saneamento básico e a prestação dos serviços em regiões metropolitanas - lexpress n° 61

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www.machadomeyer.com.br ANO 14 - NÚMERO 61 MARÇO / ABRIL 2013 metropolitana. Em virtude da transfe- rência de competências promovida por estas normas, houve quem questionas- se a sua constitucionalidade. A controvérsia decorre, na realidade, de uma imprecisão contida no próprio texto da Constituição Federal: esta não determina de que forma os serviços públicos tidos como de interesse co- mum deverão ser prestados, no bojo de uma região metropolitana. A rigor, os municípios devem organizar e prestar, diretamente ou por meio de conces- Saneamento básico e a prestação dos serviços em regiões metropolitanas leia mais na página 3 INFRAESTRUTURA - Mário Saadi e Letícia Oliveira Lins de Alencar Após longa espera e intensos debates, em fevereiro deste ano, foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1842, na qual se discutia a competência para a presta- ção e gestão dos serviços de saneamen- to básico em regiões metropolitanas. A polêmica tratada na ADI remonta à dé- cada de 1990, quando o estado do Rio de Janeiro editou duas leis que criaram a região metropolitana do Rio de Janei- ro e a Microrregião dos Lagos (Lei Com- plementar 87/89), e estabeleceram as competências e as formas de gestão dos serviços metropolitanos (Lei 2.869/97). Em seus termos, os serviços de interesse comum, em especial os de saneamen- to, seriam tratados e deliberados em Conselho (composto pelos municípios e Estado), mas seria atribuída a este a palavra final nas decisões. Assim, o Conselho assumia um caráter de órgão consultivo, na medida em que a decisão final estava a cargo, tão e somente, do estado do Rio de Janeiro, limitando a participação efetiva dos municípios na gestão associada dos serviços na região Meio Ambiente Comércio Internacional Imobiliário CONAR regula “Propaganda Verde” Brasil adere à convenção sobre contratos de compra e venda internacional Reforço à fiscalização de estabelecimentos comerciais pág. 2 pág. 3 pág. 4

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Page 1: Saneamento Básico e a Prestação dos Serviços em Regiões Metropolitanas - Lexpress N° 61

w w w . m a c h a d o m e y e r . c o m . b r ANO 14 - NÚMERO 61 MARÇO / ABRIL 2013

metropolitana. Em virtude da transfe-rência de competências promovida por estas normas, houve quem questionas-se a sua constitucionalidade.

A controvérsia decorre, na realidade, de uma imprecisão contida no próprio texto da Constituição Federal: esta não determina de que forma os serviços públicos tidos como de interesse co-mum deverão ser prestados, no bojo de uma região metropolitana. A rigor, os municípios devem organizar e prestar, diretamente ou por meio de conces-

Saneamento básico e a prestação dos serviços em regiões metropolitanas

leia mais na página 3

INFRAESTRUTURA - Mário Saadi e Letícia Oliveira Lins de Alencar

Após longa espera e intensos debates, em fevereiro deste ano, foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1842, na qual se discutia a competência para a presta-ção e gestão dos serviços de saneamen-to básico em regiões metropolitanas.

A polêmica tratada na ADI remonta à dé-cada de 1990, quando o estado do Rio de Janeiro editou duas leis que criaram a região metropolitana do Rio de Janei-ro e a Microrregião dos Lagos (Lei Com-plementar 87/89), e estabeleceram as

competências e as formas de gestão dos serviços metropolitanos (Lei 2.869/97). Em seus termos, os serviços de interesse comum, em especial os de saneamen-to, seriam tratados e deliberados em Conselho (composto pelos municípios e Estado), mas seria atribuída a este a palavra final nas decisões. Assim, o Conselho assumia um caráter de órgão consultivo, na medida em que a decisão final estava a cargo, tão e somente, do estado do Rio de Janeiro, limitando a participação efetiva dos municípios na gestão associada dos serviços na região

Meio Ambiente Comércio Internacional Imobiliário

CONAR regula “Propaganda Verde” Brasil adere à convenção sobre contratos de compra e venda internacional

Reforço à fiscalização de estabelecimentos comerciais

pág. 2 pág. 3 pág. 4

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BOLETIM INFORMATIVO BIMESTRAL - MACHADO MEYER LEXPRESS MARÇO / ABRIL 2013 3BOLETIM INFORMATIVO BIMESTRAL - MACHADO MEYER LEXPRESS MARÇO / ABRIL 20132

Controle Minoritário

CORPORATIVO – Ricardo Luiz Nicolaci Santos e Guilherme Bruschini

A criação do Novo Mercado em 2000, somada ao fortalecimento do merca-do de capitais brasileiro (observado a partir de 2004) auxiliou o surgimento de uma nova estrutura de poder nas companhias de capital aberto. Tal mu-dança foi baseada na pulverização dos acionistas, subtraindo do cotidiano de algumas dessas empresas a figura cla-ra do acionista, ou grupo de acionistas, controlador, detentor da maioria das ações com direito de voto.

Nesse novo cenário, os órgãos de ad-ministração ganham importância e passam a ser responsáveis por deci-sões que vinculam as sociedades em médios e longos prazos, as quais eram, anteriormente, direta e fortemente in-fluenciadas pelo acionista controlador. Destaca-se nessa nova estrutura de po-der a atuação do Conselho de Adminis-tração, devido à sua maior autonomia e função estratégica quando da tomada de referidas decisões.

Outra consequência notável desse fenômeno de dispersão acionária é a possibilidade de um sócio minoritá-rio influenciar as deliberações de uma companhia aberta, exercendo o controle sem a titularidade de mais da metade das ações com direito de voto, confor-me observado na forma mais tradicio-nal de controle. O chamado controle mi-noritário, no entanto, não deve isentar o acionista ou grupo de acionistas que o exerce , das responsabilidades pre-vistas na lei das sociedades anônimas, especialmente, aquelas relacionadas ao abuso de poder.

Há de se notar que ao apresentar gran-de parte de seu capital pulverizado a companhia se torna mais vulnerável a investidores que pretendem assumir seu controle, seja mediante uma só aquisição, seja através de compras de ações sucessivas em bolsa de valores. Empresas mal geridas e com ações co-tadas a preços que não refletem seu

valor real ou potencial são as mais suscetíveis a uma tomada de controle. Como forma de coibição a esse compor-tamento, algumas companhias adotam em seus estatutos sociais as cláusulas de proteção à dispersão acionária. Es-tas cláusulas obrigam o adquirente de determinada quantia de ações a realizar uma Oferta Pública de Ações para aqui-sição das demais ações, por um preço superior ao de mercado, a chamada poi-son pill brasileira.

Por ser uma tendência recente ainda sem o devido tratamento legal, caberá ao direito, mais uma vez, enfrentar o desafio de encontrar soluções, definir parâmetros e delinear o futuro das re-lações societárias oriundas dessa nova realidade, à luz do dinamismo econô-mico e social que vivemos atualmente.

COMÉRCIO INTERNACIONAL – Elton Minasse e Pedro Leal Fonseca

O Brasil aderiu, no início de março, à Convenção da ONU sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CISG). A partir de 1º de abril de 2014, as regras da CISG pas-sam a aplicar-se a contratos de com-pra e venda entre pessoas físicas ou jurídicas, situadas no Brasil, e pessoas localizadas em qualquer dos outros 78 países-membros da Convenção. Parcei-ros comerciais importantes do Brasil como China, Estados Unidos, Argenti-na, Alemanha e Japão, são membros.

Dentre outras matérias, a CISG regula a formação do contrato (efeitos da pro-posta, da contraproposta e de retrata-ção das partes), direitos e obrigações do vendedor e do comprador, transfe-rência de riscos, garantias por vícios e responsabilidade por descumprimento.

Estão fora do âmbito da CISG, as ven-das de mercadorias para uso pessoal,

familiar ou doméstico, realizadas em leilão, penhora ou outra forma de proce-dimento judicial, de valores mobiliários, títulos de crédito e moedas, de navios, barcos e aeronaves e de eletricidade. A CISG também não se aplica a contratos em que o comprador fornece ao vende-dor parte essencial da matéria-prima para a fabricação da mercadoria.

É de grande interesse entender os im-pactos trazidos pela CISG em razão da imensa importância das importações e exportações de mercadorias pelo país.

Nos próximos artigos, analisaremos em maiores detalhes as operações afetadas pela CISG e as diferenças en-tre o regime jurídico gerado por ela, em relação ao regime tradicional previsto pelo Código Civil.

Regras do CONAR regulam a “Propaganda Verde”

AMBIENTAL – Roberta Danelon Leonhardt e Jéssica Aline Gomes

Diante do crescimento da publicidade com apelo a questões ligadas à susten-tabilidade e a práticas ambientalmen-te responsáveis, – a chamada “Propa-ganda Verde” – o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CO-NAR) passou a regulamentar e fiscali-zar mais intensamente o conteúdo dos anúncios publicitários. Quando houver suspeita de violação nesse sentido, os casos deverão ser submetidos à análise do Conselho de Ética do CONAR.

As regras a serem observadas pela Pro-paganda Verde estão dispostas no Có-

digo Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. Em síntese, a norma dispõe sobre princípios que devem ser seguidos no uso da temática socioambiental em propagandas: veracidade, exatidão, per-tinência e relevância. Por sua vez, o seu Anexo U traz diretrizes a serem adota-das na criação da “Propaganda Verde”, sendo elas: concretude, veracidade, exatidão e clareza, comprovação e fon-tes, pertinência, relevância, absoluto e marketing relacionado a causas.

As decisões proferidas pelo CONAR de-monstram sua preocupação com ale-

Brasil adere à convenção sobre contratos de compra e venda internacional

CAPA – Saneamento básico e a prestação dos serviços em regiões metropolitanas - Mário Saadi e Letícia Oliveira Lins de Alencar

são ou permissão, os serviços públicos de interesse local. Por outro lado, a Constituição estabelece que as regiões metropolitanas sejam criadas pelos Estados para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. Assim, surgiram diversas correntes para ex-plicar se a integração, propiciada pelas regiões metropolitanas, estaria a cargo do estado, isoladamente, dos estados e municípios, de maneira compartilha-da, ou ainda, apenas dos municípios, em função de ser deles a competência constitucional para gerir serviços de in-teresse local.

Em meio a este cenário, a ADI 1842 foi ajuizada em junho de 1998. Os reque-rentes entendiam que a transferência de competências, promovida pelas leis

estaduais questionadas, violavam uma série de regras e princípios de nature-za constitucional. Pretendia-se que o STF declarasse que os municípios de-veriam possuir a última palavra no que tange a prestação dos serviços de sa-neamento básico, no âmbito da região metropolitana.

O ponto central discutido nos autos foi o da legitimidade das disposições norma-tivas que, ao instituir a região metropo-litana do Rio de Janeiro e a microrregião dos Lagos, transferiram do âmbito mu-nicipal para o estadual as competências administrativas e normativas próprias dos municípios, que dizem respeito aos serviços de saneamento básico.

No julgamento de mérito, a maioria dos Ministros do STF votou pela parcial

procedência da ação, no sentido de que a gestão dos serviços de saneamento básico deve ser compartilhada entre os municípios e o Estado. Foi acolhida, ain-da, a modulação dos efeitos da decisão, para que as relações jurídicas que não estejam em consonância com ela sejam readequadas no prazo de 24 meses. De toda forma, não foi definido o modelo que deverá ser adotado pelos entes fe-derados para que o compartilhamento e a gestão associada sejam efetivados.

A decisão do STF deve ser considerada positiva para o setor, uma vez que põe fim a indefinições que comprometiam a sua segurança jurídica. Cabe, neste momento, aos estados e municípios adaptarem a sua situação ao que foi decidido, a fim de que sejam evitados futuros questionamentos.

O Machado Meyer foi destaque na

premiação anual IFLR Americas

Awards. Além de conquistar o títu-

lo de escritório de direito do ano no

Brasil, pela quinta vez consecutiva,

foi reconhecido por sua atuação no

IPO do banco BTG Pactual e no pro-

jeto de fusão das companhias aéreas

TAM e LAN.

As operações foram vencedoras, res-

pectivamente, das categorias “Equi-

ty” e “M&A”. A operação que resultou

na constituição do grupo LATAM foi

reconhecida também como “Deal of

the Year 2012” na categoria “M&A” na

premiação da revista Latin Lawyer.

“Sabemos da relevância destes dois

prêmios no setor, pois reconhecem

a importância do trabalho realizado

pelo escritório nessas operações de

extrema complexidade, o que é muito

gratificante”, afirma Raquel Novais,

sócia-administradora do escritório.

Machado Meyer é eleito escritório de direito do ano no IFLR Americas Awards

INSTITUCIONAL

gações sem remissão às fontes que as justifiquem e/ou sem meio de compro-vação. É possível citar, por exemplo, o caso ocorrido com um empreendimen-to hoteleiro, cuja propaganda ligava os serviços prestados à sustentabilidade, mas sem explicações adicionais. Ape-sar de ser ter sido provadas a adoção de medidas efetivas para tratamento de esgoto e geração de energia no local, foi recomendada a alteração do anún-cio, indicando ao consumidor meios de acessar tais informações.

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BOLETIM INFORMATIVO BIMESTRAL - MACHADO MEYER LEXPRESS MARÇO / ABRIL 20134

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Editoração Eletrônica e Revisão

Comunicação Machado Meyer

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Reforço na fiscalização para funcionamento de instalações comerciais

IMOBILIÁRIO – Juliano Zorzi e Felipe Mendes de Godoy

O incêndio na boate Kiss, ocorrido em Santa Maria (RS), no final de janeiro, indignou o país e mobilizou autoridades públicas para maior fiscalização do fun-cionamento de estabelecimentos comer-ciais – incluindo casas noturnas, espaços para shows, clubes e até mesmo templos religiosos – em todo o país.

É requisito básico para o funcionamen-to de estabelecimentos comerciais a obtenção de dois documentos: o Alvará de Funcionamento e o Auto de Visto-ria do Corpo de Bombeiros. O Alvará de Funcionamento é a autorização da Pre-feitura para o exercício de uma ativida-de comercial em determinado local. Em São Paulo, o interessado deve apresentar requerimento com as plantas aprovadas do imóvel e documentos que atestem as condições mínimas de segurança e aten-dimento ao público.

O Alvará de Funcionamento deveria ser concedido em até 30 dias contados do protocolo perante a Prefeitura. No entan-to, o processo pode se estender por mais tempo devido a exigências que suspen-dem o prazo legal - apenas o protocolo do pedido da licença não autoriza o início das atividades no local.

O interessado deve comprovar ainda que a edificação possui equipamentos de combate a incêndio, mediante a apre-sentação do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros. Para clubes noturnos, em São Paulo, com mais de 750m², por exemplo, é exigida a instalação de for-ros com materiais próprios, sinalização de saídas de emergência, extintores, hi-drantes, alarmes de incêndio, sprinklers,

brigada de incêndio, plano de emergência e acesso para viatura.

Havendo condições mínimas contra incêndios, o Corpo de Bombeiros pode emitir autorização de caráter provisório, pelo período necessário à adequação da edificação. O local estará sujeito a nova vistoria ao final do prazo da autorização.

Em São Paulo, ambos os documentos devem ser renovados anualmente e a fiscalização é feita pela Prefeitura. Caso sejam verificadas irregularidades na do-cumentação, alterações na edificação ou na atividade exercida, ou o descum-primento de restrições impostas nas licenças, a Prefeitura aplicará multa e concederá um prazo para que seja regu-larizada a situação. Se isso não ocorrer, a Prefeitura aplicará nova multa e intimará o proprietário para tomar as medidas de adequação em até 90 dias, sob pena de interdição do estabelecimento.

Em 2010, a Secretaria de Gestão do Esta-do de São Paulo instituiu o Sistema Inte-grado de Licenciamento - um sistema de dados único para entidades responsáveis pelo licenciamento de estabelecimentos comerciais. O objetivo é criar maior inte-ração e agilidade na troca de informações entre os órgãos da Prefeitura e o Corpo de Bombeiros e além de facilitar a fis-calização e o licenciamento de estabe-lecimentos. Os recentes acontecimentos poderão servir de incentivo para que ou-tros estados e Municípios, em conjunto, revejam seus procedimentos para criar controles mais dinâmicos e melhorar a fiscalização de atividades comerciais.