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GESTÃO DE RESÍDUOS TECNOLOGIA SUSTENTABILIDADE Ano 1 • n o 4 • Janeiro/Fevereiro 2010 • R$ 19,00 Ano 1 • n o 4 • Janeiro/Fevereiro 2010 • R$ 19,00 • VISÃO AMBIENTAL ECONOMIA VERDE EMPRESAS INVESTEM EM SUSTENTABILIDADE RESÍDUOS URBANOS O consumo cotidiano deixa rastros Consciência ambiental nas passarelas MODA AUTOMÓVEIS Paixão nacional agora menos poluente Invasões trazem consequências OCUPAÇÕES IRREGULARES MERCADO DE TRABALHO Meteorologistas nunca foram tão necessários

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Revista Visão Ambiental nº 04

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• GESTÃO DE RESÍDUOS• TECNOLOGIA• SUSTENTABILIDADE

Ano 1 • no 4 • Janeiro/Fevereiro 2010 • R$ 19,00

Ano

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ECONOMIA VERDE

EMPRESAS INVESTEM EM SUSTENTABILIDADE

RESÍDUOS URBANOSO consumo cotidiano deixa rastros

Consciência ambiental nas passarelas

MODA

AUTOMÓVEISPaixão nacional

agora menos poluente

Invasões trazem consequências

OCUPAÇÕES IRREGULARES

MERCADO DE TRABALHO

Meteorologistas nunca foram tão necessários

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6 MATÉRIA DE CAPA Empresas

Verdes

SUMÁRIO

30 Mercado Walmart: exemplo de consciência estratégica

42 Internacional COP15: Uma conferência muito morna

48 Reciclagem Isopor para o que der e vier

59 Negócios A moda é verde

62 SPFW Moda e consciência ambiental

64 Visão Econômica Por Ricardo Ernesto Rose

74 Radar Contatos das empresas e colaboradores desta edição

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16 Eco EstiloA onda é preservar

ResíduosSólidos Urbanos O lixo nosso de cada dia

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34 Consumo ConscienteProdutos que ajudam a preservar o planeta

52 Ocupações IrregularesA natureza pune

20 AutomotivosPreservando o meioambiente a toda velocidade

19 Visão Legal Antonio Carlos Porto Araujo

26 Mercado de Trabalho Tempo bom para os meteorologistas

29 Visão Política Por Conceição Clemente

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Renovação de mentalidade amplia mercado

O começo de um novo ano é sempre estimulante. Para nós, não é diferente. Observar de longe as mudanças nas questões ambientais, mesmo que tímidas, já é um alento. Poder participar delas, dissemi-nando informações e instigando nossos leitores à reflexão, faz-nos sentir parte dessas mudanças, e isso muito nos gratifica.

Esta edição tem como matéria de capa a sustentabilidade nas empresas, algo que pode dar resultados extraordinários em várias esferas dos negócios, inclusive com aumento de receita. Até atitudes pequenas podem fazer uma enorme diferença. Que tal ser esse um pensamento comum e um dos objetivos deste novo ano? E não necessariamente no âmbito empresarial. As atitudes pessoais contam tanto quanto, ou mais, já que esperar que tudo venha dos outros, principalmente dos governantes, parece não ser uma atitude muito coerente, como podemos constatar pela matéria sobre Copenhague.

Nossa parceria com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) foi renovada e ampliada para toda a revista, uma vez que nosso Caderno de Resíduos, cobrindo eventos e temas específicos do setor, agora é parte integrante de nosso conteúdo geral.

Há muitas matérias interessantes nesta edição. Esperamos que gostem. Mas a grande novidade mesmo é que agora, devido aos muitos pedidos, estamos aceitando assinaturas. No início, mostramo-nos reticentes, uma vez que, originalmente, a revista seria distribuída apenas para nosso mailing. Entretanto, depois das pesquisas realizadas nos eventos dos quais participamos, e também através de nosso portal, constatamos que, mesmo havendo a pos-sibilidade de ler nosso conteúdo pelo site, e até de fazer download da revista, muitos preferem tê-la impressa. Por isso, atendendo à vontade desses leitores, a partir desta edição eles poderão assinar e receber a revista Visão Ambiental em casa.

Ter assinantes é mais um passo para o crescimento e consoli-dação da revista no mercado editorial. A receptividade que vimos obtendo nos coloca como um dos destaques no segmento do meio ambiente e sustentabilidade. Termos conquistado isso nos leva a crer que estamos no caminho certo. Agradecemos a nossos leito-res, colaboradores e anunciantes assumindo o compromisso de buscar melhorar sempre. Para isso, esperamos receber sugestões, opiniões e críticas, sempre que você, leitor, considerar pertinente.

Boa leitura!

José Antonio Gutierrez, Nilberto Machado de Sá e Susi Guedes

As opiniões pessoais publicadas nos artigos autorais são de responsabilidade exclusiva dos colaboradores independentes.

EXECUTIVO EDITORIALNilberto Machado de Sá

[email protected]

EXECUTIVO FINANCEIROJosé Antonio Gutierrez

[email protected]

EDITORA-CHEFESusi Guedes

[email protected]

PROJETO GRÁFICO e DIREÇÃO DE ARTE Flora Rio Pardo

[email protected]

JORNALISTASArielli Secco, Henriete Mirrione, João Paulo

Amorim, Samuel Nunes e Tais [email protected]

REVISÃODiego Teixeira

[email protected]

FOTOGRAFIAFábio Tavares e Luciana Yole

[email protected]

COLABORADORPaulo César Lamas (tratamento de imagens)

COLUNISTAS DESTA EDIÇÃOAntonio Carlos Porto Araújo, Conceição Clemente

e Ricardo Ernesto Rose

COMERCIAL e PUBLICIDADE [email protected]

PRODUÇÃOCristopher Raineri

[email protected] Jardin

[email protected]

JORNALISTA RESPONSÁVEL Susi Guedes (MTb ��.��7/SP)

PERIODICIDADE – BimestralTIRAGEM – 6.000 exemplares

IMPRESSÃO – Litokromia

ATENAS EDITORARua José Debieux, 3�, Cj. �2

Santana – São Paulo/SP – CEP: 02038-030Fone: ��-11- 26�9-0110

www.rvambiental.com.br

ASSINATURASFone: ��-11-26�9-0110

[email protected]

ATENDIMENTO AO LEITORFone: ��-11-26�9-0110

[email protected]

EXPEDIENTE

Capa: Fotomontagem SXC e Divulgação por [email protected]

ERRATA • Na matéria sobre Seguro Ambiental da edição anterior, os créditos das foto-grafias dos deputados Leonardo Monteiro e Rubens Moreira Mendes Filho são “Divulgação”; já a fotografia do empresário Fumiaki Oizumi é de Luciana Yole.

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CAPA

Na nova cartilha das empresas, a palavra sustentabilidade está atrelada a uma

visão moderna, consciente e vitoriosa. Esse conceito será, sem sombra de dúvidas,

um diferencial no futuro

Empresas Verdes

Sustentabilidade. Termo que adquiriu uma importância sem pre-

cedentes e já faz parte da rotina de inúmeras empresas. Esse conceito está

na boca dos empresários, na cabeça dos banqueiros, registrado em inúmeras

propagandas dos mais diversos produtos. Está também nas atitudes de quem anseia

por um mundo melhor, sempre levando em consideração o uso racional dos recursos

naturais. As ações de sustentabilidade e pre-servação ambiental têm conquistado cada vez mais espaço nas estratégias de negócios e são responsáveis pela sobrevivência de grandes, médias e micro empresas no mercado.

A sociedade civil tem se organizado para exigir diferentes atitudes por parte das empresas. Trata-se de movimentos que buscam colocar o Brasil na trilha do crescimento econômico aliando equilíbrio ambiental com justiça social, bases fundamentais da sustentabilidade. Se o meio ambiente não for preservado, qual será a herança

Por João Paulo Amorim

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deixada para as gerações futuras? Se a palavra “conscientização” não fizer parte do dicionário da vida, haverá apenas um solo pobre, uma atmosfera poluída, a falta de água. Em suma, uma biosfera toda alterada, suja e sem diversidade.

Desde a década de 80, as grandes compa-nhias têm feito, a passos lentos, campanhas verdes e de responsabilidade socioambiental. De forma simples, a responsabilidade social no âmbito empresarial é um modelo de gestão pau-tado na relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se re-laciona. Metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade são estabelecidas. Por consequência, os recursos ambientais e culturais são preservados para as gerações futuras, a diversidade é respeitada (e mantida) e as desigualdades sociais são consi-deravelmente reduzidas.

Segundo dados apresentados pelo diretor do Departamento de Meio Ambiente (DMA) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Nelson Pereira dos Reis, durante a Conferência do Clima em Copenhague no ano

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passado, ��% das empresas possuem indica-dores do consumo específico de energia e 98% oferecem programas de treinamento ambiental a seus funcionários. “Estes são apenas alguns dados para dar ideia do que o setor privado do Brasil já promove em relação aos cuidados com o meio ambiente”, diz.

Ainda de acordo com o diretor, 4�% das corporações brasileiras só contratam fornece-dores que seguem procedimentos de gestão am-biental. Além disso, 48% das empresas dispõem de projetos para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e 42% já utilizam fontes renováveis de energia.

Esse é o cenário atual. A evolução é nítida e animadora. Atitudes sustentáveis e empresas agora são grandes parceiras. O tino empresarial passa por uma visão globalizada dos problemas ambientais que assolam o planeta. Pode-se de-nominar esse momento atual chamando-o de

“nova economia”. As caracterís-ticas dessa mudança estão relacionadas a uma mente moderna e futurista, em que os recursos e insumos são recu-perados, reusados e reciclados

muitas e muitas vezes. Para exemplificar

esse cenário de conscientiza-ção, de novos conceitos e de

aperfeiçoamento dos modelos de gestão, a revista Visão Ambiental apresenta aqui as atividades e os pensamentos de grandes empresas que visam uma economia forte e rentável, mas que não se esquecem da importância do meio ambiente.

MCASSAB“O tamanho de um grupo empresarial é me-

dido pelo seu tempo de história e, principalmen-te, por suas realizações”. É com essa frase que a MCassab resume os seus �2 anos de existência. A empresa atua em mais de uma dezena de áreas, com destaque para: tecnologia animal, química fina, química industrial, nutrição humana, labo-ratório, utilidades domésticas, eletrodomésticos, utensílios profissionais, brinquedos, rede de lojas Spicy, investimentos imobiliários e trading.

Ao longo desses anos, o desenvolvimento sustentável tornou-se um dos grandes aliados da empresa na construção de uma imagem só-lida e vitoriosa. O diretor acionista da MCassab, Victor Cutait, ressalta as razões pelas quais as grandes empresas são de suma importância na preservação do meio ambiente: “Em primeiro lugar, por serem grandes consumidoras de ma-térias-primas não renováveis e de energias em geral. Em segundo, como têm grande exposição na mídia, viram exemplo.”

E complementa: “Desde 2001 a MCassab vem implantando programas e processos de respon-sabilidade ambiental e social, como o Processo de Distribuição Responsável (Prodir) – certificado pelo British Standards Institute –, cujos escopos são o meio ambiente, a saúde e a segurança. Além disso, há programas de controle e redução

“Um exemplo de nossa atuação

social é que construímos e

mantemos uma escola para 300

crianças carentes, administrada

pela ONG Ação Comunitária, num

bairro próximo à empresa”

Victor Cutait, diretor acionista da MCassab

Victor Cutait, da MCassab

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de energia, água e gases de efeito estufa. Nosso Manual da Qualidade impõe procedimentos que constam das diretivas da SA8000, que é uma norma de responsabilidade social. Outro exem-plo de nossa atuação social é que construímos e mantemos uma escola para 300 crianças carentes, administrada pela ONG Ação Comunitária, num bairro próximo à empresa.”

BRASKEM Foi no ano de 2002 que a Braskem – líder em

resinas termoplásticas na América Latina e uma das maiores companhias industriais privadas de capital nacional – começou a focar suas ações baseando-se numa política de tecnologia, ino-vação e sustentabilidade.

Em 2004 a empresa elaborou o 1º Relatório de Desenvolvimento Sustentável. Já em 2005, foi listada no Índice de Sustentabilidade Empre-sarial (ISE) da BM&FBovespa, onde continua até hoje em virtude de suas ações ecologicamente e socialmente corretas.

No ano de 200�, a empresa foi a primeira

a lançar o polímero verde – polietileno de alta densidade produzido a partir da cana-de-açúcar. Seu desempenho e qualidade são-superiores em relação a outros polímeros. As indústrias automobilísticas, de embalagens alimentícias, cosméticos e artigos de higiene pessoal são as maiores consumidoras desse tipo de plástico.

Essa inovação resultou de um projeto con-tínuo de pesquisa e desenvolvimento. O alto investimento – cerca de US$ 100 milhões ao ano – é usado na melhoria das instalações, visando aprimorar as práticas sustentáveis dentro e fora da empresa. Associa-se a esse valor um investi-mento de R$ � milhões em ações voltadas para o benefício da sociedade em geral.

Jorge Soto, diretor de Desenvolvimento Sus-tentável da empresa, diz: “A sustentabilidade, para a Braskem, é um fator de diferenciação. Os investimentos são voltados para alavancar os negócios, mas não visamos apenas os resultados, o faturamento; o objetivo é contribuir também com ações sociais e ambientais.”VI

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“A sustentabilidade, para a Braskem,

é um fator de diferenciação. Os

investimentos são voltados

para alavancar os negócios, mas não

visamos apenas os resultados,

o faturamento; o objetivo é

contribuir também com ações sociais

e ambientais”

Jorge Soto, diretor de Desenvolvimento

Sustentável da Brasken

Troféu do GP Brasil de Fórmula 1: desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, em 2008 foi confeccionado em plástico verde.No ano passado, a nova versão do troféu foi produzida em plástico reciclado, a partir de tampinhas recolhidas durante a prova

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Banco Imobiliário Sustentável é uma versão ecológica do tradicional jogo

Banco Imobiliário, da Estrela

Carrinho Estrela produzido em plástico verde

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NATURA A Natura, maior fabricante brasileira de

cosméticos e produtos de higiene e beleza, líder no setor de venda direta, tem sua imagem totalmente vinculada às causas ambientais. Ao longo de sua história, a Natura sempre se baseou em um modelo de gestão voltado ao crescimento econômico e à perpetuação da empresa, sem deixar de lado a preocupação com os impactos ambientais e sociais. Em 1983, uma das primeiras iniciativas nesse sentido foi a introdução dos refis no setor de cosméticos do Brasil. Era o começo da sustentabilidade.

No ano de 2000, a Natura foi a primeira em-presa brasileira a adotar o modelo do ranking Global Reporters. Levando em consideração os relatórios anuais, o Global Reporters relaciona as 50 empresas com melhor desempenho eco-nômico e socioambiental. As empresas desse ranking seguem as diretrizes do Global Repor-ting Initiative (GRI), instituição que desenvolve e dissemina um modelo de comunicação sobre os impactos econômicos, sociais e ambientais das atividades empresariais. Ao longo dos anos, a Natura investiu em novas tecnologias para reduzir o impacto dos seus produtos no meio ambiente, descobrindo novos ingredientes e contribuindo para a valorização e o crescimento

de comunidades locais. No ano passado, as fórmulas da linha Natura

Ekos, por exemplo, passaram a ter mais de �0% de matéria-prima vegetal renovável, extraída de maneira sustentável. Renata Puchala, gerente de marketing da linha fala um pouco sobre essa ação: “Vegetalizar é substituir ingredientes de origem animal, mineral ou sintética por outros de origem vegetal, os quais, se extraídos de forma sustentável, renovam-se sempre. Em 2004, começamos esse movimento de reno-vação em nossas fórmulas, vegetalizando os sabonetes em barra Ekos. Em 200�, vegetali-zamos os óleos trifásicos e passamos a utilizar em nossos perfumes álcool orgânico ao invés do álcool comum.”

A maioria dos produtos, cosméticos e não cosméticos, utiliza matérias-primas de origem sintética e outras de origem não renovável, como por exemplo, o petróleo. Em suma, é retirado da natureza aquilo que não é possível devolver a ela. Priorizar matérias-primas de origem vegetal é contribuir para a perpetuação da natureza. A Natura pretende reduzir em 33% o impacto ambiental relativo às suas atividades até 2011. De 200� para 200�, a empresa baixou em �% a quantidade de GEEs (gases que provocam o efeito estufa) lançados na atmosfera.

“Vegetalizar é substituir

ingredientes de origem animal,

mineral ou sintética por

outros de origem vegetal, os quais,

se extraídos de forma sustentável,

renovam-se sempre”

Renata Puchala, gerente de Marketing

da linha Natura Ekos

Área de convivência na unidade da Natura em Cajamar e, ao lado, um exemplo de sacola retornável

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GRUPO PÃO DE AÇÚCARAbílio Diniz é um dos homens mais bem-suce-

didos do Brasil. Ele preside o Grupo Pão de Açúcar, líder absoluto no mercado de varejo. Ano passado, a empresa investiu R$ 45 milhões na expansão de supermercados sustentáveis (verdes).

Paulo Pompilio, diretor de Responsabilidade Social do Grupo Pão de Açúcar, conta que “o desenvolvimento e implantação das tecnolo-gias sustentáveis é um processo de contínuo aprendizado e evolução; a decisão pelas solu-ções implantadas tiveram como objetivo sen-sibilizar e mobilizar nossos clientes, parceiros e colaboradores em torno dessa causa e, assim, promover movimentos relevantes em toda ca-deia de valor”.

Além da expansão dos supermercados sus-tentáveis, certificados pela Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), o Grupo Pão de Açúcar foca também seus investimentos em programas de estações de reciclagem, sacolas retornáveis e ações para redução de consumo de água e energia. Selo verde em mãos, certifi-cação garantida. Com isso, o supermercado é o único da América Latina a possuir aprovação do United States Green Building Council (USGBC), a ONG mais conhecida do mundo no ramo de certificação ambiental de edificações.

Pioneirismo, sustentabilidade, aproximação

com o cliente. Esses são alguns dos ingredientes que tornam o Pão de Açúcar uma das maiores empresas do País. João Edson Gravata, diretor de operações da rede Pão de Açúcar, enalte-ce o feeling da empresa e promete ainda mais novidades.

“O Pão de Açúcar é conhecido por seu pionei-rismo em ações socioambientais. Avançamos com cinco supermercados verdes em poucos meses e vamos expandir ainda mais nos próximos anos. Foi assim com as iniciativas pioneiras adotadas pela rede, como as sacolas e as estações de reciclagem, que hoje servem de modelo para os mais diversos segmentos de negócios”, diz.

Desde 2005, as sacolas retornáveis vêm ga-nhando mais adeptos a cada dia. E, para incen-tivar o seu uso, o programa de relacionamento Mais lançou no ano passado a campanha “Ga-nha pontos quem ajuda a preservar o planeta”. O funcionamento é simples: ao utilizar sacolas retornáveis, os clientes ganham pontos que po-dem ser trocados por vales-compra. A iniciativa começou em São Paulo em março de 2009 e logo caiu nas graças do consumidor. Para se ter uma ideia, mais de 2 milhões de pontos foram contabilizados em um total de 4�4,2 mil compras, realizadas ao longo de oito meses.

O sucesso dessa ação pode ser traduzido em números, afinal, nesse período, cerca de 1,9 milhão de sacolas plásticas deixaram de ser descartadas no meio ambiente. E mais: no ano passado, o Grupo Pão de Açúcar comercializou cerca de 1,3 milhão de sacolas retornáveis, um crescimento de 3�5% se comparado a 2008. Hoje, a iniciativa já está presente em todas as lojas da rede.

Ligia Dall Acqua Korkes, gerente do Grupo Pão de Açúcar, acha eficiente a comunicação entre a empresa e os clientes: “Temos contato direto com o consumidor através das rádios e televisões inter-nas. Já fizemos, por exemplo, vídeos informativos sobre os benefícios das sacolas retornáveis contra as desvantagens das sacolas plásticas, divulgamos e estimulamos as nossas estações de reciclagem, entre outras.”

Ações como essas envolvem os funcioná-rios dos supermercados, todos devidamente

capacitados. “Além disso, temos várias ini-ciativas nas lojas, como o caixa verde – que

é uma iniciativa de reciclagem pré-consumo –, as estações de reciclagem pós-consumo, as

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“Temos contato direto com o consumidor

através das rádios e televisões internas.

Já fizemos vídeos informativos sobre

os benefícios das sacolas retornáveis

contra as desvantagens das

sacolas plásticas, divulgamos e estimulamos

nossas estações de reciclagem,

entre outras”

Ligia Dall Acqua Korkes, gerente do Grupo

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Ligia Dall Acqua Korkes, do Grupo Pão de Açúcar

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embalagens feitas de papel reciclado, as pró-prias lojas verdes”, diz Ligia. E conclui: “Enfim, iniciativas sustentáveis para as quais todos os colaboradores recebem um treinamento de 1�0 horas, entre outras iniciativas”.

SABESP A Sabesp, Companhia de Saneamento Básico

do Estado de São Paulo, consolida-se cada dia mais no mercado como uma empresa de soluções ambientais. Além dos serviços prestados estarem diretamente relacionados ao ramo, a companhia vem desenvolvendo, ao longo de seus 35 anos de existência, programas voltados ao consumo cons-ciente e à redução de perdas, bem como ações de conscientização alertando sobre a necessidade da preservação dos recursos hídricos.

Em setembro de 2009, a empresa lançou o projeto Sabesp Abraço Verde. O objetivo principal é agregar melhorais estéticas no am-biente ao redor das áreas de responsabilidade da companhia. A consequência? Mais verde e retenção de carbono. Segundo a empresa, até o fim deste ano, 4 mil unidades, entre áreas administrativas e operacionais, receberão 20 mil mudas de árvores.

TETRA PAK Desde sua criação, a Tetra Pak, líder mundial

em processamento e embalagem de alimentos, possui em seu DNA o conceito de sustentabili-dade. Há 52 anos atuando fortemente na cadeia de valor dos alimentos no País, a empresa tem investido cada vez mais em equipamentos que causam menos impacto ambiental. No Brasil, a Tetra Pak desenvolveu uma tecnologia para fabricação de placas, telhas, móveis, canetas,

vassouras e outros objetos, tudo a partir da mistura de plástico e alumínio das embalagens. O processo passa pela retirada do papel que é usado na produção de caixas de papelão e papel reciclado.

Em parceria com outras empresas, a Tetra Pak desenvolveu a tecnologia de reciclagem a plasma, que permite a separação do plástico e do alumínio contidos na embalagem após a retirada do papel. Transformados em parafina líquida e lingotes, o plástico e o alumínio voltam para a cadeia produ-tiva como matérias-primas de primeira qualida-de. A primeira unidade de reciclagem a plasma, pioneira no mundo, começou a operar em maio de 2005 na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo, e já desperta o interesse de outros países. Com investimento de R$ 14 milhões, a usina tem capacidade para reciclar 8 mil toneladas de plás-tico e alumínio por ano, equivalentes a 32 mil toneladas de embalagens.

Outra atividade de destaque da empresa é o Portal de Educação Ambiental. O site oferece informações completas, desde como gerenciar e selecionar o lixo, até o processo de reciclagem de cada material. Trata-se de uma importan-te ferramenta para os professores, na medida em que oferece informações e sugestões de atividades para os alunos. Além disso, as infor-mações e oficinas estimulam os alunos a reali-zarem experiências e colocarem os conceitos em prática. O novo portal é uma evolução do Programa Cultura Ambiental nas Escolas, cujo foco é a distribuição de kits educativos com informações sobre reciclagem e preservação do meio ambiente. Criado em 199�, o programa já beneficiou mais de � milhões de estudantes e 40 mil escolas públicas e privadas. VI

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A Sabesp vem desenvolvendo,

ao longo de seus 35 anos

de existência, programas

voltados ao consumo

consciente e à redução de perdas,

bem como ações de conscientização

alertando sobre a necessidade da

preservação dos recursos

hídricos

Técnicos da Sabesp espalham composto orgânico sobre vegetação danificada

Sabesp também investe para tornar seus prédios sustentáveis

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VALE Mineradora de atuação global, a Vale sempre

escreveu sua história baseada no compromisso de transformar recursos minerais em riqueza e desenvolvimento sustentável. Há várias manei-ras de dimensionar essa relação próxima entre a mineradora e as questões sociais. A Fundação Vale é um grande exemplo. Em parceria com ONGs, setores do poder público e da sociedade civil, ela realiza diversos programas com foco no desenvolvimento econômico, ambiental e social das localidades onde atua. Um desses programas consiste na conservação do meio ambiente e na reabilitação de espécies nativas dos ecossistemas da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia. Em 2008, a empresa investiu US$ ��8 milhões na área de meio ambiente, desde projetos de reflorestamento e conservação, até programas de desenvolvimento de tecnologias limpas.

O combate ao aquecimento global também é uma das principais preocupações da empresa. No ano passado, ela lançou suas Diretrizes sobre Mudanças Climáticas e Carbono. Entre as ações firmadas, merece destaque a substituição de óleo combustível por gás natural nas usinas de pelotização do Espírito Santo e de Minas Gerais, que resultou na redução de 139 mil toneladas de CO2 na comparação com o ano de 2008. Para este ano, os investimentos chegarão a US$ 999 milhões: US$ 829 milhões serão investidos em proteção e conservação do meio ambiente e US$ 1�0 milhões em projetos sociais.

SUSTENTABILIDADE X AUMENTO DOS CUSTOS A instituição que se mantiver atenta a esse

movimento em prol do verde tende a aumentar sua visibilidade e seu valor de mercado. É uma relação de troca em que todas as partes saem lu-crando. Mais do que preocupação socioambiental ou estratégia de marketing, empresas de diversos setores começam a repensar seu próprio modelo de negócios para sobreviver em uma economia na qual exigências socioambientais estão se tornando uma realidade. Os resultados são um alento para todos os envolvidos no processo.

É notório que, entre outros objetivos, as prá-ticas empresariais sustentáveis visam vincular o nome da empresa a produtos e serviços de qua-lidade, preços justos e responsabilidade social. O resultado é imediato. As boas práticas da empresa levam-na a um estreitamento na relação com o consumidor, o que acarreta em novos valores para seu público-alvo. Essa dinâmica relação entre empresa e consumidores facilita a criação de uma via de mão dupla: a organização investe em ações de responsabilidade socioambiental, o mercado as aprova. Há uma valorização da marca.

A sustentabilidade é uma realidade. Conse-quentemente, as empresas devem responder rapidamente a essa mudança. Do contrário, se-rão engolidas pela concorrência. Então, como agir? Essa é a primeira pergunta dos empresá-rios. De uma forma simples – e não simplista –, faz-se necessário um remodelamento da gestão. O pensamento deve estar focado no presente, VI

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A Vale sempre escreveu sua

história baseada no compromisso

de transformar recursos minerais

em riqueza e desenvolvimento

sustentável. Há várias maneiras de dimensionar essa

relação próxima entre a mineradora

e as questões sociais. A Fundação

Vale é um grande exemplo

mas principalmente no futuro. A necessidade de um redesenho das organizações se faz essen-cial a esta nova visão de posi-cionamento sustentável. Claro que as questões que envolvem sustentabilidade são complexas e mesmo difíceis de serem com-preendidas, pois muitas vezes significam aumento de inves-timentos para as organizações empresariais.

A Monsanto, por exemplo,

Fundação Vale: Cultivo de espécies nativas dos ecossistemas da Mata Atlântica

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que trabalha com produtos e soluções para agri-cultura e meio ambiente, ampliou em 2009 seus projetos voltados a ações ambientais e educa-cionais, com o investimento em programas de sustentabilidade chegando à casa dos R$ 9,4 mi-lhões. Um aumento considerável se comparado ao passado recente, já que até meados de 200� a Monsanto destinava por volta de R$ 4 milhões ao ano em projetos socioambientais.

Em 2009, a rede de varejo Walmart também se engajou na questão sustentável. A empresa reuniu fornecedores, autoridades e ONGs para anunciar o Pacto Walmart Brasil pela Sustenta-bilidade, pelo qual os presidentes das 20 maio-res indústrias fornecedoras da rede firmaram compromissos em prol do meio ambiente. Os objetivos são explícitos: apoio à preservação da Floresta Amazônica por meio do boicote à com-pra de produtos provenientes de desmatamento, principalmente os das cadeias da carne, madeira e soja; redução de embalagens; e desenvolvi-mento de novos produtos com diferenciais sus-tentáveis. Segundo o hipermercado, o programa de descontos de R$ 0,03 para clientes que não usam sacolas plásticas evitou a circulação de 13,5 milhões de sacolas plásticas durante o ano passado e gerou um repasse de mais de R$ 405 mil para os consumidores conscientes.

Sejam oriundas do mercado ou da regulação, as exigências desse novo ambiente econômico são grandes. Consequentemente, não é tarefa das mais fáceis repensar esse modelo de negócios. Compreender a complexidade da sustentabili-dade será um fator de sucesso nesta que é uma das principais empreitadas do século XXI. Para o vice-presidente do Instituto Ethos, Paulo Itaca-rambi, a implantação de medidas sustentáveis em todos os setores da economia é emergencial. “Embora o custo seja alto, não há mais como retardar essas ações”, disse.

Segundo uma pesquisa realizada pelo ins-tituto, se o Brasil investir 1% do PIB em ações sustentáveis, é possível reduzir em �0%, até

2030, a emissão de gases do efeito estufa no País. “Devemos entender que, apesar de o tema ambiental ser a principal preocupação, a questão envolve diversos outros fatores, como os sociais e econômicos. É necessário reduzir, além das emissões, a exploração ineficiente dos nossos recursos naturais”, finaliza o vice-presidente do Instituto Ethos.

VISÃO INSTITUCIONALNo segmento empresarial, para haver maior

compreensão sobre a sustentabilidade, a organi-zação precisa incorporar os conceitos e objetivos em seu DNA, ou seja, enraizá-los profundamente em sua cultura organizacional, abrangendo mis-são, visão, valores e estratégia em todos os seus níveis hierárquicos. Mas é importante salientar: esse novo significado, traduzido em um novo posicionamento empresarial, deve estar bem claro nas grandes lideranças das empresas. Todos concordam que uma estratégia de marketing am-biental sem o devido embasamento conceitual do processo de “esverdeamento” da empresa é totalmente ineficaz.

Para o diretor acionista da MCassab, Victor Cutait, há inúmeros benefícios para as empre-sas que optam por manter projetos ambientais: “Podemos separar os benefícios financeiros em mensuráveis e não mensuráveis. No primeiro caso, temos alguns clientes que já nos auditam em quesitos ambientais como condicionantes para sermos fornecedores. Os não mensuráveis são aqueles ligados à imagem. Mas não tenho dúvidas de que esse é um tema de crescente cons-cientização da sociedade e, portanto, cada vez mais as empresas serão cobradas nesse sentido, passando a ser obrigação, e não uma vantagem competitiva.”

A gerente do Pão de Açúcar, Ligia Dall Acqua Korkes, também expõe sua opinião: “Os benefí-cios são inúmeros. Externos, por exemplo, dan-do boa imagem para a empresa, conquistan-do e fidelizando clientes, preservando o meio

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ambiente, desenvolvendo as comunidades onde a empresa está inserida, aquecendo a eco-nomia, influenciando a cadeia de fornecedores, entre outros. Além, é claro, dos benefícios internos, como, por exemplo, retenção de talentos, orgulho de fazer parte da empresa e aumento da produção.”

Um programa de responsa-bilidade social traz só resultados positivos para a sociedade e, se for realizado de forma autênti-ca e profissional, rende bons frutos para as empresas. Os ga-nhos são imensos: valorização da imagem institucional e da marca, maior lealdade do con-sumidor, eficiência em recrutar e manter talentos, flexibilida-de, capacidade de adaptação e longevidade. Ou seja, o pen-samento dos empreendedores deve estar alinhado à cultura de responsabilidade social. Na con-tramão desse ideal, desenvolver programas sociais apenas para divulgar a empresa, ou como forma compensatória, não traz resultados positivos sustentá-veis ao longo do tempo.

Medidas amplas e, princi-palmente, ações honestas; par-cerias entre iniciativa privada, poder público e sociedade civil. Esses são os preceitos práticos de um projeto concreto e de re-sultado em prol de um ambien-te mais saudável para toda a sociedade. Na teoria, ficam mui-tas ações vazias, demagogas e sem eficácia. Mas as pessoas sabem separar o joio do trigo. A sociedade civil brasileira, que já superou grandes obstáculos para consolidar a democracia, vai precisar de sua visão inova-dora e de seu mais concentrado esforço de engajamento para superar diferenças, derrubar muros e erguer pontes rumo à sustentabilidade.

Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISEJá há alguns anos que a tendência mundial é os investidores procurarem empresas socialmente responsáveis, sustentáveis e rentáveis para aplicar seus recursos. O ISE é referência para fundos de investimentos que levam em conta práticas de sustentabilidade e de governança ao montarem seus portfólios. As empresas listadas são consideradas capazes de gerar valor aos acionistas, pois apre-sentam melhor capacidade de superar riscos econômico-financeiros e socioambientais. No ano passado, 30 companhias integraram a carteira 2008/2009 do ISE. Essas empresas totalizaram R$ 372 bilhões em valor de mercado, quantia que corresponde a 30,7% da capitalização total das 394 empresas que têm ações negociadas na BM&FBovespa.

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ECO ESTILO

Surfistas de diferentes partes do Brasil conectam-se por um objetivo em comum: zelar pelo meio ambiente

A onda é preservar

Para João Malavolta, surfista, jornalista e ati-vista socioambiental, descer por uma onda é ta-refa fácil. Ele surfa desde os dez anos, quando se iniciou no esporte por incentivo do pai nas praias de Itanhaém, litoral de São Paulo. “O surf é pura harmonia entre o homem e a natureza. Dentro do mar nos sentimos limpos, livres. É uma sensação de bem-estar que mantém acesa uma chama dentro da gente, que provoca uma liberdade física e es-piritual indescritível”, diz. O trabalho árduo está é fora do mar, na missão de agir para garantir o surf de amanhã e a beleza de uma natureza livre da poluição e das interferências negativas do homem. Para isso, ele e o amigo também surfista André Coimbra fundaram a ONG Entidade Ecológica dos Surfistas (Ecosurfi).

Itanhaém é a segunda cidade mais antiga do Brasil, com 14 praias e 27 quilômetros de orla. O município tem cerca de 600 km² de área, sendo 300 deles de Mata Atlântica. O turismo é uma ati-vidade econômica significativa para a região, que é conhecida como “Amazônia Paulista”. Um dos fatores que motivaram João e André a se mobilizar foi justamente esse, já que a grande circulação de pessoas nas temporadas resultava em grandes quantidades de lixo e sujeira nas paisagens. “A ideia surgiu a partir da indignação que sentíamos ao ver nossas praias sujas após feriados e finais de semana”, conta o jornalista. Instruindo-se a partir de conversas e tomando conhecimento de projetos que já atuavam em prol da preservação ambiental, como o Surf Rider Foundation e o No Stress, os dois amigos decidiram entrar nessa onda no ano de 2000.

João não deixa de citar a dificuldade enfren-tada durante esse tempo dedicado à articulação do pensamento sustentável: “Foi tudo muito difícil porque as pessoas diziam que a ideia era boa mas não se dispunham a colocar a mão na mas-sa. Poucos acreditavam que chegaríamos aonde chegamos; pensavam primeiramente nos bene-fícios individuais que nosso trabalho traria, sem VI

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“Foi tudo muito difícil porque as pessoas diziam que a ideia era

boa mas não se dispunham a

colocar a mão na massa. Poucos

acreditavam que chegaríamos

aonde chegamos”

João Malavolta, sobre os dez anos da Ecosurfi

Por Arielli Secco

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encará-lo como uma missão a serviço do planeta”. Os fundadores se ativeram a dizeres como “pensar globalmente e agir localmente”, que até hoje são difundidos por eles, para manter os princípios da preservação e dar continuidade ao projeto. Em 2010, a Ecosurfi completa dez anos de atuação, com ações que envolvem jovens, turistas e a co-munidade litorânea de São Paulo.

A campanha Onda Limpa, por exemplo, é um dos eventos de destaque da entidade. Consiste em um trabalho de sensibilização e conscientização ambiental que acontece no verão e dura dois meses. A estrutura conta com tendas armadas nas praias, onde o público pode realizar atividades

Mutirão de limpeza da praia

João Malavolta

Campanha Onda Limpa

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lúdicas para as crianças, onde há oficinas de artesa-nato com materiais reutilizáveis, exposições sobre o meio ambiente e orientações sobre preservação. A Ecosurfi participa da ação internacional Clean Up the World, que reúne e incentiva empresas, grupos comunitários, escolas, governos e indivíduos na concretização de atividades ambientais em todo o mundo, sempre no mês de setembro, marcando o Dia Mundial da Limpeza de Rios e Praias.

Outros projetos que vêm ganhando espaço são: A Onda É Água Limpa, que, através de uma parceria com a rádio Jovem Pan, veicula boletins diários sobre a gestão sustentável dos recursos hídricos, saneamento ambiental e saúde pública no litoral; O Rio do Nosso Bairro, que tem início em março e vai envolver nove cidades da bacia hidrográfica da Baixada Santista com mobiliza-ções em escolas e formação de educadores sobre questões de saneamento; e Surf Sustentável, uma rede online que reúne surfistas de todo o País na discussão de problemas e soluções para o meio ambiente.

Os resultados desse engajamento trazem nú-meros significativos, que refletem o envolvimento

da sociedade na preservação dos locais onde a ONG atua. “Era difícil você ver pessoas que se mobilizavam pela proteção do meio ambiente, e a Ecosurfi veio com essa proposta através de mutirões e encontros, e isso denota uma mudan-ça de consciência das pessoas por uma causa de interesse coletivo”, ressalta João. Para se ter uma ideia, as ações, que antes contavam com pouco mais de vinte pessoas, hoje mantêm uma participação média de 300 voluntários em cada saída para limpeza das praias.

João Malavolta acredita que o surf contribui para a conscientização ambiental: “Os surfistas têm esse lance da percepção, conhecem os ven-tos, as marés, as luas, os animais marinhos. Esse contato garante um reencantamento humano, voltando ao significado da vida, à comunhão com tudo que está ao nosso redor. Existe um respeito por aquilo que se conhece e só cuidamos daquilo que conhecemos.”

INICIATIVAS EM REDEA partir da rede do programa Surf Sustentável,

surfistas de todo o País mantêm contato para discutir os problemas de cada região do litoral brasileiro e o que pode ser feito para reverter a degradação ambiental. João destaca a parceria com outros projetos, como o Global Garbage, iniciado em 2002 pelo fotógrafo baiano Fabiano Barreto, e o Instituto Ilhas Do Brasil, no Pântano do Sul, em Florianópolis, iniciado em 2005 pelo biólogo e surfista gaúcho Alexandre Guimarães Só de Castro, que tem entre suas iniciativas o movimento Surfando por um Mundo Melhor.

O alerta que demonstrou a necessidade da sustentabilidade no esporte vem também da indústria de surfwear. Os equipamentos utili-zados pelo surf, esporte tão ligado à natureza, são fabricados com materiais extremamente agressivos ao meio ambiente, como o poliu-

retano, que não pode ser re-ciclado. Alexandre lembra o episódio do fechamento da Clark Foam, uma das maiores fabricantes de placas para pran-chas do mundo, por questões ambientais nos Estados Unidos: “Queremos que as fábricas co-mecem a substituir materiais. Já existe lash (cordão) reciclável, raspador de parafina feito de madeira de móveis inutilizados, e até a parafina ecológica, que é fabricada aqui em Florianó-polis e que não é derivada de petróleo.” Todos esses produtos já são comercializados na base do instituto, chamada Espaço Arquipélago.

O objetivo do Surfando por um Mundo Melhor é incenti-var atividades de sensibilização em surf shops e capacitar, em parceria com escolas de surf, instrutores com foco na sus-tentabilidade e valorização da cultura local. A esperança é de que as grandes fábricas e gran-des marcas se envolvam nessa causa quando perceberem um consumidor exigente. Apesar de viver da natureza, desse per-fil saudável, relaxado, de bem com a vida, historicamente a indústria do surf não é assim.

“O mar não está sempre igual. Ele

está diferente! Assim é a vida. Não

adianta a gente querer que a vida seja sempre igual, porque ela não é”

Alexandre Guimarães Só de Castro, diretor geral do

Instituto Ilhas do Brasil

Alexandre Guimarães e seu filho Pepe

Produtos ecológicos comercializados no Espaço Arquipélago

Projeto oferece aulas de surf às crianças da comunidade do Pântano do Sul. Na foto, João Manuel

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TERCEIRO SETOR EM AÇÃOAlexandre de Castro faz parte da Ashoka,

uma organização mundial de empreendedo-res sociais, e ensina que a postura de quem in-gressa no terceiro setor é a de cobrar, orientar, propor soluções, participar dos canais criados pelo governo e pela sociedade, ter um papel determinante na viabilização de projetos. No caso específico do Instituto Ilhas do Brasil, ele conta que é importante entender o perfil das comunidades litorâneas e utilizar o esporte, em especial o surf, na educação socioambiental como estímulo para os jovens: “O surf te ajuda a

enxergar valor na simplicidade das coisas. É um canal de comunicação com a natureza que te permite a conexão com o meio ambiente. Dentro da água somos todos iguais.” E finaliza: “O mar não está sempre igual. Ele está diferente! Assim é a vida. Não adianta a gente querer que a vida seja sempre igual porque ela não é.”

João Malavolta também se refere à importân-cia das organizações sociais e da persistência para a continuidade dos trabalhos, visando uma nova ordem mundial e a valorização do ser humano: “As organizações passam por um processo natural de amadurecimento ideológico e administrativo.

Links:www.ecosurfi.orgwww.ilhasdobrasil.org.brwww.globalgarbage.orgwww.ashoka.org.brwww.cleanuptheworld.orgwww.surfsustentavel.orgwww.projetosurfando.blogspot.com

A partir disso, elas conseguem seu espaço e reconhecimento.”

A revista Visão Ambiental compartilha o espírito de espe-rança e respeito dos surfistas e aproveita para finalizar esta ma-téria à altura: aloha!

Projeto Surfando por um Mundo Melhor, do Instituto Ilhas do Brasil

Equipe Eco-surfi e parceirosD

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VISÃO LEGAL

Antonio Carlos Porto Araujo

IPI sustentável

A recente decisão do governo de prorrogar a redução da alíquota do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) incidente sobre os carros flex e caminhões zero quilômetro traz importantes indicações sobre a agenda am-biental e tecnológica do governo.

Um dos vieses desse incentivo tem como escopo o desenvolvimento de tecnologia para que os novos veículos reduzam a emissão de gases poluentes e gases de efeito estufa, os vilões do aquecimento global.

Sob esse aspecto, seria altamente viável uma complemen-tação da norma, c o m i n c l u s ã o de mecanismos m a i s e f i c a z e s para a renovação da frota, não só neste momento, mas, sobretu-do, em caráter permanente.

Uma das su-gestões é que se crie uma diferenciação de alíquotas para os veículos zero quilômetro com vida útil deter-minada desde a produção. Por exemplo: na compra de um carro novo – ou caminhão –, o indivíduo escolheria o modelo de tributação desse veículo. No caso do automóvel de passeio, a escolha seria pela tributação menor desde que o veículo não pudesse ser licenciado após dez anos de uso.

Se o comprador optasse pelo direito de licenciá-lo indefinidamente, a alíquota dos tri-butos seria aquela do patamar original, sem os incentivos. Ao final dos dez anos, o pro-prietário do carro “incentivado” o entregaria em um dos postos de coleta, para desmonte e reciclagem.

Juridicamente, não haveria qualquer prejuí-zo, já que o comprador faria a opção consciente

ANTONIO CARLOS PORTO ARAUJO é consultor de energia renovável e sustentabilidade da [email protected]

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ao adquirir o carro. No mercado haveria grande quantidade de veículos que não receberam o incentivo e que poderiam ser comercializados normalmente.

Os enormes ganhos se dariam em várias esferas, sobretudo na ambiental. É cada vez mais evidente que o desenvolvimento tec-nológico dos novos veículos e a retirada dos antigos promoveria o consequente resultado de se manter uma frota mais moderna, com menores índices de emissão de gases.

Assim, a indústria automobilística, uma das mais importantes do Brasil, geraria mais empregos e atuar ia mais for temente na questão da pre-servação ambien-tal. Além disso, é fácil imaginar o impulso para o desenvolvimen-to da indústria de reciclagem no

País, extremamente necessária neste momen-to em que sempre vem à tona a limitação da exploração de recursos naturais. Deve-se levar em conta até mesmo a economia de energia elétrica, que é um dos mais importantes insu-mos para toda a cadeia produtiva.

Ou seja: vê-se que a decisão do governo é importante neste momento, mas poderia ser melhorada com mais mecanismos de incentivo e pressão para que a questão da sustentabili-dade tenha seu peso mais reconhecido, com expressivos modelos de crescente aproveita-mento da combustão; diminuição da inten-sidade energética; aumento da capacidade de rodar, na equação quilômetros por litro; e incentivo para ganho de escala na produção de veículos movidos à base de combustíveis renováveis e agroenergia.

É cada vez mais evidente que o desenvolvimento tecnológico dos

novos veículos e a retirada dos antigos promove o consequente resultado de se manter uma frota

mais moderna, com menores índices de emissão de gases

A prorrogação da redução do imposto no setor automotivo traz importantes indicações sobre a agenda ambiental e tecnológica do governo

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AUTOMOTIVOS

Pesquisas em tecnologias renováveis devem tirar os automóveis da lista de maiores poluidores do ar nos próximos anos

Preservando o meio ambiente a toda velocidade

Quem chega de avião a uma grande cidade como São Paulo, de longe pode ver uma fumaça amarela que se espalha por todo o lugar. Nessa nuvem espessa, que impossibilita a visão do horizonte, há uma grande quantidade de gases e partículas nocivas à saúde. Dados do Relatório de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, publicado em 2008 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que os automóveis são a segunda maior fonte de toda a poluição nas regiões metropolitanas do Brasil. Porém, tanto a indústria automotiva quanto os motoristas dão sinais de que pretendem mudar logo esse quadro.

As principais pesquisas feitas no Brasil para diminuir a emissão de gases dos veículos traba-lham no sentido de tornar mais leves os carros e de melhorar a eficiência de seus motores, além de buscarem tecnologias renováveis e recicláveis tanto para os combustíveis como para as peças. Segundo Jomar Napoleão da Silva, vice-diretor do Comitê de Veículos de Passeio da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), há uma tendência na indústria para se utilizar materiais mais leves, como o alumínio e o plástico.

Partes dos veículos que antes eram feitas de ferro ou aço agora possuem compostos plásticos, que já têm resistência parecida e são facilmente VI

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Por Samuel Nunes

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recicláveis. “Os cabeçotes dos motores, por exem-plo: feitos de plástico, reduzem muito o peso dos veículos e, consequentemente, melhoram o desempenho”, diz Jomar. Ele ainda ressalta que materiais alternativos, como a fibra de coco, têm sido usados frequentemente para substituir o próprio plástico em algumas aplicações. A fibra de carbono, usada em carros de Fórmula 1 e carros esportivos, também pode ser uma alternativa em alguns anos, mas ainda deve demorar a chegar aos veículos menores. “Preços mais acessíveis para esses materiais dependem de uma série de fatores comerciais”, lembra Jomar.

Além das peças, os combustíveis renováveis são também fundamentais para reduzir o im-pacto causado pelos veículos. Novas ideias es-tão sendo estudadas, como o uso de hidrogênio e os veículos híbridos (com um motor movido a combustão e outro movido a eletricidade atuando juntos), mas, no Brasil, isso ainda não é comum. Antônio Moreira, professor do Depar-tamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP), acredita que o problema não está apenas em trazer a tecnologia: “A dificuldade é inerente à viabilida-de técnica e econômica dessas alternativas. O hidrogênio não existe livre na natureza; precisa ser produzido. E se gasta mais energia para isso do que se pode tirar dele. No caso dos motores elétricos, ainda não se conseguiu resolver a

“Os cabeçotes dos motores, por

exemplo: feitos de plástico, reduzem

muito o peso dos veículos e,

consequentemente, melhoram o

desempenho”

Jomar Napoleão da Silva, vice-diretor do Comitê

de Veículos de Passeio da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil)

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questão da baixa autono-

mia dos veículos.”Mesmo sem carros elé-

tricos, o Brasil se destaca no cená-rio mundial por apresentar soluções em

combustíveis renováveis. Segundo o professor Moreira, os primeiros estudos datam da década de 30, quando o engenheiro Eduardo Sabino de Oliveira converteu mais de 70 motores para o uso de álcool no Instituto Nacional de Tecno-logia do Rio de Janeiro. Quatro décadas depois,

Oliveira, juntamente com os professores Ur-bano Ernesto Stumpf e Romeu Corsini, da

EESC/USP, participou do processo que levou o governo brasileiro a criar o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), em 1975. Os primeiros

carros nacionais movidos a etanol e gasolina, os chamados “flex”, foram

lançados em 2003.Inovações do setor automobilístico

geralmente são apresentadas nos chamados “carros-conceito”, veículos que raramente che-gam às linhas de montagem, mas que apre-sentam possibilidades de uso para as novas tecnologias. Uma das atrações do último Salão do Automóvel, em 2008, foi o Fiat Concept Car II (FCC II). Com um motor elétrico, ele é capaz de andar até 100 quilômetros sem precisar de recarga. A Fiat também usou essa tecnologia para a produção de dois outros veículos elétri-cos, em parceria com a Itaipu Binacional. Um deles já está disponível para venda no mercado brasileiro (ver box na pág. 23). O revestimento dos bancos possui 30% de poliol, uma fibra feita a partir de óleo de soja reciclado. Segundo a empresa, a mesma tecnologia já é usada em todos os bancos dos veículos de série, mas em menor proporção.

Só produzir carros mais eficientes, no en-tanto, não significa danos menores ao meio ambiente. A professora do curso de Engenharia Ambiental da Universidade do Sul de Santa Ca-tarina (Unisul), Ivete de Fátima Rossato, ressalta que “os impactos se iniciam já na fabricação dos veículos e de todos os seus componentes, na

instalação da infraestrutura necessária para sua produção”.

Alguns exemplos das montadoras mostram que elas têm consciência disso,

investindo em diversas ações de sustentabilida-de e preservação dentro de suas fábricas.

HONDAA empresa japonesa Honda, que tem fábri-

cas de motos no País desde 1976 e de veículos desde 1997, investe principalmente em ações de gerenciamen-to de resíduos. De acordo com a montadora, mate-riais como areia de fundi-ção, madeira, aço, alumínio e papel se transformam em matéria-prima para reutiliza-ção interna e externa. Na sede administrativa da empresa e nas fábricas, todo o lixo é separado e recolhido por uma empresa especializada em reciclagem. Além disso, a fábrica de motocicletas desen-volveu um sistema de transporte por meio de racks retornáveis. Isso acabou com a necessi-dade de se embalar as motocicletas e resultou na diminuição de resíduos provenientes do método antigo.

Também existe um programa de certificação da Honda para suas con-cessionárias. Aquelas que seguem uma série de normas para descarte e recolhimento de todos os seus resídu-os recebem um selo de identificação da fábrica.

FORDMais antiga montadora a se instalar

no Brasil, a norte-americana Ford pro-move diversas atividades internas e externas. Dentre elas, a coleta do óleo vegetal de cozinha dos restaurantes das fábricas. Todo o material é destinado à reciclagem. Fora isso, a empresa também investe em tecnologias renováveis, como o uso da fibra de sisal para a produção dos painéis de portas e dos consoles centrais dos veículos.

Como atividade externa, a montadora pro-move anualmente o Prêmio Ford de Conserva-ção Ambiental. Essa premiação abrange diversos setores da sociedade, entre escolas, desenvol-vedores de produtos e fornecedores.

CG 150 Titan Mix EX e NXR 150 Bros Mix, ambas da Honda

Principais gases responsáveis pela poluição

do ar

- Monóxido de carbono (CO): gás incolor;- Dióxido de nitrogênio (NO2): gás marrom avermelhado;- Dióxido de enxofre (SO2): gás incolor com forte odor;- Dióxido de carbono (CO2); e- Hidrocarbonetos

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RENAULTAo todo, 60% da área do complexo industrial

da Renault do Brasil, em São José dos Pinhais (PR), é de preservação permanente. A empresa investe em programas de restauração e ma-nutenção da mata nativa e do ecossistema ao redor de sua fábrica. Essa iniciativa já rendeu diversos prêmios para a empresa. Além disso, há investimentos em reciclagem e reaprovei-tamento de recursos.

Outra iniciativa é quanto ao descarte de seus produtos. A montadora francesa possui no com-plexo industrial uma área exclusiva para desmon-tagem de veículos fora de uso. Todas as partes recicláveis, como metais e plásticos, são destinados à fabricação de novas peças para veículos. Ao mes-mo tempo, a empresa investe em tecnologias de reuso de outros produtos. Os revestimentos dos carpetes e bancos dos veículos são produzidos a partir de garrafas PET recicladas.

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VOLVOOs suecos da Volvo produzem caminhões

e ônibus em suas fábricas no Brasil. Em todo o mundo a empresa investe no desenvolvimento de veículos mais eficientes, motores híbridos e menos poluentes. Aqui, porém, seus investimentos são voltados para a redução de gastos com energia e diminuição de resíduos em suas fábricas.

Destaca-se também uma iniciativa de reu-tilização de peças. As concessionárias da Volvo contam com um programa de remanufatura de peças, em que as partes avariadas são utilizadas como parte do pagamento na compra de uma equivalente, remanufaturada.

TOYOTAAssim como a Renault, a fábrica da Toyota

também possui uma grande área de preservação ambiental, de cerca de 450 mil metros quadrados. Ações para reduzir o gasto de energia são adotadas

em todas as áreas da empresa. Apoios institucionais para pro-jetos de preservação fazem par-te dos gastos da empresa com atividades socioambientais. Um exemplo disso é a parceria com o Projeto Arara Azul, que visa a preservação das aves do Panta-nal sul-mato-grossense.

De acordo a montadora, o processo de desenvolvimento de seus veículos também leva em conta a capacidade de reci-clagem de seus componentes. Isso ocorre, por exemplo, no recolhimento de baterias usa-das: o mesmo caminhão que entrega as novas peças na loja recolhe as antigas.

MOTORISTAS BUSCAM CARROS MENOS POLUENTES

Os consumidores se mos-tram preocupados com o quanto seus carros poluem. A conclusão é do projeto lançado pela Fiat

O sonho de FragassiO debate sobre como diminuir a poluição gerada pelos veículos é intenso no meio acadêmico. Além da EESC/USP, outras instituições e pesquisadores independentes buscam criar soluções para tornar os veículos mais eficientes, que se aproximem do mínimo de emissões possível. O professor Leone Fragassi é um exemplo. Desde 1985, quando se formou designer, ele tenta criar um veículo que atenda as principais necessidades do consumidor e que não agrida o meio ambiente. “Meu projeto de graduação, na época, tratava de um veículo urbano de dois lugares com mecânica de Fusca para atender a demanda de transporte adequado ao uso urbano. Segundo minhas pesquisas, a média de pessoas que ocupavam os carros nos horários de pico era de 1,8 pessoa, fato que não mudou muito até hoje.”O pequeno carro recebeu o nome de Fragale. Tinha cerca de três metros de comprimento, carroceria em fibra de vidro, lugar para duas pessoas e pesava 340 quilos a menos que um Fusca. “Utilizei o carro por uns cinco anos, até o dia em que uns vândalos puseram fogo nele, fato que, até hoje, não compreendi”, conta Fragassi.Há sete anos que Fragassi desenvolve o projeto de um veículo elétrico. Feito para um ocupante, o carrinho já recebeu diversos prêmios de design. Em 2004, o pro-fessor inscreveu o primeiro carro desenvolvido por ele e seus alunos. “Construímos

um carro elétrico a partir de um kit elétrico de cadeira de rodas ‘emprestado’. Testamos e homologamos o modelo no campo de provas da GM. O protótipo andou por 3 horas na pista de testes, a uma velocidade média de 40 km/h. Até hoje afirmo para a Dreambike, doadora do kit, que foi a cadeira de rodas mais rápida do Brasil.”A ideia do pequeno carro cresceu e chegou a ganhar uma versão híbrida, com um motor de motocicleta e um motor elétrico funcionando juntos. Segundo Fragassi, o modelo alcançou a marca de 113 qui-lômetros por litro de gasolina. O objetivo agora é produzir uma versão elétrica revestida de células fotovoltaicas. A dificuldade, que persiste desde o Fragale, é conseguir patrocínios para tirar as ideias do papel. “Venho construindo esses car-ros com orçamento próprio e material doado por algumas empresas do setor plástico, que sempre acreditaram no desenvolvimento de veículos experimentais sustentáveis e supereconômicos”, diz.

Renault do Brasil: linha de produção no Complexo Ayrton Senna

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Ecologicamente corretosTOYOTA PRIUS: O modelo da montadora

japonesa é sucesso de vendas nos Esta-dos Unidos e em vários países da União Europeia. A versão 2010 combina um motor

1.8 a gasolina e um motor elétrico. Em baixas velocidades, apenas o motor elétrico funciona. À medida que o mo-

torista aumenta a aceleração, o motor convencional é ativado e uma parte de sua energia vai para as rodas, enquanto outra parte recarrega a bateria. Quando o freio é ativado e o carro para, automaticamente o motor a gasolina é desligado para economizar combustível. Nos EUA, o preço inicial do híbrido é de US$ 22,8 mil. Para os padrões de lá, o Prius não está na categoria dos carros populares, apesar de fazer cerca de 30 quilômetros por litro de gasolina.

CHEVROLET VOLT: Lançado como carro-conceito em 2007, deve chegar às ruas americanas no próximo ano. O Volt possui uma bateria capaz de fornecer energia para ro-dar até 64 quilômetros, podendo ser recarregado em qual-quer tomada. E, se a bateria acabar no meio do passeio, não há motivo para desespero: um gerador a gasolina pode carregar novamente a bateria e estender a viagem por mais 420 quilômetros.

HONDA FCX CLARITY: Também é um carro elétrico, assim como o Volt. Mas no lugar do gerador a ga-

solina, o que vem no Honda funciona com cé-lulas de hidrogênio. O resultado da queima desse gás resulta em vapor d’água. A Honda do Brasil diz que ainda não tem previsão de

fazer carros com essa tecnologia no Brasil, nem de importar o FCX Clarity, devido ao elevado custo que o carro teria aqui. Além disso, a montadora alega que demoraria muito até existir uma rede de postos de combustíveis com hidrogênio.

FIAT PALIO WEEKEND ELÉTRICO: Só há 21 deles no Brasil e todos rodam na região da Usina Hidrelétrica de Itaipu. O motivo: esse carro elétrico nasceu de uma parceria entre a Fiat, a Itaipu Binacional e a empresa suíça KWO. Ele possui um motor elétrico que o leva a velocidades de, no máximo, 100 km/h e sua autonomia chega a 120 quilômetros. Dentre as vantagens estão o custo baixíssimo para se carregar a bate-ria e um silêncio interno que dá inveja a modelos de luxo, pois só se ouve o barulho do contato dos pneus com o piso. O problema, porém, é o preço: cada um custou cerca de R$ 140 mil para ser produzido.

IVECO DAILY ELÉTRICO: Assim como o Palio Weekend, o pequeno caminhão de uso urbano

também foi desenvolvido em parceria com a Itaipu Binacional. Este, porém, já está disponí-vel no mercado. Seu motor possui autonomia

de 100 quilômetros e utiliza uma tecnologia semelhante à de carros de Fórmula 1 para armazenar energia durante as frenagens. Com um chassi cabine dupla, pode transpor-tar até seis passageiros e 2,5 toneladas de carga. Tudo isso com velocidade máxima de 85 km/h. Ele pode ser recarregado em qualquer tomada 110 ou 220 volts.

GURGEL ITAIPU: João Conrado do Amaral Gurgel foi um dos principais sonhadores no que diz respeito à fabricação de automóveis no Brasil. Em 1974, ele apresentava o primeiro projeto de um carro elétrico na América Latina. O Itaipu recebeu o nome em homenagem à usina. A revista Quatro Rodas o caracterizou como um “trapézio sobre rodas”. A carroceria do Itaipu era de fibra de vidro e sua velocidade máxima não passa-va dos 50 km/h. Mesmo assim, o projeto deixou uma semente, que foi retomada anos depois, com o lançamento de uma minivan que foi comercializada pela Gurgel.

para a construção de seu terceiro carro-conceito, o FCC III. Em outubro passado, a empresa lançou uma campanha na internet convidando os clientes a darem sugestões para a criação do projeto.

O site www.fiatmio.cc está disponível em três idiomas e já recebeu ideias de pessoas de mais de 40 países, entre eles Alemanha, França, Japão, México, Laos e Vietnã, além do Brasil. Segundo o levantamento feito pela montadora, os clientes buscam um carro urbano, compacto, econômico e que utilize energia limpa e materiais ecológicos. O projeto final do FCC III deve ser apresentado ainda neste ano, no próximo Salão do Automóvel de São Paulo. Os direitos de criação do carro foram lança-dos sobre o sistema Creative Commons, sendo to-talmente livres, ou seja: as tecnologias do próximo carro poderão ser utilizadas e aperfeiçoadas até por outras montadoras, sem qualquer custo.

O professor de design Leone Fragassi (leia mais na página ao lado) acredita que “muitos mo-toristas estão cientes dos danos ambientais que os carros à combustão causam, mas ainda não têm uma segunda opção nas lojas”. Segundo ele, faltam incentivos governamentais, na forma de

créditos bancários e redu-ção de impostos, para

m o d e l o s de emissão

zero. No ano p a s s a d o , a H o n d a lançou no m e r c a d o norte-ameri-

cano um ve-ículo movido a

hidrogênio, que emite apenas vapor d’água pelo cano de descarga. No Brasil,

porém, o carro não deve chegar tão cedo. A empresa alega que o custo ainda é muito

elevado para o mercado nacional e enxerga aqui maior dificuldade de se ter uma infraes-trutura de postos de abastecimento.

Enquanto outros modelos não chegam ao País, algumas medidas podem ser tomadas pelos motoristas que se preocupam com o meio am-biente. Basta seguir algumas dicas do professor Antônio Moreira, da EESC/USP: “Os proprietários de veículos antigos podem contribuir para um meio ambiente melhor fazendo a manutenção regular de seus veículos, trocando velas de igni-ção, reparando carburadores, ajustando o ponto de ignição, entre outras medidas”.

Fiat FCC II

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MERCADO DE TRABALHO

Profissionais têm um grande leque de possibilidades de atuação e já contam com três décadas de regulamentação no Brasil

Tempo bom para os meteorologistas

Estamos sujeitos aos dias de chuva, de sol, às mudanças bruscas de temperatura, às ações do vento, à agitação do mar. Parar para ver a previsão do tempo nos telejornais tornou-se algo tão roti-neiro que parece não mais despertar a curiosidade sobre os bastidores da transmissão. “Mesmo nos dias atuais, em que o meteorologista está ganhan-do cada vez mais espaço nos diferentes setores da sociedade, o reconhecimento do profissional está sempre relacionado à previsão do tempo, se vai chover ou não. Na verdade isso mostra o quão a profissão é desconhecida no seu caráter interdis-ciplinar, que aborda física, matemática, química, astrofísica, oceanografia, geografia e computação”, afirma Lincoln Alves, meteorologista e vice-diretor financeiro da Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET). Ele diz ainda que a falta de conhecimento acerca das atribuições desse profissional muitas vezes acaba dificultando sua inserção no mercado de trabalho, e cita como exemplo os concursos públicos que mencionam o engenheiro agrícola em lugar do meteorologista para uma vaga de climatologia agrícola.

A importância de entender os sinais meteo-rológicos vai além das situações do cotidiano. “A capacidade de prever o tempo e o clima é essencial para um país como o Brasil, seja pela sua extensão territorial, pela atividade econômica baseada na agricultura, na pecuária e na pesca, como tam-bém para garantir a segurança alimentar através de uma previsão de safra confiável, utilizando os conhecimentos e a tecnologia à disposição da meteorologia”, esclarece Luiz Cavalcanti, chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). As previsões meteorológicas são relevantes também para di-minuir os efeitos de catástrofes naturais, uma vez que o atual cenário de mudanças climáticas alerta os profissionais para a frequência cada vez maior de fenômenos como ventos intensos, tornados, tempestades e enchentes.

Parte das ciências naturais, a meteorologia, ou ciência atmosférica, engloba tanto o tempo quanto o clima e compreende aspectos físicos, dinâmicos e químicos da atmosfera. Lincoln ex-plica a base que adquire quem ingressa no curso: “O profissional meteorologista tem uma sólida formação científica e profissional, que o capacita

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Por Arielli Secco

Caderneta de AntoninaO Inmet reúne 12 milhões de documen-tos com os mais antigos registros mete-orológicos do Brasil. Eles constituem a memória do clima no País. É intenção do instituto digitalizar todos esses dados e disponibilizar todas essas observações meteorológicas. A caderneta ao lado contém registros feitos na Estação de Antonina (PR) em junho de 1884, antes mesmo do Inmet ser criado.

“A simples capacidade de

prever o tempo e o clima é essencial

para um país como o Brasil,

seja pela sua extensão territorial,

pela atividade econômica baseada na agricultura, na pecuária e na pesca,

como também para garantir a segurança

alimentar através de uma previsão

de safra confiável”

Luiz Cavalcanti, chefe do Centro de

Análise e Previsão do Tempo do Inmet

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a absorver e desenvolver novas tecnologias, que lhe possibilita gerar, analisar e interpretar infor-mações meteorológicas e climatológicas para aplicação nos diversos ramos das geociências, com visão crítica, criativa, ética e humanística, voltada às demandas sociais”.

O Instituto Nacional de Meteorologia admi-nistra mais de 400 estações no País, distribuídas entre dez distritos regionais. A sede onde se con-centram todos os dados coletados está localizada em Brasília (DF). É lá que computadores proces-sam números relacionados a medição de ventos, umidade relativa do ar, precipitação, pressão atmosférica, etc. Os resultados são equiparados a imagens de satélite, que conferem maior precisão às previsões de curto prazo. Novas imagens po-dem ser geradas a cada meia hora e visualizadas em três canais diferentes: infravermelho, visível e vapor d’água. Outro instrumento comumente utilizado é o radar meteorológico, que fornece a cobertura de áreas em menor proporção, mas que, em compensação, analisa as condições me-teorológicas com mais rapidez.

ÁREAS DE ATUAÇÃOO meteorologista Marcelo Martins, do Cen-

tro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram), órgão ligado à Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), explica que essa ciência tem vertentes bem específicas e possibilidades de atuação que não se atêm ape-nas à previsão do tempo de maneira simplória: “A meteorologia tem diversos ramos. Tem a agrome-teorologia, a hidrometeorologia, a meteorologia aplicada à aviação militar e comercial, à navegação, ao turismo, sempre em benefício da sociedade.” O profissional de meteorologia, portanto, pode trabalhar como pesquisador ou professor, ou nas áreas de agricultura e pecuária, gerenciamento de recursos hídricos, biometeorologia, geração de energia, transportes, construção e urbanismo, indústria e comércio.

Os profissionais do tempo estão sempre em comunicação com órgãos como a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros de cada região, haja vista que a qualquer momento uma situação inesperada pode acontecer. Diante dessa pos-sibilidade, os devidos alertas são emitidos para garantir a segurança da população. No caso da Epagri/Ciram, a equipe de meteorologistas pre-cisa estar pronta para prestar serviço ao público. Onde trabalham, o telefone não para de tocar: quem busca informações ora é a imprensa, ora o

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O modelo foi desenvolvido pelo Deutscher Wetterdienst (DWD), o serviço mete-orológico alemão, e foi implementado no Inmet em dezembro de 1999, através de parceria técnico-científica entre as duas instituições.Utiliza uma grade com espaçamento horizontal de 25 quilômetros, com 301 pontos na direção Leste-Oeste, 301 pontos de direção Norte-Sul, 40 camadas na vertical e modelo de solo de sete camadas.O MBAR é processado duas vezes ao dia (00:00 UTC e 12:00 UTC) para um período de 120 horas de prognóstico. UTC é uma referência padrão de horário mundial, também conhecida como Hora Média de Greenwich.As indicações do mapa acima correspondem às medições dos acúmulos de chuva, captados de seis em seis horas no dia 28 de janeiro deste ano.

Mapa Meteorológico de Precipitação (MBAR)

Centro de Previsão do Inmet

Estações de medição automática e convencional

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Links:www.inmet.gov.brwww.sbmet.org.brwww.epagri.sc.gov.brwww.wmo.int

pescador, ora o turista, ora o comerciante. Além desse atendimento, vários boletins são divul-gados na internet, com análises mais precisas das previsões.

Com o desenvolvimento das tecnologias que auxiliam nas medições, os acertos tornaram-se mais constantes e proporcionaram credibilidade à meteorologia. A chance de acerto na previsão para um período de cinco dias, por exemplo, é de 90%. Para duas semanas, é de 70%, e para um mês, cai para 50%. Marcelo também destaca o reconhecimento que a meteorologia adquiriu no mundo, visto que, desde 1950, a Organização Mundial da Meteorologia (OMM) faz parte dos organismos internacionais especializados da Or-ganização das Nações Unidas. “A OMM é o órgão vinculado à ONU que garante que tudo seja feito de modo padronizado e contempla tudo o que está relacionado ao clima e ao tempo no mundo”.

MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL O exercício da profissão de meteorologista é

regulamentado pela Lei 6.835/80. Lincoln Alves constata que o surgimento de vagas no Sul e Su-deste é predominante, já que nas outras regiões do País há pouco investimento nesses profissionais, tanto por parte do governo quanto das empresas privadas. Ele acredita que isso ocorra porque no sul os impactos climáticos são notáveis e cons-tantes. “No Brasil, as regiões Sul e Sudeste sofrem a influência, no inverno, de frentes frias intensas, que provocam geadas; e no verão, de chuvas tor-renciais, que causam grandes transtornos, tanto em áreas urbanas quanto rurais”.

Para Luiz Cavalcanti, a demanda por pro-fissionais no Brasil varia de acordo com as par-ticularidades de cada região: “O mercado de trabalho no Centro-Oeste é focado na expansão ordenada e com conhecimento das atividades agrícolas; no Nordeste, direciona-se aos proble-mas seculares das secas; no Norte, à preservação das florestas.”

A meteorologista Gilsânia Cruz, também in-tegrante da equipe da Epagri/Ciram, pensa que a visibilidade que a profissão vem adquirindo é consequência da preocupação ambiental depois que catástrofes climáticas tornaram-se constantes na vida dos brasileiros: “É uma ciência relativa-mente nova no Brasil. Só agora que as pessoas estão se dando conta do que elas têm a ganhar

com a previsão do tempo para a agricultura, para o comércio. O espaço que temos hoje não existia antes, e a previsão, da década de 90 para cá, me-lhorou muito.”

Trabalhar com o tempo, principalmente hoje, com mais possibilidades de comunicação e de cobertura de áreas, significa estar preparado para enfrentar mudanças repentinas ou períodos de estabilidade, chuvas de verão ou tornados. Mar-celo Martins destaca justamente esse aspecto da profissão: “É muito gratificante porque não é uma rotina diária. Sempre tem uma diferença de um dia para o outro. A temperatura vai mudar, as pessoas vão nos ligar por motivos diferentes, o mar vai estar diferente, as ondas vão se comportar de uma outra forma. Então, há muito o que se explorar na previsão do tempo.”

“Só agora que as pessoas estão se dando conta

do que elas têm a ganhar com a

previsão do tempo para a agricultura, para o comércio.

O espaço que temos hoje não

existia antes, e a previsão, da

década de 90 para cá,

melhorou muito”

Gilsânia Cruz, meteorologista

da Epagri/Ciram

Cursos superiores no BrasilREGIÃO SUDESTE

Universidade Federal do Rio de JaneiroUniversidade de São Paulo

REGIÃO NORTEUniversidade Federal do Pará

Universidade Estadual do AmazonasREGIÃO NORDESTE

Universidade Federal de Campina Grande (PB)Universidade Federal de Alagoas

REGIÃO SULUniversidade Federal de Pelotas (RS)

Universidade Federal de Santa Maria (RS)

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Meteorologistas e técnicos em Meteorologia da Epagri/Ciram

Mapa meteorológico

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VISÃO POLÍTICA

Conceição Clemente

Qual o futuro da exploração mineral no Brasil?

Inúmeros projetos de lei envolvendo temas de direito minerário estão em tramitação no Con-gresso Nacional. A discussão sobre as propostas legislativas que cuidam do marco regulatório do pré-sal, sobretudo em matéria de participação governamental, reavivaram os debates em torno da mineração, não apenas em relação aos royal-ties, mas também sobre a criação de uma agência reguladora dos recursos minerais. Considerando esse cenário, comento brevemente algumas das propostas em análise no Congresso.

Em 2007, o Projeto de Lei Nº 903 pretendia instituir a Agência Nacional dos Recursos Mi-nerais, extinguindo o Departamento Nacional de Produção Mineral. No entanto, o projeto foi devolvido ao autor por contrariar dispo-sitivo constitucional que determina ser esse tipo de legislação de iniciativa do presidente da República (art. 61, §1º, II, e). Por isso, não temos elementos concretos que nos indiquem as características e as atribuições de um futuro ente regulador.

Apresentado também em 2007, o Projeto de Lei Nº 2.375, que dispõe sobre o regime de aproveitamento das substâncias minerais (com exceção dos minérios nucleares, petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos e das substâncias minerais submetidas ao regime de licenciamento previsto no Decreto-Lei Nº 227), encontra-se atualmente em análise pela Comissão de Trabalho, de Administração e Ser-viço Público.

Esse projeto altera o regime de aproveitamen-to dos recursos minerais ao prever o regime de concessão, precedida de licitação, para a pesquisa e a lavra de substâncias minerais, nos moldes do que ocorre no setor do petróleo (Lei Nº 9.478/97). Não há dúvidas que o atual regime de aprovei-tamento dos recursos minerais não atende às expectativas do mercado nacional, não apenas pela inexpressiva competitividade como também pela ausência de regras (prazos, investimentos mínimos e realização de estudos) que imponham um maior dinamismo às atividades.

CONCEIÇÃO CLEMENTE é sócia da área de mineração do Doria,

Jacobina, Rosado e Gondinho Advogados Associados

www.djrlaw.com.br

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Há projetos (PL 145/2007 e PL 1.117/2007) que cuidam da majoração do percentual dos royalties incidentes no faturamento líquido re-sultante da venda do mineral. Há projeto que cria uma participação especial nos casos de grande volume de produção ou de grande rentabilidade na exploração dos recursos minerais. Há também os que buscam equiparar o setor de minérios ao setor petrolífero como justificativa para alterar

a disciplina da compensação financeira para exploração de recursos minerais (CFEM).

Outros projetos, não menos relevantes, estão em pauta no Congresso. Projetos sobre a explo-ração de recursos minerais em terras indígenas e áreas de fronteira. Todos eles são de grande complexidade e, por isso, necessitam ser deba-tidos entre os diversos agentes econômicos do setor e a sociedade.

Almeja-se a definição dos contornos de um novo marco regulatório minerário capaz de incentivar a atração de investimentos, com a previsão de regras claras e um ambiente político estável, comparativamente aos demais países produtores de recursos minerais. É isso que se faz imperioso há muito no Brasil, país de vocação eminentemente mineral.

Pelas sucessivas interrupções e não con-tinuidade dos trabalhos político-legislativos aqui cogitados, vê-se que o ritmo necessário à potencialização da dinâmica exigida para se estabelecer um consenso mediano sobre o tema – a atualização dos caminhos da mineração no País – ainda está muito distante. E o futuro da exploração mineral no Brasil também se perde na incógnita dessas indefinições do presente.

Não há dúvidas que o atual regime de aproveitamento dos recursos minerais não

atende às expectativas do mercado nacional, não apenas pela inexpressiva competitividade

como também pela ausência de regras

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MERCADO

Aliar consciência ambiental e marketing é uma estratégia muito bem-vinda em tempos de novas atitudes empresariais

Walmart: exemplo de consciência estratégica

O Walmart tem um histórico de atitudes amigas do meio ambiente, sendo pioneiro em muitas ações nesse sentido. E mais uma vez a rede sai na frente, mostrando que é possível congregar parceiros num objetivo comum, visando resultados que vão além do simples interesse mercadológico e comercial.

Numa atitude ímpar e ousada, a empresa buscou alguns de seus fornecedores com uma ideia interessante, mas talvez arrojada demais aos olhos da maioria. Dez desses parceiros abra-çaram a proposta, que previa a criação de um espaço diferenciado nas lojas de toda a rede, onde, com comunicação própria, produtos dis-tintos dos demais ganhariam um tipo de “selo verde”. Os produtos que fazem parte desse es-paço foram selecionados em função de terem em sua formulação, embalagem ou processo VI

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Por Susi Guedes

produtivo algo que os liga ao conceito de sus-tentabilidade ou consciência ecológica.

As empresas que aderiram ao projeto mos-traram-se empolgadas com o desafio e con-fiantes nos resultados. Cada empresa focou a princípio em um produto específico, novo ou já existente, o qual foi desenvolvido, adaptado ou melhorado para atender ao conceito original proposto pelo Walmart. A relação custo x be-nefício se enquadrou na proposta comercial de todos os envolvidos, e o resultado certamente agradou ao consumidor mais exigente.

Aqui está a relação dos primeiros produtos dessa ação, os quais já se encontram disponí-veis em toda a rede. É possível observar que o conceito de responsabilidade ambiental é bas-tante amplo e que detalhes fazem a diferença. Diminuir embalagens, o consumo de energia e de água, trocar matérias-primas, incorporar elementos recicláveis ou reciclados, incentivar a reutilização, criar postos de coleta, dar pre-ferência aos produtos orgânicos e certificados, entre tantas outras ações, algumas mais simples, outras que demandam investimentos mais vul-tosos, trazem consigo retorno a médio e longo prazos, além do mais importante, que é a vonta-de de mudar conceitos e de quebrar paradigmas. Essa é a mais admirável característica da ação comandada pelo Walmart e acompanhada pelas empresas participantes.

Sabão TopMax Conscientização e engajamento de clientes, funcionários e parceiros para a sepa-ração e des-tinação cor-reta do óleo de cozinha

usado; criação de um processo de logística reversa para esse mesmo óleo coletado nas lo-jas participantes; utilização de 20% do óleo de cozinha recicla-do para a fabricação do sabão; aumento do número de pontos de coleta de óleo vegetal nas lojas Walmart; oferecimento de um produto mais sustentável e com preço 20% menor para o consumidor.

Esponja de banho Curauá Consumo 44% menor de ma-téria-prima na produção das embalagens do produto e das caixas de trans-porte; redução de 32% na gera-ção de resíduos sólidos, devida ao desenho inovador da esponja, que permite um melhor aproveitamento da manta de fibra; redução de 52% no consumo de energia elétrica no processo industrial; simpli-ficação do material de emba-lagem para facilitar o processo de reciclagem; incorporação de 42% de matéria-prima de fon-te renovável (fibra de curauá e cordão de algodão); aumento de198% no uso de material re-ciclado com a adição de fibras

Héctor Núñez, presidente e CEO do Walmart Brasil

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Cada empresa envolvida no

projeto focou a princípio em

um produto específico, novo

ou já existente, o qual foi

desenvolvido, adaptado ou

melhorado para atender ao

conceito original proposto pelo

Walmart

PET e de papelão 100% recicladas; uso de ma-téria-prima certificada pelo Conselho Brasileiro de Manejo Florestal para produção das caixas de papelão para transporte dos produtos.

Óleo de Soja Liza Redução de 26% no consumo de água e de 18% no consumo de energia elétrica na produção

das garrafas plásticas; redução de 35% na quilometragem rodada por caminhões

para o transporte de produtos até os centros de distribuição do Walmart Brasil com a otimização de viagens; redução de 56% no consumo de com-bustíveis fósseis por meio da troca de parte da matriz energética de petró-leo para biomassa de origem contro-lada; uso de matéria-prima certificada pelo Conselho Brasileiro de Manejo Florestal e pelo Programa Brasileiro de Certificação Florestal (Cerflor) na produção das caixas de papelão dos produtos finais; redução de 10% na

quantidade de matéria-prima plástica necessária para a produção das embalagens do produto; redução total de 40% nas emissões de gases de efeito estufa.

Pinho Sol Redução de 17% no consumo de material plás-tico da embalagem do produto; embalagens com material PET 100% reciclado, sendo 90% pós-consumo e 10% pré-consumo; redução de 15% da gramatura da tampa com a retirada do selo de vedação, facilitando também o proces-so de reciclagem; utilização de 45% de papelão reciclado pós-consumo nas caixas de transporte, resultando em uma economia de 416 toneladas de matéria-prima virgem por ano; reuso de 3% da água e redução de 6% no consumo de energia durante o processo produtivo; 100% de utilização de papel certificado pelo Conselho Bra-sileiro de Manejo Florestal na produção dos rótulos; utilização de essências provenientes de fornecedores certificados de acordo com a norma ISO 14001.

Matte Leão Orgânico Uso de 100% de erva-mate orgânica, certifica-da pela Ecocert e pelo Instituto Biodinâmico (IBD Certificações), atestando a não utilização de fertilizantes químicos ou pesticidas no seu

cultivo; uso de material 100% reciclado na em-balagem do produto, sendo 30% reciclado pós-consumo; redução da emissão de CO

2 no transporte da erva-mate pelo uso de 10% de biodiesel; redução de 90% na quantidade de tinta de impressão

da embalagem; 93% de redução na emissão de compostos orgânicos voláteis (COV) com o uso de tinta de impressão com baixo teor desses compostos; comunicação na embala-gem sobre o aproveitamento do resíduo do chá como adubo orgânico e sobre o ciclo de vida do produto, desde a produção até sua che-gada ao consumidor final; redução de 23% no consumo de energia e de 36% no consumo de água durante o processo produtivo; utilização de caixas de transporte feitas com matéria-prima certificada pelo Conselho Brasileiro de Manejo Florestal.

Band-Aid Redução de 18% no uso de matérias-primas para a embalagem, que é feita de 30% de matéria-pri-ma reciclada pós-consumo, representando uma economia de mais de 32 milhões de embalagens que utilizariam matéria-pri-ma virgem em sua produção; utilização de 40% de maté-ria-prima reciclada pós-con-sumo na caixa de transporte do produto, representando um ganho equivalente a 1,8 milhão de caixas de papelão; redução de 2 mil toneladas por ano de material em perdas no processo de produção e redução de aproximadamente 1,2 mil megawatt-hora (MWh) por ano de energia; reciclagem de 50 toneladas por ano de resíduos de papel siliconado, que deixam de ser encami-nhados para aterros industriais; redução de 11,6 mil quilômetros em transporte de contêineres de produtos no Brasil e América Latina, devi-

da à redução da embalagem; redução de 3.228 paletes e de 72 contêineres por ano para o transporte de produtos para os Estados Unidos e Canadá, devida à redução da embala-gem; redução das emissões de CO

2, devida ao menor uso de energia no processo produti-vo e no transporte; redução das emissões de CO2, devida à menor quantidade de resí-duos de celulose pós-consumo nos aterros.

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Água Pureza Vital Redução do consumo de material plás-tico utilizado nas garrafas de água sem gás, sendo 36% de redução na massa das tampas das garrafas, 25% de redução nas garrafas de 300 ml e 3% nas de 510 ml e de 1,5 litro; redu-ção do consumo de material plástico utilizado nas garrafas de água com gás, sendo 25% de redução na mas-sa das tampas das garrafas, 25% de redução nas garrafas de 300 ml, 22% nas garrafas de 510 ml e 19% nas de 1,5 litro; eliminação de pigmentos das tampas, facilitando a recicla-

gem e agregando valor na cadeia do pós-consumo; redução no consumo de água, de 26% em São Lourenço (MG) e 51% em Petrópolis (RJ); redução de 9% no consumo de energia em São Lourenço; eliminação do pigmento das garrafas de Pureza Vital e Petrópolis, facilitando a reciclagem e agregando valor na cadeia pós-consumo; redução de 18% no consumo de plás-tico shrink (“termoencolhível”) da embalagem; redução de 25% na massa de papelão utilizada na paletização; redução de 31% no consumo do plástico (stretch film) que envolve os paletes; rótulo mais fácil de ser removido no pós-con-sumo, facilitando sua reciclagem; uso do braile

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nas garrafas, para que possam ser identificadas por consumidores com necessidades especiais; capacitação de 70 educadores da rede escolar de São Lourenço, para que divulguem os conceitos de educação ambiental.

Amaciante Comfort Concentrado Redução de 63% no consumo de papel para as caixas de papelão utilizadas no transporte e distri-buição do produto; redução de 37% no consumo de plástico para a embalagem; redução no consumo de energia para pro-dução e transporte de produ-to; redução do uso de água na formulação do Comfort Con-centrado; redução de 37% na quantidade de resíduo sólido no pós-consumo.

Toddy Orgânico Utilização de 100% de cacau e açúcar orgâni-

cos certificados; uso de ma-terial 100% reciclado para a produção de rótulos (75% a 80% pré-consumo e 25% a 30% pós-consumo); uso de matéria-prima certificada pelo Conselho Brasileiro de Manejo Florestal para produção do rótulo; redução da emissão de gases de efeito estufa; elimi-nação do uso de queimadas

para a colheita da cana-de-açúcar utilizada na produção do Toddy Orgânico.

Pampers Total Confort Redução de 30% no uso de polpa de celulose; redução de 7,5% no volume, pela compactação da embalagem e do produto; redução de 7% no peso total da fralda, resultando em menor gera-ção de resíduos pós-consumo; aumento de 25% na eficiência do transporte do produto, devido

a sua compactação; redução de 9% no consumo de energia utilizada na produção da fralda; redução de 10% nas emissões de CO2, devida ao menor uso de energia no processo produ-tivo e no transporte.

Detalhar cada resultado é um incentivo para que outras empresas empreendam me-lhorias no sentido da susten-tabilidade, e confirma que, na prática, não se deve esperar mudanças vindas do poder público, que parece não con-seguir chegar a um consenso sobre a questão. As mudanças ambientais de peso passam necessariamente pela econo-mia de mercado. Os preços fi-nais ao consumidor não apre-sentam grandes variações, e mesmo que apresentassem, o consumidor consciente diz não se importar em pagar mais se considerar que está agindo em benefício do planeta.

Encantados com o projeto e vislumbrando os benefícios às suas empresas e ao meio ambiente, novos parceiros já manifestaram desejo de parti-cipar dele. Os que já participam planejam inserir outros produ-tos nos “espaços verdes” da rede Walmart. As empresas que farão parte da nova etapa são: Am-Bev, Bunge, L’Oréal, Cadbury, Danone, Kimberly-Clark, Reckitt Benckiser, Santher, Mars Brasil, Whirlpool, Sara Lee e Philips. O mercado aguarda ansioso por elas e seus lançamentos.

De maneira generosa, o Walmart não restringe a venda desses produtos à sua rede. En-tão, espera-se que muitas outras corporações venham a aderir ao projeto. Ganha quem faz, quem vende, quem compra. E o pla-neta também, é claro.

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Daniela de Fiori, vice-presidente de Sustentabilidade do Walmart Brasil

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CONSUMO CONSCIENTE

As carteiras eco-friendly são elaboradas com material reciclável para tornar os bolsos mais práticos e modernos. Feitas em papel ultrarresistente, as carteiras Mojo, criadas pelo designer Pedro Gerab, não rasgam e nem se estragam com água. Leves, possuem seis bolsos para acomodar melhor todos os pertences sem fazer muito volume. Estão disponíveis em três modelos, assinados por alguns dos ilustradores e artistas plásticos mais bacanas da atualidade: Carlo Giovani, Mulheres Barbadas e Wagner Pinto. www.supercoolmarket.com.br

Durante o período de volta às aulas, os biscoitos Trakinas e a Faber-Castell fazem a promoção “Volta às Aulas com Trakinas”. A cada R$ 6 em compras de

produtos Trakinas, o consumidor ganha um Kit Escolar Faber-Castell, composto por um estojo com 6 EcoLápis

bicolores (12 cores), 2 EcoLápis grafite, 1 apontador e 1 borracha. A promoção, válida de 19/1 a 15/2, acontece

em 500 lojas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Todos os EcoLápis comercializados pela Faber-Castell

são produzidos com madeira 100% reflorestada e certificados pelo FSC (Forest Stewardship Council).

www.faber-castell.com.br

A Joyful, marca de roupas femininas, reforça as questões sustentáveis na moda. As peças são feitas à base de tecidos naturais ou ecologicamente corretos: fibras de celulose da marca

Tencel; algodão orgânico oriundo da agricultura familiar (sem

utilização de agrotóxicos); seda, linho e pele de peixe de procedência regulamentada. O tingimento é feito com tintas que têm em sua base extratos vegetais ou minerais ou pigmentos naturais (pau-brasil, açafrão, acácia e nogueira). Até o amaciamento do

tecido é natural, utilizando manteiga de cupuaçu.

Coerente com esse conceito, até a loja foi reformada de acordo com os parâmetros de green building. www.joyfulsustentavel.com.br

A Glisser desenvolveu produtos de higiene pessoal ecologicamente corretos e que não pesam no bolso. Os sabonetes da marca carioca são 100% naturais e feitos com os melhores óleos essenciais, que promovem limpeza, nutrição e hidratação para todos os tipos de pele. As embalagens dos produtos Glisser são recicláveis e a empresa orgulha-se por não realizar testes em animais. www.glisser.com.br

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Os tacos de madeira ganharam versão ecológica. A linha Ecomadeiras, da Lepri, traz pisos de cerâmica feitos a partir da reciclagem de lâmpadas fluorescentes descartadas, o que ajuda na preservação do meio ambiente. Padronagens Embuia e Cerejeira. www.lepriceramicas.com.br

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Germinar : Histórias de

Transformação reúne histórias

de dez profissionais dos

estados do Ceará, Pernambuco,

Bahia, Minas Gerais, Rio de

Janeiro, São Paulo e Santa

Catarina que participaram

do Programa Germinar e

tornaram-se multiplicadores

em suas regiões. São

indivíduos que atuam

como líderes voltados ao

desenvolvimento de pessoas,

grupos e organizações.

Criado em 2002, o programa é

desenvolvido pelo

Instituto EcoSocial.

www.ecosocial.com.br

O livro Função Social do Direito

Ambiental, coordenado por

Maurício Mota, é composto por

textos elaborados a partir das

reflexões e pesquisas científicas

desenvolvidas no Programa

de Pós-Graduação em Direito

da Faculdade de Direito da

UERJ (Mestrado e Doutorado)

– Direito da Cidade. Dividida

em duas partes, a obra aborda

assuntos variados, como Direitos

Intelectuais Coletivos e Função

Social da Propriedade Intelectual,

e Conhecimentos Tradicionais

Associados à Biodiversidade.

www.campus.com.br

A Zig Zag Shoes acaba de trazer a coleção de tênis estilizados da marca Öus, empresa 100% brasileira que tem uma grande preocupação ambiental. Seus produtos são fabricados a partir de garrafas PET e tecidos provenientes de brechós. Além da alta resistência e durabilidade, os tênis possuem estampas exclusivas assinadas pelo artista Rimon Guimarães e versões inspiradas no skatista Giancarlo Niccarato. www.zigzagshoes.com.br

A Cassiopéia coloca no mercado a BioWash, uma linha de lava-louças biodegradáveis que tem entre seus diferenciais a não utilização de matérias-primas petroquímicas, o que lhe garantiu o selo natural do IBD (Instituto Biodinâmico). Além disso, suas fórmulas contêm Aloe vera orgânica, corantes naturais e óleos vegetais. www.cassiopeiaonline.com.br

A lavadora Blue Touch, da Electrolux, possui painel digital acionado com apenas um leve toque, levando a tecnologia dos aparelhos eletrônicos de uso pessoal para os eletrodomésticos. Altamente resistente e seguro, o painel é impermeável e de fácil manuseio e programação. Com capacidade para 12 quilos, a lavadora conta com a função “nível automático de água”, que ajuda a evitar o desperdício. www.electrolux.com.br

A Brasil e Cia, loja de artesanato popular que fica em Ipanema, no Rio de Janeiro, reúne artesãos que trabalham com materiais naturais em produção limitada e com consciência ambiental. Há, por exemplo, bolsas e carteiras feitas com palha de taboa, planta aquática muito comum no estado de Alagoas. Vende pelo site e entrega em qualquer lugar do Brasil ou do exterior. www.brasilecia.com.br

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Quanto mais aumenta o consumo, menos espaço existe para os resíduos

O lixo nosso de cada dia

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RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

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Quanto mais aumenta o consumo, menos espaço existe para os resíduos

Nas últimas décadas, a questão do lixo e sua destinação tem preocupado governantes de todo o mundo. Se providências urgentes não forem tomadas, as futuras gerações podem ser drasticamente comprometidas.

O rápido crescimento da população mundial e, consequentemente, dos resíduos gerados por ela, exige a criação de medidas inovadoras no sentido de abrandar, e muito, as agressões causadas ao meio ambiente.

De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), cerca de 28 mil toneladas de resíduos sólidos domiciliares são produzidas diariamente só no estado. No País, o número chega a 150 mil toneladas. Se os resíduos não forem tratados e destinados corretamente, podem gerar diversos problemas, como a disseminação de doenças através de vetores, a contaminação do solo e das águas (tanto subterrâneas como as superficiais), a po-luição do ar pelo gás metano, entre outros.

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOSOs resíduos sólidos urbanos (RSU) abran-

gem os materiais inertes e orgânicos descarta-dos por cada residência, comércio ou empresa de um município.

Divididos em pelo menos quatro grandes grupos, os diferentes tipos de RSU recebem tratamento específico, obedecendo as normas estabelecidas.

Lixo doméstico: é aquele produzido nos domicílios residenciais, tais como papéis, jor-nais velhos, embalagens de plástico e papelão, vidros, latas e resíduos orgânicos (restos de ali-mentos, trapos, folhas de plantas, papel higiêni-co e até mesmo pequenos animais mortos).

Lixo comercial e industrial: o comércio em geral produz praticamente os mesmos resíduos de uma residência, porém, em maior quantida-de; supermercados e lojas produzem excesso de embalagens; escritórios jogam fora muito papel; restaurantes geram muito lixo orgânico (restos de comida).

Os resíduos das indústrias, assim como os do comércio, são de vários tipos (lixo dos es-critórios, da limpeza de corredores, pátios ou jardins, do próprio processo de fabricação). Mas o que determina realmente a classificação dos RSU é o setor de onde eles se originam.

Existem também os resíduos industriais es-peciais, como explosivos, inflamáveis e tóxicos, que constituem uma categoria à parte. VI

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Lixo público: engloba os resíduos de varri-ção, capina e outros, originados nas ruas e praças públicas. Mesmo que não sejam gerados pelo poder público, passam a ser de sua responsabi-lidade quando a população, indevidamente, os deixa nas ruas (móveis velhos, galhos grandes, entulhos, objetos quebrados, etc.). O ideal seria que o poder público municipal disponibilizasse um local próprio onde a população pudesse despejar esse tipo de resíduo. Mais inteligente ainda seria criar um esquema de reaproveita-mento de resíduos por meio do qual objetos inúteis pudessem ser transformados em algo útil. Móveis velhos e restos de madeira seriam utilizados em oficinas de carpintaria para a cria-ção de móveis novos; galhos de podas serviriam como carvão para pizzarias e restaurantes com forno à lenha; entulhos de construção virariam material para a fabricação de blocos, guias e sarjetas, entre outros.

Lixo de fontes especiais: devido a carac-terísticas próprias, merece cuidado e destino especiais. Subdivide-se em várias categorias: resíduos sólidos de saúde (RSS), resíduos de construção e demolição (RCD), resíduos tóxicos, radioativos, químicos, entre outros.

O TRAJETO DOS RSUO consumo de produtos industrializados

tem crescido nos últimos anos, e o resultado disso é que houve um aumento significativo no volume de lixo urbano. Como consequência, as áreas para destinação de resíduos vão se tornan-do escassas. Uma das soluções para o problema do excesso de lixo passa necessariamente pela mudança de hábitos da população. É preciso que as pessoas consumam menos produtos, que maximizem seu uso e que separem o lixo seco (embalagens de produtos, plásticos, papéis e vidros) passível de ser reciclado. Ou seja: é preciso adotar a cultura do ecologicamente correto, que se resume, basicamente, nas pa-lavras “reduzir, reaproveitar e reciclar”.

A coleta dos RSU é de responsabilidade do poder público municipal, que deve planejar e definir como, quando e onde ela será feita. Entretanto, é possível que ele terceirize o servi-ço contratando empresas especializadas. Para que o esquema de coleta realmente funcione é preciso traçar uma estratégia, que vai desde a otimização de áreas e horários até a destinação final dos resíduos.

A população deve ter conhecimento da cole-

ta em sua região, evitando que o lixo seja depositado em dias errados e cause transtornos a outras pessoas e ao meio am-biente. Isso é muito importan-te, já que cães e gatos de rua costumam perfurar e espalhar o lixo doméstico em busca de alimentos. Se isso acontece, as chuvas podem levar o lixo para rios e mananciais, contaminan-do-os, e também para bocas de lobo e bueiros, entupindo-os e causando alagamentos.

“As cidades brasileiras, algo em torno de 5,5 mil, são as responsáveis pelo seu lixo. Por isso, cada município deve resolver a questão dos resíduos e da limpeza urbana como um todo: capina, varrição, coleta e outros”, ressalta Enio Noronha Raffin, administrador de em-presas e consultor nas áreas de Limpeza Urbana e Meio Am-

“As cidades brasileiras, algo

em torno de 5,5 mil, são as

responsáveis pelo seu lixo. Por isso, cada município

deve resolver a questão dos resíduos e da

limpeza urbana como um todo: capina, varrição, coleta e outros”

Enio Noronha Raffin, consultor nas áreas de Limpeza Urbana

e Meio Ambiente

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RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

que a indicação do caminhão correto depende de vários fa-tores: da necessidade de cada cidade, do número de habitan-tes, das características topo-gráficas, da opção pela coleta mecanizada ou manual, entre outros elementos: “Aqui no Brasil usamos como padrão compactadores/coletores com carregamento traseiro, salvo raras exceções. Por exemplo, de acordo com a distância do aterro e o descarregamento em estações de transbordo é indicado um tipo diferente. Te-mos equipamentos que variam de 6 a 21 metros cúbicos, com-pactadores de pequeno porte para municípios com poucos habitantes e ruas estreitas, e assim por diante.”

VEÍCULOS COLETORESA Cartilha de Limpeza Ur-

bana, elaborada pelo Centro de Estudos e Pesquisas Urbanas do Instituto Brasileiro de Ad-ministração Municipal (Ibam) em convênio com a Secretaria Nacional de Saneamento do Ministério da Ação Social, é um manual simples e eficaz para direcionar as administrações públicas em relação à coleta de resíduos.

Os veículos normalmente indicados para as atividades de

COLETA TERCEIRIZADAQuando uma prefeitura decide contratar o serviço de coleta de lixo de uma empresa priva-da, é preciso que, no edital de licitação, ela defina claramente os pré-requisitos e também as responsabilidades que constarão do contrato. O valor do pagamento para a empresa que presta o serviço pode ser estabelecido de acordo com a quantidade de lixo coletada ou pode ser fixo mensal.

Vantagens• A prefeitura não gasta verbas com a compra e manutenção de equipamentos, nem com a implantação de instalações físicas e nem com a mão de obra;• De modo geral, a mão de obra é mais eficiente, pois é composta de pessoal especializa-do (as prefeituras precisam realizar concurso público para novas contratações e, por isso, acabam direcionando para o serviço os funcionários já contratados de outros setores, muitas vezes sem critério algum);• Maior agilidade para, quando necessário, fazer modificações na equipe ou no quadros de funcionários, bem como para a aquisição de material para os veículos coletores (as prefei-turas precisam abrir licitação para comprar materiais cujos valores sejam maiores do que o estabelecido em lei e precisam também publicar editais para remanejar funcionários);• A prefeitura sabe o quanto vai gastar por mês ou ano com a coleta e, assim, contabiliza o valor acordado no orçamento, equilibrando as contas do município e evitando surpresas. Eventualmente, caso haja a necessidade, pode-se estabelecer a cobrança de taxas ou tarifas para os munícipes.

Desvantagens• É preciso que a prefeitura fiscalize rigorosamente o serviço, principalmente se ele for pago por quantidade de lixo coletado;• Esporadicamente, a prefeitura é obrigada a solucionar ocorrências que não estavam previs-tas no contrato, como a coleta de resíduos decorrentes de inundações, greves, entre outros, o que acarreta em gastos extras;• Risco de fraudes em licitações, como mostram os inúmeros casos ocorridos no Brasil nos últimos tempos.

biente. Enio critica as empresas de lixo pelo fato de que elas só operam em cidades com mais de 50 mil habitantes, já que as menores não são economicamente interessantes: “Temos cerca de 650 cidades com mais de 50 mil habi-tantes que terceirizam os serviços de limpeza urbana, sendo que algumas aplicam o modelo concorrencial de concessão administrativa por longos anos – 20 anos renováveis por mais 20.” O consultor, que também publicou por conta própria o livro Máfia do Lixo al Kartell, conta que no Rio Grande do Sul o Tribunal de Justiça já anulou dois contratos de concessão do lixo (em Rio Grande e em São Leopoldo) devido a irregularidades: “As concessionárias estão esperneando e recorreram ao Superior Tribunal de Justiça. Lá, o resultado pode mudar. Vamos

ver o que acontece.”O transporte do lixo

deve ser realizado por

veículos próprios para a atividade. A Planalto Indústria Mecânica trabalha há 20 anos na fabricação de equipamentos para coleta e transporte de resíduos sólidos domiciliares, industriais e infectantes. O diretor comercial da empresa, Marcos Pacífico Homem, explica

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Caminhão coletor da Planalto

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coleta podem ser caminhões com carrocerias sem compactação ou com carrocerias compac-tadoras. Os caminhões basculantes convencio-nais são vantajosos para o municípios menores, já que podem ser utilizados em outros serviços públicos; por outro lado, podem espalhar lixo e chorume pela cidade. Segundo a cartilha, outro ponto a ser observado na hora de escolher o caminhão apropriado é a altura da carroceria, que não deve exigir grande esforço dos garis na manipulação do lixo. Já o caminhão baú permite que o lixo recolhido fique bem acon-dicionado e não se espalhe durante o trajeto, mas o problema é justamente a dificuldade de arrumá-lo em seu interior.

Os caminhões compactadores são os mais utilizados e, certamente, os que apresentam mais benefícios, já que, devido aos seus meca-nismos, têm capacidade de transportar maior quantidade de lixo, agilizando tanto a coleta quanto a descarga. São recomendados para áreas de média e alta densidades demográficas, onde possam circular em vias que apresentem condições favoráveis de tráfego. Eles só não são tão interessantes para as cidades com baixo número de habitantes, pois seus preços são bem mais elevados e a manutenção deve ser feita com muito mais frequência, o que acarreta em mais gastos.

Assim, o ideal é que os municípios escolham o veículo coletor de acordo com alguns fatores como a quantidade do lixo, o local onde o ca-minhão irá trafegar e o valor do equipamento e de sua manutenção. Em resumo, devem levar em conta a relação custo x benefício. Nunca é demais lembrar que, em cidades médias e grandes, existem áreas com características di-ferentes entre si, que podem justificar o uso de diversos tipos de equipamentos.

ENTERRO DIGNOÉ obrigação de todo município manejar ade-

quadamente seus resíduos. Mas, na prática, isso está longe de acontecer. Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2008, elabora-do pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), 3.109 municípios possuem algum programa de coleta seletiva. Apesar desse número re-presentar 55,9% do total, ainda falta muito. Falta também consciência a muitas pessoas que podem contar com o serviço de coleta Fontes: O Estado de S. Paulo e www.linde.com

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Imagine caminhões coletores de lixo, cen-tenas deles, transitando pela cidade sem causar poluição. Na verdade, nem é preciso imaginar, pois, desde novembro de 2009, o metano gerado pela decomposição de detritos no aterro de Altamont, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, é trans-formado em gás natural liquefeito (GNL) para abastecer toda a frota das cidades de Oakland e São Francisco. O GNL é um combustível que produz menos dióxido de carbono do que a gasolina convencional e, por isso, é muito menos poluente. É impor-tante destacar que o metano utilizado na fabricação do GNL é capturado antes de ser absorvido pelo ambiente. Segundo a Agência de Proteção Ambien-tal dos Estados Unidos, dos cerca de 1,8 mil aterros municipais espalhados pelo país, 517 produzem energia, ou seja, quase 30% deles têm projetos voltados à preservação do meio ambiente. Os aterros têm os ingredientes necessários para a produção de metano, que é 21 vezes mais eficaz do que o CO2 na retenção do ca-lor na atmosfera. Restos de comida, papéis, vegetais e resíduos orgânicos são alimento para as bactérias. Esses materiais se fermen-tam à medida em que são decompostos, gerando gases em abundância, entre eles, o metano (cerca de 50% do total). Quase 500 caminhões de lixo e reciclagem

NA CALIFÓRNIA, O COMBUSTÍVEL

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da empresa Waste Management foram de-senvolvidos para receber o combustível ecológico ao invés do diesel. O GNL vem do lixo despejado desde 1980 no aterro de Altamont. O gás metano produzido nos 96 hectares do aterro é sugado por tubos e enviado para uma máquina que o purifica e o transforma em gás natural. São mais de 100 poços com tubos pretos que retiram o metano a vácuo das pilhas de lixo. O GNL é bombeado para os caminhões de lixo e reci-clagem em uma estação de Oakland. Já em outras partes da Califórnia os veículos são abastecidos em postos especializados.A usina de Altamont foi desenvolvida pelo Grupo Linde, que também administra a fábrica de GNL. O valor investido, cerca de US$ 15,5 milhões, foi custeado com subsí-dios de quatro agências estaduais de meio ambiente. Esse valor é muito mais alto do que o normalmente dispendido para cons-truir uma pequena usina elétrica, o que torna o projeto inviável para a maioria dos países. Por outro lado, a empresa estima que a usina produzirá combustível suficien-te para os próximos 20 anos ou mais. O aterro de Altamont é o maior do mundo em obtenção de GNL, produzindo 49,4 mil litros por dia e, consequentemente, reti-rando do meio ambiente mais de 30 mil toneladas de CO2 por ano.Espera-se que, com o avanço da tecnologia, os custos se tornem mais baixos e, assim, projetos inteligentes como esse espalhem-se pelo resto do mundo.

A maior usina de Gás Natural Liquefeito (GNL) do mundo, na Califórnia (EUA)

Motorista enche o caminhão-tanque com GNL

Os tanques de armazenamento tem capacidade para até 15 mil litros de GNL

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RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

seletiva. “Separar o lixo seco do úmido já é um grande passo e um bom começo”, diz a bióloga e ambientalista Paula Batassini.

Todo o lixo que não é separado pela popula-ção vai para os aterros, onde deveria passar por uma triagem e, depois, ser destinado correta-mente. Mas o que acontece em grande parte do País é diferente: caminhões e mais caminhões de lixo são jogados diariamente a céu aberto e sem critério algum. Lixo orgânico misturado com alumínio, plástico, papel, pilhas, baterias – itens que demoram centenas de anos para se decompor, contribuindo para a contaminação do solo e do ar e para a diminuição das áreas de depósito. “Consumimos milhares de produtos e geramos montanhas de resíduos anualmente; então, se uma sacola plástica pode demorar até 200 anos para desaparecer, dá para imaginar o tempo necessário para reparar esse dano ao meio ambiente?”, indaga a bióloga.

Em países como a Coréia do Sul e a China, a legislação proíbe o fornecimento de sacolas plásticas aos consumidores. Em muitos países europeus, as sacolas plásticas são cobradas, o que faz com que a população leve sacolas retor-náveis às compras. Na Suíça, os moradores de Berna, por exemplo, têm de pagar pelo lixo não reciclável que produzem – um saco de 60 litros custa 3 francos suíços (aproximadamente R$ 5)

– e a coleta nas ruas é feita duas vezes por se-mana. Mas os sistemas de coleta e de cobrança das taxas variam de cidade para cidade.

O DESTINO FINALUma das etapas mais importantes de todo o

processo de coleta e encaminhamento do lixo é a escolha do local onde ele será depositado.

Depois da coleta, os RSU podem ter três destinos: aterro sanitário, aterro controlado ou lixão/vazadouro. Dependendo do local a que será destinado, o lixo passa por uma triagem, quando são retirados os resíduos que poderão ser reaproveitados. Na maioria das vezes, essa

O TRAJETO IDEALNum mundo perfeito, os resíduos orgânicos seriam coletados diariamente. Eles estariam devi-damente separados do lixo reciclável, para que tivessem como destino final o aterro sanitário. A coleta seletiva seria feita três vezes por semana, recolhendo plásticos, papéis, vidros e metais já previamente separados. A cada quinze dias passariam os caminhões de coleta de entulhos – não de resíduos de construção, mas de objetos velhos ou simplesmente indesejados (por exemplo, um liquidificador que não funciona, mas que poderia ter utilidade para alguém que soubesse consertá-lo).Os aterros sanitários ficariam em locais afastados das cidades e seriam cercados por uma enorme plantação de eucaliptos cheirosos. Damas-da-noite também seriam uma boa opção. Uma parte de sua área seria usada para compactar o lixo; a outra, para abrigar usinas de energia, de reciclagem e de compostagem.Assim que os caminhões carregados chegassem, seriam pesados por uma balança precisa e específica, que forneceria os dados gerenciais necessários para o controle do lixo. Logo depois, o lixo da coleta seletiva seria descarregado na usina de reciclagem. Os resíduos orgânicos iriam para a usina de compostagem, onde seriam transformados em adubo, reduzindo significativamente o volume destinado ao aterro. Já os gases liberados durante o processo de decomposição do lixo seriam transformados em energia, o suficiente para manter o aterro, os caminhões e muito mais.Toda vez que uma carga fosse depositada no aterro, um trator a empurraria contra um barranco para, então, subir e descer a nova rampa umas cinco vezes. Com isso, o volume do lixo seria reduzi-do a cerca de 10% do volume que teria se fosse simplesmente despejado no solo.No final do dia, o montante de resíduos receberia uma cobertura de terra de cerca de 30 centíme-tros, ficando, assim, constituída a célula sanitária. Quando atingisse o limite de sua capacidade, o aterro seria selado, recebendo uma camada de 60 centímetros de terra bem compactada.

triagem é feita por cooperati-vas de catadores de recicláveis, que, em parceria com o poder público ou com a iniciativa pri-vada, fazem a separação do lixo em esteiras ou galpões.

Os resíduos que não inte-ressam para essas cooperativas acabam parando em aterros apropriados. Só na Grande São Paulo são recolhidas 15 mil toneladas de lixo por dia (lixo residencial, de saúde, res-tos de feiras, podas de árvores, entulho, etc.), informa a Secre-taria Municipal de Serviços. As coletas seletiva, de resíduos do-miciliares e de resíduos hos-pitalares são executadas por diversas concessionárias. No total, essas empresas possuem quase 500 veículos (caminhões compactadores e outros espe-cíficos para o recolhimento dos resíduos de serviços de saúde) e empregam cerca de 3,2 mil trabalhadores, beneficiando as 11 milhões de pessoas que vi-vem na região. A maior parte do material coletado é levada para o aterro de Caieiras. O restante vai para o aterro São João, em São Mateus, e para o CDR Pe-dreira, um aterro particular.

Em 2008, foram recolhi-das por dia, em média, 9,5 mil toneladas de resíduos do-

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Rodotec: desenvolvimento de coletores e compactadores de resíduos sólidos

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GEA Sistemas de Resfriamento Ltda.Al. Venus, 573, Distr. Industrial American ParkIndaiatuba - SP - CEP: 13347-659Fone: (19) 3936.1522Fax: (19) 3936.1171E-mail: [email protected]

Sistemas de Resfriamento

TORRES DE RESFRIAMENTO DE ÁGUA• Resfriamento de água, água contaminada ou efluentes• Circuito aberto em PPRFV ou concreto• Circuito fechado em PRFV ou chapa galvanizada com serpentinas em aço inox ou aço galvanizado

TUBE dek®• Placas lamelares• Projetos aplicáveis:- Processo físico-químico Floculação-Decantação- Água de lavagem de filtros- Sedimentação primária- Lodo ativado- Polimento final

Linha BIO dek®• Enchimentos estruturados• Projetos aplicáveis:- Filtros biológicos percolares- Filtros submersos (aerados e anaeróbios)- Filtros anóxicos- Lavadores de gases

Linha BCN®• Mídias randômicas• Projetos aplicáveis:- Reatores de leito fluidizado- Reatores anóxicos- Reatores de alta carga

ATERRO SANITÁRIO, ATERRO CONTROLADO E LIXÃO

O aterro sanitário é o lugar mais adequado para os resíduos sólidos. O lixo é disposto em ca-madas que, por sua vez, são cobertas com material inerte – são as chamadas “células sanitárias”, que têm o objetivo de evitar a propagação de mos-cas, baratas, ratos, urubus, etc. Outro diferencial dos aterros é que eles são dotados de sistemas de drenagem e tratamento para os gases e os líquidos produzidos pelo lixo.

Todos os projetos devem observar os critérios e normas operacionais específicas, de maneira a evitar danos ou riscos à saúde pública e de minimizar os impactos ambientais.

A Norma Técnica NBR 8.419, do ano de 1984, es-tabeleceu algumas das regras para a viabilidade dos

aterros sanitários. Ela determina, por exemplo, que esses

aterros não podem ser construídos em áreas sujeitas à inun-

dação e que entre a superfície inferior do aterro e o mais alto nível do lençol freático deve ha-ver uma camada de, no mínimo, 1,5 metro de solo insaturado. Outro detalhe importante é que o solo deve ser argiloso, ou seja, de baixa permeabilidade.

Os aterros controlados têm esse nome porque se adequa-ram tardiamente às normas dos aterros sanitários. Ou seja: embora hoje recebam o lixo de maneira correta, o fato é que foram iniciados sem a imper-meabilização de base. Como eles não dispõem de sistemas de tratamento dos gases e do chorume, as águas subterrâneas acabam sendo atingidas.

Já os lixões são aqueles que recebem qualquer tipo de resí-duo sem qualquer cuidado ou preparação do solo. Todo o lixo é simplesmente depositado a céu aberto.

Referências:www.mudancasclimaticas.andi.org.br www.forumclima.org.br www.planetasustentavel.abril.com.br www.coppe.ufrj.br

Coleta de RSUO Brasil evoluiu na questão da coleta de RSU entre 2007 e 2008. Em todas as macrorregiões do País, o índice de coleta cresceu mais que o índice que mede a quantidade de lixo produzido por pessoa. Em média, enquanto a quantidade de lixo per capita cresceu 2,8%, a quantidade de resíduos sólidos urbanos coletados cresceu 5,9%.Coleta seletivaDos 5.565 municípios existentes no Brasil, aproximadamente 56% indicaram a existência de iniciativas de coleta seletiva. Porém, muitas vezes as iniciativas dos municípios resumem-se na implementação de pontos de entrega voluntária ou na simples formalização de convênios com cooperativas de catadores para a execução dos serviços.Destinação final dos RSU coletadosSão quase 150 mil toneladas de lixo coletadas diariamente. Desse total, 55% recebeu destina-ção correta e adequada (o aterro sanitário). O restante, ou seja, 67 mil toneladas de lixo, ainda foi para aterros controlados ou lixões.Serviços de limpeza urbanaO negócio da limpeza urbana movimentou a economia do País em 2008. Cerca de R$ 12 bilhões foi a quantia gerada pelos serviços prestados por empresas privadas, o que atesta a importância desse ramo na economia brasileira.

DADOS SOBRE OS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL

Fonte: Panorama de RSU no Brasil 2008, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe )

miciliares, 130 toneladas de recicláveis, 270 toneladas de varrição, 3 mil toneladas de lixo inerte e 90 toneladas de resíduos hospitalares.

Além dos aterros sanitários, existem outros destinos para o lixo, como, por exemplo, as usinas de compostagem, os incineradores e as usinas de reciclagem. Porém, ainda há localidades onde os resíduos acabam parando em lixões e aterros clandestinos, sem ne-nhuma fiscalização e transbor-do correto.

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Impasses e divergências impossibilitaram um acordo firme e obrigatório entre as nações participantes da COP15

Uma conferência muito morna

Cento e noventa e três países tiveram duas semanas de reuniões para discutir as mudanças climáticas mundiais. Diversas culturas, economias e diferenças reunidas em torno de um objetivo principal: chegar a um acordo para reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera, já que o Protocolo de Kyoto expira em 2012. O que fica no ar, porém, é a sensação de desapontamento e de resultados insatisfatórios para o que se es-perava do evento. Sem decisões concretas, seja na perspectiva política ou na econômica, ainda parece faltar uma percepção mundial de que a sociedade é parte integrante do meio ambiente, VI

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Por Arielli Secco e que, por isso, ele deve ser considerado quando o assunto são os interesses de crescimento e desenvolvimento dos países.

A Organização das Nações Unidas (ONU) conta com dois grupos de trabalho sobre mu-danças climáticas: o de Novos Compromissos para os Membros do Anexo I do Protocolo de Kyoto (AWG-KP), criado em 2005, e o de Ações de Cooperação a Longo Prazo (AWG-LCA), criado em 2007. Eles deveriam apresentar, na COP15, um relatório sobre o que será feito para conter a elevação da temperatura global. O AWG-LCA e o AWG-KP cuidaram de questões diferentes. O primeiro tinha responsabilidade de estabelecer metas para todos os países voltadas à redução

Hall da conferência no dia da abertura

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da emissão de gases do efeito estufa, enquanto o segundo devia tratar da sequência do Protocolo de Kyoto, a partir de 2013.

Os dias da COP15 renderam todo tipo de manchete aos jor-nais, mas não a mais esperada: a notícia sobre um avanço nas conversas em torno dos investi-mentos e ações para uma meta global que vise à manutenção do meio ambiente até o final do século. A Visão ­Ambiental traz aqui um apanhado dos fatos que

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marcaram a Conferência do Clima e que repercu-tiram na imprensa de 7 a 18 de dezembro.

TENSÃO ­E ­RITMO ­LENTO ­NAS ­NEGOCIAÇÕESDurante a abertura, a prefeita de Copenha-

gue, Ritt Bjerregaard, fez um trocadilho entre o nome da cidade e a palavra “hope” (esperança, em inglês). Ela afirmou que o lugar precisava se tornar “Hopenhague”.

Nos primeiros dias da COP15, EUA e China – os dois países que, juntos, emitem 40% do total de gases poluentes no mundo – trocaram acusações e cobranças. De um lado, a China declarava que os Estados Unidos e os países da União Europeia têm o dever de disponibilizar tecnologia e dinheiro como compensação pela emissão histórica de poluentes na atmosfera; de outro, Todd Stern, chefe da delegação dos EUA, alegou que os fundos públicos estadunidenses não iriam para a China. De acordo com o Portal Exame, Todd afirmou aos jornalistas. “Nós gosta-ríamos de direcionar nossos recursos públicos para os países mais necessitados”.

Foi um conflito de palavras entre os blocos das nações desenvolvidas e das em desenvolvi-mento que se estendeu até o fim das negocia-ções, já que nem todos os países reconheceram o acordo a que alguns chefes de estado chega-ram no último dia da conferência.

RENÚNCIAS ­E ­INSATISFAÇÃONa reta final da COP15, Connie Hedegaard,

presidente da cúpula da ONU sobre mudanças climáticas, renunciou ao cargo. O fato pode

ter sido consequência de polêmicas, já que a ex-ministra do meio ambiente dinamarquesa foi acusada de pretender beneficiar os países ricos durante as negociações, interrompidas pelo bloco africano no dia 14. A substituição de Connie pelo primeiro-ministro Lars Lokke Rasmussen ocorreu no dia 16. Connie justifi-cou sua renúncia alegando que a função era apropriada ao primeiro-ministro, devido ao grande número de líderes políticos presentes na conferência. Alguns dias depois, houve uma nova troca: Philip Weech assumiu o cargo, tor-nando-se o terceiro a presidir a COP15.

As conferências mundiais sobre o meio ambiente promovidas pela Organização das Nações Unidas tiveram seu marco inicial em Estocolmo, capital da Suécia, no ano de 1972. Esse primeiro movimento no sentido de unir diferentes nações na busca de um pensamento comum, que aliasse o homem ao meio ambiente, resultou apenas em uma declaração de princípios. O primeiro documento com uma visão crítica e concreta dos modelos de industrialização, porém, foi publicado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. O Relatório Brundtland, também conhecido como “Nosso Futuro Comum”, tratava da necessidade de cooperação internacional e da adoção do desenvolvimento sustentável como garantia de recursos futuros. No ano de 1992, em resposta ao documento, ocorreu a ECO92, ou Cúpula da Terra. O envolvimento da sociedade civil foi significa-tivo e os destaques foram: lançamento da Agenda 21, um plano

com a função de direcionar o planejamento de ações sustentáveis dos países que assinaram o acordo; a Convenção da Biodiversida-de, para preservação das espécies naturais do planeta; a Conven-ção do Rio, que conciliava soberania, direito ao desenvolvimento e manejo sustentável dos recursos naturais; e a Convenção do Clima, que iniciou as articulações para a elaboração do Protocolo de Kyoto, negociado em 1997 no Japão. Vale lembrar que esse protocolo expira em 2012 e o mundo já entrou em contagem regressiva para o estabelecimento de acordos que formalizem um novo protocolo ou que dêem continuidade ao que já foi proposto em 1997.A partir de 1995, como resultado das discussões da ECO92, os países signatários das Conferências das Partes (COPs) passaram a se reunir anualmente para estabelecerem de metas de redução

na emissão de gases poluentes.

Histórico das conferências pelo clima

O acontecimento revelou certa falta de rigidez na dire-ção da cúpula. Durante uma entrevista à Globo News, Sér-gio Besserman, economista e comentarista de sustentabi-lidade, afirmou que a Dina-marca não tinha peso econô-mico e político para assumir a liderança de um evento de tamanha dimensão.

Em artigo publicado no jornal Planeta Coppe (do Insti-

Reunião entre chefes de Estado, chefes de governo e ministros

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tuto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia), Luiz Pinguelli Rosa, coordenador do Programa de Planejamento Energético da Coppe e secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, reforça essa ideia. Escreveu ele: “Os países de-senvolvidos ameaçaram dar o calote climático: queriam extinguir o Protocolo de Kyoto, pois a maioria não está cumprindo as metas a que se obrigaram. Faltou na reunião uma liderança de nível global, que não foi assumida por Oba-ma, contrariando as expectativas.” Pinguelli, que foi presidente da Eletrobrás no início do governo Lula, acha que o presidente brasileiro preencheu esse vácuo porque foi aplaudido em discursos improvisados, criticou o rumo que a conferência tomou e porque tachou de intransigentes os países que não quiseram abrir mão de seus interesses.

O ­BRASIL ­EM ­COPENHAGUEA comissão brasileira contou com gente

como: Dilma Rousseff (ministra-chefe da Casa Civil), Celso Amorim (ministro das Relações Ex-teriores), Luiz Alberto de Figueiredo Machado (embaixador e diretor de Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores), Carlos Minc (ministro do Meio Ambiente), Sérgio Rezende VI

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(ministro de Ciência e Tecnologia), Suzana Khan Ribeiro (secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Am-biente), José Serra (governador do Estado de São Paulo), e muitos outros. Ao todo, 17 membros da delegação foram os responsáveis por articular as propostas do País nas reuniões.

Os primeiros compromissos, com a chegada do presidente à capital da Dinamarca, foram reuniões com Gordon Brown (primeiro-ministro britânico), com Lars Loekke Rasmussen (quando ainda presidia a Conferência do Clima), com representantes de países da América Latina e com o grupo que representava os países africa-nos. No dia 18, em discurso durante uma sessão plenária de debate informal, Lula relatou sua

INTERNACIONAL

Acordos Internacionais pela Sustentabilidade

• Declaração da ONU sobre Direitos Humanos (1948) • Declaração da ONU sobre o Ambiente Humano (1972) • Declaração da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvol-vimento (1972) • Agenda 21 • Declaração de Joanesburgo e Plano de Implementação (2002) Fonte: Vitae Civilis (www.vitaecivilis.org.br)

Chegada de Obama no Bella Center, hotel em Copenhague onde foi realizada a conferência

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Dilma Rousseff entre ministros da China, Índia e África do Sul

Ban Ki-moon, secretá-rio-geral das Nações Unidas, em conversa com Yvo de Boer, secretário-executivo da UNFCC, Lars Lokke, primeiro ministro di-namarquês, e Richard Kinley, secretário-executivo adjunto da UNFCC, durante a sessão de encerramen-to da COP15

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frustração diante da inviabilidade de acordos. Disse ele: “Eu adoraria sair daqui com o docu-mento mais perfeito do mundo assinado. Mas se não tivemos condições de fazer até agora (...), eu não sei se algum anjo ou algum sábio descerá neste plenário e irá colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até a hora de agora.”

Ao fim da conferência, o Brasil estabeleceu objetivos que se propôs a cumprir voluntaria-mente: o País pretende reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% e a diminuir de 36,1% a 38,9% a emissão de gases do efeito estufa até 2020.

No programa de rádio Café com o Presidente do dia 21 de dezembro, Lula falou que ainda há mais questões para resolver: a do desmata-mento do Cerrado; a do setor siderúrgico, que precisa utilizar carvão vegetal, e não carvão mineral; e a da matriz energética brasileira, em-bora 85% da energia elétrica já seja produzida de maneira “limpa”.

As metas de redução do Brasil foram base-adas em um cálculo da equipe da Secretaria de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, que teve supervisão da Casa Civil e participação dos ministérios da Ciência e Tec-nologia, Minas e Energia e Agricultura, além da

Referências:www.mudancasclimaticas.andi.org.br www.forumclima.org.br www.planetasustentavel.abril.com.br www.coppe.ufrj.br

Fique por dentro• A ONU lançou 2010 como o Ano Internacional da Bio-diversidade, oficializando a data durante a 2ª Reunião so-bre Cidades e Biodiversidade, em Curitiba, no dia 7 de janei-ro. Já está sendo preparada a 10ª Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica, marcada para 10 de outubro em Nagoya, no Japão.

• A COP16 acontece no México em 2010, entre 29 de novembro e 10 de dezembro.

• A União Europeia confirmou com a ONU, em 27 de janeiro, o compromisso para reduzir as emissões de CO2. Os países da UE se comprometem a reduzir em 20% as emissões até 2020, e anunciaram a pretensão de chegar a 30% se houver um esforço maior dos integrantes.

contribuição de instituições federais de pesquisa (Inpe, Embrapa e EPE).

FICOU ­PARA ­2010Nenhum acordo legal ou obrigatório foi

fechado. O documento final da Conferência de Copenhague foi uma carta de intenções assinada por Brasil, Índia, EUA, China e África do Sul, sem o reconhecimento de países como Venezuela, Sudão, Bolívia, Nicarágua e outros. O protocolo das Nações Unidas tem como pre-missa a unanimidade, ou seja, a oposição de apenas um país já é o suficiente para invalidar qualquer acordo.

A carta de intenções defende que as nações trabalhem para que o aumento da temperatura global não ultrapasse 2 oC, mas não especifica nenhuma meta de redução para a emissão de gases do efeito estufa. Agora, o objetivo é che-gar a um acordo obrigatório, com valor legal, até a realização da COP16, no México, neste ano.

O resultado de dois anos de preparação e duas semanas de conferência é um texto de duas páginas e meia, que pode ser acessado no endereço eletrônico da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC): www.unfccc.int/files/meetings/cop_15/application/pdf/cop15_cph_auv.pdf

À esquerda na foto, Jacob Zuma, presidente sul-africano, e Wen Jiabao, premiê chinês; à direita, Manmohan Singh, primeiro-ministro indiano, e Luiz Inácio Lula da Silva

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EcoSoftware Sistema de Administração

de ResíduosAumente o lucro diminuindo as perdas

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RECICLAGEM

Por falta de conhecimento da população, esse material 100% reaproveitável e totalmente atóxico ainda não conquistou espaço no cenário da reciclagem do País

Isopor para o que der e vier

Que o isopor é conhecido e tem dezenas de utilidades, todos sabem. Ele está nas prateleiras dos supermercados, embalando produtos que precisam de proteção, em decorações de festas, entre tantos outros lugares. O que poucos sabem é que “isopor” é a marca registrada do poliestire-no expandido, uma espécie de plástico inflado com ar. Esse material chegou ao Brasil nos anos 60 por intermédio da Isopor – atual Knauf Iso-por – e, por isso, ficou conhecido pelo nome da empresa e não por seu nome genérico.

O isopor é, na verdade, a marca comercial para dois tipos de produtos: o poliestireno ex-pandido (utilizado na fabricação de caixas tér-micas para alimentos e bebidas, nas embalagens protetoras de aparelhos elétricos e eletrônicos, entre outros) e o poliestireno extrusado, que se diferencia do expandido por seu processo de produção e por suas aplicações (é utilizado, por exemplo, para fazer copos e bandejas). De acordo com a norma DIN ISO 1.043/78, a sigla EPS designa o poliestireno expandido, e XPS, o poliestireno extrusado.

Diferentemente do que se costuma ouvir, o isopor, apesar de não ser biodegradável, é 100% reciclável. Através de processos industriais, pode ser reutilizado como matéria-prima na fabricação de diversos produtos e até mesmo voltar a sua forma original.

A ORIGEM E SUA FORMAÇÃOTecnicamente chamado de EPS, o poliesti-

reno expandido, ou isopor, teria sido acidental-mente “descoberto” em 1839 por Eduard Simon, um farmacêutico de Berlim, que destilou uma resina de âmbar e a chamou de estirol. Depois de alguns dias ele percebeu que a tal subs-tância havia inchado, provavelmente devido à oxidação, tomando a forma de uma subs-VI

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Por Tais Castilho

tância gelatinosa, a que chamou de óxido de estirol (estiróxido). Outra versão dá os louros aos pesquisadores químicos Fritz Stastny e Karl Buchholz. Eles criaram o poliestireno em 1949, enquanto faziam pesquisas nos laboratórios da Basf, na Alemanha.

Esse novo produto se revelou possuidor de características extremamente positivas. O EPS era barato, moldável, isolante térmico, leve e poderia ser utilizado em diversos segmentos da indústria.

Produto sintético derivado do petróleo, o EPS nada mais é que um plástico celular rígi-do, resultante da polimerização do estireno em água. Em sua produção não é utilizado o gás CFC (clorofluorcarboneto) – extremamen-te prejudicial à camada de ozônio –, e sim o pentano (hidrocarbureto composto binário de carbono e hidrogênio) como agente expansor. Esse hidrocarbureto deteriora-se rapidamente através de uma reação fotoquímica gerada pelos raios solares, e, por isso, não compromete o

O isopor, apesar de não ser

biodegradável, é 100% reciclável.

Através de processos

industriais, pode ser reutilizado

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Fardos de isopor prontos para ser reciclados

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A Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos foi fundada em 1994 e é responsável pela interação entre a sociedade, os governos e as indústrias do setor. Um dos principais objetivos do instituto é promover a utilização ecologicamente correta do plástico. Ela ainda promove a educação ambiental e tem um sério compromisso com o manejo de resíduos sólidos urbanos, coleta seletiva e reciclagem. Um dos seus maiores e mais notáveis feitos foi a criação do Projeto Repensar, que visa a divulgar as vantagens e benefícios do isopor e, principalmente, desfazer uma informação errada que muitos têm so-bre o material: que ele não é reciclável. Em 2006, o projeto deu início às ativi-dades educativas e de ação, reunindo fabricantes de matéria-prima, indús-trias transformadoras e empresas recicladoras para ativar o programa. Atualmente, grandes redes de todo o Brasil (Carrefour, Pão de Açúcar, Extra, Walmart, Magazine Luiza, Casas Bahia, Laboratórios Roche, entre outros) participam da iniciativa, assim como as maiores cadeias produtivas e trans-formadoras de EPS (Dow Brasil, Basf, Innova, Meiwa, Knauf Isopor, Proeco/Santa Luzia e Termotécnica). Com três anos de vida, o projeto já reciclou cerca de 300 toneladas do produto. Segundo Francisco de Assis Esmeraldo, presidente da Plastivida, até outubro de 2009 foram recicladas 141 toneladas por meio do programa, e a tendência para 2010 é que esse número cresça ainda mais: “Para que esse número aumente, é importante que as pessoas saibam que o isopor é plástico, é 100% reciclável e que tem destino certo no mercado de reciclagem brasileiro”. Os objetivos do Projeto Repensar são: divulgar e informar sobre a reciclabili-

dade do isopor e suas aplicações; iden-tificar quem gera e quem recicla o EPS; firmar novas parcerias entre as fontes geradoras e a cadeia de reciclagem do produto; encontrar alternativas para so-lucionar os problemas e inconvenientes da cadeia de reciclagem; e desenvolver e divulgar material educativo.A Termotécnica é a maior transforma-dora de EPS da América Latina e faz parte da Global Packaging Alliance – aliança entre os principais fabricantes do mundo para troca de tecnologias e soluções em reciclagem. O grupo pos-sui unidades recicladoras em Manaus (AM), Joinville (SC) e Sumaré (SP), onde o isopor é produzido para três segmen-tos diferentes: o primeiro é o de emba-lagens de proteção para eletrodomés-ticos, eletroeletrônicos e peças técnicas da indústria automobilística; o segundo é o da construção civil (isolamento, chapas, forros, lajotas, etc.); e o terceiro é o de utilidades domésticas (caixas multiuso, conservadoras térmicas e até mesmo caixas para agroindústria). Em todas as unidades fabris do grupo há um setor de reciclagem de EPS, e 20% do total produzido por eles volta ao mercado depois de reciclado. “Somos uma empresa responsável pelo que produz”, diz Albano Schmidt, o presi-dente da Termotécnica. “Nossa preocu-pação está voltada para a sustentabili-dade e o meio ambiente. Coletamos ou recebemos o EPS em todas as unidades e depois reciclamos.” O sistema de operação recolhe os resíduos de EPS de cooperativas de coleta seletiva e outras fontes geradoras, como indústrias de aparelhos eletroeletrônicos e outros segmentos, que geram e descartam o EPS que sobra da produção.A problemática que gira em torno da reciclagem de isopor continua sendo,

em primeiro lugar, a falta de conheci-mento da população sobre o material. Ou seja: a maioria acredita que o isopor não é reciclável. Outra grande dificulda-de é relacionada à logística do produto, afirma Albano Schmidt: “O isopor preci-sa ser destinado corretamente. É preciso um trabalho que envolva a sociedade, o poder público e produtores. Compactar o EPS não faz com que ele perca peso, só volume. Um produto que é composto por 98% de ar e apenas 2% de massa acaba não sendo rentável para o coletor e ele deixa de lado mesmo.”Realmente, é isso o que acaba acon-tecendo. Rosalina Martin é diarista e complementa sua renda com a venda de lixo reciclável em Bauru, interior de São Paulo. Em relação ao isopor, ela assume que é muito leve e ocupa muito espaço, além de ser difícil de vender: “Eu não pego. Caixas de papelão nós desmontamos e latinhas de alumínio nós amassamos. O isopor não pesa, só ocupa espaço, e onde eu levo, eles nem compram.” Albano Schmidt explica que o EPS pode ser reciclado de três maneiras: mecâ-nica, quando é transformado em ma-téria-prima para a fabricação de novos produtos; energética, para a recupera-ção e geração de energia, devido ao seu alto poder calorífico; e química, para obtenção de óleos e gases. “Triturado ou moído, o isopor volta à condição de matéria-prima para ser utilizado princi-palmente na construção civil. Desga-seificado e transformado, o EPS pode virar caneta, copo, embalagem. A outra forma é através de um equipamento de degasagem – processo térmico que re-tira o ar do isopor e o compacta –, que tranforma a matéria-prima em moldu-ras de quadros, rodapés e outros.”

PROJETO REPENSAR

meio ambiente. Na produção do EPS, pequenas pérolas, de

até três milímetros de diâmetro, são expandidas através de vapor e chegam a ter seu volume au-mentado em cerca de 50 vezes. Por isso, elas são facilmente moldáveis e fundíveis. Cada pérola expandida tem 98% de ar e apenas 2% de polies-tireno. Em 1m³ de EPS expandido, por exemplo, existem de 3 a 6 bilhões de células fechadas e

cheias de ar. “O EPS é totalmente inerte, não ataca a camada de ozônio, não gera efluen-tes tóxicos em sua produção e, por não ser biodegradável, fica durante 100, 200 anos em um canto sem nunca contaminar o meio ambiente”, explica Albano Schmidt, presi-dente da Associação Brasileira de Poliestireno

Divulgação

Prancheta feita de isopor reciclado

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Expandido (Abrapex) e presidente da Termotécni-

ca, a maior produtora de EPS da América Latina.

UM BEM MUTÁVELSegundo a Associação Brasileira da Indús-

tria Química (Abiquim), em 2008 o Brasil pro-duziu 62,9 mil toneladas de EPS e cerca de 20 mil toneladas de XPS, totalizando quase 83 mil toneladas de poliestireno. Estima-se que tenham voltado para o processo produtivo, através da reciclagem, entre 6,8 mil e 7,2 mil toneladas. Segundo estimativas de Albano Schmidt, em 2010 a produção de EPS continuará em torno de 62 mil toneladas, havendo, porém, um aumento do índice de reciclagem: “É um número impor-tante, e acredito que até o final da década 10% de todo EPS produzido retornará ao mercado depois de reciclado. A porcentagem de EPS no total de resíduos sólidos recicláveis é de apenas 0,1% hoje.” Cerca de 70% do EPS reciclado foi coletado por recicladores associados à Plastivida e cooperativas de coleta seletiva parceiras do Projeto Repensar (veja o box na pág. 49).

DURÁVEL E VERSÁTILSão muitas as vantagens do EPS para em-

balar qualquer tipo de produto, tanto bens de consumo e alimentos quanto eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Os custos são baixos e a produtividade é grande. Por ser versátil e facil-mente transformável, o EPS consegue agrupar uma infinidade de vantagens. Segundo Albano Schmidt, as embalagens são feitas a partir de projetos específicos (moldes) e de acordo com a necessidade de cada produto, garantindo proteção, tanto térmica quanto física, ao pro-duto: “Produtos embalados com isopor podem ser transportados em qualquer posição. Ele é impermeável, além de altamente eficaz contra impactos e vibrações.”

ARTIGOS DE CONSUMOExcelente isolante térmico, prático e bara-to, o EPS é muito utilizado na confecção

de peças de consumo. As caixas térmi-cas, por exemplo, não vazam. São uma

excelente opção para guardar e transportar bebidas e alimentos, pois permitem que os produtos fiquem conservados na temperatura ideal, tanto quente quanto fria.

NA AGRICULTURA

O EPS é bastante utilizado também na área agrícola, em diversas funções. Como condicio-nador de solos, por exemplo. Incorporado às argilas, muda suas características físicas. Então, a água e o adubo passam a penetrar o solo mais facilmente, as raízes desenvolvem-se aeradas, e a vegetação pode crescer de maneira mais saudável e com menos riscos. Além de ser ex-celente na aeração e drenagem de solos, o EPS também é utilizado na produção de mudas. Em bandejas de isopor, as raízes das plantas não ficam emaranhadas. Assim, as mudas podem crescer sem sofrer com o replantio.

NA CONSTRUÇÃO CIVILO EPS proporciona isolamento térmico e

acústico à construção, além de contribuir para

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Excelente isolante térmico, prático e barato,

o EPS é muito utilizado na

confecção de peças de

consumo

ONDE A HISTÓRIA ACONTECEEm outubro de 2009, o parque industrial da Renault do Brasil, localizado em São José dos Pinhais (PR), passou a fazer parte do Projeto Repensar. Geran-do cerca de quatro toneladas de EPS ao mês – por causa das embalagens de peças veiculares vindas do exterior – e necessitando de 13 caminhões para transportar os resíduos, a montadora decidiu investir na reciclagem do material. “O espaço era praticamente inutilizado com as embalagens”, afirma Douglas Vellasques de Castro, da divisão de Engenharia de Materiais. Através da Plastivida, a montadora conseguiu em comodato uma máquina de degasagem (processo térmico que retira o ar do isopor) e compactação da empresa Proeco/Santa Luzia, de Santa Catarina. Com isso, depois de proces-sado, o poliestireno vira matéria-prima e pode ser transformado em materiais escolares como réguas e canetas, além de brinquedos, rodapés, molduras de quadros e solas de sapato. Os benefícios já estão sendo sentidos pela Re-nault. Um espaço antes tomado por embalagens agora tem outras serventias, e houve também economia com o transporte – atualmente, os resíduos do mês são transportados em apenas um caminhão até a Proeco/Santa Luzia, que realiza reciclagem. Grazielle Coutinho, responsável pelo setor de Gestão de Resíduos da montadora, acha que este é o caminho certo: “Projetos como o Repensar são extremamente importantes e benéficos para a natureza. Ao reciclar o isopor que vem do nosso processo de fabricação, conseguimos re-duzir o consumo de matéria-prima virgem, minimizamos o impacto ambien-tal pela disposição dos resíduos em aterros, economizamos energia elétrica e contribuímos para a geração de empregos.”

Divulgação Desempenadeira utilizada em construção

DivulgaçãoPorta-retratos

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Consultoria e agradecimentos: Alba-no Schmidt, presidente da Abrapex – Associação Brasileira do Poliestireno Expandido e Termotécnica Ltda.; Val-demar Didone, diretor proprietário da Valki Plásticos e Máquinas Ltda.; Roberta Provatti, da Yellow Comuni-cação – Assessoria de comunicação da Plastivida.

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da montadora mineira, Didone colocou a primei-ra máquina de reciclagem de EPS para funcionar. Primeiro, o material passa pelo processo de trituração e compactação, e seu volume passa a ser 50 vezes menor. Em seguida, esse material vai para uma extrusora, onde é derretido até ficar homogêneo. Na etapa final, o que sai da extrusora é resfriado e picotado e, novamente, volta a ser o poliestireno.

No entanto, o processo de reciclagem só é viável, segundo Didone, quando existe uma grande quantidade de isopor para trabalhar. As máquinas precisam de peso e, por isso, uma quantidade razoavelmente alta, de pelo me-nos 10 toneladas, é necessária. O investimento também é alto. A primeira fase do projeto custa mais de R$ 20 mil, e acaba sendo inviável para muitos que trabalham com o EPS, como, por exemplo, cooperativas e associações.

Hoje, nas indústrias Valki, qualquer produto final vem da reciclagem. “Tudo que produzimos aqui vem da coleta seletiva, de resíduos de asso-ciações, cooperativas e grandes indústrias”.

A Fiat tem seus resíduos de EPS reciclados pela Bemplast atualmente. Cerca de 98% do total de resíduos gerados pela empresa tem destino ecologicamente correto. Em quase 15 anos, mais de 1,7 mil toneladas de isopor foram reapro-veitadas, virando solas de sapato, mangueiras, embalagens e diversos outros produtos.

POR UM MUNDO MELHORSe por um lado cresce a produção de EPS, com

novas formas de aplicação sendo descobertas a cada dia, por outro lado falta incentivo do poder público para ampliar a reciclagem no País. Valde-mar Didone conta que desde 1972 vem pleiteando junto ao governo federal incentivos fiscais para esse fim. “O Brasil só não evoluiu plenamente na questão da reciclagem por causa dos altos impostos. Pagamos 40% de taxas! As empresas de reciclagem são equiparadas com mineradoras”, desabafa o empresário e precursor da reciclagem no País. Além dos impostos, Didone reclama da falta de leis específicas para facilitar a reciclagem, ajudar o meio ambiente e gerar mais renda e mais empregos. “Deveria ser obrigatório que o consu-midor devolvesse as embalagens em postos de coleta ou que as empresas geradoras reciclassem esse material. Afinal de contas, sem incentivo, a reciclagem não acontece”, finaliza.

O crescente aumento da produção deve ser

acompanhado do aumento dos números da reciclagem. Nes-te ano, a Abiquim e a Abrapex divulgam um novo relatório sobre o EPS no Brasil e espe-ram que ele afaste a falta de conhecimento sobre o produ-to. O presidente da Abrapex, Albano Schmidt, acrescenta: “A coleta precisa ser mais es-truturada todo o País. É preciso muito incentivo por parte de todos nós porque o EPS não contamina o meio ambiente, só precisa ter destino correto. Ele foi feito para proteger e, por isso, tem que durar. Então, é preciso que a coleta seja efetiva e informativa.”

a economia de energia e para a durabilidade da obra. Pode ser empregado na fabricação de lajes, coberturas, tubos e até em ornamentos de decoração. Um projeto realizado com EPS cria um sistema sustentável e muito mais barato, já que , por sua leveza e resistência, torna a logística mais prática e menor quantidade de material é desperdiçada.

Com o patrocínio da Abrapex, em 2002 foi realizada em Curitiba (PR) uma experiência de produção de concreto leve a partir de isopor moído, cimento, areia e cola. Trata-se de uma excelente alternativa para o reaproveitamento do EPS. Além de versátil, é bastante vantajoso economicamente. De acordo com a Abrapex, prefeituras e órgãos públicos que têm coleta seletiva de lixo deveriam usar o EPS moído na produção de concreto leve, devido ao seu co-eficiente de dilatação menor que os concretos convencionais. O concreto leve pode ser usado na construção de calçadas, quadras esportivas, bancos de jardim, vasos e até mesmo em casas pré-fabricadas. Ele só não pode ser utilizado em estruturas.

O COMEÇO DA RECICLAGEMTudo começou em 1995, quando a mon-

tadora de automóveis Fiat procurou Valdemar Didone, proprietário da indústria Valki, em Lou-veira, interior de São Paulo. Didone trabalha com reciclagem desde 1963 e já tinha bastante notoriedade no ramo. “Na época, a Fiat gerava toneladas de isopor, que vinham de embala-gens de autopeças e resíduos industriais. Ela nos procurou com a proposta de montar um equipamento para reciclar o EPS em sua unidade de Betim (MG)”, lembra. A ideia era transformar o poliestireno expandido em poliestireno na sua condição original.

No local chamado de ilha ecológica, dentro

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OCUPAÇÕES IRREGULARES

Alagamentos em Santa Catarina. Deslizamentos de encostas em Angra dos Reis. Destruição de áreas de mananciais.

Ocupação irregular em várzeas de rios. Todos esses ingredientes, aliados ao descaso das autoridades, comprovam

a incapacidade humana de lidar com a natureza

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Novembro de 2008. O Estado de Santa Cata-rina sofreu com as chuvas. Mais de 62 municípios foram atingidos. A tragédia se concentrou no Vale do Rio Itajaí, que transbordou e atingiu níveis jamais vistos. As enchentes transformaram as cidades em grandes rios. Houve deslizamentos de terra destruidores. Pelo menos 1,5 milhão de pessoas foram prejudicadas. Cerca de 80 mil fica-ram desabrigadas, sendo que 27,4 mil perderam tudo. Mais de 100 pessoas perderam a vida.

Represa Billings. Um dos maiores e mais im-portantes reservatórios de água da Região Metro-politana de São Paulo. Seu espelho d´água possui pouco mais de 10,8 mil hectares, correspondendo a 18% da área total de sua bacia hidrográfica. A represa foi idealizada nas décadas de 1930 e 1940 pelo engenheiro Billings – daí o nome. O cenário atual? A cobertura vegetal está desaparecendo. O crescimento populacional é estrondoso. As ocupa-ções irregulares na região acarretam em destruição do meio ambiente e poluição das águas.

Jardim Romano. O bairro, localizado na zona leste de São Paulo, sofre com alagamentos desde o dia 8 de dezembro de 2009. Ao todo, 1,5 mil famílias moram na área. Para ir trabalhar ou comprar um simples pãozinho na padaria, os moradores utilizam-se de botes, capas de chuva e botas. A água abaixa, mas só até a próxima chuva. As crianças, no auge de sua inocência, brincam em “piscinas de esgoto”. Estão sujeitas a doenças. O que fazer? Não há outra moradia. Não há mais ânimo para clamar por mudanças. Não há mais esperança.

Madrugada do dia 1 de janeiro de 2010. A exuberante ilha de Angra dos Reis, localizada no litoral sul do Rio de Janeiro, brindava a chegada do ano-novo. Hora de relembrar os aspectos positivos e negativos do ano que terminava. Lembranças da família e dos amigos. Planos e promessas futuras. Emoção, festa, alegria, descon-tração, êxtase. Tudo foi interrompido em questão de segundos. Deslizamentos de encostas atingi-ram o Centro de Angra dos Reis e a enseada do Bananal, na Ilha Grande. Casas destruídas, pessoas feridas e 52 mortes. Famílias arrasadas.

Tragédias anunciadas? Respostas da nature-za? Descaso das autoridades? Falta de infraes-trutura? Ou simplesmente obra do acaso? Um pouco de tudo. A realidade salta aos olhos: o ser humano ainda não sabe lidar com a natureza. É bem verdade que em muitos casos a necessidade – os problemas socioeconômicos do País – faz a ocasião. Por outro lado, a ganância e a incessante busca por bens materiais seguem na direção da insensatez. Moral da história? Como numa roleta-russa, a vida das pessoas fica à mercê da sorte.

NOVO ANO, VELHOS PROBLEMAS“Já vi esse filme antes”. Muito provavelmente,

essa expressão deve ter ecoado na cabeça dos moradores de Angra dos Reis no início do ano. Em 2002, a cidade carioca já havia sido afetada por deslizamentos semelhantes aos de agora, e o final da história foi igualmente trágico. Na ocasião, 39 pessoas perderam a vida.

Como de costume, as autoridades se mobili-zaram. Investimentos pesados foram prometidos, assim como uma maior fiscalização das áreas

Por João Paulo Amorim

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consideradas de risco. Nada disso foi feito. Anos se passaram. A principal promessa das autori-dades girava em torno de um detalhado mapa geológico, um estudo da região, a fim de verificar quais terrenos eram impróprios para construção. O trabalho seria árduo, intenso, e salvaria muitas vidas. Não se estaria agora chorando, novamente, as vidas perdidas. E o problema é nacional, prin-cipalmente quanto às ocupações irregulares em áreas de média a alta declividade e em regiões serranas tropicais. Logo, atinge cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Salvador, Recife, Petrópolis, Nova Friburgo, Campos do Jor-dão, Ouro Preto, Cubatão, Guarujá, Angra dos Reis, Caraguatatuba, entre outras.

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“Quem pretende comprar um terreno para construção,

especialmente em zonas de encosta,

deve respeitar as características

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consideração não apenas os cálculos

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Álvaro Rodrigues dos Santos, geólogo

e ex-diretor de Planejamento e Gestão

do instituto de Pesquisas Tecnológicas

O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor de Planejamento e Gestão e também ex-diretor da Divisão de Geologia do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), coloca o dedo na ferida: “Quem pretende comprar um terreno para construção, especialmente em zonas de encosta, deve respeitar as características naturais da área e levar em consideração não apenas os cálculos de estrutura da fundação, mas também análises geológicas. Essa análise deveria ser uma exigência do comprador.”

As prometidas mudanças não saíram do pa-pel. Aqueles discursos inflamados de 2002, ano de eleições, foram sumindo na mesma proporção da esperança dos familiares das vítimas, que ansiavam por atitudes drásticas e eficientes. O raio, afinal, não poderia cair duas vezes no mes-mo lugar. Mas caiu. E com mais brutalidade. A previsível tragédia aconteceu mais uma vez. A natureza pune no melhor estilo “a justiça tarda, mas não falha”. E os verdadeiros culpados sempre escapam ilesos. Literalmente.

O filme também se repetiu em Santa Catarina. O Vale do Itajaí já havia sofrido duas enchentes históricas, em 1983 e 1984, causando a morte de 43 pessoas. A vulnerabilidade da região estava clara. O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos ressalta o descaso das autoridades competentes: “Não há uma questão técnica sequer relacionada a esses problemas que já não tenha sido estudada e perfeitamente equacionada pela Engenharia Geotécnica e pela Geologia de Engenharia bra-

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As duas faces de Angra dos Reis:belas paisagens... ...e deslizamento de encostas

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sileiras, tanto âmbito da abordagem preventiva como da corretiva”.

E complementa: “Todos os estudos já foram feitos. Cartografia geotécnica (para diferenciar as áreas que não poderiam ser ocupadas em hipótese alguma das áreas passíveis de ocupação, uma vez obedecido um elenco de restrições e providências), tipologia de obras de contenção mais adequadas, projetos de ocupação urbana apropriados a áreas topograficamente mais acidentadas, cartas de ris-co, metodologia e tecnologia de Planos de Defesa Civil, e tudo o mais que se refere à questão. Aí se ressalta o descompromisso das administrações públicas e privadas envolvidas.”

A interferência urbana se acentua nessas áreas de risco. Uma série de problemas surgem na região. Vêm as instabilidades. Na medida em que se vai tirando a vegetação, mudam-se as características da drenagem natural nas cabeceiras dos rios (como em Itajaí), há desmatamento das matas ciliares, impermeabilização das cidades. Asfalto, calçadas, casas... A possibilidade de infiltração da água no solo diminui a cada dia. Outro raio caiu duas vezes no mesmo local. Mais uma tragédia anunciada.

A IMPORTÂNCIA DAS CARTAS GEOTÉCNICASJosé Eduardo Zaine, geólogo e professor

doutor da Unesp, fala um pouco sobre as car-tas geotécnicas ou mapas geotécnicos. “São documentos cartográficos que representam as características do meio físico-geológico, ou seja, apresentam de forma integrada as informações do substrato geológico (características das ro-chas e estruturas geológicas), da geomorfologia (feições do relevo), dos solos (capa ou cobertura de materiais intemperizados) e hidrogeológicas

(comportamento da água em subsuperfície). Esse conjunto de características ajuda a entender a dinâmica dos processos geológicos, como ero-sões e deslizamentos, por exemplo.”

E complementa: “A carta geotécnica, com base nas características e comportamentos dos terre-nos, deve orientar qualquer tipo de intervenção ou obra de engenharia, tanto na fase de planejamen-to como em ações corretivas e emergenciais. Para cada unidade ou zona geotécnica são atribuídos diferentes níveis de restrição e são elaboradas diretrizes para o uso e ocupação do solo, assim como são indicadas áreas mais restritivas a deter-minadas intervenções. A carta geotécnica fornece suporte e respaldo técnico aos instrumentos legais e ações administrativas.”

Dada a importância desses documentos, é ne-cessário que o poder público e a iniciativa privada

“A carta geotécnica,

com base nas características e

comportamentos dos terrenos, deve orientar qualquer tipo

de intervenção ou obra de

engenharia, tanto na fase de

planejamento como em ações

corretivas e emergenciais”

José Eduardo Zaine, geólogo e professor

doutor da Unesp

Procedimentos para a realização das cartas geotécnicas• Busca de informações prévias da área (trabalhos anteriores);• Definição da base topográfica compatível;• Interpretação de fotografias aéreas e imagens de satélite;• Trabalhos de campo com a descrição das características das rochas, relevo, solo e registro de feições oriundas dos processos geológicos;• Coleta de amostras e ensaios de laboratório e de campo;• Análise e integração dos dados na forma de carta geotécnica, com tabelas de classificação e descrição detalhadas das características de cada uma das unidades mapeadas;• Um banco de dados para complementar essa série de procedimentos.O nível de aprofundamento e detalhamento depende da complexidade geológica e do objetivo ge-ral em ações de planejamento até mais específicas em obras. Geralmente, é um trabalho em equipe, centrada em geólogos com conhecimento e atuação em geomorfologia e geotecnia, podendo contar com a participação de outros profissionais, como geógrafos e engenheiros geotécnicos.

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José Eduardo Zaine

prestem atenção ao seu conte-údo e, portanto, que ajam com responsabilidade. José Eduardo Zaine destaca o papel de cada um para que as orientações das cartas sejam seguidas: “Toda ci-dade deve possuir uma. Cartas geotécnicas municipais ou vol-tadas para comunidades devem ser realizadas pelo poder público. Em cidades médias e grandes, o próprio município deve ter uma equipe técnica, pelo menos para gerenciamento. Em cidades pe-quenas, o Estado pode assumir essa função. Nos empreendimen-tos e obras específicas, como um loteamento, por exemplo, os estudos de caracterização geológico-geotécnica já são, por lei, de responsabilidade do empreendedor. A fiscalização fica a cargo do poder público, porém, a comunidade organizada deve

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participar. O Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) tem um papel importante, fiscalizando e cobrando a participação de profissionais habilitados com a devida Anotação de Responsabilidade Técnica (ART).”

Há uma série de regras impostas, e o poder público deve fiscalizar a aplicação delas. Mas quem almeja comprar um terreno, por exemplo, também deve fazer a sua parte. José Eduardo conclui dizendo que, antes de qualquer coisa, o comprador precisa se informar para evitar pro-blemas futuros: “Todo cidadão deve verificar as características do terreno onde pretende construir. Assim, numa situação desejável, a prefeitura deve ter a carta geotécnica e um técnico deve fornecer as informações necessárias. Na prática, se isso não ocorre, alguns órgãos, como a Defesa Civil, podem fornecer as informações ao cidadão. Algu-mas cidades possuem até cartilhas de orientação para a população, principalmente para prevenir a ocupação de várzeas e margens de córregos e de encostas íngremes, para que não se tornem áreas de risco.”

CONVENIÊNCIA E CONIVÊNCIAOutro grande problema dessas ocupações

irregulares está diretamente ligado à condição precária a que muitos brasileiros são subme-tidos. Famílias de baixa renda (até 3 salários mínimos) muitas vezes só conseguem constituir

moradia em áreas impróprias. Salvo exceções, o baixo orçamento dessas pessoas as empurra para favelas, cortiços, margens de córregos e encostas de alta declividade nas zonas perifé-ricas das cidades.

As residências dos moradores do Jardim Ro-mano, zona leste de São Paulo, foram construídas na margem (chamada de várzea) do Rio Tietê. Ou seja, quando a cidade é atingida por fortes chuvas, o rio transborda e, consequentemente, alaga as casas. Atualmente, está prevista a tranferência de cerca de 6 mil famílias das 12 áreas alagadas na várzea do Rio Tietê, onde futuramente será construído um parque linear. O problema é que

Lei Federal nº. 6.766, de 19 de dezembro de 1979Art. 3º Somente será admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica, assim definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal. Parágrafo único. Não será permitido o parcelamento do solo:I - em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providên-cias para assegurar o escoamento das águas; II - em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem que sejam previamente saneados; III - em terreno com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se atendidas exigências específicas das autoridades competentes; IV - em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação; V - em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça con-dições sanitárias suportáveis, até a sua correção.

medidas como essa chegam tarde demais.

Outro exemplo desse tipo é o do Morro da Carioca, localizado no Centro de Angra do Reis, um dos lugares atingidos pelos des-lizamentos de terra neste ano. Mais de 20 pessoas faleceram.

Na maioria das vezes, a administração pública leva in-fraestrutura (água, iluminação, saneamento básico) às pesso-as que vivem nas encostas. Ou seja, todos os aspectos necessá-

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rios para um cidadão viver dignamente. Trata-se de uma espécie de ilegalidade, de imoralidade, uma vez que esses locais são impróprios para construções.

Regina Meyer, professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universida-de de São Paulo (USP), critica veementemente essa postura, que, por sinal, é corriqueira em muitos morros e encostas espalhados pelo Brasil afora: “A legalização não muda o fato de um lugar ser impróprio para morar. O risco não deixa de existir, pelo contrário; em geral, ele só aumenta com a ocupação.”

DESCUMPRIMENTO DAS LEISAlguns especialistas foram taxativos ao afir-

mar que a tragédia de Angra dos Reis foi causada pelas contínuas e intensas chuvas que assolaram a região. De fato, do começo de dezembro até a primeira semana de janeiro, caiu o dobro de água que se esperava. A título de curiosidade, só nos dois últimos dias de 2009 desabaram sobre Angra 220 bilhões de litros de água, o suficiente para encher 116 mil piscinas olímpicas. Foi o maior índice em dez anos.

Porém, as mudanças climáticas que estão “virando o planeta de cabeça para baixo” já não são novidade. Então, por que não tomar medidas preventivas? Essa é a pergunta de Regina Meyer. “Os conceitos de declividade para a definição de áreas de risco, por exemplo, talvez tenham de ser atualizados para compensar o aumento de

pluviosidade (volume de chuvas) causado pelo aquecimento global em determinadas áreas. As mudanças climáticas já são absolutamente claras”, salienta a arquiteta.

Mas essa não é a principal explicação para o que aconteceu em Angra dos Reis. Primeiramen-te, a ocupação do solo segue regras municipais, estaduais e federais, que se sobrepõem. Uma das definições da palavra “regra” é: conjunto de leis formais de prescrições e proibições, que ex-põem os principais requisitos quanto à atitude do indivíduo em uma sociedade. Ou seja, na teoria, um estudo detalhado deveria ser feito e apresentado antes da realização de qualquer construção. O próximo passo seria a permissão dos órgãos competentes.

Pegue-se como exemplo a Lei Federal no. 6.766, de 19 de dezembro de 1979, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e outras providências. O caput do artigo 3º diz o seguinte: “Somente será admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, de expan-são urbana ou de urbanização específica, assim definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal”. A regra é clara.

O mesmo se aplica à ocupação do solo no País. O parágrafo único do mesmo artigo 3º da Lei no. 6.766/79 não deixa dúvidas sobre o que é proibido (veja a íntegra do artigo no box da pág. 55). Os cida-dãos, entretanto, desconhecem as determinações. Parece que os governantes também.

A represa Billings respira por aparelhos. Ape-sar de ser protegida pela Lei de Proteção dos Mananciais desde a década de 70, a região vem sofrendo ao longo dos últimos anos as consequ-ências de um processo acelerado de ocupação irregular, sem qualquer planejamento. O resulta-do é que a qualidade da água da represa Billings encontra-se bastante comprometida.

A Lei Estadual no. 9.866, de 28 de novembro de 1997, trata da proteção e recuperação das bacias hidrográficas dos mananciais de interesse regional do Estado de São Paulo. Diz o artigo 1º: “Esta lei estabelece diretrizes e normas para a proteção e a recuperação da qualidade am-biental das bacias hidrográficas dos mananciais de interesse regional para abastecimento das populações atuais e futuras do Estado de São Paulo, assegurados, desde que compatíveis, os demais usos múltiplos”. O artigo 2º também é bem claro (leia no box ao lado). Apesar disso, a lei não é aplicada. Infelizmente.

Lei Estadual nº. 9.866, de 28 de novembro de 1997

Art. 2º - São objetivos da presente Lei:I - preservar e recuperar os mananciais de interesse regional no Estado de São Paulo;II - compatibilizar as ações de preservação dos mananciais de abastecimento e as de proteção ao meio ambiente com o uso e ocupação do solo e o desenvolvimento socio-econômico;III - promover uma gestão participativa, inte-grando setores e instâncias governamentais, bem como a sociedade civil;IV - descentralizar o planejamento e a gestão das bacias hidrográficas desses mananciais, com vistas à sua proteção e à sua recupera-ção;V - integrar os programas e políticas habita-cionais à preservação do meio ambiente.

“Enfrentamos grandes

dificuldades para averiguar os pedidos de

licença para novas obras. Em 60% dos

casos, os projetos apresentam um

tipo de vegetação diferente da

real e boa parte deles prevê

empreendimentos em áreas de preservação

permanente”

Danilo Amorim, diretor regional do Departamento

Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN)

CRESCIMENTO ACELERADO E FISCALIZAÇÃO INEFICIENTE

Para que uma construção seja aprovada, ela precisa pas-sar por uma espécie de vistoria no Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN), agora sob responsabi-lidade da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que é vinculada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente. O diretor regional do DEPRN, Da-nilo Amorim, conta que é difícil o dia a dia no que diz respeito à fiscalização.

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“Enfrentamos grandes dificuldades para ave-riguar os pedidos de licença para novas obras. Em 60% dos casos, os projetos apresentam um tipo de vegetação diferente da real e boa parte deles prevê empreendimentos em áreas de pre-servação permanente”, disse.

Na visão da arquiteta Regina Meyer, as re-gras atuais sobre ocupação do solo e definição de áreas de risco precisam ser revistas diante das novas condições climáticas e da ocorrência de tragédias como a de Angra dos Reis. “Não adianta mais só cobrar o cumprimento das regras existentes. Elas não dão mais conta do recado. Precisamos de uma legislação mais severa e mais

responsável”, enfatizou.Como se não bastasse, no caso de Angra, a

cidade apresenta um crescimento populacional acima da média. A construção da rodovia Rio-Santos levou até lá milhões de turistas. A usina nuclear Angra 1 atraiu milhares de trabalhadores para a região. Para se ter uma ideia, a população do município, que era de 40 mil habitantes na década de 70, havia dobrado em 1990 e triplicado em 2000, quando 5,5% já moravam em favelas. Esse crescimento, é quase três vezes a média brasileira no período.

O espaço é insuficiente. Atualmente, a ci-dade de Angra dos Reis está, literalmente, es- VI

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premida entre a serra e o mar. Os números são autoexplicati-vos: 60% dos moradores vivem em áreas de encosta, onde as características do relevo da região tornam tudo mais pe-rigoso. A cidade não tem para onde crescer.

A pousada Sankay (“entre o mar e a montanha”, em japonês), que virou ruínas na virada do ano, tinha licença de funciona-mento da prefeitura, mas não a licença ambiental do estado. As casas atingidas no Morro da Carioca não apresentavam qual-quer tipo de licença. No Brasil, muitas vezes, a prioridade é a construção. Só depois dela pron-ta é que se busca a licença.

Entre 2006 e 2007, Angra dos Reis foi palco de um gran-de escândalo, que envolveu 44 funcionários da prefeitura, do governo estadual e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Reno-váveis (Ibama). Todos foram presos, acusados de vender pareceres técnicos favoráveis às construções. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, também agiu de forma infeliz. Em junho do ano passado, ele assinou um decreto autorizando retroativamente a construção em áreas que antes não eram edificáveis, na zona de proteção ambiental. Em outras palavras, o ilegal foi legalizado, para feli-cidade de poucos.

Fica a revolta por todos esses acontecimentos. Faltou prevenção, compromisso com a população. A sensação de esquecimento, de descaso, fica evidente a cada tragédia que, invariavelmente, tira a vida de muitas pessoas. Fica a insatisfa-ção, a tristeza, mas também a esperança de que algo seja feito para mudar essa situação.

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Represa Billings: processo acelerado de ocupação irregular

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NEGÓCIOS

Empresas de moda começam a olhar para a sustentabilidade visando o crescimento dos negócios

A moda é verde

Atualmente somos bombardeados por em-presas, grifes e produtos que exploram ações ligadas à sustentabilidade, ecologia e preservação do meio ambiente. Essa verdadeira “onda verde” envolve todo o segmento de moda (têxtil, vestuá-rio, calçadista, etc.) e ganha a cada dia mais e mais adeptos no mundo, sinalizando o surgimento de uma nova postura de consumidor: aquele que não se importa em pagar um preço mais caro por um determinado produto se ele apresentar qualidades e valores muito além do fashion.

Em janeiro de 2007, por exemplo, a São Paulo Fashion Week mostrou as coleções de Outono/Inverno de 37 marcas tendo a sustentabilidade como tema. Enfatizou seu caráter econômico, social e ambiental, adotando-o, inclusive, como postura e inspiração para fomentar e ampliar as discussões sobre esse assunto, até então com pouca evidência no segmento de moda.

Entre algumas das ações apresentadas pelo calendário, destacaram-se: a utilização de pape-lão como elemento cenográfico, sendo reciclado a cada edição e tendo sua renda revertida para projetos de responsabilidade social; a reutilização de estruturas modulares usadas na montagem das salas de desfiles e lounges, em substituição às tradicionais fontes de energia; e o uso de ge-radores movidos a biodiesel. Essa estrutura é adotada e adaptada a cada temporada, como foi visto na última edição do evento, realizado em janeiro de 2009.

Quando o assunto é moda “eco” de vanguarda, o trabalho da designer inglesa Stella McCartney é destaque no mundo. A estilista é vegetariana, totalmente contra o uso de peles, integrante da ONG Peta (People for the Ethical Treatment of Animals) e utiliza tecidos naturais em sua marca homônima. Também é diretora criativa da Adi- VI

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Por Henriete Mirrione das e, em outubro de 2007, foi contratada pela loja de departamentos Barneys para desenhar a primeira linha de roupas ecológicas da história da rede americana, com tecido 100% orgânico. Além disso, é ligada à ONG britânica Marine Con-nection – de proteção a baleias, golfinhos e vida oceânica em geral. Em parceria com a marca de jeans Notify, Stella criou uma minicoleção para beneficiar a entidade.

No Brasil, a carioca Osklen, do designer Oskar Metsavaht, foi uma das grifes pioneiras no uso de materiais voltados ao desenvolvimento sus-tentável, tendo apoiado diversas ações de cunho socioambiental. A marca acredita que boa parte do sucesso de suas iniciativas é em virtude da visão pessoal que Oskar imprime ao seu tra-balho, baseada em alguns princípios e valores fundamentais, como a educação, a valorização da natureza, a preservação do meio ambiente, a busca por qualidade de vida, a visão global para o estabelecimento de ações locais e a forte consciência social.

Há nove anos, Oskar fundou o Instituto e, uma organização focada na produção de tecidos orgânicos com projeto e-fabrics, marca ecossocial voltada para divulgação de matérias-primas e produtos de origem sustentável. Até 2006, o Instituto e funcionava sob a denominação de e-brigade, movimento de combate à desinforma-ção ambiental que nasceu há quase 10 anos por iniciativa do diretor criativo da Osklen e de um grupo de pesquisadores, ambientalistas, filósofos, artistas plásticos e designers que decidiram agir contra a degradação do meio ambiente.

De acordo com essa ideia, o projeto e-fabrics divulga matérias-primas e produtos de origem sustentável, atraindo o desejo do consumidor e chamando a atenção das indústrias têxtil e de confecção nacionais para mais de 15 tipos de materiais de origens reciclada, orgânica, natural

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Essa verdadeira “onda verde”

envolve todo o segmento de

moda e ganha a cada dia mais e mais adeptos

no mundo, sinalizando o

surgimento de uma nova postura

de consumidor: aquele que não se importa em

pagar um preço mais caro por

um determinado produto se

ele apresentar qualidades e

valores muito além do fashion

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ou artesanal, desenvolvi-dos por co-m u n i d a d e s , cooperativas ou grupos indus-triais conscientes.

Dentre eles, destaque para o algodão orgânico, cultivado com bases bioló-gicas, que evita a destruição do meio ambiente provocada por pesticidas e agentes químicos, assegurando um padrão elevado na qualidade do produto final. É confeccionado por famílias da Paraíba, do Ceará e do Paraná e é utilizado em malhas circulares ou em tecidos planos de empresas parceiras do projeto. A seda orgânica, por exemplo, é produzida manualmente, sem utilizar agrotóxicos, e é tingida naturalmente, por meio do uso de pigmentos provenientes da biodiversidade brasileira, como cascas de cebola, folhas de manga e sementes de urucum.

Já na produção da lã orgânica, o número de ovelhas é limitado por área, a alimentação é pura e não há química nos pastos. O tingimento também é realizado com corantes naturais, para

não contaminar o solo e os lençóis freáticos. Mais de 26 famílias de diferentes regiões do País são beneficiadas através desse processo. O poliéster reciclado é obtido por meio da reciclagem de garrafas PET, que levam cerca de 300 anos para se decompor. Essas garrafas são transformadas em fibras de poliéster, que podem ou não ser combinadas ao algodão ou à lã para serem usadas na produção de malhas, tecidos planos e não tecidos para a indústria da moda, além de forração de au-tomóveis, feltros e cobertores.

A Osklen aposta ainda na adequação e no reposicionamento de ações das indústrias

em geral para o crescimento do nicho. Metsa-vaht destaca que o mercado vive um período de transição. “Já existem muitos materiais de

sustentabilidade de ótima qualidade e estética, como os selecionados pelo projeto e-fabrics, mas a indústria como um todo ainda levará alguns anos para se adaptar”, explica o designer.

INDÚSTRIA SE MOVIMENTA Vale ressaltar que a ideia de oferecer produ-

tos sustentáveis não é algo novo. Ela nasceu na Europa no final dos anos 1990 e com o tempo foi se disseminando, até se tornar uma poderosa estratégia de marketing no início deste século, com um grande potencial a ser explorado, prin-cipalmente em solo nacional.

A Levi`s, por exemplo, ofereceu jeans orgâ-nico pela primeira vez no Brasil na década de 1990, porém, naquela época o consumidor ainda não estava aberto a receber esse tipo de artigo. Já no inverno de 2007, a empresa notou uma nova postura se formando no cenário e optou por lançar peças confeccionadas em denim, com algodão plantado em solo livre do uso de agrotóxicos e pesticidas.

No setor têxtil, uma das conquistas do eco-negócio vem do algodão colorido orgânico, que é transformado em roupas, acessórios e

artigos de decoração pela Co-operativa de Produção Têxtil e Afins do Algodão do Estado da Paraíba (CoopNatural). Pelo fato de o algodão já nascer colorido, ele não precisa de aditivos quí-micos nem na lavoura nem no processo de industrialização, uma vez que não necessita de tingimento. A cooperativa, que produz peças próprias terceiri-zadas – como cuecas para a Zor-ba, por exemplo –, já exportou itens para Itália, Japão, Portugal e Estados Unidos.

Os algodões de cores verde e marrom-avermelhado são re-sultado de um melhoramento genético iniciado em 1995 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para obtenção de lavouras com novas cores da fibra, além da marrom-claro já existente. O plantio comercial do algodão colorido no Brasil foi iniciado em 2000, com o cultivo de 10 hectares no estado da Paraíba. Porém, a primeira lavoura plan-tada para atender a um pedido da CoopNatural foi numa área de 20 hectares do município de Bom Sucesso, colhida entre maio e junho de 2007.

Tecidos orgânicos, coran-tes inofensivos e técnicas que protegem o meio ambiente começam também a empla-car na linha de produção das fiações e tecelagens de médio e grande porte, como na São José do Nordeste. A proposta da empresa é verticalizar a pro-dução de tecidos orgânicos e de baixo impacto ambiental. Há uns três anos que a tecela-VI

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NEGÓCIOS

Coleção Inverno 2010 da Osklen

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gem vem apostando na produção de um jeans ecologicamente correto, fabricado com algodão orgânico (sem agrotóxicos ou fertilizantes quí-micos) cultivado por 150 agricultores do sertão do estado de Pernambuco.

A empresa já é certificada pelo Instituto Bio-dinâmico (IBD) para a produção de denim 100% orgânico, com a utilização de algodão, índigo blue e químicos auxiliares naturais e orgânicos também certificados. Agora, ela busca ampliar cada vez mais sua cartela de lançamentos com produtos voltados para este segmento.

Com cerca de 70% da produção de etiquetas e tags da Newcolor Etiquetas voltada para o segmen-to de jeanswear, a empresa é outra da área têxtil que desenvolve, fabrica e comercializa etiquetas com tecnologia avançada, a partir da reciclagem e reaproveitamento de materiais como copos descartáveis, caixas de leite, folhas de árvores, latas de alumínio, filtros de papel, borra de café, jornais, grama, cascas de arroz e de cebola, fibras de bananeira e de coco e câmaras de pneu.

A Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), percebendo a dimensão que os produtos sustentáveis têm no mercado e preocupada com a regulamentação da produção, já conta com projetos direcionados a esse nicho, além de investir em outros que estão em fase de implantação.

Sylvio Napoli, gerente de Infraestrutura e Capacitação Tecnológica da Abit, diz: “Estão em andamento os programas de autorregula-mentação das roupas profissionais por meio de um selo que será conquistado de acordo com as normas do Inmetro e do Projeto do Produto Orgânico, envolvendo basicamente a cultura do algodão. Já a parceria com a prefeitura de São Paulo, para buscarmos soluções éticas e organizadas para os insumos despejados pelas confecções nas ruas do Brás e do Bom Retiro, ainda está em planejamento.”

Até o setor de componentes para couro e calçados se mobiliza para se adaptar a essa nova postura do mercado. Em fevereiro foi realizado na capital paulista o primeiro Inspira Mais – Salão de Design e Inovação das Empresas de Compo-

nentes para Couro, Calçados e Artefatos. Uma das novidades apresentadas durante o salão foi o laminado vegetal da companhia Ecológica Laminado Vegetal do Brasil.

Capaz de substituir o couro animal e os re-vestimentos sintéticos derivados do petróleo, esse laminado pode ser utilizado na fabricação de artigos manufaturados como tênis, bolsas, casacos e bolas. O material é produzido a par-tir de matéria-prima vegetal renovável, isenta de resíduos em todo o processo de produção. Fabricado com látex natural, extraído da serin-gueira, o produto chega ao mercado na forma de bobinas de 25 metros de comprimento por 1,22 metro de largura, em diferentes espessuras, cores e estampas.

O fator que mais determina a comercializa-ção desses itens é o alto custo de fabricação. Os materiais de sustentabilidade ainda têm preços mais elevados porque não são produ-zidos em larga escala. Assim, o consumidor que entende o valor socioambiental de um item confeccionado a partir de um ecotecido, por exemplo, deve se dispor a pagar um pouco mais caro por ele.

Para que produção seja totalmente susten-

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tável dentro de alguns anos, é preciso que os consumidores passem a exigir das marcas essa preocupação e que as indústrias busquem o caminho da pro-fissionalização e da pesquisa. Muitas já estão preparadas, ou-tras estarão prontas em pouco tempo, mas tudo vai depender da demanda do mercado.

“Em qualquer área, ‘susten-tabilidade’ baseia-se em quatro pilares, os quais devem ser res-peitados: alta qualidade do pro-duto (desempenho e segurança); apelo dirigido ao meio ambiente (as empresas devem ter cuidado com os insumos desde sua entra-da até seu descarte); responsabi-lidade social (obrigação relativa às pessoas que produzem esses itens); e, por fim, algo que é mui-to novo, porém essencial, que é a ética nos negócios, na relação comercial, na venda, na nota, na entrega”, finaliza Napoli.

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Algodão verde

Algodão marrom

Algodão vermelho

Algodões verde e vermelho

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MODA

Moda e consciência ambiental na mesma passarelaSPFW e a sustentabilidade

Por conceito, a semana de lançamentos de moda em São Paulo é palco de inovações, e agre-gar as novidades tecnológicas e sustentáveis aos cenários, coleções e espaços mostra-se, cada vez mais, um diferencial importante, que deve ir gra-dativamente se incorporando ao cotidiano de quem cria, faz e usa moda.

Na mais recente edição do evento, além das ações gerais, como a já característica decoração do espaço comum constituída de papelão, houve também o esforço para anular a emissão de carbo-no – o evento foi “carbon free” – e para separar os resíduos e enviá-los para reciclagem. Os desfiles apresentaram algumas inovações, reafirmando, mesmo que timidamente, a tendência de a cons-ciência ambiental entrar no mundo dos negócios. A moda não ficaria de fora.

Novidades têxteis e também de marcas que têm alguma ligação com sustentabilidade e que desejam associar sua imagem à moda tam-bém tiveram espaço no evento. A seguir, alguns destaques:

• Tencel é uma importante marca da indústria têxtil. Ela produz o Liocel, uma fibra de celulose feita a partir da polpa de madeira. O Tencel não é só uma boa opção por contribuir para a preservação

do meio ambiente, mas também porque oferece conforto. Entre outras propriedades, ele absorve e expele a umidade do corpo, funcionando como uma segunda pele. Além de vantajoso como tecido acabado em si, o Tencel também leva vantagem quando se considera o seu processo de desen-volvimento. Com a adição da fibra ecológica aos jeans convencionais, o impacto ambiental pode ser significativamente diminuído, já que se reduz a área de plantio do algodão e, consequentemente, o desperdício de água para irrigação e o uso de agrotóxicos. Pode-se afirmar que 25% de Tencel significa 25% menos impacto ambiental.

• O azeite Gallo fez uma ação no desfile da Iódice. Alinhada às causas ambientais e de sus-tentabilidade, a marca portuguesa de azeites VI

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Por Susi Guedes

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inspirou o estilista a divulgar o tema. Durante o desfile da grife, a Gallo distribuiu para todos os convidados mudas de oliveira, que representam um elemento importante da vegetação e agri-cultura, com excelentes expecta-tivas de cultivo no Brasil. “É mui-to importante para a empresa abraçar causas ambientais e de sustentabilidade, uma vez que nossa essência vem da natureza. E poder unir moda à marca em prol desta ação é muito gratifi-cante”, disse Rita Bassi, diretora-geral da Gallo Brasil.

Mudas de oliveira do azeite Gallo foram distribuídas para os convidados durante o desfile da Iódice

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• No desfile da estilista Glória Coelho, a passarela foi formada por 120 cole-tores solares cedidos pela Transsen. Os equipamentos utilizados são parte de uma edição limitada da linha Premium Magnum, e as-sociam alto rendimento térmico a um design avançado, moderno. “A associação de nossa marca com a de Glória Coelho é altamente inovadora porque, ao mesmo tempo em que

reforça a ousadia no processo criativo da estilista, ajuda-nos a promover a tecnologia sustentável junto a um público diferenciado, com forte poder formador de opinião e influenciador de compor-tamentos”, comenta Susana Cintra, presidente da empresa.

• No desfile da marca 2nd Floor, teve desta-que o denim Vision Paper Megaflex. Ele faz parte da linha Hi-Comfort, da Canatiba, composta por denims que oferecem máximo conforto e são ecologicamente corretos devido à presença da fibra Liocel em sua fabricação. Desenvolvido com matérias-primas renováveis, o Liocel proporcio-na um toque agradável em ambos os lados do tecido, além de ser produzido em harmonia com o meio ambiente. Marli Vernille Guth, gerente de marketing da Canatiba, destaca: “Estamos muito contentes em participar do desfile da 2nd Floor, uma marca jovem que oferece aos seus consumidores um jeans valorizado por inovação tecnológica, com atributos diferenciados de be-leza e conforto. Os produtos da linha Hi-Comfort são também harmoniosos com o consumidor jovem, que prioriza produtos que respeitam o meio ambiente.”

• A questão da sustentabilidade também foi levantada no desfile de Ronaldo Fraga. As sacolas re-tornáveis com estampas utilizadas em várias das coleções do estilista

fizeram sucesso. Elas foram disputa-das no espaço Verdemar, que vende

produtos para alta gastronomia em Belo Horizonte, capital de Minas

Gerais. “Assim como Ronaldo, temos a mesma preo-

cupação em agradar e surpreender nosso público, além do foco em questões urgentes como sustentabilida-de”, explica o empresá-rio Alexandre Poni, da rede de supermerca-dos Verdemar.

• Ainda no desfi-le de Ronaldo Fraga, a maquiagem ficou a cargo da Natura, que tem a sustenta-bilidade como prin-

cípio e cria coleções de produtos sempre

com base em elementos da na-tureza. Foram as preocupações socioambientais que fizeram da empresa um destaque.

• A Osklen carrega em seu gene a filosofia do criador da marca, Oskar Metsavaht. Ele exige que as matérias-primas de suas coleções sejam prioritariamente ligadas à sustentabilidade (leia mais sobre a Osklen na pág. 59).

• No desfile da Ellus, a San-tana Textiles lançou sua coleção de tecidos denim produzidos com a inovadora e exclusiva tecnologia BEM (Bi Elastic Mo-vement). Desenvolvido em par-ceria com a Creora Eco, empresa do grupo sul-coreano Hyosung, o tecido se desloca multidire-cionalmente. Ele é produzido segundo as orientações “eco friendly”, que exigem o uso de menos produtos químicos.

• Um Mini Cooper Cabrio, da BMW, foi customizado para decorar a passarela do desfile de Glória Coelho. A pintura do carro, exclusiva, foi inspirada em uma estampa da coleção da estilista. Entre os conceitos de concepção da linha Mini estão a utilização de menos material, a produção mais limpa e a possibilidade de customização. Parte dos mate-riais são reciclados ou reciclá-veis. No site da marca há uma divertida demonstração disso (http://www.minibrasil.com/br/pt/recycling/index.jsp).

Como se pode ver, no mun-do da moda os negócios susten-táveis vão além da efemeridade. Mas são moda no sentido de estarem em movimento, de se atualizarem constantemente, de buscarem novos caminhos que aliem conforto, bem-estar e qualidade de vida com respeito ao meio ambiente. Nisso, moda e sustentabilidade são mais que parceiras comerciais, são irmãs, e gêmeas! VI

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Denim Canatiba no desfile da 2nd Floor

Desfile Colcci com Tencel®

Desfile 2nd Floor com Tencel®

Coletores solares da Transsen e até um Mini Cooper Cabrio da BMW (foto à esq.) decoraram a passarela do desfile de Glória Coelho

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VISÃO ECONÔMICA

Economia à moda antiga

O funcionamento da economia mundial reflete a ignorância, ou pelo menos uma des-consideração, quanto a alguns princípios da na-tureza que a ciência identificou ao longo dos úl-timos cem anos. Descobriu-se que não existem ações isoladas e que toda atividade humana influencia no ambiente local e global. Sabemos que os recursos naturais não são inesgotáveis e que a espécie humana exerce um grande impacto sobre o planeta Terra. Somos hoje mais de 6 bilhões de pessoas que, bem ou mal, alimentam-se, geram resíduos, utilizam água e realizam diversas atividades que modificam o ambiente natural das regiões onde atuamos e também de toda a Terra.

Tomemos como exemplo a ativida-de agrícola. Sabe-mos que a agricul-tura é o setor da economia mundial que mais consome água, cerca de 60% do total usado num ano. As constantes cargas de de-fensivos agrícolas jogadas sobre cada colheita acabam penetrando no solo e matando grande parte dos microorganismos que mantêm a terra saudável e produtiva, como era originalmen-te. O arado, revirando o solo, expõe a terra às intempéries, fazendo com que as substâncias nutritivas contidas na terra sejam arrastadas pela chuva e pelo vento. O passo seguinte então é tentar devolver à terra sua fertilidade, através da aplicação de fertilizantes – produtos químicos derivados do petróleo – à base de nitrogênio, fósforo e potássio. Todavia, parte dos produtos aplicados não penetra no solo, que perdeu sua permeabilidade, e são arrastados pelas fortes chuvas para os rios, poluindo-os. Dessa maneira, trata-se apenas de uma questão de tempo para que os solos se tornem cada vez mais pobres e – círculo vicioso – necessitem cada vez mais de defensivos agrícolas e de fertilizantes.

Outras atividades econômicas funcionam da mesma maneira, sem considerar suas consequên-cias sobre o restante da natureza. Preocupamo-nos apenas com o benefício que queremos obter, sem atentar para a influência que exer-cemos sobre o todo. Exemplo extremo dessa situação é a atuação da indústria pesqueira no mundo. Depois do aumento da frota de barcos e da utilização de métodos eletrônicos cada vez mais sofisticados para localizar os cardumes, a produtividade da pesca aumentou tanto que diversas espécies de peixes já não conseguem mais se reproduzir na velocidade e na quan-tidade necessárias para sua sobrevivência.

O resultado, além da quase extinção de alguns desses peixes, é que nos últimos dez anos a produtividade do setor vem caindo, causando desem-

prego e crise econômica em regiões depen-dentes de pesca.

A maneira como vimos explorando a floresta amazônica é outro exemplo dessa forma míope de exercer uma atividade econômica predatória. Extensas áreas de floresta, incluindo plantas e animais desconhecidos da ciência, são derru-badas e transformadas em carvão e cinza para dar lugar à cultura de soja ou à criação de gado. Essas atividades acabarão por desgastar com-pletamente o solo, que só era fértil por causa da cobertura florestal de que dispunha. Guardadas as proporções, é o mesmo que dinamitar o morro do Pão de Açúcar para calçar as ruas do Rio de Janeiro com paralelepípedos.

Nossa economia ainda atua em grande parte como se os recursos naturais fossem inexauríveis e como se a contínua destruição da natureza – para manter o sistema em funcio-namento – não tivesse qualquer consequência sobre o futuro.

Ricardo Ernesto Rose

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RICARDO ERNESTO ROSE é diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Câmara Brasil-Alemanha; formado em jornalismo e filosofia, possui cursos de extensão em gestão ambiental e de especialização em energia, economia, marketing e finanças

A agricultura é o setor da economia mundial que mais consome água, cerca de 60%

do total usado num ano

Os recursos naturais não são inesgotáveis e a espécie humana exerce um grande impacto sobre o planeta Terra

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