saúde pública - outubro 2010

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Este Jornal é parte integrante da edição do Expresso n.º 1980, de 9 de Outubro de 2010. Venda interdita. N.º 92 Próxima edição Novembro www.jasfarma.com Getty Images Fumo que mata sem se ver Só em Portugal surgem, todos os anos, 3500 novos casos de cancro do pul- mão. Em 80% das situações, o apareci- mento deste tumor está directamente relacionado com o consumo de tabaco – um hábito que eleva entre 20 a 40 vezes a probabilidade de um fumador desenvolver o cancro. Pág. 3 Alimentação desregrada Alimentação desregrada e sedentarismo causam e sedentarismo causam cancro digestivo cancro digestivo «Consumo excessivo de conservas, en- latados, fumados, alimentos ricos em sal, em detrimento dos congelados.» Este é o cardápio que, na perspectiva do Dr. Evaristo Sanches, mais concorre para o aparecimento do cancro digesti- vo, um tumor que tem origem, essen- cialmente, nos hábitos alimentares e no sedentarismo. O cólon e o recto são as localizações mais atingidas por esta neoplasia maligna, que, anualmente, afecta 5000 portugueses. Págs. 4/5 PUB CESA garante selo de segurança à mesa Pág.8 A história de quem vive há duas décadas com o VIH Pág. 2 A sociedade de risco que marca o nosso tempo traz problemas acrescidos a todos os que operam no sector da Saúde e, em particular, ao exercício da medicina. Atentos a esta realidade, procuramos dar apoio especializado, nomeadamente quanto a questões relativas a: • Responsabilidade Civil e Penal dos Médicos; • Responsabilidade Civil dos Estabelecimentos de Saúde; Seguros de Responsabilidade Civil por danos causados no exercício da Medicina. O Departamento de Direito da Saúde ocupa-se também do Direito da Farmácia e do Medicamento. PUB Gama Nutricia, a sua opção é a nossa melhor solução! Desde os primeiros sintomas de falta de apetite ou perda de peso em 125ml 800 206 799 LINHA VERDE www.nutricia.pt À venda na sua Farmácia. Suplemento nutricional oral em embalagens de 125 ml Para satisfação das necessidades nutricionais de pacientes oncológicos Até 3 embalagens por dia como suplemento entre as refeições principais Sabores: Cappucchino, pêssego/ gêngibre e laranja/ limão Avenida D. João II, Lote 1.17.02, 12À Piso,Torre Fernão de Magalhães, 1998-025 Lisboa - Portugal Tel.: 214 259 600 Fax: 214 184 619

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Publicação distribuída junto com o jornal Expresso.

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Page 1: Saúde Pública - Outubro 2010

Este Jornal é parte integrante da edição do Expresso n.º 1980, de 9 de Outubro de 2010. Venda interdita.N.º 92Próxima edição Novembro

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Fumo que mata sem se ver

Só em Portugal surgem, todos os anos, 3500 novos casos de cancro do pul-mão. Em 80% das situações, o apareci-mento deste tumor está directamente relacionado com o consumo de tabaco – um hábito que eleva entre 20 a 40 vezes a probabilidade de um fumador desenvolver o cancro. Pág. 3

Alimentação desregrada Alimentação desregrada e sedentarismo causam e sedentarismo causam

cancro digestivocancro digestivo

«Consumo excessivo de conservas, en-latados, fumados, alimentos ricos em sal, em detrimento dos congelados.» Este é o cardápio que, na perspectiva do Dr. Evaristo Sanches, mais concorre para o aparecimento do cancro digesti-vo, um tumor que tem origem, essen-cialmente, nos hábitos alimentares e no sedentarismo. O cólon e o recto são as localizações mais atingidas por esta neoplasia maligna, que, anualmente, afecta 5000 portugueses. Págs. 4/5

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CESA garante selo de segurança à mesa Pág.8

A história de quem vive há duas décadas com o VIH Pág. 2

A sociedade de risco que marca o nosso tempo traz problemas acrescidos a todos os que operam no sector da Saúde e, em particular, ao exercício da medicina.

Atentos a esta realidade, procuramos dar apoio especializado, nomeadamente quanto a questões relativas a:

• Responsabilidade Civil e Penal dos Médicos;• Responsabilidade Civil dos Estabelecimentos de Saúde;• Seguros de Responsabilidade Civil por danos causados

no exercício da Medicina.

O Departamento de Direito da Saúde ocupa-se também do Direito da Farmácia e do Medicamento.

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Gama Nutricia, a sua opção é a nossa melhor solução!Desde os primeiros sintomas de falta de apetite ou perda de peso

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800 206 799LINHA VERDEwww.nutricia.pt

À venda na sua Farmácia.

Suplemento nutricional oral em embalagens de 125 mlPara satisfação das necessidades nutricionais de pacientes oncológicosAté 3 embalagens por dia como suplemento entre as refeições principaisSabores: Cappucchino, pêssego/ gêngibre e laranja/ limão

Avenida D. João II, Lote 1.17.02, 12À Piso, Torre Fernão de Magalhães, 1998-025 Lisboa - Portugal Tel.: 214 259 600 Fax: 214 184 619

Page 2: Saúde Pública - Outubro 2010

Andreia Pereira

Com um sorriso estampado no ros-to, Marcel Wiel não tem quaisquer problemas em admitir, com toda a

frontalidade, que é seropositivo. Há duas décadas, por descargo de consciência, decidiu realizar o teste serológico, atra-vés do qual descobriu estar infectado com o VIH/SIDA. Quando confrontado com este diagnóstico, o jornalista de 46 anos relembra o choque do momento.

Depois de descobrir que era portador do VIH/SIDA, a vida de Maciel Wiel deu uma volta de 180 graus. Para melhor. «Deixei de consumir drogas recreativas, passei a ter relacionamentos mais está-veis [já que foi infectado por causa de uma relação sexual não protegida] e tirei um curso de jornalismo, actividade que exer-ço a tempo inteiro.»

Passado o «susto» do momento, admite que, apesar de tudo, teve sorte, por ter sido diagnosticado precocemente. «É necessá-rio estarmos despertos para a importância de fazer o teste do VIH com regularidade. Só assim se descobre a infecção com tem-po para a controlar e minorar os efeitos co-laterais. É, ainda, uma forma de conscien-temente se evitarem comportamentos de risco que possam colocar em risco a saúde de terceiros», advogou.

Durante alguns anos, não recebeu qualquer tratamento, porque não tinha uma carga viral elevada. Anos mais tar-de, depois do aparecimento de verrugas, dermatites, infecções fúngicas e gengi-vites, consultou um médico, que o acon-selhou a iniciar a terapêutica. Na mesma altura, também os linfócitos CD4 (células

responsáveis pela manutenção de uma boa imunidade) baixaram para uma con-tagem de 200 (o normal é termos entre 800 a 1500 CD4).

«Na infecção por VIH é essencial as-sumir e falar da doença, estar informa-do e iniciar cedo o tratamento, sob pena de surgirem dois problemas: a doença evolui mais rapidamente, na ausência de medicação; quando se começa o tra-tamento mais tarde, corremos o risco de surgirem danos imunológicos irreversí-veis», relatou.

«Comecei a terapêutica anti-retroviral com um esquema de três comprimidos

por dia. Arranjei, desde logo, uma forma de me organizar: dois de manhã e um à noite. Foi assim que, durante quatro anos, geri a doença», conta. Desde que iniciou a terapêutica, Marcel Wiel não sofreu quaisquer efeitos secundários (vómitos, diarreias ou dores de cabeça), motivos que, por vezes, contribuem para o aban-dono da medicação anti-retroviral.

Em 2007, Marcel Wiel teve conheci-mento, por intermédio do médico assis-tente, de um único medicamento para o VIH/SIDA – uma formulação fixa de três fármacos. «Fiquei muito entusiasmado

com esta ideia», admite. Para este jorna-lista, a simplificação terapêutica facilitou imenso a vida dos doentes infectados – di-minuiu o número de tomas diárias e per-mite uma maior comodidade.

Uma vida plena

Recém-casado com o parceiro que o acompanha há cinco anos, Marcel Wiel con-gratula-se com o que a vida lhe tem pro-porcionado. E, a julgar pelas suas palavras, razões para sorrir não lhe faltam. «Sou um bom marido», diz, com um ar confiante. Neste momento, com o auxílio da medi-

cação, consegue ter uma vida «normal»: pratica ioga, adora cozinhar e tem um dia agitado e preenchido. «A única diferença é que todos os dias tomo um comprimido com o café da manhã», esclarece.

Com um optimismo fora de série, o jor-nalista confessa nunca ter sido estigmati-zado por causa da doença. Talvez porque encara com todo o à-vontade a seroposi-tividade. «O único sinal de discriminação foi quando vi o prémio do seguro de vida ser inflacionado», diz. À excepção deste episódio, a família e os amigos nunca dei-xaram de proferir palavras de entusias-mo e apoio. De acordo com Marcel Wiel, em Londres, uma «capital europeia com grande concentração de seropositivos», o VIH/SIDA deixou de ser tabu. «Se sou aberto ao assunto, os outros também o deverão ser», confessa.

Actualmente, Wiel consulta o médico assistente uma vez por ano, embora de cinco em cinco meses faça análises de ro-tina. «A enfermeira-chefe liga-me, passa-das duas ou três semanas, a informar que está tudo bem.» O discurso do jornalista britânico exala optimismo quando fala do seu convívio com o VIH/SIDA. «E se hou-vesse cura?», perguntaram-lhe uma vez. A resposta é simples: «Vivo o meu dia-a-dia como se estivesse curado. E, por isso, não tenho de recear o futuro.»

No início dos anos 90, quando lhe foi diagnosticada a doença, confessa que es-tremeceu com a notícia. À época, os doentes infectados tinham uma esperança de vida inferior à da população em geral. Contra todas as previsões, e apesar do prognóstico pouco animador de um médico que consul-tou após o diagnóstico da infecção por VIH//SIDA, Marcel Wiel resistiu a todas as in-tempéries, sempre com determinação.

Quando completar 52 anos, prevê co-memorar um «aniversário simbólico». Por essa altura, terá vivido metade da sua existência com o vírus que o acom-panha desde os 26 anos. «Quando ultra-passamos a fase em que percebemos que o VIH/SIDA é uma doença crónica e nos comprometemos a ter um plano que cumprimos, conseguimos eliminar o medo da morte e seguimos em frente.» Wiel tem planos para escrever um livro (cujo título será «From doomsday to one pill a day»), onde pretende contar a sua convivência com um dos vírus mais temi-dos da história da Humanidade.

Marcel Wiel descobriu que era seropositivo há 20 anos: «Fiquei chocado com o resultado do teste.»

No início da década de 90, ainda pairava a ideia de que o diagnóstico de VIH/SIDA era uma sentença de morte anunciada. Mas, graças à evolução dos trata-

mentos, Marcel Wiel, que se deslocou a Portugal para participar num evento na área do VIH, admite que,

no seu caso, a doença se mantém controlada, apenas com um único comprimido por dia.

Sou seropositivo. E depois?

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2 • SÁBADO, 9 DE OUTUBRO 2010

Marcel Wiel , à margem do evento sobre VIH, que o trouxe a Portugal, contou a sua história

Page 3: Saúde Pública - Outubro 2010

Como se desenvolve o cancro do pul-mão?

A génese tumoral é um processo com-plexo de transformação do epitélio brôn-quico normal num epitélio canceroso. O funcionamento normal programado tra-duz-se no crescimento regular e morte celular. Múltiplas alterações molecula-res resultam nessa desregulação até ao cancro. Alterações genéticas mantidas influenciam depois o processo de invasão, metastização e morte. Este tempo pode durar de escassos dias a longos anos.

Neste cancro em particular, quais os be-nefícios das terapêuticas personalizadas?

Toda a comunidade científica, que diagnostica e trata cancro do pulmão, reconhece que apenas alguns doentes experimentam um significativo benefício com inibidores EGFR. Um estudo recente revela que inibidores tirosina quinase, em doentes com mutação EGFR, mostraram resultados muito promissores com lon-gas sobrevivências que os posicionam, num futuro próximo, como uma das op-ções preferenciais logo em primeira li-nha, neste subgrupo de doentes. Novos marcadores biológicos e moleculares são descobertos dia após dia. Também diaria-mente são reveladas novas terapêuticas personalizadas para os doentes com mar-

cadores biológicos e moleculares especí-ficos.

Acredita que, futuramente, podemos encontrar uma vacina ou um medica-mento que ajude a prevenir este cancro?

Todos gostaríamos que, no mais curto espaço de tempo, uma vacina, um medi-camento molecular inovador, pudesse ini-bir a multiplicação celular desordenada e corrigir os letais desvios ao funcionamento celular programado Hoje, para o cancro do pulmão, na ausência de um método de ras-treio, de um fármaco com alta eficácia anti-neoplásica, todo o nosso empenho deverá continuar a incidir na evicção tabágica e no diagnóstico o mais precoce possível.

Andreia Pereira

Sabe-se, actualmente, que o risco de um fumador desenvolver cancro do pulmão é 20 a 40 vezes superior ao

de alguém que nunca teve hábitos tabá-gicos. «Centenas de estudos, muitos dos quais prospectivos, conjugando a investi-gação básica com a investigação clínica, demonstraram claramente uma relação significativa entre a exposição ao fumo do cigarro e o desenvolvimento do cancro do pulmão. Nesta relação, intervêm factores como o número de cigarros/dia, a duração do hábito, o início precoce dos hábitos ta-bágicos, o tipo de inalação, o teor de alca-

trão e nicotina e a presença de filtro, entre outros», esclarece o Dr. Fernando Barata, presidente do Grupo de Estudos do Can-cro do Pulmão.

«A persistência do consumo de ta-baco, durante anos ou décadas, lesa, invariavelmente, a árvore respiratória. O risco de desenvolver cancro do pulmão vai crescendo, manifestando-se habitual-mente após a quinta década de vida», fundamenta o especialista. Embora Por-tugal se afaste da média de fumadores nos restantes países da Europa, as es-tatísticas indicam que 20% da população portuguesa mantém hábitos tabágicos. A lei anti-tabaco, que entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2008, prevê que, para além da

redução do número de fumadores, «haja uma menor incidência dos casos de pul-mão dentro de alguns anos», completa o especialista.

«Infelizmente, os resultados das me-didas (nomeadamente, com a imple-mentação de consultas de desabituação tabágica) não são imediatos, já que exis-te um intervalo de tempo que medeia a agressão do pulmão e o aparecimento de cancro. O tumor pode desenvolver-se paulatinamente e com sintomas ausen-tes, ao longo de meses, sem que o doente apresente qualquer queixa.» O esforço dos especialistas concentra-se, essen-cialmente, na consciencialização do risco dos fumadores.

O fumo do cigarro é um aerossol com-plexo que contém dezenas de substâncias irritantes, oxidantes, radicais livres e mais de 400 substâncias potencialmente can-cerígenas, particularmente, o alcatrão, a benzina e os hidrocarbonetos aromáticos. «A cessação tabágica reduz a probabili-dade do ex-fumador desenvolver cancro do pulmão. Ao fim de 15 a 20 anos, sem consumo de tabaco, o risco é equiparável ao de um não fumador», esclarece o Dr. Fernando Barata.

Para o especialista, para além de se investir em medidas anti-tabagismo, é necessário encontrar um método de rastreio para o cancro do pulmão, à se-melhança do que acontece com outros tumores. «Como ainda não existe um exame universal que permita o rastreio do cancro do pulmão, em Portugal, res-ta-nos apelar à sensibilização da comu-nidade científica e da população. Isto porque há sintomas respiratórios que, embora frustres, podem ajudar a des-pistar o cancro. Uma tosse persistente,

a expectoração com sangue, o cansaço, a falta de ar ou rouquidão são sinais que devem ser investigados, principalmente quando são recorrentes.»

Maldita nicotina

SÁBADO, 9 DE OUTUBRO 2010 • 3

De acordo com o Registo Nacional Oncológico, estima-se que, anualmente, surjam em Portugal cerca de 3500 novos casos de cancro do pulmão. Embora, hoje em dia, o arsenal terapêutico permita taxas de sucesso mais elevadas, não há dúvida de que, nesta

situação, prevenir é melhor do que remediar.

No cancro do pulmão, o factor tempo é determinante para uma actuação mais ime-diata. «Trata-se de um tumor de alta agres-sividade e disseminação precoce, muitas vezes resistente à terapêutica», advoga o Dr. Fernando Barata. «Infelizmente, ainda se morre de cancro, porque muitos doen-tes (entre 50 a 55% dos casos) chegam aos hospitais num estado de doença avançada. Nestas situações, apesar de existirem armas terapêuticas mais eficazes, ainda não con-seguimos obter os resultados desejados.»

Quando um tumor é diagnosticado numa fase inicial (em que apenas se ob-serva um pequeno nódulo), «através da cirurgia – o método de eleição para can-cros localizados –, ao fim de cinco anos após o tratamento, as taxas de sucesso rondam os 70%», esclarece.

Nas fases localmente avançadas, que correspondem a 20% dos casos, «com recurso a uma terapêutica combinada de quimioterapia e radioterapia, consegui-mos duplicar a sobrevivência dos doen-tes». De acordo com o especialista, hoje em dia, «os novos fármacos e a descoberta de biomarcadores permitem personalizar o tratamento». No entanto, o Dr. Fernando Barata ressalva a mensagem de que ainda há um longo caminho pela frente, até se obter a cura para o tumor do pulmão.

Quanto mais cedo melhor

Perguntas «flash» ao Dr. Fernando Barata

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O fumador tem um maior risco de desenvolver cancro do pulmão

O Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão, presidido pelo Dr. Fernando Barata, organi-za o 4.º Congresso do Cancro do Pulmão, que terá lugar entre os dias 14 e 16 de Ou-

tubro, em Coimbra. Para além da sessão sobre os cuidados paliativos, os especialistas convidados apresentam os últimos avanços terapêuticos nesta matéria.

O futuro do cancro do pulmão

Director: José Alberto Soares Redacção: Andreia Montes, Andreia Pereira, Bruno Miguel Dias, David Carvalho, Paula Pereira, Sílvia Malheiro, Susana Mendes Fotografia: Ricardo Gaudêncio (editor), Jorge Correia Luís, José Madureira Agenda: Maria José Lages (saudepublica@saudepu blica.pt) Director de Produção: João Carvalho Director de Produção Gráfica: José Manuel Soares Director Comercial: Miguel Ingenerf Afonso Publicidade: Carla Gonçalves Directora de Marketing: Ana Branquinho Relações Públicas: Catarina Moreira Director de Multimédia: Luís Soares Redacção e Publicidade: Edifício Lisboa Oriente Office, Av. Infante D. Henrique, 333 H, 5.º 1800-282 Lisboa Tel. 218 504 000, Fax 218 504 009, [email protected], www.jasfarma.com Saúde Pública® é um projecto da JAS Farma®, de periodicidade mensal e de distribuição conjunta com o Expresso, com a tiragem total do próprio jornal Pré--press: IMPRESA Publishing Impressão: Lisgráfica. Pretendemos promover e divulgar a informação na área da Saúde. É permitida a reprodução total ou parcial dos textos e fotografias, desde que referenciada a sua origem (JAS Farma®) e com autorização expressa da Direcção. Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos seus autores.

Page 4: Saúde Pública - Outubro 2010

Andreia Pereira

O cancro digestivo pode atingir todas as estruturas do tubo digestivo, que vão desde o esófago até ao canal anal

- nomeadamente o estômago, pâncreas, in-testino delgado, cólon e recto, passando pelo fígado e vias biliares. «A localização mais frequente dos tumores digestivos é no cólon e recto, seguindo-se o estômago», completa o Dr. Evaristo Sanches, presidente do Grupo de Investigação do Cancro Digestivo.

Segundo o especialista, em Portugal, surgem anualmente 5000 casos de cancro colorrectal, catapultando esta neoplasia para o primeiro lugar do ranking dos tu-mores mais frequentes. No futuro, prog-nostica, «a tendência é para aumentar». O relatório GLOBOCAN 2008, da Agência Internacional de Investigação do Cancro

(IARC), indica que, em todo o mundo, o cancro colorrectal «é a terceira forma mais comum de tumores no homem e a segunda nas mulheres».

De acordo com o Dr. Evaristo Sanches, os cancros digestivos devem-se, sobre-tudo, aos hábitos alimentares: «Consu-mo excessivo de conservas, enlatados, fumados, alimentos riscos em sal em detrimento dos congelados.» Esta neo-plasia surge, habitualmente, entre a sexta e sétima décadas de vida, não invalidan-do, porém, o seu aparecimento na idade jovem. «A maior incidência de alterações inflamatórias, a diminuição da imunidade como resultado da idade avançada, entre outros factores, justificam a incidência do cancro colorrectal na terceira idade.»

As estimativas apontam, até 2015, para um aumento de 22% dos casos, na popu-lação acima dos 65 anos, e de 50%, nos in-

divíduos com mais de 80 anos de idade. «O envelhecimento da população será uma das razões para o aumento dos cancros digestivos», defende o oncologista.

Diagnosticar cedo, antes que seja tarde

Segundo o Dr. Evaristo Sanches, o mé-dico recorre à história clínica e ao exame físico como formas fundamentais para chegar ao diagnóstico. Os exames com-plementares, sobretudo os métodos en-doscópicos (incluindo a vídeo-cápsula) «são os meios de diagnóstico mais úteis no diagnóstico do carcinoma digestivo». A ecografia, a tomografia axial computo-rizada, a ressonância magnética e a PET (Tomografia de Emissão de Positrões) ajudam a «conhecer a extensão da doença e a programar o tratamento».

«O cancro digestivo pode ser difícil de detectar precocemente. Geralmente, nos estádios iniciais, não há sintomas. E, em muitos casos, antes de ser detectado, o tumor já está metastizado (disseminado). Quando há sintomas, geralmente, são va-gos, ou seja, não específicos, o que leva o doente a ignorá-los ou a confundi-los com situações benignas.»

Apesar da necessidade de se investigar a história familiar e clínica, em 80% dos cancros digestivos, a origem do «mal» está frequentemente associada a doenças

inflamatórias do cólon, ao estilo de vida («o sedentarismo é facilitador do cancro do cólon e do recto»), dietas ricas em gordura, tabagismo e ingestão de álcool. Contrariamente aos alimentos saturados de gorduras, «a dieta rica em fruta fresca e fibras» tem um potencial preventivo do cancro digestivo.

Rastreio: «uma arma de combate»

Segundo o especialista, urge criar um programa nacional de rastreio organiza-do («com indicação entre os 50 e os 70 anos»), à semelhança do que já acontece na região centro do país, com um rastreio de base populacional para o cancro color-rectal. «Porque a responsabilidade pela nossa saúde começa em nós, devemos estar atentos aos sintomas ou a alterações dos hábitos digestivos – falta de apetite, náuseas, vómitos, emagrecimento, acidez ou más digestões, aparecimento de diabe-tes, diarreias alternadas com períodos de obstipação, aparecimento de sangue nas fezes. Apesar de serem sintomas vagos, o médico assistente pode interpretar os si-nais e orientar o doente para o local mais adequado.»

O doente deve estar atento a eventuais sintomas suspeitos, já que quanto mais cedo os sintomas forem comunicados ao médico maior a probabilidade de de-tecção precoce. «Quando o diagnóstico se efectua numa fase inicial, a cirurgia consegue alcançar a cura em cerca de 80 a 90% das situações, permitindo que o doente se mantenha activo. Há, assim, um baixo consumo de recursos e menos consequências para a qualidade de vida», acrescenta o Dr. Evaristo Sanches.

«Em fases mais avançadas, em que há necessidade de recorrer a tratamentos sistémicos, nem sempre se consegue a cura. Esta situação conduz a um consumo de recursos muito maiores, com inactivi-dade dos doentes, que deixam de ocupar o seu posto de trabalho e de produzir. Em fases muito avançadas, o consumo de re-cursos é ainda maior: há uma necessida-de acrescida de recorrer a analgésicos,

Dr. Evaristo Sanches

4 • SÁBADO, 9 DE OUTUBRO 2010

Hábitos alimentares na origemda maioria dos cancros digestivos

Só o cancro colorrectal regista 5000 novos casos/ano

A medicina está cada vez mais empenhada na desco-berta de novas armas terapêuticas contra o cancro

digestivo. Ainda assim, no mapa das ocorrências, em Portugal, registam-se, anualmente, cerca de cinco mil novos casos de cancro colorrectal – a neoplasia diges-tiva mais frequente. O problema, acusam os especialis-tas, está no diagnóstico tardio. Saiba como estar alerta.

Roche Farmacêutica Química, Lda.Estrada Nacional 249, 1 - 2720-413 Amadora

www.roche.pt Porque a vida dos doentes com cancro colo-rectal avançado é importante.

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Vigilância redobrada

Se sofre de algum dos seguintes sintomas (de forma persistente), deverá procurar

o conselho do seu médico assistente. – Dificuldade em engolir;– Indigestão ou sensação de ardor (azia);– Náuseas e vómitos;– Episódios de diarreia alternados com

períodos de obstipação;– Dilatação do estômago após as re-

feições; – Perda de apetite;– Sensação de fraqueza e fadiga cons-

tantes;

– Hemorragia (vómito de sangue ou san-gue nas fezes). Em certos casos o sangue poderá estar oculto nas fezes, o que poderá ser confirmado com análises laboratoriais;

– Mudança na cor das fezes (cor de al-catrão);

– Desconforto abdominal generalizado (flatulência, inchaço, enfartamento e/ou cãibras);

– Perda de peso repentina e sem jus-tificação;

– Fezes de menor dimensão do que o habitual.

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Page 5: Saúde Pública - Outubro 2010

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Cancro digestivo em números

• 5500 novos casos por ano em Portugal.• 608 mil mortes, em todo o mundo, de-

vido ao cancro colorrectal.• 413 mil novos casos diagnosticados

anualmente na Europa.• Até 2015, poderá haver um aumento de

50% dos casos de cancro digestivo, na faixa etária acima dos 80 anos.

• Em período homólogo, calcula-se que poderá haver um acréscimo de 22% na população entre os 65 e os 80 anos.

• O cancro colorrectal é o terceiro tumor mais mortífero em todo o mundo.

Modalidades terapêuticas

A cirurgia, a radioterapia e a quimio-terapia fazem parte do arsenal tera-pêutico de combate ao cancro diges-

tivo. «Em muitas circunstâncias, podemos combinar estes tratamentos, usando a ra-dioterapia associada à quimioterapia. Em conjunto, conseguimos potenciar o trata-mento, através da destruição do tumor ou do controlo do seu crescimento.»

Com recurso à cirurgia – «fundamental em determinados tipos de cancro digestivo, sobretudo o localizado –, conseguem-se taxas de sucesso elevadas. A radioterapia – um tratamento que implica a utilização de radiações - e a quimioterapia sofreram, nos últimos anos, uma grande evolução, mostrando-se mais eficazes no tratamen-

to dos doentes com cancro digestivo. «Os aparelhos de radioterapia recen-

tes são tecnologicamente mais evoluídos e possuem a capacidade de tratar só o tumor, poupando os órgãos vizinhos. Assim, con-seguimos minimizar os danos colaterais desta terapêutica, já que a radioterapia ac-tual é desenvolvida para destruir apenas o tumor e poupar os órgãos periféricos.»

No campo da quimioterapia, o desen-volvimento de terapêuticas dirigidas às células tumorais, de acordo com mar-cadores específicos, permite actuar em pontos específicos. Trata-se de um avanço enorme, face à quimioterapia clássica, que funcionava como uma «bomba»: lesava todas as células que se encontravam nas imediações do tumor. As terapêuticas-alvo podem, por outro lado, ser comparadas a «mísseis»: atingem apenas um foco.

Apesar dos efeitos secundários asso-ciados ao tratamento (em particular, da quimioterapia), o Dr. Sérgio Barroso in-dica que, hoje em dia, há medicamentos capazes de evitar as náuseas, os vómitos ou a diarreia, situações típicas da toxicida-de da quimioterapia. «Não conseguimos evitar todos os efeitos secundários. Mas, actualmente, a quimioterapia é muito me-lhor tolerada e já não tem um impacto tão significativo na qualidade de vida dos doen-tes, porque os tratamentos actuais não possuem a toxicidade que caracterizava a quimioterapia há 10 ou 15 anos.»

frequentes visitas ao hospital, dependên-cia de familiares, que também deixam de trabalhar. Este cenário afecta a economia familiar, favorece o isolamento do doente e a sua dependência de medicamentos. E influencia a sobrevivência dos doentes.»

Na perspectiva do Dr. Sérgio Barroso, director do Serviço de Oncologia do Hos-pital do Espírito Santo, em Évora, é acon-selhável encontrarem-se mecanismos e ferramentas que facilitem o diagnóstico precoce. «Numa fase inicial, a doença on-cológica é curável na maioria dos casos. Tratando-se do cancro colorrectal, o ras-treio é fundamental no combate desta neo-plasia. Os pólipos (crescimento anormal dentro da parede do intestino), que podem apresentar uma propensão para a doença maligna, devem ser detectados e removi-dos, evitando desta forma a evolução para tumor maligno. Ao ser implementado, o rastreio teria um impacto significativo na diminuição da mortalidade», corrobora.

Dr. Sérgio Barroso

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O 6.º Simpósio do Cancro Digestivo, um evento que se realiza em Albufeira, Al-garve, entre os dias 28 e 31 de Outubro, é promovido pelo Grupo de Estudos do Can-cro Digestivo (GECD), presidido pelo Dr. Evaristo Sanches, oncologista. Esta reunião, que conta com o apoio da Factor Chave, a agência oficial do GECD, para além de de-bater os avanços e controvérsias nesta área, terá uma sessão dedicada à intervenção dos enfermeiros que lidam com a patologia.

A 30 de Setembro, assinalou-se o Dia Na-cional do Cancro Digestivo, uma iniciativa que pretende sensibilizar a população para um tumor que atinge o esófago, cólon, rec-to, ânus, pâncreas, fígado e vias biliares. Só em Portugal, surgem, todos os anos, 5000 novos casos de cancro colorrectal.

Avanços e controvérsias

Alertar para os riscos

Page 6: Saúde Pública - Outubro 2010

É verdade que é mais saudável consu-mir água da torneira do que engarrafa-da? Porquê?

Os benefícios para a saúde, resultan-tes do consumo de água, estão directa-mente relacionados com a sua composi-ção físico-química, pelo que é difícil dizer se o consumo da água da torneira é mais saudável que o consumo de água engar-rafada, dada a grande variedade de águas engarrafadas que existem no mercado, com diversas composições físico-quími-cas. Aquilo que é possível afirmar é que o consumo de água da torneira é bené-fico para a saúde, uma vez que as águas distribuídas para consumo humano são, em regra, quimicamente equilibradas, ou seja, possuem na sua composição minerais e oligoelementos nas doses adequadas e essenciais para os proces-sos bioquímicos dos seres vivos, no caso, dos humanos. Acresce que o controlo da qualidade da água da torneira, de acordo com os exigentes critérios da legislação europeia e nacional, revelou em 2009 uma percentagem de cumprimento dos requisitos de qualidade de praticamente 98% nas mais de 600.000 análises reali-zadas, o que nos permite afirmar que o consumo da água da torneira é seguro, não pondo em risco a saúde humana.

Existem regiões do nosso País onde a água da torneira tem mais qualidade comparando com outras zonas?

O Relatório Anual do Sector de Águas e Resíduos em Portugal, disponível em www.ersar.pt, designadamente o seu vo-lume 4, relativo à qualidade da água para consumo humano, evidencia algumas assimetrias regionais. Assim, as zonas de abastecimento onde a qualidade da água apresenta melhores níveis corres-pondem à grande maioria do território e às regiões com maior concentração da população portuguesa, nomeadamente no litoral. É em algumas regiões do inte-rior do País que os resultados do contro-lo da qualidade da água são menos bons, designadamente em pequenas zonas de abastecimento que servem menos de 5000 habitantes, com maiores carências de recursos humanos, técnicos e finan-ceiros, havendo portanto que ser feito um esforço para melhorar o desempenho dessas situações.

É verdade que devemos alternar as marcas de água engarra-fada, por exemplo, uns tempos bebe-se Luso e outros Caramulo?

Aquilo que as pessoas, sem patologias específicas que imponham o consumo de água com uma determinada composição química, devem procurar assegurar na água que consomem é que seja salubre, limpa e quimicamente equilibrada.

Os purifi cadores de água realmente fazem diferença?

A eventual aquisição de um purificador de água deve ser ponderada relativamen-te à qualidade da água que as pessoas têm disponível na torneira, ou seja, é funda-mental saber aquilo que o purificador faz e se a água efectivamente necessita desse tratamento. O que recomendamos é que, em caso de dúvida, e antes de se decidi-rem pela aquisição de um equipamento doméstico para o tratamento da água, as pessoas afiram, junto das suas entidades gestoras dos serviços públicos de abaste-cimento de água, a qualidade da água que têm disponível na torneira. É naturalmen-te um desperdício de recursos financeiros, técnicos e até ambientais tratar uma água que não necessita desse tratamento.

Poderá a água da torneira ser uma das principais fontes de minerais essenciais para o nosso organismo, como o cálcio, o magnésio e o sódio?

A água da torneira é, sem dúvida, uma das fontes dos minerais referidos, pelo que o seu consumo contribui de uma forma de-cisiva para a dose diária total destes ele-mentos que devemos ingerir. Aliás, apesar de a legislação europeia não contemplar o

controlo dos níveis de cálcio e magnésio na água da torneira, Portugal decidiu acres-centar estes dois elementos, juntamente com a dureza total, à lista de parâmetros a controlar na água e definiu valores re-comendáveis para os mesmos, através do Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de Agosto.

Os portugueses consomem mais água da torneira ou engarrafada? Porquê?

Consomem muito mais água da tornei-ra, em média 150 litros por dia, ou seja, 4,5 m3 por mês. No entanto, se falarmos ape-nas na parcela que é ingerida, há a per-cepção de que os Portugueses consomem mais água engarrafada do que água da torneira. Este fenómeno não é específico de Portugal, acontecendo um pouco por todo o Mundo, e está associado a um estilo de vida, aliado à grande oferta e variedade de marcas de água engarrafada dispo-níveis no mercado. Em Portugal, parece concorrer também para este fenómeno alguma desconfiança e insatisfação com

a qualidade da água da torneira, devidas a situações passadas e que há já alguns anos foram ultrapassadas. Efectivamen-te, e como já foi referido, a água da tornei-ra em Portugal é de confiança.

Salienta-se que, entre nós, já se tra-balha em matérias como o esquema de aprovação nacional dos produtos e mate-riais em contacto com a água para consu-mo humano e os planos de segurança da

água, que colocam este sector no que de melhor se faz na Europa e no Mundo. Tal só é possível porque foi atingida uma si-tuação de base em que a quase universa-lidade da população dispõe de uma água de boa qualidade fornecida pelos serviços públicos de abastecimento. Por estes mo-tivos, a desconfiança e a insatisfação com a qualidade da água são infundadas e es-tamos certos de que esta tendência será invertida, uma vez que em Portugal se tem vindo a verificar uma melhoria consisten-te da qualidade da água da torneira.

Sendo a qualidade o factor decisivo, são, no nosso entendimento, também factores potenciadores para o consumo da água da torneira o facto de a sua produção emitir apenas 0,2 g de CO2 por litro e o seu custo ser, em média, de 0,10 cêntimos por litro.

Os consumidores portugueses têm, por norma, confi ança na qualidade da água que utilizam?

O último estudo que realizámos relati-vo à percepção pública da qualidade dos serviços de águas e resíduos revelou que 89% dos Portugueses consideram que a qualidade do serviço de abastecimento de água é boa ou média.

Também constatámos que cerca de 45% dos portugueses bebe água engar-rafada porque ou está descontente com a sua qualidade ou não confia na mesma.

Estes dados demonstram que as melho-rias verificadas na qualidade da água para consumo humano nos últimos anos, como atestam os relatórios anuais publicados por esta Entidade, ainda não são acompanhadas de uma mudança de comportamento dos Portugueses face à água que bebem.

Com efeito, é objectivo de todos os ac-tores deste sector que a desconfiança ou o descontentamento com a qualidade da água da rede de distribuição pública não sejam critérios para a escolha da água destinada ao consumo humano.

Na verdade, como temos demonstrado activamente em diversas iniciativas, a água da torneira é uma água de confiança.

Isto

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6 • SÁBADO, 9 DE OUTUBRO 2010

A qualidade da água para consumo humano

em Portugal

Dr. Luís SimasDirector do Departa-mento da Qualidade da Água da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR)

D. R

.

Segurança e qualidades da água da torneira estão confirmadas em análises

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Quais as bases de cooperação estabe-lecidas no acordo?

O acordo estabelecido vem assegu-rar a prestação de cuidados de saúde na área da Medicina Física e de Reabi-litação a todos os utentes provenientes da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, abrangendo assim uma população de mais de 3.500.000 habitantes. Isto significa que estamos a aumentar em muito o acesso a serviços especializa-dos e que só o CMRA pode oferecer a nível nacional.

Os médicos dos hospitais e centros de saúde poderão agora referenciar uten-tes para o CMRA?

Sim, o acesso dos utentes à prestação de cuidados abrangidos pelo acordo pro-cessa-se por referenciação dos hospitais e cuidados de saúde primários da RSLVT. A referenciação hospitalar destina-se a internamento. Os centros de saúde en-

caminham os pacientes para os hospitais apro-priados ou referenciam, directamente, para a realização de exames no âmbito do Centro de Mobilidade (avaliação da capacidade de condução), Laboratório de Marcha e Laboratório de Análi-se da Posição de Senta-do. O CMRA deve, ainda, assegurar as consultas externas e os tratamen-tos em ambulatório que se mostrem ne-cessários à continuidade dos cuidados a utentes anteriormente internados. Dentro das patologias passíveis de referenciação estão os acidentes vasculares cerebrais, traumatismos cranioencefálicos, lesões medulares, paralisias cerebrais e poli-traumatizados, entre outras causadoras de sequelas incapacitantes.

Como se processa a referenciação de utentes por parte dos hospitais?

O CMRA obriga-se a efectuar a avaliação da proposta de interna-mento e a responder ao hospital referenciador, no prazo de três dias úteis, e realizar a con-sulta no prazo máximo de cinco dias úteis. No que diz respeito à alta, o CMRA elaborará um

relatório onde conste o plano de rea-bilitação e os tratamentos efectuados, assim como da situação funcional para o hospital referenciador e para o médi-co de família, que decorrem do sistema de classificação de utentes utilizado pelo CMRA e da qual temos excelentes resultados no Benchmarking Clínico efectuado.

E no que diz respeito à referenciação por parte dos centros de saúde. Como funciona?

O médico de família referencia utentes para a realização dos exames comple-mentares de diagnóstico. O CMRA obriga--se a realizar os exames no prazo máximo de 30 dias a contar da data de recepção do título de referenciação. Após a conclusão da avaliação, o CMRA enviará o relatório respectivo ao médico de família.

Quais as principais vantagens do acor-do para a SCML?

Com este acordo, o CMRA passa a ser o Centro de Reabilitação da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, nos termos da Rede de Referenciação Hospitalar de Medicina Física e de Reabilitação, contribuindo assim para um aumento indispensável de ganhos em saúde nesta área. Segundo esta rede, os centros de reabilitação devem funcionar em perfeita articulação com os Serviços de Me-dicina Física e de Reabilitação dos Hospitais da Região e com as diferentes unidades in-tegrantes dos cuidados extra-hospitalares. Pretendemos também melhorar a resposta na prestação de cuidados de saúde a utentes que carecem de intervenção subsequente à alta hospitalar, em situações graves, mas com potencial de recuperação, reabilitação e integração social.

ARSLVT e SCML acordam atendimento de utentes do SNS no Centro de Medicina de Reabilitação do Alcoitão

SÁBADO, 9 DE OUTUBRO 2010 • 7

O Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA) assinou um acordo de cooperação entre a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo

(ARSLVT) e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para atendimento de utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) no CMRA. O administrador delegado do

CMRA, Dr. Pedro Reis, explica as vantagens deste acordo.

Dr. Pedro Reis

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Bruno Miguel Dias

Nos dias de hoje, a saúde alimentar assume uma importância crescen-te e uma das suas componentes

mais determinantes é a saúde animal. Os produtos de origem animal são uma das principais bases da nossa alimentação e fonte de proteínas por excelência.

A Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) – mais concre-tamente a CESA (Comissão Especializada de Saúde Animal) – desempenha um papel importante junto dos seus associados, no sentido destes zelarem para que a utiliza-ção dos medicamentos e produtos veteri-nários se processe de forma a assegurar que os produtos de origem animal que chegam à mesa dos portugueses tenham uma qualidade inquestionável.

Uma das principais vertentes da saú-de alimentar é a questão da segurança e a garantia de que os animais possam ser produzidos com saúde e em condições de bem-estar animal. Em suma, é necessá-rio que a produção alimentar seja feita a partir de animais saudáveis.

O Dr. Luís Pereira é vice-presidente da CESA e afirma que, para garantir este fim, tem de existir um controlo de doen-ças, algo que a produção de alimentos de alta qualidade exige e que tem reflexos na saúde pública.

Este responsável lembra que «a maior fonte de proteínas na alimentação huma-na é de origem animal e só assegurando que esses animais são produzidos com respeito pelas regras de bem-estar e de segurança alimentar se pode conseguir um produto final de qualidade».

«Trata-se de um processo que envol-ve uma série de agentes. Não somente a indústria, mas também os produtores, os próprios médicos veterinários, cadeias de distribuição e autoridades de fiscali-

zação», portanto, reforça, «existem uma série de intervenientes neste processo e que devem olhar para ele em conjunto e trabalhar para um objectivo comum», sa-lienta Luís Pereira.

A acção da CESA

O vice-presidente da CESA assegura que existe uma correlação muito forte entre a saúde animal e a saúde humana e explica qual o papel desta estrutura da Apifarma:

«A Apifarma representa, no sector veterinário, 18 empresas em Portugal e

que empregam umas centenas de profis-sionais do sector, técnicos qualificados que exercem a sua actividade de forma a garantir que a segurança alimentar se inicia logo no processo de investigação dos medicamentos.»

A investigação e desenvolvimento de um medicamento, desde a sua pesquisa até à sua comercialização, é um processo exigen-te, muito escrutinado nas diferentes fases e que decorre ao longo de vários anos. Luís Pereira admite que, fora do sector, muitas vezes não há a noção de como é que os me-dicamentos veterinários são produzidos.

«O seu processo de produção é muito semelhante ao da produção de medica-mentos para uso em humanos e, na maior parte das empresas, tem origem nos cen-tros de investigação, que em muitos casos são comuns aos dois tipos de universo. Aliás, há mesmo casos de medicamentos que começam a ser desenvolvidos para humanos e que acabam por ser adequa-dos ao universo animal.»

Luís Pereira frisa que todo o proces-so de registo é tão rigoroso como para os medicamentos humanos, obedecendo aos três princípios básicos da eficácia, se-gurança e qualidade, e continuando esse escrutínio após a comercialização, com a farmacovigilância, à semelhança do que sucede com os medicamentos humanos.

Outra das preocupações da indústria far-macêutica veterinária é o uso racional dos medicamentos. Para esse efeito, está repre-sentada e é um dos participantes mais activo na Plataforma Europeia para o Uso Racional

de Medicamentos, em que a indústria traba-lha em conjunto com as associações de pro-dutores e com os profissionais, no sentido de os sensibilizar para a correcta administra-ção e utilização dos medicamentos.

«De forma simples, para que seja por todos entendido, um lema que temos é o de que a utilização dos antimicrobianos deve ser a menor possível, mas tanta quanto necessária», afirma Luís Pereira.

Em paralelo, o vice-presidente da CESA recorda que têm sido também conduzidas acções de formação através de protocolos com a Ordem dos Médicos Veterinários, além da política de relações pedagógica com os produtores, «para que possa ser feita a sua sensibilização e possam trans-mitir informação correcta aos consumido-res, num lema que é já famoso: “Do prado ao prato”».

Da mesma forma, tem sido aprofunda-do o relacionamento com as autoridades do sector e, designadamente, a entidade competente no âmbito dos medicamentos

veterinários, a Direcção-Geral de Veteri-nária, aproveitando as sinergias desta en-quanto autoridade veterinária nacional.

A comunicação como aliada

O segredo do sucesso para Luís Perei-ra está na conjugação de esforços e, nes-te âmbito, afiança que se está «no bom

caminho, embora certamente haja ainda muito trabalho a fazer».

«É certo que, por vezes, os pontos de vista são diferentes, mas quando o tema diz respeito à segurança alimentar temos de olhar para todos os intervenientes des-te processo como parceiros e trabalhar activamente para um objectivo comum. É essencial que todos os agentes, indepen-dentemente dos objectivos que têm delinea-dos internamente, quando se trata de segu-rança alimentar, estabeleçam um objectivo comum e possam trabalhar em conjunto», afirma Luís Pereira, acrescentando que «os consumidores têm mais e melhor acesso a informação, mas, infelizmente, nem sem-pre é a informação correcta, pelo que é im-perativo que estas acções de sensibilização contribuam para que inverdades ou meias-verdades muitas vezes repetidas não se tor-nem verdades absolutas».

Os portugueses estão cada vez mais atentos à questão da alimentação. Além de escolherem melhor a sua

dieta, a preocupação com a qualidade dos produtos é uma realidade a que indústria farmacêutica veteriná-ria, através da CESA, dedica uma especial atenção.

Saúde animal condiciona qualidade alimentar

8 • SÁBADO, 9 DE OUTUBRO 2010

Dr. Luís Pereira

Muito já foi percorrido, mas há a no-ção clara de que há trabalho para fazer. Luís Pereira lembra que «já

se melhorou bastante em termos de fisca-lização», mas há pontos que exigem uma atenção particular.

«Um aspecto que nos preocupa espe-cialmente diz respeito ao comércio ilegal. Embora nesta área seja complicado ter marcadores objectivos, sabemos que já foi um mercado com muito mais influên-cia. Trata-se de uma tendência que foi in-vertida graças à boa acção da fiscalização. São medicamentos que não conhecemos e que entravam no país de uma forma ilegal, não dando qualquer tipo de garantias aos produtores, apesar de muitas vezes se-rem aliciantes, nomeadamente devido ao preço mais baixo.»

Em termos gerais, acrescenta, «o ba-lanço que o produtor tem que fazer é que

não compensa enveredar por esse cami-nho. Muito se tem feito nos últimos anos e a área da produção animal é das mais con-troladas na perspectiva do consumidor de alimentos. No futuro, tem de se incentivar ainda mais essa fiscalização activa e tam-bém realizar mais acções de sensibiliza-ção junto dos produtores e dos próprios consumidores, que hoje, felizmente, já são bastante mais esclarecidos.»

A terminar, o vice-presidente da CESA refere que «os consumidores podem estar tranquilos quanto à qualidade dos alimen-tos de origem animal que consomem». E lembra que, tendo em conta a evolução dos últimos anos, há razões para confiar no sis-tema, graças a uma fiscalização que se dis-tribui por vários níveis «e que não é somente a que a ASAE leva a cabo e que, apesar de ser fundamental, acaba por ser a única que é mediaticamente conhecida», termina.

O flagelo dos medicamentos ilegais

As questões relacionadas com a saúde animal estão cada vez mais na ordem do dia. Neste contexto, a Comissão Especia-lizada de Saúde Animal (CESA), enquanto órgão da Apifarma, trabalha, em conjunto com os organismos da tutela, sobre os as-pectos regulamentadores desta actividade.

Constituída por um número máximo de sete elementos e com assento na Fede-ração Internacional para a Saúde Animal (IFAH), a CESA desenvolve todas as ini-ciativas necessárias ao reconhecimento do sector, em estreita consonância com a promoção da saúde pública.

A CESA tem vindo igualmente a pro-mover estudos de mercado de utilização de medicamentos e o estudo da factura-ção dos produtos veterinários, de forma a que possa ser traçado o perfil do merca-do da saúde animal.

O que é a CESA?

A CESA procura garantir a segurança dos produtos de origem animal