santa catarina: expedições exploratórias · mas nem todas as promessas da administração...

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EEB CEL. PEDRO C. FEDDERSEN Prof. Albio Fabian Melchioretto História de Sta. Catarina 3° ANO Ens. Médio Santa Catarina: expedições exploratórias A revelação do Litoral catarinense foi feita pelas primeiras expedições exploradoras do Brasil. Em 1515 Juan Dias de Solis passou em direção ao Prata. Onze náufragos dessa expedição foram bem recebidos pelos índios carijós e iniciaram com eles uma intensa miscigenação. ―A esses aborígines considerou-se ―o melhor gentio desta costa‖, e ―manso e propenso às coisas de Deus", segundo Anchieta. Várias expedições se assinalam em Santa Catarina: D. Rodrigo de Acuña (1525), que deixa 17 tripulantes na Ilha, onde se fixaram voluntariamente; Sebastião Caboto (1526), que ali se abastece, segue para o Prata e retorna. Dele recebeu a Ilha, que antes era denominada dos Patos, o nome de Santa Catarina. Após Caboto, nela aportaram Diego Garcia e, muito mais tarde, em 1541, o adelantado Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, sucessor de D. Pedro de Mendonza, fundador de Buenos Aires, que dali havia mandado, antes, a Santa Catarina, seu sobrinho Gonzalo de Mendonza, em busca de mantimentos e gente, auxílio este que permitiu aos espanhóis subirem o Rio Paraná e fundarem Assunção, em 1537. Para socorrer D. Pedro de Mendonza havia partido da Espanha, no mesmo ano, uma expedição comandada por Alonso Cabrera, da qual um dos navios arribou à Ilha de Santa Catarina, deixando nela missionários franciscanos (freis Bernardo de Armenta e Alonso Lebrón). Mantendo sempre o propósito de tomar posse do Brasil Meridional, o governo espanhol nomeou Juan Sanabria governador do Paraguai, com a missão de colonizar o Rio da Prata e povoar também o porto de São Francisco, em Santa Catarina. Morrendo Juan Sanabria, foi substituído por seu filho Diogo. Alguns dos navios da expedição lograram chegar à Ilha de Santa Catarina, onde os espanhóis permaneceram dois anos. Divididos em dois grupos, um deles rumou para Assunção; o outro, chefiado pelo piloto-mor Hermando Trejo de Sanabria, estabeleceu-se em São Francisco, de onde, após as maiores privações e sempre sob a ameaça de ataques pelos silvícolas, seguiu para Assunção. Merecem revelo na passagem da expedição Sanabria a participação de Hans Staden, que legou interessante narrativa da viagem, e o nascimento, em São Francisco, de Herdinando Trejo de Sanabria, filho de Hernando, futuro bispo e fundador da Universidade de Córdoba, na República da Argentina. Ainda em 1572, Ortiz de Zarate, a caminho de Assunção, esteve sete meses em Santa Catarina, onde praticou incríveis e inúteis violências. Foi Capitania de Santana de Pero Lopes de Souza esta a última expedição espanhola à região. Os portugueses, inicialmente, não demonstraram grande interesse pelo território catarinense, que pertencia à capitania de Santana cujo donatário era Pero Lopes de Souza, havendo numerosas bandeiras vicentistas (séc. XVII), mas apenas com o intuito de aprisionamento dos índios que viviam na região para escravizá-los. O contingente indígena (tupis - guaranis, chamados de carijós do litoral e o grupo Jê, os Xokleng e os Kaigang no interior) foi bastante reduzido graças a expedições como as de Manoel Preto, Antonio Raposo Tavares e Jerônimo Pedroso de Barros. O choque entre Portugal e Espanha era fatal. O primeiro conflito foi o ataque à capitania de São Vicente, o qual deu pretexto aos portugueses para combater os carijós, aliados dos espanhóis, conduzindo-os escravizados àquela capitania. Só os jesuítas se ergueram em defesa dos índios, e Nóbrega conseguiu do Governador-Geral ordem de reconduzi-los livres a Santa Catarina. Nova guerra e novo esforço jesuítico, de que resultou a lei de liberdade dos índios, de 1595.

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Page 1: Santa Catarina: expedições exploratórias · Mas nem todas as promessas da administração colonial podiam ser cumpridas, por falta de recursos. Além disso, nem todos os imigrantes,

EEB CEL. PEDRO C. FEDDERSEN – Prof. Albio Fabian Melchioretto – História de Sta. Catarina – 3° ANO Ens. Médio

Santa Catarina: expedições exploratórias

A revelação do Litoral catarinense foi feita pelas primeiras expedições exploradoras do

Brasil. Em 1515 Juan Dias de Solis passou em direção ao Prata. Onze náufragos dessa expedição

foram bem recebidos pelos índios carijós e iniciaram com eles uma intensa miscigenação. ―A esses

aborígines considerou-se ―o melhor gentio desta costa‖, e ―manso e propenso às coisas de Deus",

segundo Anchieta.

Várias expedições se assinalam em Santa Catarina: D. Rodrigo de Acuña (1525), que deixa

17 tripulantes na Ilha, onde se fixaram voluntariamente; Sebastião Caboto (1526), que ali se

abastece, segue para o Prata e retorna. Dele recebeu a Ilha, que antes era denominada dos Patos, o

nome de Santa Catarina. Após Caboto, nela aportaram Diego Garcia e, muito mais tarde, em 1541, o

adelantado Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, sucessor de D. Pedro de Mendonza, fundador de Buenos

Aires, que dali havia mandado, antes, a Santa Catarina, seu sobrinho Gonzalo de Mendonza, em

busca de mantimentos e gente, auxílio este que permitiu aos espanhóis subirem o Rio Paraná e

fundarem Assunção, em 1537. Para socorrer D. Pedro de Mendonza havia partido da Espanha, no

mesmo ano, uma expedição comandada por Alonso Cabrera, da qual um dos navios arribou à Ilha

de Santa Catarina, deixando nela missionários franciscanos (freis Bernardo de Armenta e Alonso

Lebrón).

Mantendo sempre o propósito de tomar posse do Brasil Meridional, o governo espanhol

nomeou Juan Sanabria governador do Paraguai, com a missão de colonizar o Rio da Prata e povoar

também o porto de São Francisco, em Santa Catarina. Morrendo Juan Sanabria, foi substituído por

seu filho Diogo. Alguns dos navios da expedição lograram chegar à Ilha de Santa Catarina, onde os

espanhóis permaneceram dois anos. Divididos em dois grupos, um deles rumou para Assunção; o

outro, chefiado pelo piloto-mor Hermando Trejo de Sanabria, estabeleceu-se em São Francisco, de

onde, após as maiores privações e sempre sob a ameaça de ataques pelos silvícolas, seguiu para

Assunção. Merecem revelo na passagem da expedição Sanabria a participação de Hans Staden, que

legou interessante narrativa da viagem, e o nascimento, em São Francisco, de Herdinando Trejo de

Sanabria, filho de Hernando, futuro bispo e fundador da Universidade de Córdoba, na República

da Argentina. Ainda em 1572, Ortiz de Zarate, a caminho de Assunção, esteve sete meses em Santa

Catarina, onde praticou incríveis e inúteis violências. Foi Capitania de Santana de Pero Lopes de

Souza esta a última expedição espanhola à região.

Os portugueses, inicialmente, não demonstraram grande interesse pelo território

catarinense, que pertencia à capitania de Santana cujo donatário era Pero Lopes de Souza, havendo

numerosas bandeiras vicentistas (séc. XVII), mas apenas com o intuito de aprisionamento dos

índios que viviam na região para escravizá-los. O contingente indígena (tupis - guaranis, chamados

de carijós do litoral e o grupo Jê, os Xokleng e os Kaigang no interior) foi bastante reduzido graças

a expedições como as de Manoel Preto, Antonio Raposo Tavares e Jerônimo Pedroso de Barros.

O choque entre Portugal e Espanha era fatal. O primeiro conflito foi o ataque à capitania de

São Vicente, o qual deu pretexto aos portugueses para combater os carijós, aliados dos espanhóis,

conduzindo-os escravizados àquela capitania. Só os jesuítas se ergueram em defesa dos índios, e

Nóbrega conseguiu do Governador-Geral ordem de reconduzi-los livres a Santa Catarina. Nova

guerra e novo esforço jesuítico, de que resultou a lei de liberdade dos índios, de 1595.

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Povoamento vicentino

Portugal, que já manifestara interesse em fundar uma colônia na margem esquerda do Rio

da Prata, começa a encarar com muito interesse e cuidado a preservação da Ilha de Santa Catarina

e avançam pacificamente. O gado, vindo de São Vicente, através dos campos, atinge o Paraguai. A

notícia de minas atrai diversas levas vicentista. Em 1642 ergue-se uma capela em São Francisco

que em 1660 já passa a vila. Em 1637 é o grande patriarca Francisco Dias Velho que se fixa com

filhos criados e escravos na Ilha de Santa Catarina, fundando a ermida de Nossa Senhora do

Desterro (atual Florianópolis), nome da futura povoação. O mesmo faz em Laguna em 1676,

Domingos de Brito Peixoto. A fundação da colônia de Sacramento em 1680 realça a importância

dos núcleos catarinense. Apesar dos ataques de piratas, já existe, em 1695, comércio regular entre

Paranaguá, São Francisco e Itajaí, expandindo-se os lagunenses até a colônia do Sacramento.

Capitania Real de Santa Catarina

Desmembrada de São Paulo, a nova capitania cuja capital é o povoado de Nossa Senhora do

Desterro - fundado pelo bandeirante paulista Francisco Dias Velho em 1673 -, nasce com o objetivo

de ser uma base de apoio aos enfrentamentos militares com os espanhóis. Esses viam Sacramento

como uma ameaça ao monopólio sobre a boca do rio do Prata, que funcionava como uma porta de

extrema importância para mais da metade de suas colônias da América do Sul. A criação da

capitania que tem administração própria e um comandante militar que também atua como

governador diretamente subordinado aos vice-reis do Brasil coloca em cena o Brigadeiro José da

Silva Paes, escolhido para ser seu primeiro governante. Santa Catarina passa a ser, oficialmente, a

partir de 1739, o posto mais avançado da soberania portuguesa na América do Sul.

Fortificação da Ilha de Santa Catarina

Alertado sobre a importância estratégica da Ilha de Santa Catarina, situada entre o Rio de

Janeiro e a fronteira portenha, pelo general Gomes Freire de Andrade, D. João V, rei de Portugal,

em 1738 incumbiu Silva Paes de fortificar os pontos estratégicos da Ilha. Sob a orientação de Silva

Paes, e seguindo seus próprios planos, teve início a construção das primeiras fortalezas da Ilha.

Planejou um sistema de fortificações permanentes que, apesar dos bons objetivos e da

onumentalidade, não teve o utilitarismo necessário à boa defesa das entradas das barras do Norte e

do Sul da Ilha. Entretanto, historicamente o sistema acabou se constituindo no maior conjunto

arquitetônico militar do sul do Brasil. Para a entrada de Barra Norte, por exemplo, implantou um

sistema de triangulação formado por três fortalezas, duas situadas nas ilhotas de Anhatomirim e

Ratones e a terceira na Ponta Grossa (atual Praia do Forte), na Ilha de Santa Catarina. Foram

denominadas respectivamente, de Santa Cruz, Santo Antônio e Ponta Grossa. Outras fortificações

foram construídas posteriormente, sem, contudo fechar-se o perímetro da Ilha.

Apesar da excelente situação estratégica dessas obras o material bélico existente em cada

uma delas estava aquém das necessidades. Haveria também a necessidade de tropas para

guarnecer estas fortalezas e criou-se um batalhão, mais tarde transformado em regimento - o

Regimento de Infantaria da Ilha de Santa Catarina - e, ainda, dada à fraca densidade populacional

da região, haveria necessidade de braços para prover o sustento, produzindo alimentos, bem como

para preencher os claros na tropa: daí a proposta do povoamento açoriano.

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Antes do domínio espanhol, em 1572,

houve tentativas de se dividir a

administração da Colônia em dois

Governos, um com sede em Salvador e o

outro com sede no Rio de Janeiro. Essa

experiência fracassou, mas foi

novamente tentada em 1608, não

alcançando sucesso mais uma vez.

Em 1621, resolveu-se dividir a Colônia

em dois Estados independentes entre si.

Um foi chamado de Estado do Brasil e o

outro de Estado do Maranhão. Boa

parte do território colonial passou a

pertencer ao Estado do Brasil e a outra

parte ao Estado do Maranhão. A razão

desta divisão baseava-se no destacado

papel assumido pelo Maranhão como

ponto de apoio e de partida para a

colonização do Norte e Nordeste do

território. O Estado do Maranhão tinha

como capital a cidade de São Luís e

o Estado do Brasil a cidade de

Salvador.

Colonização Açoriana

A sede de colonos na nova capitania coincide com a crise de superpopulação nos Açores e

Madeira. Há um movimento espontâneo de vinda para o Brasil. Resolve então o Conselho

Ultramarino realizar a maior migração sistemática de nossa história. Em várias viagens foram

transportados cerca de 4.500 colonos. Deu-lhes boa acolhida o Governador Manuel Escudeiro,

sucessor do Brigadeiro Paes. Mas nem todas as promessas da administração colonial podiam ser

cumpridas, por falta de recursos. Além disso, nem todos os imigrantes, entre os quais muitos

nobres, estavam dispostos a dedicar-se à agricultura ou aos ofícios mecânicos, em obediência às

ordens régias, que tinham o propósito de evitar a entrada de escravos.

Outro problema era o da localização. Recomendava a Metrópole que os colonos não se

concentrassem na Ilha, mas formassem, também, núcleos no litoral, sob normas urbanísticas,

insistindo ainda que casais se encaminhassem para o Rio Grande do Sul. Essas determinações que,

apesar das dificuldades, foram sendo cumpridas, levaram a migração açoriana até o extremo sul do

país, implantando as características do seu tronco racial: fortaleza de ânimo, simplicidade e

vivacidade. E aos seus descendentes transmitiram modismos, hábitos, linguagem, que ainda neles

se notam, principalmente na Ilha de Santa Catarina e no litoral que vai até o Rio Grande do Sul.

Radicados os casais na Ilha e no litoral, foram tentadas várias culturas agrícolas: o trigo, sem êxito

devido à "ferrugem" que o atacava; o linho e o cânhamo, com relativo aproveitamento, e o algodão,

cujo cultivo a Metrópole forçavam, sob penalidades severas. Mas na realidade, a cultura que

prevaleceu foi a da mandioca, que os colonos aprenderam no novo continente e dela conseguiram

safras promissoras, permitindo até a sua exportação. Houve no séc. XVII a criação da cochonilha,

mas que desapareceu n o séc. XIX, por falta de incentivo.

Invasão Espanhola

Em 1777, o governador de Buenos Aires, D. Pedro

de Cebalos, desembarcou suas forças invasoras na enseada

de Canasvieiras sem que as fortalezas disparassem um só

tiro de canhão. A tomada da ilha foi tranqüila, até hoje é

difícil compreender com não houve resistência de uma

força de quase 2.000 homens, dos quais faziam parte

tropas do Reino, do Rio de Janeiro e contingentes locais.

Só em julho de 1778, em virtude do Tratado de Santo

Ildefonso, obtido pelos estadistas do governo de D. Maria I,

foi a Ilha restituída. Mas ficara completamente arrasada. O

próprio hospital estava destruído, desde os alicerces. Entre

o novo governador, Veiga Cabral da Câmara, e o vice-rei,

Marquês de Lavradio, foi decidida, após troca de

importante correspondência, a distribuição de casais pelo

litoral, estabelecidos em lotes que lhes permitissem a

manutenção, evitando-se, assim, a sua concentração na Ilha,

onde empobreciam. O último governador da capitania foi

Tomás Joaquim Pereira Valente, depois general e Conde do Rio Pardo.

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TRATADO DE SANTO

ILDEFONSO

As negociações de um tratado

tiveram início após a morte de

D. José I e a ascenção de D,

Maria I.

Pelas cláusulas do contrato,

assinado ainda em 1777,

Portugal recebeu de volta a Ilha

de Santa Catarina e ficou com

quase todo o atual Estado do Rio

Grande do Sul. Com respeito à

Ilha o Governo português se

comprometia a não utilizá-la

como base naval nem por

embarcações de guerra ou de

comércio estrangeiros.

Santa Catarina após a independência

Proclamada a Independência, aderiu Santa Catarina, já com o título de Província, ao

movimento constitucional, elegendo seu representante às Cortes de Lisboa o Padre Lourenço

Rodrigues de Andrade, que assinou a Constituição do Reino Unido em 1822. Em seguida cooperou

a Província com as demais no movimento da Independência, elegendo deputado à Constituinte

brasileira, em 1823, Diogo Duarte Silva. Em decorrência da Carta Imperial de 1824 passou a ser

governada por presidentes nomeados pelo poder central. Logo após a aceitação dessa Carta,

instalou-se o Conselho Provincial e, até 1889, foram 39 os que ocuparam o Executivo. Em 1834 o

Ato Adicional transformou o Conselho em Assembléia Provincial, com poderes muito mais amplos.

Cidades nascem no caminho dos tropeiros

O povoamento do Planalto de Santa Catarina adota uma estratégia bem diferente daquela

que resultou da ocupação do Litoral, do Vale do Itajaí e das planuras do Sul. Na Serra-Abaixo, ao

longo de 150 anos, adota-se a fixação do imigrante europeu em pequenas glebas de terra - o sítio, o

lote, a colônia - como ponto de partida para a abertura do processo civilizador.

No planalto central da Serra-Acima a qualidade do solo não se adapta à fixação definitiva de

um colono dedicado à agricultura. As imensas pastagens naturais obrigam a substituir o manejo da

terra pela convivência com o gado. Esse mesmo gado resultará na produção do imenso estoque de

carnes no Rio Grande do Sul.

O perigo de utilizar o transporte marítimo para entregar o boi gordo no mercado devorador

de São Paulo e do Rio de Janeiro torna-se evidente pelos riscos que a medida acarreta como

naufrágio, pirataria e a necessidade de alimentar os animais no decorrer do trajeto que, além de

tudo, fica dependendo da colaboração de ventos favoráveis para empurrar o navio cargueiro.

A solução encontrada é simples e copia o exemplo de

Alvaro Nuñez Cabeza de Vacca e sua comitiva deslocando-se

a pé entre o porto de São Francisco do Sul e a capital do

Paraguai. Dessa maneira, os próprios animais se deslocam

ao local de consumo através do ―caminho das tropas‖,

também chamado Estrada Real ou Caminho do Sul, que liga

Vacaria, os campos de Lages e da Estiva com as cidades de

São Paulo e do Rio de Janeiro.

Dezenas de povoados e de cidades do Planalto

Catarinense resultam de um ―descanso das tropas e dos

tropeiros‖. Mas ocorre um fato novo na história desse

povoamento. Enquanto Santa Catarina alega que tem a seu

favor uma série de leis que lhe garantem a propriedade das

terras, os paulistas, na quase totalidade proprietários das

vacarias do Rio Grande, vão se fixando pelo Planalto e

pelos campos de Palmas, muito ao sul dos rios Negro e

Iguaçu.

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Revolução Farroupilha e República Juliana

O período regencial foi caracterizado por uma série de agitações. Muitas revoltas em

diversos pontos do país, várias das quais colocando em perigo a unidade nacional, ocorriam

motivadas pelo descontentamento político. O mais longo movimento - que duraria 10 anos -, a

Revolução Farroupilha, eclodiu em 1835, no Rio Grande do Sul e se estendeu a Santa Catarina.

Este movimento Revolucionário objetivava libertar aquela província de um controle

econômico do governo imperial, considerado intolerável pela população gaúcha, e era alimentado

por ideais republicanos e federalistas, sob o comando do coronel Bento Gonçalves. Em Santa

Catarina, especialmente nas regiões mais próximas do Rio Grande, como Laguna e Lages, o

número de simpatizantes pela causa rio-grandense aumentava, incentivados por famílias fugitivas

gaúchas que haviam escapado às perseguições e à Guerra dos Farrapos. Lages foi invadida pelos

farrapos em 1838 e declarada parte da República Rio-grandense, que já havia sido declarada. No

ano seguinte, liderados pelo italiano Guiseppe Garibaldi, os farrapos invadiram Laguna pelo mar. E

chegaram por terra comandados por Davi Canabarro. Apoiados pela população, estabeleceram uma

república com o nome provisório de Cidade Juliana de Laguna, presidida por Canabarro. Com a

convocação de eleições, foi eleito para presidente da República o coronel Joaquim Xavier Neves, de

São José. Neves, porém, não foi diplomado presidente pelos revolucionários gaúchos, assumindo o

cargo o Padre Vicente Ferreira dos Santos Cordeiro, de Enseada do Brito, que havia sido derrotado

na eleição.

Laguna foi designada Capital Provisória da República Juliana. Foram instituídas as cores

oficiais - verde, amarela e branca – e Lages considerada parte integrante do território. Todos os

impostos sobre o comércio do gado e indústria pastoril foram abolidos.

A reação do governo Imperial foi a nomeação do marechal Francisco José de Sousa Soares

de Andréa para presidente de Santa Catarina, pois ele era conhecido por sua energia e rispidez.

Nobre e de brilhante carreira militar, Andréa acompanhara D. João VI e a família real para o Brasil

e fora comandante das forças brasileiras em Montevidéu. Enviando às terras barrigas-verdes

somente para resolver os problemas do sul, Andréa governou apenas de 1839 a 1840.

Com 400 homens que trouxera do Rio de Janeiro e 3.000 de Santa Catarina, 20 navios e

com amplos poderes, Andréa preferiu os caminhos diplomáticos para acabar com os republicanos:

habilmente fez afastar o Padre Cordeiro e cooptar Neves para a causa imperial, prestigiando e

elogiando o coronel publicamente e o tornando o comandante da Guarda Nacional de São José. Os

demais revolucionários de Laguna foram derrotados por tropas navais do governo brasileiro,

fazendo Garibaldi e sua companheira Anita refugiarem-se no Rio Grande, de onde saíram para

lutar na Itália. A instalação da República Juliana de Laguna, ainda que por pouco tempo, foi uma

das páginas mais gloriosas da história catarinense, projetando internacionalmente o nome de Anita

Garibaldi, denominada a Heroína dos Dois Mundos.

Proclamação e adesão à República

No dia 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca, à frente de um grupo

militar apoiado por outros grupos republicanos, proclamou a República no Rio de Janeiro. No

mesmo dia, foi organizado o governo provisório, chefiado pelo próprio Marechal. Logo após o

recebimento da notícia da proclamação, os associados do Clube Republicano do Desterro e os

oficiais da Guarnição Militar aclamam um triunvirato destinado a assumir o governo catarinense.

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Essa Junta Governativa foi composta por Raulino Horn, pelo Coronel João Batista do Rego Barros

(comandante da guarnição militar) e pelo Dr. Alexandre Marcelino Bayma, médico da referida

guarnição.

A substituição do Presidente da Província, Dr. Luís Alves Leite de Oliveira Bello, pelo novo

governo, foi feita de forma pacífica, com a adesão dos deputados monarquistas presentes. Ao

proclamar-se a República, já existia, em território catarinense, uma Câmara Municipal totalmente

republicana: a de São Bento do Sul. Um a um, os demais municípios catarinenses vão aderir ao

novo regime, que fortalece as lideranças regionais e Santa Catarina passará a ser governada por

seus filhos, com a condução dos negócios públicos de acordo com os anseios da comunidade

catarinense.

O primeiro governo republicano

Para o governo de Santa Catarina, foi escolhido o Tenente Lauro Severiano Müller, que

chegou ao Desterro em 1889. Suas primeiras atitudes foram no sentido de fazer o congraçamento

da população catarinense através de visitas aos vários municípios. Após a dissolução das Câmaras

Municipais, criou as Intendências Municipais.

O novo governo federal convocou, de imediato, uma Assembléia Constituinte e, em 1890,

foram realizadas as eleições. Desta maneira, com a saída de Lauro Müller, o governo do Estado

ficou sob a responsabilidade de Gustavo Richard, que era o 2o vice-governador.

Em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a

Constituição Federal que estabeleceu, no Brasil, a

República Federativa, correspondente à união dos

estados autônomos. Alterou bastante a organização do

Estado, como por exemplo, o Presidente da República

seria eleito pelo povo: senadores e deputados também

seriam eleitos pelo povo, cujo direito de voto caberia

aos cidadãos homens, maiores de 21 anos e

alfabetizados; as províncias passariam a ser Estados,

com maior autonomia política e administrativa etc.

Em seguida, estabeleceram-se as eleições para a

Assembléia Constituinte Estadual. A Constituinte de

Santa Catarina foi instalada a 28 de abril de 1891 e, no

mês seguinte, elegia para governador o mesmo Lauro

Müller e, para primeiro e segundo vices, Raulino Horn

e Gustavo Richard, respectivamente. Em junho, os

constituintes davam, ao Estado, a sua primeira

Constituição.

A partir daí, foi efetiva a participação política de

Lauro Müller, galgando os mais altos postos, como:

governador do Estado, senador, ministro da viação e

obras públicas e ministro das relações exteriores.

A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO DE SANTA CATARINA

No dia 23 de janeiro de 1890 é

promulgada a Constituição do

Estadual, texto de Gustavo Richard e

logo no primeiro artigo afirma: O

Estado de Santa Catarina é parte

integrante da República Federal dos

Estados Unidos do Brasil.

Este texto sofre uma corajosa redação

com os deputados: A antiga

Província de Santa Catarina

constitui-se em Estado autônomo e

independente, fazendo parte

integrante da República dos Estados

Unidos do Brasil e reconhecendo,

para o livre exercício da sua

soberania, somente as restrições

expressamente definidas pela

Constituição Federal.

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Revolução Federalista

Júlio de Castilhos era o Presidente do Rio Grande do Sul no governo de Floriano. A situação

reinante no Estado era a mesma do restante do País, agravada pelo progressivo antagonismo entre

os políticos. O gaúcho Gaspar Silveira Martins levantou a bandeira do federalismo contra a

opressão autocrática do governo estadual, em decorrência da Constituição elaborada por Júlio de

Castilhos, moldada na filosofia política de Augusto Comte, aprovada em 14 de julho de 1891. Os

partidários de Silveira Martins admitiam a autoridade do governo central, embora esposassem o

sistema parlamentarista e julgassem que o único modo de salvar o país era a adoção do

federalismo. Alegavam que o sistema presidencialista não atendia à causa da Democracia, por se

tratar de um regime do qual o povo não participava diretamente e em vez disto uma elite governava

em favor dos próprios interesses. Daí surgiram entrechoques, gerando violências. Não era possível

contrapor-se às exigências da opinião pública. Avolumava-se a agitação, sendo mobilizadas tropas

do norte do país. Começaram as perseguições políticas e as fugas para a Argentina e o Uruguai.

Surgiram bandos armados e outras forças para se oporem ao governo. Com 400 homens

reunidos no Uruguai, o caudilho Gumercindo Saraiva entrou em solo gaúcho em 2 de fevereiro de

1893. Suas forças juntaram-se às do General João Nunes da Silva Tavares, atingindo perto de 3 mil

homens.

O refluxo do movimento revolucionário deu-se através de três grupamentos, com uma

junção prevista no sul de Santa Catarina, na confluência dos rios Pelotas e do Peixe. No ponto de

junção previsto pelos federalistas constatou-se que as baixas eram muito numerosas e que uma das

colunas, a de Juca Tigre (José Serafim de Castilhos) não chegara, tendo-se dispersado na região de

Chopim, Paraná. Não houve possibilidade de reagrupamento, tal a pressão das tropas governistas;

os revoltosos resolveram então internar-se em território argentino, na altura da foz do rio Iguaçu.

Apesar disso, Gumercindo Saraiva não se abateu, atravessou o rio Pelotas e levou de roldão

as forças de Salvador Pinheiro Machado e do Coronel Bernardino Bormann. Tomou posição em

Passo Fundo e decidiu empreender um movimento ofensivo, como ocorrera em Inhanduí. Os

revoltosos procuraram de novo dividir os legalistas, por meio de evoluções, o que surtiu efeito.

Logo após reagruparam-se e atacaram de surpresa o restante das tropas acampadas, que eram

cinco brigadas. Estas só não foram totalmente destruídas graças à pronta reação da vanguarda do

Coronel Salvador Pinheiro Machado.

A Revolução Federalista caminhava para o ocaso. A última oportunidade de apoio aos

federalistas pela Armada esvaiu-se quando o Almirante Custódio de Melo não conseguiu tomar o

porto de Rio Grande em 6 de abril e o encouraçado Aquidaban foi torpedeado no litoral

catarinense, em 16 de abril de 1894, pela torpedeira Gustavo Martins, comandada pelo Tenente

Altino Correa. O epílogo dessa trágica revolução foi bastante triste, pois houve crueldade e

vingança de alguns governistas contra os vencidos. O fuzilamento sumário ao pé da cova, no

quilômetro 65 da ferrovia Curitiba-Paranaguá, consternou o país. Em Santa Catarina, a repressão

mostrou-se violenta sob a condução do bravo e competente Coronel Antônio Moreira César; sua

perversidade provocou a liquidação sumária do Barão de Batovi, Marechal Lobo d'Eça, o Capitão-

de-Mar-e-Guerra Frederico de Lorena e todos os aderentes ao governo provisório que se formara

no Desterro.

As duas corvetas portuguesas singraram para águas do rio da Prata conduzindo os asilados.

Fundeadas em frente a Buenos Aires, convidaram a muitos deles à fuga. Na noite de 26 de abril,

Saldanha da Gama escapou com 243 homens, sendo recebido em Montevidéu. Após uma curta

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estada na Europa, retornou ao Sul do Brasil resolvido a prosseguir na luta. Reuniu as forças

federalistas dispersas enfrentando as forças legais. Registrou tudo em um diário, pacientemente

escrito. E não abandonou a luta, apesar da atitude conciliatória de Prudente de Morais, eleito

Presidente da República. Em 24 de junho de 1895, no Campo dos Osórios, Saldanha da Gama foi

envolvido pelas colunas do General Hipólito Ribeiro e do Coronel Paula Castro. Tentou fugir, mas

encontrou a morte, lanceado pelo Capitão Salvador de Sena e seu irmão, o Alferes Alexandre de

Sena. Em 23 de agosto de 1895, o representante do Presidente, General Inocêncio Galvão de

Queiroz ajustou uma paz honrosa com o General João Nunes da Silva Tavares. O decreto legislativo

nº 310, de 21 de outubro de 1895, concedeu anistia aos revoltosos.

A colonização alemã

A primeira colônia européia em Santa Catarina foi instalada, por iniciativa do governo, em

São Pedro de Alcântara, em 1829. Eram 523 colonos católicos vindos de Bremem (Alemanha). Em

1829, a Sociedade Colonizadora de Hamburgo adquiriu 8 léguas quadradas de terra,

correspondentes ao dote da princesa Dona Francisca, que casa com o príncipe, fundando a colônia

Dona Francisca. Apesar das dificuldades do clima, do solo e do relevo, a colônia prosperou,

expandindo-se pelos vales e planaltos e dando origem, em 1870, à colônia de São Bento do Sul. O

núcleo dessa colônia deu origem à cidade de Joinville. A colônia de Blumenau (atual Blumenau),

no vale do rio Itajaí-Açú, fundada, em 1850, por um particular, Dr. Hermann Blumenau, foi

vendida, dez anos após, ao Governo Imperial.

Em 1893, a Sociedade Colonizadora Hanseática fundava o vale do Itajaí do Norte, a colônia

de Hamônia (hoje Ibirama). No vale do Itajaí-Mirim, a partir de 1860, começaram a chegar as

primeiras levas de imigrantes, principalmente alemães e italianos, que dinamizaram a colônia de

Itajaí, posteriormente denominada Brusque.

Na parte sul da bacia do rio Tijucas, apesar dos insucessos da colônia pioneira de São Pedro

de Alcântara, novos intentos colonizadores foram alcançados por alemães, com a criação das

colônias de Santa Tereza e Angelina.

A colonização italiana

O elemento de cultura italiana insere-se no contexto populacional catarinense em seis

momentos:

1. Fundação da colônia Nova Itália (atual São João Batista) em 1836, no vale do rio Tijucas,

com imigrantes da Ilha da Sardenha.

2. Em decorrência do contrato firmado, em 1874, entre o governo imperial brasileiro e

Joaquim Caetano Pinto Júnior, foram fundadas, a partir de 1875, Rio dos Cedros, Rodeio, Ascurra

e Apoiúna, em torno da colônia Blumenau; Porto Franco (atual Botuverá) e Nova Trento, em torno

da colônia Brusque. Em 1877, funda-se a colônia Luís Alves no vale do rio Itajaí-Açú e implantou-

se, no vale do rio Tubarão, os núcleos de Azambuja, Pedras Grandes e Treze de Maio: no vale do

Urussanga, os núcleos de Urussanga, Acioli de Vasconcelos (atual Cocal) e Criciúma.

3. Fundação da colônia Grão Pará (atuais municípios de Orleans, Grão Pará, São Ludgero e

Braço do Norte), por Conde D'Eu e Joaquim Caetano Pinto Júnior.

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Carta de um imigrante

Urussanga, 26 de maio de 1892

Meu caro prefeito de Fusine di Zoido, Itália.

Assim que cheguei a Urussanga fui logo

abraçando minha irmã que não via há dois

anos. Todos os conhecidos da nossa região

estão muito bem estabelecidos com vacas e

bois, cavalos, porcos, galinhas, milho, feijão,

arroz, batata e pêssegos, e figos, e laranjas,

limões e café, mas deste muito pouco, agora,

fazem também vinho, mas não a cada ano.

Cana de açúcar da qual se tira a cachaça,

trigo, também esse não dá todos os anos,

assim eu os ver todos cheios desses gêneros e

eu me alegrei, no fundo, no fundo os

primeiros colonos passam a vida muito bem

e estão contentíssimos.

As águas são boas e os ares mais do que

bons, nevar não neva nunca, no máximo

uma geada sobre os campos, de noite é

preciso uma coberta, e a população vem de

Belluno e de Treviso, todos bons

trabalhadores e boa gente e todos muito bem

arranjados.

Mas, não pensem que na América tudo é

fácil, é precise trazer todas as ferramentas

para o trabalho e quem não tem vontade de

trabalhar vive em uma miséria pior-que

aquela da Itália.

Os terrenos são todos virgens com florestas

fechadas, assim um colono que deseja vir

para estes lados encontra terrenos de grande

abundância, mas quanto mais tarde chegar

sempre mais longe da sede vai se estabelecer

aqui é preciso aqueles que têm vontade de

trabalhar e não fazer "os vagabundos" para

viverem na miséria.

4. Efetivação do contrato da Companhia Fiorita com o governo brasileiro em 1891;

fundação, em 1893, da colônia Nova Veneza (atuais Nova Veneza e Siderópolis), estendendo-se do

vale do rio Mãe Luzia até o vale do rio Araranguá.

5. Expansão das antigas colônias do médio vale do Itajaí-Mirim em direção ao interior, no

encontro de novas terras no alto vale do Itajaí (Itajaí do Sul e Itajaí do Oeste, assim como as do

perímetro do Rio Tubarão).

A colonização eslava

A partir de 1871, chegou a Brusque o

primeiro grupo de poloneses, que mais tarde

se transferiu para o Paraná. Em função do

contrato com o governo imperial, já ocorria o

ingresso de poloneses na então província de

Santa Catarina, em 1882. A partir de 1889,

novas levas de imigrantes poloneses e russos

chegavam ao Sul de Santa Catarina - nos

vales dos rios Urussanga, Tubarão, Mãe

Luzia e Araranguá - e outras levas se

localizaram nos vales dos rios Itajaí e Itapocu

e em São Bento do Sul e adjacências. Nessa

mesma época, os imigrantes que chegavam

ao porto de Paranaguá0 foram encaminhados

pelo Governo do Paraná para a vila de Rio

Negro e daí para a colônia Lucena (atual

Itaiópolis). Em 1900, vão ingressar nas

localidades de Linha Antunes Braga, em São

Camilo e Braço do Norte, nas terras da antiga

colônia Grão Pará, e nas localidades de

Estrada das Areias, Ribeirão das Pedras,

Pedras Warnow Alto e Vargem Grande, nas

terras do então município de Blumenau.

Após a Primeira Guerra Mundial,

tem-se novos ingressos na região do vale do

rio do Peixe, Médio-Oeste Catarinense, em

rio das Antas e Ipoméia (1926); no vale do rio

Uruguai, nos tributários do Uruguai, em

Descanso (1934); no vale do Itajaí do Oeste

(1937); em Faxinal dos Guedes (1938) e alto

vale do Itajaí do Norte (1939) entre alguns

outros poucos lugares. Com a Segunda Guerra

Mundial, imigrantes poloneses dirigiram-se, em

1940, através do vale do rio Uruguai para Mondaí e, em 1948, do alto vale do Itajaí para Pouso

Redondo.

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O Contestado

O povoamento do planalto serrano foi diferente da do litoral catarinense na sua composição

de recursos humanos. As escarpas serranas, densamente cobertas pela Mata Atlântica, junto com

os povos indígenas, representavam sérios obstáculos para o povoamento da região. A ocupação se

deu de através do comércio de gado entre o Rio Grande do Sul e São Paulo já no século XVIII,

fazendo surgir os primeiros locais de pouso. A Revolução Farroupilha e Federalista também

contribuíram para o aumento de contingente humano, que buscavam fugir dessas situações

beligerantes.

Em 1855, o governo da província do Paraná desenvolvia tese de que a sua jurisdição se

estendia por todo o planalto meridional. Daí em diante, uma luta incessante vai ter lugar no

Parlamento do Império, onde os representantes de ambas as províncias propunham soluções, sem

chegar a fórmulas conciliatórias.

Depois de vários acontecimentos que

protelaram as decisões - como a abertura da "Estrada

da Serra" e também a disputa entre Brasil e Argentina

pelos "Campos de Palmas" ou "Misiones" - o Estado de

Santa Catarina, em 1904, teve ganho de causa, embora

o Paraná se recusasse a cumprir a sentença. Houve

novo recurso e, em 1909, nova decisão favorável a

Santa Catarina, quando, mais uma vez, o Paraná

contesta. Em 1910, o Supremo Tribunal dá ganho de

causa a Santa Catarina.

A guerra e as operações militares

A região contestada era povoada por "posseiros"

que, sem oportunidade de ascensão social ou

econômica, como peões ou agregados das grandes

fazendas, tomavam, como alternativa, a procura de

paragens para tentar nova vida.

Ao lado desses elementos sem maior cultura -

mas fundamentalmente religiosos, subordinados a um

cristianismo ortodoxo - vão se congregar outros

elementos como os operários da construção da Estrada

de Ferro São Paulo-Rio Grande, ao longo do vale do rio

do Peixe.

Junto a esta população marginalizada, destaca-

se a atuação dos chamados "monges", dentre os quais o

primeiro identificado chamava-se João Maria de

Agostoni, de nacionalidade italiana, que transitou pelas

regiões do Rio Negro e Lages, desaparecendo após a

A FIGURA DOS MONGES teve

valor fundamental para a questão do

Contestado, sendo mais destacado o

José Maria. O primeiro monge foi João

Maria, de origem italiana, que

peregrinou entre 1844 a 1870 quando

morre em Sorocaba. João Maria levava

uma vida extremamente humilde, e

serviu para arrebanhar milhares de

crentes, porém não exerceu influência

dos acontecimentos que viriam a

acontecer, mas serviu para reforçar o

messianismo coletivo.O segundo

monge, que também se chamava João

Maria surge com a Revolução

Federalista de 1893 ao lado dos

maragatos. De começo vai mostrar sua

posição messiânica, fazendo previsões

a respeito dos fatos políticos. Seu

verdadeiro nome era Atanás Marcaf,

provavelmente de origem Síria.

João Maria vai exercer forte influência

sobre os crentes, que vão esperar pela

sua volta após seu desaparecimento

em 1908.

Essa espera vai ser preenchida em

1912 pela figura do terceiro monge:

José Maria. Surgiu como curandeiro

de ervas, apresentando-se com o nome

de José Maria de Santo Agostinho.

Ninguém sabia ao certo qual a sua

origem, seu verdadeiro nome era

Miguel Lucena Boaventura e, de

acordo com um laudo da polícia da

Vila de Palmas/PR, tinha antecedentes

criminais e era desertor do exército.

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PROFECIA DE JOSÉ MARIA

Se eu morrer, ressuscitarei. E vou trazer

uma força de cavalaria do Céu para matar

todos os que não estiverem do nosso lado. Os

irmãs que morrem também ressuscitarão

prá brigar com dez soldados cada um. E hão

de vencer, pois farão parte do Exército

Encantado de São Sebastião.

Após sua morte, as aparições tornaram-se

cada vez mais frequentes. A histeria religiosa

toma conta da região do Contestado. Teodora,

11 anos, neta de Euzébio Ferreira dos Santos,

é ―a escolhida‖ para receber as visões do

monge e dá ordens, cura doentes e dialoga

com o ―santo popular‖ ordenando o

posicionamento das tropas rebeldes frente ao

exército.

Proclamação da República.

Após 1893, consta o aparecimento de um segundo João Maria, entre os rios Iguaçu e

Uruguai. Em 1987, surge outro monge, no município de Lages. Em 1912, em Campos Novos, surge

o monge José Maria, ex-soldado do Exército, Miguel Lucena de Boaventura, que não aceitava os

problemas sociais que atingiam a população sertaneja do planalto.

O agrupamento que começou a se formar em torno do monge, composto principalmente de

caboclos saídos de Curitibanos, se instala nos Campos do Irani. Esta área, sob o controle do

Paraná, teme os "invasores catarinenses" e mobiliza o seu Regimento de Segurança, pois esta

invasão ocorre, justamente, naquele momento de litígio entre os dois Estados.

Em novembro de 1912, o acampamento de Irani é atacado pela força policial paranaense e

trava-se sangrento combate, com a perda de muitos homens e de grande quantidade de material

bélico do Paraná, o que fez desencadear novos confrontos, além do agravamento das relações entre

Paraná e Santa Catarina.

Os caboclos vão formar pela segunda vez, em dezembro de 1913, uma concentração em

Taquaruçu, que se tornou a "Cidade Santa", com grande religiosidade e, na qual, os caboclos

tratavam-se como "irmãos". Neste mesmo ano, tropas do Exército e da Força Policial de Santa

Catarina atacam Taquaruçu, mas são expulsas, deixando, ali, grande parte do armamento. Após a

morte de outro líder, Praxedes Gomes Damasceno, antigo seguidor do monge José Maria, os

caboclos se encontram enfraquecidos. No segundo ataque, Taquaruçu era um reduto com grande

predomínio de mulheres e crianças, sendo a povoação arrasada.

Em janeiro de 1914 um novo ataque feito em conjunto com os dois Estados e o governo

federal que arrasa completamente o acampamento de Taquaruçú. Mas a maior parte dos

habitantes já estava em Caraguatá, de difícil acesso. No dia 9 de março de 1914 os soldados travam

uma nova batalha, sendo derrotados. Essa derrota repercute em todo o interior, trazendo para o

reduto mais e mais pessoas. Neste momento, formam-se piquetes para o arrebanhamento de

animais da região para suprir as necessidades do reduto. Mesmo com a vitória é criado outro

reduto, o de Bom Sossego, e perto dele o de São Sebastião. Este último chegou a ter

aproximadamente 2000 moradores. Os fanáticos não

ficam só a esperar os ataques do governo, atacam as

fazendas dos coronéis retirando tudo o que

precisavam para as necessidades do reduto.

Partiram também para atacar várias cidades, como

foi o caso de Curitibanos. O principal alvo nesses

casos eram cartórios onde se encontravam registros

das terras, sendo incendiados. Outro ataque foi em

Calmon, destruindo a segunda serraria da Lumber,

destruindo-a completamente. No auge do

movimento, o território ocupado equivalia ao

Estado de Alagoas, totalizando 20.000. Até o fim

do movimento haviam morrido cerca de 6000.

Outros povoados, ainda, como Perdizes

Grandes, seriam formados e diversos outros

combates, principalmente sob a forma de

guerrilhas, se travariam até que o conflito na região

realmente terminasse.

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A escravidão negra numa província periférica

Na imprensa catarinense, embora fora do eixo, tem-se no dia-a-dia, notícias da

comercialização de escravos, cujos anúncios, com as características somáticas dos seres a serem

vendidos, focalizando os seus predicados, dizendo serem bonitas peças, sem defeito algum, com

prendas ou sem elas. Desta forma, tem-se uma visão na negociação das peças, para o trabalho.

A problemática do escravo e da escravidão negra em Santa Catarina pode ser avaliada

dentro de várias perspectivas. Em termos gerais há toda uma gama de especificidades nas relações

entre os senhores e os seus escravos. Há paralelamente à problemática legal todo o contexto

econômico-social de um relacionamento que apresenta variável, de pessoa para pessoa, de região

para região. Tem-se, em primeiro lugar, que observar as diferenças fundamentais da escravidão

numa área de agricultura de exportação, como sejam as "plantation" de cana-de-açúcar, de algodão

e de café, com aquelas de agricultura de subsistência, ou ainda, com a escravidão nas áreas

urbanas, sejam serviços domésticos, de utilidade pública ou de marinharia, ou, então, com aquelas

áreas de criatório extensivo, como predominou do planalto meridional do Brasil.

Cada região tem peculiaridades próprias e, portanto, é um quadro referencial à parte. Entre

os problemas da escravidão estão às relações dos escravos frente à legislação penal brasileira,

sucessora que foi das "Ordenações". Nos vários "Livros" das Ordenações tem-se as formas de

incriminação dos escravos. Assim o furto praticado por escravo, a fuga de escravo, o escravo

portando arma de fogo, o escravo ameaçando o senhor com arma, o levaria a ser atenazado, ter as

mãos decepadas e enforcado, se matar o senhor ou seu filho, e se o ferir teria morte na forca.

O Código Criminal do Império Brasileiro, promulgado em 16 de dezembro de 1830,

estabeleceu as condições de ação dos Chefes de Polícia em cada uma das Províncias e tem-se, a

partir de então, uma farta documentação, onde aparecem os crimes cometidos e os castigos

infligidos dos escravos. Diante da Justiça, na Ilha de Santa Catarina, as causas das penalizações são

as mais diversas: desde o "vagar fora de horas" até os crimes de homicídio.

Dentro da sua luta pela liberdade o escravo usou, principalmente, a fuga do cativeiro.

Houve de certa forma, uma inter-relação da fuga com o tratamento dado pêlos proprietários aos

seus escravos. Assim sendo eles são considerados como ações reivindicatórias da liberdade. Poder-

se-á, ainda, correlacioná-las com as crises econômicas, com o processo político.

Na medida em que há exigências de maior trabalho por parte do senhor, o escravo vai

procurar fugir ao controle do feitor ou do próprio senhor. Algumas vezes a fuga foi efetuada,

individualmente, mas, em outras ocasiões, a fuga foi coletiva. Tem-se, desde o período colonial a

anotação desse fenômeno coletivo.

Em 2 de setembro de 1769 o Conde de Azambuja, Vice-Rei do Brasil, escrevia do Rio de

Janeiro ao Juiz Ordinário e mais membros da Câmara "da Ilha de Santa Catarina", "a respeito dos

negros fugidos aprovo a providência que vossas mercês derão aos 'Capitães-de-mato' os quais e

todas as mais pessoas mandadas legitimamente a essas diligências, resistindo-lhes os negros, os

podem matar sem nisso incorrerem em crime, porque assim determina em geral a Ordenação a

respeito de todos os criminosos, e pelo que toca aos negros fugidos...

Os "quilombos" continuaram a existir em território catarinense. Há aparecimento de

"quilombos" em várias partes. Em 1822, há um na Lagoa, que gerou correspondência azeda entre

várias autoridades, e nem se extinguira esse "quilombo" e já se anota outro em Enseada de Brito.

Em 1831 volta a existir outro "quilombo" na Lagoa, pelo que a Câmara Municipal do Desterro

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nomeou, a 10 de janeiro de 1831, "capitães-de-mato" para Enseada de Brito a Francisco Joaquim

Fumaça e para a cidade do Desterro, Jerônimo Lopes de Carvalho. Este a 2 de março daquele

ano.Mas, não termina aí a problemática da organização de "quilombos", em território catarinense.

Na Ilha de Santa Catarina as autoridades defrontam-se, novamente, em 1842, com o

problema. Ora são os proprietários que pedem auxílio "para prisão de seus escravos e outros

aquilombados nas freguesias de Santo António, Lagoa, Canasvieiras e Rio Vermelho" ou então se

fornece ao Juiz de Paz da Lagoa cartuchame para destruir o quilombo existente da parte do Rio

Tavares. Este "quilombo" perto do Rio Tavares, ficava no local conhecido como Faxinai, e os seus

habitantes "saqueiam as roças e o gado dos moradores".

O crescendo da fuga de escravos fez com que fosse encarregado como "capitão-do-mato",

para toda a Província, Manoel Fernandes de Aquino. Mas, esta nomeação não pôs fim ao problema.

Em Forquilhinha, "distrito da vila de São José", fez com que se "prontificasse" dois "capitaes-do-

mato". Um outro sistema de fuga muito bem estruturado no litoral catarinense é a utilização de

vários baleeiros norte-americanos,após 1866. O caso mais espetacular foi o do baleeiro norte-

americano "Highiand Mary of. Say Harbour", em 15 de maio de 1868, que "recolheu a seu bordo

sete escravos aliciados para fugir por outro escravo chamado Frutuoso, que se achava a bordo, e

que havia dois anos fugira da mesma maneira" e a perseguição ordenada pela Presidência da

Província não deu resultado. E a utilização deste método é continuado, porquanto o porto do

Desterro é, à época, um local de arribada constante dos baleeiros norte-americanos, em demanda

aos mares do sul, e nele fazem seus aprovisionamentos. Tanto assim que, em 31 de julho de 1868,

novamente as autoridades catarinenses têm novo alarme, no mesmo sentido. Todos os cidadãos

norte-americanos, moradores na orla litorânea catarinense, são, então, olhados com desconfiança,

como intermediários nesse processo de fuga. Até um personagem que foi Cônsul interino dos

Estados Unidos na cidade do Desterro, Robert S. Cathcart foi incriminado, sem, entretanto, haver

provas mais concludentes a este respeito.

Esta temática encontra uma base lógica face à concessão de liberdade aos escravos norte-

americanos, ao término da Guerra de Secessão. Assim, uma constante são os anúncios em jornais,

sobre a fuga de escravos, com as descrições dos seus aspectos físicos e dos traços que melhor os

caracterizam, notadamente os seus defeitos, e onde não faltam as menções às gratificações a quem

os indicar aos seus proprietários.

Há, em contraposição formas para amenizar a escravidão, como a concessão de um dia para

trabalhar e com o ganho a formação de um pecúlio. Ou, ainda, a permissão para a formação de

entidade associativa-filantrópica, como o foram as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário, em

tomo das quais se desenvolve o sincretismo religioso e lúdico, visualizado nas "congadas" ou

"danças de congo". Por outro lado, o estudo minucioso das "cartas de liberdade" poderão conduzir

a um diagnóstico mais correio do relacionamento entre senhores e escravos e personalizar melhor

as tendências da psicologia senhorial.

Na área da colônia de Blumenau teve-se uma única venda de escravo,

registrada em tabelionato, fato que se deu durante a ausência do Diretor da Colônia,

Dr. Hermann Otto Bruno Blumenau.

Outros aspectos que estão a merecer melhores estudos, notadamente em Santa Catarina,

são aqueles concernentes à reavaliação da sua população escrava, pela busca de dados mais

correios, e, ainda, a análise de conteúdo da imprensa, para uma verificação do grau de defesa ou

não do abolicionismo e as tendências manifestadas, bem como a determinação da correlação com

as diferentes correntes político-partidárias que, então, se defrontavam.

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O escravo na legislação provinciana

O problema do escravo na sociedade e economia catarinense ganha nova dimensões a partir

da análise cuidadosa da legislação catarinense vigor de 1835a 1888. Longe de ser conclusivo, seu

estudo abre uma imensidade de perspectivas de pesquisas, enriquecendo um tema da maior

importância para a história de Santa Catarina e, num contexto mais amplo do qual é inseparável,

do Império. A maior contribuição da legislação catarinense, a

nosso ver, se coloca para a história social. Através dos

Códigos de Posturas dos Municípios podemos traçar um

paralelo entre as atividades exercidas pêlos escravos e pêlos

homens livres na sociedade, o que representa uma

contribuição importante para a caracterização do sistema.

Assim, pudemos constatar:

- Que a quase totalidade das atividades urbanas eram

exercidas por escravos e livres. Encontramos escravos

mascates, cavaleiros, pescadores, leiteiros, pombeiros

(atravessadores de gêneros), marinheiros, etc., além,

logicamente, dos escravos de ofício. A diferenciação social se

manifesta basicamente de duas formas: a) pela própria caracterização das pessoas ("qualquer

pessoa") entre livres e escravos; b) pela diferenciação da punição (―sendo livre...‖, ―se for cativo..."),

sempre mais rigorosa para o escravo, com raríssimas exceções de igualdade, implicando muitas

vezes a pena em palmatoadas, açoites, castigos corporais não especificados, prisão, etc.

Neste aspecto cumpre ressaltar que dentre todos os Códigos Municipais de Posturas o da

Vila de São Francisco nos pareceu o mais severo, pela imposição mais constante de penas de

açoites aos escravos; nos demais municípios a pena de açoites é rara (Desterro, Lages, por

exemplo), ou inexistente. Entretanto, pudemos observar também que a expressão "para ser punido

policialmente" surge nesses códigos sem que se possa atribuir-lhe o significado que adquiria na

prática.

Em Laguna detectamos a existência de proprietários escravos. A lei refere-se à existência de

animais cavalar, muar, cabrum e vacum, pertencentes a escravos; caso esses animais estivessem

soltos dentro dos limites da cidade o senhor de escravos seria multado. Eis dois aspectos

sumamente interessantes: a) escravos proprietários e b) as multas seriam pagas pêlos senhores

dos escravos. Pareceu-nos tratar-se de uma peculiaridade do Município de Laguna, vinculada às

condições sócio-econômicas do próprio município, que deveriam ser levantadas inserindo essa

participação do elemento escravo.

Era proibido exclusivamente aos escravos apenas:

a) ser caixeiros em vendas e tabernas. Este é um aspecto que merece um estudo mais

aprofundado, uma vez que nenhuma outra atividade é vetada tão taxativamente em todos os

Municípios da Província, como esta.

b) o divertimento do entrudo; sob pena de prisão;

c) os "reinados africanos", os senhores que dessem licença para tal fim seriam multados;

d) alugar casas para morarem independentes de seus senhores. Cabe aqui uma grande

interrogação: quais escravos teriam condições de pagar aluguel, e por que o fariam? Havia uma

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Se a humanidade do passado

por umas falas compreensão

dos direitos lógicos e naturais,

considerou que podia

apoderar-se de um indivíduo

qualquer e escravizá-lo,

compete-nos a nós, a nós que

somos um povo em via de

formação, sem orientação e

sem caráter particular de

ordem social, compete-nos a

nós, dizíamos, fazer

desaparecer esse erro, esse

absurdo , esse crime

Cruz e Souza (1887)

aceitação por parte dos senhores? Se não havia, por que os escravos pretendiam tal coisa? E se

havia, por que a legislação proibia? Nos demais casos, o que é proibido ao escravo o é também para

os homens livres. Por exemplo:

a) a lei que se refere a barulho, etc., é severa para toda a população, e proíbe também os

fandangos, jogos, etc., sem a devida licença;

b) as leis que regulam o uso de armas não fazem referência explícita a escravos; referem-se

a "qualquer pessoa". E certo que havia uma lei do Império (24/01/1756) que punia os escravos que

andassem com faca, mas as leis municipais referem-se a vários tipos de armas, e não separam

livres e escravos, como nas demais.

Este aspecto merece uma interpretação mais aprofundada, pois parte-se do pressuposto de

que aos escravos era proibido andarem armados, pelas implicações de sua própria condição. Como

interpretar a redação dessas leis, então? Em várias situações o escravo e "filho famílias" aparecem

tutelados, lado a lado. Por exemplo, na proibição de participar de jogos, rinhas, etc. Em outras,

livres e escravos aparecem com as mesmas funções que numa sociedade aristocratizada caberia

apenas ao escravo. E o caso da conservação de estradas, pontes, caminhos públicos, etc., que cabia

à família a responsabilidade de executar o trabalho, "por si, e sua família, seja filho ou escravo".

Quando morre o escravo volta à condição de ser humano. A diferenciação para o

recebimento dos sinais se faz entre homens, mulheres e menores de sete anos; a mortalha é

garantida por lei. Entretanto, devemos ressaltar que apesar de nesta como em outras situações

percebe-se uma maior sensibilidade em torno do escravo, não acreditamos ser suficiente para

lançar conclusões sobre a maior humanidade do sistema escravista no sul; o aspecto subjetivo do

relacionamento senhor-escravo não pode ser levantado na legislação, e é ele, em última análise,

que dará as nuances diferenciadoras do sistema.

É severa a punição ao boticário que vender drogas venenosas a escravos, em todos os

municípios. Seria para coibir os suicídios ou para evitar que os senhores fossem assassinados? Ou

ambas as coisas? Esta questão apenas aflora na legislação; para sua elucidação deve-se recorrer a

outras fontes de pesquisa. Ressaltamos que havia preocupação constante nos Códigos de Posturas,

e que, obviamente, havia motivos para isto.

Para encerrar, registramos que dos Códigos de Posturas

analisados apenas o de Joinville não faz nenhuma referência a

escravos; o vocábulo e seus sinônimos são inexistentes. Para os

aspectos econômicos do sistema escravista na Província de

Santa Catarina a questão se coloca com muito maior índice de

dificuldade. Acreditamos que seria necessário, em primeiro

lugar, um estudo visando descobrir o que representava o total

dos impostos arrecadados sobre escravos no total da Receita da

Província. Pode-se perceber uma

Acreditemos que para atingir a maior parte das

respostas a estas perguntas aqui lançadas e as que

numerosamente surgirão, seria necessário um levantamento

arquivístico, englobando jornais e tudo o que for disponível.

Somente a partir daí se poderá conhecer verdadeiramente o

sistema escravista em Santa Catarina, mas em muitos lugares

estes registros deixaram de existir, por quê?

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O jornalismo na cidade de Blumenau

Uma das mais ricas e populosas regiões de Santa Catarina e segundo pólo têxtil do mundo,

o Vale do Itajaí tem um papel singular na história dos meios de comunicação do estado. E no Vale,

mais precisamente em Blumenau, que nasceu a mídia eletrônica: rádio e televisão catarinense,

colocando a cidade em posição de vanguarda em relação a municípios maiores como Florianópolis

e Joinville. Mais de setenta anos depois, a região mantém posição de destaque na radiodifusão.

Das 184 emissoras de rádio existentes no estado, de acordo com a Associação Catarinense

de Emissoras de Rádio e Televisão, pelo menos 36 (17 FMs e 19 AMs) estão no Vale, isto sem levar

em conta as educativas e comunitárias, além de emissoras comerciais não filiadas à entidade. Há

ainda seis emissoras de televisão com sinal aberto', além dos canais por assinatura. Destacam-se as

emissoras comerciais RBS TV Blumenau, Record News (Blumenau) e TV RIC Record (Itajaí);

Educativas: TV Brasil Esperança (Itajaí), TV Bela Aliança (Rio do Sul), FURB TV (Blumenau) e TV

Panorama (Balneário Camboriú).

No jornalismo impresso, o destaque é o "Jornal de Santa Catarina", o terceiro mais

importante do estado. Em pesquisa realizada em 19992, constatamos que a imprensa catarinense é

constituída por 177 pequenos jornais, além dos quatro maiores: "Diário Catarinense", "A Notícia",

"Jornal de Santa Catarina" e "O Estado". Entre os pequenos, 45 (25%) estavam no Vale, dois estão

entre os seis mais antigos do estado ainda em circulação: "Nova Era" (Rio do Sul - desde

26/12/1937) e "O Município Dia-a-Dia" (Brusque - desde 25/06/1954).

Por suas atuações nas respectivas comunidades, vale registrar ainda o "Página 3" e "Tribuna

Catarinense" (Balneário Camboriú), "O Atlântico" (Itapema), "Jornal do Médio Vale" (Timbó),

"Cruzeiro do Vale" (Gaspar), "Diário da Cidade" e o polêmica "Diário do Litoral" (Itajaí), "A Voz da

Razão", ―Folha de Blumenau‖ e "Tribuna Regional" (Blumenau), "A Cidade" (Rio do Sul) e o

"Jornal do Comércio" (Piçarras).

Esta pequena panorâmica evidencia a necessidade de uma ampla pesquisa para se traçar o

perfil da imprensa no Vale do Itajaí. Em razão da brevidade desse capítulo, concentraremos nossa

abordagem na imprensa escrita de Blumenau e Itajaí como representativas da região. Tal

delimitação parte do fato, também, que estes são os municípios mais expressivos e os pioneiros da

indústria cultural do Vale e de Santa Catarina.

Apenas como ilustração, é importante ressaltar que o pioneirismo do rádio coube a João

Medeiros Júnior, o primeiro radio-amador licenciado do estado, e que em 1929 instalou um serviço

de alto-falantes no centro de Blumenau. No final de 1931, ele iniciou as primeiras experiências

radiofónicas e em 1935 a Rádio Clube (PCR-4) estava no ar. A licença saiu em 19 de março de 1936.

Santa Catarina entrava na era do rádio, 23 anos depois de fundada a Rádio Sociedade Rio de

janeiro, a primeira do Brasil. Em Itajaí, em 26 de outubro de 1942, Dagoberto Alves Nogueira e

Adolfo de Oliveira Júnior instalou oficialmente a Rádio Difusora, a terceira em solo catarinense.

Em 1954, era constituída a Rede Coligadas de Rádio que, mais tarde .pleiteou a concessão

de um canal de televisão para Blumenau. Surgia assim, em l ° de setembro de 1969, a TV Coligadas,

a primeira emissora oficialmente instalada em Santa Catarina, dezenove anos depois da TV Tupi, a

primeira do país, em São Paulo.

O "Blumenauer Zeitung" ("Gazeta Blumenauense"), primeiro jornal de Blumenau e do

Vale, foi resultado de uma ação cooperativada da qual 71 colonos eram cotistas. A iniciativa partiu

de Hermann Bauggarten, então com 25 anos. Nascido em Blumenau, mas ilustrado em Porto

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Alegre e Rio de Janeiro, o descendente de alemães voltou à sua terra natal com o objetivo de

montar um jornal. A falta de recursos financeiros o levou à constituição da Sociedade Tipográfica

Blumenauer Zeitung, em 1879. Conforme o estabelecido em contrato, o valor das ações foi

devolvido gradativamente aos cotistas, e Baugartem tornou-se o único dono.

Com uma impressora importada de Leipzig (Alemanha), o semanário surgia no formado de

quatro páginas, redigido em alemão e com circulação nas principais cidades catarinenses, onde

mantinha agentes (Itajaí, Brusque, Joinville e Desterro), além do Rio de Janeiro e Alemanha.

António Härte era o redator e Hermann Baumgarten o editor. Circulou até 2 de dezembro de 1938.

Mesmo contrário à criação do jornal, Hermann Blumenau, o administrador da colônia,

comprou duas ações e sob sua assinatura colocou a observação bedingt (condicionalmente). Uma

semana depois da primeira edição, Blumenau recebia a devolução de sua parcela no

empreendimento. As atividades políticas desse jornal, embora sem sombra de dúvidas, voltadas

exclusivamente para a defesa do nome da Colônia e dos interesses dos seus moradores, provocou a

fundação de outro jornal, o ―Immigrant‖ e dos debates entre as duas folhas, nasceram discórdias,

lutas sérias, ataques à moral e à dignidade dos contendores e dos seus adeptos. O "Immigrant",

segundo jornal da colônia blumenauense, foi criado por Bernardo Scheimantel e circulou de abril

de 1883 a abril de 1891. Nascia como resultado declarado de um embate político. Após a grande

enchente de 1880 - que atrasou em dois anos a instalação do município -, o governo imperial

designou uma comissão de engenheiros, chefiada pelo Dr. Antunes, para fazer o levantamento dos

prejuízos e atuar na reconstrução da colônia.

A comissão praticou desmandos, favorecimentos e atos de corrupção que geraram pronta

reação do "Blumenauer-Zeitung", e em muitos casos bastante contundentes. Foi então que

simpatizantes e beneficiados por Antunes criaram o "Immigrant". O confronto entre os dois jornais

chegou à esfera do poder público, sendo debatido na Câmara de Vereadores, criada em 1882. Os

desafetos só amenizaram quando a

comissão Antunes deixou Blumenau.

Após a Proclamação da

República, os dois jornais travaram

novo embate. O "Immigrant", de matiz

liberal, comemorou o novo regime em

vários editoriais e perdeu muitos

aliados, os opositores à política

florianista. O "Blumenauer", ligado

ao Partido Conservador, revidou. Sem

apoio, o "Immigrant" fechou as portas

em 1891. Em 18 de Julho de 1892,

surge "O Município", editado em

português e alemão. O objetivo era veicular os comunicados oficiais da intendência, já que o

"Blumenauer" fazia oposição ao intendente. O Jornal teve apenas 32 edições e saiu de circulação

em março de 1893. No mesmo mês, foi substituído pela segunda versão de o "Immigrant", agora

sob a direção de Paulo Steizer, que defendia a causa federalista. A maioria da população era

republicana e tinha como porta-voz o "Blumenauer". Os confrontos entre os dois jornais não

tardaram. Em 16 de julho, após 16 edições, "Immigrant" desaparecia pela segunda vez. Foi

comprado pelo pastor Faulhaber, em nome da Conferência Pastoral Evangélica, que passou a editar

o semanário religioso "Der Urwaidsbote" ("O Mensageiro da Floresta"), que circulou até 29 de

agosto de 1941.

A evolução do "homi", Zé Dassilva. O humor dá a dimensão precisa da crítica, da interpretação do fato e de sua relação com os demais conhecimentos.

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Uma rede de televisão, por

exemplo, além de ser um alto

negócio, em termos de aplicação

de capital, pode ser importante

para divulgar informações e

ideais que interessem às classes

dominantes. Informações e idéias

congruentes com os interesses

econômicos, políticos e

educacionais, religiosos, militares

e outros do bloco do poder.

Dizem respeito à ordem, paz

social, estabilidade política,

segurança, integração, identidade

nacional ou progresso,

crescimento, produtividade,

desenvolvimento, modernização.

Octávio Ianni

Em sua longa trajetória, o "Der Urwaidsbote" trocou de proprietário algumas vezes,

assumindo também colorações políticas. O pastor Faulhaber ficou no comando da redação até 1898

e, após as eleições daquele ano, foi substituído por Eugênio Fouquet. Este foi o responsável pela

orientação do jornal durante quase trinta anos. A Primeira Guerra interrompeu a circulação do

jornal por dois anos, que retornou em 23 de agosto de 1919. Variados e ricos suplementos, inclusive

impressos na Alemanha, foram encartados em "Der Urwaidsbote" durante muitos anos. Em 1928,

o jornal chegava à tiragem de cinco mil exemplares.

A partir da década de 30, nada menos que 32 municípios foram desmembrados de

Blumenau, com novos veículos de comunicação emergindo como porta-vozes destas novas

comunidades. Os novos títulos criados a partir do início do século XX expandiram a imprensa de

Blumenau. "A Nação" (1943/1980), fundado por Honorato Tomelin, foi o principal jornal

blumenauense até o nascimento do "Jornal de Santa Catarina" em 1971. Seguindo a vocação

industrial do município, os jornais tornaram-se cada vez menos voltados às questões da imigração

e à agricultura, e mais ao cotidiano urbano e industrial. Até início dos anos 70, de acordo com Silva,

foram 137 publicações entre jornais-empresa, órgãos sindicais, classistas, colegiais, agremiativos,

revistas, anuários e outros.

A 22 de setembro de 1971, Santa Catarina entra na era do jornalismo moderno. Foram dois

anos de planejamento, incluindo edições pilotos para avaliar o projeto gráfico, o conteúdo editorial

e a produção industrial. Assim nascia o ―Jornal de Santa Catarina‖, para, a partir de Blumenau para

atingir todos os municípios e concorrer com ―A Notícia‖ (Joinville) e ―O Estado‖ (Florianópolis). O

jornal nascia para complementar a primeira grande rede de comunicações do estado. Com a TV

Coligadas operando desde setembro de 1969 e uma cadeia de emissoras de rádios associadas.

Com a venda da TV Coligadas em 1980, o Santa mergulha em grave crise financeira,

acentuada pela recessão no início do Governo Collor. Em maio de 1990, seus jornalistas realizaram

a mais longa greve da categoria, que durou quase dois meses. Nas primeiras semanas a adesão foi

de quase 100% dos jornalistas, fechando praticamente todas as sucursais. Mais de 40 profissionais

foram demitidos, embora o movimento tenha sido julgado legal. Durante o tempo em que a

redação parou, o Jornal circulou precariamente e no início uma edição de quatro páginas explicava

aos leitores o que estava acontecendo.

Em l ° de setembro de 1992, a RBS assumia o Jornal

imprimindo-lhe novo ritmo editorial, comercial e

administrativo. A aquisiçãoera estratégica. Como o "Diário

Catarinense", jornal do grupo lançado em Florianópolis em

1986, não conseguia penetrar maciçamente no Vale do

Itajaí, o Santa representava um grande portal de entrada da

RBS naquele importante mercado de anunciantes e leitores.

O Santa foi regionalizado e atualmente atinge 64

municípios do Vale do Itajaí com sucursais em

Florianópolis, Itajaí, Brusque, Rio do Sul e Jaraguá do Sul.

Já em setembro de 1994, passava a ser impresso em cores e

em 1996 chegava à Internet. Atualmente, é o terceiro em

tiragem no estado, chegando a 20 mil exemplares de

segunda a sábado e cerca de 25 mil aos domingos. Conta

com cerca de 50 profissionais na redação que produzem a

média de 44 páginas diárias.

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Baumgarten, Cinema e Blumenau

O cinema nasceu no final do século XIX, como legítimo representante de um período pleno

de invenções e descobertas. Após a Revolução Industrial verificou-se um significativo

desenvolvimento das ciências em seus diversos campos, surgindo, naquele processo de

transformação econômica, social e cultural, uma serei de invenções que viriam influir

decisivamente nos rumos da história moderna, entre elas a fotografia, 1839 e o cinema em 1895. A

data mais aceita para o ―surgimento‖ da primeira exibição pública cinematográfica é 28 de

dezembro de 1895, no Cinematrófico dos Irmãos Lumière, em Paris, França. Mas há quem

conteste. A teoria mais aceita sobre a invenção do cinema é aquela que admite que os princípios da

técnica cinemagráfica moderna forma inventados por Thomas Edison e aperfeiçoados e colocados

em prática pelos Lumière. O primeiro filme apresentado pelos irmãos franceses chama-se A

chegada de um trem na estação Ciotat que representa o cotidiano proletário da capital francesa.

A criação cinematográfica em Blumenau possui no visionário Alfredo Baumgarten (1883 -

1967) um nome de respeito na história local. Filho de jornalistas assumira o controle do jornal

Blumenauer Zeitung e dedica-se ao jornalismo. Existem poucas fontes que dão conta da obra de

Baumgarten, mas é datado de 1932 o inicio de suas atividades relacionadas ao fantástico mundo do

cinema.

Foi com um olhar sensível e seu espírito perfeccionista que Alfredo Baumgarten registrou,

através de uma câmera, fosse ela de cinema ou de fotografia, a cidade de Blumenau e seus

arredores, sua população e seus personagens, deixando efetivamente, nesta área sua grande obra.

Uma obra que não se encontra pelo menos a parte fotográfica, reunida em nenhum acervo especial,

mas espalhada na imensa maioria dos lares da grande Blumenau, incluindo os diversos municípios

que foram sendo desmembrados a partir de 1934. As fotografias de Baumgarten requeriam um

verdadeiro talento artístico do seu autor, que as retocava ou as coloria habilmente, uma a uma.

Eram feitas com negativos em chapa de vidro, já no seu tamanho final. O material era importado e

o laboratório ou o atelier da Rua Quinze, como ficou conhecido, era na sua residência. Preocupado

com a memória, Alfredo tinha o cuidado de classificar e arquivar cada chapa utilizada, método que

permitiria futuras reproduções. Seu neto, Armando Medeiros, lembra o esmero do avô ao afirmar

repetidamente que este arquivo constituía o verdadeiro patrimônio do fotógrafo.

Lamentavelmente, este seu imenso patrimônio, acumulado durante mais de 40 anos, foi destruído

peias águas devastadoras da enchente ocorrida em 1957, na cidade de Blumenau.

A fragilidade da memória, em especial quando se trata da conservação de documentos

fotográficos ou cinematográficos das primeiras décadas deste século, também está evidenciada na

perda bastante significativa dos registros deixados por este pioneiro do cinema catarinense. Os

motivos do desaparecimento de grande parte da filmografia de Alfredo Baumgarten vão desde a má

conservação dos filmes, armazenados em lugares vulneráveis às frequentes enchentes da cidade,

até a destruição quase total, pelo comando da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, nos anos

1959, dos inúmeros filmes que registravam a Ação Integralista Brasileira.

Na verdade, existem pouquíssimos registros sobre a obra cinematográfica de Baumgarten.

A maioria das fontes dá conta do início de sua atividade no ano de 1932. Porém pelo menos quatros

filmes de curta duração, entre as quase uma hora de imagens fixadas no celulóide pela câmera de

Alfredo Baumgarten que lograram sobreviver ao tempo, revelam registros anteriores, que

comprovam o início da sua atividade cinematográfica anterior àquela data. São eles: inauguração

d'uma ponte em cemento armado em Indayal (1926); Enchente em Blumenau, novembro de 1927;

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O Rei da Saxônia em Blumenau, junho 1928); Imponentes Comemorações do Centenário da

Colonização Alemã em São Pedro de Alcântara no dia 15 de novembro de 1929.

Baumgarten utilizava uma filmadora de 35 mm, adquirida provavelmente em uma de suas

viagens ao Rio de janeiro, para captar as imagens que ele próprio revelava em seu atelier. Embora

não tendo provavelmente realizado filmes sonoros, o cinegrafista tinha pelo menos esta pretensão,

conforme publicou o jornal Cidade de Blumenau, em 9 de novembro de 1935, informando que a

"recém criada A. Baumgarten-Filme está filiada à Distribuidora de Filmes Brasileiros e seus filmes

serão completamente sincronizados, isto é, musicados e falados‖. Provavelmente a sua intenação

era a de dar continuidade ao seu trabalho de realizações cinematográfica, utilizando-se do recurso

sonoro nas novas captações e exibições.

O cinegrafista soube utilizar sua formação de fotógrafo na captação das imagens em

movimento. As cenas dos pescadores na praia de Itapema, do antigo ônibus passando pela Ponte

Hercílio Luz63, do Vapor Blumenau chegando na cidade de Blumenau, das cachoeiras do Rio do

Oeste, entre outras, são imagens de raríssima beleza, que comprovama acuidade técnica do

realizador. Filmes como O Palácio Municipal em Ithajaí, A Fabrica de Hering Cia e Imponentes

Comemorações do Centenário da Colonização Alemã em São Pedro de Alcântara no dia 15 de

novembro de 1929, são exemplos de imagens de inestimável valor histórico. Nelas, pesquisadores

podem encontrar subsídios para trabalhos desenvolvidos em diversas áreas do conhecimento64. As

cenas do campo e dos arredores da região de Blumenau, como as encontradas nos trechos da

Viagem estrada férrea para Honsa, Transporte sobre um rio, A moradia do caboclo no sertão,

No pinheral, Engenho de Serrar madeira em Warnov, Derrubada, A mata derrubada e Fogo no

roçado, além do natural interesse histórico que suscitam, podem subsidiar estudos na área

geográfica e ecológica, entre outras. "Dependendo do "olhar" do interessado, algo novo pode surgir

das imagens legadas por Alfredo. O fato é que, muito embora grande parte da filmografia de

Baumgarten tenha sido perdida, os filmes que sobreviveram ao tempo representam ainda um

expressivo manancial para estudiosos e comprova a importância dos registros cinematográficos

como suporte ao trabalho de qualquer historiador.

Na verdade, Alfredo Baumgarten, mesmo empunhando uma câmera de filmar, nunca

deixou de ser fotógrafo. Quando de posse de uma câmera filmadora, ele fotografava cenas em

movimento, com pessoas posando para a câmera como se fora para uma fotografia. Não apenas por

esta evidência - que de certa forma, para a novidade que representava a filmagem para as pessoas

daquela época e região, pode ser considerada como corriqueira, mas principalmente por sua

pretensão em relação aos objetos filmados, que parecia ser acima de tudo, a de documentar, como

fazia com sua máquina fotográfica. Sua câmera registrou belas paisagens e cenas comuns da época.

O olhar de Baumgarten demonstrava sua preocupação em documentar imagens bucólicas e

simples, como um fotógrafo amador quando ganha sua primeira câmera. Só que Baumgarten tinha

uma sólida formação de fotógrafo e logo descobriu a possibilidade de tirar proveito do movimento

com sua nova câmera.

No filme Viagem estrada férrea para Hansa, por exemplo, sua câmera está dentro de um

trem com vista para um vale e um rio. Imagens tomadas de dentro de trens eram comuns neste

período. A pesquisadora afirma que o mundo visto a partir do trem, apresentado como uma

paisagem que desfila rapidamente diante do retângulo da janela, aludia a uma experiência

sensorial da velocidade, que era inteiramente inédita. Esta surgindo uma nova percepção de

mundo, uma nova forma de ver as coisas, mediatizada pelas formas mecanizadas de

deslocamentos, mas transformada em percepção visual com o auxílio direto do próprio cinema,

uma mídia capaz de produzir a sensação da velocidade.

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Filosofia em Santa Catarina

A história da filosofia em Santa Catarina confunde-se com a história da formação e

organização da Igreja Católica. Os seminários (centro de formação sacerdotal) têm por princípio o

estudo da filosofia. Estes centros procuram ao longo do século XX estruturar cursos que pudesse

suprir esta necessidade. Grande número dos filósofos e pensadores de nosso estado tem na sua

formação o cerne católico, embora a filosofia buscasse resolver seus problemas de forma autônoma

da teologia. O positivismo de August Comte contribuíra de forma significativa para o

distanciamento da filosofia em relação à teologia e a busca autônoma do instrumento de filosofar.

O capítulo que segue buscará apresentar e trabalhar problemas que foram importantes na

discussão filosófica catarinense.

No jornal da capital ―Diário da Tarde‖ de 10 de fevereiro de 1946 é publicado o seguinte

soneto e chamado assim pelo jornal de ―Soneto Filosófico‖:

"A MONTANHA"

Ao João Alfredo Medeiros Vieira

Enorme a altiva, altiva e inerme, eis a montanha Que junto ao mar grandioso e infinito se apruma,

Ora cheia de sol, ora imersa na bruma, Na mais profunda paz, como uma deusa estranha.

Vergaste-a da tormenta a insana e avérnea sanha, Corte-a o raio mendaz, insulte a tudo, em suma:

Repousa, dorme, sonha, escura e fria, numa Calma que só da pedra a existência acompanha.

Os séculos, sem fim, vão lhe passando à frente.

E ela, nesse torpor, nada persiste ou sente Em seu dorso brutal de esfinge adormecida.

Viverá sempre assim, num letargo profundo,

Na infinda paz de quem jamais contempla o mundo, Na infinda paz de quem jamais conhece a vida!

José Pires ZYTKUEWISZ

G L O S S Á R I O

Altiva: que se tornou de grande altura. Apruma: por a prumo ou em linha vertical, endiretir-se. Vestir-se com elegância, sentir-se

orgulhoso. Avérnea: local de tormento ou inferno. Dorso: face superior ou posterior de qualquer parte do corpo. Inerme: desprovido de armas ou de meios de defesa; desarmado, indefeso, inofensivo. Letargo: estado de profunda e prolongada inconsciência, semelhante ao sono profundo, do qual a

pessoa pode ser despertada, mas ao qual retorna logo a seguir. Mendaz: atitude daquele que mente ou revela hipocrisia. Sanha: rancor, fúria, ira, desejo de vingança. Torpor: sentimento de malestar caracterizando pela diminuição da sensibilidade e do movimento.

Ausência de reação a estímulos de intensidade normal. Vergar: tornar curvo, arquear, dobrar ou tornar-se submisso a alguém ou a algo.

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A fé em Deus e a razão andam juntas?

O semanário ―O Município‖, da cidade Brusque publicou, em sua edição de 10 de novembro

de 1995 uma reportagem da página inteira sobre a prática filosófica em Santa Catarina que se

reproduz abaixo:

Na terça-feira, 7 de novembro, 15 alunos do segundo semestre de Filosofia da FEBE (hoje

Unifebe), romperam a barreira do tempo e "voltaram" à Europa medieval do século XIIÍ, numa

época então dominada por uma constante inquietação, de certo modo curiosa e especulativa, no

campo da Filosofia. Sob a coordenação do professor de Filosofia Eloy Dorvalino Koch, os alunos

simularam uma aula magna, realizada naquela época, discutindo a relação entre fé e razão, através

das cinco teses defendidas por São Tomás de Aquino (1224 a 1274), que pretenderam provar a

existência de Deus. Durante quatro horas, a mesa inquiridora formada por aproximadamente oito

"doutores examinadores" e presidida por "Tomás de Aquino", questionou o "jovem estudante"

(interpretado por Adilson Koslowski, hoje professor universitário de filosofia), que defendeu sua

tese de doutorado na Universidade de Paris, baseando suas ideias nas de Tomás de Aquino. Quem

entrasse no salão da biblioteca do FEBE, local do debate, poderia ter uma perfeita ideia de como

era a defesa de tese em uma Universidade da Idade Média. Velas acesas, livros antigos, cruzes e a

presença do Bispo e do Cardeal de Paris (representados por alunos), provavam a influência que

tinha a Igreja nas instituições de ensino. Para tornar ainda mais real à simulação, os alunos

vestiram-se com trajes imitando os da época, emprestados pelo Museu Azambuja e por vários

mosteiros do país. O fervor do debate por vezes era tão forte, que alguns socos na mesa faziam-se

ouvir em meio à retórica veemente. Uma verdadeira representação, mas que levou os alunos a

aprofundarem-se na pesquisa e nos estudos da Filosofia e da Teologia, estimulando-os assim, no

debate sobre o tema.

A FÉ ACIMA DA RAZÃO

Para o professor de Filosofia Eloy Tomás de Aquino foi o grande sistematizador da Filosofia

e da Teologia na Idade Média. Seus princípios influenciaram até mesmo o pensamento teológico

atual. De acordo com o padre, Tomás de Aquino conseguiu como nenhum outro pensador provar

que a fé não estava contra a razão humana, apenas acima dela.

As ideias do filósofo árabe Averróis (1126-1198) e de Agostinho (354-430), foram as mais

lembradas durante o debate, para confrontar as ideias de Tomás de Aquino. O primeiro pregava

que existem duas verdades que podem levar a uma prova de Deus: a religião e a Filosofia. Para

Averróis, algumas respostas podem ser obtidas por meio da Filosofia, enquanto outras só poderiam

ser obtidas por meio da religião e da fé. Já Agostinho pregava que somente a fé era necessária para

uma prova da existência de Deus.

Tendo como base o pensamento de Aquino de que fé e razão não são antagônicas, o

"candidato ao Doutorado" afirmou que a Filosofia enfatiza o exercício da razão, que é saudável à fé,

pois Deus, afinal, é o Intelecto Supremo. Resumindo a ideia de Aquino, a fé pode aceitar algumas

doutrinas aceitas pela razão, mas pode ultrapassá-las, através da intuição e das experiências

místicas (revelação e outras formas). Assim, a fé vai além da razão, sem contradizê-la. "Esta foi a

grande conclusão do debate. Na representação, o "jovem inquirido" provou a validade das

afirmações de Aquino, refutando todas as objeções contra a tese do Santo", disse o coordenador dos

trabalhos, Carlos Munholi. Se o método de avaliação dos alunos das atuais Universidades

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teológicas ou filosóficas funcionasse como na Idade Média, certamente o estudante Adilson

Koslowski teria seu doutorado garantido.

UMA LIÇÃO DE VIDA

Tomás de Aquino foi um dos grandes nomes da História da Igreja. Seus princípios

teológicos influenciaram até mesmo a Teologia e a Filosofia atuais. Nascido na Itália, filho do

Conde de Aquino (daí seu nome) e da Condessa de Teatre, recebeu desde pequena orientação

religiosa. Aos vinte anos uniu-se à Ordem Dominicana e por muitos anos estudou em Paris e em

Colônia, no período de Alberto, o Grande.

Com 32 anos passou a lecionar em Paris, vindo a ser posteriormente professor na Cúria

Papal em Roma e em Nápoles. Escreveu obras volumosas, entre elas. Suma Theologiae, sua obra

prima, contendo sistemáticas, abrangentes e bem pensada exposições sobre as principais verdades

da fé cristã. Suas obras foram muito contestadas, principalmente pela ênfase demasiada sobre a

razão e suas realizações. Dono de uma piedade pessoal profunda e de um raciocínio brilhante,

abriu caminho para muitas outras observações nas áreas da Teologia e Filosofia.

Conta-se que alguns meses antes da sua morte, ao entrar na capela, recebeu uma forte

iluminação em uma visão celestial. Desde essa data deixou de escrever, afirmando que seus escritos

eram apenas palha, diante daquela iluminação. São Tomás de Aquino morreu em contemplação, no

ano de 1274, deixando uma vasta obra, que inspirou muitos pensadores que o sucederam.

OS CAMINHOS QUE PROVAM A EXISTÊNCIA DE DEUS

As cinco teses que, segundo Tomás de Aquino prova a existência de Deus, foram

apresentadas no debate pelo próprio autor e defendida pelo "candidato ao Doutorado‖. O primeiro

argumento, é a de que Deus é motor imóvel. Através dela, Tomás de Aquino quis provar que todo o

Universo é movido apenas por uma força superior, que é Deus, e que por sua vez é imóvel. Aquino

considerava que seria preciso explicar a existência tanto do movimento do Universo como de sua

causa primária, eliminando a possibilidade de entrarmos num regresso infinito e afirmar que um

movimento foi causado por um antecedente, e este por um outro, anterior a ele, e assim

definidamente.

Atualmente sabe-se que o movimento assume formas versas, sendo o mais elementar deles

o movimento das partículas formadoras do átomo. Outro exemplo é o movimento formação das

coisas, que chamamos de crescimento. Para Tomás de Aquino, esses movimentos são dirigidos a

alvos fixos e levados a efeito com propósitos definidos. A existência de Deus estaria assim provada

por ser Ele a única força capaz de cimentar este Universo de forma perfeita.

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BLUMENAU: evolução humana

Blumenau chegou à virada do século com uma população aproximadamente 300.000

habitantes, sede da Região Metropolitana Vale do Itajaí. Fundada como colônia particular, em

1850, por imigrantes alemães, transformou-se, ao longo dos anos, em centro industrial;

importância nacional, especialmente na área têxtil.

Terceira maior cidade do Estado, após Joinville e Florianópolis com população

predominantemente urbana, Blumenau vem apresentando um ritmo de crescimento mais lento

desde a década oitenta, o que reflete a saturação das áreas propícias à urbanização Município, o

impacto das grandes enchentes de 83/84, o processo recessivo de sua economia mono-industrial e

o crescimento mais acelerado dos municípios situados no seu entorno, que vêm absorve parte do

crescimento populacional do município pólo.

A região sul do Município, ao longo do Ribeirão Garcia, uma das primeiras a ser ocupada e

abriga hoje cerca de sessenta mil habitantes. Seu vale estreito e íngreme, sujeito a enchentes,

enxurradas, deslizamentos, já tem uma ocupação consolidada, densa, sem vazios urbanos, mas não

verticalizada. Seu crescimento tem sido lento nas últimas décadas, podendo ser considerada uma

região saturada, já que seu sistema viário, constituído basicamente por duas vias paralelas ao

Ribeirão Garcia (R. Amazonas na margem direita e R. Hermann Huscher / Progresso na margem

esquerda), não comportaria o adensamento decorrente da verticalização.

Também na margem direita do Rio Itajaí-Açu, encontramos a área central, verdadeiro

gargalo com apenas três ruas, aprisionada entre o rio e a montanha. Por ela passam todas as

ligações inter-bairros apresentando-se extremamente sobrecarregada, também devido a forte

polarização com a concentração do comércio e dos serviços. A área central passou por uma série de

transformações: do Stadtplatz original para a primeira Prefeitura, na foz do Ribeirão Garcia, e para

a atual Prefeitura, na foz do Ribeirão da Velha, construída na década de oitenta. A antiga

Wurststrasse ou Rua da Linguiça, hoje R. XV de Novembro era de início, a única rua da área

central, e ali se desenvolveu o melhor comércio da cidade. Recebeu uma rua paralela Junto ao

Morro dos Padres na década de cinquenta, a Rua Sete de Setembro, larga avenida onde se situaram

colégios, comércio atacadista e, na década de noventa, o primeiro Shopping Center da cidade. Na

década de setenta, uma terceira rua foi aberta na área central. Desta vez, junto ao Rio Itajaí-Açu: a

Av. Pres. Castelo Branco, conhecida corno Beira-Rio.

A região oeste da cidade, na margem direita, constituída principalmente pelo Bairro da

Velha, foi ocupada a partir do final do século passado, quando já haviam sido distribuídos os lotes

coloniais ao longo de todo o Rio Itajaí-Açu, e também ao longo dos Ribeirões Garcia e Itoupava e

do Rio do Testo. De topografia menos acidentada que a região sul, e menos sujeita a enchentes, tem

crescido de maneira constante, contando ainda com espaços a serem adensados através de

ocupação nu verticalização. Na margem esquerda, temos as regiões leste e norte da cidade.

A região leste, constituída pêlos bairros Ponta Aguda, Fortaleza e Itoupava Norte, só foi

efetivamente urbanizada com a construção das pontes Adolfo Konder, no Centro, e Irineu

Bornhausen, na Itoupava Norte; ambas da década de setenta. Sua topografia não é das mais planas,

com exceção da planície fluvial da Ponta Aguda, que sofreu intensa verticalização a partir das

enchentes de 1983 e 1984. Nos demais bairros da região predominam uma ocupação não

verticalizada, de média densidade padrão popular. A transferência da estação rodoviária do Centro

para a Itoupava Norte, margem esquerda do Rio Itajaí, na década de oitenta, acumulou o

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Lugares que nunca pegaram enchente

estavam com correnteza forte, a água tomou

conta de tudo. Fendas enormes se abriram nas

estradas, morros desabando, muros das casas,

creche e escola levados pela força da água,

árvores caindo em construções, destruição

total. Uma grande desgraça. Neste meio

tempo acontecia a explosão do gasoduto. Na

madrugada de sexta para sábado houve uma

explosão do gasoduto em um trecho da Br 470

em Gaspar, que vi no noticiário. Mas parece

que isso não foi o bastante para averiguarem a

situação do gasoduto da região. Pois outra

explosão muito maior começou às 21:10 horas

de domingo dia 23 quando a noite virou dia, a

10 km de distância se via um clarão gigantesco

que se abriu no céu, seguido de um barulho de

explosão que apenas as 12:30 começou a

diminuir e só terminou as 4 horas da

madrugada do dia 24. As casas que estavam a

10 km de distância sentiam a terra tremer

conforme a explosão acontecia. Era muito

assustador. A explosão aconteceu de 2 a 3 km

de distância do parque aquático recanto verde

onde as pessoas que residiam ali perto não

tinham onde se refugiar, estavam isolados

sem estrada, então saiam de casa e ficavam na

chuva para se refrescar, pois o calor era muito

grande. Segundo relatos o gás sufocava-os. A

explosão mexeu com os morros das

redondezas já frágeis pela quantidade de água

já sugada. E o número de mortos é muito

superior ao que estão divulgando.

desenvolvimento desta região, que apresenta algumas indústrias e vários estabelecimentos de

comércio atacadista e transportadoras.

A região norte da cidade, também na margem esquerda, é constituída pêlos bairros Salto do

Norte, Badenfurt, Itoupavazinha, Fidélis, Testo Salto e Itoupava Central. Esta região é a grande

reserva deexpansão urbana para Blumenau, com áreas menos acidentadas e livres de enchentes,

ainda com baixíssima densidade. Ao longo dos anos, após enfrentar inúmeras enchentes e

enxurradas na área de ocupação mais antiga, a cidade começou a se transformar, a mudar para

cima: para o alto dos morros, fugindo das enchentes e em busca de terrenos menos valorizados;

para o alto dos prédios, com a verticalização acentuada que ocorreu após as grandes enchentes de

1983/84; e para a região norte, de maior altitude, em busca de áreas planas livres de enchente. Este

redirecionamento do crescimento para a direção norte deu-se lentamente, com a gradual expansão

da malha urbana, e com a relocação de serviços, como a Prefeitura, a Rodoviária, transportadoras e

indústrias. As próximas instituições a seguirem nesta direção serão a Universidade e o Hospital

Regional.

Podemos dizer, assim, que a história está se encarregando de corrigir a localização de

Blumenau que, se foi apropriada para uma colônia agrícola acessada por via fluvial, mostrou-se

lamentavelmente inadequada e responsável por incontáveis prejuízos para um assentamento

urbano.

A imagem forçada

Blumenau sempre procurou transmitir uma

imagem de "primeiro mundo", de cidade européia,

sem os problemas do resto do país. Esta fabricação

de uma identidade cada vez mais estereotipada - a

loira cidade do Sul - intensificou-se nas últimas

décadas, ocultando a outra Blumenau que, cada vez

mais pobre e mais parecida com tantas outras

cidades brasileiras, se expandia clandestinamente

subindo as encosta da periferia. A Blumenau

forjada para consumo externo passa a ser também a

auto-imagem da Blumenau que já não é mais, mas

que se queria poder ser.

A fabricação desta imagem de uma

Blumenau tipicamente alemã, quando tantas

tradições culturais germânicas já haviam sido

sufocadas pelo processo de nacionalização na

década de trinta, e diluída pêlos fluxos migratórios

internos, teve início na década de setenta com o

incentivo a construções "típicas" que, com seus

apliques nas fachadas, fazem uma alusão

cenográfica ao tradicional enxaimel dos imigrantes.

A partir da década de oitenta, a Oktoberfest deu

continuidade a este processo de construção de uma

imagem que já não correspondia mais à totalidade

de Blumenau.

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O desenvolvimento econômico

A segunda metade do século vinte registrou para Blumenau duas fases distintas: o

crescimento econômico correspondente à expansão industrial até o final da década de setenta e o

período de retração econômica das décadas de oitenta e noventa, após as enchentes de 83 e 84, e

decorrente da inserção da cidade na economia capitalista globalizada.

Lamentavelmente, o desenvolvimento sócio-econômico de Blumenau, mesmo nos períodos

de expansão, está sujeito à perversa lógica capitalista, na qual riqueza e miséria são produzidas

simultaneamente no mesmo processo. Por este motivo, a esta fase de expansão da economia

corresponde também o crescimento da exclusão sócio-econômica.

As empresas da cidade, com destaque para o setor têxtil, passaram por um processo de

reestruturação industrial. Este doloroso processo, que envolve desconcentração industrial,

automação e terceirização, aumentando, com isso, o nível de desemprego e o grau de informalidade

da economia, ainda está em curso e constitui uma crise econômica e social sem precedentes na

história de Blumenau.

A questão maior, que se coloca prioritariamente como preocupações dos planejadores

urbanos, nesta nova ordem econômica, são os excedentes de mão-de-obra, esta massa

marginalizada, descartada do processo capitalista periférico. Como reintegrá-los à sociedade

produtiva e consumidora? Como assegurar-lhes o direito à cidade? Como preservar sua cidadania?

O prognóstico é de crescimento do espace urbano ilegal, pois o modelo econômico que vigora gera

a exclusão econômica. Esta por sua vez, expressa na falta de poder aquisitivo que possibilite o

acesso ao mercado imobiliário formal, gera a exclusão (ou segregação) espacial: as ocupações

ilegais na periferia. Esta situação leva, finalmente, à exclusão social implícita na ausência de

cidadania e na deficiência de infra-estrutura e serviços urbanos.

O papel da Ilegalidade na Formação do Espaço urbano de Blumenau

Como as cidades são o resultado da produção social do espaço urbano, processos de

desenvolvimento desigual - como o produzido pelo capitalismo tardio que enfrentamos - geram

uma sociedade desigual de ricos e pobres e esta sociedade, por sua vez, tem como resultante

espacial cidades divididas.

Aqueles que se beneficiam do processo capitalista de acumulação podem se dar ao luxo de

ocupar o espaço urbano legal, que é produzido dentro dos padrões urbanísticos oficiais. Estas áreas

são as mais valorizadas, por gozarem de melhor localização em termos de acessibilidade, condições

ambientais (declividade, drenagem, poluição e estabilidade geológica) e atendimento de infra-

estrutura e serviços urbanos.

Já aos preteridos no processo de desenvolvimento desigual, aos excluídos da acumulação de

capital, resta ocupar os espaços urbanos menos valorizados. Estes espaços são os com pior

condição de acesso, localizados em áreas insalubres e/ou de risco, e não beneficiadas com infra-

estrutura e serviços urbanos. Esta outra parte da cidade recebe diversas denominações: favelas,

loteamentos clandestinos, invasões, ocupações desordenadas, focos de sub-moradia, guetos,

assentamentos ilegais, etc.. A ocupação destas áreas ocorre à revelia dos padrões urbanísticos

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oficiais, porque estes padrões (a legislação urbanística) foram feitos para criar uma cidade

idealizada, e não levam em consideração que nem todos podem pagar o preço da legalidade.

O Estado, a quem caberia intervir nesse processo, para assegurar justiça social c melhor

distribuição do espaço urbano, mostra-se, contudo, omisso na regulação do mercado imobiliário;

ausente, na produção de habitação social e ineficaz no controle urbanístico, com legislação

incompatível com a realidade social, falta de fiscalização de ocupações irregulares e impunidade de

loteadores clandestinos.

É preciso compreender que nossas cidades se formam, simultaneamente, pelo processo

legal e pelas vias da clandestinidade ou irregularidade urbanística. O espaço urbano, portanto, é

determinado, parcialmente, pelo controle urbanístico institucionalizado pelo Estado em suas

normas e, parcialmente, pelas práticas sociais que a elas se sobrepõem e/ou contrapõem.

O processo legal de formação do espaço urbano pressupõe a adequação às normas

urbanísticas estabelecidas pelo Poder Público, tanto em seu conteúdo quanto em seu rito

processual. Do parcelamento da terra ao "habite-se" da construção e ao alvará de funcionamento de

uma atividade comercial, um verdadeiro emaranhado legal deve ser seguido para alcançar a

legalidade. Escrituras, consultas prévias, mapas de zoneamento, projetos, alvarás, vistorias, taxas e

requerimentos sucedem-se para quem quer se habilitar à legalidade.

O objetivo, nem sempre claro, desta complexa sistemática seria implementar o controle

urbanístico, visando assegurar a qualidade dos espaços urbanos, em seus aspectos sanitários,

estéticos e infra-estruturais, moldando, assim, a cidade que se pretende construir. No entanto, ao

se definirem as normas urbanísticas, também se delimitam, simultaneamente, "fronteiras de poder

\ ou seja, territórios dentro e fora da lei, configurando regiões de cidadania plena ou de cidadania

limitada. As áreas ilegais não são consideradas, pela sociedade em geral, um espaço legítimo da

cidade, uma vez que os que ali residem não foram capazes de se tornar consumidores do espaço

legal. E assim, num tempo em que o consumo é o comprovante de adequação ao sistema, deixado

ao quase exclusivo jogo do mercado, o espaço vivido consagra desigualdades e injustiças e termina

por ser, em sua maior parte, um espaço sem cidadão.

Mas, enquanto requerentes aguardam o deferimento de seus processos — que podem levar

mais de um ano até serem (ou não) liberados, a vida corre solto fora da Prefeitura. A revelia da

fiscalização, sob os olhos cúmplices, complacentes, omissos, incompetentes ou impotentes do

Estado, vão surgindo invasões, loteamentos clandestinos, construções irregulares, comércios

ilegais. Este processo ocorre, em maior ou menor grau de intensidade, por todo o país. A maior

parte do espaço urbano brasileiro, pode-se afirmar, teve origem predominantemente clandestina

ou legalmente irregular, com todos os problemas daí decorrentes.

A própria expressão 'clandestinidade' deve ser questionada, uma vez que funciona como

uma justificativa moral para que o Poder Público continue a negligenciar estas áreas de exclusão

espacial, social, econômica e política, pretendendo ignorar sua existência.

Morar na periferia é condenar-se duas vezes à pobreza. À pobreza gerada pelo modelo

econômico, segmentador do mercado de trabalho e das classes sócias superpõe-se a pobreza gerada

pelo modelo territorial. Este modelo expulsa para a periferia, onde maiores distâncias devem ser

cobertas, justamente aqueles que têm menores condições de fazer frente aos custos do transporte.

A dinâmica da produção dos espaços urbanos, ao gerar uma melhoria, cria simultânea e

constantemente milhares de desalojados e desapropriados que cedem seus locais de moradia para

grupos de renda que podem pagar o preço de um progresso. Qual será o preço do progresso no

Blumenau pós 23 de novembro de 2008?

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A ilegalidade no Espaço Urbano

As ocupações ilegais intensificaram-se, em, Blumenau, a partir da década de setenta,

acompanhando a aceleração do crescimento demográfico da cidade e o maior detalhamento da

legislação urbanística. Toda problemática da produção do espaço urbano ilegal, conhecida em

qualquer cidade brasileira, desenrola-se também em Blumenau. A imagem da loira cidade turística

oficial, com sua paisagem de cartão postal, oculta em seus vales a mesma precariedade de

condições de vida de outras terras. Estas áreas ilegais, sem saneamento básico e à mercê de

enchentes, enxurradas e desligamentos, marginalizadas e esquecidas pela administração local que

as trata como "focos de sub-moradia" ou "bolsões de pobreza", abrigam trabalhadores, operários,

autônomos e pessoas em busca de novas oportunidades. A configuração espacial da cidade, com

seus vales tentaculares, ajuda a encobrir a face clandestina da cidade, permitindo que o turista

continue a levar consigo a ilusão do pedacinho da Europa no Brasil.

O crescimento da cidade ilegal acompanhou o crescimento demográfico de Blumenau. Na

década de setenta, quando a população do Município crescia a uma taxa de 4,6% ao ano (a mais

alta registrada desde 1940, quando se inicia a série histórica do IBGE — Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística), intensificou-se a ocupação de áreas verdes, de encostas consideradas áreas

de preservação e de áreas não edificáveis ao longo dos cursos d'água. A urbanização acelerada do

período, causada principalmente pêlos movimentos migratórios originados no interior do Estado,

não foi acompanhada por programas habitacionais que facilitassem o assentamento dos novos

contingentes populacionais. Desassistidos, e sem condições de buscar no mercado mobiliário legal

sua opção de moradia, estes migrantes encontraram na ilegalidade a alternativa mais viável para a

questão habitacional.

Após as enchentes de 1983/84, estas ocupações deram-se, tragicamente, quase que

exclusivamente em uma periferia que, em Blumenau, corresponde a encostas de morros,

consideradas áreas de risco em função de sua excessiva declividade e fragilidade geológica. Por que

isto ocorreu? Evidentemente, não se trata apenas de uma infeliz coincidência. O que acontece é que

estas áreas são justamente as menos valorizadas de Blumenau para o fim habitacional e, portanto,

as de menor custo, sendo assim a primeira opção de acesso à propriedade da terra (ainda que

ilegal) para a população de baixa renda.

O processo de ocupação destas áreas, através da "autoconstrução", sem critérios técnicos,

com remoção da cobertura vegetal, com cortes e aterros não estabilizados e sem obras de

drenagem, aumenta os riscos de deslizamentos. A violência dos fatores climáticos e geológicos nas

áreas ocupadas irregularmente em Blumenau causou a morte de 25 pessoas Já na primeira metade

desta década. Segundo o Geólogo Gerson Ricardo Müller (Jornal de Sta. Catarina, 30/12/1996),

cerca de dez mil residências encontram-se em áreas de risco em Blumenau, sendo um terço destas

em área de risco iminente. A catástrofe, sempre anunciada, acontece de forma recorrente, dando a

frustrante sensação de estarmos assistindo, repetidamente, ao mesmo velho filme, sem nada poder

fazer para alterar seu trágico desfecho.

Não estão disponíveis dados precisos que nos permitam quantificar com segurança o espaço

urbano ilegal de Blumenau. Segundo levantamento realizado em 1994 pela Secretaria Municipal de

Ação Comunitária, 2.915 famílias, ou 8.967 pessoas (cerca de 4% da população urbana), viviam na

faixa de pobreza em Blumenau, em treze bolsões de pobreza. A FAEMA - Fundação Municipal de

Meio Ambiente – estima que, em 1998, existam cerca de 10.000 moradias em ocupações ilegais,

das quais 30% com risco iminente de desmoronamento. Isto significaria, considerando o índice de

3,6 pessoas por família5, 36.000 pessoas, ou cerca de 15% da população total4 do Município,

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calculada em 230.988 habitantes, em 1996, pelo IBGE. Nosso próprio levantamento, consolidando

informações de variadas fontes, levou-nos aos seguintes valores: 5.390 residências em áreas ilegais,

o que corresponderia a 19.404 pessoas ou 8,4% da população total. Salientamos que há um elevado

grau de imprecisão nestas informações, e que, portanto, devemos considerar estes valores como

estimativas não oficiais.

Distinguem-se, por sua presença no espaço urbano, entre tantas outras nuances de

ilegalidade, as invasões5 (áreas nas quais a ocupação não se dá por iniciativa de seu proprietário),

os loteamentos clandestinos (nos quais o proprietário vende os lotes sem conhecimento da

Prefeitura, sem projeto e sem infra-estrutura) e os loteamentos irregulares (nos quais o

proprietário vende os lotes sem aprovação final da Prefeitura, sem infra-estrutura completa, mas

com um projeto encaminhado para aprovação). Na prática, estas três categorias de ocupação ilegal

geram os mesmos problemas básicos: falta de um registro oficial da propriedade (legitimação),

falta de infra-estrutura e falta de segurança — em suma, falta do que se espera de uma cidade e que

deveria estar implícito na cidadania. Algumas ocupações começam como loteamentos irregulares -

aprovados na forma de desmembramentos - mas tiveram sequência com a divisão de novos lotes,

sem encaminhamento de projeto à Prefeitura, sendo então enquadradas na categoria de

loteamentos clandestinos.

A administração pública de Blumenau não dispõe de um levantamento completo das áreas

ocupadas ilegalmente, o que, por si só, já demonstra o descaso com esta questão. A relação a seguir

foi reduzida com informações obtidas em diversos órgãos da administração Municipal: Assessoria

de Planejamento, Superintendência de Habitação, Secretaria de Ação Comunitária, IPPUB,

FAEMA e Defesa Civil. Lembramos que a informação referente ao número de famílias residentes

em cada área é bastante imprecisa e se desatualiza rapidamente.

Em linhas gerais, percebe-se que as invasões e os loteamentos clandestinos tendem a

concentrar-se em áreas de risco na região sul, ao passo que os loteamentos irregulares distribuem-

se predominantemente na região norte. Esta gradação ocorre porque, na escala da ilegalidade, os

loteamentos irregulares estão mais próximos do legal, ocupando, correspondentemente, áreas não

tão desvalorizadas pelo mercado imobiliário formal. Recordamos que a região sul é considerada

área de preservação por ser considerada imprópria para a urbanização, ao passo que a região norte

é considerada área de expansão urbana, adequada para a urbanização, mas ainda mal servida de

infra-estrutura urbana.

Fica clara, portanto, a relação entre a ilegalidade e a valorização fundiária, uma vez que, na

disputa pelas melhores localizações, aqueles que podem arcar com os custos de produção do espaço

urbano legal ocupam as áreas mais valorizadas pela proximidade do centro e por sua segurança e

infra-estrutura; enquanto que, aos excluídos economicamente, restam as áreas menos valorizadas

da cidade, que são então ocupadas de maneira irregular. Completa-se assim o círculo vicioso de

exclusão econômica, exclusão espacial c exclusão social.

Percebemos também que as invasões possuem o padrão de urbanização mais precário, com

lotes menores e arruamento mais estreito e tortuoso e, às vezes, com escadas de terra no lugar de

ruas de acesso às casas. Os loteamentos clandestinos encontram-se em uma situação intermediária,

ao passo que os loteamentos irregulares são os que mais se aproximam do padrão de urbanização

oficial, com lotes maiores e ruas retilíneas, carecendo basicamente de infra-estrutura.

Em termos de infra-estrutura e serviços urbanos, muitas das áreas ocupadas ilegalmente

receberam, ao longo dos anos, abastecimento de água (SAMAE) e/ou luz (CELESC) e outros

serviços públicos, de forma clientelista e, administrativamente, incoerente com a política urbana

oficial. O atendimento a esta áreas, no entanto, enfrenta sempre a dificuldade da declividade, que

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impede a subida do caminhão da coleta de lixo, e da altitude, que impede o abastecimento de água

por pressão da rede. Nas áreas de risco, as obras executadas pelo Poder Público para atender a

população já assentada acabam estimulando novas ocupações, o que torna o Estado agente ativo, e

não mais apenas passivo, do processo de formação do espaço urbano ilegal.

O B S E R V A Ç Õ E S

O presente texto não tem finalidade lucrativa, apenas é apresentado como instrumento

textual que acompanha as aulas de História de Santa Catarina, da EEB Cel. Pedro C. Feddersen.

Seguem as referências textuais:

PÁGINAS OBRAS PESQUISADAS

1 a 12 GOVERNO DE SANTA CATARINA. História de Santa Catarina. Texto disponível em www.sc.gov.br, acessado em 08 de fevereiro de 2009.

SISTEMA DOM BOSCO. História de Santa Catarina. Itajaí, 2006, 8 pág. 3 e 4

(Tabelas) COTRIM, Gilberto. História do Brasil: para uma geração consciente – Ensino Médio.

13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 1993. 6; 9; 10 e

11 (Tabelas)

SACHET, Celestino. Santa Catarina: 100 anos de história. Volume 1: Do povoamento à Guerra do Contestado. Florianópolis: Catarinense, 1997

12 a 15 e tabelas

PIAZZA, Walter Fernando. A escravidão negra: numa província periférica. Florianópolis: Garapuvu, 1999.

16 a 18 BALDASSAR, Maria José. CHRISTOFOLETTI, Rogério (org.) Jornalismo em perspectiva. Florianópolis: [s/n], 2005.

19 e 20 PIRES, José Henrique Nunes. Cinema e história: José Julianelli e Alfredo Baumgarten, pioneiros do cinema catarinense. Blumenau: Edifurb, 2000.

21 a 23 VIEIRA, João Alfredo Medeiros. Notas sobre a história da filosofia em Santa Catarina. 2ª Ed. Florianópolis: Ledix, 1998.

24 a 30 THEIS, Ivo, et all. (org.) Novos Olhares sobre Blumenau: contribuições críticas sobre seu desenvolvimento recente. Blumenau: Edifurb, 2000.

25 (Tabela)

THAIS, Mariana. Não merecemos este tratamento. Blog Filosofando, publicado em 03 de dezembro de 2008, disponível em www.albiofabian.xpg.com.br, acessado em 18 de fevereiro de 2009.

Professor Albio Fabian Melchioretto, freqüentou curso seminarístico de história/filosofia, pelo

Instituto Vicentino de Filosofia (Curitiba) e Universidade São Francisco (São Paulo) em 2000/2001.

Graduado em filosofia com título de bacharel e licenciado pelo Centro Universitário de Brusque (2005). Pós

Graduação em nível de Lato Senso, Especialização em Gestão Educacional pelo SENAC/Florianópolis

(2007), atualmente cursa Pós Graduação em nível de Lato Senso, Especialização em Filosofia pela

Universidade Regional de Blumenau e Extensão Universitária com foco na Precariedade do Trabalho no

Capitalismo Global, pela Universidade Estadual de São Paulo, campus de Marília. Atuando na educação

desde 1999 e em Santa Catarina, desde 2002 na rede pública e privada. Atualmente lecionando

FILOSOFIA/SOCIOLOGIA/EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA e HISTÓRIA DE STA. CATARINA, nas EEB

Carlos Techentin, EEB Cel. Pedro C. Feddersen e SENAI/Blumenau.

CONTATO:

HOME PAGE: www.albiofabian.xpg.com.br E-MAIL: [email protected] - [email protected] MESSENGER: [email protected] CELULAR: (47) 9123 - 4801