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Faculdade Boa Viagem - DeVry Brasil Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE SATISFAÇÃO E COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL: UMA ANÁLISE SOBRE A PERCEPÇÃO DE DOCENTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA, NO RECIFE-PE RAQUEL RODRIGUES DA COSTA Recife, 2016

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Faculdade Boa Viagem - DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE

SATISFAÇÃO E COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL: UMA ANÁLISE

SOBRE A PERCEPÇÃO DE DOCENTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA, NO

RECIFE-PE

RAQUEL RODRIGUES DA COSTA

Recife, 2016

RAQUEL RODRIGUES DA COSTA

SATISFAÇÃO E COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL: UMA ANÁLISE

SOBRE A PERCEPÇÃO DE DOCENTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA, NO

RECIFE-PE

Orientadora: Professora Dra. Hajnalka Halász Gati.

Recife, 2016

Dissertação como requisito para

obtenção do grau de Mestre em

Gestão Empresarial do Centro de

pesquisa e Pós-Graduação em

Administração – CPPA da Faculdade

Boa Viagem – DeVry Brasil.

Catalogação na fonte -

Biblioteca da Faculdade Boa Viagem | DeVry, Recife/PE

C837s Costa, Raquel Rodrigues da.

Satisfação e comprometimento organizacional: uma análise

sobre a percepção de docentes de uma escola pública, no Recife-

PE. / Raquel Rodrigues da Costa. – Recife: FBV | DeVry,

2016.

96 f. : il.

Orientador(a): Hajnalka Halasz Gati.

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade

Boa Viagem - DeVry.

Inclui anexo.

1. Comprometimento organizacional. 2. Satisfação no

trabalho. 3. Docentes. 4. Escola da rede pública. I. Título. DISS

658[16.1]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca da FBV | DeVry

Faculdade Boa Viagem - DeVry Brasil

Curso de Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE

AGRADECIMENTOS

À minha família, que é a minha base, pessoas com quem posso sempre contar, não só nos

momentos de angústia, e que tenho o prazer de compartilhar mais essa conquista.

À professora Hajnalka, que me orientou na elaboração e na tomada de decisões no processo

de construção desta pesquisa.

Às professoras Maria Auxiliadora e Lourdes, que participaram da banca examinadora e

contribuíram para a melhoria da pesquisa.

Aos professores dos MPGE da FBV- DeVry Brasil, pelos importantes ensinamentos

adquiridos através das aulas.

Ao amigo Marcílio, pelos seus ensinamentos em análise quantitativa.

Aos meus amigos de classe da turma 10, que me apoiaram e com os quais tive a satisfação de

conviver durante todo o curso de mestrado.

Aos professores da escola pública estudada que responderam o meu questionário, e a todos os

outros que me receberam.

RESUMO

Esta pesquisa trata da relação existente entre satisfação no trabalho e comprometimento

organizacional. O estudo foi feito com 27 professores de uma escola da rede pública no

Recife, que apresentou elevado nível de Índice de Desenvolvimento da Educação de

Pernambuco – IDEPE. Esta pesquisa teve como metodologia um estudo de caso, descritivo,

transversal, de natureza mista: quanti-qualitativa, na qual fez-se o uso de um questionário auto

administrado com uma pergunta aberta. A análise quantitativa pesquisou o nível de

comprometimento organizacional em suas três dimensões (afetiva, normativa e instrumental),

a satisfação com o trabalho docente em suas cinco dimensões (satisfação com os colegas de

trabalho, com a chefia, com a natureza do trabalho, com o salário e com as promoções) e a

relação existente entre esses dois construtos. Com as respostas da pergunta aberta da pesquisa,

foi feita a análise qualitativa, na qual se obteve respostas sobre o que a instituição poderia

fazer para os docentes terem mais satisfação no trabalho. Os resultados sugeriram que os

professores da escola pública estudada não apresentaram nível positivo de satisfação com o

trabalho e nem de comprometimento organizacional. Também foi verificada a não existência

de correlação entre essas duas dimensões. Foi constatado que os professores não

demonstraram satisfação e comprometimento com a escola, mas possuíam com a profissão, ao

se sentirem realizados em dar aulas e ao acompanhar o progresso intelectual dos alunos.

Entretanto, as baixas remunerações, e a precária estrutura física do ambiente labutar, fez com

que não se sentissem valorizados ao exercerem sua função no âmbito labutar consultado.

Palavras-chave: Comprometimento organizacional. Satisfação no trabalho. Docentes. Escola

da rede pública.

ABSTRACT

This research deals with the relationship between job satisfaction and organizational

commitment. The study was done with 27 teachers from a public school in Recife, which

showed high level of Pernambuco Education Development Index - IDEPE. This research was

a case study methodology, descriptive, cross-sectional, of a mixed nature: quantitative and

qualitative, which made the use of a questionnaire self administered with an open question.

Quantitative analysis investigated the level of organizational commitment in its three

dimensions (affective, normative and instrumental), satisfaction with the teaching work in its

five dimensions (satisfaction with co-workers, with management, with the nature of work,

wages and promotions) and the relationship between these two constructs. With the answers

of the open research question, qualitative analysis was made, which was obtained answers

about what the institution could do for teachers have more job satisfaction. The results

suggested that teachers of public school studied did not show positive level of job satisfaction

and organizational commitment not. It was also verified that there is no correlation between

these two dimensions. It has been found that teachers did not show satisfaction and

commitment to the school, but had to the profession, to feel accomplished in teaching and

follow the intellectual progress of the students. However, low pay, and poor physical structure

of the labor environment, caused not feel valued when exercising its function under labor

consulted.

Key-words: Organizational commitment. Job satisfaction. Teachers. Public school.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Busca em sites acadêmicos……………………………….....................................16

Quadro 2 - Teoria X e Teoria Y de McGregor.........................................................................20

Quadro 3 - Dimensões e definições de satisfação no trabalho.................................................23

Quadro 4 – Bases do comprometimento organizacional..........................................................36

Quadro 5 – Objetivos e razões da ação do docente...................................................................43

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Alfa de Cronbach – docentes....................................................................................52

Tabela 2 – Gênero dos respondentes.........................................................................................52

Tabela 3 – Faixa etária dos respondentes..................................................................................53

Tabela 4 – Estado civil..............................................................................................................53

Tabela 5 – Tempo de serviço na escola....................................................................................54

Tabela 6 – Vínculo empregatício..............................................................................................54

Tabela 7 – Indicadores de satisfação no trabalho e satisfação geral (frequência)....................56

Tabela 8 – Indicadores de comprometimento organizacional..................................................62

Tabela 9 – Teste qui-quadrado..................................................................................................65

Tabela 10 – Classificação das unidades em categorias.............................................................67

Tabela 11 – O que a escola poderia fazer para o docente ter mais satisfação no trabalho.......69

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Pirâmide das necessidades de Maslow......................................................................21

Figura 2- Hierarquia das necessidades (Maslow) e Herzberg...................................................22

Figura 3- O modelo de comprometimento organizacional de Allen e Meyer..........................31

Figura 4- Desenho da pesquisa.................................................................................................46

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................10

1.1 Contextualização do problema........................................................................................10

1.2 Objetivos............................................................................................................................13

1.2.1 Objetivo geral.................................................................................................................13

1.2.2 Objetivos específicos......................................................................................................13

1.3 Justificativas......................................................................................................................14

1.3.1 Justificativa prática........................................................................................................14

1.3.2 Justificativa teórica........................................................................................................15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................18

2.1 Satisfação no trabalho......................................................................................................18

2.2 Comprometimento organizacional..................................................................................28

2.3 O valor do trabalho docente.............................................................................................37

3 METODOLOGIA................................................................................................................45

3.1 Caracterização da pesquisa..............................................................................................45

3.2 Desenho da pesquisa.........................................................................................................46

3.3 Locus da pesquisa..............................................................................................................46

3.4 População...........................................................................................................................47

3.5 Coleta de dados..................................................................................................................47

3.6 Técnica de análise de dados..............................................................................................49

3.7 Limites da pesquisa...........................................................................................................51

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ........................................................................52

4.1 Grau de satisfação com o trabalho de acordo com a percepção dos

docentes....................................................................................................................................55

4.2 Grau de comprometimento organizacional de acordo com a percepção dos docentes

da escola pública estudada ....................................................................................................61

4.3 Correlação entre satisfação e comprometimento organizacional de acordo com a

percepção dos docentes da escola pública estudada............................................................65

4.4 Razões que influenciam a satisfação no trabalho dos docentes da escola pública

estudada...................................................................................................................................66

4.4.1 Os funcionários da escola estudada..............................................................................66

4.4.2 O que a escola poderia fazer para o docente ter mais satisfação no trabalho..........66

5 CONCLUSÃO......................................................................................................................76

5.1 Sugestões para futuros trabalhos.....................................................................................80

REFERÊNCIAS......................................................................................................................81

ANEXO A - Questionário sobre o grau de satisfação e comprometimento organizacional

docente......................................................................................................................................88

ANEXO B - Respostas da questão aberta sobre as razões que influenciam a satisfação no

trabalho dos docentes da escola pública estudada...............................................................90

10

1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo introdutório serão apresentados os argumentos que se referem à pergunta de

pesquisa, ao se explorar sobre os construtos satisfação e comprometimento com o trabalho

docente. Serão apontados os objetivos geral e específicos, assim como, as justificativas prática

e teórica do estudo que corroboram a relevância desta pesquisa.

1.1 Contextualização do problema

O ser humano não trabalha apenas para a aquisição de salário, pois carrega consigo emoções,

ambições, cria expectativas e busca atender as suas necessidades naquilo que faz. Quando a

empresa o trata apenas como uma peça a mais no processo de produção, o empregado frustra-

se com a falta de reconhecimento e o total descaso de seus gestores que apenas lhe cobram a

função exigida pelo seu cargo, não lhe dando oportunidade de participar nas decisões de

problemas do trabalho.

A globalização tem feito com que as empresas modifiquem suas regras de conduta, exigindo

uma ampla capacidade de adaptação para atender as competitivas leis de mercado, garantindo

assim a sobrevivência e, em alguns casos, a prosperidade (PINTO, 2011).

As inovações organizacionais e a tecnologia do século XXI geraram transformações no

âmbito laboral, não só na produção como também na sociedade de um modo geral, com

consequências tanto para a saúde dos trabalhadores, como para o convívio entre eles. A

globalização progressiva do mercado e o consequente aumento da competitividade

organizacional têm levado muitos gestores a se questionar sobre quais as melhores formas de

estruturação do trabalho para elevar a eficiência de sua organização (FERREIRA, 2011).

A valorização do capital financeiro e patrimonial que, nas últimas décadas, era percebido

como recurso estratégico fundamental das organizações, vem sendo incessantemente

acrescido pelo capital intelectual, o qual apresenta a criatividade, a experiência e a informação

como principais constituintes. Desse modo, os trabalhadores passaram a ser o principal

recurso estratégico e o diferencial competitivo mais intenso das organizações, uma vez que

nesses trabalhadores encontram-se recursos intangíveis de difícil imitação pela concorrência.

Ademais, a flexibilidade, um atributo exigido pela evolução dos processos produtivos, requer

habilidades que também só se encontram no capital humano (PINTO, 2011).

11

Partindo dessa perspectiva de valorização do capital humano, o tema comportamento

organizacional tem apresentado um espaço cada vez maior nas pesquisas sobre gestão

empresarial. As atitudes dos funcionários de uma empresa são responsáveis pelo desempenho

organizacional. Segundo Siqueira e colaboradores (2008), os gestores passaram a defender

satisfação como responsável pelas atitudes de seus funcionários no ofício, tendo

consequências em seu rendimento, atuação, absenteísmo e rotatividade.

A satisfação no trabalho, o comprometimento organizacional, a motivação, a liderança, o

desempenho no trabalho, a cultura organizacional, entre outros, apresentam-se como

construtos utilizados pela administração para explicar o comportamento organizacional

(PINTO, 2011).

Uma das condições necessárias para que um indivíduo trabalhe com satisfação, é que ele saiba

o que a administração espera que ele produza para ter como meta a ser atingida, num

ambiente em que possa se sentir confortável com a gerência, com seus colegas de trabalho e

consigo mesmo, acreditando que está atendendo suas necessidades e está sendo indispensável

para o grupo (FERREIRA, 2011).

Quando o indivíduo encontra satisfação no seu trabalho, o seu ambiente laboral fica

prazeroso, aumentando, consequentemente, o comprometimento e a produtividade do

trabalhador. Segundo Kanan e Zanelli (2011), a satisfação no trabalho, o envolvimento e o

comprometimento são exemplos de atitudes do trabalhador quando este faz avaliações a

respeito do seu ambiente de trabalho.

A satisfação no trabalho é um aspecto a ser considerado no comprometimento para exercer a

função de docente. Tradicionalmente, era atribuída à função de professor o papel referente ao

ensino de disciplinas. Entretanto, com o passar dos anos, além da função de ensinar, vem

sendo dado ao docente o cargo de educar, tarefa antes exercida pela família (MORAES;

ROSAS, 2012).

De acordo com o estudo Education at a Glance 2014, que mapeia informações sobre a

educação nas 34 nações membros, e 10 parceiros, da Organização para a Cooperação

Desenvolvimento Econômico – OCDE, o salário dos professores brasileiros encontra-se entre

os piores do mundo, ganhando apenas da Indonésia, e tendo Luxemburgo como o país que

paga melhor seus docentes (FUENTES, 2014).

12

Muitas vezes, o professor precisa improvisar na hora da aula para elevar o nível de interesse

dos discentes, ou por falta de material didático. Precisa também ter uma paciência descomunal

para trabalhar em salas de aulas superlotadas, má remuneração, excesso de carga horária,

aguentar a falta de educação e a heterogeneidade dos alunos. Além disso, ainda tem que fazer

tarefas que, antes, eram exclusivas do pessoal da secretaria, como: cuidar dos diários, lançar

as faltas no sistema, participar de festas nos fins de semana, realizar projetos, atender a pais e

alunos, fatores esses que contribuem para a insatisfação e o baixo comprometimento dos

profissionais ao exercerem a sua profissão (FERNANDES; BARBOSA, 2014).

Mesmo fora da escola, os professores desempenham tarefas concretas relacionadas à docência, além de se preocuparem com os alunos. A

preparação das aulas, por exemplo, acontece na maioria das vezes à noite,

juntamente com outras atividades, como assistir a TV, ou mesmo orientar as tarefas escolares dos filhos, uma vez que parcela significativa de professores

trabalha em dois turnos ou mais (na mesma escola ou em escolas diferentes).

Há também a presença marcante do trabalho doméstico entre as professoras,

que representa uma carga de trabalho agregada. Com isso, o tempo de descanso e de lazer e o espaço para a criação eram comprometidos [...]

(DUARTE et al., 2008, p.227).

Muitos docentes acreditam que possuem a função apenas de transmitir conhecimento, não

tendo consciência da importância de seu papel na vida dos alunos. Uma das grandes

inquietações do contexto escolar tem sido a relação entre professor e aluno. Pois, devido à

pouca atenção direcionada para esse tema, muitas atividades nas práticas educativas resultam

em fracasso (LOPES, 2008).

A relação entre professor e aluno apresenta grande importância no processo de ensino-

aprendizagem. Reunindo grupos bem heterogêneos, é necessário haver diálogo, respeitar a

singularidade de cada um, para existir uma troca de conhecimentos, fazendo-os refletir sobre

os acontecimentos ocorridos no mundo, e gerar aprendizagem de aluno e professor (Idem,

2008).

A adolescência é marcada por mudanças físicas e emocionais, na qual ocorrem inúmeros

questionamentos, constantes preocupações e exigências que são importantes para o

amadurecimento. Entretanto, esse conflito pode gerar muito desgaste emocional, exigindo

certa maleabilidade e afetividade do docente para despertar o interesse de seus discentes. É

fundamental que o professor de ensino fundamental e médio compreenda esse período de

transformação da vida humana, para que ocorra um bom relacionamento entre docente e

discente, bem como para a organização de novas práticas pedagógicas.

13

Não é nada fácil ser professor em um país que, além de ter um dos piores salários do mundo, é

cercado de uma grande carga de serviços burocráticos. Além de todo esse arsenal de

burocracias e de atividades, que muitas vezes é preciso até levar para casa, existe o problema

da indisciplina escolar difundida na maioria das escolas brasileiras, como o uso de celulares

na hora da aula, conversa, desordem, violências ocorridas na sala de aula, e pressões exercidas

pela coordenação por melhoria de notas (FREITAS, 2015).

Enfim, apesar da remuneração não ser gratificante e a valorização do trabalho docente de

ensino fundamental ser baixa no Brasil, a docência é uma profissão que, além de sublime, é

necessária para a construção de uma sociedade mais justa, educada, e responsável pela

formação de cidadãos que irão atuar em todas as outras profissões existentes.

Como a maioria dos brasileiros não possui condições econômicas para frequentar escolas

privadas, as escolas públicas apresentam um grande contingente discente, tornando o trabalho

docente importante, mas, ao mesmo tempo, árduo. Sendo necessário que os professores

tenham satisfação, comprometimento e qualidade na função que exercem.

Com base nos argumentos aqui apresentados sobre a satisfação e o comprometimento

organizacional, surge o interesse em elucidar a questão de pesquisa a seguir:

Até que ponto o grau de satisfação no trabalho influencia o nível de comprometimento

organizacional do professor, segundo a percepção de docentes de uma escola pública, no

Recife-PE?

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

Investigar até que ponto o grau de satisfação no trabalho influencia o nível de

comprometimento organizacional do professor, segundo a percepção de docentes de uma

escola pública, no Recife-PE.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Investigar o grau de satisfação dos docentes da escola pública estudada.

b) Identificar o grau de comprometimento organizacional dos docentes da escola pública

estudada.

14

c) Verificar a correlação entre satisfação no trabalho e comprometimento organizacional

docente na percepção dos docentes da escola pública estudada.

1.3 Justificativas

1.3.1 Justificativa prática

Vários ofícios foram destruídos pela industrialização, pelas máquinas, pela tecnologia, mas o

ofício de mestre, apesar de sofrer pressão, expropriação do saber profissional dos professores

resistiu.

A reestruturação produtiva e a globalização da economia, nas últimas décadas, tem feito o

sistema educacional brasileiro passar por inúmeras modificações, transformando a formação e

a evolução do trabalho docente, o qual tem a sua função profissional constantemente

questionada e redefinida (SILVA, 2010).

As alterações sofridas pela educação brasileira têm influenciado a subjetividade dos docentes,

já que seu encargo tem adquirido novas finalidades, não sendo exclusivamente o ensino de

matérias. Essas imposições têm influenciado o modo como se estabelecem as relações sócio

profissionais, aumentando o quadro de insatisfação, proveniente das novas características da

estruturação do trabalho docente (MORAES; ROSAS, 2012).

A satisfação e a insatisfação geradas pela vivência do professor em seu âmbito laboral são

atributos indissociáveis, visto que as vivências de prazer e sofrimento compõem-se a partir de

uma relação dialética gerada pela relação entre as exigências da organização do trabalho e a

subjetividade do docente (Idem, 2012).

A pesquisa oferecerá subsídios para a análise dos principais pontos que devem ser

modificados na gestão de colégios para estimular os docentes a terem mais satisfação no

trabalho e, assim, exercerem sua função com mais comprometimento.

O presente estudo apresenta relevância social, por buscar atributos que promovam a satisfação

com o trabalho e o comprometimento organizacional docente. Ao trabalharem com mais

satisfação, os docentes terão um melhor desempenho e produzirão mais, contribuindo com a

instituição e o aprendizado dos alunos.

15

1.3.2 Justificativa teórica

Com a crescente competitividade entre as organizações, a busca e a retenção de empregados

comprometidos e que trabalhem com satisfação tem se tornado essencial, sendo cada vez mais

necessário o estudo sobre esses construtos.

Segundo a pesquisa de Simon e Coltre (2012), as empresas estão enquadradas em uma

conjuntura de transformações, na qual as elevadas modificações ocorridas em escala global

têm produzido efeitos sobre o vínculo entre funcionários e empresas, e sobre o ambiente

labutar. Como consequência disso, as organizações estão cada vez mais a procura de

trabalhadores comprometidos com a organização.

Embora exista muitos estudos sobre o construto comprometimento organizacional, a presente

pesquisa buscou fornecer subsídios aos gestores da maneira mais adequada de como gerenciar

e criar situações que propiciem um interesse significativo dos funcionários e, desse modo,

gerar um maior nível de comprometimento com a empresa na qual atuam (SIQUEIRA et al.,

2008).

Os institutos de pesquisa que se dedicam a criar um ranking das melhores organizações para

se trabalhar, inserem os índices de satisfação no trabalho como um dos principais indicadores

das melhores organizações (Idem, 2008). Desse modo, pesquisas sobre satisfação no trabalho

são úteis para o sucesso empresarial, por meio das quais os gestores podem verificar quais os

melhores métodos de administrar sua organização.

De acordo com os estudos de Robbins, Judge e Sobral (2010), os gestores precisam se

importar com as atitudes dos funcionários, pois influenciam condutas e demonstram possíveis

problemas. Trabalhadores satisfeitos e comprometidos apresentam menores índices de

absenteísmo, rotatividade e comportamentos inadequados, e possuem melhores desempenhos.

Os gestores devem tomar iniciativas que produzam atitudes positivas, e, desse modo,

manterão em níveis baixos as demissões e as faltas, mormente entre os trabalhadores com

melhores produções. A partir do momento que os gestores tornam os atributos intrínsecos do

trabalho mais desafiadores, este se torna mais atraente, aumentando assim a satisfação ao

exercê-lo.

16

Para se fazer o estudo teórico sobre os construtos satisfação no trabalho docente e

comprometimento organizacional foi feita uma pesquisa em livros, teses, dissertações, artigos

e sites acadêmicos, conforme apresentado no quadro 1.

Fonte: Elaboração própria. Acesso: 26 jan. 2016.

De acordo com o Quadro 1, os temas satisfação com o trabalho e comprometimento

organizacional são muito estudados, tendo uma ampla gama de trabalhos científicos a esse

respeito, com os mais diversos tipos de organizações.

No mundo empresarial já existe uma grande quantidade de estudos sobre satisfação e

comprometimento organizacional. Entretanto, a abordagem envolvendo instituições

educacionais públicas no Recife, levando esses dois fatores em consideração, ainda é muito

incipiente.

PESQUISAS REALIZADAS SOBRE SATISFAÇÃO COM O TRABALHO E

COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL (Período: 2010-2016)

Assunto Google

Acadêmico

CAPES SCIELO

Satisfação no trabalho 352.000 21 214

Grau de satisfação no trabalho 197.000 0 25

Mensuração da satisfação no trabalho 43.700 0 0

Comprometimento organizacional docente 27.400 0 150

Trabalho docente 681.000 50 373

Trabalho docente de ensino fundamental 134.000 32 43

Nível de comprometimento organizacional docente 28.000 0 0

Grau de satisfação no trabalho docente 55.600 0 1

Grau de satisfação no trabalho docente de ensino

fundamental

34.800 0 0

Satisfação e compromisso docente 37.900 0 0

Satisfação e compromisso em instituições públicas no

Recife

6.390 0 0

Instituição pública no Recife 44.300 2 0

Quadro 1 - Busca em sites acadêmicos

17

A associação entre satisfação com o trabalho e comprometimento organizacional pode ajudar

gestores a encontrarem métodos adequados de como gerenciar as instituições de ensino para

que os docentes apresentem índices mais elevados desses dois construtos. Quando a satisfação

e o comprometimento docente são mais significativos, a aprendizagem discente também

apresenta maior grau de significância e, assim, melhores resultados para a organização.

O avanço teórico no estudo dos construtos satisfação com o trabalho e comprometimento

organizacional docente está relacionado com um bom aprendizado dos discentes, objetivo

principal de toda instituição de ensino.

É necessário que o docente esteja comprometido com a instituição de ensino na qual trabalha,

e se sinta satisfeito com o seu trabalho para que ocorra um elevado índice de desempenho dos

alunos, sendo evidente a sua contribuição para o desenvolvimento da sociedade. Desse modo,

este estudo é de importância para os stakeholders do processo educativo, ou seja, diretores,

professores, alunos e donos de escolas.

18

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para compreender a relação entre a satisfação com o trabalho e comprometimento

organizacional docente, torna-se relevante a abordagem dos conceitos e características às

quais estão relacionadas.

2.1 Satisfação no trabalho

A satisfação no trabalho é um construto que tem despertado o interesse de muitos

pesquisadores devido ao reflexo sobre a saúde do trabalhador e a qualidade do serviço,

afetando a produtividade e, consequentemente, o sucesso organizacional.

O trabalho pode ser classificado como um dos fatores responsáveis pela felicidade humana, e

a felicidade no trabalho é consequência da satisfação completa de necessidades psicossociais,

da ideia de prazer e do propósito de ajudar no desempenho da atividade laboral (FERREIRA,

2011).

A satisfação no trabalho demonstra o grau com que um emprego atende as necessidades do

trabalhador. Vale ressaltar que fatores externos como, por exemplo, a estabilidade no

trabalho, o tipo de atividade exercida, a remuneração, e outros fatores, também podem

influenciar. Agregados a esses fatores, as características individuais, constituídas pela idade,

gênero, experiência e o grau de instrução do funcionário. Esse tipo de satisfação demonstra o

quanto da aspiração do trabalhador é realmente atendido ao exercer sua função. Outro fator

importante, que deve ser considerado em relação à satisfação no trabalho, é a influência da

estrutura cultural da sociedade (CAPPI; ARAUJO, 2015).

De acordo com Siqueira e colaboradores (2008), a satisfação é conceituada como a

consequência do ambiente organizacional em relação à saúde do trabalhador. Esse construto é

influenciado pela cultura organizacional, mormente pelas práticas que revelam o quanto a

empresa se preocupa com o bem-estar de seus empregados, e o quanto a empresa está disposta

a retribuir pelos esforços que seus empregados investiram nela.

A satisfação profissional pode ser considerada como um estado emocional e como uma

atitude referente ao ofício. Como estado emocional, a satisfação é consequência da avaliação

que o funcionário faz do seu ofício, levando em consideração a maneira como este satisfaz a

sua aspiração de valores para o trabalho. Como atitude, a satisfação é vista sob a perspectiva

19

do comportamento diante do trabalho, ou seja, a disposição para atuar de acordo com a

emoção e a opinião que o trabalhador tem de seu ofício (FONSECA, 2014).

Satisfação no trabalho é uma variável que tem despertado o interesse de gestores

organizacionais e de pesquisadores da área de comportamento organizacional desde o século

XX. Um possível motivo para esse interesse, deriva do fato que indivíduos satisfeitos

exercem bons resultados para a organização. A satisfação no trabalho pode ser considerada o

modo como o trabalhador se sente em relação à sua empresa, referindo-se a quanto o

indivíduo gosta ou não do seu emprego, sendo considerado uma “causa” do comportamento

no trabalho (SIQUEIRA et al., 2008).

A satisfação, no século XXI, é percebida como uma das várias definições que englobam a

afetividade no trabalho, podendo ser vista como um dos três integrantes psicossociais da

definição de bem-estar no trabalho, na companhia do comprometimento organizacional

afetivo e do envolvimento com o trabalho (TRALDI; DEMO, 2012).

De acordo com Rosenstock, Santos e Guerra (2011), os principais fatores de satisfação com o

trabalho estão relacionados ao bom vínculo entre as pessoas, a um salário gratificante, à

responsabilidade e à prática profissional e ao reconhecimento da produção.

A atividade trabalhista se organiza como um conjunto de responsabilidades, tarefas, relações,

estímulos e retribuições em uma dada conjuntura física e social. Desse modo, para se fazer

uma análise sobre a satisfação no trabalho, deve ser feita uma observação sobre os fatores que

a constituem, ressaltando que a satisfação no trabalho é consequência da satisfação com os

vários fatores do trabalho (FERREIRA, 2011).

A satisfação pode gerar mudanças na capacidade de adaptação ao ofício, referente à

autonomia, à integração, à motivação, à utilização das capacidades físicas e mentais e ao

envolvimento com o trabalho (FONSECA, 2014).

Primeiramente, o construto satisfação no trabalho era relacionado à motivação, tendo, desse

modo, relação com as teorias referentes ao comportamento no trabalho, como: a teoria dos

dois fatores, as teorias X e Y, e a teoria da hierarquia das necessidades. A motivação era

considerada uma característica individual responsável pela atitude no trabalho que, ao se

comportar de tal modo, seria mais produtivo. Depois de um tempo, passou a ser considerado

uma atitude. Contemporaneamente, a satisfação é referente à afetividade. Em todos os casos, é

responsável pelo aumento de produtividade no trabalho (SIQUEIRA et al., 2008).

20

As Teorias X e Y, propostas pelo professor e economista americano Douglas McGregor na

década de 1960, abrangem duas teorias contrárias. A Teoria X, também conhecida como

"Hipótese da mediocridade das massas", defende a ideia de que os trabalhadores possuem

aversão nata à responsabilidade e às obrigações do trabalho, precisando constantemente de

ordens superiores para cumprirem seus afazeres. Estas ordens estão sempre acompanhadas de

recompensas ou de punições, que são recursos utilizados pelos gestores para estimularem o

desempenho de seus funcionários. Já a Teoria Y, diz que os trabalhadores são indivíduos

altamente capazes, responsáveis e criativos, que sentem prazer ao trabalhar (PERIARD,

2011).

Quadro 2 - Teoria X e Teoria Y de McGregor

Teoria X Teoria Y

Um indivíduo comum, em situações comuns,

evitará sempre que possível o trabalho.

O indivíduo comum não só aceita a

responsabilidade do trabalho, como também

as procura.

Alguns indivíduos só trabalham sob forte

pressão.

O controle externo e a ameaça não são meios

adequados de se obter trabalho.

Precisam ser forçados, controlados para que

se esforcem em cumprir os objetivos.

O dispêndio de esforço no trabalho é algo

natural.

É preguiçoso e prefere ser dirigido, evita as

responsabilidades e, acima de tudo, deseja

sua própria segurança.

São criativos e inventivos, buscam sempre a

solução para os problemas da empresa.

O indivíduo é motivado pelo menor esforço,

desmandando um acompanhamento por parte

do líder.

São pessoas motivadas pelo máximo esforço,

demandando uma participação maior nas

decisões e negociações inerentes ao seu

trabalho.

São ameaçados com punições severas para

que se esforcem em cumprir os objetivos

O atingimento dos objetivos da organização

está ligado às recompensas associadas e não

ao controle rígido e às punições.

O homem comum busca, basicamente,

segurança.

Os indivíduos são criativos e inventivos,

buscam sempre a solução para os problemas

da empresa.

Fonte: Chrisley (2013), p.1.

De acordo com o Quadro 2, a Teoria X demonstra uma gestão autoritária, na qual o

funcionário é preguiçoso e só trabalha para a aquisição financeira, sendo necessária a

fiscalização para o sucesso organizacional. Já a Teoria Y demonstra um tipo de gestão

democrático, na qual o funcionário é colaborador e trabalha com satisfação e

responsabilidade, e tem consciência que o sucesso da empresa depende de seu esforço.

A teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas, apresentada por Maslow em 1970,

considera que as necessidades humanas podem ser hierarquizadas em cinco escalas

21

ascendentes e dinâmicas: necessidades fisiológicas, de confiança, sociais, de autoestima e de

auto realização, a partir do momento em que o trabalho passa a beneficiar ou não a satisfação

das necessidades humanas passa a ter grande valor para os sujeitos. Ao satisfazerem essas

necessidades, as pessoas encontram a satisfação que precisam para realizarem seus afazeres

com melhor desempenho, beneficiando uma vida com mais prazer (FERREIRA, 2011).

Figura 1- Pirâmide das necessidades de Maslow

Fonte: Adaptado de Fonseca, 2014.

Essas necessidades, demonstradas na Figura 1, foram classificadas seguindo uma pirâmide

hierárquica de prioridades. Cada necessidade é vista como um fator motivacional para a sua

execução, de modo que uma necessidade de ordem superior só surge quando as de ordem

inferior tiverem sido satisfeitas. Dessa maneira, uma necessidade atendida fará com que

ocorra o surgimento de uma nova necessidade, induzindo assim a uma nova insatisfação,

demonstrando que a satisfação de uma necessidade não simboliza um fator motivacional.

O psicólogo americano Frederick Herzberg, um dos nomes mais influentes na gestão

empresarial, desenvolveu a Teoria da Motivação-Higiene, em 1973, também conhecida como

Teoria dos dois fatores, na qual a insatisfação e a satisfação apresentam diversas causas.

Nessa teoria foi ratificada a hipótese da existência de fatores que, quando estão presentes,

propiciam um elevado grau de satisfação. Entretanto, a ausência destes fatores não chega a

gerar um elevado grau de insatisfação. Em contrapartida, esse mesmo autor notou que existem

fatores que, quando estão ausentes, geram elevada insatisfação, mas a sua presença não

propicia o mesmo grau de satisfação. O primeiro fator foi classificado como motivacional

(realização, valorização, responsabilidade e desenvolvimento profissional, conteúdo do

trabalho, considerados eficientes no estímulo das pessoas para se desempenharem melhor), e

o segundo como higiênico (salário, supervisão, local laboral, políticas da organização,

Auto realização

Confiança

Fisiológicas

Sociais

Estima

22

condições de trabalho e convívio entre as pessoas). A satisfação no trabalho depende dos

fatores motivacionais, já a insatisfação depende dos fatores higiênicos (FERREIRA, 2011).

Figura 2 – Hierarquia das necessidades (Maslow) e Herzberg

Fonte : Adaptado de Bonetti (2010).

A Figura 2 deixa claro que nós nos comportamos para satisfazermos nossas necessidades

internas. Entretanto, devido a existencia de diferentes culturas, existe também a diferença

entre valores e normas, havendo variadas prioridades entre os funcionários de diversas

empresas. De acordo com Maslow, primeiramente, precisa-se satisfazer completamente as

necessidades fisiológicas para poder satisfazer as de confiança, e assim, sucessivamente.

Desse modo, o cumprimento de cada etapa é uma motivação. Para Herzeberg, cumprir as

necessidades de higiene só irá originar um funcionário neutro, e que a satisfação só irá surgir

a partir da completude das necessidades motivacionais.

Mesmo com todo o interesse dos estudiosos, ainda não existe um consenso sobre o conceito e

a natureza do construto satisfação no trabalho. De acordo com Marinho (1988), existe uma

propensão em definir o construto segundo um caráter afetivo. Em 2002, Weiss explicou o

construto como um julgamento positivo ou negativo que a pessoa apresenta em relação a seu

ofício ou a certo acontecimento no trabalho.

Com o passar do tempo, as dimensões relacionadas à satisfação não sofreram grandes

modificações, pois cinco dessas dimensões conseguiram manter-se: satisfação com o salário,

com os colegas de trabalho, com a chefia, com as promoções e com o próprio trabalho

(SIQUEIRA et al., 2008), descritas no Quadro 3, a seguir:

Estima

Sociais

Fisiológicas

Segurança

Auto realização

____________________

MOTIVACIONAIS

HIGIÊNICOS

O trabalho em si,

Responsabilidade,

Promoção, Crescimento

Status

Relações interpessoais

Políticas

Segurança no cargo

Salário,

Condições físicas do trabalho

23

Quadro 3 – Dimensões e definições de satisfação no trabalho

DIMENSÕES DEFINIÇÕES

Satisfação com os

colegas

Prazer com a cooperação, a amizade, a confiança e o relacionamento

mantido com os colegas de trabalho.

Satisfação com o

salário

Prazer com o que se recebe como remuneração se comparada com o

quanto o indivíduo trabalha, com sua capacidade profissional, com o

custo de vida e com os esforços na realização do trabalho.

Satisfação com a

chefia

Prazer com a organização e a habilidade profissional do chefe, com o

seu interesse pelo trabalho dos subalternos, e compreensão entre eles.

Satisfação com a

natureza do trabalho

Prazer com o interesse estimulado pelas funções, com a habilidade de

assimilar o trabalho e com a diversidade das mesmas.

Satisfação com as

promoções

Prazer com a quantidade de vezes que já recebeu promoções, com os

privilégios oferecidos a quem é promovido, com o modo de a empresa

realizar promoções e com o tempo de espera pela promoção.

Fonte: Adaptação de Siqueira et al. (2008), p. 269.

A satisfação é um conjunto de emoções favoráveis ou desfavoráveis com as quais os

funcionários encaram seu trabalho. Existe uma distinção importante entre estes sentimentos

associados ao cargo, e dois outros aspectos das atitudes dos empregados. A satisfação no

trabalho é um sentimento de relativo prazer ou sofrimento, que se diferencia de raciocínios

objetivos e de propósitos comportamentais. Estes três aspectos da definição de atitude

favorecem a compreensão dos administradores, referentes às relações dos funcionários com o

tipo de trabalho que realizam e a preverem a consequência destas relações sobre o

comportamento futuro (SIQUEIRA et al., 2008).

Ao exercer sua função, o indivíduo busca satisfazer suas necessidades. Todos os princípios e

objetivos sociais que ele e os outros indivíduos consideram essenciais para si e para a

sociedade, procura seus méritos e os elementos biológicos e psicossociais fundamentais para a

sua sobrevivência (FERREIRA, 2011).

Segundo pesquisa realizada em 24 países, a pedido do Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID), foi constatado que o Brasil ocupa o quarto lugar na classificação

geral de pessoas satisfeitas com o seu trabalho, entre o Brasil e a América Latina em geral

(ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010).

24

Mesmo com tantas distinções entre as pessoas e seus desejos em relação ao trabalho, muitas

similaridades são visíveis entre os fatores que motivam a satisfação no trabalho, afetando os

aspectos físicos e mentais dos trabalhadores e da organização (FERREIRA, 2011).

De acordo com Costa (2010), o nível instrucional correlaciona-se positivamente com

remuneração, promoção e satisfação com a carreira. O nível instrucional apresenta uma

influencia mais intensa sobre a satisfação com a carreira para as mulheres que para homens.

Essa característica pode estar relacionada ao fato de que as mulheres criam menos

expectativas em relação à carreira que os homens e, desse modo, a possibilidade de se

desenvolverem torna-se favorável à satisfação com a carreira.

Empregos interessantes que oferecem treinamento, diversidade, autonomia e controle,

geralmente, satisfazem os empregados. Apesar de o salário ser comumente citado quando as

pessoas abordam sobre o tema satisfação no trabalho, foi verificado que não há muita relação

entre remuneração e satisfação de funcionários no trabalho. Os indivíduos que possuem

poucas posses, ou que vivem em países pobres, a remuneração realmente tem correlação com

a felicidade de maneira geral e com a satisfação no trabalho. Entretanto, quando o trabalhador

passa a ocupar um nível superior de qualidade de vida, a ligação entre satisfação e salário

potencialmente oculta-se. O dinheiro motiva o ser humano, mas o que o motiva não é

necessariamente o mesmo que o faz feliz (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010).

O comportamento e o desempenho dos funcionários em uma empresa são influenciados pelos

valores que eles consideram serem bons e que almejam ter ou querem conservar, afetando a

imagem que os trabalhadores têm sobre a empresa, sobre seus colegas e gestores,

confirmando atitudes e ressaltando o quanto é importante ser levado em consideração sobre o

modo de como o trabalhador deve ser tratado em uma organização (FERREIRA, 2011).

Dividem-se em duas perspectivas os conceitos de satisfação no trabalho: a unidimensional e a

multidimensional ou multifatorial. Na perspectiva unidimensional, a postura do funcionário é

diante do emprego como um todo, tendo-se a satisfação global. Na perspectiva

multidimensional, diferentes atributos do trabalho são caracterizados como causas de

satisfação no trabalho, os mais comuns são: chefia, colegas de trabalho, salário, possibilidades

de promoção e a natureza do trabalho. Na mesma proporção que a chefia e os colegas de

trabalho compõem dimensões referentes ao ambiente social, o salário e as possibilidades de

promoção compõem a dimensão relativa à gestão de pessoas, através da qual a empresa

25

demonstra a sua recompensa ao funcionário pelo seu esforço (TRALDI; DEMO, 2012). A

presente pesquisa abordou a dimensão multidimensional.

Sobre o tema satisfação no trabalho, um dos modelos mais utilizados na literatura é o de

Locke (1976), no qual os fatores responsáveis pela satisfação no trabalho estão relacionados

ao seu conteúdo, às oportunidades de promoção, à valorização, às vinculações com colegas e

subalternos, às situações e ambiente labutar, às particularidades da coordenação e gestão de

políticas e competências da organização (FERREIRA, 2011).

Além das condições de trabalho, a satisfação no trabalho também pode ser influenciada pela

personalidade do funcionário. O indivíduo que apresenta auto avaliação básica positiva, isto é,

que confia em seu valor próprio e nas suas habilidades, está mais satisfeito com seu emprego,

encara seu ofício com mais interesse e gratificação, procurando desafios quando comparado a

indivíduos com auto avaliação básica negativa. As organizações onde a satisfação com o

trabalho se sobressai, têm a tendência de adquirir desempenho superior (ROBBINS; JUDGE;

SOBRAL, 2010).

Trabalhadores satisfeitos estão mais inclinados a expressar fatos positivos da empresa, a

superar as expectativas referentes ao trabalho e a cooperar com os colegas. Logo, indivíduos

que estão mais satisfeitos com o trabalho demonstram maior tendência a ter um

comportamento de cidadania organizacional. Funcionários satisfeitos, geralmente, são mais

atenciosos, afetuosos e alegres, promovendo, assim, a fidelidade de seus clientes. Com posse

dessas informações, muitas organizações dedicam-se inteiramente a satisfação de seus

clientes, o Bradesco é um exemplo (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010).

Mesmo havendo discordâncias em relação à natureza e ao conceito de satisfação no trabalho,

algumas pesquisas são referências em relação ao construto. De acordo com Kahn (1980), a

satisfação é a consequência das experiências pessoais vividas no local de trabalho que são

refletidas na vida social da pessoa. Kabanoff (1980) completa corroborando que tais

consequências demonstram um vínculo próximo entre a vida familiar e o ofício e, do mesmo

modo, Hazan e Shaver (1990) justificam tais resultados como efeito entre as relações afetivas

do trabalhador e o ofício.

Quanto maior a satisfação com o trabalho, menor será a rotatividade de funcionários, fato

comprovado em uma pesquisa realizada com médicos que trabalham no Programa de Saúde

da Família. Vale ressaltar que, se for apresentada uma oferta de emprego inesperada, a

insatisfação com o trabalho é menos responsável pela rotatividade, pois o funcionário sente

26

mais vontade de sair devido à atração pelo emprego novo, do que pela insatisfação com o

atual (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010).

Segundo Locke (1969), satisfação no trabalho pode ser definida como o resultado da

avaliação que o empregado faz a respeito do seu trabalho ou a concretização de seus valores

através desse ofício, sendo um sentimento positivo de conforto. O mesmo autor distingue

necessidades de valores, em que necessidades relacionam-se à sobrevivência e ao conforto da

pessoa, sendo essas características naturais e comuns a todos; e os valores se diferenciam

entre as pessoas, pois estão relacionados ao que a pessoa almeja ou compreende como

benéfico (SILVA, 2012).

A satisfação no trabalho é uma condição emocional, pois a emoção é proveniente da avaliação

dos valores da pessoa, e por ser uma emoção, a satisfação apresenta dois fenômenos: o de

contentamento (satisfação) e o de desgosto, infelicidade (insatisfação). Não obstante esse

construto ser um fenômeno peculiar, os agentes causadores podem ser distribuídos em dois

grupos: situações e condições de trabalho (trabalho propriamente dito, remuneração,

promoção, valorização, ambiente de trabalho, condições de trabalho); e agentes do trabalho

(empresa, colegas e subordinados), ressaltando que os agentes causadores devem ser

avaliados em suas inter-relações (SILVA, 2012).

As distinções no ambiente laboral podem gerar consequências na satisfação no trabalho. São

levados em consideração todos os fatores psicossociais do emprego como, por exemplo, a

função da pessoa na empresa, possibilidades de crescimento de carreira, clima e estrutura

empresarial, relacionamentos entre as pessoas, subdivindo-se em condições de trabalho e

eventos (FERREIRA, 2011).

As condições de trabalho abrangem a segurança (ausência de risco), condições físicas

(disposição física, renovação de ar, ruído, temperatura, umidade e posto de trabalho). Os

eventos envolvem o trabalho propriamente dito e o valor dele para o funcionário, a

remuneração, a valorização, as chances de promoção (FERREIRA, 2011).

Os professores que possuem boas condições de trabalho, são valorizados pelo seu chefe e pais

de discentes, possuem remuneração condizente com o trabalho realizado, trabalham com mais

satisfação e desempenham o serviço de melhor qualidade.

Aferir os níveis de satisfação no trabalho pode ser considerado uma estratégia para

supervisionar o quanto as organizações conseguem, ou não, propagar e proteger a saúde e o

27

bem-estar daqueles que com elas colaboram como forma de trabalho. A satisfação no trabalho

pode se propagar para a vida pessoal, familiar e social dos indivíduos, pode influenciar na

saúde física e psíquica e nos seus níveis de bem-estar. Esse tipo de satisfação gera um vínculo

afetivo da pessoa com o seu emprego. Pesquisar sobre satisfação no trabalho significa estimar

o quanto os retornos oferecidos pela organização em forma de remunerações e promoção, o

quanto a convivência com os colegas e as chefias e o quanto a concretização das tarefas

proporcionam ao funcionário sentimentos satisfatórios (SIQUEIRA; GOMIDE JR., 2008).

Características pessoais dos trabalhadores (sexo, idade, raça, estado civil), do ambiente físico

(iluminação, ruído, temperatura) ou de estrutura organizacional (funcional, matricial ou

hídrica) pouco influenciam no nível de satisfação. Por outro lado, fatores do contexto social

como, por exemplo, percepções de justiça, méritos organizacionais, percepções de suporte e

de reciprocidade que surgem através de relações de trocas sociais e econômicas estabelecidas

entre funcionários e empresas, exercem forte influência sobre os níveis de satisfação no

trabalho. Ou seja, a satisfação no trabalho pode ser considerada como um sentimento

excessivamente sensível às práticas e políticas gerenciais, mormente aquelas que estabelecem

os processos e a distribuição de retornos sobre os comportamentos de funcionários que

demonstram o quanto a organização está comprometida com o bem-estar dos seus

colaboradores, e o quanto estaria decidida a recompensar seus funcionários, o empenho e

todos os investimentos que eles empregam na empresa. A remuneração é o elo básico entre a

mão de obra e a organização. Contudo, não é o único fator de estímulo. As condições

psicológicas e os benefícios sociais além do trabalho como, por exemplo, assistência médica,

ajuda à refeição e transporte também são muito significativas (Idem, 2008).

O setor de recursos humanos, além de ter a incumbência de propiciar iguais oportunidades de

emprego, também busca tornar superior a qualidade de vida no trabalho. Os empenhos para

melhorar a qualidade de vida no trabalho buscam tornar os cargos mais satisfatórios e

produtivos.

Mesmo com todo o avanço da tecnologia para facilitar a produção, os trabalhadores reclamam

cada vez mais de uma maior rotina no trabalho e de condições inadequadas, gerando uma

insatisfação no trabalho. Essa insatisfação muitas vezes propicia greves, elevada rotatividade

de mão de obra, e problemas de saúde físicos e mentais.

Um outro fator gerador de insatisfação no trabalho é a indisciplina dos alunos. De acordo com

Aquino (2011), o nível de disciplina dos alunos pode estar relacionado ao alto grau de

28

liberdade que muitos professores dão aos seus alunos, que muitas vezes interrompem a aula

para fazerem perguntas, que poderiam ser feitas após o término da explicação.

Quando um funcionário encontra-se insatisfeito com o seu trabalho pode apresentar reações

distintas: saída, voz, lealdade ou negligência. A saída corresponde à resposta à insatisfação

demonstrada através da procura por um novo ofício e o consequente abandono da

organização. A voz consiste na atitude resultante de melhores condições de trabalho, através

de uma maneira ativa e construtiva de tornar as condições de trabalho melhores, como a

discussão de entraves com os superiores. A lealdade ocorre como atitude resultante da

insatisfação demonstrada pelo aguardo passivo de melhores condições de trabalho. E a

negligência é a atitude mostrada em deixar degradar o local de trabalho, através do

absenteísmo, aumento do índice de erros e diminuição do empenho (ROBBINS; JUDGE;

SOBRAL, 2010).

Além da satisfação, outro construto também muito estudado na área de comportamento

organizacional é o comprometimento organizacional, ocorrente quando o funcionário se

identifica com as metas da empresa e se sente necessário para o sucesso desta.

2.2 Comprometimento organizacional

Para qualquer empresa se sobressair perante as concorrentes, precisa ter como vantagem

competitiva um recurso intangível. Não fugindo a regra, as instituições de ensino necessitam

ter um patrimônio humano qualificado e comprometido para garantir um bom aprendizado

dos alunos, que é o seu objetivo principal. Com a crescente competitividade empresarial e a

preocupação com o modo como o trabalhador estabelece uma ligação com a empresa na qual

atua, tornou-se cada vez mais relevante o estudo sobre o comprometimento organizacional.

Segundo Lodahl e Kejner (1965), comprometimento com o trabalho é conceituado como o

grau em que um indivíduo se identifica com o seu ofício, ou a relevância que tem o ofício na

representação que o indivíduo tem de si mesmo. O estudo sobre o comprometimento com o

trabalho é dividido em duas abordagens: comportamental e atitudinal.

A abordagem comportamental caracteriza o comprometimento como um estado de ser em que

a pessoa é conduzida pelas suas atitudes e, através destas, acredita que elas apoiam o exercício

de seu próprio envolvimento. A pessoa se sente responsável pela atitude e por seus resultados

e tende a dar valor ao comportamento passado em futuras escolhas. Na abordagem atitudinal,

29

modelo unidimensional de Mowday e colaboradores, de 1979, o comprometimento

organizacional é definido como um forte vínculo de identificação e envolvimento de uma

pessoa com uma determinada organização, que pode ser definido por pelos menos três

atributos: uma intensa confiança e consentimento das metas e valores da organização; estar

disposto a fazer um empenho significativo a favor da organização; e uma extrema vontade de

permanecer membro da organização.

Além das duas abordagens, existem diversos focos do comprometimento: com a empresa

(comprometimento organizacional), com a carreira, com o trabalho ético, com o envolvimento

com o cargo e com o sindicato. Posteriormente, o comprometimento com o sindicato foi

excluído da taxonomia de comprometimento com o trabalho. Foi adicionado o

comprometimento organizacional externo, isto é, um construto caracterizado como o

reconhecimento da identidade e o envolvimento do trabalhador com outra organização,

geralmente, relacionado ao comprometimento com a organização cliente (COSTA, 2010).

O comprometimento organizacional é o grau de identificação que o funcionário tem com uma

empresa em particular, com os objetivos desta, e o anseio de manter-se como integrante dela

(ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010).

De acordo com Mowday, Steers e Porter (1979), o construto comprometimento

organizacional é mais abrangente que o construto satisfação no trabalho. Pois o primeiro

exprime uma reação geral do funcionário à organização como um todo. Já a satisfação no

trabalho exprime uma reação do funcionário ao seu cargo ou a determinadas características de

seu ofício. O comprometimento tem a tendência de ser mais duradouro ao longo do tempo do

que a satisfação. Apesar de algumas situações ocorridas no ambiente labutar afetarem o grau

de satisfação do funcionário, tais situações não induzem o funcionário a modificar o seu

comprometimento para com a organização como um todo.

O relacionamento entre o funcionário e a organização vem sendo pesquisado desde o século

XX, e esse interesse se tornou mais intenso com o princípio da globalização (TRALDI;

DEMO, 2012).

O interesse científico pelo construto comprometimento organizacional tem sido cada vez

maior devido a sua vantagem competitiva. Trabalhadores comprometidos apresentam uma

forte identificação com a organização, disponibilidade para exercer esforços consideráveis em

prol dos objetivos da organização, e desejo de permanecer como membro dessa (SÁ;

LEMOINE, 1999).

30

A gestão de recursos humanos em uma organização precisa ter um sistema de recompensas

que cumpra os objetivos pretendidos. De uma perspectiva organizacional, um sistema de

recompensas tem como meta atrair, motivar e manter os trabalhadores de qualidade elevada

(ANDRADE, 2015).

A organização tem que conhecer as expectativas dos seus funcionários, como modo de

identificar as suas atitudes e comportamentos, esta poderá repercutir sobre o grau de

satisfação e a decisão do funcionário em envolver-se e colaborar com a empresa na qual atua

(Idem, 2015).

Na maioria das organizações, o trabalho é simplificado, havendo uma divisão de todos os

mecanismos necessários para a execução de uma tarefa. Como consequência disso, o trabalho

fica metódico e repetitivo, dispensando qualquer participação do funcionário, reduzindo sua

autonomia e comprometimento no trabalho (Idem, 1999).

Em sua pesquisa clássica, Gouldner (1960), tinha a crença que o comprometimento não era

um construto unidimensional, apresentando como um dos objetivos de sua pesquisa

caracterizar os componentes do comprometimento organizacional. Este mesmo autor

caracterizou duas dimensões para o comprometimento: integração, que é o grau em que a

pessoa passa a sentir parte da organização em que trabalha; introjeção, que é o grau em que o

trabalhador passa a apresentar em seu perfil uma variedade de caracteres e valores

organizacionais aceitos. Vale destacar que, para Gouldner, se sentir integrante de uma

organização é diferente de introjetar atributos e valores organizacionais.

Apesar de existirem variados modelos multidimensionais de componentes do

comprometimento, o mais utilizado em pesquisas foi o modelo de três componentes do

comprometimento determinado por Meyer e Allen (1991). Esses três componentes foram:

comprometimento afetivo, ou seja, um envolvimento, no qual ocorre reconhecimento da

identidade com a organização, desse modo, os trabalhadores com elevado comprometimento

afetivo continuam na organização porque querem; comprometimento instrumental (também

conhecido como de continuação), isto é, o comprometimento relacionado com os gastos

provenientes de deixar a organização, que os autores denominaram de continuance. Logo,

funcionários com comprometimento instrumental conservam-se na organização porque

necessitam; comprometimento normativo ocorre quando o empregado continua a trabalhar na

empresa porque se sente obrigado.

31

Funcionários com um forte comprometimento afetivo permanecem na

organização porque eles querem; aqueles com comprometimento de

continuação permanecem porque precisam; e aqueles com comprometimento normativo permanecem porque sentem que devem fazer isso. (ALLEN;

MEYER, 1990, p. 3).

Torna-se claro perceber que os funcionários que possivelmente não pediriam demissão da

organização seriam aqueles que possuíam um intenso comprometimento. Vale ressaltar que

eles podem experimentar, concomitantemente, mais de uma base de comprometimento.

Figura 3- O modelo de comprometimento organizacional de Allen e Meyer

Correlatos ao comprometimento:

Envolvimento com o trabalho

Satisfação com o trabalho

Legenda: (-): representa uma relação negativa; (+): representa uma relação positiva; (0/-): representa a ausência

de qualquer relação ou a presença de uma relação negativa.

Fonte: adaptado de SOUZA; RECHE; SACHUK (2013), p. 4.

Os antecedentes ao comprometimento organizacional representam as causas para o

desenvolvimento desse tipo de comprometimento. As diferentes variáveis causais dos

antecedentes ao comprometimento foram distribuídas em quatro grupos: variáveis

demográficas, diversidades individuais, experiências de trabalho, e opções/ investimentos

(SOUZA; RECHE; SACHUK, 2013).

32

Os consequentes ao comprometimento representam as atitudes aceitas pelo funcionário

resultante do grau de comprometimento desenvolvido por ele para com a empresa na qual

trabalha. Exprimem a permanência do vínculo entre o funcionário e a empresa. Em

contrapartida, os correlatos ao comprometimento não representam necessariamente as causas

ou consequências do comprometimento. Representam diferentes construtos atitudinais e

motivacionais que possuem intensa relação com o comprometimento organizacional (Idem,

2013).

De acordo com Sá e Lemoine (1999), o comprometimento não está de modo obrigatório

relacionado à atividade desempenhada ou ao conteúdo da função, mas diz respeito à empresa,

seus objetivos, sistemas de gestão, e valores.

De acordo com Medeiros et al. (2005), o comprometimento organizacional é um construto

constituído por sete dimensões ocultas: interiorização de valores e metas organizacionais;

sentimento de imposição em continuar a fazer parte da empresa; sentimento de imposição

pelo desempenho; sentimento de fazer parte; sentimento de ausência de bonificações e

oportunidades; linha consistente de atividade; falta de alternativas.

As empresas devem desenvolver um local de trabalho que estimule os funcionários, que

ofereça cursos que propiciem o crescimento profissional e pessoal de seus integrantes.

Precisam abrir espaço para os empregados darem sua opinião e assumirem responsabilidades

por suas ideias e atitudes (MEDEIROS; ALBUQUERQUE, 2005).

Essa relação entre o ponto de vista atitudinal e o comportamental revela a associação entre

três constituintes: uma aspiração, uma necessidade ou um dever, que fazem com que o

funcionário permaneça na empresa. Desse modo, três tipos de comprometimento podem ser

relatados: afetivo, instrumental e normativo (CAPPI; ARAUJO, 2015).

Os estudos referentes a comprometimento têm sido focado na base afetiva e empresarial.

Quanto aos fundamentos do comprometimento, pode-se citar: comprometimento afetivo;

comprometimento instrumental; comprometimento normativo e comprometimento

comportamental (TRALDI; DEMO, 2012).

A abordagem que dominou a teoria do comprometimento organizacional por mais tempo foi a

afetiva. Introduzida por Etzioni (1975) e consolidada por Steers, Porter e Mowday (1982)

ressalta o fenômeno de identificação do trabalhador com os objetivos e valores da empresa. À

medida que o funcionário se integra a empresa, ele passa a adquirir um sentimento de

33

lealdade, uma vontade de permanecer e de se empenhar para contribuir com o sucesso da

empresa. De acordo com Steers, Porter e Mowday (1982), o comprometimento é mais que

uma atitude de lealdade passiva para com a empresa, abrange também um vínculo ativo que

procura o bem-estar dessa empresa. O comprometimento pode ser descrito por pelo menos

três atributos: uma elevada confiança e aceitação das metas e valores da empresa; ter a

disposição de realizar um esforço significativo a favor da empresa; uma intensa vontade de

permanecer como membro da empresa (MEDEIROS; ALBUQUERQUE, 2005).

A segunda abordagem mais considerada do comprometimento é a instrumental, que é

procedente das pesquisas de Becker (1960). O comprometimento instrumental é caracterizado

pelo autor como a permanência da pessoa na organização em decorrência dos gastos e

vantagens relacionados à sua saída e, desse modo, passa a se engajar em serviços que melhor

atendem seus propósitos no emprego. Esse tipo de comprometimento também é denominado

side bets (troca laterais), calculativo ou de continuação. A terceira abordagem mais relevante

do comprometimento é a normativa, apresentada por Wiener (1982). Fundamenta-se na

premissa que a cultura organizacional influencia o comportamento do trabalhador, fazendo

com que o indivíduo aja conforme os objetivos e interesses da empresa. O autor ressalta que

pessoas comprometidas apresentam determinados comportamentos porque acham que é

correto fazê-lo, devido à cultura da organização que impõe sua atitude e a sua conduta na

organização (Idem, 2005).

Em 1992, Maurice Thévenet agrupou os conceitos de comprometimento sob duas

perspectivas: permutativa e psicológica. Na primeira perspectiva, o intenso vínculo com a

empresa pode ocorrer quando ela corresponder às expectativas e necessidades dos

funcionários. Desse modo, o trabalhador que souber de antemão que não será bonificado

devido aos seus esforços, terá o envolvimento reduzido. Na perspectiva psicológica, o

comprometimento é entendido como um procedimento proveniente do intenso vínculo do

funcionário com a empresa na qual atua. Ou seja, é um vínculo tão forte que excede os

benefícios imediatos.

Segundo Thévenet (1992), para conceituar comprometimento, duas dimensões foram

utilizadas para descrever a relação entre as pessoas e a organização: a adesão e as

oportunidades. A adesão diz respeito à corrente psicológica do comprometimento. Contudo,

ela dá a entender uma identificação dos valores do trabalhador com os valores da empresa

onde atua. “Quando uma pessoa encontra na organização um ambiente no qual ela considera

34

como desejável ou valorizado, ela tende a internalizá-lo” (SÁ; LEMOINE, 1999, p. 3). A

oportunidade diz respeito à corrente permutativa. Ou seja, a empresa dá oportunidades a seus

funcionários, e, como consequência disso, os funcionários tiram proveito dessas

oportunidades, desde o momento em que se tornam relevantes para estes trabalhadores.

Em 1993, Bastos enumerou as seguintes bases do comprometimento: afetiva/ atitudinal

(método de identificação do trabalhador com os objetivos e valores da empresa na qual atua);

instrumental/ calculativa/ de continuação (resultado das recompensas e gastos distinguidos

pelo trabalhador na condição de membro da empresa. Desse modo, ao permanecer na

organização, o trabalhador impede que ocorra a perda ou a inutilização dos investimentos que

fez enquanto esteve trabalhando); sociológica (vínculo proveniente das relações de autoridade

com o empregador, isto é, o funcionário desenvolve uma relação com a empresa quando nota

a autenticidade da autoridade de seu empregador); normativa (conjunto de pressões de regras

sociais que determinam o relacionamento do trabalhador com a empresa) e comportamental (o

trabalhador procura conservar a coerência entre suas atitudes e comportamentos). O

comprometimento organizacional surge quando a pessoa se sente responsável pelo seu ato,

considera tal ação importante, acha que esse ato produz resultados relevantes, e se sente

responsável por tais resultados (SOUZA, RECHE; SACHUK, 2013). Essas variadas bases

têm induzido a tipologias do comprometimento, que podem ser percebidas através das

pesquisas de Meyer, Allen e Smith (1993), que mostram um modelo tridimensional de

comprometimento: afetivo, instrumental e normativo.

Em relação ao comprometimento organizacional, algumas vezes, as pessoas podem se sentir

pouco comprometidas com o seu trabalho, apesar de se identificarem com a função que

realizam (ROSENSTOCK; SANTOS; GUERRA, 2011).

As diversas formas de comprometimento têm diferentes consequências no comportamento. O

comprometimento afetivo e o comprometimento normativo apresentam um vínculo mais

intenso que o comprometimento instrumental. Isso ocorre porque o empregado comprometido

instrumentalmente se mantém vinculado à empresa somente porque não conseguiu uma opção

mais rentável (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010).

O comprometimento afetivo pode ser caracterizado pelas suas principais particularidades:

vontade de continuar a relação com a organização; tendência a defender a empresa; confiança

e aceitação dos valores e metas empresariais. Esse tipo de comprometimento supera a simples

fidelidade passiva à empresa, realizando um vínculo ativo no qual o funcionário estima dar a

35

sua colaboração para cooperar com o sucesso da organização da qual faz parte. O

comprometimento instrumental pode ser percebido pelo fato do funcionário manter-se na

empresa a partir da motivação de noções individuais acerca de custos/perdas de recurso

consequentes da saída do emprego (TRALDI; DEMO, 2012).

O comprometimento organizacional normativo pode ser vislumbrado pela necessidade de

retribuir um benefício concedido, ou pela convicção do funcionário a respeito da dívida social

para com a empresa. Assim, os empregados que apresentam um elevado nível de

comprometimento normativo se sentem obrigados a permanecerem na empresa, e esta trata

seus funcionários como se fossem parte da família, com encargos e normas de condutas

importantes, fazendo com que os empregados se sintam como responsáveis pelo sucesso da

organização (Idem, 2012).

No Brasil, foram reconhecidas sete bases do comprometimento: afetiva, comprometimento

em permanecer; comprometimento pelo desempenho; ausência de recompensas e promoção;

afiliativa; linha consistente de atividade e falta de alternativas. A pertinência dos estudos de

comprometimento, além das questões conceituais, poderia ser interrogada em um instante de

incertezas sobre a própria continuidade do emprego, precarização das relações de trabalho e

de incentivo a que cada funcionário construa sua carreira. E é precisamente em uma situação

como esta, na qual as empresas estão intensamente expostas à competitividade e pressões por

qualidade, que mais precisam de uma mão de obra realmente comprometida com a sua

incumbência e valores (COSTA, 2010).

As particularidades empresariais foram classificadas como antecessoras ao comprometimento,

e o desempenho foi classificado como resultado disso. Foi deduzido que os componentes

afetivos afetam positivamente o desempenho, e os componentes de base instrumental afetam

negativamente o comprometimento. Em contrapartida, as práticas de gestão de recursos

humanos e a filosofia exercem influencia tanto sobre os componentes afetivos quanto os

instrumentais. O comprometimento afetivo é influenciado positivamente pela

descentralização; o comprometimento instrumental é influenciado pela hierarquização, ou

seja, quanto mais hierarquizada a empresa, mais instrumental é o comprometimento, afetando

negativamente o desempenho do funcionário; o comprometimento normativo é influenciado

negativamente pela pouca participação e incumbências determinadas pelos superiores,

enfraquecendo o sentimento de dever em se manter na empresa. As práticas de recursos

humanos de escolha, treinamento, avaliação e salário afetam o comprometimento afetivo. A

36

ausência de comprometimento pode gerar uma série de problemas, são exemplos: fuga da

realidade; elevada rotatividade; baixo nível de engajamento com os afazeres; ausência de

intenção de se qualificar nas funções que exercem; não possuem elevadas inovações e não

reúnem valores por intermédio de ideias, sugestões e entrega (Idem, 2010).

Na presente pesquisa, foi utilizado o foco organizacional do comprometimento, contemplando

as três bases mais estudadas, de acordo com as definições de Siqueira e colaboradores (2008):

afetiva, instrumental e normativa.

Quadro 4- Bases do Comprometimento Organizacional

Bases do Comprometimento Descrição

Comprometimento afetivo ou

atitudinal

Fundamentado na aceitação dos objetivos da

empresa.

Comprometimento instrumental, de

continuação, ou calculativo

Fundamentado nas permutas e na avaliação dos

gastos relacionados à saída da empresa.

Comprometimento normativo Fundamentado no sentimento de lealdade e

obrigação para com a empresa.

Fonte: Adaptado de Siqueira et al. (2008) p. 54.

No Quadro 4, foi demonstrado que para o funcionário apresentar um elevado

comprometimento afetivo é necessário que ele aceite e se identifique com os objetivos da

empresa; o comprometimento instrumental é observado quando o indivíduo permanece na

empresa até o momento em que as vantagens adquiridas com a sua permanência são maiores

que os custos obtidos com a sua saída; já o comprometimento normativo é verificado quando

o indivíduo se sente vinculado a empresa através de seus valores e normas.

Um outro fator importante que também influencia no comprometimento organizacional é a

percepção de justiça organizacional. Essa justiça sofre variações entre as diferentes culturas.

No Brasil, por exemplo, as pessoas têm, de um modo geral, uma inclinação de se relacionar

afetivamente, com proximidade e subjetividade, típico de uma cultura personalista. Em

Portugal, entretanto, prepondera à objetividade e a formalidade no desempenho profissional,

considerando mais importante os vínculos mantidos diretamente com a empresa. Desse modo,

enquanto no Brasil esse comprometimento se alicerça nas relações informais, ao invés de ser

nos vínculos organizacionais, em Portugal, a noção de regra e de lei, relacionada ao conceito

37

de justiça, estimula um ambiente de comprometimento (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL,

2010).

Para o docente ter melhor resultado em seu trabalho, ele precisa se identificar com as metas da

instituição, sentir a necessidade de permanecer, ter lealdade e ter vontade de colaborar para

que sua organização apresente melhores índices de desempenho. Desse modo, no ofício de

mestre o comprometimento organizacional é relevante para o profissional desempenhar sua

função com mais qualidade.

2.3 O valor do trabalho docente

Para um indivíduo ocupar um lugar na sociedade precisa ter um trabalho, necessitando assim,

ter tido um mestre para ter a qualificação adequada para desempenhar qualquer tipo de

função.

O mestre tem que ser artesão, artista, para poder atuar no magistério, porque essa educação

que acontece no a dia tem muito de artesanal. As novas tecnologias não vão apagar a arte se

ser mestre, porque educar incorpora a arte aprendida no diálogo de gerações. Ser professor

incorpora perícia e saberes aprendidos pelo ser humano ao longo de sua formação

(ARROYO,2000).

O ser humano ocupa cerca de um terço do seu tempo trabalhando. Apesar de, ao exercer um

ofício, a pessoa se sentir com uma sensação de orgulho e realização, sempre fica esperando o

tão desejado momento das férias. Enfrentar essa ambiguidade é fundamental para podermos

aperfeiçoar a qualidade de vida, pois o trabalho é deveras importante em relação ao tempo e a

intensidade de consequências que gera na consciência (CSIKSZENTMIHALYI, 1997).

É designada à educação uma responsabilidade ambiciosa no desenvolvimento das pessoas e

da sociedade. O professor tem o importante papel de ser agente de mudança, na formação de

atitudes, estimulando a tolerância e o respeito entre as pessoas. Precisa ter a capacidade de

instigar a curiosidade, desenvolver a autonomia, incentivar o rigor intelectual e conceber as

condições necessárias para o sucesso da educação (DELORS, 2014).

Cada vez mais, a sociedade enfrenta problemas, como pobreza, violência e drogas, que antes

eram deixados do lado de fora da escola. Mas cabe ao professor ser capaz não só de superar

esses problemas e mostrar para os alunos o melhor caminho.

38

A educação é o alicerce para o desenvolvimento de uma sociedade. Segundo a Constituição

Federal brasileira, de 1988, artigo 205, a educação é direito de todos e dever do Estado e da

família, será promovida e estimulada com a participação da sociedade, tendo em vista o pleno

desenvolvimento do indivíduo, sua formação para o exercício da cidadania e sua qualificação

para o trabalho.

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte

e o saber;

III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V - valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei,

planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos;

VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII - garantia de padrão de qualidade (CONSTITUIÇÃO, 1988, p. 37).

A educação apresenta vários objetivos, dentre eles está o de estimular o crescimento

intelectual e pessoal do discente, promovendo um trabalho que deve focar no

desenvolvimento da habilidade de pensar, fazendo com que os discentes percebam a cultura

de que necessitam para se tornarem pessoas livres e responsáveis. Desse modo, compete à

escola incentivar o interesse e as aspirações desses jovens para que os estimulem a atuar de

forma criativa e crítica na sociedade. Para que isso ocorra, deve-se ressaltar a importância

fundamental do docente, como interveniente na organização do encontro entre aquilo que o

discente apresenta como interesse e o que a escola precisa necessariamente trabalhar (LOPES,

2008).

O Brasil ficou em penúltimo lugar em um ranking sobre educação a nível global, que

comparou 40 países, tendo como referência notas de testes e qualidade de professores, dentre

outros fatores. O país que foi classificado em primeiro lugar foi Finlândia, seguida da Coreia

do Sul e de Hong Kong. Vale ressaltar que, as nações que ocuparam os primeiros lugares da

lista, valorizam seus professores e têm como prática uma cultura de educação de qualidade

(BRASIL, 2012).

Após se fazer uma análise sobre os melhores sistemas educacionais, o estudo chegou a uma

conclusão na qual os investimentos são importantes, porém, não tanto quanto sustentar uma

verdadeira “cultura” nacional de aprendizado, que dá valor aos professores, escolas e a

educação como um todo. Daí o elevado desempenho das nações asiáticas no ranking, pois

39

nesses países o estudo tem um diferenciado grau de importância na sociedade e elevadas

expectativas que os genitores têm dos seus filhos (Idem, 2012).

Os sistemas educativos de grande parte das sociedades ocidentais vêm passando por

evoluções comuns ou, no mínimo, convergentes. Isso mostra que os professores vivem,

geralmente, situações semelhantes. Desse modo, tentar compreender as experiências vividas

pelos outros, nos faz melhor compreender a si mesmo (TARDIF; LESSARD, 2008).

Essa evolução do ensino se estabeleceu a partir da segunda guerra mundial, havendo uma

democratização dos sistemas escolares, transformando a escola tradicional em “escola em

massa”, teoricamente aberta a todos, sob a responsabilidade direta dos Estados nacionais

(Idem, 2008).

O ramo educacional se divide em dois setores: a educação pública e a educação privada, os

quais ambos têm se adaptado às exigências do mercado, porém com grandes diferenças. É

muito perceptível a variação no nível de escolaridade, quando se faz comparação sobre o nível

de conhecimento entre um jovem que estuda em escola pública com outro que estuda em

escola particular. Entretanto, apesar da estabilidade no emprego, proporcionada através do

concurso público, não gera satisfação na vida profissional, em decorrência dos baixos níveis

salariais e possibilidades de promoção (CHIUZI, R. M. et al., 2012).

O professor é a figura mais importante no processo educativo, pois, além de ser educador e

transmissor, é mediador de conhecimento, na edificação de uma sociedade mais equânime.

Antes, os alunos iam à escola e recebiam passivamente o conhecimento, sem poder opinar.

Hoje, o docente é mediador, ensinando o discente a ser ativo na aprendizagem, fazendo-o um

ser pensante e questionador por si próprio. Através de seu trabalho, o docente tem a

oportunidade de ter realização pessoal e exercer o seu potencial e o seu dom natural.

O trabalho docente apresenta-se como uma atividade profissional complexa e de nível

elevado, que exige erudição e sabedoria em diversos campos: cultura geral e conhecimentos

disciplinares; conhecimento dos discentes, de seu ambiente familiar e sociocultural;

experiência sobre as dificuldades de aprendizagem, do sistema escolar e de seus objetivos;

capacidade na gestão de classe e nas relações humanas, etc. Esse ofício também exige

habilidades e procedimentos próprios para tornar a aprendizagem do discente mais fácil:

respeito aos discentes; capacidade de comunicação; espírito de abertura para as diversas

culturas e minorias, etc (TARDIF; LESSARD, 2008).

40

Para o docente ajudar a construir uma sociedade pensante, e oferecer uma formação escolar de

qualidade, é necessário que ele tenha consciência de sua real obrigação. O professor precisa

ser apaixonado pelo que faz, e adquirir a habilidade de ensinar, renovando constantemente sua

prática pedagógica da melhor maneira, para despertar o interesse de aprender do aluno

(FREIRE, 1979).

Segundo Saviani (2003), no processo de ensino aprendizagem, não é adequado ocorrer a

pedagogia tradicional, na qual ocorre uma relação vertical, onde o professor é o detentor de

conhecimento, não dando a oportunidade do discente expressar seu ponto de vista. Também

não é adequado ocorrer a pedagogia nova, na qual a aprendizagem ocorre de forma

espontânea como consequência do meio estimulante e da conexão entre professor, aluno e

ambiente, onde o docente age apenas como incentivador e orientador da aprendizagem. O

que deve acontecer é a pedagogia crítico-social, em que professor e aluno apresentam-se em

níveis diferentes de instrução e experiências da prática social.

O docente precisa assumir o seu lugar de educador, reconhecendo os discentes como seres

sociais. Considerando suas experiências sociais acumuladas, tendo consciência da diferença

existente entre cada um deles, e do conhecimento que possuem. Devendo haver uma troca de

conceitos pré-concebidos, fazendo com que o aluno se sinta acolhido, motivado a ter novas

aprendizagens, provocando e estimulando-o a pensar criticamente e a se colocar como

responsável pela sua própria aprendizagem (BULGRAEN, 2010).

Os professores devem estar preparados ao fato que os discentes já apresentam opiniões

formadas sobre diversos assuntos e, desse modo, não reagem à proposta do docente como ele

supunha. Ou seja, a lógica do docente é diferente da lógica dos alunos porque o seu

comportamento é dirigido sem correspondência com uma carência ou uma procura dos

alunos; de certo modo ele é “sobreposto” (TARDIF; LESSARD, 2008).

Segundo Fontana e Cruz (1997), o docente, por meio de seus questionamentos, não recusa e

nem reprova as explicações iniciais dos discentes. Pelo contrário, ele as problematiza e os

induz a levarem em consideração relações que não haviam sido consideradas anteriormente,

fazendo com que reelaborem novas explicações em termos tão elaborados quanto era possível

ao docente. Percebe-se, desse modo, que ensinar não é apenas transmitir conhecimento, mas é

fornecer ao discente momentos de reelaboração do conhecimento, possibilitando o seu acesso

crítico a esses saberes e colaborando para agir de forma ativa e crítica no processo histórico-

cultural da sociedade.

41

No Canadá, a formação dos docentes passa por um momento rico em mudanças, entretanto,

grande parte dessas mudanças não progride ou apresenta apenas um baixo impacto. Neste

mesmo país, a formação dos professores e seus formadores sempre estiveram relacionados às

tradições e às elites tradicionais, estando ligados à Igreja por um longo período. Entretanto,

com a globalização e a aceleração das mudanças, as tradições perdem o seu sentido, e os

formadores de professores apresentam uma diminuição de sua autoridade, do seu status e da

sua posição (TARDIF; LESSARD, 2008).

Durante muitos anos, o trabalho do professor era caracterizado como uma atividade que

ocorria dentro da sala de aula, tendo início e término com o toque da campa. Entretanto, não é

isso que ocorre, pois o docente precisa estudar para elaborar as aulas, corrigir provas, e fazer

inúmeras tarefas que não ocorrem dentro de sala (FERNANDES; BARBOSA, 2014).

Segundo Duarte (2011), a jornada de trabalho docente pode ser caracterizada como extensa,

pois, geralmente, o número de horas de trabalho exigido tem sido cada vez maior. E intensa,

devido o docente reunir uma série de demandas cada vez maiores.

Vale ressaltar a diferenciação entre tempo de trabalho e tempo de ensino. O primeiro,

geralmente considerado necessário para proporcionar uma atividade docente de qualidade,

refere-se às atividades focadas na educação dos alunos, desenvolvidas pelos docentes no

tempo de vida privada, como, por exemplo, correção de atividades, elaboração de provas, etc.

Já o tempo de ensino, diz respeito às funções realizadas em sala de aula, diante dos alunos

(FERNANDES; BARBOSA, 2014).

De acordo com a Lei nº 11738 de 2008, a qual instituiu o Piso Salarial Profissional Nacional

para o magistério, foi determinado que 1/3 da jornada de trabalho docente seja oferecida ao

trabalho extraclasse (BRASIL, 2008).

Segundo Silva (2001), existem divergências no modo como o trabalhado docente é

distinguido por docentes, pois alguns encaram a função como geradora de muito estresse,

enquanto outros a experienciam com bem-estar e entrega. O bem-estar docente está

relacionado ao trabalho em equipe, e a formação recebida pelo professor o ensina a enfrentar

os momentos de estresse, ressaltando o conjunto de atribuições e estratégias que este

desenvolve para obter sucesso ao enfrentar os problemas do dia a dia no ambiente de trabalho.

Apesar das dificuldades enfrentadas, cotidianamente, pelos professores em seu ambiente

laboral, não os fazem sentir arrependimento de terem escolhido tal profissão.

42

Uma instituição de ensino que não leva em consideração o ponto de vista dos discentes tem

inevitavelmente um único sentido restrito, reduzido ao organizacional e a um organizacional

que só julga os discentes sob o aspecto quantitativo e das tipologias disponíveis. Para levar

em conta o funcionamento pedagógico, a instituição deverá fundamentar-se nas perspectivas

dos indivíduos, consideradas como interagentes, ou seja, professores e alunos (TARDIF;

LESSARD, 2008).

O docente era considerado aquele que tinha o conhecimento absoluto, entretanto, com o

passar dos anos e as mudanças ocorridas em todas as profissões, o professor passou a ter outra

função. Precisa se manter em permanente atualização de conhecimentos, tendo a expectativa

que domine métodos práticos e eficientes para possuir diversos conhecimentos (Idem, 2008).

A modificação, que tem ocorrido no mundo do trabalho, tem promovido embates em todas as

profissões, e a docência é uma das que mais tem sofrido alterações. Dentre as inúmeras

mudanças, encontram-se as reformas educacionais baseadas em normas utilizadas por

organismos internacionais. Tais reformas sugerem (na verdade, impõem) metodologias,

diagnósticos, conhecimento prático, resolução de problemas, fazendo com que ocorram

mudanças nas condições de trabalho, que nem sempre são para melhor. A partir do momento

em que tais mudanças foram implantadas, passaram a existir os sistemas de avaliação externa,

exigindo dos docentes uma autonomia controlada, e uma sequência de obrigações que não

lhes pertenciam antes, precisando ser realizadas em tempo insuficiente e nem sempre

remuneradas adequadamente (FERNANDES; BARBOSA, 2014).

Devido ao crescente aumento na competitividade profissional, as pessoas estão precisando se

qualificar cada vez mais para se sobressair perante os outros. Essa competição tem gerado

uma expectativa sobre a escola e, principalmente, sobre o docente, exigindo que seja

polivalente e flexível para se adequar aos novos modelos de qualificação (SILVA, 2001).

A falta de uma boa estrutura escolar, e a relação professor - aluno, também vêm se destacando

como grandes problemas que a docência tem enfrentado. Os professores estão cada vez mais

expostos à falta de segurança, que se alastra pelas escolas, com alunos desrespeitosos e

violentos tornando-se progressivamente em número mais elevado, gerando muito estresse

(SILVA, 2001).

Nos últimos tempos, muitas pessoas vêm sofrendo com o estresse e a síndrome de burnout

(distúrbio psíquico de cunho depressivo, gerado pelo desgaste físico e emocional), devido a

43

dificuldades provenientes do ambiente laboral. Esse sofrimento acarreta transtornos, tanto na

esfera individual, como social e profissional (BENEVIDES – PEREIRA et al., 2010).

O excessivo desgaste emocional está relacionado ao fato da pessoa ter chegado ao seu limite

de tolerância. Devido à queda no vigor para investir no trabalho, a pessoa perde a satisfação

no trabalho, diminuindo a qualidade e o rendimento do seu serviço, fazendo com que ocorra

uma ausência de comprometimento com o trabalho (Idem, 2010).

Em sala de aula acontecem as mais variadas situações, e cada classe possui de alguma

maneira, suas peculiaridades. Entretanto, existem características que foram descritas por

Doyle em 1986, que podem ser encontradas em todas as classes. Para descrever os

acontecimentos ocorridos em classe, deve-se citar a categoria de multiplicidade. Ou seja,

acontecem várias situações concomitantemente ou em um curto espaço de tempo (TARDIF;

LESSARD, 2005).

No quadro 5 são apresentados os objetivos e as razões da ação do docente diante dos diversos

acontecimentos ocorridos em sala de aula.

Quadro 5 - Objetivos e razões da ação do docente

Natureza da ação

As atividades em classe

Objetivo ou razão da ação

Ordem ao grupo Vamos sentar. Estabelecer uma ordem

coletiva para a aprendizagem

Pergunta para o grupo Alguém já terminou os

exercícios de matemática?

Pergunta factual para

conseguir uma informação

Ordem ao grupo Vamos terminar os exercícios de

matemática

Chamar para o começo da

tarefa coletiva

Chamada à ordem “Ester, pare de conversar.” Impor ordem a uma aluna

Supervisão dos

exercícios e correção

Ela caminha entre as carteiras e

olha os exercícios que os alunos

que os alunos fazem. Corrige e

faz comentários.

Trabalho de aprendizagem

sob a inspeção da professora

que faz correções

Questionamento “Silvano, pode fechar a porta,

por favor?”

Acabar com uma situação

incômoda (a porta aberta)

Chamada à ordem “Samuel, você está demorando

muito. Todo mundo já terminou,

menos você.”

Impor ordem a uma aluno

Pergunta para o grupo “Quem sabe onde fica a

biblioteca?”(ninguém responde)

Pergunta factual para

conseguir uma informação Fonte: Adaptado de Tardif; Lessard (2005), p. 237.

44

Através dos acontecimentos descritos no Quadro 5, pode-se notar que o docente está

continuamente interagindo com os alunos, para garantir o controle da classe e a execução das

tarefas discentes.

Muitas vezes, o comportamento perturbador de apenas alguns alunos faz com que o trabalho

coletivo seja interrompido devido à interação entre os alunos. Então, o professor precisa parar

a aula para chamar a atenção dos perturbadores, impondo respeito, ou até mesmo a expulsão

da classe. Na realidade, o ofício docente pode ser caracterizado como um trabalho

heterogêneo, onde existem ações ligadas a metas reais (exercer uma tarefa, provocar

determinada reação de um aluno), ações ligadas a regras (impor respeito para manter a

disciplina, dar preferência a alguns valores), ações tradicionais (obedecer os regulamentos da

instituição de ensino – disposição das carteiras, fila) e ações afetivas (motivação, laços

afetivos com os alunos) (TARDIF; LESSARD, 2005).

Um bom relacionamento entre docente e discente é exigência básica para que os alunos

tenham uma ligação positiva com o conteúdo que está sendo ensinado, facilitando um

aprendizado que tenha valor para estes, e tornando uma maior aquisição de saberes. Vale

ressaltar que fica mais difícil ter uma boa relação com os alunos, se os professores encontram-

se estressados, com baixa realização ocupacional, e desumanos em sua convivência com as

pessoas (BENEVIDES – PEREIRA et al., 2010).

Apesar de professores e alunos nem sempre terem em vista os mesmos objetivos, é possível

corroborar que eles tentam, espontaneamente, fixar entre si formas de estabilização da

situação. Foi observado, no colégio estudado em Paris, que o controle das situações ocorre

devido a uma solidariedade entre os professores, através de troca de informações sobre os

métodos de ensino para alunos desfavorecidos. Entretanto, a chegada progressiva de jovens

docentes que ainda não têm essa visão de mundo, acaba abalando esse controle (TARDIF;

LESSARD, 2008).

45

3 METODOLOGIA

Neste capítulo são demonstrados os procedimentos metodológicos que foram utilizados na

investigação da questão de pesquisa: Até que ponto o grau de satisfação no trabalho

influencia o nível de comprometimento organizacional do professor, segundo a

percepção de docentes de uma escola pública, no Recife-PE?

3.1 Caracterização da pesquisa

A presente pesquisa foi um estudo de caso, descritivo, transversal, de natureza mista: quanti-

qualitativa. Fez-se uso de um questionário auto administrado com uma pergunta aberta.

Malhotra (2008) afirma que a pesquisa descritiva é um tipo de pesquisa conclusiva que

apresenta como principal meta a descrição de algo. Caracteriza-se pela definição evidente de

um problema, formulação prévia de hipóteses específicas. Desse modo, as informações

necessárias estão claramente definidas. Como consequência, a pesquisa é pré-determinada e

estruturada. Baseando-se, normalmente, em amostras representativas e grandes. O estudo

transversal abrange a coleta de dados de uma dada amostra da população uma única vez.

Foi utilizada uma metodologia de natureza quantitativa para se fazer uma mensuração sobre: o

grau de satisfação no trabalho docente e o nível de comprometimento organizacional docente,

e a relação existente entre esses dois aspectos. E qualitativa para se evidenciar argumentos

expressos pelos professores, na pergunta subjetiva do questionário, em relação a sua

satisfação com o trabalho.

As variáveis dependentes da pesquisa são satisfação no trabalho (satisfação com o salário,

com os colegas de trabalho, com a chefia, com as promoções e com a natureza do trabalho),

comprometimento organizacional (afetivo, instrumental e normativo) e fatores demográficos

(idade, gênero, estado civil, tempo de serviço e vínculo empregatício). A variável dependente

é a relação entre a satisfação e o comprometimento com o trabalho docente.

46

3.2 Desenho da pesquisa

O presente estudo foi acompanhado pela sequência metodológica apresentada na Figura 4:

Figura 4 – Desenho da pesquisa

Fonte: Elaboração própria, baseada em Gil (2010).

A primeira fase do estudo foi caracterizada pela elaboração do problema proveniente da

preocupação da autora em analisar até que ponto o grau de satisfação no trabalho influencia o

nível de comprometimento organizacional docente. Na fase seguinte, foram formulados os

objetivos que orientaram a pesquisa na busca pela resolução do problema levantado.

Como continuação, se definiu como um estudo de caso, descritivo, transversal, de natureza

mista: quanti-qualitativa. Após se fazer a escolha do questionário auto administrado, utilizado

como instrumento de coletas de dados, foi elaborada a pergunta subjetiva para se ter

conhecimento sobre o que a escola deve fazer para o professor ter mais satisfação com o

trabalho. Foi contatada a população para a coleta de dados que, uma vez realizada, foi

sucedida pela análise e a interpretação dos mesmos, para a conclusão da pesquisa.

3.3 Locus da pesquisa

O locus da pesquisa consistiu em uma escola pública estadual, mantida por uma universidade

particular em parceria com o Governo do Estado. Foi inaugurada no ano de 1880, com

Elaboração do

problema

Formulação dos

objetivos

Escolha do instrumento

de coleta de dados, e

elaboração da pergunta

subjetiva

Coleta de

dados

Análise e

interpretação

dos dados

Redação de

dissertação

População/ Amostra

47

ensino fundamental, ensino médio e ensino técnico. Funciona como uma instituição

filantrópica, e apresenta como projeto político-pedagógico uma educação voltada para o

desenvolvimento sustentável. Com a criação de projetos escolares preocupados com a

conscientização discente da utilização reduzida de matéria prima, através da reciclagem.

A instituição estudada foi escolhida por apresentar, entre as escolas da região metropolitana

do Recife, um bom Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco – IDEPE, em

2014, com média de 5,77. Pernambuco teve um crescimento de 6% na qualidade de ensino,

em relação a 2013.

O Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (IDEPE) leva em consideração a

proficiência, isto é, a aptidão do discente nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática;

e o fluxo escolar nos últimos três anos do Ensino Fundamental e no último ano do Ensino

Médio. É necessário que o docente esteja comprometido com seu trabalho, pois saber

identificar as dificuldades individuais dos alunos é uma tarefa árdua, mas necessária, para que

ocorra um bom desempenho discente, não tornando o aprendizado passível de falhas

(ROCHA et al., 2010).

Não foi citado o nome da instituição para preservar a imagem da população estudada, e, desse

modo, facilitar o grau de receptividade dos pesquisados para com a pesquisadora.

3.4 População/Amostra

Foram analisados todos os professores da escola pública selecionada, quinze no período da

manhã e quinze no período da tarde, trinta no total.

De uma maneira geral, os docentes foram receptivos e colaboraram com a pesquisa, do

mesmo modo agiu a diretora, ao receber a pesquisadora e dar apoio para a realização do

estudo. Foram consultados 30 professores, entretanto, apenas 27 se dispuseram a responder o

questionário.

3.5 Coleta de dados

A coleta foi realizada nos dias dezesseis, dezoito e vinte de novembro do ano de dois mil e

quinze.

48

Ao chegar à escola, a pesquisadora só pôde entregar os questionários nos últimos cinco

minutos do horário do recreio, tanto no período da manhã quanto no período da tarde. No

primeiro dia, apenas dois professores do período matutino responderam o questionário, o

restante disse não ter tido tempo disponível para isso. No período vespertino, apenas cinco

responderam.

No segundo dia, foram coletados seis questionários de manhã, e seis à tarde. No terceiro dia,

três professores responderam no período da manhã, entretanto, dois, do sexo feminino, se

recusaram com a justificativa de estarem sem tempo e “sem saco”. Desse modo, pode-se notar

a falta de comprometimento e satisfação dessas duas professoras em responder ao

questionário. No período da tarde, oito professores entregaram, mas um, do sexo masculino,

disse não ter tido tempo para responder.

O instrumento utilizado nesta pesquisa foi um questionário auto administrado (ANEXO A).

Esse tipo de instrumento é desenvolvido para mensurar informações relevantes de indivíduos,

empresas, eventos e outros fenômenos sem a intervenção do pesquisador (HAIR JR. et al.,

2005).

A escolha por esse método de coleta de dados teve como principal meta deixar os

respondentes à vontade para colaborar com a pesquisa, devido ao anonimato que o método

possibilita. Provavelmente, os docentes não iriam participar da pesquisa e responder sobre

possível insatisfação ou baixo comprometimento com o trabalho, se fossem identificados.

Na primeira parte do questionário foi utilizada a Escala de Satisfação no Trabalho (EST) de

Siqueira et al. (2008), com o objetivo de identificar o grau de satisfação dos docentes no seu

trabalho. Trata-se de uma medida multidimensional produzida e validada com a intenção de

avaliar o grau de contentamento do trabalhador de acordo com as cinco dimensões do seu

trabalho. Por causa da apreensão com o tamanho do questionário, por ficar extenso e

cansativo, foi utilizada versão reduzida da escala, também validada por Siqueira et al. (2008).

Essa versão reduzida do questionário apresenta 15 itens, e é composta pelas dimensões:

satisfação com os colegas de trabalho (alpha de Cronbach 0,81), satisfação com o salário

(alpha de Cronbach 0,90), satisfação com a chefia (alpha de Cronbach 0,84), satisfação com

a natureza do trabalho (alpha de Cronbach 0,77) e satisfação com as promoções (alpha de

Cronbach 0,81). Na medição de satisfação foi usada a escala tipo Likert com cinco pontos,

desde “muito insatisfeito” a “muito satisfeito”.

49

A segunda parte do questionário teve o objetivo de identificar o nível das dimensões de

comprometimento organizacional. Com esse intuito, foi utilizado um instrumento de 18 itens,

tipo Likert com variação de 1 a 5, que vai desde “discordo plenamente” a “concordo

plenamente”, que foi originalmente posto em prática por Meyer; Allen; Smith (1993) e

previamente validado no Brasil por Medeiros e Enders (1998). As dimensões são a afetiva

(alpha de Cronbach 0,85), instrumental (alpha de Cronbach 0,78) e normativa (alpha de

Cronbach 0,73).

O instrumento trata sobre os três fatores do comprometimento organizacional. O

comprometimento afetivo possui nove questões, o comprometimento instrumental contém

cinco, e o comprometimento normativo contempla quatro itens.

Essa técnica de coleta de dados apresenta uma série de vantagens: atinge um amplo número

de pessoas simultaneamente; economiza tempo; obtém respostas mais rápidas e precisas; há

uma maior liberdade e segurança nas respostas, devido o anonimato; menor probabilidade de

vieses, pela não influencia do pesquisador; há uma maior uniformidade na análise, em virtude

da impessoalidade da técnica (MARCONI; LAKATOS, 2010).

Não foi preciso realizar pré-teste, pois os questionários utilizados para se fazer a pesquisa já

haviam sidos validados por Siqueira et al., 2008, e já foram também utilizados na dissertação

de Carolina M. D. R. Luz, em 2009.

Além do questionário com perguntas objetivas sobre satisfação com o trabalho e

comprometimento organizacional, foi elaborada uma questão aberta, uma vez que já se

suspeitava que a relação entre os dois construtos não seria comprovada, para se saber quais

atributos seriam necessários para elevar o nível de satisfação dos docentes na instituição

estudada.

3.6 Técnica de análise de dados

Foi feito um estudo de caso do senso obtido da instituição de ensino pesquisada. Com base

nessa análise, foi feita a identificação dos fatores que promovem a satisfação e o consequente

comprometimento com o trabalho dos docentes analisados, e, em seguida, feita uma avaliação

das relações existentes entre estes dois fatores.

Para a apuração dos dados, foi utilizado um software estatístico, denominado Statistical

Package for the Social Sciences (SPSS). As respostas dos docentes analisados foram

50

codificadas numa planilha e submetidas a análises estatísticas descritivas com o intuito de

sintetizar os dados, permitindo, desse modo, uma percepção geral da variação desses valores,

apresentados em tabelas, gráficos e medidas descritivas.

Foi feita uma análise de conteúdo das respostas da questão subjetiva. Segundo Moraes (1999),

a análise de conteúdo é uma metodologia utilizada para analisar dados qualitativos. O

componente essencial da análise de conteúdo pode ser formado por qualquer material

proveniente de comunicação verbal ou não-verbal, como cartas, jornais, revistas, entrevistas,

relatos autobiográficos, etc. No entanto, as informações resultantes dessas fontes variadas

chegam ao pesquisador em estado bruto, precisando serem organizadas, para assim facilitar a

compreensão, interpretação e conclusão a que pretende a análise de conteúdo.

A análise de conteúdo pode ser considerada uma interpretação pessoal por parte do

investigador, com relação ao conhecimento que tem das informações. Não é possível uma

leitura sem explicação. Consequentemente, para compreender o significado de um texto, é

necessário levar em consideração a situação. É preciso observar, além do conteúdo expresso,

o autor, o destinatário e os modos de reunir em códigos a transmissão dos dados (MORAES,

1999).

De acordo com Moraes (1999), o processo de análise de conteúdo é constituído de cinco

etapas:

1. Preparação das informações: é indicado fazer uma leitura de todo o material, e verificar

quais deles estão de acordo com os objetivos da pesquisa. Em seguida, deve ser estabelecido

um código que facilite identificar cada elemento da amostra coletada.

2. Transformação do conteúdo em unidades: reler minuciosamente o material com o objetivo

de estabelecer a unidade da análise, ou seja, o elemento unitário de conteúdo a ser submetido

posteriormente à classificação.

3. Classificação das unidades em categorias: é um processo de reunir dados, considerando a

parte comum existente entre eles. Desse modo, a categorização representa um processo de

síntese dos dados.

4. Descrição: é o momento de se demonstrar os significados entendidos e pressentidos nos

dados analisados. Através do texto elaborado como resultado da análise, geralmente, será

possível compreender a validade e os resultados da pesquisa.

51

5. Interpretação: uma análise de conteúdo de qualidade não deve se limitar à descrição. É

necessário que se tenha uma percepção mais detalhada do conteúdo dos dados coletados

através da inferência e interpretação.

O termo inferência está mais associado à pesquisa de abordagem quantitativa, na qual será

feita a conclusão da amostra, que será passível para a generalização de uma população de

onde a amostra foi retirada. Já a interpretação está relacionada à pesquisa qualitativa. Vale

ressaltar que em toda leitura de texto ocorre interpretação.

Deve ser enfatizado que comprometimento com o trabalho não é uma particularidade estável

no indivíduo. As situações que desenham o objetivo do trabalho podem modificar o grau de

comprometimento com ele. Então, circunstâncias como, por exemplo, tempo para executar a

tarefa e desafios que elas impõem ao trabalhador podem levar o funcionário a modificar seu

grau de comprometimento com o trabalho (SIQUEIRA et al., 2008).

3.7 Limites e limitações da pesquisa

A pesquisa de campo abrangeu apenas vinte e sete professores, pois três professores não

quiseram responder o questionário, em uma escola pública que apresentou elevado Índice de

Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (IDEPE), da região metropolitana do Recife.

Depois que foram analisados os questionários, foi verificado que a satisfação em relação às

promoções não poderia ser levada em consideração porque tanto os professores concursados

quanto os professores de contrato temporário não poderiam ser promovidos. Segundo Siqueira

e Gomide Júnior (2004), o salário e as oportunidades de promoção são considerados

particularidades da gestão de pessoas, através dos quais a empresa demonstra sua retribuição

ao funcionário, constituindo-se em duas formas do funcionário perceber resultados de seus

investimentos na empresa e avaliar seu vínculo de troca com esta.

52

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Nesse capítulo serão demonstrados, analisados e discutidos os dados coletados com esta

pesquisa com a intenção de responder o objetivo geral e os objetivos específicos.

Primeiramente será ilustrada a quantidade de itens presente no questionário utilizado para se

fazer a coleta, e os dados demográficos dos respondentes para um melhor entendimento sobre

o público estudado.

Na Tabela 1 foi demonstrada a quantidade de itens no questionário que os professores tiveram

que responder sobre os construtos satisfação com o trabalho e comprometimento

organizacional docente, e o índice de confiabilidade das respostas obtidas.

Tabela 1 – Alfa de Cronbach – docentes

Construtos Quantidade de itens Alfa de Cronbach

Satisfação com o trabalho

docente

15 0,846

Comprometimento

organizacional docente

18 0,891

Fonte: Dados da pesquisa, 2015.

Os índices de confiabilidade dos dados sobre satisfação com o trabalho e comprometimento

organizacional docente demonstraram os resultados do alfa de Cronbach em níveis

satisfatórios, satisfação com o trabalho docente (alpha de Cronbach 0,846) e

comprometimento organizacional docente (alpha de Cronbach 0,891), ultrapassando a marca

de 0,7 (HAIR JÚNIOR et al., 2009).

Os dados demográficos da amostra foram definidos por cinco atributos: idade, gênero, estado

civil, tempo de trabalho na escola, vínculo empregatício. O detalhamento desses dados foi

demonstrado nas tabelas 2, 3, 4, 5 e 6.

Tabela 2- Gênero dos respondentes

Gênero Frequência (N) Frequência Válida (%)

Masculino 10 37

Feminino 17 63

Total 27 100

Fonte: dados da pesquisa, 2015.

53

Tendo como referencia o gênero, a maioria dos professores da escola era do sexo feminino,

justificando a ocorrência de conversas sobre filhos e trabalhos domésticos, na hora do recreio,

e a proximidade com os alunos. Foi observado que, alguns discentes, procuraram suas mestras

para tratarem sobre assuntos particulares. Desse modo, constatou-se que, além de professoras,

eram vistas como uma figura materna, por alguns alunos. Outro fato notado, é que uma das

professoras estava com gestação avançada, não tendo certa facilidade para se locomover com

rapidez pelos corredores da escola.

Tabela 3- Faixa etária dos respondentes

Faixa etária Frequência (N) Frequência Válida (%)

De 20 a 29 anos 1 3,7

De 30 a 39 anos 13 48,1

De 40 a 49 anos 7 25,9

50 anos e mais 6 22,2

Total 27 100

Fonte: dados da pesquisa, 2015.

Devido à faixa etária do perfil de docentes não ser muito jovem, é natural a maioria já

encontrar-se casado (51,8%), como mostra a Tabela 4.

Tabela 4- Estado civil

Estado civil Frequência (N) Frequência Válida (%)

Solteiro 10 37

Casado 14 51,8

Divorciado 2 7,4

Viúvo 1 3,7

Total 27 100

Fonte: dados da pesquisa, 2015.

Quanto ao tempo de serviço na instituição (Tabela 5), 44,4% dos docentes trabalhavam na

instituição até no máximo 5 anos, tendo, desse modo, um bom tempo de convívio e certa

experiência com os alunos antigos; 29,6% apresentaram apenas até 1 ano de serviço, estando

ainda se adaptando aos alunos e a convivência com os colegas de trabalho.

54

Foi observado que 14,8% dos docentes trabalhavam na instituição há mais de 20 anos, ou

seja, muito tempo de experiência com o serviço, com a escola, já se adaptaram as regras do

trabalho e sabem como contornar quando algum problema profissional surgir de repente.

Apenas 11,1% dos servidores tinham até no máximo 10 anos de serviço na escola, não foi

verificada a presença de docentes que trabalhavam na escola até 15 anos e até 20 anos.

Tabela 5 – Tempo de serviço na escola

Tempo de trabalho Frequência (N) Frequência Válida (%)

Até 1 ano 8 29,6

Até 5 anos 12 44,4

Até 10 anos 3 11,1

Até 15 anos 0 0

Até 20 anos 0 0

Mais de 20 anos 4 14,8

Total 27 100

Fonte: dados da pesquisa, 2015.

Em relação ao vínculo empregatício (Tabela 6), a maioria dos professores era concursada,

66,6%, apresentado, desse modo, estabilidade financeira para o resto da vida, se tiver uma boa

conduta no âmbito laboral. Com contrato temporário, apresentaram-se 33,3% dos docentes, já

tendo consciência que o tempo de serviço na instituição não será de muitos anos.

Tabela 6 – Vínculo empregatício

Vínculo empregatício Frequência (N) Frequência Válida (%)

Concursado 18 66,6

Contrato temporário 9 33,3

Total 27 100

Fonte: dados da pesquisa, 2015.

Nenhum respondente foi desconsiderado por ter respondido o formulário de maneira

inadequada ou por ter respondido a pergunta aberta com apenas uma palavra.

55

A seguir serão analisados os dados recolhidos relacionados ao grau de satisfação dos docentes

respondentes.

4.1 Grau de satisfação com o trabalho de acordo com a percepção dos docentes

O primeiro objetivo específico foi pesquisar o grau de satisfação dos docentes da escola

pública estudada. Foi escolhida uma escola com elevado Índice de Desenvolvimento da

Educação de Pernambuco – IDEPE, devido ao fato da literatura apontar que as empresas que

apresentam bom desempenho são comprometidas (MOWDAY; STEERS; PORTER 1979;

BECKER; HUSELID; ULRICH, 2001; MEDEIROS; ALBUQUERQUE, 2005). Vale

também ser ressaltado que o bom resultado no desempenho dos alunos ocorre como

consequência do trabalho docente feito com qualidade. Ou seja, o comprometimento do

professor com o seu trabalho, e não necessariamente com a sua organização. Pois, na presente

pesquisa, apesar dos alunos terem apresentado nota boa no IDEPE, os docentes não

demonstraram comprometimento com a instituição na qual trabalham.

Para o estudo, foi utilizada a escala resumida de Siqueira e colaboradores (2008), com uma

pequena modificação da escala likert de 7 para 5 itens, alteração também validada por

Siqueira e colaboradores (2008), devido concluir-se que se tornaria mais fácil a compreensão

dos respondentes.

Segundo Siqueira e colaboradores (2008), para ser feita a análise dos resultados, foi estimado

que, quanto maior fosse o escore médio, maior seria o grau satisfação do docente com aquela

dimensão de seu trabalho.

A tabela 7 demonstra as médias, os desvios-padrão e o alpha de Cronbach dos indicadores de

satisfação no trabalho. Esses resultados foram provenientes dos dados recolhidos do

questionário, o qual apresentou três questões relativas a cada item de satisfação (satisfação

com os colegas de trabalho, satisfação com o salário, satisfação com a chefia, satisfação com

a natureza do trabalho, satisfação com as promoções). A satisfação no trabalho foi composta

pela união de todos os itens relativos à satisfação, citados acima. Sendo considerada positiva a

média acima de três em um escore da escala.

56

Tabela 7 – Indicadores de Satisfação no Trabalho e Satisfação geral (frequência)

Indicadores de Satisfação

no Trabalho

Média

Desvio

Padrão

Alpha de

Cronbach

Insatisfeitos

N %

Neutros

N %

Satisfeitos

N %

Satisfação com os Colegas 3,48 1,1208 0,864 5 18,51 3 11,11 19 70,37

Satisfação com o Salário 1,77 0,7971 0,794 23 85,18 4 14,81 0 0

Satisfação com a Chefia 3,80 0,9710 0,820 3 11,11 3 11,11 21 77,77

Satisfação com a Natureza do

Trabalho

3,32 1,2311 0,763 6 22,22 8 29,63 13 48,15

Satisfação com as Promoções 2,32 1,1002 0,829 15 55,55 9 33,33 3 11,11

Satisfação no trabalho (geral) 2,94 1,2826 0,846 9 33,33 3 11,11 15 55,55

Fonte: Dados da pesquisa, 2015.

Pelos dados obtidos e apresentados na Tabela 7, apesar de a satisfação no trabalho não ter sido

positiva, percebeu-se um valor significativo em relação à satisfação com a chefia, considerada

a dimensão de maior satisfação, com vinte e um docentes satisfeitos. Esse construto foi muito

evidente quando foi aplicado o questionário aos docentes. A diretora da escola apresentou

respeito para com os docentes, dando-lhes oportunidade de demonstrar suas opiniões.

De acordo com Robbins, Judge e Sobral (2010), para que ocorra o sucesso organizacional é

necessário que os gestores tenham interesse em relação ao comportamento dos funcionários.

Pois quando o trabalhador pode se expressar, expor seus pontos de vista, ele se sente parte

integrante da instituição, estimulando-o a se esmerar para que sua organização alcance suas

metas e, desse modo, elevando a produtividade da empresa e o seu desempenho. Segundo os

autores Rosenstock, Santos e Guerra (2011), a satisfação com o trabalho está relacionada ao

reconhecimento da produção. Ou seja, quando o gestor valoriza o desempenho de seus

funcionários, eles se sentem motivados com o seu serviço. As citações acima podem ser

corroboradas com algumas expressões utilizadas pelos professores que responderam a questão

aberta:

[...] eu gosto do desempenho da diretora, ela me deixa falar na hora das

reuniões e eu posso dar aula do jeito que gosto. Na outra escola que

trabalhei tive problemas com o diretor, que queria interferir até na minha metodologia de ensino. Eu me sentia tão vigiado que nem conseguia dar

57

aulas direito, parecia até que eu estava em um Big Brother, era um horror,

mas graças a Deus consegui um lugar aqui nessa escola, que para mim é um

paraíso. (Respondente 3)

Tenho uma boa convivência com meus colegas de trabalho e com a

minha chefa, mas acho que deveria haver mais diálogos abertos entre ambos, para juntos podermos superar todos os problemas ocorridos no

cotidiano. (Respondente 9)

Eu gosto do trabalho da nossa gestora, ela tem um bom desempenho

profissional, e ela trata bem a todos. Quando eu tive um problema familiar, ela me deu todo o apoio. Eu já trabalho nessa instituição há mais de

vinte anos, mas não tenho o costume de estar expondo meus assuntos

pessoais com meus colegas professores. Quanto menos a gente fala é melhor,

a pior coisa é olho gordo. (Respondente 18)

Estou satisfeito com o modo como a chefa trata seus subalternos, quando nós, professores, temos problemas com alguns alunos mal-educados, ela

sabe como contornar as situações, punindo e mostrando o exemplo para os

outros alunos não fazerem o mesmo. E ela sabe como conversar com os pais, pois alguns não aceitam que falemos mal dos filhos deles, parece que a culpa

é nossa, pela falta de educação que eles não souberam dar. Então, às vezes é

complicado manter esse tipo de diálogo. (Respondente 20)

Quando os docentes sentem a valorização do seu trabalho, fica mais prazeroso exercer a

função e, consequentemente, os estimulam a produzirem cada vez mais e com melhor

qualidade.

Foi verificada também a satisfação em relação aos colegas de trabalho (dezenove docentes).

Observou-se uma boa convivência entre boa parte dos docentes. De acordo com Ferreira

(2011), um ambiente labutar em que o indivíduo tem uma boa convivência com os colegas de

trabalho faz com que o trabalhador se sinta encorajado, estimulado a permanecer mais tempo

no serviço, tornando o seu ofício mais confortável e produtivo. Corroborando com a citação

de Ferreira (2011), Rosenstock, Santos e Guerra (2011) ressaltam que a satisfação no trabalho

está relacionada ao bom vínculo entre as pessoas no ambiente de trabalho. A fala dos

professores entrevistados confirma tais interpretações:

Gosto dos meus colegas de serviço, somos amigos, quando acontece

algum imprevisto sempre tem um professor que me ajuda, posso

desabafar nos momentos de angústia e sobre os mais diversos assuntos que

podem ocorrer na vida de uma pessoa. (Respondente 5)

58

Eu já criei um certo carinho pela escola e pelos funcionários daqui. Gosto da

minha chefa e dos meus colegas de trabalho, sinto o apoio e a

consideração deles comigo, quando tenho problemas no trabalho, gosto de colocar pra fora tudo que estou sentindo, e eles me ouvem com carinho.

(Respondente 13)

Eu acho boa a convivência que tenho com meus colegas professores, a

gente se respeita e colabora uns com os outros, fazendo com que ocorra

união entre todos, afinal de contas a união faz a força, e trabalhar com adolescentes não é nada fácil, apesar de ser prazeroso. Porém, com a

constante substituição de alguns professores, apesar de a maioria dos

docentes ser concursada, algumas vezes gera problemas entre os docentes

novos e os antigos. (Respondente 15)

Trabalho na escola desde 1993 e, desde então, mantenho um comprometimento afetivo que vai além da questão profissional. Com o

passar de todo esse tempo, fiz muitas amizades e conheci pessoas

maravilhosas, como professores e alunos que até hoje me comunico pessoalmente ou via whatsapp e facebook. (Respondente 27)

Do mesmo modo que o provérbio afirma “a união faz a força”, o docente se sente mais forte,

com mais segurança em desempenhar seu cargo quando tem o apoio de seus colegas de

trabalho.

Em relação à natureza do trabalho, treze docentes responderam positivamente ao quesito. A

definição desse construto, conforme Siqueira e colaboradores (2008), é o contentamento

despertado com as funções desempenhadas no ofício e com a variedade de funções da mesma.

A função de docente pode apresentar uma diversidade de tarefas como, elaboração de aulas

práticas e teóricas, atividades em grupo, avaliar trabalhos dramatúrgicos que os alunos podem

desenvolver, produção e correção de provas, e muitas outras atividades.

Segundo Cappi e Araujo (2015), o tipo de atividade exercida é um fator interno que pode

influenciar no nível de satisfação do trabalhador ao exercer sua função. Através da análise dos

dados da Tabela 7, os professores analisados apresentaram nível satisfatório em relação à

realização destas tarefas. A fala dos docentes da escola estudada confirma tal interpretação:

Estou satisfeito com a minha profissão, não poderia ter escolhido ofício melhor. O meu trabalho é o mais importante de todos, pois se não existisse

professor do ensino fundamental, não existiria nenhuma outra profissão. Eu

me sinto importante para a sociedade ao exercer a minha profissão de docente. Sinto muito satisfação ao ver ex-alunos já acabando a faculdade e

conseguindo arrumar emprego, sei que o meu trabalho contribuiu para tudo

isso. (Respondente 3)

59

[...] nossa profissão deveria ser mais valorizada, pois qualquer

profissional precisou um dia ter tido professor do ensino fundamental,

mas infelizmente o pessoal não enxerga isso, trata a nossa profissão como se fosse um empreguinho qualquer, esquecem que além de todo o trabalho que

a gente tem, tivemos que estudar muito e ainda continuamos estudando todos

os dias para darmos aula [...]. (Respondente 12)

Eu gosto muito de dar aulas, tenho prazer ao ensinar, entretanto, acho

que os professores deveriam demonstrar mais interesse e comprometimento com a função que exercem todos os dias. Uma profissão tão bonita e

importante, que deveria ser mais valorizada pelas pessoas da nossa

sociedade, sem a nossa profissão não existiria nenhuma outra.

(Respondente 16)

Sinto realização com a variedade de tarefas que realizo, muitas vezes fico tão concentrado ao dar aulas que nem percebo o tempo passar. É muito

prazeroso acompanharmos a evolução intelectual dos alunos [...].

(Respondente 17)

Quando o indivíduo trabalha em um emprego que gosta, quando sua função lhe dá prazer ao

realizar, as horas de serviço são vistas como momentos de realização pessoal, fazendo bem

para a sua saúde física e mental e para o sucesso organizacional.

A insatisfação com o salário foi um sentimento quase que unânime entre os entrevistados, dos

vinte e sete respondentes, vinte e três expressaram insatisfação, os quatro restantes

mostraram-se indiferentes, mas nenhum docente demonstrou satisfação. À luz de Robbins,

Judge e Sobral (2010), apesar de quase todos os docentes terem apresentado insatisfação com

o salário, foi conferido que a remuneração não possui muita relação com a satisfação do

indivíduo com o trabalho. O salário pode até gerar motivação, mas não necessariamente traz a

felicidade.

De acordo com os mesmos autores citados acima, quanto maior a satisfação do trabalhador

com o seu ofício, menor será a sua vontade de abandonar a empresa na qual trabalha.

Corroborando com tal afirmação, foi observado que devido os professores da escola estudada

não apresentarem satisfação com o seu trabalho, demonstraram a vontade de trocar de escola

se encontrassem uma proposta de emprego mais rentável.

De acordo com Ferreira (2011), a respeito da teoria da Motivação-Higiene, a satisfação no

trabalho depende dos atributos motivacionais, ou seja, valorização, realização,

responsabilidade e natureza do trabalho, fatores esses que estimulam as pessoas a exercerem

sua função com melhor qualidade. As respostas dos professores analisados demonstraram um

60

nível positivo em relação à natureza, mas os professores não se sentiam valorizados pela

instituição, pela falta de cursos de desenvolvimento profissional. A insatisfação depende dos

valores higiênicos que, na Tabela 7, são representados pela satisfação com a chefia, os colegas

de trabalho e salário, na qual apenas este último apresentou nível de insatisfação significativo,

também vale ser citada a estrutura física inadequada da escola, com salas de aula quentes e

mal iluminadas.

Apesar de a média em relação à natureza do trabalho dos professores analisados ter

apresentado um nível positivo, não foi um fator motivacional significativo para que o nível de

satisfação com o trabalho docente apresentasse o nível positivo como resultado.

Segundo Siqueira e colaboradores (2008), o comprometimento da empresa com seus

funcionários, ou seja, o modo como essa retribui o investimento aplicado pelos seus

trabalhadores, possui uma influência relevante sobre a satisfação. Algumas falas exprimem

bem essa percepção:

[...] o salário é muito baixo, preciso dar aulas particulares para

complementar a renda, se eu recebesse uma proposta de emprego mais

lucrativa sairia daqui o mais rápido possível! (Respondente 2)

[...] só em pensar no salário de professor dá uma tristeza, a nossa

profissão deveria ser mais valorizada, merecia ter mais a atenção do governo, com salários mais dignos, não deveria me fazer ter mais de um

emprego para poder pagar minhas contas. (Respondente 4)

[...] a remuneração de professor é muito baixa, e de escola pública, então,

é mais baixa ainda. Trabalhamos tanto, mas o governo não reconhece o

nosso esforço, só é cobrança, mas retribuição que é bom nem lembram.

Trabalhamos demais e ganhamos de menos. (Respondente 8)

O salário deveria sofrer reajustes, pois ninguém vive bem com um

salário desse. Apesar de eu ser professora concursada há cinco anos, ou seja,

já ter estabilidade financeira, tenho sempre a preocupação se no final do mês vou conseguir pagar todas as contas. Não consigo entender como é que uma

profissão tão importante não é valorizada, no meu ponto de vista é a

profissão mais relevante de todas, mas no Brasil o salário é essa miséria. O

que meu marido, que é médico, ganha em um plantão de carnaval é o mesmo

que eu ganho no final de um mês de serviço. (Respondente 15)

É relevante citar que, no momento em que a pesquisadora aplicou os questionários, dois

professores falaram que, apesar de o salário ser baixo, não haviam se arrependido de escolher

61

tal profissão. Essa constatação pode ser corroborada pelo fato de, mesmo sabendo que o

salário é pouco, muitas pessoas se inscrevem nos concursos para professor, ou seja, fazem

porque gostam da profissão em si.

Para um indivíduo sentir prazer ao trabalhar, terá que ter as suas necessidades atendidas. Esse

sentimento positivo em relação ao ofício pode ser influenciado por atributos externos como,

por exemplo, o tipo de trabalho desempenhado e a remuneração. Como consequência disso, se

o docente não sentir prazer com a natureza de seu trabalho, ou com o seu salário, acarretará

insatisfação com a sua função (CAPPI; ARAUJO, 2014).

Embora a média (2,94) se aproxime de três, só é considerado positiva a média acima deste

valor, os resultados apresentados na tabela 7 demonstram nível insatisfatório em relação à

satisfação com o trabalho dos professores analisados, respondendo assim o primeiro objetivo

específico da pesquisa. Segundo Weiss (2002), a satisfação no trabalho ocorre quando o

trabalhador tem uma avaliação positiva em relação ao seu ofício que, na pesquisa realizada,

foi a docência de ensino fundamental.

4.2 Grau de comprometimento organizacional de acordo com a percepção de docentes

da escola pública estudada

O segundo objetivo específico da pesquisa foi identificar o grau de comprometimento

organizacional dos docentes da escola pública estudada. Na presente pesquisa foi utilizado o

modelo de Meyer e Allen (1991).

Na Tabela 8 foram demonstrados a média, o desvio padrão e o alpha de Cronbach do grau de

comprometimento organizacional, feita através dos dados recolhidos no questionário aplicado

aos docentes, o qual apresentou nove questões relacionadas a comprometimento afetivo, cinco

questões relativas a comprometimento instrumental, e quatro questões relacionadas a

comprometimento normativo.

Para se conseguir os resultados, em uma escala de 1 a 5, foi considerado que uma média

acima de 3 em um escore da escala, significa uma resposta positiva para o construto

comprometimento organizacional e suas dimensões.

62

Tabela 8 – Indicadores de comprometimento organizacional

Indicadores de Comprometimento

Organizacional

Média Desvio

Padrão

Alpha de

Cronbach

M > 3

N %

M < 3

N %

Comprometimento Afetivo 2,7 1,24 0,70 9 33 18 67

Comprometimento Instrumental 2,6 1,12 0,83 7 24 20 76

Comprometimento Normativo 3,6 0,64 0,69 12 46 15 54

Fonte: Dados da pesquisa, 2015.

De acordo com a análise dos indicadores de comprometimento organizacional, os professores

não apresentaram comprometimento com o trabalho. Fato evidenciado porque a maioria das

respostas foi negativa em relação aos três construtos, apresentando apenas o

comprometimento normativo com média positiva. Respondendo, desse modo, ao segundo

objetivo da pesquisa.

Sá e Lemoine (1999) constataram que o indivíduo comprometido organizacionalmente,

demonstra uma intensa vontade de permanecer na empresa, além de estar disposto a exercer

uma atuação significativa em prol da empresa, e apresenta uma forte identificação com a

organização. Entretanto, foi observado que a insatisfação com o salário precário faz com que

a grande maioria dos docentes consultados tenha vontade de abandonar a escola, caso

recebesse uma proposta mais lucrativa de emprego. Consequentemente, não apresentam

comprometimento com a organização em que trabalham. Completando a interpretação acima,

Mowday, Steers e Porter (1979), afirmaram que o comprometimento organizacional é uma

reação geral do trabalhador à empresa como um todo, sendo mais duradouro ao longo do

tempo. Desse modo, algumas situações ocorridas no ambiente de trabalho podem até gerar

satisfação no indivíduo, mas não vai modificar o seu nível de comprometimento com a

organização.

O comprometimento normativo foi o único que apresentou uma média significativa, acima de

três, com doze respostas positivas dos docentes para o construto, demonstrando que estes

professores se comportavam congruentemente aos objetivos e interesses da organização

(BASTOS, 1993). De acordo com Traldi e Demo (2012), os funcionários que apresentam um

nível significativo de comprometimento normativo se sentem com a obrigação de permanecer

na organização, e esta faz com que seus trabalhadores se sintam responsáveis pelo sucesso da

empresa na qual trabalham.

63

Segundo o modelo multidimensional de Allen e Meyer (1990), os professores que

apresentaram esse tipo de comprometimento positivo, permanecem na escola porque sentem

que devem agir desse modo. Seguem alguns exemplos que comprovam essas interpretações:

Sei que não vou demorar muito tempo aqui, porque meu contrato é

temporário, mas já criei um apego com essa instituição, pois já trabalho há

quatro anos e meio aqui. Se eu pudesse, se eu fosse concursada, não

deixaria a escola porque acho que tenho uma obrigação moral com os meus alunos e com toda a comunidade escolar. Você não imagina o prazer

que tenho em dar aula aqui. (Respondente 6)

Apesar de eu não ser concursado, sinto que tenho um compromisso com as

pessoas dessa escola, com o meu trabalho e me sentiria culpado se

deixasse a escola nesse momento. (Respondente 7)

[...] os alunos deveriam respeitar mais os docentes, como acontecia antigamente, que a gente fazia silêncio sem o professor precisar pedir. Hoje

em dia é cansativo dar aula. Mas, mesmo assim, gosto do que faço, sinto que

tenho uma obrigação com meus alunos, não só com eles, mas com toda a

comunidade. (Respondente 12)

Quando o professor sente a obrigação de permanecer na organização, é demonstrado que a

cultura organizacional influenciou o seu comportamento no trabalho, ou seja, passa a agir

conforme acha que seja correto para a instituição.

Os professores apresentaram um baixo grau de comprometimento instrumental (apenas sete

responderam positivo ao construto). Indicando que os docentes permanecem na instituição por

outras razões, mas não pelos motivos relacionados ao comprometimento instrumental, ou seja,

com receio dos gastos relacionados à saída da organização, e nela permanecem porque

precisam (MEYER; ALLEN, 1991).

Segundo Medeiros e Albuquerque (2005), o comprometimento instrumental é identificado

como a permanência do funcionário na empresa como consequência dos gastos e benefícios

relacionados à sua saída, e assim passa a se engajar em atividades que melhor atendem seus

objetivos no emprego. De acordo com Bastos (1993), o comprometimento instrumental é o

resultado das retribuições e gastos notados pelo funcionário na condição de integrante da

empresa. A fala dos docentes para corroborar tais resultados:

[...] como eu sou solteiro, moro só, não tenho muitos gastos como a maioria

dos meus colegas tem. Então, o meu salário dá pra pagar minhas contas sem

64

problema nenhum. Mas se eu recebesse uma proposta de emprego que me

pagasse melhor eu mudaria de emprego sem pestanejar. Eu não sou

concursado e nem tenho esses amores todo por essa escola. (Respondente 5)

Apesar de eu ser concursada e já trabalhar nessa escola há quase dez anos, eu não sinto obrigação moral com as pessoas daqui, e nem iria me sentir

culpada se eu trocasse essa escola por outra que trabalhasse em tempo

integral, ou seja, pagasse melhor. O período integral paga bem melhor, e eu só trabalho aqui e dou umas aulinhas particulares pra complementar a

renda (Respondente 9)

[...] fico consternado quando recebo meu contracheque, o salário é

revoltante, se eu encontrasse um emprego que pagasse melhor seria o

primeiro a abandonar essa escola, e não iria me sentir culpado afinal não

tenho nenhuma obrigação moral com as pessoas daqui. (Respondente 11)

O salário baixo faz com que muitos professores não se comprometam com o trabalho devido a

constante preocupação em ter que conseguir outros empregos para complementar a renda, e

também como consequência da não valorização do seu esforço.

Foi notado um baixo grau de comprometimento afetivo (apenas nove professores

responderam positivo), demonstrando, desse modo, a falta de apego que a maioria dos

docentes tinha com a sua instituição. Sobre esse enfoque, de acordo com Simon e Coutre

(2012), corresponde ao grau que o indivíduo se sente emocionalmente ligado, identificado e

envolvido com a sua saída da instituição e nela mantem-se porque quer. Segundo Steers,

Porter e Mowday (1982), à medida que o docente passa a fazer parte da instituição de ensino,

ele começa a possuir um sentimento de lealdade, de querer permanecer e de se esforçar para

contribuir com o êxito da instituição. À luz de Traldi e Demo (2012), o comprometimento

afetivo pode ser identificado pela vontade de manter a relação com a empresa, a tendência em

defendê-la, e a segurança e aceitação dos valores e objetivos empresariais. A fala do

respondente 13 demonstra essa interpretação:

[...] já criei um vínculo afetivo com a instituição e com as pessoas daqui.

Às vezes, nas férias, apesar de vários alunos darem trabalho, fazerem

baderna, fico com saudade daqui, e até mesmo com saudade deles. Eles

se aquietam quando eu converso com eles. Ninguém é 100% mau. A adolescência é uma fase de questionamentos, e eles gostam de conversar

comigo. Quando explico sobre sistema reprodutor, então, aí mesmo que eles

conversam para tirar todas as dúvidas. (Respondente 13)

65

Para um indivíduo escolher o ofício de mestre é necessário que ele goste da sua profissão,

pois a docência exige muito do profissional, formar cidadãos é uma tarefa muito importante

que irá refletir por toda a vida da pessoa. Entretanto, a falta de valorização que essa profissão

possui no Brasil faz com que o professor seja cada vez mais cobrado e menos recompensado

pela sociedade.

Foi observado que esse baixo comprometimento profissional poderia estar relacionado à baixa

remuneração e valorização pelas pessoas da sociedade, pois os docentes sentem muita

cobrança e não ocorre o mesmo nível de retribuição em troca do esforço exercido pela

profissão.

4.3 Correlação entre satisfação no trabalho e comprometimento organizacional de

acordo com a percepção dos docentes da escola pública pesquisada

O terceiro objetivo da pesquisa foi verificar a correlação entre satisfação no trabalho e

comprometimento organizacional, na percepção de docentes da escola pública estudada. Para

ser feita a verificação, utilizou-se o método do qui-quadrado (x²) porque tal método tem como

princípio básico comparar proporções, ou seja, as possíveis discordâncias entre as frequências

percebidas e esperadas para um determinado evento.

O método do qui-quadrado é utilizado para constatar se a frequência com que um certo

acontecimento observado em uma amostra se desvia significativamente ou não da frequência

com que ele é esperado (PEARSON; HARTLEY, 1966). Os dados da correlação foram

demonstrados na Tabela 9.

Tabela 9 - Teste qui-quadrado

Método Significância

Sig. (2 lados)

Qui-quadrado de Pearson 0,237 Legenda: a.729 células (100,0%) esperavam uma contagem menor que 5.

A contagem mínima esperada é 0,4. Fonte: Dados da pesquisa, 2015.

A análise dos construtos satisfação no trabalho e comprometimento organizacional (Tabela 9)

demonstrou que não houve correlação entre ambos. No qual, o valor calculado pelo método

do qui-quadrado, resultou em 0,237 que, conforme os estudos de Karl Pearson, os desvios não

se mostram significativos quando o valor for de 0 a 0,3 positivo ou negativo. Representando,

assim, uma correlação desprezível (PEARSON; HARTLEY, 1966).

66

A não existência de correlação sugeriu que os dois construtos são independentes, ou seja, o

docente estando satisfeito ou não, não interfere no grau de comprometimento.

4.4 Razões que influenciam a satisfação no trabalho dos docentes da escola pública

estudada

A seguir foram detalhados e analisados os dados obtidos por meio da pergunta aberta do

questionário (ANEXO B). Essa questão foi formulada para evidenciar argumentos expressos

pelos docentes em relação a sua satisfação no trabalho, como já descrito na metodologia. Esse

tipo de questão foi desenvolvido para os professores manifestarem mais claramente as razões

que os fariam ter mais satisfação no trabalho.

4.4.1 Os funcionários da escola estudada

Quanto às características pessoais dos funcionários da escola, observou-se que a maioria

(63%) dos professores é do sexo feminino. Esses docentes apresentavam uma idade média de

aproximadamente quarenta e dois anos, um nível intelectual elevado, e uma boa relação entre

os mesmos. A gestora da escola é uma senhora casada, aparentando ter idade acima de

cinquenta anos, educada e bem vestida, tratando os funcionários com respeito.

De acordo com Siqueira (2008), características pessoais dos funcionários, como sexo, idade,

estado civil, exercem pouca relevância sobre o nível de satisfação.

4.4.2 O que a escola poderia fazer para o docente ter mais satisfação no trabalho

Para ser feita a análise qualitativa das respostas obtidas com a questão aberta, foi utilizada a

técnica de análise de conteúdo.

Segundo Moraes (1999), a análise de conteúdo é uma metodologia de pesquisa utilizada para

descrever e interpretar os dados de todos os tipos de documentos. Desse modo, ajuda a

interpretar as mensagens e a alcançar uma percepção de seus significados num nível que

perpassa uma simples leitura.

Visando uma melhor compreensão e a possibilidade de uma análise mais primorosa, foi feita a

divisão das respostas em dois grupos, formados a partir das respostas da questão aberta. O

67

primeiro grupo, denominado grupo A, composto pelos respondentes que apresentaram

satisfação com o trabalho. O segundo grupo, denominado grupo B, foi constituído pelos

respondentes que não apresentaram satisfação com o trabalho. Os respondentes que tiveram

média entre esses dois valores não foram considerados válidos para a análise de conteúdo

porque suas respostas não demonstraram nada com significância. A formulação destes grupos

teve o intuito de identificar as razões que traziam satisfação e as razões que traziam

insatisfação com o ofício. Foi feita uma leitura minuciosa do material obtido com o intuito de

estabelecer a unidade da análise e, em seguida, foi feita a classificação dessas unidades em

categorias, como demonstrado abaixo:

Tabela 10 – Classificação das unidades em categorias

Categorias temáticas Unidades de registro

Estrutura física

[...] o calor atrapalhava a concentração de vários alunos e até

mesmo a minha. (Respondente 10)

[...] as salas deveriam ser mais ventiladas, iluminadas [...]

(Respondente 15)

[...] colocar mais ventiladores nas salas de aula. (Respondente

23)

Cursos de capacitação

[...] era pra ter mais capacitações para os professores ficarem

mais qualificados. (Respondente 11)

[...] mais cursos de qualificação para professores, para ter um

ensino de melhor qualidade [...] (Respondente 14)

Chefia

[...] eu gosto do desempenho da diretora, ela me deixa falar na

hora das reuniões [...] (Respondente 3)

[...] ela tem um bom desempenho profissional, e ela trata bem a

todos. (Respondente 18)

Estou satisfeito com o modo como a chefa trata seus

subalternos [...] (Respondente 20)

Aulas práticas

Deveria ter a possibilidade de darmos aulas práticas fora da

escola [...] (Respondente 2)

[...] já me desentendi algumas vezes por não poder dar aulas

práticas através de viagens. (Respondente 25)

Colegas de trabalho

Gosto dos meus colegas de serviço [...] quando acontece algum

imprevisto sempre tem um professor que me ajuda [...]

(Respondente 5)

Eu acho boa a convivência que tenho com meus colegas

professores, a gente se respeita [...] (Respondente 15)

Remuneração [...] o salário é muito baixo, preciso dar aulas particulares para

complementar a renda [...] (Respondente 2)

68

[...] só em pensar no salário de professor dá uma tristeza [...]

(Respondente 4)

[...] a remuneração de professor é muito baixa [...]

(Respondente 8)

Valorização da profissão

A sociedade deveria valorizar mais a nossa profissão.

(Respondente 21)

Os docentes deveriam ser mais valorizados e respeitados.

(Respondente 22)

Comportamento dos discentes

[...] os alunos deveriam respeitar mais os docentes [...]

(Respondente 12)

[...] os alunos deveriam ter mais respeito com seus mestres [...]

(Respondente 19)

Após a classificação das unidades em categorias, que estão de acordo com os objetivos da

pesquisa, foram feitas as análises quanti e qualitativa dos dados coletados.

A seguir, foram descritos os resultados referentes às respostas dos dois grupos:

Grupo A – Satisfação com o trabalho

Grupo B - Insatisfação

Tabela 11 – O que a escola deveria fazer para o docente ter mais satisfação no trabalho

Atributos Frequência (N)

Grupo A

Frequência

(%)

Frequência (N)

Grupo B

Frequência

(%)

Estrutura física 4 27% 1 11%

Cursos de capacitação 2 13% 3 33%

Chefia 2 13% 3 33%

Aulas práticas 2 13% _ _

Colegas de trabalho 4 27% 6 67%

Remuneração 4 27% 7 78%

Mudança para o sistema

integral de ensino

2 13% _ _

Valorização da profissão 2 13% 2 22%

Comportamento dos discentes 4 27% 1 11%

Total 15 100% 9 100%

Fonte: Dados da pesquisa, 2015.

Dos vinte e sete docentes respondentes do questionário, quinze demonstraram satisfação com

o trabalho, nove apresentaram insatisfação, e três foram indiferentes, sendo esses últimos

69

desconsiderados. De acordo com os professores satisfeitos, nove atributos precisariam ser

mudados para o docente ter mais satisfação com o trabalho: a estrutura física da escola; ter

mais cursos de capacitação para os docentes; relacionamento com a chefia; ter aulas práticas

fora da escola; o relacionamento entre os colegas de trabalho; a remuneração; a mudança para

o sistema integral de ensino; a valorização da profissão; o mau comportamento dos discentes.

Já os professores insatisfeitos citaram apenas oito atributos: todos os citados acima, com

exceção das aulas práticas e da mudança para o sistema integral do Estado.

Entre os professores satisfeitos, a estrutura física foi citada por quatro docentes, os quais

relataram que as salas de aula deveriam ser climatizadas, ou seja, com mais ventilação, e

serem mais iluminadas. Apenas um professor do grupo B citou este atributo.

As características do ambiente físico, como ventilação e iluminação, citadas pelos professores

analisados, pouco influenciam no nível de satisfação, de acordo com Siqueira (2008).

Entretanto, tais fatores negativos, estão entre as causas mais geradoras de insatisfação citadas

pelos professores. Alguns docentes escreveram a respeito disso:

[...] acho que deveria haver mudanças na estrutura física da escola. As salas deveriam ser climatizadas, pois o calor atrapalhava a concentração de

vários alunos e até mesmo a minha. É complicado dar aula em uma sala

quente que tem ficar perto do ventilador pra não morrer de calor.

(Respondente 10)

A estrutura física da escola deveria ser melhorada, as salas deveriam ser mais ventiladas, iluminadas, os laboratórios mais bem equipados, a

biblioteca com livros mais atualizados. Facilitaria, assim, o trabalho do

professor e o bom aprendizado do aluno. (Respondente 15)

[...] melhorar a limpeza nas salas, fazendo com que o pessoal da limpeza trabalhe. Reduzir o número de alunos por turma, colocar mais ventiladores

nas salas de aula. Turmas quentes e com quantidade excessiva de discentes

diminui a concentração e, consequentemente, o aprendizado, atrapalhando o

serviço do docente. (Respondente 23)

Quando o indivíduo trabalha em um ambiente confortável, que propicia bem-estar nas horas

de serviços, o seu comprometimento é mais significativo, os alunos apresentam maior

aprendizagem e se sentem estimulados a assistirem as aulas.

Dois docentes do grupo A exprimiram a necessidade dos professores fazerem mais cursos de

capacitação, para aprenderem novos métodos de ensino, e poderem fazer uma reciclagem dos

70

antigos métodos. Dos professores insatisfeitos com o trabalho, três demonstraram essa

necessidade.

Segundo Traldi e Demo (2012), quando a empresa oferece cursos de capacitação para seus

funcionários, eles se sentem, geralmente, compensados e com a ideia de que necessitam ter a

obrigação de dar mais de si mesmo para a empresa. Conforme Medeiros e Albuquerque

(2005), as empresas devem ter um ambiente de trabalho que estimule os empregados, e que

ofereça cursos que desenvolva o crescimento profissional e pessoal de seus integrantes.

Alguns professores entrevistados relataram sentirem falta desses cursos:

[...] deveria haver mais cursos de capacitações de professores, para que

aprendêssemos novas dinâmicas de grupos, novos métodos de avaliação e de aulas práticas. Muitas vezes tenho que improvisar, inventando novos

tipos de atividades para reter a atenção dos alunos e não tornar as aulas

monótonas. (Respondente 2)

[...] na minha opinião, era pra ter mais capacitações para os professores

ficarem mais qualificados. A escola deveria dar mais suporte para os professores e condições para tomarmos nossas próprias iniciativas, e não

ficarmos só dependendo da decisão da diretora. Às vezes, me sinto de mãos

atadas. (Respondente 11)

[...] mais cursos de qualificação para professores, para ter um ensino de

melhor qualidade e garantir um futuro melhor para os alunos e até mesmo

para nós, professores. (Respondente 14)

Quando os professores são submetidos a cursos de capacitação acontece um processo de troca

entre docente e discente, pois o fato do professor se sentir qualificado resulta numa melhor

interação com o aluno, aumentando o comprometimento com o trabalho e com a organização.

Três docentes do grupo A expuseram a carência de reuniões com os professores, para

entrarem em um consenso sobre o que deveria ser feito com os alunos transgressores, a

utilização de técnicas para acabar com falta de disciplina dos discentes, e resolverem lacunas

que podem existir sobre as atividades. Apenas um professor do grupo B relatou essa carência.

[...] Os níveis de disciplina poderiam estar relacionados ao desempenho docente, ao background cultural do alunado, ao tamanho das turmas, à faixa

etária dos alunos, ao apoio familiar, à qualidade da nutrição ou, por fim, à

permissividade nas relações pedagógicas cotidianas. (AQUINO, 2011,

p.451).

71

Possivelmente a falta de educação dos alunos pode estar relacionada à superlotação em salas

de aulas, também merece ser citado o excesso de carga horária, tornando o trabalho docente

cansativo e levando ao baixo comprometimento. Segundo Lopes (2008), a relação entre

professor e aluno é relevante no processo ensino-aprendizagem, pois ao haver diálogo entre

mestre e discentes, ambos se sentem à vontade de demonstrarem suas opiniões, fazendo com

que o aluno se torne mais atento à aula e aprenda mais, contribuindo para o alcance da

principal meta de todas as instituições de ensino, o aprendizado escolar.

Não obstante a maioria dos docentes demonstrar ter satisfação com a gestora, dois docentes

do grupo A demonstraram insatisfação com a mesma, relatando que não se sentiam à vontade

de exporem suas opiniões sobre o que poderia ser modificado para haver um melhor trabalho.

Do grupo B, três professores demonstraram tal insatisfação.

A satisfação no trabalho pode ser designada como um sentimento potencialmente sensível às

práticas e políticas organizacionais, dependendo também do modo como os gestores tratam

seus funcionários (SIQUEIRA, 2008). Apesar do nível de satisfação com o trabalho dos

professores analisados ter sido negativo, a maioria dos docentes sente satisfação com o

desempenho de sua gestora.

Outro fator a ser citado pelos docentes satisfeitos foi sobre as aulas práticas. Dentre os quais

dois professores do grupo A criticaram a falta desse tipo de aula fora do âmbito escolar, e até

mesmo a falta de horário para a execução e de interesse da gestora em proporcionar tal

atividade. Esse fator não foi citado por nenhum integrante do grupo B.

De acordo com César e colaboradores (2014), as aulas práticas têm sua relevância no processo

ensino-aprendizagem:

As aulas práticas podem ajudar neste processo de interação e no

desenvolvimento de conceitos científicos, além de permitir que os estudantes

possam aprender como abordar objetivamente o seu mundo e como desenvolver soluções para problemas complexos. É também uma forma de

corroborar e auxiliar nesse processo de ensino-aprendizagem, uma vez que

acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos, passa pela observação

dos progressos e das dificuldades da sala de aula. Deste modo, aulas práticas é uma atividade imprescindível para a construção do saber do aluno, pois

muitas vezes estes têm dificuldade de compreender o porquê dos conteúdos

estudados em sala de aula (CÉSAR et al., 2014, p.1).

72

Para uma aprendizagem de qualidade as aulas práticas são de suma importância, pois o aluno

passa a entender a teoria, pode observar exemplos ocorridos em seu cotidiano e a assimilação

fica bem mais fácil.

Quatro docentes satisfeitos mencionaram que os colegas de trabalho deveriam ser mais

unidos, ajudarem uns aos outros para, assim, terem uma melhor convivência e mais satisfação

ao trabalharem. Já entre os professores insatisfeitos com o trabalho, seis criticaram sobre o

relacionamento entre os docentes, expondo que não se sentiam à vontade e nem tinham

confiança para desabafarem suas angústias com os colegas de ofício.

Segundo os autores Rosenstock, Santos e Guerra (2011), o bom vínculo entre as pessoas está

entre os principais fatores geradores de satisfação com o trabalho. Quando o indivíduo sente

que está rodeado por pessoas que se ajudam, que pode confiar, aumenta a autoconfiança e a

vontade de exercer sua função com melhor qualidade.

Apesar de, na análise quantitativa, a remuneração ter sido uma insatisfação quase que

unânime, na questão aberta, ela foi citada apenas por quatro docentes considerados satisfeitos.

Entretanto, sete professores do grupo B demonstraram estarem muito insatisfeitos com o

salário, sendo essa a principal causa do não comprometimento organizacional.

De acordo com Siqueira (2008), a satisfação organizacional está relacionada a quanto a

empresa se preocupa com o bem estar dos seus funcionários, e a quanto ela está disposta a

retribuir pelos esforços que eles investiram nela. Desse modo, o salário é uma das formas que

a empresa tem de dar esse retorno a seus empregados, se eles não estão satisfeitos com essa

retribuição afetará em seu nível satisfação.

A mudança para o sistema integral de ensino foi um fator exprimido por apenas dois

professores do grupo A, não havendo citação sobre tal atributo por nenhum docente do grupo

B. Em relação ao sistema de ensino, existem dois tipos: o regular e o integral. No regular, os

professores dão aula em apenas um turno; no integral os docentes dão aula em dois turnos, ou

seja, passam o dia todo na escola, tendo uma maior variedade de atividades para o

aprendizado e assim poderem tirar as dúvidas com mais facilidade. Vários professores têm a

preferência em trabalhar em escolas de horário integral porque a remuneração é maior.

Entretanto, professores que trabalham em mais de uma instituição de ensino não podem

trabalhar em sistema integral, devido à indisponibilidade de horário.

73

A valorização da profissão foi um fator citado por quatro professores, dois de cada grupo,

respectivamente. Os professores expuseram a importância da sua profissão para a construção

de uma humanidade mais digna, entretanto, relataram se sentirem socialmente não

reconhecidos pela sociedade.

Durante as últimas décadas, podemos acompanhar um movimento de afirmação profissional dos professores que vem se reconhecendo e exigindo

ser reconhecidos como categoria, com sua especificidade histórica, social e

política. Que vem afirmando e defendendo sua identidade (ARROYO, 2000,

p.21).

A docência é a profissão que conduz a pessoa a tomar consciência de si própria e do meio que

a cerca. Desse modo, ter uma população instruída, conhecedora de seus direitos, causa

desconforto diante dos políticos desonestos.

Outro fator que também foi citado pelos docentes (quatro do grupo A, um do grupo B) foi o

desrespeito dos alunos com os mestres, provocando badernas na hora da aula e,

consequentemente, atrapalhando o aprendizado.

Os professores deveriam poder dar punições mais severas aos alunos indisciplinados, muitas vezes ele dizem: não respeito nem meus pais, por

que deveria respeitar a senhora? É muito riste essa troca de valores.

(Respondente 10)

Os alunos deveriam respeitar mais os professores, infelizmente a função de educar, que antes era dos pais, nos foi entregue, o problema é que nem

podemos dar as punições que eles realmente merecem [...]. (Respondente 14)

[...] os alunos deveriam ter mais respeito com seus mestres, pois educação

se tem em casa com os pais, e não com os professores. (Respondente 19)

Quando os docentes se sentem impossibilitados de punir os alunos transgressores, o seu

trabalho passa a ser menos reconhecido pelos alunos e pela sociedade. A punição é vista como

uma forma do professor se impor perante os discentes, e de demonstrar a sua autonomia no

momento em que está trabalhando.

O nível de disciplina dos alunos pode estar relacionado à liberdade que os professores dão aos

discentes para fazerem questionamentos a qualquer momento, atrapalhando, muitas vezes, a

explicação docente (AQUINO, 2011).

74

Foi verificado, entre as respostas dos professores analisados, que a maioria dos docentes que

possuía mais tempo de profissão, tinha mais facilidade para controlar a falta de respeito dos

alunos. Possivelmente, seria porque usavam a metodologia dos antigos professores, que

iniciavam a aula com um questionamento, faziam a explicação, para só depois os alunos

poderem tirar as dúvidas. Quando os professores dão muita liberdade para os alunos, algumas

vezes eles confundem liberdade com libertinagem, e acabam fazendo perguntas descabidas,

desrespeitando o profissional, gerando badernas que poderiam ter sido evitadas se o docente

não tivesse dado tantos direitos aos discentes.

Dando continuidade à análise, após o reconhecimento dos graus de satisfação e de

comprometimento organizacional, puderam ser destacadas algumas características

relacionadas a esses dois construtos que tiveram significado relevante na composição dos

resultados. A valorização do profissional docente foi uma delas. Os professores expuseram

que não só a organização, mas a sociedade como um todo, pode até valorizar a profissão de

mestre, porém não dá o mesmo valor ao profissional em si.

Na sociedade capitalista vigente, as pessoas estão tendo que se capacitar cada vez mais para

poderem se sobressair perante os concorrentes. Então, muitas vezes, pensam que os

professores são máquinas, já que estão sendo pagos, devem transmitir o máximo de

conhecimento no tempo mais breve possível, para tornar seus discentes o suprassumo da

sociedade. Entretanto, assim como todo trabalhador, os docentes precisam de reconhecimento,

de cursos de desenvolvimento profissional e de tempo para poderem se qualificar e

desempenhar sua função com qualidade.

O trabalho docente vem sofrendo mudanças para poder se adaptar de acordo com o sistema de

governo atual, seguindo as leis de mercado que exige um profissional com conhecimento

técnico. Desse modo, o professor passa a ser visto como agente central de mudança (LIRA,

2013).

Outro fator também relevante foram os cursos de qualificação ou de desenvolvimento

profissional, como citado acima. Quando a organização promove cursos de qualificação para

seus empregados, eles se sentem compensados, valorizados e com o desejo de colaborar mais

para que sua empresa alcance suas metas (TRALDI; DEMO, 2012).

O tempo foi outro fator de significância, pois os docentes com mais tempo de serviço na

instituição de ensino têm mais habilidades para solucionarem os problemas ocorridos não só

75

em sala de aula, como também fora dela. Sabem ter um melhor relacionamento com os

discentes e com os pais ou responsáveis desses.

76

5 CONCLUSÃO

A presente pesquisa teve como ponto de partida o seguinte questionamento: até que ponto o

grau de satisfação no trabalho influencia o nível de comprometimento organizacional do

professor, segundo a percepção de docentes de uma escola pública, no Recife-PE?

Por meio de um questionário auto administrado, com uma pergunta aberta, análise de livros,

teses, dissertações, artigos e sites acadêmicos, pôde-se fazer a análise de quais atributos são

responsáveis pela satisfação no trabalho, o comprometimento organizacional dos professores

analisados, e a relação entre os dois atributos.

Sobre o primeiro objetivo específico: investigar o grau de satisfação com o trabalho dos

docentes da escola pública estudada, foi verificado que os professores não apresentaram grau

significativo. As respostas dos professores analisados sugeriram que a baixa remuneração e a

estrutura física inadequada, com salas de aula quentes e mal iluminadas geram um elevado

grau de insatisfação.

Vale ser ressaltado que, mesmo com a existência da insatisfação com o salário, os docentes

pesquisados não teriam escolhido outra profissão porque se sentem realizados com o ofício de

mestre. Foi sugerido que essa baixa satisfação com o salário pode ter gerado uma baixa

satisfação com a instituição, apesar de não ser a escola a responsável pela baixa remuneração

dos docentes, e sim o governo com a sua pequena prioridade aos assuntos referentes aos

salários de professores do ensino público.

Embora a média de satisfação no trabalho tenha sido considerada insatisfatória, os professores

demonstraram satisfação em vários indicadores: chefia, colegas de trabalho, e a natureza do

trabalho.

Outro fator a ser citado, além da remuneração, foi a carência de cursos de capacitação de

professores, fazendo com esses docentes não se atualizassem e continuassem a lecionar com

antigos métodos de ensino. Devido haver poucos cursos de qualificação de professores, e

pouca valorização do profissional docente pela organização, os docentes analisados não

encontram motivação ao exercerem sua função, levando a uma falta de comprometimento

organizacional. O empregado não se sente valorizado pela organização quando ocorre a

ausência ou a baixa frequência de cursos de desenvolvimento profissional.

Constatou-se que a indisciplina dos alunos foi um dos fatores considerados geradores da falta

de satisfação no trabalho, pois gera desgaste físico e emocional dos docentes, não podendo

77

puni-los como gostariam para não transgredirem as leis de proteção às crianças e

adolescentes. Tais leis foram citadas como “formadoras de delinquentes”, pelo fato dos

professores não poderem punir os alunos mal educados e, em alguns casos, não poderem

transferi-los para outra instituição. O alto grau de liberdade que muitos docentes dão aos seus

discentes, de fazerem questionamentos a qualquer momento da aula, sem aguardar o término

da explicação, pode ser um dos geradores do baixo grau de disciplina dos alunos.

Foi observado que vários docentes mostraram-se satisfeitos com o desempenho da gestora,

sentindo-se respeitados ao poderem exteriorizar suas opiniões sobre as lacunas ocorridas no

âmbito escolar. A percepção de que os funcionários não pensam, apenas exercem o seu ofício,

está sendo substituída pela visão que acredita que todos têm o seu potencial, sendo essencial

para o alcance das metas da instituição. A organização precisa identificar as expectativas de

seus colaboradores, para poder motivá-los, e isso repercutirá sobre o grau de satisfação e

comprometimento dos funcionários.

Apesar de os docentes analisados terem apresentado insatisfação com o trabalho, a satisfação

com os colegas de ofício teve uma média positiva, demonstrando que sentiam prazer ao

exercerem a profissão com colegas que se ajudavam e compartilhavam suas angústias para

amenizá-las. O bom vínculo entre as pessoas no ambiente labutar deixa o empregado

encorajado a exercer sua função, tornando seu dever mais confortável e produtivo, sendo um

dos responsáveis pela satisfação no trabalho.

A satisfação com a natureza do trabalho também apresentou uma média positiva. Os docentes

sentem-se realizados ao darem aulas, ao verem os alunos serem cada vez mais detentores de

conhecimento com o passar dos anos. Embora a satisfação no trabalho tenha apresentado uma

média positiva, não foi um fator motivacional preponderante para elevar o nível de satisfação

no trabalho.

Em relação ao segundo objetivo específico: identificar o grau de comprometimento

organizacional dos docentes da escola pública estudada, percebeu-se que o nível de

comprometimento organizacional dos docentes foi negativo. Indivíduos comprometidos

organizacionalmente apresentam um forte desejo de permanecer na organização, além de

demonstrarem uma forte identificação com a empresa, e estarem dispostos a atuarem de forma

significativa em prol desta.

A remuneração foi um fator preponderante para a insatisfação em relação ao trabalho, sendo

uma resposta quase que unânime entre os professores analisados. Essa insatisfação com o

78

trabalho foi geradora de uma falta de comprometimento com a organização, pois vários

docentes demonstraram que, se surgisse uma proposta de emprego mais rentável em outra

escola, o fariam o mais breve possível.

Apesar de haver insatisfação com o ofício e falta de comprometimento com a organização, os

professores exprimiram comprometimento com o trabalho, desempenhando um trabalho de

qualidade, gerando frutos positivos como, por exemplo, uma boa classificação no índice de

desenvolvimento da educação de Pernambuco – IDEPE. Percebe-se, desse modo, que mesmo

sem terem demonstrado satisfação com o trabalho e comprometimento organizacional, os

professores analisados apresentaram comprometimento com o trabalho. Pois mesmo estando

insatisfeitos com o ofício e com a organização na qual trabalham, eles se sentiam com o dever

de exercerem sua função.

A maioria dos professores demonstrou comprometimento afetivo, instrumental e normativo

negativos, apesar de a média do comprometimento normativo ter sido positiva. Dentre os três

tipos de comprometimento citados, o comprometimento instrumental foi o que apresentou o

nível mais baixo de todos. Isso pode estar relacionado ao fato que a insatisfação com o salário

ter sido um sentimento quase que unânime entre os professores. Como consequência disso, o

mesmo número de professores relatou que, se recebesse uma proposta de emprego mais

rentável em outra instituição, o faria mudar de emprego sem pestanejar.

O comprometimento instrumental é caracterizado como a permanência do funcionário na

organização como resultado dos gastos e benefícios relacionados à sua saída da empresa.

A remuneração não tem muita relação com a satisfação com o trabalho, mas a sua ausência ou

pouca quantidade sim. Corroborando com essa afirmação, o salário é um fator preponderante

para a insatisfação com o trabalho e a falta de comprometimento organizacional entre os

professores analisados. Constata-se, então, que os docentes analisados não estão satisfeitos e

consequentemente não estão comprometidos.

Na análise qualitativa, foi identificado um direcionamento negativo em relação ao

comprometimento afetivo, diferente da perspectiva quantitativa que se mostrou positiva em

relação a essa dimensão. O comprometimento afetivo é caracterizado pela vontade do

trabalhador manter um vínculo com a organização na qual atua, apresentando uma propensão

em defendê-la.

79

De acordo com o terceiro objetivo específico: verificar a correlação entre satisfação no

trabalho e comprometimento organizacional docente na percepção dos docentes da escola

pública estudada, os resultados da pesquisa não demonstraram correlação entre esses dois

construtos. Essa não correlação pode ter ocorrido pelo fato de os docentes da escola pública

estudada terem expressado que sentem vontade de mudar para uma organização que ofereça

melhores salários, mas que querem permanecer exercendo o mesmo ofício.

A respeito dos fatores que a escola poderia fazer para os docentes terem mais satisfação no

trabalho, a melhoria na estrutura física da escola foi um dos atributos mais citados entre os

docentes. Relatou que uma das causas para a dispersão dos discentes seria a pouca ventilação

nas salas das aulas, fazendo com que o trabalho do professor se torne mais árduo e, muitas

vezes, desprazeroso.

Com relação aos dados demográficos, foi observado que, apesar de a maioria dos professores

ser concursada, não influenciou no nível de comprometimento com o trabalho dos docentes

analisados. Mesmo tendo estabilidade financeira, uma grande quantidade de docentes que

respondeu o questionário relatou a necessidade de ter outro vínculo empregatício para poder

suprir os gastos mensais.

Para que possa ocorrer progresso em uma sociedade são necessários investimentos em

educação, sendo o professor a peça chave para essa mudança. Quando o docente sente

satisfação ao realizar seu ofício, o seu desempenho se sobressai, tornando-o comprometido

com a sua função. Entretanto, quando a instituição não reconhece o seu esforço, não lhe

dando um feedback através de salários decentes e oportunidades para poder atuar dignamente,

o docente não se sente respeitado e passa a ter níveis negativos de comprometimento

organizacional, fazendo com que almeje trabalhar em outra organização.

5.1 Sugestões para futuros trabalhos

Como indicações de futuras pesquisas, recomendam-se estudos sobre satisfação e

comprometimento no trabalho docente em outras instituições de ensino fundamental. Não só

públicas, mas também em instituições privadas para serem feitas comparações entre ambas, e

serem descobertas outras possíveis causas para a satisfação e o comprometimento docente.

Futuras pesquisas devem ser feitas sobre a satisfação dos docentes que trabalham em escolas

de ensino regular, que são a maioria das escolas brasileiras, e entre os docentes que trabalham

80

em sistema integral de ensino. Para se saber a diferença no aprendizado dos discentes, e a

possível diferença no nível de satisfação docente entre ambas.

O tema satisfação e comprometimento com o trabalho docente de escolas públicas de Recife

foi o que apresentou a menor quantidade de trabalhos acadêmicos, sendo necessário se

fazerem mais estudos sobre o tema.

81

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ANEXO A – Questionário sobre o grau de satisfação e comprometimento organizacional

docente

Caro,

Estou realizando uma pesquisa sobre Satisfação e Comprometimento organizacional docente, e esta escola pública foi escolhida para a realização deste estudo. Por favor, responda cada item o mais honesta e francamente possível, e procure não deixar questões sem resposta, pois a qualidade dos resultados dependerá do seu empenho em responder com precisão e

cuidado.

Não é necessário se identificar. Suas respostas serão totalmente confidenciais e anônimas. Agradeço sinceramente a sua colaboração. Mestranda: Raquel Rodrigues da Costa / Orientadora: Prof. Dra. Hajnalka Gati

No meu trabalho atual sinto-me... 1 2 3 4 5

1. Com o espírito de colaboração dos meus colegas de trabalho

2. Com o número de vezes que já fui promovido nesta empresa

3. Com o meu salário comparado com o quanto eu trabalho

4. Com o tipo de amizade que meus colegas demonstram por mim.

5. Com o grau de interesse que minhas tarefas me despertam.

6. Com o meu salário comparado a minha capacidade profissional.

7. Com a maneira como essa empresa realiza promoções de seu pessoal.

8. Com a capacidade de meu trabalho absorver-me.

9. Com as oportunidades de ser promovido nesta escola.

10. Com o entendimento entre eu e meu chefe.

11. Com meu salário comparado aos meus esforços no trabalho.

12. Com a maneira como o meu chefe me trata.

13. Com a variedade de tarefas que realizo.

14. Com a confiança que posso ter em meus colegas de trabalho.

15. Com a capacidade profissional do meu chefe.

No meu trabalho atual... 1 2 3 4 5

1. Eu não me sinto emocionalmente ligado a esta escola.

2. Eu não sinto um forte senso de integração com esta escola.

3. Nesta escola eu não me sinto como uma pessoa de casa

4. Esta escola tem um imenso significado pessoal pra mim.

5. Eu realmente sinto os problemas desta escola como se fossem meus.

6. Eu seria muito feliz em dedicar o resto de minha carreira a esta escola.

7. Na situação atual ficar nesta escola é uma necessidade tanto quanto um desejo.

8. Esta escola merece a minha lealdade.

9. Eu devo muito a esta escola.

10. Eu acho que teria poucas alternativas se deixasse esta escola.

Parte I As frases ao lado falam a

respeito de alguns aspectos do

seu trabalho atual. Indique o

quanto você se sente satisfeito

ou insatisfeito com cada um

deles marcando um X de acordo

com a seguinte escala:

1. Muito insatisfeito

2. Insatisfeito

3. Indiferente

4. Satisfeito

5. Muito satisfeito

Parte II

Pense nos sentimentos com

relação a essa escola e assinale

em que grau você concorda

ou discorda das afirmações ao

lado. Responda como você

realmente se sente e não como

gostaria de se sentir. Utilize, por

favor, a escala de cinco pontos

seguintes, marcando com um X

de acordo com a sua resposta.

1. Discordo plenamente

2. Discordo

3. Não concordo nem

discordo

4. Concordo

5. Concordo plenamente

89

Antes de entregar, informe, por favor, alguns dos seus dados

ANEXO B

11.Se eu decidisse deixar esta escola agora, minha vida ficaria bastante desestruturada.

12. Mesmo que eu quisesse, seria muito difícil pra mim deixar esta escola agora.

13. Uma das poucas consequências negativas de deixar esta escola agora seria a escassez de alternativas imediatas.

14. Se eu já não tivesse dado tanto de mim para esta escola, eu poderia considerar trabalhar em outro lugar.

15. Eu me sentiria culpado se deixasse esta escola agora.

16. Eu não deixaria esta escola agora porque tenho uma obrigação moral com as

pessoas daqui.

17. Mesmo se fosse vantagem para mim, eu sinto que não seria certo deixar esta escola agora.

18. Eu não sinto nenhuma obrigação em permanecer nesta escola.

Escreva em poucas palavras o que esta escola deve fazer para você ter mais satisfação no

trabalho.

Idade:____anos

Gênero: ( )Masculino ( ) Feminino

Estado civil:

( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado ( ) Viúvo ( ) Outros

Tempo que trabalha nesta escola:

( ) Até 1 ano ( ) Até 5 anos ( ) Até 10 anos ( ) Até 15 anos

( ) Até 20 anos ( ) Mais de 20 anos

Vínculo empregatício:

( ) Concursado ( ) Contrato temporário

90

Anexo B - Respostas da questão aberta sobre as razões que influenciam a satisfação no

trabalho dos docentes da escola pública estudada

1º Respondente

Eu trabalho aqui há cinco, já me adaptei às regras da escola. Mas eu sinto falta de um bom

relacionamento com os meus colegas de trabalho, acho que deveria existir mais união do

grupo, nos ajudarmos, para termos prazer nos momentos em que estamos trabalhando.

Também sinto falta de ter o poder para tomar decisões no trabalho, a chefa não me

proporciona isso.

2º Respondente

A escola não precisa mudar para que eu sinta satisfação, o meu serviço é que deve fazer a

diferença para eu ter satisfação profissional e pessoal dentro do meu local de trabalho.

Deveria haver mais cursos de capacitações de professores, para que aprendêssemos novas

dinâmicas de grupos, novos métodos de avaliações e de aulas práticas. Deveria ter a

possibilidade de darmos aulas práticas fora da escola, para complementar as aulas teóricas

explicadas dentro de sala. O salário é muito baixo, preciso dar aulas particulares para

complementar a renda, se eu recebesse uma proposta de emprego mais lucrativa sairia daqui o

mais rápido possível!

3º Respondente

Estou satisfeito com a minha profissão, não poderia ter escolhido ofício melhor. O meu

trabalho é o mais importante de todos, pois se não existisse professor do ensino fundamental,

não existiria nenhuma outra profissão. Eu me sinto importante para a sociedade ao exercer a

minha profissão de docente. Sinto muita satisfação ao ver ex-alunos já acabando a faculdade e

conseguindo arrumar emprego, sei que o meu trabalho contribuiu para tudo isso.

Eu gosto do desempenho da diretora, ela me deixa falar na hora das reuniões e eu posso dar

aula do jeito que gosto. Na outra escola que trabalhei tive problemas com o diretor, que queria

interferir até na minha metodologia de ensino. Eu me sentia tão vigiado que nem conseguia

91

dar aulas direito, parecia até que eu estava em um Big Brother, era um horror, mas graças a

Deus consegui um lugar aqui nessa escola, que para mim é um paraíso.

4º Respondente

Eu gosto do meu trabalho, mas só em pensar no salário de professor dá uma tristeza, a nossa

profissão deveria ser mais valorizada, merecia ter mais a atenção do governo, com salários

mais dignos, não deveria me fazer ter mais de um emprego para poder pagar minhas contas.

5º Respondente

Gosto dos meus colegas de serviço, somos amigos, quando acontece algum imprevisto sempre

tem um professor que me ajuda, posso desabafar nos momentos de angústia e sobre os mais

diversos assuntos que podem ocorrer na vida de uma pessoa.

Como eu sou solteiro, moro só, não tenho muitos gastos como a maioria dos meus colegas

tem. Então, o meu salário dá pra pagar minhas contas sem problema nenhum. Mas se eu

recebesse uma proposta de emprego que me pagasse melhor eu mudaria de emprego sem

pestanejar. Eu não sou concursado e nem tenho esses amores todo por essa escola.

6º Respondente

Sei que não vou demorar muito tempo aqui, porque meu contrato é temporário, mas já criei

um apego com essa instituição, pois já trabalho há quatro anos e meio aqui. Se eu pudesse, se

eu fosse concursada, não deixaria a escola porque acho que tenho uma obrigação moral com

os meus alunos e com toda a comunidade escolar. Você não imagina o prazer que tenho em

dar aula aqui.

7º Respondente

Apesar de eu não ser concursado, sinto que tenho um compromisso com as pessoas dessa

escola, com o meu trabalho e me sentiria culpado se deixasse a escola nesse momento.

92

8º Respondente

Tenho satisfação em dar aula, entretanto, a remuneração de professor é muito baixa, e de

escola pública, então, é mais baixa ainda. Trabalhamos tanto, mas o governo não reconhece o

nosso esforço, só é cobrança, mas retribuição que é bom nem lembram. Trabalhamos demais e

ganhamos de menos.

9º Respondente

Tenho uma boa convivência com meus colegas de trabalho e com a minha chefa, mas acho

que deveria haver mais diálogos abertos entre ambos, para juntos podermos superar todos os

problemas ocorridos no cotidiano.

Apesar de eu ser concursada e já trabalhar nessa escola há quase dez anos, eu não sinto

obrigação moral com as pessoas daqui, e nem se iria me sentir culpada se eu trocasse essa

escola por outra que trabalhasse em tempo integral, ou seja, pagasse melhor. O período

integral paga bem melhor, e eu só trabalho aqui e dou umas aulinhas particulares pra

complementar a renda.

10º Respondente

Os professores deveriam poder dar punições mais severas aos alunos indisciplinados, muitas

vezes ele dizem: não respeito nem meus pais, por que deveria respeitar a senhora? É muito

triste essa troca de valores. Eu também acho que deveria haver mudanças na estrutura física

da escola. As salas deveriam ser climatizadas, pois o calor atrapalhava a concentração de

vários alunos e até mesmo a minha. É complicado dar aula em uma sala quente que tem ficar

perto do ventilador pra não morrer de calor. Também deveria haver mudanças na política

educacional da escola.

11º Respondente

Na minha opinião, era pra ter mais capacitações para os professores ficarem mais

qualificados. A escola deveria dar mais suporte para os professores e condições para

tomarmos nossas próprias iniciativas, e não ficarmos só dependendo da decisão da diretora.

Às vezes, me sinto de mãos atadas.

93

Outra coisa que me traz insatisfação é a remuneração, fico consternado quando recebo meu

contracheque, o salário é revoltante, se eu encontrasse um emprego que pagasse melhor seria

o primeiro a abandonar essa escola, e não iria me sentir culpado afinal não tenho nenhuma

obrigação moral com as pessoas daqui.

12º Respondente

Nossa profissão deveria ser mais valorizada, pois qualquer profissional precisou um dia ter

tido professor do ensino fundamental, mas infelizmente o pessoal não enxerga isso, trata a

nossa profissão como se fosse um empreguinho qualquer, esquecem que além de todo o

trabalho que a gente tem, tivemos que estudar muito e ainda continuamos estudando todos os

dias para darmos aula. Os alunos deveriam respeitar mais os docentes, como acontecia

antigamente, que a gente fazia silêncio sem o professor precisar pedir. Hoje em dia é

cansativo dar aula. Mas, mesmo assim, gosto do que faço, sinto que tenho uma obrigação com

meus alunos, não só com eles, mas com toda a comunidade.

13º Respondente

Eu já criei um certo carinho pela escola e pelos funcionários daqui. Gosto da minha chefa e

dos meus colegas de trabalho, sinto o apoio e a consideração deles comigo, quando tenho

problemas no trabalho, gosto de colocar pra fora tudo que estou sentindo, e eles me ouvem

com carinho.

Como havia dito, já criei um vínculo afetivo com a instituição e com as pessoas daqui. Às

vezes, nas férias, apesar de vários alunos darem trabalho, fazerem baderna, fico com saudade

daqui, e até mesmo com saudade deles. Eles se aquietam quando eu converso com eles.

Ninguém é 100% mal. A adolescência é uma fase de questionamentos, e eles gostam de

conversar comigo. Quando explico sobre sistema reprodutor, então, aí mesmo que eles

conversam para tirar todas as dúvidas. (Respondente 13)

14º Respondente

Os alunos deveriam respeitar mais os professores, infelizmente a função de educar, que antes

era dos pais, nos foi entregue, o problema é que nem podemos dar as punições que eles

94

realmente merecem. Eu também acho que deveria haver mais cursos de qualificação para

professores, para ter um ensino de melhor qualidade e garantir um futuro melhor para os

alunos e até mesmo para nós, professores.

15º Respondente

O salário deveria sofrer reajustes, pois ninguém vive bem com um salário desse. Apesar de eu

ser professora concursada há cinco anos, ou seja, já ter estabilidade financeira, tenho sempre a

preocupação se no final do mês vou conseguir pagar todas as contas. Não consigo entender

como é que uma profissão tão importante não é valorizada, no meu ponto de vista é a

profissão mais relevante de todas, mas no Brasil o salário é essa miséria. O que meu marido,

que é médico, ganha em um plantão de carnaval é o mesmo que eu ganho no final de um mês

de serviço.

A estrutura física da escola deveria ser melhorada, as salas deveriam ser mais ventiladas,

iluminadas, os laboratórios mais bem equipados, a biblioteca com livros mais atualizados.

Facilitaria, assim, o trabalho do professor e o bom aprendizado do aluno.

16º Respondente

Eu gosto muito de dar aulas, tenho prazer ao ensinar, entretanto, acho que os professores

deveriam demonstrar mais interesse e comprometimento com a função que exercem todos os

dias. Uma profissão tão bonita e importante, que deveria ser mais valorizada pelas pessoas da

nossa sociedade, sem a nossa profissão não existiria nenhuma outra.

17º Respondente

Sinto realização com a variedade de tarefas que realizo, muitas vezes fico tão concentrado ao

dar aulas que nem percebo o tempo passar. É muito prazeroso acompanharmos a evolução

intelectual dos alunos. O que realmente me causa insatisfação é a remuneração que o governo

nos dar, é muito baixa para uma profissão tão importante.

95

18º Respondente

Eu gosto do trabalho da nossa gestora, ela tem um bom desempenho profissional, e ela trata

bem a todos. Quando eu tive um problema familiar, ela me deu todo o apoio. Eu já trabalho

nessa instituição há mais de vinte anos, mas não tenho o costume de estar expondo meus

assuntos pessoais com meus colegas professores. Quanto menos a gente fala é melhor, a pior

coisa é olho gordo.

19º Respondente

Tenho satisfação em dar aulas, mas os alunos deveriam ter mais respeito com seus mestres,

pois educação se tem em casa com os pais, e não com os professores.

20º Respondente

Estou satisfeito com o modo como a chefa trata seus subalternos, quando nós, professores,

temos problemas com alguns alunos mal-educados, ela sabe como contornar as situações,

punindo e mostrando o exemplo para os outros alunos não fazerem o mesmo. E ela sabe como

conversar com os pais, pois alguns não aceitam que falemos mal dos filhos deles, parece que a

culpa é nossa, pela falta de educação que eles não souberam dar. Então, às vezes é complicado

manter esse tipo de diálogo.

21º Respondente

A sociedade deveria valorizar mais a nossa profissão. Acho que deveria haver mais punições,

leis mais eficazes para acabar com a bagunça e a falta de respeito ocorrida em sala de aula.

Sei que a chefa se esforça para fazer um bom trabalho, mas a própria lei não a ajuda a fazer

um trabalho melhor.

Não estou satisfeito com a remuneração, deveria sofrer reajuste. Não me sentiria culpado se

deixasse essa escola agora, caso recebesse uma proposta mais rentável em outra instituição.

96

22º Respondente

Os docentes deveriam ser mais valorizados e respeitados. Seria muito melhor se houvessem

mais cursos de qualificação de professores, ter mais recursos disponíveis para serem

utilizados na hora da aula, gerando inovações na aprendizagem. Sinto comprometimento com

o trabalho e a instituição, apesar do salário ser lastimável. Mas acho que a escola merece a

minha lealdade.

23º Respondente

Gosto da minha profissão, mas acho que deveria melhorar a limpeza nas salas, fazendo com

que o pessoal da limpeza trabalhe. Reduzir o número de alunos por turma, colocar mais

ventiladores nas salas de aula. Turmas quentes e com quantidade excessiva de discentes

diminui a concentração e, consequentemente, o aprendizado, atrapalhando o serviço do

docente.

24º Respondente

Deveria existir mais união entre os professores, acho que não existe colaboração e nem

confiança entre os professores, gerando, desse modo, insatisfação em muitos momentos do

serviço. Sinto-me satisfeito com o desempenho profissional da chefa, pois ela já me ajudou

em muitos problemas, sem perder a postura.

Sou concursado, mas trabalho na instituição há menos de um ano, então, ainda não me adaptei

a todas as regras da escola e nem criei comprometimento afetivo com os professores daqui.

Eu deixaria a instituição, caso encontrasse condições mais favoráveis em outra.

25º Respondente

A escola deveria respeitar mais os professores como profissionais, dar suportes necessários

para a realização das obrigações de serviços.

Não encontro satisfação com a capacidade profissional da diretora e nem com a maneira como

ela nos trata, já me desentendi algumas vezes por não poder dar aulas práticas através de

97

viagens. Mas tenho satisfação com meus colegas de trabalho, pois quando estive doente eles

me ajudaram a repor as aulas depois.

26º Respondente

Trabalho na escola há oito meses, não sou concursada, mas sinto satisfação com o trabalho,

sei o quanto ele é importante para o desenvolvimento da sociedade. Os momentos em que dou

aula são os instantes em que sei que escolhi a profissão certa, sinto plenitude quando trabalho.

Não estou satisfeita com o relacionamento entre os professores, não sinto colaboração entre

nós e nem tenho confiança em desabafar meus problemas. Estou muito insatisfeito com o

salário, acho que o docente deveria ser mais valorizado e melhor remunerado, o que recebo

não é digno para a importância que o meu trabalho exerce para o progresso da sociedade.

27º Respondente

Trabalho na escola desde 1993 e, desde então, mantenho um comprometimento afetivo que

vai além da questão profissional. Com o passar de todo esse tempo, fiz muitas amizades e

conheci pessoas maravilhosas, como professores e alunos que até hoje me comunico

pessoalmente ou via whatsapp e facebook.

Sei da importância do nosso trabalho, mas acho que o governo não nos valoriza como nós

merecemos.