá utilizar o Plano de Segurança Operacional com o objetivo de apresentar uma avaliação de segurança que demonstre que será capaz de manter as operações em nível de segurança aceitável.

6.3 Para a utilização do Plano de Segurança Operacional, nas condições do item 6.2 acima, o PSNA deverá proceder conforme abaixo:

a) Formalizar ao DECEA a solicitação para flexibilizar a aplicação integral dos limites prescritivos, declarando o(s) parâmetro(s) que o órgão ATC não poderá cumprir;

b) Justificar as razões, operacionais ou de segurança operacional, pelas quais o órgão ATC não poderá cumprir cada parâmetro;

c) Informar os valores que pretende praticar para cada limite prescritivo não cumprido;

d) Solicitar extensão do prazo para cumprimento do limite regulamentar previsto; e

e) Apresentar um Plano de Segurança Operacional correspondente, em conformidade com o Anexo F e seu Apêndice 1.

6.4 A partir do ano de 2023, as Organizações e Entidades Provedoras dos Serviços de Navegação Aérea, caso entendam pertinente operar fora das restrições dos Limites Prescritivos estabelecidos pelo DECEA, poderão, oportunamente, pleitear a transição da Abordagem Prescritiva para a Abordagem FRMS do Gerenciamento dos Riscos à Fadiga, em todos ou em parte de seus órgãos ATC subordinados.

6.5 No entanto, para que possa pleitear a transição da Abordagem Prescritiva para a Abordagem FRMS, o PSNA deverá ter o seu SMS aceito pelo DECEA, demonstrar que os riscos à fadiga estão sendo gerenciados com eficácia por meio dos processos do SMS, que possuem um banco de dados e Indicadores de Desempenho da Segurança Operacional (SPI) relativos à fadiga consolidados, bem como deverá atender aos requisitos e critérios para a implementação do FRMS, conforme estabelecido em legislação específica do DECEA.

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7 DISPOSIÇÕES FINAIS

7.1 As sugestões para o contínuo aperfeiçoamento desta publicação deverão ser enviadas acessando o link específico da publicação, por intermédio dos endereços eletrônicos http://publicacoes.decea.intraer/ ou http://publicacoes.decea.gov.br/.

7.2 Os casos não previstos nesta Instrução serão submetidos ao Senhor Diretor-Geral do DECEA.

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REFERÊNCIAS

BEIJAMINI, F. Avaliação do ciclo sono/vigília, da sonolência diurna e do desempenho psicomotor de adolescentes submetidos a um programa de educação sobre o sono. Dissertação (Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular do Setor de Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Paraná, 2008.

BERROLAZI, A. N. Tradução, Adaptação Cultural e Validação de Dois Instrumentos de Avaliação do Sono: Escala de Sonolência EPWORTH e Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh. Dissertação (Mestrado em Ciências Médicas) – Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

BRASIL. Agência Nacional de Aviação Civil. Orientações para Implementação de um SGRF para Operadores que Tenham um GRF Aceito pela ANAC: IS nº 117-004 – Revisão A. [Brasília], 2019.

BRASIL. Agência Nacional de Aviação Civil. Requisitos para Gerenciamento de Risco de Fadiga Humana. RBAC 117. [Brasília], 2019.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional: DCA 63-3. [Rio de Janeiro], 2015.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Gerenciamento do Risco à Segurança Operacional no SISCEAB: ICA 63-26. [Rio de Janeiro], 2010.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Manual do Gerenciamento do Risco à Segurança Operacional no SISCEAB: MCA 63-14. [Rio de Janeiro], 2012.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Ocorrências de Tráfego Aéreo: ICA 81-1. [Rio de Janeiro], 2020.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Limites Prescritivos para o Gerenciamento da Fadiga no ATC: CIRCEA 100-89. [Rio de Janeiro], 2020.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Investigação do Aspecto Psicológico nos Incidentes de Tráfego Aéreo: MCA 63-7. [Rio de Janeiro], 2009.

BRASIL. Comissão Nacional da Fadiga Humana. Guia de investigação da fadiga humana em ocorrências aeronáuticas. [Brasília], 2017.

BRASIL. Comissão Nacional da Fadiga Humana. Manual de Orientações para a Investigação da Fadiga Humana em Ocorrências Aeronáuticas. Brasília: CNFH, 2020.

CANADÁ. Organização de Aviação Civil Internacional. Anexo 11 à Convenção de Aviação Civil Internacional: Serviços de Tráfego Aéreo. 15. ed. [Montreal], 2018.

CANADÁ. Organização de Aviação Civil Internacional. Convenção de Aviação Civil Internacional. Doc. 9966. 2. ed. Versão 2 (Revisada). [Montreal], 2020.

CANADÁ. Organização de Aviação Civil Internacional. The Fatigue Management Guide for Air

Traffic Service (ATS) Providers. 1. ed. [Montreal], 2016.

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CASSIANO, S. K. A. Fadiga em Foco na Aviação: Adaptação Brasileira da Samn-Perelli Scale. Revista Conexão SIPAER, v. 8, n. 3, pp. 19-28, 2017.

DE VRIES, J.; MICHIELSEN, H; HECK, G.L.H.; DRENT, M. Measuring fatigue in sarcoidosis: the Fatigue Assessment Scale (FAS). British Journal of Health Psychol, v. 9, p. 279-291, 2004.

EUROCONTROL. Fatigue and Sleep Management. Personal Strategies for Decreasing the Effects of Fatigue in Air Traffic Control. [Bruxelas], 2007

JOHNS, M. W. Sleepiness in different situations measured by the Epworth Sleepiness Scale. Sleep, v. 17, p. 703-710, 1994.

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Anexo A – Protocolo para Cochilo Controlado no Horário de Trabalho

A seguir, podemos observar um exemplo de Protocolo de Cochilo Controlado, que pode ser

usado como ponto de partida pelos órgãos ATC para planejarem seus próprios protocolos.

O órgão ATC utilizará quatro etapas para garantir o uso efetivo dos cochilos controlados:

1. Planejar;

2. Informar;

3. Criar um ambiente de descanso apropriado; e

4. Retorno ao trabalho após o cochilo.

1. PLANEJAMENTO

a) Identifique quem vai utilizar o cochilo controlado:

Os gerentes podem autorizar o uso do cochilo controlado como uma forma de gerenciar a fadiga, combinando a ocupação das posições operacionais, desde que:

i. a carga de trabalho atual e prevista permita; e

ii. o ATCO possa ser rapidamente acionado.

Os ATCO n o podem deixar uma posi o operacional designada para fazer uso do cochilo controlado, a menos que:

i. seja substituído por uma pessoa qualificada para assumir a responsabilidade pela posição;

ii. siga as diretrizes da organização para a transferência de responsabilidade de posição; e

iii. siga as diretrizes da organização para desocupar temporariamente uma posição operacional.

b) Identifique a duração do cochilo controlado:

A dura o do coc ilo durante o trabalho deve ser de aproximadamente 45 minutos ou menos. Mesmo que o ATCO só possa obter 5 ou 10 minutos para um breve cochilo, considera-se que dormir um pouco é melhor do que não dormir nada.

c) Defina os horários específicos de início e término do cochilo controlado:

importante que o ATCO saiba com clare a os orários em que vai come ar e terminar o cochilo controlado, ou seja, os horários não devem ficar em aberto.

d) Defina um método específico para acordar:

N o deixe para acordar sem controle. Antes de ir dormir, verifique se você tem uma maneira confiável para acordar. Você pode usar um despertador ou pedir a uma pessoa específica que o chame na hora combinada de acordar.

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2. COMUNICAÇÃO

importante que a organi a o ten a um procedimento definido para a comunicação de informações e atividades.

Antes do coc ilo, certifique-se de que você informou, conforme previsto, que vai tirar um cochilo controlado, quando e por quanto tempo.

Passe as responsabilidades do trabal o para uma pessoa específica.

Passe informa es importantes para seus colegas de trabal o antes do cochilo controlado.

3. CRIE UM AMBIENTE DE DESCANSO APROPRIADO

stabele a um ambiente confortável para tirar um coc ilo plane ado, se a na sala de descanso, no dormitório, na sala de TV ou em outro ambiente.

Considerações gerais: Tente fazer o ambiente ficar o mais escuro e quieto quanto possível. Considere usar um tapa olho ou tampões de ouvido. Ajuste esses e outros fatores (por exemplo, posição) para o seu conforto. Em um estudo de instalações de descanso na aviação comercial, foi relatado que a presença de uma infraestrutura adequada e a qualidade dos itens de conforto pessoal (por exemplo, cobertores, travesseiros) foram fatores significativos associados ao conforto e à qualidade do sono no ambiente de trabalho.

4. RETORNO AO TRABALHO APÓS O COCHILO

a) Permitir um período de inércia do sono após o cochilo controlado:

A principal ra o para limitar a dura o de um coc ilo controlado é minimizar a chance de acordar de um sono profundo. Quando se é acordado do sono profundo, você pode sentir-se zonzo ou sonolento, efeito chamado “inércia do sono”. Normalmente, a inércia do sono desaparece em cerca de a minutos. Portanto, plane e um período de “inércia” de a minutos imediatamente após um cochilo controlado. Durante esse tempo de inércia do sono, tente andar um pouco e se alongar, pois, geralmente, estar fisicamente ativo ou conversar vai ajudá-lo a acordar.

As pessoas s ve es podem acordar de um coc ilo e n o se sentirem mel or. Mesmo nesses casos, o cochilo possui o potencial de melhorar o desempenho e a capacidade de alerta. Então, mesmo que você acorde e não se sinta muito diferente, ainda assim o cochilo controlado pode ser benéfico.

b) De volta ao rodízio do turno:

Obten a informa es dos seus colegas de equipe que o a udar o a retomar com seguran a

suas responsabilidades.

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Anexo B – Formulário para Reporte de Indício de Fadiga (RIF)

QUANTIDADE DE SONO

1. Durante seus dias de folga, supondo que você possa dormir normalmente durante a noite, a que horas você vai para cama?

R.:________________________________________________________________________

2. Durante seus dias de folga, a que horas você acorda?

R.:_________________________________________________________________________

3. Quanto tempo de sono é necessário para você se sentir bem ao acordar?

R.:_________________________________________________________________________

4. Informe a que horas você dormiu e acordou nos últimos 3 (três) dias que antecederam a ocorrência de tráfego aéreo:

• Sono principal – dia 1 (imediatamente anterior ao evento):

Dormiu às ___:___

Acordou às ___:___

Qualidade do sono: ( ) Excelente ( ) Bom ( ) Moderado ( ) Ruim

• Sono principal – dia 2 (anterior ao dia do evento):

Dormiu às ___:___

Acordou às ___:___

Qualidade do sono: ( ) Excelente ( ) Bom ( ) Moderado ( ) Ruim

• Sono principal – dia 3 (anterior ao dia do evento):

Dormiu às ___:___

Acordou às ___:___

Qualidade do sono: ( ) Excelente ( ) Bom ( ) Moderado ( ) Ruim

5. Houve algum período de cochilo no dia da ocorrência? ( ) Sim ( ) Não

Se sim:

Horário Estimado: ___________________

Em que local:______________________

Por quanto tempo: __________________

Por quê: __________________________

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QUALIDADE DO SONO

1. O padrão do seu sono foi diferente ou foi interrompido nos 3 (três) dias que antecederam a ocorrência?

R.: ________________________________________________________________________

2. Algo no ambiente onde você dormiu (casa/alojamento) interferiu no seu sono (ex.: ruído, luminosidade, temperatura, distrações, circulação de pessoas, telefone ou celular etc.)?

R.:_________________________________________________________________________

3. No dia da ocorrência, esteve submetido a um ambiente ou a tarefas incomuns que podem ter ocasionado agitação ou desânimo, tais como:

- Atrasos operacionais? ( ) Sim ( ) Não

- Sobrecarga de trabalho (ex.: cenário operacional muito complexo ou tempo de ocupação

ininterrupta na posição operacional maior que o estabelecido)? ( ) Sim ( ) Não

- Baixa iluminação? ( ) Sim ( ) Não

- Monotonia ou tédio? ( ) Sim ( ) Não

- Outros: ___________________________________________________________________

FATORES CIRCADIANOS

1. Nas últimas 72 horas, vivenciou alguma dessas situações?

• Trabalhar no turno da manhã (antes das 6h): ( ) Sim ( ) Não

• Dormir durante o dia e não à noite: ( ) Sim ( ) Não

• Dormir em horários diferentes do habitual: ( ) Sim ( ) Não

2. Nas últimas 48 horas trabalhou em pernoite? ( ) Sim ( ) Não

TEMPO DE VIGÍLIA

1. Por quanto tempo você ficou acordado até o momento da ocorrência?

R.:_________________________________________________________________________

PROBLEMAS DE SAÚDE

(DISTÚRBIOS DO SONO/USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS)

1. Tem dificuldade em adormecer ou se manter dormindo?

R.:_______________________________________________________________________

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2. Tem problemas médicos que afetam o sono (ex.: dor crônica, refluxo gastroesofágico etc.)?

R.:_________________________________________________________________________

3. Você possui algum tipo de distúrbio do sono (Apneia, Narcolepsia, Insônia)? Há quanto tempo ocorre? Faz algum tipo de tratamento?

R.:_________________________________________________________________________

4. No dia da ocorrência, você fez uso de alguma substância (ex.: cafeína ou energético) ou medicação (ex.: melatonina) para indução do sono ou inibição do mesmo? Se sim, qual e com que frequência o faz?

R.:_________________________________________________________________________

AUTOPERCEPÇÃO DA FADIGA

1. Assinale a sentença que descreve como você está se sentindo nesse exato momento:

Avaliação de Samn-Perelli Significado

( ) Completamente exausto; incapaz de trabalhar efetivamente

( ) Muito cansado; com dificuldade de concentração

( ) Moderadamente cansado; enfraquecido (desanimado, para baixo, com pouca energia)

( ) Um pouco cansado; não totalmente disposto

( ) Bem; relativamente revigorado

( ) Muito ativo; responsivo (reagindo rapidamente e positivamente), mas não em nível máximo

( ) Totalmente alerta; bem desperto; extremamente disposto

Obrigado por ter contribuído com a prevenção da fadiga no ATC!

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Anexo C – Formulário para Reporte Voluntário de Fadiga (RVF)

REPORTE VOLUNTÁRIO DE FADIGA

Em confiança

Instruções:

Este formulário deve ser usado para relatar qualquer experiência significativa ou indicações de fadiga, em si mesmo ou observadas em um colega, que possa afetar a sua capacidade de trabalhar com segurança.

Caso você esteja reportando uma situação individual, é necessária a identificação do seu indicativo operacional, para que seja realizada uma análise acurada da situação.

Seção A: Informações Pessoais

a) Indicativo Operacional (opcional): d) Data do Relatório:

b) Função:* e) Órgão Operacional:*

c) E-mail de contato (opcional): f) Chefe (opcional):

Seção B: Fadiga

g) Este relatório diz respeito a:*

Você Um colega

h) Data do evento:*

i) Relacionado a alguma ocorrência (se aplicável):

( ) Sim ( ) Não

j) Detalhes do horário de trabalho:*

Começo: _______

Fim: ________

k) Relate detalhes de sua preocupação ou evento:*

l) Segundo a sua perspectiva, qual foi a causa do risco à fadiga?* (marque quantos itens achar necessário)

Saúde / doença Deslocamentos casa-trabalho longos Dias de trabalho muito longos Questões domésticas Horário de início de trabalho muito cedo Carga de trabalho (alta ou baixa)

Tempo insuficiente de sono Horário de final de trabalho muito tarde

Descanso de má qualidade (ex.: perturbação no sono)

Outro:

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m) Por favor, indique todos os sintomas de fadiga que foram sentidos ou observados:*

Sono involuntário ou cochilo Lapsos de memória Falta de consciência do entorno

Bocejos Dor nos olhos / coceira nos olhos Falta de energia ou de motivação

Irritabilidade e intolerância Dificuldade em se concentrar em tarefas rotineiras

Dificuldade em se comunicar Coordenação deficiente dos olhos e das mãos

Outros, por favor detalhe:

o) Qual(is) atividade(s) estava(m) sendo realizada(s) no momento?* (Por exemplo: estava dirigindo, controlando, em atividades administrativas, em treinamento etc.)

p) Se possível, diga quanto tempo de sono, aproximadamente, foi obtido nas 24 horas e 48 horas anteriores ao evento?*

24 horas antes: horas 48 horas antes: horas

q) Se este é um relato sobre si mesmo, por quanto tempo você ficou acordado antes do evento?*

________ horas Não é um autorrelato.

Seção C: Outras informações adicionais (por favor, use o espaço abaixo para fornecer quaisquer informações adicionais que ajudem a contextualizar o evento).

n) No momento do evento, você se sentiu, ou seu colega pareceu estar:*

Muito sonolento, fazendo grande esforço para ficar acordado.

Bastante sonolento, fazendo algum esforço para ficar acordado.

Sonolento, mas não foi necessário fazer esforço para ficar acordado.

Com alguns sinais de sonolência.

Nem alerta, nem sonolento.

Alerta.

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Anexo D – Tabela para Análise das Escalas Planejadas e Cumpridas

PARÂMETROS DA ESCALA PLANEJADA

PARÂMETROS DA ESCALA CUMPRIDA

CONDIÇÃO OBSERVADA

Parâmetros Normativos

CONDIÇÃO OBSERVADA

Princípios Científicos

ITEM 1 A escala planejada

ultrapassou o número

máximo de horas

trabalhadas no turno?

Quantas vezes por mês,

o ATCO ultrapassou o

número máximo de

horas trabalhadas no

turno?

ITEM 2 A escala planejada

ultrapassou o número

máximo de turnos

consecutivos de

trabalho?

Quantas vezes por mês

o ATCO ultrapassou o

número máximo de

turnos consecutivos de

trabalho?

ITEM 3 A escala planejada

ultrapassou o número

máximo de horas

trabalhadas no mês (CTM)? (Neste caso,

considerar as horas de

trabalho operacional,

PIMO, reuniões e

RISAER).

O ATCO ultrapassou o

número máximo de

horas trabalhadas no

mês (CTM)? (Neste

caso, considerar as

horas de trabalho

operacional, PIMO,

reuniões e RISAER).

ITEM 4

A distribuição dos

tempos de ocupação

contínua da posição

operacional é

adequada?

Quantas vezes por mês

o ATCO ficou pelo

menos mais de 30

minutos além do

período planejado,

ocupando a posição

operacional?

ITEM 5 A escala planejada

ultrapassou o mínimo

de duração dos

períodos de folga entre

os turnos operacionais?

Quantas vezes por mês

o ATCO não cumpriu o

mínimo de duração dos

períodos de folga entre

os turnos operacionais?

ITEM 6 A escala planejada

ultrapassou o número

mínimo de dias de

folga após uma

sequência de turnos?

Quantas vezes por mês

o ATCO não cumpriu o

número mínimo de dias

de folga após uma

sequência de turnos?

ITEM 7 A escala planejada

considerou a

distribuição adequada

dos períodos de

descanso no turno

operacional?

Quantas vezes por mês

o ATCO não cumpriu o

tempo mínimo da

duração dos descansos

entre os períodos de

ocupação ininterrupta

na posição operacional,

durante o turno?

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PARÂMETROS DA ESCALA PLANEJADA

PARÂMETROS DA ESCALA CUMPRIDA

CONDIÇÃO OBSERVADA

Parâmetros Normativos

CONDIÇÃO OBSERVADA

Princípios Científicos

ITEM 8 A escala planejada

ultrapassou o número

máximo de turnos

noturnos consecutivos?

Quantas vezes por mês

o ATCO trabalhou em

turno noturno

consecutivamente?

ITEM 9 A escala planejada

continha a

configuração de turnos

manhã-noite no

mesmo dia?

Quantas vezes por mês

o ATCO trabalhou em

um turno da manhã

seguido de um turno

noturno, no mesmo

dia?

ITEM 10 A escala planejada

continha a

configuração de turnos

tarde-manhã do dia

seguinte?

Quantas vezes por mês

o ATCO trabalhou em

um turno da tarde

seguido de um turno da

manhã, do dia

seguinte? (Neste caso,

considerar o horário de

término do turno da

tarde e início do turno

da manhã do dia

seguinte)

ITEM 11 Qual o modelo de

escalas adotado pela

escala planejada?

O modelo de escalas

planejado pelo órgão

ATC foi mantido na

escala realizada pelo

ATCO? (Neste caso,

considerar a direção da

rotação do turno e a

velocidade)

A análise dos itens acima estabelecidos possuem a seguinte intenção:

ITEM 1 – Limitar o número máximo de horas trabalhadas em um período de trabalho (turno) permite à organização prover, ao ATCO, a oportunidade para a recuperação do sono, de forma que possa enfrentar a fadiga aguda ou transitória.

ITEM 2 – Limitar o número máximo de dias consecutivos de trabalho é um mecanismo para prover, ao ATCO, a oportunidade de se recuperar da perda acumulada de sono (débito acumulado de sono ou fadiga acumulativa). O número de dias consecutivos trabalhados incide diretamente no incremento do déficit de sono acumulado (perda de sono acumulada). Quanto menor o tempo disponível para o sono a cada noite ou a cada manhã, mais rápido o declínio do estado de alerta e do desempenho operacional. Deve-se considerar que quando o ATCO trabalha no turno da tarde, geralmente até às 22h, o ATCO despenderá tempo no deslocamento até sua residência, tempo para alimentação e tempo para começar a se sentir sonolento, o que poderá ocorrer por volta de 1h da manhã. O mesmo raciocínio se faz para os turnos da manhã, pois para estar no briefing operacional por volta das 5h30min, o ATCO despenderá tempo para se aprontar e se deslocar até o local de trabalho. Logo, deverá acordar por volta das 4h da manhã. Ambos os tempos perdidos de sono concorrerão para o aumento do déficit de sono. Por fim, deve-se considerar que o trabalho noturno

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propicia ao ATCO um desgaste e um esforço maior para manter-se acordado e alerta, logo, a sequência anterior de dias trabalhados precisa ser menor quando culmina em um turno noturno em que o ATCO já tenha acumulado muitas horas de sono perdido. O número máximo de dias consecutivos deve ser proporcional à complexidade das operações e verificado se os turnos noturnos se aplicam.

ITEM 3 – Limitar o número máximo de horas trabalhadas no mês (CTM) é um mecanismo para prover ao ATCO a oportunidade de se recuperar da perda acumulada de sono (débito acumulado de sono ou fadiga acumulativa). O número de dias trabalhados no mês concorre para o incremento do acúmulo de déficit de sono (perda de sono acumulada). Quanto menor o tempo disponível para o sono a cada noite ou a cada manhã, mais rápido o declínio do estado de alerta e do desempenho operacional, já que se sobrepõem ao horário natural do sono. Logo, quanto mais horas de trabalho por mês, mais dias de trabalho por mês e consequentemente maior poderá ser o acúmulo do déficit de sono. É importante ressaltar que, no caso do gerenciamento da fadiga, existe a preocupação com a aplicação da CTM em seu parâmetro máximo ou próximo ao máximo, por um tempo prolongado, pois nesse caso o ATCO permaneceria acumulando a perda de sono por um período prolongado, com menos oportunidades de restauração por meio do sono, tornando a cronicidade da fadiga mais profunda e mais difícil de ser sanada. O número máximo de horas de trabalho no mês deve ser proporcional à complexidade das operações e verificado se os turnos noturnos se aplicam.

ITEM 4 – Embora saibamos que o tempo gasto na posição operacional pode ser associado a níveis de carga de trabalho variáveis, a intenção de limitar o tempo na posição operacional é abordar a dificuldade humana de manutenção do desempenho em condições de carga de trabalho elevada. Nesses casos, o desgaste mental ocorre mais rapidamente devido à complexidade das demandas das tarefas. A alta carga de trabalho pode exceder a capacidade de um indivíduo, levando progressivamente a uma diminuição da qualidade de seu desempenho. Por outro lado, cabe assinalar que em momentos de baixa carga de trabalho também há preocupação com a capacidade humana de se manter alerta frente a pouco ou nenhum estímulo. A baixa carga de trabalho pode deflagrar a sonolência fisiológica e, portanto, degradar o desempenho. Também deve-se considerar a degradação do desempenho no período noturno, em que normalmente há menor volume de tráfego, mas com maior efeito do ciclo circadiano (Janela de Baixa do Ciclo Circadiano).

ITEM 5 – A definição de períodos mínimos de duração de folga garante que as horas de trabalho não sejam divididas de forma a impedir períodos ininterruptos de recuperação de sono. Períodos curtos de folgas entre turnos, após vários dias seguidos de trabalho e em que o fim ou o início dos turnos se sobrepõem ao horário natural do sono, podem levar o ATCO, rapidamente, ao acúmulo do déficit de sono e, se mantido por um período mais extenso, pode levá-lo à fadiga crônica. Quanto menor o tempo disponível para o sono, mais rápido o declínio do estado de alerta e prejuízos ao desempenho operacional. Principalmente em órgãos de alta complexidade e alta demanda de trabalho, Classe 1.

ITEM 6 – Definir um número mínimo de dias de folga após uma sequência de turnos oferece aos ATCO mais oportunidades de recuperação do acúmulo da perda de sono (débito acumulado de sono ou fadiga acumulativa). A duração dos períodos de folga após um período determinado de trabalho deve ser proporcional à complexidade das operações e verificado se os turnos noturnos se aplicam.

ITEM 7 – Definir a duração mínima dos descansos entre os períodos de ocupação ininterrupta da posição operacional tem como objetivo suprir a necessidade de recuperação de períodos de alta carga de trabalho, a fim de manter o desempenho do controlador.

ITEM 8 – O trabalho noturno é considerado o mais desgastante para os seres humanos, pois devem ser capazes de se manter alertas no período em que fisiologicamente deveriam estar dormindo, de acordo com o ciclo circadiano. No período noturno, com a ausência de luz, o corpo

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humano produz substâncias hormonais (melatonina) que são indutoras do sono. No período entre 2h e 6h da manhã ocorre a Janela de Baixa do Ciclo Circadiano (WOCL), quando a fadiga e a sonolência são maiores e as pessoas são menos capazes de realizar um trabalho mental ou físico. Não só a carga de trabalho nesse período será um problema, mas também a falta dela, pois quanto menos estímulos o ATCO tiver (menor número de aeronaves), maior será seu esforço para se manter alerta. Após um período de trabalho noturno, o organismo requer duas noites consecutivas de sono irrestrito para a recuperação. A recuperação do trabalho no turno noturno também é mais difícil, visto que o sono diurno não possui o mesmo efeito restaurador que o sono noturno, uma vez que durante o dia, com a presença de luz, o corpo humano inibe a produção de substâncias hormonais (melatonina) que são responsáveis por induzir os seres humanos ao sono. Ou seja, é mais difícil adormecer e permanecer dormindo.

ITEM 9 – Na configuração Manhã-Pernoite, deve-se considerar que quando o ATCO trabalha no turno da manhã, para estar no briefing operacional por volta das 5h30min, o ATCO despenderá tempo para se aprontar e se deslocar até o local de trabalho. Logo, deverá acordar por volta das 4h da manhã. O turno da manhã terminará por volta das 14h. O ATCO que pretende retornar para trabalhar no pernoite, no mesmo dia, dificilmente irá para casa, pois despenderia tempo de deslocamento de ida e volta. Logo, o ATCO opta por se alimentar e permanecer no trabalho, normalmente no alojamento. Ele terá menos de 8 horas para se alimentar e dormir, para se preparar para o turno noturno. Logo, a qualidade e a quantidade de seu sono serão afetadas, pois, efetivamente, terá menos de 8 horas de sono, o seu sono será diurno, ou seja, com menos potencial restaurador, ocorrerá em ambiente de alojamento coletivo, onde a probabilidade de ter seu sono disturbado por outras pessoas é maior, dentre outros aspectos. O mais importante é constatarmos que esse sono da tarde não será restaurador o suficiente para que ele se apresente íntegro para um turno noturno, que por influência do ciclo circadiano já demandará mais esforço fisiológico do ATCO. Apesar disso, especial atenção deverá ser dada ao sono da tarde, entre um turno e outro, pois será fundamental para o seu desempenho noturno. Devem-se evitar períodos estendidos de vigília (durante um dia), bem como evitar quebras no período de sono recuperador (durante a noite), ocasionado por dois turnos de trabalho no mesmo dia, chamado de Split Period.

ITEM 10 – Na configuração Tarde-Manhã, deve-se considerar que quando o ATCO trabalha no turno da tarde, geralmente até às 22h, o ATCO despenderá tempo no deslocamento até sua residência, tempo para alimentação e tempo para sentir vontade de dormir, o que pode ocorrer por volta de 1h da manhã. O mesmo raciocínio se faz para os turnos da manhã, pois para estar no briefing operacional por volta das 5h30min, o ATCO despenderá tempo para se aprontar e se deslocar até o local de trabalho. Logo, deverá acordar por volta das 4h da manhã. Na configuração de turnos consecutivos tarde-manhã, o ATCO terá em média 3 horas e 30 minutos de sono, muito distante das 8 horas necessárias para se obter um sono restaurador. Ele não chegará íntegro para o turno de trabalho da manhã.

ITEM 11 – Nesse caso, considerar a direção da rotação do turno e a velocidade.

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Anexo E – Relatório de Análise de Fadiga

RELATÓRIO DE

ANÁLISE DE FADIGA

(INSERIR EMBLEMA DA

ORGANIZAÇÃO OU

ENTIDADE)

ASSUNTO:

DATA:

SETOR:

ORGANIZAÇÃO:

1. FINALIDADE

2. REFERÊNCIAS

3. ANEXOS (se aplicável)

4. SIGLAS (se aplicável)

5. CONCEITUAÇÕES (se aplicável)

6. DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO

5. ANÁLISE

6. AÇÕES RECOMENDADAS

7. CONCLUSÃO

Elaborado por

Nome do Analista de Fatores Humanos

Aprovado por

Nome do Chefe da SIPACEA

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Anexo F – Plano de Segurança Operacional (Safety Case)

1 PLANO DE SEGURANÇA OPERACIONAL PARA AS VARIAÇÕES PREVISTAS DOS LIMITES PRESCRITIVOS

1.1 O Plano de Segurança Operacional constitui-se de uma avaliação de segurança operacional específica, na qual o PSNA apresenta uma estratégia de segurança operacional documentada, contendo uma argumentação estruturada e comprovada por evidências consistentes, e tem por objetivo demonstrar que é capaz de manter um nível de desempenho da segurança operacional aceitável, para atender às necessidades de variações previstas (vide item 4.1.5.6 dos limites prescritivos.

1.2 O Plano de Segurança Operacional a ser elaborado pelo PSNA deve documentar:

a) o que o PSNA deseja fazer;

b) o que foi feito para avaliar o risco;

c) a documentação de apoio que explique como, mesmo variando os limites prescritivos, o PSNA continuará sendo capaz de proporcionar um nível de risco aceitável de segurança; e

d) quais mitigações serão usadas.

1.3 A dimensão do esforço esperado do PSNA no desenvolvimento de um Plano de Segurança Operacional deve refletir a criticidade do risco à segurança que ele visa abordar. Em alguns casos, a capacidade do PSNA de fazer a mudança e o baixo impacto da mudança na segurança podem ser um indicativo de que as informações providas por meio do Plano de Segurança poderão ser menos detalhadas.

1.4 Embora nem todos os Planos de Segurança Operacional exijam o mesmo nível de preparação, todos devem abordar consistentemente, pelo menos, os seguintes itens:

a) a natureza, o escopo e o impacto da variação proposta;

b) a metodologia aplicado para a avaliação do risco de fadiga;

c) justificar como a avaliação de risco foi usada e como a decisão de aceitar o risco foi tomada;

d) as medidas de mitigação do risco que serão aplicadas;

e) apresentar alegações, argumentos e evidências feitas na avaliação de risco são válidos; e

f) o plano para monitoramento contínuo do impacto da variação dos limites prescritivos na segurança operacional.

1.5 Os requisitos a serem desenvolvidos em cada item do Plano de Segurança Operacional para as variações nos limites prescritivos estão especificados nos quadros abaixo.

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1. A NATUREZA, O ESCOPO E O IMPACTO DA VARIAÇÃO PROPOSTA

Objetivo

O PSNA deve garantir que compreende a mudança que está propondo, incluindo o impacto direto ou indireto da mudança nos níveis de fadiga de quem trabalhará nos novos limites propostos.

Requisitos

1.1 A documentação deverá identificar claramente qual o elemento dos limites prescritivos ao qual está sendo proposta a variação, a mudança proposta e a operação à qual se destina a ser aplicada.

1.2 Identificar outras áreas de regulamentação que serão afetadas pela proposta.

1.3 A documentação enviada deverá demonstrar que o PSNA considerou todos os impactos indiretos que as variações propostas terão sobre as operações ou outros serviços.

2. A AVALIAÇÃO DO RISCO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Objetivo

O PSNA deve garantir que o processo de identificação de perigos relacionado à variação proposta foi realizado e que as consequências dos perigos foram documentadas.

Requisitos

2.1 Documentar a metodologia utilizada para identificar e avaliar os riscos de fadiga e suas consequências para a variação proposta.

2.2 Documentar quaisquer outros perigos diretos ou indiretos identificados em relação à variação e suas consequências.

2.3 Documentar os riscos de transição para a operação, associados à variação.

3. AVALIAÇÃO E ACEITAÇÃO DOS RISCOS ASSOCIADOS À VARIAÇÃO

Objetivo

O PSNA deve garantir que o nível de risco associado à variação proposta é aceitável.

Requisitos

3.1 Documentar a avaliação do risco.

3.2 Garantir a razoabilidade da avaliação de risco antes e depois das mitigações terem sido aplicadas.

3.3 Fornecer evidências de que os controles e mitigações de fadiga existentes são eficazes.

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3.4 Garantir a aceitação do nível de risco residual por uma pessoa devidamente autorizada.

3.5 Registrar a aceitação do risco residual.

4. AVALIAÇÃO DAS MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DE RISCO

Objetivo

As medidas mitigadoras apresentadas pelo PSNA devem ser adequadas e suficientes para gerenciar o risco de fadiga esperado, ao operar em toda extensão proposta da variação dos limites prescritivos.

Requisitos

4.1 Documentar os envolvidos no processo de identificação de perigos e estabelecimento das medidas mitigadoras, para garantir que a avaliação de segurança foi conduzida no nível funcional adequado dentro da estrutura organizacional do PSNA e com o envolvimento das pessoas com competência funcional.

4.2 Exame criterioso das mitigações propostas, utilizando o conhecimento e experiência operacional do PSNA para estabelecer se as mitigações são apropriadas e potencialmente eficazes.

4.3 Analisar outros aspectos do desempenho humano que possam ser afetados pelas mitigações.

5. SOLICITAÇÃO, ARGUMENTAÇÃO E EVIDÊNCIAS DA AVALIAÇÃO DE RISCO

Objetivo

O PSNA deve apresentar uma solicitação com argumentos consistentes, bem como demonstrar que as evidências da avaliação de risco realizada são válidas. Assim, o PSNA deve:

Requisitos

5.1 Apresentar argumentos de segurança que demonstrem um NADSO.

5.2 Apresentar argumentos de segurança fundamentados em pesquisas validadas ou na aplicação de melhores práticas baseadas nos Princípios Científicos.

5.3 Estabelecer processo para mitigar os riscos de transição.

5.4 Apresentar Conclusões claras na avaliação de risco.

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6. PLANO PARA MONITORAMENTO CONTÍNUO DO IMPACTO DAS VARIAÇÕES DOS

LIMITES PRESCRITIVOS NA SEGURANÇA OPERACIONAL

Objetivo

O PSNA deve evidenciar que os perigos associados às variações foram identificados corretamente e as mitigações estão funcionando conforme o esperado.

Requisitos

6.1 Demonstrar que possui processos em vigor que evidenciem a capacidade de fazer o monitoramento contínuo por meio de atividades de SMS existentes.

6.2 Estabelecer indicadores de desempenho de segurança específicos, relacionados à variação a ser aplicada.

6.3 Estabelecer um processo de revisão para avaliar o impacto de mudanças organizacionais do PSNA, no ambiente operacional, de modo a garantir que as medidas estabelecidas no Plano de Segurança Operacional se manterão eficazes na manutenção do NADSO.

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Apêndice 1 do Anexo F – PLANO DE SEGURANÇA OPERACIONAL (Safety Case)

PLANO DE SEGURANÇA

OPERACIONAL (Safety Case)

OPSNA/EPSNA NÚMERO:

ORGÃO ATC

ACEITAÇÃO DOS RISCOS APROVAÇÃO

Chefe do PSNA Cmt/Chefe/Diretor/Gerente OPSNA/EPSNA

1. NATUREZA, ESCOPO E IMPACTO DAS VARIAÇÕES PROPOSTAS

2. AVALIAÇÃO DOS RISCOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS

3. AVALIAÇÃO E ACEITAÇÃO DOS RISCOS ASSOCIADOS À VARIAÇÃO

4. AVALIAÇÃO DAS MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DO RISCO

5. SOLICITAÇÃO, ARGUMENTAÇÃO E EVIDÊNCIAS DA AVALIAÇÃO DE RISCO

6. PLANO PARA MONITORAMENTO CONTÍNUO DO IMPACTO DAS VARIAÇÕES DOS LIMITES PRESCRITIVOS NA SEGURANÇA OPERACIONAL

7. CONCLUSÃO

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Anexo G – Método para Avaliar o Número de Fatores de Fadiga Associados a um Tipo de Operação ou a um Padrão de Trabalho Específicos

1. Para gerenciar o risco à fadiga, o PSNA precisará avaliar os riscos de fadiga associados a um turno ou padrão de trabalho específico para determinar as estratégias de mitigação apropriadas. Muitas ferramentas e métodos diferentes estão disponíveis para avaliar os riscos e, muitas vezes, são usados em combinação. Um dos métodos para avaliar os riscos associados à fadiga em um determinado tipo de operação ou padrão de trabalho está descrito abaixo.

2. Baseia-se no reconhecimento de que a fadiga resulta do débito de sono, do tempo de vigília, das influências dos fatores circadianos e da carga de trabalho (ver Princípios Científicos apresentados no Capítulo 2). Nesta metodologia, os "fatores de fadiga" são aqueles que condicionam a fadiga ou seja, que estão associados ao aumento da fadiga. Este tipo de metodologia pode ser usada:

a) para identificar as causas de fadiga associadas a um tipo de operação ou tipo de turno específicos;

b) para atribuir um “valor de fadiga” específico e comparável, a um nico tipo de operação ou tipo de turno;

c) para identificar mitigações eficazes para um tipo de operação específica ou um tipo de turno (como parte do processo de mitigação do risco);

d) para comparar a mesma jornada de trabalho ou tarefas realizadas em momentos diferentes do dia; e

e) como ponto de partida para um Plano de Segurança Operacional (Safety Case).

3. Realizar uma pesquisa minuciosa, utilizar dados operacionais coletados e o fornecimento de dados por parte do pessoal operacional são ações essenciais para a identificação de uma lista significativa de fatores de fadiga e são essenciais para o uso bem-sucedido desta metodologia. Esta metodologia pode ser adaptada a qualquer tipo de operação, desde que se utilizem listas personalizadas de fatores de fadiga, geradas para as circunstâncias específicas do PSNA.

4. A aplicação deste método pressupõe os seguintes passos:

a) Passo 1: identifique e assinale na Tabela 6, para um tipo de operação ou padrão de trabalho específicos, todos os fatores de fadiga como presentes ou ausentes, considerando o pior cenário possível sob certas condições plausíveis;

b) Passo 2: ainda na Tabela 6, cada fator considerado “presente” é avaliado para determinar se pode ser evitado por meio de medidas mitigadoras (Tabela 7). O número de fatores de fadiga remanescentes é utilizado para determinar se o cenário, após os fatores serem mitigados, é aceitável (Tabela 8); e

c) Passo 3: utilizar a Matriz de Tolerabilidade de Risco para Fadiga Acumulada (Tabela 9) que apresenta uma avaliação de risco adicional dos fatores de fadiga, para verificar o risco de fadiga acumulada num dado período de tempo. Desta forma, é introdu ida uma dimens o de “frequência de exposi o”, permitindo categorizar o risco de fadiga, com uma pontuação específica, de acordo com o número de vezes que um tipo de operação ou padrão de trabalho foram planejados.

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Tipo de Turno ou Jornada Específica: Escala de Serviço Operacional APP-XX (Operação Carnaval)

Início da Operação: 5:00h, Término da Operação: 15:00h, Duração da Operação: 10 horas

FATOR DE FADIGA

PIOR

CENÁRIO MITIGADO COMENTÁRIOS

DÉB

ITO

DE

SON

O

Noite de sono prévia ** reduzida < 4 h

(noite: 22h às 8h hora local) 1** 1** Não relevante se for o 1o turno

Noite de sono prévia** reduzida > 4 h 1** 0 Evitar o término da jornada no dia

anterior depois da meia-noite

Sono noturno reduzido > 4 h antes da

noite prévia *** 1*** 0

Evitar apresentação em qualquer

dia anterior depois da meia-noite

Turno Noturno prévio** (apenas sono

diurno)** 1** 0

Evitar apresentação em qualquer

dia anterior depois da meia-noite

TEM

PO

DE

VIG

ÍLIA

Tempo transcorrido desde acordado > 2

h antes da apresentação* 1 1

Tempo transcorrido desde acordado >

6h antes da apresentação* 1 (1)

Cochilo anterior à jornada

recomendado

Tempo na tarefa > 10 h (turno de

trabalho) 1 1 Jornada > 10 h à noite (!)

Tempo na tarefa > 8 h mas <12 h (turno

de trabalho) -- --

FATO

RES

CIR

CA

DIA

NO

S

Desajuste circadiano > 4 h ** 1 0 Jornadas anteriores devem

começar cedo

Turno depois das 23h, hora local ou

término de madrugada 1 1

Tempo na posição operacional < 2 h

durante WOCL 1 1

Tempo na posição operacional > 2 h

durante WOCL -- --

CA

RG

A D

E TR

AB

ALH

O 7.1.1.1.1.1.1 4 ou 5 turnos de serviço

consecutivos -- --

7.1.1.1.1.1.2 5 ou 6 turnos de serviço

/ ou 3 turnos de serviço noturnos -- --

7.1.1.1.1.1.3 Dificuldades conhecidas -- --

7.1.1.1.1.1.4 Atividades Extras (PIMO) 1 0 Evitar atividades extras (PIMO)

neste período

Soma dos Fatores 11 6

Avaliação dos fatores da fadiga:

0-3: aceitar

4-6: checar

7-9: mitigar

> 9: não aceitar

* Responsabilidade do ATCO

** Depende do turno anterior

*** Na noite anterior, as duas noites consecutivas

são relevantes

NOTA. Os fatores não estão totalmente ponderados. Os mais importantes são débito de sono, tempo de vigília,

fatores circadianos e carga de trabalho, nesta ordem.

Tabela 6. Exemplo de Tabela de Avaliação e Mitigação de Fatores de Fadiga (Fonte: DOC 9966, 2ed., Revisada 2020).

Page 121: SEGURANÇA OPERACIONAL

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Frequência da Exposição por controlador por Período de Trabalho (por semana)

Fatores de Fadiga

Pode ser programado todos os dias

Pode ser programado duas vezes na semana

Pode uma

ser programado vez na semana

Circunstâncias Inesperadas

0-3 Baixo Baixo Baixo Baixo

4-6 Moderado Moderado Baixo Baixo

7-9 Alto Moderado Moderado Moderado

> 9 Alto Alto Alto Alto

Tabela 9. Matriz de tolerabilidade de risco para fadiga acumulada (PASSO 3) (Fonte: DOC 9966, 2. ed.,

2016).

5. Para exemplificar o uso da metodologia descrita, vamos considerar sua aplicação para avaliar a fadiga numa situação específica, ou seja, o aumento da demanda de tráfego aéreo no aeroporto de SBXX, no período do Carnaval, quando o PSNA, para atender a esta

Avaliação do Somatório dos Fatores da Fadiga sob as Condições Existentes

Fatores de Fadiga

Tolerabilidade Ação

0-3 Aceitar Nenhuma mitigação requerida.

4-6 Checar Identificar as mitigações para reduzir os fatores de fadiga.

7-9 Mitigar Identificar as mitigações para reduzir ao mínimo os fatores de fadiga remanescentes.

> 9 Não aceitar Identificar as mitigações para reduzir ao mínimo aceitável os fatores de fadiga remanescentes. Se não for possível, a jornada não pode ser aplicada.

Tabela 7. Categorização para avaliação da soma dos fatores de fadiga (PASSO 1). (Fonte: DOC 9966, 2. ed.,

2016).

Tolerabilidade do Somatório dos Fatores da Fadiga após as Ações Mitigadoras

Fatores relevantes

Prejuízo ocasionado pela fadiga

Aceitabilidade

0-3 Baixo Aceitável, não há ação mitigadora requerida.

4-6 Aumentado Aceitável, mas deve-se manter os fatores de fadiga tão baixos quanto possível.

Monitorar operação.

7-9 Significativo

Aceitável se os fatores de fadiga forem mantidos ao mínimo (todos os fatores evitáveis são evitados).

O número de vezes que esta jornada pode ser programada é limitado para cada controlador em dado período.

Requerido o monitoramento deste período de trabalho.

> 9 Alto Não aceitável

Tabela 8. Categorização da tolerabilidade da soma dos fatores de fadiga após as ações mitigadoras (PASSO 2).

(Fonte: DOC 9966, 2. ed., 2016).

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necessidade operacional excepcional prevista, precisa flexibilizar os limites prescritivos dos ATCO do APP-XX.

6. Cada fator de fadiga identificado é relevante para o tipo de operação e deve estar vinculado ao estudo dessa operação específica, conforme a metodologia a seguir:

Passo 1:

a) A Tabela 6 apresenta uma Avaliação e Mitigação de Fatores da Fadiga e lista os fatores de fadiga identificados pelo PSNA. Os fatores de fadiga identificados no Passo , devem ser assinalados com ( ), na coluna “pior cenário”, se estiverem “presentes”, ou com (--), se estiverem ausentes.

b) A Tabela 7 categoriza a avaliação dos diferentes números dos fatores de fadiga sob condições existentes (isto é, sem mitigação). No exemplo, a soma dos fatores de fadiga (11) significa que, nas condições existentes e no pior cenário, esse tipo de operação não pode ser realizada, se o número de fatores não for reduzido por meio da mitigação.

Passo 2:

a) O formulário apresentado na Tabela 6 deve ser novamente utilizado para pontua o de cada um dos fatores de fadiga presentes ( ) como “evitável” ( ) ou n o evitável ( ) na coluna “Mitigado”. ma descri o de como ele pode ser mitigado deve ser registrada na coluna “Comentários”. No exemplo, há 6 fatores de fadiga remanescentes.

b) A Tabela 7 classifica a aceitabilidade da soma dos fatores de fadiga mitigados. O exemplo de 6 pontos significa que, com mitigações extras, os prejuízos advindos da fadiga ainda estarão presentes, ou seja, estarão aumentados, mas aceitáveis.

Passo 3:

a) A Tabela 9 apresenta uma avaliação de risco adicional dos fatores de fadiga, com o objetivo de verificar o risco de fadiga acumulada num dado período. Aqui, a dimens o “Frequência da Exposição” foi adicionada matri , permitindo a classificação do risco de fadiga, de acordo com o número de vezes (frequência) que esse tipo de operação está programada, com esse somatório de fatores de fadiga. Novamente, as categorias devem ser identificadas por cada PSNA para seu contexto específico.

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Anexo H – Diário de Sono e Vigília