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Secretaria Nacional de Mulheres Escola Nacional de Formação Política

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Secretaria Nacional de MulheresEscola Nacional de Formação Política

Secretaria Nacional de MulheresEscola Nacional de Formação Política

Comissão Executiva NacionalRui Falcão PresidenteJosé Guimarães Vice-PresidenteFátima Bezerra Vice-PresidenteElói Pietá Secretário-Geral NacionalJoão Vaccari Neto Secretário Nacional de Finanças e PlanejamentoAndré Vargas Secretário Nacional de ComunicaçãoPaulo Frateschi Secretário Nacional de OrganizaçãoIole Ilíada Secretário Nacional de Relações InternacionaisGeraldo Magela Secretário Nacional de Assuntos InstitucionaisCarlos Henrique Árabe Secretário Nacional de Formação PolíticaRenato Simões Secretário Nacional de Movimentos PopularesJorge Coelho Secretária Nacional de MobilizaçãoMaria do Carmo Lara VogalBenedita da Silva VogalMariene Pantoja VogalArlete Sampaio VogalVirgílio Guimarães VogalFátima Cleide VogalLíder na Câmara Paulo TeixeiraLíder no Senado Humberto CostaJoão Felício Secretário Sindical NacionalValdemir Pascoal Secretária Nacional de JuventudeEdmilson Souza Secretário Nacional de CulturaJúlio Barbosa Secretário Nacional de Meio Ambiente eDesenvolvimentoLaisy Moriére Secretária Nacional de MulheresCida Abreu Secretária Nacional de Combate ao RacismoElvino Bohn Gass Secretário Nacional Agrário

Sede Nacional do PTSetor Comercial Sul, Quadra 2, Bloco C, 256 - Edifício Toufic70302-000 – Brasíla/DF

Diretório Nacional do PTRua Silveira Martins, 132 - 01019-000 – São Paulo/SP – BrasilFone: (11) 3243-1313 – Fax: (11) 3243-1300E-mail: [email protected] internet: www.pt.org.br

Fundação Perseu AbramoInstituída pelo Diretório Nacional do PT em maio de 1996.

Nilmário Miranda Presidente

DiretoriaFlávio Jorge Rodrigues da SilvaIole IlíadaPaulo FioriloSelma Rocha

Fundação Perseu AbramoRua Francisco Cruz, 234 - 04117-091 – São Paulo/SP – BrasilFone: (11) 5571-4299 – Fax: (11) 5573-3338E-mail: [email protected] internet: www.fpabramo.org.br

Sumário

Apresentação - 9

1. Como se constrói a desigualdade entre mulheres e homens na sociedade - 10

Divisão sexual do trabalho - 10

Relações sociais de sexo ou relações de gênero - 12

A extensão da desigualdade nas relações de gênero - 13

2. O feminismo no Brasil - 14

A luta das mulheres pela igualdade e o surgimento do feminismo - 14

A primeira onda do feminismo - 14

A primeira onda do feminismo no Brasil - 14

Em 1910, mulheres socialistas criam o Dia Internacional das Mulheres - 15

A segunda onda do feminismo - 16

A segunda onda do movimento feminista no Brasil - 16

“O pessoal também é político” - 16

Auto-organização e luta das mulheres - 17

Os primeiros movimentos das petistas feministas - 18

Década de 1980: definição de projetos políticos para o brasil - 19

O movimento de mulheres e as eleições de 1982 - 19

A crítica das petistas aos conselhos e a proposta de secretarias - 19

A participação das petistas no período da Constituinte - 20

Resistência e pressão de uma agenda conservadora: os anos 1990 - 21

Retomada do movimento feminista no enfrentamento da globalização - 21

3. Mulheres do PT - 22

Não há socialismo sem feminismo - 22

Movimento autônomo de mulheres - 22

Reafirmar compromissos com a construção do socialismo libertário - 22

Organizar as militantes no partido - 23

Participação das mulheres no PT - 24

4. O PT, o estado e as políticas públicas para a igualdade de gênero - 30

Diretrizes para um estado democrático - 31

Uma plataforma feminista para o PT: articulando gênero, raça e classe - 32

Compreender e enfrentar as bases da desigualdade - 33

Combate à violência sexista - 34

Saúde, sexualidade e autonomia pessoal - 36

Sexualidade e direito à livre orientação sexual - 37

Sexualidade livre, sem subordinação ao mercado - 37

Educação e cultura para a igualdade - 38

Trabalho, trabalho doméstico e autonomia econômica - 40

Mulheres trabalhadoras no campo e na cidade - 41

Creches, educação infantil e cuidados - 41

Democracia e participação política das mulheres - 42

Uma cidade, um estado, um país com igualdade - 43

Referências bibliográficas - 45

Anexo - Linha do tempo - 46

PUBLICAÇÃO

8

Feminismo e Organização das Mulheres PetistasPublicação da Escola Nacional de Formação Política do PT e Secretaria Nacional de Mulheres do PT

Coordenação editorialLaisy MoriéreMarilane Oliveira Teixeira

Elaboração de textos e contribuiçõesAlessandra Terribili Angélica Fernandes Euli Steff en (RS)Fátima Beatriz Maria Kátia Guimarães Laisy MoriéreMaria Otilia BocchiniMaria Teles dos Santos Marilane Oliveira TeixeiraNalu Faria Paula Beiro Raquel Auxiliadora Rosângela Rigo Suely de Oliveira Tatau Godinho

Edição do textoMaria Otilia Bocchini

RevisãoLaisy MoriéreMaria Otilia BocchiniMarilane Oliveira Teixeira

Apoio administrativoCélia Maria AlvesOlga Fontan

Projeto gráfi co e diagramaçãoAgência Bistrô

IlustraçãoAgência BistrôTiragem10 mil exemplares

ImpressãoBangraf

São Paulo, julho de 2011

9

Apresentação

A história do PT é também a história de luta das mulheres por uma sociedade mais justa e igualitária. O PT reconhece a discriminação que sofrem as mulheres na sociedade brasileira. Entende que, além das relações de classe, as mulheres estão submetidas a relações de opressão de sexo, que se reproduzem numa rígida divisão de trabalho e de papéis e se expressam em todas as esferas, econômica, política, social e ideológica.

É por isso que a eliminação das discriminações contra as mulheres não pode ser resolvida apenas no combate ideológico, mas exige o desenvolvimento de políticas públicas, que ataquem diretamente as formas de discriminação e da opressão. E isso precisa ser feito através da democratização radical do Estado e da auto-organização das mulheres, com o fortalecimento da participação popular e da participação política das mulheres.

Nesse sentido, as resoluções partidárias e programas de nossos governos reafirmam o compromisso do partido com políticas e ações que representam as principais bandeiras de lutas dos movimentos de mulheres e feministas, e que são extremamente significativas para a melhoria da qualidade de vida das mulheres.

Neste caderno de Formação, Feminismo e organização das mulheres petistas, apresentamos três módulos. A primeira parte do caderno desenvolve uma visão panorâmica das origens da posição de subordinação das mulheres na

sociedade, a separação entre produção econômica e reprodução social e a natureza da divisão do trabalho entre os sexos. A segunda parte aborda uma compreensão sobre as principais lutas e bandeiras do movimento feminista no Brasil, indicando os avanços e desafios, e procura explicitar como surge o debate do feminismo no Brasil e no PT. A terceira parte trata das políticas públicas, como interrelação entre sociedade civil e Estado, e da relação entre Estado, mercado e família. Nesse bloco são tratados temas como trabalho, violência, campo, educação, sexualidade e autonomia pessoal.

Por fim, reproduzimos em encarte as resoluções do partido sobre o tema das mulheres, desde a primeira declaração pública em 1979 até as resoluções do IV Congresso em 2010.

Boa leitura!

Rui da Costa Falcão Presidente do Diretório Nacional do PT

Laisy MoriéreSecretária Nacional de Mulheres do PT

Carlos Henrique ÁrabeJorge CoelhoSelma Rocha Escola Nacional de formação Política

PARTE 1

10

Como se constrói a desigualdade entre mulheres e homens na sociedade

Vivemos em um mundo em que há muitas desigualdades nas famílias, nas relações sociais, na economia. São desigualdades que limitam o acesso das pessoas a bens e direitos. Mas sempre as mais prejudicadas são as mulheres.

Para o capitalismo é vantagem conservar e aumentar as desigualdades, porque essa situação fortalece as relações de poder e dominação, em casa e na vida pública.

Logo em seu começo, o mundo das indústrias capitalistas promoveu uma forte divisão entre o trabalho fora de casa e o trabalho doméstico, realizado em casa.

A divisão sexual do trabalho separa o que é trabalho de homem e o que é trabalho de mulher e também hierarquiza, isto é, dá mais valor ao trabalho masculino do que ao feminino. O trabalho feminino em casa, que é indispensável para a reprodução cotidiana de toda a sociedade, não foi e não é reconhecido como trabalho.

A divisão sexual do trabalho

A produção de mercadorias para o comércio foi separada da produção doméstica para o consumo da família. Hoje em dia, damos o nome de esfera pública ao mundo público da produção. O mundo de casa e da reprodução da vida é chamado esfera privada.

Essa separação destinou as mulheres de preferência para a esfera privada, jogando sobre as costas delas todo o trabalho doméstico, o cuidado com a casa e a família. Nessa divisão sexual do trabalho, os homens � caram com o trabalho fora de casa, nas fábricas, ganhando salário para o sustento da família.

11

Essa divisão sexual do trabalho dá muito poder aos homens. Dominando o trabalho mercantil, os homens passaram a dominar todo o espaço público, a organização política e econômica da sociedade, a produção da cultura.

Esse modelo de família e de divisão entre o mundo público e o mundo privado foram ficando na cabeça das pessoas como um padrão ideal de sociedade. Mas acontece que em todos os lugares e em todas as épocas, muitas mulheres trabalharam também fora da família ou de casa. Mas, para as mulheres, não era fácil trabalhar fora de casa. Muitos trabalhos não admitiam mulheres, havia leis que proibiam as casadas de trabalharem fora de casa. Em muitos países não podiam ter seu próprio negócio ou trabalhar no comércio.

Por tudo isso, já antes de 1900 havia feministas reivindicando o direito ao trabalho e a melhores salários.

Trabalho de mulher, trabalho de homem

É importante compreender bem a divisão sexual do trabalho, porque ela está presente nas mais diversas esferas da sociedade e organiza e sustenta a desigualdade nas relações sociais entre mulheres e homens.

A desigualdade estabelece um como dominador e outra como dominada. E isso sustenta uma concepção autoritária e violenta das relações humanas e da sociedade.

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Já no século 19, o movimento de mulheres e as mulheres organizadas no movimento socialista reivindicavam a igualdade entre mulheres e homens. Elas não aceitavam a visão de que a desigualdade se devia a alguma inferioridade biológica das mulheres. E não aceitavam os argumentos que diziam que as mulheres são mais fracas, são menos capazes, são limitadas pela maternidade etc.

A partir dos anos 1960, o feminismo aprofundou a análise das relações sociais de sexo ou relações de gênero, afirmando que elas consolidam relações de poder e dominação que não podem ser explicadas apenas pelas desigualdades de classe.

A análise das relações de gênero permite que se tenha uma visão sexuada dos fundamentos e da organização da sociedade, uma vez que as relações de gênero existem em todos os lugares e em todos os níveis do social. Essa análise, portanto, ajuda a entender como o capitalismo incorporou e reconfigurou as relações de dominação das mulheres pelos homens. Essas relações de dominação passaram a fazer parte da economia e das novas formas de organização social.

Por exemplo, a vida de cada família em casa separada, nas cidades, dava aos homens ainda mais controle sobre o corpo e a sexualidade das mulheres.

Relações sociais de sexo ou relações de gênero

13

As mulheres resistiram e lutaram para romper com essa ordem e ter direito à esfera pública, ao trabalho remunerado, à educação, ao poder de decidir sobre seus corpos e à participação política. Lutaram também para não ficarem com toda a responsabilidade do trabalho doméstico e de cuidados.

A extensão da desigualdade nas relações de gênero

Desde crianças, as mulheres são educadas pela família, pela igreja, escola, pela sociedade em geral, para que aprendam e reproduzam os valores e comportamentos considerados “femininos” identificados com a família e a maternidade: fragilidade, submissão, emotividade, passividade. Já os homens, desde meninos, são incentivados a construir um perfil de coragem, força, poder exclusivo de tomar iniciativas, pouca sensibilidade.

As relações desiguais se manifestam, por exemplo, na violência sexista, no controle sobre a função reprodutiva das mulheres, em sua posição secundária no mercado de trabalho, em sua presença tão reduzida nos postos e funções de poder na sociedade.

Se as desigualdades são aprendidas social e historicamente, elas também podem ser superadas social e historicamente.

Mas, para isso, um passo fundamental é reconhecer que essas relações organizam uma hierarquia entre os sexos, dando destaque e privilégios aos homens. Negar a desigualdade é a melhor forma de deixá-la como está.

Partimos de uma visão de que, além da opressão de classe, existem outros sistemas de opressão na organização de relações sociais e

pessoais, na construção da cultura e dos valores. Esse é o caso das relações sociais de sexo, ou relações de gênero, e das relações de raça/etnia.

Se é assim, não basta lutar apenas contra a opressão de classe. Por isso, é importante a organização das mulheres, a construção de um movimento próprio das mulheres, sua organização no interior dos movimentos sociais e dos partidos políticos. Até porque, mesmo nesses movimentos e partidos ainda se reproduzem as desigualdades presentes na sociedade.

O movimento de mulheres e o feminismo criaram um fato político novo: o surgimento de um conjunto de mulheres que se organizam na defesa de seus interesses, que questionam diretamente sua posição na sociedade e na política e, nessa trajetória, fortalecem sua consciência como mulheres, se formam como dirigentes de sua libertação.

Essas mulheres modificaram os movimentos e partidos de esquerda, ampliando os horizontes da luta anticapitalista e contra todas as formas de discriminação.

A luta pela libertação das mulheres é um componente fundamental da luta de todos os oprimidos para construir uma nova sociedade.

14

PARTE 2

O feminismo no Brasil

Nos séculos 18 e 19 houve grande impulso do capitalismo e também muitas lutas sociais. Nesse período começou a formação da classe trabalhadora moderna, a organização das trabalhadoras e trabalhadores e do movimento socialista. Surgiram os partidos políticos e também o movimento de mulheres.

As mulheres começaram a reivindicar participação efetiva nos espaços organizativos e políticos em que eram tomadas decisões que afetavam a elas e a toda a sociedade. A partir da segunda metade do século 19, a organização das mulheres se consolida como um movimento próprio, em vários países.

Das últimas décadas do século 19 até as primeiras décadas do século 20, a mobilização das mulheres foi muito forte, principalmente na França, Inglaterra, Estados Unidos, Rússia, Nova Zelândia, Austrália e Alemanha.

Esse período é chamado de primeira onda do feminismo ou primeira onda do movimento de mulheres.

A primeira onda do feminismo

A luta das mulheres pela igualdade e o surgimento do feminismo

A primeira onda do feminismo no Brasil A partir da década de 1920 houve no país um movimento sufragista (pelo direito de voto), que arregimentou principalmente mulheres pro� ssionais, mas também chamou a atenção de mulheres dos setores populares. A luta pelo voto encontrou bastante resistência na imprensa e em setores dominantes. No campo da esquerda, as correntes anarquistas, socialistas e comunistas não deram importância a esse tema. No Brasil, o direito de voto para as mulheres foi aprovado em 1932.

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Em 1910, mulheres socialistas criam o Dia Internacional das Mulheres

O Dia Internacional das Mulheres representa a luta e a mobilização das mulheres desde o início do século 20.

Em 1910 foi definido um dia de luta das mulheres para todo o movimento socialista internacional, na segunda Conferência de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, Dinamarca. Esse dia de luta foi proposto por Clara Zetkin, dirigente do Partido Social Democrata alemão, e outras militantes.

Nos anos seguintes, as mobilizações do Dia Internacional das Mulheres foram realizadas

anualmente em diversos países, mas em datas diferentes. Mais tarde, o dia 8 de Março foi escolhido para ser a data unificada, porque, nesse dia, em 1917, uma importante mobilização de trabalhadoras russas foi o estopim que deu início à Revolução Russa.

Em 2010, completaram-se cem anos da criação do Dia Internacional das Mulheres. Retomar o 8 de Março dentro das tradições das correntes socialistas do feminismo ajuda a reafirmar a data como um dia de ação política.

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A segunda onda do feminismo

A partir dos anos 1960, o movimento feminista retomou a cena política e se espalhou por um grande número de países. Esse é um período em que a situação social das mulheres tem mudanças importantes: elas passam a estudar mais, têm menos filhos e saem para trabalhar fora.

É também um momento de grandes protestos da juventude, de crítica aos padrões tradicionais de sexualidade e de família. Esse foi o tempo do movimento hippie, da contestação da guerra do Vietnã, das mobilizações políticas da juventude em 1968. Surge uma “nova esquerda”, abalando a hegemonia dos partidos comunistas tradicionais em vários países. Os negros lutam por direitos civis nos Estados Unidos.

Nessa agitação, as reivindicações feministas ferviam mundo afora na sociedade, na cultura, na política.

A segunda onda do movimento feminista no Brasil

No Brasil e na América Latina, a segunda onda do movimento feminista chegou a partir dos anos 1970 e se desenvolveu no período das ditaduras militares.

Entre nós, o feminismo aglutinou em particular militantes de esquerda que buscaram, naquele momento vincular a organização das mulheres à mobilização da sociedade contra a ditadura, pela redemocratização. Grande parcela das militantes feministas de esquerda, que já atuavam no movimento social, se dedicou a construir um movimento de mulheres enraizado nas lutas populares.

Nesse período existia uma forte organização das mulheres dos setores populares, nos movimentos contra a carestia, nos grupos vinculados às comunidades eclesiais de base-CEBs, nas organizações populares, nos movimentos das periferias das grandes cidades.

Mas a unidade na luta contra a ditadura não significou ausência de conflitos, tanto no movimento de mulheres e nas organizações populares quanto nas novas forças partidárias que surgiam.

Muitos movimentos sociais eram bastante influenciados por setores religiosos que se opunham aos temas trazidos pelo feminismo. Esses temas eram a igualdade entre mulheres e homens, o questionamento dos papéis tradicionais na família, a liberdade sexual e o uso de métodos anticoncepcionais.

No campo da esquerda e do movimento de trabalhadoras e trabalhadores, outros temas feministas provocavam disputas e divergências. Discutia-se, por exemplo, se as mulheres deveriam ter um movimento próprio.

“O pessoal também é político”

O feminismo traz para o debate temas como sexualidade, aborto, saúde da mulher, conhecimento do corpo e violência sexista. E esses temas passam a ser cobrados como temas políticos. A militância de esquerda é desafiada a mostrar coerência entre suas atitudes pessoais e as propostas de mudança para o mundo público.

Havia empobrecimento no país e as mães precisavam sair para o trabalho assalariado. Passaram a exigir creches, lavanderias coletivas, restaurantes populares, queriam soluções públicas para o que antes era resolvido com o chamado “trabalho doméstico”.

Dentro do próprio feminismo, havia um forte debate sobre qual deveria ser a prioridade da luta das mulheres naquele momento da história do país. Para umas, a prioridade seria a luta geral, pelos interesses da sociedade, a luta contra a ditadura, a luta de todas as trabalhadoras e trabalhadores. Outras davam prioridade para a chamada luta específica, contra a violência doméstica e contra o controle sobre o corpo, a sexualidade e a reprodução.

17

Nesse processo, muitas militantes feministas de esquerda apoiavam a criação de um Partido dos Trabalhadores e insistiam em combinar a luta política geral com a luta específi ca das mulheres.

Elas consideravam fundamental participar da disputa para mudar os destinos políticos do país e exigir que a classe trabalhadora fosse protagonista da reorganização da sociedade. E, igualmente, consideravam que isso não poderia ser feito deixando de lado a opressão nas relações entre mulheres e homens.

Assim, as militantes feministas petistas passaram a reivindicar que o PT fosse um partido socialista e feminista. Permanece ainda hoje o desafi o de juntar a construção de um movimento feminista forte, massivo e enraizado nas lutas sociais, com a construção de um partido comprometido com uma proposta libertária também para as mulheres.

Auto-organização e luta das mulheres

Por que a ideia de organizar um movimento de mulheres em torno de suas reivindicações? Por que criar secretarias de mulheres dentro dos partidos, dos sindicatos, dos demais movimentos sociais?

A resposta é: pessoas oprimidas devem se organizar como sujeitos de sua luta. A formação das mulheres num movimento próprio leva-as a compreender que a opressão e a desigualdade que vivenciam é coletiva, isto é, envolve todas as mulheres, por serem mulheres. Vivemos numa sociedade que se organiza sobre relações de opressão: opressão da classe de proprietários contra a classe trabalhadora, opressão de cor-etnia (de brancos sobre não brancos) e opressão de gênero (de homens sobre mulheres).

1. Um movimento próprio das mulheres articula e unifi ca uma plataforma de mudanças.

2. Um movimento próprio impede que seja deixada de lado a luta contra a desigualdade entre mulheres. 3. Acima de tudo, um movimento próprio ajuda a impedir que os interesses das mulheres fi quem subordinados a prioridades masculinas, como tantas vezes acontece mesmo no meio da esquerda e da militância de esquerda.4. A organização própria das mulheres é um estímulo para que elas adquiram habilidades de participação e, ao mesmo tempo, é uma garantia de que farão elas próprias a direção de sua luta. 5. O movimento próprio ajuda as mulheres a romperem com as práticas de opressão, dando a elas oportunidade de aprender a falar em público e de dirigir atividades políticas, por exemplo. Ali também aprendem a não aceitarem ser empurradas para as atividades de bastidor.

Mais razões para a organização das mulheres

18

Os primeiros movimentos das petistas feministas

Desde sua fundação, em 1979, o PT defendeu a importância dos movimentos sociais, como parte do processo de organização da sociedade. As militantes petistas reafirmavam a necessidade de uma transformação global da sociedade, vinculada à luta feminista e, dessa forma, enfrentavam um duplo desafio: como militantes partidárias e socialistas no movimento de mulheres e como militantes feministas dentro do partido.

No movimento feminista, as petistas:* Defendiam e defendem a militância

feminista nos partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais e demais instâncias de organização popular.

* Propunham e continuam propondo um

movimento de mulheres massivo e enraizado com as lutas populares.

Além disso, continuam atuando para que o conteúdo, a ideologia e a prática da organização das mulheres em movimento tenham caráter feminista. E também para que o movimento de mulheres expresse sua radicalidade na construção de uma luta feminista, anti-racista e contra as desigualdades de classe, articulando o combate a todas as formas de discriminação e desigualdade social.

Outro aspecto importante é pautar a atuação das petistas no movimento de mulheres pelo respeito à autonomia do movimento e às decisões legitimamente construídas nos fóruns do movimento.

19

O movimento de mulheres e as eleições de 1982

Durante a década de 1980 foram se defi nindo os projetos políticos para o país que estava saindo da ditadura. Pelo seu papel na oposição à ditadura, o PMDB e o PT surgiram nas eleições de 1982 como os grandes porta-vozes dos projetos alternativos. E foi também em torno desses dois partidos que se articularam as alternativas no movimento de mulheres, principalmente sobre duas questões: a relação do movimento com o Estado e a construção de políticas públicas.

Década de 1980: defi nição de projetos políticos para o brasil

A partir de 1983, São Paulo, Minas Gerais e outros estados adotaram o modelo de Conselho da Condição Feminina ou dos Direitos das Mulheres. Em 1986, foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Esses conselhos não eram órgãos executivos e tinham pouco poder de infl uenciar nas políticas.

As petistas defendiam a criação de secretarias, com orçamento próprio e capacidade administrativa.

Como executar políticas para as mulheres

em governos petistas: secretarias em vez de

conselhos A proposta das mulheres do PT começou a ser defi nida a partir

da experiência das primeiras prefeituras petistas e da elaboração do

programa de governo para a candidatura de Lula à presidência, em

1989.

Para ter capacidade e autoridade de coordenação, o organismo

deveria ser de primeiro escalão – secretaria ou ministério.

Esse organismo de governo seria responsável por propor,

elaborar, acompanhar e implementar políticas voltadas a combater

a desigualdade entre mulheres e homens, como diretriz geral do

executivo.

20

A organização das mulheres vai se fortalecendo no interior do partido especialmente por sua intensa participação nos debates do partido para a Constituição de 1988, nas eleições presidenciais de 1989, nas propostas de programas e políticas para as mulheres nas prefeituras e governos petistas, na defesa de ações afirmativas para as mulheres.

O 4º Encontro Nacional do PT, em 1986, aprova a “realização de um encontro de mulheres, em agosto de 1986, para discutir e aprovar teses sobre a questão, como subsídios para a Constituinte.”

A participação das petistas no período da Constituinte

O período de debates para a nova Constituição de 1988 foi um momento de grande atividade partidária e o projeto do PT apontou várias propostas importantes voltadas à superação da desigualdade entre os sexos. Como princípios gerais, destacavam-se a defesa da completa igualdade entre mulheres e homens, a condenação de todas as formas de discriminação, a defesa do direito à livre orientação sexual.

O projeto petista propunha a garantia de seguridade social para as donas de casa, trabalhadoras rurais e empregadas domésticas e a concessão de título de posse de terra em iguais condições às mulheres. Também apresentou diversos aspectos relacionados a direitos civis e uma perspectiva libertária das relações entre mulheres e homens. Defendia ali: a equiparação de direitos e deveres entre homens e mulheres no casamento, total liberdade de divórcio, o direito ao acesso aos meios de planejamento familiar como livre decisão do casal e que o aborto não fosse tratado como crime. Também propunha a ampliação da licença-maternidade, a criação da licença-paternidade, a afirmação de direitos das empregadas domésticas.

Várias das propostas do projeto petista passaram a fazer parte da Constituição brasileira, mas os pontos mais radicais ficaram de fora. Esse foi o caso da proposta de modificação da legislação sobre o aborto.

21

Os anos de 1990 foram um período de derrota da esquerda e de fortalecimento do capitalismo. As reivindicações progressistas sofreram retrocessos. Desde o governo Collor e depois também no governo Fernando Henrique, muitos serviços públicos foram privatizados, serviços sociais viraram mercadoria comprada e vendida.

Até o fi nal da década de 1990, grande parte do feminismo segue agendas impulsionadas pelas Nações Unidas. Essas agendas diluíam a desigualdade entre mulheres e homens sob o manto geral dos direitos humanos, priorizavam pautas governamentais conservadoras, muito limitadas.

No início da década de 2000, os movimentos ganham força na crítica à globalização neoliberal e nos Fóruns Sociais Mundiais.

No Brasil, na resistência ao neoliberalismo, o movimento feminista petista e de esquerda fortalece uma visão de crítica global ao capitalismo e de atuação a partir da mobilização e fortalecimento da organização das mulheres.

A partir dos anos 2000, crescem as lutas no continente, em particular na região sul-americana e, nesse contexto, se abriram possibilidades de radicalização de reivindicações. A articulação internacional permite que seja recolocado o debate de projeto geral de

transformação da sociedade e retomado o debate sobre o socialismo no século 21.

Há uma forte presença das mulheres nas principais lutas de resistência no continente e as reivindicações feministas demandam pela igualdade e pela organização das mulheres.

No entanto, ao lado de um novo impulso de luta dos movimentos sociais, assistimos também a um avanço impressionante do conservadorismo, do fundamentalismo religioso, da reafi rmação de papéis tradicionais para mulheres e homens. Esse retrocesso pode ser visto nas mais diversas áreas da sociedade e é repetido à exaustão pelos meios de comunicação. E pode ser visto também no interior do PT. Atitudes e posições conservadoras, que seriam consideradas inaceitáveis no ambiente político de uma esquerda progressista do fi nal dos anos 1980, atualmente são consideradas “naturais”, quase banais.

Resistência e pressão de uma agenda conservadora: os anos 1990Retomada do movimento feminista no enfrentamento da globalização

22

PARTE 3

Mulheres do PT

Na construção do partido, militantes feministas petistas, em vários estados e cidades do Brasil, trouxeram para o debate partidário a vinculação entre socialismo e feminismo. Como sabemos, a esquerda não formulou a crítica da sociedade capitalista do ponto de vista das desigualdades de gênero. Em sua prática, muitas vezes reproduziu mecanismos da desigualdade, como a divisão sexual do trabalho tanto no espaço público quanto no privado. Era preciso enfrentar essas questões também na história do PT.

Nos primeiros documentos políticos do PT já está presente o reconhecimento da desigualdade entre mulheres e homens e a legitimidade da organização do movimento de mulheres.

O partido também não tinha uma elaboração mais sistemática sobre sua visão de socialismo. O lema das feministas petistas, de que “não há socialismo sem feminismo”, aparecia em broches, camisetas, nos documentos das mulheres petistas, em cartazes e nos debates internos, mas só após 1986 começa a se refl etir nas resoluções do PT.

Não há socialismo sem feminismo

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O projeto socialista deve incorporar as perspectivas colocadas por diferentes movimentos sociais que combatem opressões específicas – como das mulheres, dos negros, das nações indígenas etc. – indispensáveis para golpear importantes pilares da dominação exercida pela burguesia. (Resoluções do 4º Encontro Nacional do PT, 1986)

Em 1988, as mulheres do PT buscavam definir mais claramente os caminhos para a mudança:

No processo de construção de uma nova sociedade é preciso garantir as formas de romper com a opressão milenar das mulheres. Isso exigirá uma política determinada de priorização de investimentos sociais que assegurem a coletivização do trabalho doméstico, a responsabilidade social com a educação das crianças, o direito e as condições das mulheres decidirem se querem ou não ter filhos, com serviços de saúde que lhes permitam

o controle sobre seu próprio corpo e vários outros elementos econômicos e sociais sem os quais a igualdade das mulheres não pode ser de fato conquistada.

Mas, construir uma nova sociedade não é apenas a transformação econômica. É também a transformação do próprio modo de pensar, das relações humanas, do cotidiano. Combater a submissão, a educação diferenciada, a repressão, a violência sexual, valores e costumes da sociedade burguesa faz parte das lutas pelas transformações pessoais, de homens e mulheres, de sua participação nos processos sociais, de sua vida cotidiana, de seus direitos e necessidades. (Texto do 2º Encontro Nacional de Militantes Petistas do Movimento de Mulheres do PT. Vitória, 1988)

Essa concepção foi aprovada pelo partido no Primeiro Congresso Nacional do PT, em 1991.

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Movimento autônomo de mulheres

Já nos primeiros momentos das comissões de mulheres no partido, argumentava-se que “qualquer movimento se organiza em torno de lutas” (Comissão de Mulheres do PT, 1981, p. 3).

Compreender a importância da auto-organização das mulheres, como movimento e também dentro do partido, sustenta a relação de respeito às instâncias do movimento. Também reconhece que é preciso desenvolver diversas iniciativas para enfrentar o poder patriarcal1. Assim, as militantes feministas petistas contribuíram de maneira valiosa na construção do movimento de mulheres no Brasil.

Reafirmar compromissos com a construção do socialismo libertário

No 3º Congresso Nacional do PT, realizado em 2007, o PT reafirmou seu caráter socialista. Reconheceu a centralidade das contradições de classe, gênero e raça no processo de dominação capitalista. Reconheceu também a manifestação dessas contradições na classe trabalhadora.

Sabe-se que há uma tensão constante na relação entre a esquerda e a luta das mulheres. E essa tensão deixa evidente a dificuldade de reconhecer como as desigualdades de gênero se expressam nas relações sociais em todas as classes.

Organizar as militantes no partido

Nos primeiros anos do partido, formaram-se comissões, coletivos ou núcleos de mulheres em vários estados, em especial nas capitais. Por um curto período, a organização das mulheres expressou-se em uma sub-secretaria vinculada à Secretaria de Movimentos Populares. Mas, para fortalecer o compromisso partidário com as reivindicações das mulheres e aumentar a participação das mulheres no partido, logo o partido reconheceu as Secretarias de Mulheres do PT como o espaço organizativo da militância e também assegurou sua participação das Comissões Executivas.

1 O poder patriarcal tem o homem como figura central. Ele se manifesta através do domínio dos homens sobre as mulheres em todas as esferas da sociedade.

25

Objetivos das Secretarias

de Mulheres do PT

* Desenvolver e fortalecer a organização das

mulheres do partido;

* Incluir uma agenda feminista nas ações e no

programa partidários;

* Potencializar a participação das petistas no

movimento de mulheres;

* Incentivar os debates sobre a elaboração de uma

plataforma feminista geral e sobre a construção de

uma política do PT para as mulheres;

* Aumentar a participação das mulheres no partido

e garantir o cumprimento das resoluções do partido

no que diz respeito à igualdade entre mulheres e

homens.

Encontros de Mulheres do PT

1982 – 1º Encontro Nacional do PT sobre o Movimento de Mulheres.

São Paulo, SP

1986 – Encontro de Mulheres – Discussão das propostas para a

Constituinte. São Paulo, SP

1988 – 2º Encontro Nacional de Militantes Petistas do Movimento de

Mulheres. Vitória, ES

1991 – 3º Encontro Nacional de Militantes Petistas do Movimento de

Mulheres. Ibirité, MG

1993 – 4º Encontro Nacional de Mulheres do PT. Rio de Janeiro, RJ

1995 – 5º Encontro Nacional de Mulheres do PT. Belo Horizonte, MG

1997 – 6º Encontro Nacional de Mulheres do PT. Belo Horizonte, MG

1999 – 7º Encontro Nacional de Mulheres do PT. Xerém, RJ

2001 – 8º Encontro Nacional de Mulheres do PT. Guarulhos, SP

2005 – 9º Encontro Nacional de Mulheres do PT. São Paulo, SP

2008 – 10º Encontro Nacional de Mulheres do PT. Brasília, DF

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Participação das mulheres no PTPor mais que as mulheres estivessem na

base do partido, na hora de eleger delegados e dirigentes sua presença era muito menor. Por isso, as militantes petistas começaram a defender a proposta de uma medida de ação afirmativa, que garantisse aumentar a presença das mulheres nas direções: uma cota mínima de 30%. Em 1991, em seu primeiro Congresso Nacional, o PT inovou no âmbito partidário no país: aprovou a cota mínima de 30% de mulheres nos postos dirigentes.

Antes disso, a presença das mulheres nas direções do partido era quase apenas simbólica. No Diretório Nacional, por exemplo, as mulheres representavam menos de 7%, desde a fundação do partido. E a situação era a mesma nas direções estaduais.

A aplicação da cota fortaleceu a participação nas direções. Isso, no entanto, não eliminou nem neutralizou mecanismos internos que dificultam a participação das mulheres.

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A condição dos homens, em sua vida pessoal e familiar, os coloca em posições fundamentalmente desiguais para o exercício da atividade política. Eles têm menos responsabilidade pelos fi lhos, pouco compartilham o trabalho doméstico. As cotas por si não alteram essas condições sociais, nem são sufi cientes para mudar a postura dos homens.

A aplicação da cota mínima de mulheres é seguida no PT, por se tratar de regra estatutária, mas não impede que os postos mais importantes na direção continuem sendo ocupados quase que somente por homens. Isso acontece porque continuam operando os mecanismos de exclusão das mulheres e os preconceitos. Também por isso, em 2007, no seu 3º Congresso Nacional, o partido defi niu que a participação mínima de 30% de mulheres deve ser respeitada também nas delegações para os encontros do partido em todos os níveis.

No campo da política brasileira – entre os partidos, sindicatos e centrais, movimentos sociais, movimento estudantil, movimento negro etc. – a primeira experiência de cotas de mulheres nas direções foi aprovada no PT, em 1991. A aprovação da proposta pioneira no PT fortaleceu idêntica reivindicação das mulheres da CUT. Em 1993, a CUT aprovou um percentual mínimo de 30%, de qualquer dos gêneros, nas direções da Central. Atualmente, partidos, organizações sindicais e outras organizações reconhecem a necessidade dessa iniciativa.

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O sistema eleitoral brasileiro determina que a lista de candidatos para as eleições proporcionais não pode ter mais do que 70% de pessoas de um mesmo sexo. Na prática, pode-se até ter um mínimo de 30% de candidatas mulheres, mas a porcentagem de mulheres entre os eleitos continua muito menor.

De fato, a aplicação das cotas só dará resultados com o fim da eleição individualizada (em vereadores, deputados estaduais, deputados federais) e a instituição da votação em listas partidárias. Nessas listas os nomes das mulheres deverão estar intercalados aos dos homens, pelo menos na proporção mínima exigida. É o que defendem as resoluções do PT sobre a reforma política, partidária e eleitoral, aprovadas pelo Diretório e Executiva Nacional, e reafirmadas em 2007 no 3º Congresso do PT e na Diretório Nacional em 2011.

“O Diretório Nacional do PT entende que devem, o partido e suas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, concentrar-se especialmente na defesa: do financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais; do voto em lista partidária preordenada no sistema proporcional, garantindo a representação paritária das mulheres e objetivando o recorte étnico-racial; da fidelidade partidária; das medidas que promovam e facilitem a participação popular no processo político, como as leis de iniciativa popular, plebiscitos, referendos, a institucionalização de conselhos, conferências, orçamentos participativos”. (Resolução do Diretório Nacional do PT sobre Reforma política, 30/04/2011)

Com todos os problemas, pode-se dizer que em qualquer sistema eleitoral, as políticas de ação afirmativa são imprescindíveis para a construção da igualdade.

Cotas no sistema eleitoral

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Aplicação da cota mínima de mulheres no Diretório Nacional do PTDiretório Nacional do Partido dos TrabalhadoresProporção entre mulheres e homens

Ano de eleição da

direção

198119841986198719901993199519971999200120062010

Total de membros

926681818284838383818282

HomensNúmero

846276777759585858565957

Homens%

91,3%93,9%93,8%95,1%93,9%

70,24%69,88%69,88%69,88%69,14%71,95%69,51%

MulheresNúmero

84545

25252525252325

Mulheres %

8,7%6,1%6,2%4,9%6,1%

29,76%30,12%30,12%30,12%30,86%28,05%30,46%

Fonte: Mulher e política. Gênero e feminismo no Partido dos Trabalhadores. FPA, p. 27.

PARTIDO DOS TRABALHADORES. Boletim da Subsecretaria Nacional de Mulheres do PT, nov. 1991.

Resoluções do 8º Encontro Nacional, 1993, e Resoluções do 10º Encontro Nacional, s/d.; Secretaria Nacional de Organização.

Fundação Perseu Abramo. Resoluções de Encontros e Congressos & Programas de Governo: 1979-2002.

Obs.: Os números não incluem os líderes da bancada no Congresso Nacional, de acordo com a resolução sobre a participação das mulheres.

3030

PARTE 4

O PT, o Estado e as políticas públicas para a igualdade de gênero

O PT dirige em 2011 várias prefeituras, cinco governos estaduais e está em sua terceira gestão no governo federal. Ainda hoje as desigualdades entre mulheres e homens continuam se manifestando nas mais diversas esferas da sociedade. Sendo assim, os governos - municipais, estaduais ou nacional – não têm como fi car numa posição neutra em relação a isso. Ao contrário, o Estado, entendido como poder público, pode combater em sua ação e em sua estruturação aspectos centrais das desigualdades nas relações sociais e nas relações de poder na sociedade.

Boa parte dos direitos sociais das mulheres dependem de políticas públicas que os promovam. Mas, além disso, o Estado deve propor e realizar educação para a igualdade.

No modelo da sociedade capitalista, o Estado trabalha para reforçar as desigualdades entre os sexos, em favor dos homens. E atua assim porque é de seu interesse manter uma sociedade excludente. Um governo que busca a construção de uma sociedade democrática e justa deverá ter políticas claras para diminuir e eliminar as desigualdades entre mulheres e homens, as desigualdades raciais e todas as formas de discriminação.

* viver uma vida sem violência sexista, * poder planejar quantos � lhos quer ter, * poder viver de forma livre e responsável a sexualidade, * fazer com que o trabalho doméstico seja uma tarefa de todos, * ter condições de trabalhar fora e ter uma pro� ssão, * não receber salários mais baixos que os dos homens, * ter tempo disponível para descansar, para o lazer e para seu desenvolvimento cultural e político, entre várias outras coisas.

Direitos sociais reivindicados pelas mulheres

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Diretrizes para um Estado democráticoNum Estado democrático, as políticas de

construção da igualdade deveriam buscar:• garantir a autonomia pessoal e combater as

desigualdades no trabalho.• contribuir com a divisão do trabalho na

família.• garantir condições de autonomia sobre o

corpo e a maternidade.O governo Lula, ao criar em 2002 a Secretaria

de Políticas para as Mulheres, como ministério, no primeiro escalão de governo, estabeleceu um parâmetro para os governos estaduais e municipais dirigidos pelo PT.

A construção do programa e do projeto político do partido reflete uma perspectiva de

mudança, uma visão da sociedade brasileira, que o PT foi formando ao longo dos seus 30 anos de existência.

Em quase todos os encontros nacionais, o PT reafirmou a importância da igualdade entre mulheres e homens. E também reafirmou que a luta por essa igualdade é parte integrante de nossa visão de transformação social e de nossa perspectiva socialista.

Por sua vez, os Encontros Nacionais de Mulheres do PT, organizados pelo setorial de mulheres, discutiram resoluções gerais que serviram de base para as resoluções do partido. Essas resoluções compõem o programa e as plataformas eleitorais do partido.

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Uma plataforma feminista para o PT: articulando gênero, raça e classe

As relações de opressão, dominação e exploração na sociedade capitalista atual se entrelaçam em três eixos estruturantes: as relações de classes, as relações sociais de sexo e as relações de raça/etnia.

Nas mais diversas esferas da sociedade, as relações sociais de sexo estabelecem separação e hierarquia entre o que é considerado masculino e o que é considerado feminino, fortalecendo as desigualdades de gênero. Todas as pessoas estão imersas em relações sociais de sexo, relações de classe e relações étnico-raciais. E essas relações vão compondo a vida cotidiana. As relações de poder estão na família, no trabalho, no espaço público, na cultura, nas religiões, nas comunicações e na publicidade, nas instituições, especialmente no Estado.

O trabalho doméstico e o cuidado com os fi lhos e a família são considerados obrigação das mulheres e isso pesa sobre sua participação no mercado de trabalho, na política e em todos os espaços da vida pública. Como consequência desse encargo, as mulheres recebam salários mais baixos, têm menos promoção no trabalho, assumem trabalhos e empregos que são socialmente desvalorizados.

Sabemos que as relações sociais (de classe, gênero e raça/etnia) estão presentes sempre juntas. Por isso, a opressão e a exploração das mulheres variam, dependendo também de sua raça-etnia e de sua classe social. Além disso, também há diferenças dependendo de como atuam as demais formas de discriminação por idade, orientação sexual, condições físicas. Compreender como essas questões se articulam dá condições para traçar estratégias na direção de sua superação.

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Compreender e enfrentar as bases da desigualdade

A articulação entre racismo, sexismo e exploração de classe precisa ser entendida em cada momento histórico. Mas é preciso entender como tudo isso permanece no presente, se quisermos buscar a transformação social e a auto-emancipação de todos os grupos oprimidos.

São esses elementos que permitem, por exemplo, compreender por que as mulheres negras ocupam trabalhos e funções com maior nível de exploração e salários mais baixos.

Também fazem parte das lutas feministas atuais, o combate contra a discriminação vivida pelas lésbicas em função de sua orientação sexual; pelas jovens e idosas, em função da idade; pelas mulheres com deficiência.

Reconhecer os privilégios patriarcais que os homens usufruem não significa negar que são aliados em muitas lutas. Mas a opressão das mulheres precisa ser enfrentada nas lutas e práticas sociais em todos os espaços.

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Combate à violência sexistaDurante muito tempo a violência sofrida

pelas mulheres foi considerada um problema do mundo privado, da família, das relações afetivas. Uma questão que não devia ser tornada pública. Ocultar a violência contra as mulheres é útil para evitar a exposição e punição dos agressores: a maior parte dos casos de violência contra as mulheres ocorre dentro de casa e é praticada pelo marido, ex-marido, companheiro, namorado, pai, irmão.

O que mantém a violência

Muitos fatores contribuem para manter a violência contra as mulheres: a impunidade dos agressores, o silêncio e o medo de denunciar, a transformação da vítima em culpada, as ideias que consideram as mulheres inferiores.

Violência como forma de controle. A violência sexista é uma forma de controle usada para manter o poder patriarcal (o poder dos homens) sobre as mulheres. São muitos os homens que usam a violência para tentar impedir que as mulheres estudem, ou saiam de casa, ou se separem deles.

Falsos argumentos. Em nossa sociedade, são muitas as desculpas para tentar encobrir relações sociais de poder, de dominação e de controle que se reafirmam e se expressam por meio da violência: bebida, desemprego, estar estressado, perder a cabeça... São todas apenas desculpas para aceitar a violência contra as mulheres e para pressioná-las a “perdoar” o agressor.

A autonomia como antídoto. Para romper as relações violentas e a cultura da violência, é preciso que as mulheres desenvolvam autonomia econômica, política e pessoal.

O poder das políticas públicas. Medidas de políticas públicas são essenciais para combater a violência, mas precisam ser acessíveis a todas as mulheres. As medidas devem combater todas as formas de expressão da violência –violência doméstica, violência sexual, banalização da violência nos meios de comunicação. Devem também combater o tráfico de mulheres e meninas para fins de exploração sexual.

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O que diz a pesquisa da Fundação Perseu

Abramo sobre a violência

Pesquisa feita em 2010, A mulher brasileira nos espaços

público e privado, mostrou que o marido é o principal

agressor, apontado como responsável por mais da metade dos

espancamentos e das ameaças com armas à integridade física

da mulher. Em segundo lugar aparece o namorado ou ex-

namorado.

A pesquisa mostra também que as mulheres rurais sofrem

mais violência que as mulheres urbanas. No meio rural, família

e trabalho estão muito próximos e isso deixa as mulheres mais

vulneráveis. Também aí as mulheres fi cam mais isoladas, com

menos possibilidade de solicitar e receber apoio.

Prevenir e curar. São fundamentais políticas que previnam a violência e tratem de suas consequências, que promovam a autonomia econômica das mulheres e a mudança de padrões culturais. São também essenciais as delegacias especializadas de atendimento à mulher e os abrigos para mulheres vítimas de violência doméstica. Além disso, o movimento de mulheres reivindica o atendimento jurídico público por meio das defensorias públicas. No caso da violência sexual, reivindica-se o coquetel anti-HIV, o acesso à pílula do dia seguinte para prevenir a gravidez e o atendimento ao aborto nos casos em que ocorrer a gravidez.

Julgar e punir. Em 2006 foi promulgada a Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha. Essa lei mudou a forma como se tratava a violência doméstica no Brasil, propondo medidas para a punição dos agressores e para a proteção das mulheres vítimas de violência. Teve um sentido muito importante ao considerar crime a violência doméstica contra as mulheres.

As difi culdades encontradas na aplicação da Lei Maria da Penha demonstram a resistência dos que se benefi ciam da submissão das mulheres humilhadas e controladas pela violência. Para aplicar efetivamente as leis e ampliar as políticas públicas nessa área, a Secretaria de Políticas para as Mulheres, do governo federal, precisou propor um Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, um conjunto de ações e compromissos a serem assumidos pelos estados e municípios, em conjunto com o governo federal.

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Saúde, sexualidade e autonomia pessoalA visão feminista de saúde das mulheres

critica a atenção concentrada na gravidez, parto e bebê. A defesa da saúde integral requer atenção à saúde em todas as fases da vida e em todas as necessidades.

Claro que é preciso garantir o atendimento pré-natal, ao parto e ao pós-parto, para conservar a saúde das mulheres e para diminuir a morbi-mortalidade materna (doença e morte na gravidez, parto e pós-parto), ainda muito grande no Brasil. Mas a saúde integral requer também o acesso à anticoncepção segura e de qualidade, desde a adolescência e durante toda a vida adulta.

O acesso a métodos anticoncepcionais é fundamental para garantir às mulheres a vivência de uma sexualidade livre e segura, reduzindo os riscos de uma gravidez indesejada, que pode ocorrer em qualquer momento da vida. Por isso, também se reivindica o direito de interromper uma gravidez indesejada.

Em nossa sociedade, a responsabilidade pela anticoncepção é quase sempre assumida de forma solitária pelas mulheres. Mesmo entre os jovens, é grande a recusa dos rapazes de assumirem a responsabilidade de evitar a gravidez. Na maioria das vezes, a anticoncepção é vista como problema apenas das mulheres – que depois serão criticadas se decidirem não levar adiante a gravidez.

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Seja no movimento de mulheres ou no movimento LGBTT, petistas lutam contra a discriminação e pela igualdade e ampliação de direitos, colocando o combate à discriminação por orientação sexual e a afirmação da cidadania homossexual como uma das marcas do modo petista de governar e de legislar.

Sexualidade livre, sem subordinação ao mercado

O mercado tenta avançar sobre a sexualidade, dando outros significados aos temas construídos pelos movimentos, conforme seus interesses. Em vez de sexualidade livre, propõe a banalização da sexualidade. O falso argumento de prostituição como escolha saudável encobre o aumento da prostituição. Na outra ponta, o mercado mantém o duplo padrão de sexualidade, glorifica e reforça a maternidade como a principal ou mesmo a única plena realização das mulheres, definidora de seu lugar no mundo.

Para a construção da igualdade na diversidade, é fundamental manter a luta por autonomia na sexualidade. Isso exige uma política que encoraje uma sexualidade transgressora das normas que pretendem dar-lhe um modelo único.

A separação de fato entre reprodução e sexualidade só é possível quando as mulheres têm plena capacidade para evitar uma gravidez indesejada. E isso só se dará completamente quando houver descriminalização e legalização do aborto. O fato é que a criminalização do aborto não o impede e apenas faz com que as mulheres pobres, em particular as negras e jovens, recorram a essa prática em condições inseguras, com riscos para a sua vida e saúde.

Ou seja, a autonomia e cidadania das mulheres só poderá ser efetiva se elas tiverem todas as condições para controlar a reprodução, de forma que a maternidade não seja um castigo ou uma situação não planejada.

Sexualidade e direito à livre orientação sexual

Debater a sexualidade é questionar a visão dominante, que classifica a sexualidade masculina como agressiva e a das mulheres como passiva. Essa visão também centra a sexualidade no desejo masculino e nega o desejo das mulheres, ao mesmo tempo em que defende uma dupla moral. De um lado, incentiva a promiscuidade masculina e a prostituição. De outro, classifica as mulheres a partir dos estereótipos de “santas” e “putas”, dependendo da forma como exercem sua sexualidade.

Uma plataforma feminista questiona o modelo dominante, centrado na heterossexualidade obrigatória, na família e na reprodução. O feminismo reivindica o direito das mulheres à autonomia e ao poder de decisão na sexualidade, poder que inclui o direito de livre orientação sexual.

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Educação e cultura para a igualdade

Desde o nascimento é comum separarmos o que é “de menino” e o que é “de menina”, de tal maneira que essa separação parece natural e verdadeira.

É comum fazermos coisas sem percebermos seu real significado, simplesmente agindo de acordo com valores, noções e práticas que nos foram ensinados e sem nos darmos conta da injustiça e da opressão que essas práticas constroem ou reafirmam. Mas sempre podemos começar a analisar e contestar esse aprendizado.

Para construir uma educação e uma cultura inclusiva, não sexista, não racista e que não reproduza a discriminação em relação à homossexualidade (gays e lésbicas) é preciso atuar na educação formal (escolas), nos meios de comunicação, nas atividades culturais (teatro, cinema, literatura, música etc.). O tempo todo é preciso agir para construir valores libertários em nosso cotidiano e em nossas relações.

3939

O papel da educação

A escola é uma das instituições mais importantes na construção da representação, produção e institucionalização das relações desiguais entre mulheres e homens. Por isso é fundamental construir políticas e práticas pedagógicas para uma educação não-discriminatória, não-sexista e anti-racista.

Desconstruir estereótipos. Nas práticas educativas, é necessária uma perspectiva de novas relações, mais livres, críticas e criativas. É preciso desconstruir estereótipos que enquadram os “papéis femininos e masculinos”.

Criar momentos de refl exão crítica. Refl etir para superar padrões de feminilidade e masculinidade opressivos.

Formar educadoras e educadores libertários. Desenvolver uma cultura crítica frente a todas as formas de discriminação nas práticas escolares, currículos e materiais didáticos.

Ter a igualdade como ideal. Para transformar a educação e a cultura é preciso projetar a igualdade como ideal, alimentar uma cultura livre de preconceitos e discriminações relativas ao gênero, à raça/etnia e ao exercício da sexualidade.

Dar maior acesso às atividades de cultura e de lazer. Para uma grande parte das mulheres, a vida se resume a atividades familiares. Mas, o acesso à produção cultural da sociedade é um direito de todos e todas, e é importante para o pleno desenvolvimento de mulheres.

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O trabalho fora de casa, a possibilidade de ter um emprego, de ter renda própria está na base da independência e da autonomia das mulheres. A possibilidade de trabalhar fora de casa é considerada pelas mulheres brasileiras sua principal conquista nas últimas décadas, segundo pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2010.

No entanto, a saída das mulheres para o espaço público, para o trabalho fora de casa, não signifi cou por si só o fi m de uma sociedade machista e patriarcal. As tarefas das mulheres no âmbito produtivo continuam sendo desvalorizadas e elas continuam ganhando menos que os homens para as mesmas funções, com menor acesso a cargos de maior status e poder, além de se concentrarem em ocupações tradicionais.

Elas estão mais expostas ao trabalho informal e ao desemprego. E estão concentradas em empregos com baixa proteção social como, por exemplo, as trabalhadoras rurais ou as empregadas domésticas.

De maneira geral, as mulheres brasileiras continuam a ser responsabilizadas pelo trabalho doméstico e de cuidados, mesmo tendo trabalho fora de casa. Por semana, a mulheres dedicam em média 16 horas a mais que os homens aos afazeres domésticos, mesmo quando ambos trabalham fora de casa (PNAD 2009).

Para estabelecer igualdade no trabalho, é preciso ampliar políticas públicas que combatam as desigualdades salariais e reduzam o impacto do trabalho doméstico sobre as mulheres (como a criação de creches e de lavanderias e restaurantes públicos).

Trabalho, trabalho doméstico e autonomia econômica

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Mulheres trabalhadoras no campo e na cidade

Creches, educação infantil e cuidados

No Brasil, entre cada cinco mulheres que trabalham fora, uma é empregada doméstica. No campo, o trabalho das mulheres se concentra na criação e cuidado de pequenos animais e no plantio de pequenas hortas e cuidados nos quintais. Essas atividades produtivas são vistas como trabalho doméstico. E mesmo sua participação nos roçados é caracterizada como uma “ajuda” aos homens. Nas atividades econômicas em que estão envolvidas, recebem renda menor do que a dos homens, têm mais dificuldade de vender os produtos.

Em nossa sociedade, as mulheres rurais têm menor acesso aos bens naturais e recursos produtivos do que os homens. Na reforma agrária, apenas recentemente passaram a ser consideradas como beneficiárias diretas da titulação conjunta do lote e das possibilidades de receber crédito e assistência técnica.

A propriedade da terra é chave para ampliar o poder de negociação das mulheres rurais na família e na sociedade e se constituir como uma posição de empoderamento das mulheres.

Para transformar a divisão sexual do trabalho, diminuir a pobreza e promover a autonomia econômica das mulheres rurais é preciso estabelecer políticas públicas apropriadas. Nesse caso, são necessárias políticas para fortalecer a organização produtiva, efetivar os direitos das mulheres à terra e à cidadania, apoiar a produção e a comercialização. Tais políticas também precisam valorizar e respeitar as experiências históricas, a cultura e as aspirações de mulheres indígenas e quilombolas.

A educação de crianças e jovens absorve muito tempo, atenção e trabalho. É uma responsabilidade que deve ser de toda a sociedade, mas que tem sido deixada por conta das mulheres.

Em 2010, somente duas de cada dez crianças de 0 e 3 anos de idade estavam frequentando creches ou centros de educação infantil. Mas somente uma dessas crianças estava em creche em período integral.

Dos 4 a 6 anos, a frequência à pré-escola é maior, mas ainda assim, esse atendimento é quase todo em horário parcial. Se a mãe trabalha fora, quem cuida das crianças no restante do dia?

Da mesma forma, como não há escolas em período integral para o primeiro e segundo grau, fica por conta das mulheres nas famílias o cuidado e o acompanhamento das crianças e dos jovens fora do período de aulas.

Também cai sobre as mulheres na família, a responsabilidade pelas pessoas dependentes ou que precisam de atenção especial, como é o caso de pessoas doentes, idosos, pessoas com deficiência.

Não é possível falar em igualdade, enquanto a sociedade não assumir a responsabilidade com o cotidiano e a reprodução do viver. Por isso, além da educação para a igualdade, as políticas precisam garantir:

- rede de creches e pré-escolas públicas e em período integral, com atendimento de qualidade para a educação e socialização das crianças pequenas.

- ampliação da jornada escolar em todo o ciclo básico e secundário.

- aumento da responsabilidade masculina no cotidiano das tarefas domésticas, ampliação da licença paternidade.

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Democracia e participação política das mulheres

A democracia do poder em nossa sociedade pode ser medida pela extensão da participação política das mulheres. Ao longo da história, os espaços de poder e direção têm se mostrado como um dos domínios mais resistentes do poder patriarcal. Há barreiras “invisíveis” ao acesso das mulheres a cargos de poder. Essa situação pode ser percebida no parlamento, nos cargos executivos, no movimento sindical, nos movimentos estudantis, nas organizações do orçamento participativo etc.

Mesmo no PT, partido com uma maior organização de mulheres e de pautas identificadas com o feminismo, a disputa ainda é bastante dura e prevalece o domínio masculino dos espaços de direção partidária. Tanto que apenas com a instituição das cotas partidárias em 1991 foi atingido o patamar mínimo de 30% de mulheres na direção.

O Brasil tem um dos menores índices de mulheres nos parlamentos. Em 2010, elegemos pela primeira vez uma mulher para presidente do Brasil, mas, na Câmara Federal foram eleitas apenas 43 mulheres de um total de 513 deputados federais. São apenas 8% dos representantes, num país em que as mulheres são mais da metade do eleitorado.

Isso nos mostra o tamanho dos nossos desafios. Um tema a ser enfrentado é a necessidade de uma reforma política capaz de garantir maior participação de mulheres.

O atual sistema de cotas de candidatas aos parlamentos não funciona, pois a maioria dos partidos coloca nomes de mulheres apenas para completar a lista, concentrando as condições materiais e estratégicas em candidatos homens.

Uma proposta melhor é a dos partidos apresentarem listas fechadas para a eleição de deputados e vereadores, alternando nomes de mulheres e homens. Mas só vai funcionar com financiamento público e se a exposição na mídia for igualitária.

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Uma cidade, um estado, um país com igualdade

As mudanças e reivindicações propostas pelo movimento de mulheres não são um capítulo à parte de uma plataforma política de transformação social. São parte integrante de políticas com perspectiva democrática para todos e todas, movidas por uma proposta de superar as desigualdades e injustiças em todos os âmbitos da vida.

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Referências bibliográfi casDanièle Kergoat. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. No Dicionário crítico do feminismo, organizado por Helena Hirata e outras, São Paulo, Editora Unesp, 2009.

Danièle Kergoat. Relações sociais de sexo e divisão sexual do trabalho. No livro Gênero e saúde, organizado por Marta J. M. Lopes, Dagmar E. Meyer e Vera R. Waldow, Porto Alegre, Artes Médicas, 1996.

O PT e a luta pela libertação das mulheres. Resolução do 2º Encontro Nacional de Militantes Petistas do Movimento de Mulheres, realizado em Vitória, ES. 1988.

Eli Zaretsky. O capitalismo, a família e a vida privada, Porto, Iniciativas Editoriais, 1976.

Partido dos Trabalhadores. Resoluções de Encontros e Congressos e Programas de Governo: 1979-2002. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Rosa Luxemburg Stiftung/Diretório Nacional do PT, 2005. Disponível em versão eletrônica no site da Fundação Perseu Abramo.

Partido dos Trabalhadores. Resoluções 13 de Encontro Nacional (2006) / 3 e 4 Congressos (2007-2010) / Programas de Governo 2002 e 2006. Disponível em versão eletrônica no site do PT e da Fundação Perseu Abramo.

Partido dos Trabalhadores. Código de Ética. Brasília: Partido dos Trabalhadores / Fundação Perseu Abramo, 2009. Disponível em versão eletrônica no site do PT.

Mulher e política: gênero e feminismo no Partido dos Trabalhadores. Ângela Borba, Nalu Faria, Tatau Godinho (orgs.). São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998. Disponível em versão eletrônica no site da Fundação Perseu Abramo.

A mulher brasileira nos espaços público e privado. Gustavo Venturi, Marisol Recamán e Suely Oliveira (orgs.). São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2010

Perseu. História, memória e política. Revista do Centro Sérgio Buarque de Holanda da Fundação Perseu Abramo. Identidade e diferença. A trajetória das mulheres no Partido dos Trabalhadores. João Marcelo Pereira dos Santos, número 4, 2009.

Partido dos Trabalhadores. Secretaria Nacional de Mulheres do PT. Texto base do 2 Encontro Nacional de Militantes Petistas do Movimento de Mulheres. Disponível no arquivo histórico do Partido dos Trabalhadores. Fundação Perseu Abramo, Centro Sérgio Buarque de Holanda.

Partido dos Trabalhadores. Secretaria Nacional de Mulheres do PT. Resoluções do 10 Encontro Nacional de Mulheres do PT. Realizado em Brasília, 2008. Diretório Nacional do PT, 2008.

Partido dos Trabalhadores. Diretório Estadual São Paulo. Mulher, poder e participação políticas: construindo a igualdade. Eleições municipais 2008. GTE.

Também foram consultados:

PT Informa Mulheres. Boletim da Secretaria Nacional de Mulheres do PT. Diversos números.

Plataformas e cartilhas eleitorais de governos do PT.

Documentos e publicações de governos estaduais e municipais do PT e publicações da Secretaria de Políticas para as Mulheres-SPM, do governo federal.

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1. Mulher não é minoria. As mulheres são a maioria da população. Tratá-las como minoria é expressão de uma visão tradicional de mundo onde o machismo e as opressões se perpetuam. Lembre-se disso também quando falar na classe trabalhadora e nas reivindicações do mundo do trabalho.

2. A população negra representa metade da população brasileira. Defender ações afirmativas, o combate ao racismo e a denúncia da brutal desigualdade econômica e de oportunidades a que esta população está submetida é fundamental para a construção da igualdade.

3. Dona de casa também é trabalhadora. Sua jornada semanal é muito mais longa do que a de um trabalhador comum. O fato de não defendermos um salário para a dona de casa não significa deixar de reconhecer o papel econômico e social desse trabalho, que deve ser assumido por todos. O modelo econômico dominante só considera como econômicas as atividades realizadas na esfera mercantil e desconhece a imensa quantidade de trabalho doméstico, de cuidados e para o auto-consumo. Não precisamos reforçar esse modelo!!!

O que todo dirigente, parlamentar ou militante de base petista deve lembrar e praticar

Existem vários momentos em que cada um de nós atua como porta-voz do partido. Reproduzimos aqui algumas observações, dicas que são apresentadas pelas Secretarias de Mulheres do PT nas cartilhas e materiais para os candidatos do PT.

DICAS E LEMBRETES

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4. A divisão do trabalho doméstico entre os membros da família e a implantação de políticas sociais para que a sociedade assuma cada vez mais sua responsabilidade sobre o cotidiano das pessoas é um tema central da política. Cuidar das crianças não é obrigação das mulheres. Sua educação é responsabilidade do pai, da mãe e da sociedade. Lembre-se disso quando falar em família e trabalho doméstico.

5. Um aspecto central da opressão das mulheres é a violência e o abuso sobre seu corpo. O corpo das mulheres não é mercadoria e nem material de propaganda. Essa é uma luta decisiva do movimento feminista. Respeite e apoie essa luta. Denuncie a violência e a exploração do corpo da mulher.

6. Faz parte dos mecanismos de opressão das mulheres tratá-las como seres incapazes, que não têm condições de decidir sobre suas próprias vidas e que, por, isso, sempre precisam da orientação do pai, do marido, do chefe, do namorado. Não reforce essa situação.

7. As mulheres não nasceram predestinadas a serem mães. Aliás, várias não são e não vão ser. São seres integrais com vontades, direitos, interesses, aspirações de vida e profissionais distintas. É fundamental assegurar a autonomia das mulheres sobre seu corpo e sua sexualidade.

8. Lembre-se que a sociedade é feita de homens e mulheres com distinções de raça/etnia, geração, orientação sexual. Expresse isso quando for escolher fotos, ilustrações, matéria para propaganda de campanhas ou de divulgação do partido.

9. Não é preciso utilizar uma linguagem e expressões machistas para ser “popular”. A linguagem expressa, muitas vezes, os preconceitos e discriminações mais fortes da sociedade. Não use linguagem machista, sexista ou com preconceitos contra a homossexualidade e reafirme a cada momento seu compromisso com o respeito e a defesa da igualdade.

10. A opressão se consolida cotidianamente por meio das práticas que reforçam, de forma explícita ou subliminar, as discriminações. Pense nisso quando ouvir (ou antes de repetir) comentários, pretensas brincadeiras ou observações machistas ou que expressam discriminações étnico-raciais, em relação aos homossexuais ou outros grupos da sociedade.

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Linha do tempoDesde os primeiros momentos de sua formação, o PT

discute a situação e os direitos das mulheres. Uma síntese das principais questões em cada momento, a partir dos Encontros e Congressos:

1. Anos de formação – 1979, 1980, 1981

Resoluções, documentos. Temas Propostas

Declaração pública. 1979 Movimento de mulheres como um dos componentes na formação do PT

Encontro de fundação do PT – 1980Programa e Plano de ação do Partido dos TrabalhadoresReconhecimento da discriminação da mulher, identificada na classe trabalhadora.

“A idéia do Partido dos Trabalhadores surgiu com o avanço e o fortalecimento desse novo e amplo movimento social que, hoje, se estende das fábricas aos bairros, dos sindicatos às comunidades eclesiais de base: dos movimentos contra a carestia às associações de moradores; do movimento estudantil e de intelectuais às associações profissionais; do movimento dos negros ao movimento das mulheres. E ainda outros. Como os que lutam pelos direitos das populações indígenas”.

“O PT considera que as discriminações não são questões secundárias, como não é secundário o problema da mulher trabalhadora segregada na fábrica, no campo e, não raro, também no lar. O PT lutará pela superação destes problemas com o mesmo empenho com que luta contra qualquer forma de opressão. Sem isto, a democracia será palavra vazia para os trabalhadores, marginalizados social e politicamente, de ambos os sexos e de qualquer raça e cultura.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

Item específico de apoio aos movimentos e contra a discriminação: racial e de mulheres.

1º Encontro Nacional do PT – 1981Reconhecimento da opressão específica, da importância da luta contra o machismo e da necessidade de mudança também dos homens. Preocupação em legitimar a identidade de classe das mulheres.

Afirmação da importância da organização dos movimentos sociais e de sua autonomia frente ao Estado e partidos políticos.

Item “VII. Apoio aos movimentos de defesa dos direitos das mulheres, negros e índios.•Contra toda a discriminação racial, econômica, social e política •Contra a discriminação da mulher”

“É importante dizer uma palavra sobre o movimento de mulheres, forma de organização específica que se multiplica por este país. Frente à cultura machista que respiramos, às estruturas de uma sociedade tida como exclusiva obra masculina, reconhecemos o direito e o dever de as mulheres lutarem por seus direitos, libertando-se da condição de objeto de cama e mesa, de serem destinadas unicamente a procriar, de escravas do lar, de trabalhadoras superexploradas. A luta das mulheres deve ajudar a nós, homens, a nos reeducarmos na direção da sociedade igualitária que queremos construir juntos. Entretanto, estamos convencidos de que essa luta não pode desligar-se da luta global de todos os brasileiros por sua libertação. A questão feminina não interessa só às mulheres e nem se reduz à conquista de liberdades pessoais que, por vezes, são meros paliativos burgueses. Homens e mulheres, juntos, devemos lutar incessantemente pela emancipação das companheiras que são escravizadas nas roças e nas fábricas, que enfrentam a maternidade com insegurança e medo, que prostituem seus corpos por não terem outro meio de vida, e que jamais tiveram como exprimir sua palavra.”

“Não admitimos que as creches, os clubes de mães, as associações de moradores, os movimentos de favelas, os grupos de luta pela terra, as entidades feministas, os núcleos artísticos e demais formas de o nosso povo se organizar na base sejam manipulados como currais eleitorais ou tratados à base do clientelismo político. Reconhecemos a autonomia do movimento popular frente ao Estado e aos partidos políticos.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

2. Período de transição, Diretas-Já e Constituinte – 1982 a 1988

2º Encontro Nacional do PT – 1982 Discussão da plataforma eleitoral “Terra, trabalho e liberdade”. Reconhecimento da desigualdade e discriminação como mulher. Defesa de direitos específicos no trabalho, nas leis, na saúde, controle do corpo, decisão sobre ter ou não ter filhos e papel social da maternidade. Contra a discriminação homossexual.Contra a discriminação racial.

3º Encontro Nacional do PT – 1984 Reafirma compromisso nos governos e plataformas para eleições de capital.

“7- SOMOS TODOS IGUAIS: CHEGA DE DISCRIMINAÇÃO. O Brasil que queremos não é apenas o povo comendo, morando, tendo saúde, vestindo e se educando. A vida que desejamos tem de ser baseada, sobretudo, numa relação profundamente humana e fraterna, igualitária, entre as pessoas, sem nenhum tipo de discriminação. E nesta questão a situação no Brasil é grave. A mulher é tratada como ser de segunda categoria. A ela cabem os piores empregos e os menores salários, além de estar submetida a dupla jornada de trabalho, pois acumula todas as tarefas da casa. A todo momento é subjugada e humilhada, oprimida, não só como trabalhadora, mas também como mulher. Os homossexuais são humilhados e discriminados, tratados como doentes ou caso de polícia. Exigimos igualdade nas leis que regem a família, o trabalho e a sociedade; o direito ao trabalho, à profissionalização e extensão dos direitos trabalhistas a todas as trabalhadoras, a exemplo das empregadas domésticas, e respeito ao direito de salário igual para trabalho igual. As mulheres têm de possuir os meios para escolher se querem ou não ter filhos, o que implica o reconhecimento da função social da maternidade, o oferecimento de meios contraceptivos seguros e um atendimento médico permanente em todas as fases de sua vida. É preciso acabar com todas as formas de discriminação contra os negros. As minorias – índios e homossexuais – têm de ser integralmente respeitadas.”

“O governo do PT combaterá todas as discriminações sociais praticadas com pretextos de raça, cor, sexo, idade, bem como todas as formas de corrupção.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

Aprovação de Regimento Interno e organização partidária. 4º Encontro Nacional do PT – 1986 Elaboração mais detalhada sobre o socialismo incorporando lutas contra opressões específicas em um projeto libertário.Definição de políticas públicas para mulheres.

Projeto de Constituição do PT - 1988Partido apresenta diversos itens relativos à igualdade entre mulheres e homens e redefinição de relações sociais.

Nenhuma menção.

“Um projeto socialista deve ser acompanhado da afirmação de idéias e valores que sustentem uma atuação transformadora em todas as esferas da sociedade e tenham consistência para fundamentar a construção de uma nova legitimidade, contraposta à burguesa (...) O projeto socialista deve incorporar as perspectivas colocadas por diferentes movimentos sociais que combatem opressões específicas – como das mulheres, dos negros, das nações indígenas etc. – indispensáveis para golpear importantes pilares da dominação exercida pela burguesia; deve engajar em profundidade a maioria da população brasileira num processo de transformação do País e construir uma sociedade efetivamente nova (...) Esse conjunto de percepções constituem componentes indispensáveis, hoje, à constituição de uma visão de mundo e de uma prática política efetivamente libertária.”“O quarto eixo dos governos do PT é a promoção da cidadania plena, rompendo com o caráter assistencialista e com as práticas de submissão e discriminação do abandonado, do idoso, das mulheres, dos negros, dos homossexuais, dos índios e demais grupos sociais específicos. Neste sentido, (...) implementarão programas de atendimento integral à saúde da mulher, assim como delegacias regionais específicas para mulheres.”

“Direito à prática do abortoArt. 47 . A lei não punirá a prática do aborto, quando consentido livremente pela gestante ou por seu representante legal, bem como nos casos onde houver risco de vida.Parágrafo único. Nos termos deste artigo, os órgãos de saúde pública prestarão toda assistência à mulher que se submeter à prática do aborto.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

3. Experiências de governo municipal e eleição presidencial – 1988 e 1989

5º Encontro Nacional do PT – 1987Debate da relação entre socialismo e democracia retomando resolução do encontro anterior e reafirmando luta contra as opressões e importância do feminismo.

6º Encontro Nacional do PT – 1989 Definição das bases para o programa de ação de governo para as eleições presidenciais de 1989. Pela primeira vez uma definição detalhada de programa, com metas para a igualdade em vários aspectos.

“O projeto socialista pelo qual lutamos, de outro lado, deve incorporar as perspectivas colocadas pelos diferentes movimentos sociais que combatem opressões específicas, como os das mulheres, dos negros, dos jovens e dos homossexuais, e suas expressões ideológicas, em particular o feminismo, indispensáveis para golpear importantes pilares da dominação exercida pela burguesia e engajar, em profundidade, a maioria da população brasileira num processo de transformação revolucionária (...) A incorporação dessas lutas no projeto político proletário, desde hoje, permite barrar o avanço da burguesia, que procura esvaziá-las do seu conteúdo crítico e questionador de instituições e valores da ordem burguesa.”

“CONTRA AS DISCRIMINAÇÕES – MULHERES POR UM BRASIL DE HOMENS E MULHERES LIVRES E IGUAIS. O PT reconhece a discriminação que sofrem as mulheres na sociedade brasileira. Entende que, além das relações de classe, as mulheres estão submetidas a relações de opressão de sexo, que se reproduzem numa rígida divisão de trabalho e de papéis e se expressa em todas as esferas, econômica, política, social e ideológica. É por isso que a eliminação das discriminações das mulheres não pode ser resolvida apenas no combate ideológico, mas exige o desenvolvimento de políticas públicas, que ataquem diretamente as formas de discriminação e da opressão. Porque a discriminação das mulheres se manifesta nas várias esferas da vida social e cultural, ela deve ser enfrentada também nas diretrizes gerais que norteiam a política do PT. Os objetivos deste programa são dois: 1- a igualdade econômica e social de homens e mulheres na sociedade brasileira; 2- a plena cidadania cultural e política de homens e mulheres.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

Diagnóstico das condições de opressão e desigualdade, com destaque para as mulheres negras. Análise das condições de saúde da mulher, discriminações em relação ao trabalho e à renda, na educação, denúncia contundente da violência levam à perspectiva de políticas sociais.

Não há democracia sem atuação incisiva do Estado. Para isso, considera-se indispensável a existência de um organismo articulador da ação de governo.

“Metas e diretrizes para um programa de igualdade Se a sociedade brasileira é marcada pelas profundas desigualdades sociais e econômicas e pela exclusão cultural e política das massas populares, as mulheres, e principalmente as mulheres negras, se encontram, invariavelmente, entre os grupos mais penalizados. (...) O reconhecimento desta desigualdade coloca para o PT o desafio de buscar, por intermédio das políticas sociais, os mecanismos que permitam às mulheres igualdade de oportunidade no mercado de trabalho, na educação profissional e na vida social. As formas da discriminação e da desigualdade que penalizam as mulheres colocam a necessidade de pensar uma democratização radical do Estado e o fortalecimento da participação popular, que inclua também a participação política das mulheres na formulação das políticas públicas, através de um organismo de articulação destas políticas e por meio de incentivos e metas que apontem a necessidade de participação das mulheres em todas as instâncias administrativas e políticas da sociedade brasileira. Enquanto os mecanismos de reprodução da discriminação que sofrem as mulheres não forem objeto de uma política que integre a luta contra a discriminação a todos os níveis de atuação do governo não haverá democracia. Por isso, o programa do PT, hoje, refletindo as experiências dos movimentos de mulheres nestes últimos anos no Brasil, entende que a igualdade entre homens e mulheres na sociedade brasileira é um dos objetivos principais e gerais de seu programa, que será implementado por meio de suas políticas sociais, articulado por um organismo federal.”

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Resoluções, documentos. Temas PropostasCinco metas para a igualdade Programa define prioridades articulando trabalho fora de casa e trabalho doméstico com políticas de creches, restaurantes, lavanderias; e enfatiza direitos das trabalhadoras domésticas e rurais.Saúde integral e todas as condições para as mulheres decidirem sobre ter ou não filhos.

Combate à violência sexista e ações de prevenção

“1- Trabalho doméstico, trabalho assalariado e mercado de trabalho Desenvolvimento e incentivos a programas, em nível federal, estadual e municipal, para criar equipamentos sociais (creches, restaurantes, lavanderias etc.) para que o trabalho doméstico seja assumido pelo conjunto da sociedade (...) aplicação dos direitos trabalhistas integrais das mulheres trabalhadoras, das gestantes, das domésticas e das trabalhadoras rurais.”

“2- Saúde e direitos reprodutivos Implantação de uma política de saúde para a mulher, que envolva todas as fases de sua vida (...) Garantia do direito a optar pela maternidade e do acesso à contracepção, através de métodos não-nocivos à saúde (...) e estimulando-se a pesquisa científica de novos métodos contraceptivos, femininos e masculinos. (...) Assistência obrigatória, na rede pública de saúde, para os casos de aborto previstos em lei. Implantação de medidas que reduzam radicalmente a mortalidade materna, causada pela deficiência de atendimento à gestação, parto e aborto. Desencadear iniciativas para o estabelecimento de legislação que amplie o direito de interrupção de uma gravidez indesejada.” “3- Defesa das mulheres contra a violência Promoção de medidas que garantam a defesa e a segurança das mulheres contra a violência, por meio da criação e ampliação de serviços de atendimento jurídico e psicológico, delegacias de atendimento especializado e abrigos para as mulheres vítimas de violência. Promoção de políticas preventivas junto à população, apontando o caráter sexista da violência pública e privada contra as mulheres.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

Educação livre de estereótipos e preconceitos. Formação profissional para as mulheres.

Criação de um Ministério da Mulher.

“4- Uma educação não-sexista Promoção de políticas visando eliminar os preconceitos e estereótipos sexuais e raciais na educação. Garantir às mulheres acesso à formação profissional, fornecendo condições para a sua plena participação profissional, política e social nas áreas urbanas e rurais.”

“5- Estruturação institucional: um Ministério ou Secretaria Especial (...) O governo do PT deverá criar um organismo – Ministério ou Secretaria Especial – que tenha poder e atribuições para formular, executar e coordenar, com outras instâncias federais, as políticas que promovam a igualdade entre homens e mulheres na sociedade brasileira.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

4. Primeiro Congresso, cotas, concepção de socialismo – 1990 a 2002

7º Encontro Nacional do PT – 1990Menos específica que textos anteriores, resolução sobre o Socialismo Petista apenas menciona direitos individuais e luta contra todas as formas de opressão, incluindo mulheres.

Na construção partidária, menciona estímulo à participação das mulheres, mas não há medidas específicas. E a importância da implantação do partido nos diversos setores em luta na sociedade.

Aprovada moção contra a violência sexista.

“O Socialismo Petista A nova sociedade que lutamos para construir inspira-se concretamente na rica tradição de lutas populares da história brasileira. (...) Lutará pela liberação das mulheres, contra o racismo e todas as formas de opressão, favorecendo uma democracia integradora e universalista. O pluralismo e a auto-organização, mais que permitidos, deverão ser incentivados em todos os níveis da vida social, como antídoto à burocratização do poder, das inteligências e das vontades.”

“Construção Partidária Um partido que se constrói democraticamente é a condição básica para uma real unidade partidária. (...) Nesse sentido, o Partido deve estimular a participação feminina em todas as instâncias de direção partidária e desenvolver uma cultura interna de combate permanente às práticas autoritárias e discriminatórias.”

“Condenação da violência contra as mulheres (...) A violência contra as mulheres é respaldada socialmente e se desdobra através de discriminação econômica, política e social. (...) A violência contra as mulheres tem assumido uma dimensão social e está presente em todas as classes e setores sociais. Nosso Partido, de vocação libertária e socialista, que luta contra todas as opressões e que se constrói para representar toda a classe trabalhadora e todos os oprimidos, deve consignar incompatível com nosso projeto político a violência contra as mulheres, incorporando em nossa política, na teoria e na prática, a inaceitabilidade dessa violência.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

I Congresso Nacional do PT – 1991Igualdade entre mulheres e homens como um componente libertário do projeto de socialismo. Com ampla participação.

Aprofunda-se a compreensão de que a luta contra a opressão das mulheres é fundamental para a disputa ideológica e não se pode fugir das contradições entre os oprimidos.

Resolução “Socialismo.Os ideais que se encontram na raiz dos movimentos sociais revolu cionários ao longo deste século persistem como fonte de inspiração para o nosso partido, que se compromete com a luta pela superação do capitalismo e a construção de uma nova sociedade onde (...) homens e mulheres, libertos progressivamente de toda opressão material, possam construir novas relações sociais; onde a busca da felicidade seja um direito efetivo de todos os indivíduos e comunidades; onde, enfim, a igualdade social possibilite o pleno florescimento das potencialidades individuais (...)A disputa por hegemonia hoje O Partido precisa repensar sua atuação na sociedade, entendendo as diferentes formas de opressão nela existentes, que não se resumem à contradição capital-trabalho, mas se estendem a processos discriminatórios e de exclusão econômica, social, cultural e política, que expressam a natureza de classe, de raça e de gênero, característicos do processo de dominação instituído nos poderes e na sociedade e responsável pela transformação de maiorias sociais em minorias políticas. Apesar do fato de todas as pessoas estarem imersas nas relações de classe, existem sistemas de opressão que são também determinantes na vida das pessoas, na construção de valores, na organização de relações sociais e pessoais, como é o caso das relações de gênero. Nessas relações, estabelecem-se papéis masculinos e papéis femininos, de dominador e dominada, dando base para uma concepção autoritária das relações humanas e da sociedade, com a subordinação das mulheres em todas as esferas sociais. A luta das mulheres contra esse tipo de relações de poder faz parte da luta pela construção de uma sociedade socialista. Nessa construção, o movimento autônomo das mulheres tem papel fundamental, pois desvenda a relação dialética, mutuamente reforçadora, entre a estrutura de classes do capitalismo e a estruturação sexual hierárquica das relações de gênero. O Partido dos Trabalhadores reconhece que a organização de diferentes setores sociais (mulheres, negros, juventude, homossexuais etc.), seu direito de lutar e reivindicar pela definição das prioridades sociais, econômicas e políticas e sua presença na disputa pelos rumos da nova sociedade são também uma garantia da construção de uma sociedade socialista democrática. socialismo entendido como prática e processo de emancipação da humanidade em geral e de emancipação das mulheres.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

Também se reconhece a importância da auto-organização e dos movimentos.

E a importância da coerência entre o público e o privado.

Reconhece as debilidades no PT.

“O movimento de mulheres busca uma nova forma de fazer política (...) E nessa busca, o movimento de mulheres propõe formas de poder que transformem as relações sociais, que criem uma sociedade democrática (...) Isso requer regras do jogo que garantam às mulheres, aos negros, à juventude, aos homossexuais e outros as condições de se construírem como sujeitos, empenhados na construção de uma sociedade socialista que harmonize a heterogeneidade e a diferença.”

“O PT se empenhará no fortalecimento de um movimento de mulheres que seja capaz de articular o íntimo, o subjetivo, com uma concepção de sociedade sem explorados e sem oprimidos, cuja viabilidade está em estreita relação com as profundas mudanças no nível da estrutura econômica, política e social. Um movimento de mulheres que aponte a necessidade de transformação do indivíduo, de seus direitos e necessidades, de sua participação nos processos sociais, de sua vida cotidiana. Isso significa expressar a necessidade de pensar e viver a política valorizando o cotidiano, as relações pessoais, a construção da identidade de cada indivíduo (homem ou mulher), ampliar o horizonte das transformações sociais, resgatar o sentido de humanidade e libertação plena, coletiva e individual, e de uma visão revolucionária e libertária.”

“Desde a nossa fundação, o Partido tem afirmado que a luta contra o capitalismo no Brasil é também a luta contra todas as formas de opressão. Antes mesmo de termos uma definição socialista, o PT defendia uma nova sociedade, “sem oprimidos nem opressores”. Entretanto, nossa trajetória concreta vem deixando muito a desejar quanto a isso. O nosso partido ainda se pensa predominantemente um partido branco, pois a luta anti-racista costuma aparecer apenas como um lembrete de fim de tese.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

Considera importante a ampliação da consciência feminista no partido.

Participação das mulheres nas instâncias de direção

“Os órgãos e veículos de comunicação para a militância e a sociedade deverão zelar para não reproduzir e reforçar estereótipos e linguagens discriminatórias de qualquer natureza. Com o objetivo de ampliar a assimilação do feminismo pelo PT e ampliar a nossa atuação na luta contra a opressão das mulheres, os organismos de comunicação partidária deverão tratar, sistematicamente, temas relacionados à luta das mulheres e ao movimento de mulheres. (...) o Partido deverá garantir o acesso das mulheres a todos os espaços de formação política geral do Partido. A luta pela libertação das mulheres será parte constitutiva dos programas de formação política geral do PT.”

“Resolução sobre cotas – garantindo mínimo de 30% de mulheres nas direções.Outras medidas de ação afirmativa no partido e propostas para a ação de governo e ação parlamentar do PT.Ver quadro na página 29.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

5. Ampliação das experiências de governo municipais e estaduais – 1992 a 2000

8º Encontro Nacional do PT – 1993 Organização das mulheres e negros, e outros setores oprimidos, é parte da construção de um movimento por mudanças.

Luta contra as discriminações não é menos importante que a luta contra a exploração.

Compromisso com cidadania para os setores oprimidos: mulheres, negros, juventude, homossexuais, portadores de deficiência e outros setores oprimidos.

Importância da descriminalização do aborto.

“A campanha Lula-94 deve ser mais que uma disputa eleitoral. Deve ser, simultaneamente, ponto de partida e expressão de um movimento democrático e popular que reúna amplos setores da população na luta pelas reformas estruturais. Um movimento baseado na retomada da mobilização sindical cutista, nas organizações populares e estudantis, nas entidades da sociedade civil, nos partidos populares, nas organizações de mulheres, negros e povos indígenas. (...)”

“O PT não pode ignorar as profundas desigualdades baseadas no preconceito e na discriminação racial, além da exploração econômica e da opressão política. Assim, o PT não alcançará a hegemonia do movimento de massas se não soubermos disputar com uma linguagem também negra (...) se a discriminação racial, da mulher e do menor não forem combatidas com a mesma radicalidade que a exploração da mão-de-obra.”

“Mas a sorte do nosso governo, a implementação vitoriosa do nosso programa de luta pelo socialismo, não depende apenas da luta política em sentido restrito, tampouco somente de medidas de caráter econômico. É função também da luta ideológica, especialmente da capacidade de fortalecermos valores anticapitalistas; do desenvolvimento de uma política cultural e da coerência das políticas públicas, voltadas para o resgate da cidadania de segmentos como mulheres, negros, juventude, homossexuais, portadores de deficiência e outros setores oprimidos.”

“Muitas morrem ou ficam doentes por causa de abortos malfeitos. (...) Por isso lutamos para que as mulheres tenham direito de decidir sobre o seu próprio corpo e para que o aborto seja encarado como uma questão de saúde pública. O atual [código penal] é de 1940 e trata o aborto como crime, prevendo pena de prisão para quem o pratica. O aborto não pode ser considerado um crime. Não deve constar do código penal. A sua prática deve ser regulamentada nas mesmas leis que estabelecem as normas de funcionamento dos serviços públicos de saúde.(...) [moção aprovada]”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

9º Encontro Nacional do PT – 1994Enfrentar a guerra ideológica e o discurso da direita, especialmente em períodos eleitorais, sem deixar de defender nosso programa. 10º Encontro Nacional do PT – 1995Afirma responsabilidade coletiva do partido com o combate às discriminações.

11º Encontro Nacional do PT – 1997Enfrentamento do machismo e discriminação racial são centrais para democracia . Direitos dos povos indígenas e livre orientação sexual.

“Guerra ideológica .O discurso da direita, nesse caso, não será inovador: comunismo, religião, família, drogas, aborto, propriedade, violência, homossexualismo, assumirão a dianteira na argumentação dirigida contra nós, em um possível contexto de histeria conservadora diante da iminente vitória popular.”

“A construção de identidades, a luta contra as discriminações, preconceitos e desigualdades não pode ser coisa de mulher, índio, idosos, portadores de deficiência ou de homossexuais. Nossas ações devem ser globalizadas, o que se faz em três níveis: através da adequação entre as políticas setoriais e a política geral do Partido; através da discussão, pelo Partido, de cada uma das políticas setoriais; e, no plano da organização, a criação de instâncias partidárias adequadas a estes objetivos.”

“Esta democratização reivindica também um amplo movimento cultural, que combata todas as formas de discriminação. A questão do racismo contra a imensa população negra não pode mais ficar à margem dos grandes temas nacionais. O enfrentamento do machismo, que se manifesta na opressão cotidiana das mulheres, é uma questão fundamental para a democracia brasileira. Estamos próximos dos 500 anos de colonização e os povos indígenas jamais tiveram o reconhecimento de seus direitos e a demarcação efetiva de seus territórios. O Brasil precisa encarar também, sem qualquer preconceito, o tema das preferências sexuais e o respeito aos direitos dos homossexuais.”

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Encontro Extraordinário – 1998Discussão de diretrizes para o Programa de Governo afirma combate à discriminação. Questão racial com maior ênfase

Programa de Governo Lula 1998

II Congresso do PT – 1999Ao reafirmar as resoluções sobre socialismo e democracia do 7 Encontro e o I Congresso, discute a discriminação no bojo dos direitos humanos.

Diretrizes para o Programa de Governo“Com a extensão da cidadania a todos os brasileiros – igualdade e respeito às diferenças de gênero, etnias, raça, idade, opção sexual, condição física ou mental, etc. – o Programa deve incorporar as reivindicações de todos os setores da sociedade que sofrem formas específicas de discriminação.

“Reafirma itens dos programas de 1989 e 1994. Ver discussão sobre políticas públicas na página 30.”

“O PT defende intransigentemente o respeito aos Direitos Humanos para garantir a extensão da cidadania a todos os brasileiros. Isso exige combater preconceitos relacionados com raça, gênero, orientação sexual, faixa etária, condição física ou mental. A defesa dos Direitos Humanos é central para a preservação do Estado de Direito e para a construção de uma nova democracia. Ela pede o combate a todas as formas de violência que ameaçam hoje a sociedade brasileira, especialmente aquelas que se exercem contra mulheres, no lar ou fora dele, e contra crianças e adolescentes abandonados ou submetidos a formas cruéis de exploração, como o trabalho escravo, a prostituição e o envolvimento no crime organizado.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

Insiste que o combate à desigualdade de gênero e racial deve ser parte integrante das políticas do PT. Ainda não são incorporadas pelos governos petistas (prefeituras e governos de Estado).

Reorganização dos setoriais e confirmação da cota mínima de 30% de mulheres nas direções.

“Ainda tímida, essa pressão da sociedade e de nossa militância não foi incorporada plenamente ao modo petista de governar. Precisa ser transformada em ações concretas que beneficiem grupos específicos de jovens, mulheres, negros, portadores de deficiências e indígenas, recuperando uma função essencial do Estado, a de assegurar igualdade de oportunidades e de tratamento, ou seja, a igualdade de direitos. Prefeituras importantes não têm dado importância a essas questões em suas ações de governo.”

“São considerados setores os movimentos sociais com espaço de atuação orgânica em nível nacional (...) Essas instâncias deverão combinar o debate e a intervenção sobre questões específicas com a discussão e atuação nas grandes questões da política brasileira e se constituem como instrumentos fundamentais na mobilização partidária e na avaliação das políticas de nossos governos e de nossas bancadas.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

6. Disputando hegemonia nacional e experiência de governo federal – 2001 a 2010

12º Encontro Nacional do PT – 2001Retoma a defesa da democracia, afirmando combate às discriminações e violência no marco de direitos humanos e cidadania.

Ênfase no combate à violência, nas desigualdades raciais, defesa de ação afirmativa.

Importância da organização autônoma dos oprimidos.

“Diretrizes do Programa de Governo do PT para o Brasil O Programa do PT parte do princípio de que a construção da democracia política no Brasil deve conjugar-se com o aprofundamento da democracia econômica e social. A democracia política tem três prioridades básicas: os Direitos Humanos e a cidadania, a reforma das instituições e da representação política e o controle democrático do Estado pela sociedade. Essas prioridades articulam o combate aos preconceitos relacionados com raça, gênero, orientação sexual, condição física ou mental; o combate a todas as formas de violência que ameaçam de forma crescente a sociedade brasileira, especialmente as que atingem as mulheres, no lar ou fora dele, e contra as crianças e adolescentes. (...) Em particular, é preciso implementar políticas de combate à violência que atinge as mulheres, no lar ou fora dele, bem como as crianças e adolescentes. Negros e negras são especialmente atingidos por inúmeras formas de discriminação econômica, social e pela violência. Em complemento às grandes reformas de combate à discriminação, deve-se romper o silêncio das instituições e constituir mecanismos de ação afirmativa. Caberá ao Estado, na perspectiva de resgate da dignidade e da igualdade de direitos, criar condições para a conquista da igualdade de condições e de tratamento que beneficiem os grupos sociais mais atingidos pela discriminação, como as mulheres, a população negra e índia, homossexuais, pessoas portadoras de deficiência etc. O estímulo à organização autônoma e à participação política desses segmentos é parte decisiva de nosso compromisso estratégico com os direitos de cidadania.”

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

Direito à livre orientação sexual

Pelos direitos das mulheres trabalhadoras.

“Moção contra a discriminação por orientação sexual e pela afirmação da cidadania homossexualO Partido dos Trabalhadores, desde a sua fundação, assumiu um claro compromisso com a luta contra a discriminação aos homossexuais, o que está consagrado em nosso estatuto, ao afirmar como um dos deveres dos filiados, no Art. 14, II, o de combater todas as manifestações de discriminação, dentre as quais por orientação sexual.Quase todas as iniciativas de políticas públicas voltadas à afirmação dos direitos dos homossexuais têm sido de autoria de parlamentares e administrações petistas, construídas conjuntamente com organizações do movimento GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros). Apenas para exemplificar, podemos citar os projetos de lei da Parceria Civil Registrada entre pessoas no mesmo sexo, da ex-deputada e atual prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e o que criminaliza a prática de discriminação por orientação sexual, de autoria do deputado Nilmário Miranda, assim como os projetos de lei de autoria das prefeituras de Recife e de Porto Alegre, que estendem aos parceiros dos servidores públicos municipais homossexuais os mesmos direitos dos heterossexuais.Diante disso, o XII Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores manifesta seu apoio às iniciativas e projetos das nossas administrações e de nossos parlamentares, que busquem a afirmação da cidadania homossexual e o combate à discriminação por orientação sexual, e conclama todos os nossos filiados a trabalharem por sua aprovação nas respectivas instâncias, propondo ainda que todos os demais parlamentares e integrantes de governos, seja em que nível for, sigam esses exemplos e apresentem propostas desse tipo, colocando o combate à discriminação por orientação sexual e a afirmação da cidadania homossexual como uma das marcas do modo petista de governar e de legislar.”

Moção contra propostas que ameaçam a estabilidade das trabalhadoras gestantes, em discussão no Congresso.

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

13º Encontro Nacional do PT - 2006

Reafirmação das políticas gerais do partido em relação às mulheres e daquelas desenvolvidas pelo governo Lula

Moção/Resolução sobre a descriminalização do aborto

“Por um Brasil de mulheres e homens livres e iguais O PT, através de sua secretaria defende e reafirma seu compromisso com políticas e ações, hoje incorporadas pelo governo federal, que representam as principais bandeiras de lutas dos movimentos de mulheres e feministas, e que são extremamente significativas para a melhoria da qualidade de vida das mulheres: • defesa do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, implementando, assim, um sistema nacional de políticas para as mulheres; • defesa do Plano Nacional de Combate e Erradicação da Violência contra a Mulher e de todas as discriminações, como a orientação sexual, de raça/etnia, de idade, de religião, etc; • defesa do Plano Nacional de Planejamento Familiar, contribuindo para a autonomia das mulheres sobre seu corpo e sua sexualidade; • defesa da autodeterminação das mulheres, da discriminalização do aborto e regulamentação do atendimento à todos os casos no serviço público evitando assim a gravidez não desejada e a morte de centenas de mulheres, na sua maioria pobres e negras, em decorrência do aborto clandestino e da falta de responsabilidade do Estado no atendimento adequado às mulheres que assim optarem; • defesa do direito à creche e equipamentos sociais para que o trabalho doméstico seja assumido pelo conjunto da sociedade; • defesa da ampliação do salário mínimo; • defesa da construção de novas relações de trabalho e geração de renda, pautados pelos princípios da igualdade de oportunidades; • defesa de medidas para ampliação e promoção da igualdade de raça/etnia; • defesa do controle social da mídia, em especial, no que diz respeito à imagem da mulher veiculada nos diferentes veículos de comunicação; • defesa da equiparação salarial para trabalho igual entre mulheres e homens.”

“Moção sobre a descriminalização do abortoA construção e fortalecimento do PT foi um marco na luta das mulheres brasileiras. A ascensão dos movimentos populares e sindicais e a reorganização da esquerda brasileira no final dos anos 1970 são simultâneas ao fortalecimento e visibilidade da luta das mulheres no Brasil, que encontraram no Partido dos Trabalhadores um instrumento para potencializar sua

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

organização.Muitas mulheres abandonaram a esfera privada e ocuparam os espaços públicos, exigindo melhores condições de vida, lutando por emprego, salário, creche, saúde, educação, autonomia sobre seu corpo, respeito a livre expressão da sexualidade, combate ao racismo e pelas liberdades civis. O PT e as mulheres petistas organizaram e estiveram presentes em todas estas lutas, denunciando a desigualdade de gênero, o machismo, a violência doméstica, construindo omovimento feminista no Brasil.Foi com essa compreensão, expressa em diversas resoluções de nosso Partido, que temos trabalhado nas ultimas décadas na luta para a libertação das mulheres. Uma das importantes bandeiras é a descriminalização do aborto.Neste sentido sempre defendemos o direito da mulher decidir sobre seu corpo e sua vida. Nenhuma mulher é obrigada a fazer aborto, cada uma segue seus valores e religião. Mas aquelas que tiverem uma gravidez indesejada devem ser respeitadas na sua decisão de fazer aborto, sem correr risco de morte ou de ir para a cadeia, sendo asseguradas pelo Estado as políticas públicas que respondam ao atendimento adequado das mulheres nestes casos.A 1ª Conferência de Políticas Públicas para Mulheres aprovou a revisão da legislação punitiva em relação ao aborto, reafirmando políticas públicas importantes para as mulheres.Nós, delegados e delegadas ao 13º Encontro Nacional do PT, reafirmamos as posições de encontros anteriores e indicamos que os/as parlamentares de nosso Partido não se somem a conservadores e reacionários para criar uma Frente Parlamentar em Defesa da Vida – Contra o Aborto, demonstrando total desconhecimento da causa e, mais grave, absoluto desrespeito pelas mulheres.Se a Frente se auto-proclama em defesa da vida, as mulheres do PT e as organizações de mulheres em geral assim também o fazem, na medida em que lutam para que milhares de mulheres em todo o país deixem de morrer ou carregar seqüelas em função de abortos clandestinos, realizados em condições precárias.Assim sendo, exigimos que os/as parlamentares do PT que participam da Frente Parlamentar em Defesa da Vida – Contra o Aborto retirem seus nomes desse movimento. O acordo partidário em relação a este tema é de que respeitamos as decisões de foro íntimo, entretanto as posições e voto de nossos parlamentares não podem ferir princípios em defesa dos direitos

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3º Congresso do PT - 2007 Socialismo e igualdade entre mulheres e homens. E rompendo com a desigualdade racial.

Políticas para a igualdade como prioridade das ações de governo

das mulheres.Respeitamos a abstenção de votos, mas não aceitamos o protagonismo e a participação em ações e movimentos como esta Frente, que violam o respeito à vida das mulheres.Conclamamos a que todos/as militantes do PT tenham posicionamento firme contra todas as injustiças e discriminações a que estão submetidas as mulheres na sociedade.”

“Os principais traços do socialismoA mais profunda democratização. Isto significa democracia social; pluralidade ideológica, cultural e religiosa; igualdade de gênero, igualdade racial, liberdade de orientação sexual e identidade de gênero. A igualdade entre homens e mulheres, o fim do racismo e a mais ampla liberdade de expressão sexual serão traços distintivos e estruturantes da nova sociedade.O socialismo que queremos construirNosso compromisso com a humanidade se dá através da busca pela eliminação de todas as injustiças e formas de discriminação, contribuindo para a afirmação de novos padrões de relação social. Esta perspectiva – que inclui o reconhecimento dos direitos da infância, das mulheres, dos povos indígenas, dos idosos, negros e negras, das comunidades tradicionais, das pessoas com deficiência e altas habilidades, da livre orientação sexual, do direito a terra, à moradia, ao trabalho, à saúde, à alimentação, à vida em sua forma plena e tantos outros direitos – é profundamente anticapitalista, na medida em que o capitalismo se caracteriza por um anti-humanismo que se revela na naturalização da exclusão.”

“Tarefas para o períodoMulheres: Deve ser prioridade do governo dar continuidade à implementação de políticas voltadas à igualdade de direitos entre os gêneros, respeitada a identidade das mulheres, dando como exemplo o combate à violência doméstica e às desigualdades no mercado de trabalho. É preciso que os meios de comunicação e as políticas de educação incentivem a sedimentação de uma cultura de igualdade, com respeito às mulheres e sua diversidade.”

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Uma plataforma de ações propostas imediatas, além da menção em vários itens gerais.

Construção partidária e organização de mulheres

“Por um Brasil de mulheres e homens livres e iguaisO PT, através de sua secretaria defende e reafirma seu compromisso com políticas e ações, hoje incorporadas pelo governo federal, que representam as principais bandeiras de lutas dos movimentos de mulheres e feministas, e que são extremamente significativas para a melhoria da qualidade de vida das mulheres:• defesa do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, implementando,assim, um sistema nacional de políticas para as mulheres;• defesa do Plano Nacional de Combate e Erradicação da Violência contra a Mulher e de todas as discriminações, como a orientação sexual, de raça/etnia, de idade, de religião, etc;• defesa do Plano Nacional de Planejamento Familiar, contribuindo para a autonomia das mulheres sobre seu corpo e sua sexualidade;• defesa da autodeterminação das mulheres, da discriminalização do aborto e regulamentação do atendimento à todos os casos no serviço público evitando assim a gravidez não desejada e a morte de centenas de mulheres, na sua maioria pobres e negras, em decorrência do aborto clandestino e da falta de responsabilidade do Estado no atendimento adequado às mulheres que assim optarem;• defesa do direito à creche e equipamentos sociais para que o trabalho doméstico seja assumido pelo conjunto da sociedade;• defesa da ampliação do salário mínimo;• defesa da construção de novas relações de trabalho e geração de renda, pautados pelos princípios da igualdade de oportunidades;• defesa de medidas para ampliação e promoção da igualdade de raça/etnia;• defesa do controle social da mídia, em especial, no que diz respeito à imagem da mulher veiculada nos diferentes veículos de comunicação;• defesa da equiparação salarial para trabalho igual entre mulheres e homens.”

“Construção Partidária e Organização de MulheresPara avançar nas conquistas e construir de fato a igualdade entre homens e mulheres é necessário que façamos algumas mudanças a fim de atualizar o estatuto do Partido com relação à participação das mulheres nas disputas eleitorais e partidárias. Propomos, então, que o PT mais uma vez reafirme suas posições no que se refere a:

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IV Congresso Nacional – 2010

Igualdade como eixo estruturante do programa.

Autonomia pessoal e direito ao trabalho

• importância e necessidade de, em todas as instâncias da direção partidária, assegurar as cotas de mulheres e o conjunto de ações afirmativas já aprovadas em encontros anteriores, reafirmando assim o compromisso do partido com a construção da equidade e igualdade;• construção de mecanismos de controle e punição para as instancias que não cumprirem esta resolução, assim como as demais já aprovadas;• modificação do procedimento de eleição das delegações aos encontros e congressos do Partido, de modo que seja respeitada a cota de, no mínimo, 30% de mulheres, seguindo a mesma orientação para as eleições das direções partidárias.”

“RESOLUÇÃO SOBRE AS DIRETRIZES DE PROGRAMA 2011/2014Fortalecer o Estado e construir a igualdade para aprofundar a autonomia econômica, política e social das mulheres.53. Tendo em vista o papel da divisão sexual do trabalho como base da opressão sobre as mulheres, o Estado deve assumir sua responsabilidade na construção de políticas que alterem as desigualdades de gênero. O terceiro governo do PT deve ter como eixo estruturante do seu programa, a construção da igualdade entre mulheres e homens. As políticas devem também contribuir por desconstruir a cultura machista e patriarcal, que aprofundam a desigualdade e exclusão social das mulheres.54. Garantir a autonomia pessoal e o direito ao trabalho: A independência econômica é uma das condições para a emancipação das mulheres e do seu direito pleno ao exercício da cidadania. Ocrescimento da presença das mulheres no mercado de trabalho nas últimas décadas é extremamente positivo, embora ainda se realize em condições muito desiguais, especialmente no que tange à remuneração salarial, que entre as mulheres negras chega a cerca de 60% a menos do que os homens brancos.

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Resoluções, documentos. Temas Propostas

Organismo de governo para políticas para as mulheres e fortalecimento das políticas.

Combate à violência sexista.

Saúde, sexualidade, direitos reprodutivos.

Autonomia sobre seu próprio corpo.

Participação nos espaços de poder.

Reforma política rompendo com a exclusão das mulheres.

55. Fortalecer a institucionalidade existente para garantir e avançar uma política de igualdade: A construção de políticas que afirmam a igualdade será possível ao serem incorporadas pelo conjunto das ações do governo, por isto o fortalecimento da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres deve ser ampliada e assegurada, e assim aumentar o alcance de suas ações na implementação e aprofundamento das diretrizes e ações dos Planos Nacionais de Políticas para as Mulheres (I e II PNPM).56. Combater a violência sexista como uma ação do Estado: A ação do governo Lula nos últimos sete anos tem demonstrado que o Estado pode cumprir um importante papel no combate à violência contra as mulheres e a cobrança da tão necessária implementação pelos demais entes federativos e poderes constituídos de suas diretrizes, mostra o compromisso ideológico e cultural do governo democrático popular com a luta das mulheres. Avançar nesta política inovadora e ampliar o seu alcance, enquanto política de Estado exigirá uma institucionalidade à altura destes desafios.57. Promover a saúde da mulher, os direitos sexuais e direitos reprodutivos: O Estado brasileiro reafirmará o direito das mulheres de tomarem suas próprias decisões em assuntos que afetam o seu corpo e a sua saúde; direito de decidirem livremente sobre todas as questões referentes à sua sexualidade e estabelecer relações afetivas e sexuais livres de coação, discriminação e violência.58. O governo do PT desenvolverá ações que assegurem autonomia das mulheres sobre seu corpo, qualidade de vida e de saúde em todas as fases de sua vida, respeitando a diversidade racial e étnica das mulheres.59. Garantir e ampliar a participação das mulheres nos espaços de poder e de decisão: Promover e fortalecer a participação igualitária, plural e multirracial das mulheres nos espaços de poder e decisão, com vistas a uma mudança cultural na sociedade, à formação de novos valores e atitudes em relação à autonomia e protagonismo das mulheres, a exemplo do que demonstrou as duas conferências nacionais de políticas para as mulheres.60. Assegurar a reforma política como um instrumento eficaz para que as mulheres, historicamente excluídas da esfera pública e dos espaços de decisão, rompam com o mecanismo perverso que as têm levado à subordinação e opressão.”

Secretaria Nacional de MulheresEscola Nacional de Formação Política