são bernardo

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SÃO BERNARDO GRACILIANO RAMOS Publicado em 1934, "São Bernardo" é tido como um dos maiores representantes da segunda fase do Modernismo brasileiro. Nos anos conturbados das décadas de 1930 e 40, com crises econômicas, sociais e políticas em todo o mundo, os artistas voltaram-se para as temáticas sociais. No Brasil, os romances dessa época tinham um caráter regionalista, tratando principalmente dos problemas do Nordeste do país, tais como a seca, os retirantes, a miséria e a ignorância do povo.

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SÃO BERNARDO GRACILIANO RAMOS

Publicado em 1934, "São Bernardo" é tido como um dos maiores representantes da segunda fase do Modernismo brasileiro. Nos anos conturbados das décadas de 1930 e 40, com crises econômicas, sociais e políticas em todo o mundo, os artistas voltaram-se para as temáticas sociais. No Brasil, os romances dessa época tinham um caráter regionalista, tratando principalmente dos problemas do Nordeste do país, tais como a seca, os retirantes, a miséria e a ignorância do povo.

GRACILIANO RAMOS

1892 •27/out: Graciliano Ramos de Oliveira nasce em Quebrangulo – AL, primeiro de dezesseis irmãos

1895 •23/jun: muda-se com os pais para a Fazenda Pintadinho, em Buíque, sertão de Pernambuco.

1899 •Muda-se com os pais para Viçosa – AL.

1904 •A 24/jun, aos 11 anos, publica o conto O Pequeno Pedinte, n’O Dilúculo, jornal do Internato Alagoano, de Viçosa – AL, onde estudava. Depois passa a colaborar com jornais

1910 •27/out: dia de seu 18º aniversário, passa a residir em Palmeira dos Índios – AL

•Dá sua primeira entrevista como escritor ao Jornal de Alagoas, de Maceió – AL

GRACILIANO RAMOS

1915 •21/out: aos 23 anos de idade, Graciliano casa-se em Palmeira dos Índios – AL com Maria Augusta de Barros, então com 21 anos

1920 •23/nov: morre Maria Augusta, aos 26 anos, em função de complicações no parto de seu 4º filho

1921 •Depois de cinco anos sem publicação, passa a colaborar com o semanário palmeirense O Índio, sob alguns pseudônimos, entre eles J. Calixto.

1925 •Começa a escrever Caetés, seu primeiro romance

1927 •07/out: é eleito prefeito de Palmeira dos Índios – AL

1928 •07/jan: toma posse do cargo de prefeito •16/fev: casa-se com Heloísa Leite de Medeiros, então com 18 anos

•Conclui Caetés

GRACILIANO RAMOS 1929 •. •08/jan: envia ao governador de Alagoas o Relatório de Prestação

de Contas do Município. Pela sua qualidade literária, chega às mãos de Augusto F. Schmidt, editor, que procura Graciliano para saber se ele tem outros escritos que possam ser publicados.

1930 •10/abr: renuncia ao mandato de prefeito •29/mai: muda-se para Maceió com a família •31/mai: é nomeado diretor da Imprensa Oficial de Alagoas

1931 •29/dez: demite-se do cargo de diretor da Imprensa Oficial de Alagoas

1932 •abr: é operado.

1933 •18/jan: é nomeado diretor da Instrução Pública de Alagoas. •É contratado como redator do Jornal de Alagoas, onde publica vários trabalhos •Publica o romance Caetés, seu primeiro livro

GRACILIANO RAMOS 1934 •Publica S. Bernardo, seu segundo livro

1936 •03/mar: é preso em Maceió e levado para Recife e depois para o Rio de Janeiro •Em ago, publica Angústia, seu terceiro livro. •Angústia recebe o Prêmio Lima Barreto

1937 •03/jan: é libertado no Rio de Janeiro – RJ

•Escreve A Terra dos Meninos Pelados, recebe prêmio

1938 •Publica Vidas Secas, seu quarto livro

1944 •Publica Histórias de Alexandre

1945 •ago: filia-se ao Partido Comunista Brasileiro – PCB •Publica Infância, seu quinto

1947 •Publica Insônia, seu sexto livro

GRACILIANO RAMOS

1953 •26/jan: é internado na Casa de Saúde São Victor, no Rio de Janeiro – RJ •20/mar: morre de câncer, no Rio de Janeiro

1953 •Heloísa Ramos, já viúva, publica Memórias do Cárcere, sétimo livro de Graciliano

1954 •Heloísa publica Viagem, oitavo livro de Graciliano

1962 •Heloísa Ramos publica Linhas Tortas, Viventes das Alagoas, Alexandre e outros Heróis

1951 • 26/abr: torna-se Presidente da Associação Brasileira de Escritores

São Bernardo

Apesar do pano de fundo de "São Bernardo" ser os problemas do sertão, Graciliano Ramos foi muito além disso, criando uma obra com uma densa carga psicológica. Para alcançar sua ascensão social, Paulo Honório abre mão de sua humanidade. Endurecido pelas dificuldades do meio onde vive, ele se torna um homem rude, bruto e violento.

Narrado em primeira pessoa, todo o romance irá se desenvolver centrado em dois planos diferentes: o Paulo Honório narrador e o Paulo Honório personagem. Esses planos ficam evidentes através do tempo verbal utilizado na narrativa: o Paulo Honório narrador é demarcado pelo uso do tempo presente; já o Paulo Honório personagem é demarcado pelo tempo pretérito.

“Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não conheci tudo de uma vez. Ela revelou pouco a pouco, e nunca se revelou inteiramente. A culpa foi minha, ou antes a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste”. (Início do capítulo 19)

Personagens Paulo Honório: é o capitalista tacanho,( homem que se faz por si mesmo),que se tornou superior à sua classe, passando de trabalhador braçal a proprietário. Para realizar esta travessia, foi necessária a sua desumanização, a coisificação de sua humanidade por meio da qual pôde exercer o domínio sobre os outros: matando, roubando, mentindo, trapaceando.

“Começo declarando que me chamo Paulo Honório, peso oitenta e nove quilos e completei cinquenta anos pelo São Pedro. A idade, o peso, as sobrancelhas cerradas e grisalhas, este rosto vermelho e cabeludo, têm-me rendido muita consideração. Quando me faltavam estas qualidades, a consideração era menor.”

Personagens

Madalena: professora primária que fora criada pela tia. Casa-se com Paulo Honório. Instruída e educada, tem opinião própria e forte, o que desagrada a seu marido.

Professora loura e de olhos azuis, de quase trinta anos, que se recusa a ser objeto de posse de Paulo Honório, é o avesso dele: com grande sensibilidade, preocupada com as condições de vida dos trabalhadores, incapaz de assumir a passividade da condição de esposa, sente necessidade de trabalhar e de andar pela fazenda, o que a leva a rejeitar o mundo de Paulo Honório.

Luís Padilha: após a morte do pai herdou a fazenda, mas se entregou à bebida, jogos e às mulheres. Vítima dos planos de Paulo Honório, vê-se endividado e é obrigado a vender a fazenda. é um personagem profundamente antipatizado pelo narrador. Fraco, submisso, covarde, ele ensina comunismo aos trabalhadores.

Seu Ribeiro: Guarda-livros cuja história de vida Paulo Honório dedica um capítulo, de Major do lugarejo em que morava, fazendo às vezes de justiceiro e de homem sábio em várias funções, passou a indigente solitário, devido à vinda do progresso. Paulo Honório demonstra simpatia por ele, uma vaga solidariedade que destoa do seu habitual desrespeito pelas pessoas e que se acentua em outros personagens. Ele trabalha na fazenda e fica próximo de Madalena.

Azevedo Gondim: jornalista amigo de Paulo Honório. Havia sido encarregado de escrever as histórias do narrador, mas por utilizar uma linguagem mais erudita, desentende-se com Paulo Honório.

Casimiro Lopes: amigo antigo de Paulo Honório, executa as ordens dele sem pestanejar. Capanga que tem “faro de cão e fidelidade de cão”, crédulo como um selvagem. Possui a estima de patrão, que inclusive se identifica com o capanga nos momentos de grande solidão.

Mendonça: dono da fazenda Bom-Sucesso, é assassinado para que Paulo Honório possa aumentar as áreas de sua fazenda.

Joaquim Sapateiro: Ensina Paulo Honório a ler na prisão.

Negra Margarida: doceira que cuidou de Paulo Honório durante a infância. É um referencial afetivo do narrador: ele a redescobre, manda buscá-la e a alimenta em São Bernardo.

Salustiano Padilha: ex-dono da fazenda São Bernardo e pai de Luís.

Dona Glória: tia de Madalena. Sobre ela recai grande parte da irritação de Paulo Honório. Madalena a defende sempre grata pelo trabalho e cuidados que teve com a moça.

Padre Silvestre: Descrito como uma personalidade estreita, que impossibilitado de admitir coisas contraditórias, lê apenas as folhas da oposição. Muito liberal, “anda no mundo da lua”, no dizer de Paulo Honório.

1- Inicia a obra explicando que quer escrever um livro de memórias. Divide o trabalho entre os amigos, mas não dá certo. Cada amigo tem uma ideia não aceita por Paulo Honório. Discute com Gondim, escolhido para redigir.

2- Decide escrever sem ajuda. Reconhece que foi melhor, pois havia fatos que não teria coragem de revelar a ninguém cara a cara. Ao final do capítulo diz que foram dois capítulos perdidos.

Resumo de São Bernardo por capítulo

3- Começa se apresentando com idade, peso e poucas características físicas. Diz não ter parente algum e relembra o cego e a velha Margarida. Explica como foi parar na cadeia, o que fez por lá e a luta para juntar dinheiro quando foi libertado. Depois de muito sofrer pelo mundo resolve voltar para Viçosa. Casimiro Lopes o acompanha.

4- Decide comprar a fazenda São Bernardo. Aproxima-se, de forma interesseira de Luís Padilha, herdeiro da fazenda, estudado e farrista. Tanto faz que acaba comprando São Bernardo por uma quantia insignificante.

5- Mendonça, vizinho da fazenda e que briga por parte daquele chão, diz que deveria ser consultado antes do negócio fechado. Paulo Honório tenta se aproximar do vizinho para melhor observação.

6- Narra as dificuldades que enfrentou para organizar a fazenda. É também nesse capítulo que Mendonça é assassinado com um tiro na costela.

7- Esse capítulo narra como ele conheceu Seu Ribeiro. O capítulo é dedicado a seu agora guarda-livros.

8- Já se passaram cinco anos. Através de empréstimos bancários, investe em máquinas e na plantação de algodão e mamona. Para escoar seus produtos, Paulo Honório constrói estradas e passa a se dedicar cada vez mais ao trabalho. E, para conseguir obter tudo isso, ele comete as maiores injustiças e utiliza de todos os meios que pode, garantindo impunidade através de uma grande rede de relacionamentos. Seus ajudantes são: Gondim, o jornalista local; o padre Silvestre; e o advogado Nogueira, que manipula os políticos locais.

9- É nesse capítulo que Madalena é citada pela primeira vez. Paulo Honório escuta uma conversa, entre os amigos, sobre umas pernas e uns peitos. Estão falando de Madalena. Com a fazenda em ótima situação, Paulo Honório contrata Luís Padilha como professor e constrói uma escola para alfabetizar os empregados e agradar ao governador do Alagoas.

10- Manda buscar a mãe Margarida e arranja moradia pra ela. Vai visitá-la e vive um momento de como diz de fraqueza por se comover com a velhinha.

11- Um dia Paulo Honório percebe que precisa de um herdeiro para suas ricas terras e por conta disso resolve se casar. Pensa nas filhas e irmãs de seus amigos, mas nenhuma lhe agrada.

12- Um dia conhece a professora primária Madalena na casa do juiz Magalhães. Eles não conversam, mas Paulo Honório fica observando a moça loura e sente até uma espécie de atração.

14- Aqui o capítulo é especial dedicado a Madalena. Ao chegar na estação, d. Glória apresenta a sobrinha. Eles conversam e Paulo Honório convida as duas para um passeio na fazenda.

15- Paulo Honório torna-se quase íntimo das duas mulheres. Ele pede Madalena em casamento. A moça estranha o convite pela pouca aproximação dos dois.

17- Casam-se e logo Madalena se entrosa com os trabalhadores da fazenda. Relata os problemas vistos e Paulo Honório não aceita suas observações com intuito de ajudá-los.

18- Oito dias após o casamento já acontece a primeira discussão. O motivo foi o valor do salário baixo de Seu Ribeiro.

19- Há nesse capítulo a análise psicológica do próprio narrador. Passado e presente se misturam na mente de Paulo Honório.

20- Alguns minutos após a discussão, narrada no capítulo 18, Madalena leva uma xícara de café para o marido como se lhe pedisse desculpas do ocorrido. Paulo Honório reconhece que a mulher tem bom coração.

21- Nesse capítulo, Paulo e Madalena discutem novamente. Ela pede que ele faça umas compras de material didático para a escola e quando a conta chega, ele fica inconformado, mas decide calar-se. Ao sair ver Marciano conversando com Padilha enquanto sua obrigação está por fazer. Quando reclama o empregado responde e o patrão bate de forma violenta no empregado. Madalena fica horrorizada e toma as dores do oprimido.

22- Aqui se sabe que Madalena está grávida. E mesmo se esforçando para não magoá-la, Paulo reclama do atraso nos trabalhos de Seu Ribeiro e culpa as conversas de d. Glória. Madalena chora e lhe conta como sua tia é uma pessoa digna e que muito trabalhou para criá-la.

23- A raiva de Paulo Honório se dá agora porque fica sabendo que Madalena deu um vestido de seda, com um furo, a Rosa, lençóis e sapatos a Margarida. Depois detesta olhar o povo da casa conversando sem lhe dar atenção. Ao final do capítulo, ficamos sabendo que o filho deles já nasceu e chora sem que ninguém o acalme.

24- Comemoração de dois anos de casados com um jantar na casa deles. Apenas os amigos de sempre. O assunto em pauta é o Comunismo. De repente Paulo sente ciúme de Madalena, porque ela conversa com Nogueira.

25- Continuam as desconfianças de Paulo Honório. O ciúme e a desconfiança vão criando cenas nunca existidas. Nesse capítulo ele chama a atenção para o desprezo em que vivia o filho. Analisa as feições do menino e não encontra seus traços.

26- Paulo Honório se reconhece cada vez mais ciumento. Não se controla e começa a mexer nas malas, nos livros, abrir as cartas. Não importava quantas vezes Madalena tivesse ataque de nervos. É nesse capítulo que ele sente ciúme dela com o Dr. Magalhães. É também aqui que ele a agride com palavrões pedindo a carta que ela está escrevendo endereçada a Azevedo Gondim.

27- Ele se arrepende. Reconhece que todas as desconfianças podem ser exagero do ciúme. Coloca a culpa de tudo em Padilha e o despede.

28- Reflexão e tormento. A frase de Padilha ao final da conversa no capítulo anterior: “O senhor conhece a mulher que possui” fica ecoando na cabeça dele. Dúvidas. Tudo que ele não queria. Imagina como seria se tivesse certeza de que era ou não traído.

29- Desconfia de Madalena com os caboclo e até com o padre. Xinga D. Glória em silêncio de alcoviteira e desencaminhadora da sobrinha. Chega a imaginar que a velha Margarida vai visitá-los na casa grande só para levar carta de amante para Madalena.

30- Devaneio, pura loucura. Desconfia dos barulhos noturnos. Perde a compostura, procura algum amante da mulher pelo arredores e ao acordar Madalena faz acusações. Depois de muito chorar, a mulher dorme novamente, enquanto ele continua com suas dúvidas e loucuras tomado pelo sentimento de posse.

31- Este é o capítulo da morte de Madalena. Paulo Honório e esposa conversaram na capelinha até mais de meia-noite. Ela se despede em termos, para Paulo, muito confusos. Ele adormece sem querer na capela. Acorda e observa a fazenda acordando também. Ao entrar em casa se depara com a cena de Madalena morta.

32- Paulo Honório narra aqui o enterro de Madalena, sua necessidade de se ocupar para não pensar nela. Conta também como D. Glória e Seu Ribeiro se despediram e partiram.

33- O narrador sempre triste, carrancudo e sozinho. Padilha continua na fazenda, mas quando a revolução chega ele some subitamente. Depois Nogueira diz que ele e o padre Silvestre incorporaram-se às tropas revolucionárias.

34- Paulo Honório se preocupa com a situação política, seu partido está em queda. Descontente com a vida lembra do filho, mas lembra-se de que não gosta dele. Recebe o Gondim e o Nogueira uma vez por semana para jantar e falar sobre política.

35- A revolução e a crise econômica, associadas ao desânimo do fazendeiro, levam a propriedade à decadência. Paulo sente-se só e sem que se perceba se ver à procura de Madalena, D. Glória e seu Ribeiro nos vãos da casa.

36- O último capítulo é marcado pelo fluxo da consciência de Paulo Honório. A lembrança de Madalena, a vontade de ser diferente, entretanto percebe-se sem jeito. Imagina como seria sua vida se não tivesse adquirido posses. Sente-se sozinho, até os amigos que vinham discutir política deixaram de vir. Faz, então, dois anos que Madalena morreu, mas a ausência dela ainda se faz muito presente. Termina sozinho. Enquanto todos dormem, ele não tem sono, apenas tem solidão.