salario igual para trabalho de igual valor x onus da...

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EFEMERIDES IGUALDADE SALARIAL SANDRA RIBEIRO Presidente da CITE - Comissao para a Igualdade no Trabalho e no Emprego de transparencia nos sistemas salariais empresariais. Por isso, ajurisprudencia do TJUE tem vindo a tentar esclarecer o alcance das disposic;:oes do Tratado e as leis secundarias da UE, que esta- belecem 0 principio da igualdade de remunerac;:ao entre homens e mulhe- res, no sentido de que "[ ... ] determi- nar igual valor consiste em comparar 0 trabalho de uma mulher e um homem por referencia as exigencias feitas so- bre ambos no desempenho das suas tarefas [ ... ] Essas exigencias deverao ser mensuradas atraves da habilidade, esforc;:o e responsabilidade exigidas, ou o trabalho realizado e a natureza das tarefas envolvidas no trabalho a ser horizontal direto que the e reconhecido, a sua aplicac;:ao e direta por qualquer cidadao ou cidada perante os tribunais nacionais, nao apenas em ac;:oes contra os Estados membros, mas tambem em casos individuais, que envolvam trabalhadores e trabalhadoras e entidades empregado- ras, devendo os tribunais nacionais toma- -10 em considerac;:ao como elemento de direito comunitario. No entanto, as disposic;:oes legais da UE sobre igualdade salarial, incluindo a Diretiva 2006/54/CE, relativa a aplica- c;:ao do principio da igualdade de opor- tunidades e igualdade de tratamento entre homens e mulheres em domini os ligados ao emprego e a atividade profis- sional (JO n. 0 L 204, de 26-07-2006), nao sao isentas de duvi- das e levantam va- rias questoes, mui- tas delas complexas, em particular no que diz respeito ao prin- cipio de salario igual para trabalho de igual valor - como levar entao a cabo a dificil tarefa de avaliar 0 valor dos dife- rentes tipos de trabalho? Efetivamente, a vertente mais complicada do princi- pio da igualdade salarial e, sem duvi- da, a verificac;:ao de salario igual para trabalho de igual valor, pois tal implica necessariamente a avaliac;:ao do conteu- do funcional do posta de trabalho e das diversas func;:oes que 0 constituem, 0 que e particularmente arduo, porque implica uma comparac;:ao entre postos de trabalho, e ainda e mais dificultado pelo facto de existir uma forte segrega- c;:ao profissional de genero no mercado de trabalho e uma generalizada falta PORTUGAL CELEBROU o DIA DA IGUALDADE SALARIAL A6 DE MARC:::O Salario igual para trabalho de igual valor x onus da prova o principio de salario igual para mulheres e homens foi consagrado na versao original do Tratado que instituiu a Comunidade Economica Europeia O principio de salario igual para mulheres e homens foi con- sagrado na versao original do Tratado que instituiu a Co- munidade Economica Euro- peia, por exigencia da Franc;:a, que na- quela data ja tinha adotado 0 principio da igualdade salarial na sua legislac;:ao nacional e, receando potenciais situac;:oes de concorrencial desleal, exigiu, face aos restantes paises que iriam integrar a CEE, a sua inclusao de forma expressa. Em 1976, 0 Tribunal de Justic;:a, no Caso Dreffene II (C43175), pela primeira vez, vem reconhecer ao entao artigo 119 EEC, hoje artigo 157 do TFEU, um esco- po nao apenas economico mas tambem de protec;:ao social, numa perspetiva de progresso social e melhoria das con- dic;:oes laborais e do nivel de vida. Mais tarde, na decisao do Caso Schroder (C- 50/96), 0 TFEU veio expressamente de- fender que 0 objetivo de protec;:ao social previsto no artigo 157. 0 e principal, face ao objetivo economico, que deve ser secundarizado, e clarificou ainda que 0 principio da igualdade salarial e expres- sao de um direito fundamental basilar, 0 direito a igualdade de tratamento entre homens e mulheres. o artigo 157. 0 do TFUE determina que os homens e as mulheres tem direito a salario igual para trabalho igual ou de igual valor e tem side uma pec;:a funda- mental na implementac;:ao do principio da igualdade salarial, quer relativamente as discriminac;:oes diretas, quer as discri- minac;:oes indiretas, pois, dado 0 efeito 64 MARC;:O/ABRIL 2014 Ordem dos Advogados

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EFEMERIDES

IGUALDADE SALARIAL

SANDRA RIBEIROPresidente da CITE - Comissao para a Igualdade no Trabalho e no Emprego

de transparencia nos sistemas salariaisempresariais. Por isso, a jurisprudenciado TJUE tem vindo a tentar esclarecero alcance das disposic;:oes do Tratadoe as leis secundarias da UE, que esta­belecem 0 principio da igualdade deremunerac;:ao entre homens e mulhe­res, no sentido de que "[...] determi­nar igual valor consiste em comparar 0

trabalho de uma mulher e um homempor referencia as exigencias feitas so­bre ambos no desempenho das suastarefas [...] Essas exigencias deveraoser mensuradas atraves da habilidade,esforc;:o e responsabilidade exigidas, ouo trabalho realizado e a natureza dastarefas envolvidas no trabalho a ser

horizontal direto que the e reconhecido,a sua aplicac;:ao e direta por qualquercidadao ou cidada perante os tribunaisnacionais, nao apenas em ac;:oes contra osEstados membros, mas tambem em casosindividuais, que envolvam trabalhadorese trabalhadoras e entidades empregado­ras, devendo os tribunais nacionais toma­-10 em considerac;:ao como elemento dedireito comunitario.

No entanto, as disposic;:oes legais daUE sobre igualdade salarial, incluindo aDiretiva 2006/54/CE, relativa a aplica­c;:ao do principio da igualdade de opor­tunidades e igualdade de tratamentoentre homens e mulheres em dominiosligados ao emprego e a atividade profis-

sional (JO n. 0 L 204,de 26-07-2006), naosao isentas de duvi­das e levantam va­rias questoes, mui­tas delas complexas,

em particular no que diz respeito ao prin­cipio de salario igual para trabalho deigual valor - como levar entao a cabo adificil tarefa de avaliar 0 valor dos dife­rentes tipos de trabalho? Efetivamente,a vertente mais complicada do princi­pio da igualdade salarial e, sem duvi­da, a verificac;:ao de salario igual paratrabalho de igual valor, pois tal implicanecessariamente a avaliac;:ao do conteu­do funcional do posta de trabalho e dasdiversas func;:oes que 0 constituem, 0

que e particularmente arduo, porqueimplica uma comparac;:ao entre postosde trabalho, e ainda e mais dificultadopelo facto de existir uma forte segrega­c;:ao profissional de genero no mercadode trabalho e uma generalizada falta

PORTUGAL CELEBROUo DIA DA IGUALDADE

SALARIAL A 6 DE MARC:::O

Salario igual paratrabalho de igual valor

x onus da provao principio de salario igual para mulheres e homens foiconsagrado na versao original do Tratado que instituiu

a Comunidade Economica Europeia

Oprincipio de salario igual paramulheres e homens foi con­sagrado na versao original doTratado que instituiu a Co­munidade Economica Euro­

peia, por exigencia da Franc;:a, que na­quela data ja tinha adotado 0 principioda igualdade salarial na sua legislac;:aonacional e, receando potenciais situac;:oesde concorrencial desleal, exigiu, faceaos restantes paises que iriam integrara CEE, a sua inclusao de forma expressa.

Em 1976, 0 Tribunal de Justic;:a, noCaso Dreffene II (C43175), pela primeiravez, vem reconhecer ao entao artigo 119EEC, hoje artigo 157 do TFEU, um esco­po nao apenas economico mas tambemde protec;:ao social,numa perspetivade progresso sociale melhoria das con­dic;:oes laborais e donivel de vida. Maistarde, na decisao do Caso Schroder (C­50/96), 0 TFEU veio expressamente de­fender que 0 objetivo de protec;:ao socialprevisto no artigo 157. 0 e principal, faceao objetivo economico, que deve sersecundarizado, e clarificou ainda que 0

principio da igualdade salarial e expres­sao de um direito fundamental basilar, 0

direito a igualdade de tratamento entrehomens e mulheres.

oartigo 157. 0 do TFUE determina queos homens e as mulheres tem direito asalario igual para trabalho igual ou deigual valor e tem side uma pec;:a funda­mental na implementac;:ao do principioda igualdade salarial, quer relativamenteas discriminac;:oes diretas, quer as discri­minac;:oes indiretas, pois, dado 0 efeito

64 MARC;:O/ABRIL 2014 Ordem dos Advogados

Page 2: Salario igual para trabalho de igual valor x onus da …cite.gov.pt/asstscite/downloads/publics/Igualdade_sal...de 26-07-2006),nao sao isentas de duvi das e levantam va rias questoes,

executado". -:::: -Bar er); U[...]E: de funda""'e-:? - r.a cia garantira transpare~ ? e- -e a ao ao sistemade remu e-2.C2: §e-:e "as empresas,por for a a _= ~S -~ ais nacionaispossam Dr ~ e' 2. a. aliac;ao do cum­primento c : -c: a igualdade deremunerac2c -e?- a""'e e a cada ele­mento da ·e""' ~ -eracao e nao apenascom base ~-;l 2. a ac;:ao abrangentedo valor :Jas a 5 -rabalhadores" ((--381/99 - 'e' .

E e exa-a e -e a proposito da im­portancia a ra soarencia dos siste-mas de re erac;:ao para a decisaosobre se e-e ada diferenc;a sala­rial e jus i ca a por fatores objetivos

e estranhos a qualquer discriminac;aoem func;ao do sexo que se encontram asdecis6es do TJUE mais determinantesnesta materia sobre onus da prova, fun­damentais para a construc;ao da defesae decisao de qualquer caso de alegadadiscriminac;ao salarial em func;ao dogenero, designadamente U[...] quan­do uma empresa aplica um sistema deremunerac;ao com total falta de trans­parencia, 0 onus da prova so podenirecair sobre a entidade empregadora,para mostrar que a sua pnitica salarialnao e discriminatoria." ((109/88 Dan­foss); U[...] quando estatisticas signifi­cativas revelam uma diferenc;a sensivelde remunerac;ao entre duas func;6es de

igual valor, uma das quais realizadaquase exclusivamente por mulheres,it luz do artigo 157. 0 do Tratado temque caber ao empregador demonstrarque a diferenc;a se baseia em fatoresobjetivamente justificados, alheios aqualquer discriminac;ao em razao dosexo, no mesmo sentido" ((-236/98 ­JamO; (-17/05 - (adman; (-427/11 ­Kenny); Enderby ((-127/92).•

http://ec.europa.eu/justice/genderequality/files/dgjustice_eugenderequalitylaw_update_2010_final­24february2011_en.pdfhttp://ec.europa.eu/justice/gender-equality/gen­derpaygap/131209_directive_en. pdfhttp://www.parlamenLgv.atlPAKTIEU/XXv IEU/OO/56/EU_05621/imfname_10426498.pdf

Ordem dos Advogados MARC;:OIABRIL 2014 65I