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Saúde Faculdade Santa Emília de Rodat ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012 ISSN 2177-9082 AS VARIAÇÕES DE GÊNERO E IDADE NA PRÁTICA DA ODONTOLOGIA RESTAURADORA HANSENÍASE: UM EVENTO INFECCIOSO PROGRESSIVAMENTE ESTIGMATIZADO AS VARIAÇÕES DE GÊNERO E IDADE NA PRÁTICA DA ODONTOLOGIA RESTAURADORA HANSENÍASE: UM EVENTO INFECCIOSO PROGRESSIVAMENTE ESTIGMATIZADO

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SaúdeFaculdade Santa Emília de Rodat AN

O II

I - N

º 8

- FEV

EREI

RO/2

012

ISSN

217

7-90

82

AS VARIAÇÕES DE GÊNERO E IDADE NA PRÁTICA DA ODONTOLOGIARESTAURADORA

HANSENÍASE: UM EVENTO INFECCIOSO PROGRESSIVAMENTEESTIGMATIZADO

AS VARIAÇÕES DE GÊNERO E IDADE NA PRÁTICA DA ODONTOLOGIARESTAURADORA

HANSENÍASE: UM EVENTO INFECCIOSO PROGRESSIVAMENTEESTIGMATIZADO

Sum

ário

Artigo 03PAG. 18

AS VARIAÇÕES DE GÊNERO E IDADE

NA PRÁTICA DA ODONTOLOGIA

RESTAURADORA

Artigo 05PAG. 28

REPERCUSSÕES DA MASTECTOMIANA MULHER COM CÂNCER DEMAMA

ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO:

DEMANDA DOS USUÁRIOS NA

ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

PAG. 12

Artigo 02

HANSENÍASE: UM EVENTO

INFECCIOSO PROGRESSIVAMENTE

ESTIGMATIZADO

PAG. 04

Artigo 01

Artigo 04 PAG. 22

TRANSPLANTE DENTÁRIO: UMAREVISÃO DA LITERATURA

NORMAS PAG. 34

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

Das patologias, de origem infecciosa ou não, que

afetam o ser humano, as que ocasionam maiores impactos

são aquelas que promovem destruição tecidual, causando

deformidades visíveis, pois, além dos danos ao organismo,

também promovem abalo na psique do indivíduo, trazendo

estigmas que marcam muito mais profundo que as

cicatrizes das doenças. Por esta razão, o atendimento do

profissional de saúde a este paciente não deve ser

direcionado apenas a patologia em si, mas também ao

psicológico do paciente. Espero que os artigos aqui

apresentados auxiliem neste contexto. Boa leitura e bom

aprendizado.

Prof Ms Pedro Marcos Carneiro da Cunha Filho

Editorial Direção AdministrativaProf Maria da Glória Uchôa dos Santos

Prof Ana Cristina de Oliveira Borba Paulino

Prof Maria Zilene Mendonça do Prado

a

a

a

EnfermagemMestra em Administração Sanitária eHospitalar (Suficiência Investigatória - UNEXEspanha)

AdministraçãoMestra em Administração Sanitária eHospitalar (Suficiência Investigatória - UNEXEspanha)

EnfermagemMestra em Enfermagem – UFRJ

Coordenação TécnicaProf Pedro Marcos Carneiro da Cunha Filhoo

Zootecnia – Mestre

Corpo EditorialAna Flávia de Oliveira Borba CoutinhoCíntia Bezerra AlmeidaElry Medeiros Vieira NetoFernandes Antônio Brasileiro RodriguesGlaydes Nely Sousa da SilvaGustavo Gomes AgripinoIdeltônio José Feitosa BarbosaIsabela Albuquerque PassosJaqueline Oliveira de Paiva FerreiraJosé Carlos da SilvaLuciana Teles CarneiroMaria Carmen de Araújo Melo JardimMaria Clemilde de SousaMaria de Fátima Gabino SiqueiraMaria de Fátima de Oliveira CoutinhoMaria do Carmo Braga AlvarizaMaria Eliane de Araújo MoreiraMarinei GrottaRovênia Maria de Oliveira ToscanoWilma Dias Fontes

Projeto GráficoGleryston Farias

0304 ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012

HANSENÍASE: UM EVENTO INFECCIOSO PROGRESSIVAMENTEESTIGMATIZADO

Leprosy: an infectious event, progressively stigmatized

Pedro Marcos Carneiro da Cunha Filho¹; Nieje Barbosa deAlmeida².

1. Prof Ms Imunologia FASER ([email protected]);

2. Discente de Enfermagem FASER ( ).

A hanseníase é uma patologia de origem infecto-contagiosa, de evolução lenta, que se explana, sobretudo por meio desinais e sintomas dermatoneurológicos: lesões na pele e nos nervos periféricos, principalmente nos olhos, mãos e pés.Trata-se de uma enfermidade milenar que traz consigo a marca do preconceito, discriminação e exclusão social desde oseu surgimento. Diante do exposto, o estudo tem por objetivo, identificar à luz da literatura pertinente ao tema ahanseníase como uma doença de origem infecciosa que apresenta um estigma nos dias atuais, ainda predominante.Tratou-se de um estudo, com caráter bibliográfico, baseado na literatura pertinente ao tema, desenvolvido no acervobibliográfico da Faculdade Santa Emília de Rodat (FASER), bem como em outras fontes, tais como revistas e sitesindexados da internet, fundamentados à luz da literatura pertinente ao tema. A referida literatura aborda que a falta deinformações sobre o modo de transmissão, controle e cura da doença, bem como o medo da exclusão social,contribuíram para que a hanseníase se tornasse uma doença temida nas populações. O estigma e o preconceitoassociados à doença ameaçadora e fatal do passado permanecem no imaginário da sociedade remetendo os indivíduosao tabu da morte e mutilação, trazendo grande sofrimento psíquico aos seus portadores com sérias repercussões emsua vida pessoal e profissional. A hanseníase diferencia-se das demais doenças pelo estigma social que acompanha amoléstia durante vários séculos. O doente de hanseníase era visto como o “senhor do perigo e da morte”, o que levou oestabelecimento de medidas discriminatórias com relação a esses indivíduos. Conclui-se que embora, atualmente ahanseníase tenha tratamento e cura, o estigma e o preconceito permanecem enraizados em nossa cultura e dificultam oindivíduo no enfrentamento da doença, trazendo-lhes sérias repercussões em sua vida pessoal e profissional.

Palavras chave: Hanseníase, Infecção, Estigma.

Leprosy is a disease of infectious origin, of slow growth, which explains, in particular by means of signs and symptomsdermatoneurological: skin lesions and peripheral nerves, especially in the eyes, hands and feet. It is an ancient diseasethat carries the brand of prejudice, discrimination and social exclusion since its inception. In this light, the study aims toidentify the light of the literature concerning the matter leprosy as an infectious disease that has a stigma these days, stillprevalent. It was a study with bibliographical character, based on the literature pertaining to the theme, developed inbibliographic College of Santa Emilia Rodat (faser), as well as other sources such as magazines and Internet sites indexed,based on light the literature concerning the matter. Such literature addresses the lack of information about the mode oftransmission, control and cure of the disease, as well as the fear of social exclusion, contributed to leprosy became adreaded disease in populations. The stigma and prejudice associated with threatening and fatal disease of the pastremain in the minds of society by referring individuals to the taboo of death and mutilation, bringing great psychologicaldistress to their patients with serious repercussions on their personal and professional life. Leprosy is differentiatedfrom other diseases by the social stigma attached to the disease for several centuries. Sick of leprosy was seen as the"lord of danger and death," which prompted the establishment of discriminatory measures with respect to these

RESUMO

ABSTRACT

[email protected]

Artigo 01

individuals. It is concluded that although currently has leprosy treatment and cure, stigma and prejudice remain rootedin our culture and hinder the individual in coping with the disease, bringing them serious repercussions on theirpersonal and professional life.

Keywords: Leprosy, Infection, Stigma.

A hanseníase é uma enfermidade milenar que traz consigo a marca do preconceito, discriminação e exclusãosocial desde o seu surgimento. Durante um longo tempo os indivíduos foram rejeitados pela sociedade, família e amigose condenados a viver em total situação de privação perdendo o contato com o mundo externo para evitar acontaminação. O estigma se faz presente desde os tempos bíblicos e continua fazendo parte do imaginário das pessoasainda nos dias atuais.

A falta de informações sobre o modo de transmissão, controle e cura da doença, bem como o medo da exclusãosocial, contribuíram para que a hanseníase se tornasse uma doença temida nas populações medievais.

A hanseníase diferencia-se das demais doenças pelo estigma social que acompanha a moléstia durante váriosséculos. O doente de hanseníase era visto como o “senhor do perigo e da morte”, o que levou o estabelecimento demedidas discriminatórias com relação a esses indivíduos.

A partir de 1942, com o surgimento da dapsona, ocorreu um profundo avanço no tratamento da hanseníase,que até então era baseado na segregação e isolamento dos pacientes, mesmo assim, o pensamento associado à doençado passado, o desconhecimento e a falta de informações continua envolvendo a moléstia nos dias atuais.

Este estudo objetivou identificar a partir da literatura pertinente ao tema a hanseníase como uma doença deorigem infecciosa que apresenta um estigma nos dias atuais, ainda predominante.

Esse trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa do tipo bibliográfica, de característica exploratóriadescritiva. Entende-se por pesquisa bibliográfica descritiva, a pesquisa que é desenvolvida com base em material jáelaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, e que tem como objetivo primordial a descrição dascaracterísticas de determinadas populações ou fenômenos .

A pesquisa foi realizada na biblioteca João Paulo II da faculdade Santa Emília de Rodat (FASER), localizada emJoão Pessoa Paraíba. Também foram utilizados artigos científicos disponíveis no meio virtual: Scielo, Bireme, entreoutros.

A pesquisa foi executada entre as datas de 10 de maio a 18 de agosto do corrente ano, durante esse tempobuscou-se informações relevantes a respeito da resolução do problema proposto, e dentre elas as mais relevantesencontram-se referenciadas nesse trabalho.

Introdução

Objetivo

Metodologia

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2

4

3

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05

06 ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012

Discussão

A milenar doença hanseníase, denominada durante muitos séculos por lepra, ainda traz contemporaneamentearraigada ao seu nome, o preconceito e discriminação daqueles que a desenvolveram. Esta situação é originadabasicamente em função da generalizada falta de informação por parte da população ao seu respeito. Atualmente ahanseníase tem cura, o tratamento é gratuito e feito em nível ambulatorial desde a década de 50 como representado nafigura 1.

Atualmente as pessoas acometidas pela doença, não necessitam mais de internação, porém no passado emconseqüência da inexistência de medicamentos eficazes, era imprescindível que o fizessem. No momento em que eramdiagnosticados como “leprosas”, costumavam ser encaminhados para grandes instituições, longe das cidades, de ondepraticamente nunca mais sairiam, eram os chamados “leprosários”. Estas instituições foram responsáveis por umtratamento excludente ao longo dos séculos, e acarretaram como conseqüência a produção de uma imagem de “horror àdoença”, tendo como conseqüência um profundo estigma social ao simples contato com o doente, uma vez que esteapresentava em geral, lesões ulcerantes na pele, e deformidades nas extremidades. Esta desfiguração do “leproso”provocou horror ao doente, a doença, e até mesmo, aos seus familiares. As imagens dos leprosários estão representadas aseguir na figura 2.

3, 8

8,10

Figura 1: Distribuição gratuita de medicamentos para hanseníase.

Fonte: Fontoura, 2008.

Figura 2: Imagens de Leprosários no Brasil em tempos passados.

Fonte: Barbosa, 2009.

07

Hanseníase pode ser caracterizada como uma doença infecto-contagiosa de evolução crônica, cujasmanifestações clínicas têm predominância na pele e/ou nervos periféricos. Seu agente causador é o Mycobacteriumleprae ou bacilo de Hansen, tratando-se de uma bactéria parasitária intracelular, que se instala nas células cutâneas ou nascélulas de nervos periféricos podendo se multiplicar.

O início da doença ocorre, na maioria das vezes, com sensações parestésicas de extremidades e/ou por manchashipocrômicas ou eritemato- hipocrômicas, com alterações de sensibilidade (térmica, dolorosa e táctil). O quadroneurológico ocorre apenas nos nervos periféricos, quando a extensão da própria lesão cutânea compromete os troncosnervosos, na maioria das vezes, por metástases bacilares O Mycobacterium leprae ataca as fibras do sistema nervosoperiférico sensitivo, motor e autônomo.

O comprometimento dos nervos periféricos é a característica principal da doença, dando-lhe um grande potencialpara provocar incapacidades físicas que podem, inclusive, evoluir para deformidades (figura 3). Estas incapacidades edeformidades podem acarretar alguns problemas, tais como diminuição da capacidade de trabalho, limitação da vidasocial e problemas psicológicos. São responsáveis, também, pelo estigma e preconceito contra a doença.

O Brasil hoje é o segundo país em número absoluto de casos de Hanseníase, apresentando uma taxa deprevalência de 1.5 casos/ 10.000 habitantes, ficando apenas atrás da Índia, posição lastimável, considerando que estadoença há muito tempo encontra-se erradicada nos países do primeiro mundo.

O homem é considerado a única fonte de infecção da hanseníase. O contágio dá-se através de uma pessoa doente,portadora do bacilo de Hansen, não tratada, que o elimina para o meio exterior, contagiando pessoas susceptíveis (figura4). A principal via de eliminação do bacilo, pelo indivíduo doente de hanseníase, e a mais provável porta de entrada noorganismo passível de ser infectado são as vias aéreas.

3

1

9

1

1

Figura 3: Incapacidade física gerada pela hanseníase.

Fonte: ParadaDEZ, 2010.

Figura 4: Modo de contágio e fonte de infecção.

Fonte: Silva, 2009.

08 ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012

A Hanseníase possui formas clínicas, derivadas de duas principais: a paucibacilar, que se manifesta através depoucas manchas dormentes, esbranquiçadas ou avermelhadas e a multibacilar, a forma contagiosa cujos pacientes semtratamento, eliminam os bacilos através do aparelho respiratório superior (secreções nasais, gotículas da fala, tosse,espirro). O paciente em tratamento regular ou que já recebeu alta, não transmite.

As classificações mais usadas no Brasil são as de Madri (Congresso Internacional, 1953) e de Ridley e Jopling. Nade Madri, consideram-se dois pólos estáveis e opostos (virchowiano e tuberculóide) e dois grupos instáveis(indeterminado e dimorfo), que caminhariam para um dos pólos, na evolução natural da doença.

Classificação da Hanseníase:

· . As lesões da HI surgem após um período de incubação que varia, em média, dedois a cinco anos. Caracteriza-se pelo aparecimento de manchas hipocrômicas, com alteração de sensibilidade, ousimplesmente por áreas de hipoestesia na pele (figura 5). As lesões são em pequeno número e podem se localizar emqualquer área da pele;

· . Nesta forma clínica, encontram-se lesões bem delimitadas, em númeroreduzido, anestésicas e de distribuição assimétrica. Descrevem-se lesões em placas ou anulares com bordas papulosas,e áreas da pele eritematosas ou hipocrômicas, como pode ser observado na figura 6;

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6

Hanseníase Indeterminada (HI)

Hanseníase Tuberculóide (HT)

Figura 5: Forma Indeterminada da Hanseníase.Fonte: Fundação Hanseníase, 2011.

Figura 6: Forma Tuberculoide da Hanseníase.Fonte: Fundação Pro-Hansen, 2011.

09

· . Trata-se de forma multibacilar, reconhecida por corresponder ao pólo de baixaresistência, dentro do espectro imunológico da doença. Portanto, manifesta-se naqueles indivíduos que apresentamimunidade celular deprimida para o Mycobacterium leprae (figura 7);

· . Este grupo é caracterizado por sua instabilidade imunológica, o que faz com que hajagrande variação em suas manifestações clínicas, seja na pele, nos nervos, ou no comprometimento sistêmico. As lesõesda pele revelam-se numerosas e a sua morfologia mescla aspectos de HV e HT, podendo haver predominância ora deum, ora de outro tipo (figura 8).

Quando o indivíduo possui alguma diferença que constitua uma dificuldade para a sua aceitação integral nasociedade, considera-se estigmatizado. Dificuldades no relacionamento podem ser observadas tanto nas relações maisíntimas da pessoa como nas relações sociais mais distanciadas. Essas dificuldades assumem características diversas,influenciadas pela forma de reação do acometido, bem como em função da maior ou menor solidariedade que se deva aesse indivíduo.

O estigma e o preconceito associados à doença ameaçadora e fatal do passado permanecem no imaginário da

Hanseníase Virchowiana (HV)

Hanseníase Dimorfa (HD)

12

Figura 7: Forma Virchowiana da Hanseníase.

Fonte: Coutinho; Silva, 2009.

Figura 8: Forma Dimorfa da Hanseníase.Fonte: Coutinho, 2009.

10 ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012

sociedade remetendo os indivíduos ao tabu da morte e mutilação, trazendo grande sofrimento psíquico aos seusportadores com sérias repercussões em sua vida pessoal e profissional.

Um individuo portador de hanseníase sofre, as representações que permanecem no imaginário popular sobre adoença desde a antiguidade são aquelas ligadas à mutilação, à “doença que faz cair partes do corpo”. Como não havianenhum tipo de tratamento até meados do século XX, as mutilações eram muito comuns, e devido ao horror que aspessoas mutiladas causavam estas eram isoladas do convívio social. Estas representações geraram um conceito sobre ahanseníase, vista como um castigo divino, e o doente era considerado uma pessoa suja, contaminada, mutilada, quecausava medo e deveria se evitada. A partir deste preconceito já estabelecido, constrói-se o estigma, transformando opaciente de hanseníase no “leproso”, ou seja, uma pessoa marcada socialmente.

O doente de hanseníase passa por inúmeros conflitos como perda de capacidade laborativa, modificação docorpo, com o aparecimento das deformidades, discriminação, preconceito e alteração de sua auto-estima. Os doentesque apresentam sinais da doença mais pronunciados como manchas em partes visíveis do corpo ou deformidadesfísicas encontram-se numa situação de estigma ainda mais pronunciado. Para esses indivíduos, é muito difícil, arranjarum emprego, ter amigos, procurar uma companheira a constituir uma família. "Isolado, o indivíduo internaliza algumtipo de culpa". Mesmo ele conseguindo esconder muito bem a doença, a preocupação de ser descoberto é umtormento, principalmente para os mais jovens.

Visto ser a hanseníase uma doença curável em todas as suas formas, o seu maior problema se encontra tanto noâmbito médico como no social. O estigma contra os pacientes de lepra afeta todos os aspectos de controle da doença. Épreciso, portanto, conscientizar a população a tomar atitude com relação à hanseníase sem exagerar e nem minimizar osperigos da doença.

A Hanseníase é uma patologia existente de modo milenar, demasiadamente arcaica, que traz consigo a marcado preconceito, discriminação e exclusão social desde o seu exórdio, prosseguindo de tal forma até os dias atuais.

Durante um extenso tempo os indivíduos foram resignados pela sociedade, família e amigos e condenados aviver em total situação de privação perdendo o contato com o mundo externo para evitar a contaminação. O estigmanotoriamente se faz presente desde os tempos bíblicos, e continua fazendo parte do imaginário das pessoas ainda nosdias atuais, fazendo com as mesmas repudiem pacientes portadores da hanseníase.

Percebe-se que embora, atualmente a hanseníase tenha tratamento e cura, o estigma e o preconceitopermanecem enraizados em nossa cultura e dificultam o indivíduo no enfrentamento da doença, trazendo-lhes sériasrepercussões em sua vida pessoal e profissional.

A hanseníase deixa profundas cicatrizes no ser humano, o estigma permanece em seu corpo, em sua mente eem sua alma. A vida dos portadores de hanseníase sofre grandes transformações devido às perdas que vão se efetivandoao longo dos anos. As mudanças ocorridas no corpo, à rejeição e o abandono da família, dos amigos, a perda doemprego, do padrão de vida e da sua saúde em geral, pelos intermináveis tratamentos a que são submetidos, sãosituações que são trazidas pela doença e passam a fazer parte do seu cotidiano. O doente de hanseníase carece resgatarseus vínculos e valores, recuperar sua auto-estima, compartilhar sentimentos e relacionar-se para integrar-se ao mundoreal.

Acredita-se ser de essencial importância oferecer na rede pública um trabalho com uma equipe de saúde, comabordagem interdisciplinar, que gere a educação em saúde para a população em geral e, contribua de modo significativopara que estes sujeitos deparem seus valores como seres integrantes da sociedade, ajudando-os no seu processo de

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Considerações finais

11

reintegração e reinserção social.

1. BRASIL, Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção Básica. Guia parao controle da hanseníase. Brasília; 2002.

2. CUNHA, A.Z.S. Hanseníase: aspectos da evolução do diagnóstico, tratamento e controle. Ciência & SaúdeColetiva, 2002.

3. BAIALARD, K.S. O estigma da hanseníase: relato de experiência em grupo com pessoas portadoras. Hansen Int,2007.

4. GARCIA, J.R.L. Entre a “loucura” e a hanseníase: interfaces históricas das práticas e políticas instituídas.Hansenologia Internationalis, 2001.

5. G A L L O , M . E . N . E s p e c i a l s o b r e H a n s e n í a s e . D i s p o n í v e l e m :http://www.fiocruz.br/ccs/glossario/hanseniase.htm Site consultado em novembro de 2011.

6. MARCELO, G.A. Hanseníase no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2003.

7. MINISTERIO DA SAUDE. Portaria Nº 1073/GM de 26 de setembro de 2000. Publicada no D.O.U. - 188-E -pg 18 -Seção 1 - 28 de setembro, 2005.

8. MACIEL, L.R. A solução de um mal que é um flagelo: notas históricas sobre hanseníase no Brasil do século XX. In:Nascimento DR, Carvalho DM. Uma história Brasileira das doenças. Brasília, 2004.

9. LANA, F.C.F, AMARAL EP, LANZA F.M. Hanseníase em menores de 15 anos no Vale do Jequintinhonha, MinasGerais, Brasil. Rev Bras Enferm, 2007.

10. BORENSTEIN, MS, RIBEIRO, A.A.A, MOREIRA, A.R. Hospital Colônia Santa Teresa: o cotidiano dos pacientesinstitucionalizados no sul do Brasil (1940-1960). Temperamentum 2005; 2. [citado em: 11 jan 2006]. Disponível em:

11. MARIA, J.S; DANIELI, D. Estudo do Comportamento social dos pacientes de hanseníase do município de SãoCarlos- SP. Revista Espaço para a Saúde, Londrina. v.7, n.1, p.10-15, dez.2005.

12. Organização Mundial da Saúde. Lepra: aprender com os êxitos. Genebra (Swi): OMS; 2001.

13. ANDRESSA, S. Hanseníase: Dos tempos bíblicos ao dias atuais. 2010. Acessado em: 18 de janeiro de 2012.Disponível em: .

14. DANIELLE, B.S. Hanseníase e Preconceito: Uma relação intrínseca? Rio de Janeiro, 2006.

Referências

http://www.index-f.com/temperamentum/tn2/t0133.php

http://www.webartigos.com/artigos/hanseniase-dos-tempos-biblicos-aos-dias-atuais/36870

12 ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012

Artigo 02

ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO: DEMANDA DOS USUÁRIOS NAESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

Service organization: the demand of users in the family health strategy

COLARES, R. A ¹; PINTO, S. L²; VIDAL, E. C. F ³

A organização dos serviços de saúde envolve o atendimento ao usuário nas ESF e outras atividades realizadas para a população desuas respectivas áreas de abrangência. Trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico, baseado na literatura pertinente ao tema.As leituras evidenciaram que a Estratégia da Saúde da Família surge como uma forma de reorganização do modelo de atenção à saúdee com os princípios do Sistema Único de Saúde, com novas práticas de atenção à saúde afirmando o atendimento clínico e a promoçãoda saúde. Em relação à demanda dos usuários, a equipe de saúde da família deve realizar estratégias e ações no seu dia a dia paraatender toda a clientela junto com a demanda programada e espontânea para obter uma assistência integral, contínua e dequalidade.

Palavras-chave: Organização do serviço de saúde, demanda de usuários e estratégia Saúde da Família.

The organization of health services involves the service user in the ESF and other activities for the population of their catchmentareas. It is a bibliographic search of character, based on the literature concerning the matter. The readings showed that the familyHeath Strategy emerges as a form of reorganization of health care and the principles of the Health System, with new practices ofhealth care stating the clinical care and health promotion. In relation to user demand, the family health team must accomplishstrategies and actions in their day to day to meet all customer demand with planned and spontaneous assistance for acomprehensive, continuous and quality.

Key Words: Organization of health services, customer demand and the, family Heath Strategy.

¹ Renata Andriola Colares, Enfermeira, especilizanda em AdmistraçãoHospitalar e Sistema de Saúde pela URCA/CE e Pós graduanda em Saúde dafamília pela UFC/CE. ([email protected])

² Sarah de Lima Pinto, Enfermeira, especialista em Saúde da Família. Profª doDeptº Enfermagem da URCA. Mestranda em desenvolvimento Sustentávelpela UFC. ([email protected])

³ Eglídia Carla Figueirêdo Vidal, Mestre em Enfermagem. Profª deE n f e r m a g e m n a U n i v e r s i d a d e R e g i o n a l d o C a r i r i .([email protected])

Resumo

Abstract

13

Introdução

Objetivos

No Brasil, diversos modelos de saúde se desenvolveram em diferentes momentos da história, desde criação dasCaixas de Aposentadoria e Pensão (CAPS) até a criação do Sistema Único de Saúde – SUS em 1988. No cenário atual, asaúde do nosso país conviveu e convive com várias formas de organização e promoção dos serviços de saúde, podemoscitar as campanhas contra as epidemias e endemias, depois da criação do CAPS foram transformados em IAPS (Institutode Aposentadoria e Pensão). Em 1964 o governo militar unificou os IAPS no Instituto Nacional de Previdência Social(INPS), contudo permaneceu o foco na assistência à saúde individual. Nos dias de hoje a organização de saúde é peloSistema Único de Saúde.

A forma de organização dos serviços de saúde restringia o acesso àqueles que pagavam a previdência social, eera centrada na assistência hospitalar e curativa, não respondendo de forma efetiva aos problemas de saúde da maioriada população. Os postos de saúde surgiram para realizar, além das consultas médicas, ações de promoção e prevenção,desenvolvendo ações de controle e de educação à saúde a grupos da população (puericultura, pré-natal, controle dehipertensos, programa de imunização e outros). Estes se constituíram na primeira forma de reconhecimento do direito àsaúde .

Antes do SUS, o direito de acesso aos serviços era assegurado apenas para os trabalhadores vinculados aoInstituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Com a universalização, a saúde passa a ser umdireito de cidadania e cabe ao Estado assegurá-lo, sendo assim o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas aspessoas . Esta se constituiu na primeira forma de reconhecimento do direito à saúde.

O SUS e a Estratégia Saúde da Família (ESF) possuem princípios doutrinários (universalidade, eqüidade eintegralidade) e organizativos (regionalização, hierarquização, descentralização, comando único, participação popular ecomplementaridade do setor privado). A ESF está voltado para a dicotomia entre curativo e preventivo, individual ecoletivo, por meio de práticas fortemente centradas em hospitais, restritas aos contribuintes previdenciários, como eraem outros tempos .

De acordo com Ministério da Saúde, a organização dos serviços de saúde envolve o atendimento ao usuário nasUBS e outras atividades realizadas para a população de suas respectivas áreas de abrangência. Uma forma de organizar otrabalho em saúde é adotar o trabalho em equipe, em que os profissionais, de acordo com seus conhecimentos, área deatuação e com os recursos disponíveis, buscam a melhor solução de cada problema e no campo que compreende oterritório-família-comunidade .

Dentre as atribuições de um gestor de serviços de saúde, garantir o acesso da população a um atendimento dequalidade, por profissionais competentes e que leve à satisfação do usuário, passa a ser considerado ponto fundamentale que deve ser levado em conta durante o processo de organização do serviço .

A proposta é então organizar o serviço de saúde a partir dos tipos de demanda dos usuários na Estratégia Saúdeda Família com o intuito de melhorar a qualidade do atendimento da população.

Discutir sobre os tipos de demanda de usuários na Estratégia Saúde da Família, como forma de organização doserviço de saúde.

(1)

(3)

(2)

(4)

(6)

14 ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012

Metodologia

Abordagem Geral da Atenção Básica e da Implementação da Estratégia Saúde da Família

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Esse tipo de pesquisa é realizado a partir de dados e informaçõescoletados em obras já existentes e servem de base para a análise e a interpretação dos mesmos, formando um novotrabalho científico .

Foi realizada através da literatura que trata da temática abordada em livros e periódicos impressos e digitais, estesacessados em bases de dados eletrônicas. Foi feita leitura detalhada dos materiais.

A Atenção Básica à Saúde (ABS) constitui “um conjunto de ações, de caráter individual ou coletivo, situadas noprimeiro nível de atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a promoção da saúde, a prevenção de agravos, otratamento e a reabilitação” .

É no âmbito da ABS, através da ESF, que se dá o contato inicial dos usuários com o SUS. Além disso, o exercício daABS se dá por meio de “práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho emequipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados” com a utilização de “tecnologias de elevadacomplexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior freqüência e relevância daspopulações”(9). Deve-se considerar o sujeito em sua singularidade, na complexidade, na integralidade e na inserçãosócio-cultural e buscar a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento de doenças e a redução de danos ou desofrimentos que possam comprometer suas possibilidades de viver de modo saudável .

As ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento das doenças e redução de danos ou sofrimentosdevem basear-se num processo interativo de escuta e informação, buscando produzir a autonomia possível para suaefetivação .

Um aspecto fundamental é o conhecimento do território, que não pode ser compreendido apenas como umespaço geográfico, delimitado para constituir a área de atuação dos serviços. Ao contrário, deve ser reconhecido como“espaço social” onde, ao longo da história, a sociedade foi se constituindo e, por meio do processo social de produção,dividindo-se em classes diferenciadas, com acessos também diferenciados aos bens de consumo, incluídos os serviçosde saúde .

Além disso, no território, ao longo do tempo, por meio das relações que se estabelecem entre pessoas e gruposde pessoas, foram sendo construídos valores e hábitos, cujos reflexos sobre o cuidado com o corpo e com a saúde setraduzem na importância atribuída a cada gesto, a cada problema, a cada demanda.

A Estratégia da Saúde da Família surge como uma forma de reorganização do modelo de atenção à saúde, ouseja, como substituição do modelo vigente, sintonizada com os princípios dos SUS, com novas práticas de atenção àsaúde e afirmando a indissociabilidade entre o atendimento clínico e a promoção da saúde .

Nessa perspectiva, uma nova denominação da Unidade Básica de Saúde que, organizada sob a lógica daEstratégia Saúde da Família, passa denominar-se Unidade de Saúde da Família (USF), com o objetivo de ser resolutiva,com profissionais capazes de identificar e propor intervenções aos problemas de saúde mais comuns e manejar novossaberes e, a partir destes, promover hábitos de vida mais saudáveis, estimulando alimentação adequada, atividadefísica, o autocuidado, o cuidado com o domicilio e o ambiente.

Os profissionais que trabalham na ESF devem compreender a família de forma integral e sistêmica, como espaçode desenvolvimento individual e de grupo, dinâmico e passível de crises; identificar a relação da família com a

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comunidade e identificar processos de violência no meio familiar e abordá-los de forma integral, organizada, comparticipação das diferentes disciplinas e setores e de acordo com os preceitos legais e éticos existentes

Portanto deve-se organizar a demanda dos usuários e conhecer as ações existentes na estratégia Saúde daFamília para atender toda população e realizar uma assistência integral, continua e de qualidade.

A literatura revela que a base do atendimento no modelo clássico é a demanda espontânea. Com a incorporaçãodos novos conceitos dentro da Estratégia Saúde da Família, é importante ter clareza da necessidade de umaestruturação com base na demanda organizada. Esse aspecto torna-se de extrema importância quando sãoapresentados desafios como centrar a atenção na pessoa saudável e garantir a equidade, priorizando os grupos commaior risco de adoecer e morrer .

A demanda espontânea surge a partir de percepções individuais ou familiares da necessidade de atendimentopelos serviços de saúde, ou seja, a partir das necessidades sentidas.

Ademais, a maiorias das pessoas procuram o serviço de saúde sem ter necessidade de consulta com osprofissionais de saúde na UBS, e com isso, o processo de trabalho dos profissionais fica subestimado a reduzir a oferta e aqualidade do serviço.

Além disso, a ESF não pode ignorar a demanda espontânea, sob pena de descrédito junto à comunidade,entretanto, ao estabelecer como prioridade a promoção da saúde da população adscrita, necessita, a partir dodiagnóstico de saúde realizada, organizar suas atividades de modo a superar os problemas prioritários de saúde-doençada população .

Nesse mesmo contexto a Estratégia Saúde da Família deve conhecer a demanda da população, sendorecomendada a realização de análises a partir de dados registrados no Movimento Diário dos Atendimentos realizadosno acolhimento, incluindo o motivo da procura e queixa. Esta ferramenta é simples e possibilita as equipes locaisavaliarem o perfil e o volume da demanda para a definição de melhores formas de organização .

O Ministério da Saúde ressalta que as unidades de saúde trabalham sobrecarregadas pela demandaespontânea, devido à base de atuação ser a clínica individual .

Devem existir estratégias e ações para atender toda a clientela na ESF. As ações para a demanda espontânea são:ações voltadas para o atendimento principalmente, dos casos agudos e das urgências. Envolve ações relacionadas aoacolhimento do cidadão que procura a unidade de saúde, o agendamento de consultas e exames, a realização deprocedimentos como curativos, medicação, retirada de pontos, dentre outros, e o diagnóstico e tratamento de agravos.

A demanda programada refere-se a ações voltadas principalmente para o atendimento a grupos e situações deriscos especiais para a saúde, como por exemplo: planejamento familiar, pré-natal, puericultura, diagnóstico precoce docâncer, atenção do idoso, atenção aos trabalhadores, atenção aos adolescentes, atenção aos portadores de sofrimentomental, hipertensão arterial, diabetes, tuberculose, hanseníase, desnutrição etc.

As demais ações estão relacionadas à produção, processamento, utilização e divulgação de informações,incluindo alimentação da base de dados dos sistemas de saúde do Ministério da Saúde (SIM, SIAB, SINASC, etc); açõesrelacionadas à vigilância de saúde, incluindo vigilância epidemiológica, sanitária ambiental e de saúde dostrabalhadores, ações de comunicação tanto internas (dentro da unidade da Equipe) quanto externas (demais setores desaúde, da administração e da comunidade e etc.). Ações de natureza informativo-educativa que buscam aumentar a

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Organização da demanda dos usuários na estratégia Saúde da Família

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capacidade de indivíduo, família e comunidade de compreenderem e atuarem sobre seus problemas de saúde e sobreos determinantes desses problemas. E por último as ações de natureza gerencial de unidade, e do cuidado da saúde,incluindo reuniões administrativas, visitas domiciliares, elaboração de protocolos, planejamento e avaliações de saúde.

Esse aspecto é fundamental para que o trabalho da equipe consiga impacto nos indicadores de saúde locais,bem como para viabilizar a rede hierarquizada proposta pelo SUS, reduzindo a ocorrência de atendimento nos serviçosde emergência. Neste sentido, também é importante a implementação de estratégias de organização e humanização dademanda espontânea, através da prática do acolhimento e do conseqüente aumento da resolubilidade .

Portanto, o profissional de saúde deve utilizar todo o seu saber para atender às necessidades do usuário e assimgarantir a qualidade nos serviços de saúde. Significa a humanização do atendimento e, como tecnologia leve da práticado trabalho, deve estar presente no serviço de saúde, com vistas a organizar o processo de trabalho e conduzir amudanças. Deste modo, o acolhimento busca garantir a escuta, o vínculo, a responsabilização, a atenção resolutiva e aarticulação com outros serviços de saúde, quando necessário, para continuidade da assistência à saúde do usuário.

Considera-se relevante ressaltar no desenvolvimento desta investigação, a proposta de que a atenção básicadeve organizar a lógica do sistema de saúde contrapondo-se à idéia errônea de atenção centrada no baixo custo,simplificada e com poucos equipamentos. Para tanto, a ESF deve ser estruturada de maneira que atenda de formaeficiente, eficaz e efetiva as necessidade de saúde da população adstrita e reduzir a demanda dos usuários com o intuitopara melhorar a qualidade de vida da comunidade.

Dessa forma, a USF não pode ser pensada como o lugar para atendimento de problemas de saúde de menorcomplexidade. A USF deve atender a uma demanda universal, de forma equânime e integral devendo ter umaresolutividade maior que 80% das intercorrências, encaminhando para serviços especializados e internações apenas oscasos de maior complexidade, o que deve ser feito idealmente sempre através de mecanismo de referência e contra-referência formalizado entre as instituições, para garantir um atendimento integral, ou seja, um atendimento completo,proporcionando todos os cuidados/tecnologia que o individuo necessita para ter solucionado a sua necessidade ou seuproblema de saúde.

Acredita-se que os profissionais que operam na ESF devem entender a dinâmica, cabendo-lhe uma atitude derespeito e valorização das características peculiares de cada família, buscando, no cotidiano das relações, contribuirpara a superação de conflitos danosos à saúde de seus membros, sobretudo os mais desprotegidos, como crianças eidosos, de forma dialógica e participativa. Esse conhecimento favorece especialmente a organização do serviço, foco dopresente estudo, através de estratégias de organização da demanda.

1. DALMASO A. S. W.; SENNA D. M. Desenvolvimento de alternativas para a promoção da demanda espontânea emUnidade Básica de Saúde. São Paulo, 1996.

2. NERY, S.R. O acolhimento no cotidiano dos profissionais das unidades de saúde de família em Londrina- Paraná

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Considerações finais

Referências

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[dissertação]. Universidade Estadual de Lombrina, 2006.

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7. LEITE, F. T.; Metodologia Científica: métodos e técnicas de pesquisa: monografia, dissertações, teses e livros.Idéias & Letras, Aparecida, SP, 2008.

8. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Inovação gerencial em serviços públicos de saúdee cidadania. Brasília, 2002b.

9. CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE. CONASS. Atenção Primária e Promoção de Saúde, 2004.

10. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Faculdade de Medicina. Núcleo de Tecnologias e Educação a Distância emSaúde. Curso de especialização em saúde da família: avaliação na EaD. Fortaleza, 2010. Disponívelem:< >. Acesso em: 06 de agosto de 2011.

11. FEUERWERKER, L. C. M.; ALMEIDA, M. J. O programa de Saúde da Família e o direito a saúde. Olho Mágico,Londrina, 2000.

12. Secretaria de Políticas da Saúde. Departamento da Atenção Básica. A

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13. BOTAZZO C. Unidade básica de saúde. A porta do sistema revisitada. Bauru: Edusc; 1999.

14. BRASIL, Saúde da família: uma estratégia para reorientação do modelo assistencial. Brasília, DF, 1998.

http://www.medicina.ufc.br/unasus/cesf2/ead/aula_04/

18 ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012

Artigo 03

AS VARIAÇÕES DE GÊNERO E IDADE NA PRÁTICA DA ODONTOLOGIARESTAURADORA

Sex and age variations of restoration odontology

Isis de Araújo Ferreira Muniz1; Iris de Araújo Ferreira Muniz1; Antônio de Pádua Cavalcante

da Costa2; Dayane Franco Barros Mangueira Leite2; Isabela Albuquerque Passos Farias21 Monitoras da Disciplina Escultura Dental da Universidade Federal da Paraíba2 Professores Mestres da Disciplina Escultura dental da Universidade Federal da ParaíbaE-mail:

ResumoNa Odontologia, fatores como o gênero e a idade devem ser observados na reabilitação oral por influenciarem naanatomia e na estética dos dentes, uma vez que estes aspectos facilitam e aperfeiçoam as restaurações. O presentetrabalho teve como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre as variações de gênero e idade na prática daEscultura Dental inserida na Odontologia Restauradora, a fim de devolver a estrutura anatomofuncional perdida. Para abusca de artigos científicos, utilizaram-se sites eletrônicos como Pubmed, Scielo, Bireme, Periódicos Capes, com asseguintes palavras-chave: Escultura, Estética, Restauração Dentária Permanente. Indivíduos jovens possuem desníveisentre as bordas incisais com o diâmetro cérvico-incisal maior nos incisivos centrais e indivíduos senis apresentamângulos vivos e nivelamento das bordas incisais decorrentes do desgaste fisiológico, além de alteração na estruturadentinária que confere ao dente coloração escurecida. O sexo feminino apresenta contornos arredondados dos ângulosincisais com efeito esférico dos incisivos centrais e laterais superiores enquanto que o sexo masculino tem predomíniode ângulos retos com efeito cubóide nesses mesmos dentes. Dessa forma, essas diferenças devem ser levadas emconsideração na escultura dos dentes, pois são relevantes na harmonia e naturalidade de um novo sorriso durante oprocedimento restaurador estético.

Palavras-chave: Escultura, Estética, Restauração Dentária Permanente.

In dentistry, factors such as gender and age should be observed in the oral rehabilitation by influencing the anatomy andaesthetics of the teeth, since these aspects facilitate and improve the restorations. This study aimed to conduct a reviewof the literature on gender and age variations in the practice of Dental Sculpture in Restorative Dentistry inserted inorder to return the lost anatomical structure. For the search of scientific articles, electronic sites were used as Pubmed,Scielo, Bireme, Regular capes, with the following keywords: Sculpture, Aesthetics, Permanent Dental Restoration.Individuals youth have gaps between the incisal edges with the largest diameter in the cervical-incisal central incisorsand senile individuals have sharp angles and smoothing the incisal edges resulting from the physiological toll, andchange in the structure that gives the tooth dentin color darkened. Females have a rounded contour of incisal angleswith spherical end of the upper central and lateral incisors, while males have a predominance of right angles cuboid ineffect in those teeth. Thus, these differences must be taken into account in the sculpture of the teeth as they are relevantto the harmony and naturalness of a new smile during aesthetic restorative.

Keywords: Sculpture, Aesthetics, Permanent Dental Restoration.

Abstract

[email protected]

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Introdução

Objetivos

Metodologia

Revisão de literatura e Discussão

Na Odontologia, a satisfação estética tem vindo a assumir uma relevância crescente no conceito de saúde oralda população ocidental, estando associada, ao êxito social e profissional . Nesse sentido, fatores como o gênero e aidade devem ser observados na reabilitação oral por influenciarem na anatomia e na estética dos dentes .Para avaliar as diferenças do sorriso feminino e masculino, jovem e idoso, faz-se necessário praticar a percepção visual.Essa é um pré-requisito para a apreciação da estética, portanto, um olho treinado pode detectar prontamente o que estáfora de equilíbrio, de simetria e harmonia .

Nesse contexto, o conceito de estética é amplo e às vezes subjetivo e o cirurgião-dentista não é totalmente livrepara criar, devendo, pois, respeitar os limites mínimos impostos pela natureza. Os seres humanos possuem sensoestético, que é influenciado pela imagem que cada um tem de si próprio, bem como pela própria cultura .

A crescente exigência dos pacientes por restaurações harmoniosas induz um aprimoramento dos profissionaisda odontologia, o qual está relacionado ao conhecimento das variações do gênero e da idade, uma vez que estesaspectos facilitam e aperfeiçoam as restaurações estéticas.

O presente trabalho teve como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre as variações de gênero e idadena prática da Escultura Dental inserida na Odontologia Restauradora, a fim de devolver a estrutura anatomofuncionalperdida, restabelecendo a estética dentária.

Foi realizada busca de artigos científicos, utilizando-se sites eletrônicos como Pubmed, Scielo, Bireme, Medlinee Periódicos-capes. Para recuperação e seleção dos artigos utilizaram-se as seguintes palavras-chave em português:Escultura, Estética e Restauração Dentária Permanente. Utilizou-se o sistema de formulário avançado “AND” parafiltragem dos artigos relacionados ao tema.

O conhecimento da anatomia e das diferenças na saturação dos elementos dentais de acordo com o gênero e aidade são requisitos para execução de uma restauração estética.A interação da dentina e do esmalte determina diferentes características cromáticas nas regiões do dente. O terço

cervical é a área mais saturada devido a predominância da dentina e à medida que se aproxima da borda incisal, essasaturação diminui, observando-se uma zona translúcida devido à presença apenas de esmalte . Dessa forma, a seleçãoda cor nas restaurações de resinas compostas deve ser realizada no terço cervical para restaurar a dentina e no terçoincisal para restaurar o esmalte .

Essas características cromáticas também variam de acordo com a idade. Nos jovens, a estrutura dentinária estáinalterada, toda dentina é coberta por esmalte, que deve ter uma cor branco-amarelada a branco-acinzentada, pela corda dentina, com borda incisal translúcida. Com o avanço da idade, a estrutura dentinária é alterada por diferentesestímulos e traumas, que favorecem a formação de dentina secundária e terciária, escurecendo ainda mais o dente. Oesmalte apresenta uma estrutura fina, uma textura variável e uma alta translucidez, contribuindo assim para que o

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dente fique mais escuro. Além disso, a função mastigatória resulta em desgaste na borda incisal, perdendo-se a zona detranslucidez .

Quanto aos aspectos anatômicos, observa-se que em indivíduos jovens, os lóbulos de desenvolvimento aindaestão intactos, os ângulos incisais são arredondados, há desníveis entre as bordas incisais e o diâmetro cérvico-incisal émaior nos incisivos centrais (Figura 1).

O treinamento do cirurgião-dentista para observação desses detalhes é de fundamental relevância para osucesso da restauração .

Diferentemente, em indivíduos senis observa-se o nivelamento das bordas incisais decorrentes do desgastefisiológico, consequentemente ângulos incisais retos (Figura 2).

Quanto ao gênero, os incisivos centrais superiores são os dentes que mais apresentam dimorfismo sexual. Nogênero masculino, esses elementos são mais volumosos e o diâmetro mésio-distal é mais acentuado, enquanto nasmulheres, os dentes são mais semelhantes entre si (Figura 3 e 4).

O gênero feminino apresenta como característica marcante contornos arredondados dos ângulos incisais,produzindo efeito esférico dos incisivos centrais e laterais superiores, diferindo do sexo masculino que possui ângulosincisais retos com efeito cubóide nesses mesmos dentes (Figura 3 e 4).

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Figura 1 - paciente jovem: característica dental correspondente a idade.

Fonte: Arquivo pessoal

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Considerações finais

Na Odontologia Restauradora, a prática dos aspectos distintos entre gênero e idade durante a execução daescultura dental contribui para o desenvolvimento da habilidade manual e percepção visual. Dessa forma, essasdiferenças devem ser levadas em consideração na escultura dos dentes, pois são relevantes na harmonia e naturalidadede um novo sorriso.

CORREIA, A.; OLIVEIRA, M.A.; SILVA, M.J. Conceito de estratificação nas restaurações de dentes anteriores com resinascompostas. Rev Port Estomatol Cir Maxilofac, 2005, vol.46, p. 171-178.

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ARAÚJO, M.A.M. et al. Estética para o clínico geral. São Paulo: Artes Médicas. 285p, 2005.

Referências bibliográficas

Figura 3 - característica dental correspondente ao gênero masculino.

Fonte: Arquivo próprio

Figura 4 - característica dental correspondente ao gênero feminino.

Fonte: Arquivo próprio

Artigo 04

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TRANSPLANTE DENTÁRIO: UMA REVISÃO DA LITERATURATooth transplantation: a review of literature

Talvane Sobreira 1Ingrid Cristina da Silva Pereira 2Amanda de Sousa Galdino 2Bruno Mesquita da Silva 2Talita Lopes dos Santos 2

1 - Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial -UFRJ, Mestre em Diagnóstico Bucal – UFPB / UFBA; Coordenadordo Curso de Especialização de Cirurgia e TraumatologiaBucomaxilofacial do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ([email protected]).

2 - Acadêmicos do curso de Odontologia, Centro Universitário deJoão Pessoa – UNIPÊ ([email protected]).

Resumo

Abstract

O transplante dentário é uma alternativa de recuperação de elementos dentais perdidos, que consiste na transferênciade um órgão dental do seu local de origem para outro alvéolo. O presente trabalho tem como objetivo explorar a técnicacirúrgica de transplante dentário, bem como suas indicações e seus benefícios através de uma revisão de literatura.Embora outros dentes possam ser submetidos a este procedimento, os terceiros molares na reposição de primeirosmolares é atualmente o procedimento mais freqüente. Diversas são as indicações para a realização de transplantesdentais, podendo ser realizados em casos de perda precoce de elementos por processos infecciosos, traumatismos,impossibilidade de tratamento ortodôntico, ou mesmo por influência do fator financeiro. Apesar de não seremfreqüentemente considerados como uma opção de tratamento, os transplantes dentários são uma alternativa válidaaos implantes e à prótese, nos casos de perdas dentárias.

Descritores: Transplante Dentário; Reabilitação Bucal; Cirurgia Bucomaxilofacial.

The Tooth transplantation is an alternative to recover lost dental elements, which is the transfer of a dental organ of theirplace of origin to another socket. This paper aims to explore the surgical technique of tooth transplantation, as well as itsindications and its benefits through a literature review. Although other teeth may be subjected to this procedure, thethird molars in the replacement of first molars is currently the most frequent procedure. There are several indications toperform dental transplants, can be performed in cases of early loss of elements in infectious processes, trauma, inabilityto orthodontic treatment, or even influenced by the financial factor. Although not often considered as a treatmentoption, transplants are a viable alternative dental implants and prosthesis in cases of tooth loss.

keywords: Tooth Transplantation; Oral Rehabilitation; Oral and Maxillofacial Surgery.

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Introdução

Revisão de literatura

Embora o objetivo da Odontologia Atual seja a prevenção e promoção de saúde, as extrações dentais aindaocorrem com muita freqüência. Os dentes mais precocemente extraídos são os molares permanentes, causando umdesajuste oclusal e outros problemas no arco dental Visando uma melhora estético-funcional do paciente, aOdontologia busca soluções para um dos problemas mais antigos e comuns nesta área, a perda de um elementodentário.

Sabe-se que, atualmente, o Implante Dental é o método mais procurado e almejado quando se trata desubstituição dentária, devido à estabilidade, estética e conforto proporcionado ao paciente. Porém, é um método maisoneroso quando comparado a outras formas de reabilitação oral.

O Transplante Dentário vem se tornando uma prática comum por atender as expectativas do paciente, além deser biocompatível com os tecidos de suporte e proteção do elemento dentário, e financeiramente viável. Esta técnicaconsiste na transferência de um dente extraído de um alvéolo para outro alvéolo natural, ou para um alvéolo criadocirurgicamente.

Existem três formas de transplante: autógeno, quando doador e receptor constituem a mesma pessoa;homógeno, quando realizado entre diferentes indivíduos, porém da mesma espécie; e heterógeno, quando realizadoentre membros de espécies diferentes .

O presente trabalho tem como objetivo explorar a técnica cirúrgica de transplante dentário, bem como suasindicações e seus benefícios através de uma revisão da literatura.

Transplante dentário é o termo utilizado para descrever a transferência de um órgão dental para outro local deum mesmo indivíduo, ou de um indivíduo, vivo ou morto, para outro indivíduo 4. O objetivo dessa manobra cirúrgica ésubstituir um dente clinicamente comprometido ou ausente, por outro distinto, que por diversos motivos, não seencontra em função na arcada nem tem condições para erupcionar .

Essa técnica já data de muitas décadas e muitos relatos de sua tentativa são encontrados na literatura . Osprimeiros registros de transplantes dentais foram no Antigo Egito, onde os escravos eram forçados a doar seus dentesaos membros das castas superiores .

Historicamente, a primeira referência sobre o verdadeiro transplante dental está no trabalho de Ambroise Paré(1564), renomado cirurgião francês da Renascença, que relatou o caso de uma dama da nobreza, que teve um denteextraído e substituído, com sucesso, por outro de uma de suas camareiras .

Embora a técnica de transplante dental já existisse, foi através de dois estudiosos da Odontologia, Harland Apfele Horance Miller , que a técnica passou a ser protocolada e não mais realizada de forma empírica. Em 1950, utilizaram

os terceiros molares na substituição dos primeiros e segundos molares.No Brasil, em 1966, Clovis Marzola se destaca como o pioneiro nacional da técnica, por fazer descrições sobre

transplante autógeno e, mundialmente também na década de 60 outros grandes estudiosos como Leonard E. Shuman eJean O. Andreasen se destacaram, por escrever trabalhos de grande valor sobre transplante de germe dental .

Os transplantes dentais são classificados, de acordo com sua origem, em 3 grupos distintos : 1. Autógeno,quando o dente é proveniente de um mesmo organismo; 2. Homógeno, quando o dente doador é proveniente de outroindivíduo, porém da mesma espécie; 3. Heterógeno, quando o dente doador e o organismo receptor pertencem aespécies diferentes. Em particular, os transplantes homógenos estão caindo em desuso, pois são freqüentemente

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rejeitados pelo organismo receptor .Os transplantes estão indicados em casos de ausência dentária congênita, por perdas prematuras de molares

permanentes, traumatismos, iatrogenias, perdas dentárias ocasionadas por tumores e, ainda, quando o tratamentoprotético for inviável por motivos socioeconômicos .

O transplante dentário é uma alternativa de tratamento viável . Porém, trata-se de um procedimento restrito,devido à idade do paciente e à fase de desenvolvimento radicular, do procedimento cirúrgico atraumático, além denecessitar de uma proservação de longo período e colaboração do paciente .

Segundo Cuffari e Palumbo , além dessa opção de tratamento devolver a função mastigatória e estética aopaciente, evita o comprometimento do desenvolvimento da maxila e mandíbula, estimulando a formação óssea. Paraalém de bons resultados estéticos e funcionais, atua ainda como mantenedor de espaço, com a expectativa de longadurabilidade associada a muito pouca ou mesmo ausência de reabsorção radicular, ao mesmo tempo em que, devido àestimulação fisiológica do ligamento periodontal, assegura a manutenção do volume ósseo alveolar 5. Trata-se de umtratamento não-mutilador, com técnica cirúrgica de fácil execução, favorecendo os pacientes de baixo padrão sócio-econômico, por se tratar de um tratamento pouco oneroso quando comparado aos métodos tradicionais dereabilitação, como os implantes osseointegrados .

Atualmente, os transplantes dentais mais empregados são aqueles em que se utiliza o germe do terceiro molarinferior ou superior, transferindo-o para o alvéolo do primeiro molar . Os terceiros molares são indicados para otransplante por ter sua formação tardia , sendo que, para o procedimento, sua raiz já deve apresentar uma formaçãosatisfatória de no mínimo 1/3 e de no máximo 2/3 do desenvolvimento, tendo uma maior capacidade derevascularização no alvéolo receptor .

Para verificarmos o estágio de formação radicular, uma documentação radiográfica mínima deverá incluir umaradiografia panorâmica e radiografias periapicais do dente a ser transplantado e do alvéolo receptor do transplante .

Os prognósticos mais favoráveis dos transplantes, no que diz respeito a sua revascularização e reinervação,ocorrem em pacientes jovens, ou seja, em dentes com rizogênese incompleta, devido à possibilidade derevascularização através do forme apical do dente transplantado . O sucesso do transplante depende, ainda, daintegridade do folículo dentário, da assepsia e da técnica cirúrgica atraumática, bem como do menor tempo depermanência extra-alveolar do dente a ser transplantado . A análise periodontal e a condição sistêmica tambémdevem ser levadas em consideração, pois um processo infeccioso poderá comprometer a biointegração do germe aoalvéolo .

O transplante dental pode ser realizado pela técnica convencional ou imediata em uma única etapa , queconsiste em realizar a extração do dente a ser transplantado e o preparo da cavidade óssea alveolar para o qual essedente será transferido ou pela técnica mediata, em duas etapas , na qual o alvéolo cirúrgico é preparado na primeiraetapa. Após um período inicial de cicatrização de aproximadamente 14 dias, realiza-se, na segunda etapa, a exodontia eo transplante.

O ato cirúrgico é muito semelhante à remoção de terceiros molares impactados, porém uma grande diferença éque o dente transplantado não pode ser danificado durante a manipulação cirúrgica . A habilidade do cirurgião é defundamental importância para que o saco pericoronário seja preservado no momento da remoção do germe do alvéolo,a raiz não deve ser tocada e o dente deve permanecer o menor tempo possível fora do alvéolo .

O germe dental deve ser colocado no alvéolo receptor, respeitando-se a orientação de sua face vestibulolinguale a 2mm em infra-oclusão para que não sofra traumas durante sua adaptação, favorecendo a anquilose e a reabsorçãoradicular, obedecendo também seu tempo cronológico de erupção . O alvéolo receptor deve possuir dimensõescompatíveis com o dente a ser implantado, sendo verificado através de exame radiográfico. Caso isso não ocorra, deve

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ser realizada uma adequação alveolar com o auxílio de brocas .A fixação estável deverá ser obtida nas primeiras fases do processo de cicatrização. Esta contenção do

transplante pode ser feita com fio de aço 2-0 ou com fio ortodôntico 0,7mm na face vestibular do dente transplantado edos dentes vizinhos, fixada com resina composta fotopolimerizável, limitando-a a um período de 90 a 120 dias, que seráo tempo necessário para a cicatrização do processo alveolar e o transplante não apresentará mobilidade .

As indicações clássicas para a realização de transplantes são, respectivamente, terceiros molares para o local doprimeiro ou mesmo de segundos molares; caninos inclusos não sujeitos á terapêutica ortodôntico-cirúrgica; pré-molares inclusos ou ectópicos não sujeitos á terapêutica ortodôntico-cirúrgica; pré-molares com indicação de extraçãopor motivos ortodônticos; terceiros molares para solucionar agenesias de pré-molares e colocação na arcada deincisivos ectópicos, inclusos ou supranumerários .

Entretanto para Peterson , de um modo geral podem ser citadas outras indicações, como: indicaçõesortodônticas, dentes mal posicionados, dentes impactados que não podem erupcionar dentro de uma oclusãofuncional, finalidades estéticas e motivos econômicos.

A grande vantagem do transplante em relação a outras modalidades de tratamento, que visam substituir dentesperdidos, é que o mesmo permite desenvolvimento do processo alveolar. Porém o sucesso do procedimento vaidepender de diversos fatores, como a técnica cirúrgica adequada, mínimo trauma na região, grau de desenvolvimentoradicular do dente selecionado, ausência de carga mastigatória precoce e acompanhamento clínico/radiográfico. Éimportante que o dente a ser transplantado apresente de dois terços a três quartos do comprimento radicular, e oforame apical ainda esteja aberto, sendo importante que o alvéolo receptor não apresente evidência de lesãoinflamatória aguda, devendo esta área ser preparada para o transplante potencial .

Algumas manobras na realização dos transplantes autógenos apresentam-se conflitantes na literatura, como arealização de tratamento endodôntico nos dentes transplantados.

Em um trabalho realizado por Giancristófaro , não se verificou qualquer alteração clínica ou radiográfica quesuportasse a necessidade da realização do tratamento endodôntico. Já em outro trabalho publicado por Pedroso ,verificou-se pequenas e restritas áreas de reabsorções radiculares e grandes áreas de anquilose, principalmente do tipoósseo-cementária. Pagliarin e Benato observaram em seus trabalhos a necessidade da realização do tratamentoendodôntico dos elementos transplantados pela presença de área radiolúcida difusa apresentada nos examesradiográficos um ano após a cirurgia. Ficando, assim, a realização ou não do tratamento endodôntico, a depender docaso apresentado.

A fim de se obter uma fixação estável nas primeiras fases do processo de cicatrização, é indicada à contenção dotransplante que pode ser feita com fio de aço 2-0 ou ainda com fio ortodôntico 0,7 mm nas faces vestibulares do dentetransplantado e dos dentes vizinhos, devendo ser eliminada em um período de 90 a 120 dias .

Além da contenção esta fixação pode ser realizada por meio de aparelhos ortodônticos, com a fixação dentalcom braquetes, o que facilita a higienização bucal. Também podem ser utilizados o cimento cirúrgico e o fio de sutura .

O objetivo do tratamento odontológico é a manutenção da dentição natural com saúde e função durante a vidado paciente.

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Discussão

Considerações finais

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Apesar de não serem freqüentemente considerados como uma opção de tratamento, os transplantes dentáriossão uma alternativa válida aos implantes e à prótese, nos casos de perdas dentárias. Quando corretamente indicado, oíndice de sucesso do transplante dental é grande e permite devolver as características estéticas e funcionais ao paciente.

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13 KRISTERSON, L.; ANDREASEN, J.O. The effect of splinting upon periodontal and pulpal healing afterautotransplantation of mature and inimature permanent incisors in monkeys. J Oral Surg. 1983; (12):239-49.

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http://www.odontosites.com.br/artigos/cientifico/

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28 ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012

Artigo 05

REPERCUSSÕES DA MASTECTOMIA NA MULHER COM CÂNCER DEMAMA

Repercussions of mastectomy in women with breast cancer

Pedro Marcos Carneiro da Cunha Filho1; Nieje Barbosa de Almeida2;Thaís Monara Bezerra Ramos2

1. Prof Ms Imunologia FASER ([email protected]);2. Discente de Enfermagem FASER ([email protected]);3. Discente de Enfermagem FASER ([email protected]).

Resumo

Abstract

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado decélulas que invadem os tecidos e órgãos podendo espalhar-se para outras regiões do corpo, caracterizando a metástase.O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mulheres, devido a sua alta freqüência e, sobretudo, pelos seusefeitos psicológicos. Diante do exposto, o estudo tem por objetivo, descrever à luz da literatura pertinente ao tema asrepercussões da mastectomia na mulher com câncer de mama. Tratou-se de um estudo, com caráter bibliográfico,baseado na literatura pertinente ao tema, desenvolvido no acervo bibliográfico da Faculdade Santa Emília de Rodat(FASER), bem como em outras fontes, tais como revistas e sites indexados da internet, fundamentados à luz da literatura.A referida literatura aborda o fato que a perda da mama, parte do corpo fundamental para a identidade feminina, resultana alteração negativa da imagem corporal. A retirada desse órgão representa uma limitação estética e funcional, queprovoca uma imediata repercussão física e psíquica, constituindo um evento traumático para a maioria das mulheres,trazendo prejuízo em sua qualidade de vida, na satisfação sexual e recreativa. A paciente com câncer sofre forte falta deprestígio dentro do contexto social, familiar e profissional, conduzindo a profundos impactos em sua qualidade de vida.No relacionamento entre mãe e filhos ocorre uma inversão de papéis, pois a mãe que culturalmente exerce a função decuidadora, protetora e provedora afetiva, agora é quem necessita de cuidados, proteção e afeto. Conclui-se que amastectomia pode representar não só a mutilação do corpo, como também a mutilação da condição feminina. A mamaé um órgão repleto de representatividade para cada mulher, e a falta dele pode acarretar num sentimento de vazio,desestruturando emocionalmente a paciente.

Palavras chave: Mastectomia na mulher, câncer de mama.

Cancer is the name given to a set of more than 100 diseases that have in common the uncontrolled growth of cells thatinvade the tissues and organs and can spread to other body regions, characterizing metastasis. Breast cancer is probablythe most feared by women, due to its high frequency and, especially, for its psychological effects. In this light, the studyaims to describe the light of the literature concerning the matter the repercussions of mastectomy in women with breastcancer. It was a study with bibliographical character, based on the literature pertaining to the theme, developed inbibliographic College of Santa Emilia Rodat (FASER), as well as other sources such as magazines and Internet sitesindexed, based in the light the literature concerning the matter. Such literature addresses the fact that the loss of thebreast, body part essential to female identity, results in a change of negative body image. The removal of this organ

represents an aesthetic and functional limitation, which causes an immediate physical and psychological impact,constituting a traumatic event for most women, harm their quality of life, sexual satisfaction and recreational. Thecancer patient suffers acute shortage of prestige within the social context, family and work, leading to profound impactson their quality of life. In the relationship between mother and child is a role reversal, as the mother who plays the role ofculturally caring, affectionate protector and provider, now is the one who needs care, protection and affection. Weconclude that mastectomy may represent not only the mutilation of the body, as well as the mutilation of the femalecondition. The breast is an organ full of representativeness for each woman and the lack of it can cause a feeling ofemptiness, the patient emotionally destabilized.

Keywords: Mastectomy in women with cancer.

Introdução

Objetivo

Procedimentos Metodológicos

Quando uma mulher faz o auto-exame periódico das mamas e encontra um nódulo, inicia-se imediatamente umprocesso interno de dúvidas e incertezas relacionadas à possibilidade de aquele achado ser ou não um câncer. Afinal, apalavra câncer contém em si, ainda, um grande estigma: é sinônimo de morte. A palavra câncer é originária do latimcancer cancrí, caranguejo.

O câncer de mama é a neoplasia maligna que mais atinge o sexo feminino e é a maior causa de mortes por estetipo de doença, sendo responsável por cerca de 20% dos óbitos por câncer entre as mulheres. A partir do momento emque a mulher descobre que tem um nódulo na mama, dá-se início a um processo interno de dúvidas e incertezas quepodem ou não ser "amenizadas" através do exame físico e exames radiológicos.

As mamas são consideradas anexos da pele, pois seu parênquima é formado de glândulas cutâneas modificadasque se especializam na produção de leite após a gestação.

O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mulheres, devido a sua alta freqüência e, sobretudo,pelos seus efeitos psicológicos. A sociedade atribui uma importância fundamental as mamas femininas e, nos últimostempos, isso vem estimulando a vaidade da mulher, como forma de valorizar sua beleza, visto que as normas sociaisparecem determinar que a mulher necessite ter mamas belas para a construção da sua feminilidade.No entanto a mastectomia representa para a mulher, a perda de algo que julgasse essencial, para o seu relacionamentointerpessoal, gerando repercussões físicas, sociais, psicológicas e estreitamento no binômio mãe/filho ¹³.

O objetivo do tema exposto, implica em descrever à luz da literatura pertinente ao tema, as repercussões damastectomia na mulher com câncer de mama.

O método utilizado para o desenvolvimento da temática em discussão é decorrente de um apanhado de caráterbibliográfico realizado no acervo da biblioteca da Faculdade Santa Emilia de Rodat - FASER, como também em revistasreferentes ao conteúdo abordado e informações adquiridas em sites de credibilidade, durante o período de Outubro de2011 a Janeiro de 2012, posteriormente os dados coletados foram analisados e interpretados à luz da literaturaconcernente ao tema.

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Discussão

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenadode células que invadem os tecidos e órgãos podendo espalhar-se para outras regiões do corpo, caracterizando ametástase. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando aformação de tumores através do acúmulo de células cancerosas ou neoplásicas malignas (figura 1).

A cirurgia e sua associação a outros tratamentos para o câncer podem interromper os hábitos de vida da mulher,provocando alterações nas suas relações familiares e sociais, quase sempre provenientes também de sentimentos deimpotência e de frustração sobre algo que foge ao seu controle, como o próprio temor da doença.

A perda da mama, parte do corpo fundamental para a identidade feminina, resulta na alteração negativa daimagem corporal. A retirada desse órgão representa uma limitação estética e funcional, em suas atividades cotidianasque provoca uma imediata repercussão física e psíquica, constituindo um evento traumático para a maioria dasmulheres, trazendo prejuízo em sua qualidade de vida, na satisfação sexual e recreativa (figura 2).

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Figura 1: Mama acometida por tumor mamário.

Fonte: Cardenas, 2009.

Figura 2: Extirpação da mama.

Fonte: Luiz; Gonçalves, 2010.

A mulher pode, então, se sentir estranha manifestar sentimentos de vergonha, embaraço, ter dificuldade de serelacionar com o marido, se sentindo sexualmente repulsiva, passando a evitar contatos sexuais. Um medo muitofreqüente entre as mulheres mastectomizadas é o de não ser mais atraente sexualmente. Esses conflitos são resolvidosquando a mulher é capaz de reconhecer-se e aceitar-se em sua nova imagem. Para isso, é fundamental viver umprocesso de luto para elaborar essa perda.

As dificuldades encontradas na retomada da vida social após a mastectomia é caracterizada por uma série defantasias e medos, despertados pelo contato com o mundo externo, implicando numa mudança de comportamento emque as mulheres mais sociáveis tornaram-se mais reservadas.

A mastectomia é um dos métodos mais utilizados para o tratamento do câncer de mama. É uma cirurgiamutiladora que visa remover todo o tumor visível. Como conseqüência dessa técnica pode ocorrer prejuízos de ordemfísica, emocional e social. Na ordem física podem ocorrer infecções e há limitação nos movimentos dos braços e ombros,limitando as atividades diárias; o emocional fica abalado, circundado de sentimentos negativos em relação à doença; nocampo social, a mulher encontra dificuldade em decorrência do sentimento de vergonha, escondendo a mutilação.

O tratamento quimioterápico, seja pré e, principalmente, pós-operatório, provoca reações de luto pelo impactonas mudanças corpóreas como a queda de cabelo, muitas vezes expressa como maior preocupação (no íntimo espelha oque a alopécia representa na psique da paciente: a diminuição da feminilidade, o estigma do câncer, o estigma da morte,a rejeição do sentimento de piedade, o preconceito, autodefesa, uma fase de rejeição, como representado na figura 3).

As alterações psicológicas que acompanham o diagnóstico e tratamento do câncer de mama iniciam-se a partirdo momento que a mulher suspeita de que o nódulo que descobriu, através do auto-exame, possa ser um câncer.

Segundo tipo mais freqüente no mundo, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, respondendopor 22% dos casos novos a cada ano. Se diagnosticado e tratado oportunamente, o prognóstico é relativamente bom. NoBrasil, as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas, muito provavelmente porque a doença ainda édiagnosticada em estádios avançados. Na população mundial, a sobrevida média após cinco anos é de 61%. O câncer demama e relativamente raro antes dos 35 anos, acima desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente.Estatísticas indicam aumento de sua incidência tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento.Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxasde incidência ajustadas por idade nos Registros de Câncer de Base Populacional de diversos continentes.

De modo geral, o câncer de mama tem como características, no self feminino, um aumento no senso de

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Figura 3: Alopecia, um evento agressor para mulher mastectomizada.

Fonte: Cosmedical; Inalu, 2011.

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responsabilidade em relação a si mesma, uma maior vulnerabilidade, mudanças na auto-estima, raiva, medo da morte,de mudanças e da perda e mudanças na autoimagem, perda da feminilidade. O self psicológico feminino é o eu feminino,é o ser e sentir-se como mulher: ser feminina, ter um corpo feminino, ter seios, menstruar e ser capaz de envolver-se emuma relação sexual.

Quanto ao relacionamento interpessoal, a família se insere em uma significativa parte de apoio, mais próximo amulher, visto que constitui um fator essencial na sua recuperação e retomada as atividades cotidianas (figura 4).Contudo é necessário enfatizar acerca da relação entre mãe/filho, pois a mulher sempre foi vista como uma cuidadora,protetora gerando afeto, amor e carinho no lar, no entanto nesta nova fase ocorre o inverso ela necessita de proteção,como também outros cuidados especiais da parte dos filhos.

As mudanças e as dificuldades na vida de uma mulher em função do câncer de mama ocasionam uma gama de

sentimentos, o que gera modificações na imagem corporal, auto-estima e relacionamento social, pois a mama é um

órgão repleto de representatividade para cada mulher e a ausência dele pode acarretar num sentimento de vazio,

desestruturando emocionalmente a mulher mastectomizada. Devemos nos ater que o adoecer é uma experiência

única, uma experiência de desordem, que adquire um sentido específico no momento existencial dessa mulher, com

significados que os sintomas, as experiências com o tratamento e as relações interpessoais passam a ter no contexto de

sua vida.

É importante ressaltar que a doença atinge a unidade corpo, mente e espírito, no entanto, essa experiência pode

ser menos traumática e superada gradualmente se houver o apóio dos profissionais de saúde ao considerarem também

o aspecto psicossocial da mulher, associado ao apóio familiar. E para tanto, a assistência deve ser voltada para melhora

da qualidade de vida em toda a sua amplitude, pois os cuidadores devem ser vistos como colaboradores, manifestando

principalmente a empatia, pois só sabemos como gostaríamos de ser tratados quando nos colocamos na situação

vivenciada pelo outro. Sendo assim, a mulher nesse período de adaptação com o “novo” precisa de

acompanhamento/apóio profissional e familiar dentro do entendimento que vai muito além da doença em si, pois o que

verdadeiramente precisa estar em foco são os sentimentos, as angústias, as dúvidas e as dificuldades destas mulheres, e

não só sob o aspecto da doença.

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Considerações finais

Figura 4: União Familiar.Fonte: Vargas, 2011.

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Dessa forma, o ser humano deve ser considerado em sua totalidade, de forma holística, o que valoriza o outro

em sua singularidade, possibilitando, aos profissionais de saúde, uma visão que privilegie as práticas diárias do assistir a

cliente de maneira compreensiva e humanizada.

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Normas

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