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estudo quadrinhos hagar

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  • ____________________________________________________________________________________ Anais do 6

    o Seminrio de Pesquisas em Lingstica Aplicada (SePLA), Taubat, 2010. ISSN: 1982-8071,

    CD-Rom.

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    TIRAS DO HAGAR: CARACTERIZAO E SEQUNCIA DIDTICA PARA LEITURA

    Aparecida de Ftima Amaral dos Santos

    Clia Francisca da Silva

    Prefeitura Municipal de Taubat

    RESUMO. Este estudo apresenta algumas caractersticas das HQs, fundamentao terica de leitura sociointeracionista para embasamento da anlise dos elementos constitutivos das tiras do personagem Hagar e a elaborao de uma sucinta seqncia didtica para leitura dessas tiras. O corpus em anlise provm de 5 tiras selecionadas de uma coletnea que engloba as melhores histrias de Hagar. Tendo como pblico-alvo adolescentes/jovens e adultos, essas tiras exigem, para apreenso de sentidos, a percepo de estratgias lingsticas. Portanto, este trabalho visa oferecer um subsdio docente para o desenvolvimento de habilidades de leitura, pois se sabe que, atualmente, as tiras fazem parte de questes do ENEM, de vestibulares e de concursos de modo geral.

    Palavras-chave: Histria em quadrinhos; tira; leitura; gnero discursivo; produo de sentido.

    1. Introduo

    A importncia do trabalho docente embasado em gneros discursivos,

    propostos pelos Parmetros Curriculares Nacionais PCN - (BRASIL,1998), a

    falta de conhecimento e dvidas dos professores quanto didtica de trabalho

    com o gnero HQs suscitaram esse estudo. As tiras, parte do universo das

    HQs, o foco central desse trabalho. No Brasil, as tiras do personagem Hagar

    so publicadas pelos jornais Folha de So Paulo, O Globo e Zero Hora. A

    escolha desse personagem deve-se identificao do comportamento e

    estrutura dos personagens das tiras com os padres estruturais das famlias

    brasileiras, vivenciando situaes comuns do cotidiano, o que torna as histrias

    verossmeis.

    Partindo de uma resumida definio de histria em quadrinhos, feita

    uma apresentao do gnero tira, seguida dos embasamentos tericos

    voltados para a concepo interacionista/sociodiscursiva de leitura proposta

    por Koch e Elias (2006). Aps a caracterizao dos personagens das tiras de

    Hagar seguem-se as anlises das tiras selecionadas, finalizando com uma

    sugesto de seqncia didtica que privilegia as habilidades de leitura do

    aluno e o desenvolvimento de seu senso crtico.

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    2. O que so HQs?

    HQs, ou as conhecidas Histria em Quadrinhos, so narrativas feitas

    com desenhos seqenciais, em geral nos sentido horizontal, e normalmente

    acompanhados de textos curtos de dilogo e algumas descries da situao,

    convencionalmente apresentados no interior de figuras chamadas bales,

    afirmam Silva, Kress, Fernandes [2002?]. Todo o conjunto do quadrinho

    responsvel pela transmisso do contexto enunciativo ao leitor. Nas HQs, a

    compreenso se d pela dicotomia verbal e no-verbal, na qual tanto os

    desenhos quanto as palavras so necessrios ao entendimento da histria.

    Dessa forma, essencial ressaltar a importncia dos elementos especficos de

    um quadrinho na compreenso da narrativa, como: requadro, balo, legendas

    (discurso direto, onomatopia, expresses populares), no-verbais (gestos e

    expresses faciais) e paralingusticos (prolongamento e intensificao de

    sons).

    2.1 Tira

    As tiras de quadrinhos so histrias curtas, com comeo, meio e fim, em

    geral com personagens fixos criados pelo autor. Unindo desenhos e textos, as

    tiras contam variados tipos de histrias: de humor, de ao, herosmo e outros.

    Elas originaram as histrias em quadrinhos (HQs), pois estas, so uma

    evoluo das tiras. Antigamente, eram em formas de tiras que se publicavam

    as histrias em quadrinhos nos jornais. Como foram ganhando mais espao,

    puderam ser produzidas em seqncias mais longas, resultando em histrias

    mais longas, o que fez surgir seu prprio suporte de circulao, de acordo com

    Carvalho (2006). Segue um exemplo de uma tira de Hagar retirada do site

    http://tiras-hagar.blogspot.com

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    3. A leitura sob a tica interacionista e sociodiscursiva

    A necessidade de o trabalho docente voltado leitura e produo de

    textos se realizar dentro de uma concepo discursiva sociointeracionista

    fundamental, visto que, atualmente, no se tem alunos passivos ou

    meramente receptores de contedos. Os PCN (BRASIL, 1998, p.5-6)

    relacionam o ensino da leitura e da escrita da lngua portuguesa aos

    momentos histricos e s posies sociais da sociedade. O aluno est inserido

    num contexto lingstico no qual ele tambm protagonista do saber. Na

    sociedade letrada que o cerca, circulam textos de naturezas diversas, ou seja,

    inmeros gneros discursivos, por isso a recomendao dos PCN: Cabe,

    portanto escola tornar o aluno acessvel ao universo dos textos existentes,

    tanto no ensino, produo, quanto interpretao deles.

    Sobre o exposto, tambm discorre Lopes-Rossi (2002, p. 30):

    Cabe ao professor, portanto, criar condies para que os alunos possam apropriar-se de caractersticas discursivas e lingsticas de gneros diversos, em comunicao real.

    A autora sugere que essa apropriao se d por meio de trabalhos com

    projetos, os quais oferecem ao aluno contato com esse universo de textos,

    explorao, discusso sobre o uso, composio e, se conveniente, a produo

    escrita do gnero.

    Como no h textos com informaes totalmente explcitas, o que

    justifica a cumplicidade entre autor e leitor na construo de sentido, o locutor

    recorre estratgia de balanceamento, que consiste em dosar o que precisa

    estar explicitado e o que deve ser deixado por conta dos conhecimentos

    prvios, inferncias e pressupostos de seu interlocutor. Os conhecimentos do

    leitor, alm da materialidade lingstica do texto, so condio fundamental

    para o estabelecimento da interao, com maior ou menor intensidade,

    durabilidade, qualidade. Dessa forma, no se pode dizer que h um sentido

    para o texto e sim, diversos sentidos, visto que, na ativao de conhecimentos

    considera-se o lugar social, vivncia, crenas, valores da comunidade,

    conhecimentos textuais e outros do leitor. De acordo com Koch e Elias ( 2006):

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    A pluralidade de leituras e de sentidos pode ser maior ou menor dependendo do texto, do modo como foi constitudo, do que foi explicitamente revelado e do que foi implicitamente sugerido, por um lado; da ativao, por parte do leitor, de conhecimentos de natureza diversa e de sua atitude cooperativa perante o texto, por outro lado.

    Recorremos a trs grandes sistemas de conhecimento armazenados em

    nossa memria que, segundo Koch e Elias (2006, p.40), nos auxiliam na

    elaborao de hipteses para que se ocorra o processamento textual:

    conhecimento lingstico, conhecimento enciclopdico e conhecimento

    interacional. O conhecimento lingstico pode ser verificado na superfcie

    textual e diz respeito ao conhecimento gramatical e lexical. Os conhecimentos

    gerais sobre o mundo, vivncias pessoais, eventos espcio-temporalmente

    situados constituem o conhecimento enciclopdico ou conhecimento de mundo.

    O conhecimento interacional, pelo qual tambm se d a interao, engloba

    vrios conhecimentos: ilocucional, comunicacional, metacomunicativo e

    superestrutural. O conhecimento ilocucional percebido num texto, quando a

    partir de uma situao interacional, possvel identificar o objetivo de seu

    autor. O conhecimento comunicacional se refere adequao do gnero

    textual, seleo da variante lingstica a ser utilizada e quantidade de

    informaes necessrias para que o leitor consiga apreender o sentido e o

    objetivo do texto. O conhecimento metacomunicativo configura-se no texto por

    meio de variados recursos como sinais de articulao ou apoios textuais que

    explicam o prprio discurso, destaques na construo textual para realar e

    chamar a ateno do leitor. Alm desses conhecimentos, Koch e Elias (2006)

    tambm atentam que na e para a construo de sentido de um texto, faz-se

    necessrio considerar o contexto.

    4. Caracterizao do personagem Hagar e seus companheiros

    Hagar, o Horrvel, o nome do personagem principal de uma tira em

    quadrinhos criada em 1973 por Dik Browne, quadrinista norte-americano. A

    idia de criar Hagar surgiu das lendas nrdicas que o cartunista ouvia de sua

    tia sueca e, para criar o personagem e toda a famlia viking, Browne inspirou-se

    em si mesmo, na mulher, nos filhos, no mdico, no advogado e por a afora.

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    Hagar um guerreiro viking que gosta muito de cerveja e de guerra e

    freqentemente tenta invadir a Inglaterra. Os chifres, segundo a tradio viking,

    indicam quem manda no lar. Portanto quanto maior, mais poder ele tem sobre

    a casa e famlia. O humor da tira vem de sua convivncia com a irmandade (o

    melhor amigo de Hagar, ao contrrio do imaginrio popular que toma os vikings

    como guerreiros musculosos, magricela covarde chamado Eddie Sortudo) e

    com sua famlia (sua esposa Helga, seu filho Hamlet, sua filha Honi, sua pata

    Kvack e seu cachorro Snert).

    Embora respeitado profissionalmente (um dos maiores saqueadores e

    assassinos da Escandinvia), Hagar leva uma vida frustrada. Est sempre

    discutindo com a esposa Helga, que no est satisfeita com o padro de vida

    que a famlia leva. Para vergonha de Hagar, seu filho Hamlet est longe de ser

    um filho modelo: sem interesse por brigar, xingar e outros passatempos das

    crianas vikings. Hamlet est sempre lendo, filosofando e pensando sobre

    como algum dia poder ser mdico ou advogado. A grande frustrao de Hagar

    vem desse filho porque ele gosta de estudar. Seu melhor amigo, Eddie

    Sortudo, um viking franzino que usa um funil como chapu. Sorte e raciocnio

    o que mais falta a Eddie Sortudo, que est sempre desobedecendo s ordens

    dadas por Hagar; quando no por insubordinao, simplesmente por no

    compreend-las. A tirinha Hagar, o Horrvel bateu recordes e fez a fortuna de

    seu criador. Ela considerada a obra de crescimento mais rpido na histria

    dos quadrinhos.

    Dik Browne faleceu em 1989, mas a tira continuada por seu filho Chris

    Browne, conseguiu manter, praticamente, o bom humor do pai. Hagar,

    atualmente, publicado em cerca de dois mil jornais nos EUA e outras

    centenas fora daquele pas. H algumas coletneas lanadas no Brasil pela

    LP&M Editora. Via Internet, possvel acompanhar as tiras no site da

    distribuidora King Features (www.kingfeatures.com), e tambm nos jornais j

    citados.

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    4.1 Anlise das tiras do Hagar: mobilizando estratgias para a construo de sentido

    Conforme visto em Koch e Elias (2006), um texto pode apresentar uma

    pluralidade de leituras e sentidos, dependendo do grau de interao que ele

    mantm com seu interlocutor; logo, a leitura dos textos que se seguem

    tambm poder empreender outros sentidos.

    Tira 1

    O contexto da tira destaca o mtodo moderno de self-service oferecido,

    hoje, por muitos restaurantes. importante notar que para um ambiente viking

    um cenrio bem avanado. O autor, ao incorporar hbitos e comportamentos

    atuais da nossa sociedade nos personagens das tiras, torna seus enredos

    verossmeis e mais prximos dos ambientes e dos padres de vida do leitor. A

    primeira fala, de uma freguesa, dirigida a Helga condena a atitude de Hagar, j

    que ele est contrariando uma regra do restaurante: passar frente aos pratos

    e se auto-servir. Ele est sentado de costas, onde se encontram os variados

    tipos de comidas e percebe-se que est comendo com voracidade (como um

    viking). Ao ser interpelada, Helga, uma esposa defensora do marido, que no

    deseja v-lo ridicularizado, responde com altivez que ele entende o sistema do

    restaurante, mas no quer ficar voltando para pegar mais. O humor est no fato

    de Helga tentar esconder a ignorncia e os maus modos do marido.

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    Tira 2

    Limpe os ps a ordem de Helga a Hagar. Isso parece normal, mas

    o caso que o marido guerreiro passara 6 meses longe de casa e estava

    retornando. A alegria que transparecia no rosto de Hagar logo foi tomada por

    um desapontamento. ... e tudo o que voc tem pra me dizer limpe os ps?!

    (ou seja, s isso?) Nessa fala h um implcito, pois Hagar supe que ter uma

    acolhida calorosa, afinal so seis meses numa ilha, s comendo peixes. A

    graa da tira est no quadro final onde Helga fingindo ignorar o pressuposto do

    marido e se utilizando se seu conhecimento lingstico responde limpe os ps

    e escove os dentes!!. Hagar permaneceu frustrado e ficou ainda mais zangado

    depois do acrscimo ordem que de um perodo simples passou a composto.

    Tira 3

    Para a produo de sentido da tira necessrio considerar todo o

    contexto sociocognitivo representado no quadro, isto , deve ser acionada

    toda uma bagagem cognitiva. Florestas encantadas nos remetem a contos de

    fadas com prncipes, princesas, duendes, bruxas e a histrias com finais felizes

    (frames). Hagar tambm demonstra ter esse conhecimento ao dizer esta

    floresta encantada est realmente decadente. importante atentar para o

    conhecimento lingstico revelado na fala de Hagar, ao se referir palavra

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    decadente. Ao adentrar a floresta eles se do conta de que a magia e a

    beleza das florestas encantadas, parte constitutiva de um cenrio armazenado

    em suas memrias, j no existem mais. uma realidade diferente da

    esperada, contudo eles no se assustam com os pedidos dos animais,

    duendes e rvores, talvez porque as falas desses personagens os/nos

    remetem a um outro contexto (realidade atual) constituindo uma

    intertextualidade implcita: a destruio da natureza, o mundo dos que

    sobrevivem na e da rua. Esse contexto, certamente, do conhecimento de

    Hagar e nosso. A tira, diferentemente das outras, no tem como objetivo o

    humor, e sim a crtica social.

    Tira 4

    As palavras de Hagar tambm so palavras da grande parte de pessoas

    que lutam para conquistar seu espao fsico. No nosso dia-a-dia, comum

    ouvirmos muitas pessoas dizerem que sonham em ter o seu prprio espao, a

    sua casa, o seu prprio cho. A partir da fala de Hagar ativamos a nossa

    bagagem sociocognitiva de crenas, valores e vivncias e deparamo-nos com

    um discurso polifnico. Com certeza, a produo de sentido desse texto no

    oferece ao leitor nenhum entrave, pois ele claro e simples. A surpresa vem

    na continuidade da tira (e vem de carrinho) em que se espera ver o lugar, o

    pedacinho de terra to sonhado por Hagar, mas o que se v algum

    trazendo um carrinho cheio de terra dizer: onde quer que eu ponha moo? A

    alegria desaparece do rosto de Hamlet , Eddie continua, como sempre, sem

    entender nada, e no rosto de Hagar continua transparecendo seu

    contentamento ao ver a terra chegando. No efeito de humor da tira, tambm

    est implcita uma crtica aos baixos salrios recebidos por grande parte da

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    populao, visto que, com a economia de 20 anos de trabalho se espera

    poder comprar algo mais valioso que um simples carrinho de terra.

    Tira 5

    Nessa ltima tira, Hamlet est declamando o poema Vou-me embora

    pra Pasrgada, do poeta modernista Manuel Bandeira. Nessa tira percebe-se

    uma intertextualidade explcita. Como sabemos, Hamlet um garoto educado,

    amante da arte e do conhecimento, dotado de grande sensibilidade e

    inteligncia, contudo vive num mundo brbaro. A escolha do poema muito

    significativa para Hamlete que no gosta do mundo em que vive, por isso,

    certamente gostaria de ir para Pasrgada onde teria a oportunidade de sonhar.

    Certamente, o grito CALA A BOCA do segundo quadro de Hagar, que quer

    v-lo seguindo seus passos, navegando em mares bravios e travando lutas

    como um verdadeiro viking para trazer para casa o resultado de saques e

    pilhagens. Hamlete, desapontado, finaliza a tira como que dialogando

    diretamente com o leitor. Na sua fala ele retoma um outro texto: Arte para

    todos. H nessa retomada uma intertextualidade implcita. Vale ressaltar a

    habilidade pragmtica do quadrinista norte-americano, Chris Browne, ao inserir

    na tira analisada elementos de nossa literatura, fazendo-se, dessa forma, mais

    prximo do nosso mundo e de nossa arte. (Ver outras anlises em anexo 1)

    4.2 Seqncia didtica para leitura das tiras do Hagar

    Justificativa e Objetivos: A proposta que se segue tem como objetivo

    despertar o gosto, o interesse do aluno pelo universo das tiras, especificamente

    as do Hagar, e auxiliar o docente a nortear essa leitura, levando o aluno a

    mobilizar estratgias de ordem lingstica e cognitivo-discursiva de maneira

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    que se levantem hipteses, preencham-se as lacunas do texto e obtenha-se a

    apreenso de sentido desejada.

    Pblico-alvo: O trabalho com o gnero discursivo tiras, se adequado, pode

    ser desenvolvido desde as sries iniciais at o ensino superior. Como a nfase

    desse estudo dada s tiras do Hagar, s quais requerem uma maior

    mobilizao de estratgias para compreenso, as sugestes oferecidas so

    mais adequadas a alunos a partir do 8 ano ao ensino mdio/superior.

    Planejando as atividades:

    O professor pode desenvolver a seguinte seqncia de atividades com os

    alunos:

    Expor aos alunos os diversos tipos de HQs (Cartum, charge, tira) para

    que, no contato com esses materiais, eles possam verificar as diferenas

    e as caractersticas mais relevantes: suporte, tipo de discurso, linguagem

    verbal /no verbal, cores ou no, conciso da linguagem, bales, marcas

    de oralidade (caractersticas regionais), coerncia entre desenho e texto,

    mundos verossmeis ou irreais, personagens fixos, etc.;

    Solicitar aos alunos uma pesquisa especfica, escrita, sobre tiras em

    fontes variadas e uma coleta desse gnero atentando para o suporte de

    veiculao (revistas, jornais, colees etc). Ao analisar os materiais fazer

    com que observem as temticas fundamentais das tiras ( humor e crtica);

    Sugerir uma pesquisa sobre os vikings, sua cultura e relao com outros

    povos para que facilite o reconhecimento de algumas caractersticas das

    personagens;

    Apresentar diversas tiras do Hagar (podero ser apresentadas nas fontes

    e duplicadas para melhor acesso) e primeiramente deixar que os alunos,

    em grupos, familiarizem-se com as personagens, atentando para as

    caractersticas fsico-psicolgicas de cada um;

    Promover uma discusso final para que todos cheguem a um acordo

    sobre o perfil psicolgico de cada personagem.

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    Tambm de fundamental importncia o acionamento de conhecimentos

    prvios do leitor/aluno a respeito do perfil fsico e psicolgico das personagens,

    o que justifica, muitas vezes, o humor e a graa das tiras. Para a aquisio

    desses conhecimentos faz-se necessrio uma pesquisa mais ampla a respeito

    de quem so os vikings, suas relaes familiares e sociais, seus

    comportamentos, seus anseios, seus valores, seus defeitos e virtudes.

    A partir dos conhecimentos j previamente construdos, passar leitura

    detalhada das tiras, percepo das inferncias e dos subentendidos

    lingsticos e para isso essencial a contribuio do professor para se chegar

    a um nvel mais profundo de compreenso, visto que o humor s tem humor se

    percebido, e no explicado. As sugestes abaixo podero ser enriquecidas

    com a criatividade e a experincia de cada docente. (ver em anexo 2 -

    Sugestes para ativao de conhecimentos prvios)

    Concluso

    A partir da anlise dessas tiras, constatou-se que a temtica principal

    abordada nesse gnero o humor e a crtica e se revelam de forma

    mascarada, isto , o autor se utiliza de inferncias, implcitos e outra

    estratgias para conseguir o efeito desejado. Pde-se perceber ainda que,

    embora o universo do personagem Hagar esteja distante do nosso no tempo e

    espao, os temas abordados pelo autor nas tiras so verossmeis, fazendo-se

    muito prximos dos acontecimentos que envolvem o nosso cotidiano. O

    humor, a empatia, a descontrao e essa familiarizao com a nossa realidade

    so alguns dos motivos que certamente levam tantos leitores/admiradores a

    viajar pelo mundo viking.

    Referncias

    DJOTA, Carvalho. A Educao est no gibi. Campinas, SP: Papirus, 2006.

    BROWNE, Dik. O melhor de Hagar, o Horrvel- v.l 1/2/3/4. Porto Alegre:

    L&PM, 2006.

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    FERNANDES,Evanil R.,KRESS, rika, SILVA,Geysa. A transformao do

    super-homem atravs da evoluo dos tempos .[2002?] Disponvel em

    . Acesso em

    03/01/2007.

    KOCH, Ingedore V., ELIAS, Vanda M. Ler e compreender: os sentidos do

    texto. 2 ed. So Paulo: Contexto, 2006.

    LOPES-ROSSI, Maria A.G. O desenvolvimento de habilidades de leitura e de

    produo de textos a partir de gneros discursivos. In: LOPES-ROSSI, Maria

    A. G. (Org). Gneros discursivos no ensino de leitura e produo de

    textos. Taubat: Cabral, 2002.

    ______. Procedimento para o estudo de gneros discursivos.

    Comunicao apresentada no 15 InPLA- Intercmbio de Pesquisas em

    Lingstica Aplicada. So Paulo: Pontifcia Universidade Catlica PUC-SP, 26

    de maio de 2005.

    PARMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Secretaria de Educao

    Fundamental Braslia: MEC/SEF,1998.

    ANEXOS

    Anexo 1

    Tira 1

    O efeito de humor da tira provm da falta de conhecimento ilocucional

    por parte do personagem Eddie Sortudo. Hagar e Eddie esto bebendo

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    (passatempo preferido do viking) e brindam vida, pois ela curta e tem de ser

    aproveitada (bebendo). Eddie, ao ouvir Hagar dizer ... hoje estamos aqui

    amanh no estaremos mais, no consegue apreender o sentido conotativo

    da expresso e faz uma interpretao literal. ...eu pensei que s fssemos pra

    Inglaterra semana que vem. A fala de Hagar tambm pode ser considerada

    um discurso polifnico, pois construo que contm em si citaes,

    afirmaes de muitas pessoas da sociedade.

    Tira 2

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    A comicidade dessa tira est atada ao conhecimento interacional, que

    engloba o conhecimento ilocucional, o qual permite reconhecer os objetivos

    pretendidos pelo seu autor numa situao de interao. Para a produo de

    sentido desse texto, deve-se considerar a falta de conhecimento ilocucional,

    responsvel pelo humor da tira. Os primeiros quadrinhos mostram Helga

    enfurecida aps Hagar ter lhe quebrado a mesa no momento de cortar uma

    fatia de carne para Eddie Sortudo, com um machado, o que comprova os

    gestos grosseiros de um viking. Quando os dois so convidados, por Helga, a

    se retirar, Hagar se revolta pois ele sendo o chefe da casa, responsvel pela

    sua manuteno, no concorda com a atitude de Helga. A partir do terceiro

    quadro comeam as lamentaes que se findam com a pergunta de Hagar

    pra qu? Na resposta/pergunta incabvel do amigo ganncia? (j se era de

    esperar) percebe-se a falta de conhecimento ilocucional. Hagar no o perdoa.

    Tambm, depois da narrativa de tantos feitos em prol do lar o viking esperava

    que Eddie compreendesse que eles tinham o direito de comer um pedao de

    carne, quebrar a mesa e no serem punidos. Como sempre, Helga tem a

    palavra final.

    Anexo 2

    Sugestes para acionamento dos conhecimentos prvios do aluno a respeito

    das tiras do Hagar.

    Tira 1

    Quem so as personagens que compem a tira? O que voc sabe a

    respeito delas?

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    Qual o assunto principal da tira e o que as pessoas de um modo geral

    pensam sobre esse assunto (pensamento e leitura)?

    O que sugere a placa PENSE para Eddie, em vista de sua fala uma

    placa tima? Ele entendeu?

    Voc acha que o autor escolheu bem as personagens para a

    representao da tira?

    Com base na resposta do Dr. Zook, qual a provvel associao que

    ele faz entre ler e pensar?

    Qual a temtica enfatizada na tira, alm do humor?

    Qual o subentendido presente na tira?

    O assunto abordado diz respeito somente ao mundo viking?

    Tira 2

    Qual a temtica em questo? (relao de poder, o homem como chefe

    da casa, a submisso da mulher?)

    Na nossa sociedade tambm normal que os homens se atrasem para

    o jantar? Quais os possveis motivos?

    O que revela a fala de Eddie? (homens que se atrasam no jantam)

    Qual a contradio entre a fala de Hagar ... na minha casa mando eu e

    o segundo quadro?

    Associando a linguagem verbal no verbal, d para responder quem

    realmente manda no lar viking?

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    69

    Tira 3

    O que seria a idade das trevas?

    Por que sensibilidade no combina com a idade das trevas?

    Que temtica abordada na tira? (crtica sobre falta de segurana e

    violncia)

    Quanto ao assunto abordado, h muitas diferenas entre a idade das

    trevas e nossa sociedade?

    Qual o pressuposto que se tem a respeito de segurana e de

    violncia?

    Em qual quadro h um discurso polifnico? (no terceiro quadro, pois a

    fala de Hamlet representa a voz de muitas pessoas. uma fala j

    cristalizada na sociedade)

    Por que se pode atribuir o humor da tira ao ltimo quadro?

    Qual o implcito que h no ltimo quadro? (Hamlet sonha com um

    mundo onde as pessoas tenham paz, segurana e vivam felizes. Isso

    tudo ele supe que presenciaria se nascesse nos dias atuais)

    Ser que a idade das trevas acabou?

    A partir dessas sugestes, pode-se ampliar e explorar novos horizontes de

    leitura dos alunos a respeito das diversas temticas abordadas pelas tiras do

    Hagar. Conforme visto, a leitura inferencial requer a mobilizao de estratgias

    simples que acionaro o universo cognitivo dos alunos. Ao serem instigados,

    comprovadamente, eles se tornaro mais perceptivos, crticos e capacitados

    para a construo do sentido dessas tiras.

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    Anexo 3

    Tira 1

    Tira 2

    Tira 3