salve, geral!

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Nesta quinta edição do SALVE, GERAL! trazemos o caderno Especial Universidade tendo em vista as ultimas mobilizacoes em torno dessa pauta. Informe-se e se mobilize!- ORÇAMENTO: Uma caixa preta na São Francisco- PERMANÊNCIA ESTUDANTIL e a greve na Unesp- ASSÉDIO NO ESTÁGIO: entrevista com o coletivo Yabá- DISSONANTE: O ProUni é uma politica acertada para o ensino superior brasileiro?- COTAS: colorindo a universidade- MURAL DA VERDADE: Comissão da verdade da USP sofre golpe da reitoria

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  • Edio 4 [2013] PrimEira QuinzEna dE maio

    CanTo GEraL

    Salve, geral!

    Canto Geral

    Quinta Edio

    Especial Un

    iversidade

    Oramento:Uma caixa preta na So Franciscopgs. 2 e 3

    Assdio no estgio:Entrevista coletivo Yabpg. 5 Dissonante:O ProUni uma poltica acertada para o ensino su-perior brasileiro?pgs. 6 e 7Cotas:Colorindo a Universidadepgs. 8 e 9Mural da Verdade:Comisso da Verdade da USP sofre golpe da Reitoriapg. 10

    Permanncia estudantile a greve na Unesp pg. 4 Mobilize-se:

    - ATO contra o aumento das passagens

    QUINTA (06/06) 17hConcentrao:

    Teatro Municipal

    - EVENTO Visibilidade no universo LGBTT

    QUARTA (05/06) 19hPateo Arcadas

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    jornal Salve, Geral!

    Oramento: Uma Caixa Preta Na So Francisco Faltam informaes disposio da comunidade acadmica acerca do oramento da So Francisco. Pouco sabemos sobre as verbas que recebemos e a forma como so estabelecidas as prioridades de alocao desses recursos na faculdade. Para aqueles que vivem cotidianamente os espaos da faculdade, clara a demanda por investimento nas salas de aula, no bandejo e na pr-aluno, por exemplo. Por que, ento, no so destinados recursos para resolver esses problemas estruturais? Ser que o Estado de So Paulo no tem condies de arcar com a USP ou ns que no temos uma forma efetiva de influenciar as decises oramentrias da Universidade? Vamos aos fatos. O Regimento Geral da USP versa que ao Conselho Tcnico-Administrativo (CTA) das unidades compete aprovar o oramento de suas respectivas unidades, no entanto h anos que o CTA da Faculdade de Direito no delibera sobre o seu prprio oramento. De que forma ento se escolhe a destinao dos recursos pblicos na faculdade? Antnio Roque Dechen graduado em engenharia agronmica com mestrado e doutorado em Agronomia na rea de Solos e Nutrio de Plantas pela USP ESALQ em Piracicaba, onde atua como professor desde 1981(www.usp.br). H anos ele se renova no cargo de Vice-reitor Executivo de Administrao e uma de suas atribuies assessorar os sucessivos reitores atravs da COP (Comisso de Oramento e Patrimnio), que compe desde 1986. Essa Comisso define anualmente a verba destinada a cada unidade da universidade, bem como a porcentagem para cada setor de investimento (infraestrutura, segurana). Assim, o Vice-reitor acaba tendo grande influncia na estruturao do oramento da USP, que bastante centralizada e distante das prprias unidades. Como pode algum em outra cidade, com outra graduao ter mais influncia na determinao de nossas necessidades estruturais

    2

    e poltico-pedaggicas que o prprio CTA da faculdade, o qual, contrariamente competncia que lhe estabelecida pelo prprio regimento da universidade, no apresenta nossas demandas COP ou sequer discute tal questo? Para onde esta forma de fazer a gesto financeira da Universidade est nos levando? Essa forma extremamente centralizada e carente de dilogo no permitiu que a evoluo do oramento da USP se refletisse na melhor alocao dos seus recursos. Se em 2005 o montante recolhido pelo ICMS junto ao governo estadual era de R$ 1,858 bilhes, hoje j ultrapassa R$ 4,305 Bilhes (Lei de Diretrizes Oramentria ALESP). Em outras palavras, temos recursos para sustentar, hoje, 1,3 USPs a mais em relao a 2005. No entanto, ainda grave o problema da permanncia estudantil faltam bolsas e moradia adequada aos estudantes e as salas de aula e de estudo permanecem em pssimas condies. Esse processo tem um efeito de bola de neve e generalizado no ensino superior paulista, culminando com o encerramento da USP, UNESP e UNICAMP em 2012 com R$ 6 bilhes em caixa. Outro ponto importante para entendermos como o oramento da faculdade obscuro para os e as estudantes e o todo conjunto da comunidade uspiana o da subutilizao de alguns Editais. S este ano os Editais destinados ao desenvolvimento do espao fsico dos cursos de graduao destinaram para a FD mais de R$ 1,135 milhes os quais, no fosse a atuao da Representao Discente, seriam completamente perdidos. Alm disso, o valor por eles destinado Faculdade vem diminuindo gradativamente pela sua no utiliza-o. Neste contexto, em que de um lado o CTA no delibera sobre o oramento e de outro ou por isso mesmo os estudantes no participam da forma como ele feito, que na ltima Assembleia dos Estudantes realizada pelo XI de Agosto foi encaminhada a criao de uma comisso paritria

    Primeira Quinzena de Junho [2013] Edio 5

    Bilhes de rea

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    Oramento: Uma Caixa Preta Na So Francisco 3de transparncia e oramento da FDUSP e uma audincia pblica sobre a questo. Tal deliberao se coloca enquanto um importante norte de um movimento estudantil que pretenda influenciar de fato os rumos da So Francisco. Apenas quando as e os estudantes se apropriarem do oramento pblico que conseguiro colocar suas necessidades e prioridades na ordem do dia. Hoje, mostra-se evidente a necessidade de melhorias nas salas de aula, reforma dos elevadores e ampliao do bandejo, por exemplo. A democracia na gesto dos gastos da faculdade vital para elencarmos nossas prioridades de aplicao.

    Edio 5 [2013] Primeira Quinzena de Junho

    Entendendo o ICMS

    O Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios arrecada de operaes relativas comu-nicao, circulao de mercadorias e sobre presta-es de servios de transporte . Sendo classificado como ad valorem, ou seja, expresso em percen-tual, incide em maior parte sob a populao pobre, visto que tributa bens essenciais sobrevivncia como alimentos e roupas. As universidades pblicas em So Paulo so mantidas com o repasse de 9,57% da cota-parte do Tesouro estadual deste imposto. A cota-parte do Es-tado equivale a 75% da arrecadao. Os 25% restan-tes so distribudos entre os municpios. A USP fica com 5,0295%. A Unicamp recebe 2,1958%; e a Unesp fica com 2,3447%. No ano de 2012 a arrecadao do ICMS atingiu seu recorde, correspondendo a cerca de R$ 330 bilhes de reais.Oramento da USP

    Bilhes de rea

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    00,5 20072005 2006 2008 2009 2010 2011 2012 20131

    1,522,53

    3,544,55

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    jornal Salve, Geral!

    Permanncia estudantil e a greve na UNESP4 Das trs universidades paulistas, a UNESP cer-tamente a que tem apresentado maiores dficit de auxlio estudantil para alunos de baixa renda situa-o agravada pelo fato de ser justamente a UNESP a universidade estadual paulista que conta com maior nmero de estudantes de baixa renda. A falta de cuidado com a permanncia estudantil, o sucatea-mento da infraestrutura da universidade e a preca-rizao das relaes de trabalho dos terceirizados, problemas latentes hoje na UNESP, so rebatidos pela reitoria com o argumento da falta de recursos financeiros. O debate acerca da falta de recursos s uni-versidades deve ser precedido de uma maior dis-cusso. Em primeiro lugar, a participao da comu-nidade acadmica, tanto na elaborao como no conhecimento da alocao de gastos e prioridades de investimentos hoje inexistente. Nesse sentido, qualquer reivindicao por melhoria do ensino, da infraestrutura, da pesquisa, da extenso e da per-manncia sempre limitada resposta tecnicista da falta de recursos, uma vez que pouco se conhece os motivos e prioridades que as verbas so utilizadas. Alm disso, a diviso (desproporcional) das verbas de financiamento das trs universidades es-taduais paulistas. Basicamente, as estaduais so fi-nanciadas pelo ICMS do estado. Estudo de 2006 re-vela que, no total de 9,57% do ICMS que foram para as trs universidades, 2,3447% foram destinados UNESP, 2,1958% foram para a UNICAMP e 5,0295% para a USP. Alm disso, as trs universidades pbli-cas paulistas - USP, Unesp e Unicamp - encerraram o ano fiscal de 2012 com R$ 6 bilhes em caixa sem qualquer utilizao. Nesse cenrio, em 17 de abril estudantes da UNESP-Ourinhos comearam a se organizar com fins de mobilizar a comunidade acadmica. Alm da in-fra-estrutura inadequada, este Campus tem polticas de permanncia quase zero, alm de atrasos de pa-gamento das escassas bolsas que possuem. J em Marlia a mobilizao teve como pau-ta o no atendimento da demanda pelo Restaurante Universitrio (RU), superlotao da moradia estu-dantil, agravada ano aps ano, falta de professores e cortes de verbas de projetos de extenso. A pres-so estudantil, por meio de manifestao e greve, fez

    com que, aps duas reunies abertas da Congrega-o da Unidade, recebessem da direo da Faculda-de promessa de ampliao do RU. Em Assis, o movimento comeou no final de Abril. Os alunos reivindicam a construo de um blo-co para o curso de biologia e melhorias nas moradias, ampliao do Restaurante Universitrio e um bloco apenas para a biblioteca, pois quando chove o espa-o fica alagado e chega a molhar os livros. Em Arara-quara, onde os alunos paralisaram as atividades no dia 30 de Abril, o movimento pede ainda a reverso da expulso de cinco estudantes da moradia estu-dantil da Unesp. Em 17 de maio cerca de 700 estudantes ma-nifestaram na frente da Reitoria da UNESP em So Paulo: esta manifestao conquistou uma reunio com a direo para discutir processos de sindicncias contra alunos da Unesp de Araraquara e da Unesp de Franca que realizaram protesto em palestra do prn-cipe Dom Bertrand. Alm das discusses e assem-blias estudantis, os trabalhadores das trs estaduais paulistas tambm se organizaram a fim de levar suas demandas por melhores condies salariais e de tra-balho. As reivindicaes da comunidade acadmi-ca unespiana levantam questionamentos que ultra-passam a situao por eles vivenciada e refletem a dinmica de todo o ensino superior paulista. A despreocupao com a permanncia estudantil, o sucateamento da infraestrutura e as terceirizaes trabalhistas no podem ser realidades de universida-des que pretendem ser de qualidade. As similarida-des das situaes vivenciadas nas trs universidades refletem a necessidade de atentarmos estrutura em que o ensino superior paulista est colocado para que possamos modific-la por meio da participao de toda a comunidade acadmica nas tomadas de deciso, como votaes paritrias para os rgos gestores e ensino, pesquisa e extenso verdadeira-mente crticos e por efetivas polticas de permann-cia que faam das universidades fato pblicas.

    Primeira Quinzena de Junho [2013] Edio 5

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    5Entrevista com coletivo Yab: assdio nos estgiosH duas semanas atrs foi realizada a semana do estgio pelo XI de Agosto. Entretanto, quando falamos de estgio, um tema recorrente na realidade das estudantes deixado de lado: o assdio sexual sofrido no estgio. Por isso realizamos uma entrevista com o coletivo feminista Yab, da PUC, que est tocando a Campanha pelo Fim do Assdio no Estgio e na Universidade.

    1. Por que vocs elencaram a questo do assdio no estgio enquanto pauta prioritria? A ideia sobre a Campanha Contra o Assedio no Estgio e na Universidade surgiu quando soubemos do ocorrido com a estudante de direito da PUC SP Viviane Alves. Vivi era estagiria do escritrio de advocacia Machado, Meyer, Sendacz, Opice e, alguns dias depois da festa de final de ano, suicidou-se deixando notas em que dizia que teria sido estuprada nesta. O fato ainda no pde ser comprovado, porm o que nos chocou foi a total negativa de todos, tanto da sociedade, quanto dos estudantes e de seus colegas de estgio, de que possivelmente ela poderia ter sido estuprada ou assediada por algum de seu estgio, como seu chefe.Ainda se negam a acreditar que o agente do assedio so pessoas prximas vtima ou homens bem sucedidos financeiramente. Porm, sabemos que esta a realidade da maioria dos casos de violncia sexual e assdio. No caso do estgio, optamos por ser nossa pauta prioritria por estarmos cotidianamente inseridas neste cenrio. Somos estudantes de direito e o estgio visto como um complemento ao nosso curso. Quase todas as mulheres estagiam, assim como quase todas que estagiam j passaram por algum caso de assdio. Porm muitas vezes no sabem que se trata de assdio ou no tm a quem recorrer. Alm do estgio, ns, estudantes, ainda temos que lidar cotidianamente com assdios vindos de professores ou homens que ocupam grandes cargos na Faculdade, como piadas e comentrios machistas sobre nossos corpos a convites inescrupulosos. Muitas meninas se veem acuadas com este tipo de atitude: ou se calam, ou mudam de professor, sem enfrentar o problema.

    2. O fato que desencadeou a campanha recorrente? Vivi queixava-se de estar sofrendo assdio antes mesmo da festa de final de ano. Isto muito recorrente. A diferena que muitas meninas no sabem que se trata de assdio. Por exemplo, muito recorrente ouvir que o chefe de algum fez

    3. Como a campanha vem repercutindo? Comeamos a campanha no comeo deste ano. J montamos um blog (campanhaxassedio.wordpress.com), para que as denncias sejam publicizadas e um e-mail ([email protected]) para que as vtimas possam as enviar.Todas as denncias sero annimas, assim como no publicaremos os nomes dos escritrios ou das pessoas, pela proteo da vtima. O blog servir como forma de visibilizao da recorrncia dos casos de assdios e como forma de orientar as vtimas. Tambm montamos uma cartilha informativa sobre a campanha, em que explicamos o que assdio e onde a vtima poder procurar ajuda, assim como uma mesa de debates na PUC.Como ainda est no comeo, houve pouca repercusso. Nossa ideia era dar o salto inicial para a campanha, mas que outros coletivos feministas e mulheres se incorporassem sua construo. Por isso, estamos convidando todas a nos procurar e a construir a campanha conjuntamente. Marcaremos e divulgaremos reunies de planejamento, em que esperamos a participao de todas!

    uma cantada ou um comentrio ntimo. Muitas meninas ficam constrangidas, mas apenas riem, achando que normal. Alguns escritrios, para contratar estagirios, pedem que sejam enviadas fotos junto com o curriculum vitae. Porque eles precisam de nossas fotos? No final, somos contratadas pela nossa aparncia e no por nosso mrito profissional ou acadmico, como se servssemos, para alm de mo de obra, como instrumentos de decorao para os clientes, j demonstrando como seremos tratadas nestes ambientes. A prpria campanha fez com que nos dssemos conta de como o assdio est presente na vida das estudantes. A partir da conscientizao do que o assdio, conseguimos perceber assdios e casos de machismo que antes passariam despercebidos por ns. O assdio recorrente, o problema que invisibilizado ou ignorado.

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    O ProUni uma poltica acertada para o ensino superior brasileiro?No O debate em torno da efetividade do PROU-NI enquanto poltica para o ensino superior brasileiro requer, preliminarmente, que sejam fixadas algumas premissas. Em primeiro lugar, a de que democratiza-o da educao vai muito alm de garantir acesso ao ensino superior. Significa, entre outras coisas, acesso a um ensino formador no de tcnicos para o mer-cado de trabalho, mas de cidados, de pessoas com capacidade crtica e reflexiva. Democratizar tambm significa garantir permanncia estudantil, ou seja, ga-rantir que o estudantes no abandonem seus cursos em funo de adversidades econmicas. Em segundo lugar, preciso rechaar a ideia de que o programa a nica medida vivel para garantir o acesso dos filhos dos trabalhadores nas universidades. Fazendo uma analise baseada nessas premissas podemos no-tar que o Prouni, alm de ser uma politica insuficien-te, vai na contramo dessas premissas, conforme se demonstrar neste texto. Elaborado no contexto da reforma univesit-ria levada cabo pelo governo Lula, o programa teve sua iniciativa calcada nos interesses dos lobbys dos grandes grupos de educao privada, interessados em expandir seus negcios sem reduo de lucros ou investimentos arriscados- necessrio ressaltar que o PROUNI nunca foi uma demanda dos movimentos sociais de educao, que sempre defenderam educa-o pblica, gratuita e de qualidade. Coube ao gover-no federal a engenharia administrativa para garantir esses interesses e ao mesmo tempo no despender recursos em educao, mantendo intocada as metas de supervit primrio e a austeridade em gastos so-ciais. O governo ento implementa isenes fiscais para os grupos financeiros de educao e perdoa d-vidas bilionrias desses mesmo setores em troca da concesso de bolsas para estudantes. O que se tem que j na gnese do PROUNI percebe-se que no foi uma poltica pensada para de fato democratizar a educao, mas sim para expandir e garantir a lucra-tividade daqueles cuja mercadoria a educao. No prprio andamento da proposta fica claro a quem os interesses realmente atendem, uma vez que os be-neficios para as empresas privadas de ensino foram aumentando e as garantias de acesso foram cada vez mais sendo tolhidas. Mantendo a lgica privatizante do ensino vi-

    gorante a partir da dcada de 1990, o programa ainda traz um falsa noo de democratizao, uma vez que legitima uma odiosa estratificao dos estudantes por camada social, de acordo com a que tipo de insituies eles possuem acesso: aos mais pobres, as instituies privadas de qualidade duvidosa; aos mais abastados, as universidade pblicas como a USP, verdadeiro cen-tro de excelncia. De fato, no existem mecanismos de controle democrtico da qualidade do ensino que fornecido aos bolsistas, tampouco medidas enrgicas do governo para fiscalizar as instituies beneficirias. Sem essa fiscalizao as garantias dos prounistas so freqentemente violadas. Sintomtico que o progra-ma no preveja qualquer poltica de permanncia para estudantes, como bolsa-aluguel ou auxlio transporte, ainda mais necessrias quando se tem em vista as con-dies scio-econmicas dos estudantes. Nesse senti-do,- e levando-se em considerao a elevada evaso escolar no Brasil- o PROUNI ineficiente at mesmo como medida assistencialista. Lamentvel tambm as poucas informaes que o MEC disponibiliza, como o total de bolsas concedidas s empresas privadas, quais so os institutos privados que aderiram ao programa, quais bolsas so integrais ou permanentes, os perfis dos atendidos pelo programa, a taxa de evaso e o de-sempenho dos prounistas. Mais eficiente e verdadeiramente democrati-zante seria o investimento no setor pblico, destino mais apropriado dos recursos pblicos, e no para o bolso de grandes empresrios.Todavia, o governo do PT e seus ministros da educao optaram por manter a mesma orientao privatizante dos governos ante-riores e, no lugar de promover direitos, concede be-nefcios fundados na misria do possvel para os mais pobres, e lucro garantido para os empresrios da edu-cao. O ProUni mostra que o governo do PT no foge da mesma politica neoliberal da dcada de 1990, dei-xando direitos e garantias do povo nas mos de em-presas privadas. E sempre que isso acontece, bem sa-bemos que o povo acaba sem direito algum.

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    O ProUni uma poltica acertada para o ensino superior brasileiro? O ProUni uma poltica acertada para o ensino superior brasileiro?Sim Institucionalizado pela Lei 11.096/05, o ProUni parte integrante do Plano de Desenvolvimento da Edu-cao, ao lado do FIES e do ReUni, e foi institudo pelo ento Ministro da Educao, Fernando Haddad, poca do primeiro mandato do Lula. Basicamente, o programa permite que jovens egressas/egressos do Ensino M-dio e com baixa renda familiar, que hoje estabelecida como igual ou inferior a meio salrio mnimo per cap-ta, entrem em instituies privadas de Ensino Superior com bolsas que vo de 50% at 100%. Em contraparti-da, as instituies de Ensino Superior ganham isenes fiscais. Aps quase uma dcada de sua implementao, cabe um balano do que tem sido o programa. Uma das grandes polmicas envolvendo o ProUni consiste no questionamento acerca do uso indi-reto do dinheiro pblico para financiar o setor privado de educao. No entanto, ao se analisar mais a fundo a lei, percebe-se que na verdade foi feita uma regula-mentao da iseno fiscal sobre a contribuio para a seguridade social s entidades beneficentes, algo que j era assegurado pela Constituio Federal de 1988, em seu artigo 195, 7. Desde a CF/88, toda entidade bene-ficente - grosso modo, aquelas que prestam servios de assistncia social - gozam de imunidades tributrias que deveriam ser regulamentadas por lei posterior, algo que s foi feito pela implementao do ProUni, que exigia, para essa iseno de impostos, a contrapartida da cria-o de vagas com bolsas parciais e integrais na propor-o de 1 a cada 20,7 estudantes, no caso das parciais, e 1 a cada 22 estudantes, no caso das integrais. Alm disso, o ProUni no deve ser olhado em separado com o resto dos programas educacionais do governo federal nos ltimos 10 anos. O ProUni, desde sua criao, dava bolsa com base na nota obtida pelo ENEM, que, em 2005, deixou de ser meramente uma prova de avaliao nacional para ser tambm uma pro-va de vestibular para algumas universidades, e, a par-tir de 2009, passou a ser uma prova unificada para o ingresso em todas as universidades federais brasileiras. Ademais, o FIES e o ReUni so importantes programas do PDE, bem como, respectivamente, medidas de fi-nanciamento estudantil e ampliao das universidades federais. Essas medidas conjuntas quadruplicaram as vagas, alm de terem democratizado muito o acesso ao Ensino Superior brasileiro. No entanto, mesmo com essa democratizao no acesso atravs de tais bolsas, h graves problemas na assistncia estudantil para alunas e alunos prounis-

    tas, que se manifesta no ndice de 15% de evaso dessas e desses estudantes. As universidades privadas nas quais essas/esses bolsistas do ProUni estudam tm pouca ou ne-nhuma poltica de permanncia, tanto que a maioria no dispe de restaurante universitrio e tampouco de moradia estudantil. De parte do governo, o projeto da Bolsa Permann-cia contempla apenas as alunas e os alunos de cursos com carga horria acima de 6h/dia, deixando desamparada par-cela considervel dos e das estudantes. O valor da bolsa, na ordem de R$ 300, insuficiente para garantir o sustento dos bolsistas sem que precisem trabalhar para complementar a renda familiar. E o prprio trabalho se torna uma opo pouco vivel, j que aumenta o risco de perda da bolsa por conta das altas exigncias de aproveitamento acadmico. Nesse cenrio, crescente a importncia de discusses como a do Passe Livre no transporte pblico para os ProU-nistas, a qual possui projeto em tramitao na Cmara Mu-nicipal de So Paulo. O desconhecimento sobre as condies de manu-teno das bolsas do ProUni e sobre as prprias polticas de assistncia estudantil relacionadas ao programa uma realidade para muitos e muitas estudantes. Essa situao acaba gerando um conjunto de mitos que pressionam as/os bolsistas e comprometem sua permanncia no Ensino Superior. Ao mesmo tempo, praticamente inexistente a organizao dos ProUnistas para debater e disputar cole-tivamente as condies do programa e outras comisses, como as Comisses Locais de Acompanhamento e Controle Social do ProUni, colegiados pensados para o aperfeioa-mento do programa, mas so desconhecidas da maioria das e dos estudantes e, em muitos casos, sequer existem nas universidades. Portanto, ainda que com problemas, podemos ve-rificar que o ProUni foi um programa vitorioso em tentar ampliar o acesso ao Ensino Superior. Cabe agora ratificar as conquistas com a manuteno daqueles e daquelas que conquistaram suas vagas. Isso se d por meio de polticas de permanncia que atendam s demandas especficas das/dos prounistas, com fins a faz-los melhor aproveitar o seu curso na universidade, sem que isso signifique um emprego precoce e baixas condies financeiras. No que se refere possibilidade de engrandecimento do capital privado, pode-mos afirmar que o ProUni significou uma regulamentao da iniciativa privada, desmistificando uma das maiores crti-cas em relao ao programa.

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    Cotas - Colorindo a universidade8 De acordo com pesquisa realizada pelo IBOPE, 62% da populao paulista se posiciona favorvel a cotas com critrios racial, econmi-co e de origem escolar. Esta opinio geral da populao fru-to do amplo debate que tem mobilizado mo-vimentos e sociedade civil ao menos desde a redemocratizao quando do surgimento do Movimento Negro Unificado em 1979. As co-tas foram tema III Conferncia Mundial contra o Racismo, a Discriminao Racial, a Xenofo-bia e as Formas Conexas de Intolerncia - em Durban, frica do Sul, organizada pela ONU em 2001 - , e ganharam fora no Brasil em 2003, com a implantao de cotas raciais na UERJ. Fruto de todo este processo de mobili-zao e debate, em abril do ano passado, o STF declarou por unanimidade a constitucionali-dade das cotas raciais atravs da ADPF 186, tal entendimento se consolidou ainda em outubro de 2012 quando o Congresso Nacional aprovou a Lei de Cotas. Em outras palavras, as cotas, antes de uma concesso, so o fruto de um longo e profundo debate ocorrido em toda a sociedade. Porm, h mais de 20 anos gover-nado pelo PSDB, So Paulo permanece refrat-rio e atrasado no debate. Prova disso que a revelia de todo este amplo e longo debate o governo do estado, atravs do Conselho de Reitores das Universi-dades Estaduais Paulistas, formulou o Progra-ma de Incluso com Mrito do Estado de So Paulo (PIMESP). A proposta impressiona pelas estatsticas e projees numricas sem fontes. No entanto, deixa claro que os alunos ingres-sariam numa das trs universidades se obtive-rem, no fim do segundo ano do College, uma nota media de sete ou maior. Em poucas pala-vras o PIMESP na verdade uma tentativa de evitar a entrada dos cotistas, pois pressupe que alunos de baixa renda tenham condio financeira e disposio de ficar dois anos na geladeira antes de conquistarem um direito amplamente legitimado pelo conjunto da so-ciedade. Com este entendimento a Congrega-

    o da nossa Faculdade de Direito posicionou--se favorvel s cotas e contraria ao PIMESP. A So Francisco no a nica unidade uspiana a ter se posicionado contrariamente ao PIMESP, tal foi o posicionamento de diver-sas outras, entre elas a Faculdade de Medicina e a Escola Politcnica. A rigor, a nica univer-sidade pblica paulista que assentiu o projeto foi a UNESP, em que foi aprovado sem um real debate pblico pelo seu Conselho Universitrio, onde os dficits democrticos so os mesmos que os nossos. Inclusive, uma das bandeiras le-vantas pela greve nesta universidade a rejei-o ao PIMESP. Seguindo a luta pela implementao de cotas nas universidades estaduais paulis-tas diversas entidades do movimento negro, da sociedade civil e juristas dedicados ao tema articulados na Frente Pr Cotas de So Paulo organizaram um Projeto de Lei de Iniciativa Po-pular com o intuito de fazer frente ao PIMESP e democratizar de fato o ensino superior no esta-do. Segundo o PL, sero reservadas 25% de vagas a candidatos autodeclarados negros e in-dgenas conforme a metodologia adotada pelo IBGE, 25% para estudantes de escola pblica, sendo que deste percentual 12,5% sero para candidatos cuja renda familiar inferior a 1,5 salrios-mnimos e 5% para candidatos com de-ficincia, nos termos da legislao em vigor. O Projeto de Lei reconhece que as cotas como uma medida de reparao histrica, e que por isso no devem ser perenes, delimitando a durao da ao afirmativa por 10 anos. Ao fim desse tempo, a necessidade e as limitaes da lei sero rediscutidas. Um ponto importants-simo que o PL assegura ao cotista polticas necessrias a sua permanncia na universida-de, como, por exemplo, habitao, transpor-te, alimentao e acessibilidade. Hoje, com a ampliao do ensino universitrio pblico no pas, a demanda por polticas de permanncia estudantil aumenta, sendo um dos objetos da greve das Federais em 2012 e da atual greve da

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    Cotas - Colorindo a universidade 9UNESP. O projeto prev tambm uma Comisso Permanente de Ao Afirmativa composta de forma paritria por representantes das institui-es de ensino, do corpo docente, do corpo dis-cente e das organizaes e movimentos sociais que representem os interesses dos grupos be-neficiados para acompanhar sua implantao.

    Mas afinal por que cotas?

    Quem melhor para responder esta per-gunta que uma histrica ativista do assunto? Neste sentido reproduzimos aqui resposta da Maria Jos Menezes, funcionria da USP e co-laboradora do Ncleo de Conscincia Negra da USP publicada na 1 edio do Salve, Geral:

    A questo no por que cotas?, mas cotas pra quem?. A sociedade brasileira ex-tremamente injusta e construda em cima de suas desigualdades. As cotas raciais se inserem em algo mais amplo que so as polticas afirma-tivas, voltadas para setores da sociedade que foram historicamente marginalizados, como os negros e os indgenas, em detrimento de suas importantes contribuies para o desenvolvi-mento econmico e social do pas. As cotas ra-ciais no vm como privilgio, mas como direito dessas populaes enorme divida que o Esta-do brasileiro tem conosco. O legado da escravido persiste nos dias de hoje, quando vemos no cotidiano o exter-

    A proposta da Frente Pr-Cotas, por ser de iniciativa popular, requerer cerca de 300 mil assinaturas e com o intuito contribuir com esta iniciativa e fomentar a discusso o Canto Geral contribuir com a coleta de assinaturas no s na faculdade, como tambm em esta-es de metr, terminais de nibus e locais de

    grande circulao, some-se a esta luta!

    mnio da juventude negra; a deteriorao da qualidade do ensino pblico, que ocorre de for-ma seletiva e acentuada nas periferias, onde a maioria da populao negra; no mercado de trabalho, que excluem negras/os, oferecendo piores salrios e postos de trabalho menos qua-lificados, mesmo tendo a mesma formao que brancas/os. Na sade, o atendimento quer p-blico, quer privado mais precrio a negras/os e o sistema de sade no leva em considerao os agravos desta populao. Enfim, poderamos elencar vrias razes para a adoo de cotas raciais, mas o simples olhar pelas salas de aula das universidades paulistas j responde por si.

    Edio 5 [2013] Primeira Quinzena de Junho

  • Primeira Quinzena de maio [2013] edio 4

    jornal Salve, Geral!

    MuraldaVerdade

    Comisso da Verdade e Direito&DitaduraComisso da Verdade da USP sofre golpe da Reitoria

    H mais de um ano, reagindo ao diagnstico de que a Universidade de So Paulo necessitava de um amplo processo de democratizao interna, as entida-des representativas da USP, os movimentos organizados, centros acadmicos e indivduos interessados fundaram o Frum Aberto pela Democratizao da USP. As discus-ses nesse Frum comearam se canalizar no fato de que a USP, por desconhecer o seu passado autoritrio, incorria em erros parecidos e resistia a processos mais radicais de democratizao. Frente a isso, professores, funcionrios e alunos se mobilizaram pela criao de uma Comisso da Verda-de da USP autnoma, democraticamente composta, e com condies efetivas de esclarecer as graves violaes de direitos humanos cometidas no mbito da USP pal-co privilegiado de represso poltica nos anos de chum-bo. Dessa mobilizao surgiu a campanha Por Uma Comisso da Verdade da USP, que colheu mais de 5000 assinaturas e que contou com diversos atos, dentre eles o Ato dos Juristas pela CVUSP, que aconteceu na FDUSP no primeiro semestre de 2012; estiveram pre-sentes, entre outros, Fbio Konder Comparato, Gilberto Bercovici e Srgio Salomo Shecaira. Reconhecendo o movimento iniciado pelo F-rum Aberto, a Reitoria se disps a iniciar uma rodada de negociaes para apreciar a proposta do movimento e instaurar uma CVUSP. Para isso, Rodas indicou um grupo de trs pessoas de sua confiana para negociar com o Frum, resultando numa srie de reunies entre reitoria e o Frum Aberto para viabilizar a CVUSP. Nas ltimas tratativas, o Frum Aberto props que uma moo fosse levada ao Conselho Universitrio (Co), e que poderia criar uma Comisso independente de atos da Reitoria, como portarias e ofcios. Porm, na ltima das negociaes (07/05/13), a equipe do reitor rompeu com a construo que havia sendo feita, e de-clarou que seria instaurada uma CV via portaria. A portaria do gabinete do reitor n 6172 de 2013, que institui uma Comisso da Verdade, na contra-mo do amplo movimento e engajamento acumulado h mais de ano na USP, no afirma a autonomia e in-dependncia da comisso em relao estrutura uni-

    versitria. Alm disso, aceita a requisio de informaes e documentos a todos os rgos universitrios, mas exclui a prerrogativa ento estabelecida de que mesmo aqueles atualmente classificados como sigilosos sejam assegurados. Por fim, ao invs de acatar os membros democraticamente eleitos pelas categorias da comunidade uspiana, a Reitoria nomeia sete docentes, excluindo as/os trabalhadoras/os, graduandas/os e ps graduandas/os, como at ento pre-visto, alm da paridade na nomeao dos quatro setores. O Frum pela Democratizao da USP no acredita que (i) a autonomia/independncia, (ii) a escolha democr-tica dos membros, (iii) e o acesso a todas as informaes que permaneceram sob sigilo at hoje sejam premissas que possam ser mudadas, por portaria reitoral, sem graves con-sequncias para o bom funcionamento da Comisso da Ver-dade da USP. Dentre os nomes indicados para a CV, a reitoria in-dicou para presidi-la o professor Dalmo Dallari. As manifes-taes decorrentes da portaria instituda pela Reitoria no se focam na capacidade dos nomes escolhidos, mas sim na forma como as nomeaes foram realizadas. Dentre os do-centes eleitos para a CVUSP do Frum Aberto, esto Fbio Konder Comparato e Marilena Chau. No se trata de um juzo de competncia entre Dallari e Comparato, mas sim de um juzo de legitimidade/democracia: Comparato foi eleito democraticamente pela categoria de professores, enquanto Dallari foi indicado de forma unilateral por Rodas. importante frisar que a Comisso da Verdade, que tem como um dos seus escopos a investigao de decretos e atos autoritrios realizados pela reitoria, no pode ser instituda de forma tambm autoritria, rompendo com o dilogo que vinha sendo travado. Nesse sentido, no se pode aceitar a instituio de uma comisso, que to cara ao avano da democracia, em moldes antidemocrticos e atabalhoados, que claramente no atendem s demandas da sociedade pela real busca pela memria, verdade, e justia. Ns, do Canto Geral, nos somamos s vozes que contestam essa nomeao e que esperam que a Comisso da Verdade da USP retome s suas razes e preze pela democracia e pela ampla participao de toda a comunidade acadmica para que, s assim, consiga investigar e apurar o passado autoritrio da nossa Universidade.

    Primeira Quinzena de Junho [2013] Edio 5