rugas n3 versão digital (colorido)

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Pag.1 RUGAS

Editorial

Este é o terceiro e último número do zine Rugas!Um novo eu abita este corpo casulo, medesfazendo da antiga pele e trocando por umanova, o frágil pelo forte, os olhos vivos pelosfrios, os sonhos pelo real. Mudar faz parte, a cadaano sou alguém diferente, mas certas coisascontinuam as mesmas. Como essa inquietude, queapesar de mais leve, não transformo emconformismo e essa sociofobia sufocante, cadavez mais forte, que transformo em arte.Preenchi esse número, como o primeiro, apenascom materiais autorais. Com textos, poemas,desenhos e uma historia ilustrada, que não podiafaltar.

Logo mais, vem coisa nova! Paracada fim tem um novo começo.Não sei como vai ser, nemquando vai ser. Pra falar averdade, não sei nem se vai rolar.Mas que se foda! Se não somosdonos nem de nós mesmos,como vamos ser do quecriamos?! E é isso aí moçada!Espero que gostem dessa merdatoda!!Solano Gualda2016

Contatos

Caixa Postal:21819, Porto Alegre/RSCep.: 90050-970

Facebook:www.facebook.com/zinerugaswww.facebook.com/CotoneteFarpado

Blog:rascunho100rumo.blogspot.com.br

Meu caminho

Ser sensível sem ser fraco.Ser forte sem ser bruto.Pensar como indivíduo, semesquecer o coletivo.Entender o complexo, semmenosprezar o simples.Sonhar sem ser cego.Enxergar sem ser mudo.

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Pag.2RUGASAparência

Não ligo em bem aparentar.Se possível aparento mal.No fim das contas não vou aparentar oque fui.Tão pouco o que aparentava.Vou aparentar o que fui antes de ser.Vou aparentar matéria do que não é.Vou aparentar parte do que serei.Pedaços de memórias do que vou ser.Na mente dos que não foram.Sempre serei o que já fui.Para os olhos de quem vê, serei cascaque ainda é. Casca de carne envelhecida.Mal cheirosa.Agarrada em frágeis bastões de cálcio.Alimentando vidas menores, inferiores.Devorado por agentes da não vida.Serei a não vida alimentando o que é.Diminuindo em tamanho e expandindo emfunção.Serei parte do que já fui.Parte de um todo.Vou aparentar ser o que não é.Que se expandindo constitui o que será.

Demência

Sinto que algo está errado.Sinto isso nos meus olhos e em meusouvidos.Está em meu pulmão e estomago.No vento e na reação estranha de minhapele.Na cabeça sem corpo.Em meu corpo sem carne.Saco plástico nadando no vento.Papel rasgado de panfleto político.Sinto isso.Está em mim!Nos instantes em que meu olhar sedesmancha.

Meus pensamentos se constroem emmelodia.Não é tristeza.Não é alegria...Apenas algo está errado.Nada de fora, apenas de dentro.Alguma coisa se esconde em mim.Talvez seja apenas como um saco de areia.Aos poucos vazando.Restando apenas o couro rachado econtorcido.Aposentado das porradas das tardes detreino.Não que seja novidade, mas preciso evitar.Seria desanimo?Mas não o sinto.Parece apenas um poderoso estadomeditativo.Sereno, tranquilo.Parte do vento e do som das folhas.Mas algo está errado.Onde tinha areia o vento transita àvontade.Não consigo focar as formas.Não consigo sair de mim.Sou as vezes tomado por essa sensaçãoestranha.Seria de paz?Talvez sim.Mas a tempo para ela?Talvez não.Não é compatível.Não se encaixa.É como se a questão não fosse alcança-la.Conviver com ela é o problema.A serenidade dos monges em votos desilencio.Tenho de estudar.Um mês.Concurso.Estou aqui a duas horas.Duas horas segurando essa xícara nasmãos.

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Pag.3 RUGASGotejando o café aos poucos pelagarganta.Duas horas pensando e olhando para onada.Não é novidade.Já conheço isso.Faz parte de mim.Se passa mais uma hora.Tomo um pequeno gole.A xícara ainda está cheia.Algo está errado!

Corrosão

Ando a noite como um cadáver pela rua,a caminho do tempo.O tempo corroendo a vida.O café corroendo o estômago.A mente latejando o corpo.O corpo transbordando a mente.Não é fumo nem álcool.Apenas é!É isso...Só sei que é.

Olhos rasgados

As dores, como os prazeres, moldam oque somos.Ando escolhendo as dores certas?Penso as vezes.Existem dores certar?As vezes pareço me agarrar a todas.Apenas as seguro e prendo aos olhos.Levo para casa.Dou banho e do que comer.Embriões que crescem dilacerando acarne dos glóbulos.Pesando o rosto.Jogando o pescoço para baixo.Passando a pertencer-me.Me torno elas.Vermes que vindo de fora se misturam amassa de dentro.

Se alimentado dessa clara poluída deprazeres e dores.Fortalecendo e engordando.Meus olhos ardem.Quase que fecham.Explodem.Esses vermes saem aos poucos dos olhos.Por todos os lados.Pelas fendas do rosto.Caindo em meu caderno.Se contorcendo.Imprevisíveis.Berrando confusos.Prontos para mais tarde novamenteparasitar.Na mente de outra pessoa.Que lendo meus poemas decidir abriga-los.

Velho boêmio

A voz rouca, o corpo fraco.Com seu violão, o peito rasgado.Delirando sozinho, cantando aos muros.Velho boêmio.Abandonado.Velho boêmio, resiste sem palco.Velho boêmio, cantando cansado.A arte morreu e ele resiste.Mesmo tão triste, nunca desiste.Velho boêmio, guerreiro do samba.Sua dor é de bamba.Teu pranto me sangra.Amor imbatível.Esquecer impossível.Velho boêmio, que mundo terrível.Velho boêmio, herói invisível.

A saúde do poeta

Pessoas normais podem fazer filmes.Escrever livros.Fazer quadros e bolos.Escrever em maquinas ou pergaminhos.

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Pag.4RUGASAssistir novela ou futebol.Se casar ou ter saúde.Ir ao teatro ou se masturbar na calçada.Fazer pagode ou matar gente.Montar um puteiro ou uma igreja.Mas não poesia.Nunca poesia.Pessoas normais não fazem poesia.Poetas não tem direito a normalidade.Não tem direito a saúde.Tem direito a loucura e solidão.A esquizofrenia e masoquismo.Ao cheiro de carne e porra.De merda e mijo das noites marginais.Do calor do ódio ou das paredes friasde onde vivem.A alegria que dura poucos segundos.A tristeza que se alastra durantesemanas.A ter paixão pela angústia e a desprezaro falso gozo.Sempre correndo atrás do tato ounadando nos brilhos de sua mente.Boiando nos sentidos ou se afogandonas paixões.Quando na multidão são indivíduos.Quando escrevem, pedaços expansivosdo universo.Que crescem e encolhem de um instantepara o outro.Em esferas de luz e em linhas orgânicas.Se alastrando.Palidamente, mas ofuscantes.Rasgando cartilagens e músculos, quese esticam e derretem.Suas partes se desprendem, formandoabstrações.Expondo linhas internas.Juntando diferentes formas em umamesma matéria.Mutável e anárquica.

Formando gazes, abandonando o físico.Crescendo sem limites.Em direção ao vazio.

A força do ódio

Me sinto cheio de ódio, cheio de vida.Vivo, forte e concreto.Não mais parte amolecida e molecular.Por vezes gasosa e cancerígena.Mas o todo de um ser.Que segue os desejos de uma mente.Mente agitada e funcional.Não mais suicida e instável.Voltando ao que era.A ser o ódio.Que busca uma fuga, enlouquecido.Feliz.

Fracos

A paz dos fracos sempre será asubmissão.Gente fraca não tem identidade.Não passam de base do que quer que ospaire.Fascismo.Capitalismo.Socialismo.Independente do que sustentem nãopassam de vigas.Estúpidas e submissas.Pedaços de um todo qualquer.Como uma peça que é necessária em todamaquina.Sempre fundamental.O fraco é a peça chave de toda forma depoder.Mas por ser tão comum pode sertranquilamente jogado fora.E substituído por outros mil iguais a ele.

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Pag. 5 RUGAS

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Pag. 6RUGASO ódio cotidiano

Porque suportar as pessoas é tão difícil?

Talvez por conta dos gestos exagerados, sorrisos mentirosos e por se revoltarem sóquando esperam por aplausos. Trocando palavras vazias, buscando acertar o códigocorreto pra ser incluso neste ou naquele grupinho. Sem alma e sem rosto, achando quea vida é foder de vez em quando e viver cercado de idiotas.

E a galerinha mais intelectual?! Esses são demais! Essas criaturinhas odiosas,vomitando referências como gravadores. Todo o posicionamento e conhecimentotrocados por uma atrofiada aceitação social, bando de débeis mentais filhas da puta,parecem crianças leprosas quando se movem e falam! Tenho vontade de me matar só deouvi-los, não matar eles, isso não ia adiantar de nada, esses merdas estão em todaparte, na esquerda, na direita, no apartidarismo e na porra das faculdades. Minhacabeça ferve só de vê-los. Quando escrevo devo parecer um louco, esfaqueando meucaderno, um assassino. Esses cuzões me fazem mal, nenhuma revolução adiantariaporra nenhuma com esses eunucos cerebrais por perto, e o pior de tudo é que esse tipoainda se acha importante, ainda se acha mais espertinhos que a maioria... Mas,surpresa!! Estão atolados na mesma merda que todo filha da puta nesse mundinhofodido, mas fingem ver tudo de cima, enquanto citam pessoas que nem ao menoscompreendem, vendo as coisas do alto e esquecendo de enxergar em baixo, tentamentender o universo mas não entendendo nem a si mesmos. Essa gente não querresolver nada, só finge que se importa, nem conseguem ver o quanto são fracos einúteis. Quando chego em casa e me afasto das pessoas, dou um pouco de atenção aomeu gato, ele não entende nada sobre trabalho, nem política, nem arte, não sabe sobremovimentos literários ou entende de cinema, mas sabe muito mais que essa gente, sabedo que precisa e do que quer, não sonha em dirigir um carro ou ter uma família, dorme odia todo e lava o cú com a língua!

Olhos tristes

A professora branca de olhos tristes. Talvez um pouco mais alta que eu, o rosto quefaz lembrar o de uma criança. Sempre parece que chorou a pouco. Um jeito inseguroe melancólico, incrivelmente delicada e fraca. Triste, mas não faz disso um fetiche,se veste bem, seu relógio parece caro, sua pele é absurdamente saudável e seuscabelos sedosos. Sua voz se traveste de alegria, mas não consegue deixar de ser presae por vezes soluçada. Sempre sorri, mas seus olhos não mentem, olhos tristes ecaídos, pequenos olhos atrás de óculos enormes, três vezes o tamanho dos meus. Maslhe cai bem, sua testa é grande, como a de um recém nascido. Não consigo entendersuas palavras,sempre me perco em seus olhos. Tanta tristeza perdida em tanta beleza,poderia me apaixonar por aqueles olhos, rouba-los para mim. Me perco neles, a tristezasempre me exerce um fascínio. Abstraio seu rosto na beleza de seus olhos, sem eles, ela

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Pag 7 RUGAS

seria apenas mais uma, mais uma garota bonita e vazia. Angustiado os observo gritar,sabendo que poucos podem ouvi-los. O som de sua tristeza é alto, não ouço nada alémdisso, mas todos os outros se perdem em seu relógio caro, sua pele saudável e cabelossedosos

Espectador

Ele está na calçada em frente a minha, o observo do alto de minha janela com o anguloque só eu posso ter. Paro de observar e começo a escrever. Olhar essas merdas tão decima faz a gente parecer Deus, ou de alguma forma invisível. Olhar da janela é comoflutuar o ser sob o alheio, se espalhar no cotidiano sem ser contaminado por ele,protegido dele. Talvez assim se sintam as velhas que passam seus dias na janela, ousimplesmente por debaixo da cintura fiquem se masturbando olhando as crianças, osestudantes e militares, dando bom dia aos vizinhos enquanto beliscam o grelo suado eacariciam o clitóris. Olho de novo para a rua, vejo o homem com um gigantesco pedaçode pedra entre suas duas mãos, ele ofende e ameaça, arremessa no chão e cata umpedaço grande que sobrou dela, o maior que tinha. Caminhando com velocidade, prontopara matar quem quer que fosse. Seus gritos enlouquecidos e ásperos tem aquelamelodia característica dos alcoólatras.

Pouco antes estava na rua, dessa vez na calçada mais próxima, em frente a meu prédio,mandado uma mulher que passava chupar seu pau, enquanto apertava as bolas emostrava os dentes, que de minha distancia pareciam apodrecidos. Um homem queestava próximo respondeu a ele gesticulando energético, indo pra cima dele. O bêbado,antes furioso e gritando de cima de sua janela de álcool, recuava murmurando coisasque só eles podiam entender, ou pelo menos ouvir. O homem desiste de bater nobêbado, talvez por pena ou algum compromisso, mas sempre que se afastava voltava areceber ofensas do bêbado cagão, até que em determinado momento de decisãoabsoluta, foi pra cima dele com tudo e lhe deu vários chutes na bunda, enquanto obêbado corria com uma velocidade quase que mágica, deixando seu agressor para trás,mas na confusão derrubou o boné. Olhando o agressor da ponta de outra calçadavoltou para sua janela. O homem, por sua vez, pega o boné do chão e chama o bêbado,que por sua vez pede ajuda enquanto caminha em sua direção, dizendo que tinha sidoroubado. O homem então responde, ´´ vem pegar “, mas o bêbado é só um drogadocagão e prefere não se mover, então o homem vai embora e toma o boné pra si. Obêbado fica dando pequenos movimentos no mesmo lugar, xingando o alheio e falandoque vai dar tiros e machadadas nas pessoas. Passa mais uma mulher e ele chama decuzuda, um carro passa e buzina, o chamando de cachaceiro. De lá ele atravessou a ruae foi para a calçada seguinte, pegou a pedra que estava solta no chão e continuouandando dizendo que ia matar alguém, até sumir. Agora, depois de escrever tanto já nãoo vejo, nem ouço sua voz, mas provavelmente está por ai bancando o assassino cagão,do alto de sua janela ou babando seu sangue no chão, depois de levar umas porradasde um assassino de verdade.

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