saúde do homem

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Universidade Federal do Rio Grande Escola de Enfermagem Trabalho de Conclusão de Curso Atendimento da população masculina em Unidade Básica de Saúde da Família: Motivos para a (não) procura Orientadora:Enfª Profª Drª Vera Lúcia de O.Gomes Katiúcia Letiele Duarte Vieira

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Trabalho de Conclusão do Curso de Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande

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Page 1: saúde do homem

Universidade Federal do Rio Grande

Escola de Enfermagem

Trabalho de Conclusão de Curso

Atendimento da população masculina em Unidade Básica de Saúde da Família: Motivos para a (não)

procura

Orientadora:Enfª Profª Drª Vera Lúcia de O.Gomes

Katiúcia Letiele Duarte Vieira

Page 2: saúde do homem

Objetivos

Saber os motivos que levam os homens a procurarem

atendimento em UBSF .

Os motivos que afastam/impedem de procurarem

atendimento.

Metodologia

Estudo quantitativo

Estudo qualitativo

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Distribuição dos homens atendidos na UBSF Santa Rosa

em 2010 segundo a idade.

Idades N %

25-34 anos 43 24,5

35-44 anos 38 21,7

45-54 anos 58 33,2

55- 59 anos 36 20,5

Total 175 100,0

Page 4: saúde do homem

Distribuição de atendimento à homens, segundo motivos na

UBSF Santa Rosa em 2010.

MOTIVOS N %

Problemas agudos 93 53,1

Dor 42 24,0

atestados, renovação de receita, agendamento deconsulta ,enc. a outros profissionais 14 8,0

Alguma doença crônica68 38,8

TOTAL 175 100,00

Page 5: saúde do homem

Análise qualitativa

A segunda etapa foi compreender os motivos que os afastam do

atendimento na UBSF estudada por meio de entrevistas.

Após análise foi dividido em quatro categorias:

• Percepção dos homens sobre seu estado de saúde;

• Opinião dos homens acerca do atendimento da UBSF;

• Frequência com que os homens procuram atendimento;

• Motivos que dificultam ou impedem os homens de procurarem atendimento.

Page 6: saúde do homem

Percepção dos homens sobre seu estado de saúde

10 dos informantes, quando inquiridos sobre a existência de

alguma doença, negam essa condição. Desses, três reconhecem a

possibilidade de uma patologia hereditária ou de virem a adoecer.

H38... Não!... Que eu saiba não!... Mas tem... Como eu vou te dizer...

Tem histórico de hipertensão e problemas cardiovasculares na família...

Todo mundo morre do coração...

H58Por enquanto não!... Não!... Nunca examinei né...

H27 Olha que eu saiba não... Hereditária, sim. Tenho na família

pessoas diabéticas... Minha mãe era hipertensa, mas não que eu saiba...

Até consegui um fato inédito... De três anos pra cá minha glicose baixou

[...] Eu troquei o açúcar pelo adoçante... Só e mais nada... Continuo

tomando coca-cola todos os dias...

Page 7: saúde do homem

A dificuldade dos homens para reconhecerem -se doentes e

recorrerem menos as consultas que as mulheres, Pinheiro et al

(2002) ; Laurenti et al e Braz (2005) se exemplifica com o fato

deles procurarem atendimento hospitalar e de emergência somente

quando não suportam mais a doença, como consequência eles se

internam gravemente enfermos e morrem mais cedo.

Page 8: saúde do homem

Raras são as situações em que o homem busca ajuda, isso

geralmente ocorre por dois motivos: quando a dor se torna insuportável

e quando há uma impossibilidade de trabalhar. Gomes et AL (2007).

Em situações consideradas sem risco a grande maioria dos

homens procura um tratamento alternativo, como tomar alguma

medicação por conta própria, procurar farmácias, tomar chás

caseiros.

Essas alternativas, segundo eles, evitam a perda de tempo

com filas e com a espera pelo atendimento médico.

Page 9: saúde do homem

No presente estudo, nove dos sujeitos verbalizaram utilizar chás

caseiros e automedicação. Os medicamentos mais utilizados foram o

paracetamol, aspirina e relaxante muscular que, segundo eles, são

oferecidos pelas esposas ou familiares.

H57b É difícil eu me sentir doente... Não que eu seja o “super

homem”, mas eu não fico mesmo... Olha eu costumo tomar

remédio, né... um chá... [...] aí a gente toma uma comprimidinho

vermelhinho, que eu não sei o nome. É prá dor... é barato e bom... Eu

mesmo compro na farmácia... A minha esposa, as vezes tem uma

dorzinha e toma esse remédio, aí qualquer pessoa lá em casa tem

uma dor e toma esse remédio [...] A esposa toma e o marido tem que

tomar também...

Page 10: saúde do homem

Percebeu-se que a automedicação e a utilização de chás

caseiros é muito comum entre eles, sendo uma construção cultural que

vem sendo passada de geração em geração.

H35 Olha faz horas que eu não tomo... Quando tomo é uma coisinha ou

outra... Um relaxante muscular, uma coisa assim pra dar uma

descansadinha... Isso ai. [Questionado sobre quem indicou o

entrevistado responde] Olha isso vem passando de geração pra

geração... Se eu disser pra ti quem indicou... Foi a minha vó, depois

veio minha mãe, meu pai... São coisinhas que a gente traz no “bolso”

ouna “mala”davida.

Page 11: saúde do homem

Embora três homens relatem que procuram atendimento

médico, quando estão doentes, o fazem somente em situações

extremadas confirmando a resistência da população masculina em

não se reconhecer doente.

H31 “Só em casos extremos eu procuro o médico... Caso

contrário, tomo um analgésico, alguma coisa... Ou nada mesmo... e passa...

Dá e passa, mas é muito raro, não tenho por hábito tomar qualquer tipo de

medicação.”

H40 “... O problema não é no posto o problema é meu mesmo, não é

que eu não goste de ir... Pra mim ir só em último caso mesmo ...”

Page 12: saúde do homem

Opinião dos homens acerca do atendimento da UBSF

O desconhecimento da maior parte dos homens acerca do

atendimento prestado na UBSF do seu bairro ficou evidente. Dos

entrevistados cinco referem não ter opinião, pois nunca foram àquela

unidade.

Desses, um tem consciência de que necessita acompanhamento de

saúde, pois em sua família há casos de doenças crônicas, mas à

semelhança do que vem sendo apontado na literatura nacional e

estrangeira, como não enfrentou alguma situação crítica (Gomes e

Nascimento, 2006), mantém a autopercepção de saudável (WHITE e

CASH, 2004) e vai adiando a decisão.

Page 13: saúde do homem

Frequência com que os homens procuram atendimento

Analisando o tempo decorrido da última consulta percebe-se que apenas

procuram o serviço médico com regularidade os homens com histórico de

patologias crônicas .

Realizaram sua última consulta entre um e cinco anos, quatro

informantes, cujos depoimentos permitem perceber que a procura pelo

atendimento ocorreu em situação extremada.

Page 14: saúde do homem

H40 “foi... Faz uns 4 meses eu acho... Cortei uma mão... Por acidente de

trabalho... Por doença não..”

H38 A última vez... Faz... Em torno de cinco anos atrás foi por princípio de

enfarto... [...] Muito raro, nessa época eu tava com o nível de stress muito

alto... E ai o “negócio” estourou...

H57aJá faz dois anos, foi por nervo ciático [...] eu forcei demais, eu

trabalhava de pedreiro aí eu tava sentindo o nervo ciático, eu comecei a

forçá, forçá, aí foi quando não deu mais... A coisa piorou mesmo...

Page 15: saúde do homem

Houve ainda casos de informantes cuja última consulta havia

ocorrido há mais de dez anos ou que nem sabiam informar com

precisão. Esses se percebem saudáveis, os problemas de saúde que

ocorrem são minimizados e tratados por conta própria.

H26 Bah!... Não me lembro... Olha vai fazer... Acho uns 10 anos... A

única coisa que eu tenho de mais grave é gripe... E assim mesmo faz

horas que eu não tenho gripe... Dor de dente, aí eu tomo um remédio

para dor de dente... Vou na farmácia, compro remédio e tomo... Faz uns

10 anos que não vou no hospital procurámédico... Eu me sinto bem...

Não vou procurar doença... Não tôdoente...”

H58a Não lembro!... Faz tanto tempo... Tava com o pé infeccionado

por causa de um bicho de pé, fui no pronto socorro e fiz uma injeção e

vim pra casa. [antes disso o senhor tinha ido ao médico alguma vez?]

Não, nunca...

H35 Bah! Nem me lembro... Eu era pequeno... Não me lembro... Nem

o porquê... Nunca fui.

Page 16: saúde do homem

Motivos que dificultam ou impedem os homens de procurarem atendimento

A demora no atendimento,

Pequeno número de fichas

Vergonha pela exposição do corpo aos profissionais,

Medo da descoberta de uma doença grave,

Estereótipos de gênero que dificultam o auto cuidado,

Não se reconhecerem alvo do atendimento. (Gomes et al 2007).

Doze sujeitos referiram não necessitar de atendimento, pois se

consideram saudáveis. Três preferem deixar o atendimento para “os mais

necessitados” não realizando qualquer ação promotora ou preventiva de

saúde.

H26 Acho que nenhum... Eu não vou ali por que... Fazer o quê... Até

ia marca uma consulta prá arrancar um dente, mas até agora não

fui... Se precisar eu vou ali...

Page 17: saúde do homem

O temor de encontrar uma doença grave, ao procurar o

serviço de saúde sem sintomatologia foi expresso por um dos

informantes.

H40 Ela sabe... (refere-se à esposa) não é o serviço, é assim... O

que tu procura tu vai achá... Penso eu assim... Entendesse... O que

tu procura tu vai achar... Se eu pegar um caminhão que tá bom ali...

Ele tá bom, eu coloco ele na oficina e vai aparecer 1000 defeitos. Eu

penso que com a saúde é a mesma coisa. Eu não tenho nada, mas

de repente eu vou ali fazer um exame disso ou daquilo e vai

aparecer isso ou aquilo, principalmente coisa que eu não tenho...

Então o meu pensar é assim... Quem procura acha... Posso tá

errado né? Mas...

Page 18: saúde do homem

Considerações Finais

Com este trabalho as análises empreendidas demonstram

visivelmente que os homens na faixa etária produtiva procuram menos os

serviços de ABS por alguns fatores, dentre eles a dificuldade em se

reconhecerem doentes, a não preocupação com ações voltadas para a

promoção e prevenção a saúde, medo da descoberta de uma doença

grave, além de sentirem-se fortes, não necessitando de maiores cuidados

de saúde.

Assim como alguns estudos já apresentados na literatura eles

somente procuram atendimento quando não conseguem suportar a dor

ou mais trabalhar. (Gomes et al., Nascimento E.F, Gomes R.)

Page 19: saúde do homem

Acredita-se que fatores relacionados a estereótipos de

gênero estejam contribuindo para tais resultados, deve-se levar em

consideração a necessidade de se mudar tanto o enfoque em

relação ao homem, quanto aos serviços que não priorizam esta

parcela da população.

Finalizando, é necessário um repensar sobre todas as

questões levantadas em relação à saúde do homem e apesar da

PNAISH ter sido criada em 2008, em Saúde Pública é um tempo

relativamente pequeno para completa implementação, assim, cabe

a nós profissionais de saúde o papel de motivar e contribuir através

de programas de promoção e prevenção voltados especificamente

para o público masculino.

Page 20: saúde do homem

Referências

1. Laurenti R, Mello-Jorge MHP, Gotlieb SLD. Perfil epidemiológico da morbi-mortalidade masculina.

Ciência Saúde Coletiva 2005; 10:35-46.

2. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: princípios e

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http://www.conass.org.br/admin/arquivos/NT%2012-06.pdf. Acessado em 09/12/2010.

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Page 21: saúde do homem

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Populacional para os anos intercensitários. Estimativas preliminares dos totais

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http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=rs. Acessado em 21/05/2011.

8. Brasil. Ministério da Saúde. Atenção Primária a saúde (APS). Brasília, 2009.

http://www.opas.org.br/informacao /UploadArq/ciclo_debates_texto_referencial. Acessado em

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9. Pinheiro, R, S.et al.Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no Brasil. Ciência &

Saúde Coletiva 2002; 7(4): 687-707.

10. Braz, M. A construção da subjetividade masculina e seu impacto sobre a saúde do homem:

reflexão bioética sobre justiça distributiva. Ciência & Saúde Coletiva 2005; 10 (1): 97-104.

11. Souza E R de. Masculinidade e violência no Brasil: contribuições para a reflexão no campo da

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12. Gomes, R; Nascimento, E. F. A produção do conhecimento da saúde pública sobre a relação

homem-saúde: uma revisão bibliográfica. Cad. de Saúde Pública 2006; 22 (5): 901-911.

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OCUPACIONAL. http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_

regulamentadoras /nr_07_at.pdf. Acessado em 16/06/2011.

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Agradece!