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Sarau de Escritores Lendo livros de VDCA com escritores 1 Sarau: reunião de finalidade literária Fonte: Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, 1ª Edição

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Sarau de Escritores

Lendo livros de VDCA

com escritores

1

Sarau: reunião de finalidade literária

Fonte: Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, 1ª Edição

será mais um Ponto de Encontro...

você encontrará sempre LIVROS INTERESSANTES.

você verá que o mesmo tema pode ser objeto de pontos de vista diversos.

você aprenderá a ouvir escritores falando de seus livros.

Participe!

A Q U I

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CONVITE

1º SARAU

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Tema: VDCA Física Escritores Convidados:

Alice Miller Amy Chua Xiao Baiyou

Local: Universidade de Pequim

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O CENÁRIO

Imagine-se na Universidade de Pequim.

Coloque-se na SALA DO

SARAU e aguarde a chegada

dos escritores convidados.

Enquanto isso conheça-os melhor, lendo os textos que estão sobre as cadeiras da sala.

A Universidade de Pequim (北京大學 em chinês tradicional e 北京大学 em chinês simplificado ou Běijīng Dàxué), coloquialmente denominada em chinês como Beida (北大, Běidà), foi fundada em 1898 e é a primeira universidade formalmente estabelecida na China e considerada uma das melhores e mais seletas universidades do país. O nome em inglês permaneceu como Peking University em vez de Beijing University. Aparentemente, isso se deve ao desejo de manter uma tradição que remonta a 1912 (ano em que a antiga Universidade Metropolitana criada pela Dinastia Qing ganhou seu nome actual). Fonte: Wikipedia

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OS TEXTOS

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TEXTO 1 – Xiao Baiyou

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TEXTO 2 – Amy Chua 'Hino de Batalha da Mãe Tigre', por Amy Chua

Amy Chua

O “Hino de Batalha da Mãe Tigre” de Amy Chua fez mais do que falar comigo. A autora gritou, gritou e me ensinou. Isso me fez simultaneamente rir com empatia e me encolher de vergonha e exasperação. ‘Esta é uma história sobre uma mãe, duas filhas e dois cachorros’, a capa do livro declara. ‘Esta era para ser uma história de como os pais chineses são melhores em criar filhos do que os ocidentais. Mas em vez disso, trata-se de um confronto amargo de culturas, um gosto fugaz de glória, e como eu estava humilhada por uma garota de 13 anos de idade’. Chua, a mais velha de quatro filhas de imigrantes chineses, foi criada para ser ‘o estereótipo de sucesso.’ Três filhas têm múltiplos títulos de Harvard / Yale e combinando carreiras de alta potência. A mais nova, que tem síndrome de Down, ‘tem duas medalhas de ouro olímpicas internacionais especiais em natação’.

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Como a beneficiária de tal proeza em criar filhos, Chua é professora de Direito na John M. Duff na Universidade de Yale e já tem dois livros com legendas intimidantemente complicadas - "Mundo em chamas" e "Dia do Império". Ela nunca deve dormir (ela equivale menos sono, com uma vida mais completa): ela ensina em tempo integral, escreve livros e artigos elogiados, mantém uma agenda de viagens extenuante e, mais importante, se dedica à maternidade chinesa. "A verdade é que eu não sou boa em aproveitar a vida", ela admite. Com duas filhas talentosas, Chua está determinada a reverter o previsível ‘declínio da família’ que ela vê como um ‘padrão muito comum entre os imigrantes chineses afortunados de vir para os Estados Unidos como estudantes de graduação ou trabalhadores qualificados, ao longo dos últimos cinquenta anos’: O imigrante da primeira geração sacrifica tudo (nunca economizando em rigor) para a educação dos filhos e futuro sucesso esperado; a segunda geração ‘tipicamente de realização elevada’, mas menos draconiana com as crianças; a terceira geração privilegiada ‘vai sentir que eles têm direitos individuais garantidos pela Constituição dos EUA’, isso levando ao desrespeito e desobediência... e garantindo declínio geracional. ‘Bem, não sob minha vigilância’, Chua decide. Sophia, seu surpreendente feito, filha mais velha com afinidade compatível, fez sua estreia no piano no Carnegie Hall aos 14 anos. Lulu, a mencionada na capa de 13 anos de idade, que "humilhou" Chua, apresentou-se para Jessye Norman, ganhou a tutela de professores de violino de renome mundial, era concertina de uma orquestra juvenil importante e não importa o quanto ela tenha se rebelado, conseguiu permanecer academicamente perfeita. Apesar de sua loquacidade encantadora, suas confissões auto obliteradas, sua gargalhada indutora de discursos inflamados, os métodos de Chua são de cair o queixo e são do tipo "não tente isso em casa”: rejeitar apressadamente cartões de aniversário feitos à mão, insistindo que ela como mãe merece algo melhor, providenciar o acesso ao piano para horas de prática onde quer que a família passasse as férias (que eram muitas e frequentes); indo até mesmo humilhar suas filhas para forçá-las a apresentar tributos impecáveis no funeral de sua amada avó. Com sinceridade, Chua admite rejeição, solidão ... Quando exige excelência sempre maior. Não surpreendentemente, Chua é confrontada com uma provação familiar que, finalmente, ‘balançou as coisas para todos nós.’

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Ela finalmente admite seu próprio "fracasso", algo que debita à ‘mãe-pai ocidental que me tornei.’ A viagem desastrosa da família em 2009 para a Rússia incita Chua a começar a escrever, o que se prova "terapêutico", na medida em que ela dividia cada página com o marido e as filhas. O marido, significativamente ausente na capa do livro, faz aparições breves, geralmente como uma voz da razão. Jeb Rubenfeld, um não chinês, antigo ator expulso da Juilliard, agora renomado professor de direito de Yale, comparece no livro como o despreocupado, nunca o pai malvado. Enquanto Chua se enfurece com a maneira ocidental de criar os filhos – (incluindo Facebook e fast food) - durante todo o tempo citando os valores chineses dos Pais Fundadores - Rubenfeld estava ocupado com o "Instinto de Morte", a sequencia que ele tinha que escrever para seu best-seller de mistério de assassinato de 2006, com o intuito de pagar, ele brinca, pelas extravagâncias de Chua em favor de suas filhas. Autoria: Peter Z. Mahakian. Amy Chua.Tradução e formatação por André de Freitas Jesus, farmacêutico e professor de inglês, p. 8.

Rio de Janeiro: Intrínseca, 2011.

Peter Z Mahakian, tradução e formatação e professor de inglês: André de Freitas Jesus. Amy Chua, p. 10).

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TEXTO 3 – Alice Miller Baseada numa pedagogia autoritária doméstica, a chamada Pedagogia Negra*, sobre a qual Miller trabalha de forma brilhante, diz-nos que esta Pedagogia apoia-se, entre outros, nos seguintes pressupostos: A – que todos os adultos são amos da criança; B – que decidem como deuses o que é justo e injusto; C – que se tem que tirar as vontades da criança o mais breve possível... Por outro lado, Miller complementa que esta pedagogia transmite à criança informações e ideias falsas: A – que os pais merecem respeito, a priori, por serem pais; B – que as crianças, a priori, não merecem respeito algum; C – que a obediência fortalece; D – que um alto grau de auto-estima é prejudicial; E – que uma escassa auto-estima conduz ao altruísmo; F – que a ternura é prejudicial (amor cego); G – que os pais são seres inocentes, livres de instintos; H – que os pais sempre têm razão. (Miller, A. ,1985, Por tu propio bien. Barcelona: Tusquets). Isso nos permite pensar, com Azevedo, M. A. (*) que este tipo de pedagogia se sustenta em dois mitos básicos: o dos pais perfeitos e o da maldade infantil.

* Nome extraído do livro de Katharina Rutschky, Schwarze Pädagogik, Escritos pedagógicos, 1977. A expressão Pedagogia Negra não envolve qualquer conotação preconceituosa. Privilegia os seguintes significados do termo negro: muito triste, lúgubre, melancólico, funesto, lutuoso, maldito, sinistro, perverso, nefando (cf. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda, 1975, Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira). Não se trata de uma suposta Pedagogia de Negros contraposta de forma depreciativa a uma também suposta Pedagogia de Brancos. (Azevedo, M.A., A Pedagogia Despótica e a Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes. In: Azevedo, M.A. e Menin, M.S.S., [1995], Psicologia e Política. Reflexões sobre possibilidades e dificuldades deste encontro. São Paulo: Cortez/FAPESP).

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CONTINUANDO...

Terminada a leitura dos TEXTOS, a seguinte imagem vem a sua cabeça.

acompanhada de uma pergunta que não quer calar:

quem tem razão Alice Miller e Maria Amélia ou a dupla Pai Lobo + Mãe Tigre?

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SURPRESA

Então, para sua enorme surpresa entram na sala os dois escritores convidados Xiao Baiyou e Amy Chua... acompanhados de uma brasileira (já que Alice Miller faleceu): trata-se de Viviane Nogueira de Azevedo Guerra, autora de um trabalho pioneiro e contemporâneo sobre Violência de Pais contra Filhos, livro que – publicado em 1984 – está hoje em sua sétima edição. Viviane declara então que vai marcar sua posição, distribuindo a todos um episódio do livro INFÂNCIA de Graciliano Ramos.

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“As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural. Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando findava a dor. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos... Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo dirigir-se a minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada (...) meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão... Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente... Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que rogos e adulações exasperavam o algoz...

O Texto de Graciliano Ramos

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Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me... O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível... Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-me com os gemidos... E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra. Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça...”

Trechos extraídos do episódio “O Cinturão”, do livro Infância de Graciliano Ramos

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a) Ato violento não tem uma explicação. Por vezes são destacadas algumas de suas dimensões devido à orientação da pesquisa, embora isso não signifique o desprezo de outros aspectos

b) Não é aceitável o principio geral de que a família necessariamente dá proteção à criança, percebendo-se que é falso o mito de que ela é intocável e não violenta.

c) A agressão contra a criança não é uma “prerrogativa” das classes populares, embora os estudos incidam mais sobre elas, uma vez que se realizam em instituições para as quais são mais drenadas as denúncias que envolvem tais classes.

d) Considerando-se o exposto, pode-se questionar o mito de que a criança é a “majestade do lar”, uma vez que se percebeu que ela é um ser marginalizado, submisso, a quem cumpre obedecer num mundo comandado por adultos.

e) Evitou-se colocar agressores e vítimas como culpados e inocentes, entendendo-se que ambos são prisioneiros de uma teia onde a violência doméstica se mescla à violência mais ampla, gerada no âmbito social.

Em termos da maioria dos textos aqui estudados, revelou-se que a violência faz parte habitual de um contexto de relacionamento adulto-criança. É importante a partir de tudo isso lembrar:

COMENTÁRIOS DE VIVIANE

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“É ilusório pensar que se possa realizar uma família de pares e iguais, numa sociedade em que a humanidade não é autônoma e na qual os direitos humanos ainda não tenham sido realizados numa medida mais concreta e decisiva do que a atual. É impossível manter a função protetora da família e eliminar o seu aspecto de instituição disciplinar, enquanto tiver que proteger os seus membros de um mundo em que é inerente a pressão social, mediata ou imediata, e que necessariamente terá de transmiti-la a todas as suas instituições (...) não haverá emancipação da família se não houver a do todo.” (HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor W. (org.), Temas básicos da Sociologia, p. 147)

Fonte: Guerra, V. N. A., (1985:113-114), Violência de pais contra filhos: procuram-se vítimas, São Paulo, Cortez.

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DISCUSSÃO

Como ocorre num SARAU, o momento mais importante é o da discussão, quando todos os presentes são convidados a debater ideias contidas nos textos lidos. Suas perguntas e as dos demais participantes motivaram acaloradas discussões pró ou contra bater nos filhos ou filhas como forma de “educação familiar”

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ENCERRAMENTO

Para encerrar Viviane entregou a todos o seguinte pensamento Bater num animal é crueldade Bater num adulto é agressão Por que então bater numa criança seria EDUCAÇÃO?

Anônimo ***

Fez também um pedido: Que cada um escolhesse (para si) o EMOTICON que melhor exprimisse seus sentimentos ao término do Sarau

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LEIA MAIS

Capítulo 1 Vitimização física:

Identificando o fenômeno

Álvaro Rodrigues Bueno1

1.1 INTRODUÇÃO

Data de meados do século passado o primeiro relato científico sobre espancamento de crianças. Esta iniciativa coube a Prof. Ambroise Tardieu, da França, quando, em 1860, publicou o artigo “Étude médico-légale sur les sévices et mauvais traitments exercés sur des enfants”, onde comentava 32 casos de espancamento, tendo morrido as vítimas de 18 deles.2

Antes deste trabalho pioneiro, os únicos relatos que tínhamos eram provenientes de fontes históricas, da literatura, contos, lendas e relatos orais. Claro que muitos autores comentaram massacres de crianças, mas sempre a partir da óptica de crônica social e não de uma visão científica.

Na mesma época do trabalho do Prof. Tardieu, surgiram várias denúncias de intelectuais (e destes, principalmente os escritores), nas quais eram descritos os abusos cometidos contra crianças e adolescentes em escolas e fábricas. Esse fato foi tão comum e marcante para a época que até gerou o uso do termo “the Dickens” como sinônimo eufêmico para crianças espancadas (isso em língua inglesa), pois foi Charles Dickens um dos escritores que mais pungentemente descreveu o problema na sociedade inglesa, provavelmente por ter ele mesmo vivenciado isso em escolas e quando trabalhou. 3,4

_____________________________ 1. Médico pediatra da Divisão de Saúde da Coordenadoria de Saúde e Assistência Social da

Universidade de São Paulo. Membro do Comitê de Consultores da Rede Criança da Secretaria de Estado do Menor de São Paulo.

2. GUERRA, V.N.A. [1985] Violência de pais contra filhos: procuram-se vítimas, 2ª ed., São Paulo, Cortez.

3. Leia-se principalmente Oliver Twist: Grandes esperanças, vida e aventura de Nicholas Nickeby, David Copperfield.

4. SOLOMON, T. [1973] History and demography of child abuse. Pediatrics, vol. 51, nº 4, part II, april.

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A comunidade científica de então não deu a mesma importância que a intelectualidade da época a essa primeira comunicação e, até meados do século atual, somente comunicações esporádicas são encontradas.

Em 1946, o pediatra e radiologista norte-americano John Caffey relatou seis casos de fraturas de ossos longos associados à presença de hematoma subdural, que ele relacionou com espancamentos infligidos às crianças.5 O Dr. Silverman, também radiologista, em 1953, fazendo um estudo retrospectivo de crianças com quadro clínico semelhante, associou-os definitivamente a maus-tratos.

Desde esta época, além destes dois autores, inúmeros foram os que comunicaram casos de espancamento em crianças. Dada a importância e a quantidade de relatos, em 1961, a American Academy of Pediatrics patrocinou um simpósio sobre o assunto, simpósio este presidido pelo Dr. Kempe que, no ano seguinte, juntamente com o Dr. Silverman, introduziu a expressão “Síndrome da criança espancada” para denominar esse quadro. Como veremos adiante, o uso desta expressão é discutível e não aplicável a todos os casos. Entretanto, ela é ainda frequente no mundo inteiro, inclusive como sinônimo para maus-tratos em crianças.

Vários autores estrangeiros definiram o abuso de crianças, cada um tentando abranger uma maior gama de lesões e de acometimentos. O problema do uso da expressão “síndrome da criança espancada” é que implica na necessidade de um conjunto de sinais e sintomas para identificar o quadro. Além disso, fala-se em espancamento e esse pode, muitas vezes, não estar presente. Outro problema, para evitarmos seu uso, é que há necessidade de uma multiplicidade de lesões (fraturas múltiplas em vários estágios de consolidação, ou mesmo recentes; ferimentos infligidos por responsáveis; hematoma subdural, etc.) para caracterizarmos a síndrome, o que acaba limitando muito nosso ângulo de ação e visão, deixando de lado uma enormidade de casos, aparentemente mais simples, que podem ser o começo de um problema de consequências até funestas.

O termo proposto pelo Dr. Vincent J. Fontana, em 1964 6, “síndrome dos maus-tratos” generaliza o tipo de ação ocorrida, mas mantém a palavra síndrome tendo, portanto, as mesmas limitações do caso citado anteriormente. Por outro lado, passou a incluir a negligência no âmbito global do problema. ______________________________ 5. CAFFEY, J. Multiple fractures in the long bones of infants suffering from chronic subdural hematoma. Am. J. Roentgenol, 56(2), pp. 163-73. 6. FONTANA, V. L. [1964] The maltreated child. The maltreatement syndrome in children. Springfield, III, Charles C. Thomas.

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D. G. Gil 7, em sua publicação de 1975, estabeleceu o conceito de “emprego de qualquer tipo de coerção que comprometa a capacidade da criança em termos de aquisição do seu pleno desenvolvimento físico e intelectual”.

Nós preferimos o uso de “maus-tratos”, muito mais abrangente e menos discriminatório do que “síndrome da criança espancada”, devendo esta ser usada nos quadros que preencham os critérios estabelecidos por Caffey, Silverman e Kempe8.

______________________________________

7. GIL, D. G. Unraveling child abuse. American J. Orthopsychiatriy XLV, april, 1975. pp. 346-356.

8. KEMPE, C. H., SILVERMAN, F. N. et al. The battered child syndrome. J. Am. Med. Assoc. 1992, 181:17.

Fonte: Azevedo, M.A. e Guerra, Viviane N. de A. [orgs.] [1989]. Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder, S. Paulo: Iglu Editora.

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