rui agostinho a tecnologia não para daqui 20 anos isto ... · voyager 1 e 2 com voos de passa-gem....

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Rui Agostinho "A tecnologia não para e daqui a 20 anos isto será história" Além da sonda Cassini, Rui Agostinho "tira o chapéu" a vários projetos que aconteceram no espaço nos últimos anos. O diretor do Observatório Astronómico de Lisboa destaca, por exemplo, o da sonda Rosetta, que aterrou no cometa 67P Perfil Diretor do Observatório Astronó- mico de Lisboa. Professor no departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Licenciou-se em Física e fez dou- toramento em Física/ /Astrofísi- ca. Fundou o Centro de Astrono- mia e Astrofísica da Universidade de Lisboa ea Socie- dade Portuguesa de Astronomia. JOANA CAPUCHO DN/Açoriano Orienal

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Page 1: Rui Agostinho A tecnologia não para daqui 20 anos isto ... · Voyager 1 e 2 com voos de passa-gem. A análise científica de Titã foi espetacular, deixou a comuni-dade científica

Rui Agostinho"A tecnologia não parae daqui a 20 anosisto será história"

Além da sonda Cassini,Rui Agostinho "tira o

chapéu" a vários projetosque aconteceram noespaço nos últimos anos.O diretor do ObservatórioAstronómico de Lisboa

destaca, por exemplo, oda sonda Rosetta, queaterrou no cometa 67P

PerfilDiretor do Observatório Astronó-

mico de Lisboa.

Professor no departamento de

Física da Faculdade de Ciências

da Universidade de Lisboa.

Licenciou-se em Física e fez dou-

toramento em Física/ /Astrofísi-ca. Fundou o Centro de Astrono-

mia e Astrofísica da

Universidade de Lisboa e a Socie-

dade Portuguesa de Astronomia.

JOANA CAPUCHODN/Açoriano Orienal

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Éofimapoteóticoda cassini.Sondadespenha-seem saturnoAstronomia.Se tudo correr como

planeado, quandoforem 12.55 emPortugal, a sondaCassini vai incendiar-se na atmosfera de

Saturno, após umasérie de 22mergulhos inéditosentre o planeta e os

anéis que começouem abril. Vinte anos

após ter sido lançadano espaço, a sondadeixará de emitirsinais, mas só 83minutos após o

mergulho no planetaé que a Terrareceberá os últimosdados recolhidos."Será como um eco",disse Earl Maize,responsável peloprojeto Cassini no

Laboratório de

Propulsão a Jato daNASA, em Pasadena,na Califórnia. É ofinal de uma missão

que nos últimos 13anos revelou

informaçõesimportantes sobre

Saturno, as suas luas

e os seus anéis. Atéentão, nuncanenhuma nave tinhaestado tão próximado planeta.

A Cassini operou durantequase mais uma década do queera suposto. Como é que isto é

possível?Isto é possível em qualquer mis-

são se forem asseguradas algumascondições. Por um lado, o com-bustível que é necessário para asonda reprogramar trajetórias. Ocombustível é contado aos quilospara uma trajetória inicial, que é

planeadaparaum certo tipo de es-tudos. Se sobrar alguma coisa, é

possível aumentar o programacientífico. Mas se a sonda for dei-xada na órbita e continuar a fazertrabalho importante, este aspetonão faz falta. O outro aspeto aterem conta é o consumo energético.As baterias, associadas aos cole-tores solares, são planeadas paradeterminado tempo de vida útil.Se continuarem ativas, é possívelmanter os instrumentos afuncio-nar mais tempo, coletando dados.

Durante quanto tempo podeoperar uma sonda?

Apriori não se consegue saber.Para fazer as contas é necessário

ter em conta os instrumentos ne-cessários para a missão, a energiaque vão gastar e durante quantosanos. E desenha-se a nave paraisso. Os cálculos vão ser feitos ao

quilo, por causa do foguetão quevai lançar. Por exemplo, colo-cam-se os painéis solares parairem recarregando as bateriasconsoante os anos da missão. Se

durar mais, é uma sorte. Mas nin-guém sabe quanto tempo tempara lá do programa científico.Não é possível prever quantosanos mais a sonda vai operar alémdos previstos. É tramado lançarqualquer coisa para o espaço. Acarga útil de um foguetão é de 1% .

Por cada quilo que queira por no

espaço, precisa de 99 quilos de fo-guetão. E os lançadores têm limi-tes. Atualmente, não há nenhumlançador com a capacidade que o

Saturno 5 teve, aquele que lançouos homens para a Lua.

Porquê esta decisão de des-penhar a sonda contra Satur-no?

Fez-se o mesmo com a sonda

Huygens, que ia abordo da Cassi-ni e que entrou na Titã. Estamos afalar de atmosferas muito densas.Quando se faz fotografia dos pla-netas, deteta-se apenas a luz quevem da parte superior da atmos-fera. É tramado ver o interior. O

truque é fazer a sonda entrar noplaneta e, enquanto vai caindo, en-viar a informação. Pelo menos a

parte inicial da entrada na atmos-fera fornece muito mais dados do

que aqueles que são possíveis ob-ter de fora. É melhor "perder" asonda do que simplesmente dei-xar apagar os instrumentos.

Há quem considere que esteé um dos projetos mais bem-sucedidos da NASA. Concorda?

É um dos grandes projetos. Amissão chegou a ser estendidaduas vezes, vai atingir os 20 anos.

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A máquina funcionou tão bem,que todos os instrumentos traba-lharam muito além do projeto ini-cial dos quatro anos. Por outrolado, a informação que se reco-lheu com a Cassini foi única, por-que as únicas sondas que lá ti-nham passado perto foram as

Voyager 1 e 2 com voos de passa-gem. A análise científica de Titãfoi espetacular, deixou a comuni-dade científica a bater palmas,porque não tinha sido feito nadado género, exceto para a nossalua.Mas há vários projetos que acon-teceram no espaço que são de setirar o chapéu, que conseguirammarcar e fazer coisas nunca antesvistas. Vou mencionar apenas o

da Rosetta, mas há mais. Comoé possível pousar num núcleo co-metário? Há uma série de deta-lhes impressionantes associados.

Atecnologia não para e daqui a 20anos isto será história.

Até onde pode ir uma sonda?As Voyager já vão a 140 unida-

des astronómicas, sendo queuma unidade astronómica é daTerra ao Sol. Mas temos objeti-vos gravitacionalmente presos aoSol nas centenas de unidades as-tronómicas. A última etapa são

os cometas de núcleo pequenoque são afastados às cem mil uni-dades astronómicas. Podemosolhar para esta como sendo aárea de controlo gravítico porparte do Sol. Além da Voyager,temos a New Horizons. Fez umestudo incrível sobre Plutão, masde passagem. Não ficou a gravi-tar e foi redirecionada para es-tudar um transneptuniano. Estaserá a próxima meta. ?

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