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Secretaria de Estado da Educação – SEED Superintendência da Educação - SUED Políticas e Programas Educacionais – DIPOL Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE Universidade Estadual de Maringá - UEM FOLHAS/PDE – ENSINO MÉDIO Autor/Professor PDE: Neuci Facci Orientador: Prof. Drª Evandir Codato NRE: Maringá Escola: Instituto de Educação Estadual de Maringá Disciplina: História Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( x ) Disciplina de Relação Interdisciplinar 1: Geografia Disciplina de Relação Interdisciplinar 2: Sociologia Título: Tombar ou não tombar, eis a questão Conteúdo estruturante: História: Cultura Geografia: Econômica da Produção do/no Espaço e Geopolítica Sociologia: Poder, Política e Ideologia Conteúdo específico: História do Paraná Série a que se destina: Ensino Médio

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Secretaria de Estado da Educação – SEED Superintendência da Educação - SUED

Políticas e Programas Educacionais – DIPOL Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE

Universidade Estadual de Maringá - UEM

FOLHAS/PDE – ENSINO MÉDIO

Autor/Professor PDE: Neuci Facci

Orientador: Prof. Drª Evandir Codato

NRE: Maringá

Escola: Instituto de Educação Estadual de Maringá

Disciplina: História Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( x )

Disciplina de Relação Interdisciplinar 1: Geografia

Disciplina de Relação Interdisciplinar 2: Sociologia

Título: Tombar ou não tombar, eis a questão

Conteúdo estruturante: História: Cultura

Geografia: Econômica da Produção do/no Espaço e

Geopolítica

Sociologia: Poder, Política e Ideologia

Conteúdo específico: História do Paraná

Série a que se destina: Ensino Médio

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“TOMBAR OU NÃO TOMBAR, EIS A QUESTÃO” Este questionamento é feito por todos os lugares em Maringá e região. Pessoas

ligadas ao comércio, indústrias, estudantes, adultos, crianças. Quais os argumentos

usados por aqueles que são favoráveis ao tombamento?

A questão do tombamento do prédio da antiga rodoviária de Maringá é polêmica

na cidade e região. Em atendimento à solicitação da Promotoria do Meio Ambiente, a

Secretaria de Estado da Cultura decidiu estudar a inclusão do prédio no patrimônio

histórico paranaense:

Acervo próprio: Neuci Facci

O quanto um antigo prédio público é valorizado por sua população a ponto de resolver poupa-lo da destruição, de ser colocado abaixo?

O tombamento é uma medida tomada pelo poder público para preservar o patrimônio histórico e cultural de uma cidade, estado ou país. Nestes casos, pelo menos algumas características do objeto devem ser preservadas, independente dos avanços tecnológicos, ambientais e arquitetônicos por que passe aquele local ou objeto. Patrimônio histórico é todo objeto em que seu conteúdo tem uma função histórica em uma cidade, independente do tempo de existência. Os fatos determinantes são o conteúdo e a importância do objeto, que pode ser uma praça, uma escultura, uma residência, a fachada de um imóvel e até mesmo uma manifestação artística. http://www.maringacvb.com.br/artigosVer.php?artigo_id=706&id=1. Acesso 06/11/2007.

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Claro, o debate não parou por aí. Em jornais, internet, nas ruas, a discussão

continua. No evento chamado ENTECA 2007 – VI Encontro Tecnológico de

Engenharia Civil e Arquitetura, dois trabalhos chamaram a atenção de quem se

interessou pelo debate do tombamento: o Código de posturas e obras de 1959 e as

A Secretaria de Estado da Cultura determinou a abertura de processo de tombamento histórico do Edifício da Estação Rodoviária Américo Dias Ferraz (a antiga rodoviária). A medida foi tomada em atendimento à Promotoria do Meio Ambiente de Maringá, que solicitou ao Estado um estudo sobre a possibilidade de incluir o prédio no patrimônio histórico paranaense.

Com a abertura do processo de tombamento, que vai ser conduzido pelo

Conselho Estadual de Patrimônio Histórico, o prédio passa a ser protegido por lei. Isso impede a demolição da estrutura para a reutilização na área, como a Prefeitura de Maringá apontou ser a solução mais inteligente para a cidade e para os proprietários do imóvel.

A arquiteta e coordenadora do Patrimônio Cultural da Secretaria da Cultura,

Rosina Parchen, diz que o pedido de abertura do processo de tombamento histórico recebido pelo Estado veio acompanhado de um abaixo assinado e de uma ampla documentação. "Diria que veio com 60% da informação necessária para a condução do processo de tombamento", disse.

Rosina explicou que é difícil delimitar qual vai ser o tempo necessário para a conclusão do processo, mas indicou que esta situação vai se prolongar por pelo menos quatro meses. Segundo a coordenadora do Patrimônio Cultural, a promotoria e a prefeitura já foram notificadas da abertura do processo.

No início da tarde de ontem, o prefeito Silvio Barros (sem partido) afirmou que ainda não havia sido informado sobre a questão. "Se for verdade, é lamentável, pois vai trazer um prejuízo muito grande para a cidade. Embora seja um prédio interessante e curioso, o que representa para a cidade hoje? Com aquele tipo de atividade que abrigava, é muito ruim para a nossa comunidade", considerou.

O síndico da antiga rodoviária, Hosine Salem, que entrega o cargo hoje à noite, durante assembléia, para a gerente de Patrimônio e Serviços da Secretaria Municipal dos Transportes, Rosa Maria Loureiro, comemorou a decisão da Secretaria de Estado da Cultura. "Não cabe a nós e nem à prefeitura decidir o que é de bem para a comunidade local. Este prédio já deveria ter sido tombado há muitos anos, conforme determinação da promotoria de Meio Ambiente. Fico feliz. Porque a cidade que não tem passado, não tem história."

Caso o prédio seja tombado, a responsabilidade pela conservação do local passa a ser dos proprietários.

http://200.189.113.39/mppr/noticiamp.nsf/9401e882a180c9bc03256d790046d022/b5a4107df0022635832572c200510f53?OpenDocument. Acesso 06/11/2007

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transformações do plano inicial de Maringá/Pr, de Fabíola Castelo de Souza Cordovil1.

Segundo a professora, este Cógido de Posturas e obras, pode ser considerado o primeiro

conjunto de lei urbanística para a cidade (lei 34/59).

Neste trabalho analisa-se o Código de Posturas e Obras de 1959 para Maringá

considerando-o como o primeiro conjunto de lei urbanística para a cidade. Ela estimula

e consolida a verticalização da área central e a expansão da malha urbana por meio da

anexação de novos loteamentos nas áreas limítrofes ao plano, permitindo a existência de

áreas vazias no interior do plano inicial. Ao mesmo tempo, a lei descaracterizava, em

vários aspectos, o traçado e os usos inicialmente propostos.

Outro estudo apresentado no mesmo evento (ENTECA – 2007): Estação

Rodoviária Américo Dias Ferraz: importância histórica e arquitetônica para Maringá-Pr.

realizado por Manuela Oliveira dos Santos2, José Henrique Rollo Gonçalves3 e Oigres

Leici Cordeiro de Macedo4. Foram sistematizadas informações sobre a Estação

Rodoviária Américo Dias Ferraz, de sua fundação, em 1962 até sua interdição em 2007.

Este:

Segundo os autores, as possibilidades de acessos permitidos em uma cidade

estão intimamente ligados ao desenvolvimento de uma cidade de frente pioneira. Dessa

1 Profa. MSc, Universidade Estadual de Maringá – Departamento de Arquitetura e Urbanismo, aluna de doutorado,Escola de Engenharia de São Carlos / USP – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. E-mail: [email protected]. 2 Aluna de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Maringá. E-mail: [email protected] 3 Prof. Ms., Universidade Estadual de Maringá - Departamento de História. E-mail: [email protected]. 4 Prof. Ms. , Universidade Estadual de Maringá - Departamento de Arquitetura e Urbanismo. E-mail: [email protected]

O texto ressalta seus aspectos tipológicos, descrevendo técnicas construtivas e materiais utilizados, compara a estação a outros edifícios do período e às idéias modernistas de que é signatária, sua importância como edificação histórica para a cidade de Maringá-PR e perspectivas de permanência. Traça um panorama histórico sobre as antigas estações que a antecederam, a estação do “Maringá Velho” e a estação na praça Napoleão Moreira da Silva, ambas na avenida Brasil. Apresenta desenhos arquitetônicos, fotos históricas, textos de jornais e revistas da época de sua fundação bem como os debates que envolveram seu possível tombamento como patrimônio histórico da cidade.

CD Encontro Tecnológico de Engenharia Civil e Arquitetura – 2007.

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forma, os “portões de entrada”, como rodoviária, aeroporto e ferroviária são

imprescindíveis. Na história da cidade estes edifícios marcam sua população como

referência histórica.

A Estação Rodoviária Américo Dias Ferraz foi a terceira a ser construída. A

primeira Rodoviária da cidade (Figura 1) foi erguida no Maringá Velho (próximo ao

Colégio Santa Cruz) antes da fundação do município em 1947. Construída em madeira,

atendeu durante alguns anos o grande contingente populacional que chegava à Maringá.

Em 1948, decidiu-se pela transferência devido a crescente demanda de viajantes.

Localizava-se na atual Praça Napoleão Moreira da Silva, na Av. Brasil, funcionando

durante toda a década de 50. O engenheiro Jorge de Macedo Vieira havia projetado

onde hoje se encontra o Fórum (REGO, 2001 p. 1573), mas não foi o que aconteceu.

No mandato do Prefeito Américo Dias Ferraz, em 1959, iniciou-se a obra da

nova rodoviária, inaugurada em 1962, levando seu nome. A conclusão da obra foi em

1963, na gestão do Prefeito João Paulino Vieira Filho. Nesta localização (entre a rua

Joubert de Carvalho e Av. Tamandaré), a rodoviária funcionou durante 35 anos.

Segundo a Revista Tradição ( nº 31, 1984), até as décadas de 1970 e 1980 era uma das

maiores do estado do Paraná, recebendo diariamente cerca de 6 mil passageiros.

Figura 1: Primeira Estação Rodoviária, no Maringá Velho

(fonte: <www.tudomaringa.com>)

Figura 2: Segunda Rodoviária na hoje Praça Napoleão Moreira da

Silva (fonte: <www.tudomaringa.com>)

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A rodoviária Américo Dias Ferraz foi reformada em 1984, recebendo uma

cobertura metálica.

A interdição Após a inauguração, em 1998, do Terminal Rodoviário Vereador Jamil Josepetti,

a estação Américo Dias passou a funcionar como um terminal intermunicipal destinado

a receber as linhas de ônibus metropolitanas com destino a Paiçandu, Sarandi,

Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, e Iguaraçu, com esse novo uso chegou a receber

até 22 mil pessoas por dia. (O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ, 13 de janeiro de

2007).

O debate sobre a precariedade do prédio da “Rodoviária Velha” e seus

habitantes (prostitutas, mendigos, lojas onde se vendiam mercadorias contrabandeadas,

etc) é diário. Nos jornais, nas praças, em programas de TV, na internet. Este debate

extrapolou os limites da cidade.

Na página da internet de Atalaia, cidade vizinha de Maringá, o seguinte

comentário:

A secretária Municipal da Cultura e presidente da Comissão de Preservação do Patrimônio Histórico de Maringá, Flor Duarte, ressaltou que todo o processo sobre o tombamento da rodoviária velha e a votação do parecer seguiu os trâmites legais. "Fizemos várias reuniões para tratar do assunto. Especialistas foram consultados. Os membros tiveram a oportunidade de estudar o caso e foi decidido não tombar o prédio." http://www.atalaia.pr.gov.br/visualiza.php?codigo=21524. Acesso em 06/11/2007.

Vocês viram várias fotografias das antigas rodoviárias de Maringá. Qual o valor que fotos assim têm para vocês? Como se guardam fotos de amigos e família? Fazem anotações (nomes, datas)? Tem alguma organização?

Figura 3: Rodoviária após a reforma de 1984 (fonte: Revista “Tradição” de 1984.

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O Prefeito de Maringá, Sílvio Magalhães Barros II jamais escondeu sua opinião

quanto ao destino da Rodoviária Velha: demolição. A decisão tomada pela prefeitura se

deu com a assinatura de um decreto que declara o Edifício Terminal Rodoviário

Américo Dias Ferraz de utilidade pública. Mas será que ser considerado como de

“utilidade pública” é o mesmo que tombamento, no sentido histórico-cultural ou qual

seria o sentido? A matéria editada pelo jornal O DIÁRIO de 10/11/2007, caderno A5,

deixa claro, segundo as palavras do assessor jurídico da Prefeitura de Maringá:

Ainda no O Diário: “Além do decreto de utilidade pública, o prefeito determinou

a abertura de processo licitatório até o dia 10 de dezembro para construção de um novo

empreendimento no local”.

Alguns podem dizer:

Mas, o que é urbanização?

URBANIZAÇÃO [De urbanizar + -ção.] Substantivo feminino. Urb. 1.Processo de criação ou de desenvolvimento de organismos urbanos segundo os princípios do urbanismo. 2.Conjunto dos trabalhos necessários para dotar uma área de infra-estrutura (p. ex., água, esgoto, gás, eletricidade) e/ou de serviços urbanos (p. ex., de transporte, de educação, de saúde). 3.Fenômeno caracterizado pela concentração cada vez mais densa de população em aglomerações de caráter urbano. (Dicionário Aurélio)

A medida que dá início ao processo de desapropriação do imóvel foi tomada porque tentativas anteriores voltadas à adesão de todos os proprietários para a demolição do prédio e construção de um novo empreendimento no local foram frustradas. Vamos fazer o empreendimento. Os proprietários que não aderirem, vão ser desapropriados”. (grifo nosso).

Afinal, é o fenômeno da urbanização!!!

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Chamamos de fenômeno da urbanização quando a população das cidades cresce

mais que as das zonas rurais.

Um país é considerado urbanizado quando sua população rural é ultrapassada

pela população urbana. Mesmo onde a população rural ultrapassa a urbana, as cidades

crescem naturalmente (crescimento vegetativo) ou por receber imigrantes. Esse aumento

natural da população urbana é chamado de crescimento urbano.

Urbanização e crescimento urbano estão relacionados e têm como

conseqüência o surgimento de metrópoles, áreas metropolitanas, megalópoles e

megacidades.

A hierarquia urbana dá-se pela influência de uma cidade sobre as outras. Nisto

temos a Hierarquia Urbana: os centros regionais, as metrópoles regionais e as

metrópoles nacionais.

Maringá é considerada um centro regional e recebe trabalhadores, estudantes,

comerciantes, etc de toda a região. Recebe migrantes e imigrantes. Sua população é

formada por um grande número de etnias. Muitos desses chegaram à Maringá pela

“Rodoviária Velha”. Maringá, agora, faz parte do mundo globalizado. Como está esta

cidade na atual temporalidade socioeconômica da sociedade brasileira?

Segundo Dalton Aureo Moro5:

5 Docente do Departamento de Geografia na Universidade Estadual de Maringá.

Segundo RIGOLIN ( 2002), as cidades são classificadas: - pelo número de habitantes; - pela variedade de serviços que oferecem; - pelo papel que desempenham como centros polarizadores, seja no próprio

país, seja em escala global. ALMEIDA, 2002, P. 154.

[...] articulada ao processo de globalização da economia mundial, fica evidente que Maringá e, por extensão, sua região, procuram emergir com todo o potencial de suas especificidades socieconômicas, articuladas com o global, mas sem, contudo, submergirem à homogeinização, portanto à dominação. É a face da competição entre os lugares, no quadro da globalização excludente. MORO, Dalton Aureo. Maringá espaço e tempo: ensaio de geografia urbana. P. 84

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Entende-se por Patrimônio cultural o conjunto de bens naturais, históricos e

artísticos com relevante valor local, regional, nacional ou internacional e que por essa

razão merecem proteção e classificação de mérito em listas especiais de ampla

divulgação.

Desde 1972 a UNESCO considerando que a destruição ou degradação de

qualquer um desses bens constitui uma perda irreparável para a Humanidade

estabeleceu uma Convenção, assinada pelos Estados-membros, e criou um Comitê do

Patrimônio Mundial. As funções essenciais do Comitê do Patrimônio Mundial são:

Afinal, o que é patrimônio cultural?

• identificar os bens de valor universal excepcional para inscrição na Lista do Patrimônio Mundial;

• zelar em conjunto com os países, onde se localizam os bens inscritos, pela Preservação dos mesmos;

• decidir quais entre esse bens devem inscrever-se na Lista do “Patrimônio em Perigo”;

• determinar meios e condições de utilização de recursos para salvaguarda dos bens de excepcional valor universal.

http://www.patrimoniocultural.org.br/ acesso em 06/11/2007.

Em sua cidade existem prédios, monumentos, objetos, considerados patrimônios históricos? Como são tratados? Você sabe se em sua cidade há um código de posturas e obras? Se houve planejamento para o crescimento da cidade? Se houve, ele é seguido?

Nossas escolas podem ser consideradas como patrimônio cultural? (Prédio, arquivos, fotos)? Elas fazem parte de nossa história?

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Os arquivos de nossas escolas, fotos, etc fazem parte da memória da comunidade

que ali trabalhou e estudou. Muitas dessas histórias estão hoje no arquivo permanente

(equivocadamente denominado “arquivo morto”). Existem várias formas de tratarmos

estes documentos e dialogarmos com eles.

Para ser usado deve receber tratamento arquivístico, a chamada organização e

classificação. Por meio delas se vê a entidade e as suas funções. A partir delas que são

produzidos os documentos.

Todos nós produzimos documentos. Na esfera pública, a estrutura administrativa

e burocracia exigem a preservação dos documentos porque a comunidade tem direitos

sobre esses documentos. No entanto não se discutirá neste texto o arquivo em si mesmo.

De forma pontual iniciaremos a reflexão tendo por objeto o patrimônio cultural. Mas

daí, uma questão: qual o interesse sobre eles? Por que nos importarmos com eles?

Nascido em Denguin, em 1930. Ingressa na faculdade de Letras em 1951. Em 1954 gradua-se em Filosofia e torna-se professor no Liceu de Moulins, e porteriormente, assistente na Faculdade de Letras de Argel (1958-1960). Em 1961 é nomeado mestre de conferências na Faculdade de Letras de Lille. Ministra cursos sobre os clássicos da sociologia, Marx, Durkheim e Weber. em 1964 é Diretor de estudos na Escola Prática de altos Estudos em Ciências Sociais.

Desenvolve ao longo das décadas de 1960 a 1980 farta obra, contribuindo significativamente para a formação do pensamento sociológico do século XX. Na década de 1970 estende sua atividade docente a importantes instituições estrangeiras, como as universidades de Harvard e Chicago e o Instituto Max Planck de Berlim. Em 1982 ministra sua aula inaugural ( Lições de Aula) no Collège de France (instituição que três anos mais tarde se associa ao Centro de Sociologia Européia), propondo uma "Sociologia da Sociologia", constituída de um olhar crítico sobre a formação do sociólogo como censor e detentor de um discurso de verdade sobre o mundo social. Neste sentindo, esta aula inaugural encontra-se com a ministrada por Barthes (A aula) e Foucault (A Ordem do Discurso), privilegiando a discussão acerca do saber acadêmico.

É consagrado Doutor 'honoris causa' das universidades Livre de Berlim

É consagrado Doutor 'honoris causa' das universidades Livre de Berlim (1989), Johann-Wolfgang-Goethe de Frankfurt (1996) e Atenas (1996). Morre em Paris, em 23 de janeiro de 2002, depois de finalizar um curso acerca de sua própria produção acadêmica, que servirá de fundamento ao seu último livro, Esboço de auto-análise. Adaptado da Revista Educação e http://pt.wikipedia.org/wiki/bourdieu - acessado em 20/11/2007. .

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Para Bourdieu os valores não decorrem de uma natureza humana universal; são

construções sociais. O que o mundo social fez, o mundo social pode desfazer.

Para conhecer melhor Bourdieu:

Texto 1 O habitus “O princípio da ação histórica, tanto do artista, como do erudito ou do governante como a do operário ou do pequeno funcionário, não é algo que se configura socialmente como um objeto constituído na exterioridade. Não reside nem na consciência nem nas coisas, mas na relação entre dois estados do social, isto é, entre a história objetivada nas coisas sob a forma de instituições e a história encarnada nos corpos sob a forma desse sistema de disposições que eu chamo de habitus. O corpo está no mundo social, e o mundo social está no corpo. E a incorporação do social, realizada pela aprendizagem, é o fundamento da presença do mundo social, que supõe a ação socialmente bem-sucedida e a experiência ordinária desse mundo como evidentes” (Leçon sur la Leçon, Paris: Lês Éditions de Minuit, 1982, pp. 37-38). Revista Educação. Edição especial: biblioteca do professor. Bourdieu pensa a educação. P. 70.

Texto 2 O ponto de vista

“O sociólogo não pode ignorar que é próprio de seu ponto de vista ser um ponto de vista. Ele não pode re-produzir o ponto de vista de seu objeto, e constituí-lo como tal, re-situando-o no espaço social, senão a partir deste ponto de vista singular (e, num sentido, muito privilegiado), onde deve se colocar para estar pronto a assumir (em pensamento) todos os pontos de vista possíveis. E é somente à medida que ele é capaz de se objetivar a si mesmo que pode, ficando no lugar que é inexoralmente destinado no mundo social, transportar-se em pensamento ao lugar onde se encontra seu objeto (que é também, ao mesmo tempo, em uma certa medida, um alter ego) e tomar assim seu ponto de vista, isto é, compreender que se estivesse, como se diz, no seu lugar, ele seria e pensaria, sem dúvida, como ele”. (A Miséria do Mundo p. 713).

Revista Educação. Edição especial: biblioteca do professor. Bourdieu pensa a educação. P. 70.

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Texto 3 O Poder simbólico “Os ‘sistemas simbólicos”, como instrumentos de conhecimento e comunicação, só podem exercer um poder estruturante porque são estruturados. O poder simbólico é um poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnoseológica: o sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social) supõe aquilo que Durkheim chama o conformismo lógico, quer dizer, ‘uma concepção homogênia do tempo, do espaço do número, da causa, que torna possível a concordância entre as inteligências’. Durkheim – ou, depois dele, Rakcliffe-Brown, que faz assentar a ‘solidariedade social’, no facto de participar num sistema simbólico – tem o mérito de designar explicitamente a função social (no sentido do estruturo-funcionalismo) do simbolismo, autêntica função política que não se reduz à função de comunicação dos estruturalistas. Os símbolos são instrumentos por excelência da ‘integração social’: enquanto instrumentos de conhecimento e comunicação [...], eles tornam possível o consensus acerca do sentido do mundo social que contribui fundamentalmente para a reprodução da ordem social: a integração ‘lógica’ é a condição da integração ‘moral’. Bourdieu. O poder simbólico, p. 10.

Texto 4 As produções simbólicas como instrumentos de dominação. A tradição marxista privilegia as funções políticas dos “sistemas simbólicos” em detrimento da sua estrutura lógica e da sua função gnoseológica (ainda que Engels fale de “expressão sistemática” a respeito do direito); este funcionalismo – que nada tem de comum com o estruturo-funcionalismo à maneira de Durkheim ou de Radcliffe-Brown – explica as produções simbólicas relacionando-as com os interesses da classe dominante. As ideologias, por oposição ao mito, produto colectivo e colectivamente apropriado, servem interesses particulares que tendem a apresentar como interesses universais, comuns ao conjunto do grupo. A cultura dominante contribui para a integração real da classe dominante (assegurando uma comunicação imediata entre todos os seus membros e distinguindo-os das outras classes); para a integração fictícia da sociedade no seu conjunto, portanto, à desmobilização (falsa consciência) das classes dominadas; para a legitimação da ordem estabelecida por meio do estabelecimento das distinções (hierarquias) e para a legitimação da ordem estabelecida por meio do estabelecimento das distinções (hierarquias) e para a legitimação dessas distinções. Este efeito ideológico, produ-lo a cultura dominante dissimulando a função de divisão na função de comunicação: a cultura que une (intermediário de comunicação) é também a cultura que separa (instrumento de distinção) e que legitima as distinções compelindo todas as culturas (designadas como subculturas) a definirem-se pela sua distância em relação à cultura dominante. Bourdieu. O poder simbólico, p. 10 e 11.

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E quanto a “Rodoviária Velha” de Maringá? Tombar ou não tombar? Vocês têm

argumentos e ainda podem pesquisar mais sobre a questão utilizando a internet em sites

de busca. Que tal realizar um “júri simulado” para discutir a questão com a turma?

Afinal, somos livres para pensar e apresentar nossos argumentos. E claro, amadurecer

com a discussão. Divirtam-se!!!

Texto 5 Síntese [...] É enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e de conhecimento que os “sistemas simbólicos” cumprem a sua função política de instrumentos de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação de uma classe sobre outra (violência simbólica) dando o reforço da sua própria força às relações de força que as fundamentam e contribuindo assim, segundo a expressão de Weber, para a “domesticação dos dominados”. Bordieu. O poder simbólico, p. 11.

Baseando-se nos textos de 1 a 5, onde se discute o habitus, a construção do ponto de vista, o poder e violência simbólica, discuta com seus colegas de sala: como podemos perceber isto em nosso dia-a-dia? Vocês concordam com Bourdieu? Têm outra explicação, argumentos sobre o desenvolvimento da sociedade?

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REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Lúcia Marina Alves de; RIGOLIN, Tércio Barbosa. Geografia. Série Novo Ensino Médio. Volume único. São Paulo, Editora Ática, 2002, p. 154. BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos Permanentes: tratamento documental. S.P. T.A. Queiroz Ed. 1991. BORDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Ed. Bertrand. Brasil, 1998. CATANI, Denise Bárbara. Excertos bourdieusianos: um panorama de temas da obra do autor e suas relações possíveis com o campo educacional. Revista Educação. Edição Especial: Biblioteca do Professor. São Paulo: Ed. Segmento, 2007, p. 70. GATTI, Murilo. Prefeito declara rodoviária velha de utilidade pública. O diário do norte do Paraná. Ano 34, número 10.360, p. A5, 10 nov. 2007. LOPES, André Porto Ancona. Organização Arquivística de Documentos Imagéticos e Pesquisa Histórica. Revista História e Cultura: V Encontro Regional de História. Ponta Grossa, 1997. p. 389-396. MANIQUE, Antonio Pedro & PROENÇA, Maria Cândida. Didáctica da História: Patrimônio e História Local. Lisboa: Texto Editora, 1994. PARANÁ. Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná. SEED, 2006. _____. Arquivo Público do Paraná. Classificação e descrição dos fundos. _____. Manual Folhas – Secretaria de Estado de Educação do Paraná/ SEED, 2006. REVISTA EDUCAÇÃO. Edição especial: Biblioteca do Professor. Bourdieu pensa a educação. São Paulo: Ed. Segmento, 2007. RONDINELLI, Rosely Curi. Gerenciamento arquivístico de documentos eletrônicos: uma abordagem teórica da diplomática arquivística contemporânea. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002, 160p. DOCUMENTOS CONSULTADOS ONLINE BOURDIEU. (?) Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/bourdieu. Acesso em 20/nov./2007. GATTI, Murilo. Estado abre processo para tombar rodoviária velha. O Diário. 19/1br./2007. Disponível em : <http://200.189.113.39/mppr/noticiamp.nsf/9401e882a180c9bc03256d790046d022/b5a4107df0022635832572c200510f53?OpenDocument>. Acesso 06/nov/2007. MASSALI, Fábio. Entenda o que é tombamento. O Diário. 06/ago./2005. Disponível em : <http://www.maringacvb.com.br/artigosVer.php?artigo_id=706&id=1>. Acesso 06/nov./2007. PROMOTORIA investiga sobre a rodoviária. O Diário. 20/jun./2007. Disponível em <http://www.atalaia.pr.gov.br/visualiza.php?codigo=21524>. Acesso em 06/11/2007. TIRAPELI, Percival.Patrimônio Cultural. UNESP. (?). Disponível em http://www.patrimoniocultural.org.br/. Acesso em 06/nov./2007. CD ENCONTRO TECNOLÓGICO DE ENGENHARIA CIVIL E ARQUITETURA. (6.: 2007 out. 23-26: Maringá, PR). Universidade Estadual de Maringá.

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IMAGENS FACCI, Neuci. Acervo próprio. FREGADOLLI, Jorge. Revista Tradição, nº 31, maio de 1984. OLIVEIRA, Klibson Wesley de. Arquivo de fotos de Maringá no site www.tudomaringa.com, acesso em 06/nov./2007.