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SALVADOR, SÁBADO, 10 DE AGOSTO DE 2013 4e5 Prazer, Zezinho Cognome, codinome, alcunha, apelido. Qual é o seu? Você já pôs em alguém? PAULA MORAIS Tem gente que não gosta do que tem. Já outros guardam com carinho o que ganharam. Uma coisa é certa: todo mundo tem apelido ou já colocou em alguém. A professora de linguística da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) Celina Abadde disse que o termo “apelido” vem do latim appelittu e que serve para identificar uma pessoa, um animal ou objeto. “Nem sempre tem a ver com o nome. Mas, normalmente, lembra alguma característica da pessoa”. É feito de açúcar Jujuba, pirulito e chocolate sempre foram as guloseimas preferidas de Laís Ribeiro, 10. Foi daí que surgiu o apelido dela: Candy. Doce em inglês. O cognome foi dado pela prima mais velha. Laís disse que gosta. “É diferente por não ter a ver com meu nome. As pessoas sempre perguntam o motivo”. Ela contou que se acostumou tanto em ser chamada de Candy que já esqueceu o próprio nome. “A minha amiga me chamou de Laís e eu fiquei parada, me perguntando quem era”. É fofo, mas não infantil Artur Farias, 9, ganhou o apelido quando era bebê: Tuco. Ele disse que era fofo e as pessoas não paravam de apertar. Ele prefere ser chamado pelo apelido. Até se apresenta como Artur, mas o Tuco vem em seguida. “Acho amigável”. Artur falou que Tuco surgiu da ideia de Thuco. “Mas não ia ser chamado assim, porque parece infantil demais”. Sem anestesia Joaquim José da Silva Xavier era conhecido como Tiradentes. O apelido nada tinha a ver com o nome e, sim, com a profissão dele: dentista. Naquela época, no século 18, não existiam dentistas profissionais, escova ou fio dental. Então, a solução era tirar o dente dolorido. Tiradentes ajudou a fazer passar a dor de muita gente. NOME, SOBRENOME E APELIDO O nome Maria da Graça Meneghel foi por causa de uma promessa feita pelo pai na hora do nascimento à Nossa Senhora da Graça. Mas o apelido Xuxa foi dado à apresentadora pelo irmão dela, Bladimir. Xuxa gostou tanto que até foi à Justiça para acrescentar o apelido como um de seus sobrenomes. O resultado final foi Maria da Graça Xuxa Meneghel. Só vale se for legal Não é problema ter um apelido. O psicólogo Alessandro Marimpietri disse que é uma forma de criar uma relação de intimidade e carinho por alguém. Mas a pessoa precisa se identificar e sentir-se bem. O diálogo com a pessoa que coloca o apelido pode ser uma alternativa quando causa desconforto. Marimpietri falou que conversar antes com algum parente pode ser uma solução. “Os adultos podem participar por três motivos: quando o menino é muito pequeno, se o apelido for desagradável ou se existir uma diferença grande de força física ou psicológica entre quem coloca e quem recebe o apelido”. IGUAIS, MAS DIFERENTES Em alguns países da Europa, o apelido perde o sentido que tem no Brasil. Lá, ele significa sobrenome. A professora Celina explicou que isso tem a ver com a mudança de cada idioma e cultura. “Em países como Portugal e Espanha não existe a palavra ‘sobrenome’, mas, sim, apelido. Só que o sentido que ela representa lá não é igual ao daqui”. É como se o apelido do ex-jogador Edson fosse o Arantes do Nascimento, e não o Pelé. Ilustração Aziz

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Page 1: SALVADOR, SÁBADO, 10 DE AGOSTO DE 2013 Prazer ...desenvolverbahia.com.br/wp-content/uploads/2013/10/ape...SALVADOR, SÁBADO, 10 DE AGOSTO DE 2013 4e5 Prazer, Zezinho Cognome, codinome,

SALVADOR, SÁBADO,10 DE AGOSTO DE 2013 4e5

Prazer,ZezinhoCognome, codinome, alcunha, apelido.Qual é o seu? Você já pôs em alguém?

PAULA MORAIS

Tem gente que não gosta do quetem. Já outros guardam comcarinho o que ganharam. Umacoisa é certa: todo mundo temapelido ou já colocou em alguém.

A professora de linguística daUniversidade Estadual da Bahia(Uneb) Celina Abadde disse que otermo “apelido” vem do latimappelittu e que serve paraidentificar uma pessoa, um animalou objeto. “Nem sempre tem a ver

com o nome. Mas, normalmente,lembra alguma característica

da pessoa”.

É feito de açúcarJujuba, pirulito e chocolate sempre foramas guloseimas preferidas de Laís Ribeiro,10. Foi daí que surgiu o apelido dela:Candy. Doce em inglês.

O cognome foi dado pela prima maisvelha. Laís disse que gosta. “É diferentepor não ter a ver com meu nome. Aspessoas sempre perguntam o motivo”.

Ela contou que se acostumou tanto emser chamada de Candy que já esqueceuo próprio nome. “A minha amiga mechamou de Laís e eu fiquei parada, meperguntando quem era”.

É fofo, mas não infantilArtur Farias, 9, ganhou o apelido quando era bebê: Tuco.Ele disse que era fofo e as pessoas não paravam de apertar.Ele prefere ser chamado pelo apelido. Até se apresentacomo Artur, mas o Tuco vem em seguida. “Acho amigável”.Artur falou que Tuco surgiu da ideia de Thuco. “Mas não iaser chamado assim, porque parece infantil demais”.

Sem anestesiaJoaquim José da SilvaXavier era conhecidocomo Tiradentes. Oapelido nada tinha aver com o nome e, sim,com a profissão dele: dentista.Naquela época, no século 18, nãoexistiam dentistas profissionais, escovaou fio dental. Então, a solução era tiraro dente dolorido. Tiradentes ajudou afazer passar a dor de muita gente.

NOME, SOBRENOME E APELIDO

O nome Maria da Graça Meneghel foipor causa de uma promessa feita pelopai na hora do nascimento à NossaSenhora da Graça. Mas o apelido Xuxafoi dado à apresentadora pelo irmãodela, Bladimir. Xuxa gostou tanto queaté foi à Justiça para acrescentar oapelido como um de seus sobrenomes.O resultado final foi Maria da GraçaXuxa Meneghel.

Só vale sefor legalNão é problema ter umapelido. O psicólogoAlessandro Marimpietridisse que é uma forma decriar uma relação deintimidade e carinho poralguém. Mas a pessoaprecisa se identificar esentir-se bem.

O diálogo com a pessoaque coloca o apelido podeser uma alternativaquando causa desconforto.Marimpietri falou queconversar antes com algumparente pode ser umasolução.

“Os adultos podemparticipar por três motivos:quando o menino é muitopequeno, se o apelido fordesagradável ou se existiruma diferença grande deforça física ou psicológicaentre quem coloca e quemrecebe o apelido”.

IGUAIS, MAS DIFERENTES

Em alguns países da Europa, oapelido perde o sentido que tem noBrasil. Lá, ele significa sobrenome.A professora Celina explicou queisso tem a ver com a mudança decada idioma e cultura. “Em paísescomo Portugal e Espanha nãoexiste a palavra ‘sobrenome’, mas,sim, apelido.

Só que o sentido que elarepresenta lá não é igual ao daqui”.É como se o apelido do ex-jogadorEdson fosse o Arantes doNascimento, e não o Pelé.

Ilustração Aziz