secretaria de estado da educaÇÃo · atualmente da função de gestor escolar, ... o funcionário...

30

Upload: vananh

Post on 03-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DO GESTOR ESCOLAR DA

REDE PÚBLICA NA PERMISSÃO DO EXERCÍCIO DA AUTONOMIA

DO ALUNO ADOLESCENTE

JOARES MAURÍCIO DA ROCHA

2012

2

RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DO GESTOR ESCOLAR DA

REDE PÚBLICA NA PERMISSÃO DO EXERCÍCIO DA AUTONOMIA

DO ALUNO ADOLESCENTE

Autor: Joarês Maurício da Rocha1

Orientador: Maurício Cesar Vitória Fagundes2

RESUMO:

Esse trabalho objetivou estudar a responsabilização do Estado e do Gestor da Rede Pública Estadual acerca do exercício da autonomia dos alunos adolescentes. Dessa forma, ofertará material bibliográfico com fundamento científico e metodológico às questões hodiernas da responsabilidade do gestor. Assim, esse material torna-se subsidio para o profissional da educação ocupante dessa função, afastando as diversas opiniões e interpretações do senso comum acerca do caso em comento. Palavras - chaves: Gestor Escolar – Autonomia –Adolescente – Estado –Responsabilidades – Jurisprudências.

1 - Professor de Educação Física CONFEF PR 003183 G – Gestor Escolar desde 2006 ;

2 - Mestre em Educação, Pedagogia, Universidade Federal do Paraná, professor no curso de pedagogia.

3

INTRODUÇÃO

Esse trabalho é a complementação do Projeto de Intervenção

Pedagógica, dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE,

oferecido pela Secretaria de Estado da Educação, o qual este concluinte

participou na qualidade de Gestor de Escola Pública.

Na ocasião, fez-se um estudo comparativo do EXERCÍCIO DA

AUTONOMIA DO ADOLESCENTE X RENDIMENTO ESCOLAR, o qual teve como

conclusão a não influência no resultado final no aproveitamento escolar do

alunado quando esse pôde exercer sua autonomia. Na investigação supra, a

delimitação da autonomia deu-se dentro de um conceito filosófico e pedagógico,

que abordou a questão da legalidade somente para os direitos e deveres do

aluno, constantes na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no

Estatuto da Criança de do adolescente. Utilizou-se da norma reguladora como

forma de provocar um tensionamento heteronômico necessário, para o

nascimento e fortalecimento da autonomia do grupo em estudo.

Essa construção antagônica com a utilização da norma, deu-se de

maneira informativa, levando ao conhecimento dos alunos as possíveis

conseqüências do uso da liberdade de poder ir e vir.

Durante o desenvolvimento dos trabalhos, várias situações foram

invocadas quanto a legalidade da postura comissiva do gestor, porém não foi

objeto aprofundamento naquele momento. Desses vários questionamentos

levantaram uma série de respostas acerca das responsabilidades do gestor na

liberalidade do exercício da autonomia do aluno adolescente.

Vários comentários implicativos foram feitos, porém todos advindos do

senso comum, sem nenhuma fundamentação teórica que apresentasse a devida

responsabilidade legal ao gestor à sua prática.

Como acadêmico de Direito e ocupante de cargo público de Professor,

atualmente da função de Gestor Escolar, o presente trabalho é uma busca de

respostas às indagações feitas à época do estudo em comento, bem como,

oferecer subsídios para a Categoria de profissionais da Educação, estabelecendo

limites legais ao gestor nas suas ações e responsabilidades sobre os

adolescentes sob sua guarda em horário escolar.

4

GESTOR ESCOLAR:

Características e atribuições

O Gestor Escolar é a pessoa física, que representa o Estado, mantenedor

da rede pública de educação através da Secretaria de Estado da Educação.

Esse profissional deve ser pessoa participativa, crente e atuante dos

princípios da Gestão Democrática, incumbido da relevância do seu papel ante a

reprodução das políticas públicas da educação, mormente às mais especificas do

governo do Estado, no que tange aos assuntos pedagógicos e na ação

democrática e transparente de seus atos.

O Gestor escolar dentre outras atribuições tem a função de comandar os

grupos de trabalho dos vários segmentos na escola. Dele partirão os comandos

àqueles que compõem a comunidade escolar, operacionalizará os recursos

estaduais e federais destinados a projetos educacionais, bem como será ele o

guardião na aplicação de normas que regulam as relações sociais no dia-a-dia da

instituição de ensino. Esse profissional, além de conhecimento aprofundado das

teorias filosóficas e metodológicas da educação e da administração, deve também

ter noção de um arcabouço normativo para poder transitar pelas várias áreas do

direito, com maior segurança e certeza de suas práticas. Nessa gama de pessoas

e profissionais sob seu comando, o saber do direito do trabalho, direito

constitucional, direito administrativo, Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional e especificamente sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente,

deverão ser imprescindíveis à boa condução de todos consigo, com o Estado e

principalmente com seus e os demais pares.

Via de Regra o Gestor escolar é ocupante do cargo de professor. Essa

não é condição sine qua non para quem deseja assumir a função, pois a lei que

trata do processo de escolha permite outros profissionais da educação que

possuam licenciatura a concorrer no processo eletivo.

Da Assunção à Função.

Para ser investido na função de Gestor Escolar na rede Pública Estadual,

o funcionário público deverá pertencer ao Quadro de funcionários estatutários,

5

possuir curso superior e ser submetido a um processo de consulta da

Comunidade Escolar.

Embora pareça óbvio o requisito do funcionário ser estatutário, há hoje no

quadro de funcionários nas escolas paranaenses outros dois tipos de vínculos

empregatícios. Os funcionários contratados pela Paranaeducação – regidos pela

CLT (DEL 5452/43) e os contratados pelo PSS – Processo de Seleção

Simplificada, regidos pelo regime especial com fundamento no art. 37 – IX da CF

e da Lei 8745/1993.

Os requisitos acima mencionados tem previsão no art. 1º da Lei

14231/2003 e no art. 10 da RESOLUÇÃO N.º 4122/2011 – GS/SEED.

“Art. 1°. A designação de Diretores e Diretores Auxiliares da Rede

Estadual de Educação Básica do Paraná é competência do Poder

Executivo, a qual fica delegada, nos termos desta lei, à Comunidade

Escolar, mediante consulta a ser realizada simultaneamente em todos os

Estabelecimentos de Ensino. Lei 14231/2003

“Art. 10. São requisitos para o registro da chapa:

I – pertencer ao Quadro Próprio do Magistério, ao Quadro Único de

Pessoal, ao Quadro Próprio do Poder Executivo e ou QFEB ( Quadro de

Funcionários da Educação Básica ), em conformidade com a Lei

Complementar nº 123 – 09/09/2008, artigo 32.

II – possuir curso superior com licenciatura ou, quando se

tratar de Estabelecimento de Ensino que ministre apenas educação

infantil e as séries iniciais do ensino fundamental, pelo menos o curso

formação de docente em nível médio; RESOLUÇÃO N.º 4122/2011

– GS/SEED”

A legislação atual preocupou somente em esclarecer os requisitos para a

candidatura do funcionário à direção, bem como, os procedimentos para a

consecução do pleito, porém olvidou-se em requerer competências básicas que o

candidato deveria possuir para lograr êxito na sua tarefa futura.

Do conhecimento necessário para a função

6

Como já consabido, a legislação tratou de regularizar os critérios de

candidatura e do processo eleitoral, no entanto, em momento algum faz menção

quanto às competências necessárias do gestor, tampouco tratou de informar

sobre suas responsabilidades futuras.

Desta forma, o gestor escolar ao ser eleito irá desenvolver sua função

apoiado basicamente no empirismo e numas pequenas reuniões que a

mantenedora propiciará para versar principalmente sobre o uso do dinheiro

público, programas e projetos que as escolas podem e devem oferecer.

Dessa nova atribuição, o eleito deveria ter curso de formação acerca dos

ramos do direito que permeiam as relações do cotidiano escolar.

No que concerne ao Direito Trabalhista, o gestor deverá saber quem e

quais são os vínculos dos trabalhadores da sua escola. Quais as necessidades

básicas legais para cada um no desempenho das suas funções, tais como escala

de trabalho, intervalo inter e intrajornada, uso de EPI’s, etc.

No Direito Civil, saber os direitos e deveres de pais de alunos

absolutamente incapazes, dos relativamente incapazes e o tratamento a ser

dispensando aos capazes de exercerem pessoalmente os atos da vida civil, e

nas demais áreas do Direito as quais está o gestor e seus pares sujeitos, quando

do exercício de suas funções. E aqui faz-se menção o Estatuto dos Servidores

Funcionários Civis do Paraná (lei 6174/70) e Estatuto do Magistério (LC 07/77),

pois dessas legislações específicas ao funcionalismo público, advirão as

vantagens, bem como, as sanções das possíveis faltas a serem cometidas.

Cabe enfatizar que a Secretaria de Estado da Educação do Paraná conta

com o serviço de Assessoria Jurídica que responde as dúvidas do gestor, no

entanto, para agir de imediato nas mais diversas situações inusitadas no cotidiano

escolar, o conhecimento mínimo é imperioso.

Dessa desinformação redundará em gestores escolares sem o devido

preparo para o exercício da função. Consoante a esse entendimento expressam

(CHRISPINHO e CHRISPINO, 2008, p 11):

“Os educadores,quando muito, tiveram algumas aulas de LDB (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional), com forte viés ideológico e

pouca visão cotidiana. Os gestores, na sua maioria de escolas públicas,

resultam de escolhas políticas ou são oriundos de processos de

7

indicação pelos pares e, em geral, são escolhidos por características que

não consideram a capacidade de gestão ou mesmo o conhecimento

específico para a direção de uma unidade escolar com vista a

resultados”. (CHRISPINHO e CHRISPINO, 2008, p 11):

Como já descrito no item que tratou no das Considerações históricas da

função de Gestor na Rede Estadual de Educação, a tentativa de aferir

competências técnicas mínimas no candidato ao cargo redundou em fracasso,

visto que algumas lideranças da comunidade não lograram êxito na primeira

etapa do processo. No entanto, a tentativa foi válida, e talvez se houvesse uma

inversão, qual seja a eleição do líder da comunidade e posterior treinamento e

capacitação seria o modelo a ser seguido como preparação dos gestores da

escola pública.

Não há no Brasil doutrina que trate do tema específico. (CHRISPINHO e

CHRISPINO, 2008, p 11), salientam sobre a importância do tratamento desse

assunto, qual seja o da responsabilidade civil dos gestores.

“Este assunto é de tal ordem importância que já é possível encontrar, na

Argentina, literatura específica sobre a responsabilidade civil dos

professores, dos gestores e dos estabelecimentos de ensino

(SAGARNA, 1996), bem comona França (THOMAS-BION; ROQUE,

2004; MALLET; LEFEBVRE, 2002), o que prova que já é tempo de

sistematizar, no Brasil, tal matéria”. (CHRISPINHO e CHRISPINO, 2008,

p 11):

Diante do que expressam e lecionam os autores, essa é a tônica pela

qual deve ser desenvolvida a capacitação dos gestores escolares, vez que a

comunidade como um todo, e aqui se insere a comunidade escolar está mais

ávida a buscar seus direitos, mesmo que em muitas vezes não consigam

enxergar os deveres deles inerentes, e para isso deve haver um conhecimento

ainda que básico do gestor para assim evitar demandas contra o Estado e para si

mesmo

8

AUTONOMIA

A Positivação no Ordenamento Jurídico

No Brasil, estas garantias estão previstas no art. 5º da Constituição

Federal, que trata DOS DIREITOS INDIVIDUAIS, donde se pode inferir o

exercício da liberdade no seu sentido externo, chamada de liberdade objetiva

(liberdade de fazer, liberdade de atuar), tem um conteúdo que se manifesta sob

vários aspectos em função da multiplicidade de objetos da atividade humana nas

mais variadas formas. Destinaremos especial atenção nesse capítulo ao exercício

da autonomia, ou seja, ir, vir e estar.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (CF 88)

A garantia do exercício da Autonomia (ir vir e estar) aos alunos

adolescentes tem ratificação nos artigos 15 e 16 – I do Estatuto da Criança e do

adolescente, Lei 8069/90.

“Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;”

Essa garantia ao adolescente não é plena, mesmo porque ninguém o é

quando se trata de autonomia, vez que há restrições legais e sociais para esse

direito de ir e vir. Nesse entendimento se expressa (Barroso, 2001)

“Está etimologicamente ligado à idéia de autogoverno, isto é, à faculdade

que os indivíduos (ou as organizações) têm de se regerem por regras

próprias. Contudo, se a autonomia pressupõe a liberdade (e capacidade)

de decidir, ela não se confunde com a “independência”. A autonomia é

um conceito relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de

alguma coisa), pelo que a sua ação exerce sempre num contexto de

9

interdependência e num sistema de relações. “A autonomia é também

um conceito que exprime sempre certo grau de relatividade: somos mais,

ou menos, autônomos; podemos ser autônomos em relação a umas

coisas e não o ser em relação a outras”. (BARROSO, 2001, p.16).

(Lorieri e Rios, 2004,p16), corroboram com o exposto por Barroso e

assim lecionan:

“...se constitui em relação com os outros e, portanto, é inadequado

confundi-la com independência ou com ausência de responsabilidade.

Autonomia implica liberdade, que não é algo que isola os indivíduos,

mas, ao contrário, aponta para o que se chama interdependência.

Especificamente para o adolescente, há de se ater que se trata de um

indivíduo em desenvolvimento, civilmente incapaz. Muito embora alguns já gozem

da credibilidade da família para poderem se locomover sozinhos no seu dia-a-dia,

inclusive para irem e virem da escola e alguns até para irem em locais e horários

impróprios à sua faixa etária.

A Aplicabilidade no Cotidiano Escolar

No cotidiano da escola pública estadual, tem se ingerência das

mantenedoras, as Secretarias de Estado da Educação, que dentro de suas

atribuições determinarão as proposta pedagógicas das suas escolas. No que

tange ao Regimento Escolar, a mantenedora repassa orientações para que esse

documento normatizador das relações da escola esteja sempre em consonância

com o Estatuto da Criança e do adolescente, Lei 8069/90, Constituição Federal e

a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB e demais legislações

pertinentes aos direitos e deveres dos alunos.

Dessas garantias, há a possibilidade do ingresso do aluno à escola a

qualquer época do ano e depois de matriculado ao horário que lhe convenha se

apresentar para assistir às aulas.

Como se depreende da legislação mencionada, é um direito do aluno o

acesso à educação, e caso o gestor adote uma postura organizacional de limite

10

de horário de entrada na escola, estará ele e o Estado contrariando o direito do

aluno ao acesso à educação.

Da permissão legal, que dá o aluno o direito de vir e estar na escola ao

tempo que julgue necessário, nasce a problemática sobre a concessão do mesmo

direito dele poder ir ao tempo que lhe convier. No entanto, tal analogia não pode

ser aplicada, vez que o aluno menor quando já se encontra dentro das

dependências da escola, o gestor tem a função de guarda do adolescente

durante o tempo em durar a sessão de aulas. Ou seja, o gestor é naquele período

de permanência do adolescente na instituição de ensino, um “tutor”, que assume

a função do Estado de proteção e ameaça de lesão aos seus tutelados.

(Stoco e Gonçalves apud CHRISPINHO e CHRISPINO, 2008, p 13)

enfatizam:

[...] existe com relação aos professores a mesma idéia que influi na responsabilidade dos pais, com a diferença de que a responsabilidade dos educadores é vinculada a um dever de vigilância pura e simples, ao passo que aos pais incumbe não só a vigilância, como a educação.

Acerca disso, (Nicolau e Nicolau apud CHRISPINHO e CHRISPINO,

2008, p 11) escreve:

“No convívio escolar o aluno deve ser protegido para que não sofra

qualquer dano, seja de ordem moral ou material e esta proteção tem que

ser a preocupação maior da própria instituição que o abriga. [...].

Considerando as lições colacionadas, verifica-se a obrigatoriedade do

Gestor no cuidado dos seus alunos.

A LEGISLAÇAO NO PROCESSO EDUCACIONAL.

Direitos e Deveres Dos Alunos

Os deveres e direitos nos alunos estão expressos na escola no Regimento

Escolar. O Regimento Escolar é um conjunto de normas e regras que regulam o

funcionamento de uma escola, bem como dos direitos e deveres de todos que a

compõem. Como toda norma que tem função precípua regular as relações

sociais, o Regimento normatiza a relação do aluno com seus pares com

11

professores, funcionários e direção.

Via de Regra, os Regimentos Escolares é uma reprodução dos Direitos e

Garantias constitucionais. Porém, a que merece destaque no presente trabalho é

o DOS DIREITOS INDIVIDUAIS que estão previstos no art. 5º da Constituição

Federal e noutras fontes infraconstitucionais específicas à faixa etária, e dessa

forma merece recepção no documento interno da escola.

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8069/90

Capítulo IV

Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao

pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da

cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às

instâncias escolares superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;

V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

A aplicação do disposto no Regimento Escolar com substância na

Legislação Constitucional e Infraconstitucional cabe ao Diretor da Instituição. Essa

ação deve ser feita de forma conjunta com o Conselho Escolar, pois assim

garante uma análise democrática das possíveis infrações aos direitos e deveres

da comunidade escolar.

Da legislação apresentada, é Dever do Estado e da Família a oferta da

educação. No entanto, para o aluno continua sendo um direito subjetivo, que em

sendo direito lhe faculta usufruí-lo ou não, não restando pra si(aluno) qualquer

sanção se por acaso não queira frequentar a escola

12

O dever do Estado de guarda e vigilância do aluno adolescente

O Estado ao receber o aluno estudante na escola, fica investido do dever

de vigilância e de guarda dos mesmos, devendo preservar a integridade física e

moral, tendo a obrigação de empregar meios disponíveis para evitar quaisquer

ofensa àqueles que mantém sob sua guarda.

Nessa tarefa, o diretor e todos os funcionários, representantes do Estado

na escola deverão diligenciar todos os esforços a fim de lograr êxito. Tal missão

tem previsão nos artigos 70 e 73 da ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

– Lei 8069/90.

“Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação

dos direitos da criança e do adolescente.

Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará em

responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos termos desta Lei.”

Cabe salientar que qualquer ato lesivo ao aluno quando este esteja na

escola da rede pública, ensejará a responsabilidade do Estado e do Gestor.

(DAL COL, 2004, p. 78) comenta sobre a responsabilidade civil da escola e

atenta:

“O aluno menor de idade pode ( e deve) ser impedido de deixar as dependências da escola sem a companhia dos pais ou responsável, e permanecer sob guarda até sua entrega efetiva a quem de direito, ao final da aula.”

Dentro desse mesmo entendimento a Secretaria de Educação do Estado

de São Paulo, em seu Manual de Proteção Escolar e promoção da Cidadania

orienta:

“Também cabe à escola proteger os estudantes durante o período de permanência nos prédios escolares e em horário de aula. Essa responsabilidade sobre os alunos abrange igualmente o caso de atividades complementares, regulares ou extraordinárias, dentro ou fora da escola [...]”

Resta assim incontroverso a responsabilidade do Gestor e do Estado sobre

os alunos quando presentes na escola ou em outras sessões extra classe.

13

O EXERCÍCIO DA AUTONOMIA DO ALUNO E AS CONSEQUÊNCIAS EM

CASO DE DANO

Responsabilidades

Como já expresso anteriormente, a lesão ao aluno no período em que esse

encontre ou deva se encontrar na escola é de responsabilidade do Estado.

Ressalta-se que quando se diz no período em que o aluno deva estar na escola,

não faz menção somente ao fato do aluno ter estado na escola e ser dispensado

ou autorizado pela direção ou equipe pedagógica a se ausentar antes do término

do horário regulamentar das 5 horas aulas diárias.

No caso do aluno se ausentar utilizando-se de meios para imprimir fuga da

escola caracteriza-se também como responsabilidade do Estado. Ou seja, deve o

gestor imprimir o poder/dever de vigilância.

No presente estudo, busca-se a responsabilização do Estado e do Gestor

quando da permissão do uso da autonomia do aluno adolescente, que, muito

embora o próprio Estatuto da Criança e do adolescente e aqui diga-se Estado

Legislador no seu artigo 83 faça distinção entre a autonomia da criança e do

adolescente. No entanto, para a responsabilização do gestor quando da

permissão do exercício da autonomia ou até mesmo da fuga do adolescente da

escola não haverá qualquer diferença a faixa etária de seu aluno. É óbvio que

para o aluno maior e capaz essa responsabilização não se aplica.

Na atitude comissiva do Gestor Escolar em permitir ao aluno adolescente

que se ausente da escola no momento que julgar necessário, e em caso de dano

ao aluno, estará o Gestor e o Estado assumindo o risco de responder civilmente

às reparações aos prejuízos advindos de tal conduta.

Ao mencionar dano no parágrafo acima, essa palavra pode encontrar

várias significações práticas no cotidiano da escolar, muitas vezes impossíveis de

resolução por parte do Gestor e que ensejariam sua responsabilização e do

Estado. Por exemplo: a saída antecipada dos alunos por falta de professores.

14

Nessa situação o fato é danoso pela falta de oferta dos duzentos dias letivos

previstos na Lei 9394/96:

“Art. 24 . A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será

organizada de acordo com as seguintes regras comuns:

I – a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas

por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o

tempo reservado aos exames finais, quando houver;”

Irá caracterizar um dano quanto a omissão do Estado na oferta dos dias e

horas letivos obrigatórios em Lei.

Da Responsabilidade objetiva do Estado.

Historicidade do Instituto

Nas Constituições de 1824 e de 1891, os funcionários públicos eram direta

e exclusivamente responsáveis por prejuízos decorrentes de omissão ou abuso

no exercício de seus cargos. Não cabia ao Estado qualquer responsabilidade

perante terceiros prejudicados por atos de seus servidores. Imperava a teoria da

irresponsabilidade do Estado por atos de seus servidores.

Essa omissão do Estado está retratada em (MEIRELLES, 2010, p. 628):

“Sob o domínio dos Governos absolutos negou-se a responsabilidade do

Estado, secularizada na regra inglesa da infalibilidade real – “The King

can do no wrong” -, extensiva aos seus representantes; sob a influência

do liberalismo, assemelhou-se o Estado ao indivíduo, para que pudesse

ser responsabilizado pelo atos culposos de seus agentes...”

Essa postura estava expressa nas constituições:

"Art. 179, 29 – Os empregados públicos são estritamente responsáveis

pelos abusos e omissões praticados no exercício das suas funções, e

por não fazerem efetivamente responsáveis aos infratores". (CF 1824)

"Art. 82 – Os funcionários públicos são estritamente responsáveis pelos

abusos e omissões em que incorrerem no exercício de seus cargos,

assim como pela indulgência ou negligência em não responsabilizarem

efetivamente os seus subalternos. Parágrafo único – O funcionário

15

público obrigar-se-á por compromisso formal, no ato da posse, ao

desempenho dos seus deveres". (CF 1891)

Já nas constituições seguintes, a de 1934 e 1937, passou a vigorar o

instituto da responsabilidade solidária. O seja, as ações poderiam ser aforadas

contra o Estado, contra o servidor público, ou contra ambos, segundo o seu

critério de conveniência e oportunidade.

(JUNIOR, 2010, P. 27) assim leciona:

O art. 15, do CC/16 estabelecia a responsabilidade civil da administração

Pública, sob o regime de responsabilidade subjetiva, nos caso em que

enumerava. As Constituições de 1934 (art. 171) e de 1934(art.158)

reafirmavam essa tese.

"Art. 171 – Os funcionários públicos são responsáveis solidariamente

com a Fazenda nacional, estadual ou municipal, por quaisquer prejuízos

decorrentes de negligência, omissão ou abuso no exercício dos seus

cargos.

§ 1º - Na ação proposta contra a Fazenda pública, e fundada em lesão

praticada por funcionário, este será sempre citado como litisconsorte.

§ 2º - Executada a sentença contra a Fazenda, esta promoverá

execução contra o funcionário público". (CF 1934)

Art. 158 – Os funcionários públicos são responsáveis solidariamente com

a Fazenda Nacional, estadual ou municipal, por quaisquer prejuízos

decorrentes de negligência, omissão ou abuso no exercício dos seus

cargos". (CF 1937)

A responsabilidade direta do servidor, bem como a responsabilidade

solidária, deixou de existir a partir da Constituição Federal de 1946, que adotou-

se o princípio da responsabilidade em ação regressiva.

Na constituição de 1946 foi adotada a teoria da responsabilidade objetiva

do Estado.

16

(JUNIOR, 2010, p. 27) também se expressa acerca dessa mudança:

“Com o advento da Constituição Federal de 1946 art.194), foi instituída

no direito constitucional positivo brasileiro a responsabilidade objetiva da

administração pública, com base no risco administrativo.”

"Art. 194 – As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente

responsáveis pelos danos que os seus funcionários, nessa qualidade,

causem a terceiros.

Parágrafo único – Caber-lhes-á ação regressiva contra os funcionários

causadores do dano, quando tiver havido culpa destes

E desde então, nas constituições seguintes até a atual, houve somente

mudança no texto, porém já ratificado o instituto da Responsabilidade objetiva do

Estado. Houve porém, uma inovação na Constituição de 1988, onde passou a

responsabilizar também as pessoas de Direito Privado prestadores de serviços

público.

"Art. 105 – As pessoas jurídicas de direito público respondem pelos

danos que os seus funcionários, nessa qualidade, causem a terceiros.

Parágrafo único – Caberá ação regressiva contra o funcionário

responsável, nos caso de culpa ou dolo". (CF 67/69)

"Art. 37, § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito

privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que

seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o

direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa".

(CF/88)

Sobre a responsabilidade do Estado, pela atitude comissiva do Gestor

Escolar, (CAHALI, 1995, p. 414) escreve:

[...] mantendo o Estado, no desempenho da sua função social, áreas de

lazer, praças de esportes e piscinas com acesso permitido ao grande

público, sua responsabilidade por acidentes ocorridos nesses locais

17

poderá ser identificada nos casos de omissão de guarda, fiscalização e

vigilância de sua dependências.

A responsabilidade civil do Estado, por atos de seus agentes, é de natureza

objetiva, isto é, independe da comprovação de culpa. Para tal também,

independe da culpa subjetiva do agente, para a responsabilidade pública, isto é,

responsabilidade objetiva.

De acordo com (HARADA, 2000) esse instituto equilibra as forças entre o

cidadão comum e o Estado:

[...] o Estado dispõe de uma força infinitamente maior que o particular.

Aquele, além de privilégios e prerrogativas que o cidadão não possui,

dispõe de toda uma infra-estrutura material e pessoal para a

movimentação da máquina judiciária e de órgãos que devam atuar na

apuração da verdade processual. Se colocasse o cidadão em posição de

igualdade com o Estado, em uma relação jurídica processual,

evidentemente, haveria um desequilíbrio de tal ordem que

comprometeria a correta distribuição da justiça.

A doutrina da responsabilidade objetiva do Estado examina o tema sob o

prisma de três teorias objetivas: a teoria da culpa administrativa, a teoria do risco

administrativo e a teoria do risco integral, conforme preleciona Hely Lopes

Meirelles3.

Nesse estudo, versará a teoria do risco administrativo. Embora a atitude do

gestor possa ter significância de omissão (falta do dever de vigilância), não

significa a omissão do Estado em oferecê-lo, mas sim o seu servidor e

implementá-la.

Assim, o que caracterizará é o fato lesivo, qual seja dar ao adolescente a

permissão de se ausentar em horário de aula. Na existência de fato danoso e

injusto decorrente dessa omissão o Estado tem o dever de indenizar.

Sobre o exposto acima, leciona (MEIRELLES, 2010, p. 699)

“Na teoria da culpa administrativa exige-se a falta do serviço; na teoria

3 Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, Ed. Malheiros 2010. p 698.

18

do risco administrativo exige-se apenas, o fato do serviço. Naquela, a

culpa é presumida da falta administrativa; nesta, é inferida do fato lesivo

da Administração”.

Ressalta-se porém, que a dispensa de comprovação de culpa da

Administração pelo administrado não quer dizer que o Poder Público esteja

proibido de comprovar a culpa total ou parcial da vítima para excluir ou atenuar a

indenização.

Para a caracterização do direito à indenização segundo a doutrina da

responsabilidade civil objetiva do Estado devem concorrer as seguintes

condições:

A efetividade do dano. Deve existir concretamente o dano de natureza

material ou moral suportado pela vítima, e o nexo causal. Deve haver nexo de

causalidade, isto é, uma relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o

dano que se pretende reparar.

Há de se enfatizar que a responsabilidade do Estado não é absoluta.

Existem as excludentes que aqui apontamos como a hipótese de força maior ou

de caso fortuito. Da mesma forma, não haverá responsabilidade do Estado em

havendo culpa exclusiva da vítima. No caso de culpa parcial da vítima impõe-se a

redução da indenização devida pelo Estado.

Concluindo, o Estado sempre responderá objetivamente pelo dano

causado, desde que injustamente causado.

A jurisprudência assim tem decidido em casos análogos ao estudo em

comento:

“O Poder Público, ao receber o estudante em qualquer dos

estabelecimentos da rede oficial de ensino, assume o grave

compromisso de velar pela preservação de sua integridade física,

devendo empregar todos os meios necessários ao integral desempenho

desse encargo jurídico, sob pena de incidir em responsabilidade civil

pelos eventos lesivos ocasionados ao aluno. A obrigação governamental

de preservar a intangibilidade física dos alunos, enquanto estes se

encontrarem no recinto do estabelecimento escolar, constitui encargo

indissociável do dever que incumbe ao Estado de dispensar proteção

efetiva a todos os estudantes que se acharem sob a guarda imediata do

Poder Público nos estabelecimentos oficiais de ensino. Descumprida

19

essa obrigação, e vulnerada a integridade corporal do aluno, emerge a

responsabilidade civil do Poder Público pelos danos causados a quem,

no momento do fato lesivo, se achava sob a guarda, 15 vigilância e

proteção das autoridades e dos funcionários escolares, ressalvadas as

situações que descaracterizam o nexo de causalidade material entre o

evento danoso e a atividade estatal imputável aos agentes públicos”.

RE nº 109.615-2-RJ, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 2-8-96, p. 25.785:

Aluno menor impúbere ferido por colega de escola quando se encontrava

no lado de fora da escola, junto ao portão de entrada, em horário anterior

ao início das aulas. Pedido de indenização por dano material, moral e

estético. Inexistência de nexo de causalidade entre o evento e a atuação

do Poder Público por falta ou falha do serviço. Sentença mantida.

Recurso não provido: “O aluno ficou sob a guarda e vigilância do

estabelecimento de ensino, público ou privado, com direito de ser

resguardado em sua incolumidade física, enquanto estiver nas

dependências da escola, respondendo os responsáveis pela empresa

privada ou o Poder Público, nos casos de escola pública, por qualquer

lesão que o aluno venha a sofrer, seja qual for a sua natureza, ainda que

causada por terceiro. Fora das dependências da escola, em horário

incompatível, inexiste qualquer possibilidade de se manter essa

obrigação de resguardo.” (TJSP- 3.aC. Dir. Público- Ap. 41.419-5/0, Rel.

Rui Stoco -j. 05.10.1999- Voto 1.123/99).

A obrigação governamental de preservar a intangibilidade física dos

alunos, enquanto estes se encontrarem no recinto do estabelecimento

escolar, constitui encargo indissociável do dever que incumbe ao Estado

de dispensar proteção efetiva a todos os estudantes que se acharem sob

a guarda imediata do Poder Público nos estabelecimentos oficiais de

ensino. Descumprida essa obrigação, e vulnerada a integridade corporal

do aluno, emerge a responsabilidade civil do Poder Público pelos danos

causados a quem, no momento do fato lesivo, se achava sob a guarda,

vigilância e proteção das autoridades e dos funcionários escolares

ressalvadas as situações que descaracterizam o nexo de causalidade;

material entre o evento danoso e a atividade estatal imputável aos

agentes públicos” (STF -1. a T. - RE - Rel. Celso de Mello - j. 28.05.1996

- RT J 163/1108 e RT733/130).

20

Da Responsabilidade subjetiva do Gestor Escolar

Como já expressado no capítulo que trata da assunção ao cargo de Gestor

escolar da Rede Pública, uma das condições é ser funcionário estatutário do

Estado.

Tal exigência faz-se necessária, para fins de responsabilidade civil objetiva

do Estado. Muito embora, para efeito de responsabilização do Estado não há

óbice caso o gestor investido na função esteja de maneira irregular. Importa

somente é que o dano causado a terceiro decorra da ação ou omissão do agente

público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las. Outrossim, se

na hipótese de ocorrer o caso acima descrito, agrava mais, a situação do Estado,

pois estaria este incorrendo na culpa in eligendo.

Como já assinalado desde a constituição de 1946 (art. 194) vem sendo

adotada a teoria do risco administrativo, combinada com princípio da ação

regressiva.

Ao agente público limita-se a responder regressivamente em casos de dolo

ou culpa na sua comissão ou omissão. A existência de dolo ou culpa, remete-se a

responsabilidade subjetiva do agente causador.

A existência do dolo ou da culpa é matéria a ser verificada entre o órgão a

que se vincula o agente público, pois dessa constatação nascerá o Direito da

Fazenda Pública rever o montante gasto em caso de ressarcimento/indenização.

No que se refere às responsabilidades do Gestor, a Lei lei 6174/70 –

Estatuto do Servidor dos funcionários Civis do Paraná assim define e atribui:

CAPÍTULO V

DA RESPONSABILIDADE

Art. 286 - Pelo exercício irregular de suas atribuições, o funcionário

responde civil, penal e administrativamente.

Art. 287 - A responsabilidade civil decorre de procedimento doloso ou

culposo, que importe em prejuízo da Fazenda Estadual ou de terceiros.

§ 1º - A indenização de prejuízo à Fazenda Estadual no que exceder os

limites da fiança, poderá ser liquidada mediante desconto em prestações

mensais não excedentes dá, quinta parte do vencimento ou

remuneração, à falta de outros bens que respondam pela indenização.

§ 2º - Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o funcionário

21

perante a Fazenda Estadual em ação regressiva proposta depois de

transitar em julgado a decisão de última, instância que houver

condenado a Fazenda a indenizar o terceiro prejudicado. - ver art. 37, §

6º,CF e art. 27, § 6º, CE

Art. 288 - A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções

imputados ao funcionário nessa qualidade.

Art. 289 - A responsabilidade administrativa resulta de atos praticados ou

omissões ocorridas no desempenho do cargo ou função.

Art. 290 - As combinações civis, penais e disciplinares poderão cumular-

se, sendo uma e outras independentes entre si, bem assim as instâncias

civil, penal e administrativa.

Como se aduz da norma acima colacionada, o Gestor da Escola Pública

Paranaense poderá sofrer ação regressiva em caso do Estado ter que indenizar

danos a terceiros.

VERIFICAÇÃO DE DOLO OU CULPA DO GESTOR.

Sindicância

No item que tratou das características e atribuições do gestor, definiu-o

como sendo a pessoa física que representa o Mantenedor da escola pública, ou

seja, o Estado. Esse profissional é uma agente público, (Blanchet, 2006, p. 47) ,

assim define:

“São pessoas físicas às quais a lei atribui competência para atuar em

nome do Estado. Como resta claro o próprio termo “agente”, ele “age”

em nome do Estado. Este “agir”, no entanto, não se cinge

exclusivamente a atitude em termos apenas físicos, o agente não deve

somente agir ou omitir-se de acordo com o interesse público, mas

também raciocinar pelo o Estado.”

Ainda de acordo com o Nobre Doutrinador, o Gestor Escolar é um Agente

Público da “espécie” agente administrativo, e como tal deve operar-se de acordo

com as normas do Direito Administrativo.

Essas normas, de imediato estão previstas na Lei 6174/70 – Estatuto do

Servidor dos funcionários Civis do Paraná, donde se infere os deveres do

22

funcionário público: onde prevê a lealdade e respeito às instituições

constitucionais e administrativas a que servir e a observância das normas legais e

regulamentares.

Pelas normas do Direito Administrativo, a atitude comissiva do gestor em

permitir a saída do aluno (exercício da autonomia), estará sujeita a instauração

de um processo administrativo o qual leciona (MEDAUR, 2009, p. 167) tem como

finalidade “[...] observância dos requisitos de legalidade do ato administrativo e

garantia de respeito dos direitos dos indivíduos[...]”

O Processo Administrativo pode iniciar-se de ofício ou a pedido de

interessado.

No caso do Gestor, a norma regulamentadora desse procedimento, tem

previsão na lei 6174/70 – Estatuto do Servidor dos funcionários Civis do Paraná.

Que trata seu Titulo IX desde a apuração da irregularidade a até instauração do

Processo com consequente penalidade ou não.

No artigo 306 parágrafo único do referido estatuto define as formas de

apuração das irregularidades:

“Parágrafo único. A apuração poderá ser efetuada:

I - de modo sumário, se o caso configurado for passível de aplicação de

penalidade das previstas nos incisos I a IV, do art. 291, quando a falta for

confessada documentalmente provada ou manifestamente evidente;

II - mediante sindicância, como condição de imposição de pena, nos

casos

possivelmente enquadráveis nos dispositivos referidos no inciso anterior

, desde que não ocorra qualquer das hipóteses ali formuladas;

III - através da sindicância, como condição preliminar à instauração de

processo administrativo, em caráter obrigatório, nos casos cujo

enquadramento ocorra nos incisos V a VII , também do art. 291;

IV - por meio de processo administrativo, sem preliminar, quando a falta

enquadrável em um dos dispositivos aludidos no inciso anterior, for

confessada, documentalmente provada ou manifestamente evidente.”

No caso do presente estudo, e em caso de dano com possível

ressarcimento/indenização pelo Estado, a maneira de apurar a irregularidade dar-

se-á através de sindicância.

A finalidade da Sindicância de acordo com (GASPARINI, apud

23

FERNANDES, 2008, p. 88) e:

“O processo sumário de elucidação de irregularidades no serviço público,

para bem caracterizá-las ou para determinar seus atores, para posterior

instauração do competente processo administrativo”[...]

[...] “ é servir de peça preliminar e informativa do processo administrativo

disciplinar. Daí dizerem os autores que a sindicância está para ao

processo administrativo disciplinar assim como o inquérito está para o

processo criminal”

(PIETRO apud FERNANDES, 2008, p. 87) citando José Cretella Junior,

leciona de maneira etimológica o termo:

“no idioma de origem, os elementos componentes da palavra

sindicância, de origem grega, ao o prefixo syn(junto, com, juntamente

com) e dic(mostrar, fazer ver, pôr m evidência), ligando-se este segundo

elemento ao verbo deiknymi, cuja acepção é mostrar, fazer ver. Assim,

sindicância significa, em português, à letra, ‘ a operação cuja finalidade é

trazer à tona, fazer ver, revelar ou mostrar algo, que se acha oculto’”

A sindicância se desenvolverá de acordo com o contido nos artigos de 307

a 313 da lei 6174/70 – Estatuto do Servidor dos funcionários Civis do Paraná.

CAPÍTULO II

DA SINDICÂNCIA

Art. 307 - A sindicância será instaurada por ordem do Chefe da

repartição a que estiver subordinado o funcionário, podendo constituir-se

em peça ou fase do processo administrativo respectivo.

Art. 308 - Promoverá a sindicância uma comissão designada pela

autoridade que a houver determinado e composta de três funcionários

efetivos de alta hierarquia funcional.

§ 1º - Ao designar a comissão, a autoridade indicará, dentre seus

membros, o respectivo presidente.

§ 2º - O Presidente da comissão designará o membro que deve

secretariá-la.

Art. 309 - A comissão, sempre que necessário, dedicará todo o tempo

aos trabalhos da sindicância, ficando seus membros, em tal caso,

dispensados do serviço na repartição, durante o curso das diligências e a

elaboração do relatório.

Art. 310 - A sindicância administrativa deverá ser iniciada dentro do

prazo da três dias, contados da designação dos membros da comissão e

24

concluída no de quinze dias, improrrogáveis, a contar da data de seu

início.

Art. 311 - A comissão deverá ouvir as pessoas que tenham

conhecimento ou que possam prestar esclarecimentos a respeito do fato,

bem como proceder a todas as diligências que julgar convenientes à sua

elucidação.

Art. 312 - Ultimada a sindicância, remeterá a comissão, à autoridade que

a instaurou, relatório que configure o fato, indicando o seguinte:

I - se é irregular ou não;

II - caso seja, quais os dispositivos violados e se há presunção de

autoria.

Parágrafo único: - O relatório não deverá propor qualquer medida,

excetuada a abertura de processo administrativo, limitando-se a

responder os quesitos do artigo anterior.

Art. 313 - Decorrido o prazo do art. 310, sem que seja apresentado

relatório, a autoridade competente deverá promover a responsabilidade

dos membros da comissão.

Ultimada a fase instrutória (sindicância), conforme previsão do artigo 312

da lei supracitada a comissão designada enviará relatório à autoridade que

determinou a instauração desse procedimento.

Ressalta-se que, o procedimento de sindicância não tem o condão de

aplicação de pena. Muito embora, de acordo com (MEIRELLES, apud, Fernandes,

apud FERNANDES, 2008, p. 88) insistir que “a sindicância tem sido desvirtuada a

promovida como instrumento de punição de pequenas faltas de servidores, caso

em que deverá haver a oportunidade de defesa para a validade da sanção

aplicada”.

Nesse mesmo entendimento (FILHO, apud FERNANDES, 2008, p. 89)

observa o uso indevido desse instituto:

“O termo sindicância indica apenas a denominação usualmente dada a

esse tipo especial de processo preparatório. Lamentavelmente, para

aumentar a confusão, nem sempre os processos preliminares e

preparatórios são nominados de sindicância e, o que é pior, há alguns

casos em que o processo denominados de sindicância não tem a

natureza clássica desse procedimento preparatório. [...]

25

Essa prática dá-se principalmente pela desinformação do investigado, bem

como da comissão eleita para esse fim.

Processo Administrativo

Excetuando-se o uso indevido do procedimento de Sindicância e, de

acordo com o relatório conclusivo da comissão, instaurar-se-á o processo

administrativo, que no caso em comento também será regulado pelo disposto na

lei 6174/70 – Estatuto do Servidor dos funcionários Civis do Paraná. Que dentre

vários dispositivos destaca-se:

CAPÍTULO III

DO PROCESSO ADMINISTRATIVO

Art. 314 - São competentes para determinar a instauração de processo

administrativo os Secretários de Estado e os diretores autônomos.

Parágrafo único - O processo precederá a aplicação das penas de

suspensão, por mais de trinta dias, destituição de função, demissão e

cassação de aposentadoria e de disponibilidade.

Art. 315 - Promoverá o processo uma comissão designada pela

autoridade que houver determinado a sua instauração e composta de

três funcionários efetivos de alta hierarquia funcional.

.....................................................................................................................

Art. 320 - Após a lavratura do termo da instrução, será feita no prazo de

três dias, a citação do indiciado ou indiciados, para apresentação de

defesa, no prazo de dez dias, facultada vista do processo ao indiciado

durante todo este prazo, na dependência onde funcione a respectiva

comissão.

§ 1º - Havendo dois ou mais indiciados, o prazo será comum e de vinte

dias.

§ 2º - Achando-se o indiciado em lugar incerto será citado por edital,

publicado no órgão oficial durante quinze dias.

§ 3º - O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo dobro, para

diligências julgadas imprescindíveis.

Art. 321 - No caso de revelia, será designado ex-offício, pelo presidente

da comissão, um funcionário efetivo para se incumbir da defesa do

acusado.

Art. 322 - Ultimada a defesa, a comissão remeterá o processo, através

das instâncias competentes, ao Secretário de Estado ou ao diretor

autônomo, acompanhado de relatório, onde aduzirá toda a matéria de

26

fato e onde se concluirá pela inocência ou responsabilidade do acusado.

§ 1º - A comissão indicará as disposições legais que entender

transgredidas e a pena que julgar cabível, a fim de facilitar o julgamento

do processo, sem que a autoridade julgadora fique obrigada ou vinculada

a tais sugestões.

§ 2º - Deverá, também a comissão, em seu relatório, sugerir quaisquer

outras providências que lhe pareçam de interesse do serviço público.

Art. 323 - Apresentado o relatório, a comissão ficará à disposição da

autoridade que houver mandado instaurar o inquérito, para prestação de

qualquer esclarecimento julgado necessário, dissolvendo-se dez dias

após à data em que for proferido o julgamento.

Art. 324 - Recebido o processo, o Secretário de Estado ou Diretor

autônomo, proferirá o seu julgamento no prazo de vinte dias desde que a

pena aplicável se enquadre entre aquelas de sua competência.

O Processo Administrativo como a própria legislação prevê será iniciado

pela instauração da Comissão. Essa Comissão utilizará de todos os documentos

e oitivas a fim de organizar seus trabalhos. Novas diligências e oitivas

poderão/deverão ser feitas nessa fase. Contudo, como boa parte dos trabalhos

foram antecipados na fase anterior pela Comissão de Sindicância, caberá agora à

Comissão do Processo Administrativo, detectar o que é de maior relevância para

elucidação da suposta falta cometida pelo indiciado.

Com base em possíveis novas oitivas e outras provas produzidas nessa

fase, a Comissão elaborará um relatório indicando a falta cometida pelo servidor e

o enviará à autoridade competente que a designou. Inclusive sugerindo a

penalidade

Penalidades

Além das sanções civis/penais que o Gestor poderá sofrer pela sua

omissão ou comissão, este também poderá sofrer penalidades administrativas,

que estão previstas no art. 291 – I – VI da Lei 6174/70 - Estatuto do Servidor dos

funcionários Civis do Paraná.

CAPÍTULO VI

DAS PENALIDADES

27

Art. 291 - São penas disciplinares:

I - advertência;

II - repreensão;

III - suspensão;

IV - multa;

V - destituição de função;

VI - demissão;

Assim fica patente que no caso do Gestor Escolar permitir os alunos

menores, civilmente incapazes de se ausentarem do Estabelecimento antes do

término poderá ter, como penalidade administrativa culminante a perda do seu

cargo público pela demissão. Além de sofrer lesões ao seu patrimônio no caso da

sua liberalidade resultar em prejuízo a alguém, mormente se o Estado for

condenado em indenização.

28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BARROSO, J. O reforço da autonomia nas escolas: a flexibilização da gestão

escolar em Portugal. In: FERREIRA, N.S.C. (Org.) Gestão Democrática da

Educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 1998.

BRASIL. Constituições. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/principal.htm.

BRASIL. Lei 5692/71 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5692.htm

BRASIL. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990 . Estatuto da Criança e do

Adolescente.

BRASIL. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996 . Diretrizes e Bases da

Educação Nacional.

CAHALI, Y. Responsabilidade civil do Estado. 2ª Ed. São Paulo: Malheiros

Editores, 1995.

CHRISPINO, Álvaro; CHRISPINO, Raquel S.P. A Judicialização das relações

escolares a responsabilidade civil dos educadores. Jan. Mar. 2008 – DOI

10.1590/S0104-40362008000100002. Disponível em:

HTTP://www.scielo.br/pdf/ensaio/v16m58/a02v1658.pdf.

CURY, Munir; SILVA, Antonio Fernando do Amaral; GARCIA MENDES, Emílio.

(Coord.). Estatuto da Criança e do Adolescente comentado: comentários

jurídicos e sociais. 3 ed. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2001.

FERNANDES, Jorge Palma de Almeida, Sindicância Processo e Controle

Jurisdicional, 1ª Ed. São Paulo, Mundo Jurídico, 2008.

29

JUNIOR, Nelson Nery e NERY, Rosa Maria de Andrade. Doutrinas Essenciais

Responsabilidade Civil. 2ª tiragem. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ, Estatuto do Servidor Público – Lei

6174, Imprensa Oficial do Paraná.

LORIERI, Marcos Antônio e RIOS, Terezinha Azeredo. Filosofia na escola o

prazer da reflexão. São Paulo: Moderna, 2004.

MEDAUR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 13ª ed. São Paulo. Revista

dos Tribunais, 2009

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 37ª ed. São Paulo:

Malheiros, 2011.

PARANÁ, Casa Civil. Lei 14231/2003. Casa Civil. Disponível em

www.legislacao.pr.gov.br/legislacao/pesquisarAto.do?action

PARANÀ, SEED. Resolução 4122/2003. disponível em

www.educacao.pr.gov.br/arquivos/File/resolucoes/resolucao412

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2002.

PIETRO, Maria Sylvia Zanela Di. Direito Administrativo. 24ª Ed. São Paulo:

Atlas, 2011.

RIBAS, Marina Holzmann e LUPORINI, Tereza Jussara. Gestão Escolar no

Paraná: O Processo de Formação e Seleção na Ótica de Diretores da Escola

Pública. Olhar de Professor. Vol 6. UEPG, 2003

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Manual de

Proteção Escolar e Promoção da Cidadania, São Paulo, 2009.