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1 INSTITUTO POLITÉCNICO DE VISEU ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO DE LAMEGO SEBENTA NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE DIREITO PARTE I DIREITO CIVIL A- Aspectos Gerais 1. Conceito de Direito A forma mais natural e usual de iniciar qualquer livro didáctico é precisamente o definir-se, clara e sucintamente, aquilo de que se irá tratar, pelo que se torna curial que o leitor encontre, desde logo, o conceito de direito. Existem várias acepções do termo “direito”, assim como existem várias teorias sobre o que seja e como seja ele. Algumas são: direito é sobretudo usado num sentido objectivo e num sentido subjectivo, os quais são o reverso e anverso de uma mesma medalha. Em sentido objectivo direito é o conjunto de comandos, regras ou normas, ao ordenamento jurídico-civil nacional no seu conjunto. Quando, por outro lado, afirmamos que possuímos o direito de propriedade sobre a nossa casa aludimos a um poder sobre ela que nos é especialmente conferido, com exclusão dos demais pretendentes a tal bem, o qual contém várias “faculdades” e “poderes”, é o designado direito subjectivo. Os direitos subjectivos constituem-se, assim, como a aplicação aos casos concretos e à s situações subjectivas dos preceitos normativos (que são direito objectivo). Instituto Superior Politécnico de Viseu

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INSTITUTO POLITÉCNICO DE VISEU ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO DE LAMEGO

SEBENTA

NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE DIREITO

PARTE I

DIREITO CIVIL

A- Aspectos Gerais

1. Conceito de Direito

A forma mais natural e usual de iniciar qualquer livro didáctico é precisamente o definir-se, clara

e sucintamente, aquilo de que se irá tratar, pelo que se torna curial que o leitor encontre, desde

logo, o conceito de direito.

Existem várias acepções do termo “direito”, assim como existem várias teorias sobre o que seja e

como seja ele. Algumas são: direito é sobretudo usado num sentido objectivo e num sentido

subjectivo, os quais são o reverso e anverso de uma mesma medalha.

Em sentido objectivo direito é o conjunto de comandos, regras ou normas, ao ordenamento

jurídico-civil nacional no seu conjunto.

Quando, por outro lado, afirmamos que possuímos o direito de propriedade sobre a nossa casa

aludimos a um poder sobre ela que nos é especialmente conferido, com exclusão dos demais

pretendentes a tal bem, o qual contém várias “faculdades” e “poderes”, é o designado direito

subjectivo. Os direitos subjectivos constituem-se, assim, como a aplicação aos casos concretos e

à s situações subjectivas dos preceitos normativos (que são direito objectivo).

Instituto Superior Politécnico de Viseu

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2. Objecto do Curso

Por razões de ordem, sobretudo, pedagógicas, agrupam-se as matérias em duas grandes partes:

- na primeira parte, introdutória, estudar-se-á a origem, formação e necessidade do direito e,

seguidamente, a teoria geral da norma jurídica;

- na segunda parte, será estudada a relação jurídica, enumerando e descrevendo sumariamente,

os seus elementos: os sujeitos (pessoas singulares e pessoas colectivas); - o objecto; o facto

jurídico; - e a responsabilidade/garantia.

3. Origem, formação e necessidade do direito

A primeira e mais imediata experiência que temos do direito é aquela em que deparamos que

vivemos num meio social ordenado, no entanto o direito não é tudo nem talvez aquilo que mais

nos interesse, pois existem relações como a amizade e amor, que não relevam para o direito mas

são mais importantes para nós.

É uma realidade evidente que o homem é um ser social, existe uma tendência de o homem se

associar ao seu semelhante.

No entanto o homem, desde sempre, revelou-se incapaz de por si só, conseguir a realização

integral do seu quadro de necessidades.

É na associação dos homens que surge a designada “vida social”, a qual necessita,

obrigatoriamente de uma organização, pois na sociedade não existem apenas relações de

coincidência, também surgem relações de indiferença e conflito, pelo que se torna imperioso, em

qualquer sociedade, a existência de normas jurídicas ou, em sentido mais amplo, a existência do

direito, para que seja dado a cada um o que é seu - “suum quique tribuere”, “honeste vivere” e

“alterum nom laedere”.

4. Ramos do direito

O direito, tendo em conta, vários critérios de diferenciação pode sofrer várias qualificações,

sendo uma das mais relevantes, a diferença entre direito público e direito privado, distinção esta,

que se baseia na qualidade dos poderes dos sujeitos das relações jurídicas que cada ramo

regulamenta.

Tendo em atenção o critério referido supra, podemos encontrar dois ramos do direito o público e

o privado.

O direito público caracteriza-se pelo facto de, nas relações que regula, se verificar o exercício de

um poder de autoridade pública (“ius imperii”) entre entes públicos e os particulares ou relações

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entre entes públicos (v.g.: Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Fiscal, Direito

Penal).

Já o direito privado regula as relações entre particulares e entre particulares e entes públicos,

desde que estes estejam em pé de igualdade com aqueles (ou seja, estes não possam usar o seu

poder de autoridade) (v.g.: Direito Civil – no qual se incluem o Direito das Obrigações, Direitos

Reais, Direito da Família, Direito das Sucessões).

Uma outra qualificação que se pode efectuar no direito, é a que distingue direito objectivo e

direitos subjectivos.

Enquanto aquele define-se como o conjunto de regras jurídicas gerais e abstractas que organizam

a vida em sociedade, definindo o estatuto das pessoas e regulando as suas relações (v.g.: Código

Civil, Código Penal, Código do Trabalho).

Por seu lado os direitos subjectivos são uma posição de privilégio, faculdades ou poderes que,

por aplicação das regras de direito objectivo às situações concretas (subsunção), são atribuídos a

pessoas determinadas, uma vez verificados certos eventos previstos naquelas regras (v.g.: direito

de propriedade do António, direito de preferência do Bernardo, direito ao nome que todos os

indivíduos têm relativamente ao seu nome).

Coincidência

Relações Indiferença

Conflito

Justiça - Um ideal, um valor, uma realização (Correcta perante as circunstâncias e a contínua

evolução da vida social)

Fins do

Direito

Segurança - Paz social

Certeza jurídica – cumprimento das normas estatuídas.1

1) Se se prosseguir cegamente a justiça sem atender à segurança, a instabilidade de vida social anulará as vantagens teoricamente obtidas, Se se prosseguir a

segurança sem atender à justiça, caminhar-se-à por formas de opressão ( Savigny).

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B- Fontes de Direito

1. Classificação Geral

Tal como em qualquer acontecimento e/ou facto da vida tudo tem uma origem, um inicio e

uma forma de surgir.

Essa origem, aquando da abordagem da ciência social que é o direito, é designada de fonte, ou

mais especificadamente, fonte de direito, a qual se pode definir como os modos de formação e

revelação do direito.

Abordando a temática das fontes de direito somos levados a distinguir duas realidades

distintas – a fonte imediata e as fontes mediatas.

A fonte imediata é aquela em que as regras que contém têm valor jurídico e vigoram no

ordenamento jurídico, assim que cumpram totalmente o seu processo de criação, valendo por si

só, independentemente de qualquer outro factor.

Já as fontes mediatas, são aquelas em que apenas têm valor jurídico e se aplicam às situações

concretas da vida, regulando-as, se for praticado um outro acto jurídico, no qual as mesmas se

apoiam para obter aquele valor e aplicabilidade, sobretudo da lei, que define os termos e limites

da sua obrigatoriedade.

A fonte imediata de direito, prevista no artigo 1º do Código Civil (doravante CC), é a lei.

As fontes mediatas de direito são o uso, o costume, a doutrina e a jurisprudência.

2. Fonte Imediata – A Lei

2.1 A Lei – norma jurídica de criação deliberada (art.º 1º C.C.)

A lei tem hoje um lugar primordial no âmbito das fontes de direito.

O CC no seu artigo 1º preceitua que a lei é uma fonte de direito e no seu n.º 2 refere considera

leis: “todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes”. Esta noção é

bastante ampla, na medida em que engloba não só as leis criadas emanadas pela Assembleia da

República (leis em sentido estrito) como, ainda, todos os outros diplomas legais (v.g.: decretos-

lei, decretos regulamentares, portarias, despachos, posturas municipais).

A Norma Jurídica

Todas as leis são compostas por um ou vários dispositivos legais, os quais são designados de

normas jurídicas.

As normas jurídicas são compostas por três elementos e têm características que as distinguem o

direito (que é composto pelas mesmas) de outras realidades existentes na nossa sociedade como

o é a moral e a ética.

Torna-se, assim, imperioso efectuar um estudo aprofundado sobre a norma jurídica.

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2.2 Elementos da Norma Jurídica

A norma jurídica é composta por três elementos: a previsão, a estatuição e a sanção.

Previsão, pequena introdução sobre o conteúdo da norma.

Elementos Estatuição, corpo da norma.

Sanção, punição da norma jurídica, pela sua violação.

2.3 Características da norma jurídica:

a. Generalidade, significa que a norma se aplica a todos as pessoas, de forma indistinta.

b. Abstracção, significa que a norma se aplica a todos os casos, independentemente da forma

como são praticados os actos.

c. Imperatividade, a norma emana uma ordem de conduta social.

d. Coercibilidade, para a aplicação da norma, se for necessário o recurso à força, o mesmo

será efectuado.

e. Violabilidade, susceptibilidade/possibilidade de a norma ser violada.

Elaboração

Discussão

Formação Votação/Aprovação, na Assembleia da República.

(da Lei em sentido amplo) Promulgação, pelo Presidente da República.

Publicação, no Diário da República.

Vacatio Legis - Período de tempo que medeia entre a publicação e a vigência da Lei.

Repristinação - A Lei antiga volta a vigorar enquanto não nasce uma lei nova, visa impedir a

existência de um vazio legal.

Medidas de Segurança

Preventiva

Providências Cautelares

Protecção Coactiva

do Direito Cumprimento Coactivo

Sucedânea

Repressiva - Sanção Reintegração

Reparação Equivalente

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Indemnização

Execução

Dano / Prejuízo

Conceitos Prisão

Importantes Pena

Multa Pré contratual (art.º 227º)

Civil Extracontratual (Art.º 483º)

Responsabilidade Contratual (Art.º 798º - 815º)

Criminal

3. Fontes Mediatas

Estas fontes só passam a ser vinculativas juridicamente, se for praticado um outro acto por um

outro órgão (juiz).

3.1 O Costume

A norma forma-se espontaneamente no meio social.

A base de todo o costume é uma repartição de práticas sociais que podemos designar por uso.

O costume é a primeira fonte de direito, anterior à própria lei, definindo-se como a

observância geral, constante e uniforme de uma regra de conduta social, acompanhada da

convicção da sua obrigatoriedade jurídica por parte da opinião pública.

A base do costume é uma repetição de práticas (prática constante reiterada) (“corpus”), mas

torna-se necessária a consciência de obrigatoriedade dessa prática, como se fosse uma lei

(“animus”), sendo, assim, estes os dois elementos constituintes desta fonte de direito (v.g.: touros

de morte de Barrancos).

No entanto o costume é uma prática realizada por toda uma comunidade, identificada por uma

cultura específica ou por uma circunscrição territorial.

3.2. Os Usos

O uso é outro fonte de direito, que se encontra plasmada no artigo 3º do CC.

O uso, tal como o costume define-se por ser uma prática reiterada ao longo do tempo, com a

consciência de obrigatoriedade, pelo que também é composto pelo “corpus” e pelo “animus”

(v.g.: a divisão de águas de um rego de consortes, usucapião).

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Assim, a diferença que distingue esta fonte de direito do costume, é que aquela é uma prática

reiterada cometida por um grupo de pessoas, por regra mais restrito.

3.3 A Doutrina

Esta fonte de direito é constituída pelos estudos dos jurisconsultos (doutores de direito), os

quais devido a uma análise profunda das temáticas jurídica, vão emitindo as suas opiniões

(interpretativas) sobre a melhor resolução das diversas relações sociais e sobre a melhor

interpretação da lei, muitas das vezes através de pareceres.

Apesar de não vincular directamente os tribunais e as pessoas, o costume tem uma relevância

prática no direito, na medida em que influencia o espírito (juízo decisório) dos juízes, os quais

recorrem, constantemente, às soluções apresentadas pelos jurisconsultos e, assim, fundamentam

as suas decisões.

As opiniões dos jurisconsultos encontram-se, sobretudo em livros e revistas da

especialidade/direito.

3.4 A Jurisprudência

Esta fonte de direito, em termos simplistas, pode definir-se como o conjunto de decisões

proferidas pelos tribunais (magistrados), sobre as causas que são submetidas à sua apreciação e,

que, a opinião de vários juízes sobre a solução e interpretação de uma norma jurídica, acaba por

ser seguida por muitos pares, criando aquilo a que se designa uma corrente jurisprudencial.

Conjunto de decisões (Acórdãos; Sentenças; Assentos) dos tribunais sobre os litígios que lhe

são submetidos.

Coloca-se em causa o valor da jurisprudência enquanto fonte do direito, sobretudo com base no

argumento de que apenas os órgãos que a lei preveja com competência legislativa podem criar

leis, mas também, não se coloca o problema da jurisprudência enquanto fonte imediata de direito,

mas como fonte mediata, sendo, então, razoável considerar como fonte de direito, pois se tal

assim não sucedesse, não poderiam existir quaisquer fontes mediatas de direito, já que as

mesmas não são criadas por órgãos com competência legislativa.

ASSENTOS – Verdadeira norma jurídica, obtida por via jurisprudencial (Art.º 2º C.C.)

actualmente encontra-se revogado este artigo pelo D. L. 329 – A/95, de 12 de Dezembro.

ACÓRDÃO – Decisão proferida por um tribunal reunido em colectivo

(dirime o conflito e é publicado na 1º série do D.R.).

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C- Conceitos Gerais

1. – Noção de Lei (Art.º. 1º n.º 2 C.C.)

Todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes para a sua

elaboração.

Uma autoridade competente para a criar

PRESSUPOSTOS Observância das formas previstas para essa criação;

Conter uma verdadeira regra jurídica.

COMPETÊNCIA Assembleia da República – Art. 164º C. R. P.

LEGISLATIVA Governo – Art. 200º C.R.P.

HIERARQUIA DAS 1) Leis Constitucionais

LEIS 2) Leis Ordinárias

LEI CONSTITUCIONAL – Constituição da República Portuguesa de 1976, revista pelas leis

constitucionais nºs 1/82, 1/89, 1/92 e 1/97.

PODER CONSTITUINTE – Poder de estabelecer e criar as normas constitucionais.

A CONSTITUIÇÃO - Lei fundamental de um Estado (fixa os grandes princípios fundamentais a

que todas as leis se devem submeter).

- Estes princípios regem a vida dos Cidadãos.

Revisão de 1982

DINÂMICA Revisão de 1989

Revisão de 1992

Revisão de 1997

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2. Lei Ordinária – restantes leis

As leis ordinárias podem provir : - Assembleia da República - Proposta de Lei - Lei

- Governo - Projecto de Lei - Decreto Lei

O Governo tem funções legislativas que resultam:

a) do poder legislativo próprio

b) do uso de autorizações legislativas conferidas pela A.R. (Art.º. 198º, 1b) C.R.P.)

COMPETÊNCIA REGULAMENTAR

• Destina-se a pormenorizar a Lei de forma a conduzir à sua boa execução

FORMAS:

1 - Decretos Regulamentares - Diplomas emanados pelo Governo e promulgados pelo P.R. (Artº.

136º C.R.P.). Devem ainda ser referendados pelo Governo ou Ministros interessados. (Art.º 197º

C.R.P.)

2 - Resoluções do Conselho de Ministros - Provêm do Conselho de Ministros. Não precisam de

ser promulgados pelo P.R.

3 - Portarias - São ordens do Governo dadas por um ou mais Ministros

4 - Despachos - Têm apenas como destinatários os subordinados do Ministro ou Ministros

signatários, valem unicamente dentro do Ministério respectivo.

5 - Instruções - São meros regulamentos internos, contendo ordens dadas pelo Ministros aos

respectivos funcionários. Se forem dirigidos a diversos serviços designam-se por Circulares.

NORMAS GERAIS – São aquela que se aplicam em todo o país e em qualquer matéria.

ÓRGÃOS COM PODER NORMATIVO SECTORIAL:

Ex.: Assembleias Regionais das Regiões Autónomas (Dec. Legislativo Regional)

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ÓRGÃOS COM PODER REGULAMENTAR LOCAL ESPECÍFICO:

Ex.: Autarquias Locais (Artº. 242 C.R.P.) Emitem Posturas

PIRÂMIDE2

• Constituição

• Convenções Internacionais

• Leis e Dec. Lei

• Dec. Regionais

• Dec. Regulamentares

• Dec. Regulamentares Regionais

• Resoluções do Conselho de Ministros

• Portarias

• Despachos

• Postura Municipal

- Todos os diplomas legais de hierarquia inferior da hierarquia legal, têm de respeitar as regras e

princípios gerais dos diplomas legais que se encontrem numa hierarquia superior.

3. O Direito Civil - é um direito privado comum ou Direito-Regra. Tende a abranger todas as

relações do Direito Privado.

Núcleo Fundamental de Direito Privado - é um conjunto de normas que regulam as relações que

se estabelecem entre particulares ou entre estes e entidades públicas, quando actuam como

particulares.

Princípios fundamentais:

- Livre autonomia da vontade das partes – art. 405º do C.C.

- Boa –Fé – art.227º do CC

- Pontualidade – art.406º do CC

- Liberdade de Forma – art.º 219º do CC

2 Só as de hierarquia igual ou superior podem contrariar as Leis de hierarquia igual ou inferior.

Só as de hierarquia igual ou superior podem contrariar as Leis de hierarquia igual ou inferior.

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4. Sistematização do CÓDIGO CIVIL – Contém 5 partes/ Livros

LIVRO I

Parte geral ⇒ 2 Títulos

Título I - Teoria Geral da Lei: Leis

Interpretação

Aplicação

Título II - Teoria Geral das Relações Jurídicas: Facto Jurídico

Das pessoas

Das Coisas

Exercício de Direitos e Provas

LIVRO II

Direito das Obrigações (Artº. 397º e ss)

Parte I – Das Obrigações (Artº. 397º C.C.)

A obrigação tanto pode resultar de um contrato como de um acto ilícito

Parte II – Dos contratos em especial (arts. 874º e ss CC) – o contrato é por excelência a expressão

da autonomia privada.

LIVRO III

Direito das Coisas (artº. 1251º e ss) - Instituição Central A Propriedade

Mas também regula - o usufruto (arts. 1439º ss)

- Uso e habitação (arts. 1484º e ss)

- Direito de superfície (arts. 1524º e ss)

- Servidão predial (arts. 1543º e ss)

LIVRO IV

Direito da Família - Regula as instituições típicas: - Casamento

(Artº. 1576º e ss) - Divórcio

- Filiação

- Adopção

LIVRO V

Direito das Sucessões (Artº 2024º e ss)

- Mortis Causa

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A Sucessão pode ser: - Testamentária

- Legitimária

- Legítima

D. INTERPRETAÇÃO DA LEI

Consiste na determinação ou fixação do exacto sentido e alcance da norma jurídica, serve para

retirar do texto da norma um determinado sentido ou conteúdo de pensamento.

1. REGRAS - Artº. 9º C.C.

Interpretação Autêntica - (lei interpretativa) a que é dada pelo órgão que a criou, tem força

vinculativa.

Interpretação Doutrinal - Por jurisconsultos s/ força vinculativa, mas com poder de persuasão

sobre quem julga.

2. ELEMENTOS DA INTERPRETAÇÃO:

1. Elemento Gramatical ⇒ “A letra da Lei” (o texto legislativo)

2. Elemento Lógico – (o espírito da Lei)

2.1 - Elemento Sistemático (Art.º. 9º C.C.) - a unidade do sistema jurídico (o

contexto); procura do lugar no ordenamento jurídico ou no instituto em que a norma

está integrada, tendo em vista os tipos de situações que ela veio regular ou

complementar.

2.2 - Elemento Histórico - dados ou acontecimentos que expliquem o sentido

da lei; procura das circunstâncias que originaram a criação da norma jurídica. Analisa-

se a norma tendo em conta os factos históricos que vigoravam na altura da sua criação.

2.3 - Elemento Teleológico - a razão de ser da Lei (ratio legis) – o fim que o

legislador teve em vista ao criar a norma;

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3. Resultados da Interpretação:

Interpretação Declarativa – quando coincide o texto com o pensamento do legislador, o

intérprete opta por um dos sentidos que o texto directa e claramente indica.

Interpretação Extensiva – sempre que a letra da lei fica aquém do seu espírito (art. 877º nº1

C.C.). O legislador disse menos do que aquilo que queria dizer, por isso é necessário “expandir”

o texto, fazendo-se corresponder a letra da lei com o com o seu espírito.

Interpretação Restritiva – sempre que a letra da lei vai além do seu espírito, a letra da lei diz

mais do que o seu espírito.

Posição do código civil:

Diz-nos que a interpretação não deve cingir-se apenas à letra da lei, mas reconstituir, a partir

dela, o pensamento legislativo.

A actividade interpretativa deve procurar o espírito da lei a partir da sua letra. Esta deve ser o

ponto de partida, mas também deve funcionar como limite à interpretação. (art. 9º C.C.).

E. A INTEGRAÇÃO DAS LACUNAS DA LEI (Art.º. 10º C.C.)

LACUNAS DA LEI - Existem casos omissos, quando uma determinada situação merecedora de

tutela jurídica não se encontra prevista na Lei, isto é, não se encontra uma norma que na sua

previsão a inclua.

TIPOS DE LACUNAS:

1. Lacunas da lei – não existe lei que regule directamente a situação.

2. Lacunas Teleológicas – determinam-se em face do objectivo visado pelo legislador, ou seja,

em face da “Ratio Legis”de uma norma.

3. Lacunas do direito – omissões da tutela a nível superior. O direito não regulou um conjunto

de situações porque se colocam numa área de interesses que o direito entendeu não poder tutelar.

DOIS MÉTODOS DE RESOLUÇÃO:

(dos casos omissos)

- A ANALOGIA ⇒ (art.º 10 C.C. nº 1 e 2)

- O MÉTODO PREVISTO no art.º 10º n.º 3 (norma ad-hoc)

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PROIBIÇÃO DO USO DA ANALOGIA:

• Nas normas excepcionais - art.º. 11º C.C.

• Nas normas penais incriminadoras - art.º 1º C.Penal

• Em direito fiscal - normas de incidência do imposto

• Garantia dos contribuintes (art.º. 106º nº2 C.R.P.)

Artº. 10º nº 3 C.C.

↵Válida apenas para esse caso, não tem carácter vinculativo para casos futuros

Caso análogo – um caso é análogo a outro quando a ambos subjaz um conflito de interesses

regulado da mesma forma, em obediência aos mesmos valores.

Para colmatar estas situações devemos recorrer à analogia – art. 10º, 1 e 2 C.C.

F. APLICAÇÃO DAS LEIS

a) No tempo ⇒ Princípio geral (artº. 12º C.C.)

b) No espaço ⇒ D.I.P. (artº 15º a 65º C.C.)

1. APLICAÇÃO NO TEMPO:

O facto de surgir uma nova lei não implica que tenha de haver um corte radical na continuidade

da vida social.

As leis sucedem-se no tempo, de um ponto de vista dinâmico.

“ Princípio da não retroactividade da Lei” – princípio constitucionalmente consagrado.

⇒ A REGRA – é a que só dispõe para o futuro, isto, não tem efeitos retroactivos

⇒ EXCEPÇÕES – A lei interpretativa tem efeitos retroactivos, porque se enquadra na

Lei interpretativa (artº. 13º C.C.)

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“Podem aplicar-se retroactivamente as Leis penais de conteúdo mais favorável ao arguido

(artº. 29º nº 4 C.R.P.)”

Mas é constitucionalmente proibida a retroactividade em matéria de Lei Penal incriminadora

novas penas neocriminalidade . Agravação de penas

Exemplos:

1) Dois indivíduos celebram um contrato quando a lei não exigia escritura pública para a sua

realização. Entretanto surge uma nova lei que vem exigir essa formalidade.

Deverá por força da Lei nova considerar-se formalmente inválido aquele contrato?

2) O regime de administração de bens do casal, é alterado por uma lei nova.

Deverá esta aplicar-se aos casamentos anteriores?

3) Determinado indivíduo pratica um facto, que na altura era considerado criminoso e punível

com prisão até seis meses. Entretanto e antes do julgamento surge uma lei nova que deixa de

considerar tal facto punível. Qual das Leis se deve aplicar?

Situações especiais em que se aplica a lei nova independentemente da altura:

1. Leis de direito processual – presumem-se mais perfeitas;

2. Leis de direito penal – aplica-se a lei mais favorável ao arguido.

LEI INTERPRETATIVA: realiza a interpretação autêntica. Requisitos:

a) Deve ser posterior à fonte interpretada;

b) Tem por fim interpretar a lei nova;

c) Não deve ser hierarquicamente inferior à fonte interpretada.

LEI CONFIRMATIVA: destina-se a dispensar algum pressuposto que segundo a lei nova

constituía requisitos de validade de certos negócios ou admite actos que a lei antiga não admitia.

Pretende, muitas vezes, facilitar o tráfico jurídico afastando obstáculos postos pela lei antiga.

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2. APLICAÇÃO DAS LEIS NO ESPAÇO

Cada estado tem a sua própria ordem jurídica interna, o seu DIREITO

As relações sociais transcendem o âmbito dos Estados

Sociedade Internacional

Concorrência de Lei estrangeiras

REGRAS DE CONFLITO

Permitem determinar qual de entre as Leis em contacto com a situação deve ser declarada

competente para a regular.

D.I.P. - Conjunto de normas jurídicas que indicam a lei reguladora das

relações que estão em conexão com mais de um sistema jurídico

• Nacionalidade ou domicílio dos sujeitos

• Lugar da prática do facto constitutivo da relação

• Lugar de situação do seu objecto

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G - RELAÇÃO JURÍDICA CIVIL

Teoria da Vontade - Savigny

Teoria do Interesse - Ihering

“Enquanto o Direito Objectivo é o direito visto pela inteligência... o Direito Subjectivo é o

direito visto pela consciência.” (Prof. Cabral de Moncada - in Lições de Dir. Civil)

No actual Código Civil Português, o Título II do Livro I é consagrado expressamente às

relações Jurídicas.

O conceito de relação jurídica deve ser encarado em dois sentidos: um amplo e um restrito.

No 1º pode dizer-se que é toda a relação da vida social relevante para o Direito, isto é,

produtiva de efeitos jurídicos disciplinada pelo Direito.

No 2º pode dizer-se que é a relação da vida social disciplinada pelo Direito mediante a

atribuição a uma pessoa de um direito subjectivo e a imposição a outra de um dever jurídico ou

de uma sujeição.

Direitos subjectivos – poderes jurídicos de exigir de outrem um comportamento positivo ou

negativo. Dividem-se em dois:

1. Direitos subjectivos propriamente ditos;

Exemplo – Direito de crédito, direitos reais.

2. Direitos potestativos – poderes jurídicos que, por si só, produzem efeitos jurídicos que se

impõem à outra parte. Podem ser:

2.1 – Constitutivos; por exemplo art. 1550º;

2.2 – Modificativos; por exemplo art. 1568º;

2.3 – Extintivos; por exemplo 1170º.

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18

1. ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA:

RJC = S+O+FJ+R/G

- Sujeitos – pessoas entre quem se estabelece a relação jurídica;

- Objecto – é aquilo sobre que incide o poder do titular activo da relação;

- Facto Jurídico – acto produtivo de efeitos jurídicos

- Garantia – conjunto de providências coercivas, postas à disposição do titular activo

em ordem a obter a satisfação do seu direito.

1.2 – Dos Sujeitos

Entes susceptíveis de serem titulares de direitos e obrigações, titulares das relações jurídicas.

1.2.1 - PERSONALIDADE JURÍDICA

- Aptidão para ser titular de relações jurídicas ou seja, de direitos e vinculações, começa com o

nascimento e termina com a morte (Artº. 66º C.C. e 68º respectivamente).

1.2.2 -CAPACIDADE JURÍDICA

- Pessoas singulares – Art. 67º

- Pessoas colectivas – Art. 157º

à vida da pessoa

integridade física

Direitos Direito de à sua honra

Fundamentais3 Personalidade Liberdade física e psic.

Imagem

Intimidade e vida privada

Nome, etc.

3 “Este é o círculo mínimo imprescindível da esfera jurídica de cada pessoa” Prof. Dr. Mota Pinto

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19

1.2.3 - CAPACIDADE JURÍDICA DE GOZO - Pessoas Singulares - (Artº. 67º C.C.) -A

capacidade

jurídica ou capacidade de gozo de direitos é inerente à personalidade Jurídica.

É conteúdo necessário da personalidade Jurídica.

É a aptidão para ser titular de um círculo maior ou menor de relações jurídicas.

1.2.4 – CAPACIDADE DE EXERCÍCIO de direitos ou capacidade de agir, que significa a

medida de direitos e vinculações que a pessoa pode exercer ou cumprir por si, pessoal e

livremente.

⇒ O que está em causa não é a aptidão para a titularidade, mas o exercício de direito.

Em princípio, todas as pessoas singulares ao atingirem a maioridade adquirem

Capacidade de Exercício (Artº. 130 ; 133 C.C.)

EXCEPÇÕES:

Incapacidade – Pode suceder que uma pessoa seja titular de direitos, isto é, tenha capacidade

de gozo e não os poder exercer; por lhe faltar a necessária idoneidade para actuar juridicamente.

Por exemplo a menoridade ou alguma incapacidade.

- PRINCIPAIS INCAPACIDADES DE EXERCÍCIO:

A) Menoridade (Artº. 122º ; 123º; 127º C.C.)

Formas de suprimento:

Poder Paternal – Artº. 1877º C.C.

Representação Tutela - Artº. 1921º C.C.

Os negócios Jurídicos praticados pelo menor (ferido de incapacidade de exercício) são

anuláveis (Artº. 125º C. C.).

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20

O menor só pode actuar juridicamente quando cessar a sua incapacidade - Artº 129º ; 130º

C.C.

É uma incapacidade de exercício total.

B) Interdição - Artº. 138º ; 139º C.C.

Esta (a mais grave) resulta de deficiências psíquicas ou físicas, que afectam a vontade e o

normal discernimento (reger a sua pessoa; tomar decisões; dispor dos seus bens).

A interdição tem de ser declarada por sentença judicial. (art. 140º C.C.)

Forma de suprimento Representação legal (Artº. 142ª e 151º C.C.)

É uma incapacidade de exercício total.

C) Inabilitação - Artº. 152º C.C.

Os motivos são os mesmos da interdição, mas têm uma menor gravidade.

Acrescentam-se aqueles motivos, certos modos habituais de comportamento:

- prodigalidade

- abuso de bebidas alcoólicas

- abuso de estupefacientes

Resulta de sentença judicial (proferida no termo de uma acção interposta para esse fim)

Forma de suprimento: - Instituto da Assistência (artº. 153º C.C.) – Curador

Valor dos Actos - (artº 156º C.C.) - anuláveis.

Levantamento da inabilitação - (art. 155º C.C. - 5 anos)

É uma incapacidade de exercício parcial.

D) Incapacidade Acidental (art. 257º C.C.)

Situações pontuais, que levam a pessoa a agir sem ter consciência dos seus actos.

Ex.: embriaguês

intoxicação

estado de hipnose, etc.

Valor dos actos praticados nestas condições – anuláveis.

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21

1.3 - FACTOS JURÍDICOS

Noção: Todo o acto humano ou acontecimento natural juridicamente relevante, susceptível de

produzir efeitos jurídicos.

Constitutivos - Ex. Contrato compra venda

Tipologia Modificativos - Ex. casamento

Extintivos - Ex- morte

Negócios jurídicos

Lícitos

Simples actos jurídicos

Voluntários

Ilícitos Dolosos

Meramente culposos

FACTOS JURÍDICOS

Involuntários

Facto Jurídico Voluntário – tem na vontade o elemento juridicamente relevante, é a

manifestação de uma vontade.

Facto Jurídico Involuntário – é estranho a qualquer vontade, ou porque resulta de causas

naturais ou a sua voluntariedade não tem relevância jurídica.

NEGÓCIOS JURÍDICOS

Conceito - Facto jurídico voluntário, lícito, constituído por uma ou várias declarações de vontade

dirigidas à realização de determinados efeitos práticos, normalmente de carácter patrimonial.

Conteúdo – Conjunto de cláusulas nele contidas.

a) Elementos essenciais

(os que devem existir para dar vida ao negócio jurídico)

b) Elementos essenciais genéricos:

(são os que têm de existir em todo e qualquer negócio jurídico):

- Capacidade das partes

- Declaração de vontade

- Objecto e fim

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c) Elementos essenciais específicos

(diferencia um negócio jurídico dos restantes)

Ex. Artº. 874º C.C.

Para haver compra e venda

tem de existir - fixação de preço

- determinação da coisa

CLASSIFICAÇÃO:

NEGÓCIOS 1- unilaterais – promessa pública

JURÍDICOS unilaterais – ou contratos Imperfeitos/unilaterais

2- Bilaterais

Bilaterais; Sinalagmáticos; Contratos

1 - Negócios Jurídicos Unilaterais - Há só uma declaração de vontade ou várias declarações

mas paralelas, formando um só grupo.

Características: - Vigora o princípio da tipicidade (artº. 457º C.C.)

(O princípio de que o negócio jurídico só é reconhecido como fonte de obrigações nas casos

previstos na lei)

2 - Contrato: (Negócios jurídicos bilaterais) - há duas ou mais declarações de vontade, com

conteúdos diversos e até opostos, mas que se harmonizam ou conciliam reciprocamente, com

vista à produção de um resultado jurídico unitário, embora com um significado diferente para

cada uma das partes.

Contratos Unilaterais

Categorias

Contratos Bilaterais

Contratos Unilaterais - Geram obrigações apenas para uma das partes

Ex. doações - Artº. 940º C.C.

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Contratos Bilaterais (Sinalagmáticos) -Ambas as partes contraem obrigações para si.

Há uma obrigação e um direito, estando ligados entre si por um nexo de causalidade.

Ex.: empreitadas (Artº. 1207º C.C.); Compra e venda (Artº. 874º.C.)

Locação (Artº. 1022ª C.C.)

Imperfeitos - Inicialmente só há obrigações para uma das partes, surgindo eventualmente, mais

tarde, obrigações para a outra parte, em virtude do cumprimento das primeiras.

Ex.: depósito (artº. 1185º C.C.); mandato (artº. 1157º C.C)

Formalidades dos contratos:

Artº. 219º - Liberdade de forma

Artº. 410º - Contrato promessa

Art.º 875º - Escritura Pública na compra de bens imóveis

Capacidade das Partes

Genéricos Declaração de Vontade

Objecto

Elementos Essenciais Fim

Específicos - Dizem respeito a cada contrato

- TIPOLOGIA DE DOCUMENTOS

- Autênticos (art. 369º C.C.)

- Autenticados (arts. 375º e 377º C.C.)

- Particulares (art. 373º C.C.)

(Entidades competentes e elaboração do documento, certificação)

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24

1.4 – DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Existe sempre que alguém seja obrigado a reparar um dano que causou a outra.

Noção de Ilicitude - Como qualidade do acto jurídico ilícito.

Acto que contraria o disposto na lei, traduzindo-se no incumprimento de um dever por ela

imposto ou consubstanciando uma prática por ela proibida. (Norma civil; norma penal ou

criminal)

Sistematização Código Civil

Artº. 483º e ss Artº. 562º e ss Artº. 798º e ss

Princípio Geral Princípio Geral Responsabilidade do devedor

Contratual

Responsabilidade Civil

Extracontratual - por facto ilícitos

Artº. 483º - pelo risco

- por facto lícitos danosos

RESPONSABILIDADE DO PRODUTOR

(Resp. Objectiva) - Produto defeituoso

1.4.1 Responsabilidade civil contratual

- Consiste na infracção de uma relação obrigacional ou direito de crédito, que existia entre o

credor e devedor (Artº. 798º e ss C.C.)

Ex.: a responsabilidade consequente do não pagamento de uma dívida

1.4.2 Responsabilidade civil extracontratual

Resulta da violação de deveres ou vínculos jurídicos gerais, isto é, de deveres de conduta

impostos a todas as pessoas.

A) Por factos ilícitos

Princípio Geral - Artº. 483º C.C. ⇒ resulta o dever de indemnizar. Pressupõe:

a) O facto ⇒ Tem de existir um facto voluntário do agente, e não um mero facto natural,

produtor

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25

de danos (lesões).

b) Ilicitude ⇒ é necessário que a conduta do agente seja ilícita.

c) Imputação do facto ao lesante ⇒ tenha agido com culpa.

d) Dano ⇒ é necessário que o facto ilícito culposo tenha causado dano ou prejuízo a alguém,

Sem dano não existe responsabilidade civil

e) Nexo de causalidade ⇒ entre o facto e o dano (deve existir uma ligação entre estes dois

elementos de modo a concluir-se: “que o facto constitui a causa do dano”.

FORMAS DE ILICITUDE:

Artº. 483º refere duas formas:

a) Violação de um direito de outrém - especialmente apensos a direitos

absolutos

→ Direitos reais (ex.: 1346º C.C.)

→ Direito de personalidade

→ Abuso de direito (Artº. 334º C.C.)

b) Violação da lei que protege interesses alheios.

EXCLUSÃO DA ILICITUDE

Causas :

- a acção directa (Artº. 336º C.C.) – Lícito recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o

próprio direito.

- a legítima defesa (Artº. 337º C.C.) – acto destinado a afastar uma agressão contra a pessoa ou o

património do agente, se não for possível o recurso aos meios normais e o prejuízo causado

pelo acto de defesa não for manifestamente superior ao que resultaria da agressão.

- o estado de necessidade (Artº. 339º C.C.) – situação em que se encontra uma pessoa que, para

remover o perigo actual de um dano, destrói ou danifica coisa alheia, provocando um prejuízo

inferior ao que estava iminente.

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B) PELO RISCO

⇒ Tecnologia e industrialização.

⇒ Ao lado da responsabilidade subjectiva, ou baseada na culpa, surge uma outra

responsabilidade:

→ Independentemente da culpa:

A responsabilidade objectiva pelo risco

Ex.: Acidentes de circulação rodoviária.

(obrigam à reparação do dano, mesmo que não tenha havido qualquer dolo ou culpa por parte

do agente)

O Código Civil considera a responsabilidade baseada na culpa → como regime geral

Limita a responsabilidade objectiva

a certos casos especiais (Artº. 500º e ss)

Ex.: Artº. 502º C.C. (danos causados por animais)

Artº. 503º C.C. (acidentes causados por veículos)

Artº. 505º C.C. (exclusão da responsabilidade)

C) POR FACTOS LÍCITOS:

→ Obriga, no entanto, o autor a repor o prejuízo que possa ter causado.

- Código civil e legislação avulsa:

Ex.: - estado de necessidade - Artº 339º C.C.

- apanha de frutos - Artº 1367º C.C.

- enxames de abelhas - Artº 1322º C.C.

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REGIME JURIDICO DA ANULABILIDADE E NULIDADE:

Anulabilidade (art.º 287º):

1. É suprível, pelo que pode ser sanado o vício que deu causa a este tipo de invalidade.

2. Só pode ser requerida pelas partes interessadas/intervenientes.

3. Só pode ser requerida no prazo de um ano.

4. Não é de conhecimento oficioso.

Nulidade (art.º 286º):

1. É insuprível, não pode ser sanado o vício que lhe deu causa.

2. Pode ser requerida por qualquer pessoa.

3. Pode ser requerida a todo o tempo.

4. Pode ser conhecida oficiosamente.

__________________________________________________________________

ARTIGOS IMPORTANTES – Direito Civil

• Doação - Artº 940º CC

• Locação, Arrendamento ou Aluguer - Artº 1022º CC

• Comodato - Artº 1129º CC

• Mútuo - Artº. 1142º CC

• Contrato de Trabalho - Artº 1152º CC

• Contrato Prestação Serviços - Artº 1154º CC

• Contrato Mandato - Artº 1157º CC

• Contrato Depósito - Artº 1185º CC

• Contrato Empreitada - Artº 1207º CC

• Contrato Compra e Venda - Artº 874º CC (excepção 219º / 875º - forma escrita)

• Contrato Casamento - Artº 1577º CC

• Vendas nulas - Artº. 286º CC

• Venda Coisa ou Direito Litigioso - Artº 876º

• Venda Bens Alheios - Artº 892º CC

• Jogo / Aposta - não é permitido - Artº 1245º CC

• Negócios Anuláveis

• Venda de pais a filhos ou de avós a netos - Artº 877º CC

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28

PARTE II

DIREITO CONSTITUCIONAL

1 - Noções Gerais de Direito Constitucional

1.1 - Princípio do Estado de Direito (Artº. 2º C.R.P.)

É um princípio constitutivo de natureza material, procedimental e formal

Pressupõe um Estado Constitucional, baseado numa constituição que serve de ordem jurídico-

material normativa fundamental de todos os poderes públicos.

⇒ Elementos constitutivos do Princípio do Estado de Direito

1 - Vinculação do Legislador à C.R.P.

As leis têm de Ter a forma e seguir um processo constitucional fixado para se

considerarem sob o ponto de vista formal e orgânico, conformes ao Estado de Direito a aos

princípios fundamentais do Constitucional.

2 - Vinculação de todos os restantes actos à C.R.P.

Exige conformidade intrínseca e formal de todos os actos dos poderes públicos com a

C.R.P.

3 - Princípio da Reserva da Constituição

Determinadas questões respeitantes ao Estatuto jurídico do político não devem ser

regulados por Lei Ordinárias, mas sim pela C.R.P.

4 - Força normativa da Constituição

Baseia-se nos princípios Jurídicos fundamentais que foram historicamente

objectivadas e posteriormente introduzidos na consciência jurídica

Legislativo

Divisão de Poderes Executivo

Judicial

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29

⇒ Foi no Sec. XVII que Lock, filósofo Inglês formulou a teoria doa poderes do Estado (1690)

⇒ Mas a separação dos poderes tinha como objectivo atacar o absolutismo

⇒ Mais do que combater a concentração numa única pessoa - O Rei - pretendia-se acabar com os

abusos

de poder

⇒ França → o Rei Sol “O Estado sou eu” - Total absolutismo - o rei possuía a totalidade dos

poderes.

⇒ Foi com Monterquim que a teoria da separação de Poderes se tornou uma teoria de exercício

da sabedoria popular, principalmente a partir de 1789 - Revolução Francesa

Existiam nesta teoria três tipos de poderes:

a) Poder Legislativo - o de fazer leis;

b) Poder executivo - o de executar as resoluções públicas;

c) Poder judicial - o de julgar os crimes e dirimir conflitos entre os indivíduos.

⇒ Deste modo impedia-se que cada órgão exercesse funções fora das suas competências,

evitando-se os abusos de poder.

⇒ Hoje em dia cumpre ao Estado no exercício das suas funções desenvolver um conjunto de

actividades que visam atingir os objectivos politicamente delineados:

- a Segurança

Artº. 9º C.R.P. - Justiça

- Bem estar económico e Social

Órgãos de Soberania

- O Presidente da República - Artº 120º

- A Assembleia da República Artº. 147º C.R.P.

- O Governo - Artº 182º

- Os Tribunais - Artº 202º

A reserva dos Tribunais da função jurisdicional.

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30

1.2 - DIVISÃO DA C.R.P.

Parte I

1º - Princípios fundamentais do Artº. 1º ao Artº. 11º

→ Afirmação da integridade do homem

→ Garantia da identidade e integridade da pessoa

→ Libertação da angústia da existência da pessoa mediante vários mecanismos

→ Igualdades dos cidadãos perante a Lei

2º A) - Direitos e deveres fundamentais: Artº. 12º - 23º

→ Princípio da universalidade - Artº. 12º

→ Princípio da Igualdade - Artº. 13º

→ Princípio da equiparação - Artº. 15º

→ Princípio da proporcionalidade - Artº 18º

→ Princípio do acesso à justiça - Artº. 20º

B) - Direitos, Liberdades e Garantias, Artº 2º C.R.P.

“... e no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais...”

A nossa Lei Fundamental assenta num conjunto de requisitos que são as bases do Estado

Social de Direito:

• A Subordinação dos Órgãos e agentes administrativos à Constituição e à Lei

• Uma longa lista de D.L.G.

• O princípio de constitucionalidade das leis e demais actos de entidades com competência para

tal

• O princípio da separação e interdependência dos órgãos de soberania

D.L.G.:

1º) Pessoas - Artº. 24º a 47º

→ Direito à vida - Artº 24º a 47º

→ Direito à integridade pessoal - Artº. 25º

→ Direito à liberdade e segurança - Artº. 27º

→ Direito à retroactividade “in mitius” - Artº. 29º

→ Direito “Habeas Corpus” - Artº. 31º

→ Inviolabilidade do domicílio e da correspondência - Artº. 34º

→ Direito à constituição de família; ao casamento e filiação - Artº. 36º

→ Direito à liberdade de expressão e informação - Artº 37º

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→ Direito à liberdade de consciência de religião e de culto - Artº. 41º

→ Direito de criação cultural - Artº. 42º

→ Direito à liberdade de aprender e ensinar - Artº. 43º

→ Direito de deslocação e emigração - Artº 44º

→ Direito de liberdade de associação - Artº. 46º

2º) D. L. G. De Participação Política

Artº. 48º a 52º

3º) D. L. G. dos Trabalhadores

Artº. 53º a 57º

→ Direito à segurança no emprego - Artº. 53º

→ Direito à liberdade sindical - Artº 55º

→ Direito à greve e proibição do Lock - out - Artº 57º

C) Direitos e deveres económicos sociais e culturais ( Artº. 58º a 79º)

A) Direitos e deveres económicos

→ Direito ao trabalho - Artº 58º

→ Direito dos consumidores - Artº 60º

→ Direito à iniciativa privada - Artº 61º

→ Direito à propriedade privada - Artº 62º

B) Direitos e deveres sociais - Artº. 63º a 72º

→ Direito à segurança social - Artº 63º

→ Direito à saúde - Artº 64º

→ Direito à habitação - Artº 65º

→ Direito ao ambiente e qualidade de vida - Artº 66º

→ Direito à família - Artº 67º

→ Direito à paternidade e maternidade - Artº 68º

→ Direito à infância - Artº 69º

→ Direito à juventude - Artº 70º

→ Direito à integração - Artº 71º

→ Direito à terceira idade - Artº 72º

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C) Direito e deveres culturais - Artº 73º a 79º

→ Direito à educação - Artº 73º

→ Direito ao ensino - Artº 74º

→ Direito ao acesso à universidade - Artº 76º

2. - ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA

1) Princípios gerais - Artº 80º a 90º

2) Plano - Artº 90º a 92º

3) Políticas Agrícola, Comercial e Industrial - Artº 93º a 100º

4) Sistema Financeiro e Fiscal - Artº 101º a 107º

Banco de Portugal

Impostos (prestação definitiva e unilateral, criada por lei, a favor do Estado ou outros entes

públicos, para a realização de fins públicos, sem carácter de sanção.

Orçamento

Fiscalização

3. - ORGANIZAÇÃO E PODER POLÍTICO

1) Princípios Gerais - Artº 108º e ss

2) Presidente da República - Artº 120º a 146º

Estatutos e eleição

Competências

Conselho de Estado

3) Assembleia da República - Artº 147º a 181º

Estatuto e Eleição

Competências

Organização e funcionamento

4) Governo - Artº 182º a 201º

Definição - Artº 182º

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Formação e responsabilidade - Artº 187º a 196º

Competência - Artº 197º a 201º

5) Tribunais - Artº 202º

Organização - Artº 209º a 214º

6) Regiões Autónomas - Artº 225º a 234º

7) Poder Local - Artº 235º a 254

Princípios Gerais

Freguesia

Município

8) Administração Pública - Artº 255º a 272º

Princípios Fundamentais

Direitos e Garantias dos Administrados

9) Defesa Nacional - Artº 273º a 276º

4. - GARANTIAS E REVISÃO CONSTITUCIONAL

FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE

(sistema de controlo)

Constituição da República Portuguesa: artigos 277º a 283º.

⇒ O problema da inconstitucionalidade (?)

- Há inconstitucionalidade quando um acto legislativo ou omissão de um dever de legislar, por

parte do Estado ou um dos seus órgãos, não está conforme os preceitos ou princípios plasmados

de forma expressa ou implícita na Constituição da República Portuguesa (CRP).

I) Tipos/Formas de Fiscalização

A) Tipos/Formas

a) Preventiva, as normas ainda não existem enquanto tais e a apreciação do TC intromete-se no

processo de formação. Incide sobre normas constantes de diplomas imperfeitos, ou seja, aos

quais falta um requisito de existência.

A função é impedir que o PR possa promulgar normas inconstitucionais, já que apenas este pode

desencadear este tipo de fiscalização. A maioria necessária da AR, para confirmação dos decretos

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34

vetados por inconstitucionalidade, pelo PR, é de “dois terços dos deputados presentes desde que

superior à maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções”, não podendo esse

decreto ser submetido a novo controlo preventivo da constitucionalidade. Incide apenas sobre

normas constantes de diplomas sujeitos a promulgação ou assinatura do PR e não impede

necessariamente a consumação do diploma, quando se trate de diplomas da AR, (artigo 278º da

CRP).

b) Sucessiva, tem por objecto normas já pertencentes à ordem jurídica e a sua função é eliminá-

las.

A fiscalização abstracta sucessiva é diferente da fiscalização preventiva, já que incide sobre

normas perfeitas, isto é, cujo processo de formação tenha sido concluído, o que pressupõe a

respectiva publicação oficial.

a) Abstracta, consiste num confronto abstracto entre a norma infraconstitucional e a

Constituição, (artigo 281º da CRP).

É independente da fiscalização concreta (isto é, é independente de qualquer caso concreto), mas

existe a possibilidade de trânsito de controlo concreto para controlo abstracto, para se obter a

generalização das decisões proferidas em controlo concreto. Só compete ao TC.

Tem efeitos gerais (força obrigatória geral), com a natural invalidação dessa norma e

impossibilidade de ela continuar a ser aplicada por qualquer tribunal ou autoridade.

b) Concreta, incide sobre uma norma, tal como foi aplicada ou desaplicada na decisão recorrida,

isto é, na sua incidência limitada ao caso concreto (o juízo de constitucionalidade tem efeitos

apenas para o caso concreto). É efectuada, por impugnação das partes ou por iniciativa do juiz,

mas há sempre a possibilidade de recurso para o Tribunal Constitucional. Os tribunais limitam-se

a “desaplicar” no caso em juízo as normas que tenham por inconstitucionais, sem que essa

decisão tenha influência sobre a vigência abstracta da norma, continuando em vigor e podendo

vir a ser aplicada noutro processo, se outro for o entendimento do tribunal competente. Qualquer

tribunal pode realizar este controlo (daí ser um controlo difuso – por vários tribunais). Este tipo

de fiscalização é incidental, já que os cidadãos não podem recorrer ao tribunal para impugnarem

directamente uma norma inconstitucional, mas pode e deve o tribunal conhecer “ex officio” da

inconstitucionalidade, independentemente da impugnação das partes, (artigo 280º da CRP).

B) ÓRGÃOS de Fiscalização da Constitucionalidade

a) Tribunal Constitucional;

b) Tribunais Comuns.

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35

C) OS 4 TIPOS/FORMAS DE FISCALIZAÇÃO

1) Fiscalização Preventiva da Inconstitucionalidade Por Acção;

2) Fiscalização Sucessiva Concreta da Inconstitucionalidade Por Acção;

3) Fiscalização Sucessiva Abstracta da Inconstitucionalidade Por Acção;

4) Fiscalização da Inconstitucionalidade Por Omissão, (omissões legislativas), sendo que tem

como efeito prático apenas a certificação da omissão. Pode ser requerida por (PR, Provedor de

Justiça). A Constituição, para além de um conjunto de normas proibitivas e de organização e

competência, é também um conjunto de normas positivas, que exigem do Estado e dos seus

órgãos uma actividade, uma acção, pelo que o incumprimento destas normas, por inércia do

Estado, ou seja, por falta de medidas, ou pela sua insuficiência ou inadequação, resulta numa

infracção à Constituição – inconstitucionalidade por omissão, (artigo 283º da CRP).

Existe inconstitucionalidade por omissão quando a Constituição não está a ser cumprida por falta

de medidas legislativas que assegurem a exequibilidade das suas normas. Existe obrigação de

legislar, nomeadamente, quando a Constituição estabelece uma ordem concreta de legislar ou

quando define uma imposição permanente e concreta dirigida ao legislador (exemplo: criação do

ensino básico, obrigatório e gratuito; criação do serviço nacional de saúde).

Apenas o PR e o Provedor de Justiça podem requerer este tipo de verificação de

inconstitucionalidade.

O TC deve dar conhecimento ao órgão legislativo competente da sua decisão acerca da existência

de inconstitucionalidade por omissão, como forma de alertar o órgão competente para essa

omissão e que tem o dever de lhe por cobro.

II) Tipos de Inconstitucionalidade

A) Tipos

a) Formal, (vício de forma ou de procedimento; infracção das normas sobre a forma e o

processo de formação dos actos), não se superam todos os trâmites previstos nas normas

constitucionais.

b) Material, (contradição entre o conteúdo da norma – acto do poder politico, e o conteúdo

normativo da Constituição; vício substancial do conteúdo do acto).

c) Orgânica, (incompetência; infracção das normas de competência), quando o órgão que

emana o acto não dispõe de competência para o fazer.

a) Por acção, é a violação do disposto na Constituição ou dos princípios nela consignados,

(artigo 277º da CRP).

b) Por Omissão, (artigo 283º da CRP).

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Nem sempre a inconstitucionalidade afecta a totalidade da norma, podendo respeitar apenas a

uma parte dela, pelo que existe inconstitucionalidade:

a) Total, toda a norma ou todo o diploma legal é inconstitucional;

b) Parcial, apenas parte da norma ou do diploma legal é inconstitucional.

a) Originária, a que surge no momento da formação da norma;

b) Superveniente, a que ocorre apenas posteriormente, por efeito de alteração da

Constituição, sendo que neste caso, os efeitos da declaração de inconstitucionalidade não são

repristinatórios, mas apenas valem a partir do momento daquela alteração da Constituição.

B) Regime

Norma para efeitos de fiscalização: a) requisito material, a norma deve equivaler a uma regra

ou padrão, reguladora de comportamentos e não a actos de aplicação dessa regra ou padrão; b)

requisito orgânico, a norma deve ser estabelecida por acto de um poder normativo, ou seja, de

uma entidade pública ou dotada de poderes públicos, com competência para criar regras de

conduta (por isso estão excluídas regras emitidas por entidades privadas).

Alguns actos sujeitos a fiscalização da constitucionalidade: leis de revisão constitucional, os

actos legislativos em geral, os referendos locais, contratos e acordos colectivos de trabalho,

compromissos arbitrais, estatutos e regulamentos das associações públicas, declaração de estado

de sítio.

O pedido de declaração de inconstitucionalidade pode incidir sobre uma ou mais normas, de um

ou mais diplomas, simultaneamente.

O sistema de fiscalização da constitucionalidade destina-se a declarar (ou não) a

inconstitucionalidade das normas, mas não a sua constitucionalidade.

A decisão positiva de inconstitucionalidade (provimento do pedido de inconstitucionalidade)

implica a não aplicação da norma, já que a mesma é inconstitucional.

A decisão negativa de inconstitucionalidade (denegação do pedido de inconstitucionalidade)

significa que a norma irá entrar ou continuará em vigor.

# Efeitos da declaração da inconstitucionalidade ou da ilegalidade - artº 282º CRP:

A declaração de inconstitucionalidade implica a nulidade, eliminando a norma da ordem, e a

repristinação (ou reposição em vigor) das normas que eventualmente tinham sido revogadas pela

norma declarada inconstitucional, pelo que se irão aplicar estas últimas.

Valor jurídico da Inconstitucionalidade:

1) Se a norma não for publicada, tem como resultado a ineficácia da mesma, tal como é previsto

no artigo 5º do Código Civil.

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2) Se a norma não for promulgada, tem como efeito a sua inexistência jurídica, tal como é

previsto no artigo 137º da CRP.

REVISÃO CONSTITUCIONAL - artigos 284º a 289º da CRP: - Competência e tempo de

revisão; - Iniciativa; - Limites.

Abreviaturas:

- CC – Código Civil

- CRP – Constituição da República Portuguesa