ruy mesquita, obituário estadão, h4

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H4 Especial QUARTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2013 O ESTADO DE S. PAULO Era domingo. Vladimir Her- zog havia sido morto nas de- pendências do DOI-Codi no dia anterior, sábado, 25 de ou- tubro de 1975. Eu, meus fi- lhos e minha mulher Olinda, já falecida, estávamos na fa- zenda da mãe dela, em Guara- tinguetá. As emissoras de rá- dio noticiavam a morte de Vlado juntamente com o co- municado oficial do 2.º Exér- cito de que ele cometera “sui- cídio”. As rádios informavam ainda que “as autoridades” buscavam outros comunistas mencionados num bilhete que o Vlado tentara rasgar, mas elas haviam reconstituí- do. Entre os procurados – vá- rios colegas nossos – surgia também o meu nome. Depois de conversar com minha mu- lher, resolvi me apresentar e, em seguida, liguei para o Es- tadão. Puseram-me em conta- to com o Dr. Ruy Mesquita. Ele me disse que viesse pa- ra São Paulo, mas não fosse para minha casa, e sim para a redação do jornal. Tomamos um táxi, eu e Olinda (meus fi- lhos, pequenos, ficaram na fa- zenda), e viemos para São Paulo. Fui para a redação do jornal. Ali o Dr. Ruy me disse que naquela noite eu dormi- ria na casa dele e só no dia se- guinte decidiríamos se eu me apresentaria às chamadas “autoridades”, ou não. Pas- sei, de fato, a noite na casa do Dr. Ruy, no quarto do fi- lho dele, o Ruyzito, que esta- va viajando. No dia seguinte, segunda- feira, eu, o Dr. Ruy, Olinda e o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Audálio Dan- tas, fomos os quatro ao quar- tel do 2.º Exército para que eu me apresentasse. Fomos recebidos pelo general Ferrei- ra Marques, uma vez que o então comandante, general Ednardo D’Ávila Mello, tinha ido para Brasília. A conversa durou cerca de meia hora, com a presença de outros ofi- ciais graduados. E nela ficou acertado que eu permanece- ria nas dependências do 2.º Exército para prestar depoi- mento e responder às pergun- tas que me fossem feitas. O importante, na conversa, foi o que o Dr. Ruy disse ao fi- nal, e que resumo no seguin- te: ele, Dr. Ruy Mesquita, e o jornal que dirigia, o Estado,a partir daquele momento pas- sariam a considerar o general Ferreira Marques pessoal- mente responsável pelo que acontecesse ao jornalista Marco Antonio Rocha, que ali estava presente e ali fica- ria para ser interrogado. O oficial-general, pretendendo não ter entendido o porquê da advertência, protestou que ela era inteiramente des- necessária, ao que o Dr. Ruy afirmou que se tornara neces- sária à luz dos fatos do sába- do que haviam resultado na morte do jornalista Vladimir Herzog, não no quartel-gene- ral, mas em dependência poli- cial militar vinculada ao 2.º Exército. Com esse final, to- dos se despediram e eu fi- quei “internado” para o de- poimento e interrogatório que durariam uma semana. Eu não era, até então, nin- guém especial, nem no jornal nem na vida do Dr. Ruy ou de sua família. Não podia espe- rar ser tratado pelo patrão com a hombridade, dignida- de e coragem demonstradas pelo Dr. Ruy naqueles dias trágicos e politicamente vio- lentos. Dois anos depois, o mesmo patrão, que nada me devia, nem mesmo laços de amiza- de, teria um segundo gesto de apreço pela verdade e pe- lo seu funcionário, ao compa- recer perante o Tribunal Mili- tar para depor em minha de- fesa no processo em que fui acusado de ser subversivo, comunista e traidor da Pá- tria, nos termos da Lei de Se- gurança Nacional da época, que, como quase ninguém ho- je sabe, ou se lembra, previa pena de morte para os conde- nados. Fui absolvido. De tudo ficou em minha consciência o exemplo de um dos melhores e mais aten- tos jornalistas que conheci nos meus 55 anos de profis- são, mas também de uma fi- gura humana de grandeza sem par: Ruy Mesquita. Dois irmãos contra a mordaça da ditadura ‘Estado’ e ‘JT’ continuaram apurando e escrevendo como se não houvesse censura 1935 Ruy entra no 1.º ano do giná- sio, no Colégio São Luís. 1936 Com o início da Guerra Civil Espanhola, o Estado apoia o governo republicano, atacado pelas tropas do general Franco. Por isso, os padres jesuítas do Colégio São Luís passam a per- seguir Ruy, seu irmão Julio e seus primos Luiz, José, Jorge e Paulo, que estudavam lá. 10/11/1937 Começa o Estado Novo (1937-1945), fase ditatorial do governo de Getúlio Vargas. Na véspera, Armando de Salles Oliveira, candidato à Presidên- cia, alerta os militares para o golpe. O Congresso é dissolvi- do e uma nova Constituição, inspirada no fascismo italiano, é imposta. Julio de Mesquita Filho é preso 17 vezes de no- vembro de 1937 a maio de 1938. 1938 Expulso do Colégio São Luís, Ruy se transfere para o Colégio Rio Branco. 3/11/1938 Julio de Mesquita Filho e Arman- do de Salles Oliveira são expulsos do País e partem de navio para a França. Só a mãe de Ruy, Marina, acompanha o pai. Ele e os irmãos vão morar com os tios Francisco e Alicinha. 1939 Na iminência da 2.ª Guerra, Julio de Mesquita Filho e Ar- mando Salles embarcam em abril para os Estados Unidos. Julio se transfere para Bue- nos Aires em julho. Jornal da Tarde. Informações censuradas sobre Geisel, escolhido para suceder a Médici, trocadas por receitas Estado. Poema de Camões substituiu notícia vetada sobre a vitória do oposicionista MDB nas eleições de 1974 Jose Maria Mayrink Receitas de bolos e doces no Jor- nal da Tarde, poemas de Luís de Camões no Estado. O jorna- lista Ruy Mesquita e seu irmão Julio de Mesquita Neto dribla- ram a censura com obstinação e criatividade durante o regime militar, quando a ditadura proi- biu, após a edição do Ato Institu- cional n.º 5 (AI-5), a publicação de espaços em branco no lugar do material cortado. Por orientação do pai, Julio de Mesquita Filho, não se faria autocensura e, sendo assim, a ordem era apurar os fatos e es- crever as reportagens como se tudo estivesse normal. Foi de Ruy Mesquita a ideia de publicar receitas de bolos e doces para cobrir as colunas que o lápis vermelho dos cen- sores da ditadura deixava va- zias. A censura do regime militar começou em 13 de dezembro de 1968, na madrugada anterior à divulgação do AI-5, quando o Es- tado foi apreendido, nas ofici- nas da Rua Major Quedinho, en- tão sede da empresa, por causa do editorial Instituições em Fran- galhos, escrito por Julio de Mes- quita Filho. Os censores instalaram-se na redação e ali permaneceram até 6 de janeiro de 1969, quando passaram a proibir textos, fotos e ilustrações pelo telefone, bi- lhetes e recados. Voltaram em 1972, depois de o Estado divulgar uma nota in- formando que os generais discu- tiam a sucessão presidencial nos quartéis e Ernesto Geisel se- ria indicado para substituir Emí- lio Garrastazu Médici. Não foi a primeira vez que os Mesquitas foram impedidos de informar com liberdade. Julio Mesquita, o patriarca da famí- lia, foi censurado nos anos da 1.ª Guerra Mundial (1914-1918) e durante a Revolução Paulista de 1924, tanto pelas tropas rebel- des quanto pelas forças do go- verno de Artur Bernardes. A censura voltou em 1932 e depois em 1937, quando Julio de Mesquita Filho e seu irmão Francisco Mesquita combate- ram a ditadura de Getúlio Var- gas. De 1940 a 1945, o governo ocupou as instalações do Esta- do, que não conta esse período em seus 138 anos de história. A censura voltou às páginas do Estado em julho de 2009, quando o jornal foi proibido por decisão judicial de publicar informações sobre atividades suspeitas do empresário Fer- nando Sarney, filho do senador José Sarney. ‘A ordem no ‘Estado’ e no ‘JT’ era apurar e publicar’ DEPOIMENTO REPRODUÇÃO ‘Figura humana de grandeza sem par’ 1925 2013 Marco Antonio Rocha, jornalista Ruy Mesquita ARQUIVO/ESTADÃO Execução. Morte de Herzog foi anunciada como suicídio O episódio em que Ruy testemunhou a favor de jornalista acusado de ser subversivo e comunista pela ditadura Em entrevista gravada, em 9 de julho de 2008, para o livro Mor- daça no Estadão, publicado em dezembro do mesmo ano, o jor- nalista Ruy Mesquita relembra como foi a censura da ditadura no Estado eno Jornal da Tarde, após a edição do AI-5, de 13 de dezembro de 1968. A seguir, os principais trechos. Censura. “Não fomos infor- mados de que haveria censura. Nós supusemos que, como esta- va acontecendo aquilo, esta- vam apreendendo a edição do Estado por causa do editorial Instituições em Frangalhos.” Bombas. “As duas bombas que puseram no jornal – na Rua Major Quedinho –, na nossa in- terpretação partiram da linha dura da Revolução, inconforma- da com a independência que o jornal vinha demonstrando – a independência não, a insubordi- nação – de não atender aos tele- fonemas sugerindo que essa ou aquela matéria não podia ser pu- blicada. A última bomba, já nes- te prédio aqui (atual sede do Grupo Estado, no Bairro do Li- mão), essa eu não sei quem pôs. Acho que podem ter sido inimi- gos nossos da esquerda. Foi de- pois de 1976.” Desafio. “A ordem era apu- rar e publicar. Mesmo porque, se tivesse havido autocensura, não teria acontecido o que aconte- ceu, que foi a vinda de censores no momento mais crítico e de endurecimento maior da ditadu- ra, no fim do governo Médici.” Fim da censura. “Assim que Geisel assumiu ou na véspe- ra de assumir, chamou o Julio Neto e expôs o projeto dele de abertura democrática, assumin- do perante o Julio e o Estado o compromisso de suspender, de acabar com a censura nos jor- nais. O que acabou fazendo.” Geisel. “Eu queria fazer justi- ça ao general Geisel. Acho que ele foi muito caluniado. Ele sa- bia da força que tinha a chamada linhadura. Ele planejou estrate- gicamente o processo de abertu- ra democrática que permitisse que ele ganhasse a parada con- tra a linha dura, que estava vi- va.” / J.M.M.

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H4 Especial QUARTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2013 O ESTADO DE S. PAULO

Era domingo. Vladimir Her-zog havia sido morto nas de-pendências do DOI-Codi nodia anterior, sábado, 25 de ou-tubro de 1975. Eu, meus fi-lhos e minha mulher Olinda,já falecida, estávamos na fa-zenda da mãe dela, em Guara-tinguetá. As emissoras de rá-dio noticiavam a morte deVlado juntamente com o co-municado oficial do 2.º Exér-cito de que ele cometera “sui-

cídio”. As rádios informavamainda que “as autoridades”buscavam outros comunistasmencionados num bilheteque o Vlado tentara rasgar,mas elas haviam reconstituí-do. Entre os procurados – vá-rios colegas nossos – surgiatambém o meu nome. Depoisde conversar com minha mu-lher, resolvi me apresentar e,em seguida, liguei para o Es-tadão. Puseram-me em conta-to com o Dr. Ruy Mesquita.

Ele me disse que viesse pa-ra São Paulo, mas não fossepara minha casa, e sim para aredação do jornal. Tomamosum táxi, eu e Olinda (meus fi-lhos, pequenos, ficaram na fa-zenda), e viemos para São

Paulo. Fui para a redação dojornal. Ali o Dr. Ruy me disseque naquela noite eu dormi-ria na casa dele e só no dia se-guinte decidiríamos se eu meapresentaria às chamadas“autoridades”, ou não. Pas-sei, de fato, a noite na casado Dr. Ruy, no quarto do fi-lho dele, o Ruyzito, que esta-va viajando.

No dia seguinte, segunda-feira, eu, o Dr. Ruy, Olinda eo presidente do Sindicatodos Jornalistas, Audálio Dan-tas, fomos os quatro ao quar-tel do 2.º Exército para queeu me apresentasse. Fomosrecebidos pelo general Ferrei-ra Marques, uma vez que oentão comandante, general

Ednardo D’Ávila Mello, tinhaido para Brasília. A conversadurou cerca de meia hora,com a presença de outros ofi-ciais graduados. E nela ficouacertado que eu permanece-ria nas dependências do 2.ºExército para prestar depoi-mento e responder às pergun-tas que me fossem feitas.

O importante, na conversa,foi o que o Dr. Ruy disse ao fi-nal, e que resumo no seguin-

te: ele, Dr. Ruy Mesquita, e ojornal que dirigia, o Estado, apartir daquele momento pas-sariam a considerar o generalFerreira Marques pessoal-mente responsável pelo queacontecesse ao jornalistaMarco Antonio Rocha, queali estava presente e ali fica-ria para ser interrogado. Ooficial-general, pretendendonão ter entendido o porquêda advertência, protestouque ela era inteiramente des-necessária, ao que o Dr. Ruyafirmou que se tornara neces-sária à luz dos fatos do sába-do que haviam resultado namorte do jornalista VladimirHerzog, não no quartel-gene-ral, mas em dependência poli-cial militar vinculada ao 2.ºExército. Com esse final, to-dos se despediram e eu fi-quei “internado” para o de-poimento e interrogatórioque durariam uma semana.

Eu não era, até então, nin-guém especial, nem no jornalnem na vida do Dr. Ruy ou desua família. Não podia espe-

rar ser tratado pelo patrãocom a hombridade, dignida-de e coragem demonstradaspelo Dr. Ruy naqueles diastrágicos e politicamente vio-lentos.

Dois anos depois, o mesmopatrão, que nada me devia,nem mesmo laços de amiza-de, teria um segundo gestode apreço pela verdade e pe-lo seu funcionário, ao compa-recer perante o Tribunal Mili-tar para depor em minha de-fesa no processo em que fuiacusado de ser subversivo,comunista e traidor da Pá-tria, nos termos da Lei de Se-gurança Nacional da época,que, como quase ninguém ho-je sabe, ou se lembra, previapena de morte para os conde-nados. Fui absolvido.

De tudo ficou em minhaconsciência o exemplo deum dos melhores e mais aten-tos jornalistas que conhecinos meus 55 anos de profis-são, mas também de uma fi-gura humana de grandezasem par: Ruy Mesquita.

Dois irmãoscontra amordaça daditadura‘Estado’ e ‘JT’ continuaram apurando eescrevendo como se não houvesse censura

1935Ruy entra no 1.º ano do giná-sio, no Colégio São Luís.

1936Com o início da Guerra CivilEspanhola, o Estado apoia ogoverno republicano, atacadopelas tropas do general Franco.Por isso, os padres jesuítas doColégio São Luís passam a per-seguir Ruy, seu irmão Julio eseus primos Luiz, José, Jorge ePaulo, que estudavam lá.

10/11/1937Começa o Estado Novo(1937-1945), fase ditatorial dogoverno de Getúlio Vargas. Navéspera, Armando de SallesOliveira, candidato à Presidên-cia, alerta os militares para ogolpe. O Congresso é dissolvi-do e uma nova Constituição,inspirada no fascismo italiano,é imposta. Julio de MesquitaFilho é preso 17 vezes de no-vembro de 1937 a maio de 1938.

1938Expulso do Colégio São Luís,Ruy se transfere para o ColégioRio Branco.

3/11/1938Julio de Mesquita Filho e Arman-do de Salles Oliveira são expulsosdo País e partem de navio para aFrança. Só a mãe de Ruy, Marina,acompanha o pai. Ele e os irmãosvão morar com os tios Franciscoe Alicinha.

1939Na iminência da 2.ª Guerra,Julio de Mesquita Filho e Ar-mando Salles embarcam emabril para os Estados Unidos.Julio se transfere para Bue-nos Aires em julho.

Jornal da Tarde. Informações censuradas sobre Geisel,escolhido para suceder a Médici, trocadas por receitas

Estado. Poema de Camões substituiu notícia vetada sobrea vitória do oposicionista MDB nas eleições de 1974

Jose Maria Mayrink

Receitas de bolos e doces no Jor-nal da Tarde, poemas de Luísde Camões no Estado. O jorna-lista Ruy Mesquita e seu irmãoJulio de Mesquita Neto dribla-ram a censura com obstinação ecriatividade durante o regimemilitar, quando a ditadura proi-biu, após a edição do Ato Institu-cional n.º 5 (AI-5), a publicaçãode espaços em branco no lugardo material cortado.

Por orientação do pai, Juliode Mesquita Filho, não se fariaautocensura e, sendo assim, aordem era apurar os fatos e es-crever as reportagens como setudo estivesse normal.

Foi de Ruy Mesquita a ideiade publicar receitas de bolos edoces para cobrir as colunasque o lápis vermelho dos cen-sores da ditadura deixava va-zias.

A censura do regime militarcomeçou em 13 de dezembro de1968, na madrugada anterior àdivulgação do AI-5, quando o Es-tado foi apreendido, nas ofici-nas da Rua Major Quedinho, en-tão sede da empresa, por causado editorial Instituições em Fran-galhos, escrito por Julio de Mes-quita Filho.

Os censores instalaram-sena redação e ali permaneceram

até 6 de janeiro de 1969, quandopassaram a proibir textos, fotose ilustrações pelo telefone, bi-lhetes e recados.

Voltaram em 1972, depois deo Estado divulgar uma nota in-formando que os generais discu-tiam a sucessão presidencialnos quartéis e Ernesto Geisel se-ria indicado para substituir Emí-lio Garrastazu Médici.

Não foi a primeira vez que osMesquitas foram impedidos deinformar com liberdade. JulioMesquita, o patriarca da famí-lia, foi censurado nos anos da 1.ªGuerra Mundial (1914-1918) edurante a Revolução Paulistade 1924, tanto pelas tropas rebel-des quanto pelas forças do go-verno de Artur Bernardes.

A censura voltou em 1932 edepois em 1937, quando Julio deMesquita Filho e seu irmãoFrancisco Mesquita combate-ram a ditadura de Getúlio Var-gas. De 1940 a 1945, o governoocupou as instalações do Esta-do, que não conta esse períodoem seus 138 anos de história.

A censura voltou às páginasdo Estado em julho de 2009,quando o jornal foi proibidopor decisão judicial de publicarinformações sobre atividadessuspeitas do empresário Fer-nando Sarney, filho do senadorJosé Sarney.

‘A ordem no ‘Estado’ e no‘JT’ era apurar e publicar’

DEPOIMENTO

REPRODUÇÃO‘Figura humana degrandeza sem par’

1925 2013

Marco Antonio Rocha, jornalista

Ruy Mesquita

ARQUIVO/ESTADÃO

Execução. Morte de Herzogfoi anunciada como suicídio

✝★

O episódio em que Ruytestemunhou afavor de jornalistaacusado de ser subversivoe comunista pela ditadura

Em entrevista gravada, em 9 dejulho de 2008, para o livro Mor-daça no Estadão, publicado emdezembro do mesmo ano, o jor-nalista Ruy Mesquita relembracomo foi a censura da ditadurano Estado e no Jornal da Tarde,após a edição do AI-5, de 13 dedezembro de 1968. A seguir, osprincipais trechos.

Censura. “Não fomos infor-mados de que haveria censura.

Nós supusemos que, como esta-va acontecendo aquilo, esta-vam apreendendo a edição doEstado por causa do editorialInstituições em Frangalhos.”

Bombas. “As duas bombasque puseram no jornal – na RuaMajor Quedinho –, na nossa in-terpretação partiram da linhadura da Revolução, inconforma-da com a independência que ojornal vinha demonstrando – a

independência não, a insubordi-nação – de não atender aos tele-fonemas sugerindo que essa ouaquela matéria não podia ser pu-blicada. A última bomba, já nes-te prédio aqui (atual sede doGrupo Estado, no Bairro do Li-mão), essa eu não sei quem pôs.Acho que podem ter sido inimi-gos nossos da esquerda. Foi de-pois de 1976.”

Desafio. “A ordem era apu-rare publicar. Mesmo porque,setivesse havido autocensura, nãoteria acontecido o que aconte-ceu, que foi a vinda de censoresno momento mais crítico e deendurecimentomaiordaditadu-ra, no fim do governo Médici.”

Fim da censura. “Assimque Geisel assumiu ou na véspe-ra de assumir, chamou o JulioNeto e expôs o projeto dele deabertura democrática, assumin-do perante o Julio e o Estado ocompromisso de suspender, deacabar com a censura nos jor-nais. O que acabou fazendo.”

Geisel. “Eu queria fazer justi-ça ao general Geisel. Acho queele foi muito caluniado. Ele sa-bia da força que tinha a chamadalinha dura. Ele planejou estrate-gicamente o processo de abertu-ra democrática que permitisseque ele ganhasse a parada con-tra a linha dura, que estava vi-va.” / J.M.M.