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Page 1: SEGUNDA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2010 ESPECIAL … filevolvimento de Caxias (Codeca) nas lixeiras espalhadas pela cidade, pelo menos 145 toneladas, o equivalente a 35%, são lixo que poderia

Das 410 toneladas de lixo recolhidas todos os dias em Caxias, 145 toneladas poderiam ser aproveitadas para reciclagem, mas são

desperdiçadas. São dois os motivos: a população mistura muitos resí-

duos sólidos com orgânicos e as 11 cooperativas de re-cicladores não conseguem

dar conta da demanda do material, pois enfrentam fal-ta de estrutu-ra e de asso-ciados

SEGUNDA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2010PIONEIRO| 14 E 15 |

ESPECIALSEGUNDA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2010PIONEIRO

35% DO SELETIVO É ENTERRADO

RECICLAGEM

DANIEL CORRÊA

Caxias do Sul – Das 410 tonela-das de resíduos recolhidos diaria-mente pela Companhia de Desen-volvimento de Caxias (Codeca) nas lixeiras espalhadas pela cidade, pelo menos 145 toneladas, o equivalente a 35%, são lixo que poderia ser rea-proveitado, mas que acaba no aterro sanitário.

A população é a grande respon-sável por ampliar este problema. Porém, as 11 asso-ciações de recicla-dores do município acabam enviando pelo menos 10 to-

neladas por dia de lixo reciclável

para serem en-terradas. Isso

ocorre em decorrên-cia de uma série de proble-mas.

Entre as causas do desper-dício estão a falta de compra-

dor do material reciclado, a estrutura precária nos galpões

(muito lixo reciclável fica expos-to à chuva) e a insuficiência de as-

sociados atuando nas cooperativas. Mas esses não são os principais mo-tivos: metade do lixo que poderia ser reciclado é enterrada, pois vem das casas dos cidadãos misturada com lixo orgânico.

– Houve uma época na qual todo o

material sólido produzido na cidade parava no aterro. Não vejo como um grande problema o encaminhamen-to do lixo que sobra nas associações de recicladores. Estamos avançando – pondera o presidente da Codeca, Adiló Didomenico.

Entre as 410 toneladas recolhidas diariamente pela Codeca, apenas 70 toneladas de lixo seletivo estão bem separadas pela população. Este material, que corresponde a 35 ca-minhões cheios, é enviado para as

associações de reci-cladores e para 25 apoiadores – em-presas que também recebem gratuita-mente o material da Codeca após preen-cherem uma série de pré-requisitos.

É preciso adicio-nar a esta monta-

nha de lixo seletivo 40 toneladas, retiradas das lixeiras e contêineres pela ação de catadores, e mais 15 to-neladas que empresas da cidade se encarregam de reciclar ou negociar com a indústria. Assim, o volume produzido na cidade que se transfor-ma em material reciclado e dinheiro chega a 125 toneladas diárias. Se os caxienses tivessem mais consciência ambiental e, as cooperativas, mais infraestrutura, poderiam ser acres-cidas outras 145 toneladas desperdi-çadas todos os dias.

[email protected]

MAIS

Troca Solidária

A Codeca promove desde 2009 o projeto Troca Solidária em bairros da periferia de Caxias. A iniciativa consiste na troca de quatro quilos de lixo seletivo por um quilo de verduras e frutas. O material recolhido é repassado para as 11 associações de recicladores.

Bem separadas, 70 toneladas são enviadas a associações e empresas que reciclam lixo

!

A CORRIDA DIÁRIA PELO LIXO SELETIVO■ A Codeca recolhe todos os dias70 toneladas de lixo seletivo em Caxias. Pelo menos outras 40 toneladas são tiradas das lixeiras pelos catadores e 15 toneladas são recicladas ou comercializadas por empresas.

■ Os resíduos são recolhidos das lixeiras de duas formas: pela coleta manual e mecanizada e pela ação de catadores, também chamados de papeleiros ou carrinheiros. Em sua maioria, são materiais como papelão, latas de alumínio, embalagens pet, vidros e plásticos.

■ Na primeira situação, o material é encaminhado à Codeca. Da companhia, os resíduos são levados,

gratuitamente, a 11 associações de reciclagens e 25 apoiadores, como são chamadas as empresas que recebem o excedente.

■ Quando coletados diretamente nas ruas, os materiais recicláveis são vendidos a intermediários, como são conhecidas as empresas que compram o lixo seletivo para revendê-lo às indústrias.

■ Não se tem certeza do número de catadores atuando em Caxias, mas se estima que sejam pelo menos 50. A maioria mora em bairros da Zona Norte, como Santa Fé, Vila Ipê e Cânyon, além de locais como Vila Leon, 1º de Maio e Euzébio Beltrão de Queiróz, entre outros.

Material sobra e salário encolhe pela metadeUma das primeiras associações

de recicladores de Caxias do Sul, a Interbairros traduz bem o mercado dos resíduos sólidos. Fundada em 1997, fica em um pavilhão de mil metros quadrados no bairro Vila Maestra, na Zona Norte, e soma 20 associados, a metade do que havia há cinco anos.

Faltam interessados em trabalhar e sobra material reciclado entregue pela Codeca. Com menos recicla-gem, a renda despencou para prati-camente a metade. O salário indivi-dual caiu de R$ 1,1 mil por mês para menos de R$ 700.

A reciclagem recebe da Codeca em torno de 20 toneladas de mate-rial por semana. Como os resíduos

estão misturados, os associados primeiro fazem uma triagem. Eles separam em tonéis papelão, latas de alumínio, embalagens pet, plás-ticos e vidros, entre outros. Depois, os materiais são achatados em cinco prensas e embalados para serem re-colhidos.

Segundo a presidente, Eva Guedes da Silva, 40 anos, uma esteira seria fundamental para agilizar a separa-ção e possibilitar o trabalho com um volume maior. Embora alguns se as-sustem com a jornada, das 7h30min às 17h30min, com três intervalos para almoço e dois lanches, a certeza de um salário mensal tem mantido a maioria dos associados.

O ritmo dos associados em alguns

momentos fica lento. É quando pre-cisam lavar resíduos que chegam sujos e que não serão aceitos pelas empresas. Para a Interbairos, as em-presas têm pago em média R$ 0,36 pelo quilo do papelão, R$ 2,30 pelo do alumínio e R$ 1 pelo de plástico. Pelo caco de vidro, o valor não ultra-passa R$ 0,05.

Se há quem desista logo do tra-balho, muitos associados percebem uma boa possibilidade de renda. Há pouco mais de dois meses, Ivanete Bittencourt Alexandre, 37, fazia lim-pezas esporádicas em condomínios. Casada e mãe de sete filhos, ela op-tou pela renda fixa.

– Ao menos agora eu tenho uma garantia – diz.

Há 11 cooperativas de reciclado-res na cidade, todas representadas pela Associação dos Recicladores de Caxias do Sul (ARCS). O maior desa-fio da entidade, que tem uma verba mensal de R$ 120 mil para comprar material das associadas, é encontrar parceiros dispostos a pagar preços considerados justos.

Para transformar o lixo em di-nheiro, os recicladores precisam trabalhar em equipe e manter a perseverança. Muitos desistem na primeira semana de trabalho, por achar o serviço pesado – são no mí-nimo oito horas diárias em pé – e insalubre, já que a separação inade-quada por parte da população faz com que o material orgânico deixe o lixo reciclável fétido.

O trabalhado duro e a crescente oferta de emprego nas indústrias reduziram o ritmo nas cooperativas. Há muito material estocado. A situa-ção tem se agravado em razão de os resíduos com melhor preço serem retirados das lixeiras por catadores antes da chegada dos caminhões da Codeca. Os catadores vendem direto para as indústrias, sem passar pelas cooperativas.

A cooperativa Consolação, na Zona Sul, chegou a ter 30 pessoas, mas hoje tem apenas 10. A situação só não está pior porque a Codeca disponibilizou, de forma experi-mental, uma esteira para ajudar na separação do lixo. Com ela, os asso-ciados passaram a receber entre R$ 400 e R$ 500 por mês, contra os R$ 50 obtidos antes da esteira.

Celso Ricardo Borges, 40 anos, há um ano e meio separando lixo na as-sociação, está otimista:

– As coisas vão melhorar, tenho fé – acredita o homem, que trabalhava como polidorista de metais antes de ingressar na cooperativa do Conso-lação.

A presidente da entidade, Elisete da Silva Rosa, 49, apesar de admitir que a esteira trouxe algum alento, mostra insatisfação.

– Às vezes tenho vontade de sen-tar e chorar. Precisaríamos de mais apoio do poder público. Não temos benefícios legais como INSS, 13º e férias. Assim, fica difícil – relata, lembrando que dois associados es-tão doentes e ficam em casa sem receber nada.

Na tarde em que a reportagem es-teve na associação – na semana re-trasada –, funcionários de uma em-presa terceirizada da RGE chegaram para fazer o corte da energia elétrica. Era a segunda visita da equipe na semana. A luz só não foi desligada graças aos insistentes apelos de Eli-sete. Segunda ela, a dívida está em torno de R$ 900.

– A Codeca acha que está fazen-do um favor para nós (recicladores), mas quem está prestando um ser-viço essencial para a população é a gente. Para onde iria tanto material se não separássemos? – questiona a líder do grupo. SEGUE

Associações enfrentam

dificuldades

MAU ACONDICIONAMENTOPor causa da exposição ao tempo, maioria das associações de recicladores de Caxias tem visto material seletivo ser desperdiçado todos os dias

RONI RIGON

PIONEIRO.COM

Veja um vídeo sobre o trabalho da associação de recicladores Interbairros.

MAIS

Leia amanhã

Uma das principais medidas para aumentar a produtividade das associações de recicladores é a colocação de esteiras em todas as 11 cooperativas. Veja o que está sendo feito para que a proposta se torne realidade.