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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA SABINA CABRAL VIEIRA PIRES HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO RIO GRANDE DO NORTE COMO FONTE DE INFORMAÇÃO Orientadora: Profª. MsC. RENATA PASSOS FILGUEIRA DE CARVALHO NATAL/RN 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA

SABINA CABRAL VIEIRA PIRES

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO RIO GRANDE DO NORTE COMO FONTE DE INFORMAÇÃO

Orientadora: Profª. MsC. RENATA PASSOS FILGUEIRA DE CARVALHO

NATAL/RN 2008

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SABINA CABRAL VIEIRA PIRES

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO RIO GRANDE DO NORTE COMO FONTE DE INFORMAÇÃO

Monografia apresentada à disciplina Monografia, ministrada pelas professoras Maria do Socorro Azevedo Borba e Renata Passos Filgueira de Carvalho para fins de avaliação da disciplina e como requisito parcial para conclusão do curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

NATAL/RN 2008

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Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte / Biblioteca Central Zila Mamede

Pires, Sabina Cabral Vieira. Histórias em quadrinhos no Rio Grande do Norte como fonte de informação / Sabina Cabral Vieira Pires. – Natal, RN, 2008. 42 p. : il. Orientador: Renata Passos Filgueira de Carvalho. Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Biblioteconomia. 1. Histórias em quadrinhos – Fontes de informação – Monografia. 2. Histórias em quadrinhos – Rio Grande do Norte – Monografia. 3. Fontes de informação – Monografia. 4. Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos – Monografia. I. Carvalho, Renata Passos Filgueira de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título RN/UF/BCZM CDU 025.5:82-93

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SABINA CABRAL VIEIRA PIRES

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO RIO GRANDE DO NORTE COMO FONTE DE INFORMAÇÃO

MONOGRAFIA APROVADA EM ____/____/2008.

Monografia apresentada à disciplina Monografia, ministrada pelas professoras Maria do Socorro Azevedo Borba e Renata Passos Filgueira de Carvalho para fins de avaliação da disciplina e como requisito parcial para conclusão do curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

BANCA EXAMINADORA

Profª. MsC. Renata Passos Filgueira de Carvalho (Orientadora)

Profª. MsC. Maria do Socorro de Azevedo Borba (Professora da disciplina)

Profª. Drª. Eliane Ferreira da Silva (Membro)

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Dedico esta monografia a meus pais,

José Bezerra Pires e Cilene Cabral

Vieira Pires, que sempre me

apoiaram e me incentivaram durante

esta trajetória de formação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me concedido por, duas vezes, o dom da vida.

Nasci e renasci. Saí de um mundo obscuro, incerto; para um cheio de luz, ao

ser acolhida por duas pessoas tão iluminadas: meus pais, José Bezerra Pires e

Cilene Cabral Vieira Pires. Na realidade, eles são mais do que pai e mãe... são

os meus anjos da guarda.

Ao meu tio, Nilton Bezerra Pires, que me incentivou e me apoiou nos

momentos mais importantes/críticos da minha vida.

À Doutora Viviane que, com toda sua paciência e carinho, soube me

ouvir e me aconselhar, em momentos tão conflitantes.

A Luiz Élson, integrante do GRUPEHQ, que muito contribuiu para a

realização deste trabalho.

As professoras do DEBIB, pela paciência e dedicação ofertada a mim,

ao longo desses anos. E, em especial, à professora e a minha orientadora

Renata Passos Filgueira de Carvalho, que soube me direcionar nos momentos

em que me encontrava ‘desorientada’, sempre chegando com uma palavra

amiga e fortalecedora.

Aos meus primos Sônia Lígia Bezerra e Domingos Sávio Andrade por

tamanha contribuição dada à realização deste trabalho.

À senhora Iracema Viana, esposa do saudoso Edmar Viana, por ter se

apresentado tão solícita, nos momentos em que precisei de sua ajuda.

A Ivan Cabral que tanto colaborou para que este trabalho ocorresse com

sucesso.

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Às irmãs Priscila Delgado e Samira que me deram um grande suporte

para a minha realização profissional.

Não poderia esquecer uma grande companheira, minha cadelinha

Bellinha, que muito sofreu com minha ausência e estresse na elaboração deste

trabalho, durante todo este período.

Aos meus amigos de sala que, após tantos encontros e desencontros,

também conseguiram concluir de forma majestosa uma etapa importantíssima

em nossas vidas.

Enfim, agradeço a todas as pessoas que, direta e indiretamente,

contribuíram de alguma forma para a concretização deste trabalho. Serei

eternamente grata!

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RESUMO As histórias em quadrinhos (HQs) exercem um grande fascínio sobre diversos leitores, de diversas faixas etárias, classes sociais e graus de instrução. No Rio Grande do Norte as HQs vem sendo utilizadas como uma forma de divulgar a história, os costumes, o modo de viver e a biografia de personalidades da região, se constituindo como uma fonte de informação. Esta Monografia enfatiza a importância das Histórias em Quadrinhos no Rio Grande do Norte como fonte de informação, analisando a evolução das HQs e as contribuições do Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos, o GRUPEHQ. O estudo foi baseado em uma pesquisa bibliográfica a partir da literatura atual sobre o assunto, especialmente o material produzido pelo GRUPEHQ, visitas à gibiteca da Biblioteca Escolar Professor Américo de Oliveira Costa e conversas informais com um dos integrantes do grupo de pesquisa. Conclui que as histórias em quadrinhos apresentam-se como uma excelente fonte de informação, e que devem ser incorporadas ao acervo das bibliotecas, devendo ser administradas por bibliotecários. Palavras-chave: Histórias em Quadrinhos. Fonte de Informação. Rio Grande do Norte.

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ABSTRACT

Comic strips have exerted a lot of fascinating over different riders, from differents age group, social classes and education level. In the Rio Grande do Norte comic strips come been used as an way to publicize its history, customs, life way and region personalities biography, making itself like an information source. This Dissertation emphasize the importance of comic strips in the Rio Grande do Norte how an information source, it’s making an analysis about comic strips evolution and its contribution to the Research Group about Comic Strips, GRUPEHQ. This study has been based on a bibliographycal research from the current literature about this subject specially supplies produced from GRUPEHQ, visits to comics store of Professor Américo de Oliveira Costa library school and informal talkings with from the research group member. I’ve concluded that comic strips present itself lika a excellent information source, and so must to be increase to libraries collections, it’s should take care by librarian. Keywords: Comic Strips. Information Source. Rio Grande do Norte.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – CAPA DA PRIMEIRA REVISTA EM QUADRINHOS -

YELLOW KID.............................................................................................. 16

FIGURA 2 – CARTAZ DA 1ª EXPOSIÇÃO NORTERIOGRANDENSE

DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS .......................................................... 21

FIGURA 3 – OS GUERREIROS DAS DUNAS .......................................... 24

FIGURA 4 – REVISTA MATURI EDIÇÃO ESPECIAL ............................... 25

FIGURA 5 – REVISTA MATURI ................................................................ 26

FIGURA 6 – GIBI ....................................................................................... 33

FIGURA 7 – ÁLBUM................................................................................... 33

FIGURA 8 – TIRINHA ................................................................................ 34

FIGURA 9 – MANGÁ ................................................................................. 34

FIGURA 10 – CAPA DA REVISTA A HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO

NORTE EM QUADRINHOS ....................................................................... 36

FIGURA 11 – CAPA DA REVISTA IGAPÓ ................................................ 36

FIGURA 12 – HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ASSU EM QUADRINHOS.. 37

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 10 2 EVOLUÇÃO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS ............................ 13 3 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO RIO GRANDE DO NORTE ....... 19 3.1 O GRUPEHQ E A EVOLUÇÃO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

NO RIO GRANDE DO NORTE ................................................................. 21

4 A IMPORTÂNCIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO FONTE DE INFORMAÇÃO ....................................................................... 28 4.1 GIBITECA: A BIBLIOTECA DOS QUADRINHOS ............................... 31

4.2 AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO FONTE DE INFORMAÇÃO

NO RIO GRANDE DO NORTE: CONTRIBUIÇÕES DO GRUPEHQ ........ 35

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 39 REFERÊNCIAS ................................................................................... 41

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

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1 INTRODUÇÃO

As histórias em quadrinhos encantam e fascinam milhares de leitores em

todo o mundo a mais de um século, e ao longo desse tempo foram se

constituindo como uma fonte de informação a respeito dos mais variados

temas.

No Rio Grande do Norte, as HQs, como são chamadas por seus leitores

e estudiosos, vem, a mais de três décadas, sendo utilizadas como uma forma

de divulgar a história, os costumes, o modo de viver e a biografia de

personalidades da região, e por esse feito foram se estabelecendo como uma

fonte de informação. Nesta monografia, que tem como título Histórias em Quadrinhos no Rio

Grande do Norte como Fonte de Informação, procuramos pesquisar qual a

importância das Histórias em Quadrinhos no Rio Grande do Norte, verificando

que sentido as HQs servem como fonte de informação neste estado.

Os objetivos de nosso estudo foram analisar a evolução das histórias em

quadrinhos no Rio Grande do Norte e a sua importância como fonte de

informação, além de pesquisar o trabalho do Grupo de Pesquisa e Histórias em

Quadrinhos, o GRUPEHQ.

O interesse pelas histórias em quadrinhos vem desde muito tempo, mas

ao cursar a disciplina Bibliografia Geral, ministrada pela professora Renata

Passos Filgueira de Carvalho, no curso de Biblioteconomia, na Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, que abordou, como um de seus temas “Uma

história das Histórias em Quadrinhos”, despertou-me ainda mais o interesse

pelo tema, principalmente, a partir de um seminário apresentado sobre as HQs

como fonte de informação.

As histórias em quadrinhos têm início no tempo primitivo, onde os

homens das cavernas deixavam suas mensagens através dos desenhos feitos

nas cavernas, conhecidos como pinturas rupestres. Hoje, as histórias em

quadrinhos continuam se tornando uma arte que atinge a todos os públicos,

tornando-se um grande meio de comunicação de massa de grande penetração.

Elas têm um universo muito maior do que se pode imaginar, apresentando-se

como fonte de informação nos mais diferentes meios sociais e culturais.

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Assim, realizamos este estudo, baseado em uma pesquisa bibliográfica

a partir da literatura atual sobre o assunto, especialmente sobre o material

produzido pelo GRUPEHQ, além de visitas à gibiteca da Biblioteca Escolar

Professor Américo de Oliveira Costa, localizada na Zona Norte de Natal, onde

estabelecemos conversas informais com um dos integrantes Grupo de Estudos

e Histórias em Quadrinhos, Luiz Elson.

A monografia está estruturada em cinco capítulos. O primeiro constitui-

se nesta introdução, onde apresentamos o tema, os objetivos, a justificativa, a

metodologia empregada na pesquisa e a estrutura do trabalho.

O capítulo dois, a respeito da evolução das histórias em quadrinhos,

enfatiza o surgimento e a evolução desta linguagem ao longo dos tempos,

destacando os principais autores, as primeiras histórias e personagens no

Brasil e no mundo.

No capítulo três apresentamos as histórias em quadrinhos no Rio

Grande do Norte, destacando a importância do GRUPEHQ para a evolução

desta linguagem no estado. O surgimento do GRUPEHQ e as principais

publicações do grupo também fazem parte deste capítulo.

O quarto capítulo trata das histórias em quadrinhos como fonte de

informação, mostrando como esse gênero começou a difundir-se nas

bibliotecas e a conquistar leitores e bibliotecários. A importância das histórias

em quadrinhos como fonte de informação no Rio Grande do Norte são

apresentadas neste capítulo, evidenciando-se o papel do GRUPEHQ neste

aspecto, com suas inúmeras publicações de caráter informativo.

Ao final, no capítulo cinco, fazemos nossas considerações finais a

respeito do tema, reiterando a importância das HQs como fonte de informação

no Rio Grande do Norte.

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CAPÍTULO 2

EVOLUÇÃO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

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2 EVOLUÇÃO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS A origem das histórias em quadrinhos, ou simplesmente HQs, tem suas

raízes em um passado muito longínquo, e como toda expressão da cultura,

também sofreram um processo de evolução ao longo de sua existência, e dois

são os fatores principais que podem ser apontados: a valorização da

comunicação por imagens, e a validade das narrativas por intermédio de

imagens gráficas.

A valorização da comunicação por imagens está presente na vida

humana desde as primeiras fases da comunicação, ou seja, desde os

primórdios dos homens das cavernas, quando o homem começou a utilizar o

desenho, feito nas paredes de pedras no interior das cavernas, para registrar

fatos, sonhos e elementos de sua imaginação.

Esses desenhos, hoje chamados de inscrições rupestres, servem de

elemento de pesquisa para arqueólogos e historiadores, e nos ajudam a

reconstruir nossa história. A grande quantidade e qualidade de inscrições

rupestres já localizadas e estudadas mostram a importância da imagem já nos

tempos primitivos. Durante toda a história humana a força da imagem pode ser

observada, seja nas obras de arte, na religião, na ilustração dos livros

manuscritos, na fotografia, na televisão, na publicidade, enfim, em diversas

épocas e situações a imagem desempenha um importante papel comunicativo

e informativo.

A expressão “uma imagem vale por mil palavras” resume bem esta

facilidade de comunicação e penetração que as histórias em quadrinhos

conseguiram atingir em todo o mundo. Ao utilizarem a imagem, as HQs

estabelecem um excelente canal de comunicação com o leitor. De acordo com

Vergueiro, Barbosa e Rama:

De certa forma, pode-se dizer que as histórias em quadrinhos vão ao encontro das necessidades do ser humano, na medida em que utilizam fartamente um elemento de comunicação que esteve presente na história da humanidade desde os primórdios: a imagem gráfica. (VERGUEIRO; BARBOSA; RAMA, 2004, p. 8).

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A validade das narrativas por intermédio de imagens gráficas pode ser

apresentada na idéia de que uma imagem (cômica, séria, assustadora, etc.)

pode facilitar a comunicação e expressar diretamente um sentimento de fácil

leitura e compreensão. A qualidade do material impresso e as novas técnicas

gráficas e computacionais têm contribuído para esse processo evolutivo das

histórias em quadrinhos como meio de comunicação de massa, mas desde a

antiguidade as imagens seqüenciadas, precursoras das histórias em

quadrinhos, já desempenhavam um importante papel na sociedade.

Diversos povos da antiguidade, como os egípcios, pintavam grandes

murais com imagens em seqüência. Posteriormente, na Idade Média, a Igreja

utilizou a imagem para retratar passagens bíblicas, também de forma

seqüenciada. Podemos considerar todos esses fatos como precursores das

atuais HQs, pois já utilizavam a seqüência de imagens para difundir um fato

social, histórico ou religioso.

Mas, se por um lado é possível acompanhar e descrever a evolução das

histórias em quadrinhos, não se pode dizer o mesmo de seu surgimento oficial.

Na verdade não há consenso entre os estudiosos quanto a real criação das

histórias em quadrinhos. Alguns autores, mais nacionalistas, definem seus

conterrâneos como os verdadeiros criadores.

O consenso existe em torno do fato de que vários autores lançaram

histórias em quadrinhos em momentos próximos, sem que se possa, apesar de

eventual datação da impressão e circulação, atribuir a exclusividade quanto à

primeira criação.

A partir do século XIX, por volta de 1820, na França e nos Estados

Unidos da América começaram a circular histórias ilustradas com heróis e

também com temas cômicos. Aproximadamente na mesma época, do outro

lado do mundo, a história de uma dinastia japonesa é contada através de

quadrinhos ilustrados.

Na Alemanha são publicadas as histórias de Max und Moritz, dois

garotos traquinas apresentados com histórias curiosas e engraçadas, com

algum cunho moral, cujos textos eram escritos, inicialmente, em versos. As

histórias da Famille Fenouillard, com histórias diversificadas e caracterizadas

pela qualidade dos desenhos, são lançadas na França. Na Inglaterra

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predomina o cunho humorístico, com Mr. Briggs, popularizado nos cartoons

publicados nos jornais do país.

O primeiro personagem de quadrinhos de grande sucesso foi Yellow Kid,

de Richard Outcault, publicado em 1896 no jornal norte-americano New York

Sunday World (PATATI; BRAGA, 2006). As falas do personagem, na primeira

pessoa, apareciam dentro de seu camisolão amarelo, e começavam a indicar

uma integração entre desenho e texto, característica que configura as histórias

em quadrinhos a partir de então. Com o grande sucesso de suas histórias, as

aventuras de Yellow Kid passaram a ser publicadas diariamente.

Figura 1 - Capa da Primeira Revista em Quadrinhos- Yellow Kid

Fonte: <http://www.portaldarte.com.br/hq.htm>. Acesso em 19 nov. 2008.

Logo a seguir, o suíço Rudolph Topfer, autor do Monsieur Vieux-Bois,

lança suas histórias com os textos dentro de balões. Surgiam, assim, as

histórias em quadrinhos na forma como conhecemos hoje, com balões e

legendas, que tornaram a leitura mais fluida. A evolução das histórias em

quadrinhos continuou, e de lá para cá outros elementos foram incorporados às

HQs, como as onomatopéias e parábolas visuais.

Em 1928 Walt Disney criou o Mickey, o primeiro de muitos personagens

que fazem sucesso até os dias atuais, como o Pato Donald, Pluto, Tio Patinhas

e a Margarida.

Começaram a ser publicadas histórias em quadrinhos em diversos

gêneros, direcionadas aos mais diferentes públicos, porém, na década de

1940, na Europa e nos Estados Unidos surgiram movimentos contra a

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publicação das HQs, com alegações de que essas publicações corrompiam as

crianças. Esse movimento chegou a conseguir, no Senado norte-americano, a

aprovação de um código de conduta para a publicação de histórias em

quadrinhos, o Comics Code.

Com isso, a produção sentiu uma leve decadência, mas, na década de

1960 os quadrinhos deram início a um novo período de crescimento, que

perdura até hoje. Foi nessa época que surgiram as histórias do Homem-Aranha

e Quarteto Fantástico, criados por Stan Lee e Jack Kirby, duas importantes

personalidades na história das HQs. Surgiram também, nesse mesmo período,

personagens eróticas como Vampirela, de Jean-Claude Forrest, e Valentina, de

Guido Crepax.

A evolução continuou, e os quadrinhos de heróis alcançaram um grande

público, mas outras publicações, como as revistas voltadas para o mercado

underground, especializadas em histórias de ficção, terror, suspense e eróticas,

também começaram a se difundir. Muitos artistas se tornaram conhecidos

divulgando seus trabalhos em revistas assim.

A primeira publicação de histórias em quadrinhos no Brasil aconteceu

em 1864, com a revista O Cabrião, com os desenhos de Ângelo Agostini,

italiano radicado no país, as histórias As aventuras de Nhô Quim e As

aventuras de Zé Caipora, são indicadas como as primeiras HQs brasileiras.

No século XX as histórias em quadrinhos ganharam mais espaço e

público no Brasil, especialmente a partir da década de 1960, com a Turma do

Pererê, de Ziraldo e a Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa, atualmente

publicada em dezenas de países.

Com a ampla divulgação e comercialização das HQs diversos temas

passaram a ser abordados em gêneros variados, como histórias infantis, de

super-heróis, humorísticas, policiais, aventuras, ficção científica, horror,

histórias eróticas, underground, e até mesmo quadrinhos educativos, históricos

e informativos.

Nas últimas décadas a popularização das HQs atingiu praticamente todo

o mundo, assim, é válido citar como são conhecidas as histórias em quadrinhos

nos diversos países. Nas nações de língua inglesa, são conhecidas como

comics, comic books ou comic strips, denominações que muito devem à

comicidade das primeiras manifestações quadrinhísticas nesses países. Os

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franceses, por sua vez, preferem chamá-las de bandes dessinées, referindo-se

à forma como os quadrinhos foram tradicionalmente publicados nos jornais, ou

seja, em forma de tira (bande). Essa expressão, traduzida de forma literal para

o português gerou banda desenhada, denominação que foi incorporada pelos

nativos de Portugal e algumas de suas colônias (mas não pelos brasileiros). Já

os espanhóis referem-se a elas como tebeos. Os países latinoamericanos, de

maneira geral, optaram pela denominação historietas, talvez sem notar a forte

carga pejorativa que a expressão carrega. Os japoneses, para quem os

quadrinhos constituem um dos mais populares meios de entretenimento,

chamam-nos de mangás. Os italianos optaram pela expressão fumetto, palavra

que utilizam em referência ao balão no qual estão contidas as falas e

pensamentos dos personagens dos quadrinhos. No Brasil, antes de ser

consagrada a expressão histórias em quadrinhos, o termo gibi foi amplamente

difundido em função do nome da mesma publicação que trouxe as primeiras

histórias em quadrinhos que se popularizaram no país, a denominação gibi,

inclusive, incorporou-se ao vocabulário popular com a expressão “não está no

gibi”, isto é, se não constasse nele não seria informação plausível, publicável

ou bastante valiosa.

Independente do elenco de denominações recebidas, a universalidade

dos quadrinhos sempre buscou, de uma forma ou de outra, utilizar palavras

que deixassem evidentes suas características básicas.

Assim, as comic strips, bandes dessinées, bandas desenhadas, tebeos,

historietas, mangás, fumetto ou histórias em quadrinhos, são hoje difundidas no

mundo inteiro graças à força da imagem e da linguagem simples, geralmente

na forma de diálogo, de fácil e rápida compreensão para o leitor de todas as

idades, como as crianças, encantadas com as cores e os personagens, e os

adultos, rememorando as leituras antigas ou então realizando outras, com

obras de temas mais elaborados e traços mais refinados. Os desenhos

seqüenciais e a estrutura gráfica ajudam na assimilação e desenvoltura da

leitura, o que torna as HQs uma forma de comunicação e fonte de informação

de fácil acesso.

No Rio Grande do Norte as histórias em quadrinhos também

conquistaram seu espaço, que reúne tanto os leitores como os desenhistas de

quadrinhos, como mostra o capítulo seguinte.

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CAPÍTULO 3

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO RIO GRANDE DO NORTE

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3 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO RIO GRANDE DO NORTE Assim como é difícil definir uma data para o surgimento oficial das

histórias em quadrinhos em todo o mundo, também não é fácil precisar o início

da produção e da evolução desta forma de arte seqüencial no Rio Grande do

Norte. Uma das datas que temos registro é o ano de 1959, quando foi

publicada a primeira história em quadrinhos do Rio Grande do Norte, na

Tribuna do Norte, desenhada pelo professor Poti. Mas, se por um lado as datas

são poucas, por outro lado não nos faltam nomes e obras para destacar a

importância desta linguagem em nosso estado.

Os primeiros sinais de que o Rio Grande do Norte marcaria presença no

cenário das histórias em quadrinhos no Brasil começaram a surgir a partir de

1938 na cidade de Areia Branca, quando nasceu o desenhista José Evaldo de

Oliveira. Evaldo mudou-se para Natal aos quatro anos de idade e começou a

desenhar ainda na infância. Aos seis anos já ganhou um concurso de desenho,

e dez anos mais tarde conquistou o segundo lugar em uma exposição de

pintura. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1959, e logo foi contratado pela

Rio Gráfica e Editora, atual Editora Globo, onde trabalhou por 28 anos,

desenhando capas e histórias para diversas revistas, como Fantasma,

Mandrake, Cavaleiro Negro, Flecha Ligeira, e Recruta Zero, que lhe deu uma

grande projeção. Ao final da década de 1980 Evaldo aposentou-se e retornou

para Natal, passando a desenhar charges para jornais locais, além de ministrar

aulas de pintura. Evaldo nunca se queixou de emprestar seus traços a

personagens estrangeiros, a paixão pelos quadrinhos e pelo desenho sempre

falou mais alto. Evaldo faleceu em agosto de 2007, em Natal, vítima de uma

parada cardíaca, mas seus desenhos permanecem, inspirando novas gerações

de quadrinistas e encantando leitores de HQs.

Outro importante nome dos quadrinhos brasileiros também surgiu no Rio

Grande do Norte, Moacy Cirne, um dos maiores estudiosos de histórias em

quadrinhos do Brasil, nasceu em 1943, na cidade de São José do Seridó.

Moacy Cirne participou, em 1967, do lançamento do movimento de vanguarda

(anti)literário conhecido como Poema Processo, ao lado de diversos poetas

norteriograndenses e cariocas. Nessa época percebeu que os quadrinhos,

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paixão da infância, podiam ser muito mais do que uma fonte de distração, e

começou a pesquisar sobre o assunto. Mudou-se para o Rio de Janeiro e foi

professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal

Fluminense. Atualmente está aposentado, mas continua pesquisando e

escrevendo sobre quadrinhos. Entre seus livros sobre HQs destacam-se: A

explosão criativa dos quadrinhos (1970), Para ler os quadrinhos (1972), Uma

introdução política aos quadrinhos (1982), História e crítica dos quadrinhos

brasileiros (1990), Quadrinhos, sedução e paixão (2000) e A escrita dos

quadrinhos (2006).

Na década de 1970, começa a se formar um importante grupo de

estudos sobre histórias em quadrinhos, que veio a se chamar Grupo de

Pesquisa e Histórias em Quadrinhos, ou simplesmente, GRUPEHQ.

3.1 O GRUPEHQ E A EVOLUÇÃO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO

RIO GRANDE DO NORTE

Apesar da grande importância de Evaldo de Oliveira e Moacy Cirne para

os quadrinhos nacionais e potiguares, foi a partir da década de 1970 que as

histórias em quadrinhos começaram a se fortalecer no Rio Grande do Norte.

Em maio de 1971 foi realizada a 1ª Exposição Norteriograndense de Histórias

em Quadrinhos, na Biblioteca Câmara Cascudo.

Figura 2 - Cartaz da 1ª Exposição Norteriograndense de Histórias em Quadrinhos

Fonte: Arquivo GRUPEHQ

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A exposição foi organizada pelo desenhista Emanoel Amaral, que reuniu

originais de desenhistas do Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e São Paulo.

No último dia da exposição os desenhistas que participavam da mostra,

juntamente com outros artistas e apreciadores de quadrinhos, resolveram criar

uma associação, surgindo, assim, o Grupo de Pesquisa e Histórias em

Quadrinhos – GRUPEHQ. Os fundadores do GRUPEHQ foram Emanoel

Amaral, Anchieta Fernandes, Dom Lucas Brasil (Walfredo Pereira Brasil),

Lindberg Revoredo, Falves Silva, Luiz Pinheiro Filho, Reinaldo Azevedo e

Ademar Chagas.

Além de estudos e pesquisas, o GRUPEHQ publicou, durante 53

edições, um suplemento de quadrinhos no jornal dominical O Poti. Vários

personagens destacaram-se neste período, entre eles: Super Cupim, de

Emanoel Amaral; Tenente Wilson, de Luiz Pinheiro; Enigma, de Ademar

Chagas; Dom Inácio, de Lindberg Revoredo; e A Família Bonney e o Coveiro,

de Reinaldo Azevedo. Posteriormente outros artistas se juntaram ao grupo e

surgiram os personagens O Capiroto, de Aucides Sales, e o Gatuno, de Edmar

Viana.

Foi um período muito fértil, que possibilitou um grande crescimento das

histórias em quadrinhos no Rio Grande do Norte, com o surgimento de vários

desenhistas e personagens próprios, com características nacionais e regionais,

contrapondo-se aos heróis estrangeiros que dominavam o mercado de

quadrinhos na época.

No entanto, os desenhistas não recebiam nenhuma gratificação

financeira por suas produções, obrigando-os a procurar outras fontes de renda,

como a publicidade, as artes gráficas e a produção de cartilhas em quadrinhos,

como as publicações: Os 150 anos da Independência do Brasil, O 30 de

Setembro em Mossoró, O Nascimento de Jesus, Santos Dumont e A

Independência no Rio Grande do Norte (GRUPEHQ, 2007).

Em 1974, dois integrantes do GRUPEHQ, Aucides Sales e Lindberg

Revoredo, associaram-se a uma pequena gráfica e lançaram a revista Cabra

Macho, que, apesar de ter durado apenas três edições, foi distribuída em cinco

estados do Nordeste.

Dois anos depois, em 1976, Aucides Sales e Enock Domingos criaram a

revista Maturi, que media apenas 12 x 8 cm e utilizava letras para identificar as

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edições. Maturi é uma expressão tupi, e significa coisa vinda, coisa que traz

alegria, referindo-se ao pequeno fruto, verde e azedo, precursor do caju. A

revista seguia uma linha underground, e fez bastante sucesso nos movimentos

culturais alternativos, políticos e universitários de Natal e do Rio de Janeiro. A

periodicidade da revista era irregular, e entre 1976 e 1977 foram publicadas

sete edições. Na época o chargista mineiro Henfil, que estava morando em

Natal, chegou a colaborar com a revista, valorizando-a e ajudando a distribuir a

Maturi no Rio de Janeiro.

Devido a dificuldades financeiras, a Maturi deixou de ser editada por

vários anos, retornando em 1982, quando Aucides Sales assumiu a presidência

do GRUPEHQ. Neste período o GRUPEHQ era formado por diversos

quadrinistas, entre eles Edmar Viana, Ivan Cabral, Emanoel Amaral, Luiz

Elson, Marcio Coelho, Adrovando Claro, João Antônio, Ivo Rocha e Gilvan Lira.

Cada desenhista seguia um estilo próprio, pesquisando e experimentando

novas técnicas e aperfeiçoando seu trabalho, neste sentido, a Maturi funcionou

como um grande laboratório das histórias em quadrinhos no Rio Grande do

Norte.

Ainda em 1982 o GRUPEHQ criou a revista Igapó, que se propunha a

contar fatos da história do Rio Grande do Norte. A revista começava a se

apresentar como uma fonte de informação em forma de histórias em

quadrinhos. Foi um período muito fértil, que inspirou muitos desenhistas a

lançar revistas independentes, entre esses artistas destacam-se Locha, Marcos

Garcia, Carlos Alberto, Laércio e Gilvan Lopes.

No entanto, em 1987, novamente por questões financeiras, a revista

Maturi deixou de circular. No entanto, o GRUPEHQ continuou em atividade e

retomou o projeto da revista Igapó, produzindo revistas em quadrinhos para

uso didático, como A História do Rio Grande do Norte, A Mulher na História do

RN e Jesuíno Brilhante, entre outras. Além das publicações didáticas o grupo

ministrou cursos de desenho e pintura, além de diversas outras ações culturais.

A produção de histórias em quadrinhos neste período assumiu

novamente um caráter informativo, divulgando a história e a cultura do Rio

Grande do Norte, propostas dos integrantes do GRUPEHQ.

Em 2005 o Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos lançou a

revista Os Guerreiros das Dunas – vol. 01, numa parceria entre Emanoel

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Amaral (criador/roteirista) e Watson Portela (arte). A pesquisa e os desenhos

foram financiados pela Lei de Cultura Estadual, e foi finalizado com 13 páginas

feitas por Gilvan Lira (desenhos) e Márcio Coelho (arte-final), devido a

problemas que impediram Watson de concluir o projeto.

Os Guerreiros das Dunas é uma ficção histórica que narra os costumes

sócio-culturais e a luta de resistência dos índios potiguaras do Rio Grande do

Norte face ao invasor português. A revista se propõe a contribuir para o resgate

da memória histórica e cultural do povo potiguar, através do imaginário, do

simbólico e do ético político.

Figura 3 – Os Guerreiros das Dunas

Fonte: Capa da revista Os Guerreiros das Dunas, 2005.

A publicação de Os Guerreiros das Dunas apresenta-se, mesmo sendo

uma obra de ficção, como uma fonte de informação, assim como outras

publicações em quadrinhos no Rio Grande do Norte, como as já citadas A

História do Rio Grande do Norte e A Mulher na História do RN.

A terceira fase da revista Maturi, maior expressão das histórias em

quadrinhos do estado, teve início em 2007, durante a Bienal do Livro de Natal,

quando foi lançada uma edição especial da revista, em formato magazine, com

32 páginas, preto-e-branco. A edição especial marcou o retorno da revista após

vinte anos, e tem histórias de Luiz Elson, Marcio Coelho, Ivan Cabral, Gilvan

Lira, Williandi e Emanuel Amaral, além de tiras de Aucides Sales, Claudio

Oliveira, Edmar Viana, Marcio Coelho, Gilvan Lira e Ivan Cabral. A edição

especial da Maturi também traz uma matéria sobre os quadrinhos no Rio

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Grande do Norte, apresentando uma retrospectiva da produção de quadrinhos

no estado desde a fundação do Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos

em 1971.

Figura 4 – Revista Maturi Edição Especial

Fonte: Capa da Edição Especial da Revista Maturi, 2007.

Após o lançamento da edição especial da Maturi o GRUPEHQ lançou,

em abril de 2008, uma nova edição da revista, que reiniciou sua numeração. A

nova Maturi se propõe a retomar as atividades do grupo de estudos e

pesquisas e também incentivar o trabalho de novos desenhistas, sempre

valorizando os artistas e a cultura potiguar.

A publicação foi possível graças a incentivos da Lei Câmara Cascudo de

Incentivo à Cultura e apoio da COSERN. O Conselho Editorial é formado por

cinco integrantes do GRUPEHQ: Ivan Cabral, Marcio Coelho, Luiz Elson,

Gilvan Lira e Emanoel Amaral, e conta também com a colaboração de Anchieta

Fernandes, Carlos Alberto, José Veríssimo, Wolclenes e Teo Duarte.

A número 1 da Maturi, que traz como subtítulo a expressão Quadrinhos

Potiguares, foi publicada em formato magazine e tem 44 páginas, sendo 16

coloridas, com a proposta de ser a primeira de um total de seis publicações. A

participação do cartunista Edmar Viana, membro veterano do GRUPEHQ,

falecido em março de 2008, é destacada pelos editores da revista, que

enfatizam a atuação do cartunista na evolução do projeto gráfico da revista e

na viabilização da publicação. Uma página da nova edição da Maturi é

dedicada ao cartunista, que integrou o grupo de pesquisa por vários anos, e

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outra homenageia o desenhista Evaldo de Oliveira, importante nome do

quadrinho potiguar falecido recentemente, que ficou conhecido pelas versões

da edição brasileira do Recruta Zero, entre outros trabalhos.

Figura 5 – Revista Maturi

Fonte: <http://ivancabral.blogspot.com/2008/04/lanamento-da-revista-maturi-quadrinhos.html>. Acesso em 16 nov. 2008.

No Editorial da revista o grupo de estudo e pesquisa reafirma o

compromisso com as histórias em quadrinhos no estado: “Evidentemente, o

Grupehq (Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos) não é o único que

produz quadrinhos no Estado; mas somos os pioneiros, os que abriram a

picada e literalmente desenharam os caminhos do quadrinho potiguar.”

(GRUPEHQ, 2008, p. 2).

Ainda no Editorial os integrantes do GRUPEHQ enfatizam o caráter

regional da revista:

Embora reconheçamos a universalidade da linguagem dos quadrinhos, apresentamos um trabalho que fala para o mundo, mas fala daqui. Por isso, a Maturi tem sotaque. Em função do aspecto híbrido da linguagem dos quadrinhos, que associam o verbal e o imagético, desenhamos a paisagem que nos cerca e usamos nosso linguajar para contarmos as histórias que ouvimos do povo. Em outras palavras, dialogamos com o mundo, mas não podemos desassociar nossa fala dos elementos históricos, culturais e políticos que a constituíram. (GRUPEHQ, 2008, p. 2).

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Assim, o Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos reafirma o

compromisso com a cultura e a história do Rio Grande do Norte, apresentando

as histórias em quadrinhos, mais uma vez, como uma fonte de informação de

fácil acesso e circulação.

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CAPÍTULO 4

A IMPORTÂNCIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO FONTE DE INFORMAÇÃO

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4 A IMPORTÂNCIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO FONTE DE INFORMAÇÃO As histórias em quadrinhos surgiram, inicialmente, como fonte de

diversão e entretenimento, porém, hoje servem também como fonte de

disseminação de informação, destinando-se a toda população, de todas as

classes sociais e diferentes faixas etárias, podendo ser considerada um meio

de comunicação de massa de grande penetração.

Atualmente é fácil, numa rápida pesquisa pela Internet, encontrar os

mais diversos títulos de histórias em quadrinhos em diferentes idiomas. Em

alguns países há um verdadeiro culto às obras editadas em “quadrinhos”, com

tiragens que ultrapassam, em muito, edições de autores e livros consagrados.

Países como os Estados Unidos, por exemplo, em que os lançamentos dos

“super-heróis” são acontecimentos nacionais ou ainda, a França, em que há

uma verdadeira mania por títulos e séries, fazem das histórias em quadrinhos

um mundo especial e importante como forma de comunicação de massa.

Mas todo esse alcance e divulgação das HQs não aconteceu por acaso,

alguns fatores contribuíram para a popularização das histórias, como o

desenvolvimento da comunicação, a valorização artística dos autores, o

aumento da divulgação e suas novas formas, assim como a afirmação cultural.

Diariamente, em todo o mundo, milhões de desenhos são

comercializados, facilitados pelo desenvolvimento da comunicação e da

qualidade das histórias, além do acesso cada vez maior à leitura de massa de

forma mais ampla. A valorização artística do autor de histórias em quadrinhos

vem ocorrendo cada vez mais, sendo realidade em diversos países, que

chegam a reconhecer o criador de um personagem de quadrinhos comparando

seu trabalho ao de autores da literatura tradicional, assim, a história em

quadrinhos deixa de ser um subproduto da criação artística e literária. O

aumento da divulgação e suas novas formas trouxeram um fôlego maior às

histórias em quadrinhos, com a facilidade na importação de exemplares, por

exemplo, na globalização, que facilitou a circulação de pessoas e mercadorias,

sem falar na expansão da publicidade e da internet, que utilizam e disseminam

as histórias em quadrinhos numa velocidade não imaginada há algum tempo. A

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afirmação cultural passa a ser um importante fator no desenvolvimento das

HQs em diversos países, possibilitando a criação de enredos, personagens e

cenários com características regionais, que contribuem para a divulgação e

disseminação da história e da cultura de diferentes locais.

Com o desenvolvimento e popularização das HQs em diversas partes do

mundo, não demorou muito para que diversos profissionais percebessem o

grande potencial das histórias em quadrinhos como fontes de informação sobre

história, campanhas de saúde pública, prevenção de acidentes, educação para

o trânsito, publicidade, propaganda política, etc.

Sonia Luyten fala das possibilidades de uso das histórias em quadrinhos

na educação, o que as caracterizas como fontes de informação:

A partir de uma reflexão sobre os conteúdos, pode-se fazer uma identificação das personagens das histórias em quadrinhos a partir de atitudes, sistemas ideológicos e, inclusive a justificativa de êxito pelo mecanismo de projeção que os heróis transmitem. (LUYTEN, 1985, p. 86).

De acordo com a autora, a história em quadrinhos é uma fonte de

informação com inúmeras possibilidades de leitura e interpretação, que vão

desde o tema da história até as características dos personagens.

Partindo do conceito de informação como: “Esclarecimento; explicação;

instrução; aviso, comunicação; fornecimento de dados, notas, argumentos etc.”

(BUENO, 2001, p. 314), podemos considerar que as histórias em quadrinhos,

ao unirem texto e imagem de forma bastante interativa, podem se constituir em

uma fonte de informação de fácil acesso e grande circulação, pois são,

geralmente, de leitura fácil e rápida, além de atrativa e prazerosa.

Tudo isto acabou contribuindo fortemente para que as histórias em

quadrinhos pudessem ir conquistando seu espaço nas bibliotecas, junto dos

livros. Atualmente, em vários países do mundo, principalmente onde as

histórias em quadrinhos são bastante populares (Estados Unidos, Bélgica,

França etc) é bastante comum encontrar em inúmeras bibliotecas um espaço

exclusivamente destinado às histórias em quadrinhos.

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No entanto, conquistar um espaço nas bibliotecas brasileiras não foi, e

ainda não é, uma tarefa fácil. As bibliotecas acadêmicas, como as

universitárias, raramente dispõem de um acervo de histórias em quadrinhos, a

própria biblioteca da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a Biblioteca

Central Zila Mamede, não tem histórias em quadrinhos em seu acervo, nem

mesmo as publicações do nosso estado, que, muitas vezes, referem-se à

história e à cultura norte-riograndenses. Entre as bibliotecas escolares, ainda

vemos algumas manifestações de preconceito e repúdio a essa literatura. As

bibliotecas públicas, que sofrem com os pálidos recursos, normalmente não

têm condições de manter o acervo atualizado, deixando de lado, muitas vezes,

a aquisição das histórias em quadrinhos. Restam as bibliotecas comunitárias,

que muitas vezes mantém-se a partir de doações, nestas, a linguagem dos

quadrinhos costuma aparecer com mais freqüência, porém com uma variedade

de estilos e autores ainda bastante restrita.

Tudo isso evidencia a necessidade de os profissionais da informação se

familiarizarem com esse meio de comunicação, desmistificando os

preconceitos que ainda pairam sobre as HQs, como enfatiza Vergueiro:

Acentua-se, cada vez mais, a necessidade que têm os profissionais da informação, enquanto elementos de intermediação no processo de comunicação humana, de se familiarizarem com esse meio de comunicação de massa e com as características do público que o utiliza. (VERGUEIRO, 1998, p. 118).

É essencial, assim, que os profissionais da informação tenham, em seu

currículo de formação, discussões em torno das histórias em quadrinhos, para

que possam valorizar este gênero textual, conferindo-lhe um espaço nas

bibliotecas.

4.1 GIBITECA: A BIBLIOTECA DOS QUADRINHOS

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Talvez como forma de compensar o pouco número de bibliotecas que

dispõem de HQs em seu acervo, foram criadas, no Brasil, instituições

especialmente dedicadas às histórias em quadrinhos, as gibitecas. A primeira

gibiteca foi fundada na década de 1980, em Curitiba, na capital do Paraná

(Vergueiro, 1998), recebendo esse nome como uma homenagem à forma como

são conhecidos os quadrinhos no Brasil, GIBI. A partir daí, todas as instituições

especializadas em coletar, armazenar e divulgar as histórias em quadrinhos no

Brasil passaram a ser denominadas gibitecas. Atualmente a maior gibiteca

brasileira é a Gibiteca Henfil, fundada em 1991, em São Paulo, e conta

atualmente com 75 mil volumes em seu acervo. O espaço é aberto para

visitação, com espaços para a leitura, efetua empréstimos para associados e

realiza diversos eventos sobre histórias em quadrinhos.

Recentemente, em 15 de abril de 2008, no Rio Grande do Norte, foi

inaugurada uma gibiteca pública na Biblioteca Escolar Professor Américo de

Oliveira Costa, na Zona Norte de Natal. O acervo, que foi formado a partir de

doações de colecionadores, artistas e usuários, inicialmente contava com 800

volumes, mas já contabiliza mais de 1500 em pouco mais de seis meses de

funcionamento, todos adquiridos através de doações. A gibiteca é bastante

freqüentada, com cerca de 30 visitantes por dia, mas ainda não faz

empréstimos. Não há um profissional da informação específico para a

administração da gibiteca, sendo subordinada à administração geral da

biblioteca, que é exercida por uma Bibliotecária, apesar de ser lotada em outra

função, pois o governo do estado do Rio Grande do Norte não tem a função de

Bibliotecário em seu quadro funcional.

Mas, qual o acervo das gibitecas? A exemplo dos livros, é possível

perfeitamente identificar tipos de acervo, gêneros e perfis de leitores.

Quanto aos tipos de acervo podemos citar:

• Gibis: compõe uma grande diversidade de títulos, englobando vários

tipos de histórias em quadrinhos (ex: Turma da Mônica, Pateta, etc.):

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Figura 6 - Gibi

Fonte: <http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/imagens/Cebolinha7.jpg>. Acesso em 16 nov. 2008.

• Álbuns: geralmente publicações de formato diferenciado, com capa

dura, e com qualidade de impressão e conteúdo (ex: Tintin, Asterix,

etc.):

Figura 7 - Álbum

Fonte: <http://hq.cosmo.com.br/images/hqcoisa/h0179_asterix_capa.jpg>. Acesso em 16 nov. 2008.

• Graphics novel: igualmente publicações de formato diferente e com

qualidade superior em que uma das características é a sua edição

em “séries”, isto é, uma seqüência de histórias ou de ações dos

personagens;

• Quadrinhos em jornais: mais conhecidos como “tirinhas”, por se tratar

de uma pequena história em quadrinhos, com dois ou três

quadrinhos, formando uma pequena tira, que reproduzem também as

histórias de diferentes personagens:

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Figura 8 - Tirinha

Fonte: <http://dirceuveiga.com.br/primeiras_tiras/primeiras_004.jpg>. Acesso em 16 nov. 2008.

• Fanzines: são as chamadas produções caseiras, histórias em

quadrinhos, feitas “em casa” por fanáticos do tema, que criam

histórias e personagens (mas não há comercialização ou tiragem

maior de edições);

• Mangás: as tradicionais e cada vez mais conhecidas histórias em

quadrinhos japonesas que se espalharam pelo mundo com os

desenhos para a TV em que apresentam personagens japoneses

com os olhos bem grandes:

Figura 9 - Mangá

Fonte: <http://www.project01.xpg.com.br/mangas/cover01.jpg>. Acesso em 16 nov. 2008.

Quanto aos gêneros podemos indicar:

• Histórias infantis: Turma da Mônica, Pateta, etc;

• Super heróis: Batman, Homem Aranha, etc;

• Humoristas: Recruta Zero, Hagar, etc;

• Policiais: Dick Tracy, etc;

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• Aventura: Tarzan, etc;

• Ficção científica: Flash Gordon, etc;

• Horror: Drácula, etc;

• Eróticos: Vampirela, Jean Claude Forrest, etc;

• Alternativos: Carlos Zéfiro (pornô), etc.

Já quanto aos leitores, temos:

• Eventuais: lêem de tudo, sem pré-definição de tema ou personagens;

• Exaustivos: gostam de todas as histórias em quadrinhos;

• Seletivos: lêem somente algum tema, personagem ou autor;

• Fanáticos: lêem e conhecem todas as facetas das histórias e

personagens sendo, geralmente também colecionadores;

• Estudiosos: acadêmicos ou historiadores que se dedicam ao

conteúdo e conceito das histórias em quadrinhos.

As gibitecas devem ser organizadas de acordo com os tipos de acervo e

com os gêneros de que dispõe, além de estar preparada para receber os

diversos leitores de quadrinhos. Para isso faz-se necessário que os

bibliotecários estejam preparados para tal função, conhecendo e identificando

as características das histórias em quadrinhos, e também é importante que

sejam desprovidos de qualquer preconceito em relação a essa linguagem.

4.2 AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO FONTE DE INFORMAÇÃO NO

RIO GRANDE DO NORTE: CONTRIBUIÇÕES DO GRUPEHQ

Desde a fundação do Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos –

GRUPEHQ, em 1971, o grupo se propôs a divulgar aspectos da cultura e da

história do Rio Grande do Norte, criando personagens com características

regionais. Algum tempo depois alguns integrantes do GRUPEHQ publicaram

obras de cunho informativo, com temáticas como a história do Rio Grande do

Norte, os 150 anos da Independência do Brasil, o nascimento de Jesus, a vida

de Santos Dumont e a Independência do Rio Grande do Norte.

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Figura 10 - Capa da Revista A História do Rio Grande do Norte em Quadrinhos

Fonte: Arquivo GRUPEHQ

Em 1982 o grupo criou a revista Igapó, com a proposta de divulgar a

história do Rio Grande do Norte através de quadrinhos, caracterizando-se

como fonte de informação sobre a história do estado.

Figura 11 - Capa da Revista Igapó

Fonte: Arquivo GRUPEHQ

No entanto, devido a questões financeiras, a sua circulação durou pouco

tempo, retornando em 1987, com novos quadrinhos a respeito da história do

Rio Grande do Norte.

Neste período grande parte das histórias em quadrinhos produzida no

estado assumiu um caráter bastante informativo, divulgando a história e a

cultura do Rio Grande do Norte, algumas das propostas dos integrantes do

GRUPEHQ.

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O grupo produziu diversas histórias em quadrinhos de caráter

informativo, como campanhas para a saúde pública, educação sexual,

campanhas publicitárias e políticas, além de publicações sobre a história dos

municípios de Assú, Caraúbas, Ceará-Mirim e Florânea, e ainda biografias de

personagens da história do Rio Grande do Norte, como Augusto Severo,

Alberto Maranhão, André de Albuquerque, Auta de Souza, Câmara Cascudo,

Henrique Castriciano, Jesuíno Brilhante, e uma revista sobre a mulher no Rio

Grande do Norte.

Figura 12 - História do Município de Assu em Quadrinhos

Fonte: Arquivo GRUPEHQ

Em 2005 alguns integrantes do grupo lançaram a revista Os Guerreiros

das Dunas, que embora seja uma ficção histórica, apresenta ricas informações

a respeito da cultura e do modo de vida dos índios potiguaras.

A última publicação do GRUPEHQ, a nova edição da revista Maturi,

lançada em abril de 2008, é recheada de quadrinhos de caráter informativo,

como a história A Fera da Vila, de Márcio Coelho, que fala sobre uma lenda

urbana - um lobisomem que assombrava os moradores da vila de Ponta Negra.

Wolclenes relembra a emoção dos habitantes da antiga cidade de São Rafael,

inundadas pelas águas da represa, na história Uma saudade, mil lembranças.

Em Feira Livre, Gilvan Lira mostra as relações entre feirantes e consumidores.

Emanoel Amaral apresenta a crueza da vida dos cangaceiros em Água Maldita,

e Ivan Cabral mostra as brincadeiras da infância no interior, com a história

Brincadeira de Criança. Na história Uma Questão de Pontos de Vista,

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Veríssimo apresenta uma ficção histórica e Luiz Elson homenageia o

mamulengueiro Chico Daniel com a história De pai para filho.

As contribuições do GRUPEHQ para as histórias em quadrinhos no

estado do Rio Grande do Norte foram muitas, e o grupo ainda pretende lançar

cinco novos volumes da revista Maturi, provavelmente com histórias de temas

regionais e informativos.

O mundo das histórias em quadrinhos é bem maior do que a simples

leitura de uma “tirinha” ou de uma publicação enquanto passatempo ou uma

edição mais elaborada em grafia e personagens. Histórias em quadrinhos são

um meio de comunicação de massa bastante disseminado em todo o mundo,

apresentando-se como excelentes fontes de informação sobre os mais

variados temas.

As revistas Igapó, Maturi, e as edições sobre a história dos municípios

ou a respeito de personalidades do estado, são exemplos das possibilidades

das HQs como fonte de informação de fácil acesso a diversos leitores. Os

integrantes e colaboradores do GRUPEHQ utilizaram, e ainda utilizam, de

forma criativa e com muita qualidade artística e literária, a linguagem dos

quadrinhos a serviço da informação no Rio Grande do Norte, valendo-se das

histórias em quadrinhos para divertir e informar os leitores, disseminando a

cultura, a história e o modo de viver deste estado tão rico de enredos.

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CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS As histórias em quadrinhos, como já dissemos anteriormente, exercem

um grande fascínio sobre diversos leitores, crianças, jovens e adultos, das mais

diferentes classes sociais e graus de instrução. A imagem associada ao texto

convida o leitor a iniciar e a continuar a leitura, divertindo e informando ao

mesmo tempo.

Atualmente, com tantas informações disponíveis nos mais diferentes

meios, especialmente com a rápida expansão da Internet, a imagem ganha

cada vez mais importância junto ao leitor, que precisa pré-selecionar suas

fontes de informação com rapidez, assim, evidencia-se mais uma vez as

histórias em quadrinhos como excelentes fontes de informação.

Após todo esse enredo a respeito das histórias em quadrinhos,

resgatando o surgimento e a evolução desta linguagem, destacando a

produção das HQs no Rio Grande do Norte, e, principalmente, enfatizando a

importância das histórias em quadrinhos como fonte de informação neste

estado, gostaríamos de enfatizar, mais uma vez, a importância do Grupo de

Pesquisa e Histórias em Quadrinhos, ou simplesmente, GRUPEHQ, como

chamamos durante toda essa monografia, para a informação no Rio Grande do

Norte. Os integrantes do GRUPEHQ, nas suas diferentes épocas de atuação,

sempre mantiveram um compromisso com a cultura e a história regional,

pesquisando e divulgando, através das histórias em quadrinhos, fatos,

passagens, histórias e ficções sobre o Rio Grande do Norte, sempre com um

sotaque regional, ou como afirmaram no editorial da última publicação, falando

para o mundo, mas falando daqui, do Rio Grande do Norte (GRUPEHQ, 2008).

Consideramos, assim, que as histórias em quadrinhos apresentam-se

como uma excelente fonte de informação, e que devem ser incorporadas ao

acervo das bibliotecas, em seções especiais, a exemplo das chamadas

gibitecas, devendo ser administradas por bibliotecários, que , por sua vez,

precisam conhecer as características desse gênero textual, conhecer os

leitores e, mais ainda, reconhecer a importância das HQs como gênero literário

e como fonte de informação sobre os mais variados temas.

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REFERÊNCIAS

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