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ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL ANÁLISE DA CONJUNTURA AGROPECUÁRIA SAFRA 2009/2010 SERICICULTURA Médica Veterinária Ana Paula Brenner Busch 30 de setembro de 2009 INTRODUÇÃO A sericicultura criação de bicho-da-seda é uma atividade integrada (indústria-sericicultor), abrangendo o cultivo da amoreira (Morus sp.), iniciando com a obtenção dos ovos pelas indústrias até o cultivo das lagartas no campo pelos agricultores familiares. A espécie Bombyx mori L. (Lepidoptera: Bombycidae), que se alimenta exclusivamente da amoreira, contribui com 95% da produção total de fios

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ESTADO DO PARANÁ

SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL

ANÁLISE DA CONJUNTURA AGROPECUÁRIA

SAFRA 2009/2010

SERICICULTURA

Médica Veterinária Ana Paula Brenner Busch

30 de setembro de 2009

INTRODUÇÃO

A sericicultura – criação de bicho-da-seda – é uma atividade integrada

(indústria-sericicultor), abrangendo o cultivo da amoreira (Morus sp.), iniciando com

a obtenção dos ovos pelas indústrias até o cultivo das lagartas no campo pelos

agricultores familiares. A espécie Bombyx mori L. (Lepidoptera: Bombycidae), que se

alimenta exclusivamente da amoreira, contribui com 95% da produção total de fios

2

www.pr.gov.br/seab - (41) 3313 4000

de seda utilizados na confecção dos diferentes tipos de tecidos (WATANABE;

YAMAOKA; BARONI, 2000).

Para o sucesso de uma grande produção de seda com fios de qualidade é

necessária a seleção de raças resistentes a doenças, que suportem as condições do

campo e que tragam, em seu código genético, informações que possibilitem a

produção de altos teores de seda. Portanto, é de suma importância caracterizar e

selecionar raças de bichos-da-seda que sejam boas produtoras no campo.

As raças japonesas apresentam alto teor de seda no casulo, e as raças

chinesas apresentam uma maior resistência ao cultivo no campo. Desta forma,

procura-se misturar as características genéticas das raças japonesas e chinesas

para obtenção do híbrido de alto valor comercial: que apresente elevado rendimento

de casulos por grama de ovos, alto rendimento de seda – índices estes importantes

para produtores e indústrias de fiação – e que seja também resistente no campo.

2 CONJUNTURA MUNDIAL

O bicho-da-seda é originário da China e há cerca de 5.000 anos vem sendo

criado pelo homem para obtenção de fios de seda. Da China, o inseto foi introduzido

no Japão, Turquestão e Grécia. Em 1740, o bicho-da-seda passou a ser criado na

Espanha, França, Itália e Áustria. Em 1848 ocorreu a introdução da sericicultura no

território brasileiro no Estado do Rio de Janeiro e, em 1922, na cidade de Campinas-

SP, onde foi criada a Indústria de Seda Nacional S.A.. A partir da década de 30, a

sericicultura tornou-se uma importante atividade para a agroindústria brasileira e,

atualmente, o Estado do Paraná é o maior produtor nacional de casulos verdes de

bicho-da-seda.

2.1 PRODUÇÃO MUNDIAL

Segundo a Associação Brasileira de Fiações de Seda (ABRASSEDA) (2009),

a produção brasileira de fios de seda em 2006 foi de aproximadamente 8.051

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toneladas, representando 0,86% da produção mundial, sendo o 6º produtor mundial,

atrás de China, Índia, Vietnã, Uzbequistão e Tailândia, conforme mostra a Tabela 1.

TABELA 1 – EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE CASULOS VERDES DOS PRINCIPAIS PAÍSES

PRODUTORES, EM TONELADAS

País

China 1º 545.497 1º 480.774 1º 547.091 1º 621.461 1º 739.715 79,12%

Índia 2º 128.000 2º 117.000 2º 120.000 2º 126.000 2º 135.000 14,44%

Vietnã 3º 21.000 3º 21.000 3º 21.000 3º 21.000 3º 21.000 2,25%

Uzbequistão 4º 20.000 4º 20.000 4º 20.000 4º 20.000 4º 20.000 2,14%

Tailândia 7º 3.473 5º 10.500 5º 10.650 5º 10.650 5º 10.100 1,08%

Brasil 5º 10.238 6º 9.966 6º 8.005 6º 7.146 6º 8.051 0,86%

Japão 8º 880 8º 780 8º 683 8º 626 7º 505 0,05%

Turquia 10º 100 9º 169 9º 169 9º 170 8º 350 0,04%

Grécia 11º 60 10º 60 10º 70 10º 70 9º 100 0,01%

Bulgária 12º 50 - - 12º 20 11º 42 10º 65 0,01%

Filipinas 13º 28 11º 23 11º 22 12º 14 11º 16 0,00%

Irã 6º 3.500 7º 3.200 7º 3.200 7º 2.543 - - -

Indonésia 9º 691 - - - - - - - - -

TOTAL 100,00%

FONTE: ABRASSEDA (2009), elaborado pela autora (2009).

Ano

663.472 730.910

2004 2005 20062002 2003

733.517 809.722 934.902

2.2 COMÉRCIO MUNDIAL

Segundo dados da Food and Agricultural Organization of The United Nations

(FAO) (2009), as importações mundiais de seda crua em 2007 foram,

aproximadamente, 15.119 toneladas, um aumento de 1,16% em relação a 2006. O

principal importador foi a Índia (7.922 t), seguido de Itália (1.463 t), România (1.253

t), Coréia (989 t) e Japão (791 t).

Quanto às exportações, a FAO registrou um volume de 15.429 toneladas em

2007, sendo o maior exportador a China (13.756 t), seguido de Itália (602 t), Coréia

do Sul (277 t), Uzbequistão (211 t) e Índia (139 t).

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3 CONJUNTURA BRASILEIRA

A sericicultura é uma atividade agroindustrial economicamente viável para as

várias regiões do Brasil, pois as condições edafoclimáticas permitem a criação do

bicho-da-seda, Bombyx mori L. durante até dez meses ao ano, o que pode

proporcionar renda mensal satisfatória ao produtor. É, também, uma opção que

favorece a diversificação da exploração agrícola, principalmente nas pequenas e

médias propriedades rurais que utilizam mão-de-obra familiar (MENEGUIM et al.,

2007).

São Paulo já foi o maior produtor nacional na década de 80. Atualmente,

detém apenas 5,6% do total, com 479 toneladas, principalmente da região de Bastos

e Gália. Houve migração da atividade de São Paulo para o Paraná, pois as

amoreiras paulistas estavam velhas e não houve incentivo para o produtor continuar

com a atividade. O Governo do Paraná incentiva a produção e fornece recursos para

o pequeno produtor. Além disso, a sericicultura se adaptou bem ao clima de várias

regiões paranaenses e obteve uma boa produtividade em relação aos outros

Estados produtores.

3.1 PRODUÇÃO BRASILEIRA

Segundo Patrick Thomas, presidente da Hermès, uma grife francesa de

diversos produtos de luxo, dentre eles, lenços de seda que custam em torno de 235

euros, o fio de seda de seus lenços vem 100% do Brasil, do Paraná e do Mato

Grosso do Sul. A seda brasileira é a melhor do mundo (THOMAS, 2009, p 118).

O posto de melhor fio de seda do mundo foi conquistado com a implantação

de um rigoroso processo de qualificação, o qual começa na seleção das larvas do

bicho-da-seda. Diferentemente da China, que domina 80% do mercado e onde cada

etapa é feita por um intermediário, no Brasil, as duas indústrias de fiações de seda –

Bratac S/A. e Fujimura do Brasil – detêm o controle de todo o ciclo de produção. Por

exemplo, apenas os casulos mais perfeitos entram na linha de produção dos fios

mais caros e sofisticados, como os adquiridos pela Hermès ao preço de

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US$32,88/kg, dez dólares a mais do que o quilograma do fio de seda produzido na

China.

Desde 2003, as empresas beneficiadoras do casulo trabalham com

capacidade ociosa, em função da baixa oferta nacional, da taxa de câmbio

desfavorável à expansão das exportações e aos altos custos internos.

TABELA 2 – PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CASULOS VERDES POR ESTADO E EMPRESA NA

SAFRA 2007/2008, EM TONELADAS

ESTADO/ EMPRESA PR SP MS SC TOTALParticipação por

empresa (%)

Variação por empresa

06/07 – 07/08 (%)BRATAC 4.156 261 291 1 4.709 75,15 -27,73

FUJIMURA 1.544 13 --- --- 1.557 24,85 -25,89

TOTAL 5.700 274 2.913 1 6.266 100,00 -27,28Participação por estado

(%) 90,97 4,37 4,64 0,02 100,00Variação por estado

06/07 – 07/08 (%) -25,63 -42,80 -38,48 0,00 -27,28

FONTE: ABRASSEDA (2009).

TABELA 3 – PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CASULOS VERDES POR ESTADO E EMPRESA NA

SAFRA 2008/2009, EM TONELADAS

ESTADO/ EMPRESA PR SP MS SC TOTALParticipação por

empresa (%)

Variação por empresa

07/08 - 08/09 (%)BRATAC 3.228 183 198 1 3.610 74,66 -23,34

FUJIMURA 1.218 7 --- --- 1.225 25,34 -21,32

TOTAL 7.664 479 473 1 4.835 100,00 -22,84Participação por estado

(%) 88,94 5,56 5,49 0,01 100,00Variação por estado

07/08 - 08/09 (%) -22,00 -30,66 -31,96 0,00 -22,84

FONTE: ABRASSEDA (2009).

TABELA 4 – 1ª PREVISÃO DA PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CASULOS VERDES PARA A SAFRA

2009/2010 – 14/07/2009, EM TONELADAS

ESTADO/ EMPRESA PR SP MS SC TOTALParticipação por

empresa (%)

Variação por empresa

08/09 – 09/10 (%)BRATAC 3.100 177 182 1 3.460 75,45 -4,16

FUJIMURA 1.121 5 --- --- 1.126 24,55 -8,08

TOTAL 4.221 182 182 1 4.586 100,00 -5,15Participação por estado

(%) 92,03 3,97 3,97 0,02 100,00Variação por estado

08/09 – 09/10 (%) -5,06 -4,21 -8,08 0,00 -5,15

FONTE: ABRASSEDA (2009).

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Pode-se observar, nas Tabelas 2 e 3, as expressivas reduções que ocorreram

na produção brasileira de casulos verdes nas últimas safras e, seguindo a tendência,

a estimativa de redução para a produção da próxima safra (2009/2010), na Tabela 4.

Ainda, a produção nacional sofre com a competição do produto chinês no

mercado interno – 55% da quantidade de 333 toneladas e 39% da despesa de US$

18,7 milhões com a importação de seda e produtos de seda, em 2008 (MAPA,

2009).

3.2 EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS

No grupo “seda e produtos de seda”, o Brasil exportou, em 2008, 1.170

toneladas, o equivalente a US$ 34,5 milhões. O subgrupo “fios e desperdícios de

seda” foi responsável por 98,22% da quantidade e 95,01% da receita de exportação

do grupo, sendo obtido o preço médio neste ano de US$ 28,55/kg. No Gráfico 1,

demonstra-se a evolução das exportações brasileiras desse subgrupo. Os demais

subgrupos exportados foram: “tecidos e outros produtos têxteis de seda” e “casulos

de bicho-da-seda e seda crua” (MAPA, 2009).

GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE FIOS E DESPERDÍCIOS DE

SEDA DE 1998 A 2008 (QUANTIDADE, RECEITA E PREÇO)

FONTE: MAPA (2009), elaborado pela autora (2009).

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O Paraná respondeu por 64,37% do volume e por 69,69% da receita com

exportação de “fios e desperdícios de seda”, sendo o principal exportador em 2008,

seguido apenas de São Paulo com 35,63% e 30,31%, respectivamente.

O principal país comprador do casulo do bicho-da-seda e do fio de seda

brasileiros, em 2008, foi o Japão com aproximadamente 50% do volume exportado.

Em seguida, e em menor proporção, estão: União Européia, Vietnã, Coréia do Sul e

Índia.

Segundo a AMANO (2007), no início de 2006, houve uma grande demanda

japonesa por fios de seda, com pedidos três vezes superiores ao que normalmente

compravam do Brasil, o que influenciou em alta dos preços em todos os mercados.

Infelizmente, a produção nacional estava em redução e não foi possível atender toda

a demanda e nem alcançar recordes de exportações.

Entretanto, no final de 2006, foi anunciada a falência de uma das grandes

empresas de varejo de seda no Japão, o que fez o mercado de seda japonês

praticamente parar nos meses seguintes. As fiações brasileiras que vendiam

aproximadamente 67% da produção ao mercado japonês tiveram reduções drásticas

(-34%), a partir do 4º trimestre. A valorização do real, na época, e o aumento dos

custos internos fizeram com que as fiações brasileiras mal chegassem ao ponto de

equilíbrio (AMANO, 2007). O movimento brusco do mercado não possibilitou ampliar

a capacidade produtiva interna nos anos seguintes.

Em consequência disso, em 2008, houve redução de 18,33% no volume e

de 5,97% na receita com exportações de “fios e desperdícios de seda” no Brasil, em

relação a 2007, entretanto, o preço de exportação ficou 15,14% melhor no mesmo

período. Na mesma análise, o Paraná reduziu em 11,37% a quantidade exportada,

mas teve aumento de receita e preço, em torno de 2,63% e 15,79%,

respectivamente.

De janeiro a julho de 2009, as exportações brasileiras de “fios e desperdícios

de seda” já atingiram 611 toneladas e US$ 15,1 milhões a um preço médio de US$

24,78/kg, sendo o Paraná responsável por 66,72% da quantidade exportada e

73,90% da receita obtida neste período.

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Comparando com as exportações brasileiras de “fios e desperdícios de

seda” de janeiro a julho de 2008, houve, em janeiro a julho de 2009, uma redução de

11,07% no volume, 23,11% na receita e 13,54% no preço. O Paraná teve reduções

menores que ficaram em torno de 10,81%, 19,58 e 9,83%, respectivamente,

enquanto São Paulo sofreu mais, reduzindo 11,60%, 31,62% e 22,65%,

respectivamente.

4 PRODUÇÃO PARANAENSE

O Estado do Paraná nos últimos 10 anos destaca-se como o maior produtor

nacional de casulos verdes. Na safra de 2008/2009, o Paraná foi responsável por

mais de 92% da produção nacional.

Segundo consta no Relatório Takii, o segmento agroindustrial da seda

participou com quase R$ 30 milhões na formação do Valor Bruto da Produção

Paranaense, conforme mostra a Tabela 5, entre outros dados da sericicultura

paranaense, gerando em torno de 20.000 empregos diretos e indiretos. A

participação da Fiação de Seda Bratac S/A. foi em torno de R$ 21,50 milhões – 73%

– e a Fujimura do Brasil em torno de R$ 8,10 milhões – 27% (SEAB-PR, 2009a).

TABELA 5 – EVOLUÇÃO DA SERICICULTURA NO ESTADO DO PARANÁ – ÚLTIMAS 5 SAFRAS.

Itens 2004/05 2005/06 2006/07 2007/2008 2008/2009

Número de municípios 213 231 239 229 219 -4,37%

Número de criadores 5.089 6.462 6.749 5.889 4.524 -23,18%

Número de barracões 5.501 6.882 7.122 6.468 5.002 -22,67%

Área de amoreira (ha) 16.919 13.923 13.645 14.799 11.464 -22,53%

Área média por produtor (ha) 3,32 2,15 2,02 2,51 2,53 0,96%

Casulos verdes (toneladas) 6.405 7.141 7.645 5.708 4.456 -21,94%

Produção média (Kg/produtor) 1.259 1.105 1.133 969 985 1,64%

Produtividade média (Kg/ha/ano) 379 513 560 385 389 0,95%

Rendimento de lagartas (kg/g) 2,96 3,06 2,84 2,95 3,16 7,07%

Casulos de primeira (%) 95,70 95,61 95,22 95,79 95,17 -0,65%

Preço médio (R$/Kg de casulo) 6,11 6,29 6,05 5,76 6,65 15,37%

Valor Bruto da Produção (R$ 1.000) 39.122,27 44.901,87 46.280,60 32.869,65 29.608,34 -9,92%

SAFRAS Variação 2007/2008

para 2008/2009

FONTE: SEAB-PR (2009a), elaborado pela autora (2009).

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A produção de casulos verdes já reduziu em torno de 37,86% desde a safra

2003/2004, conforme mostra o Gráfico 2. Na safra 2008/2009, quando comparada

com a safra anterior (2007/2008), sofreu uma redução de 1.252 t, ou seja, uma

quantidade 21,94% menor. Do total de 4.456 t produzidas, a Fiação de Seda Bratac

S/A. foi responsável por 3.249 t e a Fujimura do Brasil por 1.207 t.

GRÁFICO 2 – PRODUÇÃO DE CASULOS

VERDES DO PARANÁ NAS

ÚLTIMAS 6 SAFRAS, EM

TONELADAS

GRÁFICO 3 – ÁREA DE AMOREIRAL DO

PARANÁ NAS ÚLTIMAS 6

SAFRAS, EM HECTARES

FONTE: SEAB-PR (2009a).

Se cada casulo rende em torno de 17% de seda, tem-se então que a

produção paranaense de seda crua na safra 2008/2009 foi de 757,5 t a partir das

4.456 t de casulos verdes, o que correspondeu a uma redução de 212,9 t de seda

crua em relação à safra anterior.

Em consequência disso, houve a redução gradual de área de amoreiral,

conforme mostra o Gráfico 3, sendo, atualmente, 44,14% menor que há 6 anos.

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GRÁFICO 4 – NÚMERO DE PRODUTORES

NO PARANÁ NAS ÚLTIMAS 6

SAFRAS

GRÁFICO 5 – NÚMERO DE MUNICÍPIOS

PRODUTORES NO PARANÁ,

NAS ÚLTIMAS 6 SAFRAS

FONTE: SEAB-PR (2009a).

Quanto ao número de produtores, houve um leve incremento nas safras de

2005/2006 e 2006/2007, seguido de nova redução, o que aponta para uma redução

mais moderada de 2003/2004 para 2008/2009, de 35,71%, entretanto, não menos

significativa, como mostra o Gráfico 4.

No Gráfico 5, da mesma forma, o incremento nas safras de 2005/2006 e

2006/2007 ocasionou um aumento no número de municípios produtores, o que

resulta num leve aumento de 0,92% em relação às 6 safras anteriores, diluindo a

produção pelo Estado. Mas como esta não se mostrou sustentada, houve também

uma redução de 2006/2007 para 2008/2009, de 8,37%.

O maior município produtor de casulos verdes do Estado do Paraná na safra

2008/2009 foi Nova Esperança, como mostra a Tabela 6, com a produção superior a

600 mil quilogramas de casulos verdes, representando 14,35% da produção

paranaense, 8,40% dos produtores, 10,80% das sirgarias e 14,35% da área de

amoreira.

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TABELA 6 – PRINCIPAIS MUNICÍPIOS PRODUTORES DE CASULOS VERDES NO ESTADO DO

PARANÁ, SAFRA 2008/2009

Regional Número de Número de Área de Produção de

da SEAB Municípios Sericicultores Barracões Amoreira Casulos Verdes

(ha) (Kg)

1 Maringá Nova Esperança 380 540 1.657,96 639.302,56

2 Paranavaí Alto Paraná 171 216 677,60 249.322,32

3 Maringá Astorga 145 180 673,51 132.620,60

4 Cascavel Boa Vista da Aparecida 92 94 198,39 123.283,44

5 Ivaiporã Cândido de Abreu 187 188 348,99 120.629,90

6 Ivaiporã Jardim Alegre 83 93 191,58 106.140,48

7 Umuarama São Manoel do Paraná 62 65 168,39 96.710,10

8 Umuarama Indianópolis 68 82 180,94 92.175,50

9 Paranavaí Cruzeiro do Sul 84 120 296,07 91.477,90

10 Umuarama Rondon 44 63 164,11 87.406,55

1.316 1.641 4.558 1.739.069

29,09% 32,81% 39,75% 39,03%

TOTAL DOS 10 MUNICÍPIOS

PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DO PARANÁ

FONTE: SEAB-PR (2009a), elaborado pela autora.

Em relação à produtividade média em kg de casulos/ha/ano houve um

aumento de 0,95%, ou seja, de 385 kg/ha/ano para 389 kg/ha/ano. Observou-se

uma amplitude muito grande entre os índices de produtividade: municípios

produzindo abaixo de 150 kg/ha/ano e ao mesmo tempo, municípios produzindo

acima de 1.000 kg/ha/ano, o que fez com que a média ponderada da produtividade

dos 10 maiores municípios produtores ficasse 1,82% menor que a média ponderada

estadual, conforme mostram os dados da Tabela 7.

TABELA 7 – PRODUTIVIDADE DOS PRINCIPAIS MUNICÍPIOS PRODUTORES DE CASULOS

VERDES NO ESTADO DO PARANÁ – SAFRA 2008/2009.

Regional

da SEAB Municípios Kg de casulos Kg de casulos Kg de casulos

por Sericicultor por barracão por ha de amora

1 Maringá Nova Esperança 1.682,38 1.183,89 385,60

2 Paranavaí Alto Paraná 1.458,03 1.154,27 367,95

3 Maringá Astorga 914,62 736,78 196,91

4 Cascavel Boa Vista da Aparecida 1.340,04 1.311,53 621,42

5 Ivaiporã Cândido de Abreu 645,08 641,65 345,65

6 Ivaiporã Jardim Alegre 1.278,80 1.141,30 554,03

7 Umuarama São Manoel do Paraná 1.559,84 1.487,85 574,32

8 Umuarama Indianópolis 1.355,52 1.124,09 509,43

9 Paranavaí Cruzeiro do Sul 1.089,02 762,32 308,97

10 Umuarama Rondon 1.986,51 1.387,41 532,61

1.321 1.060 382

34,17% 18,97% -1,82%COMPARAÇÃO COM A MÉDIA DO PARANÁ

Produtividades

MÉDIA DOS 10 MUNICÍPIOS

FONTE: SEAB-PR (2009a), elaborado pela autora.

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A Tabela 8 mostra a participação dos territórios e pré-territórios na

sericicultura paranaense. Dentre os territórios e pré-territórios destacam-se: o Pré-

território Consad Entre Rios com a maior produção (860 t) em 33 municípios,

seguido do Território Paraná Centro (409 t, em 16 municípios) e do Território

Integração Norte Pioneiro (219 t, em 22 municípios).

TABELA 8 – PARTICIPAÇÃO DOS TERRITÓRIOS E PRÉ-TERRITÓRIOS NA PRODUÇÃO

PARANAENSE DE CASULOS VERDES, NA SAFRA 2008/2009

FONTE: SEAB-PR (2009a).

4.1 PREÇOS NO PARANÁ

Diante de um cenário mundial desfavorável à exportação dos produtos e

serviços seda e da seca no início da safra, que acarretou uma redução da

produção/produtividade de casulos verdes, houve um desestímulo ao meio rural,

principalmente para os produtores que trabalham com o sistema de parceria. Diante

dessa situação, as empresas de fiações paranaenses promoveram um ajuste de

preços aos produtores. Observou-se, segundo dados do Departamento de Economia

Rural da Secretaria de Agricultura do Paraná (SEAB/DERAL) que entre outubro de

2008 e agosto de 2009 o preço negociado do casulo verde esteve acima de

R$6,24/kg e chegou a pontuar até R$6,57/kg, isso considerando as médias nominais

mensais colhidas a campo no Estado do Paraná, conforme mostra o Gráfico 6

(SEAB-PR, 2009b).

O preço médio pago aos produtores para o casulo verde na safra 2008/2009

foi de R$ 6,64/kg contra R$ 5,76/kg pago na safra anterior. Portanto, houve um

acréscimo de 13,25% no preço médio pago aos produtores. Nesse contexto, se

forem considerados apenas os casulos de primeira qualidade, o preço pago nesta

safra foi de R$ 6,71 e na safra anterior R$ 5,94.

NUMERO DE MUNICÍPIOS 50,23% 110

NÚMERO DE CRIADORES 53,47% 2.419

NÚMERO DE BARRACÕES 50,58% 2.530

ÁREA DE AMOREIRA 46,02% 5.275,98

PRODUÇÃO DE CASULOS VERDES 46,85% 2.087.564,04

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GRÁFICO 6 – EVOLUÇÃO DOS PREÇOS NOMINAIS MENSAIS DE CASULOS DE PRIMEIRA

PAGOS AO PRODUTOR NO PARANÁ, DE JANEIRO DE 2007 A AGOSTO DE 2009,

EM REAIS POR QUILOGRAMA

FONTE: SEAB-PR (2009b), elaborado pela autora.

Essa relação de custo/benefício em favor do sericicultor tem obrigado as

empresas de fiação a manter seus custos de produção, apesar das dificuldades da

política cambial que fizeram os preços do casulo em dólar irem de US$ 3,52/kg em

agosto de 2008 a US$ 2,62/kg em janeiro de 2009, considerando as médias mensais

entre janeiro a agosto de 2009 comparadas com o mesmo período de 2008, estão

10% menores, como se pode observar no Gráfico 7.

GRÁFICO 7 – EVOLUÇÃO DOS PREÇOS NOMINAIS MENSAIS DE CASULOS DE PRIMEIRA

PAGOS AO PRODUTOR NO PARANÁ, DE JANEIRO DE 2007 A AGOSTO DE 2009,

EM DÓLARES POR QUILOGRAMA

FONTE: SEAB-PR (2009b), elaborado pela autora.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma das possibilidades da redução nas exportações brasileiras de “fios e

desperdícios de seda” de 2008 para 2009 pode estar ligada aos reflexos da crise

econômica mundial, que se iniciou em outubro de 2008, e desencadeou uma

redução da demanda externa, bem como tornou o câmbio desfavorável às

exportações. Assim, essa conjuntura aponta para mais uma contração da área de

amoreira e do número de sirgarias, caso as empresas de fiações não possam

manter o benefício, o que refletiria na redução dos preços pagos aos sericicultores.

Entretanto, o setor já vem enfrentando dificuldades e segundo o diretor da

Bratac S/A., Shigueru Taniguiti Junior, a empresa está há três anos operando no

negativo. Ele compara que em 2002, alcançou um faturamento de R$ 90,8 milhões,

e em 2008 caiu para R$ 64,6 milhões. Relata que exportam 95% da sua produção,

enquanto seus custos são todos em real (BARBOSA, 2009).

Segundo ele, a empresa, que já teve 3 mil funcionários, hoje tem apenas

1.150 e já dispensou 300 trabalhadores em 2009. Além disso, a planta de Bastos

opera com uma ociosidade de 35% e foram encerradas as atividades de uma planta

no município de Duartina, interior de São Paulo (BARBOSA, 2009).

A pergunta que nós nos fazemos é quanto tempo mais a gente aguenta, diz

Junior. Para sair do prejuízo, calcula que seria preciso reajustar seu preço em 20%.

Ninguém aceita isso. Nem a Hermès, parceira de tantos anos, eles aceitam pagar

um alfa pela qualidade, mas não pagam um beta pelo custo do real forte ou da carga

tributária nacional (BARBOSA, 2009).

Uma combinação de fatores como real forte, a competição com a China e a

modernização dos costumes e dos modos de se vestir são os responsáveis por

devastar a produção nacional. Este ano, a previsão é de uma produção de pouco

mais da metade daquilo que foi produzido em 2002 (1,6 mil toneladas). Há 20 anos,

além da produção quatro vezes maior, o preço era bastante superior ao praticado

hoje: US$ 53,89 o quilograma (BARBOSA, 2009).

Durante a pré-abertura do governo Collor, o parque industrial brasileiro

abrigava 17 fiações de seda, além de dezenas de confecções que transformavam o

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fio no nobre tecido. Hoje, restam duas fiações: a Bratac S/A., de capital 100%

nacional, e a Fujimura do Brasil, subsidiária de uma fiação japonesa (BARBOSA,

2009).

O setor reclama do fato de as tecelagens e estilistas de moda não fazerem

propaganda da seda 100% nacional. Além disso, relatam que é necessário combater

a importação ilegal. Segundo Junior, do volume que a China declara que vende de

tecido de seda para o Brasil, aqui só chega metade (BARBOSA, 2009).

Eliane Gamal Mesquita, diretora-presidente da tecelagem Safira Sedas, que

também participa do Comitê da Seda, acredita que a indústria nacional só vai

sobreviver à invasão chinesa se investir em produtos especiais, seja para a moda ou

para a decoração. Para ela, com o objetivo de envolver estilistas e decoradores, as

tecelagens precisam investir em tecnologia e design para oferecer produtos

diferenciados (BARBOSA, 2009).

A criação do bicho-da-seda, ou sericicultura, já foi a atividade que oferecia a

melhor remuneração no campo. Porém, com a queda no consumo e na cotação do

fio no mercado internacional, os criadores estão abandonando a atividade. Só a

Bratac chegou a contar com o fornecimento de casulos de 6 mil famílias. Em 1989,

esses criadores produziram 12 mil toneladas de casulo. Uma das principais

limitações hoje é a falta de matéria-prima, deixar máquinas paradas tem um custo

alto, se tivesse matéria-prima, poderia produzir e estocar, segundo o diretor da

Bratac, Shigueru Taniguti Junior (BARBOSA, 2009).

Mesmo com este cenário delicado, as Empresas IAPAR, EMATER e

Universidades ofereceram a realização de vários cursos e pesquisas para a

modernização do setor sericicultor paranaense.

O programa de apoio à sericicultura paranaense, cujo objetivo é auxiliar na

melhoria dos solos dos amoreirais destinados à criação do bicho-da-seda, está em

vigência desde 18 de agosto de 2008, quando foi celebrado o convênio entre a

SEAB, EMATER, ABRASSEDA e FEASPAR (SEAB-PR, 2009a).

Desde então, já foram realizados 4.391 análises de solo e recomendações

técnicas, e adquiridos 529.766 sacos de 50 kg de calcário dolomítico, para

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distribuição aos sericicultores do Estado. O programa já beneficiou

aproximadamente 5.200 famílias de sericicultores até o momento (SEAB-PR,

2009a).

Além disso, através do Empréstimo do Governo Federal (EGF), o qual

beneficia produtores, cooperativas e agroindústrias, a produção de casulos da seda

no Paraná e em São Paulo teve seu preço mínimo reajustado de R$ 4,97/kg, no

plano safra anterior, para R$ 5,56/kg de casulo verde com teor líquido de 15%, a

partir do plano safra 2009/2010.

Outra iniciativa de apoio é a proposta de integração da Cadeia Produtiva do

Urucum e da Câmara Técnica do Complexo da Seda no Estado do Paraná

objetivando a diversificação da produção agropecuária tecnificada, a parceria com

as indústrias processadoras de matéria-prima e a organização do processo

sucessório da agricultura familiar.

Durante os encontros programados pela EMATER, referentes às culturas do

urucum e do bicho-da-seda em Nova Esperança (26/05/09) e Colorado (27/05/09),

apresentou-se o Projeto Urucum do Brasil para o público composto pelos

urucultores, sericicultores e parceiros da Cooperativa Nova Produtiva, quando foram

relacionados assuntos referentes à condução da lavoura tecnificada, ao sistema de

parceria e à comercialização da safra de urucum (SEAB-PR, 2009a).

A implantação desse processo integrador entre a Cadeia Produtiva do

Urucum e a Câmara Técnica do Complexo da Seda propiciará vantagens

competitivas em termos de crescimento de produção e produtividade de produtos e

serviços com qualidade, de acordo com a necessidade do segmento industrial

processador e a demanda do mercado consumidor, reduzindo a exposição dos

produtores rurais aos riscos de mercado.

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REFERÊNCIAS

AMANO, A. T. Relatório da Diretoria. Londrina: ABRASSEDA, 2007. 7 p. Relatório técnico. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FIAÇÕES DE SEDA (ABRASSEDA). Dados Estatísticos da ABRASSEDA e mundial. [Mensagem de trabalho]. Mensagem recebida por: <[email protected]> em: 28 set. 2009. BARBOSA, M. Seda brasileira, 'a melhor do mundo', está ameaçada. O Estadão, São Paulo, 19 set. 2009. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/economia,seda-brasileira--a-melhor-do-mundo--esta-ameacada,437860,0.htm>. Acesso em: 19 set. 2009. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (MAPA). AGROSTAT BRASIL. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/>. Acesso em: 20 set. 2009. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (FAO). FAOSTAT. Disponível em: <http://faostat.fao.org> Acesso em 15 set. 2009. MENEGUIM, A. M. et al. Influência de cultivares de amoreira Morus spp. sobre a produção e qualidade de casulos de bicho-da-seda, Bombyx mori L. (Lepidoptera: Bombycidae). Neotrop. entomol., Londrina, v. 36, n. 5, out. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-566X2007000500006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 30 set. 2009. SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO DO PARANÁ (SEAB-PR). Relatório Takii – Perfil da Sericicultura no Estado do Paraná – Safra 2008/2009. Curitiba: SEAB-CEDRAF-CTCSEPR, 2009a. SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO DO PARANÁ (SEAB-PR). Série Histórica dos Preços Recebidos pelos Produtores. Curitiba: SEAB-DERAL-DEB, 2009b. THOMAS, P. “Não é tão cara assim”. Veja, São Paulo, n. 2130, 16 set. 2009. p. 118. Entrevista. WATANABE, J. K.; YAMAOKA, R. S.; BARONI, S. A. Cadeia produtiva da seda: diagnósticos e demandas atuais. Londrina: IAPAR, 2000. 129 p. (Documento 22).