secchi modelos e reformas

23
RAP — RIO DE JANEIRO 43(2):347-69, MAR./ABR. 2009 ISSN 0034-7612 Modelos organizacionais e reformas da administração pública* Leonardo Secchi** SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. O modelo burocrático; 3. Gerencialismo; 4. Governança pública; 5. Comparando modelos organizacionais: continuidade ou descontinuidade? 6. Considerações finais. SUMMARY: 1. Introduction; 2. The bureaucratic model; 3. Managerialism; 4. Public governance; 5. Comparing the organizational models: continuity or discontinuity? 6. Final remarks. PALAVRAS-CHAVE: reforma da administração pública; modelo burocrático; administração pública gerencial; governo empreendedor; governança pública. KEY WORDS: public management reforms; bureaucratic model; new public manage- ment; entrepreneurial government; public governance. Este artigo foi elaborado a partir de uma pesquisa bibliográfica em livros e artigos científicos clássicos ou recentemente publicados na literatura de administração pública na Europa e nos Estados Unidos, e faz uma comparação dos quatro mode- los organizacionais e relacionais que vêm inspirando o desenho das estruturas e processos nas recentes reformas da administração pública. Os modelos analisados são o burocrático, a administração pública gerencial, o governo empreendedor e a governança pública. Recentemente, reformas administrativas vêm pregando a subs- tituição progressiva do modelo burocrático weberiano por novos modelos de gestão * Artigo recebido em ago. 2008 e aceito em jan. 2009. O autor agradece a Gloria Regonini (Uni- versità degli Studi di Milano), Fiorenzo Girotti (Università degli Studi di Torino), Joan Subirats (Universidad Autónoma de Barcelona), John D. Donahue (Harvard University) e Samuel Tyler (Boston Municipal Research Bureau). E também à Capes pela bolsa de pesquisa de doutorado. ** PhD em ciências políticas pela Universidade de Milão, Itália, M.Sc. em administração pela Universidade Federal de Santa Catarina, bacharel em administração pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor de administração do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Uni- versidade Comunitária Regional de Chapecó (Unochapecó), editor-responsável da revista Gestão Organizacional, líder do Grupo de Pesquisa em Gestão Social da Unochapecó. Endereço: Av. Senador Attilio Fontana, 591-E — Bairro Efapi — CEP 89809-000, Chapecó, SC, Brasil. E-mail: [email protected].

Upload: mariana-costa

Post on 24-Nov-2015

36 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    issn0034-7612

    Modelos organizacionais e reformas da administrao pblica*

    Leonardo Secchi**

    Sumrio: 1. Introduo; 2. O modelo burocrtico; 3. Gerencialismo; 4. Governana pblica; 5. Comparando modelos organizacionais: continuidade ou descontinuidade? 6. Consideraes finais.

    Summary: 1. Introduction; 2. The bureaucratic model; 3. Managerialism; 4. Public governance; 5. Comparing the organizational models: continuity or discontinuity? 6. Final remarks.

    PalavraS-chave: reforma da administrao pblica; modelo burocrtico; administrao pblica gerencial; governo empreendedor; governana pblica.

    Key wordS: public management reforms; bureaucratic model; new public manage-ment; entrepreneurial government; public governance.

    Este artigo foi elaborado a partir de uma pesquisa bibliogrfica em livros e artigos cientficos clssicos ou recentemente publicados na literatura de administrao pblica na Europa e nos Estados Unidos, e faz uma comparao dos quatro mode-los organizacionais e relacionais que vm inspirando o desenho das estruturas e processos nas recentes reformas da administrao pblica. Os modelos analisados so o burocrtico, a administrao pblica gerencial, o governo empreendedor e a governana pblica. Recentemente, reformas administrativas vm pregando a subs-tituio progressiva do modelo burocrtico weberiano por novos modelos de gesto

    * Artigo recebido em ago. 2008 e aceito em jan. 2009. O autor agradece a Gloria Regonini (Uni-versit degli Studi di Milano), Fiorenzo Girotti (Universit degli Studi di Torino), Joan Subirats (Universidad Autnoma de Barcelona), John D. Donahue (Harvard University) e Samuel Tyler (Boston Municipal Research Bureau). E tambm Capes pela bolsa de pesquisa de doutorado.** PhD em cincias polticas pela Universidade de Milo, Itlia, M.Sc. em administrao pela Universidade Federal de Santa Catarina, bacharel em administrao pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor de administrao do Centro de Cincias Sociais Aplicadas da Uni-versidade Comunitria Regional de Chapec (Unochapec), editor-responsvel da revista Gesto Organizacional, lder do Grupo de Pesquisa em Gesto Social da Unochapec. Endereo: Av. Senador Attilio Fontana, 591-E Bairro Efapi CEP 89809-000, Chapec, SC, Brasil. E-mail: [email protected].

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    348 Leonardo Secchi

    e de relao do Estado com a sociedade. Este artigo mostra que os novos modelos compartilham caractersticas essenciais com o modelo tradicional burocrtico e, portanto, no so modelos de ruptura. Tambm argumentado que reformas da administrao pblica transformam-se facilmente em polticas simblicas, e que polticos e burocratas tentam manipular a percepo do pblico em relao ao desempenho dos governos. No so raros os esforos de reforma da administrao pblica que avanam mais em autopromoo e retrica do que em fatos concretos. Por ltimo, so feitas sugestes para uma agenda de pesquisa queles interessados em temas de reformas da administrao pblica.

    Organizational models and public management reformsThis article is based on a bibliographical research both in classic and recently publi-shed textbooks and in scientific papers in the literature of public administration in Europe and the United States. Its main objective is to compare the four organizational and relational models that have been inspiring the design of structures and processes in recent public management reforms: the bureaucratic model, the new public mana-gement, the entrepreneurial government, and public governance. Recently, there has been a progressive shift from the bureaucratic model to these new organizational and relational models. This article demonstrates that new organizational and relational models share important characteristic with the traditional bureaucratic model and, therefore, are not models of rupture. Also, public management reforms can easily become symbolic policies when politicians and public officials strive to manipulate the publics perception of the administrations performance. Public management reform efforts related to self-promotion and rhetoric rather than to concrete results are a common fact. Finally, the article proposes items for a research agenda for those who are interested in public management.

    1. Introduo

    Desde os anos 1980, as administraes pblicas em todo o mundo realizaram mudanas substanciais nas polticas de gesto pblica (PGPs) e no desenho de organizaes programticas (DOPs). Essas reformas administrativas consolidam novos discursos e prticas derivadas do setor privado e os usam como bench- marks para organizaes pblicas em todas as esferas de governo. Hays e Pla-gens (2002:327) do uma noo da magnitude dessas reformas: estratgias aclamadas de reforma tm vindo diretamente do setor privado numa onda que talvez possa ser considerada a mais profunda redefinio da administrao p-blica desde que esta emergiu como uma rea de especialidade identificvel.1

    1 Traduo livre a partir do original.

  • 349ModeLoS organizacionaiS e reforMaS da adMiniStrao pBLica

    rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    Os elementos apontados como ativadores dessas ondas de moderniza-o so a crise fiscal do Estado (Aucoin, 1990; Hood, 1995; Pollitt e Boucka-ert 2002a), a crescente competio territorial pelos investimentos privados e mo de obra qualificada (Subirats e Quintana, 2005), a disponibilidade de novos conhecimentos organizacionais e tecnologia, a ascenso de valores plu-ralistas e neoliberais (Kooiman, 1993; Rhodes, 1997), e a crescente comple-xidade, dinmica e diversidade das nossas sociedades (Kooiman, 1993). No velho continente, o processo de europeanizao tambm tem desempenhado um papel crucial no estmulo adoo de novos modelos organizacionais e reviso das PGPs nos nveis nacionais, regionais e municipais (Olsen, 2002; Radaelli, 2005).

    O modelo burocrtico tornou-se o alvo das mais speras crticas. O mo-delo burocrtico weberiano foi considerado inadequado para o contexto ins-titucional contemporneo por sua presumida ineficincia, morosidade, estilo autorreferencial, e descolamento das necessidades dos cidados (Barzelay, 1992; Osborne e Gaebler, 1992; Hood, 1995; Pollitt e Bouckaert, 2002a).

    Dois modelos organizacionais e um paradigma relacional foram apre-sentados como alternativas ao modelo burocrtico. A administrao pblica gerencial (AGP) e o governo empreendedor (GE) so modelos organizacionais que incorporam prescries para a melhora da efetividade da gesto das orga-nizaes pblicas. O movimento da governana pblica (GP) se traduz em um modelo relacional porque oferece uma abordagem diferenciada de conexo entre o sistema governamental e o ambiente que circunda o governo.

    No longo prazo, esses modelos para reformas tm potencial para mu-dar o modo que as organizaes pblicas se administram e se relacionam. Tambm importante frisar que, no raras vezes, reformas da administrao pblica so empunhadas com meros propsitos retricos. Outras vezes, tm poucos efeitos ou fracassam completamente.

    Este artigo apresenta o estado da arte sobre modelos organizacionais pblicos recentemente debatidos na comunidade epistmica internacional da rea de administrao pblica. Alm de organizar a literatura sobre modelos organizacionais, o artigo compara elementos essenciais dos modelos, avan-ando na discusso sobre os pontos de inflexo e os pontos de continuidade das recentes propostas de modelos para reformas administrativas.

    Este artigo foi elaborado por meio de pesquisa bibliogrfica realizada em livros, artigos cientficos e working papers da literatura de administrao pblica, publicados na Europa e nos Estados Unidos. A comparao dos mo-delos organizacionais foi feita utilizando alguns conceitos sensveis (Patton, 1990), tais como funo sistmica, relao sistmica com o ambiente, sepa-

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    350 Leonardo Secchi

    rao entre poltica e administrao, funo administrativa essencial, discri-cionariedade administrativa e tipo de tratamento que a administrao pblica tem com o cidado.

    Nas prximas sees sero apresentados os modelos organizacionais diretamente relacionados com os recentes esforos de reformas administra-tivas: o modelo burocrtico, o gerencialismo (subdividido em APG e GE) e a governana pblica. Por fim, ser feita a anlise comparativa dos modelos em questo.

    2. O modelo burocrtico

    O modelo burocrtico weberiano um modelo organizacional que desfrutou notvel disseminao nas administraes pblicas durante o sculo XX em todo o mundo. O modelo burocrtico atribudo a Max Weber, porque o so-cilogo alemo analisou e sintetizou suas principais caractersticas. O modelo tambm conhecido na literatura inglesa como progressive public administra-tion PPA (Hood, 1995), referindo-se ao modelo que inspirou as reformas introduzidas nas administraes pblicas dos Estados Unidos entre os sculos XIX e XX, durante a chamada progressive era.

    No entanto, desde o sculo XVI o modelo burocrtico j era bastante difundido nas administraes pblicas, nas organizaes religiosas e militares, especialmente na Europa. Desde l o modelo burocrtico foi experimentado com intensidades heterogneas e em diversos nveis organizacionais, culmi-nando com sua adoo no sculo XX em organizaes pblicas, privadas e do terceiro setor.

    Em 1904, no livro A tica protestante e o esprito do capitalismo, Max Weber (1930:16-17) fazia referncias ao burocrata como profissional e dis-seminao do modelo burocrtico em pases ocidentais, suas caractersticas de especializao, controle, e, sobretudo, racionalismo.

    No country and no age has ever experienced, in the same sense as the modern Occident, the absolute and complete dependence of its whole existence, of the po-litical, technical, and economic conditions of its life, on a specially trained orga-nization of officials. The most important functions of the everyday life of society have come to be in the hands of technically, commercially, and above all legally trained government officials. () In fact, the State itself, in the sense of a political association with a rational, written constitution, rationally ordained law, and an administration bound to rational rules or laws, administered by trained officials,

  • 351ModeLoS organizacionaiS e reforMaS da adMiniStrao pBLica

    rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    is known, in this combination of characteristics, only in the Occident, despite all other approaches to it.

    Foi apenas aps a morte de Weber, e aps a publicao em 1922 do livro Wirtschaft und Gesellschaft (Economia e sociedade), que as bases tericas da burocracia foram definitivamente construdas. Na sua descrio sobre os mo-delos ideais tpicos de dominao, Weber identificou o exerccio da autorida-de racional-legal como fonte de poder dentro das organizaes burocrticas. Nesse modelo, o poder emana das normas, das instituies formais, e no do perfil carismtico ou da tradio.

    A partir desse axioma fundamental derivam-se as trs caractersticas principais do modelo burocrtico: a formalidade, a impessoalidade e o profis-sionalismo.

    A formalidade impe deveres e responsabilidades aos membros da or-ganizao, a configurao e legitimidade de uma hierarquia administrativa, as documentaes escritas dos procedimentos administrativos, a formaliza-o dos processos decisrios e a formalizao das comunicaes internas e externas. As tarefas dos empregados so formalmente estabelecidas de maneira a garantir a continuidade do trabalho e a estandardizao dos ser-vios prestados, para evitar ao mximo a discricionariedade individual na execuo das rotinas.

    A impessoalidade prescreve que a relao entre os membros da organi-zao e entre a organizao e o ambiente externo est baseada em funes e linhas de autoridade claras. O chefe ou diretor de um setor ou departamento tem a autoridade e responsabilidade para decidir e comunicar sua deciso. O chefe ou diretor a pessoa que formalmente representa a organizao. Ainda mais importante, a impessoalidade implica que as posies hierrquicas per-tencem organizao, e no s pessoas que a esto ocupando. Isso ajuda a evi-tar a apropriao individual do poder, prestgio, e outros tipos de benefcios, a partir do momento que o indivduo deixa sua funo ou a organizao.

    O profissionalismo est intimamente ligado ao valor positivo atribudo ao mrito como critrio de justia e diferenciao. As funes so atribudas a pessoas que chegam a um cargo por meio de competio justa na qual os pos-tulantes devem mostrar suas melhores capacidades tcnicas e conhecimento. O profissionalismo um princpio que ataca os efeitos negativos do nepotis-mo que dominava o modelo pr-burocrtico patrimonialista (March, 1961; Bresser-Pereira, 1996). A promoo do empregado para postos mais altos na hierarquia depende da experincia na funo (senioridade) e desempenho (performance). O ideal a criao de uma hierarquia de competncias com

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    352 Leonardo Secchi

    base na meritocracia. Outras caractersticas do modelo que derivam do pro-fissionalismo so a separao entre propriedade pblica e privada, trabalho remunerado, diviso racional das tarefas e separao dos ambientes de vida e trabalho. Segundo Weber (1992:223)

    experience tends universally to show that the purely bureaucratic type of admi-nistration () is, from a purely technical point of view, capable of attaining the highest degree of efficiency and is in this sense formally the most rational known means of exercising authority over human beings. It is superior to any other form in precision, in stability, in the stringency of its discipline, and in its reliability.

    O modelo burocrtico weberiano estabeleceu um padro excepcional de expertise entre os trabalhadores das organizaes. Um dos aspectos centrais a separao entre planejamento e execuo. Com base no princpio do profis-sionalismo e da diviso racional do trabalho, a separao entre planejamento e execuo d contornos prticos distino wilsoniana entre a poltica e a administrao pblica, na qual a poltica responsvel pela elaborao de objetivos e a administrao pblica responsvel por transformar as decises em aes concretas. No setor privado, a burocracia weberiana consolida a prescrio de Taylor (1911) sobre diviso de tarefas entre executivos (usando a mente) e operadores (usando os msculos).

    A preocupao com a eficincia organizacional central no modelo burocrtico. Por um lado, os valores de eficincia econmica impem a alo-cao racional dos recursos, que na teoria weberiana traduzida em uma preocupao especial com a alocao racional das pessoas dentro da es-trutura organizacional. Por outro lado, o valor da eficincia administrativa induz obedincia s prescries formais das tarefas, em outras palavras, preocupaes do como as coisas so feitas. Nas teorias da escolha pblica (public choice) os mecanismos que induzem a burocracia a cumprir deter-minadas tarefas seguindo prescries formais so chamados restries ex ante (ex ante constraints) s agncias e/ou burocracias (McCubbins, Noll e Weingast, 1989).

    Outro valor implcito na ideia de burocracia a equidade, pois ela de-senhada para dar tratamento igualitrio aos empregados que desempenham ta-refas iguais (tratamento, salrios etc.). A burocracia tambm desenhada para prover produtos e servios standard aos destinatrios de suas atividades.

    Tambm implcita ao modelo burocrtico a desconfiana geral com relao natureza humana. O controle procedimental de tarefas, e reiteradas

  • 353ModeLoS organizacionaiS e reforMaS da adMiniStrao pBLica

    rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    preocupaes com a imparcialidade no tratamento dos empregados e clientes so expresses claras da teoria X de McGregor. A teoria X, em contraposio teoria Y do mesmo McGregor, entendida como desconfiana com relao ndole humana, vontade de trabalho e desenvolvimento das pessoas, e capacidade criativa e de responsabilidade.

    As crticas ao modelo organizacional burocrtico so muitas. Aps a II Guerra Mundial uma onda de confrontao intelectual contra o modelo buro-crtico foi liderada por Simon (1947), Waldo (1948) e Merton (1949).

    Robert Merton (1949) elaborou a crtica mais incisiva e direta ao modelo burocrtico, analisando os seus efeitos negativos sobre as orga-nizaes e outras esferas da vida. Esses efeitos negativos foram chama-dos de disfunes burocrticas: o impacto da prescrio estrita de tarefas (red tape) sobre a motivao dos empregados, resistncia s mudanas, e o desvirtuamento de objetivos provocado pela obedincia acrtica s nor-mas. Outro aspecto levantado por Merton (1949) o abuso da senioridade como critrio para promoo funcional que, segundo o pesquisador, pode frear a competio entre funcionrios e fomentar um senso de integridade e corporativismo entre os funcionrios, causando um destacamento dos interesses dos destinatrios/clientes dos servios da organizao. Ademais, a impessoalidade levada ao p da letra pode levar a organizao a no dar ateno a peculiaridades das necessidades individuais. Merton (1949) ain-da enumera a arrogncia funcional em relao ao pblico destinatrio, em especial no servio pblico, pois, em muitos casos, o funcionalismo pblico goza de situao de monoplio na prestao de servios. Tais disfunes podem ser ainda mais prejudiciais em organizaes que dependem da cria-tividade e da inovao.

    Depois de Merton, outras crticas foram feitas ao modelo burocrtico, e elas podem ser notadas implicitamente nas caractersticas dos chamados mo-delos ps-burocrticos de organizao. Na administrao pblica destacam-se os modelos gerenciais (APG e GE), e a governana pblica.

    3. Gerencialismo

    Dois modelos organizacionais tm pintado o quadro global de reformas da administrao pblica nas ltimas dcadas: a administrao pblica gerencial (APG) e o governo empreendedor (GE). Os dois modelos compartilham os va-lores da produtividade, orientao ao servio, descentralizao, eficincia na

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    354 Leonardo Secchi

    prestao de servios, marketization2 e accountability3 (Kettl, 2005). A APG e o GE so frequentemente chamados de gerencialismo (managerialism).

    A administrao pblica gerencial ou nova gesto pblica (new public management) um modelo normativo ps-burocrtico para a estruturao e a gesto da administrao pblica baseado em valores de eficincia, eficcia e competitividade.

    Alguns autores se referem APG como um movimento delimitado em espao e tempo, como um processo de mudana nas administraes pblicas do norte da Europa, do Canad, e na Oceania nos anos 1980 e 90 (Christen-sen, Lagreid e Wise, 2002; Kettl, 2005).

    De acordo com Barzelay (2000:229), a APG um campo de debate aca-dmico e profissional sobre temas de polticas de gesto pblica, liderana executiva, desenho de organizaes programticas e operaes de governo.4 Outros autores ainda consideram a APG um conjunto de ferramentas e no uma ideologia, tendncia ou movimento (Schedler, citado por Jones, 2004).

    Hood e Jackson (1991) defendem que a APG um argumento adminis-trativo ou uma filosofia de administrao, na qual eficincia e desempenho so valores que prevalecem. Essa filosofia de administrao baseada em um con-junto de doutrinas e justificativas. As doutrinas so prescries para a ao, re-ceitas para serem aplicadas na gesto e no desenho das organizaes pblicas. As justificativas so as razes para a pertinncia das doutrinas, dando a elas um sentido racional. Como argumentado por Hood e Jackson (1991), doutri-nas e justificativas so relativamente coerentes umas com as outras, e algumas filosofias podem usar certas prescries baseadas em algumas justificativas, j outras filosofias podem usar as mesmas prescries baseadas em justificativas totalmente diferentes.

    As justificativas so compostas por valores, frequentemente parciais e contestveis, mas com fora normativa. De acordo com Hood e Jackson (1991), existem trs grupos de valores que do base s justificativas:

    2 Marketization o termo utilizado para a utilizao de mecanismos de mercado dentro da esfera pblica. Exemplos de mecanismos de mercado a liberdade de escolha de provedor por parte do usurio do servio pblico e a introduo da competio entre rgos pblicos e entre rgos pblicos e agentes privados.3 Accountability um termo de difcil traduo para o portugus. Literalmente accountability sig-nifica a prestao de contas por parte de quem foi incumbido de uma tarefa quele que solicitou a tarefa (relao entre o agente e o principal). A Accountability pode ser considerada o somatrio dos conceitos de responsabilizao, transparncia e controle.4 Traduo livre a partir do original.

  • 355ModeLoS organizacionaiS e reforMaS da adMiniStrao pBLica

    rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    t grupo sigma eficincia e alocao racional de recursos, limitao do des-perdcio, simplicidade e clareza;

    t grupo theta equidade, justia, neutralidade, accountability e controle de abusos dos agentes (desonestidade, impercia etc.);

    t grupo lambda: capacidade de resposta, resilincia sistmica, flexibilidade, elasticidade.

    Barzelay (2000) e Parsons (2006) afirmam que a APG um modelo normativo para a gesto pblica, fundado em argumentos, doutrinas e justifi-cativas derivados da interpretao positiva ao grupo sigma de valores.

    A interpretao de APG como doutrina compartilhada por Pollitt e Bouckaert (2002b) e por Hood (1995). Para Pollitt e Bouckaert (2002b), a APG pode ser considerada uma religio, um sistema de crenas baseado na ra-cionalidade instrumental aplicada gesto pblica. Hood (1995:95-98) avan-ou a discusso enumerando o conjunto de prescries operativas da APG:

    t desagregao do servio pblico em unidades especializadas, e centros de custos;

    t competio entre organizaes pblicas e entre organizaes pblicas e pri-vadas;

    t uso de prticas de gesto provenientes da administrao privada;

    t ateno disciplina e parcimnia;

    t administradores empreendedores com autonomia para decidir;

    t avaliao de desempenho;

    t avaliao centrada nos outputs.

    O livro Reinventando o governo, escrito por Osborne e Gaebler em 1992, inaugurou o governo empreendedor como um estilo pragmtico de gesto pblica.

    A abordagem foi claramente inspirada na teoria administrativa moder-na, trazendo para os administradores pblicos a linguagem e ferramentas da administrao privada contida em livros como The practice of management (Drucker, 1954) e In search of excellence (Peters e Waterman, 1982). Original-mente, as ideias do GE se desenvolveram com maior intensidade nos Estados Unidos, quando a abordagem de Osborne e Gaebler foi utilizada no programa de governo do partido democrtico nas eleies presidenciais de 1992, e pos-

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    356 Leonardo Secchi

    teriormente usada como base para o Government performance results act de 1993 e o programa nacional de desempenho da administrao pblica (natio-nal performance review) durante a administrao Clinton-Gore.

    Fazendo uso de uma linguagem prescritiva, Osborne e Gaebler (1992) sintetizaram em uma lista de 10 mandamentos a receita para transformar uma organizao pblica burocrtica em uma organizao pblica racional e eficaz. Os dez mandamentos do GE so apresentados de forma resumida a seguir:

    t governo catalisador os governos no devem assumir o papel de imple-mentador de polticas pblicas sozinhos, mas sim harmonizar a ao de diferentes agentes sociais na soluo de problemas coletivos;

    t governo que pertence comunidade os governos devem abrir-se parti-cipao dos cidados no momento de tomada de deciso;

    t governo competitivo os governos devem criar mecanismos de competi-o dentro das organizaes pblicas e entre organizaes pblicas e pri-vadas, buscando fomentar a melhora da qualidade dos servios prestados. Essa prescrio vai contra os monoplios governamentais na prestao de certos servios pblicos;

    t governo orientado por misses os governos devem deixar de lado a ob-sesso pelo seguimento de normativas formais e migrar a ateno na dire-o da sua verdadeira misso;

    t governo de resultados os governos devem substituir o foco no controle de inputs para o controle de outputs e impactos de suas aes, e para isso adotar a administrao por objetivos;

    t governo orientado ao cliente os governos devem substituir a autorrefe-rencialidade pela lgica de ateno s necessidades dos clientes/cidados;

    t governo empreendedor os governos devem esforar-se a aumentar seus ganhos por meio de aplicaes financeiras e ampliao da prestao de ser-vios;

    t governo preventivo os governos devem abandonar comportamentos rea-tivos na soluo de problemas pela ao proativa, elaborando planejamento estratgico de modo a antever problemas potenciais;

    t governo descentralizado os governos devem envolver os funcionrios nos processos deliberativos, aproveitando o seu conhecimento e capacidade inovadora. Alm de melhorar a capacidade de inovao e resoluo de pro-

  • 357ModeLoS organizacionaiS e reforMaS da adMiniStrao pBLica

    rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    blemas, a descentralizao tambm apresentada como forma de aumentar a motivao e autoestima dos funcionrios pblicos;

    t governo orientado para o mercado os governos devem promover e aden-trar na lgica competitiva de mercado, investindo dinheiro em aplicaes de risco, agindo como intermedirio na prestao de certos servios, criando agncias regulatrias e institutos para prestao de informao relevante e, assim, abatendo custos transacionais.

    Se observados atentamente, uns mandamentos se sobrepem a outros, como nos casos dos mandamentos de governo de resultados e governo orien-tado por misses. Nos mandamentos de governo catalisador, governo orienta-do para o mercado, governo empreendedor e governo competitivo, os autores apresentam prescries contraditrias em relao a papel e tamanho do setor pblico. Apesar disso, o livro mostra coerncia em valores primrios de racio-nalidade, eficcia e liberdade de escolha.

    Implicitamente, o modelo de GE de Osborne e Gaebler tem uma pers-pectiva positiva com relao natureza humana. Os autores, especialmente nos captulos dois (governo que pertence comunidade) e nove (governo descentralizado), defendem uma viso quase romntica com relao ao com-portamento e motivao dos cidados e funcionrios pelos temas pblicos. As ideias de Osborne e Gaebler tambm exaltam valores ligados ao filo filosfico do comunitarismo, principalmente quando evocam a importncia do envolvi-mento cvico no processo de mudana, comunicao e parceria entre esferas pblicas e privadas.

    4. Governana pblica

    A definio de governana no livre de contestaes. Isso porque tal defini-o gera ambiguidades entre diferentes reas do conhecimento. As principais disciplinas que estudam fenmenos de governance so as relaes interna-cionais, teorias do desenvolvimento, a administrao privada, as cincias pol-ticas e a administrao pblica.

    Estudos de relaes internacionais concebem governana como mudan-as nas relaes de poder entre estados no presente cenrio internacional. Os chamados tericos globalizadores (globalizers), de tradio liberal, veem governance como a derrocada do modelo de relaes internacionais vigente desde o sculo XVII, onde o Estado-nao sempre foi tido como ator indivi-

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    358 Leonardo Secchi

    dual, e a transio a um modelo colaborativo de relao interestatal e entre atores estatais e no estatais na soluo de problemas coletivos internacionais. Governana, nesse sentido, denota o processo de estabelecimento de meca-nismos horizontais de colaborao para lidar com problemas transnacionais como trfico de drogas, terrorismo e emergncias ambientais.

    Teorias do desenvolvimento tratam a governana como um conjunto adequado de prticas democrticas e de gesto que ajudam os pases a melho-rar suas condies de desenvolvimento econmico e social.5 Boa governan-a , portanto, a combinao de boas prticas de gesto pblica. O Fundo Monetrio Internacional (FMI) e o Banco Mundial exigem boa governana como requisito para pases em via de desenvolvimento receberem recursos econmicos e apoio tcnico. reas de aplicao das boas prticas so aquelas envolvidas na melhora da eficincia administrativa, da accountability demo-crtica, e de combate corrupo como exemplos de elementos essenciais de um framework no qual economias conseguem prosperar6 (IMF, 2003:1).

    Governana na linguagem empresarial e contbil significa um conjunto de princpios bsicos para aumentar a efetividade de controle por parte de stakeholders e autoridades de mercado sobre organizaes privadas de capital aberto. Exemplos de princpios institucionais de governana so: a articula-o entre autoridades para controlar o respeito legislao e a garantia de integridade e objetividade pelas autoridades reguladoras do mercado. Exem-plos de princpios de governana para empresas privadas so: a participao proporcional de acionistas na tomada de deciso estratgica, a cooperao de empresas privadas com organizaes externas (sindicatos, credores etc.) e stakeholders internos (empregados), alm de transparncia nas informaes e responsabilizao dos executivos do quadro dirigente perante os acionistas (OECD, 2004).

    A interpretao de governana adotada neste artigo a derivada das cincias polticas e administrao pblica, como um modelo horizontal de re-lao entre atores pblicos e privados no processo de elaborao de polticas pblicas (Kooiman,1993; Richards e Smith, 2002).

    A etiqueta governance denota pluralismo, no sentido que diferentes ato-res tm, ou deveriam ter, o direito de influenciar a construo das polticas pbli-cas. Essa definio implicitamente traduz-se numa mudana do papel do Estado

    5 Este modelo explicativo oposto teoria da modernizao (Lipset, 1959) na qual o desen-volvimento econmico proposto como varivel independente e a democracia como varivel dependente. Na modernization theory, a ascenso e consolidao de regime democrtico em um pas dependem do alcance de certo patamar de desenvolvimento econmico.6 Traduo livre a partir do original.

  • 359ModeLoS organizacionaiS e reforMaS da adMiniStrao pBLica

    rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    (menos hierrquico e menos monopolista) na soluo de problemas pblicos. Por causa disso, a governana pblica (GP) tambm relacionada ao neoliberalismo. A GP tambm significa um resgate da poltica dentro da administrao pblica, diminuindo a importncia de critrios tcnicos nos processos de deciso e um reforo de mecanismos participativos de deliberao na esfera pblica.

    Os impulsionadores do movimento da GP so mltiplos. O primeiro que a crescente complexidade, dinmica e diversidade de nossas sociedades coloca os sistemas de governo sob novos desafios e que novas concepes de governana so necessrias7 (Kooiman, 1993:6). A segunda fora por trs da GP a ascenso de valores neoliberais e o chamado esvaziamento do Estado (hollowing out of the state), em que a incapacidade do Estado em lidar com problemas coletivos denunciada. Tal movimento ideolgico desconfia da ha-bilidade estatal de resolver seus prprios problemas de forma autnoma e prega a reduo das autoridades nacionais em favor de organizaes interna-cionais (blocos regionais, Naes Unidas, FMI, Banco Mundial), em favor de organizaes no estatais (mercado e organizaes no governamentais) e em favor de organizaes locais (governos locais, agncias descentralizadas etc.)

    A terceira fora motriz da GP a prpria APG como modelo de gesto da administrao pblica nacional, estadual e municipal, focando maior ateno no desempenho e no tratamento dos problemas do que nas perguntas quem deve implementar ou como devem ser implementadas as polticas pblicas. Na verdade, alguns acadmicos consideram a GP uma consequncia do movi-mento da APG, com a qual compartilha algumas caractersticas: h alguma semelhana entre as duas perspectivas e parece claro que o recente interesse em governana, em parte, tem sido alavancado pela crescente popularidade da administrao pblica gerencial e a idia de formas genricas de controle social 8 (Pierre e Peters, 2000: 65).

    Pierre e Peters (2000) delineiam os elementos inexorveis da GP: estru-turas e interaes. As estruturas podem funcionar por meio de mecanismos de hierarquia (governo), mecanismos autorregulados (mercado) e mecanismos horizontais de cooperao (comunidade, sociedade, redes). As interaes dos trs tipos de estrutura so fluidas, com pouca ou nenhuma distino clara entre elas.

    Essa abordagem relacional, e o resgate das redes/comunidades/socie-dades como estruturas de construo de polticas pblicas, a grande novida-de proposta pelos tericos da GP. Segundo Brugu e Valls (2005:198):

    7 Traduo livre a partir do original.8 Id.

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    360 Leonardo Secchi

    A governana (...) no mais baseada na autoridade central ou polticos eleitos (modelo da hierarquia) e nem passagem de responsabilidade para o setor pri-vado (modelo de mercado), mas sim regula e aloca recursos coletivos por meio de relaes com a populao e com outros nveis de governo. 9

    Um aspecto de maior discordncia dentro da comunidade epistmica de administrao pblica a questo do papel do Estado num contexto de GP. Por um lado, Kooiman (1993) percebe uma diminuio do protagonismo estatal no processo de elaborao de polticas pblicas. De acordo com Kooiman, a GP implica no apenas o envolvimento de atores no estatais no planejamento e implementao das polticas pblicas, mas tambm em todo o processo de co-produo e cogesto de polticas. Rhodes (1997:57) compartilha desta viso, afirmando que o Estado torna-se uma coleo de redes interorganizacionais compostas por atores governamentais e sociais sem nenhum ator soberano capaz de guiar e regular.10

    Richards e Smith (2002) contestam esse tipo de entendimento, respon-dendo que o Estado mantm seu papel de liderana na elaborao de polticas pblicas. De acordo com os autores, a GP provoca a criao de centros ml-tiplos de elaborao da poltica pblica, em nvel local, regional, nacional ou supranacional. O Estado, no entanto, no perde importncia, mas sim desloca seu papel primordial da implementao para a coordenao e o controle.

    Essa abordagem centrada no Estado argumenta que a GP cria instru-mentos de colaborao e um modelo mais transparente e integrador de Estado (...) que serve como um veculo ao alcance de interesses coletivos11 (Pierre e Peters, 2000:92).

    Tratando de questes mais prticas, a GP disponibiliza plataformas or-ganizacionais para facilitar o alcance de objetivos pblicos tais como o envol-vimento de cidados na construo de polticas, fazendo uso de mecanismos de democracia deliberativa e redes de polticas pblicas.12

    A democracia deliberativa foi experimentada em indstrias japonesas no ps-guerra como um procedimento adequado a aproveitar o conhecimento e os frames cognitivos dos empregados no momento de decidir sobre pro-

    9 Traduo livre a partir do original.10 Id.11 Id.12 As redes de polticas pblicas (policy networks) podem ser consideradas uma abordagem de pesquisa, uma filosofia de mediao de interesses ou uma forma especfica de interao entre atores pblicos e privados numa rea de poltica pblica (Brzel, 1998). A ltima interpretao a que guia este artigo.

  • 361ModeLoS organizacionaiS e reforMaS da adMiniStrao pBLica

    rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    dutos e processos produtivos (Sabel, 2001). Essa experincia organizacional tambm vem sendo usada na esfera governamental com o intuito de melho-rar a interao entre atores pblicos e privados para a soluo de problemas coletivos e a reduo de elos na cadeia de accountability. Os mecanismos de democracia deliberativa j foram experimentados em diferentes lugares e re-as de polticas pblicas. Exemplos desses mecanismos so o fortalecimento da comunidade na gesto do patrimnio pblico (community empowerment), os planejamentos e oramentos participativos, os conselhos deliberativos nas diversas reas de polticas pblicas.

    As redes de polticas pblicas (policy networks) representam outra for-ma especfica de interao entre atores pblicos e privados (Brzel, 1998). A participao nas redes de polticas pblicas aberta a qualquer interessado e tal tipo de arena produz baixa externalidade negativa ao ambiente exter-no (Regonini, 2005). Um exemplo de rede desse gnero seria o grupo de jo-vens que se organiza para resolver o problema de cachorros abandonados nos grandes centros urbanos, ou ainda o grupo de empresrios e organizaes do terceiro setor que se organizam para encontrar solues locais para combater a criminalidade. A relativa independncia das redes de polticas pblicas sublinhada por Rhodes (1997:52) quando diz que as (...) redes de polticas pblicas se auto-organizam. Trocando em midos, auto-organizao quer di-zer que as redes so autnomas e autogovernveis (), redes se desvinculam da liderana governamental, desenvolvem suas prprias polticas e moldam seus ambientes.13 O ideal subjacente a essa forma de organizao a subs-tituio da agregao numrica de preferncias (votos) pelo processo cclico e dialtico de fertilizao cruzada das preferncias no momento de elaborar polticas pblicas.

    A GP tambm denota a coordenao de atores estatais e no estatais nas operaes de governo, e as parcerias pblico-privadas (PPPs) so os exemplos mais bsicos. A esse respeito Klijn e Teisman (2003:137) definem as PPPs como cooperao entre atores pblicos e privados de carter temporrio no qual os atores desenvolvem produtos mutuamente e/ou servios e onde ris-cos, custos e benefcios so compartilhados.14 As reas de polticas pblicas onde as PPPs tm sido intensamente adotadas so os setores de infraestrutura e proteo ambiental, e os contratos preveem mecanismos de controle para mensurar resultados e impactos no ambiente econmico e social.

    13 Traduo livre a partir do original.14 Id.

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    362 Leonardo Secchi

    5. Comparando modelos organizacionais: continuidade ou descontinuidade?

    A descrio dos modelos organizacionais de forma fragmentada parece obscu-recer os elementos bsicos de continuidade e descontinuidade. Alm disso, a apresentao desses modelos de forma isolada, em caixinhas, poderia levar a interpretaes equivocadas quanto s fronteiras entre esses modelos. Sero apresentados aqui os elementos compartilhados e os elementos distintivos dos modelos burocrticos, do modelo gerencial (administrao pblica gerencial + governo empreendedor) e da governana pblica, analisando conceitos sen-sveis como funo sistmica, relao sistmica com o ambiente, separao entre poltica e administrao, funo administrativa essencial, discriciona-riedade administrativa e tipo de tratamento que a administrao pblica tem com o cidado.

    O principal elemento comum desses modelos a preocupao com a funo controle. No caso do modelo burocrtico, as caractersticas de forma-lidade e impessoalidade servem para controlar os agentes pblicos, as comu-nicaes, as relaes intraorganizacionais e da organizao com o ambiente. A funo controle uma consequncia de um implcito julgamento de que os funcionrios pblicos se comportam de acordo com a teoria X de McGregor (1960). A funo controle na APG est presente tanto no aspecto da capa-cidade de controle dos polticos sobre a mquina administrativa quanto no controle dos resultados das polticas pblicas. O modelo relacional da GP d valor positivo ao envolvimento de atores no estatais no processo de elabo-rao de polticas pblicas como estratgia de devolver o controle aos desti-natrios das aes pblicas (controle social). Usando a terminologia derivada da teoria sistmica (Bertalanffy, 1969), esses modelos usam a funo controle para manter a homeostase do sistema organizacional. Eles no so, portanto, modelos de ruptura.

    O modelo burocrtico e os modelos gerenciais compartilham a manu-teno da distino wilsoniana entre poltica e administrao pblica. A sepa-rao de funes entre poltica e administrao permeia o modelo burocrtico weberiano, em que o processo de construo da agenda pblica visto como tarefa eminentemente poltica, enquanto a implementao da poltica pblica de responsabilidade da administrao. No gerencialismo, a responsabilidade sobre os resultados das polticas pblicas recai sobre os ombros dos polticos. No entanto, a distino entre poltica e administrao suavizada quando evoca a descentralizao do poder de deciso, o envolvimento da comunida-de e de burocratas no desenho das polticas pblicas. Com base em valores

  • 363ModeLoS organizacionaiS e reforMaS da adMiniStrao pBLica

    rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    pluralistas, a abordagem da GP apresenta elementos de descontinuidade e superao da distino wilsoniana entre poltica e administrao.

    Como modelos organizacionais, a burocracia APG e o GE tratam ques-tes de centralizao e liberdade de deciso dos gestores. Para Hood (1995), evitar a discricionariedade de gestores pblicos sempre foi uma marca caracte-rstica da administrao pblica burocrtica. A APG e o GE tm uma percepo mais positiva dos funcionrios pblicos, e como consequncia os mecanismos de controle so desenhados para a avaliao de resultados, ao invs de contro-le de processo (Hood, 1995; Barzelay, 2001; Jones, 2004).

    O tipo de relacionamento entre os ambientes internos e externos or-ganizao pblica um ponto em comum entre os modelos gerenciais e o mo-delo de governana pblica. Os modelos diferem da burocracia nesse aspecto. As esferas pblicas e privadas so tratadas como impermeveis no modelo burocrtico weberiano, at como estratgia para enfrentar as ameaas de cor-rupo e patrimonialismo que assombravam as organizaes pr-burocrticas. Nos preceitos da APG, do GE e da GP as fronteiras formais/legais do Estado tornam-se analiticamente impertinentes, tanto que mecanismos de suaviza-o da distino das duas esferas so sugeridos como as prticas deliberativas, as redes de polticas pblicas, as PPPs e o princpio de governo catalisador sugerido por Osborne e Gaebler (1992).

    Uma clara distino entre os trs modelos em estudo visvel na forma de tratamento do cidado. No modelo burocrtico, o cidado chamado de usurio dos servios pblicos. Na retrica dos modelos APG e GE, os cidados so tratados como clientes, cujas necessidades devem ser satisfeitas pelo ser-vio pblico. Sob o guarda-chuva da GP, os cidados e outras organizaes so chamados de parceiros ou stakeholders, com os quais a esfera pblica constri modelos horizontais de relacionamento e coordenao.

    Outro critrio que pode ser usado para diferenciar a PPA, a APG, o GE e a GP o uso analtico das quatro funes clssicas de administrao: planeja-mento, organizao, direo e controle.15 Como j visto, a funo controle est presente em todos os modelos organizacionais vistos. A funo planejamento especialmente enfatizada pela APG e GE no processo de planejamento estrat-gico, no acordo de objetivos entre polticos, burocratas e cidados e na adoo da administrao por objetivos. O modelo burocrtico coloca maior nfase na

    15 As quatro funes administrativas so derivadas da contribuio original de Henri Fayol (1916), um engenheiro francs que sintetizou o papel dos administradores em funes de prvoir, organiser, commander, coordonner, contrler.

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    364 Leonardo Secchi

    funo organizao: a anlise e a descrio de cargos, a diviso racional das tarefas, a criao de fluxogramas e canais de comunicao entre departamen-tos e setores. Por ltimo, a contribuio mais peculiar governana a funo direo, entendida como a soma de liderana e atividades de coordenao. O modelo relacional da GP pe nfase na coordenao entre atores pblicos e privados, e na capacidade de coordenao horizontal entre organizaes p-blicas, organizaes do terceiro setor, cidados, redes de polticas pblicas e organizaes privadas, na busca de solues para problemas coletivos.

    No quadro esto sintetizadas as distines e similaridades entre os mo-delos organizacionais.

    Caractersticas bsicas dos modelos organizacionais

    Caracterstica Burocracia APG e GE Governana Pblica

    funo sistmica homeostase homeostase homeostase

    relao sistmica com o ambiente

    fechado aberto aberto

    distino entre poltica e administrao

    Separados trabalhando juntos sob comando poltico

    distino superada

    funes administrativas enfatizadas

    controle e organizao

    controle e planejamento controle e coordenao

    discricionariedade administrativa

    Baixa alta n.a.*

    cidado Usurio Cliente Parceiro

    * a gp dedica pouca ateno a assuntos organizacionais internos tais como autonomia dos gestores, descentrali-

    zao vertical ou administrativa.

    6. Consideraes finais

    Reforma da administrao pblica o conjunto de inovaes em polticas p-blicas de gesto e no desenho de organizaes programticas, e est baseada em um conjunto razoavelmente coerente de justificativas e retrica. Reformas da administrao pblica so geralmente alinhadas a valores de eficincia, accountability e flexibilidade (Hood e Jackson, 1991).

    Uma reforma na administrao pblica acontece quando uma orga-nizao pblica progressivamente muda suas prticas de gesto, modelo de relacionamento e retrica. Reformas da administrao pblica ocorrem em

  • 365ModeLoS organizacionaiS e reforMaS da adMiniStrao pBLica

    rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    diferentes contextos espaciais e temporais, sob a guarda de diferentes escopos e valores.

    No fim do sculo XIX nos Estados Unidos, e durante a dcada de 1930 no Brasil, reformas administrativas se espalharam pelas organizaes pbli-cas, marcando a transio de modelos pr-burocrticos para o modelo bu-rocrtico de administrao pblica (Bresser-Pereira, 1996, 2004). A mesma transio foi verificada em outros contextos e em outros perodos. Nas ltimas trs dcadas, o modelo burocrtico weberiano foi desafiado por novos mo-delos organizacionais e de relacionamento como a APG, o GE e a GP, e essa transio recente tem sido considerada uma nova onda global de reformas da administrao pblica (Kettl, 2005).

    importante lembrar que a presumida mgica das reformas adminis-trativas deve ser cautelosa. Este artigo mostrou que novos modelos organiza-cionais compartilham algumas caractersticas com o modelo burocrtico we-beriano: continuam a colocar nfase na funo controle e no se apresentam como modelos de ruptura.

    Outro cuidado que deve ser tomado que as reformas da administrao pblica podem tornar-se facilmente polticas simblicas de mero valor retrico (Gustaffson, 1983; March e Olsen, 1983; Battistelli, 2002). Polticos, funcio-nrios de carreira e empreendedores polticos em geral tentam manipular a percepo coletiva a respeito das organizaes pblicas usando as reformas administrativas como argumento para isso. No so raros os esforos de refor-ma da administrao pblica que avanam mais em autopromoo e retrica do que em fatos concretos.

    Por fim, qualquer verificao emprica sobre reformas da administrao pblica deve estar atenta aos aspectos incrementais de mudana organizacio-nal. Ao invs de falar em ascenso, predomnio e declnio de modelos organi-zacionais, talvez seja mais frutfero falar em um processo cumulativo de mu-danas nas prticas e valores. Analiticamente um pesquisador pode encontrar fragmentos de burocracia, APG, GE e GP dentro de uma mesma organizao. At mesmo o patrimonialismo pr-burocrtico ainda sobrevive por meio das evidncias de nepotismo, gerontocracia, corrupo e nos sistemas de designa-o de cargos pblicos baseados na lealdade poltica.

    Ademais, entre organizaes e dentro de uma mesma organizao, o pesquisador pode encontrar ainda diferentes graus de penetrao dos diversos modelos organizacionais. A pesquisa sobre a adoo de modelos organizacio-nais deve verificar continuidades e descontinuidades dos modelos em diferen-tes unidades organizacionais, nveis hierrquicos e regies geogrficas.

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    366 Leonardo Secchi

    Questes de pesquisa que parecem longe de estar respondidas na rea-lidade brasileira so: at que ponto reformas da administrao pblica fo-ram efetivadas empiricamente? Em quais nveis organizacionais e de deciso o aclamado aumento da discricionariedade gerencial vem acontecendo? Para que tipo de deciso os gestores intermedirios gozam de liberdade (discricio-nariedade em como fazer ou discricionariedade no que fazer)? Existe real-mente uma transio de mecanismos de controle em favor de mecanismos ex post, a despeito de controles de processo?

    Tais questes parecem longe de um entendimento pacfico e o trabalho de pesquisa no campo poder respond-las apropriadamente se abordar as diversas esferas da administrao pblica, nas diversas reas de polticas p-blicas, nas diversas regies do pas. Assim, so de extrema importncia para o acmulo de conhecimento a elaborao de estudos comparados, a organi-zao de projetos interinstitucionais que estudem as questes, e a pesquisa usando a gramtica e os esquemas analticos j estabelecidos nas reas de administrao pblica e polticas pblicas (policymaking studies).

    Referncias bibliogrficas

    AUCOIN, Peter. Administrative reform in public management: paradigms, principles, paradoxes and pendulums. Governance, v. 3, n. 2, p. 115-137, 1990.

    BARzELAY, Michael. Breaking through bureaucracy: a new vision for managing in government. Berkeley: University of California Press, 1992.

    ______. The new public management: a bibliographical essay for Latin American (and other) scholars. International public management journal, v. 3, p. 229-265, 2000.

    ______. The new public management: improving research and policy dialogue. The Aaron Wildavsky forum for public policy. Berkeley, New York: University of Cali-fornia Press; Russell Sage Foundation, 2001.

    BATTISTELLI, Fabrizio (Org.). La cultura delle amministrazioni: fra retorica e inno-vazione. Franco Angeli: Milano, 2002.

    BERTALANFFY, Ludwig von. General system theory: foundations, development, applications. New York: G. Braziller, 1969.

    BRzEL, Tanja. Le reti di attori pubblici e privati nella regolazione europea. Stato e Mercato, v. 54, n. 3, p. 389-432, 1998.

  • 367ModeLoS organizacionaiS e reforMaS da adMiniStrao pBLica

    rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Da administrao burocrtica gerencial. Revista do Servio Pblico, v. 47, n. 1, 1996.

    ______. Democracy and public management reform: building the Republican state. Oxford; New York: Oxford University Press, 2004.

    BRUGU, Quim; VALLS, Josep Maria. New-style councils, new-style councillors: from local government to local governance. Governance, v. 18, n. 2, p. 197-226, 2005.

    CHRISTENSEN, Tom; LAGREID, Per; WISE, Lois. Transforming administrative policy. Public Administration, v. 80, n. 1, p. 153-178, 2002.

    DRUCKER, Peter Ferdinand. The practice of management. New York: Harper, 1954.

    ______. Management: tasks, responsibilities, practices. New York: Harper & Row, 1974.

    FAYOL, Henri. Administrao industrial e geral: previso, organizao, comando, coordenao e controle. So Paulo: Atlas, 1989.

    GUSTAFSSON, Gunnel. Symbolic and pseudo policies as responses to diffusion of power. Policy Sciences, v. 15, n. 3, p. 269-287, 1983.

    HAYS, Steven W.; PLAGENS, Gregory K. Human resource management best practices and globalization: the universality of common sense. Public Organization Review, v. 2, n. 4, p. 327-348, 2002.

    HOOD, Christopher. The new public management in the 1980s: variations on a theme. Accounting, Organizations and Society, v. 20, n. 2/3, p. 93-109, 1995.

    ______; JACKSON, Michael W. Administrative argument. Aldershot, Hants, England; Brookfield, Vt., USA: Dartmouth Pub., 1991.

    IMF. The IMF and the good governance. 2003. Disponvel em: . Acesso em: 8 ago. 2006.

    JACHTENFUCHS, Markus. The governance approach to European integration. Journal of Common Market Studies, v. 39, n. 2, p. 245-264, 2001.

    JONES, Larry R. New public management has been completely discredited, thank God! International Public Management Journal, v. 5, n. 2, p. 148-172, 2004.

    KETTL, Donald F. The global public management revolution. 2. ed. Washington, DC: Brookings Institution Press, 2005.

    KLIJN, Erik-Hans; TEISMAN, Geert R. Institutional and strategic barriers to pub-lic-private partnership: an analysis of dutch cases. Public Money and Management, v. 23, n. 3, p. 137-146, 2003.

  • rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    368 Leonardo Secchi

    KOOIMAN, Jan. Modern governance: new government-society interactions. Newbury Park, Calif.: Sage, 1993.

    LIPSET, Seymour Martin. Some social requisites of democracy: economic deve-lopment and political legitimacy. American Political Science Review, v. 53, n. 1, p. 69-105, 1959.

    MARCH, James; OLSEN, Johan P. Organizing political life: what administrative reorganization tells us about government. American Political Science Review, v. 77, n. 2, p. 281-296, 1983.

    MARCH, Robert M. Formal organization and promotion in a pre-industrial society. American Sociology Review, v. 26, n. 4, p. 547-556, 1961.

    McCUBBINS, Mathew D.; NOLL, Roger G.; WEINGAST, Barry R. Structure and process, politics and policy: administrative arrangements and the political control of agencies. Virginia Law Review, v. 75, n. 2, p. 431-448, 1989.

    McGREGOR, Douglas. The human side of enterprise. New York: McGraw-Hill, 1960.

    MERTON, Robert K. Social theory and social structure; toward the codification of theory and research. Glencoe: Free Press, 1949.

    OECD. OECD principles of corporate governance. 2004. Disponvel em: . Acesso em: 8 out. 2006.

    OLSEN, Johan. The many faces of europeanization. Journal of Common Market Studies, v. 40, n. 5, p. 921-952, 2002.

    OSBORNE, David; GAEBLER, Ted. Reinventing government: how the entrepreneurial spirit is transforming the public sector. Reading, MA: Addison-Wesley, 1992.

    PARSONS, Wayne. Innovation in the public sector: spare tyres and fourth plinths. The Innovation Journal: the Public Sector Innovation Journal, v. 11, n. 2, p. 1-10, 2006.

    PATTON, Michael Quinn. Qualitative evaluation and research methods. Newbury Park, Calif.: Sage, 1990.

    PETERS, Tom J.; WATERMAN, Robert H. In search of excellence: lessons from Americas best-run companies. New York: Harper & Row, 1982.

    PIERRE, Jon; PETERS, B. Guy. Governance, politics and the state. New York: St. Martins Press, 2000.

    POLLITT, Christopher; BOUCKAERT, Geert. Avaliando reformas da gesto pbli-ca: uma perspectiva internacional. Revista do Servio Pblico, v. 53, n. 3, p. 5-30, 2002a.

  • 369ModeLoS organizacionaiS e reforMaS da adMiniStrao pBLica

    rap rio de Janeiro 43(2):347-69, Mar./aBr. 2009

    _______; ______. La riforma del management pubblico. Milano: Universit Bocconi Editore, 2002b.

    RADAELLI, Claudio. If europeanisation is the analytical solution, what is the prob-lem? Looking for the research puzzles in a new field of inquiry. In: CINI, Michelle; BOURNE, Angela (Eds.). The palgrave guide to European studies. Palgrave: Basin-gstoke, 2005.

    REGONINI, Gloria. Paradossi della democrazia deliberativa. Stato e Mercato, v. 73, n. 1, p. 3-31, 2005.

    RHODES, Roderick A. W. Understanding governance: policy networks, governance, reflexivity, and accountability. Buckingham, Philadephia: Open University Press, 1997.

    RICHARDS, David; SMITH, Martin J. Governance and public policy in the United Kingdom. New York: Oxford University Press, 2002.

    SABEL, Charles F. A quiet revolution of democratic governance: towards democratic experimentalism. In: OECD (Organisation for Economic Co-operation and Develop-ment) (Ed.). Governance in the 21st century. Paris, 2001. p. 121-148.

    SIMON, Herbert A. Administrative behavior: a study of decision-making processes in administrative organization. New York: Macmillan, 1947.

    SUBIRATS, Joan; QUINTANA, Imma. Hacia la segunda descentralizacin en Espaa son los municipios parte de la solucin? los claroscuros de la descentralizacin local. Instituto de Polticas Pblicas y Gobierno, Universidad Autnoma de Barcelona, 2005. p. 1-60. ms.

    TAYLOR, Frederick Winslow. The principles of scientific management. New York; London: Harper & Brothers, 1911.

    WALDO, Dwight. The administrative state: a study of the political theory of American public administration. New York: Ronald Press 1948.

    WEBER, Max. The Protestant ethic and the spirit of capitalism. London: G. Allen & Unwin, 1930.

    ______. Economy and society: an outline of interpretive sociology. Berkeley: Uni-versity of California Press, 1978

    ______. The theory of social and economic organization. New York: Free Press, 1992.

    WILSON, Woodrow. The study of administration. Political Science Quarterly, v. 2, n. 2, p. 197-222, 1887.