samba (generos musicais brasileiros)

4
Professora Giovanna Guimarães Corsino Rodriguez Área de Conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Componente Curricular: Arte Música Gêneros Musicais Brasileiros: Samba O Ritmo Negro : O africano que veio escravizado e foi vendido por ocasião da colonização. Foi, das 3 raças formadoras da nacionalidade brasileira (Indígena, Africana e Europeia), a que revelou sempre maiores inclinações para a música. A melodia negra não era muito desenvolvida, mas a sua riqueza musica vem do ritmo, que era muito variado. Utilizavam instrumentos de percussão de timbres diversos, palmas e vozes. Nascia o Samba : No começo do século, as músicas mais em voga em nosso país eram a modinha, o lundu, a polca, a quadrilha, o schottish, e valsa, o choro. A partir de 1870, pelo cruzamento ou influência do lundu, polca (chegou no Brasil por volta de 1845), habanera, maxixe, choro, começaram a aparecer músicas que tendiam ritmicamente para o samba: “Moqueca Sinhá” (espécie de Lundu, 1870), “As Laranjas da Sabina” (1888), “Morte do Mal” (1893), “Não Deixa Tirar” (1902) e Vem Cá Mulata“ (1906). Somente em 1910 começaram a surgir no Brasil as primeiras gravações usando a designação SAMBA. O primeiro samba (samba de partido alto) gravado foi “Em Casa de Tia Baiana”, de aut or desconhecido, executado por um conjunto instrumental, provavelmente em 1911. Em 1914, com “A Viola Está Magoada”, de Catulo da Paixão Cearense, gravado pelo Baiano e Julia, gravado em disco, novamente é utilizada a palavra samba. Pesquisadores encontraram vários indícios de sambas gravados antes de 1917. Porém é em 1917 que encontramos a música considerada o marco inicial do gênero: “Pelo Telefone”, de Donga e Mauro de Almeida. Foi gravada para o carnaval daquele ano. Surgiu na casa de Tia Ciata, onde se reuniam os “bambas” da música popular da época como Sinhô, Donga, João da Baiana, Heitor dos Prazeres, Pixinguinha, Catulo da Paixão Cearense, João da Mata, etc. Mas o que vem a ser samba¿ A palavra Samba provém de “semba”, que significa umbigada. Umbigada é o ponto culminante de uma dança africana. Não há dúvida quanto a origem africana do samba. Durante a escravidão vieram centenas de escravos da África para o Brasil, que eram então submetidos a trabalhos pesados em fazendas. Ao entardecer reuniam-se nas senzalas onde executavam músicas e danças de sua terra de origem. Em meados do século XIX, a palavra samba definia diferentes tipos de música introduzidas por esses escravos africanos, sempre conduzida por diversos tipos de batuques, mas que assumiam características próprias em cada Estado brasileiro, não só pela diversidade das tribos de escravos, como pela peculiaridade de cada região em que foram assentados. Algumas destas danças populares conhecidas foram: -Bahia: bate-baú, samba-corrido, samba-de-roda, samba-de-chave e samba-de-barravento, -Ceará: coco -Maranhão: tambor-de-crioula (ou ponga) -Pernambuco: trocada, coco-de-parelha, samba de coco e soco-travado -Rio Grande do Norte: bambelô -Rio de Janeiro: partido-alto, miudinho, jongo e caxambu -São Paulo: samba-lenço, samba-rural, tiririca, miudinho e jongo. Os anos foram passando, veio a abolição dos escravos, mas a sua música e dança continuou a ser praticada entre eles. Ao que tudo indica, foi na Bahia onde começaram a surgir as primeiras sessões de samba, isto é, dança de negros, quer seja de caráter religioso ou profano. Essas danças foram cada vez mais se diferenciando da dança original dos africanos adquirindo uma forma autônoma. Mais tarde, baianas como a Tia Ciata, Tia Amélia (mãe de Donga), tia Presciliana de Santo Amaro (mãe de João da Baiana), tia Verdiana e muitas outras, e também baianos como Hilário da Jardineira, vieram todos de mudança para a capital (Rio de Janeiro) e lá continuaram a se reunir em suas casas para as sessões de samba que eram chamadas de Candonblé ou simplesmente terreiro. No inicio, o samba foi assim: O Samba que se fez inicialmente era um samba bem diferente do chamado clássico ou moderno. Era um samba batucado, chamado “ samba de morro”, cultivado somente pela classe desfavorecida. As classes média e alta da sociedade, mais exigentes, tinham preferências aos ritmos importados. Se tratando de música nacional, a mais prestigiada era o Choro. Nas palavras de Pixinguinha: “Naquela época o samba você sabe, era mais cantado nos terreiros, pelas pe ssoas humildes. O choro tinha maior prestigio. Se havia uma festa, o Choro era tocado na sala de visita, o Samba só no quintal, para os empregados.”

Upload: arte-musica-liberato

Post on 08-Feb-2016

246 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Samba (Generos Musicais Brasileiros)

Professora Giovanna Guimarães Corsino Rodriguez Área de Conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Componente Curricular: Arte – Música

Gêneros Musicais Brasileiros: Samba

O Ritmo Negro : O africano que veio escravizado e foi vendido por ocasião da colonização. Foi, das 3 raças formadoras da nacionalidade brasileira (Indígena, Africana e Europeia), a que revelou sempre maiores inclinações para a música. A melodia negra não era muito desenvolvida, mas a sua riqueza musica vem do ritmo, que era muito variado. Utilizavam instrumentos de percussão de timbres diversos, palmas e vozes. Nascia o Samba : No começo do século, as músicas mais em voga em nosso país eram a modinha, o lundu, a polca, a quadrilha, o schottish, e valsa, o choro. A partir de 1870, pelo cruzamento ou influência do lundu, polca (chegou no Brasil por volta de 1845), habanera, maxixe, choro, começaram a aparecer músicas que tendiam ritmicamente para o samba: “Moqueca Sinhá” (espécie de Lundu, 1870), “As Laranjas da Sabina” (1888), “Morte do Mal” (1893), “Não Deixa Tirar” (1902) e Vem Cá Mulata“ (1906). Somente em 1910 começaram a surgir no Brasil as primeiras gravações usando a designação SAMBA. O primeiro samba (samba de partido alto) gravado foi “Em Casa de Tia Baiana”, de autor desconhecido, executado por um conjunto instrumental, provavelmente em 1911. Em 1914, com “A Viola Está Magoada”, de Catulo da Paixão Cearense, gravado pelo Baiano e Julia, gravado em disco, novamente é utilizada a palavra samba. Pesquisadores encontraram vários indícios de sambas gravados antes de 1917. Porém é em 1917 que encontramos a música considerada o marco inicial do gênero: “Pelo Telefone”, de Donga e Mauro de Almeida. Foi gravada para o carnaval daquele ano. Surgiu na casa de Tia Ciata, onde se reuniam os “bambas” da música popular da época como Sinhô, Donga, João da Baiana, Heitor dos Prazeres, Pixinguinha, Catulo da Paixão Cearense, João da Mata, etc. Mas o que vem a ser samba¿ A palavra Samba provém de “semba”, que significa umbigada. Umbigada é o ponto culminante de uma dança africana. Não há dúvida quanto a origem africana do samba. Durante a escravidão vieram centenas de escravos da África para o Brasil, que eram então submetidos a trabalhos pesados em fazendas. Ao entardecer reuniam-se nas senzalas onde executavam músicas e danças de sua terra de origem. Em meados do século XIX, a palavra samba definia diferentes tipos de música introduzidas por esses escravos africanos, sempre conduzida por diversos tipos de batuques, mas que assumiam características próprias em cada Estado brasileiro, não só pela diversidade das tribos de escravos, como pela peculiaridade de cada região em que foram assentados. Algumas destas danças populares conhecidas foram: -Bahia: bate-baú, samba-corrido, samba-de-roda, samba-de-chave e samba-de-barravento, -Ceará: coco -Maranhão: tambor-de-crioula (ou ponga) -Pernambuco: trocada, coco-de-parelha, samba de coco e soco-travado -Rio Grande do Norte: bambelô -Rio de Janeiro: partido-alto, miudinho, jongo e caxambu -São Paulo: samba-lenço, samba-rural, tiririca, miudinho e jongo. Os anos foram passando, veio a abolição dos escravos, mas a sua música e dança continuou a ser praticada entre eles. Ao que tudo indica, foi na Bahia onde começaram a surgir as primeiras sessões de samba, isto é, dança de negros, quer seja de caráter religioso ou profano. Essas danças foram cada vez mais se diferenciando da dança original dos africanos adquirindo uma forma autônoma. Mais tarde, baianas como a Tia Ciata, Tia Amélia (mãe de Donga), tia Presciliana de Santo Amaro (mãe de João da Baiana), tia Verdiana e muitas outras, e também baianos como Hilário da Jardineira, vieram todos de mudança para a capital (Rio de Janeiro) e lá continuaram a se reunir em suas casas para as sessões de samba que eram chamadas de Candonblé ou simplesmente terreiro. No inicio, o samba foi assim: O Samba que se fez inicialmente era um samba bem diferente do chamado clássico ou moderno. Era um samba batucado, chamado “samba de morro”, cultivado somente pela classe

desfavorecida. As classes média e alta da sociedade, mais exigentes, tinham preferências aos ritmos importados. Se tratando de música nacional, a mais prestigiada era o Choro. Nas palavras de Pixinguinha: “Naquela época o samba você sabe, era mais cantado nos terreiros, pelas pessoas humildes. O choro tinha maior prestigio. Se havia uma festa, o Choro era tocado na sala de visita, o Samba só no quintal, para os empregados.”

Page 2: Samba (Generos Musicais Brasileiros)

O Samba sai do Morro e chega até a sociedade: Uma parte da classe média adere ao “samba sincopado” cultivado até então nas gafieiras. A classe alta, influenciada por ritmos importados, acaba forçando o “aboleramento” (aproximar-se do gênero musical bolero) do samba, transformando-o em Samba-Canção,

apropriado para a orquestra de salões e boates. Posteriormente surge o Samba Exaltação ou Samba que atinge seu ponto máximo com a música “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso.

1920 – Final da década: Contornos modernos do Samba Carioca graças a duas frentes: compositores dos blocos carnavalescos dos bairros do Estácio de Sá e Osvaldo Cruz e compositores dos morros da cidade, como em Mangueira, Salgueiro e São Carlos. Não por acaso, identifica-se esse formato de samba como "genuíno" ou "de raiz". A medida que o samba no Rio de Janeiro consolidava-se como uma expressão musical urbana e moderna, ele passou a ser tocado em larga escala nas rádios, espalhando-se pelos morros cariocas e bairros da zona sul do Rio de Janeiro. Inicialmente criminalizado e visto com preconceito, por suas origens negras, o samba conquistaria o público de classe média também.

1930 – As estações de rádio, em plena difusão pelo Brasil, passam a tocar os sambas para os lares. Os grandes sambistas e compositores desta época são: Noel Rosa autor de “Conversa de Botequim”; Cartola de “As Rosas Não Falam”; Dorival Caymmi de “O Que É Que a Baiana Tem?”, Ary Barroso, de “Aquarela do Brasil” e Adoniran Barbosa, de “Trem das Onze”. O samba é elevado a Símbolo da identidade nacional.

Século XX – Samba Moderno Rio de Janeiro. Tradicionalmente, esse samba é tocado por instrumentos de corda (cavaquinho e vários tipos de violão) e variados instrumentos de percussão, como o pandeiro, o surdo e o tamborim. Com o passar dos anos, outros instrumentos foram sendo assimilados, e se criaram novas vertentes oriundas dessa base urbano carioca de samba, que ganharam denominações próprias, como o samba de breque, o samba-canção, a bossa nova, o samba-rock, o pagode, entre outras.

2005 - o samba de roda se tornou um Patrimônio da Humanidade da Unesco.

Dia 02 de dezembro é comemorado o Dia do Samba!

Favelas e Tias Baianas: Século XIX, segunda metade - A medida que as populações negra e mestiça na cidade do Rio de Janeiro - oriundos de várias partes do Brasil, principalmente da Bahia, bem como de ex-soldados da Guerra de Canudos do final daquele século - cresciam, estes povoavam as imediações do Morro da Conceição, Pedra do Sal, Praça Mauá, Praça Onze, Cidade Nova, Saúde e Zona Portuária. Formariam comunidades pobres que estas próprias populações denominaram de favela. Estas comunidades seriam cenário de uma parte significativa da cultura negra brasileira, especialmente com relação ao candomblé e ao samba amaxixado daquela época. Dentre os primeiros destaques, estavam o músico e dançarino Hilário Jovino Ferreira - responsável pela fundação de vários blocos de afoxé e ranchos carnavalescos - e das "Tias Baianas" - termo como ficaram conhecidas muitas baianas descendentes de escravos no final do século XIX.

Assim, o samba propriamente como gênero musical nasceria no início do século XX nas casas destas "tias baianas", como um estilo descendente do lundu, das festas dos terreiros entre umbigadas (semba) e pernadas de capoeira, marcado no pandeiro, prato-e-faca e na palma da mão.

Samba Baiano O samba baiano é influenciado pelo lundu e maxixe, com letras simples, balanço rápido e

ritmo repetitivo. Já o samba de roda, surgido na Bahia no século XIX, apresenta elementos culturais afro-brasileiros. Com palmas e cantos, os dançarinos dançam dentro de uma roda. Os sambas recebiam nomes de acordo com a forma de dançar, como por exemplo o "samba-de-chave", em que o dançarino solista fingia procurar no meio da roda uma chave, e quando a encontrava, era substituído. A estrutura poética do samba baiano obedecia à forma verso-e-refrão. Outra peculiaridade do samba baiano era a forma de concurso que a dança às vezes apresenta, que era uma disputa entre os participantes para ver quem melhor executava seus detalhes solistas. Afora a umbigada, comum a todo o samba, o da Bahia apresentava três passos fundamentais: corta-a-joca, separa-o-visgo e apanha-o-bago. Os instrumentos do samba baiano eram

o pandeiro, o violão, o chocalho e, às vezes, as castanholas e os berimbaus.

Samba Paulista Entre os paulistas, o samba ganha uma conotação de mistura de raças. Com influência italiana, as letras são mais elaboradas e o sotaque dos bairros de trabalhadores ganha espaço no estilo do samba de São Paulo.

Samba Carioca (moderno e urbano): No Rio de Janeiro, o samba está ligado à vida nos morros, sendo que

as letras falam da vida urbana, dos trabalhadores e das dificuldades da vida de uma forma amena e muitas vezes com humor.lllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll

Page 3: Samba (Generos Musicais Brasileiros)

Primeira geração: Donga, Sinhô. Tia Ciata foi uma das responsáveis pela sedimentação do samba carioca. Segundo o folclore de época, para que um samba alcançasse sucesso, ele teria que passar pela casa de Tia Ciata e ser aprovado nas rodas de samba das festas, que chegavam a durar dias. Muitas composições foram criadas e cantadas em improvisos, caso do samba "Pelo telefone" (de Donga e Mauro de Almeida). A canção tem autoria discutida e sua proximidade com o maxixe fez com que fosse designada por fim como samba-maxixe. Esta vertente era influenciada pela

dança maxixe e tocada basicamente ao piano, diferente do samba carioca tocado nos morros. Esse samba moderno teve como expoente o compositor Sinhô, auto-intitulado "o rei do samba", que com outros pioneiros como Heitor dos Prazeres e Caninha, estabeleceria os primeiros fundamentos do gênero musical. Outros dois importantes nomes da época são João da Baiana e Pixinguinha, mas os sambas destes compositores também eram amaxixados, conhecidos como sambas-maxixe.

Samba de Partido-Alto: Com letras improvisadas, falam sobre a realidade dos morros e das regiões mais

carentes. É o estilo dos grandes mestres do samba. Os compositores de partido alto mais conhecidos são: Moreira da Silva, Martinho da Vila e Zeca Pagodinho. Surgiu dentro do processo de modernização do samba urbano carioca. Costuma ser dividido em duas partes: o refrão e os versos. A primeira parte é o núcleo do qual correm soltos os versos improvisados. Esta cantoria é a arte de criar versos, em geral de improviso e cantá-los sobre uma linha melódica preexistente ou também improvisada. Por ter uma essência baseada na improvisação, o samba de partido-alto passaria a ser muito cantado principalmente nos chamados "pagodes", habituais reuniões festivas, regadas a música, comida e bebida, e mais adiante nos terreiros das futuras escolas de samba cariocas.

Segunda geração: Turma do Estádio e Sambistas do Morro. O

Estácio de Sá era um bairro popular e com grande contingente de pretos e mulatos. Segundo o historiador José Ramos Tinhorão, era reduto de malandros - considerados pelas classes altas - "perigosos". Foi nesse bairro que se gestaria o novo e definitivo samba urbano carioca, conhecido como samba de raíz, com a chamada "Turma do Estácio", onde surgiria a Deixa Falar, a primeira escola de samba brasileira. Inicialmente um rancho carnavalesco, posteriormente um bloco carnavalesco e por fim, uma escola de Samba, a Deixa Falar teria sido a primeiro a desfilar no carnaval carioca ao som de uma orquestra de percussões formada por surdos, tamborins e cuícas, aos quais se juntavam pandeiros e chocalhos. A "Turma do Estácio" marcaria a história do samba brasileiro por injetar ao gênero uma cadência mais

picotada, que teve endosso de filhos da classe média, como o ex-estudante de direito Ary Barroso e o ex-estudante de medicina Noel Rosa. Este conjunto instrumental foi chamado de "bateria" e prestava-se ao acompanhamento de um tipo de samba que já era bem diferente dos de Donga, Sinhô e Pixinguinha, ou seja, um samba que adquiria uma característica de música mais "marchada" e que fosse devidamente ritmado de forma que pudesse ser acompanhado no desfile de carnaval. Assim, essa aceleração rítmica distanciava-se, sem deixar de ser batucado, do andamento amaxixado de figuras proeminentes da "primeira geração" do samba urbano carioca, que não se conformavam com o estilo que ganhava mais e mais adeptos. Para essa primeira geração, as modificações da Turma do Estácio eram uma deturpação ao samba. Outra mudança estrutural decorrente do samba da Turma do Estácio foi a valorização das segundas partes da letra e música das composições. Em lugar de usar a típica improvisão das rodas de samba de partido-alto, houve a consolidação de seqüências preestabelecidas, que teriam um tema (por exemplo: o cotidiano carioca, o amor) e a possibilidade de se encaixar tudo dentro dos padrões de gravações fonográficas da época, de 78 rpm (algo em torno de três minutos).

Difusão e “Nacionalização” do Samba Carioca: Entre o fnal de 1920 e meados de 1940, o Samba urbano carioca invade outras áreas do Rio de Janeiro, não apenas o samba de carnaval, mas também novas formas de samba, como o samba-canção e o samba-exaltação. Difundidos pelas ondas do rádio, estes estilos cariocas seriam conhecidos em outras partes do Brasil, que, com a influência do governo federal brasileiro (mais propriamente a partir dos projetos político-ideológicos do Estado Novo de Getúlio Vargas), elevaria o samba local da cidade do Rio de Janeiro à condição de samba "nacional" - muito embora existam outras formas e práticas do samba no país. A aproximação do Estado brasileiro com a música popular deu-se também pela oficialização, em 1935, do desfile de carnaval pela Prefeitura do então Distrito Federal.

A ideologia do Estado Novo de Getúlio Vargas ajudou a retirar a imagem de marginalidade samba carioca, outrora negativamente associada "como antro de malandros e desordeiros", O Departamento de Imprensa e Propaganda procurava coagir compositores a abandonarem a temática da malandragem nos seus sambas, através de políticas de aliciamento ou na base da censura. É do final de 1930 que surgiria um estilo de samba de "caráter legalista", conhecido mais tarde como samba-exaltação (ou também "samba da legalidade"). O samba-exaltação caracterizava-se por composições em exaltação ao trabalho (como na notória letra de "O Bonde São Januário", parceria de Ataulfo Alves) ou ao país (como "Aquarela do Brasil",

de Ary Barroso, gravada por Francisco Alves em 1939, e que se transformou no primeiro sucesso musical

Page 4: Samba (Generos Musicais Brasileiros)

brasileiro no exterior). Apesar da atuação do Estado na cooptação de sambistas, havia compositores que tentavam driblar o poder censório ditatorial, com letras carregadas de sutilezas e ironias (como em "Recenseamento", de Assis Valente).

Novos Formatos do Samba Carioca: Samba-Canção: Samba de ritmo lento e letras sentimentais e romanticas. Foi lançado em 1928, com a gravação "Ai, Ioiô" (de Henrique Vogeler), na voz de Aracy Cortes. O samba-canção era um dos carros-chefes das programações das rádios na década de 1930. Tinha como ênfase musical uma melodia geralmente de fácil aceitação. Esta vertente foi influenciado mais tarde por ritmos estrangeiros, primeiramente pelo fox e, na década de 1940, pelo bolero de enredos sentimentais. O samba-canção destacava os sofrimentos amorosos. Além de "Ai, Ioiô", alguns outros clássicos do samba-canção foram "Risque", "No Rancho Fundo","Copacabana" e "Ninguém Me Ama". Com o passar dos anos,

outros artistas ganharam notoriedade no estilo, como Antônio Maria, Custódio Mesquita, Dolores Duran, Fernando Lobo, Henrique Vogeler, Ismael Neto, Lupicínio Rodrigues e Batatinha. O samba-canção seria ainda uma das principais fontes de inspiração da bossa nova no final da década de 1950. Samba-Choro: Surgiu na década de 1930. Misturava o fraseado instrumental do choro (com flauta) ao batuque do samba. Entre as primeiras composições no estilo, figuram "Amor em excesso" (de Gadé e Valfrido Silva, em 1932) e "Amor de parceria" (de Noel Rosa, em 1935). Samba-de-breque: Na mesma época (meados da década de 1930), , Heitor dos Prazeres lançou o samba "Eu choro" e o termo "breque" (do inglês break), então popularizado com referência ao freio instantâneo dos novos automóveis. Era o surgimento do samba-de-breque, variante do samba-choro caracterizada por um ritmo acentuadamente sincopado com paradas bruscas, os chamados breques, durante a música para que o cantor fizesse uma intervenção - geralmente frases apenas faladas, diálogos ou comentários bem humorados do cantor, que confere graça e malandragem na narrativa. Luís Barbosa, Moreira da Silva e Germano Mathias foram os principais artististas desta vertente do samba.

Escolas de Samba dia 18 de agosto de 1928 foi fundada a primeira Escola de Samba: “Deixa Falar”, no

Estácio de Sá, que usava as cores vermelha e branca por causa do América Futebol Clube. Saiu pela primeira vez no carnaval de 1929 na rua Estácio de Sá, onde também eram realizados os ensaios. A expressão “escola de samba” veio da Estácio, pois ali f icava a Escola Normal, hoje Instituto de Educação, onde saíam as professoras. E o Estácio se vangloriava de, além de fornecer professoras, dar também professores de samba. Depois da fundação da Deixa Falar, o fenômeno das escolas de samba tomou conta do cenário carioca. Surgiram outras escolas como a “Cada Ano Sai Melor” (S. Carlos), “Estação Primeira” (Mangueira), “Vai Como Pode” (Portela), “Para o Ano Sai Melhor” (Estácio), “Vizinha Faladeira” (Praça Onze), etc. A primeira música de carnaval foi Zé Pereira (de autor desconhecido), em 1894. No despontar do novo século (1900), aparece o primeiro sucesso carnavalesco: “O Abre Alas”, marchinha de carnaval de Chiquinha Gonzaga.

O samba-enredo se tornou um dos símbolos nacionais. Inicialmente, o samba-enredo não tinha enredo, mas isso mudou quando o Estado - notadamente durante o Estado Novo de Getúlio Vargas - assumiu a organização dos desfiles e obrigou o sambas-enredo a ser sobre a história oficial do Brasil. A letra do samba-enredo conta uma história que servirá de enredo para o desenvolvimento da apresentação da escola de samba. Em geral, a música é cantada por um homem, acompanhado sempre por um cavaquinho e pela bateria da escola de samba, produzindo uma textura sonora complexa e densa, conhecida como batucada.

Durante a década de 1930, era costume em um desfile de escola de samba que, na primeira parte, esta apresentasse um samba qualquer e, na segunda parte, os melhores versadores improvisassem, geralmente com sambas saídos do terreiros das escolas (atuais quadras). Estes últimos ficaram conhecidos como sambas-de-terreiro. Iniciadas nos moldes dos ranchos carnavalescos, as escolas de samba – inicialmente com Mangueira, Portela, Império Serrano, Salgueiro e, nas décadas seguintes, com Beija-Flor, Imperatriz Leopoldinense e Mocidade Independente – cresceriam ao logo das décadas seguintes até dominarem o Carnaval carioca, transformando-o em um grande negócio com forte impacto no movimento turístico.

Instrumentos do Samba

O samba é tocado basicamente por instrumentos de percussão e acompanhado por instrumentos de corda. Em vertentes como o samba-exaltação e o samba-de-gafieira, foram acrescentados instrumentos de sopro. Os instrumentos básicos são cavaquinho, violão, pandeiro, surdo tamborim, tantã, bandolin.