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Batata Show - A revista da Batata - Ano 3 - nº 7

3Carta ao leitorSEÇÕES

Diretor Presidente: Marcelo Balerini de CarvalhoDiretor Administrativo: Edson AsanoDiretor Financeiro: Emílio Kenji OkamuraDiretor de Marketing: Paulo Roberto DzierwaDiretor Batata Consumo: Carlos Roberto Vieira Romano Diretor Batata Indústria: Celso Carlos Roqueto Diretor Batata Semente: Albanez Souza de Sá

Gerente Geral da ABBA: Natalino ShimoyamaCoordenadora de Marketing ABBA: Daniela Machado Godoy Capa: FB Design - (15) 3272-1328Jornalista Responsável: Aparecida Haddad - MTB: 030718Criação e Editoração: Projeta Propaganda e Marketing [email protected] (15) 3232-8000

Batata Show é uma revista da ABBA

Associação Brasileira da Batata.Rua Vírgilio de Rezende, 705

Itapetininga/SP - Brasil 18201-030

Fone/Fax: (15) [email protected]

EXPEDIENTE

A cada dia que passa esta “idéia” se torna mais forte. Basta ler o caderno de economia dos jornais, revistas, sites de Internet ou assistir televisão.

Gostaria de convidá-lo a ler este texto e refletir sobre alguns itens relacionados a produção agrícola mundial.

1. Capacidade de produçãoA maioria dos países já chegaram

ao seu limite de exploração, ou seja, já não possuem mais áreas disponíveis ou tecnologias capazes de aumentar a produtividade. Não é por acaso que holandeses estão se deslocando à Fran-ça para plantar batatas ou produtores americanos estão adquirindo extensas áreas na Bahia para produzir soja.

O Brasil possui o maior e melhor potencial do mundo em condições de aumentar a produção agrícola.

2. Diversidade Além das restrições acima citadas

(*área e tecnologia) a maioria dos países possuem restrições climáticas e humanas para esta atividade primaria

O Brasil pode produzir 365 dias/ano com quantidade e qualidade: cere-ais, frutas, hortaliças, pecuárias, plantas medicinais,etc.

Então se temos o melhor potencial do mundo e podemos produzir 365

dias/ano a equação matemática que indica o saldo da balança comercial agrícola deveria ser: saldo = exportação e não: saldo = exportação - importação.

Concordo em exportar soja, café, açúcar, álcool, madeira, frutas, suco de laranja e muitos outros produtos agrícolas, mas não posso concordar em importar batata, arroz, tomate, feijão, alface, milho, trigo, algodão, cebola, alho e muitos outros produtos agrícolas.

Não podemos continuar aceitando as imposições dos países ricos, das grandes redes de varejo, indústria, fast food,o corporativismo, a corrupção, a incompetência, a péssima distribui-ção de renda na cadeia à população, ausência de legislações, o papel de moeda-de-troca...

Não precisamos importar nada de produtos agrícolas para termos a mesa mais “farta” e “saudável” do mundo e mais justiça social.

Basta um simples gesto.....

Exportar, exportar, exportar...

CulináriaRosca de batata e ricota...............................42

SoloPreparo de solo nos trópicos......................41

EventosENB................................................................40

ComercializaçãoBatata na Sonae............................................39

PlantioPlantio direto - protótipo “UFV-ENG”..........37

Outras CulturasProdução de cebola no Brasil.....................35

PaísesArgentina.....................................................34

VariedadesSlaney...........................................................33

AgrometereologiaMeteorologia no Brasil.................................32

LegislaçãoControvérsias sobre batata semente........31

PesquisaBatata transgênica.....................................25Resísuos de agrotóxicos.........................26Manejo de plantas daninhas....................27

Meio AmbienteBatata orgânica...........................................24

EstatísticasImportações de batata semente.................23

EconomiaBataticultura.................................................21

Empresas ParceirasTraça da batata............................................15Onde o mais caro fica mais barato.........16Empresa investe no Brasil.......................17

MelhoramentoCultivares resistente a viroses.....................11Desenvolvimento de cultivares...................12

FitossanidadeMurcha bacteriana da batata..........................6PMTV ou TRV em batatal no Brasil................7Nematóides na Batata.....................................8

ProdutorRocha Agrícola................................................5

CurtasVisita de alunos da Esalq...............................5

EditorialSituação Atual da Agricultura........................4

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4 Editorial

Desde a primeira edição, a re-vista Batata Show tem nos trazido informações relevantes e impor-tantes para o desenvolvimento de nossa atividade.

Aproveito esta oportunidade para enfocar a situação atual da agricultura do nosso País. Há tem-pos, não vivíamos uma conjuntura tão favorável para nossa atividade, dada à evolução profissional dos agricultores, o que, infelizmente, significa que os que não evoluíram foram fatalmente excluídos do sistema, e vale lembrar, que não são poucos.

A participação da agricultura, antes tida até como atividade mar-ginal no PIB brasileiro, é notícia nos quatro cantos do mundo e fez com que fosse mudado o ponto de vista da maioria das pessoas em relação à nossa atividade. Porém agora, deparamos com uma nova reali-dade em relação ao mercado de máquinas e insumos. O parque de

máquinas da maioria dos agricultores estava praticamente sucateado com os anos difíceis. Agora, com as sucessivas melhorias nos índices da atividade e para não ficar fora do mercado, o pro-dutor rural voltou a investir em máqui-nas, insumos e tecnologias modernas, promovendo uma grande demanda e, conseqüentemente, um aumento assustador dos preços, reflexo da lei do mercado e dos oportunistas.

Como exemplo, basta atentar para o volume de negócios e preços efe-tivos praticados na última edição da Agrishow de Ribeirão Preto. No caso dos insumos, apesar das oscilações que o dólar vem sofrendo para baixo, os preços continuam nas alturas com vários produtos inclusive aumentando seu valor mais do que a variação anual do dólar ou da inflação.

A racionalização e a busca pela qualidade total na produção agrícola mostram-se cada vez mais necessárias e imperiosas para que o produtor rural

sobreviva em sua atividade e possa acompanhar o ritmo do desenvol-vimento globalizado, bem como planejar estrategicamente suas atividades e, principalmente, de-finir o que comprar, quando com-prar e quanto vale a pena pagar, executando-os de uma maneira criteriosa e, buscando eliminar qualquer tipo de desvio que possa comprometer o resultado final.

Analisar minuciosamente os resultados a fim de corrigir a traje-tória, alcançar o que foi planejado e finalmente promover a união da classe, buscando somar potencial corporativo para ter poder de de-cisão junto a todos os segmentos da cadeia produtiva, serão ações que cada vez mais farão parte do dia-a-dia do produtor rural que aspira sobreviver.

Airton Shiguekazu Arikita Associado ABBA Hayashi Batatas

Situação atual da agricultura

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Batata Show - A revista da Batata - Ano 3 - nº 7

5Curtas

A ABBA tem como uma de suas ativida-des, apoiar o ensino da cultura da batata nas universidades, ministrando aulas marcadas por muita descontração e informação. A apresentação consiste basicamente em viajar pela Cadeia da Batata em âmbito nacional e mundial, discutindo o perfil do profissional que o mercado necessita e ao final, desenvolver algumas brincadeiras, tais como: quem acerta o peso da batata, quem consegue descascar uma batata e deixar a casca mais comprida possível e finalmen-

te quem consegue colocar mais batata cozida na boca. A atividade foi de-senvolvida na Esalq – USP (SP) e na Iciag-UFU (MG).

Ensino - aprendizado e descontração

Rocha Agrícola uma história de trabalho e sucesso

A Rocha Agrícola é uma agroempresa familiar que teve início na década de 40, no município de Itaverava (MG), tendo como precursor, o sr. José Marcos da Rocha.

A atividade bataticultora sempre foi de-senvolvida pela família. Porém, no ano de 1986, foi assumida e alavancada por seus sucessores: Acrísio Luciano Rocha, Matos Além Januário Rocha e Assis Fernandes de Faria. Nesse período, seus sócios apostaram no processo de exploração empresarial, sendo esse o marco inicial da expansão da empresa.

A necessidade de produção em escala levou à imigração para áreas de topografia mais favorável, o que acelerou o cresci-mento e desenvolvimento da empresa. Com a mecanização das atividades, pas-sou a ter maior autonomia, rendimento e precisão no processo. Hoje, a Rocha Agrícola encontra-se em Lagoa Dourada (MG), com áreas de exploração, também, no município de Carandaí.

A empresa desenvolve de forma indepen-dente todo o processo produtivo, sendo

60% de semente própria até a comercialização final, dispondo de estufas para multiplicações genéticas e possuindo todos os campos de batata-semente inspecionados e registrados pelo IMA. Estas são armazenadas em câmara frigorífica própria, diminuindo assim, os riscos de contaminação e misturas de variedades, além de assegurar as melhores condições possíveis de armazenamento.

Seguindo uma filosofia de desenvolvimento tecnológico, todos os anos são feitos dois cam-pos de desenvolvimento e adaptação de novos cultivares, em parceria com a Epamig.

A batata consumo é totalmente beneficiada na propriedade, sendo 80% lavada e 20% escova-da. A produção é comercializada 60% em Belo Horizonte e 40% no Rio de Janeiro e Zona da Mata Mineira.

Nossos agradecimentos vão para a ABBA que tem nos prestado sua assessoria com seriedade e respeito, lembrando que uma empresa não se desenvolve isoladamente e sim, com parce-rias que possibilitam o apoio necessário para a expansão dos negócios.

Campo de Ágata

Campo de Asterix

Galpões de beneficiamento

Acrísio Luciano RochaR. Expedicionário Wilson de Lima, 77 - Queluz - Conselheiro Lafaiete - MG 36400-000(31) 3761-3202/ (32) 3363-1127 (Lagoa Dourada) [email protected]

Produtorvencedor do concurso - Aluno da Esalq - USP.

Abba promove visita de alunos da Esalq alavouras de batata em Itapetininga - SP

Alunos da disciplina Olericultura II, do curso de engenharia agronômica da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, em companhia do Professor Paulo César Tavares de Melo, visitaram lavouras de batata na região de Itapetininga, SP nos dias 20 e 22 de maio passado.

A atividade foi organizada pelo gerente geral da Associação Brasileira da Batata (ABBA), engenheiro agrônomo Natalino Shimoyama e teve também a participação do produtor Lincoln Hoshino.

Esse tipo de atividade tem grande impor-

tância na formação profissional dos alunos, uma vez que constitui uma oportunidade deles vivenciarem “in loco” diferentes aspectos do cultivo da batata, incluindo técnicas de manejo cultural, identificação de problemas fitossanitários, irrigação e beneficiamento e embalagem da produção. É também uma oportunidade rara para os alunos discutirem com produtores líderes os gargalos, perspectivas e tendências da cadeia brasileira da batata, consolidando os ensinamentos recebidos em sala de aula.

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Batata Show - A revista da Batata - Ano 3 - nº 7

6 Fitossanidade

Murcha bacteriana da batata e a possibilidade de comércio exteriorValmir Duarte (Ph.D. Fitopatologia, Prof. Titular, Depto de Fitossanidade), Faculdade de Agronomia, UFR-GS, (www.ufrgs.br/agro/fitossan/welcome.htm), [email protected] - (51) 3316-6016Samira O. M. El Tassa (M.Sc. Fitopatologia, Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia, UFRGS, [email protected]

Praga Quarentenária. A Murcha Bac-teriana da batata, causada por Ralstonia solanacearum, é considerada praga quarentenária A1 (não existe no local) na Europa, EUA e Canadá. Estes países têm medidas fitossanitárias visando evi-tar a entrada de material contaminado, proibindo a importação de regiões onde esta bactéria ocorre. Apesar disto, R. solanacearum biovar 2, raça 3, tem sido detectada em vários países da União Eu-ropéia desde 1989, incluindo a Holanda, grande produtor de batata-semente. A sua introdução, através de mudas de ge-rânio importadas da Guatemala, também foi verificada nos EUA. Todas as medidas que foram implementadas nestes locais visaram a sua erradicação. E no Brasil?

Tolerância zero. Em campos de pro-dução de batata-semente certificada, registrada e básica, uma planta com murcha bacteriana numa lavoura (Figura 1) é suficiente para condenar o lote para

comercialização. Nas regiões Sul e Sudes-te do Brasil, embora haja predominância de estirpes da biovar 2, raça 3, com restrições quarentenárias, a incidência da biovar 1, raça 1 também tem sido regis-trada nas lavouras comerciais de batata para consumo (Lopes et al., 1993; Maciel et al. 2001; Silveira et al., 2002). Assim, o critério de tolerância zero nas lavouras de batata-semente, baseado na observação visual de plantas mostrando murcha, não tem sido suficiente para impedir a alta incidência nas lavouras de produção. O que precisa ser feito?

Raça e biovar. A espécie R. solanacearum é classificada em raças, de acordo com as plantas que pode induzir murcha, e em biovares, baseados na habilidade de utilizar ou oxidar determinados açúcares e álcoois em meio de cultura. Dois gru-pos de estirpes são capazes de infectar a batata, as das biovar 1, que corresponde

à raça 1, com grande número de hospedei-ros, maior capacidade de persistir no solo e predominante em regiões de clima quente, e as estirpes da biovar 2, correspondentes à raça 3, que infectam basicamente a batata em regiões de clima temperado e apresen-tam maior capacidade de produzir infecções latentes. De acordo com recomendações para o manejo integrado da doença, o uso de cultivares resistentes, plantio de batata livre do patógeno e a rotação de culturas são algumas das medidas mais importantes a ser consideradas. No entanto, o comportamento distinto entre estes dois grupos de bactérias leva à adoção de medidas diferenciadas para o manejo integrado da doença. As estirpes da biovar 2 (raça 3) persistem por menos tempo no solo (2-3 anos) e tem menor número de plantas hospedeiras.

Presença imperceptível. O termo infecção latente é usado para indicar que esta bactéria permanece, sem induzir sintomas, em lenti-celas (olhos do tubérculo), na superfície dos tubérculos e no tecido vascular da batata. Esta característica facilita a introdução deste pató-geno em áreas livres. Após a entrada nestas áreas, este patógeno permanece no solo e em várias outras plantas, variando com a raça presente. A desconsideração deste fato tem facilitado a introdução deste patógeno em áre-as nobres. Muitas vezes, o próprio produtor, ao produzir batata-semente em área infestada e estabelecer lavouras para batata-consumo com esta semente em áreas próprias ou ar-rendadas, livres da R. solanacearum, condena, através desta prática, tais áreas.

Disseminação - Embora não haja dúvidas que a principal forma de disseminação desta bac-téria seja através de batata-semente infectada, pesquisas sobre este patógeno na Europa mostraram que vários casos, aparentemente, ocorreram em lavouras irrigadas com água de rios contaminados, onde a bactéria persiste infectando dulcamara (Solanum dulcamara), planta aquática. Assim, o uso de água de rios foi proibido para a irrigação, particularmente no Reino Unido. A seguir, um trabalho de erradicação das plantas hospedeiras foi feito baseado no monitoramento de R. solanace-arum na água. Onde encontradas, as plantas de dulcamara foram eliminadas com o uso localizado de herbicida. No Brasil, várias pes-quisas têm mostrado a grande quantidade de plantas silvestres (invasoras) hospedeiras des-ta bactéria, tornando a tarefa de erradicação impossível em algumas regiões. No entanto, cabe ressaltar que nem sempre a biovar tem sido determinada.

O que está faltando? O que fazer? O Canadá tem os EUA como um grande comprador de batata-semente. Um grande obstáculo era a

presença de Clavibacter michiganensis subsp. sepedonicus, agente causal da podridão anelar, sem ocorrência registrada no Brasil. Um pro-grama de testes de tubérculos-semente para detectar este patógeno e também de moni-toramento das áreas infestadas, significando muitas vezes focos numa lavoura, permitiu que os problemas devido à esta doença, pra-ticamente sumissem do Canadá já há vários anos. Esta bactéria tem várias características semelhantes às de R. solanacearum. Já se têm laboratórios que testam para as diversas vi-roses. O agente da Murchadeira deveria ser incluído neste conjunto de testes.

Teste diagnóstico - O corte transversal de um tubérculo pode indicar a presença da bac-téria no sistema vascular se for pressionado e um pus branco exsudar (Figura 2). Além disto, quando plantas apresentarem o sintoma de murcha, um pedaço da haste pode ser suspen-so dentro d’água em um copo transparente; a exsudação de um filete de pus bacteriano indica a presença da bactéria. Estes testes, no entanto, são restritos a material com altas

populações de células bacterianas. Pequenas populações e ausência de sintomas dificultam sua detecção. O resultado é a sua ampla disseminação. Os produtores de batata e os programas de certificação de batata-semente necessitam usar técnicas sensíveis, que de-tectem populações latentes que podem estar abaixo do nível de detecção por métodos tra-dicionais, bem como a biovar predominante, como citado anteriormente.

Amostra - Um fator tão importante quanto o método a ser usado na detecção da bactéria é a amostragem do material a ser analisado. O Laboratório de Clínica Vegetal da UFRGS (LCV-UFRGS) (www.ufrgs.br/agro/fitossan/clinica/index.html) recomenda a coleta, de forma aleatória e representativa, de amostra composta de 200 tubérculos. Esta amostra, ao chegar no laboratório é lavada e um cone de tecido, da região onde o tubérculo se une a planta (extremidade do estolão) (Figura 3),

Figura 1 - Planta de batata mostrando sintoma de Murcha Bacteriana ou Murchadeira , causada por Ralstonia solanacearum.

Figura 2 - Tubérculo seccionado exsudando a bacté-ria Ralstonia solanacearum a partir da linha escura, onde estão os vasos (Valmir Duarte).

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Batata Show - A revista da Batata - Ano 3 - nº 7

7Fitossanidade

Em Agosto e Setembro de 2001, tubérculos de batata (Solanum tube-rosum L cv. Monalisa) procedentes de duas plantações comerciais distintas, tanto com relação à região onde foram produzidos como quanto à origem da batata-semente utilizada para o plan-tio: (1) 4ª. geração da batata-semente importada, produzida na região de São João da Boa Vista, SP (Figura 1); e (2) classe Registrada, de São Miguel Arcanjo, SP, produzidos na região de Sumaré, SP (Figura 2), apresentavam sintomas de arcos ou círculos parale-los (concêntricos ou não), visíveis na superfície (epiderme) com penetração na parte interna (polpa) dos tubércu-los. Estas observações foram comuni-cadas no XXV Congresso Paulista de Fitopatologia, ocorrido em Fevereiro de 2002, na Faculdade de Agronomia do ES Pinhal, SP.

Com base nas observações e alertas feitos no referido Congresso Paulista de Fitopatologia, a Coordenadoria de Defesa Sanitária Vegetal da SAA-SP, procedeu ação cautelar interditando, preventivamente, as áreas onde o putativo PMTV foi observado. A produção para fins de semente foi igualmente proibida e as respec-tivas áreas também impedidas para qualquer

Potato Mop-Top (PMTV) ou Tobacco Rattle Vírus (TRV)

em batatal no Brasil? (*)

cultivo de batata, até que as análises de carac-terização, extensão e perdas relacionadas com essa hipotética nova virose sejam concluídas, conforme determina a Portaria Interministerial 290/15-04-96 e Instrução Normativa 2/9-01-02, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Cabe, finalmente, ressaltar que no mundo globalizado, uma das únicas formas de se esta-belecer proibição formal da entrada de algum produto agrícola em outro país, aceito pela Organização Mundial de Comércio (OMC), é via barreiras fitossanitárias (Morandini, 2002. Legislação Fitossanitária. RAPP, vol 10: 1-32). No caso particular da bataticultura, que é cul-tivada de forma vegetativa e com o agravante aspecto de ser o insumo batata-semente, um dos produtos de propagação que, tradicional-mente, acumula maior número de horas de viagem, a preocupação com novas pragas e, especialmente, viroses introduzidas em nosso país, deve ser levada muito a sério, não apenas pelos órgãos de defesa sanitária vegetal, mas por toda a população e pelos próprios produ-tores (*). Dito isto, qualquer deslize ou ato de ignorância nesse assunto, merece e deve ser punido na condição de crime “Lesa Pátria”.

Sintomas em tubérculos de batata em área de sarna pulverulenta geram dúvidas:

Campo de batata da variedade Monalisa, situada na região de São João da Boa Vista, SP, onde em agosto de 2001 houve mancha de 4 a 5 mil m2 de covas com tubérculos, apresentando arcos ou anéis necróticos, de forma concêntricas ou não, tanto na superfície como na polpa, sugestivos da infecção pelo vírus Potato Mop Top Vírus (PMTV). Nessa mesma região, em 1989-90 houve surto de sarna pulverulenta, causada pelo mesmo fungo vetor do PMTV, Spongospora subterrânea.

José A. Caram de Souza-Dias Haiko E. Sawasaki Rubens L.A. LordelloHilário S. Miranda Fo APTA - Instituto Agronômico de Campinas (IAC) Sandra M. Scagliusi - Unicamp-Fisologia Ve-getal Apoio Fundag (Proj. 13-002-93) [email protected] (19) 3241.5188 ramal 360

Vista de campo de batata var. Monalisa na região de Sumaré, SP. Plantado com batata-semente oriunda da região de São Miguel Arcanjo, SP, onde houve surto de sarna pulverulenta. Presença de tubércu-los com sintomas de arcos e/ou anéis necróticos concêntricos ou não, na parte externa e interna dos tubérculos, ocorrendo em reboleiras ou plantas-covas isoladas, a possível infecção pelo putativo PMTV perpetuado via batata-semente.

retirado de cada tubérculo. Este mate-rial é triturado em liquidificador, decan-tado por 10 minutos e o sobrenadante, submetido aos testes de detecção. Em virtude dos custos do transporte de uma amostra de 200 tubérculos, o envio de apenas 200 cones de cerca de 1g, per-fazendo 200g, obtido sob orientação, é possível ser enviado pelo correio para o LCV-UFRGS para análise.

Análise - A presença da bactéria nos teci-dos do tubérculo pode ser detectada por técnicas moleculares (PCR) e sorológicas

(ELISA e imunofluorescência). A sensi-bilidade dos testes pode ser aumentada por Bio-PCR ou Bio-imunofluorescência (Figura 4), nos quais a amostra é subme-tida a um período de incubação (12h) em meio líquido seletivo, que aumenta a população original e facilita a detecção por estes testes. O prazo prometido do resultado é cinco dias úteis, embora todo o protocolo possa ser executado em dois dias.

Mercado - O comércio internacional tem criado oportunidades para todos os produtos, inclusive para a batata. Embora R. solanacearum seja considerada endêmi-ca no País, é perfeitamente viável creden-ciar zonas livres de pragas quarentenárias, que podem ser regiões dentro de um Estado. O Brasil tem inúmeras áreas livres desta bactéria, mas que, por falta de um programa de obtenção de tubérculos livres deste patógeno, correm o risco de serem contaminadas e comprometer qualquer aspiração brasileira de ocupação de um lugar mais destacado neste novo cenário internacional.

Figura 4 - Células de Ralstonia solanacearum fluorescentes observadas em microscópio de epifluorescência (Valmir Duarte).

Figura 3 - Cone sendo retirado da região onde o tubérculo estava preso ao estolão (Valmir Duarte).

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Batata Show - A revista da Batata - Ano 3 - nº 7

8 Fitossanidade

Pelo menos 68 espécies de fitonematóides de 24 gêneros já foram assinaladas, associadas à cultura de batata em todo o mundo (JANSEN et al., 1979). A importância econômica da maioria delas ainda é desconhecida. Contudo, algumas dessas espécies são pragas devastadoras da cultura em algumas regiões, mas não em outras. Felizmente, os nematóides não se disseminam pelos seus próprios recursos e as medidas de exclusão, impostas por razões de quarentena entre países, regiões e até mesmo por produto-res individuais, têm evitado a introdução desses nematóides em novas áreas.

Os nematóides de cisto da batata - Globodera pallida e Globodera rostochiensis, comumente chamado nematóide dourado da batata - são dois exemplos. Sem dúvida, são os mais danosos para a cultura e, felizmente, não ocorrem no Brasil. (Figura 1) Nacobbus aberrans, o falso nematóide

de galha, e Ditylenchus destructor (o nematóide da podridão da batata) são outros dois nema-tóides quarentenários e de grande importância para a cultura. Todos esses nematóides podem ser facilmente disseminados em batata-semente, o que justifica o enorme esforço e zelo dos pro-fissionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que se dedicam à vigilância sanitária no Brasil para impedir a introdução dessas pragas em nosso País.

No Brasil, as espécies de nematóides de galha

Meloidogyne incognita e M. javanica, as espécies de nematóides das lesões Pratylenchus coffeae, P. brachyurus e P. penetrans e o nematóide reniforme (Rotylenchulus reniformis) são os nematóides chaves da cultura. Desses, os nematóides de galha são os mais danosos. Com efeito, além de sua ampla distribuição, a infecção de tubérculos por esses nematóides os torna imprestáveis para o comércio.

Os juvenis de segundo estádio vermiformes e móveis eclodem dos ovos no solo e penetram nas raízes e tubérculos. Tornam-se sedentários e iniciam o processo de alimentação. À medida que se desenvolvem, vão aumentando em diâmetro, passando pela forma referida como salsicha (Fi-

gura 2 A), até que, na fase adulta, as fêmeas têm o formato de pêra (Figura 2 B) e, ao contrário dos nematóides de cisto, ficam imersas nos teci-dos (Figura 2 C). Enquanto se desenvolvem, em resposta à introdução de substâncias produzidas pelas suas glândulas esofagianas nos tecidos, ocorre aumento em número e tamanho das células dos tecidos da planta, em volta do ponto de penetração, resultando o caroço a que cha-mamos de galha. As galhas nos tubérculos variam de pequenas e numerosas, dando um aspecto áspero à superfície, geralmente acompanhadas de pequenas rachaduras, até grandes caroços isolados (Figura 4 D). Os machos adultos desses nematóides, assim como os dos nematóides de cistos, são vermiformes, migradores e não se alimentam. Sobrevivem enquanto as reservas de alimento em seus corpos, obtidas nos tecidos da planta, enquanto estádios juvenis permitirem.

Entre os nematóides das lesões radiculares (Pratylenchus spp.), pelo menos 15 espécies já foram relatadas parasitando a batata ao redor do mundo (BRODIE, 1998). Contudo, no Brasil, P. penetrans, P. coffeae e P. brachyurus são as espé-cies de importância econômica para a cultura, com predominância de P. brachyurus sobre as demais. Na Figura 3, está ilustrada a forma do

corpo da fêmea adulta de P. brachyurus, a região anterior e a cauda. Essa espécie dos nematóides das lesões radiculares é a mais distribuída no Brasil. É encontrada em ecossistemas naturais e agroecossistemas, infectando grande número de espécies de plantas. Os espécimes em diferentes estádios de desenvolvimento (machos são muito raros) penetram as camadas subepidermais causando lesões em forma de pontos escuros nos tubérculos (Figura 2 D, setas). Migram continuamente nos tecidos intra e intercelular e se reproduzem chegando a alcançar níveis de população maiores que 10.000 indivíduos em 10 g de cascas de batata com cerca de 3 mm de es-pessura. Nesses casos, geralmente as lesões são invadidas por organismos secundários do solo, resultando em necroses dos tubérculos. Tubér-culos infectados, quando armazenados, podem apodrecer em menos tempo que tubérculos sadios. Em raízes e radicelas, extensas necroses são usualmente observadas, especialmente, nos casos de infecção por P. penetrans.

O nematóide reniforme (Rotylenchulus reni-formis) é uma das espécies mais distribuídas em países tropicais e subtropicais do mundo. Foi descrito de uma amostra de solo e raízes de cau-pi (Vigna unguiculata Walp.), coletada no Havaí. Juvenis e fêmeas jovens do nematóides podem ser encontrados completamente imersos nos tecidos da planta hospedeira. Entretanto, na fase adulta, usualmente as fêmeas e suas massas de ovos são observadas externamente aos tecidos da planta (Figura 4 A, B, D), sendo que, apenas a região anterior é vista imersa nos tecidos (Figura 4 C). Trata-se, pois, de um semi-endoparasito em cuja extensa lista de plantas hospedeiras inclui-se a batata e outras solanáceas, inclusive mais de 300 espécies pertencentes a 77 famílias botânicas (ROBINSON, et al., 1997).

As Práticas de Manejo: O bataticultor poderá reduzir os riscos de perdas em suas colheitas, apenas adotando o monitoramento sistemático da população de nematóides em suas áreas. A infestação das áreas pelos nematóides de galha (Meloidogyne spp.), principais espécies de importância econômica para a cultura no Brasil, precisa ser determinada na época do plantio.

Principais Espécies de Fitone-matóides de ImportânciaEconômica para a Cultura da Batata no Brasil

Em culturas cujos produtos comercializados são raízes ou tubérculos, tais como a batata, as perdas qualitativas causadas pelos nematóides têm muito maior relevância. Em termos mun-diais, atribui-se aos nematóides perdas anuais estimadas em 12,2 % na cultura de batata (Barker, 1998).

Além dos danos diretos, os nematóides estão envolvidos em doenças complexas da batata que incluem outros patógenos, tais como Ralstonia (=Pseudomonas) solanacearum, Verti-cillium albo-atrum e Rhizoctonia solani.

Jaime Maia dos Santos - [email protected] - Prof. Ass. Dr, Nematologista Unesp/Faculdade de Ciências Agrárias e VeterináriasDepto. de Fitossanidade e Centro de Manejo Integrado de Pragas - Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/nº 14884-900 Jaboticabal – SP

Fig. 1 - Eletromicrografias de varredura de cistos de Globodera pallida. A) Forma característica de cisto inteiro. B) e C) Região perineal (v = vulva; a = ânus). D) Padrão de estriamento da cutícula na median a dos cisto.

Fig. 2 - Meloidogyne incognita em batata. A) Eletromicrografia de varredurade um juvenil par-cialmente dissecado em uma raiz. B) Eletromicrografia de varredura de uma fêmea adulta parcialmente dissecada. C) Fotomicrografia de fêmeas adultas (setas) em camadas subepidermais do tubérculo. D) Tubérculos exibindo sintomas da infecção (Barras da escala = 10 µm).

Fig. 3 - Fotomicrografias de Pratylenchus brachyurus. A) Fêmea inteira. B) Região anterior. C) Re-gião posterior (v = vulva; a = ânus).

Os nematóides na cultura de batata

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9Fitossanidade

O monitoramento das culturas em andamento permite o conhecimento parcial da área, quanto à infestação pelos nematóides, e já fornecem subsídios que indicam onde as amostragens não devem ser negligenciadas. Áreas das lavouras que exibem plantas com desenvolvimento abaixo do esperado ou que, por ocasião da colheita, apresentaram um maior percentual de tubér-culos fora do padrão habitual, com pequenos pontos escurecidos na casca ou com sintomas de galhas, devem ser amostradas. Amostras compostas de solo e tubérculos deverão ser coletadas nessas partes das lavouras e encami-nhadas para análise. Uma pequena porção de solo da rizosfera e um ou dois tubérculos desses locais deverão compor cada amostra simples. Essas poderão ser coletadas em um balde, à medida que se caminha pela área em inspeção. Cinco a 10 amostras simples constituirão uma amostra composta. Em seguida, essas amostras deverão ser homogeneizadas, sendo retirados cerca de meio litro de solo e 3 a 5 tubérculos para compor a amostra composta. Essa amostra deve ser acondicionada em um saco plástico, devidamente identificada e encaminhada para análise em um laboratório especializado.

O manejo dos nematóides na cultura de batata, assim como em muitas outras, requer uma atitude contínua de vigilância por parte do pessoal de campo. Em geral, a cultura anterior fornece as indicações sobre a infestação e indica se alguma medida deve ser adotada para reduzir a população dos nematóides na área, ou em algumas partes dela, na época do plantio da cul-tura subseqüente. Na prática, o manejo racional da população de nematóides é obtido com a adoção de várias táticas, ao longo do tempo, em vez de uma única medida. Entre as opções de táticas de manejo, tem-se: 1) quarentena; 2) práticas culturais; 3) manejo químico; 4) uso de variedades resistentes; 4) manejo biológico; 5) uso de plantas geneticamente modificadas; 6) manejo integrado.

Quarentena – A quarentena usualmente é praticada com leis federais, estaduais ou até mes-mo municipais, promulgadas com o propósito de impedir a introdução de material infestado (com terra aderente) ou infectado (contendo nematóides internamente) em uma área até então isenta. Cada produtor deve impor a si pró-prio, médias de quarentena, não trazendo nem

permitindo que tragam para suas áreas materiais de propagação de outras regiões, à margem das normas legais em vigor. Com efeito, a utilização de batata-semente isenta de nematóides é o primeiro passo na luta contra essas pragas.

Práticas culturas – A remoção de batatas in-fectadas da área por ocasião da colheita é muito importante. Caso contrário, os nematóides irão multiplicar-se nesses tubérculos e migrarão, posteriormente, para o solo, mantendo ou até aumentando a infestação da área. A prática conhecida como alqueive, que consiste na ma-nutenção do solo limpo, para as condições do Brasil, onde não ocorrem os nematóides de cisto da batata, pode ser uma alternativa auxiliar de grande relevância.

Os nematóides em geral, à exceção dos nematóides de cisto, não suportam o desse-camento do solo. Por conseguinte, alqueivar o solo nos períodos mais quentes do ano, em combinação com gradagens sucessivas pode, por si só, propiciar o manejo dos nematóides em batata no Brasil. Outra prática cultural relevante é a rotação de culturas. Para fins de manejo da população de nematóides, a rotação de culturas pressupõe que a cultura subseqüente seja resistente ao nematóide predominante na área. É, pois, um pré-requisito o conhecimento das espécies que ocorrem na área, tendo em vista a elaboração de esquemas de rotação que sejam eficazes para a redução da população de uma espécie particular. Assim, o cultivo de feijão, após um ciclo de batata, é sempre uma prática de muito risco, visto que as variedades de feijão disponíveis geralmente são muito suscetíveis aos nematóides de galha, a P. brachyurus e a R. reniformis. A escolha da espécie de planta e da variedade para compor o esquema de rotação, visando o manejo de nematóides, pois, deve levar em consideração, também, a ocorrência de outras espécies dos nematóides chaves da batata na área, mesmo que em baixos níveis de população, visto que a cultura e a variedade es-colhidas podem favorecê-las, comprometendo a eficácia da medida. Algumas variedades de milho podem reduzir a população de Meloidogyne spp. e de R. reniformis e aumentar a de P. brachyurus. A rotação de batata com amendoim pode ser uma alternativa vantajosa. Entre os nematóides de galha, apenas a raça 1 de M. arenaria é tida como importante praga da cultura e, no Brasil, não há registros de sua ocorrência nem de outros nematóides como causa de perdas significativas para a cultura. No estado de São Paulo, essa cul-tura vem sendo usada com sucesso em rotação com a cana-de-açúcar para fins de manejo de nematóides. Além do benefício no manejo dos nematóides, a receita com a venda do amendoim colhido na área pode ser significativa.

Não é o caso da utilização de plantas antago-nistas como as espécies de Crotalaria. Essas ge-ralmente, são incorporadas ao solo na época da floração. Essas plantas possuem ação antagonista que atrai os juvenis dos nematóides (Meloidogyne spp.) e estes morrem dentro das raízes, antes de completarem o ciclo de vida. Por serem, tam-bém, plantas leguminosas, além do benefício no manejo dos nematóides, são importantes fontes de nitrogênio e de matéria orgânica. A mucuna preta, também citada como antagonista aos nematóides de galha, tem comprovada eficácia contra M. incognita, mas não contra M. javanica.

Como esses nematóides são sérios problemas para a batata no Brasil, e têm ampla distribuição nos nossos solos, sua utilização deve ser prece-dida de uma criteriosa identificação das espécies presentes na área.

Manejo químico - O manejo químico é um importante aliado na luta contra os nematóides, outras pragas e doenças. Na prática, entretanto, não deve ser visto como a única nem a mais eficaz das medidas disponíveis. No presente, cerca de 11 produtos nematicidas estão registrados para uso na cultura da batata no Brasil. Além desses, também estão registrados outros 83 inseticidas, 99 fungicidas, 9 bactericidas, 39 acaricidas, 16 herbicidas, cinco reguladores de crescimento e dois cupinicidas (MIYASAKA, 2003).

Uns dos principais cuidados de parte dos produtores na escolha de um nematicida para a batata é a observância do período de carência. Trata-se do período entre a aplicação do nemati-cida e a colheita da batata. O período de carência determina, pois, se um certo produto pode ou não ser utilizado na amontoa. Essas instruções e outras são encontradas nas embalagens dos nematicidas e devem ser lidas e criteriosamente obedecidas como medida de segurança, tanto para os que trabalham diretamente com esses produtos como para os consumidores. Como os recursos tecnológicos para detecção de resíduos de agroquímicos nos mais variados tipos de produtos vêm sendo cada vez mais aperfeiçoa-dos e as preocupações relativas à proteção do meio ambiente são crescentes em todo mundo, há necessidade, urgente, de investimentos em pesquisas para o desenvolvimento de alternativas ao controle químico. Nos EUA, a contamina-ção do lençol freático e outras implicações de

natureza toxicológica e ambiental, decorrentes do uso de nematicidas, fizeram com que todos esses produtos fossem banidos da cultura de batata. Dificilmente, pois a batata produzida em qualquer parte do mundo, com o emprego excessivo de agroquímicos, teria acesso a esse mercado.

A resistência de cultivares de batata aos nema-tóides de cisto é largamente utilizada em países europeus e nos EUA para manejo dos nematói-

Fig. 4 - Eletromicrografias de varredura de Rotylenchulus reniformis. A) Fêmea adulta par-cialmente envolta pela massa de ovos na superfície da raiz. B) Fêmea adulta e sua massa de ovos após a remoção do material gelatinoso que geralmente as envolve na superfície da raiz. C) Fêmea adulta com a região anterior imersa nos tecidos da raiz. D) Colônia de fêmeas adultas do nematóide em um segmento de raiz.

Figura 5. Nematóides capturados por fungos nematófagos. A) Fungo nematófago não identifica-do capturou o nematóide com um anel constritor atípico e já exibia crescimento micelial dentro do corpo do nematóide (seta). B) Fungo nematófago penetrando o corpo do nematóide. C) Nematóide capturado por dois anéis constritores do fungo ne-matófago Arthrobotrys brochopaga. D) Nematóides capturados por ramos adesivos (setas) do fungo Monacrosporium robustum.

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10 Fitossanidadedes de cisto. Na Europa, o uso combinado de variedades resistentes com nematicidas tem sido uma prática comumente utilizada, especialmente na Inglaterra.

Nas regiões de clima frio do mundo, os ne-matóides de cisto da batata são pragas de maior importância econômica que os nematóides de galhas para a cultura. Por conseguinte, já foram desenvolvidas variedades resistentes às princi-pais raças do nematóide dourado da batata (G. rostochiensis), especialmente, as raças 1 (Ro1) e a raça 4 (Ro4). Embora, já sejam conhecidas várias fontes de resistência aos nematóides de galha, tanto em materiais selvagens como em espécies cultivadas de Solanum, ainda não dispomos de cultivares comerciais de batata resistentes às espécies de Meloidogyne que predominam em nossos solos. Jatala e Rowe (1976) demons-traram que S. sparsipilum é uma boa fonte de resistência a M. incognita, M. javanica e M. arenaria. Como fonte de resistência a M. hapla, poderia ser utilizada S. tuberosum ssp. andigena, conforme demonstrado por Brodie e Plaisted (1977). Essa subespécie, nativa da América do Sul, e outras espécies selvagens de Solanum, também são consideradas fontes de resistência ao falso nematóide de galha que, conquanto não ocorra no Brasil, é tido com uma constante ameaça para a bataticultura brasileira, visto que está largamente distribuído Argentina. No Brasil, M. incognita e M. javanica são as espécies chaves predominantes, embora em regiões de maior al-titude, como no Alto Paranaíba em MG e outras, M. hapla também seja encontrada.

Para os nematóides das lesões radiculares

(Pratylenchus spp.) não são conhecidas fontes de resistência. Sabe-se, contudo, que certos culti-vares de batata são mais tolerantes a P. penetrans que outros, mas os resultados dos estudos não são conclusivos.

Vencidas as questões legais que envolvem a utilização de plantas geneticamente modificadas, as espécies cultivadas e selvagens de amendoim (Arachis spp.), por exemplo, poderão prover genes de resistência aos principais nematóides da batata. Os obstáculos para utilização de plantas transgênicas, hoje, são muito maiores nos tribunais que nos laboratórios.

O controle biológico também pode ser um importante aliado. De fato, há vários organis-mos do solo que se alimentam de nematóides. Entre esses, no momento, os fungos são os mais promissores, notadamente os que produ-zem armadilhas que capturam os nematóides, chamados fungos predadores. Em verdade, já há nematicidas biológicos formulados à base de fungos nematófagos em outros países. Na Figura 5, foram ilustrados alguns nematóides capturados por fungos nematófagos documen-tados em estudos que vêm sendo realizados no Laboratório de Nematologia da Unesp/FCAV, Câmpus de Jaboticabal - SP. Os resultados ob-tidos no controle biológico de M. javanica em crisântemos de corte sob cultivo protegido, utilizando-se alguns desses fungos, sinalizam com a possibilidade de dispormos de formulações comerciais nos próximos anos. A possibilidade de aplicação dessas formulações em campos de produção de batata infestadas por nematóides, sobre as reboleiras, poderá viabilizar a utiliza-

ção dessa alternativa. O emprego de formulações de fungos nematófagos, concomitante, com nematicidas granulados, inclusive, potencializa o aumento da eficácia de nematicidas tradicionais em dosagens mais baixas, já que os nematicidas, em geral, têm ação inseticida, mas não fungicida. Na prática, a eficácia do controle de ne-matóide com menor impacto sobre o ambiente, certamente, dependerá da combinação de algumas dessas táticas de manejo. O uso de apenas uma delas, isolada, dificilmente traria be-nefícios estáveis e duradouros. Con-tudo, o produtor que adotar práticas de manejo integrado dessas pragas tem muito mais chances de sucesso. A escolha de batata-semente isenta de nematóides, o plantio em áreas não infestadas, a remoção de batatas com sintomas da infecção das áreas, por ocasião das colheitas, a rotação de culturas, a utilização de plantas antagonistas e outras são medidas que, combinadas, podem permitir significativa redução de agroquímicos na cultura com vantagens econômicas, ecológicas e de qualidade.

Bibliografia: Consultar autor

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11Melhoramento

Cultivares de batata resistentes a virosesDentre os inúmeros problemas fitossa-

nitários que afetam a cultura da batata estão as viroses. São relatadas cerca de 30 doenças de natureza virótica que causam desde danos leves até perdas significativas na produção. As viroses também debilitam as plantas, tornando-as mais suscetíveis a outras doenças causadas por fungos, bactérias ou nematóides. As viroses se destacam também por serem de difícil controle no campo. Muitas delas são transmitidas por insetos vetores que, mesmo sendo controlados por inseticidas, ainda conseguem transmiti-las antes de sua morte. Além disso, devemos lembrar que a utilização de batatas-sementes infectadas por viroses causam prejuízos sérios, pois compro-metem toda a lavoura, desde o início de seu desenvolvimento.

Desta forma, a maneira mais efetiva e mais barata de se precaver contra as viroses é por meio da resistência genética. Uma cultivar resistente possui genes que garantem a sa-nidade da planta mesmo que o vírus venha a infectá-la.

No Brasil, as principais viroses são o vírus do enrolamento das folhas da batata (PLRV), o vírus Y da batata (PVY), o vírus X da batata (PVX) e, mais recentemente, o vírus S da ba-tata (PVS). O controle genético dessas viroses é realizado de diversas maneiras. O PLRV, por exemplo, é controlado por inúmeros genes, sendo difícil a obtenção de cultivares resistentes. Por outro lado, o PVY, o PVX e o PVS são controlados por genes simples, cuja introdução em cultivares melhorados é

facilitada.Quase todas as cultivares comerciais

empregadas no Brasil são suscetíveis a esses vírus e, com poucas multiplicações no cam-po, podem apresentar níveis alarmantes de plantas infectadas. Por essa razão, a utilização de batatas-sementes certificadas com alta qualidade fisiológica e sanitária sempre deve ser empregada.

A Universidade Federal de Lavras (UFLA), vem trabalhando para a criação de cultiva-res com resistência extrema ou imunidade ao PVY e PVX. A imunidade é um tipo de resistência que impede a multiplicação do vírus nos tecidos vegetais, não havendo o aparecimento de qualquer sintoma e nem mesmo a sua transmissão para outras plantas. As resistências a essas viroses são provenien-tes da espécie cultivada Solanum tuberosum ssp. andigena, que possui os genes Rx e Ry. Esses genes foram incorporados pelo Centro Internacional de la Papa (CIP) em clones de-signados XY e disponibilizados para utilização pelos melhoristas de todo o mundo.

Em 1998, a UFLA recebeu esses clones do CIP e realizou diversos cruzamentos, entre eles, gerando uma grande população que foi selecionada para resistência por meio de inoculação mecânica. Após a identificação de alguns clones que não apresentaram sintomas nos testes, os mesmos foram submetidos à enxertia sobre plantas de fumo previamente inoculadas com PVX ou com PVY (Fig. 1). A enxertia permite que o vírus se multiplique no hospedeiro infectado e se transloque para

a parte aérea da planta de batata. Após aproximadamente 15 a 20 dias da inoculação, os clones são testados para as viroses, utilizando a técnica sorológica DAS-ELISA. Apenas os clo-nes que apresentam reação negativa no teste são considerados imunes e permanecem no programa. Todos os demais são eliminados.

Além de possuírem imunidade aos vírus, os clones são avaliados em condições de campo para caracteres agronômicos, como produção de tubérculos, porcentagem de tubér-culos graúdos e alto peso específico de tubérculos, que garantem melhor qualidade de fritura. As seleções visam, ainda encontrar clones que sejam imunes, simultaneamente, ao PVX e PVY e que possuam também a constituição duplex, isto é, têm duas doses do gene Ry e Rx (Ry Ry ry ry Rx Rx rx rx).

Embora os clones com constitui-ção duplex tenham o mesmo nível de resistência de clones simplex (Ry ry ry ry Rx rx rx rx), eles são vanta-josos porque podem produzir mais de 80% de descendentes também imunes, facilitando os trabalhos de melhoramento e permitindo que outros clones mais produtivos sejam obtidos futuramente. Os clones selecionados até agora têm demons-trado serem tão produtivos quanto as cultivares atuais, além de possuí-rem imunidade e peso específico de tubérculos mais elevado. Por outro lado, não apresentam as mesmas boas características de aparência de tubérculos, como as cultivares mais lisas Bintje e Monalisa. No entanto, novas seleções continuam em anda-mento, procurando identificar clones que, além dos atributos desejáveis já mencionados, apresentem também aparência de tubérculos que atendam aos consumidores.

César Augusto Brasil Pereira PintoProfessor Titular, Depto de Biologia Universidade Federal de Lavras (35) 3829-1352 - [email protected]

Planta de fumo infectada com PVY e enxertada com clone imune de batata

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12 Melhoramento

A batata (Solanum tuberosum spp tuberosum) foi introduzida da Europa pelos imigrantes que vieram para o Sul do Brasil, no século XIX. O melhoramento genético, propriamente dito, foi iniciado no País em 1942, no município de Rio Grande (RS), na Estação Experimental de Horticultura, da Secretaria de Agricultura - RS. Este programa contribuiu para o desenvolvimento de diversas cultivares, que tiveram boa aceitação no Rio Grande do Sul. No entanto, o programa foi finalizado devido à infestação de murchadeira (Ralstonia solanacearum) no campo experimental daquela estação.

Ainda na década de 40, iniciaram-se dois outros programas concomitan-temente, sen-do um em Pelotas (RS), no extinto Instituto Agronômico do Sul (IAS), atualmente Embrapa Clima Temperado, e outro em Campinas (SP), no Instituto Agronômico de Campinas - IAC. Ambos os programas lançaram diversas cul-tivares. Entre elas, a Baronesa, lançada em 1955 pelo IAS, obteve o maior êxito e, ainda hoje, predomina nas lavouras de batata do Rio Grande do Sul. A cultivar Aracy, lançada pelo IAC, teve alguma repercussão em São Paulo. Programas de outras instituições, Embrapa Hortaliças, Instituto Agronômico do Paraná - Iapar, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – Epamig, Empresa de Pes-quisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Epagri, iniciados posteriormente, também lançaram cultivares no mercado.

Avanços - Em todo o mundo, o melho-ramento genético de batata tem tido pouco sucesso quando comparado a outras culturas. A natureza genética (tetraplóide) e a forma assexual de reprodução da batata cultivada comercialmente tornam o seu melhoramento complexo e consumidor de muito tempo e

energia. As cultivares de batata são genetica-mente uniformes, mas o intercruzamento entre duas cultivares gera progênie que pouco pode lembrar os pais, sendo a principal razão para o progresso lento. Além disso, uma cultivar moderna precisa combinar dezenas de carac-terísticas. Mas mesmo assim, muito progresso tem sido feito.

Muito embora o melhoramento de batata tenha recebido pouco investimento no Brasil, pode-se considerar que houve sucesso no que se refere a cultivares liberados e, principal-mente, na melhoria de germoplasma. Foram desenvolvidos muitos clones e cultivares com adaptação agronômica às condições subtropicais brasileiras, com elevado potencial de utilização para os programas de melhoramento. Houve uma importante contribuição da Embrapa, Emgopa, Epagri, Epamig, Fepagro, IAC, Iapar, UFLA e, mais recentemente, da UFSM no me-lhoramento de batata. Infelizmente, em geral, a magnitude desses programas não aumentou. Pelo contrário, alguns deles estão em ritmo muito lento ou foram paralisados.

Embora os grandes avanços em cultivares de batata no Brasil tenham sido conseqüência de introduções notadamente da Europa, onde o clima é temperado propriamente dito, o lançamento da Baronesa foi uma significativa contribuição da pesquisa nacional. Outras cultivares brasileiras tiveram pequeno impacto positivo no setor produtivo. Inicialmente, o esforço do melhoramento nacional foi centrado na obtenção de cultivares com alto potencial produtivo e rusticidade, incluindo boa resis-tência de campo a doenças e pragas e menor exigência em fertilizantes. A partir da década de 90, as características de qualidade culinária e industrial foram destacadas nos esquemas de seleção, resultando na liberação das cultivares Cristal e Pérola, pela Embrapa, e Catucha, pela Epagri-Embrapa, representando avanços em

relação à qualidade de fritura.As cultivares nacionais têm se apresentado

como as melhores opções para os sistemas de produção orgânica ou ecológica.

Demandas - As mudanças no estilo de vida e nos padrões de consumo estão tendo um impacto direto no nível de consumo de batata e no tipo de produto preferido pelos consumidores. O mercado está demandando batatas com características mais específicas, principalmente relacionadas à qualidade culinária e ao processamento industrial. Em função disto, os padrões das cultivares estão mudando. Afora o Rio Grande do Sul, o pa-drão de qualidade de mercado estabelecido a partir da batata Bintje, cujas características de aparência de tubérculo (tamanho médio, formato alongado, olhos rasos e película amarela clara, lisa e brilhante), constituem a preferência do consumidor. No entanto, enquanto a Bintje apresenta também as qualidades culinárias demandadas pelo mer-cado de batata de pele clara, a Monalisa, que atualmente é a cultivar mais plantada no País devido à excelente aparência de tubérculo e ao alto potencial produtivo, apresenta fraca qualidade culinária. Para os consumidores gaúchos, a preferência é por batata de pele rosa. Mesmo que no Rio Grande do Sul a Baronesa seja ainda a principal cultivar, o mercado tem preferido a Asterix, devido à sua melhor qualidade comercial (cor, brilho e uniformidade) e aptidão à fritura. Não fossem as dificuldades de produção dessa cultivar no RS, no que se refere, principalmente, ao manejo de brotação e ciclo mais longo, talvez já tivesse ultrapassado a Baronesa em área plantada no RS.

Em suma, a grande demanda é por culti-vares que, além de alto potencial produtivo, possuam tubérculos assemelhados à batata Bintje, tendo película amarela ou rosa (RS), boa aptidão ao preparo de palitos fritos, boa resistência de campo às principais doenças e pouco exigente em fertilizantes, resultando em materiais que no processo produtivo tenham menores custos e menos impactos negativos ao ambiente e ao homem.

Outro mercado crescente de batata refere-se ao de processamento industrial, cuja viabili-dade está dependente de batatas de qualidade específica e custo de produção competitivo. No entanto, em relação à fabricação de batatas fritas em fatias finas (“chips”), a matéria-prima é a cultivar Atlantic, pela ex-celente qualidade (alto teor de matéria seca e excelente cor de fritura), a qual, entretanto, é suscetível ao coração oco, chocolate, sarna comum e ao PVY, exigindo renovação cons-tante de semente. Ainda não foi estabelecida no País a indústria de processamento de ba-tata na forma de palitos pré-fritos congelados, muito embora se apresente como uma ótima oportunidade para aumentar o mercado para produção de batata brasileira. Segundo as in-dústrias, para essa finalidade, são necessárias cultivares de batata de formato longo (ideal: comprimento de 8 cm, relação C/L ³ 1,8); teor de matéria seca, 20-24% (equivalente ao peso específico de 1,080–1,095); teor de açúcares redutores,

Arione da Silva [email protected] - Embrapa Clima TemperadoC.P: 403. CEP: 96.001-970 Pelotas, RS

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13Melhoramento

<0,4%; não devem apresentar defeitos de origem fisiológica ou patogênica; alta produtividade (40t.ha-1); além de custo de produção compatível com os praticados in-ternacionalmente.

A despeito da fundamental importância para atingir o nível atual da bataticultura brasileira, as cultivares introduzidas apresentam muitas deficiências, exigindo manejo muito apurado e gastos em fertilizantes e pesticidas, resultando em custos muito elevados para produção.

Também crescem as demandas por culti-vares para utilização em sistemas de agricul-tura sustentável, orgânica ou ecológica, com tubérculos de boa qualidade em aparência e culinária.

Perspectivas - Neste milênio, é fundamental considerar o melhoramento genético de bata-ta na perspectiva de que o produto assumirá um papel ainda mais importante na nutrição humana, como uma fonte de alimento ade-quada, sustentável e de alta qualidade para as populações do planeta, num ambiente de au-mento demográfico e de mudança climática.

Percebe-se uma expectativa generalizada entre os produtores de que novas alternativas de cultivares às importadas aportem dos pro-gramas brasileiros de melhoramento. Isto se aplica a todos os perfis de produtores, tanto empresários como pequenos agricultores, seja para o mercado de mesa ou processamento industrial, seja para o sistema tradicional ou orgânico.

Certamente, em muitos aspectos, o Brasil

tem um longo caminho a percorrer no me-lhoramento genético para desenvolver culti-vares de batata capazes de atender à cadeia produtiva da cultura. No entanto, resultados experimentais têm indicado que a maioria das cultivares nacionais apresenta melhor adaptação às condições ecológicas e tecnoló-gicas, podendo competir com as estrangeiras, com vantagem em produtividade e custo de produção, quando se trata de cultivares para mercados menos exigentes e para produtores menos tecnificados. O desafio é muito maior quando se trata de desenvolver cultivares com tubérculos de alta qualidade em aparência, ca-racterísticas culinárias e para processamento. Tem sido afirmado que a dificuldade é combi-nar, em uma mesma cultivar, elevado potencial produtivo, resistência à maioria das doenças e pragas existentes no Brasil e bom teor de ma-téria seca, com pele brilhosa. A cultivar Eliza, lançada em 2001 pela Embrapa, é um exemplo de que isso pode ser obtido.

Para vencer este desafio e atender às expec-tativas do agronegócio da batata de maneira eficaz, é fundamental a utilização de equipes multidisciplinares de pesquisa. Dada à escassez de equipes completas nas instituições, cobrin-do as diferentes áreas de conhecimento, é importantíssimo, como tem sido apontada por outros pesquisadores, a integração em um tra-balho, incluindo organizações de produtores, quer seja na forma de Rede ou Consórcio de Pesquisa ou de Programa Cooperativo, para efetivamente ampliar as chances de sucesso.

Para estabelecer tal organização é necessário um significativo apoio de recursos financeiros de organismos de fomento, visando garan-tir a realização dos trabalhos devidamente definidos com a participação da cadeia do agronegócio da batata. É interessante frisar que existe nas instituições públicas brasileiras uma qualificada e experiente massa crítica de pesquisadores, com formação em centros de excelência internacional, grupo de apoio expe-riente, infra-estrutura razoável e germoplasma melhorado, bem como uma distribuição estra-tégica das instituições nas principais regiões produtoras. Todo este potencial humano e material, integrado em um programa, contan-do com cooperações já existentes de grupos de cientistas de outros países, e apoiado finan-ceiramente, de forma continuada, resultaria certamente em importantes contribuições de cultivares demandadas pelo mercado. Exem-plos de sucesso de trabalho cooperativo têm demonstrado estas possibilidades.

Até aqui, apresentou-se o desenvolvimento de cultivares por instituições públicas. Obvia-mente, com a instituição da Lei de Proteção de Cultivares no Brasil, incluindo a cultura da batata, é possível que empresas privadas, especialmente as que estão introduzindo culti-vares mais modernas e produtivas, possam vir a estabelecer programas no País, pois, sendo passíveis de proteção legal por um período de 15 anos, há possibilidade de retorno de investimentos efetuados em desenvolvimento de novas opções de cultivares batata.

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15Empresas parceiras

Traça da batata (Phthorimaea operculella)Breve nova opção de controle

A traça da batata é uma das mais importantes pragas que danificam a cultura da batata, especialmente em condições de clima quente e ambientes secos, tanto a campo, como em armazéns. A espécie mais comum é Phthorimaea operculella (Lepidoptera: Gelechiadae).

Em razão das perdas ocasionadas por esta praga, os agricultores usam produtos químicos altamente tóxi-cos para controlar a traça da batata. Como resultado do ataque da pra-ga, tem-se o aumento de custo de produção, o desenvolvimento de populações resistentes e o aumen-to de populações de pragas como mosca branca, tripes e ácaros.

Outro importante aspecto re-lacionado à esta praga é a dificul-dade por parte do agricultor em reconhecimento à espécie que está efetivamente presente na cultura. A incorreta identificação da espécie pode comprometer todo o pro-grama de manejo adotado, sendo comum, a escolha de métodos de controle inadequados ou pouco eficientes.

Os danos são causados pelas larvas que abrem galerias nas fo-lhas, nervuras e talos, ocasionando a morte do tecido foliar, morte dos pontos de crescimento e ruptura

dos talos. Os da-nos também são observados nos tu-bérculos, nos quais as larvas abrem galerias, provocan-do perdas no peso e na qualidade dos mesmos, tanto no campo como no armazém. No Brasil, o ataque ocorre também em batata-semente no armazém. Este problema vem crescendo em importância nos últimos anos, pro-

vavelmente, devido à introdução da praga via batata-semente, oriunda das regiões produtoras mais quentes.

Os danos ocasionados pela traça da batata são relacionados à fase em que a mesma ocorre na cultura. Na literatura, é mencionado que as maiores perdas de produção são ocasionadas quando a desfolha ocorre em plantas com cerca de 55 dias e o dano mínimo ocorre quando as larvas atacam plantas com cerca de 75 dias. Cita-se ainda que, quando o dano ocorre em plantas com cerca de 35 dias após a emergência, as mesmas conse-guem recuperar-se bem, sem haver perda significativa na produção.

As fontes de infestação são, principal-mente, batatas infestadas em armazéns e campos de batata, especialmente aqueles campos com plantas emergi-das após a colheita, as quais servem de refúgio para a praga. Na maioria das vezes, os danos são detectados tardiamente no armazém, resultado de infestação dos tubérculos não detecta-da e não controlada a campo.

Dentre as medidas recomendadas para reduzir a população de traça da batata a campo e, desta forma, mini-mizar danos tanto a campo como no armazém, destacam-se as seguintes: 1) Bom preparo do solo; 2) Época de plantio; 3) Profundidade de plantio; 4)

Amontoa; 5) Freqüência de irrigação; 6) Armadilhas de feromônio; 7) Período de colheita; 8) Armazenamento de tubérculos saudáveis; 9) Arranquio e período de colhei-ta; 10) Destruição de restos de cultura; 11) Controle químico.

As perdas em armazéns podem chegar de 30 a 40% dos tubérculos armaze-nados. Dentre as medidas de controle recomendadas para o controle de traça da batata em armazéns, destacam-se: 1) Limpeza dos armazéns; 2) Armazenar tubérculos sadios; 3) Plantas repelentes; 4) Armadilha de feromônio; 5) Uso de luzes difusoras.

Controle da traça da batata com Rumo® GDA*

O inseticida Rumo® GDA é o novo inseticida da DuPont do Brasil para o controle da traça da batata. O ingrediente ativo indoxacarb é um inseticida que atua por ingestão, destacando-se dos demais inseticidas usados na cultura da batata por apresentar um modo de ação único e ino-vador. O indoxacarb atua bloqueando os canais de sódio, paralisando rapidamente a atividade das lagartas que ingerem o produto, diminuindo os danos, evitando que os danos aumentem e diminuindo a densidade populacional da praga presente na cultura.

Eng. Agro. Dr. Fábio Maximiano de Andrade SilvaRepresentante de Pesquisa e Desenvolvimento DuPont do Brasil S.A.

Traça da batata-lagarta no ponteiro

Traça da batata-detalhe ponteiro atacado

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16 Empresas parceiras

Rumo® GDA é formulado em grânulos dispersíveis em água. Apresenta bom residual de con-trole, é compatível com fungici-das, pode ser usado em qualquer fase de desenvolvimento da cultura e apresenta boa estabi-lidade ao pH alcalino. Aliado ao novo e exclusivo modo de ação e alta eficácia no controle da traça, o Rumo® GDA é altamen-te seletivo aos inimigos naturais presentes na cultura da batata, sendo por isto, um inseticida preferencial em programas de manejo ecológico de pragas.

Em fase de registro junto ao Mapa (Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abaste-cimento), Rumo® GDA será recomendado na dose de 160 g do produto comercial por hectare. Deve-se efe-tuar a aplicação de Rumo®

GDA quando forem cons-tatados os primeiros sinais de ataque da praga - folhas minadas na área amostrada - sendo recomendado um vo-lume de aplicação suficiente para que se obtenha um bom enxágüe da área foliar. A boa cobertura é essencial para a adequada performan-

ce de Rumo® GDA, pois o mesmo age por ingestão. Para maximizar a cobertura e enxágüe foliar, Rumo®

GDA é recomendado com o uso de adjuvantes. Ao longo dos últimos anos, a DuPont e colaboradores rea-lizaram inúmeros ensaios de eficácia de Rumo® GDA para o controle da traça da batata em diferentes regiões produtoras. Nestes experimentos, Rumo® GDA se mostrou altamente eficiente para o controle da traça da batata.

Traça da batata

Onde o mais caro fica mais

baratoO óleo diesel é um combustível derivado

do petróleo, sendo constituído, basicamen-te, por hidrocarbonetos. Alguns compostos presentes no diesel, além de apresentarem carbono e hidrogênio, apresentam também enxofre.

Hoje, são produzidos no Brasil três tipos de óleo diesel: o diesel interior (vermelho), o diesel metropolitano (amarelo) e o diesel marítimo (amarelo fosco).

Por força da legislação ambiental, nos grandes centros, é obrigatório o consumo de óleo metropolitano, cuja queima resulta a menor emissão possível de enxofre (po-luentes) na atmosfera.

No entanto, nas áreas de menor índice de poluição, pode ser utilizado o diesel interior. Mas, também, pode ser utilizado o diesel metropolitano. Então, se não há restrições de queima nas regiões não metropolitanas, fica a questão: por que utilizar um produto mais caro como o diesel metropolitano? Porque a queima mais perfeita vai trazer consumo específico menor.

Fatos - Maior temperatura de destilação resulta em menores frações pesadas, que por sua vez, minimizarão os depósitos de resíduos no motor, menores emissões gasosas, como fumaça preta e óxidos de nitrogênio.

Enxofre - Por possuir menor teor de enxofre, minimiza a formação de dióxido e trióxido de enxofre, cuja presença destes compostos leva à formação de ácido sulfúri-co que é altamente corrosivo para as partes metálicas, (cilindro, camisa, pistão anéis, bico injetor, etc.), além de ser poluente.

Densidade – Tendo sua densidade menor, o diesel metropolitano evita a produção de mistura rica dentro da câmara de combus-tão. Evita, ainda, a diluição do óleo lubri-ficante do motor através do combustível. Desta forma, mesmo que, a princípio mais caro, o diesel metropolitano virá, sem dúvida, ao longo do tempo se tornar mais barato pelas economias indiretas que gerou, face às suas qualidades.

Risel

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17Empresas parceiras

Sipcam Agro investe em unidade de formulação GRDA no Brasil

Em visita ao Brasil, a direção da empresa italiana Sipcam anunciou um investimento de R$ 15 milhões na cons-trução e na ampliação das instalações industriais de sua subsidiária brasileira, a Sipcam Agro, para o desenvolvimento de produtos de formulação GRDA, no Distrito Industrial 3 de Uberaba, Minas Gerais.

Os produtos com formulação GRDA são compostos por partículas altamente micronizadas (muito finas), aglomeradas em grânulos despersíveis em água. Desta forma, a poeira na manipulação é reduzi-da, proporcionando ao aplicador, maior segurança e praticidade no manuseio. As partículas micronizadas apresentam me-lhor distribuição, aderência e cobertura nas folhas, resultando em maior proteção às plantas.

A Sipcam Agro SA é a empresa bra-sileira do grupo de empresas Sipcam,

pertencente a Sipcam-Oxon, com sede em Milão, Itália. No Brasil há 25 anos, a Sipcam atua na fabricação de insumos para as culturas de laranja, batata, soja e produtos agrí-colas para nutrição das plantas e fisiologia vegetal, além de fornecer matéria-prima para outras indústrias do setor, no mercado brasileiro e América Latina.

A nova unidade da empresa, que está no Brasil desde 1979, vai se dedicar à produção de defensivos agrícolas - inseticidas, fungici-das e acaricidas de baixo impacto ambiental, utilizando tecnologia de última geração.

A nova unidade faz parte da estratégia do grupo italiano Sipcam-Oxon, líder no mercado europeu em tecnologia própria para formulação de defensivos agrícolas, de investir cada vez mais no Brasil, ampliando

a sua estrutura atual de formulação e investimento na construção de novas unidades.

No ano passado, a Sipcam Agro Brasil registrou um crescimento de 8% em suas vendas e foi uma das poucas empresas do seu segmento no País, a registrar lucro.

Para o anúncio da nova unidade, esti-veram em visita ao Brasil, o CEO mundial do grupo, Giancarlo Oliva e o diretor mundial Giovanni Affaba.

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21Economia

Termos de troca na pós-desvalorização do Real

BataticulturaEvaristo Marzabal Neves - Prof. Titular do Depto de Economia, Administração e Sociologia – Esalq/USP, [email protected] Luciano Rodrigues - Graduando em Engenharia Agronômica - Esalq/USP, bolsista Fealq, [email protected] Diogo S. Dragone - Eng. Agrônomo, Pós-graduando em Economia Aplicada- Esalq/USP, [email protected]

Em artigos recentes (“Aplicação de fer-tilizantes na bataticultura: comportamento de preços no Plano Real” e “Bataticultura: dispêndios com defensivos agrícolas no qüin-qüênio 1997-2001”), publicados na edição anterior (Ano 3, nº 6, março 2003), verificou-se a elevada participação desses insumos em volume (fertilizan-tes) e em gastos (defensivos agrícolas), por unidade de área (hectare) plantada com batata. Para fertilizantes, o estudo mos-tra, num comparativo com 18 culturas comerciais brasileiras, que a batata é a cultura que mais demanda por fertilizantes/hectare (t/ha), enquanto para os defensivos, a batata vem se posicionando em terceiro lugar nos gastos por hectare (US$/ha) com fungicidas e insetici-das, num comparativo com 14 culturas comerciais. As evidências ficam mais claras quando se decompõem os itens/componentes de planilhas de custo de pro-dução, principalmente os operacionais, onde se constata o elevado peso de fertilizantes e defensivos agrícolas nas despesas com a produção de batata.

Há evidências ainda que, culturas que requerem quantidades significativas de fertilizantes e defensivos agrícolas, tiveram seus custos operacionais aumentados em períodos de desvalorização do Real (R$), face à necessidade de importações de componen-tes ou ingredientes não produzidos ou dis-

poníveis no Brasil. Nos casos de defensivos e fertilizantes, fortemente dependentes de importações de principio ativo (defensivos agrícolas) e de nutrientes e matérias-primas (principalmente, fósforo e potássio nos fer-tilizantes), a desvalorização cambial acabou alterando o fluxo de custo e a participação relativa dos componentes de custo com a elevação nas despesas advindas com a aquisição de insumos, sem a contraparte do aumento do preço do produto vendido pelo bataticultor, que, em muitos casos, não é dolarizado quando destinado para atender os consumidores do mercado doméstico. Abrindo um parêntese, é sabido que a des-valorização da moeda eleva os custos de importação de produtos estrangeiros com a pressão de alta de custo da matéria-prima, induzindo o aumento de preços internos. Por sua vez, produtos de exportação, cujas cotações internacionais são dolarizadas, ex-perimentam elevação nos ganhos, em Real, com a maior cotação da moeda americana no mercado doméstico. Neste sentido, produ-

tos agropecuários voltados unicamente para o mercado interno não são favorecidos pela desvalorização da moeda, pois seus preços são internalizados em Real e seus custos absorvem a desvalorização com o aumento no fluxo de custo proveniente da elevação de preços dos insumos que dependem de matéria prima importada, casos de fertili-zantes e defensivos agrícolas.

Uma maneira de medir se realmente a desvalorização do Real (R$) provocou alteração no fluxo de caixa do bataticultor, é fazer a comparação temporal através dos

termos de troca (preço de paridade), mês a mês, importante instrumento auxiliar na tomada de decisão do produtor.

Na tentativa de captar estas mudanças, principalmente após a forte desvalorização do Real, no início de 1999, tomou-se um horizonte de cinco anos, incluindo para com-paração temporal o ano 1998, que antecede à desvalorização cambial.

Os preços mensais recebidos pelos batati-cultores foram obtidos junto ao Instituto de Economia Agrícola/Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, bem como os de fertilizantes (no caso o for-mulado 04-14-08) e de defensivos agrícolas. Neste caso, face à importância de fungicidas e inseticidas na produção da batata, toma-ram-se os preços mensais de um fungicida (no mercado, vendido em caixa de 25kg) e dois inseticidas (no mercado, disponíveis em embalagens de 1 litro e caixas de 10 kg). No caso da batata, tem-se um preço único, não se discriminando o tipo ou variedade.

Preço de paridade (termos de troca) para fertilizante.

A Figura 1 ilustra a relação de troca entre os preços da batata (R$/sc 50kg) e fertilizante (R$/t). No eixo vertical, tem-se a quantidade de sacas (sc) de batata neces-sária para adquirir uma tone-lada de fertilizante no tempo considerado (horizonte de janeiro 1998 a dezembro de 2002, no eixo horizontal).

Verifica-se a inflexão no gráfico a partir da desvalori-zação do Real (janeiro 1999) exigindo, a partir deste ano, maior quantidade de sacas de batata para adquirir a mesma quantidade de fertilizantes.

Se, em dezembro de 1998, foram exigidas 12,72 sacas para adquirir uma tonelada de adubo, esta relação passa para 21,36 sacas em fevereiro 1999, permanecendo acima de 22 sacas ao longo deste ano. Em termos nominais, a tonelada de fertilizante salta de R$ 270,34 (dezembro de 1998) para R$ 347,15 (fevereiro de 1999), quase R$ 80,00 a mais em apenas dois meses. Neste período, a melhor relação para o bataticultor foi antes da desvalorização do Real (abril de 1998 com 8,81 sc), sendo que, entre março a junho de 1998, não se passou de 10 sc. Convém re-

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22 Economiagistrar que após a desvalo-rização cambial, a partir de janeiro de 1999, somente em um período (setembro de 2000 a junho de 2001), esta relação se mostrou favorável ao bataticultor, sendo necessárias menos de 10 sc para adquirir uma tonelada de adubo.

É importante frisar que a relação de troca é afetada pela sazonalidade de produ-ção, uma vez que em perío-do de safra, com a colheita abundante, a variabilidade e oscilações de preço são evidentes, sofrendo pres-sões baixistas devido a maior oferta do produto agrícola, o mesmo não ocorrendo com os preços dos insumos. É o que pode ter ocorrido em janeiro de 2000, quando fo-ram necessárias trocar 34,77 sc para adquirir uma tonelada de fertilizantes (em termos nominais, o preço da batata ficou em R$ 8,25 a saca de 50kg).

Registra-se ainda que, em 2001, na média, em termos nominais, os preços da batata foram superiores aos preva-lecentes em 2002, ocorren-do o inverso em relação aos preços dos fertilizantes, de tal modo que, ao longo de 2002, o preço de paridade foi desfavorável ao bataticultor em relação a 2001 (vide Figura 1).

Preço de paridade para os defensivos agrícolas

A análise da relação de troca foi realizada para um determinado fungicida aplicado à bataticultura (no mercado, encontrado em caixa de 25kg) e para dois inseticidas (no mercado, disponível em litro e um outro em embalagem de 10kg). As figuras 2 e 3 se referem aos termos de troca para fungicida e inseticidas, respectivamente.

Como no caso de fertilizante, observou-se o mesmo efeito da desvalorização do Real em janeiro de 1999, quando a relação de troca para o fungicida, que se mostrava favorável ao bataticultor em novembro e dezembro de 1998, registrando um decréscimo em número de sacas para adquirir a mesma quantidade de insumo (11,7 sc e 10,15 sc, respectivamente), sofreu uma inversão, chegando em fevereiro ao requerimento de 19,61 sc para se adquirir uma caixa de 25kg com o fungicida (figura 2). A caixa de 25kg do fungicida pula de R$ 215,66 (dezembro de 1998) para R$ 318,70 (fevereiro 1999), um salto acima de R$ 100,00 em apenas dois meses. Somente em dois períodos, de poucos meses, a relação de troca se mostrou mais favorável ao bataticultor, sendo requeridas

menos de dez sacas para comprar o fungici-da; um primeiro, antes da desvalorização do Real (março a julho de 1998) e um segundo, pós-desvalorização, entre setembro 2000 e junho 2001. Neste último, em função dos bons preços alcançados pelo bataticultor que, em termos nominais, superou os R$ 40,00/sc 50kg entre abril e junho de 2001. Na série analisada de 60 meses, o menor preço nominal obtido pela venda de uma saca pelo bataticultor foi janeiro 2000 (R$ 8,25/sc) e o maior foi em abril 2001 (R$ 42,12/sc).

No caso dos inseticidas, observou-se idêntico efeito (Figura 3) ocorrido com fertilizante e fungicida. Os termos de troca se mostraram desfavoráveis ao bataticultor, logo após a desvalorização do Real (janeiro 1999), quando ocorre a inversão no gráfico atingindo um pico de desfavorabilidade em janeiro de 2000, face ao menor preço nominal de venda (R$ 8,25 sc) alcançado pelo bataticultor nos 60 meses analisados. Na fase pós-desvalorização do Real, há um período de “alívio” para o bataticultor, com-preendido entre os meses de setembro de 2000 a junho de 2001, para posteriormente apresentar desfavorabilidade a partir de julho de 2001, continuando com pequenas oscilações até dezembro de 2002. É bom lembrar que a desvalorização do Real no

comparativo de 2001 e 2002, foi maior neste último ano, elevando em termos nominais, os preços dos inseticidas. Em 2001, na média anual, US$ 1,00 foi convertido em R$ 2,35, e, em 2002, correspondeu a R$ 2,93.

* Inseticida 1 (sc/litro) – azul, e Inseticida 2 (sc/10 kg) – ver-de. Sacas (sc) de 50 Kg.Considerações Finais

As análises de termos de troca (preço de paridade) representam uma ferramenta auxiliar para o bataticultor no acompanhamento de seu fluxo de caixa. A simples relação mensal entre preços do pro-duto e de um importante insu-mo estabelece um parâmetro que sinaliza o andamento de seu fluxo de receita e custo. É um instrumento auxiliar de planejamento e controle para o produtor.

Como é conhecida a im-portância dos fertilizantes e defensivos na decomposição dos custos para a batata e, como estes insumos têm forte dependência de importações de ingredientes e matérias-primas, o estudo tentou captar quais os efeitos no balanço preço recebido pelo produtor e preços pagos para adquirir

fertilizante, fungicida e inseticidas, pós-desvalorização do Real (janeiro de 1999). Incluiu-se o ano de 1998, como parâmetro de comparação, antes da desvalorização do Real.

Verificou-se que o preço de paridade (re-lação de troca) do bataticultor deteriorou-se após a desvalorização cambial, pois os impac-tos desta elevaram os preços dos insumos dependentes de importação, nem sempre acompanhado por aumento no preço do produto. A desfavorabilidade para o batati-cultor foi mais forte no período de janeiro de 1999 até janeiro de 2000, fase crucial de acomodação aos efeitos da desvalorização e repasse aos preços dos insumos, devido aos custos mais elevados com as importações de ingredientes e matérias primas. Houve um período, praticamente de um ano (maio 2000 a junho 2001), em que a relação de troca foi favorável ao bataticultor, em função da elevação nominal do preço da batata não acompanhada na mesma proporcionalidade pelos preços dos insumos. Porém, com a desvalorização constante do Real em 2002, relacionado a 2001, novamente a relação se torna desfavorável, atingindo um pico em ou-tubro de 2002, mas não tão perversa como o de janeiro de 2000, considerado o pior mês da série de cinco anos analisados.

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23Estatísticas

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24 Meio Ambiente

Batata orgânica

Lavoura de variedade Itararé, 2 ha. no municí-pio de Casa Branca (Junho 99). Produtividade média de 27 toneladas por hectare.

Pedro Hayashi - [email protected] Stontemborg, Sítio A Boa Terra - [email protected]

A batata, juntamente com o tomate e o morango, vem sendo duramente atacada pela mídia pelo uso exagerado de defensivos agrícolas.

Quando falamos em produzir batata or-gânica, logo se pensa em algo impossível ou fraudulento. Mas, é possível produzir batata orgânica com boas qualidades de tubérculos e com uma produtividade acima de 25 toneladas por hectare. O cultivo orgânico, seja ele de batata ou qualquer outro produto, requer conhecimento e tecnologias, muitas vezes acima dos níveis dos cultivos tradicionais (químicos).

Antes de iniciar o processo de produção, é indispensável que se entre em contato com algum órgão fiscalizador, como o Instituto de Biodinâmica (IBD), para que o produto receba um selo de garantia. Também é necessário que todos os passos sejam dados de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão certificador sobre como e o que podemos usar, quanto tempo o solo deve ser deixado sem cultivo químico, entre outros detalhes no aspecto de produção. Ter um contato para comercia-lização também é de extrema importância, pois sem isto, o produtor pode ficar com suas batatas sem ter para quem vendê-las.

Assim como a batata convencional, a co-mercialização dos produtos orgânicos é um grande desafio. Os preços pagos aos pro-dutores são bem diferentes daqueles pagos pelos consumidores. Este fenômeno pode ser atribuído aos seguintes fatos: um caminho longo do produtor ao consumidor, especula-ção de preços por parte dos supermercados, que colocam uma margem exagerada para produtos orgânicos, a própria lei da oferta e procura também pode influenciar nesta discrepância.

Nos países europeus, a produção e o con-sumo de produtos orgânicos crescem ano a ano. É possível encontrar nas prateleiras dos supermercados desde batata fresca até produtos processados, como chips e batata

palito congelada, todos devidamente emba-lados e com identificação e informações ao consumidor, que possibilitem a rastreabilida-de destes produtos. Também por parte das empresas que desenvolvem novos cultivares de batata, trabalham com grande quantidade de novos clones que atendem às necessidades tanto dos produtores orgânicos (qualidades agronômicas) como dos consumidores (qua-lidades culinárias).

Para a produção de batata orgânica deve-mos estar atentos aos seguintes pontos:Variedade

É de extrema importância que tenhamos uma variedade que reúna algumas qualida-des. A variedade deve ter um bom nível de resistência às principais doenças, como a re-queima (Phytophtora infestans) e pinta preta (Alternaria solani).

Deve ter capacidade de extração de nu-trientes do solo. Não seria recomendado, por exemplo, um cultivo orgânico de uma variedade como a Bintje; todos bataticultores sabem que é uma variedade que produz bem em condições de alta fertilidade.

Fato recente na Europa é que os órgãos fiscalizadores de produtos orgânicos estão exigindo o uso de batatas- semente orgânica, ou seja, outra característica que deve ser incorporada aos materiais seria a resistência a vírus para possibilitar a produção de batata -semente no sistema orgânico.

Qualidades culinárias também devem ser levadas em consideração, pois os consumi-dores de produtos orgânicos procuram por produtos que tenham um bom sabor e, se possível, bom aspecto visual.

Das variedades testadas, até o momento, a que melhor se comportou foi a Itararé do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), com tubérculos graúdos, bom aspecto e com qua-lidades culinárias semelhantes às variedades mais plantadas, como Monalisa, e alta resistên-cia à requeima. Também vale ressaltar que a precocidade da Itararé é bastante interessante para o cultivo orgânico, pois por volta de 70 dias, já temos uma produção razoável, não sendo influenciada por doenças característica de final de ciclo, que caso contrário, poderia levar à perda de produção. O uso de batata semente de tamanho maior, tipo 1 ou florão, apresenta melhor desempenho que sementes menores.Solo e Adubação

O solo deve estar corrigido para que a fertilidade natural seja explorada.

A calagem é permitida, bem como, a utili-zação de pó de rochas como o granito e már-more, cuja função principal seria a correção do pH, bem como, o fornecimento de cálcio e magnésio como nutrientes. Para suplementa-

ção de Nitrogênio, podemos aplicar húmus e torta de mamona. O fósforo é suplementado com fosfatos naturais (fosfato de Araxá) ou com termofosfatos (Yorin)Tratos Culturais

O sistema orgânico, praticamente, não difere do cultivo convencional, como plantio, amontoa e colheita. No caso da amontoa, devemos fazê-la o mais cedo possível, para que, nesta operação, grande parte das ervas sejam eliminadas e que possam ser evitadas lesões nas raízes, que seria uma porta para a entrada de bactérias (Erwina sp). No caso de aparecimento de novas sementeiras, pode-mos usar um lança chamas ou maçarico para queimar estas plantinhas. Em uma cultura bem vigorosa, não teremos problemas com o mato até a colheita.

O uso de calda Bordaleza e Sulfocáustica é utilizado para o controle preventivo de doen-ças de folha. Para insetos, o ácido pirolenhoso e extrato de Nim Indiano(Azadirachta indica) são aplicados também como repelente. No entanto, em uma lavoura bem conduzida, o ataque de pragas e doenças está sempre em equilíbrio. Mesmo pragas agressivas como a mosca minadora (Liriomyza sp) tem a po-pulação controlada por vespas, ou mesmo sendo eliminada por outros tipos de insetos predadores, o que não se observa nos campos que se fazem tratamentos químicos.

Outros pontos a ser observados em tratos culturais seriam:

- O plantio de sementes de idade fisioló-gica ideal, ou seja, não estar com brotação excessiva (esgotada) e também não estar sem brotos (cega).

- Procurar época de plantio para a região que ofereça boas condições climáticas para o desenvolvimento da cultura.

- Irrigar a lavoura com o máximo de critério, como quantidade de água aplicada, turno de rega, evitar vazamentos, etc.

- Se possível, instalar o campo próximo a reservas com matas. Estes locais são abrigos para várias espécies de inimigos naturais de pragas.

Analisando superficialmente o cultivo da batata orgânica, pode-se afirmar que, mes-mo em nossas condições, é possível atingir boas produções. Cabe também a oportuni-dade para refletirmos sobre como estamos trabalhando nossas lavouras com relação a fertilizantes e agroquímicos. Estamos respei-tando o período de carência? Não estaríamos exagerando na aplicação de fertilizantes? Usamos os defensivos seguindo as orientações dos fabricantes? Temos receio de consumir o que produzimos?

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25Pesquisa

Batata transgênica no Brasil e no mundo

Desde a adoção da transgenia na agricultura em 1994, o mundo tem assistido a um enorme crescimento da área plantada com transgênicos. Em 1996, havia 1,7 milhão de hectares cultivados que aumentaram, até o final de 2002, para impressionantes 58 mi-lhões. Isto significa que hoje, a cada cin-co plantas cultivadas no mundo, uma é transgênica. Esta alta taxa de adoção reflete a satisfação do produtor com os benefícios advindos da utilização desta tecnologia que incluem maior produti-vidade, menor aplicação de pesticidas convencionais e, conseqüentemente, maiores lucros para os produtores que adotam uma tecnologia ambientalmen-te mais segura.

As culturas transgênicas com as maiores áreas plantadas são em ordem decrescente: soja, milho, algodão e ca-nola. Batata transgênica já foi aprovada para comercialização no Canadá, Japão e Estados Unidos e, de acordo com a FAO, mais de 45 países em desenvol-vimento trabalham em projetos de pesquisa para o desenvolvimento de batatas transgênicas. As características que foram introduzidas nas variedades comerciais são resistentes a viroses e insetos-pragas e as pesquisas condu-zidas em países em desenvolvimento incluem, além destas características, resistência a fungos, resistência ao frio, composição de amido, conteúdo de vitaminas e resistência a bactérias. Os países desenvolvidos também estão realizando pesquisas para utilização de batatas transgênicas como bioreatores, ou seja, como veículos para a produção

de proteínas de alto valor agregado. No Brasil, a Embrapa já desenvolveu clones de

Achat, altamente resistentes ao vírus Y da batata (PVY), e de Baronesa ao vírus do enrolamento das folhas (PLRV). O primeiro já foi incorpo-rado ao Macroprograma de Biossegurança da Embrapa e o segundo deve ser incorporado brevemente. O Macroprograma de Biossegu-rança é um projeto em rede do qual participam vários centros da Embrapa e que objetiva avaliar a segurança ambiental e alimentar dos eventos elite, que são produzidos dentro da empresa. Estas análises são essenciais para garantir a segurança de um produto transgênico, antes que este venha a ser comercializado. As análises seguem padrões extremamente rigorosos que são determinados pela comissão do Codex Ali-mentarius, órgão do ONU criado para garantir a segurança dos alimentos comercializados. É importante ressaltar que todos os produtos transgênicos, que já são comercializados inter-nacionalmente, passaram por estas análises e demonstraram ser seguros, o que foi atestado, recentemente, pela Organização Mundial da Saúde em relatório oficial.

As variedades, Achat e Baronesa, utilizadas inicialmente no projeto de batata resistente a viroses da Embrapa, não são de larga utilização atualmente no Brasil apesar de que, na época em que o projeto foi iniciado, Achat se constituía na variedade líder. Os mesmos vetores utilizados em Achat e Baronesa estão sendo utilizados para obtenção de outras variedades como Monalisa e Bintje. No entanto, por razões técnicas e co-merciais, o ideal seria que novos vetores fossem desenvolvidos. Primeiramente, estes vetores não permitem que seja obtida, em uma única planta de batata resistência, combinada as duas viroses. Além desta desvantagem, os antigos vetores utili-zaram a tecnologia do capsídio e da replicase que eram as tecnologias disponíveis na época quando o projeto foi iniciado. Esta tecnologia fornece uma freqüência baixa de plantas transgênicas resistentes. Nós obtivemos, aproximadamente, uma planta com alta resistência a cada 100-200

plantas transgênicas. Como o número de plantas transgênicas é um fator limitante, o uso destes vetores dificulta, enormemente, o desenvolvimento de outras variedades com resistência com-binada às duas viroses. Estes problemas podem ser resolvidos utilizando-se vetores com a tecnologia de RNA interferente (RNAi), que foi recentemen-te desenvolvida. Vetores que exploram esta nova tecnologia permitem que, praticamente, todas plantas transgênicas obtidas expressem alta resistência viral, simultaneamente a mais de uma virose. Portanto, a obtenção de

outras variedades como Monalisa e Bintje, com resistência combinada a PVY e PLRV, seria extremamente faci-litada pela utilização de RNAi. Outro problema do uso dos antigos vetores é que eles possuem o gene npt II que confere resistência a um antibiótico. Apesar deste gene ser reconhecida-mente seguro pelo Codex Alimenta-rius, é possível que um produto com este gene possa encontrar alguma resistência à sua comercialização por questões de percepção pública. O próprio Codex Alimentarius tem orientado que novos produtos trans-gênicos devem evitar o uso de genes de resistência a antibióticos. Portanto, espera-se que os países membros da Organização Mundial de Comércio sigam esta orientação.

Novas variedades de batata deriva-das de Monalisa e Bintje, com resistên-cia combinada às principais viroses da cultura, trariam uma enorme redução na degenerescência dos tubérculos, au-mentando a produtividade e reduzindo os custos para os produtores, já que estes não necessitariam de comprar, a cada plantio, tubérculos-sementes de batata para instalar suas lavouras. Além da Embrapa já dominar tecnologia para obtenção de qualquer variedade de batata com alta resistência a PVY e PLRV, a empresa conta com genes que podem conferir tolerância à seca e resistência a Rhizoctonia solani.

A Embrapa vem trabalhando em vários projetos para desenvolvimento de plantas transgênicas em diferentes culturas. Muitos destes projetos têm sido financiados pelos produtores atra-vés de fundos ou associações. Como exemplo de projetos que vem alcan-çando resultados expressivos sob esta forma de financiamento, podem ser citados os de transgenia e/ou genômica funcional, voltados para a identificação de genes com aplicação agronômica em café, algodão, eucalipto e soja.

A adoção da transgenia na agricultu-ra se constitui hoje em uma realidade mundial e uma necessidade para os produtores que desejam se manter competitivos. As empresas de biotec-nologia, assim como associações de produtores, estão investindo muitos recursos em pesquisa e desenvol-vimento de transgênicos de forma a consolidar uma posição em um mercado globalizado e cada vez mais competitivo.

Eduardo Romano, [email protected] Recursos Genéticos e Biotecno-logia - CENARGEN, C.P., 02.372, 70849 Brasília, DF.

Direita - batata transgênica / Esquerda - batata não transgênica, ambas inoculadas com uma mistura dePVY-N e PVY-O

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26 Pesquisa

Uma preocupação necessária

Resíduos de agrotóxicos na batata

A Portaria 3, de 16 de janeiro de 1992, do Ministério da Saúde, define resíduo de agrotóxico como a “subs-tância ou mistura de substâncias rema-nescentes ou existentes em alimentos ou no meio ambiente decorrente do uso ou da presença de agrotóxicos e afins, inclusive quaisquer derivados específicos, tais como produtos de conversão e de degradação, metabóli-tos, produtos de reação e impurezas, consideradas tóxicas e ambientalmente importantes”.

Seja chamado como for: agrotóxico, pesticida, produto fitossanitário, defen-sivo agrícola, ou simplesmente “vene-no”, como prefere o agricultor, o fato é que ele tem papel importante tanto na bataticultura como na agricultura, em geral. A grande maioria das pragas, do-enças e ervas daninhas, depende do uso de agrotóxicos, para seu controle ou redução de prejuízos causados por elas. Dependendo do ano, o Brasil coloca-se entre o 3º e o 7º mercado consumidor mundial de pesticidas, com o valor de cerca de US$ 2,2 – 2,5 bilhões/ano. Os dois primeiros são Estados Unidos e Japão.

A cultura da batata ocupou a 10ª posição no mercado brasileiro no perí-odo de 1997-2001, com gastos anuais de cerca de 73 milhões de dólares, em média, destacando-se, em primeiro lugar o uso dos fungicidas (Batata Show, ano 3, nº 6, pags.22-23, março 2003).

A importância da batata na ali-mentação e a necessidade do uso de agrotóxicos para garantir sua produção, deve, pois, levar o agricultor a estar

sempre alerta para a possibilidade da pre-sença de resíduos tóxicos nesse impor-tante produto agrícola.

Resíduos de pesticidas em alimentos são uma preocupação das autoridades sanitárias, pois podem causar problemas de saúde pública, principalmente se os agrotóxicos não forem usados de modo correto e observando-se as recomenda-ções técnicas.

A ANVISA – Agência Nacional de Vi-gilância Sanitária do Ministério da Saúde é o orgão federal responsável pela legis-lação aplicável a resíduos em alimentos. A ANVISA estabelece as monografias dos

produtos agrotóxicos de uso autorizado no Brasil, nas culturas para as quais se destinam. Nessas monografias, constam as tolerâncias ou limites máximos de resíduos, estabelecidos caso a caso, que são as quantidades permitidas de resídu-os dos agrotóxicos naqueles alimentos, decorrentes do seu uso, segundo a boa prática agrícola. Também, as monografias estabelecem o intervalo de confiança (ou período de carência), que é o intervalo de tempo, em dias, entre a última aplicação e a colheita, que deve ser observado pelo agricultor; por lei, ele deve fazer parte das instruções do rótulo ou bula das for-mulações comerciais dos agrotóxicos.

Outro problema que podem causar os resíduos de pesticidas é que eles po-dem se tornar uma barreira não-tarifária, constituindo-se, assim, em obstáculos às

nossas exportações. Países importa-dores rejeitam a entrada de produtos agrícolas por seus portos e aeroportos, se estes possuírem resíduos em níveis acima do que os legalmente aceitos. Assim, tem acontecido, com certa freqüência, com nossas frutas tropicais de exportação, especialmente mamão papaia, manga e melão.

Com respeito à batata, a produção de tubérculos subterrâneos é fator de proteção contra a indesejável presença de resíduos tóxicos, especialmente se os agrotóxicos forem aplicados em pulverização foliar. Entretanto, atenção especial deve ser dispensada àqueles que são aplicados via solo ou no tra-tamento de tubérculos; nesses casos, a contaminação residual presente no solo, por ocasião da colheita, pode ainda ser transferida para os tubércu-los. Desse modo, a observação da boa prática agrícola é importantíssima para assegurar a produção de tubérculos saudáveis e, talvez com resíduos, mas nesse caso, se presentes, sempre abai-xo das tolerâncias estabelecidas na lei.

Também, a lavagem dos tubérculos, para sua comercialização, prática tão comum entre os bataticultores pode auxiliar a produção saudável.

Algumas vezes têm aparecido na mídia, notícias de batata com alta con-taminação de resíduos de pesticidas. Tais notícias, por vezes alarmistas e sensacionalistas, lançadas sem o ne-cessário acompanhamento da contra-prova, têm causado grande prejuízo aos bataticultores, além de exagerada e desnecessária preocupação nos consumidores. Os produtores devem sempre aplicar a boa prática agrícola, usando os agrotóxicos da maneira cor-reta, segundo as orientações técnicas, observando o período de carência.

O Laboratório de Resíduos de Pes-ticidas (LARP-USP), do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoolo-gia Agrícola, da ESALQ/USP, tem feito pesquisas nessa importante área da ciência, inclusive com a batata e tam-bém presta serviços na realização de monitoramentos e acompanhamentos.

Gilberto Casadei de BaptistaProfessor Titular do Departamento de Entomologia,Fitopatologia e Zoologia Agrícola.ESALQ/USP CP 9 Piracicaba – SP, [email protected] www.ciagri.usp.br/~larp

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27Pesquisa

Manejo de plantas daninhas e dessecação na cultura de batata

Pedro J. ChristoffoletiProf. Associado do Depto. de Produção Vegetal - Esalq/USP CP 9 - 13418-900 Piracicaba/SP - [email protected] Marcelo Nicolai - Pós-Graduando em Fitotecnia [email protected]/USPJuliano F. Barela – Pós-Graduando em Fitotecnia – [email protected]/USP

Principal planta daninha da cultura de batata (Brachiaria decumbens)

Aplicação de herbicidas na cultura de batata

Na horticultura brasileira, especifi-camente na cultura da batata, é encontrada a maior complexidade dos sistemas de produção, visto que seu plantio, manejo e colheita variam com a combinação de fatores climáticos e preço do produto colhido, tornando seu cultivo restrito a determinadas regiões e produtores especializados. A eficiência do produtor em resolver os problemas fitossanitários que a cultura apresenta é, muitas vezes, o principal fator responsável pelo sucesso de sua exploração comercial, já que os custos envolvidos com defensivos agrícolas são significativos.

Dentre os problemas fitossanitários, as perdas provocadas pela infestação das plantas daninhas na cultura da batata é um fator que exige do produtor estratégias de manejo adequado, sendo este portanto, o objetivo principal deste artigo, além de fornecer informações sobre a dessecação da cultura em pré-colheita.

A cultura de batata tem um crescimento vigoroso, que facilita a supressão da infestação das plantas daninhas que emergem tardiamente no ciclo da cultura, simplesmente, pela ocupação do terreno pela cultura através da parte aérea. É fato que, normalmente, é prática dos produtores a operação de amontoa, que consiste no chegamento de terra das entrelinhas na base da planta de batata, o que também promove o controle mecânico da comunidade de plantas daninhas. Sendo assim, a estratégia de executar a operação

de amontoa em momento adequado já serve como medida de manejo de plantas daninhas. Por momento adequado da operação de amontoa para o controle de plantas daninhas, entende-se o estádio de desenvolvimento da planta daninha (fase de plântula) em que a operação de amontoa promova o corte ou enterro da mesma. Na operação de amontoa, é importante que o produtor observe também o efeito que esta pode causar sobre o comportamento dos herbicidas aplicados ao solo (pré-emergência).

É comum que áreas produtoras de batata estejam localizadas em solos explorados com outras culturas, especialmente com pastagens. Sendo assim, o manejo de plantas daninhas na cultura da batata deve iniciar-se através da operação de dessecação das gramíneas forrageiras que ocupam estas áreas. Esta operação de dessecação é feita, principalmente, com o herbicida glyphosate (existem várias marcas comerciais no mercado), que por sua característica de atuação como herbicida (produto sistêmico e não seletivo) elimina todas as plantas e suas partes capazes de reprodução, principalmente as estruturas especializadas de reprodução destas plantas, como rizomas, estolho e tubérculos da área. É prática comum entre os produtores realizar duas aplicações seqüenciais de glyphosate,

em intervalos de 15 a 20 dias, no intuito de, realmente, erradicar as plantas daninhas já estabelecidas na área, bem como, através da segunda aplicação, eliminar o primeiro fluxo de plantas daninhas proveniente de sementes ou eventuais falhas da primeira aplicação.

É também comum entre os produtores de batata revolver o solo antes do plantio da cultura. Este revolvimento pode quebrar a dormência das sementes de plantas daninhas através da aeração do solo e incidência de luz na semente, o que, para a maioria das sementes de plantas daninhas, já representa um fator de quebra de dormência. As sementes de plantas daninhas, que sofreram o processo de quebra de dormência durante o revolvimento do solo, apresentam uma germinação rápida, quando comparado com a emergência dos brotos de batata (8 a 15 dias para emergir).

Esta situação proporciona ao mato uma vantagem competitiva sobre a lavoura. Contudo, essa característica de demora da emissão das hastes a partir dos tubérculos, pode permitir a aplicação de um herbicida de ação não

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28 Pesquisa

Autor principal do trabalho, escrito em conjunto com dois alunos de pós-graduação do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da ESALQ/USP.

sistêmico e não seletivo para controle das plantas daninhas que emergem antes da cultura. Existe informações de pesquisa que comprovam que, mesmo com até 10 % das hastes rompendo a barreira superficial do solo, é possível aplicar um dessecante de contato (não sistêmico – Paraquat, por exemplo) para dessecar as plântulas de daninhas, reduzindo assim, o banco de sementes não dormentes. Para esta modalidade de aplicação sugere-se a aplicação de Paraquat ou Diquat, na dosagem de 0,4 a 0,6 L/ha, sem adjuvantes. Essa estratégia de manejo reverte a vantagem competitiva adquirida pelo mato em prol da cultura, sem lhe causar danos produtivos, mesmo deixando a área sob o mato nos dias que antecedem a emergência da maioria das hastes. Antes da emergência das hastes, além do Gramoxone e do Reglone, existe ainda a possibilidade do uso de Sencor (metribuzin) em dosagens de 0,8 a 1,5 L/ha, no entanto, este herbicida apresenta alguma deficiência no controle de gramíneas. O produto pode ser aplicado sobre a cultura já emergida, na dose mais baixa e com as hastes da batata com até cinco cm de altura. O metribuzin é sugerido em casos de infestações com predominância de folhas largas anuais.

Após a completa emergência da cultura, quando as plantas da batata estão com aproximados 15 a 20 cm de altura, pode ser observado na entrelinha e mesmo na linha, novas plantas daninhas oriundas de novos fluxos de emergência do banco de sementes da área. Neste momento, normalmente, é realizado o processo, já mencionado, deno-minado de “amontoa”, eliminando esse fluxos mecanicamente.

Quando a cultura atinge em torno de 40 dias após o plantio e foi submetida ao processo de amontoa há pelo menos dez dias em média, observa-se a necessidade de aplicação de um herbicida do tipo graminicida. Neste momento, normalmente, as gramíneas estão no estádio de início de perfilhamento, tanto na entrelinha como na linha submetida ao processo de amontoa. Nesta situação, recomenda-se a aplicação de fluazifop-p-butil (Fusilade 125) ou fenoxaprop-ethyl (Podium). Ambos

podem ser aplicados na dosagem de 0,7 l/ha, sem adjuvantes.

Caso as condições climáticas e culturais, após a aplicação do graminicida, forem adequadas, o batatal tende a fechar a entrelinha com suas hastes vigorosas, e isto ocorre em torno dos 50 dias após o plantio em média, oscilando de acordo com a variedade e o clima. Essa cobertura do solo, com a própria planta da batata, tende a inibir novos fluxos de emergência das plantas daninhas e, assim, dispensar novas medidas de manejo de plantas daninhas. Entretanto, a cultura sofre, constantemente, ataque de pragas e doenças causadoras de desfolhas, como as pragas de épocas secas, a vaquinha, a lagarta-rosca e a mosca-minadora e as doenças, requeima, pinta-preta e canela. Tais ocorrências abrem espaço para penetração de luz no batatal, provocando novas quebras de dormência do banco de sementes, as quais podem ser controladas através dos mesmos graminicidas já citados.

Em torno dos 70 dias após o plantio, a cultura, normalmente, inicia a fase de “enchimento” dos tubérculos, que consiste na translocação dos fotoassimilados produzidos nas folhas para os tubérculos. A partir daí, inicia-se um processo fisiológico de redução do vigor das hastes do batatal, com o amarelecimento e queda das folhas, gerando aberturas na folhagem, e assim permitindo incidências de luz solar no solo, propiciando a emergência de algumas plantas daninhas de rápido desenvolvimento que aproveitam o excesso de nutrientes proveniente da adubação, característico da cultura. No entanto, estas plantas daninhas não devem ser motivo de preocupação dos produtores, pois não irão interferir na produtividade final da cultura, e serão eliminadas através da operação de dessecação normalmente feita em pré-colheita. Se, por razões diversas, houver um atraso na colheita, recomenda-se o monitoramento da infestação das gramíneas e possíveis novas aplicações de graminicidas, no intuito de reduzir novas entradas de sementes destas p lantas no banco de sementes, e que, conseqüentemente, representaria focos de infestação na cultura subseqüente em rotação.

Antes de detalhar melhor o dessecamento da batata para a colheita, vale ainda lembrar que para o controle de plantas de folhas largas na cultura da batata após

a emergência da mesma, não existem herbicidas seletivos registrados para a cultura. Vale também destacar que o uso de haloxyfop (Verdict) na cultura da batata é uma alternativa para eventuais falhas de controle de gramíneas, uma vez que este produto é um excelente graminicida, atuando inclusive em plantas daninhas em estádios mais avançados de desenvolvimento, onde os demais graminicidas não atuam. Contudo, o controle tardio destas plantas pode resultar em danos à produção das plantas de batata, pela interferência do mato.

Na dessecação é importante destacar que esta deve ser feita quando a planta de batata já transferiu ao tubérculo a maior parte de suas reservas nutricionais, quando ocorreu o máximo de enchimento e ganho de peso dos tubérculos. Neste momento, é usado um produto de contato para dessecar as plantas, sem que haja possibilidades de acúmulo de resíduos do dessecante nos tubérculos. A aplicação de Paraquat (Gramoxone) ou Diquat (Reglone), sem a adição de adjuvantes à calda, para a dessecação pode ser feita tomando cuidado para que a planta da batata não esteja sob condição de estresse hídrico. Tal ocorrência poderia comprometer a qualidade dos tubérculos, pois pode haver acúmulo de resíduos do dessecante, mesmo que o dessecante não seja sistêmico. Os fabricantes dos dessecantes já citados recomendam a dose de 2,0 L/ha, para ambos os dessecantes, contudo tem sido observado na prática que a aplicação seqüencial de 1,0 L/ha, com as aplicações espaçadas em dois dias de intervalo entre as pulverizações proporciona melhores resultados que uma única aplicação.

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Batata Show - A revista da Batata - Ano 3 - nº 7

31Legislação

Controvérsias sobre batata semente na organização mundial do comércio

Desde a promulgação do Decreto 1355/94, o Brasil, oficialmente, incorpo-rou, no ordenamento jurídico nacional, os acordos previstos na Organização Mundial do Comércio (OMC). Dentre eles, o acordo sobre Aplicação de Medi-das Sanitárias e Fitossanitárias trata das condições para o estabelecimento de requisitos sanitários e fitossanitários para o comércio internacional. Este acordo, conhecido como Acordo SPS, é um dos mais importantes relacionados a barreiras técnicas ao comércio. Muitas dificuldades, como também impedimentos ao comércio internacional, emanam de restrições sani-tárias e fitossanitárias. As referências para temas técnicos desse acordo são de três ordens, uma relacionada a temas fitossa-nitários, outra à sanidade animal e outra à inocuidade alimentar. O Acordo SPS reconhece como organizações relevantes para elaboração de recomendações, guias e normas para esses temas, respectiva-mente, a Convenção Internacional de Pro-teção dos Vegetais (CIPV), a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e o Codex Alimentarius.

O órgão responsável pela gestão dos assuntos do Acordo SPS é o Comitê de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias. Esse Comitê geralmente se reúne três vezes por ano na sede da OMC em Genebra. Os principais temas das reuniões referem-se a detalhamento de questões importantes do Acordo SPS como os princípios de equivalência, regionalização, harmoniza-ção e tratamento especial e diferenciado e para a apresentação de casos específicos de reclamação sobre temas sanitários e ou fitossanitários que afetam o comércio internacional e que os países membros julguem necessitar esclarecimento oficial. Caso o assunto não tenha sido soluciona-do, a tendência é a abertura de um painel relacionado à controvérsia não resolvida anteriormente. Desse ponto em diante, podem ser definidas sanções aos países membros que forem considerados que estão atuando em desacordo com os

Odilson Luiz Ribeiro e Silva Fiscal Federal Agropecuário - [email protected]

princípios sanitários e fitossanitários.Um dos temas que o Brasil tem se de-

frontado, já há quatro sessões seguidas do Comitê SPS, é o relacionado aos níveis de pragas não quarentenárias regulamentadas para batata semente. Esses níveis estão definidos tanto para a produção interna quanto para a importação do produto e são diferentes para cada classe, ou seja, básica, registrada e certificada. Os euro-peus, parte que iniciou a discussão sobre o assunto, inicialmente solicitaram a base técnica para a definição desses níveis de tolerância, principalmente, quanto a Spon-gosphora subterranea e Helminthosporium solani. Foram enviadas as informações que deram origem à determinação dos níveis de tolerância, já que não há ainda, do pon-to de vista da Convenção Internacional de Proteção dos Vegetais (CIPV), uma Norma Internacional de Medida Fitossanitária (Nimf) sobre análise de risco de pragas não quarentenárias regulamentadas. Aliás, essa proposta de Nimf já se encontra em consulta aos países membros da (CIPV) e deverá ser aprovada em abril de 2004. As principais alegações contra os níveis de tolerância estabelecidos pelo Brasil na In Mapa nº 18/01 eram:

quanto à S. subterranea – excessiva restrição para o nível 0 de tolerância para todas as classes de batata semente e quanto à H. solani – a existência de nível de tolerância para esse organismo, que não é considerado praga não quarentenária regulamentada pela União Européia, pois não causaria dano de importância econô-mica significativa.

Segundo os especialistas da União Eu-ropéia, o dano à produtividade da cultura seria causado pela perda de umidade do tubérculo, que causaria o seu murchamen-to e não pelo fungo diretamente.

Os entendimentos levaram, até o mo-mento, ao seguinte posicionamento:

quanto à S. subterranea – o estabele-cimento do nível de 1,5% para a classe certificada para os países livres de Mop Top Vírus já que o fungo é vetor do vírus e

quanto à H. solani – o estabelecimento de níveis de tolerância em torno de 1% de dano (tubérculos murchos) causados pelo fungo; visita de missão técnica do DDIV/SDA à Europa para discutir esses temas e questões sobre certificação fitossanitária oficial de batata semente.

Atualmente, falta a confirmação ofi-cial do Brasil à representação da União Européia sobre a data da missão dos técnicos brasileiros e reunião com repre-sentantes do setor nacional relacionado à bataticultura para definir as alterações da IN nº 18/01 relacionadas às questões formuladas e outras, como amostragem, inclusão de procedimentos para impor-tação de mini e micro tubérculos, atuali-zação de nomes científicos, entre outras modificações.

Todos esses fatos demonstram a im-portância da inter-relação da comunidade científica, produtores e órgãos de gover-no quanto às questões fitossanitárias que afetam o comércio. Outros temas vincu-lados às questões do Acordo SPS devem já ser tratados de forma a evitar futuros problemas potenciais, levando-se em consideração os critérios estabelecidos internacionalmente. Entre esses temas estão: o controle efetivo de resíduos de agrotóxicos, a rastreabilidade e a garantia da certificação fitossanitária oficial.

Outro ponto importante é o acom-panhamento dos avanços da regula-mentação internacional sobre produtos vegetais, particularmente, as Normas Internacionais de Medidas Fitossanitá-rias (Nimfs). Essas normas que afetam o comércio internacional são, atualmente, em número de 19 e afetam diretamente o comércio internacional dos vegetais e seus produtos. O conhecimento delas é um facilitador para o acesso de produtos vegetais no mercado internacional. No entanto, esse tema merece uma menção especial em outra edição da revista.

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Batata Show - A revista da Batata - Ano 3 - nº 7

32 Agrometereologia

Meteorologia no Brasil

Previsão do Tempo

As atividades meteorológicas no Brasil tiveram início durante a ocupação holan-desa no Brasil, durante o século XVII, com a implantação dos primeiros postos de ob-servação, principalmente em Olinda (PE). Mas, um trabalho sistemático e rotineiro foi empreendido a partir de 1862 pela Marinha, constituindo, em 1888, a Repartição Central de Meteorologia da Marinha. A primeira tentativa de previsão do tempo no Brasil foi aventada nesta repartição durante a adminis-tração de Américo Silvado.

Enquanto isto, as atividades de pesquisa no Observatório Nacional do Castelo pro-duziram o primeiro esboço climatológico do País, em 1891, sob a orientação de Henrique Morize.

Em 1909, o governo unificou as atividades do Observatório Nacional com as redes de observação da Marinha e do Telégrafo Nacional, criando assim, a Diretoria de Me-teorologia e Astronomia, no Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Com isto, a meteorologia ganhou impulso com a amplia-ção da rede de estações climatológicas, com instrumental importado de melhor qualidade, normatização do trabalho e rotinas.

Em 1913, ensaiam-se as primeiras previ-sões do tempo, com a publicação do artigo “Previsão do Tempo” no Jornal do Comér-cio, de autoria do brilhante meteorologista Joaquim de Sampaio Ferraz. Essas previsões eram feitas somente para o antigo Distrito Federal e Estado do Rio de Janeiro e passa-ram a ser publicadas rotineiramente a partir de 1917.

O reconhecimento e a importância das aplicações meteorológicas estimularam o governo de Epitácio Pessoa a criar, em 1921, um órgão independente, desmembrando do Observatório Nacional, com o nome de Di-retoria de Meteorologia, dentro do Ministério da Agricultura, o qual transformou-se, em 1980, no atual Instituto Nacional de Meteo-rologia - Inmet.

Naquela época, iniciaram-se as primeiras observações aerológicas, com a criação de um posto de sondagens por meio de papagaios (pipas), em Alegrete (RS).

O INMET teve extraordinária atuação no cenário meteorológico nacional até a década de 30, graças ao eficiente trabalho de Sampaio Ferraz. Foi deste ambiente fértil que surgiram autores de importantes estudos sobre massas

de ar e regimes de chuvas da América do Sul, como Adalberto Serra e Leandro Ratisbona.

Em 1938, a Diretoria de Meteorologia passou à categoria de Serviço Nacional de Meteorologia e, em 1941, sua jurisdição foi estendida a todo o território nacional, incorporando vários serviços estaduais. Em 1969, passou à categoria de Departamento Nacional de Meteorologia e, em 1971, pas-sou a ser chamado de Instituto Nacional de Meteorologia.

Na década de 50, mais um grande avanço nas atividades meteorológicas desenvolvidas pelo INMET, devido ao avanço no setor de telecomunicações, o que tornou possível a confluência das informações meteorológicas coletadas em todo mundo e enviadas aos centros nacionais de previsão, para, em se-guida, elaborar previsões calcadas na análise de cartas sinóticas. As previsões melhoraram substancialmente, porém deixando muito a desejar. A razão disto é que as condições meteorológicas nos trópicos eram pouco conhecidas naquela época. Os métodos de previsão eram subjetivos para um prazo máximo de 24 a 48 horas.

O advento dos satélites meteorológicos, em 1960, representou um marco importante para a meteorologia.

Na década de 80, a meteorologia nacional passou por uma revolução no campo do desenvolvimento de novas metodologias e prestação de serviços, sendo que o INPE e as Universidades Federais fizeram avançar muito as fronteiras do nosso conhecimento sobre o tempo e clima do País, com a formação de meteorologistas.

Hoje, a previsão do tempo é baseada em modelos numéricos, os quais produzem previsão de curto, médio e longo prazo, com maior precisão.

Aplicação da previsão do tempo na cida-de de São Joaquim/SC

São Joaquim está localizada no sudeste de SC na parte mais alta do Planalto Catarinense. O município apresenta regiões entre 850/950 m até 1500/1600 m. A maior parte está acima dos 1250/1300 m, determinando o predomí-nio de um clima bem ameno no verão e muito frio no inverno.

A previsão do tempo em São Joaquim co-meçou a ter um impulso muito grande a partir de 1996, quando começou a ser divulgada

através da Rádio Difusora pela Climaterra (empresa que atua na área da meteorologia e agronomia), através do eng. Ronaldo Couti-nho do Prado, mais conhecido por Coutinho, o homem do tempo.

Desse período até hoje, literalmente, todas as atividades agrícolas, e mesmo do cotidiano, são orientadas pelos vários boletins divul-gados pela rádio, com os quais as pessoas, principalmente os agricultores, se organizam para a lida do campo no dia-a-dia, conforme o quadro do tempo é apresentado nos bo-letins. Neste sentido, a previsão norteia o cronograma dos tratamentos, das aplicações de adubos, podas, colheita, utilização da mão-de-obra, etc... Todos estes detalhes, quando somados, resultam numa redução significativa de custos para o agricultor, por exemplo: ele,

Neve em São Joaquim - SC - jun/1988

Bom Jardim da Serra - SC - jun/1988

Ronaldo Coutinho do Prado - ClimaterraAv. Prudente Cândido da Silva, C.P. 173. 88600-000 São Joaquim - SC(49) 233.0349 ou [email protected]

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33Variedades

Propriedade: Irish Potato Marketing Limited, Loughlinstown Centre, Dun Laoghaire, Co. Dublin, IrelandCruzamento: Maris Page x Cara.Maturidade: Semitardia.Folhagem: Ereta, vigorosa, dando boa cobertura de solo. Folhas na parte inferior da planta, aberta com folíolos secundários arredondados. O folíolo terminal, freqüentemente, é sobre-posto. Flores: Brancas e muito numerosas nas condições européias. Possui uma leve pigmentação violeta na parte inferior das pétalas. Frutos são raros.Características do tubérculo:Formato: grande a muito grande.Cor da pele: branca.Cor da polpa: branca.Profundidade dos olhos: rasos a médios.Brotamento: tipo bulboso. Cor púrpura a cor-de-rosa, com muitas radículas.Teor de Matéria seca: 19 a 20%.Qualidade culinária: Batata firme e versátil que não desintegra ao cozer. Resistência a Pragas e Doenças:Globodera rostochiensis: resistente; Rhi-zoctonia: resistência moderada; Virus X: imune; Sarna comum: alguma resistência; Virus Y: resistência moderada; Requeima: boa resistênciaProblemas internos:Coração oco: livre ou muito resistente.Pinta ferruginosa: livre ou muito resistente.Produtividade:Altíssima, de tubérculos grandes a muito grandes. Emergência rápida sob condições mediterrâneas. Em ensaios na Inglaterra, a produção foi muito alta e mais precoce, em-bora seja uma variedade de ciclo mais longo. Foi uma das variedades mais produtivas em ensaios no Brasil, Irlanda, Inglaterra, Espa-nha, Israel, Egito, Ilhas Canárias e Chipre.

Este ano a procura, no Brasil por variedades produtivas, em áreas, tradi-cionalmente cultivadas com batatas, foi bastante grande. Principalmente no sul de Minas, Espírito Santo, Estado do Paraná e na região Nordeste e Norte do Brasil. Para grande surpresa os pesquisadores mais conceituados do Brasil também sugeriram que Slaney teria performance bastante satisfatória nas condições de temperatura e clima do Nordeste brasileiro, devido à rusticidade e facilidade de adaptação que são características inerentes dessa variedade.

Além das altas produtividades e resistên-cia às doenças, há também, no programa de melhoramento de batatas da IPM, uma preocupação com o mercado brasileiro que procura por uma qualidade de pele atrativa e satisfatória que atenda às suas exigências.

Novas variedades continuarão a ser testadas com esse fim e já existem algu-mas promissoras que serão lançadas em breve.

O programa Fome Zero certamente, além da política, precisará ser executado com alimentos. A batata, como alimento, encontra tanto nas variedades IPM, como na Slaney acima descrita, devido à sua al-tíssima produtividade e adaptação às con-dições brasileiras, um excelente reforço e amparo para as necessidades alimentares do povo brasileiro.

J. Marcos BernardiSolanex Agrícola Ltda.Representante Exclusivo da IPMwww.solanex.com.br

SLANEY

Slaney cultivada no Egito

sabendo que à tarde poderá chover, evitará aplicar determinado produto neste período, evitando a possível perda e prejuízo; ou se vier uma onda de frio muito forte dentro de quatro ou cinco dias, poderá tomar medidas preventivas para evitar problemas de conge-lamento nas máquinas, ou mesmo nas casas, colher mais cedo ou proteger a lavoura de batata (fato ocorrido nesta safra).

Nas culturas da maçã e batata em São Joa-quim, estas medidas têm sido fundamentais a fim de reduzir custos e maximizar o uso dos produtos no campo. Vários depoimentos já foram relatados por produtores que evitaram perdas ou as tornaram muito reduzidas nos “banhos” nas lavouras devido à previsão do tempo, resultando na economia de milhões de reais ao longo dos últimos sete anos.

Também no setor de turismo, a previsão do tempo tem ajudado em muito no movi-mento de turistas para a cidade, pois quando há anúncio de uma possível queda de neve, a cidade fica, literalmente, lotada, trazendo muitas divisas à região.

Na previsão do tempo também é feito o aviso especial para minimizar os transtornos ocasionados por eventos extremos, exem-plo disto ocorreu em 2000, quando foram avisadas, com uma semana de antecedência, a Defesa Civil do Estado e a Prefeitura da cidade sobre a iminência de uma fortíssima onda de frio que provocaria, além da neve, extremo frio, fato verificado na seqüência. Com o aviso, pôde-se reduzir problemas como o congelamento em máquinas agrícolas, canos, ajudar famílias carentes e, em âmbito estadual, pôde-se estabelecer o controle nas estradas mais sujeitas à formação de gelo e ao acúmulo de neve na pista, além de ajuda a famílias carentes. Este fato, mais tarde, foi relatado pelo então diretor da Defesa Civil de SC, coronel Sidney Pacheco, destacando que, devido ao aviso prematuro, pôde-se evitar a ocorrência de óbitos pelo frio em SC.

Claro que a todos os fatos acima citados, pressupõe-se que a previsão tenha um exce-lente índice de acerto, o que felizmente é o que vem ocorrendo em São Joaquim, vindo a demonstrar que a previsão do tempo nos últimos anos tem se tornado um fator essen-cial ao planejamento, condução e redução de custos nas atividades agrícolas, além de evitar, em muitos casos, a perda de vidas humanas, fato visto, principalmente, nos países do Hemisfério Norte, onde o clima é bem mais extremo que no Brasil.

Bibliografia:Cunha, G.R. - Meteorologia: Fatos e Mitos.

Passo Fundo - RS: Embrapa-CNPT, 1997.Vianello, R.L. e Alves, A.R. - Meteorologia

Básica e Aplicações. Viçosa - MG. UFV. Im-prensa Universitária, 1991.

Silva, J.F - El Niño: O Fenômeno Climático do Século. Brasília - DF. Editora Thesauros, 2000.

Climaterra.

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34 Países

Durante a década de 90, a produção de batatas na Argentina se desenvolveu sob um marco de permanente super oferta, com preços de venda geralmente muito baixos, próximos do custo do produto ou inferior a ele.

Como conseqüência disso, o setor produtor foi submergindo em uma crise profunda, que pro-vocou o abandono da atividade por um grande número de pequenos produtores.

Ao final de 2001, “explode” a convertibilidade, produz-se a desvalorização do “Peso”, desapare-ce, de um dia para outro, toda forma de crédito, muitos laboratórios produtores de agroquímicos retiram seus produtos do mercado e aumentam os preços de todos os insumos, em três a quatro vezes o seu valor. A esta situação dramática se somam condições climáticas adversas que afetam a produção dos cultivos, especialmente, os da província de Buenos Aires, gerando uma grande diminuição na oferta do produto e um aumento significativo nos preços do mesmo.

A partir do novo contexto, inicia-se um pro-cesso de reacomodação da atividade, pelo qual a maioria dos produtores reduz a área de plantio, aplica mais tecnologia e melhora o manejo de seus cultivos, a fim de incrementar a produtivida-de. A área se reduz de 103.000 hectares, ao final de 2000, para 83.000 hectares na atualidade.

As boas práticas de produção utilizadas, per-mitiram alcançar altos rendimentos e qualidade, tanto nas batatas para consumo como nas para indústria. Contribuiu também para isto, a incor-poração de novas áreas de produção com rega com pivô, nas províncias de Catamarca, San Luis e Rio Negro.

Com relação à produção de sementes, conso-lidaram-se, em diferentes zonas do país, áreas isoladas de produção de material pré-básico de alta sanidade, que garantem uma provisão constante de semente saudável para o sistema. As práticas que se empregam atualmente na produção, permitem obter sementes muito confiáveis, que são exportadas com êxito para diversos lugares.

A evolução alcançada na qualidade das batatas

A batata na Argentina, após a tempestadeGuillermo Rocatti Diretor - Latinpap S.A. Eng. Agr. – Especialista em produção de batatas, Chile 2345-7600 – Mar Del Plata

Província de Buenos Aires Argentina TelFax: 0054.223.472.0323 Celular: 0054.9.2941.652880 [email protected]

para semente, indústria e consumo, permitiu o desenvolvimento de novos mercados na América Central e na região do Caribe.

Através de alianças estratégicas com empresas exportadoras de sementes de primeiro nível, do Canadá e da Holanda, elaboraram-se programas de abastecimento anuais, concretizando-se o serviço de provisão de sementes “ano calen-dário”, complementando as ofertas sazonais de

ambos os hemisférios.Do mesmo modo devem complementar-se as

ofertas entre nossos países. É responsabilidade de nossos dirigentes fomentar uma integração séria, madura e equilibrada, que potencialize o comércio e gere bem-estar a nossos povos. É nossa responsabilidade afiançar as relações e consolidar a confiança.

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35Outras Culturas

A produção de cebola no BrasilNo Brasil, a produção de cebolas concentra-

se na Região Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Sul de modo especial nos estados da Bahia, Pernambuco, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Normalmente é atividade de pequenos e médios produtores, revestindo-se de suma importância para a economia desses estados, onde contribui para a geração de empregos e a fixação do homem ao meio rural.

Face à diversidade climática das diversas regi-ões do País, a cultura da cebola é desenvolvida ao longo de todos os meses do ano, com maior ou menor intensidade, dependendo do estado produtor. A particularidade brasileira de possuir várias safras no decorrer do ano permite que o mercado nacional seja abastecido periodi-camente com quantidade de cebola em ní veis equivalentes às necessidades de consumo.

Embora restrita a um pequeno número de estados produtores, a cultura da cebola no Brasil ampliou-se de forma significativa nos últimos anos, seja pelas condições de solo, clima, topo-grafia, localização, mercados favoráveis à cultura, seja pelas diversas safras colhidas no país.

O calendário mensal de oferta de cebola é extremamente favorável em termos de distri-buição de safras e, normalmente, permite ao mercado operar com relativa calma; mas a pro-dução interna ainda mostra algumas oscilações, alternando excessos de oferta com períodos de escassez do produto - cenários que costumam estar relacionados a fatores climáticos, à dispo-nibilidade de sementes, Mercosul e aos preços recebidos pelos produtores.

A implantação do Mercosul, entretanto, possibilitou à Argentina ofertar ao mercado brasileiro, parte da sua produção que se sobre-põe ao período de comercialização da cebola produzida no Sul do Brasil, gerando dificuldades aos produtores.

Os demais países membros do Mercosul -Uruguai e Paraguai - apresentam produção inex-pressiva, insuficiente, inclusive, ao atendimento de suas demandas internas.

Esta situação, além de criar dificuldades na área do abastecimento, interfere na tomada de decisão do produtor quanto à implantação da cultura, trazendo, conseqüentemente, prejuízos à atividade, sobretudo em se tratando de um produto altamente perecível e com nível de demanda em descompasso com o crescimento da oferta.

Torna-se até possível afirmar, em razão disso, que se planta demais e se perde muito, seja por deficiência de armazenagem no segmento produtor, seja por condições de clima ou de mercado. Isso acaba por onerar o estado através de financiamentos improdutivos e o produtor, por elevadas perdas sofridas.

O total da oferta nacional do bulbo, tem oscilado nos últimos anos entre 840 mil e 1.150 toneladas, intervalo sempre muito intimamente relacionado ao montante da área plantada e ao comportamento das condições climáticas veri-ficadas ao longo do ciclo da cultura.

João Paulo de Camargo Victorio - Engenheiro Agrônomo e ProdutorDiretor - Sindicato Rural de Monte Alto. Avenida 15 de Maio, 441 - (16) 3242-1387 - [email protected]

· Adequação de crédito rural às particularidades da agricultura – equivalência em produto.· Ação enérgica no cumprimento das normas de padrão de classificação e de comercialização interna do produto. Ceasas.· Estimular a busca de novos mercados e centrar esforços no sentido da real organização dos produtores. Associações.· Estimular, via crédito, o beneficiamento e indus-trialização do excedente de produção.· Integrar governo e iniciativa privada na proposta de sucessão solidária de safra entre todas as regiões produtoras.· Direcionar as pesquisas para variedades su-aves.Problemas graves1º - Comercialização/Inadimplência2º - Queda do Consumo Nacional.3º - Reutilização de Embalagens com Marcas Registradas.Soluções para os problemas1º - A comercialização terá que se organizar em grupos ou associações para que os preços

REGIÕES PRODUTORAS E VARIEDADES PLANTADAS

RS, SC e PR - Baia Pe-riforme, Bola Precoce, Crioula;SP, MG e GO - Granex Ouro, Optima, Merce-des, Princesa, Serrana, Baia Periforme, Aurora;BA e PE - Ipas,Texas Grano, Granex 429

ESTATÍSTICAS DA CULTURA

praticados sejam mais homogêneos.Com relação à inadimplência, o grande mal é a comercialização do produto sem Nota Fiscal, pois 90% dos casos de não pagamento são refe-rentes às mercadorias enviadas sem Nota Fiscal e as referidas Associações deveriam manter uma listagem atualizada de maus pagadores; 2º - Em referência à queda de consumo, ela é causada principalmente pelo público mais jovem que deixou de comer cebolas por historicamente a cebola ter uma imagem que deixa um hálito desagradável, faz chorar, etc. A solução para tal problema seria o cultivo de variedades suaves (doces) e, logicamente, iniciar um trabalho de esclarecimento através da mídia sobre a cebola e suas vantagens (nutritivas, sabor, etc);3º - Com relação à reutilização de embalagens, a única solução viável para o problema seria os fa-bricantes fornecerem embalagens descartáveis, pois da atual maneira que a cebola é apresentada, fica mais difícil o controle de tal situação.

PRINCIPAIS PROBLEMAS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES

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37Plantio

O solo para o plantio de batata é preparado por aração e gradagem. A aração visa enterrar os restos culturais, controlar plantas daninhas e “cortar o solo”, revolvendo-o, tornando-o mais solto, permeável, menos compactado, aerado, permitindo melhores condi-ções de desenvolvimento das plantas de batata.

A gradagem destorroa e nivela o solo arado. Muitas vezes, o preparo do solo é feito apenas com a enxada rotativa, dependendo do nível de desagregação desejado.

O nível de desagregação e distribuição dos agregados no perfil do solo precisa ser adequado à cultura, épocas de pre-paro do solo e de plantio, quantidade e disponibilidade de água, teor de matéria orgânica e susceptibilidade do solo à erosão. Apesar da existência de métodos laboratoriais, o julgamento sobre o pon-to ideal de preparo do solo depende da prática do profissional (Oliveira, 1997).

É comum os bataticultores utilizarem sistema de preparo que mobiliza intensa camada superficial do solo, que pode favorecer a degradação e a erosão, cau-sando prejuízos econômicos e compro-metendo a competitividade da cultura (Boller et al., 1998). São raros no Brasil os trabalhos versando sobre preparo do solo e performance da cultura da batata (Fontes, 1997). Em outros países, tem se preocupado em reduzir a compacta-ção e a erosão e obter o maior nível de retenção de água no solo por meio de seu preparo adequado.

Com freqüência, o cultivo da batata é feito em solo de moderada à alta decli-vidade, que, sendo intensamente prepa-rado, pode ser erodido. Neste caso, as taxas de infiltração de água, porosidade, aeração e capacidade de retenção de água ficam reduzidas, impedindo atingir

alta produtividade de batata (Rachwall & Dedecek, 1993).

Para a cultura da batata, a escolha dos implementos para as operações de preparo do solo está em função da disponibilidade dos equipamentos na propriedade, sendo pouco observado critérios técnicos e con-servacionistas, pois quase sempre há redu-zida disponibilidade dos mesmos. Contudo, mudanças significativas estão ocorrendo em relação às preocupações com o meio am-biente e manutenção dos recursos naturais, havendo forte questionamento sobre a perda de solo por erosão e necessidade de intensa mobilização do solo para cultivo da batata. Neste contexto, surgiu o plantio direto, já amplamente divulgado e utilizado pelos produtores de grãos.

A preocupação com os exageros verifi-cados no preparo do solo, para o plantio da batata, tem levado pesquisadores a bus-carem sistemas alternativos de preparo do solo, como o uso da aração em faixa (Pierce & Burpee, 1995), preparo reduzido (Alva et al., 2002), aração inicial de toda a área com escarificador, ao invés de usar o arado de aiveca, (Carter et al., 2001) e mesmo o semeio direto.

O semeio direto da batata é prática não realizada ainda em escala comercial. Eke-berg & Riley (1996), experimentalmente, na Noruega, mostraram a viabilidade do “plantio direto” da batata em restos cultu-rais de cevada e Boller & Prediger (2000), no Brasil, mostraram ser possível o plantio direto de batata em camalhão previamente construído. Alternativamente e em posição intermediária ao plantio direto e preparo convencional encontra-se o “cultivo míni-mo” ou preparo reduzido do solo. Boller et al. (1998) não encontraram diferenças significativas na produção de batata quando o solo foi mantido com maior quantidade de cobertura vegetal.

Determinadas áreas de produção de ba-

tata no Brasil talvez possam ser beneficiadas com o uso do preparo reduzido do solo ou do plantio direto da batata, para minimizar a erosão e diminuir custos. Com o preparo mínimo, ficando o solo mais firme, a área pode ser plantada mais cedo, após período de chu-va. Pode haver menos gasto de combustível, modificação da temperatura do solo, controle de determinadas espécies de plantas daninhas e de patógenos do solo, menos dispersão de patógenos do solo, competição diferenciada pelos nutrientes e água, problemas com patógenos do solo, produção de compostos fitotóxicos à batateira, entre outras vantagens e desvantagens.

Em razão do exposto, foi pensado que seria oportuno avaliar a possibilidade de realizar o plantio de batata, utilizando-se o semeio direto ou o cultivo mínimo. Para tal, foi passado para Antônio Donizette de Oliveira, estudante de doutorado em Engenharia Agrícola da UFV, o desafio de construir um protótipo para o semeio direto de batata. Após seguidas mode-lagens, ajustes, confecções de peças e testes no campo ficou pronto o protótipo denominado UFV-ENG (Oliveira, 2003).

O UFV-ENG foi usado em um experimento realizado na Horta de Produção do DFT/UFV, em solo classificado como Argissolo Vermelho-

Plantio direto de batata utilizando o protótipo “UFV-ENG”Antônio Donizette de Oliveira - [email protected] Agrotécnica Federal de Muzambinho, Morro Alto, 37.890-000, Muzambinho – MG. (35) 3571-1529. Paulo Cezar Rezende Fontes - [email protected] Carlos FernandesJúlio Cezar Silveira Nunes

Vista frontal da plantadora-adaptadora após a adap-tação 2.

Vista lateral do mecanismo adaptado à plantadora, mostrando sulcador frontal e separador do adubo com haste escarificadora.

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38 Plantio

Amarelo Câmbico, fase Terraço (42% de argi-la), que estava coberto com densa vegetação de mucuna preta. Antes do experimento, a mucuna foi ceifada e retirada da área. O experimento constou de seis tratamentos, sendo três sistemas de plantio (convencional, direto e mínimo) e duas práticas de amontoa (com e sem) e quatro repetições.

O plantio convencional foi feito com uma plantadora-adubadora de duas linhas, existente no mercado, após o solo ter sido preparado com enxada rotativa. A planta-dora foi emprestada pelo dr. José Daniel, da Abasmig (Associação dos Bataticultores de Minas Gerais). O plantio direto foi feito com a mesma plantadora-adubadora, após ter sido submetida a adaptações (UFV-ENG - Adap-tação 1). O plantio mínimo foi feito com a mesma plantadora, após ter sido submetida a adaptações diferentes da anterior (UFV-ENG – Adaptação 2).

O experimento foi realizado no período de 10/05/2002 a 27/08/2002, sendo seguidas as práticas culturais rotineiras para a cultura, incluindo irrigação por aspersão. Foi utilizada batata-semente cedida pela Abasmig. Foram avaliados os desempenhos do maquinário, características do solo e produção qualificada de tubérculos. Serão mostrados apenas os Quadros 1 e 2, adaptados do trabalho de Oliveira (2003).

O experimento foi realizado em área pla-na, que estava plantada com mucuna preta nos últimos três anos, em solo argiloso, na época seca do ano, com tubérculo-semente em início de brotação da cultivar Monalisa. Utilizou-se o espaçamento de 75 cm entre fileiras, herbicidas e controle manual de tiri-rica, dessecamento químico da parte aérea e arranquio dos tubérculos com enxadão.

Antes das conclusões, os pontos acima listados merecem atenção dos leitores já que em outras localidades, situações e procedi-mentos, pode ocorrer resultado diferente. Obviamente, não podem ser enumeradas todas as diferenças que possam existir entre as condições do experimento relatado e cada situação específica, pois é difícil imaginar o universo de variações existentes (produtor x ambiente x sistema de produção).

Portanto, como qualquer tecnologia, o protótipo precisa ser submetido à avaliação de desempenho e prováveis adaptações. Isso é por nós chamado de ajuste local, sinônimo do refinamento de uma informação ou tecnologia para cada situação. Para tal, além de prática, é necessário conhecimento, coragem e criati-vidade, atributos que tentamos transmitir aos alunos de Agronomia da UFV.Conclusões:

É possível plantar batata em plantio direto ou em cultivo mínimo.

O plantio convencional propiciou mais rá-pida emergência da planta. Os três métodos de plantios, (a) com a plantadora-adubadora convencional; (b) com o protótipo UFV-ENG submetido à modificação 1 (plantio direto) e (c) com o protótipo submetido à modificação 2 (plantio com cultivo mínimo) propiciaram semelhantes estandes (média de 41.980 plantas/ha) e produtividades total e comercial de tubérculos.

É necessário fazer a amontoa quando o plantio for feito com o protótipo submetido à modificação 2 (cultivo mínimo) para diminuir a produção de tubérculo não comercial; nos outros dois métodos de plantio, a amontoa foi desnecessária.

O uso do protótipo UFV-ENG permitiu economias de tempo e de óleo diesel. Em adição à redução de custos, o protótipo po-derá propiciar menores perdas de solo e de nutrientes (não avaliados no estudo).

A confecção do protótipo UFV-ENG é ta-refa simples e pouco onerosa, sendo possível de ser realizada em pequena oficina, a partir da plantadora convencional.

Detalhes sobre o protótipo podem ser obtidos com o professor Antônio Donizette de Oliveira.

Referências bibliográficas: consulte o autor.

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39Comercialização

Cadeia de comercialização da batata na Sonae

A batata é um dos alimentos mais con-sumidos no Brasil, estando entre os três primeiros do ranking nacional. Na Sonae Distribuição Brasil, quarta maior empresa do setor supermercadista do País, não é diferente. É um item gerador de tráfego nas lojas. Seu poder de atração é compreendido por estar presente em inúmeros pratos da culinária brasileira e internacional.

No início de 2000, com a reestruturação do conceito de compra, a Sonae começa a estabelecer parcerias com produtores, fazendo acordos de fornecimento direto com o produtor. “Com a conclusão das aquisições, da fase de grande expansão da empresa, começamos a traçar um novo mo-delo de compra para os hortifrutis que se di-recionava à compra direta de produtores”, salienta o diretor comercial de perecíveis da

Sonae, Túlio Bolzoni. Por se tratar de um setor com poder de atração e definidor do local de compras, a Sonae precisava obter melhores custos para competir no mercado e, concomitante, oferecer qualidade ao consumidor. “Só assim, poderíamos fidelizar clientes”, completa Bolzoni. Foi então que a empresa começou a comprar diretamente da ‘fonte’ os produtos de alto giro. Com essa nova forma de relacionamento, a Sonae consegue garantir para seus clientes produtos avalizados pela origem.

Para o gerente nacional de categorias da Sonae, Vandro Colombo, a iniciativa da Sonae tem um único motivador. Segundo ele, os produtores se preocupam mais com seus próprios produtos. “O retorno desse relacionamento direto reflete, ime-diatamente, nos resultados finais da sua

produção”, explica Co-lombo. Em paralelo à essa nova forma de negociar, a Sonae investiu pesado na construção dos três mais modernos centros de distribuição de horti-frutigranjeiros do Brasil, em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, com câmaras de frio para me-lhor acondicionar os pro-dutos e, assim, obter uma eficiência logística acima da média do setor. Após a definição dos produtores e o começo do trabalho,

sentiu-se a necessidade de uma regulamentação de variedades de batatas e suas qualidades, deu-se início à implantação do controle de qualidade através de ficha técnica por produto. Nessa ficha, são analisados os defeitos, as características, as variedades e os calibres com a orientação de técnicos especializados, com formação em agronomia. Para o aprimoramento e a aplicação des-se controle de qualidade, a Sonae obteve a participação de todos os envolvidos no processo, desde o produtor, diretores da Sonae, gerentes de Pakin, gestores de compra, agrônomos até os cola-boradores das lojas. No Brasil, a Sonae atua na região sul, onde é líder do setor de supermercados, e em São Paulo, sendo a quarta empresa do País do mercado va-rejista, segundo a Abras (Associa-

ção Brasileira de Supermercados). Controla hoje no País, 148 lojas distribuídas entre a rede de Hipermercados BIG (com 45 lojas - 12 no RS, 5 em SC, 10 no PR e 18 em SP), as redes de supermercados Nacional (com 67 lojas no RS), Mercadorama (com 26 lojas - 24 no PR e 2 em SC) e Cândia (com 1 loja em SP), a rede Maxxi Atacado

(com 10 lojas - 8 no RS e 2 no PR) e outras 15 lojas especializadas: a rede BIG Eletro-eletrônicos (de bazar pesado, informática e eletrônicos) e as Lojas Hello! (especializada em roupas femininas, masculinas, infantil e bebê). Hoje, a empresa gera mais 21 mil empregos diretos e outros 9 mil indiretos. Em 2002, faturou R$ 3,4 bilhões e investiu mais de R$ 150 milhões em programas de expansão, de modernização da infra-estrutura de suas lojas, em estratégias de marketing e no desenvolvimento e qualifi-cação de seus colaboradores. Além disso, a Sonae vem empenhada no crescimento do seu Programa de Responsabilidade Social e Ambiental.

Túlio Renato Bolzoni - diretor de perecíveis

Hipermercados BIG

Evandro Colombo - gerente de produtos orgânicos

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Solo 41

O sistema Mafes de plantio da batata foi desenvolvido através da observação das condições em que se obtém as mais altas produtividades. Estas observações têm um foco muito grande nos solos e no clima de Mogi das Cruzes (SP) e Brasília (DF), onde o diretor plantava.

De 1980 a 2003, a Mafes tem procurado reproduzir estas condições, que são:

1 - Presença de muita massa em estado de senescência no preparo do solo;

2 - Preparo final com granulometria de 5 a 20mm de diâmetro;

3 - Não plantar em solos com tendência a lamear;

4 - Plantio dentro de um rígido crono-grama;

5 - Amontoa centralizada e de formato trapezoidal;

6 - Não provocar estresse durante e pós-amontoa;

7 - Estar isento de ervas no final do ciclo da Batata.

Para se manter este conjunto de fatores, dentro de um rígido cronograma, faltam recursos de máquinas.

Tendo uma área com alta densidade de capim elefante (Napie) ou brachiaria, é im-possível prepará-la sem a queima. Mesmo assim, é extremamente difícil destroçar as touceiras.

Na região de Mogi das Cruzes chove muito nos meses de fevereiro e março, dificultando o preparo e plantio dentro do cronograma. Diante deste quadro, idealizou-se uma for-ma de preparo do plantio que conduzisse da palha ao plantio de forma simultânea. O plantio direto nos grãos é feito na palha, po-rém, a batata necessita de um solo profundo e melhor trabalhado. Portanto, é inevitável seu revolvimento.

Para melhor estudo e execução, separamos o preparo em três fases:

A - Picar a palha em pedaços menores que 10 cm;

B - Destroçar as touceiras do capim;C - Corte do solo com granulometria abai-

xo de 5 cm e mistura homogênea da palha e raízes a 40cm.

Na palha, a Mafes desenvolveu o “Tribar” (trincha barbeadora). Trata-se de uma trin-cha que corta a palha rente ao solo, graças a um sistema copiador do solo e das valas que arremessam as palhas nas facas do “Tribar”. Na solução das touceiras, a Mafes desenvol-veu o “Roto” que é uma canteiradora com facas especiais para destroçá-los.

No corte profundo, através da mistura de solo e palha, desenvolveu-se o picão.

Com este sistema, solos com volumes de massa seca (palha + raízes) de até 45t/ha são facilmente preparados com três tratores, e o plantio, com um quarto trator, todos com 75 a 90cv de potência, apenas a do picão é interessante ser traçado, as demais podem ser simples.

A Plantadora PM-2, da Mafes, fora proje-tada com as condicionantes:

1 - Engate nos três pontos do trator com autonomia de 1.000m;

2 - Plantio de semente 0 a IV;3 - Velocidade de 7km/h de plantio;4 - Precisão no plantio entre plantas;5 - Ferimento na semente compatível ao

plantio manual;6 - Germinação e arranque compatível

com o manual;7 - Plantadora Adubadora de duas linhas.

Com os objetivos alcançados, após 23 anos de pesquisa e projeto, viabilizamos não só a colheita mecânica da batata, como também um ganho em produtividade de 10 a 30%.

A Mafes chegou a este sistema graças ao incentivo e apoio da Montesa, Elma Chips e do Grupo Nascente. A todos, nossos since-ros agradecimentos.

Preparo de solo nos trópicosRoberto Sako – Diretor [email protected] (11) 4790-2455 / 2904

1. Eventos Internacionais:1.1 - British Potato3 a 4 de setembro de 2003.Local: The Showground, Newark, Nottswww.potato.org.uk/include.asp?sec=4&con=6331.2 - National Potato Council Seed Semi-nar8 a 12 de dezembro de 2003Local: Carnival Cruise Line´s M/S Ecstasy Departure from Los Angeles – EUA www.oregonspuds.com/floatyourboat.html1.3 - XXI Congreso de la Asociación Lati-noamericana de la Papa (ALAP)V Seminario Latinoamericano de la Papa : Uso y Comercialización X Reunión de la Asociación Chilena de la Papa (ACHIPA)II Congresso Iberoamericano de Investi-gación y Desarrollo en Patata7 a 12 de março de 2004Local: Valdivia - Chilewww.uach.cl/alap2004 - [email protected]/fax (56-63) 2217331.4 - AGF TOTAAL 2003 Feira Internacional para comércio de batatas, frutas e legumes15 a 17 de setembro de 2003Local: Rotterdan - Holandawww.dutcham.com.br - [email protected]/fax: (11) 221.5899/9242

2. Eventos Nacionais:2.1 - Agrishow FFH03 a 06 de setembro de 2003 Local: Jundiaí SP - Brasilwww.agrishow.com.br 2.2 - II Congresso Mundial sobre Agricul-tura Conservacionista11 a 15 de agosto de 2003 Local: Rafain Palace Hotel - Foz do Iguaçu PR - Brasil - www.febrapdp.org.br2.3 - IX Congresso Brasileiro de Fisiologia Vegetal01 a 04 de setembro de 2003 Local: Bourbon Atibaia Resort & Conven-tion - Atibaia SP – Brasilwww.pjeventos.com.br/eventos/fisiolo-giavegetal - [email protected] fone: 55 (41) 372-11772.4 - Encontro de Agricultura Irrigada na Palha27 e 28 de agosto de 2003Local: Hotel Santa Cristina - Holambra II Paranapanema SP - BrasilSINDIPAR/ ASPIPP com Fláviafone/ fax: 55 (14) 3769-1154 r. [email protected]

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Culinária42

Nair Morioka – Esposa do associado Tadashi [email protected]

Ingredientes p/ massa: 1Kg de farinha de trigo100g de açúcar cristal40g de leite80g de fermento120g de gordura15g de sal400g de batata2 ovos,10g reforçados de glúten Recheio: Creme com Ricota. O fermento utilizado nesta receita foi feito com a própria batata. Preparação: Coloque em uma garrafa: uma colher de açúcar, uma colher de sal, duas batatas regulares e raladas (batatas aguadas não servem). Acabe de encher com água, arrolhe bem e amarre. Guarde em lugar quente, virado para baixo. No

dia seguinte, se estiver forte e espumante poderá usá-lo, caso contrário não empre-gue, faça outro. Modo de fazer: Coloque todos os ingredientes na batedeira, na velocidade 1. Em seguida, passe para a velocidade 3 e bata por 5 minutos. Tire a massa, coloque na mesa e descanse por 20 minutos. Divida em pedaços de 600g,

faça a rosca, coloque na mesa e deixe descansar por 30 minutos. Pinte com ovos inteiros e coloque no forno a 200º por 20 minutos.

Obs.: Se a batata estiver muita aguada na hora de amassar, adicione mais farinha de trigo até dar o ponto certo. Para bolear, untar as mãos com óleo. Poderão ser colocados em cima da rosca, cerejas e figos em calda.

Rosca de batata e ricota

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