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R R e e v v i i s s t t a a D D h h â â r r a a n n â â Dhâranâ nº s 24 – 25 – Janeiro a Dezembro de 1964 – Ano XXXIX Redator : Hernani M. Portella 1 S U M Á R I O PROFESSOR HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA – Pizarro Loureiro ENSAIO BIOGRÁFICO SOBRE J.H.S. – Sylvia Patrícia REMINISCÊNCIAS – Oratório da Cruz do Pascoal O REI DO MUNDO – René Guénon REI DO MUNDO E OS MUNDOS SUBTERRÂNEOS MISTÉRIOS DO ORIENTE E DO OCIDENTE – Roso de Luna e Henrique José de Souza A ESTRELA ALGOL E SUA COMPANHEIRA – Henrique José de Souza APELO DE J.H.S. AOS MENTORES ESPIRITUAIS DO MUNDO O ESPIRITUALISMO E AS CRISES CONTEMPORÂNEAS – A. Herrera Filho HISTÓRIA DAS RELIGIÕES – Cícero Pimenta de Mello RELIGIÕES - A. P. Sinnett "KARMA" E REENCARNAÇÃO – Paulo Saldanha JÓIAS TEOSÓFICAS DE J.H.S. NOTICIÁRIO : A Nova Sede Própria da Cruzeiro do Sul Casa Capitular de São Paulo Saudação ao Dez de Agosto – Fernando Nascimento O Perigo das Radiações Atômicas por Explosões Nucleares Krishna ensina o Supremo caminho O Conde Cagliostro no Conceito de Alexandre Dumas Presságios de J.H.S. A Cidade de S. Lourenço e a S. T. B. vistas pela Imprensa Número de Fiéis das Grandes Religiões "Façamos o Homem a Imagem e Semelhança Nossa (Santo Agostinho) O Divino e o Humano – Sri Aurobindo "Diário de S. Paulo", as Religiões e a S.T.B. Antônio Castanho Ferreira – Homenagem de "Dhâranâ" Professor Henrique José de Souza (*) PIZARRO LOUREIRO O ano de 1963 foi crucial para a Humanidade. Um ano profundamente dramático para os destinos do Mundo. Três grandes lideres: o Papa João XXIII, o Presidente Kennedy e o Professor Henrique José de Souza. Esses três homens abriram novos caminhos para a Humanidade e marcaram, profundamente, a sua presença nesta encruzilhada da civilização ocidental. Cada um deles teve o privilégio de uma missão, a glória de uma mensagem nova e empunhou o clarim anunciador de um Mundo que poderá encontrar a sua redenção se ouvir as vozes que esses mortos ilustres articularam, como se falassem a linguagem universal da libertação humana de todos os mitos do (*) Alocução proferida pelo Autor por ocasião da XVI Convenção Anual da S. T.B. em São Lourenço, 23-2-1964.

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Page 1: S U M Á R I O PROFESSOR HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA ... · R R eevviissttaa D D hhâârraannââ ... Sobre tão discutido assunto falaram em suas obras Plutarco, Virgílio, Homero, Platão,

RRReeevvv iiissstttaaa DDDhhhââârrraaannnâââ Dhâranâ nºs 24 – 25 – Janeiro a Dezembro de 1964 – Ano XXXIX

Redator : Hernani M. Portella

1

S U M Á R I O

– PROFESSOR HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA – Pizarro Loureiro

– ENSAIO BIOGRÁFICO SOBRE J.H.S. – Sylvia Patrícia

– REMINISCÊNCIAS – Oratório da Cruz do Pascoal

– O REI DO MUNDO – René Guénon

– REI DO MUNDO E OS MUNDOS SUBTERRÂNEOS

– MISTÉRIOS DO ORIENTE E DO OCIDENTE – Roso de Luna e Henrique José de Souza

– A ESTRELA ALGOL E SUA COMPANHEIRA – Henrique José de Souza

– APELO DE J.H.S. AOS MENTORES ESPIRITUAIS DO MUNDO

– O ESPIRITUALISMO E AS CRISES CONTEMPORÂNEAS – A. Herrera Filho

– HISTÓRIA DAS RELIGIÕES – Cícero Pimenta de Mello

– RELIGIÕES - A. P. Sinnett

– "KARMA" E REENCARNAÇÃO – Paulo Saldanha

– JÓIAS TEOSÓFICAS DE J.H.S.

– NOTICIÁRIO:

– A Nova Sede Própria da Cruzeiro do Sul Casa Capitular de São Paulo

– Saudação ao Dez de Agosto – Fernando Nascimento

– O Perigo das Radiações Atômicas por Explosões Nucleares

– Krishna ensina o Supremo caminho

– O Conde Cagliostro no Conceito de Alexandre Dumas

– Presságios de J.H.S.

– A Cidade de S. Lourenço e a S. T. B. vistas pela Imprensa

– Número de Fiéis das Grandes Religiões

– "Façamos o Homem a Imagem e Semelhança Nossa (Santo Agostinho)

– O Divino e o Humano – Sri Aurobindo

– "Diário de S. Paulo", as Religiões e a S.T.B.

– Antônio Castanho Ferreira – Homenagem de "Dhâranâ"

Professor Henrique José de Souza (*)

PIZARRO LOUREIRO

O ano de 1963 foi crucial para a Humanidade. Um ano profundamente dramático

para os destinos do Mundo. Três grandes lideres: o Papa João XXIII, o Presidente Kennedy e o Professor Henrique José de Souza. Esses três homens abriram novos caminhos para a Humanidade e marcaram, profundamente, a sua presença nesta encruzilhada da civilização ocidental. Cada um deles teve o privilégio de uma missão, a glória de uma mensagem nova e empunhou o clarim anunciador de um Mundo que poderá encontrar a sua redenção se ouvir as vozes que esses mortos ilustres articularam, como se falassem a linguagem universal da libertação humana de todos os mitos do (*)

Alocução proferida pelo Autor por ocasião da XVI Convenção Anual da S. T.B. em São Lourenço, 23-2-1964.

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nosso tempo, de todas as contrafações grosseiras do materialismo, de todas as traições ao espírito e de tidas as utopias sociais que a violência e o ódio transformaram em realidades sangrentas, em angústia e desespero.

João XXIII foi o apóstolo da paz, o mensageiro da pacificação dos espíritos, da aproximação das religiões. Kennedy foi o soldado da fraternização das raças e da justiça social. Henrique José de Souza, como homem-síntese dessa tríade, foi o pregoeiro da idade nova, o anunciador e preparador da nova civilização que já alvorece na fímbria do horizonte dos destinos da Humanidade; o homem que sonhou dar ao Brasil o comando dessa nova era, dessa civilização que herdará escombros e, com eles, construirá um mundo eubiótico, um mundo fraternizado pelo espírito, unificado pelo amor e glorificado pela presença do Senhor do cicio. Este não será mais o Cordeiro da imolação, mas o Pastor da redenção, pela paz e pela justiça autênticas, não elaboradas pelas mãos imperfeitas do homem, mas criadas pelo Espírito de Verdade pairando sobre a Humanidade, como na alvorada dos tempos, o espírito de Deus pairava sobre o caos.

O Professor Henrique José de Souza, brasileiro ilustre e eminente, presidente da Sociedade Teosófica Brasileira e Grão-Mestre da Ordem do Santo Graal, foi um desses homens marcados pelo destino e pelos desígnios imponderáveis de' Deus. Um homem feito dos materiais do tempo e das idades, um espírito que desceu dos reinos insondáveis dos céus e subiu das profundezas do ventre da Terra, para testemunhar que o que está em cima é igual ao que está em baixo e que a linhagem de Kunaton, de Krishna, de Buda, de Cristo não pertence apenas ao mundo do passado, vive no mundo de hoje e iluminará o mundo de amanhã. Um homem de espírito largo e generoso, de inteligência poderosamente criadora, de coração aberto a todas as crenças e esperanças, capaz de abrigar dentro dele, como num cosmos, as aspirações e os ideais da Humanidade inteira.

Sua pregação tomou acentos solares nesta época de "apagada e vil tristeza", como dizia o épico da raça, nestes tempos de negação, de antropofagia, de crueldade, de miséria e sofrimento. Nesta noite que parece não ter fim e é dominada pelos fantasmas do ódio, pelos espectros do crime, pelos vampiros que se nutrem do sangue e das energias do homem e dos povos. Abrindo o Livro da Sabedoria das Idades, revelou riquezas espirituais inesgotáveis; fundando a Sociedade Teosófica Brasileira deu corpo vivo à sua mensagem de fraternidade, de paz e de justiça. Ensinou, como ninguém o fizera antes, as veredas que levam à Verdade e à Libertação. Fundiu o passado no presente, através da revelação do mecanismo misterioso das leis que regem a Humanidade e o Mundo, ano após ano, século após século, milênio após milênio. E construiu a Obra que se projetará para o futuro, quando as sementes que lançou no solo fértil do Brasil e nas crianças de hoje, nossos filhos e netos, florescerão na radiosa messe da civilização que a próxima centúria contemplará, na vivência gloriosa de um novo e esplendoroso ciclo de Justiça, Fraternidade, Verdade.

O Professor Henrique José de Souza não morreu. Foi descansar de longos e nobilitantes trabalhos, que lhe custaram sacrifícios, dores e tragédias, através dos Gólgotas da incompreensão, Vias Crucis, para outras idades, nessa ronda eterna do Espírito de Verdade. Deixou-nos inestimável fortuna espiritual. Somos milionários de sabedoria, de amor e de fraternidade. Cabe-nos o dever de aplicar essa fortuna em benefício da Humanidade, na preparação da Cidade Divina de amanhã, que será o berço, o tálamo e o trono do Senhor Maitréia. Legou-nos o apostolado de uma Missão. Temos que cumpri-la. Somos poucos hoje, seremos muitos amanhã, até formarmos o Exército invencível que destruirá todos os muros da vergonha que estigmatizam o nosso tempo, até iluminar a consciência dos homens de boa vontade, que não se perderam pelos caminhos ominosos do crime, da luxúria, da ambição, os caminhos malditos, cujas flores negras enfeitarão a eternidade corrupta da morte sem redenção.

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Havemos de levar avante as idéias altruístas do nosso Guia e Mestre. Havemos de honrar o seu nome e glorificar a sua e nossa Obra. Levar o Brasil ao lugar que lhe compete e está assinalado nos Livros Eternos que Deus escreve há milhões de anos. Havemos de vencer a noite polar que pesa sobre a Humanidade, empunhando o facho da Verdade que nos entregou e, com ele, acender nos céus da consciência humana o Sol da Liberdade. O Professor Henrique José de Souza não morreu, porque homens da sua estirpe não morrem. E com a sua Obra, de luminosidades inextinguíveis, deixou-nos o legado feminino da geminidade de sua esposa e companheira de Missão, D. Helena Jefferson de Souza, cujas mãos, divinizadas pela fidelidade, pelo conhecimento e pelo amor, hão de amparar-nos, guiar-nos através da nossa jornada, a nós que somos filhos dos Gêmeos Espirituais, nascidos do amplexo glorioso da Beleza, do Bem e da Verdade, que constituem a essência sempiterna do Senhor.

Professor Henrique José de Souza, os que vão continuar a tua Obra, ainda com as lágrimas da saudade e da dor nos olhos, te Saúdam na grandeza da tua Mensagem e na eternidade de teu Espírito! Spes Messis in Semine.

&

ENSAIO BIOGRÁFICO SOBRE J.H.S.

Capítulo VII

Santuário da Iniciação Fenômenos e Revelações

Sylvia Patrícia

Penetro num delicado reino de poentes e luares, quase demasiado sublime para que o ho-mem pecador nele penetre sem aprendizagem nem preparação.

Emerson

E agora, um pouco de História, muito remota, um pouco da história da Atlântida, o continente submerso nas águas do Oceano Atlântico, ao qual, veladamente, se referem Teogonias diversas, a Bíblia inclusive, falando de raças de gigantes ou ciclopes, que na ambição de escalar o céu, construíram uma torre – a Torre de Babel, sendo porisso punidos com a confusão de línguas, no sentido de dissidências internas, revoluções, guerras, cataclismos, dilúvios... Sobre tão discutido assunto falaram em suas obras Plutarco, Virgílio, Homero, Platão, falaram antiquíssimos livros do Egito e da Índia; falam, pesquisam arqueólogos e historiadores dos nossos dias. Também o nosso Biografado ocupou-se desse tema, de que era profundo conhecedor. De seus estudos sobre a Atlântida, passamos a transcrever alguns trechos:

"Nos profundos abismos do Oceano, em um vale que se estende, imenso e solitário, entre elevadas montanhas, que em tempos remotos foram vulcões e cujas crateras conservam ainda esbranquiçados sulcos das torrentes de lava que, ardentes, desciam pela sua encosta, dorme a Atlântida, o País de MU, no "cristalino sepulcro" forjado pelo grande Senhor do Fogo: Vulcano, o esposo de Vênus. A BELA

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ADORMECIDA volverá um dia a ocupar o seu antigo lugar, quando completamente redimida de seus crimes de lesa-Divindade, despertar com a pálida AURORA desde já anunciada pelo mágico esplendor do CRUZEIRO DO SUL!"

Mas, na terra dos Atlantes, aos dias de esplendor foram-se sucedendo crepúsculos de decadência; os homens, inebriados pelos bens e poderes que lhes haviam legado os Deuses, outros bens e mais altos poderes começaram a ambicionar e para isso recorreram à Magia Negra, à qual se misturavam todas as formas do sensualismo: "Reis e sacerdotes, por ambição as. coisas terrenas, deixaram o Caminho do Bem, os ditames da Lei, e se chafurdaram no lodaçal imundo." Inúteis foram os repetidos apelos do sábio sacerdote Muka; baldadas foram suas reiteradas advertências contra a degeneração. Es-tavam surdos e não ouviam a voz da Razão e da Moral. Estavam cegos e não viam os perigos anunciados pelos seus profetas. E vieram então os terremotos e maremotos, sucederam-se os cataclismos. Tudo submergiu... Mas nem todos pereceram, pois era mister que ficasse no mundo "uma semente" a fim de que se desenrolasse o contínuo processo das civilizações, de povo em povo, de país em país. Evolução não existe sem provações, sofrimentos e lutas; é pelo contraste com as Trevas que abençoamos a fulguração da Luz. Conduzidos pelo Manu, para outros rincões abrigaram-se alhures os que tinham permanecido fiéis a Lei; mas um "punhado negro" escapou também, representando as duas Faces da medalha da Vida: o Bem e o Mal...

Necessária, leitor, foi esta dissertação para que pudéssemos retomar o fio que desde remotas eras vem religando a História de nossa Obra. É desse distante passado que vem outra sombria história esta (a da Múmia de Katsbeth, nefanda criação da magia negra, no momento da decadência atlante. Países mudaram, mas os personagens do DIVINO DRAMA vem retornando, encarnação após encarnação, o joio sempre misturando-se ao trigo. Assim, os traidores, os trânsfugas, os perjuros, os mago negros de hoje são meros "tulkus" ou descendentes psíquicos dos que soem insurgir-se contra a Lei.

Plagas! Muitas foram as percorridas, até que os peregrinos, pelo "PEREGRINO" guiados, atingissem às praias do BRASIL - berço da Nova Raça! Eis um pequeno resumo que nos dá JHS sobre o longo roteiro:

"São estes os significados dos sete continentes: JAMBU - Jambo, Jambosa (pomme de rose) – Índia. PLASKA – Ficus religiosa. SALMALI – Bombax heptaphyllum (espécie de algodoeiro) Lemuriano. KUSHA – Inebriado, em delírio", Poa eynosmoides (planta com que se fazia outrora um licor sagrado), atlante. Ora, o País de MU (Kusha, Atlântida) – desapareceu quando mais inebriada, em delírio se achava, pelas paixões inferiores ou animalizadas. KRAUNKA – Nome de uma montanha no Himalaia, onde se reuniram as sementes escolhidas pelo Menu Vaisvávata, Ário. SHAKA – Ro-deado pelo mar de leite. Erva, madeira, toda matéria erbácea comestível. Todes – Norte América. PUSHKARA – Loto das Mil Pétalas. Flexa, Guerra – Sul Americano – Coaduna-se com a vinda de MAITRÉIA. Do qual se conhece hoje como Brasil, será (com o que há de vir ainda do fundo do mar) a sua maior parte ou quinhão. Razão por que é o Brasil onde se mantêm as brasas de Agni. Rodeado pelo mar de manteiga clarificada. Falando sobre os sete Dwipas ou Continentes, acrescentou o Mestre: "Todos os lugares onde a quantidade de matéria Tamásica exceder à de Rajas e Sattva, desaparecerão no fundo do oceano (tal como aconteceu aos outros continentes) e subirão os já purificados pelo milenar batismo das águas.

Em verdade, o "trigo" fora escolhido a fim de que pudesse prosseguir, etapa após etapa, a longa caminhada do Itinerário de IO. Mas um punhado de "joio" ficara também. E, passados milênios, sob outros céus, num recanto de Niterói, obreiros do mal tentavam ainda agir. Duas pessoas, pelo menos, pertencentes ao "grupo inimigo", vinham desde muitas encarnações, procurando prejudicar aos Gêmeos Espirituais e,

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consequentemente, a Obra. Estavam essas criaturas – tal como veladamente lhes recordara HENRIQUE – ligadas à estranha história da múmia de Katsbeth, história tantas vezes comentada pela imprensa de países diversos, num amplo noticiário acerca de fatos maléficos pela mesma causados desde que, lá no Egito lendário, Lord Carnavon lhe violou o sarcófago; lendas muitas se espalharam. Hoje, porém, é permitido apresentar publicamente alguns aspectos da realidade. Naquela época do faustoso Egito, HENRIQUE E HELENA – os Gêmeos de sempre, embora com nomes outros, já eram visados por certos "magos negros" que para seus nefandos intentos se serviram de uma inocente princesa, roubada do palácio onde vivia... para ser mumificada viva, numa terrível obra de Magia Negra! "E agora um resumo um tanto velado daqueles acontecimentos de então, e que pode, a maneira dos contos de fadas, onde tantas verdades se ocultam, começar assim: Era uma vez, no Egito, um faraó de nome Kunaton, ou seja, o "espírito do Sol" (ou espírito solar), e que possuía oito formosas filhas. Foi justamente, a oitava dentre elas que os "irmãos das trevas" tentaram roubar a fim de transformá-la naquela que passaria à história como sendo a múmia de Katsbeth... Tão nefando crime não podia, porém, ser permitido pelos deuses e a formosa princesa (a HELENA de hoje que tantos outros embates tem sofrido) foi salva por Seres aos quais damos, reverentes, o nome de Serápis ... E a negra magia foi praticada ... em outra criatura.

Todos os Cristos que ao mundo têm vindo, a humanidade os transmuta em Crestos – Homens da Dor; todos Eles são perseguidos e dessa ou daquela maneira, martirizados, numa luta contínua mas que um dia há de terminar numa Apoteose de LUZ!

A vida dos Gêmeos Espirituais! Volumes e volumes não dariam para relatar todos os capítulos, alguns dos quais só Eles talvez pudessem narrar... Em Kaleb, numa Fraternidade líbica, tinham os nomes de Pithis e Alef. Por ocasião de uma viagem iniciática, foram surpreendidos por uma terrível tempestade de vento – o Simute - ficando Ele soterrado sob um montão de areia; salvou-o a doce Companheira.

Em Tebas, a Cidade das Cem Portas, foram os Gêmeos raptados, quando pequeninos, do lar onde viviam. Mais uma vez (como tantas tem sucedido) foram salvos de seus raptores por Adeptos que os levaram para oculto sitio, longe de qualquer novo perigo. A pobre mãe (que foi em nossos dias uma Irmã da Obra) com a brusca perda dos filhinhos queridos, perdeu também o uso da razão. Tempos depois era vista a perambular pelas ruínas de um templo, carregando nos braços dois troncos secos de árvore, que a sua triste fantasia tomava pelas amadas crianças. "A louca das ruínas", era assim conhecida por todos quantos presenciavam tão doloroso quadro... São estas, e muitas outras que a exiguidade do espaço não permite citar, as páginas dolorosas de um Passado; caminho de espinhos conduzindo, passo a passo, a Meta gloriosa. Era, e é ainda, a árdua tarefa dos Se. te Raios de Luz. Porque Dhâranâ, como foi revelado pelo Mestre, era a Quinta Rama das Confrarias Budistas do Norte da índia e do Tibete. Mais seis Ramas existiam esparsas pelo mundo, formando assim os Sete Raios de Luz.

Foi naqueles dias, onde horas azuis se espargiam suavizando tormentas e lutas, que houve a União Mística NARADA, cerimonia transcendental no Santuário realizada, e que significa a união de Ísis e Osíris, formando a unidade perfeita; melhor esplanando (na medida do possível) foi essa a terceira união mística Nârada.

Os fatos sombrios acima narrados acham-se ligados, como esclarece J.H.S., ao mistério dos 666 contra os 777, ou a batalha decisiva entre os Adeptos independentes e os Magos Negros, no Norte da índia, que depois teve sua repercussão em América do Norte, e logo contra nós (pela Monopol), no Brasil, tal como uma sombra do próprio Mistério da descida das Mônadas do Norte para o Sul. No quadro de aulas da S.T.B., no Rio, o Mestre ABRAXIS escreveu: Fim da Kali-Yuga para os vitoriosos."

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A terceira união mística Nârada teve lugar a 19 de fevereiro de 1927, numa sublime cerimonia na qual os Gêmeos Espirituais renovaram seu Juramento de servir a OBRA DE TODOS OS TEMPOS.

A 13 de março do mesmo ano, entre outras cerimônias presididas pela Água e pelo Fogo, dentro do Santuário a Venerável Irmã que até então assumira a função de Sacerdotisa, corta com um só golpe de tesoura os longos cabelos de HELENA, fazendo-lhe a seguir a entrega de uma chave simbólica, sagrando assim Aquela a quem caberia dai por diante a guarda do Fogo Sagrado, com a responsabilidade de Suprema Sacerdotisa da Obra.

Houve por aquele tempo, entre diversas outras Iniciações, uma que foi denominada "Iniciação das Forças", porque diariamente nosso Diretor espiritual sentava-se ao harmonium e, depois de tocar, ou antes, de criar, ao toque mágico de seus dedos, os mais belos mantrans, fazia maravilhosas revelações, sempre com a assistência de uma "FORÇA" que, segundo a afirmação da Mesma, vivia no próprio corpo do Revelador.

Dentre os fenômenos que não podem ser aqui anotados, consignamos: uma das Forças que se identificava como sendo a dos "contrastes ou oposições", manifestava-se chorando na metade do rosto e sorrindo na outra metade, estampando assim na fisionomia de J.H.S. a mais estranha e contrastante das expressões.

********************

Na Ronda Misteriosa, por muitos ainda não compreendida, um outro teto abrigou o Mestre e a sua Família. A casa da rua Dr. Sardinha, no 71, na então Capital Federal.

Ali prosseguiram, sempre em número crescente, as revelações, abrindo a mente dos discípulos aos maravilhosos mistérios que o comum dos humanos, pelo simples fato de querer ignorá-los. Porque a humanidade que vive a clamar a sua sede, a sua fome, junto à Fonte passa e não a vê, passa junto ao trigal e não se detém para colher-lhe as douradas espigas. Já então havia sido expulso de Dhâranâ o "bando negro"; foram mui-tos e graves, como assinalamos, os motivos que a essa medida obrigaram. Porque nem mesmo a "prova Crística", à qual esses componentes tiveram a glória de assistir, abriu-lhes os olhos da alma!

Ocorreu na infância,. como dissemos no primeiro capitulo deste ensaio, o episódio da "lança": a queda do Menino sobre a ponta de um gradil de ferro do jardim de sua residência em Salvador, ocasionando, se assim podemos dizer, veladamente, a chaga sagrada que em determinadas datas e nos seus momentos de angústia se abria e sangrava sobre o peito esquerdo, sobre o coração de JHS. Sinal doloroso e dorido que trazem todos os Cristos que se dão em holocausto pela humanidade. – Cristo: o Iluminado: Cresto: o Homem da Dor – a "Eterna Vítima" da ignorância e da maldade dos pecadores de todos os ciclos.

Certo dia, no Rio de Janeiro, em uma Casa de Saúde, foi dado a quem estas linhas tenta escrever, a insigne graça de contemplar a Cicatriz. Helena fora operada da garganta; em seu Esposo-Irmão repercutia o corte do bisturi... Na saleta, junto ao quarto da Mãezinha enferma, achava-me a sós com nosso Mestre. A um sinal Dele, aproximei-me de sua poltrona. Então, fitou-me bem nos olhos, e, num gesto rápido, entreabriu a camisa. A Ferida sangrava em pequeninas gotas de rubi, às quais se misturava um tom leitoso, e foram tingindo a alvura do tecido... Foi este, talvez, o maior prêmio espiritual que recebi em minha vida presente!

Mas estávamos chegando à nova residência, à rua Dr. Sardinha, 71 onde extraordinários fatos prosseguiam no desfile que a Lei ia provocando e assinalando. Foi ali, por exemplo, que teve lugar a visita de um adepto, que disfarçado veio ao Rio de Janeiro e foi a Niterói, em missão especial. Foi ali que depois do atropelamento sofrido na Praça Martim Afonso, J.H.S. esteve muito doente. Do mesmo modo sua companheira,

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extenuada por trabalhos em favor da Obra, foi acometida de uma apendicite supurada, tendo sido internada e operada de emergência na Casa de Saúde Dr. Pedro Ernesto. Preocupado, sem poder estar ao seu lado, Henrique, de sua casa transmitia a Helena pensamentos de cura, verdadeira corrente de energia.

Numa tarde em que se concentrava para isso, um beija-flor veio pousar-lhe no ombro, e, detalhe surpreendente, passava e repassava de leve o bico sobre a orelha esquerda do Mestre, tal como se o etéreo colibri fosse um alado Mensageiro (os Seres do Além-Akasha tomam a forma que desejam) estivesse a segredar-lhe: "Ela está melhor e confia em Ti e na Obra cujo Chefe Supremo és!"

Certa vez, o Sr. Aleixo Alves de Souza, nosso irmão da Sociedade Teosófica no Brasil – filial da de Adyar – (Índia) – visitou Dhâranâ. O visitante que se fazia acompanhar de mais seis pessoas, pronunciou belas palavras, tendo comparado as várias correntes do neo-espiritualismo com a diversidade das flores que se cultivam no mesmo canteiro. Terminada a sessão, que naquela noite era pública, Henrique tomou a palavra para agradecer a visita, referiu-se à imagem literária que acabava de ouvir e acrescentou sorrindo: "Como o ilustre representante da Sociedade Teosófica de Adyar aqui gentilmente compareceu acompanhado de seis amigos, e sendo o número SETE o de nossa Missão (Missão dos Sete Raios de Luz), eu lhes ofereço sete cravos de cores diferentes, sendo o branco, como cor síntese, justamente ao irmão que acaba de proferir tão significativas palavras". E, assim dizendo, sete lindos cravos de sete cores diferentes, brotaram surpreendentemente de suas mãos, causando o fenômeno grande espanto a assistência, tendo sido logo distribuídos os perfumados cravos aos felizes destinatários.

Ensinamentos transcendentais, fatos os mais estranhos, presença constante junto de J.H.S. de luminosos Seres, tudo isso se passava naqueles dias, já distantes, da fundação de Dhâranâ, porque, sobre a face da Terra, "os Mestres, que com H.P.B. – segundo declarava ela a véspera de seu desenlace, se tinham ido", estavam de volta para um novo Ciclo, no árduo trabalho de uma nova aurora para a humanidade. "Comigo se vão os Mestres", dissera tristemente a brilhante Mestra Blavatsky ao sentir próxima sua derradeira hora entre os ingratos discípulos. Porém, como ela própria vaticinara no prefácio de sua monumental "Doutrina Secreta", os mesmos Mestres dignaram-se voltar, desta vez no Brasil, com o nascimento agartino de J.H.S.!

Muitos anos difíceis decorreram; cruéis, impiedosas foram as lutas. Na refrega de cada batalha, as fileiras ora decrescem, ora aumentam. Soldados tem tombado feridos e alguns deles em holocausto caíram. Perjuros, desertores, traidores, tem havido também, Karma cuidará deles... Contudo, a guarda fiel permanece, indiferente aos tropeços, firme ao lado do seu Comandante-Rei, erguendo aos céus, nos mais duros momentos, os brados que hão de conduzir-nos à merecida Vitória: "Luta Pelo Dever! "Vencer ou Morrer! E, ao lado de J.H.S., venceremos!

Mestre entre os mestres, Pai desejoso de alimentar os filhos, e, para tal fim, a exemplo do Pelicano, dilacerando o próprio coração,, Henrique prossegue numa catadupa de luz, distribuindo ensinamentos, desvelando segredos do corpo, da alma e do espírito, falando em deuses e devas, numa paulatina escala para maiores revelações que mais tarde viriam e das quais somos hoje os felizes depositários.

A nossa Instituição, Obra dos deuses e tão pouco compreendida ainda pelos homens, recebeu um novo "batismo"; é que a Luz, nascida até então no oriente, começava a surgir agora do Ocidente, a fim de que se cumprissem antiquíssimas profecias. O "Dragão" voltava a cabeça para as bundas onde se põe o Sol, pois que era chegada a hora de ser realizada a grande tarefa para o advento do Novo Ciclo e para que em terras brasileiras, preparados fossem os caminhos para a vinda de MAITRÉIA BUDA.

Assim, em 8 de Maio de 1928, a Instituição passou a ser denominada Sociedade Teosófica Brasileira, conservando porém o nome de Dhâranâ em sua revista.

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Conservando-o também em nosso constante trabalho interno, pois que o termo Dhâranâ significa: concentração. Sim, um constante, ininterrupto trabalho interno, porque a Iniciação, segundo palavras do Instrutor Sebastião Vieira Vidal, é um labor que deve começar pela manhã, quando despertamos, continuar até o momento noturno em que cerramos os olhos para dormir. Termina então, ou melhor, interrompe-se a iniciação terrena, enquanto a alma, durante as horas de sono, prossegue em planos outros, esse mesmo labor iniciático.

Desenvolviam-se as. reuniões, as cerimônias ritualísticas, surgiam novos fatos extraordinários e deslumbrantes ensinamentos. Folha por folha, J.H.S. desvelava coisas até então jamais desveladas do Livro da Ciência Iniciática das Idades. Hoje uma lição, outra amanhã; Ele, a Fonte Maravilhosa a espargir gota a gota seu inexaurível manancial de sabedoria, do qual, até hoje – sejam os Deuses louvados! – através de sua Palavra vamos, sedentos, sorvendo.

Certa vez, entre revelações outras, foi dada a descrição dos Chacras, indicando-se meticulosamente as formas, as cores, os sons e os ritmos de seus movimentos apropriados a meditação dos discípulos. Uma mulher de cabelos soltos, tendo a Lua sobre a cabeça e os olhos vendados, colhe o Esplênico com uma rede de pescar; um "diabo" enrosca o Raiz com uma Serpente; Sacerdote e Sacerdotisa (Sol e Lua) ladeiam o Cardíaco; este se move pelo impulso de uma serpente enrolada três vezes no mesmo, ou uma serpente cujo comprimento é três vezes o diâmetro do Chacra. Uma Sílfide e uma Salamandra se dão combate rotativo em terno do Umbilical, formando uma espécie de motoperpétuo. O Frontal possui duas asas de ouro, por ser o que eleva o discípulo pelos planos superiores. O Laríngeo é cruzado pelo signo da Balança. Finalmente, o Coronal, sobrepujado por um Buda.

As cores, as notas musicais, os movimentos rítmicos bem como os planetas astrológicos relacionados a cada plexo ou centro de força eram, como ainda são, minuciosamente descritos nas aulas de nosso Colégio iniciático, segundo o programa de ensino de cada série.

No árduo Caminho, as etapas iam sendo, umas após outras, vencidas.

Dia 13 de Março, 1931, à meia noite em ponto, Ralph Moore dirigira a luta, a terrível luta entre lunares e solares; comemorando a vitória, três foguetes subiram aos céus, por ordem da Lei. Finda a luta física, com a cooperação de todas as Sociedades Ocultistas que fizeram círculos e correntes mentais, houve um Ritual comemorativo, seguindo-se a abertura de um Ciclo para 7 de Setembro do mesmo ano; e J.H.S. ensinou-nos, nessa ocasião, novas Iogas.

A 15 de Setembro de 1932, J.H.S: completou 49 anos de idade. Foi então aberto um ciclo de 49 dias, quando 49 Adeptos deveriam estar ao seu lado; durante 49 dias, os Irmãos foram divididos em grupos, e no decorrer das reuniões cada um apresentava um trabalho acerca da Obra.

O número 49 possui um alto significado para nós, por ser esse o número dos Adeptos Independentes que, desde a Atlântida, tem estado sempre, muitas vezes em corpo física, amparando, auxiliando os Gêmeos Espirituais e aqueles que lutam sob a Bandeira da S.T.B. e sob a Bandeira do Governo Oculto do Mundo.

E o APTA foi abrigar-se sob um novo teto, à rua Gavião Peixoto, ainda em Niterói. Nessa outra morada seria assinalado o Raiar do Grande Dia, significando: Ecce Occidente Lux et Ecce Oriente Umbra. Vários Seres vieram então para o Ocidente, seguindo o caminho apontado pela Lei que a tudo a todos rege, e fazendo com que Shamballah se manifestasse na face da Terra.. Sim, já secretas sendas se abriam a fim de que se tornasse possível entrar em Agarta e Shamballah pelas bandas ocidentais: Monte Moreb, São Lourenço, na imponente Serra da Mantiqueira. Outros "portais" se abririam depois.

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Foi ainda em 1931 que partiu para Mundos outros – a 7 de Setembro Mário Roso de Luna, o grande amigo de nosso Mestre. Não seria talvez muito longa a ausência do insigne tedsofo que se foi, levando o desejo de "reencarnar no Brasil, o berço da futura Civilização". Desapareceu. também Djwal Kul, aquêle que salvara Helena Blavatsky na garibaldina batalha de Mentana.

Novos e transcendentes fenômenos assinalaram a presença de J.H.S. naquela casa da rua Gavião Peixoto, sua última residência na capital do Estado do Rio.

Neste retrospecto inseriremos mais algumas efemérides que, em 1931, marcaram a longa e misteriosa História da Obra. A 3 de Junho foi fundada em Belém do Pará a Rama Hilarião, pois que a Árvore da Sabedoria começava a deitar seus ramos pelos recantos da terra brasileira, agora que "a mesma Obra era independente ou Governada por K.T.B., sem outros recursos senão os seus próprios e de seus fiéis companheiros, como Membros da Família Espiritual da 7a sub-raça.

A 13 de Julho daquele ano, partiu da face da Terra a figura angelical de Dona Hercília, que cumprira dignamente sua transcendente Missão na Obra ao lado do Professor Henrique; esposa e companheira exemplar, mãe carinhosa, cuja memória todos reverenciamos.

Para mundos outros e por certo mais belos, deveriam, em 1931, deixar os Gêmeos a vida terrena; mas, por motivos superiores, ditados pela Lei que a tudo e a todos rege, continuaram a viver entre nós, prosseguindo, heróicos, sua Redentora Missão.

Em uma de suas revelações, explica nosso Supremo Dirigente: O número 284 da casa da rua Gavião Peixoto, somado cabalisticamente, dá o 14 da lâmina do Taro, como Temperança, Equilíbrio, etc. Tal casa vai formar um Equilíbrio perfeito, depois das quatro casas anteriores – principalmente com o desenrolar de certos acontecimentos que na mesma se iriam dar.

E, realmente, como a coroar tantos fatos esotéricos que só os iniciados pedem alcançar, ocorreu o apoteótico "Dia do Mestre", ou seja, o do AVATARA DO BUDHA VIVO, que transferiu solenemente seu Posto de comando a Quem estava predestinado a ser o seu digno Sucessor no Trono Espiritual do Mundo, como Rei Melki Tsedek!...

Para melhor compreensão dos leitores sobre tão transcendentes sucessos, daremos aqui – segundo palavras de J.H.S. – um resumo da Vida do ex-Buda Vivo do Oriente: "Desde o ano de 1670 que o mais próximo descendente de "Gêngis Khan" se encarna na Mongólia, a começar com o nome de UNDOUR-Gheghen, Bod-Gheghen, Manjuçri-Gheghen etc., até o último (31o), como Bodgo-Gheghen ou S. S. Djebstung Damba Hutuktu Khan, 1 trazendo o nome oculto de TAKURA BEY, como 5o Aspecto da Linha S. B. . . Seu nome é venerado e citado entre todos os santos homens dos vários países onde se professa o Budismo, como sendo o próprio Avatara ou encarnação do Senhor Gotama. A Ele se refere F. Ossendowski, em seu livro "Animais, Homens, Deuses", muita coisa porem calando devido à "censura natural" que preside os sagrados mosteiros de Narabanchi-Kure, Jahantsi e Urga (Ta-Kure), onde era a sua residência. Assim pois, escreveu êle acêrca do que lhe foi permitido saber: "Na Mongólia, país de milagres e arcanos, vive o guardião do misterioso e do desconhecido: O Buda Vivo, S.S. Dje-btsung Damba Hutuktu Kahn, Bodgo Gheghen, pontífice de Ta-Kure. É á encarnação do imortal Buda, representante da série contínua de soberanos espirituais que reinam desde 1670, transmitindo-se a alma de Buda Amitaba, unido a Chen-ra-zi, o espírito misericordioso das montanhas. Toda a nebulosa história da Ásia, da Mongólia, do Pamir, do Himalaia, da Mesopotâmia, da Pérsia e da China, rodeia o deus vivo de Urga".

1 Nas traduções desse livro do famoso escritor polonês, inclusive na edição portuguesa que apareceu com título diferente do original – “Das Estepes Siberianas à Mandchúria" (Livraria Renascença, Lisboa) – notam-se divergências de grafia em certos nomes próprios, como Ourga para Urga; Kamp-Gelonge em vez de Kamp-Gelung; e em alguns títulos da hierarquia lamaista, como Bogdo no lugar de Bodgo; Houtouktou em vez de Hutuktu. (N. da R.).

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Prosseguindo, o autor descreve com a sua pitoresca linguagem profana a extraordinária entrevista que lhe foi concedida pelo Buda Vivo, falando-lhe, observando a sua maneira de viver, obtendo alguns informes valiosos. Viu-o lendo horóscopos, dando revelações, etc. Apresentava em sua "personalidade" – dentro da humana condição – um bizarro dualismo.

Mas apresentemos agora a palavra, mais autorizada, de J.H.S. referindo-se ao citado livro de Ossendowski: "Embora a missão búdica desse autor iniciado fosse a de revelar ao mundo – como tradição – algo sobre a vida do último "Buda-Vivo" do ORIENTE, nem tudo lhe seria desvelado. Ora, um dia o Pontífice ficou cego; isto sucedeu quando uma pequena imagem do Buda, de prata e ouro, com finíssimo esmalte, mandada fazer no Norte da índia, se cobriu de ramagens e... de seus olhos rolaram duas lágrimas que se cristalizaram em sua face não as famosas pérolas materializadas em nosso Santuário, que foram dádivas de riquíssimo "mandarim Chinês... em uma das vidas anteriores do mesmo (Buda-Vivo). O fato ocorrido com a imagem do pequeno Buda, era o Sinal esperado da finalização de seu Trabalho ou missão na Terra, como 31o Buda-Vivo do Oriente. Naquela mesma ocasião (1883) nascia em Salvador, Estado da Bahia, Brasil, a criança em quem futuramente se encarnaria o "6o aspecto da Linha S∴∴ B∴∴ como 1o Buda-Vivo do OCIDENTE; ou 32o, em continuação ao do Oriente. O Buda-Vivo do Oriente desencarnou para o mundo; foi para a Agarta... esperar o "Grande Dia" da entrega do bastão ao seu "FILHO" ou sucessor. Seu ciclo finalizou a 26 de julho de 1924 – pouco antes portanto da fundação material da Obra, em Niterói, com o nome de Dhâranâ, que se deu solenemente, na superfície e na Agartha, no dia 10 (domingo) de agosto de 1924.

Sim, os tempos passaram e muitas transformações ocorreram; agora no Oriente lendário, entre mistérios tantos que ainda lá se ocultam, repousa a tradição de séculos e séculos – tradição que todos nós, teósofos-oculistas, veneramos.

Que veneramos e sempre veneraremos, procurando no entanto, como ordena a LEI, seguir a Luz que brilha agora no Ocidente e precisamente neste grandioso e glorioso BRASIL, berço da futura civilização e pátria predestinada ao Avatara Integral, que os Cadetes do Ararat hão de acolher triunfalmente no início do século vindouro, assinalando o fim da Era de Piscis e o advento da Era de Aquário, como breve mas alvissareira "era de ouro" para a humanidade, embora ainda dentro da caliginosa e longa Idade regra.

Ilustração: foto

Legenda:

Reminiscência ORATÓRIO DA CRUZ DO PASCOAL, SALVADOR, BAHIA

Este Oratório público é testemunha de uma das cenas que marcaram a inata bondade do jovem Henrique e sua proverbial ternura para com os aflitos e necessitados. Foi no Oratório da Cruz do Pascoal que ele encontrou a "Senhora dos soluços confrangedores", que chorava sua infelicidade conjugal, e que foi por ele consolada com atitudes e palavras de esperança. e conforto. Dias depois houve a reconciliação e voltou a reinar a paz em seu lar. Muitos anos mais tarde, a "Senhora dos soluços confrangedores" visitou o Mestre em corpo astral, em S. Paulo, para reiterar-lhe seus agradecimentos. O leitor encontrará a descrição da cena no cap. III – "Da Juventude de J.H.S. na Bahia", Dhâranâ, n.° 19/20.

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O Rei do Mundo

Capítulo VII

"LUZ" OU A MORADA DA IMORTALIDADE

René Guénon

As tradições relativas ao "mundo subterrâneo" se encontram entre grande número de povos; não temos a intenção de congregá-las todas aqui, tanto reais que certas dentre elas não parecem ter uma relação muito direta com a questão que nos interessa. Entretanto, poder-se-ia observar, de modo geral, que o "culto das cavernas" é sempre ligado a idéia de "lugar interior" ou de "lugar central", e que, a este respeito, o símbolo da caverna e o do coração muito se aproximam um do outro 2 . Além disso, há realmente na Ásia Central, como na América e talvez algures, cavernas e subterrâneos onde centros iniciáticos puderam se manter desde séculos; mas, com exceção deste fato, há, em tudo que se refere a esse assunto, uma parte de simbolismo que não é muito difícil de se distinguir; e podemos mesmo pensar que existem precisamente razões de ordem simbólica que determinaram a escolha de lugares subterrâneos para a fundação desses centros iniciáticos, muito mais do que por motivos de simples prudência Saint-Yves teria, talvez, podido explicar esse simbolismo, mas ele não o fez, e isto é que dá a certas partes de seu livro uma aparência fantasmagórica 3 ; quanto a Ossendowski, seria incapaz de ir além da letra e de ver naquilo que se lhe dizia outra cousa que o imediato sentido.

Entre as tradições a que há pouco fazíamos alusão, existe uma que apresenta um interesse particular: encontra-se no Judaísmo e diz respeito a uma cidade misteriosa chamada Luz 4 . Esse nome originariamente era: o do lugar onde Jacob teve o sonho em conseqüência do qual ele o denominou Beith-El, isto é, "casa de Deus" 5 ; mais tarde voltaremos sobre esse ponto. É dito que o "Anjo da Morte" não pode penetrar nessa cidade e que aí tão pouco tem poder algum; e, por uma aproximação singular, porém, muito significativa, alguns a situam perto do Alborj, que é igualmente, para os Persas; a "mansão da imortalidade".

Junto de Luz existe, diz-se, uma amendoeira. (chamada, também, luz em hebraico) na base da qual há uma cavidade pela qual se penetra em um subterrâneo 6 ; e este conduz a própria cidade que é inteiramente oculta. A palavra Luz, nas suas diversas acepções, parece aliás derivada de uma raiz designando tudo quanto é oculto, coberto, dissimulado, silencioso, secreto; e é de se notar que as palavras que designam o Céu têm primitivamente a mesma significação. Vulgarmente se compara coelum, do grego koilon, "cova" (o que igualmente pode ter uma ligação com a caverna, tanto mais que Varron indica essa aproximação desses termos: a Cavo coelum); mas é preciso observar também que a forma antiga e mais perfeita parece ser coelum, que lembra muito de perto a palavra caelum, "Ocultar".

2 A caverna ou a gruta representa a cavidade do coração, considerado como centro do ser, e, também, o interior "Ovo do Mundo'". 3 Citaremos, como exemplo, a passagem onde se trata da "descida aos. infernos"; aqueles que tiveram oportunidade poderão compará-lo com o que dissemos sobre o mesmo assunto em "O Esoterismo de Dante". 4 As informações de que aqui nos utilizamos são extraídas em parte da Jewish Encyclopedia (VIII, 219). 5 Gênesis, XXVIII, 19. 6 Nas tradições de certos povos da América do Norte, igualmente há uma questão de uma árvore pela qual alguns homens, que viviam primitivamente, no interior dá terra, teriam alcançado a sua superfície, enquanto que outros homens da mesma raça perma-neciam no mundo subterrâneo. É verossímil que Bulwer-Lytton se tenha inspirado nessas tradições em "A raça Futura" Mie Coming Race). Uma nova edição traz o titulo : "A raça que nos exterminará".

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Além de que, em sânscrito, Varuna vem da raiz var, "cobrir" (que igualmente é o sentido da raiz de kal, a qual sé liga a palavra latina celare, outra forma de caolare, e seu sinônimo grego kaluptein 7 ; e o grego Ouranos não é senão outra forma do mesmo nome; var se modifica facilmente em ur. Essas palavras podem, portanto, significar aquele que cobre" 8 , "aquele que oculta" (7a), mas, também, "aquele que é oculto", e este último sentido é duplo: é aquilo que é oculto aos sentidos, o domínio supra-sensível; e é, também, nos períodos de ocultação ou obscurecimento, a tradição que deixa de ser manifestada exteriormente e abertamente, o "mundo celeste" vindo a ser, então, o "mundo subterrâneo".

Há, ainda, sob outro ponto de vista uma aproximação a se estabelecer com o Céu: Luz é denominada a. "cidade azul" e essa cor que é a da safira 9 , é a cor celeste. Na Índia diz-se que a cor azul da atmosfera é produzida pela reflexão da luz sobre uma das faces do Meru, a face meridional, que olha o Jambu-dwipa, e que é feita de safira; é fácil compreender que isto se refere ao mesmo simbolismo.

O Jambu-dwipa não é somente a Índia, como vulgarmente se pensa, mas ele representa, na realidade, todo o conjunto do mundo terrestre no seu estado atual; e este mundo pode, com efeito, ser visto como situado em sua totalidade ao sul de Meru, pois este é identificado como o polo setentrional 10 . Os sete dwipas (literalmente "ilhas ou continentes") emergem sucessivamente no curso de certos períodos cíclicos, de modo que cada um deles é o mundo terrestre voltado no correspondente período; eles formam um loto cujo centro é o Meru, com relação ao qual são orientados, segundo as sete regiões do espaço 11 . Por conseguinte, há uma face do Meru que é voltada para o lado de cada um dos sete dwipas; se cada uma dessas faces tem uma das cores do arco-íris 12, a síntese dessas sete cores é o branco, que é por toda a parte atribuída à suprema autoridade espiritual 13 , e que é a cor do Meru considerado em si mesmo (veremos que ele é, efetivamente, designado como a "montanha branca"), enquanto os outros 7 Da mesma raiz kal derivam-se várias outras palavras latinas, como caligo e, talvez, o composto ocultus. De outro lado, é possível que a forma caelare provenha originariamente de uma raiz diferente caed, com o sentido de "cortar" ou "dividir" (de onde, também caedere), e, por seqüência os de "separar" e "ocultar"; mas, em todo o caso, as idéias expressas por essas raízes são, como se vê, muito próximas umas das outras, o que facilmente pôde dar margem à assimilação de caelare e celare, mesmo que essas duas formas sejam etimologicamente independentes. 8 O "Teto do Mundo", assimilável à "Terra celeste" ou "Terra dos Vivos", tem, nas tradições da Ásia central, estreitas ligações com o "Céu Ocidental” onde reina Avalokitênshwara. A propósito de "cobrir", é preciso lembrar, ar, também, a expressão maçônica “estar a coberto": o teto estrelado da Loja representa a abóbada celeste.

É o véu de Ísis ou de Neith entre os Egípcios, o "véu azul" da Mãe Universal na tradição extremo-oriental (Tao-te-king) ; no caso que se aplique esse sentido ao céu visível, pode-se aí encontrar uma alusão ao papel do simbolismo astronômico ocultando ou "revelando" as verdades superiores. 9 A safira desempenha papel importante no simbolismo bíblico; em particular, ela aparecia, freqüentemente, nas visões dos profetas. 10 O Norte é denominado em sânscrito Uttara, isto é, a região mais elevada que existe; o Sul é chamado Dakshina, a região da direita, isto é, aquela que se tem a direita ao se voltar para o lado do Oriente. Uttarayana é a marcha ascendente do Sol para o lado do Norte, começando no solstício do inverno e terminando essa trajetória no solstício do verão; dakshinayana é a marcha descendente do sol para o lado Sul, começando no solstício do verão e findando no solstício do inverno. 11 No simbolismo hindu (que o próprio Budismo conservou na lenda aos "sete passos''), as sete regiões do espaço são os quatro pontos cardeais, mais o Zênite e o Nadir, e, finalmente, o próprio centro; pode-se notar que sua representação forma uma cruz em três dimensões (seis direções opostas duas a duas a partir do centro). Do mesmo modo, no simbolismo cabalístico, o "Santo Palácio" ou "Palácio Interior" está no centro das seis direções que formam, com ele, o setenário; e Clemente de Alexandria diz que de Deus, "Coração do Universo", partem as extensões indefinidas que se dirigem, uma para o alto, outra para baixo, esta para a direita, aquela para a esquerda, uma para a frente e a outra para traz; dirigindo seu olhar para essas seis extensões como para um número sempre igual, ele aperfeiçoa o mundo; ele é o começo e o fim (o alfa e o ômega), nele se concluem as seis fases do tempo, e é dele que elas recebem sua extensão indefinida; aí está o segredo do número 7" (citado por P. Vuliaud, La Kabbale Juive, t. 1, pág. 215-216), Tudo isto se liga ao desenvolvimento do ponto primordial no espaço e no tempo; as seis fases do tempo, correspondendo, respectivamente, as seis direções do espaço; são seis períodos cíclicos, subdivisões de um outro período mais geral, e, as vezes, representados simbolicamente como seis milenários; elas são, também, assimiláveis aos seis primeiros "dias" da Gênese, o sétimo ou Sabath como a fase de retorno ao Princípio, isto é, ao centro. Tem-se, assim, sete períodos aos quais pode ser ligada a manifestação respectiva dos sete dwipas; se cada um desses períodos é um Manvantara, o Kalpa compreende duas séries setenenárias completas; é aliás compreensível que o mesmo simbolismo seja aplicável para diferentes graus, segundo se visualize vários períodos cíclicos mais ou menos extensos. 12 Ver o que foi dito mais acima sobre o simbolismo do arco-íris. Não existem, na realidade, senão seis cores, complementares duas a duas, e correspondendo as seis direções opostas duas a duas; a sétima cor não é outra coisa senão o branco mesmo, como a sétima região se identifica com o centro. 13 Não é, pois, sem razão que, na hierarquia católica, o Papa é vestido de branco.

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representam somente seus aspectos pela ligação aos diversos dwipas. Parece que para o período de manifestação de cada dwipa, havia uma posição diversa do Meru; mas realmente, é inamovível, pois, que ele é o centro, e a orientação do mundo terrestre é que é mudada de um período a outro em relação a ele.

Voltemos ao nome hebraico luz, cujas diversas significações são dignas de atenção; este vocábulo tem ordinariamente o sentido de "amêndoa" (e também de "amendoeira", designando, por extensão, a árvore tanto quanto seu fruto) ou de "caroço"; pois o caroço é mais interior e mais oculto, e é inteiramente encerrado, de onde a idéia de "inviolabilidade" 14 que se encontra na palavra Agarta). Luz é, também, o nome dado a uma partícula corporal indestrutível, representada simbolicamente como um osso muito duro, e ao qual a alma permaneceria ligada depois da morte e até a ressurreição 15 . Como o coração contém o germe, e como o osso contém a medula, essa luz contém os elementos virtuais necessários para a restauração do ser; e esta restauração se operará sob a influência do "orvalho celeste", revivificando as ossaturas ressecadas; é a que São Paulo faz alusão, de forma clara, na frase: "Semeado na corrupção, ele ressuscitará na glória" 16 .

Aqui, como sempre, a "glória" se refere a Shekinah, encarada no mundo superior, e com aquele "orvalho celeste" bem uma íntima relação, como se pôde verificar precedentemente. A luz, sendo imperecível 17 , é, no ser humano, o "caroço da imortalidade", do mesmo modo que a região designada pelo mesmo nome é a "mansão da imortalidade": aí se detém, nos dois casos, o poder do "Anjo da Morte". É de certa maneira o ovo ou o embrião do imortal 18 ; pode ser comparado, também, com a crisálida de onde deve sair a borboleta 19 , comparação que traduz exatamente seu papel com relação a ressurreição.

Situa-se a luz na extremidade inferior da coluna vertebral; isto pode parecer bastante estranho, mas se esclarece por uma aproximação com aquilo que a tradição hindu diz da força denominada Kundalini 20 , que é uma forma da Shakti considerada como imanente no ser humano 21 . Esta força é representada sob a figura de uma serpente enrolada em si mesma, numa região do organismo sutil, correspondendo precisamente, também, com a extremidade inferior da coluna vertebral; pelo menos é assim em relação ao homem comum; mas, pelo efeito de práticas tais como as da Hata-Yoga, ela é despertada, se desenrola e se eleva através das "rodas" (chacras ou "lotos") que correspondem aos diversos plexos, para alcançar a região correspondente ao "terceiro olho", isto é, ao olho frontal de Shiva. Esse ponto atingido representa a restituição do "estado primordial", onde o homem readquire o "sentido da eternidade", e, por onde obtém aquilo que nós denominamos de certo modo a imortalidade virtual. Até aí, estamos ainda no estado humano; em uma fase ulterior, Kundalini atinge finalmente a

14 É por isso que a amendoeira tem sido tomada como símbolo da Virgem. 15 É curioso notar que essa tradição judaica tem muito provavelmente inspirado certas teorias da Leibnitz sobre o "animal", isto é, o ser vivente, subsistindo perpetuamente com um corpo, mas "reduzido a miniatura" depois da morte. 16 Primeira Epístola aos Coríntos, XV. 42. – Há nessas palavras uma aplicação estrita da lei da analogia: "O que está no alto é igual ao que está em baixo, porém, em sentido inverso". 17 Em sânscrito, a palavra akshara significa "indissolúvel" e, por conseguinte, "imperecível" ou "indestrutível"; .ela designa a sílaba, elemento primário e germe da linguagem, e se aplica, por excelência, ao monossílabo OM, que se diz conterem si a essência do tríplice Veda. 18 Encontra-se o equivalente, sob uma outra forma, nas diversas tradições e, em particular, com muitos aperfeiçoamentos, no Taoísmo. A este respeito, é análogo, na ordem "microcósmica", o que o "Ovo do Mundo" é na ordem "macrocósmica", porque ele en-cerra as possibilidades do "ciclo futuro" (a vita venturi soeculi do Credo católico). 19 Pode-se aqui levar o pensamento para o simbolismo grego de Psyché, que em grande parte repousa Obre essa semelhança (ver "Psyché" por F. Pron). 20 A palavra kundali (no feminino kundalini) significa enrolado em forma de anel ou de espiral; este enrolamento simboliza o estado embrionário e "não desenvolvido". 21 A este respeito e sob determinada analogia, sua moradia é igualmente identificada dentro da cavidade do coração; já fizemos alusão à relação existente entre a Shakti hindu e o Shekinah hebraico.

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coroa da cabeça 22 , e essa última fase se relaciona com a conquista efetiva dos estados superiores do ser. O que parece resultar desta aproximação é que a localização da luz na parte inferior do organismo somente se refere a condição do "homem decaído"; e, para a humanidade terrestre vista em seu conjunto, de igual maneira era esta quanto à lo-calização do centro espiritual supremo no mundo subterrâneo" 23 .

Capítulo VIII

O CENTRO SUPREMO OCULTO DURANTE A "KALI-YUGA"

A AGARTTHA, diz-se, realmente, não foi sempre subterrânea e não ficará sempre dessa forma; virá um tempo em que, segundo as palavras de Ossendowski, "os habitantes da AGHARTI sairão de suas cavernas e aparecerão na superfície da terra 24 . Antes de seu desaparecimento do mundo visível, este centro trazia outro nome, porque o de AGARTTHA, que significa "inatingível" ou "inacessível" (e também "inviolável'", porque é a "Mansão da Paz", SALEM), não lhe teria sido conveniente então; Ossendowski afirma que ela se tornou subterrânea "há mais de seis mil anos", e julga que esta data corresponde, com bastante aproximação, ao início da KALI-YUGA ou "idade negra", a "idade de ferro" dos antigos ocidentais, última dos quatro períodos nos quais se divide o MANVANTARA 25 ; sua reaparição deve coincidir com o fim do mesmo período.

Há pouco falamos das alusões feitas por todas as tradições a. alguma coisa que está perdida ou oculta e que se representa sob vários símbolos diferentes; isto, quando se toma em seu sentido geral, concernente à toda a humanidade terrestre, refere-se, precisamente, as condições da KALI-YUGA. O período atual é, pois, de obscuridade e de confusão 26 ; suas condições são tais que, enquanto persistirem, o conhecimento iniciático deve necessariamente permanecer oculto, donde o caráter dos "Mistérios" da antigüidade chamada "histórica" (que não remonta nem mesmo ao início desse período) 27 e das organizações secretas de todos os povos; organizações aptas a darem efetiva iniciação por subsistir ainda uma verdadeira' doutrina tradicional, mas que não apresentam senão a sombra, quando o espírito dessa doutrina deixou de vivificar os símbolos que não são mais que sua representação exterior; e isto porque, por várias razões, todos os laços conscientes com o centro espiritual do mundo acabaram por ser

22 É o Brahma-randhra ou orifício de Brahma, ponto de contato de sushumna ou "artéria coronária" com o "raio solar"; expusemos completamente este simbolismo em "O homem e seu destino segundo a Vedanta". 23 Tudo isto se relaciona intimamente com a significação real da conhecida frase hermética: "Visita inferiora terrae, rectificando invenies occultum lapidem, veram medicinam", que dá por acróstico a palavra VITRIOLUM. A "pedra filosofal" é, ao mesmo tempo, sob outro aspecto, a "verdadeira medicina", isto é, o "elixir de longa vida", que não é outra coisa senão o "licor da imortalidade". Escreve-se, às vezes, interiora em lugar de inferiora, mas o sentido geral não é modificado e há sempre a mesma alusão evidente ao "mundo subterrâneo". 24 Essas palavras correspondem àquelas que arrematam uma profecia que o "Rei do Mundo" teria feito em 1890, quando ele apareceu no Mosteiro de Narabanchi. 25 O Manvantara ou era de um Manu, chamado também Maha-Yuga, compreende quatro Yugas ou períodos secundários: Krita-Yuga (ou Satia-Yuga), Treta-Yuga, Dwapara-Yuga e Kali-Yuga, que respectivamente, se identificam com a "idade de ouro'", a "idade de prata", a "idade de bronze " e a "idade de ferro” da antigüidade greco-latina. Há, na sucessão desses períodos, uma espécie de materialização progressiva, resultante do afastamento do Principio que necessariamente acompanha o desenvolvimento cíclico, dentro do sistema corpóreo, desde o "estado primordial". 26 O início desta idade é representado particularmente no simbolismo bíblico, pela Torre de Babel e a "confusão das línguas'". Poder-se-ia pensar, logicamente, que a queda e o dilúvio correspondem ao fim das duas primeiras idades; porém, na realidade, o ponto de partida da tradição hebraica não coincide com o início do Manvantara.

É preciso não esquecer que as leis cíclicas são aplicáveis, para vários graus diferentes, a vários períodos que não têm a mesma extensão e que, às vezes, se invadem reciprocamente, de onde surgem complicações, que a primeira vista podem parecer inextricáveis, e efetivamente não é possível resolver senão pela consideração da ordem de subordinação hierárquica dos centros tradicionais correspondentes. 27 Parece que nunca foi observada convenientemente a impossibilidade quase geral em que se encontram os historiadores para estabelecer uma cronologia certa para tudo quanto é anterior ao VI século antes da era cristã.

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rompidos, o que constitui o sentido mais próprio da perda da tradição, aquela que, especialmente, diz respeito a este ou aquele centro secundário, cessando de estar em relação direta e efetiva com o centro supremo.

Deve-se, pois, como dizíamos precedentemente, falar de alguma coisa que está oculta, de preferência à verdadeiramente perdida, visto que não está perdida para todos e que alguns ainda a. possuem integralmente; e, sendo as. sim, outros tantos sempre têm a possibilidade de encontrá-la de novo, contanto que a procurem convenientemente, isto é, que sua intenção seja dirigida de tal maneira que, pelas vibrações harmônicas que ela desperta segundo a lei das "ações e reações concordantes" 28 , possa colocá-las em uma comunicação espiritual efetiva com o centro supremo 29 .

Essa direção da intenção tem, aliás, em . todas as formas tradicionais, sua representação simbólica; queremos falar da orientação ritualística: esta, com efeito, é propriamente a direção para um centro espiritual que, qualquer que seja, sempre é uma imagem do verdadeiro "Centro do Mundo" 30 . Mas, à medida que se avança na Kali-Yuga, a união com esse centro,. cada vez mais fechado e oculto, se torna mais difícil, ao mesmo tempo que se tornam mais raros os centros secundários que exteriormente o representam 31 ; e, não obstante, quando terminar esse período, a tradição deverá ser de novo manifestada em sua integridade, pois que o início de cada MANVANTARA, coin-cidindo com o fim do precedente, implica necessariamente para a humanidade terrestre no retorno ao "estado primordial" 32 .

Na Europa, toda ligação estabelecida conscientemente com o centro, por intermédio de organizações regulares, está atualmente rompida, a isso está assim já há muitos séculos; aliás, esse rompimento não foi realizado de um só golpe, mas em muitas fases sucessivas 33 . A primeira. delas remonta ao início do século XIV; o que dissemos em outra parte sobre as Ordens de cavalaria pode fazer compreender que uma de suas principais atribuições era assegurar uma comunicação entre o Oriente e o Ocidente, comunicação cujo verdadeiro alcance é possível compreender se se observa que o centro do que aqui falamos tem sido sempre descrito, pelo menos no que se refere aos tempos "históricos", como situado do lado do Oriente. Entretanto, depois da destruição da Ordem do Templo, o Rosacrucianismo, ou – aquilo a que se devia dar esse nome em seguida, continuou a assegurar a mesma ligação, se bem que de maneira dissimulada 34 . A Renascença e a Reforma marcaram nova fase crítica, e, enfim, após o que parece indicar Saint-Yves, o rompimento completo teria coincidido com os tratados de Westfália que, em 1648, puseram fim à guerra dos Trinta Anos. Ora, é digno de nota que muitos autores tem afirmado precisamente que, pouco depois da guerra dos Trinta Anos, os verdadeiros Rosa-Cruzes abandonaram a Europa e retiraram-se para a Ásia; recordaremos a este propósito que os Adeptos rosacrucianos eram em número de doze, como os membros do

28 Essa expressão é tomada da doutrina taoísta; além de que, tomamos aqui a palavra "intenção" em um sentido que é muito exatamente aquele do árabe niyah, que habitualmente se traduz assim, e este sentido aliás está conforme a etimologia latina (de intendere, dirigir-se para o lado de). 29 O que acabamos de dizer permite interpretar, em um sentido muito preciso, essas palavras do Evangelho: "Procurai e achareis; pedi e recebereis; batei e ela vos será aberta'". Dever-se-á aqui, naturalmente, reconsiderar as indicações que demos a propósito da "intenção direta" e da "boa vontade"; e poder-se-ia, sem dificuldade, completar pela explicação dessa fórmula: PAX IN TERRA HOMINIBUS BONAE VOLUNTATIS. 30 No Islam, esta orientação (qiblah) é como a materialização, se assim se pode dizer, da intenção (niyah). A orientação das igrejas cristãs é outro caso particular que se .refere essencialmente a mesma idéia. 31 Não se trata, bem entendido, senão de exteriorização relativa, pois esses centros secundários são, eles próprios, mais ou menos estritamente fechados desde o início da Kali-Yuga. 32 É a manifestação da Jerusalém celeste, que é, em relação ao ciclo que findou, a mesma coisa que o Paraíso terrestre com relação ao ciclo que começa, como explicamos no "Esoterismo de Dante". 33 Do mesmo modo, dentro de um ponto de vista mais amplo, há para a humanidade vários graus no afastamento do centro primordial; é a esses graus que corresponde a distinção das diferentes Yugas. 34 Sobre este ponto ainda somos obrigados a retornar ao nosso estudo "O Esoterismo de Dante", onde demos todas as informações que permitem justificar esta asserção.

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círculo mais interno da AGARTTHA, e conforme a constituição comum a tantos centros espirituais formados à imagem desse centro supremo.

A partir dessa última época, o acervo do conhecimento iniciático efetivo não é mais guardado por qualquer organização ocidental; também Swedenborg declara que, para o futuro, é entre os sábios do Tibete e da Tartária que se deve procurar a "Palavra perdida"; e, de seu lado, Anne-Catherine Emmerich tem a visão de um lugar misterioso que ela chama de "Montanha dos Profetas", e que se situaria nas mesmas regiões. Acrescentemos que, das informações fragmentárias que Mine. Blavatsky pôde obter sobre este assunto, sem aliás compreender sua verdadeira significação, foi que nasceu nela a idéia da "Grande Loja Branca", à qual poderemos chamar, não mais uma imagem, mas muito simplesmente uma caricatura ou paródia imaginária da AGARTA 35 .

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"O Rei do Mundo" e os Mundos Subterrâneos

A BIBLIOGRAFIA HODIERNA E AS TRADIÇÕES MILENARES

Nos comentários publicados em precedentes edições de "Dhâranâ", fizemos referência aos livros de três pesquisadores ocidentais modernos que se ocuparam da tradição dos mundos subterrâneos: Saint'Yves d'Alveydre, F. Ossendowski e René Guénon, respectivamente autores de "Missão da Índia", cuja primeira edição circulou em França, em 1910; "Animais, Homens, Deuses" (1921) ; e "O Rei do Mundo" (1927). Podemos juntar a esta citação mais dois nomes, embora com restrições por não haverem aprofundado seus estudos acerca daquela tradição: Jean M. Rivière, no seu livro intitulado "A Sombra dos Mosteiros Tibetanos" (Paris, 1956), e M. Roso de Luna, em "O Livro que mata a Morte ou o Livro dos Jinas" (B. Aires, 1957).

O livro de Rivière é um relato de sua viagem ao Oriente e das suas experiências durante a iniciação a que se submeteu nos mosteiros do Tibete. Seu Mestre permitiu-lhe a divulgação de parte das revelações lá aprendidas. Traduzimos e transcrevemos a seguir algumas páginas desse livro nas quais o principal assunto se prende diretamente ao ,tema de que estamos tratando

... "E agora, meu filho, prosseguiu o velho Lama; no silêncio de todas as coisas, existentes em torno de nós, há um mistério muito mais profundo do que tudo quanto já vos disse. Esta organização religiosa, o Lamaísmo, que vos descrevi, não passa de reflexo de outra mais perfeita, puramente espiritual, embora ainda de nossa Terra.

"Sabei que reina sobre toda a Terra e acima do Lama dos Lamas Aquele diante do qual o próprio Taschi-Lama curva a cabeça, Aquele a quem chamamos o Senhor dos Três Mundos. Seu reino terrestre é oculto e nós, da "Terra das Neves", somos seu povo. Seu reino é para nós a Terra prometida, "Napamakou", e nós trazemos em nosso coração a saudade desse país de Luz e Paz. É lá que um dia terminaremos todos nós, diante dos bárbaros invasores, e dentro de breve tempo, pois que nossos Oráculos são formais. Os mais santos dentre nós já partiram para Napamakou, para os mosteiros de sabedoria do Mestre dos Três Mundos. Mas um dia, para salvar a Tradição eterna da possível profanação, fugiremos dos invasores do Norte e do Sul, :e novamente ocultaremos nossos escritos e nossa Doutrina 35 Aqueles que compreenderam as considerações aqui expostas, hão de concordar que não é possível tomar a sério as múltiplas organizações pseudo iniciáticas que surgiram no Ocidente contemporâneo; não existe uma sequer que, submetida a um exame um pouco rigoroso, possa fornecer a menor prova de "regularidade".

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"Que importa tudo isso ao Venerável, ao "Puissant Joyau du Ciel", para Quem um dia e como um ciclo para nós. Imutável, reina Êle no coração e na alma de, todos os homens; conhece nossos pensamentos secretos e auxilia aqueles que defendem a Paz e a Justiça. "Ele não esteve sempre em "Napamakou". A tradição nos diz que antes da gloriosa dinastia de Lhassa, antes do sábio Passèpa, antes de Tsongkhapa, o Senhor Onipotente reinava no Ocidente, sobre uma montanha circundada de grandes florestas, no país onde habitam hoje os Pilineu-gheu (gente de fora, os estrangeiros). Por seus filhos espirituais reinava Ele sobre as quatro direções do Mundo. Naquele tempo existia a Flor sobre a Svástika... Sua força toda poderosa nos protege, porém as leis inexoráveis das coisas nos dominam, e diante dos ciclos sombrios é necessário esconder-nos e esperar... " "Uma vez por ano Ele dá suas instruções a seu povo e aos povos da Ásia por um delegado de seu Reino que vem a Lhassa; durante esse período toda a Ásia permanece em orações, porque o Senhor dos Três mundos se comunica com seu povo." ... (págs. 144-147).

Roso de Luna, teósofo dos mais ilustres, que se comprazia em dizer-se amigo e admirador de Henrique José de Souza, e foi o sétimo nome na relação constitucional da S. T. B., recebeu do Mestre revelações acerca dos mundos subterrâneos. Em seu "Livro que mata a Morte ou Livro dos Jinas", pelo próprio Autor considerado a melhor de suas obras, no capítulo XVII, "Mundo, Submundo e Supramundo", além de primorosos ensinamentos de teosofia, encontramos um reflexo de tais revelações (pág. 269)

... "Heróis cavaleiros desta classe são os protótipos simbólico cavaleiros do herói humano em luta com o Destino ou "Luz Astral", e senda do mundo jina desde o dia em que nasce (senão antes) até o dia de sua morte, que é o de seu iniciático triunfo. Como tais protótipos, têm sua representação, dia por dia, povo por povo, em algum herói pequeno ou 'grande, em algum gênio ou jina humano, que por seu triunfo veio a constituir-se assim, depois de morto, isto é, depois de passar para aquele mundo, em "homem representativo", manu ou guia, ora de uma simples família, ora de uma comarca, uma região, uma raça ou uma época, de vez que na matemática seriação das unidades humanas das diferentes ordens todos somos heróis: grandes, pequenos ou ínfimos, posto que a todos nós é obrigatória a luta como única razão de nossa existência neste submundo dual, verdadeira zona intermediária que pertence ao mesmo tempo ao submundo (Hades, Hella, Inferno ou "lugar inferior") dos elementais, e ao supramundo (Campos Elíseos, Céu, Devachan, Amenti, Paraíso etc.) dos jinas. 36

Três Mundos e Seis Dimensões

Para atinarmos com os ensinamentos contidos nesses livros devemos antes de tudo admitir que o mundo não está todo compreendido no que puderam até agora alcançar os cientistas das universidades com base nas três dimensões, nos cinco sentidos, nas máquinas e aparelhos de seus laboratórios. A quarta, a quinta e a sexta dimensões, ligadas às três, constituem os mundos astral, mental e espiritual, que interpenetram o espaço hiperfísico do céu, da terra e do inferno. Acima, em cima e abaixo da superfície deste planeta. Nosso cérebro, possuindo apenas o senso das três dimensões do plano físico, é inapto a concebê-las, apesar de seus poderes latentes, como sejam os relacionados com os hormônios hipofisários para o psíquico e com a glândula pineal para o espírito. Na Iniciação as forças latentes do homem são despertadas e aguçadas pela subida da 'luz de "Kundalini".

Os mundos subterrâneos compreendem três planos, conhecidos pelos nomes de "Duat", "Agartha" e "Shamballah", quais reflexos no seio deste planeta dos Três mundos Superiores, servindo a superfície da Terra para as relações intermediárias, comparáveis 36 Os grifos e es aspas são do Autor. A referida obra, bem como as precedentemente citadas, com exceção apenas da de Ossendowski, ainda estão à espera de editores em nosso idioma.

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às de numerosas pontes mediante as quais se podem realizar as desligações e as ligações entre os milhões de seres dos Três Mundos Superiores com os Três lá de baixo. As ligações (quando os seres terrenos se "realizam") são representadas pelo Hexágono, os dois triângulos equiláteros entrelaçados, o Vau (ou ponte), Arcano 6, estreitamente relacionadas com o Segundo Logos.

No espaço que se encontra fora do alcance de nossos cinco sentidos, para cuja compreensão deveríamos conhecer os segredos não só da Metafísica mas também os da Hipergeometria, encontra-se a chave dos mistérios e a sede dos fenômenos erroneamente chamados sobrenaturais ou miraculosos, sejam eles de natureza taumatúrgica, ocultista, sejam hipnóticos, sonambúlicos, cataléticos. Os de maior transcendência são os cons-cientemente provocados a serviço da Lei pelos "Jinas" ou Adeptos da Grande Fraternidade Branca (Shuda Dharma Mandalam). Sem a iniciação nos segredos dos Mundos interiores seria indecifrável o enigma encerrado no apótema hermético: "O que está em Cima é como o que está em Baixo, o que está em Baixo é igual ao que está em Cima, para a realização dos mistérios da Causa Única"; o qual tem o valor de uma revelação, comparável ao VITRIOLUM (Visita Inferiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem Veram Medicinam), a qual também diz respeito aos Mundos lá de Baixo.

Onde se processa a Evolução

É aqui na Superfície que as Mônadas, centros de consciência ou centelhas na Chama, evoluem pela transformação da vida energia em vida consciência, através do itinerário de IO (de Ísis-Osíris) até atingirem o ápice da perfeição. A Tríade espiritual (Atmã, Budhi, Manas) tende a unir-se ao Quaternário material e semimaterial (físico, duplo etérico, astral e mental) por várias centenas de existências humanas, mediante as reencarnações. Mas a união, ou comunhão definitiva, não é gratuita, pois depende do nosso trabalho e da nossa conduta moral. A matéria volta a espiritualizar-se; o humano volta para o divino. Porém, aqueles que, esgotado o limite numérico ou potencial das reencarnações, não quiserem prevalecer-se da última oportunidade, serão definitivamente desligados (excomungados, no sentido de separados da comunhão) da Tríade superior (espírito) e retrocedem para as trevas da matéria densa, lugar onde, segundo o Evangelho, há choros e ranger de dentes; e que, no vocabulário teosófico, se denomina "Cone sombrio da lua".

O Templo do "Caijah" em "Duat"

O Mundo de Duat, que é o da Tradição, é constituído de sete regiões subterrâneas que partem de uma central (oitava), na qual se construiu o excelso templo que recebeu o nome le "Caijah" 37 . Nas galerias dessas regiões se localizam os grandes museus e as

37 O Templo do "Caijah" e o Sonido da Sagrada Taça

A respeito do Templo do " Caijah" podemos hoje dizer algo mais aos leitores de "Dhâranâ". Edificado pelas Hierarquias criadoras, no Mundo de Duat, representando o oitavo sistema de evolução e o oitavo princípio b Homem, encontra-se em correspondência direta com o de S. Lourenço. Naquele sagrado Templo é que se conserva ciosamente, ao mais seguro abrigo da humana profanação, o lendário Cálice, cujo "fac símile" se vê em determinadas solenidades no sacrário do Templo da S. T. B., para onde foi afinal conduzido pelas mãos do Rei Sacerdote depois de concluída a peregrinação pelas sete igrejas do Ocidente, qual repercussão cíclica de seu itinerário pelas sete igrejas mencionadas no Apocalipse de S. João. Sua verdadeira história exorbita das tradições e das lendas, remontando sua origem à recuadíssima era da Atlântida e ao sacrifício dos sacerdotes Muísis e Muíska, na oitava cidade daquele continente.

A última galeria subterrânea que se ligou ao Templo do "Caijah" foi inaugurada em 1960, tendo sido designada pelo nosso Venerável Mestre com o significativo nome de "Luz de Chaitânia", após um solene ritual em que se ouviu distintamente e por longo tempo o "sonido" de que ele nos falara tantas vezes! Nós que o ouvíamos pela primeira vez, sentimo-nos extasiados. Era um som harmonioso e contínuo, vibrante e suave que nos empolgava com um poder irresistível. Dir-se-ia comparável a um desses misteriosos e desconhecidos rumores da natureza, de que Ossendowski e outro escritores tentaram oferecernos uma impressão, aquela cristalina música que aos próprios animais encanta e comove, um queixume, não triste, do vento ferindo as espirais sonoras de instrumentos invisíveis. Todos nos pusemos de ouvido alerta e coração exultante. Um irmão tivera a feliz lembrança de levar seu aparelho de gra-

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enormes bibliotecas onde se conservam intatos e atualizados os acervos artístico e bibliográfico da humanidade de todos os ciclos evolutivos.

Nas tradições, além dos nomes de "Belovedye" (Bela Aurora), de Luz, Paradesa, Arca ou Barca, a Agarta é conhecida também com o nome de "Dragão das Sete Escamas", cuja cabeça coroada é Shamballah, a Mansão das Hierarquias criadoras. Foi para aquela Barca subterrânea que Noé, o manu bíblico, conduziu seu povo para o salvar do dilúvio. Sabe-se que ela já estivera na face da Terra e que deveu ser "interiorizada" ou escondida no seio do globo antes que ós crimes dos mago negros e a voracidade dos prepotentes atingissem o limite do tolerável, dando causa à primeira catástrofe da Atlântida.

Como reflexo de um sistema solar, a Agarta possui sete cidades, cujos habitantes representam sete diversos estados de consciência. A cada uma corresponde um tatva e um planeta dirigente, três templos, um central e dois laterais, todas elas no entanto regidas por um Governo Sinárquico, segundo o Sacerdócio do Rei Melki-Tsedek, do qual encontram citações na Bíblia, como "Rei da Salém, Sacerdote do Deus Altíssimo, Rei da Paz; sem genealogia, permanece Sacerdote perpetuamente". (Hebreus, VII, 1-3).

Diferentemente de quanto se observa na superfície, em que as vinte e quatro horas do dia se dividem em 12 para a luz do dia e 12 para as sombras da noite (com pequenas oscilações segundo os paralelos e as estações do ano), em Duat há por dia dois terços de luz para um de sombra, e na Agarta não há trevas, mas eterna Luz. Foi portanto exata a resposta dada pelo tripulante de um Disco Voador, na sua linguagem lacônica enigmática. Quando lhe perguntaram pela , sua procedência respondeu apenas duas palavras "Claryon, Belovedye". (Luz, Bela Aurora).

A Sede da Agarta e o testemunho do Marquês Saint'Yves d'Alveydre

O livro "Missão da Índia", que tem por subtítulo "Missão da Europa na Ásia e Missão da Ásia na Europa'", também podia chamar-se Livro das Maravilhas Subterrâneas. Dissemos no início deste comentário que foi ele o primeiro escritor ocidental a transmitir-nos em letras de imprensa um relato da vida nos submundos. Relato minucioso de seus fabulosos habitantes, deixando-nos uma impressão viva de nitidez e realidade semelhantes às de uma reportagem ilustrada, de uma película documentada a cores. No seu estilo fluente, em capítulos sucessivos, nos informa por que os Pontífices ocultaram nucioso que nos conduz a uma visita inesquecível aos rincões agartinos e ao sob a terra seus templos e universidades; como a lei dos mistérios será ab-rogada paulatinamente; a quem deve ele as revelações sinárquicas; descrevemos seu encontro com alguns paradesianos (agartinos); seu sistema de governo, métodos de ensino, hierarquia dos anfictiãos.

Ao tratar da localização da Agarta, depois de considerações sobre nossas tiranias políticas e conquistas militares que estariam a retardar a assinatura de um acordo com o Governo Sinárquico dos Mundos subterrâneos, escreve:

..."É por humanidade para com os povos europeus, assim como para com os povos da própria Agarta, que não temo prosseguir na divulgação que iniciei. Tanto na superfície como nas entranhas da Terra, a. extensão da Agarta desafia o cerco, está ao abrigo da profanação, sendo inexpugnável a qualquer violência. Sem contar com as Américas, cujos subsolos lhe pertenceram numa antiguidade imemorial, somente na Ásia cerca de meio milhão de habitantes conhecem aproximadamente sua existência e sua grandeza. Mas não se encontrará entre eles um só traidor que indique qual a posição do Concílio dos Deuses...

vação ao solene ritual; e o sonido encontra-se nitidamente gravado, embora não possa reproduzir as etéreas vibrações do ambiente e do momento.

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..."É devido a essas causas científicas que aquela Terra Santa jamais foi profanada, a despeita do fluxo e refluxo e das recíprocas destruições dos impérios militares, desde a Babilônia até o reino turaniano da Alta Tartária; desde Suzo até Pella ; desde Alexandria até Roma"...

Tanto quanto as abras de Ossendowski e Guénon, o testemunho do Marquês Saint'Yves A'Alveydre. é digno de especial menção, além de tudo por tratar-se de Autor do famoso "L'Archéomètre", obra tornada mais preciosa pela raridade e por não haver esperança de reedição.

Os inframundos na Tradição Egípcia

Recuando cinco ou seis milênios, saltando dos testemunhos modernos aos mais antigos, vamos encontrar as primeiras alusões aos Mundos subterrâneos em "O Livro dos Mortos", dos sacerdotes egípcios. Seu título original era "Saída para a Luz do Dia"; o de "Livro dos Mortos" lhe foi dado por Ricardo Lepsius, ao fazer a primeira versão, publicada em 1842. Na realidade quem descobriu o "Livro dos Mortos" foi Champollion, estudando os monumentos egípcios do Museu de Turim. Os capítulos XII e XVII trazem estes títulos: "A passagem através do Amenti" e "Para entrar noa Mundos inferiores e para sair deles". Expressiva a saudação de cap. CLXXIII em que Hórus se defronta com seu Pai divino, Osíris, no momento em que entra em sua Mansão no Mundo Inferior:

"Salve Osíris, Príncipe do Amenti, Senhor de Abidos, Rei da Eternidade, deus misterioso do Re-Staú” Eis-me aqui. Glorificado Senhor dos Deuses, tu, o único, vivendo pela Verdade da Palavra!"...

A oração do capa CLXXX visa abrir aos Espíritos santificados os caminhos do Mundo Inferior; como devolver-lhes a liberdade de movimentos,. a fim de que possam percorrer aquele mundo; como dar-lhes a possibilidade de efetuarem todas as metamorfoses de alma viva

"Eis aqui Ra que desce para o Horizonte Ocidental! Manifesta-se com os rasgos de Osíris mediante a radiação dos Espíritos santificados e de todos os deuses do Amenti. Pois ele é o único, o deus oculto do Duat, a Alma sagrada que preside os destinos do Amenti, o Ser-Bom cuja vida é eternal Eis aqui as oferendas de Duat graças às quais tu poderás cumprir a Viagem... Filho de Ra, tu procedes de Tum. Os habitantes de Duat te glorificam ! ...

Uma das muitas coisas sábias e verdadeiras ensinadas por Gautama, o Buda, foi esta: Os que falam do Paraíso e do Inferno não mentem senão quando os situam fora da Terra.

Os dois livros escatológicos "tipos" são "O Livro dos Mortos" dos egípcios e "O Bardo Thodol" dos tibetanos, no dizer de Juan Bergua, que pela primeira vez os traduziu para o espanhol (Madri, 1962). Também na tradição do Tibete encontramos, embora menos freqüentes que na egípcia, diversas alusões aos Mundos subterrâneos, inclusive nas preces pelos mortos, de O Bardo Thodol", também chamado "O Livro dos Espíritos do Além (A ancianidade desse livro é estimada em 6.000 anos).

A importância dos Rituais

Como se viu no cap. VII, "A Morada da Imortalidade", René Guénon escreve que no Judaísmo a Cidade Misteriosa é chamada Luz. No original esta palavra aparece grifada, com a mesma grafia portuguesa (Luz), na acepção de lugar oculto, coberto, silen-cioso, secreto, dando a idéia de inviolável, inatingível pela violência, segundo o próprio sentido do hierograma agartino estampado na, obra de Saint'Yves. Interessante a relação que ele estabelece com o sentido de outra palavra "Luz", nome dado a uma partícula

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corporal "indestrutível'' na extremidade inferior da coluna vertebral, que, consoante o esoterismo hindu, é a sede da força denominada "Kundalini", forma de "Shakti" considerada imanente no homem.

O cap. VIII que versa sobre o Centro Supremo oculto durante á "Kali-Yuga" merece particular atenção do estudioso. Suas afirmações coincidem, quase todas, com os ensinamentos de nossa Escola; demo-nos ao gosto de reproduzir algumas: "O conhecimento iniciático deve necessariamente permanecer oculto"... E o Autor bem poderia ter acrescentado: e restrito aos que, pela sua escrupulosa conduta moral, se tornaram dignos de recebê-los.

.. . "Não apresentam (as organizações secretas) senão . a sombra, quando o espírito dessa doutrina deixou de vivificar os símbolos que não são mais que sua representação exterior, e isto porque, por várias razões, todos os laços conscientes com o centro espiritual do mundo acabaram por ser rompidos, o que constitui o sentido mais próprio da perda da tradição, cessando de estar em relação direta e efetiva com o centro supremo".

Depois, aludindo à Agarta como oculta, protegida, mas não definitivamente perdida, .acrescenta:

“Não para todos, pois que alguns ainda a possuem integralmente; e, sendo assim, outros tantos sempre têm a possibilidade de encontrá-la de novo, contanto que a busquem convenientemente"...

É lícito pensar que o insigne autor tinha todo o direito de se incluir entre os primeiros. E esclarece: "Desde que sua intenção seja dirigida de tal maneira que, pelas vibrações harmônicas que ela (a Agarta) desperta, segundo a. lei das ações e reações concordantes, possa colocá-las em uma comunicação espiritual efetiva com o centro supremo".

Tal orientação e a ritualística que, segundo suas palavras, encaminha es vibrações para o Centro do Mundo. Podemos supor que ele participasse com o seu grupo de iniciados de reuniões em que secretamente se praticava "L'Orientation rituelle" e que sua experiência, fosse até superior a tudo quanto pôde dizer em um livro, no qual, a despeito da patente boa vontade do autor em difundir seus conhecimentos, era verdadeiramente impossível expor esses mesmos conhecimentos. Do que se deduz o valor das reuniões ritualísticas praticadas pelos iniciados na intimidade das agremiações ocultistas que tiveram o mérito de manter atados os laços de espiritual familiaridade com os Agartinos.

Em que os ensinamentos de nossa Escola atualizam os do Autor. O "Ex Oriente Lux" de Swedenborg e o "Ex Occidente Lux" de J. H. S.

Vamos agora assinalar um trecho desse capítulo de "O Rei do Mundo" contendo asserções que se tornaram superadas pelos fatos extraordinários ocorridos desde o nascimento agartino de J. H. S. em terras do Brasil em 15 de setembro de 1883 e, notadamente, os registrados em determinado pico da Serra da Mantiqueira, em Minas, de onde se difundiram em torno de sua pessoa, a. partir daquele memorável dia 28 de setembro de 1921, os mais impressionantes fenômenos "Jinas" dos anais da Doutrina Esotérica.

O famoso cabalista francês, a despeito de sua brilhante cultura e da intensidade de suas pesquisas, no afã de alcançar no fundo o centro da "Luz", esteve muito afastado dela no espaço, apesar de bem perto no tempo; todavia, menos feliz que Roso de Luna, o iluminado de Madri, não lhe foi dado vislumbrá-la aqui na superfície, num vasto e ignorado país que nunca figurou no mapa de suas cabalísticas cogitações. Do contrário, não teria assinado conceitos inexatos como o de atribuir ao mundo oriental a Regência das coisas do Espírito, quando ela já havia sido de direito e de fato outorgada ao Ocidente. Quem escreveu:

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"A partir daquela época (1648) o acervo do conhecimento iniciático efetivo não é mais guardado por qualquer organização ocidental; também Swedenborg declara que, para o futuro, é entre os sábios do Tibete e da Tartária que se deve procurar Palavra perdida"... escrevia repetindo velhos erros, de costas voltadas para o Sol, que já despontara no horizonte do Novo Mundo, e teimava em procurá-lo na. escuridão do Oriente, assestando seu microscópio investigador em países da Ásia central, onde em verdade o bruxuleio do crepúsculo da Mongólia desorientou valorosos pesquisadores ocidentais norteados por antiquadas "orientações", como as do vidente sueco por ele mencionado nesse tópico, pai da expressão latina, "Ex Oriente Luz", hoje em dia sem sentido, porque tudo mudou.

Agora, podemos afirmá-lo, com a convicção de quem viu: e sabe, "o acervo do conhecimento iniciático efetivo" voltou para o Ocidente, enriquecido (por Henrique) das revelações deste novo Ciclo e dos ensinamentos que possibilitam a sua interpretação correta. Onde está esse tesouro de conhecimentos? Como atingi-lo? Quem poderá conduzir-nos a ele? Onde o Paraíso terrestre? Desde a mais remota antiguidade essas perguntas tem sido respondidas com evasivas e fantasias, consumindo-se inutilmente montanhas de papel e mares de tinta. Nossa resposta é breve e positiva. Não importa que poucos acreditem nela. Estamos nos dirigindo a esses eleitos. Tudo se resume em dissipar as trevas da ignorância com a luz do moer. Mas o ouro que é luz não seduz os cegos de espírito, que tem fome de ouro metálico. Nosso tesouro está aqui mesmo, em nosso país, ao alcance das mãos e dos olhos que se tornarem dignos de pegá-lo e vê-lo. Somente não podemos dizer que está também ao alcance dos ouvidos dignos de ouvirem, porque a Voz do Deva Vani, o Verbo feito carne, o Sagrado veículo do Espírito de Verdade esvaiu-se e emudeceu, aqui nesta capital de Paulo, na madrugada de 9 de setembro de 1963. Mas deixou-nos Sua palavra; ela não está perdida. "Ex Ocidente Lux!" 38

Críticas passíveis de crítica. A Missão de HPB. Quem são os legítimos representantes agartinos?

Em diversas oportunidades temos manifestado nossa admiração por quem nos legou monumentos de cultura, tais como "Ísis Sem Véu", "Doutrina Secreta", "Glossário Teosófico"; nosso respeito à memória daquela que foi a paladina do maior movimento renova,, dor da mentalidade dogmática do século passado, a quem Roso de Luna cognominou de "Mártir do Século XIX" e que foi também a mulher mais ilustre nas letras, a. mais valente no campo de batalha; nossa veneração à figura daquela cujo espírito 38 O "Ex Ocidente Lux" na interpretação de Alexandre Dumas

As obras de Alexandre Dumas são repletas de ensinamentos sobre as causas da revolução francesa, tão intimamente ligada com a. história de nossa Obra como a Queda do Templo do Tibete e a Tragédia do Gólgota. Os episódios por ele magistralmente descritos encerram muitos, ensinamentos da Teosofia.

Já no primeiro volume, intitulado "José Bálsamo", de sua coleção "Memórias de um Médico", ressalta sua qualidade de iniciado. Transcrevemos um trecho do capítulo "L. P. D." no qual o misterioso Mestra se dispôs a desvelar aos irmãos embuçados seu lacônico Ego sum qui sum, descrevendo-lhes as lutas de suas passadas vidas.

"Sem dúvida, senhores, desejais saber por que motivo o muçulmano Acharat era recebido com tantas honras por aqueles que fazem voto de exterminar os infiéis. Era porque Althotas, sendo católico e cavaleiro de Malta, só me havia falado de um Deus poderoso e uni-versal, que por meio dos anjos, seus ministros, havia estabelecido esta harmonia geral, a que dera o belo e grande nome de Cosmos. Eu era portanto teósofo". ...

Outra passagem desse mesmo capítulo, que transcrevemos a seguir, vaticina o "Ex Ociddente Lux" de J. H. S.:

"Colocou-me então as mãos sobre minha cabeça, como costumava fazer quando queria momentaneamente dar-me a dupla vista.

" − Dorme, disse-me ele, e lembra-te.

"Adormeci imediatamente, e sonhei então que estava sobre uma cama de madeira de sândalo e aloés; um Anjo que passava, levando do Oriente para o Ocidente a vontade do Senhor, tocou-me com uma das asas, e a minha cama incendiando-se tornou-se uma fogueira. Mas, caso singular, em vez de me sentir possuído de temor, em vez de recear essa chama, estendi-me voluptuosamente no meio das labaredas, como a fênix que vem aspirar nova existência no princípio de toda a vida”...

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brilha intensamente como astro de primeira grandeza na constelação dos modernos pen-sadoras, que porfiam em arredar as trevas da ignorância e da superstição. Cumpre-nos o dever de, mais uma vez (.e por certo não será a última), comparecer na torre de observação para apontar como injusta a crítica que lhe fez o Autor de "O Rei do Mundo" no final do cap. VIII, quando, talvez irrefletidamente, diz:

"Acrescentamos que, das informações fragmentárias que Mme. Blavatsky pôde obter sobre esse assunto, sem aliás compreender sua verdadeira significação, foi que nasceu nela a idéia da Grande Loja Branca, à qual poderemos chamar simplesmente uma caricatura ou paródia da Agarta". E na respectiva nota no 12 o Autor acirra a crítica, afirmando que no Ocidente contemporâneo nenhuma organização iniciática está em condições de fornecer a menor prova de "regularidade".

A heróica doutrinadora suportou com estoicismo (e em muitos transes foi salva pelos seus "tulkus", assunto do qual Guénon demonstrou não ter conhecimento) todos os embates da árdua missão que sobre seus delicados ombros de mulher depositaram os Mestres de sabedoria. Tão difícil era sua tarefa que não pôde levá-la a cabo; cumpria-lhe fixar a sede da Sociedade por ela fundada, em colaboração com Henry Olcott, nas terras da Norte América, porém as forças comandadas pelos "nirmanakayas" negros obrigaram-na a retroceder à Índia. Também lá no decantado Oriente encontrou ela a incompreensão, a inveja e a vaidade de muitos discípulos. Não foi sem razão que, triste e angustiada, lhes dirigiu estas palavras de mágoa e desencanto, que talvez estejam ainda a doer nas suas consciências: "Amontoai pedras teósofos; amontoai-as caros irmãos e boas irmãs, para, com elas lapidardes até a morte aquela que, com a palavra dos Mestres, procurou trazer-vos a felicidade".

Não sabemos em que se baseou o Autor para considerar a Mestra H. P. B. incapaz de compreender um assunto pertinente a matéria que lhe era familiar. Um dos primeiros ensinamentos da Sabedoria iniciática, e que consta do próprio Evangelho cristão, e "Não julgar". O Autor, no entanto, quis julgar a "Mártir do Século XIX" e, com maior severidade, no seu livro "Le Theosophisme".

Quanto à "irregularidade" das organizações iniciáticas ocidentais, poderá o leitor, com base nos esclarecimentos que lhe oferecemos nestes comentários, compreender que as do Oriente padeciam do mesmo mal, pois nem elas podiam apresentar a menor prova de "regularidade". Onde vivem hoje os legítimos representantes da Agarta? Qual a instituição iniciática que está habilitada a apresentar essas provas, além da S. T. B.?

&

Mistérios do Oriente e do Ocidente (O TIBETE E A TEOSOFIA)

Mário Roso de Luna Henrique José de Souza

Capítulo XVII

UM FRACASSO OCULTISTA?

No capítulo anterior tratamos de algo que, no mais alto sentido, poderia passar por um fracasso ocultista de Alexandra David-Neel, ao dar, precisamente, seu primeiro passo no caminho da iniciação tibetana. Nossa heroína, com efeito, mal se dirige ao Dalai-Lama, e este lhe promete um mestre que, como sempre, chega oculto às vulgares apreciações,

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sob um ínfimo traje de naldjorpa e através a desconcertante aparência do mais gráfico e genial dos cínicos que, em resumo lhe diz: – "Fazer estrelas de excremento de cão, eis aí a Grande Obra! "; a obra alquímica, por excelência, de transformar em rosas do Ideal, os estercos da realidade impura. A então inexperiente Alexandra, em vez de levantar o véu das francas palavras do asceta, o toma por louco...

A Mestra H. P. B., típica naldjorpa que fez reviver no Ocidente a clássica doutrina iniciática, gostava, também, de falar e de agir segundo aquele da narração precedente. Assim no-lo testemunhou diversas vezes, nosso pranteado amigo José Xifré, que tão intimamente conviveu com ela. Ninguém, de outro modo, poderá duvidar de que tal proceder constitui uma admirável tática probatória capaz de afugentar o profano não preparado para o caso, ou levado ainda "por mundanos motivos", ao passo que poderá a mesma tática fortificar em seus bons propósitos o candidato que sabe distinguir dessas escórias o ouro fino do Ocultismo, tal como estava admiravelmente expresso nos "escatológicos" do asceta, embora a incompreensão e quase escândalo da parte de nossa corajosa parisiense, que na sua desculpável frivolidade européia, não, podia atinar com as sutilezas daquela sabedoria, pois, com efeito, miséria e "imundície" são todos os ilusórios "tesouros" deste mundo em que vivemos como simples peregrinos; não sendo outra a nossa missão, isto é, de transformar as "imundícies" materiais e a vida animal em que vivemos no "pó de ouro" do Conhecimento e das "límpidas águas" do Amor, em relação a esse admirável metabolismo operado continuadamente pelo homem, de transformar o paralelismo perfeito com aqueles de naldjorpa: os alimentos em forças, as forças em Pensamento, o Pensamento em Amor e o Amor em vontade de Libertação... Todo aquele que medita vê outro similar maravilhoso no também "escatológico" símbolo do Escaravelho sagrado egípcio, o Anjo ou Espírito condutor da Terra (a que aludiram homens como Tomás de Aquino, Kepler, Kant e Wagner) levando por espaços sidéreos esta mísera pelota de lodo, que se chama Terra? E quem não vê que todo o Ideal humano não é outra coisa, senão, o contínuo semear de flores de ilusão, como esterco da Realidade impura, que tanto entusiasma nossos positivistas? 39 .

Nada de mais verdadeiro na Ciência e na Vida como as comparações "escatológicas" que tanto escandalizaram nossa admirável francesa, muito menos, talvez, que o fariam a qualquer bem educada "miss". Todo o problema da produção que é, com efeito, a arte de aproveitar "as obras", "os estercos", tanto na agricultura como na. Indústria, e também na Música, segundo aquele ingrato tema musical de Diabeli, do qual, entretanto, o rude naldjorpa Beethoven soube fazer 33 variações, algumas delas 39 A base de todo ensinamento ocultista está em sobrepujar as rotinas, preocupações e demais erros de nossa vida ordinária como pessoas bem e pouco "shokings". Assim, longas são as torturas que à educadíssima Condessa de Wachmeister (torturas ou provas referidas por ela própria em suas Memórias), teve de submeter a Mestra H. P. B. para despojá-la de seus prejudiciais títulos aristocráticos, que poderiam servir-lhe de outros tantos obstáculos mundanos na Vereda. E nada digamos de outras iniciações, como a jesuítica contida nas célebres regras dos Exercícios Espirituais de Inácio de Loiola, onde toda vulgaridade mundana fica de fato abolida, como se pode verificar lendo as passagens que a tal respeito consagra a História interna e documentada da Companhia de Jesus, do Padre D. Miguel, e que os seus sequazes estão empenhados em fazer desaparecer das bibliotecas.

"Sadhus" e "naldjorpas" e "mestres" mereceriam, não meros capítulos, porém, obras inteiras a eles consagradas e que algum dia, quando houver verdadeira cultura psicológica no Ocidente, haverão, de ser escritas.

O homem comum, com cultura ou sem ela, faz recordar bastante nas orientações, ou melhor, nas "desorientações" de seu espírito, sempre atraído pelo exterior, ao personagem daquela parábola que David-Neel nos transmite de alguém que caminha para um lago situado a Este, porém, que ao perceber o fumo de uma cabana, que divisa ao Norte, muda de rumo e se dirige para ela, com a intenção de lá beber um pouco de chá. Alguém, uns fantasmas, aliás, lhe embargam a passo no novo caminho, o que o faz fugir aterrorizado para o Sul. Aí se encontra com outros, que o fazem fugir para Oeste, indo com eles também, não sem que logo novos incidentes lhe façam mudar, uma e outra vez, de rumo, segundo aquele jocoso dito de Campoamor: "Ai daquele que vai do mundo a alguma parte e se encontra com uma ruiva no caminho..." Esses homens poderão ser tudo no mundo, menos "naldjorpas" nem "tulkus", por não possuírem a condição fundamental dos verdadeiros discípulos que, deslumbrados, não pelo mestre, mas pela sua doutrina (cujo primeiro fulgor o deslumbra como a Mateus diante de Jesus, pela primeira vez, ou como a Paulo no caminho de Damasco) não só não vacilam, como também não desejam outra coisa, senão, Aquele. A santa chama da "vocação" que através da história feriu, com a rapidez do raio, a todos os eleitos (o "juro ser Beethoven ou nada", de Wagner, ao ouvir pela primeira vez a magia da Quinta Sinfonia), é algo divino e iniciático; do mesmo modo, em todo discípulo apto a sentir o primeiro contato espiritual com a salvadora doutrina do Mestre.

Perdoe-nos o leitor, ou melhor, a autora de "Místicos e Magos do Tibete", a longa citação, quase um. saque, que nas últimas páginas deste último livro vamos realizar, movidos pelo nobre desejo de pôr, pela primeira vez, ao alcance do público algo que lhe convém saber, apesar do cepticismo com que são olhados estes santos problemas.

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verdadeira delícia, muito acima do "imundo" ou baixo tema em que da moderna opoterapia ou o da velha ciência de outro naldjorpa, Frederico Aureola Teofasto Bombast de Hohenhein, mais conhecido como Paracelso que, instado por alguns pedantes médicos de sua época, para que lhes desse a chave de seus maravilhosos diagnósticos, cedeu afinal a tanta insistência, apresentando-lhes numa bandeja os restos do banquete, e em outra uma amostra daquelas' excreções que, por serem fundamentais na economia de nosso corpo, dão, com efeito, pese a toda "escatologia" enganadora, as verdadeiras revelações de quanto fisiológico ou patológico acontece no, aparentemente, repugnante laboratório de nosso corpo...

Mas o estranhável do caso, é que nossa admirável David-Neel, que não pareceu ter compreendido todo o alcance iniciático de sua primeira aventura ocultista tibetana, narra-nos, no entanto, magistralmente outras cenas iniciáticas análogas, que além de coincidirem com a referida ainda a suplantam.

Com efeito, a Autora escreve em "Místicos e Magos do Tibete":

"As peripécias que precedem à admissão de um discípulo por um mestre; os primeiros anos de seu noviciado; as provas a que é submetido e as circunstâncias em que se opera sua iluminação espiritual, constituem o tema para a novela mais curiosa. Relatarei em primeiro lugar a história, completamente legendária e simbólica, do modo por que Tilopa, o bengalês, foi iniciado na doutrina que, depois dele foi importada pelo Tibete e que se lhe transmitiu de mestre a discípulo na seita dos Khagyudpas, da qual é o tronco espiritual.

"Tilopa está sentado estudando um tratado de filosofia, quando uma velha mendiga surge por trás, procurando ler algumas linhas por cima de seu ombro, e lhe pergunta bruscamente: "Compreendes o sentido daquilo que estás lendo?" Tilopa fica indignado por uma vulgar mendiga lhe ter dirigido pergunta tão impertinente; porém, aquela descobre seu pensamento e cospe irreverentemente no livro. O leitor ergue-se indignado: Quem é este diabo que assim ousa escarrar sobre as Santas Escrituras? Como resposta a bruxa cospe-lhe mais uma vez, pronunciando uma palavra, cujo significado Tilopa não pôde compreender, desaparecendo como por encanto. Por estranho sentimento, a referida palavra, que para Tilopa não foi mais do que um som indecifrável, fez-lhe acalmar imediatamente a cólera. Uma penosa sensação de lassitude estendeu-se por seus membros e as mais estranhas dúvidas se levantaram no seu espírito. Nenhuma importância tem que ela, o próprio Tilopa e alguém mais houvessem compreendido a doutrina exposta no livro. O que importa saber é o que foi feito dessa misteriosa velha? Que palavra incompreensível havia ela pronunciado? Deseja sabê-lo Tilopa: averiguá-lo, torna-se para ele indispensável.

"Tilopa parte, pois, em busca da misteriosa desconhecida. Após longas e fatigantes pesquisas, ele se encontra certa noite num bosque solitário (outros dizem que num cemitério). "Seus olhos encarnados fulguram como tochas no seio das trevas". Porque convém advertir que a velha é uma Dakini, raça de fadas que desempenham importante papel no misticismo lamaísta, como iniciada em secretos ensinamentos, para os que a veneram ou mediante certos processos mágicos, sabem obriga-las a isso. Dá-se-lhes com frequência o título de "mães", apresentam-se em forma de velhas encurvadas, de olhos encarnados ou verdes.

No decorrer da entrevista, a bruxa dá a Tilopa o conselho de que vá ao país das Dakinis para entrevistar a sua rainha. No caminho que ao mesmo conduz, esperam-lhe inauditos perigos, diz ela: abismos, furiosas torrentes, ferozes animais, horríveis apa-rições, traidoras visões, demônios insaciáveis... Se se deixar dominar pelo terror; se se afastar um pouco do estreito caminho, como um fio que atravessa tão terrível região, será implacavelmente devorado pelos monstros. E se, acossado pela sede ou pela fome, beber nas frescas fontes ou comer dós frutas ao alcance de suas mãos, ou mesmo, se

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quiser descansar debaixo das árvores, que a tanto o convida sua sombra agasalhadora; ou ainda se fraquejar ao encantamento e à sugestão das formosas ninfas que tentam seduzi-lo, ficará imediatamente louco e incapacitado de encontrar o caminho. Como viático, enfim, a velha lhe dá uma fórmula mágica, que Tilopa tem que repetir incessantemente, com o pensamento nela unicamente concentrado e sem pronunciar uma só palavra: surdo e cego diante de tudo quanto o cerque.

"Alguns julgam que Tilopa levou a efeito esta viagem fantástica. Outros, mais a par das percepções e sensações que costumam acompanhar a certos estados de êxtase, vêem na velha uma espécie de fenômeno psíquico. Não falta, enfim, quem suspeite ser tudo isso uma descrição simbólica. Seja o que for, narra a história que Tilopa encontrou em seu ordálio com as visões terríveis ou encantadoras que lhe havia anunciado a bruxa; franqueou abismos rochosos e torrentes avassaladoras; caminhou através da neve; sua pele foi queimada pelo sopro escaldante de arenosos desertos, sem deixar, no entanto, de meditar na mágica palavra. Finalmente, chegou diante de um castelo de muros de bronze que, batidos pelos raios do sol, espalhavam um reflexo ardente capaz de cegar àquele que os mirasse... E em cujas portas gigantescas, monstros femininos ameaçavam tragá-lo com suas ígneas fauces escancaradas; enquanto que, árvores não menos gigantescas, serviam-lhe de obstáculos com seus remos e folhas afiadas como navalhas. Tilopa, entretanto, entrou vitorioso no encantado palácio; atravessou inúmeras salas e labirínticos jardins, sem se deter um só instante, até chegar à câmara da rainha. Esta, que era de uma divinal beleza, vestida de sedas e coberta de pedrarias, achava-se sentada num trono maravilhoso, acolhendo bondosamente o herói que transpôs os umbrais do recinto, pronunciando sempre, mentalmente, sua fórmula mágica. Mas que, sem reparar em detalhes nem convencionalismos, galgou rapidamente os degraus do trono; despojou brutalmente a rainha de suas jóias, flores e vestidos, violando-a em seguida. A conquista de uma dakini, seja por violência ou por magia, é um tema corrente na literatura mística dós lamaístas, como uma alegoria relativa à conquista da verdade, mediante certo processo psíquico de desenvolvimento espiritual.

"Tilopa logo transmitiu sua doutrina a Narota ou Naropa e este a Marpa, que a introduziu no Tibete. O eminente discípulo de Marpa, o célebre asceta-poeta Milarespa, comunicou-a, por sua vez, ao seu discípulo Tagpo-Lhadji e a linha continuou assim até chegar aos nossos dias. A biografia do filósofo Narota, herdeiro espiritual de Tilopa conta de modo pinturesco, porém, não tão fantasticamente como se pudesse crer à primeira vista, as provas imaginadas por um mestre do "Reto Caminho", a fim de confundir seu discípulo. A história das doze grandes e doze pequenas provas do sábio Narota é clássica entre os místicos tibetanos e repetida com frequência e como exemplo aos jovens naldjorpas", segundo se verá no seguinte capítulo.

&

A Estrela Algol e sua Companheira 40

Henrique José de Souza

Assim como se processa a evolução da alma – com o auxílio das rondas e respectivos reinos da Natureza – desde a acídia ao homem mais perfeito, com a aquisição das mais elevadas faculdades intelectuais, assim também não se deve negar que esse mesmo homem está desenvolvendo uma faculdade de percepção que já vai 40 Transcrito de "Dhâranâ" n.o 5/6, 1955.

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permitindo aos mais adiantados, perscrutarem fatos e verdades muito além dos limites da visão ordinária.

Esta faculdade, muito mais do que em outros quaisquer, manifesta-se, de preferência, entre astrônomos e químicos, verdadeiros magos do Conhecimento atual, porém, intuídos – os mais avançados – pelas grandezas naturais que transcendem das próprias ciências por eles cultivadas que, a bem dizer, são o alfa e ômega dos conhecimentos humanos: o mundo do infinitamente grande ou cosmos, e o mundo do infinitamente pequeno. De outro modo, a faculdade da intuição – para a qual já está caminhando uma pequena minoria dos homens, pois que outros de divina estirpe, de há muito a possuem – como a primeira e mais sublime entre as três faculdades da Mente, segundo afirmou Platão. Magia, ou antes, sabedoria, é o conhecimento desenvolvido nas potências do Ser interior do homem, cujas forças são outras tantas emanações Divinas. A intuição é a percepção de tal origem. E a Iniciação, o desenvolvimento do referido conhecimento. Começamos, pois, com o instinto (ou simples querer, que é - por ,sua vez – vontade latente), e terminamos com a onisciência.

Para demonstrá-lo, bastam os fatos tão conhecidos, como a descoberta de Netuno, simultaneamente, por Adams, na Inglaterra, e Leverrier, em França, sem necessidade de se servirem de luneta, valendo-se apenas do cálculo matemático; da estrela companheira de Sírio, por Bessel, por idêntico processo; e até mesmo, a do "eka-aluminio" e do "eka-boro", que logo receberam os nomes de "gálio" e "escândio", mediante a lei teosófica da seriação e da analogia, havendo mesmo, na história da ciência, outro feito tão assombroso, que é o do "astro-satélite" da estrela Algol, a "beta da constelação de Perseu".

A referida estrela – de segunda grandeza – que quase não aparece em certas latitudes, por Estar vizinha à Polar, brilha durante dois dias e meio, com esplendor uniforme, quase igual ao daquela, porém, inesperadamente – como se passasse por uma crise estranha de fatalismo cósmico – começa- a esmaecer de modo tão ostensivo que, dentro de quatro horas e meia, Algol já não é mais do que uma estrela de quarta grandeza, quase apagada, sem que se possa explicar a causa, senão pela sua própria fatalidade, seja para consigo mesma, como para com aqueles que, na Terra, a tomassem por "estrela guia"; o que não deixaria, também, de ser "um vampirismo astral" dos mais funestos. Em outras ocasiões, porém, que são as quatro horas que se seguem, tal estrela retoma o seu antigo brilho por outros dois dias e meio, findos os quais o fenômeno novamente se reproduz 41 .

Goodricke, um afeiçoado da Astronomia, que deu a conhecer, em 1783, o notável fenômeno, julgou – com intuitivo acêrto, hoje confirmado pela Ciência – que se tratava, simplesmente, de um eclipse parcial, de três em três dias, pela estrela, graças à interposição de um astro obscuro ou menos luminoso (reflexo, talvez... do Sol Negro, tão procurado pela mesma ciência...), atenuando periodicamente os seus fulgores. A ciência, entretanto, como necessitasse de meios de observação mais diretos, continuou por muitos anos, incapaz de acertar com a verdadeira causa do referido fenômeno, pela intuição, assim, antecipada.

41 A referida estrela vibra na Terra através de certas plantas e animais, como por exemplo. uma flor misteriosa, que logo se abre, começa a secar e morre. Sua estranha beleza obriga a qualquer pessoa que não conheça o mistério... a deleitar-se com o seu encantamento. Na mesma razão, "a surucucu" ou serpente negra da família das Lachesis, é a mesma que – segundo as lendas sertanejas – se apossa do seio de uma mulher, quando está dando mama ao filho, e coloca na boca da criança, a ponta do rabo. A mãe estando adormecida, não se apercebe, entretanto do traiçoeiro estratagema empregado pela venenosa serpente, que tem o cuidado de não apertar com as suas presas, o seio onde está sugando o leite que devia alimentar a criança. "Não te fies no canto das sereias", é o velho brocardo, em relação a tudo quanto nos pode causar graves perigos, inclusive, no sexo oposto. E isto, porque, antiga também é a lenda de que, "as sereias procuram atrair os homens – com seu canto e beleza estranhos, a fim de os levar para as profundezas oceânicas. Dizem até, que a "razão desse proceder, é a de unindo-se com eles, tornarem-se imortais". Enquanto outros afirmam que "assim o fazem para se encarnarem como mulheres na Terra''. O fato é que, verdadeiras ou não, as referidas lendas, a origem está na fatalidade que causa a estrela Algol a quantos a miram embevecidos por sua entranha luminosidade.

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O escritor ocultista, que tomou por pseudônimo Fra Diavolo, no seu livro Fantasma Celeste, capítulo Arrogância de certos astros, faz ver que "se trata de uma disputa entre Perseu e o referido astro negro, querendo este, em semelhante forma, assenhorear-se da cabeça da sua companheira, a quem o mesmo Perseu houve por bem separá-la do resto do corpo, e que lhe serve de ornamento ao escudo, como laurel de tamanha vitória".

Mas, volvendo à ciência profana, no que esta confirmou a respeito das palavras de Goodricke, eis que, ao resolver o problema, veio – como sempre acontece – a magia da intuição, que é bem a do final de um ciclo, para o alvorecer de um outro... do modo mais estranho que se possa imaginar. Vejamos como:

Três sábios da maravilhosa ótica, Argelander, Schmidt e Schonfeld, fizeram, primeiro um esquema fotográfico das flutuações da luz de Algol, desde que a perdia até que a readquiria. E isto, durante cinco horas. Logo, o grande Pickering comprovou a coincidência quase exata entre o referido e o que obteria, na hipótese de um eclipse parcial do astro luminoso com o hipotético (na razão de um porvir luminoso) astro-obscuro ou negro, Fato esse que, se por um lado dava absoluta verossimilhança à hipótese da existência do referido astro, por outro, permitia - graças ao cálculo – deduzir tudo quanto diz respeito à órbita do astro obscuro em torno do luminoso, em suas várias inclinações e possíveis formas.

Faltava, entretanto, contar com um elemento novo de cálculo. E tal elemento lhe veio dar o "espectroscópio cego" (para um cego, outro cego, dizemos nós), que, segundo se sabe, substituiu o antigo astronômico, na busca e captura de atros, não visíveis pelos meios ordinários.

Ninguém ignora que, quando a luz cie qualquer astro se decompõe, no espectro resultante, além das conhecidas zonas coloridas, do vermelho ao violeta, aparecem finíssimos raios negros e faixas obscuras, pelas quais se chega ao conhecimento da composição química do astro observado, comparando com o espectro dos diversos corpos químicos terrestres conhecidos, Tal descoberta, devida a Kirchoff e Bunsen, permite além disso, a realização de verdadeiro prodígio, porque, se a estrela observada é dupla (duplos, e ainda "múltiplos são, com efeito, a maioria dos sóis celestes), os raios e faixas aparecem duplicatas, apresentando a particularidade, em referência à lei descoberta por Doppler e Fiezzau, de que se desviam para o lado do vermelho, se o astro se afasta, e para o violeta, se se aproxima.

Exemplo simples trará maior clareza para a compreensão do fenômeno. Se o raio amarelo do sódio e certo raio escuro do espectro sideral coincidem em posição, é prova de que no astro observado também há sódio; porém, se a coincidência de posições nos respectivos raios não é absoluta, havendo desvio para a direita ou para a esquerda do raio-tipo, é sinal que o astro não permanece à distância constante de nós, mas aproxima-se ou afasta-se, do mesmo modo que o silvo de uma locomotiva, soando constantemente e no mesmo tom (prescindindo de variações acidentais), enquanto a locomotiva está parada, ao passo que, ao aproximar-se de nós, a grande velocidade, a nota em questão se torna mais aguda, e ao contrário, fazendo-se cada vez mais grave, quando rapidamente se afasta, (fenômeno acústico diverso é aquele, por exemplo, da locomoção em Duat, com trilhos e rodas de vidro, pois, enquanto devagar é grave, o som se torna, cada vez mais agudo ao afastar-se, e a grande velocidade).

Em suma, correspondendo o espectro ou duplo de Algol, não a um astro simples, mas a um astro duplo (o que é natural para o fenômeno apontado, mas não revelado, na mitologia), ao girarem seus dois componentes em volta do centro comum, de acordo com as leis da gravitação universal, quando uma delas se aproxima, a outra, forçosamente, terra que se afastar de nós. E vice-versa.

Apresentamos agora u parte mais interessante do assunto, ou seja, a opinião do grande intuído Carlos Vögel, diretor do Observatório astrofísico de Potsdam, em 1889.

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Vögel, core efeito, teve ocasião de dizer: "Discutindo, matematicamente, os resultados deduzidos por Pickering, pode-se precisar as dimensões relativas da estrela luminosa e de seu obscuro satélite, eclipsador, e a órbita relativa deste último em suas diversas formas e possíveis inclinações. E, além disso, se o minguante de luz em Algol é originado, de fato, pela interposição do segundo entre ela e nós, este corpo obscuro deve ter quase o mesmo tamanho que a estrela, porque, ao contrário, não poderia privá-la de uma parte tão considerável de seu esplendor, como pensa o observador vulgar, sendo provável que as massas dos dois corpos, muito pouco difiram uma da outra e, portanto, que a atração do satélite torne perceptível o movimento orbital da estrela primária. Então, cada vez que o satélite obscuro passar por diante da estréia, eclipsando-a parcialmente, a direção do movimento de ambos os corpos, em sua órbita, será perpendicular ao raio visual, e a velocidade radial (ou seja, a velocidade de aproximação ou de afastamento, revelada pelo referido movimento de oscilação nos raios do espectro), dizia, será nula. Porém, depois de realizar um quarto de revolução, no que empregará dezessete horas, a estrela brilhante se moverá quase paralelamente ao raio visual, aproximando-se de nós. E pela mesma razão se afastará, movendo-se em sentido contrário, dezessete horas antes de verificar-se o eclipse. Se tais variações na velocidade radial, são muito grandes, os raios do espectro da estrela, segundo a teoria de Doppier, é natural que realizem uma dupla oscilação no que diz respeito a sua posição normal durante o tempo compreendido entre dois mínimos consecutivos, e o espectroscópio, determinando a amplitude do referido movimento oscilatório, dará a conhecer a velocidade linear da estrela em sua órbita".

A observação espectroscórica confirmou plenamente a anterior e admirável opinião de Vögel, permitindo-lhe achar – com algumas aproximações – as massas dos dois corpos, suas dimensões lineais, embora um deles seguisse e siga, naturalmente invisíveis, as duas respectivas órbitas. Com efeito, achou – por meio do espectroscópio – que antes do eclipse, o astro luminoso se afastava do sol com uma velocidade de 39 quilômetros por segundo. E que depois do eclipse se aproximava com a de 47. Por conseguinte, a velocidade orbital da estrela brilhante é de 43 quilômetros, e somente de quatro (o eterno quaternário universal), a da translação do centro de sua gravidade para o nosso. Tais resultados espectroscópitos, combinados com os obtidos antes pela observação visual, conduziram-no, finalmente, a outros, mais valiosos: o diâmetro da estréia principal, imensurável diretamente, é de 1.700.000 quilômetros, e o do invisível e desconheci(to satélite, de 1.300.000. Tem, pois, este misterioso astro – visto pela intuição, e não pelos olhos físicos – um tamanho quase igual ao do nosso sol; a distância que separa ambos esses, corpos, é de uns cinco milhões de quilômetros. E suas massas valem perto de metade, e quarta parte do nosso luminar, de modo que, as densidades dos primeiros são muito menores que a do último. É algo assim como querer alcançar, na densidade do azeite, a chama (ou griseta) que flutua sobre aquele que, por sua vez, flutua sobre a água. Finalmente, conclui-se que a velocidade orbital do jamais visto satélite, ascende a 89 quilômetros por segundo. Eis aí, pois, como fenômenos mais do que simples., perscrutados pela intuição dos homens de Jênio, podem conduzir a resultados tão estranhos quanto admiráveis, que mais parecem produtos de fantasia. Poderão, acaso, sofrer modificações os números encontrados, se novas e suais precisas determinações assim o exigirem, porém, sempre ficará de pé este resultado fundamental: a possibilidade de medir e pesar, precisar a figura e os movimentos de corpos gigantescos, um deles invisível, e bastante afastado; mesmo que de grandes tamanhos e perfeitamente luminosos, nos aparecem como um ponto mais ou menos brilhante em seu não desdobrado conjunto.

Comentários? Faça-os o leitor – com sua intuição, porque, do ponto de vista bem nosso, nos limitaremos a dizer que, sem intuição e sem imaginação, não há hipótese científica possível, porque, unidas à força de vontade, representam a chave da verdadeira

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magia. Sem a hipótese, de nada valem aos seres do mundo animal, as tão decantadas observações e experiências, simples lacaios da intuição do Jênio, a que estão subordinadas, como o está o instrumento ao operador que o maneja.

A ciência verdadeira não é senão um eterno balouçar, no invisível e intangível, de uma Barca oculta pela cerração, da vista física, apoiando-se, como a água no cume do penhasco, no palpável e conhecido. Por isso que, encarregadas de transcender, de volver ao avesso do mundo superior, ao animai de nossos deficientíssimos instrumentos: os grosseiros sentidos, que tomam a "nuvem por Juno". E até, uma estrela Algol, como "farol de bonança", quando seus trágicos efeitos de "fêmea do espaço" (mais conhecida por Sakali). são em verdade, os mais reais possíveis... Sim, em vez de "deusa estelar", é "a demoníaca das intermitentes aparições'", provocando desgraças, amores ilícitos, crimes, suicídios, guerras, catástrofes e outras cousas más...

E isto porque, segundo velhas tradições atlantes, "ela é a shakti ou aspecto feminino cósmico do "Anjo revoltado", que deste se separou no momento de sua queda ou expulsão do Trono celeste", De acordo com a Cabala, não há como dizer: "Daemon est Deus inversus". 42

Em fins de Outubro de 1954, precisamente a 22 daquele mês, foi visto, por milhares ele pessoas de São Paulo, do Rio e de outros lugares, bem do lado do Ocidente e próximo da estrela Vênus ou Lúcifer (que este é o fenômeno que maravilhou a quantos o viram: por algumas horas pôde ser vista uma estrela, de brilho e grandeza seu verdadeiro nome... ), um estranho invulgar, que apresentava a peculiaridade de ter seu brilho aumentado e diminuindo, periodicamente, desde um brilho extraordinário até se apagar quase completamente. Não faltou quem a tomasse por um "disco voador", enquanto outros arais ignorantes ainda do mistério, como sendo o próprio planeta Vênus. Com as devidos reservas... o fenômeno não foi mais do que um reflexo, ou repercussão, do fenômeno acontecido com a estrela Algol, no Hemisfério Norte. E para provar que o mesmo termo Satan que se dá a Lúcifer, Lusbel, etc., do mesmo modo que o de Diabo, são sagrados, apresentamos aos nossos leitores essas duas chaves cabalísticas, no seu

42 Na Mitologia grega, Hércules (ou Herakles) corta de um só golpe as 7 cabeças da Hidra, cujo significado é: “Tal hidra não

é outra que essa mesma estrela Algol, na qual se metamorfeseou o aspecto feminino cósmico do Anjo revoltado, pois que era Ele que, se não atraiçoasse o Trono Divino, deveria, ser o Adam-Kadmom, com o reflexo na Terra, do Adam-Heve, padrão dual ou andrógino em separado da própria Humanidade. E como um outro viesse substituí-lo na Terra, por Ordem do Eterno, para que isso acontecesse não podia deixar de – cortando Ele as sete cabeças da referida Hidra (alegoria dos sete estados de consciência pelos quais deve atravessar a Mônada, na Terra), forma para si mesmo um aspecto feminino, digamos "surgido da sua própria natureza, cuja alegoria foi grosseiramente interpretada pela Igreja e quantos ocultistas e teósofos o mundo conhece, pois se trata de uma revelação de acordo com o novo ciclo (e pela primeira vez, portanto, trazida a público, "pois que os tempos esperados já chegaram"), repetimos, "em ter Eva saído da costela de Adão", enquanto este feito com o barro ou argila da Terra..." O arcano do Taro, por sua vez, não interpretado por esses mesmos ocultistas e teósofos, antes dito, teosofistas (pois que Teósofo é o que sabe Teosofia, e Teosofista, o simples discípulo de Teosofia), tem por alegoria dois reis caídos do céu. Um da sua própria natureza, expulso. E o que traz coroa, aquele que veio substituí-lo na Terra.

O Arcano XVI é conhecido por diversos nomes mais que significativos, a saber: Casa de Deus, Traição ao Trono, Queda do espírito na matéria. A letra hebraica que lhe corresponde, sendo o Gnain, possui uma curvatura da esquerda para a direita, como alegoria, digamos assim, a uma perna quebrada ou coxa, daquele que foi expulso do céu. A Igreja, que jamais se aperceberia de tal cousa, do mesmo modo que os próprios hebraistas (ou antes, cabalistas), no entanto, chama de "Diabo coxo" àquele a quem o próprio Eterno "não admite que se ofenda", o que tanto basta para corroborar a opinião de Giovanni Papini, quando afirma que tal Anjo será um dia redimido. E que o mesmo, quando com ele se encontrou, teve ocasião de lhe dizer que ora n própria Humanidade a causadora dos seus maiores sofrimentos, Sim, evocando o para o mal, inclusive os fetichistas, dando-lhe comida nas encruzilhadas, a própria Igreja o amaldiçoando (contrariamente à vontade de Deus), e tudo isso para atemorizar os Impúberes psíquicos" com as "penas infernais eternas..." De fato, o fim do Diabo; como tal, seria o fim da própria Igreja que mantém o domínio psíquico dos seus prosélitos, pelo temor ao inferno... invés de ensiná-los a serem bons em função das sábias leis de Carmo e Reencarnação.

Giovanni Papini esteve bem perto da Verdade. E, assim como uma criança que brinca com outras, no jogo do "chicotinho queimado", está apenas "morno", ou um tanto afastado do lugar onde se acha o lenço escondido. Sim, o lenço espiritual de tão elevado mistério. Mas, ainda lhe faltou muito para conhecer toda a verdade a respeito do Anjo Caído ou revoltado. "que um dia havia de ser salvo ou redimido...". como ele mesmo o diz em seu livro "O Diabo" que, antes, deveria se chamar "O Anjo Rebelde".

A verdade, porém, que o ano 1949 seria o mesmo da visão de Leão XIII, ou seja, de Lúcifer discutindo cone Cristo, e a este ter respondido, quando aquele lhe perguntou, "quantos anos queria para destruir a Igreja", ter ele respondido: "de 50 a 60 anos". E, como tal visão se deu em 1890, em 1949 era a passagem de 50 para 60 anos...

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sentido filológico: Satan provém do termo sânscrito Sat, que quer dizer Aquele, isto é, Deus ou Senhor Onipotente, e An ou Om, a sua manifestação na Terra. Om é a síntese da palavra sagrada Aum (ou Tríplice Manifestação Divina), e Diabo, de Deo, Dei, etc., etc., que é o mesmo Mus. E Ab ou Ad, Adi, etc., com o significado ele primeiro, primordial, origem, etc. Nesse caso, Diabo equivale ao Deus primordial. Daí procede o grave erro teológico na sua condenação formal ao Anjo Revoltado. Os cabalistas, para provarem a oposição do Demônio a Deus, têm esta fase: Daemon est Deus inversus. A tradução deveria ser bem outra: O Demônio é o reflexo de Deus na Terra. Reflexo sombrio, para a Luz ou Sol, se o quiserem, mas que um dia, deixando de ser reflexo ou sombra, justamente pela sua própria Redenção, se fará Um com a Divindade ou Luz. Nem Bem nem Mal nessa hora cantada por Homero, Dante, Horácio e outros mais, nas suas maravilhosas obras iniciáticas. Do mesmo modo que por Platão na sua República; Thomás Moore, no "País da Utopia". E na bem nossa Idade de Oiro ou Satya-Yuga, também cantada em verso e prosa nas escrituras orientais, do mesmo modo que pelas sibilas.

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Como sabem os Teósofos, existem duas forças que regulam o perfeito equilíbrio da Evolução Humana, sem falar nas que das mesmas se derivam. Referimo-nos a Fohat (procedente de cima ou do céu, e que apresenta a cor verde). E Kundalini (o fogo Kundalini, a Serpente de fogo, etc., de cor vermelha), procedente do seio da Terra. Não se deve esquecer que foi a "sarça ardente" que falou a Moisés, quando pisou na Terra santa. Nesse caso, o fogo serpentino ou de Kundalini. O seio da ferra também é chamado de "Laboratório do Espírito Santo". Destas e outras tradições foi que a Igreja, erroneamente, criou o legendário Inferno, dando-lhe o nome de "caldeiras de Pedro Botelho". Devia respeitar ao menos o primeiro nome, pois que lhe dá a primazia entre os Apóstolos, "do fundador da sua Igreja", "Pedro tu és pedra, e sobre ti será fundada a minha Igreja". Pedra ou Kiffa, entretanto, é "Pedra da Lei" em outras escrituras. No homem essas duas forças se encontram, quando o mesmo se torna um Adepto ou Homem perfeito (Arcano IX do Taro, do qual Diógenes se serviu para habitar um barril ou Ermida. E a lanterna ou a Sabedoria Perfeita), no chacra umbilical. Este centro é representado pelas duas referidas cores: verde e encarnado, para provar que é aí onde as mesmas se encontrando, produzem o referido fenômeno. Este é um tanto semelhante ao de uma lâmpada de arco-voltáico, quando os dois carvões (o de cima com o de baixo) se tocam e a Luz aparece... por se estabelecer a corrente. No caso antes apontado, Luz também é Inteligência. Haja vista o fenômeno acontecido com Antônio Vieira, sentindo ele um estalo na cabeça, perde os sentidos. E quando os mesmos lhe voltam, tornou-se aquele sábio e santo homem que a própria História religiosa conhece. Por acaso, no mesmo altar onde Antônio Vieira passou por semelhante fenômeno, o autor destas linhas "foi consagrado à N. Senhora da Fé". Sua mãe era muito religiosa. Um Poder também da Iniciação de quem do berço já trazia os oito Poderes da Ioga, obrigou a tal acontecimento, assim sendo, mais causal do que casual.

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Os "chacras" ou centros de força no homem são sete, do mesmo modo que os planetas que giram em torno do Sol, formando um sistema planetário. Razão de nossa Obra ter formado um Sistema geográfico na 'ferra, isto é, S. Lourenço, como Sol Central e sete cidades sul-mineiras em seu, redor. Sistema geográfico que é o ponto culminante da chegada da Mônada, pelo chamado "Itinerário de Io (ou Ísis). E isto, aos 23° de latitude sul, Trópico de Capricórnio, para os mesmos graus de latitude norte, Trópico de Câncer, donde viemos, ou, se o quiserem, de onde veio a mesma Mônada. O Trópico de Capricórnio passa bem por cima da capital de São Paulo. No Horto Florestal se acha um monumento ao mesmo dedicado.

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Visto que poucos conhecem os nomes sânscritos dos referidos "chacras" ou centros de força, no homem, além dos lugares onde são situados, mais uma vez os apontamos. No vértex ou Coronal (donde se origina a coroa sacerdotal do mesmo modo que as auréolas dos santos, que os primeiros cobrem com o solidéo e os rabinos trazem sempre a cabeça coberta) se acha o de nome Brahmananda (Sahasrara), ou Morada ele Brahmã, Deus, etc.. Também tem o nome de Loto das Mil Pétalas. Na fronte, o "chacra" aí existente tem o nome de, Ajna. No Egito, ele era apontado na fronte dos faraós, como uma serpente, de bote armado. Tinha o nome de Ureus mágico. Na Índia, ate hoje essa região trás um ponto escuro (correspondendo à glândula pineal que provoca a visão espiritual ou interna), nas imagens do Buda e das sacerdotisas, etc. A seguir, vem o charra laríngeo, com o nome de Vishuda. E como ele une a cabeça (mundo divino ou da inteligência) do tronco, ou mundo terreno, tem o nome ele "antakarana", mas no sentido de Ponte que liga um mundo a outro. Vem a seguir, o chacra cardíaco, com o nome ele Anahata. E logo abaixo o umbilical, com o nome de Manipura, onde, como dissemos anteriormente, Fohat e Kundalini se encontram. No plexo hipogástrico ou esplênico. o chacra aí existente tem o nome de Swadisthana. E finalmente, o último, no cócix, ou "chacra raiz", como "sede de Kundalini", com o nome de "Muladhâra.

Quanto às duas referidas cores, isto é, de Fohat e Kundalini, as próprias colunas dos Templos egípcios as possuíam; do mesmo modo que, o pano que os faraós traziam sobre a cabeça, tapando os dois ouvidos, pois que, no direito funciona Vayú, o ar (verde) e no esquerdo, o fogo (vermelho). Como cores mais vivas ou de maior projeção, luminosidade, etc., entre as demais; foi daí que surgiram as lanternas, faróis, etc., das embarcações, e hoje também, dos aviões, colocadas a Bombordo e a Boreste.

Estes e outros ensinamentos mais transcendentes, são dados em nosso Colégio Iniciático. Por isso mesmo, podendo oferecer ao mundo, a começar pelo Brasil, Homens capazes de dirigir, os seus destinos. Do mesmo modo que, por enquanto, os não pertencentes às nossas fileiras, através da verdadeira Eubiose, poderiam, ao menos, aceitar bons conselhos, a menos que se concedendo títulos eleitorais, até a analfabetos, em vez da elite ou qualidade, como agora mesmo aconteceu nas eleições de 3 de Outubro, a escolha (com a franqueza que rios caracteriza e o ciclo o exige) recaiu, com algumas exceções, em , pessoas de pouco talento e com sinais visíveis dos tipos que se encontram nas séries psiquiátricas...

Pelo que se vê, o mal reinante é oposição ao Bem não ainda reinante na Terra, mas que ainda pode Reinar se a maioria atender Aqueles que lutam e trabalham por uma Nova Era, uma Nova Civilização portadora de Paz e Felicidade para o mundo. Em tal Hora, não haverá nem bem nem Mal, nem Deus nem Diabo, mas o Equilíbrio perfeito entre o Divino e o Terreno. Teve razão, pois, Papini em afirmar que é a humanidade que faz sofrer a Lúcifer. Sim, porque além de crer no Mal, o alimenta através de vícios, de crimes, de baixa magia e de tudo quanto define o termo Animalidade, que provém de Anima ou Alma, mas nunca, de Spiritus ou Espírito, como Essência Divina. Na Mitologia grega : (A Mitologia é a descrição da vida humana no seu começo). Psyké (a alma) anda em busca do seu Bem-amado (o Espírito). Sim, mas resta descobrir, como disse Jesus, por baixo da letra que mata, o Espírito que vivifica. Nada disso ensinam as religiões, nem o Animismo que é o verdadeiro nome do Espiritismo, pois que só age com o plano astral (ou anímico) ; enquanto a Teosofia vai além, atingindo o plano do Mental e os demais que se lhe sobrepõem. Quem atravessa uma ponte para alcançar o outro lado, não pode ficar em cima dessa mesma ponte indefinidamente, e sim marchar para diante, a fim de alcançar o outro lado. No entanto, a filosofia animista, ou, se q quiserem, o Espiritismo científico, encerra alguma afinidade com a Teosofia. E hoje faz uso de termos bem nossos, como Karma, por exemplo ("lei de causa e efeito"). Acredita na Reencarnação, que a Igreja também acreditou no seu começo, através da "transmigração da alma", até que o Quarto Concílio resolveu suprimir este conceito. É uma das razões de o Papa Pio

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XII ter exigido da Igreja "a volta ao Cristianismo primitivo". Mas... a missa "pro-defunctis" e outras cousas concorrem para que o próprio Papa peja desobedecido. E paremos aqui... Mas, que outros não queiram dar como seu, aquilo que pertence aos nossos arquivos.

Por tudo isso e muito mais ainda, é que pregamos desde o início de nossa Obra: Uma Frente única Espiritualista, mas também, Um só idioma, Um só padrão monetário. E a prova é que fizemos construir um Templo dedicado à Paz Universal e, consequentemente, à todas as religiões do mundo.

Tudo mais não passa de ideologias bastardas, incongruentes, falseadoras da Verdade única.

Quanto ao texto, ou estudo de hoje, e um dos capítulos do livro do Autor, intitulado "Os Mistérios do Sexo". que também pertence ao arquivo da S. T. B., aguardando o momento de ser publicado.

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Apelo de JHS aos mentores espirituais do mundo

Chefes de todas as religiões do mundo, a quem fomos obrigados a apontar, como causa dos vossos erros, o estado de confusão e desespero a que chegou a Humanidade! Não vos pedimos que atendais ao apelo de um homem que vos é e deve continuar a ser desconhecido, mas ao de todos aqueles iluminados por vós tomados como excelsos padrões e preciosos símbolos de vossas religiões. Nenhum deles deixou de pregar as sublimes doutrinas de Amor, Sabedoria e Justiça, porque foram a manifestação da própria Divindade na terra. Todos apareceram entre os homens quando se tornou necessário restabelecer a Lei em declínio. Por desgraça vossa e do mundo, deixastes de lado seus sábios ensinamentos, permitistes que "Adharma" se levantasse, forçando a Divindade a cumprir a promessa que, pela boca de Khrisna, transmitiu a seu discípulo Árjuna: "Para restabelecer a Lei, Eu mesmo renascerei em cada Yuga". Chegou, pois, o momento de reconstruir o dique tutelar destinado a salvar as puríssimas e cristalinas águas das quais, em vossas regiões, ainda se encontram pequenas partículas.

Reconstrução! É o brado espiritual que a Lei faz repercutir por todos os cantos do Globo. Aí daquele que lhe não quiser dar ouvidos; será inexoravelmente esmagado, de acordo com a sentença oriental. Sim, "Quanto mais pesado fizerdes o mundo, mais o mundo pesará sobre vós".

(O Verdadeiro Caminho da Iniciação, cap. V, pág. 262)

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O Espiritualismo e as Crises Contemporâneas 43

Antônio Herrera Filho

A LEI DA EVOLUÇÃO

Enquanto, para a maioria dos homens, a esperança é a última que morre, para nós, teosofistas, a esperança é a primeira que nasce, e que jamais abandona aqueles que lhe compreendem a essência e a utilizam para a conquista do maior bem que se pode alcançar na Terra – a imortalidade.

Os tempos atuais estão balizados por dois marcos antagônicos entre si – o Espiritualismo e as crises. O espiritualismo é um conjunto de mensagens redentoras e de atos de purificação oriundos dos Mestres de Sabedoria. As crises contemporâneas são a resultante das oposições feitas ao espiritualismo, Portanto, aqueles que sentem necessidade de se livrarem das crises e de suas funestas conseqüências, deparam à sua frente apenas uma saída: o caminho da iniciação.

A lei da evolução determina que ser humano há de progredir. Esse progresso realiza-se no mundo, com todos os seus altos e baixos, e a isso os mestres chamam de iniciação indireta; ou se realiza nos colégios iniciáticos, racionalmente, pela iniciação direta.

Entre os dois tipos de iniciação há diferenças tão profundas que só mesmo um estudo muito acurado pode torná-Ias patentes aos olhos do investigador. Veremos, no decorrer desta palestra, as discrepâncias que repontam, a cada passo, e que caracterizam essas duas maneiras de evoluir.

Para uma compreensão imediata desses antagonismos, importa primeiramente algumas explicações sobre egrégora.

A Teosofia considera a Terra o mais novo de todos os sistemas de evolução. A Terra é globo que está em formação. Desse modo, tanto a Terra como os seus habitantes estão sujeitos a transformações. Tudo está sujeito a processos rotineiros e a períodos catastróficos. A Natureza e os seres mudam, muitas vezes, de corpo. O sistema de vida em que nós, humanos, nos achamos, foi classificado por um sábio conto hierarquia dos jivas. É algo que está se formando, que ainda não está completo. Embora as nações tenham modos diferentes de viver e falem idiomas diferentes, todas integram a Humanidade, e assim representam unta unidade. É a unidade fragmentada na diversidade.

As diferenças entre os seres humanos obedecem às diferenciações evolucionais de cada criatura humana. Temos um corpo físico, um corpo anímico ou consciência psíquica, um corpo espiritual ou consciência espiritual. Todos os seres da Terra estão concorrendo para uma experiência única, variando de homem para homem apenas em gradações. Cada um de nós nasce de pai e de mãe, mas psiquicamente há grupos de seres tangidos pelo mesmo ideal. Por exemplo, do ponto de vista religioso, o verdadeiro cristão, vive o Cristo como modelo de perfeição. Os budistas, por sua vez, vivem o Buda. Essas vivências, esses pensamentos, essas práticas, afluindo para um mesmo ponto assemelham-se a milhões de riachos confluindo para o mar. Essa analogia aponta a teoria das vestes. alue é um dos grandes mistérios, ou verdades, da existência dos deuses e dos homens. Chama-se a isso veste psíquica, a veste emocional de um Cristo. É a egrégora. Cristo, Buda e outros seres da mesma hierarquia são o resultado de um esforço coletivo tão profundo e tão extenso que eles só aparecem de ciclo em ciclo.

43 Conferência pronunciada pelo Autor na XVI Convenção Nacional da S. T. B., em S. Lourenço, fevereiro de 1964.

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Todos os Cristos possuem grande poder de criação e criam uma potestade. Mas a Humanidade só cria coisas perfeitas? Não.

A GRANDE FRATERNIDADE BRANCA E O ANTI-CRISTO

Assim como a Humanidade, com seus mais elevados pensamentos, cria a alma de um Cristo, com seus pensamentos negativos produz um anti-Cristo. O processo funciona igualmente do indivíduo para o próprio indivíduo. Cada criatura humana cria também a sua veste. Constituída a veste com atitude positiva aparece o que se conhece com o nome de anjo-da-guarda. Todavia, pelo mesmo processo, que é um só, pode criar com seu ódio e sentimentos análogos um diabo, um anti-Cristo, uma potestade maligna. Assim é que se a Humanidade vive pensando em guerra, em revoluções, em vinganças, em grosserias carnais, em roubos espoliativos, em magia negra, acaba, por esse esforço coletivo, gerando anti-Cristos mais poderosos que o Cristo formado pelas criaturas boas.

Otávio Mirbeau, um dos maiores talentos que o romance francês ofereceu à cultura européia, concluiu esta verdade: "A sociedade cria seus monstros e os devora". Se Mirbeau tivesse tido iniciação, teria ido mais longe, e teria dito que igualmente o indivíduo, como a sociedade, cria seus monstros e pela força do carma há de os engolir no momento do julgamento pessoal, que se realiza na hora da morte, e do julgamento coletivo, que se realiza no momento em que um ciclo se encerra. Lembremos o axioma ocultista que afirma "o homem, como causa, é responsável pelos efeitos". Sthendal, pintando em um de seus romances as reações de um jovem ante injustiça cruel que sofria de parte de adultos, arremata sua análise, escrevendo que "é nesses momentos que nascem os Robespierres".

Quando um anti-Cristo aparece ciclo está no fim, ou seja, é quando se realizam os julgamentos coletivos. Assim se explica a linguagem sibilina dos "tempos chegados", "sinais dos tempos". Enquanto os aventureiros procuram dividir seu povo, a fim de melhor e mais depressa derrotar a parte leoa da nação, a Grande Fraternidade Branca, incansável na sua vigilância, trabalha na porfia gigantesca da redenção humana. " Unamo-nos para resistir" – foi o lema dos brancos contra os negros, desde a decadência da Atlântida. E como a luta prossegue em escalas que variam, o lema continua em vigor. Comparem o trabalho construtivo de um Roosevelt e o destruidor de um Hitler; de um Kennedy e das forças negras que o abateram em Dallas. A humanidade chora a perda de seus verdadeiros líderes.

As pessoas honradas do mundo inteiro sentem de João XXIII uma saudade tão grande que ela só é mitigada com a presença de Paulo VI, ambos dignos continuadores da grandiosa obra de Pio XII, justamente consagrado como "Pastor Angélico".

A MISSÃO DOS AVATARAS

As crises contemporâneas exigem daqueles que trabalham para a formação do Cristo, que se unam compactamente. Unir como? Por meio da iniciação, para podermos. assim unidos criar a egrégora positiva. Neste fim de ciclo em que está a Humanidade inteira, os discípulos, pela iniciação direta, buscam seu Cristo interno, para que, unidos, agrupados, homogêneos, possam equilibrar a desequilibrada humanidade. Nós, discípulos do colégio iniciático que é a Sociedade Teosófica Brasileira, trabalhamos para superar este ciclo agonizante, e, com a egrégora positiva oriunda de nossos "conhecimentos e de nossa vontade, forjaremos o novo ciclo, a nova era evolucional do ano de 2005, que a tradição oriental aponta como a Era de Maitréia, porque ele é o avatara do ciclo imediato a este em que estamos.

Avatara. Que vem a ser avatara?... Analisemos o vocábulo, empregando a chave teosófica de Platão que diz que o conhecimento do vocábulo conduz ao conhecimento da

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coisa, Ava quer dizer antepassado, avô. Tara significa a Lei, A Lei que vem dos primórdios, de longe, de remotas idades. Avatara é a descida da Lei, a manifestação da Divindade. Por que a Divindade se manifesta na Terra?... Porque a Terra está em construção. Nossa doutrina tem como postulado que Deus é uma energia abstrata e potentíssima que toma forma. Deus se faz carne. A iniciação cristã designa o fato como Deus humano, Perfeitamente. Expliquemos mediante uma exemplificação. Deus é como se fosse, digamos, um cientista. O cientista tem um ideal, é propelido por um impulso que o leva a se empenhar na sua pesquisa. Esse vigor constante, esse empenho incessante no trabalho, esse entusiasmo que é a flama do gênio é que é Deus para nós. Por isso é que uma pessoa sem ideal é um pobre diabo, um inútil, um fracassado um lamuriento. Concretizemos a exemplificação. Os cientistas que se dedicaram à conquista dos ares, ao domínio do espaço, ao mais pesado do que o ar, fizeram mil e uma pesquisas. Cada um experimentou aparelhos de navegação aérea em busca daquela realização. Do balão cativo ao avião a jato, e do avião a jato aos satélites artificiais, experimentaram-se muitos tipos de dirigíveis. Assim é Deus, a Lei, o Tudo-Nada. De acordo com as épocas há experiências diferentes, diferentes impulsos evolucionais.

Compreenda-se que a exemplificação é alegórica. Apenas fomos coagidos a apertar o conceito dentro de um molde corriqueiro para darmos uma idéia aproximada de avatara.

OS DOZE SIGNOS DO ZODÍACO E OS DOZE APÓSTOLOS DO CRISTIANISMO

Olhemos a questão de outro ângulo. Dentro da simbologia sideral, temos como essência o astro-rei. O Sol, durante o ano, descreve a elítica, passando pelos 12 signos: do Zodíaco, e tudo se projeta na Terra. O Sol é o espírito, os signos, são como almas universais, ao passo que os seres são a parte objetiva, a base. Se projetássemos o Sol através de um vidro prismático, ele se refletiria em várias cores diferentes. Assim os avataras: manifestam-se através de um certo e determinado número de seres, para, através de cada um, dar a cada ciclo a tônica que o vai caracterizar e diferenciar dos demais ciclos. O número certo e determinado é 12. Deus se manifesta através de 12 avataras, como Sol transformado por 12 usinas, 12 transformadores dotados da mesma energia. Essa energia pode ser usada para efeitos vários: luz, calor, frio, etc. etc. Se considerarmos aquele sol como uma nuvem de milhões de litros d’água, que caísse como uma tromba, queremos dizer de uma só vez, em massa compacta, os resultados seriam desastrosos. Porém, esses milhões de litros d’água, esparsos por uma extensão, e caindo como chuva, produzem efeitos benéficos. Por isso a manifestação de Deus é cíclica, gradativa, regulada, legislada, contabilizada. Deus, ou a Lei, firma uma jurisprudência e assenta uma contabilidade, que são invioláveis, e por isso mesmo derrotam aqueles que, ignorando-as, se contrapõem temerariamente a elas.

Cristo, havendo sido o sol de seu ciclo, o de Peixes, projetou sua palavra no mundo através cios 12 apóstolos, ou, alegoricamente, dos 12 signos do Zodíaco. A vibração particular de cada criatura é gerada pelo signo que rege seu nascimento. Do mesmo modo que os avataras surgem com um signo zodiacal, marcando, logicamente, uma vibração diferente, uma tônica diferente. O ciclo do Cristo foi o de Peixes, ao passo que o vindouro, o de Maitréia, será o do Aquário.

Detalhemos ainda mais a conceituação, usando o relógio como termo de comparação. Cada avatara é um relógio que marca as horas de um ciclo. Ao início de cada ciclo tudo se renova, porque no fim do anterior tudo ou foi transformado ou rejeitado para níveis inferiores. Daí porque aplicamos e preconizamos, como norma pedagógica fundamental, o estudo comparado das religiões. O testudo comparado das religiões, ou das filosofias, porque não há uma só religião que não seja lastreada numa doutrina filosófica, ramais pode ser dispensado.

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Cada experiência é uma avatarização. Quereis o máximo de perfeição no entendimento filosófico? Estudai o Cristianismo e o Budismo, fazei uma fusão dos valores essenciais dos dois preceitos magnos, e tereis encontrado a perfeição religiosa ou filosófica da Vida, a exata avaliação do que vem a ser avatara.

Utilizemos anais um termo de comparação, já que o conceito de avatara primacial para entender a transcendência do Espiritualismo e destrinçar as causas e os efeitos das crises contemporâneas.

Esse outro termo de comparação é a árvore. Quando Maeterlink escreveu que "a árvore nos dá o sentido do Universo", não enunciou um pensamento de índole apenas poética. Indicou a realidade da Árvore dos Cumaras. Vejamos o conceito. Na árvore temos a linha reta que é o tronco e depois os galhos. O tronco representa a Divindade e os galhos simbolizam os avataras. Os galhos foram brotos que atingiram a forma da vitalidade que lhes deu origem. Galhos apodrecem para que surjam novos brotos. Aí temos a emblemática dos movimentos avatáricos que se extinguem para que novos apareçam – no encadeamento prodigioso de novas verdades reveladas novas civilizações se projetam galhardamente no Itinerário de lo.

O MAGISTÉRIO INICIÁTICO NA S. T. B.

Observe-se que nas civilizações há uma linha horizontal. É a linha d’água da Barca da Vida. Cada barca que passa é um renascimento. Estudando-se a missão da Sociedade Teosófica Brasileira, este conjunto doutrinário e de atos que é a nossa contribuição à evolução nacional, conclui-se que ela é aquilo que vem desde o começo das coisas, provém do alvorecer dos tempos.

A Sociedade Teosófica Brasileira é um cartão de visita. Nossa existência, como organismo vitalizado pela essência avatárica, compreende um esquema de três partes, e que são as seguintes: a 1a, iniciação; 2a, tradição, e a 3a, revelação. Esta última faculta os conhecimentos do futuro, do próximo ciclo, o conhecimento eubiótico ou realização.

Iniciação é o despertar daquilo que o discípulo trás em si como semente. É o que os orientais chamam de flor de ouro. Realização é a soma de uma série de transformações, Aparecem então em cada discípulo o que poderemos designar como desajustamentos. Esses desajustamentos medem-se pela intensidade da repulsa que o discípulo sente pelas coisas do mundo e a propensão que lhe trabalha o ânimo para as coisas divinas. Quanto mais enérgico for o apelo do avatara no discípulo mais vivas serão no discípulo suas inquietudes espirituais. Na iniciação coletiva de nosso colégio, que é a nossa caraterística – porque ninguém evolui por si – se todos estão fazendo uma operação evolucional, nem todos, entretanto, têm os mesmos sentimentos, as mesmas idéias, por isso que as fragmentações da unidade não se uniformizaram ainda. Mas para a unidade caminhamos, superando as diferenciações individuais. (Cada um de nós, originados de pontos diferentes, inclusive de raças e de países, vamos nos encontrando dentro da Sociedade Teosófica Brasileira, conduzidos para ela por determinação cármica de vidas passadas e nela vamos nos agrupando pela fecunda germinação das vidas futuras. É certo, é real, que assim desfrutamos de esforços pessoais, mas, regendo os, qualificando-os e dirigindo-os, há o poder supremo e potentíssimo do avatara Maitréia.

Quanto ao estudo da tradição, a Sabedoria Iniciática das Idades divulgada e legada ao mundo pela Grande Fraternidade Branca, ele propicia, comparado com o presente, entender o futuro. Essa comparação, feita através da inteligência comparativa, relativa, possibilita chegar à inteligência subjetiva. Com esta inteligência subjetiva é que o discípulo compreende o futuro, isto é, alcança Li compreensão do futuro. O primeiro vem a ser o conhecimento acadêmico, e , o segundo é o que chamamos de subjetivo, ou a realização do porvir. O futuro torna-se presente. Enquanto a maioria ainda está envolta nas trevas da noite, a minoria eleita vê e é banhada, pelas luzes frescas do novo

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alvorecer. Esta minoria eleita é assim a vanguarda da humanidade mais avançada no caminho do progresso e da evolução.

O modus faciendi do processo em vista – o abandono da inteligência comparativa para a conquista da inteligência subjetiva aparece na teatralização do futuro. É como peça que se ensaia hoje para ser corretamente representada amanhã. Através dos ensaios, sob a regência do diretor de cena, os atores – os discípulos assimilaram e encarnam as personagens. Na literatura teatral o ato de encarnar uma personagem não se chama vestir o papel? Quando nos antigos colégios iniciáticos a iniciação era chamada de mistérios menores, sabia-se que os mistérios maiores referiam-se à revelação.

A tradição, doada ao mundo como uma herança que se lega a herdeiros como legítima partilha, depois do indispensável inventário, é o conhecimento exotérico. A conquista da segunda, etapa, que é o direito ao conhecimento da revelação, é um prêmio ao esforço do discípulo, mas envolve, paralelamente, uma responsabilidade muito maior, porque aí já se trata do conhecimento esotérico. As palavras da Esfinge são suas, e tudo, autoridade e responsabilidade, cifra-se em Saber, Querer, Ousar, Calar.

QUANDO SURGE O AVATARA

Aprofundemos um pouco mais a conceituação de Avatara. Quanto melhor compreendermos a doutrina avatárica, melhor entenderemos os mistérios da Natureza e da Sociedade.

Os avataras surgem em épocas de transição de um ciclo para outro ou de uma época para outra época. Dizem eles que a Terra obedece a um ritmo quaternário. O ritmo é dividido, em sua grande manifestação, em quatro grandes ciclos ou idades. A primeira, a Idade de Ouro, é a idéia de aurora do trabalho, do início, da madrugada, o começo das civilizações ou das eras. Segue-se a Idade de Prata, é como se o esplendor da madrugada começasse a desvanecer para a luz rude e forte do dia. A terceira idade é a tarde, o enevoado vespertino, a bruma crepuscular, :e na quarta sobrevem a noite. Esta última é denominada Idade Negra, a idade sem luz, quando há pouca fertilidade, época sombria da História. Nesses momentos é que surgem os avataras, uma nova hierarquia, um novo poder, uma nova tônica da Verdade. Nessas épocas é que há o transbordo de um ciclo para outro. Dá-se aquilo muito bem descrito no grande poema "Mâhabârata", a luta entre Deus e os demônios, entre a luz e a sombra, ou melhor, a pugna gigantesca entre o passado e o futuro. A vida, em nova onda, irrompe com fórmulas vigorosas de renascimento e destroça cristalizações de velhos hábitos. Dessa batalha resulta a unidade do novo e a fragmentação do velho. Esses fragmentos permanecem por mais um pouco de tempo como remanescentes, como arquipélagos depois de uma convulsão sísmica. Coexistem assim fragmentos do passado com a unidade do novo, com o que está em vigor no ciclo. É nestas épocas que surgem os avataras, ou esses movimentos que atingem desde os deuses até as criaturas menos dotadas para a nova idade. É uma hierarquia, um grupo de renovadores. Essa vanguarda, entretanto, é precedida. por outra vanguarda, que é aquela que revela os novos conceitos. É o manu, o doador dos novos conhecimentos, o semeador do novo alento. É exaltado, homenageado, entronizado como rei, e como tal reconhecido por aqueles que lhe ouvem a voz e lhe leguem os ditames. Usando a chave da analogia, podemos dizer que o primeiro período é como a infância, e os seguintes, adolescência, maturidade e decrepitude das civilizações. Esta é a tradição oriental.

A LUTA ENTRE SOLARES E LUNARES

Comparando os períodos históricos da civilização, vemos que estamos numa dessas épocas. Há cinco mil anos, quando surgiu Krishna, anunciou-se a Idade Negra,

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esta em que ainda estamos. Todos estamos na Idade Negra porque tudo vive e morre dentro de ciclos, mas é fundamental, porque decisivo, sabermos o que somos e o que desejamos ser. A linha demarcatória separa os solares e os lunares.

Que vem a ser isto de lunares e solares?

Trata-se de classificações sumamente importantes. Lunares e solares são dois tipos de homens e deuses adversos entre si, antagonizados de modo inconciliável. Ou se é uma coisa ou se é a outra. Não há meio termo. Ou a criatura é solar, e sendo solar é branca, ou é lunar, e sendo lunar é negra.

Há cinco mil anos houve o cisma dos ionídias, e daí para cá ficaram nitidamente demarcados os ritos lunares e os solares. Os primeiros tiveram sua base no emocional humano. Os ritos solares tiveram sua base no mental humano, apoiando-se na evolução da inteligência, exigindo dela características abstratas. Nos ritos lunares se sacrificavam os seres humanos. Tal sacrifício é sua característica principal. Por isso, como remanescentes desses ritos até hoje há os tipos necromânticos de magia em que, na impossibilidade de sacrificar seres humanos, sacrificam animais. Verifica-se isso nos difundidos ritos da umbanda e da quimbanda, em que outrora se sacrificavam sacerdotes e sacerdotisas nas floresta e furnas africanas. As regiões do Novo Mundo a que afluíram os negros cativos andam Infestadas desses ritos lunares decadentes e que desgraçam a ordem social porisso que vulneram a ordem espiritual. Todos esses atos hediondos dos ritos lunares deveriam ter desaparecido dos países ocidentais a partir do momento em que Cristo trouxe ao mundo a restauração da Sabedoria Iniciática das Idades, na aurora redentora do seu ciclo, o ciclo de Peixes. O Cristianismo travou sua batalha e realmente fracionou o passado lunar, mas os fragmentos do pretérito caduco restaram em número tão grande, tão vitalizado! pelos decadentes, que esses fragmentos ainda influem poderosamente nas mentes de ricos e pobres, incultos e letrados, porque todos eles continuam deserdados das luzes da iniciação. A pemba que o feiticeiro originado das senzalas traceja no chão batido dos terreiros é a mesma tracejada no assoalho encerado dos confortáveis apartamentos. O litoral brasileiro, nos pontos hm que os africanistas e suas magias putrefatas predominam, exibe um afluxo carnavalesco de pessoas que pedem a Iemanjá a satisfação de seus desejos idiotas ou paixões diabólicas. Que se pode esperar dessa pobre gente acorrentada a ritos desvitalizados das virtudes divinas?... Esses não entrarão no novo, no reino do avatara Maitréia. Escolheram o pior caminho – o caminho que quanto mais percorrem mais os distancia do novo? ciclo, porque recuam aceleradamente para o decrépito. Já os ritos solares, ao contrário, oferecem perspectivas opostas a estas, por, propiciarem movimentos culturais, tônicas que propelem a evolução humana. Os ritos solares nascem no alto de montanhas. Nós apontamos, na Serra da Mantiqueira, a nossa Montanha Sagrada, onde se deu a gloriosa fundação espiritual da S.T.B.

A SELEÇÃO PELO LIVRE ARBÍTRIO

Com estas explicações históricas e doutrinárias podemos compreender a origem e o sentido das crises contemporâneas.

Nesta idade negra em que vivemos há sede de sangue. Crimes jamais concebidos estão sendo praticados porque a decorrência gerada pela prática dos ritos lunares se acentua cada vez mais. Nesse vértice de litígios opera-se uma invisível mas rigorosa seleção psíquica e espiritual. A seleção é feita na base do livre arbítrio: as criaturas selecionam-se por si mesmas, segundo suas tendências, solares ou lunares. Os que sentem pendor para a civilização solar preferem a clarividência mental, ao passo que as outras preferem a clarividência lunar. Estas últimas, que congregam o maior número, são pessoas inseguras, sem auto-suficiência, sem confiança em si mesmas. São a coorte dos vampiros de todos os tipos, que medram e se desenvolvem em todos os campos:

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espiritual, psíquico, físico, moral, econômico e financeiro. Os roubos e os furtos se realizam em maior número do que se pode imaginar, e há muitos crimes que não estão nem poderiam estar capitulados no Código Penal porque ao legislador escapam as leis ocultas. A lei da solidariedade humana e social, que é legítima em todos os sentidos, e fundamental no plano da evolução, é pervertida pelos decadentes, em defesa de seus interesses imediatos e subalternos. É por isso que não há nunca progresso espiritual se não se verifica, antes, progresso moral. A significação exata da palavra pecado reside no erro advindo da ignorância das leis divinas. A magia negra aparece quando o ser humano utiliza uma função natural de modo contrário àquela para que foi feita. A função faz o órgão, realmente; mas quando orientamos a função de modo oposto, a função desfaz o órgão. Por isso é que há multas pessoas vivas vagando pelo mundo, mas já morreram: são fantasmas de si mesmas. Os ritos solares são seguidos pela minoria esclarecida. São os menos conhecidos e os que têm menor número de adeptos, porque raciocinar, discernir, meditar, observar exigem esforço próprio, demandam possuir preponderância do mental sobre o emocional. Aprender é mais difícil do que sentir; e transmitir fielmente o que se aprendeu é ainda mais difícil do que aprender.

ESPIRITUALISMO E ANIMISMO

Estas digressões objetivaram nosso propósito de estabelecer a diferença profunda que há entre espiritualismo e animismo. O espiritualismo relaciona-se, a rigor, com os ritos solares. O animismo relaciona-se, a rigor, com os lunares. Que esta diferença seja claramente compreendida. Nela reside o antagonismo, de essência e de forma existente entre espiritualismo e animismo, antagonismo do qual são oriundas as crises contemporâneas.

O espiritualismo é um conjunto de mensagens redentoras e de atos de purificação emanados dos Mestras de Sabedoria; as crises contemporâneas são a resultante das oposições feitas ao espiritualismo.

As crises nada mais são do que o produto catastrófico dos ritos lunares, a lógica homicida inerente a esta idade negra. Aqueles que queiram livrar-se delas e das suas funestas conseqüências, têm, como dissemos no início, um só caminho a escolher – o da verdadeira iniciação, derradeira oportunidade nesse fim de ciclo. A doutrina está clara e nítida no ensinamento de Jesus: "Ninguém pode servir a dois senhores". Recordemos outro grande ensinamento evangélico: "Que os mortos enterrem seus mortos". E lembremos a recomendação do Buda: "Deveis preocupar-vos muito com as vossas futuras encarnações, isto é, um ponto acima da presente".

A EGRÉGORA DO AVATARA MAITRÉIA

Para cuidar de nossa próxima encarnação, nós, da Sociedade Teosófica Brasileira, trabalhamos para a constituição da egrégora do avatara Maitréia, porque assim colocados, voluntariamente, de livre e espontânea vontade, antecipamos em nós mesmos as poderosas. e invencíveis vibrações do ato de 2005, subtraimo-nos às crises dos dias atuais, desdenhamos o ciclo apodrecido e gasto, rejeitamos o passado em ruínas e adotamos o futuro em construção, semeamos em nós mesmos as sementes das ciências e das artes porvindouras, talhamos vestes menos imperfeitas para uma existência melhor; individual e coletivamente queremos o que sabemos, sabemos o que queremos, ousamos quanto necessário e calamos o que não pode ser dito.

Somos discípulos e membros de uma família espiritual que se formou há muitos milhares de anos. Os membros. desta família se dispersam e se agrupam nas várias épocas de suas reencarnações, no fluxo e refluxo de seus respectivos carmas. Nesta época; desde o ano de 1900, vamos nos reencontrando, reconhecendo-nos e agrupando-

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nos, polarizados à volta d'Aquêle que traz consigo a Palavra Perdida. Que acontece? Acontece que somos atraídos pelas afinidades eletivas que jamais perdem sua força de atração.

A esta altura dos "tempos chegados'',. nós andamos em busca de outros parentes, dos que faltam ao nosso convívio espiritual, os quais, como nós outrora, vagam na "selva selvaggia" deste mundo, longe do caminho da iniciação, talvez sentindo e pressentindo que suas inquietudes espirituais são ecos de chamados urgentes, apêlos ansiosos de pais amantíssimos e de almas fraternas. Estes parentes são os "poucos escolhidos dos muitos chamados". Sim, dentre muitos que chegam, alguns ficam. Os escolhidos pertencem à classe do filho pródigo que depois de se extraviar pelo mundo volta à casa paterna e é recebido com alegria. É a simbologia maravilhosa da família, a família-mater que forja a superestrutura de todos os movimentos redentores.

E como todo avatara se apresenta, no país que há de servir de berço a cada nova civilização, e como Maitréia aparecerá no Brasil nos primórdios do século XXI, a Sociedade Teosófica Brasileira é o seu anunciador, é o cartão de visita, o Arauto!

O TRÍPLICE EQUILÍBRIO

Na Sociedade Teosófica Brasileira ensinamos o que aprendemos, ensinamos a evoluir, ou, como dizia nosso muito amado e sempre lembrado professor Henrique José de Souza, "o nosso trabalho consiste na transformação dos acontecimentos das coisas". É justamente o trabalho da evolução. Em que consiste a evolução? Na transformação de toda atividade de um plano para outro imediatamente superior, é a mudança de um estado para outro de natureza mais elevada. Para tanto importa capitalmente possuir a coragem de superar a rotina e o formalismo. Rotina e formalismo são elementos de retardamento. Na evolução não há jamais a fatalidade que viceja consubstancialmente na involução. O ser evoluído, isto é, equilibrado no físico, no psíquico e no espírito, é uma criatura de paz e de harmonia, é justo, de maneiras brandas e seguras, bom conselheiro e apaziguador em qualquer situação; independe das coisas ordinárias, à verídico, sua palavra é uma só, de seus atos transparece-lhe a consciência tranquila e o caráter retilíneo; não agride, não ofende, mas sabe se defender, e , sempre dá mais do que recebe.

E Espiritualismo é um privilégio concedido pela evolução crescente, ininterrupta, ao passo que as crises do mundo são o apanágio caótico da involução. Daí porque o processo de transformação por que está passando o mundo ganha velocidade vertiginosa e amplia seu volume catastrófico.

O máximo problema de cada ser humano agora é compreender a tarefa que lhe cabe nesse processo de transformação e realiza-la. Por bem ou por mal. Realiza-se por bem quando a realiza conscientemente, realiza-a por mal quando a realiza inconscientemente. Cada um cumpre sua tarefa de conformidade com seu estado de consciência. Nós, discípulos de J H S e membros da S. T. B., cumprimos nosso dever de trazer ao mundo, aos nossos patrícios, o resultado de nosso trabalho. Dividimos nosso pão com aqueles que têm fome de saber. Sem jactância, humildemente, com a tenacidade da convicção e com a brandura da fraternidade. Enquanto os loucos acendem fogueiras, nós acendemos luzes. Enquanto os mentecaptos promovem guerras, nós restabelecemos a paz. Esta é a nossa missão, que vimos cumprindo no Brasil e no mundo há quarenta anos, e para ela, que envolve a causa da Luz, da Paz e do Progresso, nós Conclamamos os que sentem no íntimo do coração os. nossos mesmos ideais.

Que a paz se faça para todos os seres.

&

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História das Religiões 44

Cícero Pimenta de Mello

"Que seria de um homem sem memória? Que sucederia a uma sociedade deslembrada do passado? Há sem dúvida uma equivalência entre as duas perguntas, cuja diferença se mede pelas distâncias do mesmo raio que atravesse os círculos da psicologia individual e coletiva. A memória tem sentido vital para todo ser vivo." (Rubens de Barcellos – "Estudos Riograndenses" ).

E assim, com essa conceituação e em virtude dela, que trataremos no tocante às religiões, da inseparável companheira de todos os movimentos – a História.

CONFRONTO DAS RELIGIÕES

Compete-nos, como membros da S.T.B., dentre outros, o estudo de História das Religiões, o conhecimento das religiões comparadas com o fim precípuo do que podemos denominar – humanização do conhecimento. Visando a habilitar-nos a prática da divulgação doutrinária do movimento ao qual estamos ligados, julgamos imprescindível estudo em foco, que nos põe a par das semelhanças, dos paralelismos, dos elementos comuns às grandes religiões. Convém grifar, que os compromissos, espontâneos e livres, ligando-nos à S.T.B., são condicionados ao excepcional privilégio de podermos optar, escolher e agir, enfim, conforme nosso próprio querer ou auto-vontade, faculdade esta que implica em ação na qual a Lei da Finalidade domina e é do conhecimento do agente ele mesmo, ao contrário do que se passa com os corpos no espaço, cujos movimentos obedecem à Lei da Causalidade, ou, mais claramente, se realizam mercê de algo que obriga, sem participação ou interferência das predileções do que é posto em movimento e age, portanto, sem consciência própria, causando o que tem que causar, não por um ato volitivo seu nem da sabedoria que lhe seja inerente, mas, apenas, por ser suscetível à mobilidade e à ação.

Nessa ordem de idéias, vejamos o que nos conta sobre religiões essa "patrícia imortal de todos os povos", que é a História, posto não haver povo que não escreva sua história, seja em caracteres babilônicos, hebraicos ou quaisquer outros, e até mesmo sem isso, pois, como sabemos, o típicas de tanto se incumbem no Akasha, desde que ações são cometidas...

DEFINIÇOES CLÁSSICAS

Antes de entrarmos no estudo em, pauta, faremos umas citações e alguns comentários.

Transcrevemos aqui algumas definições de religião, a guisa d.e prolegômenos:

Religião é um sistema social de crenças e práticas baseadas no reconhecimento de princípios e seres superiores, metafísicos, que podem influir na vida e no destino dos seres, consoante Eduardo Alfonso.

Segundo Kant, religião é o reconhecimento de nossos deveres como ordens de Deus.

Schleiermarcher: religião consiste na consciência de nossa absoluta dependência de alguma coisa que nos determina e que não podemos determinar no que nos cerca.

Para Hegel, religião é a consciência que o Espírito Divino toma de Si mesmo por intermédio do espirito finito do homem.

44 Palestras pronunciadas pelo Autor, na sede da Cruzeiro do Sul – Casa Capitular de São Paulo, em agosto de 1963.

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Max Müller: religião é uma faculdade do Espírito que, independentemente dos sentidos e da razão, torna o homem capaz de captar o Infinito sob nomes diferentes e modos cambiantes.

Diz Mensies: religião é o culto de poderes superiores, decorrente do sentimento de necessidade.

Cícero declara, apenas, que religião é piedosa adoração de Deus.

Fichte define religião, pura e simplesmente, como Ciência ou conhecimento.

Charles Francis Potter opina que religião é o esforço da personalidade humana, dividida e incompleta, no sentido de atingir unidade e inteireza, buscando usualmente, porém não necessariamente, o auxílio de pessoa ou pessoas idealmente completas e divinas; religiões são sistemas de crença e prática, erguidos entre discípulos de algum homem que atingiu satisfatório grau de êxito, através de esforços próprios destinados a unificar e completar sua personalidade.

É fácil concluir, por todas essas definições, que cada autor usou um prisma, colocando-se todos em posições diferentes, e que, o último, Charles F. Potter, distingue, aliás com muita propriedade, religião e religiões, malgrado não atinando com a real necessidade da distinção.

Há que convir, inicialmente, que Religião, de fato, é a Ciência da Vida – a Eubiose, Teosofia, Brahma-Vidya ou que outro nome se dá à Sabedoria Iniciática das Idades, de fundação divina, e de onde emanam todas as artes, filosofias e ciências; inclusive mesmo o que vai e vem por aí, sob a denominação de seitas, credos, cultos, dogmas e religiões que, embora não fundadas – em inteira ficção, jamais deveriam ter suas fundações atribuídas a Quem se o faz geralmente; pois, em verdade, esses grandes Seres aos quais é dada a paternidade de tais feitos, como Enviados do Eterno ou Seus Avataras, foram, são e serão a Religião em Si ou o Caminho, tal e qual alguns explicitamente Se disseram e todos assim Se demonstraram, e devem ser tidos, por quem entende o que vê, o que ouve, e não lê apenas na simples letra morta...

HISTÓRIA DA RELIGIÃO E HISTÓRIA DAS RELIGIÕES

Torna-se necessário fixar que História da Religião não equivale a História das religiões, erro em que incidem muitos. Embora, pelo estudo da História das religiões, feita através as biografias daqueles a quem são imputadas suas fundações, se possa colher elementos de valor para a História da Religião, não basta isso para que se iguale uma cousa à outra, a começar porque, como afirmamos, nenhum dos grandes Seres vindos à superfície da Terra, seja Kunaton, Moisés, Gautama ou Jesus, para não citar um mais antigo – Krishna, e outros, nenhum deles fundou religião alguma, e sim, como a Religião em Si ou o Caminho, atualizaram cada qual a seu tempo e a seu povo a Tônica da Verdade, fornecendo os conhecimentos necessários à Evolução, segundo o Plano traçado pelo Eterno e conforme a Eterna Lei que a tudo e a todos rege. Para justificar a afirmativa de que Religião é Ciência, convém assinalar que a verdadeira Religião tem as três condições essenciais de toda ciência – objeto especial, problemas a resolver e a meta a alcançar, e que, segundo os lógicos árabes, "maudu", que traduz o "hypokeimenon" grego ou o objeto de uma ciência, é a coisa cujos acidentes, afetando uma essência, formam a matéria de um tratado especial. Assim são o corpo humano para a Medicina e os corpos celestes para a Astronomia, por exemplo.

Sabemos, com Aristóteles, que "princípios próprios", cuja existência se admite sem demonstração, são as coisas nas quais a ciência acha as propriedades essenciais que estuda. Assim, a Aritmética admite sem demonstração as unidades, e a Geometria, os pontos e as linhas, aceitando sem demonstração a existência e a definição dessas coisas.

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Partindo da premissa caracterizarem as ciências a especificidade do objeto, os problemas a resolver e a meta a alcançar; serem princípios próprios as coisas nas quais a ciência encontra as propriedades essenciais que estuda, sem demonstração da existência e da definição dessas coisas, parece-nos razoável concluir ser Religião, de fato e de direito, Ciência, e Ciência das Ciências, o Tronco Mater de todo Conhecimento, posto que é a Ciência da Vida, da Evolução portanto, chame-se-lhe "Brahma-Vidya", Teosofia, Eubiose, ou ainda Sabedoria Iniciática das Idades, que é o que em todos os tempos ensinaram os Cristos ou iluminados, parabólica ou metaforicamente, pela tradição oral, de boca a ouvido, para difundir entre os homens a Verdade que é uma só, embora denominada diferentemente; como Um Único é Aquele ou Aquilo, a Quem ou a Que todos os caminhos conduzem, quando se O busca idealmente, obedecendo à Ética e à Ciência infusas na verdadeira Religião; e que chegam aos homens, por difusão, através dos Mensageiros de Deus, "Allah", "Brahma", "Goda", "Melkitsedec" – o Eterno, o Absoluto, Aquele Algo ou Alguém que existe por Si-Mesmo e é condição sine-qua-non da verdadeira Vida, em cujo bojo não há morte, senão como a pausa imprescindível à manutenção da vida mesma dos seres, aos quais impossível seria uma ininterrupta continuidade anatômica ou formal, pelas exigências funcionais ou fisiológicas, digamos, da Vida em Si, esse perene vir-a-ser, essa perpétua sucessão de mortes aparentes, como disseram os grandes iniciados.

A CHAVE ETIMOLÓGICA

Do ponto de vista etimológico, segundo opinam Festus, Lactencio, Santo Agostinho e, em nossos dias, o Professor Henrique José de Souza e o polígrafo Mário Roso de Luna, o fonema "Religião" procede do verbo latino Religare, com o sentido de "ligar outra vez ou duas vezes", traduzindo ainda, segundo entender pessoal rosco, a noção de "tornar a ter" ou `tornar a tomar", simultaneamente em relação, digamos, com os dois pólos – o Divino e o humano.

Outros, como Cícero, preferem, quanto ao étimo, admitir que o termo "Religião" provém do vocábulo latino "Relegere", com a significação de "reter e retomar".

Filosofando acerca da noção de "reunir", que decorre da idéia de "Religião", convém não esquecermos que, consoante Aristóteles, o homem é, por natureza, um animal político – "Zoonpolitikon".

Política, como é sabido, vem do helênico "polis” – cidade; "civilização" possui construção etimológica idêntica, vindo de "civitas", traduzindo "polis" – cidade, e "politéia", abrangendo simultaneamente diversos fenômenos sociais que nas línguas hodiernas são chamados: sociedade, sociologia, organização social, organização política, civilização, etc.

Revela ponderar, pois, que a idéia "unir" ou "reunir" implica, também, na noção de "política", civilização, etc., como é de deduzir do aristotélico aforismo, quando tomado em seu justo e correto sentido 45 .

ENSINAMENTOS DA HISTÓRIA

Mostra-nos o estudo da História das religiões, que todas, com seus sistemas de crença e prática, algo contêm, em proporções maiores ou menores, da ciência dos que lhes deram motivo à fundação, Religiosos de fato, com R maiúsculo, porém, jamais fundadores de religiões. Nenhum Ser Superior deixou de cumprir a Lei de que era Mensageiro ou Atualizador, como melhor é dizer, fundando algo já fundado, como se depreende do fato de ser a Religião o recurso divino usado desde a primeira criação, e do 45 Religar, no sentido de voltar a unir-se com Deus ou com o próprio Ego divino, de quem o homem anda separado, é também o sentido do termo sânscrito “Yoga”. (N. da R.).

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pressuposto que a Religião é a Vida; sim, porque praticando seus ensinamentos, o ho-mem pode salvar-se para a Vida no Espírito-Deus.

A Religião foi a mãe das ciências, das filosofias e da artes; a arte manifestou-se, a princípio, pela talha de imagens de deuses e ,dos adornos de seus santuários; nos festivais em honra às divindades, o gosto do homem

primitivo pelo ritmo puro e simples era expresso; vocalmente, em hinos iterativos, em meneios monótonos e "asanas" do corpo, surgindo daí a música e a dança; as primeiras atividades do drama se verificaram nos ritos religiosos; os remanescentes das primeiras realizações literárias legadas pela antiguidade são constituídos por livros sagrados; a ciência, evidentemente, nasceu com o próprio mundo, preexistia ao homem, nas matemáticas e sábias realizações cosmogônicas e antropogênicas, aludindo a literatura dos livros sagrados aos cânones das medidas, que tão de perto nos falam de Ciência, Ciência-Mater ou Religião, cuja denominação melhor é, para nós pessoalmente, Teosofia ou Brahma-Vydia - a Ciência de Deus, ou a Ciência da Vida, sendo impossível conceber Vida sem Deus, isto é, confundem-se Deus e Vida, pelo Movimento que, em Si, são ambos.

Estudando a História das religiões, nos convencemos das verdades que nesta casa são reveladas, nas quais, dentre outras, encontramos a chave para desvendar o mistério dos Avataras, levando-nos à convicção da unidade funcional dos mesmos como atualizadores da Tônica da Verdade, a Religião em Si ou o Caminho, como foram Krishna, Kunaton, Moisés, Gautama, Jesus e outros Cristos, aos quais devemos doutrinas eficazes para a salvação dos homens, pela Sabedoria, pelo Amor e pela Ação, usados consciente e simultaneamente. Para terminar, veneráveis Irmãos, permiti que vos transmitamos uma apreciação do grande Aurobindo sobre religiões:

"Toda religião ajudou a Humanidade. O paganismo aumentou no homem a luz da beleza, a extensão e a superioridade da vida, a tendência para uma perfeição multiforme. O cristianismo deu-lhe uma visão de caridade e de amor divinos. O budismo mostrou-lhe um nobre meio de ser mais sábio, mais doce, mais puro. O judaísmo e o islamismo – como ser religiosamente fiel em ação e zeloso na sua devoção por Deus. o Induísmo abriu-lhe mais vastas e as mais profundas possibilidades espirituais. Seria uma grande coisa se todas essas visões de Deus pudessem abraçar-se e se funde uma na outra, mas o dogma intelectual e o egoísmo do culto vedam o caminho. Todas as religiões salvaram um certo número de almas, porém, nenhuma foi ainda capaz de espiritualizar a Humanidade. Para isso não é o culto e a crença que são necessários, mas um esforço continuo, englobando tudo, de desenvolvimento espiritual próprio. As transformações que vemos no mundo hoje são intelectuais, morais, físicas, no seu ideal e na sua intenção. A revolução espiritual espera sua hora e, entrementes, faz surgir suas vagas aqui e acolá. Até que venha, o sentido das outras modificações não pode ser compreendido, e até aquele momento todas as interpretações dos acontecimentos atuais e todas as previsões do futuro humano são coisas vãs, pois, sua natureza, sua potência e sua eclosão serão as determinantes do próximo ciclo de nossa Humanidade".

A RELIGIÃO DA NATUREZA

Do que afirmamos na palestra anterior, deduz-se que nenhuma das religiões, da mais antiga a mais moderna, foi fundada em completa ficção, sendo de concluir, também, em conseqüência, ter dado origem às mesmas, no que nelas há de verdadeiro, um substrato real, santo e divino, na mais extensa acepção destes qualificativos. Do que ficou dito inicialmente, somos levados a admitir Religião como Ciência. Para designar essa Verdade Primordial, podemos também chamá-la de "Religião da Natureza".

Tronco único de quantas religiões existem de fundação humana, a Religião da Natureza (Teosofia ou Eubiose) está encoberta pelos véus, sucessivos que sobre ela vêm

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lançando as religiões de humana procedência, e, assim, a Verdade primitiva se tornou o Templo sepultado e jaz oculta atrás desses múltiplos véus.

Sabemos ter existido uma Revelação primitiva, que se conserva ainda, e reaparece no dia oportuno pelo verbo dos próprios Instrutores, seja um Krishna, um Gautama ou um Jesus, mas sempre um Buda ou Cristo, um Iluminado, que aparece de ciclo em ciclo, bendizendo os povos com a Sua presença, ministrando-lhes os ensinamentos, para se redimirem e evoluírem, e não redimindo-os, como pensam certos religiosos, que nem são fiéis, verdadeiramente, as religiões que dizem abraçar, não só por não as conhecerem devidamente, como por usarem de recursos proscritos pelo credo, conscientemente ou não.

AS 4 RELIGIÕES ORIUNDAS DOS “RISHIS"

No que respeita o estudo em foco, propriamente, trazendo a tela a religião jaina, primitiva, de Jano ou pagã, religião que foi a dos pais de nossos pais, cujos últimos comungaram no Judaísmo, no Maometismo ou no Cristianismo, procuremos tirar as ilações que nos permitam banir de nossas mentes o fetichismo, o tabu e a falsa magia, esses vestígios de velhas "relíquias", tão indicativos da evolução das humanas religiões quanto o são da dos corpos dos homens os dentes do siso e o apêndice ileo-cecal, que se é, as vezes, obrigado a extirpar, para sossego espiritual e manutenção da vida.

Houve, em tempos remotíssimos, uma Idade de Ouro, de plena Felicidade, a "Satya -Yuga" ou "Chatur Juga" bramânico, idade de 1.728.000 anos (algo mais do tempo atribuído à raça ariana), Idade da Pureza arcadiana, em que os deuses andavam pela Terra convivendo com os mortais. O principal desses deuses, Saturno ou Sat-Ur-Anas (o primeiro manifestado no fogo e na água), expulso do Céu seu filho Júpiter ou "Io-Pithar" (o pai de Io ou o culto lunar) baixou à Itália, quando o povo romano, vindo de Tróia com Enéas, segundo Virgílio, não havia ainda nascido, reinando entre os sabeus ou sabinos, no Lácio, o rei Jano, de cujo nome deriva o da religião conhecida como janismo, ou jaina.

Jano ou "Io-Anas" – o sacerdote de Io, era um dos muitos adeptos da Boa Lei que ficaram entre os etruscos, heteroscos ou "outros vascos" de Itália, em razão da catástrofe da Atlântida, sendo a procedência do seu culto genuinamente atlante.

Jano, como Hermes, Alá ou Jeová, além de nome próprio, é nome coletivo de "dhyanis", "jinas" ou conquistadores, guerreiros luni-solares ou "chattriyas" brancos de remotíssima existência, da religião jaina, que não devem ser confundidos com os citados nos Vedas e no Código do Manu, obras muito posteriores à época pré-história do janismo primitivo.

No Oriente, entre os brâmanes, contumazes falsificadores do primitivo bramanismo, quais os falsos "religiosos" de tantas outras religiões, era dado a esses guerreiros primitivos do janismo europeu, excetuando-se os jainos ulteriores da Pérsia e da índia, o nome da "bhils", têrmo derivado da raiz sânscrita "bhid", com a significação de "separar".

O janismo, juntamente com o induísmo, o zoroastrismo e o sabeísmo, constitui a religão troncal e mais antiga da índia e nenhuma dessas religiões pode ser considerada nem superior, nem inferior, nem anterior às demais, por serem, as quatro, facetas da Religião-Sabedoria primitiva, ou dos "Rishis", professada pelos Adeptos da Boa-Lei, salvos da catástrofe atlante os quais, pelo "itinerário de Io" ou "fuga do Egito" mosaica, se dispersaram desde Ariana ao Egito, Pérsia e índia propriamente dita.

Perdida, ou melhor, oculta para o vulgo, a Religião da Natureza ou Religião-Sabedoria primordial é matéria reservada às Escolas Iniciáticas, onde determinados Seres, detentores dos segredos da Magia, fazem chegar, direta ou indiretamente, os conhecimentos religiosos ou esotéricos capazes de tornar o discípulo apto a conseguir a

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alquímica transformação de si-mesmo, colaborando com a Natureza no seu eterno afã de transformar Vida-Energia em Vida-Consciência.

O nome dado ao presumível fundador do janismo é "Rishi-Abha-Deva", cuja tradução literal – "o mais brilhante e antigo dos primitivos Pais, Pitris, Budas ou Reis, (ou Filhos do Amanhecer do Manuântara, como dizem as estâncias de Dzian)", nos adverte contra a confirmação do presumido, isto é, esclarece-nos ser o janismo não uma humana fundação, mas uma divina realização – Religião em-si, de fato, que posteriormente, então, sim, serviu de motivo a fundações de religiões pelos homens.

Na metafísica de Gautama – o Buda, as partes secretas. chamadas "Janna", "Diana", "Dan" ou "Chhan", constituem apenas uma parte do grande Tronco. Esse grande reformador limitou seus ensinamentos públicos ao aspecto puramente moral e filosófico da Religião-Sabedoria, reservando as verdades ocultas para um circulo escolhido de seus Arhats, que recebiam a iniciação na famosa Saptaparna de Mahavansa, perto do monte Baibhâr ou Webhâra, junto a Rajakriha, antiga capital de Bagadha. Cheta ou Fahian é o nome dado por alguns arqueólogos à cova de Saptaparna.

"Janna", em antigos livros, significa a reforma de alguém pela meditação e pelo estudo.

"Dzan", "Djan", "Dzian", "Djin"; "Jina", "Jaino", "Jarro", tem em "Janna" a sua procedência.

O verdadeiro Budismo é muito anterior à "Siddharta Çakya Muni" – Gautama o Buda, bastando que se atente na etimologia do termo "Budha", do radical "Bod", sânscrito, com o significado de ungir, iluminar, qual no do grego, de Cristo, que traduz também iluminado, etc., e nos leva à convicção de ser Budismo, Cristianismo e Janismo uma única e mesma coisa; porém tornados diferentes e até contrários pelos erros dos homens que, obstinadamente, continuam adeptos do sectarismo das humanas fundações religiosas, melhor dito irreligiosas, por contrárias à Religião de fato, que é puro Cristianismo, Budismo ou Janismo, por concorrer para a Iluminação ou para o Conhecimento, permitindo ao homem tornar-se um Jina, uma Sábio, como sugere o nome mesmo de "Janismo", Jinismo, Djanismo, Dzianismo, Dzanismo e outras tantas denominações da Sabedoria Iniciática das Idades sempre atualizada por Instrutores maiores ou menores – esses Avataras proporcionais aos ciclos ou relativos ao estado de consciência alcançado pelos homens. Conclui-se do que dissemos, que ao tratar de Teosofia ou Eubiose propriamente dita, é que caberá falar de Janismo e seus similares, como Jaino-Zoroastrismo, Jaino-Hinduísmo, Sabeísmo Caldeu e tudo mais que é Religião de fato e não os simples sistemas de crenças e práticas que são as religiões baseadas em fragmentos da Verdadeira, e, assim mesmo, desvirtuadas por seus falsos fundadores e seguidores.

KUNATON E O EGITO DESCONHECIDO

Goza dos honrosos títulos de "o primeiro pacifista", "o monoteísta", "o democrata", "o internacionalista", "o humanista", "o príncipe realista" e outros semelhantes a invulgar personalidade que a História imortalizou com os nomes de Amenhotep, Amenofis IV e Kunaton.

Releva ponderar, de início, que Kunaton não fundou a religião que se lhe atribui, e sim viveu-a, ou melhor, foi a própria Religião. Falam-nos os biólogos de "mutações", progressos na evolução física. Podemos denominar também "mutações", na evolução intelectual, esses saltos espirituais para a frente, para os quais concorrem, com seus ensinamentos, todos esses grandes Seres que, como Kunaton, são Avataras do Eterno ou Mensageiros da Lei. Devemos à arqueologia os conhecimentos que temos hoje sobre sua vida e sua obra. James Baikie afirma que durante estes últimos quarenta anos foi

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escrito sobre esse rei muito mais do que acerca de todos os demais reis do antigo Oriente juntos, e que, embora não consista isso prova infalível de sua grandeza, demonstra, indubitavelmente, que ele ,impressionou a intelectualidade moderna, e, de tal forma, que o considera a figura mais interessante da antiguidade. Graças a importantes descobertas arqueológicas foi possível a leitura de cartas originais desse grande rei, que teve sob seu domínio os destinos do Egito, no último terço da décima oitava dinastia, podendo-se ainda, em conseqüência, apreciar o seu belíssimo palácio, pinturas e esculturas dos melhores artistas da época, e contemplar seu corpo mumificado.

Como ocorreu a descoberta que tanta luz projetou sobre a múmia de Kunaton e a história antiga?

Uma mulher indígena, cavando a terra em busca de adubo, entre desmanteladas muralhas e vetustas ruínas, às margens do Nilo, a uns trezentos e vinte quilômetros de Cairo, rio acima, foi quem, por acaso, deu o primeiro puxão no fio da meada, como se costuma dizer. Procurava uns ladrilhos de barro, antigos, que produzem, ao se decomporem, uns fosfatos muito úteis aos lavradores egípcios modernos. Essas ruínas, que jaziam ali esquecidas durante trinta séculos, haveriam de servir, antes de ruir totalmente, como pista para a descoberta de uma câmara subterrânea escondida, que revelaria preciosos segredos. Citada mulher, topando com a referida câmara e ali penetrando, encontrou centenas de ladrilhos, não blocos de construção, mas lousas ou tabuletas, com sinais gravados por meio de instrumentos pontiagudos. Boa porção desses ladrilhos, cujo achado teve lugar em 188?, foi vendida por sua descobridora a um vizinho, por dez piastras, quantia equivalente a dez cruzeiros. Esse material, mostrado a um negociante de antiguidades, foi por este remetido à França, para análise. Mas, pela apressada resposta dos egiptólogos franceses, não passavam tais ladrilhos de imitações grosseiras. Foi assim que, infelizmente, a maior parte das lousas, manejadas sem o cuidado que mereciam, fez-se em cacos e pó. Suspeitado o valor das peças por peritos que se empenharam em estudá-las, convenceram-se eles constituírem os referidos elementos uma preciosa fonte onde se encontrava o segredo do palácio de um faraó, pois continham a correspondência diplomática entre dois reis do Egito e monarcas reinantes de nações vizinhas. Salvos uns trezentos e cinqüenta ladrilhos, inclusive outros encontrados em 1891, foi isso o bastante para que se desvendasse o que de mais importante houvera acontecido no décimo quarto século da era pré-cristã, época em que reinaram dois reis egípcios: Amenofis III e Kunaton, o quarto e o mais importante dos Amênofis. (Continua na próxima edição)

&

Religiões

Excerto de "BUDISMO ESOTÉRICO'", de A. P. SINNETT

É pelo estudo perseverante e desejo real de atingir a verdade espiritual e não por uma aquiescência ociosa, ainda que bem intencionada, aos dogmas em voga na igreja mais próxima, que os homens lançam suas almas no estado subjetivo, preparadas a embeber verdadeiros conhecimentos da latente onisciência do seu próprio sexto princípio e a encarnar-se, com um impulso na mesma direção e em tempo devido. Nada pode produzir efeitos mais desastrosos ao progresso humano no que diz respeito aos destinos individuais, do que a noção prevalecente que uma religião é tão boa como a outra se for seguida num espírito de devoção e que se tal ou tal doutrina for absurda, quando bem examinada, não o será quando recitada num estado de espírito puro e devoto. As

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religiões não são tão boas umas como outras, mesmo que todas produzissem vidas igualmente irrepreensíveis. Não é por uma aceitação servil das suas doutrinas que o desenvolvimento da verdadeira espiritualidade será cultivado, mas, sim, pela disposição de investigar a verdade, de experimentar e examinar tudo aquilo que se impõe à nessa crença.

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Karma e Reencarnação 46

Paulo Saldanha

Saúdo a digníssima Presidente da Sociedade Teosófica Brasileira, D. Helena Jefferson de Souza.

Os ilustríssimos Srs. membros da mesa.

O Povo de São Lourenço.

Os veneráveis irmãos presentes e especialmente os que atingiram mais um estágio na senda da iniciação.

Minhas senhoras.

Meus senhores.

Antes de discorrer sobre o tema de nossa palestra, peço licença a todos os presentes, para prestar uma homenagem ao nosso querido e saudoso Mestre JHS.

Glória ao venerável e saudoso Dirigente da Sociedade Teosófica Brasileira, Professor Henrique José de Souza.

Que as sementes lançadas por JHS, se multipliquem e se espalhem por todos os rincões do Planeta. Que todas as humanas criaturas, usufruam do. precioso alimento deixado por Aquele que, com Amor e desprendimento, tudo deu em prol da Humanidade.

Que todos os povos sejam nesse instante consagrados e abençoados pela Divina Mãe.

Que sintam no coração, a chama ardente do Amor Universal e, irmanados por um só pensamento, como elos de uma só corrente, prossigam na marcha triunfal, cônscios dos seus deveres, confiantes na Lei que a tudo e todos rege, até a chegada do Avatara Maitréia.

Bijam.

KARMA E REENCARNAÇÃO

Discorrer convincente e satisfatoriamente sobre esse ou qualquer outro tema, não é fácil tarefa, porque o grau de discernimento não sendo igual em todos, cada indivíduo interpreta o que vê, ouve e sente, de acordo com o estado de consciência que possui. Está ai a razão da existência e da necessidade das coisas nos diversos planos de manifestação, para que haja entendimento, equilíbrio, progresso e evolução.

Tudo tem uma origem, uma constituição, finalidade, meio e modo de expressão no palco cênico da vida.

46 Conferência pronunciada pelo Autor, por ocasião da 16a Convenção Nacional da S. T. B., em São Lourenço, fevereiro de 1964.

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Nada existe estático e independente no Universo; tudo tem um ritmo, vibra e vive envolto num oceano de energia, alimento e vida de todas as formas objetivas e subjetivas dos diversos planos de manifestação.

Deus é Uno e Eterno, a Consciência Cósmica, a Lei Justa, Sábia e Soberana, o Glorioso Oceano de Energia que contém tudo, a vida em toda sua plenitude.

O Universo é a sua grande Obra, campo experimental da manifestação, para que cada vida ou consciência se espiritualize tornando-se a sua semelhança.

Cada Planeta e tudo mais que existe no Firmamento são seres vivos, veículos da essência Una em diversos graus de vibração, formando o grande e apoteótico concerto da Gloriosa Sinfonia Universal.

Este pensamento nos faz crer que a vida vive por si mesma, é o Eterno vir-a-ser, está presente em tudo e em todos. Que tudo é de origem divina, que Deus, através da natureza, se humaniza e que a humanidade por sua vez conscientemente se diviniza.

Dando prosseguimento a nossa jornada, chegamos ao Planeta Terra, no gigante e grandioso ser vivo, berço acolhedor de todos os seres, reinos e mundos que conhecemos. Dele são extraídos os materiais para formação de tocos os veículos, que são seus filhos, manipulados a bem dizer, por seres de categoria superior a nós, sob a jurisdição e orientação de uma força superior e Divina. para espiritualização de todas as consciências.

A Terra é constituída de corpo, alma e espírito.

O corpo da Terra é formada por aquela parte de matéria sólida que pavoa o espaço interestrelar.

O sentido que por analogia com os nossos podemos reconhecer logo à primeira vista, é o estômago, que é a sua superfície que digere tudo, transformando uma cousa em outra.

A pedra se transforma em Terra, esta produz o vegetal, este alimenta o reino animal.

Como os corpos têm movimento, a Terra também se move.

Tem um coração que pulsa que é o mar, tem artérias e veias que são os cursos d'água, o seu calor natural e a sua cabeleira ou manto, que é o reino vegetal. Possui, como os seres organizados, uma infinidade de células diferentes, a sua fauna aquática, terrestre e aérea.

A síntese de tudo isso vem aparecer nos seres da escala mais elevada da vida biológica, onde o pensamento, a inteligência, enfim, o .Espírito surge luminoso, partindo daí para outra região que ele mesmo trata de construir constantemente.

Na sua face, desenvolve a vida e enorme quantidade de seres que formam imensa escala biológica, onde cada vez mais vai se aperfeiçoando e expandindo a quantidade de Espírito.

A alma da Terra deve ser formada pela totalidade de almas de todos os seres nos quais a vida se manifesta.

Os seres tiram os elementos materiais da Terra que os suporta e em troca desses materiais, deve-se supor que esses seres dão um pouco daquela energia que nos anima, sendo este pouco que dá a Terra, formando a totalidade, o somatório dessas dádivas, que é a alma da Terra.

Para provar a existência da alma da Terra, podemos admitir que a totalidade das manifestações das inteligências sejam a força que faz quase tangível a alma das coisas.

Não podemos, por exemplo, tomar o corpo como causa e sim como efeito de uma causa que o faz manifestar-se. Esta causa é que chamamos alma.

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Por analogia, podemos citar a eletricidade que não é tangível mas que mostra uma infinidade de efeitos tangíveis, que se podem verificar.

Aqueles que não admitem a existência da alma, reconhecem os seus efeitos. Assim se dá com a inteligência, com o sentimento, as emoções e tudo que se passa no corpo como efeito de uma causa que não se pode encontrar na matéria densa.

A inteligência se manifesta através do cérebro, mas não pode ser encontrada com o bisturi do cirurgião, ou no tubo de ensaio do analista, nem na retorta do químico. Ela existe somente como causa e ainda deve haver . uma causa de causa, a qual denominamos de Espírito.

A consciência e a inteligência da Terra se manifesta através dos seres e produtos que ela cria, que o homem jamais poderá produzir, enquanto ela os produz espontânea e constantemente.

A consciência que se manifesta na diversidade de seus seres e produtos, demonstra que é impulsionada por um gênero de consciência instintiva progressista, melhorando e aprimorando o trabalho, quando dispõe de condições favoráveis, sendo na verdade a maior mestra do homem.

Ora, se a Terra tem sido mestra do homem, não se pode admitir que os discípulos repudiem o Mestre. O discípulo pode vir a superar o Mestre, mas nunca poderá deixar de reconhecer a inteligência e a autoridade daquele que o instruiu.

Quanto aos três aspectos, corpo, alma e espírito, a Terra até certo ponto é um ser organizado e perfeito, mas ainda não se divinizou, porque isto só será conseguido através da Humanidade, que retira da Terra, da Água e do Ar os elementos mais nobres que são incorporados ou assimilados à mesma.

Esta Humanidade é o cadinho ou o crisol onde está se elaborando um produto de tudo quanto é mais perfeito na superfície da Terra ou no seu seio, mas que não retornará a Ela; o que lhe é devolvido são apenas os seus despojos ou os seus resíduos que lhe pertencem e os que não foram utilizados, ficando como material obtido, o imenso tesouro de conhecimentos que a Humanidade veio acumulando desde tempos que se perderam na caligem do passado.

Chegamos assim à conclusão de que a Terra veio do gasoso, chegou ao sólido e que deste não volta mais ao gasoso e sim passa ao estado etéreo.

Este mecanismo é o caminho natural da evolução a que todos e tudo estão sujeitos.

O Espírito é o indiferenciado, é Uno, é ante matéria, mas pode se manifestar como matéria ou através dela em várias gradações ou aspectos.

A parte do Espírito que a Terra utiliza no seu aspecto primitivo é o Espírito de vida. Quando este se retira, há desagregação da matéria, desaparecendo portanto a coesão. Até aí, havia vibração num ritmo muito lento.

Quando este ritmo aumenta, a vibração produz o adicionamento do Espírito vivente, onde suas formas de manifestações já se podem mover instintivamente, mas o processo continua.

Quando esta vibração aumenta de intensidade, então surge o 3o estágio, que pode ser denominado desejo como extremo, necessidade no outro extremo, tendo no centro o amor. E o processo contínua intensificando-se cada vez mais.

Como na etapa anterior, tínhamos o reino vegetal, surgindo agora o reino animal primitivo e inconsciente no seu reino, mas possuindo um grau de consciência mais adiantado do reino anterior.

Estamos no reino animal. Este se manifesta por uma infinidade de seres reunidos em grupos.

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Todos eles ansiosos de receber e acumular experiências que lhes são dadas pelo meio em que se movem e pela preponderância dos dois pólos mencionados anteriormente, que eram a necessidade e o desejo equilibrados pelo amor.

Quando essa experiência acumulou um cabedal suficiente, surge então ainda na fase inteligente o reino hominal com o pensamento rudimentar e instintivo. Aí deixou de pertencer ao grupo, ou seja, das almas-grupo.

Continua o processo. O ser humano na forma primitiva obtém o poder de comparar e de desejar as coisas, procurando alcançar sempre condições melhores e mais elevadas.

Quando adquiriu a experiência necessária, ganha o princípio humano ou a alma humana. Até aí predominava a animalidade.

Como esse já tem um vislumbre do bem e do mal, deixa de viver à custa do instinto, humaniza-se, podendo agora fazer uso da alta determinação ou livre arbítrio.

Possuindo a alma humana, é convidado a aperfeiçoá-la e livrá-la da animalidade. Quando isto for quase conseguido, ele tem ingresso no princípio angélico. Nesta fase começa a obter a libertação dos vínculos que o prendiam à carne. Pode viver nela sem estar sujeito às suas leis e conseqüências e só então, pode preparar-se para aspirar e merecer ingresso no plano Divino.

Para tornar mais claro este conceito, basta salientar que no gasoso a força de repulsão das moléculas predomina.

No liquido a força de atração e de repulsão das moléculas estão equilibradas.

No sólido, a força de atração é predominante, porque neste estado há coesão.

A essa força de atração e repulsão pode-se chamar Espírito de vida, que continua inerte como o grande oceano donde proveio.

Para começar a ter mobilidade num ritmo muito lento, precisa receber o segundo atributo, que é uma dose maior do próprio Espirito anterior mais sutil, que podemos chamar de Espírito vivente.

Se levarmos o raciocínio para o campo físico ou experimental, podemos conceber este conceito da seguinte forma: - Quanto ao Espírito da Terra, podemos imaginá-lo como sendo aquele oceano de energia que está em estado de repouso. Esta energia tem analogia com uma imensa represa d'água.

O potencial que alí está acumulado, pode ser conduzido a uma usina hidrelétrica através, de canalizações que aproveitam um desnível, gerando um potencial elétrico de acordo com as nossas necessidades ou cálculos.

Podemos representar a represa como sendo o Espírito.

A canalização e a usina podem ser representadas pela alma que conduz o potencial que é o Espírito.

O corpo pode ser representado pelos inúmeros aparelhos elétricos alimentados por essa usina. Cada um apresentando função e desempenho diferente, embora provindo do mesmo potencial.

Resta o Karma.

O Karma universal pode ser comparado às resistências oferecidas ao transporte da água através da canalização e o esforço empregado para mover os geradores. Isto é o Karma que pesa ou o prejuízo que todos os consumidores terão que pagar.

O Karma coletivo representa a despesa, a resistência, a manutenção da rede geral e que todos deverão custear, cabendo a alguns poucos, superintender, conservar e manter sempre em dia, cuidando da manutenção daquela represa original que alimenta todos os sistemas.

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O Karma individual pode ser comparado à resistência oferecida à passagem de eletricidade em todos os aparelhos a ela ligados.

Sintetizando, podemos definir o Karma, como sendo a Lei Geral de Evolução ou de Retribuição Justa, aplicada a tudo e a todos de acordo com o grau de existência e finalidade, ou então, o Senhor da Justiça Perfeita, onde a dívida não vence juros, só pode ser paga em espécies diferentes obedecendo o mesmo valor.

Não cabe aqui nesta palestra entrar em certas minúcias, principalmente na parte referente à constituição e princípios do homem, mas, como idéia geral, citaremos a seguinte alegoria: – Trata-se de representar o homem como sendo uma carruagem dirigida por um cocheiro, puxada por cavalos, dentro da qual, viaja um passageiro.

O passageiro é o Ego. O cocheiro é o mental.

A carruagem, é o corpo físico e os cavalos representam o corpo dos desejos.

No interior da carruagem, o passageiro apenas sutilmente ordena ao cocheiro para onde deseja ir; são os impulsos espirituais que a mente superior transmite à mente inferior. Por sua vez, o cocheiro com as rédeas na mão, comanda os cavalos, isto é, os desejos, as paixões, os quais puxam o carro, o físico do homem, pelos caminhos da vida.

Pode acontecer que o cocheiro não seja experimentado ou que esteja deprimido ou embriagado, não obedece às ordens da consciência interior, e então os cavalos, ou sejam, os sentimentos ficarão mal dirigidos e levarão o carro por péssimas estradas.

Podem os cavalos, inclusive, tomar os freios nos dentes e sair em louca disparada, pondo em perigo a vida do passageiro, do cocheiro e dos próprios cavalos.

Há, pois, que distinguir bem, sempre que tratarmos da constituição humana, e é necessário que fique muito bem fixado na consciência de cada um de nós a divisão binária do homem.

De um lado, o Ego imortal, a partícula divina que dá razão de ser do homem, cujas essências ou princípios se harmonizam perfeitamente com os mais delicados e espirituais princípios universais.

Por outro lado, uma personalidade que serve de meio objetivo ao Ego, formada de matéria e que muda em cada ciclo chamado morte, que permite ao Eu espiritual realizar sua evolução através dos mundos da forma.

As línguas sábias sempre diferenciaram no homem a personalidade da individualidade.

A personalidade é mera máscara ou envoltura, "persona", que nasce ou morre aqui, com um sexo ou outro, sem jamais reencarnar, pelo que a pessoa de Fulano de tal, como tal máscara ou envoltura, nada foi antes dessa vida e nada será depois dela. Não há para ela "Pedros" nem " Antonios", que a justifiquem como prolongamento ante o "post-mortem". Ao contrário, a individualidade, a "Tríade Divina" que preside a cada quaternário inferior ou o homem de barro, de paixões, de sentimentos concretos e egoístas, reencarnando, ou seja, tomando corpo ou instrumento de carne em adversas personalidades, as quais "pessoas" são sempre diferentes umas das outras, como os al-garismos de um mesmo número, os dias de um mesmo ano e as pulsações de um mesmo coração.

Pelo que foi esplanado, podemos formular a seguinte pergunta: - É por essa razão que não nos lembramos das nossas vidas pretéritas? Sim, pelo fato de haver um cérebro distinto em cada reencarnação, não é possível a recordação, porém, existe a reminiscência daquelas abstrações ou qualidades, libertadas pela grande Abelha da Tríade Divina nas flores efêmeras das sucessivas personalidades em que reencarnou e que jazem latentes em nosso subconsciente, em forma de aptidões ou aversões, de virtudes e de vícios.

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O homem, "a Tríplice Maravilha" de Hermés o Trismegisto, é Anjo, Pensador e Besta em uma só peça. Como Anjo é uma centelha divina do Logos ou "Anima-Mundi", como diria Platão, sendo eterno é perdurável como o sistema planetário animado pelo Sol donde provém.

Pela centelha de Pensamento que o reveste, é algo amoroso e volitivo, que reencarna, que atravessa com seu fio de ouro e sem sexo, vidas sucessivas ou seriadas, diversas bestas corporais e terrestres, nas quais reencarna, para desencarnar depois centenas de vezes através de séculos e milênios.

Este pensamento nos faz crer que Aiexandre, César, Napoleão, foram sem dúvida, seres humanos distintos, de épocas distintas, porém, sua tríade superior, sua tônica única ao concerto humano, poderá ter sido a mesma através de suas correspondentes personalidades, e presidir assim as tremendas obras destruidoras e reformadoras do Karma, ou missão de cada uma delas através dos tempos.

As diferentes personalidades da história nascem, vivem e morrem como perfume das flores de um dia. Suas pessoas ou máscaras são distintas, porém presididas, ao longo de suas respectivas vidas, por um Pensamento coordenador.

Chegamos assim à conclusão de que a nossa vida sobre a Terra não é senão um dos infinitos estados de consciência física, de alguma cousa superior e Divina; de que neste mundo a três dimensões o homem é sem dúvida a mais alta manifestação do Eter-no; de que cada ser desempenha separadamente o seu papel no palco cênico da vida e por isso é que se diz que a somatória de todas as consciências dá como resultado a Consciência Una.

Falta salientar que a cada veículo e a cada princípio humano, corresponde no universo o que chamaremos de Plano. Quanto à idéia de Plano não se deve julgar que os princípios ou materiais cósmicos se arrumem no espaço em estratos ou planos geométricos. O que se pretende esclarecer é que os Planos são as modalidades da matéria universal como manifestação da Energia Una. Assim, os planos da Natureza não se sobrepõem, mas interpenetram-se.

Lembramos também que uma das qualidades especificas da matéria é ser descontínua, isto é, não constituída de massa compacta, mas, de partículas infinitesimais, mais ou menos próximas umas das outras e com espaços vazios entre elas; espaços esses em geral, maiores do que as próprias partículas materiais. Se esta constituição é verdadeira para o plano físico da natureza, não o é menos para os outros planos. Aliás, quanto mais elevado for o plano, mais sutis serão as partículas que constituem sua subs-tância, permitindo com isso maior penetração. Para esclarecer este raciocínio, suponhamos a pesca de uma ostra. Dentro dela há uma pérola. Esta é formada de capas concêntricas produzidas pela Ostra. A pérola tem um núcleo que tanto pode ser um grão de areia como um diamante mais precioso que a pérola.

Quatro são as fases da vida: a infância, a juventude, a maturidade e a velhice. A infância é o filho que surge como fiel de uma balança, podendo manter ou romper o equilíbrio, ou então ser ele mesmo o peso que pode preponderar num prato ou noutro, para manter o equilíbrio ou para provocar o desequilíbrio.

O filho tanto pode unir como desunir os pais.

Na infância, ele é o centro entre dois extremos.

Na maturidade, ele é um fruto e traz consigo uma semente que vai amadurecer em certo meio.

O meio pode ser agressivo; destrói o fruto e a semente.

A semente pode ser fraca; o fruto pode ser venenoso, merece ser destruído.

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O fruto, a semente tem vitalidade bastante, o meio é favorável e harmonioso; então, a semente germina, produz uma árvore. Esta árvore produz fruto e, por fim, cumprido o ciclo, fenece e morre, mas deixa as suas sementes que podem ser aproveitadas ou não. Eis aí, um pequeno exemplo com vistas à reencarnação. A semente passou pela fase de árvore, chegou ao ponto de dar lenha, transformou-se em cinzas, porém deixou as suas sementes perpetuando este processo. Vamos ao limiar da vida.

Um padeiro tomou uma certa quantidade de farinha, amassou, deixou fermentar, obtendo o pão.

O fermento não existia na farinha, senão como potencial no meio adequado, surgindo assim o pão.

Um vinicultor foi à sua vinha, colheu uvas, preparou o mosto, deixou fermentar, produziu vinho e dele pôde extrair álcool, que é um produto muito diferente da uva e do mosto, tendo surgido graças à fermentação.

Esse fermento que produziu o vinho, sendo adicionado na devida proporção à outra quantidade de mosto, produz a repetição do fenômeno anterior num grau mais acelerado.

O fermento não existia no trigo, na farinha nem tampouco no mosto; contudo, deu ensejo a que estes produtos se realizassem.

Essa combinação, essa troca de energia, essa retribuição e a formação do produto que surgiu, foi motivado pelo Karma que entrou em ação, porque este é o elemento chave da transformação e da evolução de tudo e de todos quando encontra meio favorável para sua manifestação.

Quanto ao fenômeno da reencarnação, no raciocínio acima exposto, podemos concebe-lo como sendo o aprimoramento sofrido pela uva até chegar a produzir o vinho, ela como carne em outra carne de densidade diferente.

Mas, o que entendemos que seja carne?

Carne é o resultado da combinação de vários produtos naturais existentes no universo, manipulados por seres de categoria superior a nós, que varia com a espécie do meio em que vive.

E assim, enquanto não nos libertarmos da roda da vida, teremos que seguir o seu movimento, sentir na carne a grande dor da ilusão.

Há um ditado assim: – "O Homem põe e Deus dispõe".

Este ditado, além de servir de advertência nos sugere a conveniência de enfrentarmos os nossos problemas íntimos com reflexão e serenidade.

O homem arquiteta seus planos, certo que tudo sairá às mil maravilhas. Consegue dar forma a todos os pensamentos e depois instala-se na obra que criou.

Nos primeiros dias tudo é encantamento, alegria e felicidade. Surge depois o fastio ou o fracasso, o castelo se desmorona e o construtor assiste, impotente e desiludido, seu retorno ao marco zero, sem compreender a razão de sua derrota, e a perguntar a si próprio: por que?

Os problemas humanos, necessariamente complexos, variando infinitamente de indivíduo para indivíduo, apresentam-se insolúveis na vida e solúveis na morte.

A verdadeira resposta está com o Senhor da Justiça. E de seus ensinamentos se deriva, com maior clareza, a Lei do Karma, ou seja, causa e efeito, ação e reação, distribuição através das reencarnações do espírito ou melhor, da essência espiritual monádica em diversos corpos humanos.

Somos produtos de nós mesmos, vivendo o passado no presente e projetando-nos no futuro.

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Os nossos insucessos de amanhã, os construímos ontem, porque só pensamos no hoje, egoisticamente.

Todas as criaturas são regidas pela Lei do Karma e da Reencarnação. Existe o livre arbítrio, mas não absoluto, por ser limitado e condicionado a um determinismo cósmico. Os laços consanguíneos multas vezes ligam na mesma família almas adversárias no passado, às quais o Karma oferece novas oportunidades para o resgate e o perdão. Sua presença se faz sentir com maior intensidade no lar, na família. No lar, vivemos e aprimoramos a s experiências adquiridas durante as diversas fases da vida. Quem não aprende a se conduzir sob o próprio teto familiar, não tem condições de se projetar na sociedade, porque ele é o berço de todas as iniciações, sendo também Escola, Teatro e Templo, quando realmente se sabe o que tudo isso significa. Enfrentemos os problemas humanos com Amor e nos convenceremos de que todos os caminhos conduzem a Deus, que ninguém é melhor ou pior, que todos somos elos de uma mesma corrente, que o importante é trabalhar altruisticamente, fazendo uso do bom senso, construindo coisas belas e perfeitas para a grande Obra da fraternidade, certos de que tudo é Deus.

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Jóias Teosóficas de JHS

"A Chave de cada degrau é o próprio aspirante. Não é o temor a Deus que representa o começo da Sabedoria, mas o conhecimento do Eu, que é a própria Sabedoria".

É aquele que fala a Arjuna no Bhagavad Gita; o Cristo interno a que se refere o apóstolo Paulo, para o qual todo o homem é "médium" ou veículo, mas nunca, absolutamente nunca, de "encarnados" nem "desencarnados", esses tais "espíritos" que, na. maioria dos casos, não passam de simples larvas ou micróbios astrais, como estamos fartos de provar, e, conosco, outros homens dignos de toda a consideração.

Na "Imitação de Cristo", esse admirável manual, cujo autor a própria Igreja desconhece, lê-se: "Dá, pois, entrada a Cristo em tua alma, e não consintas que outro entre. Se possuíres a Cristo, estarás rico e de nada mais precisas. Ele te proverá de tudo e te será fiel procurador, de sorte que não terás necessidade de esperar nos homens". (Imitação de Cristo, livro 2.°, cap. I, pág. 181, ed. J. Steinbrener).

(O Verdadeiro Caminho da Iniciação, pág. 297).

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A Nova Sede Própria da Casa Capitular Cruzeiro do Sul de São Paulo Festividades Inaugurais públicas e cerimoniais esotéricas

Ilustração: foto

Legenda: Entrega da chave simbólica da nova sede da Cruzeiro do Sul Casa Capitular de

São Paulo, à Venerável Presidente da Sociedade Teosófica Brasileira, D. Helena Jefferson de Souza, que, comovida, pronunciou significativas palavras alusivas ao ato.

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Fundada há 17 anos por um grupo de teósofos pioneiros, a Casa Capitular Cruzeiro do Sul de S. Paulo, filiada à Sociedade Teosófica Brasileira, funcionou até abril deste ano em sua primeira sede própria, à Avenida da Liberdade no 47, 1o andar, a qual, com o crescimento do número de sócios, tornou-se insuficiente. Agora a primitiva sede, de propriedade da mesma Sociedade, se destina exclusivamente às reuniões dos jovens teosofistas componentes do nosso Instituto Cultural Brasileiro e da Ordem dos Cadetes do Ararat.

O edifício. da nova sede própria, de construção moderna e satisfazendo todas as exigências relacionadas com a higiene, a segurança e o conforto, está localizado à Avenida Lacerda Franco no 1.059, no bairro da Aclimação, dispondo nos seus três pavimentos de amplas dependências, projetadas para poderem comportar por vários anos o auspiciosa desenvolvimento social.

As solenidades da inauguração oficial tiveram lugar no dia 9 de maio deste ano, às 20 horas, tendo o ato se revestido de marcante brilhantismo, pelo grande afluxo de sócios e pela presença de ilustres. personalidades' representativas dos poderes públicos do Estado e do Município.

Entre os componentes da mesa diretora encontravam-se a Exma. Sra. D. Helena Jefferson de Souza, M.D. Presidente da S. T. B. e Grã Mestra da Ordem do Santo Graal, sua dileta filha D. Selene J. de Souza Carvalho, o Sr. Ary Telles Cordeiro, M.D. Presidente da Casa Capitular Cruzeiro do Sul de S. Paulo, além das autoridades e de membros do Conselho Diretor da S. T. B. do Rio, inclusive seu M.D. Diretor Social, Eng. César do Rêgo Monteiro Filho.

Fizeram uso da palavra os Presidentes das Casas Capitulares de S. Paulo e de Campinas e o Diretor Social da S. T. B., que enalteceram a significação do ato e prestaram justas homenagens à Venerável Grã Mestra, bem como à memória do Prof. Henrique José de Souza, saudoso fundador e supremo dirigente da mesma Sociedade.

Foram cantados pelo coral da S. T. B. dois hinos iniciáticos, de exaltação à Obra e ao Brasil, música e letra de autoria do nosso pranteado Mestre, que causaram entusiasmo à numerosa assistência que lotava o salão nobre da Sociedade.

Encerrada a solenidade com prolongada salva de palmas, os componentes da mesa diretora foram efusivamente cumprimentados por numerosos presentes, com manifestações de júbilo pela nova realização social e com votos de crescente progresso material e iniciático.

Ilustração: foto

Legenda:

Fachada do prédio em que se instalou, à Avenida Lacerda Franco, 1059, a nova sede própria da Cruzeiro do Sul Casa Capitular de São Paulo. A composição artística em cerâmica simboliza a descida de Apolo em seu carro de fogo conduzido por seis corcéis brancos; alegoria sugerida ao arquiteto pelo saudoso Prof. Henrique José de Souza, com base nos seus profundos conhecimentos da Mitologia grega e da Teosofia eubiótica.

Não podemos, porém, encerrar esta notícia sem mencionar o nome do grande vencedor desta batalha da nossa Casa Capitular pela edificação da nova sede própria, que foi o Sr. Sérgio Scalfaro, e que contou com o decisivo apoio de outros dois grandes batalhadores teósofos, nas pessoas dos Srs. Ary Telles Cordeiro e Valdemar de Holanda Portela, além de outros incansáveis colaboradores, todos os irmãos maiores da Cruzeiro do Sul.

A eles, portanto, os melhores louros dessa vitória, com as vivas congratulações de Dhâranâ, extensivas à grande família espiritual J. H. S.

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COMEMORANDO AS DATAS MAGNAS DA S.T.B.

Saudação ao 10 de Agosto 47

Niterói, Capital do Estado do Rio de Janeiro, Rua Santa Rosa, 426. Dia 10 de

agosto de 1924. Era um domingo, dia do Sol ou de Apoio. Fundava-se a Sociedade "Dhâranâ", hoje Sociedade Teosófica Brasileira.

Há 40 anos, portanto, iniciava-se materialmente a construção da Obra dos Deuses na face da Terra, cujo primeiro impulso criador deu-se: em duas fases distintas, ou seja: a fundação, espiritual na Ilha de Itaparica, com o prólogo do "Tim-Tim-Por-Tim-Tim", em 24 de junho de 1899 e posteriormente a subida de seus fundadores à Montanha Sagrada em São Lourenço. Na tarde do dia 28 de setembro de 1921, os nossos Supremos Dirigentes, HENRIQUE e HELENA, recebiam naquela magna oportunidade o "bastão de comando" do Cavaleiro das Idades a "bandeira da nova civilização" que naquele local e instante se implantava no Brasil.

10 de agosto, frise-se bem, para nós da S.T.B. deve ser uma data cultuada em nossos corações, como se fosse uma verdadeira bênção que se renova a cada ano, como se fosse um farol a nos guiar contra as mazelas do ciclo decadente que ora se finda.

Lá está altaneiro na colina do bairro Carioca, em São Lourenço, este farol aonde tremeluz a iniciação: o Templo – que não devemos esquecer – dedicado ao "Culto de Melki-Tsedek", mas também, "Culto do Santo Graal". Melki-Tsedek, porque não dizer, foi o fundador de nossa querida Obra, em 10 de agosto de 1924. Melki-Tsedek, como Rei de Sálem; a Cidade da Luz ou do Sol – que é a Agarta, foi por isso mesmo recebido por aquele povo misterioso com a exaltação do "Ladack-Sherim", ou "Salve o Sol El-Rike, o Maha-Rishi". Como Pontífice que e, construiu a Ponte que conduz os Eleitos ao mundo divino ou à "Mansão dos Deuses".

É o "10 de agosto" símbolo material desta Ponte que liga dois mundos: o divino com o terreno. Por isso reconhecemos nós em Melki-Tsedek: a Coragem, a Força e o Poder a serviço da Justiça como Sacrifício que se reflete na Divindade; é a Luz como Inteligência vencedora; é a Seleção dos Ciclos Avatáricos; é a Libertação como experiência dos Planetários; é o "Bija" dos Avataras que se faz Homem na Terra; é o Verbo expresso como Vontade fazendo-se Atividade; é a Força animadora do Trono na Terra; é o Poder da autoridade espiritual; é a Be. leza que equilibra o divino com o terreno; é a Lei como Julgamento. Por isso que é Ele apedrejado pelos pecadores.

O legado de Melki-Tsedek deve ser para nós o despertar de uma nova consciência, por onde se estabilizará à "Semente da Nova Civilização", cuja terra fecunda é o Brasil, que por idades sem conta, como árvore dadivosa, derramará seus frutos a todos aqueles, que se defrontarem com o Templo de Melki-Tsedek.

Veneráveis Irmãos: Façamos do "10 de agosto" o escudo vivificador de nossa Instituição. Não o percamos de nossas mentes e de nossos corações. Essa Instituição não deve ser o reposteiro onde se escondam as iniquidades que não se afinizam com o "Novo Pramantha". Vigiemos. Vigie mos sempre. Procuremos não nos afastar desse

47 Alocução pronunciada pelo Ven. Irmão, Fernando Nascimento, na sessão solene de 10 de agosto de 1964, realizada na sede da Cruzeiro do Sul Casa Capitular de São Paulo, e presidida pela própria Presidente da S.T.B., d. Helena Jefferson de Souza, na qua-lidade também de Grã Mestra da Ordem do Santo Graal, Grande Ocidente do Brasil.

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recinto, pois será sempre nesse ambiente onde encontraremos o melhor caminho, não o mais fácil; o mais seguro, sem dúvida! Este é o nosso Lar. O Lar acolhedor da Família Espiritual J.H.S., da Família de Maitréia.

O dia 10 de agosto é dia de nossa Instituição. Essa Instituição que tem por missão erguer as vigas mestras das Raças Bimânica e Atabimânica que aqui nesta parte do Mundo vão florescendo. O dia 10 de agosto, também, é o dia da Obra, porque foi nesse dia que a Obra se objetivou como entidade física e que se renova a cada 10 de agosto. Haja visto o 10 de agosto de 1956. – Ano do Julgamento, e o grande 10 de agosto de 1963, que poderia chamar-se o "Dia da Troca do Comando Universal".

Vigiar, em tudo que se faça, deve ser o nosso lema. Não esqueçamos que um dos maiores segredos da iniciação deve ser a "vigilância dos sentidos". Reunamos nossas forças nessa direção para que resplandeça o mágico poder. Não nos deixemos ficar para trás. Lembremo-nos: O Ciclo da Era de Maitréia avança célere. Façamos das 24 horas do dia a vigília iniciática a que nos propomos realizar. Procuremos ver o Todo na Unidade, vendo, portanto, o detalhe na multiplicidade. Vejamos com os "olhos espirituais" aquilo que os olhos físicos vêem não vendo.

Com vontade férrea procuremos manter-nos em guarda contra os enganos dos sentidos. Um grande inicia- do já disse: O discípulo só encontra o caminho quando ele se torna o próprio caminho. Sabemos que não existe o bem e o mal, mas o justo e o falso. E o que estamos realizando nesta singela reunião, neste momento, nesta 10 de agosto, é sem dúvida um ato de vigilância, após 40 anos de fundação material da Obra na face da Terra, no presente ciclo.

Procuremos manter acesos os faróis de nossas efemérides, porque, em realidade, as datas da Obra representam o complemento objetivo daquele Princípio que se subjetiva no Plano das Causas. Exemplo: a data de 10 de agosto de 1924, soma 16, ou a "Casa de Deus".

Oxalá, para honra e glória da Obra, nossa Instituição, especificamente, a "Casa Capitular Cruzeiro do Sul" possa realizar o Arcano 7 do 10 de agosto de 2005, recebendo aqui nesta Casa o Avatara Maitréia.

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O Perigo das Radiações Atômicas por Explosões Nucleares A Ciência Médica de Hoje Confirma as Advertências Teosóficas de Ontem

Há vinte anos, desde as primeiras explosões nucleares, a Sociedade Teosófica

Brasileira vem alertando, por meio de artigos e conferências, as autoridades constituídas e os cientistas para os graves riscos a que se expõem as indefesas populações das vastas áreas atingidas.

O número de vítimas subiu de modo alarmante, mais de quanto resulta das estatísticas que, como é fácil compreender, são tão incompletas quanto as que pretendem recensear as vítimas das doenças tropicais e das endemias rurais, que grassam justamente nas regiões onde mais escassos são os serviços médicos e mais difíceis as condições de higiene e de vida.

Não faltou quem considerasse exageradas nossas previsões e muito dramáticos nossos apelos aos governos responsáveis. Hoje a Ciência médica noa dá razão, analisando e divulgando os malefícios das radiações atômicas. Uma revista de medicina publicou recentemente importante artigo intitulado OS PROBLEMAS DA RADIATIVIDADE

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48, do qual extraímos alguns trechos em que o Autor se manifesta em sua dupla função de `cientista e pacifista.

"Destes dados se deduz ser alta a dose leucemogênica para o homem, numa única exposição. Em outras palavras, está praticamente verificado que uma única irradiação aumenta a freqüência da leucemia na população sobrevivente de aproximadamente 2-3 vezes, em relação à porcentagem média da população normal.

O estrôncio 90, com desintegração física de 28 anos e biológica de 10 anos, segue o cálcio em sua cadeia natural de relações com o homem. Depositado nas áreas de cultura, combina-se com o cálcio do solo e é absorvido pelas plantas, impregnando todas as suas partes Assim, após a precipitação do estrôncio 90 em determinada região, o homem o ingere como poeira depositada sobre os vegetais ou como componente dos próprios vegetais ou, ainda, indiretamente, com a carne, os ovos e o leite dos animais que comeram esses vegetais.

"As esperanças da humanidade foram cruamente abaladas pelo reinício das explosões nucleares por parte dos soviéticos. Todos os cálculos têm de ser refeitos, as previsões tornam-se impossíveis e u futuro se mostra rico de incógnitas.

"As explosões do 1057-58 contaminaram de radiatividade tanto quanto todas as experiências de 15 a 56 reunidas. Para explosões de 57-58, os soviéticos contribuíram em proporção maior que os americanos e os . ingleses. A situação estava equilibrada: cada um deles pôde cuidar dos tratados de tréguas exibindo espantosas provas de força. Os protestos contra o rompimento da trégua nuclear nunca serão bastantes".

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A energia nuclear para fins pacifistas

"Devemos ter fé nos destinos da humanidade e pensar que estas antes imponderáveis fontes de energia chegaram à posse do homem no preciso momento em que os progressos da higiene e da terapêutica promoveram o aumento da população terrestre em proporção gigantesca, pondo em dúvida a possibilidade de prover à sua ali-mentação.

A energia nuclear multiplica milhões de vezes as possibilidades humanas de corrigir as condições naturais adversas, de cultivar os mais recônditos rincões da terra, produzindo as matérias necessárias para nível de vida cada vez melhor de bilhões de seres.

Realmente, quando a energia nuclear se tiver tornado economicamente adequada e as instalações de custo cada vez menor e de potência cada vez maior, é de presumir seja possível dessalinizar as águas dos mares e fazê-las subir para fertilizar os desertos, corrigir a temperatura dos cursos d'água e desviar correntes marinhas para modificar o clima e transformar a agricultura em extraordinário laboratório científico.

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"Tais perspectivas são de futuro longínquo, mas não a tal ponto que se achem fora do alcance das jovens gerações, se tivermos bastante juízo para não fazer guerras e para canalizar para fins pacíficos os enormes recursos hoje dissipados pelos homens nos armamentos".

Foi com espiritual regozijo que a S. T. B. acolheu a noticia da trégua nuclear concluída entre as nações da IRA (Inglaterra, Rússia, América do Norte), a cujo convênio infelizmente não quis aderir o governo da França. Contudo, política e historicamente, fincou-se afinal, um primeiro obstáculo. contra novos atentados maciços à saúde da

48 O autor desse importante trabalho é o prof. Pietro Cignolini, diretor do Instituto de Radiologia da Universidade de Palermo (Itália). Trata-se de uma conferência realizada naquele país por ocasião do "Convênio de Estudos Médico-Sociais", publicada na edição n.o 6/6 deste ano de "Resenha Clínico-Científica", sob os auspícios do Instituto Lorenzini, de S. Paulo.

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humanidade; obstáculo que nos auguramos venha logo a ser reforçado com a assinatura do governo francês, esperança fundamentada no tradicional espírito democrata e liberal do povo europeu que liderou gloriosamente os primeiros movimentos de libertação e de pacificação. Esta nossa esperança, estes nossos augúrios se traduzem num veemente apelo ao governo e ao povo da grande nação amiga, credora por tantos títulos da gratidão e da admiração dos homens livres.

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Krishna ensina o Supremo caminho

Na estância 8a vers. 7 do Bragavard Gitâ (pág. 107 da ed. espanhola) lemos: "Portanto, pensa apenas em Mim, e luta. Se tua Mente e teu discernimento pousarem em Mim, nenhuma dúvida resta que a Mim virás. Com pensamento livre, harmonizado por constante meditação, caminha o Homem, oh Partha!, para o divino e supremo Espírito.

Recitando o eterno monossílabo OM, e pensando em MIM, ao deixares o corpo, dirige-te ao Supremo Caminho. E logo Me alcançarás, oh Partha! o sempre harmonizado Yogue que constantemente pensa em MIM e não dirige seu pensamento a nenhum outro ser".

Em resumo: por mais que se modifiquem as palavras aqui e ali, o sentido é sempre o mesmo – A mística união do Eu-inferior com o Eu-Superior, a Consciência imortal, o Cristo, o Sétimo princípio teosófico, de vez que a verdade é uma só, embora os homens lhe dêem nomes diferentes, como diz o Rig Veda.

(O Verdadeiro Caminho da Iniciação, pág. 298)

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O Conde Cagliostro no conceito de Alexandre Dumas

Alexandre Dumas legou-nos a melhor coleção de romances históricos que ainda hoje emocionam os leitores com a narração das intrigas políticas, dos escândalos palacianos e dos sangrentos episódios da Revolução francesa. Os fidalgos da época chamavamna de Revolta dos Filósofos, por pregarem atrevidamente "Liberté, Fraternité, Egalité", num século em que as palavras Liberdade, igualdade, Fraternidade causavam aos tiranos e aos potentados acessos de cólera incontida e gestos de profundo desprezo. Os que então ousavam reivindicar o absurdo direito de viver livremente, eram loucos perigosos que deviam ser eliminados da sociedade humana.

O iniciado Dumas figura entre os grandes escritores que reconheceram a magnitude do papel dos filósofos revolucionários, realçando a figura de Cagliostro, adepto que antes de 1789 encarnou a personalidade empolgante de José Bálsamo e que, em determinadas ocasiões, atuou no cenário político da época também sob os nomes de Conde de Fênix, embaixador do governo alemão junto ã corto de França, e Barão Zanoni, banqueiro de Genebra.. Nenhum, outro escritor interpretou e descreveu com igual brilhantismo as temerárias empresas do Mestre, que havia de exercer decisiva influencia nas mentes dos homens que comandavam as duas correntes 'em choque; nenhum outro nos apresenta um quadro mais vivo do seu romance com a bela romana Lorenza Feliciani, a quem ele venerava como irmã e discípula. (E para nós, da S. T. B., esses nomes tem uma significação toda particular).

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No seu livro intitulado "Angelo Pitou", da coleção "Memórias de um Médico" 49 , encontramos instrutivo diálogo de caráter filosófico ocultista, travado entre o rei Luís XVI e o Dr. Gilberto na mesma noite daquele dia em que os parisienses galgaram em delírio, depois de encarniçada luta, as muralhas da tenebrosa Bastilha. Nesse diálogo há um trecho em que o autor advoga pela palavra do médico a causa daquele que ainda hoje é caluniado pelos profanos:

– “Ah! senhor, esse Cagliostro que defende, disse o rei, era um grande inimigo dos reis.

Gilberto lembrou-se do escândalo do colar.

– Não será das rainhas que Vossa Majestade quer falar?

Luís estremeceu a seu pesar.

– Sim, disse el-rei; -- ele portou-se no negócio do príncipe de Rohan de uma maneira mais que equívoca.

– Senhor, nisso como em tudo, Cagliostro desempenhava a sua missão humana; ensaiava para si. Em ciência, em moral e em política não há bem nem mal; há só fenômenos estabelecidos e fatos adquiridos. Todavia, pense a respeito dele como lhe aprouver. Torno a repetir, como homem pode ter merecido muitas vezes censura, e talvez que essa mesma seja um dia convertida em elogio, por-que a posteridade revê as sentenças dos homens; mas eu não estudei com o homem, senhor; estudei com o filósofo, com o sábio."

A condessa de Charny havia sido, contra sua vontade expressa, submetida, havia poucos momentos, a um profundo sono hipnótico pelo Dr. Gilberto, e confessara seu crime na presença do rei. Este, que dias antes havia discutido com a rainha Maria Antonieta, por ter ido, sem sua licença, consultar o famoso Mesmer, cujos "milagres" estavam em voga, mostrou-se surpreso e admirado ante o poder do novo hipnotizador e pediu-lhe que, como seu médico, lhe desse uma explicação cientifica sobre a matéria.

O controverso conceito de Bem e Mal, tão bem ensinado por J. H. S. e tão mal aprendido mesmo pelos teósofos, está equacionado nesse trecho do famoso diálogo, do qual se infere ainda uma advertência aos discípulos presunçosos que têm a veleidade de criticar seus próprios mestres, tal como os filhos levianos e imaturos costumam emitir falsos juízos contra os próprios pais.

O Dr. Gilberto, recém egresso das masmorras da Bastilha, tentava demonstrar ao rei – que havia assinado pouco tempo antes a sentença do Conselho real condenando Cagliostro ao exílio – o erro em que laborava Sua Majestade no concernente à verdadeira personalidade de seu mestre e à interpretação de sua obra em prol dos franceses e da humanidade; quem não fosse capaz de apreciá-lo despido das transitórias vestes revolucionárias não poderia contemplar, sem os falsos reflexos, o brilho de sua nobreza e sabedoria.

Presságios de JHS Embora o ciclo atual (referimo-nos aos grandes ciclos em que é repartida a vida

universal, e não aos astrológicos de 35 anos) começasse o seu declínio no ano de 1800, quando se deu um "Avatara momentâneo" na Serra de Sintra, em Portugal (fato desconhecido até aos adeptos dos dois primeiros graus, quanto mais de simples estudantes de Ocultismo e Teosofia), como prenúncio do futuro Avatara integral no Ocidente (Brasil), tal declínio tomou forma objetiva, pois todos conhecem os horrores por que o mundo está passando, nos dois ciclos astrológicos de Marte e Lua, que foram, o

49 "Angelo Pitou", v. I, pág. 331. Livraria Lello, Porto 1948).

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primeiro, de 1909 a 1944; e o segundo de 1945 a 1980, faltando portanto ainda 16 anos para terminar. Até lá, as influências) 'dos dois referidos planetas (o primeiro por meio de revoluções, guerras, etc., e o segundo por tudo aquilo que estamos presenciando), dariam a muitos indivíduos o direito ao título de lunáticos, nas terríveis cogitações de encontrar solução para problemas, a bem dizer, insolúveis.

Em tempo algum, pelo menos na atual História da Humanidade, pôde-se dizer que os Quatro Cavaleiros do Apocalipse - Domínio, Guerra, Peste e Fome – imperaram no mundo como nos tempos que correm.

(O Verdadeiro Caminho da Iniciação, pág. 317)

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A cidade de São Lourenço e a S. T. B. vistas pela Imprensa

O tradicional matutino paulista "O ESTADO DE S. PAULO" dedicou duas páginas de sua edição de 10 de julho deste ano a uma reportagem da jornalista Clycie Mendes Carneiro à cidade de São Lourenço, "ponto de encontro de paulistas e cariocas'"; a primeira de uma série "que visa o levantamento das estâncias mineiras, cujas águas podem competir com as mais famosas dos outros continentes, e que não tem merecido o devido apoio governamental".

Ilustrada com belas fotografias, com roteiro rodoviário para os automobilistas, além de diversas indicações úteis, a reportagem apresenta a cidade e a 'estância de São Lourenço como elas realmente são hoje, sendo de louvar a clareza e a objetividade da ilustre jornalista, que se esmerou 'em oferecer ao leitor um verdadeiro arquivo de informações e comentários. Sua delicada sensibilidade tornou-a cativa da cidade e do povo, como se vê nesta afirmação, que nós mesmos gostaríamos de subscrever:

"Mas, o que acima de tudo atrai em São Lourenço, é a cordialidade do povo, a par do carinho com que procura tratar o turista, cuidando que nada lhe falte, naquele provincianismo gostoso em que afloram cenários e costumes reminescentes da infância vivida longe de grandes centros, já considerados destruídos pelo tempo".

Povo cordial e hospitaleiro, gente fraternal e de boa índole, privilegiada como a de outras cidades mineiras, em número de sete, por Lei designadas para aureolarem, quais brilhantes satélites naquela altaneira região, São Lourenço, a oitava ou sol do nosso sistema geográfico: Pouso Alto, Itanhandu, Carmo de Minas, Maria da Fé, São Tomé das Letras, Conceição do Rio Verde, Aiuruoca. Cidades pequenas, aparentemente insignificantes, perdidas nos cimos da majestosa Mantiqueira, sem lugar nos mapas geográficos, porém com delegados nas sete cidades agartinas e com representantes no Perú (Machu-Pichu), no México (Chichenitza, Iucatã), nos Estados Unidos (El Moro), na Austrália (Sidney), em Portugal (Serra de Sintra), no Egito (Cairo) e na Índia (Srinagar). Humildes e ermas localidades montanhosas onde há 64 anos se operaram grandes mistérios, dando origem ao nascimento de homens de alta. sabedoria, que se chamaram no Extremo oriente Choan Thang Chang, Chandra Mahat Nagara; no Oriente médio, Abdu S. Raschid; na América do Norte, Dr. John Henry Smith; na Península Ibérica, Dr. Leonel da Silva Neves; na Grécia, Reverendo Paulo Krakowsky Pantagalos; e na Austrália, Dr. Israel Gordon Schmidt.

Fazer uma reportagem sobre São Lourenço e não falar da Sociedade Teosófica Brasileira, que lá tem sua séde e foro, seria o mesmo que escrever sobre Roma e omitir o Vaticano. Com a diferença que os teósofos assinalariam benevolamente a omissão, ao passo que os católicos a poderiam considerar um acinte. Mas a diligente jornalista falou

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da nós; pouco e de "passagem aérea", mas sempre falou. Incluiu--nos no tópico em que tratou do aeroporto local, dizendo:

"A caminho (para o aeroporto), passa-se pelo templo da Sociedade Teosófica Brasileira, única no mundo, e um obelisco com inscrição elucidativa em bronze, erigido pelo Colégio Iniciático da entidade – Ordem do Santo Graal, Grande Ocidente",

Se ela tivesse tido oportunidade de entrevistar algum teósofo de São Lourenço, por exemplo seu colega Otto Jargow, diretor de A FOLHA DO POVO, teria certamente oferecido a seus leitores a mais importante e curiosa notícia local, e teria também compreendido a razão por que o grande escritor Roso de Luna cognominou São Lourenço de "Capital espiritual do Brasil". Conforta-nos todavia a certeza de que um dia a brilhante Jornalista terá ensejo de conhecer um pouco da história da S. T. B., da biografia do seu venerável fundador, que em setembro do longínquo ano de 1921 subiu em companhia de uma jovem sacerdotisa a Montanha Sagrada de São Lourenço, para receber do Cavaleiro da Eternidade a mais sublime e mais árdua de todas as missões redentoras. Entrementes, aqui consignamos nossos agradecimentos pela gentil referência ao Obelisco, ao Templo, à Ordem do Santo Graal e, ainda mais, pela exatíssima expressão com que, inspiradamente, designou a S. T. B.: "Única no Mundo".

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Número de Fiéis das Grandes Religiões segundo uma estatística do Vaticano

Um telegrama da Cidade do Vaticano, de 24 de agosto deste ano, transmitido pela AFP, e publicado na edição do dia seguinte do periódico paulistano "Fanfulla", informa o resultado das estatísticas da Congregação de propaganda "Fide", segundo as quais, cerca de 930 milhões de cristãos,o mundo, Destes, 572 milhões são católicos, 219.636.000 protestantes e 138.513.000 ortodoxos.

Os não cristãos são duas vezes mais numerosos. De fato, são cerca de 2.067.018.000, dos quais: 437.278.000 muçulmanos; 334.549.000 confucianos; 340.844.000 hindus; 155.265.000 budistas.

Vários outros milhões de pessoas pertencem a religiões menos importantes e 676.007.000 são primitivos ou sem religião. As cifras relativas aos não cristãos, especifica o boletim, são aproximativas. A maior parte deles vive na África e na Ásia. Informa também que o número de missionários diminuiu nestes últimos anos. Entre 1951 e 1953, 840 sacerdotes partiram para os. países de missão. Essa cifra vem diminuindo constantemente até chegar hoje a apenas 331.

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"Façamos o Homem à Imagem e Semelhança Nossa"

"De fato, Senhor nosso Deus, nosso Criador, quando tiveram sido contidas as nossas afeições pelo amor do mundo, para o qual vivendo mal se morria, e nossa alma vivendo bem tiver começado a ser viva, e tiver sido cumprida a palavra que pronunciastes pela boca de Teu apóstolo: não vos conformeis a este mundo – atuaremos também as palavras que fizeste logo seguir a essas mas, reformai-vos com a renovação de vossa mente: – não segundo a vossa espécie, como dizer, imitando o próximo que vos precede, nem vivendo em conformidade do exemplo autorizado de um melhor homem. Porque Tu

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não disseste: seja feito o homem segundo sua espécie – mas sim – façamos o homem à imagem e semelhança nossa, - para que se nos patenteie qual é a Tua vontade.

... reformai-vos na renovação da vossa mente, a fim de poderdes vós mesmos reconhecer qual seja a vontade de Deus, qual o bem e o seu beneplácito e a perfeição. – Esta é a razão por que não disseste "seja feito o homem'", mas "façamos o homem"; nem disseste, "segundo sua espécie", mas "à imagem e semelhança nossa". É que o homem renovado na sua mente e em condições de ver com o intelecto a Tua verdade, não precisa que outro homem lha mostre, tal como a imitar a sua espécie, mas, demonstrando-lha Tu, reconhece ele por si mesmo qual seja a Tua vontade, qual o bem, o Teu beneplácito e a perfeição; e àquele já apto a ver, Tu revelas a trindade da unidade e a unidade da trindade. Assim, depois de haver dito no plural: façamos o homem – continua-se no singular: e Deus fez o homem; – e depois de haver dito no plural: à imagem nossa – continua-se no singular: à imagem de Deus. – Assim o homem se renova ao conhecimento de Deus, segundo a imagem de Aquele que o criou; e, tornado espiritual, julga de todas as coisas, isto é, daquelas que podem ser julgadas, enquanto Ele não é julgado por ninguém".

Santo Agostinho.

*********************

Os grifos são do original. E o assunto é de tal modo profundo, que se poderia grifar o inteiro capitulo. Cada frase é um novo tema para meditação, conquanto a matéria não seja nova para teósofos nem para teosofistas. A origem divina do homem, aí se encontra logicamente analisada e magistralmente sintetizada; não só a origem, mas também sua potencialidade. O filho, conquanto decaído na matéria ou exilado na Terra, é igual ao Pai, identifica-se com Ele. Pela renovação do mental o homem reencontra Deus. A verdade está dentro de cada um de nós: não é necessário que outrem no-la mostre. O Pai é um em três e três em um. O Filho também o é. Imagem e semelhança, totalmente, sem restrições, uma vez tornado espiritual.

Essas revelações eram escritas por Santo Agostinho em suas famosas "Confissões" 50 no começo do quinto século. Aí a Teologia encontra a Teosofia; abraçam-se e se reconhecem irmãs gêmeas. Adotam vocábulos diferentes, falam da mesma substância. Ambas, pela palavra dos Santos e dos Sábios, exortam o homem à busca, de si próprio, para o reencontro com Deus. Ambas aconselham o desapego das ilusões deste mundo, o desinteresse pelos bens terrenos, a fim de podermos, nós mesmos, "reconhecer" a vontade do Pai.

&

O DIVINO E O HUMANO

Quanto ao divino e ao humano, trata-se de uma dificuldade fabricada pelo mental. Deus está presente no homem, e este, quando realiza e ultrapassa suas tendências e aspirações as mais altas, torna-se divino. Quando Ele desce e carrega o fardo cármico da humanidade a fim de soerguê-la, torna-se humano, para ensinar aos homens como tornarem-se divinos. Há, portanto, nele um duplo ser: humano visível e divino oculto. Se considerarmos o homem, examinando-o somente com a visão exterior, não veremos senão um homem; mas se buscarmos nele o divino, com olhos capazes de vê-lo, o divino será encontrado.

50 "As Confissões", 4a edição. "Società Editrice Internazionale". Cap. XXII, livro XIII. "Imprimatur" – Turim (Itália), 1936.

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A maneira que têm os homens de fazer as coisas e julgá-las está em relação com o que buscam por um gosto emocional ou uma perfeição humana mental. Quando alguns pensam na manifestação da Divindade, supõem que deva ser de uma perfeição absoluta, infalível nos prognósticos, insuperável nas ciências, nas artes, na política; ou que deva ser um deus etéreo, sem as necessidades e as injunções da contingência humana, mas com faculdades onipotentes. Isto, porém, nada tem de verídico com respeito às manifestações do Divino, com a presença dos Avataras. São errôneas essas conjecturas. Não se ab-rogam as leis eternas. A Divindade manifesta-se e age segundo outro estado de consciência, a Consciência Superior da Verdade e a inferior da do jogo da vida; atua consoante os imperativos da Lei da Evolução, cujos desígnios escapam ao raciocínio humano.

Sri Aurobindo

&

O "Diário de S. Paulo", as religiões e a S. T. B.

A VALIOSA CONTRIBUIÇÃO DA IMPRENSA NA PROPAGAÇÃO DOS ENSINAMENTOS TEOSÓFICOS

A verdadeira imprensa livre tem contribuído para a maior divulgação dos ensinamentos religiosos dos diversos credos, abrindo-lhes generosamente suas colunas, eficazes veículos de consoladoras mensagens espiritualistas destinadas a produzirem os melhores frutos nas relações humanas. Os bons livros, os periódicos e as mensagens verbais transmitidas pelas radioemissoras alcançam rapidamente milhares de consciências, onde vão plantar a semente da fé redentora e manter acesas as chamas dos sentimentos fraternais, porém fáceis de serem apagadas ao primeiro sopro da adversidade, quando carentes de alimento espiritual; da mesma forma que, quando os doentes carecem de alimento físico, qualquer infecção banal ou doença mesmo benigna, pode tornar-se grave ou fatal.

O "Diário de S. Paulo", dos "Diários Associados", vem se destacando na publicação da ensinamentos religiosos, especialmente nas edições aos domingos, bem como de reportagens especializadas em assuntos culturais espiritualistas, com evidentes benefícios para o esclarecimento de seus numerosos leitores em todo o Brasil.

A Sociedade Teosófica Brasileira, que mantém um Colégio de iniciação, trouxe para a. confluência dos Ciclos, o do Peixe, que terminou, e o do Aquário, que se iniciou a dupla missão de arrebanhar os "julgados aptos" e de esclarecer as consciências, colocando em primeiro plano a educação das crianças que constituem a sementeira da Nova Civilização, cujos primeiros albores já coloriram de rosa e púrpura os horizontes de nosso país.

Para uma rápida divulgação de sua obra, não pode a S. T. B. prescindir da eficiente colaboração da Imprensa. É com sentimentos de louvor que nos referimos ao importante matutino que há vários anos vem acolhendo as colaborações oferecidas pelos instrutores da nossa Escola (que instrui e educa também através do Teatro e do Templo), tendo assim os seus leitores oportunidade de adquirirem alguns dos conhecimentos esotéricos oferecidos aos nossos associados. Prova da grande penetração do citado jornal é que muita pessoas nos escrevem ou nos interpelam pessoalmente acerca dos trabalhos que vimos publicando aos domingos em suas páginas.

Page 67: S U M Á R I O PROFESSOR HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA ... · R R eevviissttaa D D hhâârraannââ ... Sobre tão discutido assunto falaram em suas obras Plutarco, Virgílio, Homero, Platão,

RRReeevvv iiissstttaaa DDDhhhââârrraaannnâââ Dhâranâ nºs 24 – 25 – Janeiro a Dezembro de 1964 – Ano XXXIX

Redator : Hernani M. Portella

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Ao ensejo, aqui renovamos nossos agradecimentos aos ilustres diretores e aos distintos funcionários do DIÁRIO DE S. PAULO, pelos inestimáveis serviços prestados na divulgação de nossos ideais de cultura e fraternidade, agradecimentos aos quais se associa a Redação de "DHÂRANÂ", formulando-lhes sinceros augúrios de felicidade e progresso.

& Ilustração: foto

ANTÔNIO CASTAÑO FERREIRA HOMENAGEM PÓSTUMA DE "DHÂRANÂ" À MEMÓRIA DO GRANDE PALADINO DA

OBRA DOS GÊMEOS ESPIRITUAIS

No transcurso do primeiro aniversário do falecimento cio Supremo Dirigente da Sociedade Teosófica Brasileira e Grão Mestre da Ordem do Santo Graal, prof. Henrique José de Souza, fundador desta Revista, à cuja memória tributamos perpetuamente nossas reverentes homenagens, "Dhâranâ" cumpre também o dever de evocar a imponente figura de Antônio Castaño Ferreira.

Possuidor de vasta cultura profana e esotérica, orador emérito, autor de relevantes trabalhos ocultistas e teosóficos, foi o primeiro e maior arauto da palavra do Mestre, tornando-se de direito e de fato a Coluna "J" da Excelsa Obra cios Gêmeos Espirituais no presente ciclo, à qual se dedicou integralmente desde sua fundação. Há seis anos lastimamos sua perda; deveu ele por força de Lei preceder de cinco anos o Mestre na sua viagem aos reinos que lhes pertencem nos mundos subterrâneos. Todavia, os discípulos de ambos conservam em sua memória as impressionantes figuras daqueles que lhes elevaram o estado de consciência pelo caminho da verdadeira iniciação nos mistérios maiores; manterão viva em suas mentes a essência de seus sublimes ensinamentos, custodiados para à posteridade nas bibliotecas da S. T. B.; como haverão de manter em seus corações a imorredoura saudade que sentem desses dois Gênios luminosos do Pensamento divino, Mensageiros do Espirito de Verdade, aliados na Missão redentora do gênero humano, como lídimas expressões do quinto e sexto Dhyan-Chohan.