roupas e tecidos – notas sobre moda e cultura material considerar
TRANSCRIPT
Roupas e tecidos ndash notas sobre moda e cultura material
Rita Andrade - ritaandradehotmailcom Faculdade de Artes Visuais Universidade Federal de Goiaacutes
Resumo Este artigo apresenta a roupa e os tecidos de que satildeo feitas como objetos materiais e culturais mas tambeacutem como documentos que podem ser utilizados em determinadas circunstacircncias para a elaboraccedilatildeo de projetos de estudo e pesquisa Propomos o uso de um meacutetodo interpretativo de objetos tecircxteis para a elaboraccedilatildeo de biografias culturais A anaacutelise material de determinados artefatos coloca em xeque a ideacuteia de uma dada hegemonia da moda sobre todas as formas de vestir Atraveacutes da interpretaccedilatildeo de determinadas marcas elementos e articulaccedilotildees das roupas eacute possiacutevel perceber camadas de temporalidades e espacialidades que coabitam sobre o corpo As evidecircncias materiais das interferecircncias dos sujeitos e outros atores (tempo clima condiccedilotildees de armazenagem) sobre as roupas feitas de tecidos indicam formas sensiacuteveis de vestir os corpos Palavras-chave Cultura material interpretaccedilatildeo de objetos moda roupas tecidos
Abstract This paper approaches dress and textiles as material and cultural objects but also as documents which may be used as research and study resources The interpretation of textile objects is proposed as a method to elaborate cultural biographies Material analysis of certain artefacts displaces fashion hegemony over all forms of dress Through the interpretation of material elements of a dress it is possible to question the way time and space have been perceived in contemporary fashion and culture Material evidence of social circulation of textiles and dress indicate sensitive meanings in the ways to dress the body Keywords Dress fashion material culture objets interpretation textiles
Considerar a roupa1 como objeto de estudo implica entendecirc-la no espectro de
fatores materiais e simboacutelicos historicamente e culturalmente variaacuteveis Roupas
envolvem o corpo e constroem aparecircncias (BOLLON 1993) Agem na superfiacutecie da
pele recobrindo-a de tecidos formas e outros aparatos promovendo uma miriacuteade de
sensaccedilotildees como coacutecegas aspereza frescor e aquecimento Roupa eacute um dos mais
importantes produtos da moda ndash lsquouma forma absolutamente singular de sintonizar
ideacuteias sensaccedilotildees que vatildeo modelando o contemporacircneo encarnando-asrsquo (PRECIOSA
2005 30) ndash mas natildeo eacute isso que a define completamente Pode ser ainda a encarnaccedilatildeo
da funcionalidade dos movimentos do corpo que trabalha adoece e morre A roupa eacute
uma maneira de dar e fazer sentido do mundo
Aleacutem das funccedilotildees mais convencionais das roupas como vestir os corpos a partir
do seacuteculo XX percebemos novos usos que ampliaram o espectro de sua historicidade
A arte por exemplo tem explorado a roupa e o tecido como suporte A arquitetura tem
desenvolvido tecnologias inovadoras para o uso de tecidos na construccedilatildeo de espaccedilos
O museu tem incorporado objetos de uso pessoal ndash entre os quais as roupas ndash a seus
acervos empregando profissionais das aacutereas de conservaccedilatildeo e curadoria para dar
sentido a roupas que natildeo mais vestem os corpos Aleacutem disso o territoacuterio de divulgaccedilatildeo
da moda ndash sistema em que a roupa eacute dos mais importantes elementos - conquistou
espaccedilos muito heterogecircneos e amplos que vatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo de massa agrave
publicidade passando por escolas especializadas em formar profissionais para o setor
Natildeo eacute possiacutevel separar a roupa do cotidiano (LEHNERT 1998 8) No filme O
Diabo veste Prada haacute uma cena em que a assistente de Miranda um personagem que
encarna a aversatildeo agrave moda natildeo compreende o desafio que sua chefe encontra em
decidir entre dois cintos de tonalidades distintas de azul para um editorial A seu ver os
cintos satildeo parecidiacutessimos ndash para natildeo dizer iguais ndash e ela zomba daquilo que considera
ser um trabalho altamente fuacutetil Neste momento Miranda encara a assistente que estaacute
vestida com um pulocircver azul enquanto discorre sobre a induacutestria que havia escolhido e
fabricado a cor do pulocircver Ela descreve uma trajetoacuteria fictiacutecia daquele pulocircver desde
sua concepccedilatildeo por um famoso designer ateacute que chegasse a ser comprado pela
assistente em uma loja de descontos dois anos depois Com seu discurso a editora
quis demonstrar que natildeo haacute escolhas ingecircnuas e que cada tom de azul representa um
sentido singular que o distingue dos demais tons Esses sentidos satildeo movediccedilos como
a proacutepria trajetoacuteria do pulocircver
Roupas satildeo objetos que tecircm uma circulaccedilatildeo social Sua longevidade geralmente
maior que a humana possibilita-lhes transitar por diferentes espaccedilos e tempos Para
pensar as roupas numa perspectiva cultural e histoacuterica eacute necessaacuterio apreendecirc-las em
contextos especiacuteficos jaacute que sua condiccedilatildeo circulante e suas inerentes propriedades
deteriorantes deslocam-nas continuamente para novas situaccedilotildees para novos estados2
Parece-me portanto mais vantajoso pensar em investigaccedilotildees sobre a roupa como
meacutetodo de estudo e interpretaccedilatildeo histoacuterica no lugar de engessaacute-las na classificaccedilatildeo
que se fez delas no momento em que foram criadas desprezando o seu itineraacuterio e
suas mudanccedilas morfoloacutegicas As relaccedilotildees que permeiam as trajetoacuterias revelam a
complexidade envolvida em qualquer tentativa de realizar uma histoacuteria da roupa Tentar
fazecirc-lo como que classificando e ordenando de uma soacute tomada as teclas de um piano
seria semelhante a afirmar a existecircncia de um soacute caminho para a muacutesica ou para a
sonoridade que resulta do toque nas teclas em uma soacute ordenaccedilatildeo em um soacute arranjo
Seria o mesmo que unificar o tom desprezando os outros tons desprezando os ruiacutedos
Investigar significa ldquoseguir os vestiacutegiosrdquo ldquoexaminar com atenccedilatildeordquo Investigaccedilatildeo
do particular3 do singelo eacute o que permite colocar em discussatildeo alguns dos elementos
ainda pouco estudados e talvez pouco conhecidos na historiografia Lou Taylor
escreveu Establishing Dress History (2004) um trabalho que imediatamente tornou-se
referecircncia na historiografia especiacutefica Nele a autora defende o estudo de roupas e
tecidos como fontesdocumentos capazes de elucidar aspectos histoacutericos culturais e
sociais quando vistos em contexto Isso se deve particularmente a suas qualidades
materiais muito distintas de outros tipos de documentos (textuais iconograacuteficos aacuteudio-
visuais) e tambeacutem porque satildeo materiais que convivem moldam e satildeo moldados pelo
corpo
Neste artigo introduzo um meacutetodo de interpretaccedilatildeo daquilo que eacute possiacutevel
entrever nas marcas e vestiacutegios encontrados em objetos tecircxteis especialmente em
roupas Uma roupa fabricada num determinado periacuteodo em determinado contexto
cultural eacute em seguida posta a circular sendo-nos possiacutevel investigar sua trajetoacuteria sua
biografia No momento em que um vestido por exemplo deixa de circular como uma
roupa que veste corpos e eacute incorporado ao acervo de um museu este ganha um novo
estado o de documento ou seja lsquoum suporte de informaccedilatildeorsquo (MENESES 1998)
Haacute certamente criacuteticas a formas quase ciruacutergicas de historicizar temas como a
roupa A maior delas diz respeito agrave interpretaccedilatildeo de objetos como ferramenta de anaacutelise
e reflexatildeo histoacuterica e ao fato de que a atenccedilatildeo pormenorizada dada ao objeto resulta
num estreitamento de abordagem Esta criacutetica vem especialmente de historiadores
econocircmicos como Ben Fine e Ellen Leopold que em seu The world of consumption
(1993) discutem a importacircncia da roupa no contexto do consumo Apesar do
reconhecimento do valor da pesquisa baseada em objetos para a histoacuteria social esses
autores defendem a abordagem do exame de sistemas como os da moda criticando a
interpretaccedilatildeo minuciosa de objetos ndash ao que se referiram como lsquocada frufru e babadorsquo -
praticada por historiadores e curadores do vestir4
No entanto se satildeo os sistemas e as diferenccedilas nas formas em se produzem
comercializam e consomem objetos eacute que os distinguem entatildeo a anaacutelise e a
interpretaccedilatildeo destes objetos satildeo ferramentas e meacutetodos de trabalho importantes para
acessar suas densidades culturais Em minha experiecircncia como aluna de design de
moda no iniacutecio da deacutecada de 1990 e depois como coordenadora e professora de cursos
de graduaccedilatildeo em moda percebi que o maior desafio na criaccedilatildeo de roupas estaacute em
solucionar problemas da concepccedilatildeo do projeto isto eacute de realizar a roupa projetada A
lida com o tecido e aviamentos o desenvolvimento da modelagem os processos de
costura a escolha pelo maquinaacuterio o emprego de trabalhos manuais enfim todo o
trabalho e o estudo voltados para confeccionar uma roupa projetada fazem parte do
dia-a-dia de um designer de moda e o desafio estaacute justamente em continuamente
encontrar novas e melhores soluccedilotildees de acabamentos articulaccedilatildeo modelagem e
costura
No ensino de moda as soluccedilotildees para esses desafios satildeo estudadas em
disciplinas consideradas ldquopraacuteticasrdquo aquelas em que alunos e professores utilizam e
aprimoram habilidades manuais como ldquoatelier de costurardquo ldquomodelagemrdquo ldquotecnologia
tecircxtilrdquo Haacute portanto uma separaccedilatildeo no curriacuteculo dos cursos de moda que restringe o
estudo dos aspectos materiais do design a determinadas disciplinas Contextualizar
colocar em debate e ampliar o escopo de estudo dos aspectos materiais da moda satildeo
atividades que permitiriam investigar o design numa perspectiva cultural
A roupa ao menos determinadas roupas5 eacute uma forma privilegiada de dar e
fazer sentido do mundo Ela permite entranhar a carne e a alma numa rede de
conexotildees que ultrapassam a vulnerabilidade da mateacuteria posto que corpo e roupa estatildeo
submetidos agraves forccedilas da degradaccedilatildeo Ao mesmo tempo entretanto estaacute na mateacuteria
(tecidos linhas bototildees etc) e em sua articulaccedilatildeo (formas o arranjo dos materiais) a
potecircncia que gerou a roupa A autonomia dos materiais como tecidos permite um
desdobramento que ultrapassa o tempo da moda ou o tempo de uso de produto em que
foi transformado
Uma roupa por exemplo eacute feita de uma variedade de materiais tecircxteis
metaacutelicos viacutetreos plaacutesticos enfim a lista eacute extensa Um vestido confeccionado com a
seleccedilatildeo de determinados materiais articulados para constituir um design especiacutefico
pensado para um fim especiacutefico tem um tipo de obsolescecircncia programada
especialmente quando a roupa estaacute inserida no sistema industrial e comercial da
moda6 Nesse sistema o vestido tem um tempo de ldquovidardquo que foi preacute-determinado
porque deveraacute ser substituiacutedo por outros modelos outros estilos outras articulaccedilotildees
com outros materiais O uso e reposiccedilatildeo instantacircneas nos levaria agrave hegemonia
sufocante da moda
Os materiais no entanto tecircm propriedades fiacutesico-quiacutemicas que os libertam desse
poder hegemocircnico de sistemas constituiacutedos como a moda As propriedades dos tecidos
ndash flexibilidade aderecircncia resiliecircncia longevidade dentre outras ndash possibilita seu reuso
isto eacute permite que sejam desmembrados da sua articulaccedilatildeo original e reutilizados em
outras articulaccedilatildeo infinitas vezes enquanto sua fisicalidade permitir Essas novas
articulaccedilotildees soacute seratildeo realizadas por meio da circulaccedilatildeo social da roupa Eacute possiacutevel
pensar a vida atraveacutes do vestir das preferecircncias pelos materiais da articulaccedilatildeo que se
fez deles do tempo empregado no fazer pensar refazer e repensar a roupa
A aparecircncia um dos territoacuterios de maior accedilatildeo da roupa e os sentidos a ela
associados tais como o zelo a preocupaccedilatildeo a insatisfaccedilatildeo a busca e o desejo
portanto natildeo eacute algo que se possa destacar da pele como a um filme plaacutestico A
aparecircncia eacute densa de camadas pensares e praacuteticas que permeiam a existecircncia que
agenciam relaccedilotildees enfim elementos da mateacuteria do sensiacutevel e do sentido Desprezar a
roupa como elemento constituinte e estruturante da cultura do comportamento e das
subjetividades eacute ignorar uma parcela significativa do sentido fazemos do mundo e
damos a ele
A tradiccedilatildeo filosoacutefica ocidental que privilegiou a busca pela verdade que estaria
por detraacutes da aparecircncia imediata das coisas pode ter contribuiacutedo para a percepccedilatildeo de
que a roupa (especialmente a de moda) fosse assunto menor e natildeo devesse ser levado
a seacuterio (MONNEYRON 200811-12) A verdade ndash busca tradicional da filosofia e da
histoacuteria ndash estaria aleacutem da aparecircncia aleacutem da vestimenta Mas lsquoe se as aparecircncias
forem profundasrsquo (MONNEYRON 2008 12) Ao invertermos toda uma atitude
filosoacutefica em que a aparecircncia eacute banalizada poderemos pensar a roupa
natildeo mais como potecircncia de erro mas como focircrma e matriz natildeo mais como elemento secundaacuterio adicional mas como elemento principal e criador determinando tanto os comportamentos individuais como as estruturas sociais Significa em resumo aceitar a aposta e estariacuteamos mesmo tentados a dizer ldquono comeccedilo era a roupardquo
Colocar a roupa no centro de qualquer anaacutelise natildeo significa fetichizaacute-la ou ocupar
com ela o lugar da essecircncia transcendental das coisas Trata-se sim de iniciar um outro
diaacutelogo de olhar o mundo de uma outra maneira A importacircncia da roupa nas
mudanccedilas comportamentais jaacute foi comprovada e chega a ser um elemento central em
casos de travestismo ou transexualismo (MONNEYRON 2008 12) As densas
camadas das roupas alargam os sentidos que vatildeo se atrelando agraves vidas e aos corpos
Podemos apostar assim numa investigaccedilatildeo que inicia do objeto ndash um vestido um
fragmento tecircxtil - e num projeto de pesquisa que se expande a partir dele Esta eacute sem
duacutevida uma escolha interpretativa mas eacute tambeacutem uma tentativa de explorar
potencialidades culturais que os tecidos e as roupas tecircm
Neste sentido eacute muito uacutetil emprestar ideacuteias e metodologias que vecircm sobretudo
de estudos em Arqueologia mas tambeacutem da Histoacuteria e do Design As ideacuteias de
biografia dos objetos de Igor Kopytoff (1986) da vida social dos objetos de Arjun
Appadurai (1986) das propriedades expressivas da cultura material de Grant
McCracken (1990) e do objeto com atitude de Judy Attifield (2000) satildeo relevantes para
dar suporte aos desdobramentos da interpretaccedilatildeo de objetos como roupas e tecidos
No que diz respeito ao cotidiano agrave memoacuteria e ao papel central dos objetos materiais
nos processos de rememoraccedilatildeo encontramos apoio nas propostas do historiador
Ulpiano Teixeira Bezerra de Meneses cuja contribuiccedilatildeo eacute das mais eloquumlentes nos
debates sobre cultura material7
Tratando do objeto em diferentes estados e sob diferentes perspectivas ndash
mercadoria singularizaccedilatildeo circulaccedilatildeo cotidiano e memoacuteria ndash esses estudos
compartilham da mesma visatildeo de que o objeto eacute culturalmente e socialmente moldado
e assim como acontece em biografias pessoais seus significados (como suas
identidades do ponto de vista psicoloacutegico) 8 satildeo mais transitoacuterios que estaacuteveis
O trabalho de Judy Attifield9 Wild Things - the material culture of everyday life
(2000) eacute muito significativo Sua maior contribuiccedilatildeo estaacute na maneira de pensar objetos
de design como lsquocoisas selvagensrsquo cujas trajetoacuterias formuladas no cotidiano os desviam
dos destinos previamente planejados Inicialmente projetados para abotoar roupas os
bototildees por exemplo ganham um novo espaccedilo nas casas e nas vidas de algumas
mulheres que passam a colecionaacute-los Os bototildees transformam-se entatildeo em objetos
que mediam e modificam relaccedilotildees sociais (as colecionadoras trocam bototildees entre si) e
ganham novos sentidos no cotidiano em termos de espaccedilo tempo e corporalidade A
transiccedilatildeo dos objetos com o passar do tempo afeta toda a rede social e cultural em que
ele estaacute entremeado Os bototildees acondicionados em caixas especiais passaratildeo de
matildee para filha podendo ganhar novas formataccedilotildees e certamente agenciando novas
relaccedilotildees
O trabalho de Arjun Appadurai eacute igualmente relevante por apresentar uma
perspectiva desafiadora no estudo de um objeto Para ele mesmo que do ponto de
vista teoacuterico sejam as pessoas a dar significacircncia agraves coisas do ponto de vista
metodoloacutegico satildeo as coisas em movimento que iluminam os sentidos da vivecircncia
humana em seus contextos culturais e sociais (1986 5) Assim como meacutetodo de
anaacutelise seraacute mais uacutetil investigar o objeto do que seu dono pois ainda que por um
determinado periacuteodo essas duas biografias se entrelacem elas tecircm trajetoacuterias distintas
e determinados objetos como a jaqueta de beisebol que Peter Stalybrass (2000)
herdou do amigo falecido sobrevivem a seus fabricantes e primeiros usuaacuterios
Para Meneses a longevidade dos artefatos jaacute os capacita ldquoa expressar o
passado de forma profunda e sensorialmente convincenterdquo (1998 1) Natildeo haacute
entretanto como extrair sentido do objeto isto eacute as caracteriacutesticas intriacutensecas ao
objeto ndash suas qualidades fiacutesico-quiacutemicas ndash natildeo permitem fazer sentido do mundo se
natildeo for pelas mediaccedilotildees sociais das quais participa e das interpretaccedilotildees que se fazem
delas Aiacute reside segundo Meneses um dos desafios de pensar a histoacuteria pelo estudo
dos objetos da cultura material para traccedilar a biografia dos objetos eacute preciso examinaacute-
los ldquoem situaccedilatildeordquo em suas palavras ldquonatildeo se trata de recompor um cenaacuterio material
mas de entender os artefatos na interaccedilatildeo socialrdquo (1998 3)
A passagem do tempo imprime marcas nos objetos como nas pessoas mas
diferentemente delas a ldquomorterdquo para um objeto natildeo depende apenas de seu estado
fiacutesico mas sobretudo depende das remanescentes possibilidades deste continuar ldquono
jogordquo social mediando novos sentidos Um bom exemplo disso eacute a descriccedilatildeo que o
historiador Peter Stalybrass (200011-2) faz da jaqueta que herdou do amigo falecido e
a narrativa da trajetoacuteria da jaqueta ateacute que ela fosse sua
Quando Allan morreu Jen [a viuacuteva] me deu sua jaqueta de beisebol coisa que parecia bastante apropriada uma vez que naquela altura eu tinha me mudado permanentemente para os Estados Unidos Mas ela tambeacutem me deu a jaqueta de Allon que eu mais havia cobiccedilado Ele a tinha comprado numa loja de objetos usados perto da estaccedilatildeo de trem de Brighton e seu misteacuterio era e eacute bastante faacutecil de descrever Ela eacute feita de um tecido de polieacutester com algodatildeo preto e brilhoso e a parte exterior ainda estaacute em bom estado Mas interiormente grande parte do forro estaacute rasgado como se tivesse sido atacado por gatos raivosos No interior a uacutenica coisa que resta de sua antiga gloacuteria eacute o roacutetulo ldquoFabricado expressamente para Turndof Por Di Rossi Costurado a matildeordquo Com muita frequumlecircncia tenho me perguntado se foi a marca que atraiu Allon na medida em que ele adorava a moda italiana desde sua infacircncia mas muito mais provavelmente foi simplesmente o corte da jaqueta
O trecho soa como uma tentativa do autor de rememorar o amigo atraveacutes dos
percursos daquela roupa e o modo como ele encontra para realizar sua busca estaacute na
observaccedilatildeo que faz das memoacuterias fisicamente aparentes na jaqueta A funccedilatildeo e a
condiccedilatildeo fiacutesica daquela roupa que jaacute apresentava sinais de deterioraccedilatildeo ganharam um
novo focirclego quando Stalybrass decidiu vesti-la Novas percepccedilotildees de sua proacutepria vida
afloraram a partir do reuso daquela roupa e das memoacuterias reavivadas pelo cheiro pelos
rasgos pelas marcas
O estudo minucioso de roupas que sobreviveram ao tempo e a condiccedilotildees
adversas de vaacuterias naturezas - como o clima e a seleccedilatildeo feita para a formaccedilatildeo de
coleccedilotildees tecircxteis e de vestuaacuterio - parece ser um modo promissor de evitar a propagaccedilatildeo
e continuidade dos mitos e estereoacutetipos presentes na historiografia (TAYLOR 2002
2004) A anaacutelise de peccedilas de vestuaacuterio que tenham sido representativas (e mesmo
excepcionais) de distintos modos de vestir (da proacutepria moda) pode lanccedilar luz sobre
aspectos sociais e culturais ainda pouco investigados
A roupa natildeo tem as mesmas propriedades que suas representaccedilotildees imageacuteticas
como a fotografia por exemplo A roupa elemento da cultura material tem textura
cheiro rasgos manchas e vestiacutegios de corpos que jaacute a usaram como casca de sonhos
pele de inserccedilatildeo social do pertencer aos tempos e espaccedilos que contornam a sua
trajetoacuteria
Estudar um vestido ou qualquer outro objeto implica necessariamente conhecer e
compreender os materiais de que eacute feito Objetos tridimensionais satildeo originalmente
pensados e confeccionados com uma articulaccedilatildeo (ou articulaccedilotildees) especiacutefica e suas
partes podem ser constituiacutedas de uma infinidade de materiais Estudar objetos como as
roupas e os tecidos de que satildeo feitas exige certas habilidades que diferem do modo de
anaacutelise de outros tipos de documentos como os textuais e iconograacuteficos Analisar um
vestido natildeo eacute o mesmo que analisar a sua fotografia assim como natildeo seria o mesmo
analisar a sua descriccedilatildeo O vestido enquanto objeto material enquanto coisa tem uma
seacuterie de caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e cuja articulaccedilatildeo constitui um artefato
singular
Os caminhos de pesquisa satildeo interminaacuteveis quando ela eacute iniciada pela anaacutelise e
estudo de um objeto Haacute de se determinar portanto qual caminho seguir avaliando as
muitas variaacuteveis envolvidas nesse processo de pesquisa especialmente aquelas
resultadas da observaccedilatildeo - do que de fato estaacute no objeto - e dos interesses de estudo
do investigador Pesquisas que resultam da anaacutelise e interpretaccedilatildeo de roupas e tecidos
presentes na bibliografia especializada sinalizam a importacircncia deste tipo de estudo
para as aacutereas humanas (MILLER 2007 PALMER 2001 STEELE 1998
McCRACKEN 1990)
A histoacuteria das roupas no Brasil natildeo eacute uma compilada As roupas aparecem nas
obras literaacuterias nas biografias de personagens histoacutericos nas histoacuterias da publicidade e
das cidades Aparecem ainda nos escritos de memorialistas de viajantes enfim nossa
historiografia eacute caracteristicamente fragmentada No que diz respeito aos meacutetodos de
estudos com objetos estes vecircm principalmente da Antropologia conforme a bibliografia
indicada a seguir
Roupas assim como qualquer outro objeto pensado e feito por pessoas tecircm um
sentido fiacutesico e outro cultural Aquelas feitas em tecido no entanto satildeo diferentes de
outros tipos de objeto porque as propriedades tecircxteis usadas aqui como uma
ferramenta para interpretaccedilatildeo permitem que as marcas do objeto em seus muitos
estados transitoacuterios fiquem impregnadas10 Em meus estudos sobre roupas e tecidos
tenho adotado um meacutetodo de trabalho que me auxilia a interpretar vestiacutegios materiais
de objetos que sobreviveram agraves accedilotildees do tempo e a outras seleccedilotildees Este meacutetodo
resulta da integraccedilatildeo das propostas de autores cujos trabalhos tecircm uma perspectiva em
cultura material Segundo a bibliografia (BARRETO 19824 DURBIN MORRIS
WILKINSON 1990 PROWN 1994 HORTA GRUNBERG MONTEIRO 1999
TAYLOR 2002) quatro questotildees devem ser abordadas quando estudamos um artefato
tecircxtil como um vestido por exemplo 11
1 Observaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicas
2 Descriccedilatildeo ou registro
3 A identificaccedilatildeo
4 Exploraccedilatildeo ou especulaccedilatildeo do problema
5 Pesquisa em outras fontes e programa de pesquisa
Aleacutem das etapas descritas acima seria bastante recomendaacutevel considerar o
contexto em que a roupa em estudo estaacute sendo analisada Uma vez que roupas tenham
sido deslocadas de seu lugar de origem e recolocadas em coleccedilotildees de museus por
exemplo haacute que se considerar que houve uma seleccedilatildeo para que aquela roupa
especiacutefica passasse a integrar o acervo de um determinado museu Fora do corpo e do
guarda-roupa que um dia a abrigou aquele vestido passaraacute por novos estados se
conectaraacute a outros corpos e estaraacute sujeito a novas interpretaccedilotildees
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Rita Por debaixo dos panos cultura e materialidade de nossas roupas e tecidos In PAULA Teresa Cristina Toledo de (org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da USP 2005
ANDRADE Rita The House of Louiseboulanger ndash an insight into couture and its commercial practices in 1920s and 1930s Paris Inglaterra 2000 Dissertaccedilatildeo (Masters of Art in History of Textiles and Dress) ndash Winchester School of Art University of Southampton ANDRADE Rita A roupa como documento histoacuterico uma nova abordagem em estudos sobre moda Espaccedilo Criacutetico Disponiacutevel em lt wwwmodabrasilcombrgt Acesso em abr 2001 ANDRADE Rita Louise Boulanger and interwar french couture revelations from object analysis Textile History v 35 n1 p112-119 May 2004 ANDRADE Rita Mappin Stores adding an english touch to the Sao Paulo Fashion Scene In ROOT Regina (Ed) The Latin American Fashion Reader Oxford UK Berg 2005 p176-187 APPADURAI Arjun (Ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge Cambridge University Press 1986 ATTFIELD Judy Wild things the material culture of everyday life Oxford UK Berg 2000 BARRETO Maria de Lourdes Parreira Horta Educaccedilatildeo patrimonial e praacuteticas centradas no objeto ligadas a teorias da organizaccedilatildeo do comportamento 198284
BOLLON Patrice A moral da maacutescara Rio de Janeiro Rocco 1993
BOUCHER Franccedilois 20000 years of fashion the history of costume and personnal adornment New York Abrams 1987
CARON Franccedilois Lrsquoentreprise In NORA Pierre (Ed) Les lieux de meacutemoire Paris Gallimard 1992 p322-375 v II DELEUZE Gilles Empirismo e subjetividade ensaio sobre a natureza humana segundo Hume Traduccedilatildeo Luiz L B Orlandi Satildeo Paulo Editora 34 2001 DURBIN Gail MORRIS Susan WILKINSON Sue A teacheracutes guide to learning from objects English Heritage 1990
FINE Ben LEOPOLD Ellen The world of consumption London New York Routledge 1993 GUARNIERI Waldisa Ruacutessio Museu museologia museoacutelogos e formaccedilatildeo Revista de Museologia Satildeo Paulo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-11 1989 HORTA Maria de Lourdes Parreiras et al Guia baacutesico de educaccedilatildeo patrimonial Brasiacutelia Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional Museu Imperial 1999
KOPYTOFF Igor The cultural biography of things commoditization as process In APPADURAI Arjun (ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge University Press 1986p 64-91
LEHNERT Gertrud Fashion a concise history London Laurence King 1998
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
desenvolvido tecnologias inovadoras para o uso de tecidos na construccedilatildeo de espaccedilos
O museu tem incorporado objetos de uso pessoal ndash entre os quais as roupas ndash a seus
acervos empregando profissionais das aacutereas de conservaccedilatildeo e curadoria para dar
sentido a roupas que natildeo mais vestem os corpos Aleacutem disso o territoacuterio de divulgaccedilatildeo
da moda ndash sistema em que a roupa eacute dos mais importantes elementos - conquistou
espaccedilos muito heterogecircneos e amplos que vatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo de massa agrave
publicidade passando por escolas especializadas em formar profissionais para o setor
Natildeo eacute possiacutevel separar a roupa do cotidiano (LEHNERT 1998 8) No filme O
Diabo veste Prada haacute uma cena em que a assistente de Miranda um personagem que
encarna a aversatildeo agrave moda natildeo compreende o desafio que sua chefe encontra em
decidir entre dois cintos de tonalidades distintas de azul para um editorial A seu ver os
cintos satildeo parecidiacutessimos ndash para natildeo dizer iguais ndash e ela zomba daquilo que considera
ser um trabalho altamente fuacutetil Neste momento Miranda encara a assistente que estaacute
vestida com um pulocircver azul enquanto discorre sobre a induacutestria que havia escolhido e
fabricado a cor do pulocircver Ela descreve uma trajetoacuteria fictiacutecia daquele pulocircver desde
sua concepccedilatildeo por um famoso designer ateacute que chegasse a ser comprado pela
assistente em uma loja de descontos dois anos depois Com seu discurso a editora
quis demonstrar que natildeo haacute escolhas ingecircnuas e que cada tom de azul representa um
sentido singular que o distingue dos demais tons Esses sentidos satildeo movediccedilos como
a proacutepria trajetoacuteria do pulocircver
Roupas satildeo objetos que tecircm uma circulaccedilatildeo social Sua longevidade geralmente
maior que a humana possibilita-lhes transitar por diferentes espaccedilos e tempos Para
pensar as roupas numa perspectiva cultural e histoacuterica eacute necessaacuterio apreendecirc-las em
contextos especiacuteficos jaacute que sua condiccedilatildeo circulante e suas inerentes propriedades
deteriorantes deslocam-nas continuamente para novas situaccedilotildees para novos estados2
Parece-me portanto mais vantajoso pensar em investigaccedilotildees sobre a roupa como
meacutetodo de estudo e interpretaccedilatildeo histoacuterica no lugar de engessaacute-las na classificaccedilatildeo
que se fez delas no momento em que foram criadas desprezando o seu itineraacuterio e
suas mudanccedilas morfoloacutegicas As relaccedilotildees que permeiam as trajetoacuterias revelam a
complexidade envolvida em qualquer tentativa de realizar uma histoacuteria da roupa Tentar
fazecirc-lo como que classificando e ordenando de uma soacute tomada as teclas de um piano
seria semelhante a afirmar a existecircncia de um soacute caminho para a muacutesica ou para a
sonoridade que resulta do toque nas teclas em uma soacute ordenaccedilatildeo em um soacute arranjo
Seria o mesmo que unificar o tom desprezando os outros tons desprezando os ruiacutedos
Investigar significa ldquoseguir os vestiacutegiosrdquo ldquoexaminar com atenccedilatildeordquo Investigaccedilatildeo
do particular3 do singelo eacute o que permite colocar em discussatildeo alguns dos elementos
ainda pouco estudados e talvez pouco conhecidos na historiografia Lou Taylor
escreveu Establishing Dress History (2004) um trabalho que imediatamente tornou-se
referecircncia na historiografia especiacutefica Nele a autora defende o estudo de roupas e
tecidos como fontesdocumentos capazes de elucidar aspectos histoacutericos culturais e
sociais quando vistos em contexto Isso se deve particularmente a suas qualidades
materiais muito distintas de outros tipos de documentos (textuais iconograacuteficos aacuteudio-
visuais) e tambeacutem porque satildeo materiais que convivem moldam e satildeo moldados pelo
corpo
Neste artigo introduzo um meacutetodo de interpretaccedilatildeo daquilo que eacute possiacutevel
entrever nas marcas e vestiacutegios encontrados em objetos tecircxteis especialmente em
roupas Uma roupa fabricada num determinado periacuteodo em determinado contexto
cultural eacute em seguida posta a circular sendo-nos possiacutevel investigar sua trajetoacuteria sua
biografia No momento em que um vestido por exemplo deixa de circular como uma
roupa que veste corpos e eacute incorporado ao acervo de um museu este ganha um novo
estado o de documento ou seja lsquoum suporte de informaccedilatildeorsquo (MENESES 1998)
Haacute certamente criacuteticas a formas quase ciruacutergicas de historicizar temas como a
roupa A maior delas diz respeito agrave interpretaccedilatildeo de objetos como ferramenta de anaacutelise
e reflexatildeo histoacuterica e ao fato de que a atenccedilatildeo pormenorizada dada ao objeto resulta
num estreitamento de abordagem Esta criacutetica vem especialmente de historiadores
econocircmicos como Ben Fine e Ellen Leopold que em seu The world of consumption
(1993) discutem a importacircncia da roupa no contexto do consumo Apesar do
reconhecimento do valor da pesquisa baseada em objetos para a histoacuteria social esses
autores defendem a abordagem do exame de sistemas como os da moda criticando a
interpretaccedilatildeo minuciosa de objetos ndash ao que se referiram como lsquocada frufru e babadorsquo -
praticada por historiadores e curadores do vestir4
No entanto se satildeo os sistemas e as diferenccedilas nas formas em se produzem
comercializam e consomem objetos eacute que os distinguem entatildeo a anaacutelise e a
interpretaccedilatildeo destes objetos satildeo ferramentas e meacutetodos de trabalho importantes para
acessar suas densidades culturais Em minha experiecircncia como aluna de design de
moda no iniacutecio da deacutecada de 1990 e depois como coordenadora e professora de cursos
de graduaccedilatildeo em moda percebi que o maior desafio na criaccedilatildeo de roupas estaacute em
solucionar problemas da concepccedilatildeo do projeto isto eacute de realizar a roupa projetada A
lida com o tecido e aviamentos o desenvolvimento da modelagem os processos de
costura a escolha pelo maquinaacuterio o emprego de trabalhos manuais enfim todo o
trabalho e o estudo voltados para confeccionar uma roupa projetada fazem parte do
dia-a-dia de um designer de moda e o desafio estaacute justamente em continuamente
encontrar novas e melhores soluccedilotildees de acabamentos articulaccedilatildeo modelagem e
costura
No ensino de moda as soluccedilotildees para esses desafios satildeo estudadas em
disciplinas consideradas ldquopraacuteticasrdquo aquelas em que alunos e professores utilizam e
aprimoram habilidades manuais como ldquoatelier de costurardquo ldquomodelagemrdquo ldquotecnologia
tecircxtilrdquo Haacute portanto uma separaccedilatildeo no curriacuteculo dos cursos de moda que restringe o
estudo dos aspectos materiais do design a determinadas disciplinas Contextualizar
colocar em debate e ampliar o escopo de estudo dos aspectos materiais da moda satildeo
atividades que permitiriam investigar o design numa perspectiva cultural
A roupa ao menos determinadas roupas5 eacute uma forma privilegiada de dar e
fazer sentido do mundo Ela permite entranhar a carne e a alma numa rede de
conexotildees que ultrapassam a vulnerabilidade da mateacuteria posto que corpo e roupa estatildeo
submetidos agraves forccedilas da degradaccedilatildeo Ao mesmo tempo entretanto estaacute na mateacuteria
(tecidos linhas bototildees etc) e em sua articulaccedilatildeo (formas o arranjo dos materiais) a
potecircncia que gerou a roupa A autonomia dos materiais como tecidos permite um
desdobramento que ultrapassa o tempo da moda ou o tempo de uso de produto em que
foi transformado
Uma roupa por exemplo eacute feita de uma variedade de materiais tecircxteis
metaacutelicos viacutetreos plaacutesticos enfim a lista eacute extensa Um vestido confeccionado com a
seleccedilatildeo de determinados materiais articulados para constituir um design especiacutefico
pensado para um fim especiacutefico tem um tipo de obsolescecircncia programada
especialmente quando a roupa estaacute inserida no sistema industrial e comercial da
moda6 Nesse sistema o vestido tem um tempo de ldquovidardquo que foi preacute-determinado
porque deveraacute ser substituiacutedo por outros modelos outros estilos outras articulaccedilotildees
com outros materiais O uso e reposiccedilatildeo instantacircneas nos levaria agrave hegemonia
sufocante da moda
Os materiais no entanto tecircm propriedades fiacutesico-quiacutemicas que os libertam desse
poder hegemocircnico de sistemas constituiacutedos como a moda As propriedades dos tecidos
ndash flexibilidade aderecircncia resiliecircncia longevidade dentre outras ndash possibilita seu reuso
isto eacute permite que sejam desmembrados da sua articulaccedilatildeo original e reutilizados em
outras articulaccedilatildeo infinitas vezes enquanto sua fisicalidade permitir Essas novas
articulaccedilotildees soacute seratildeo realizadas por meio da circulaccedilatildeo social da roupa Eacute possiacutevel
pensar a vida atraveacutes do vestir das preferecircncias pelos materiais da articulaccedilatildeo que se
fez deles do tempo empregado no fazer pensar refazer e repensar a roupa
A aparecircncia um dos territoacuterios de maior accedilatildeo da roupa e os sentidos a ela
associados tais como o zelo a preocupaccedilatildeo a insatisfaccedilatildeo a busca e o desejo
portanto natildeo eacute algo que se possa destacar da pele como a um filme plaacutestico A
aparecircncia eacute densa de camadas pensares e praacuteticas que permeiam a existecircncia que
agenciam relaccedilotildees enfim elementos da mateacuteria do sensiacutevel e do sentido Desprezar a
roupa como elemento constituinte e estruturante da cultura do comportamento e das
subjetividades eacute ignorar uma parcela significativa do sentido fazemos do mundo e
damos a ele
A tradiccedilatildeo filosoacutefica ocidental que privilegiou a busca pela verdade que estaria
por detraacutes da aparecircncia imediata das coisas pode ter contribuiacutedo para a percepccedilatildeo de
que a roupa (especialmente a de moda) fosse assunto menor e natildeo devesse ser levado
a seacuterio (MONNEYRON 200811-12) A verdade ndash busca tradicional da filosofia e da
histoacuteria ndash estaria aleacutem da aparecircncia aleacutem da vestimenta Mas lsquoe se as aparecircncias
forem profundasrsquo (MONNEYRON 2008 12) Ao invertermos toda uma atitude
filosoacutefica em que a aparecircncia eacute banalizada poderemos pensar a roupa
natildeo mais como potecircncia de erro mas como focircrma e matriz natildeo mais como elemento secundaacuterio adicional mas como elemento principal e criador determinando tanto os comportamentos individuais como as estruturas sociais Significa em resumo aceitar a aposta e estariacuteamos mesmo tentados a dizer ldquono comeccedilo era a roupardquo
Colocar a roupa no centro de qualquer anaacutelise natildeo significa fetichizaacute-la ou ocupar
com ela o lugar da essecircncia transcendental das coisas Trata-se sim de iniciar um outro
diaacutelogo de olhar o mundo de uma outra maneira A importacircncia da roupa nas
mudanccedilas comportamentais jaacute foi comprovada e chega a ser um elemento central em
casos de travestismo ou transexualismo (MONNEYRON 2008 12) As densas
camadas das roupas alargam os sentidos que vatildeo se atrelando agraves vidas e aos corpos
Podemos apostar assim numa investigaccedilatildeo que inicia do objeto ndash um vestido um
fragmento tecircxtil - e num projeto de pesquisa que se expande a partir dele Esta eacute sem
duacutevida uma escolha interpretativa mas eacute tambeacutem uma tentativa de explorar
potencialidades culturais que os tecidos e as roupas tecircm
Neste sentido eacute muito uacutetil emprestar ideacuteias e metodologias que vecircm sobretudo
de estudos em Arqueologia mas tambeacutem da Histoacuteria e do Design As ideacuteias de
biografia dos objetos de Igor Kopytoff (1986) da vida social dos objetos de Arjun
Appadurai (1986) das propriedades expressivas da cultura material de Grant
McCracken (1990) e do objeto com atitude de Judy Attifield (2000) satildeo relevantes para
dar suporte aos desdobramentos da interpretaccedilatildeo de objetos como roupas e tecidos
No que diz respeito ao cotidiano agrave memoacuteria e ao papel central dos objetos materiais
nos processos de rememoraccedilatildeo encontramos apoio nas propostas do historiador
Ulpiano Teixeira Bezerra de Meneses cuja contribuiccedilatildeo eacute das mais eloquumlentes nos
debates sobre cultura material7
Tratando do objeto em diferentes estados e sob diferentes perspectivas ndash
mercadoria singularizaccedilatildeo circulaccedilatildeo cotidiano e memoacuteria ndash esses estudos
compartilham da mesma visatildeo de que o objeto eacute culturalmente e socialmente moldado
e assim como acontece em biografias pessoais seus significados (como suas
identidades do ponto de vista psicoloacutegico) 8 satildeo mais transitoacuterios que estaacuteveis
O trabalho de Judy Attifield9 Wild Things - the material culture of everyday life
(2000) eacute muito significativo Sua maior contribuiccedilatildeo estaacute na maneira de pensar objetos
de design como lsquocoisas selvagensrsquo cujas trajetoacuterias formuladas no cotidiano os desviam
dos destinos previamente planejados Inicialmente projetados para abotoar roupas os
bototildees por exemplo ganham um novo espaccedilo nas casas e nas vidas de algumas
mulheres que passam a colecionaacute-los Os bototildees transformam-se entatildeo em objetos
que mediam e modificam relaccedilotildees sociais (as colecionadoras trocam bototildees entre si) e
ganham novos sentidos no cotidiano em termos de espaccedilo tempo e corporalidade A
transiccedilatildeo dos objetos com o passar do tempo afeta toda a rede social e cultural em que
ele estaacute entremeado Os bototildees acondicionados em caixas especiais passaratildeo de
matildee para filha podendo ganhar novas formataccedilotildees e certamente agenciando novas
relaccedilotildees
O trabalho de Arjun Appadurai eacute igualmente relevante por apresentar uma
perspectiva desafiadora no estudo de um objeto Para ele mesmo que do ponto de
vista teoacuterico sejam as pessoas a dar significacircncia agraves coisas do ponto de vista
metodoloacutegico satildeo as coisas em movimento que iluminam os sentidos da vivecircncia
humana em seus contextos culturais e sociais (1986 5) Assim como meacutetodo de
anaacutelise seraacute mais uacutetil investigar o objeto do que seu dono pois ainda que por um
determinado periacuteodo essas duas biografias se entrelacem elas tecircm trajetoacuterias distintas
e determinados objetos como a jaqueta de beisebol que Peter Stalybrass (2000)
herdou do amigo falecido sobrevivem a seus fabricantes e primeiros usuaacuterios
Para Meneses a longevidade dos artefatos jaacute os capacita ldquoa expressar o
passado de forma profunda e sensorialmente convincenterdquo (1998 1) Natildeo haacute
entretanto como extrair sentido do objeto isto eacute as caracteriacutesticas intriacutensecas ao
objeto ndash suas qualidades fiacutesico-quiacutemicas ndash natildeo permitem fazer sentido do mundo se
natildeo for pelas mediaccedilotildees sociais das quais participa e das interpretaccedilotildees que se fazem
delas Aiacute reside segundo Meneses um dos desafios de pensar a histoacuteria pelo estudo
dos objetos da cultura material para traccedilar a biografia dos objetos eacute preciso examinaacute-
los ldquoem situaccedilatildeordquo em suas palavras ldquonatildeo se trata de recompor um cenaacuterio material
mas de entender os artefatos na interaccedilatildeo socialrdquo (1998 3)
A passagem do tempo imprime marcas nos objetos como nas pessoas mas
diferentemente delas a ldquomorterdquo para um objeto natildeo depende apenas de seu estado
fiacutesico mas sobretudo depende das remanescentes possibilidades deste continuar ldquono
jogordquo social mediando novos sentidos Um bom exemplo disso eacute a descriccedilatildeo que o
historiador Peter Stalybrass (200011-2) faz da jaqueta que herdou do amigo falecido e
a narrativa da trajetoacuteria da jaqueta ateacute que ela fosse sua
Quando Allan morreu Jen [a viuacuteva] me deu sua jaqueta de beisebol coisa que parecia bastante apropriada uma vez que naquela altura eu tinha me mudado permanentemente para os Estados Unidos Mas ela tambeacutem me deu a jaqueta de Allon que eu mais havia cobiccedilado Ele a tinha comprado numa loja de objetos usados perto da estaccedilatildeo de trem de Brighton e seu misteacuterio era e eacute bastante faacutecil de descrever Ela eacute feita de um tecido de polieacutester com algodatildeo preto e brilhoso e a parte exterior ainda estaacute em bom estado Mas interiormente grande parte do forro estaacute rasgado como se tivesse sido atacado por gatos raivosos No interior a uacutenica coisa que resta de sua antiga gloacuteria eacute o roacutetulo ldquoFabricado expressamente para Turndof Por Di Rossi Costurado a matildeordquo Com muita frequumlecircncia tenho me perguntado se foi a marca que atraiu Allon na medida em que ele adorava a moda italiana desde sua infacircncia mas muito mais provavelmente foi simplesmente o corte da jaqueta
O trecho soa como uma tentativa do autor de rememorar o amigo atraveacutes dos
percursos daquela roupa e o modo como ele encontra para realizar sua busca estaacute na
observaccedilatildeo que faz das memoacuterias fisicamente aparentes na jaqueta A funccedilatildeo e a
condiccedilatildeo fiacutesica daquela roupa que jaacute apresentava sinais de deterioraccedilatildeo ganharam um
novo focirclego quando Stalybrass decidiu vesti-la Novas percepccedilotildees de sua proacutepria vida
afloraram a partir do reuso daquela roupa e das memoacuterias reavivadas pelo cheiro pelos
rasgos pelas marcas
O estudo minucioso de roupas que sobreviveram ao tempo e a condiccedilotildees
adversas de vaacuterias naturezas - como o clima e a seleccedilatildeo feita para a formaccedilatildeo de
coleccedilotildees tecircxteis e de vestuaacuterio - parece ser um modo promissor de evitar a propagaccedilatildeo
e continuidade dos mitos e estereoacutetipos presentes na historiografia (TAYLOR 2002
2004) A anaacutelise de peccedilas de vestuaacuterio que tenham sido representativas (e mesmo
excepcionais) de distintos modos de vestir (da proacutepria moda) pode lanccedilar luz sobre
aspectos sociais e culturais ainda pouco investigados
A roupa natildeo tem as mesmas propriedades que suas representaccedilotildees imageacuteticas
como a fotografia por exemplo A roupa elemento da cultura material tem textura
cheiro rasgos manchas e vestiacutegios de corpos que jaacute a usaram como casca de sonhos
pele de inserccedilatildeo social do pertencer aos tempos e espaccedilos que contornam a sua
trajetoacuteria
Estudar um vestido ou qualquer outro objeto implica necessariamente conhecer e
compreender os materiais de que eacute feito Objetos tridimensionais satildeo originalmente
pensados e confeccionados com uma articulaccedilatildeo (ou articulaccedilotildees) especiacutefica e suas
partes podem ser constituiacutedas de uma infinidade de materiais Estudar objetos como as
roupas e os tecidos de que satildeo feitas exige certas habilidades que diferem do modo de
anaacutelise de outros tipos de documentos como os textuais e iconograacuteficos Analisar um
vestido natildeo eacute o mesmo que analisar a sua fotografia assim como natildeo seria o mesmo
analisar a sua descriccedilatildeo O vestido enquanto objeto material enquanto coisa tem uma
seacuterie de caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e cuja articulaccedilatildeo constitui um artefato
singular
Os caminhos de pesquisa satildeo interminaacuteveis quando ela eacute iniciada pela anaacutelise e
estudo de um objeto Haacute de se determinar portanto qual caminho seguir avaliando as
muitas variaacuteveis envolvidas nesse processo de pesquisa especialmente aquelas
resultadas da observaccedilatildeo - do que de fato estaacute no objeto - e dos interesses de estudo
do investigador Pesquisas que resultam da anaacutelise e interpretaccedilatildeo de roupas e tecidos
presentes na bibliografia especializada sinalizam a importacircncia deste tipo de estudo
para as aacutereas humanas (MILLER 2007 PALMER 2001 STEELE 1998
McCRACKEN 1990)
A histoacuteria das roupas no Brasil natildeo eacute uma compilada As roupas aparecem nas
obras literaacuterias nas biografias de personagens histoacutericos nas histoacuterias da publicidade e
das cidades Aparecem ainda nos escritos de memorialistas de viajantes enfim nossa
historiografia eacute caracteristicamente fragmentada No que diz respeito aos meacutetodos de
estudos com objetos estes vecircm principalmente da Antropologia conforme a bibliografia
indicada a seguir
Roupas assim como qualquer outro objeto pensado e feito por pessoas tecircm um
sentido fiacutesico e outro cultural Aquelas feitas em tecido no entanto satildeo diferentes de
outros tipos de objeto porque as propriedades tecircxteis usadas aqui como uma
ferramenta para interpretaccedilatildeo permitem que as marcas do objeto em seus muitos
estados transitoacuterios fiquem impregnadas10 Em meus estudos sobre roupas e tecidos
tenho adotado um meacutetodo de trabalho que me auxilia a interpretar vestiacutegios materiais
de objetos que sobreviveram agraves accedilotildees do tempo e a outras seleccedilotildees Este meacutetodo
resulta da integraccedilatildeo das propostas de autores cujos trabalhos tecircm uma perspectiva em
cultura material Segundo a bibliografia (BARRETO 19824 DURBIN MORRIS
WILKINSON 1990 PROWN 1994 HORTA GRUNBERG MONTEIRO 1999
TAYLOR 2002) quatro questotildees devem ser abordadas quando estudamos um artefato
tecircxtil como um vestido por exemplo 11
1 Observaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicas
2 Descriccedilatildeo ou registro
3 A identificaccedilatildeo
4 Exploraccedilatildeo ou especulaccedilatildeo do problema
5 Pesquisa em outras fontes e programa de pesquisa
Aleacutem das etapas descritas acima seria bastante recomendaacutevel considerar o
contexto em que a roupa em estudo estaacute sendo analisada Uma vez que roupas tenham
sido deslocadas de seu lugar de origem e recolocadas em coleccedilotildees de museus por
exemplo haacute que se considerar que houve uma seleccedilatildeo para que aquela roupa
especiacutefica passasse a integrar o acervo de um determinado museu Fora do corpo e do
guarda-roupa que um dia a abrigou aquele vestido passaraacute por novos estados se
conectaraacute a outros corpos e estaraacute sujeito a novas interpretaccedilotildees
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Rita Por debaixo dos panos cultura e materialidade de nossas roupas e tecidos In PAULA Teresa Cristina Toledo de (org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da USP 2005
ANDRADE Rita The House of Louiseboulanger ndash an insight into couture and its commercial practices in 1920s and 1930s Paris Inglaterra 2000 Dissertaccedilatildeo (Masters of Art in History of Textiles and Dress) ndash Winchester School of Art University of Southampton ANDRADE Rita A roupa como documento histoacuterico uma nova abordagem em estudos sobre moda Espaccedilo Criacutetico Disponiacutevel em lt wwwmodabrasilcombrgt Acesso em abr 2001 ANDRADE Rita Louise Boulanger and interwar french couture revelations from object analysis Textile History v 35 n1 p112-119 May 2004 ANDRADE Rita Mappin Stores adding an english touch to the Sao Paulo Fashion Scene In ROOT Regina (Ed) The Latin American Fashion Reader Oxford UK Berg 2005 p176-187 APPADURAI Arjun (Ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge Cambridge University Press 1986 ATTFIELD Judy Wild things the material culture of everyday life Oxford UK Berg 2000 BARRETO Maria de Lourdes Parreira Horta Educaccedilatildeo patrimonial e praacuteticas centradas no objeto ligadas a teorias da organizaccedilatildeo do comportamento 198284
BOLLON Patrice A moral da maacutescara Rio de Janeiro Rocco 1993
BOUCHER Franccedilois 20000 years of fashion the history of costume and personnal adornment New York Abrams 1987
CARON Franccedilois Lrsquoentreprise In NORA Pierre (Ed) Les lieux de meacutemoire Paris Gallimard 1992 p322-375 v II DELEUZE Gilles Empirismo e subjetividade ensaio sobre a natureza humana segundo Hume Traduccedilatildeo Luiz L B Orlandi Satildeo Paulo Editora 34 2001 DURBIN Gail MORRIS Susan WILKINSON Sue A teacheracutes guide to learning from objects English Heritage 1990
FINE Ben LEOPOLD Ellen The world of consumption London New York Routledge 1993 GUARNIERI Waldisa Ruacutessio Museu museologia museoacutelogos e formaccedilatildeo Revista de Museologia Satildeo Paulo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-11 1989 HORTA Maria de Lourdes Parreiras et al Guia baacutesico de educaccedilatildeo patrimonial Brasiacutelia Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional Museu Imperial 1999
KOPYTOFF Igor The cultural biography of things commoditization as process In APPADURAI Arjun (ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge University Press 1986p 64-91
LEHNERT Gertrud Fashion a concise history London Laurence King 1998
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
fazecirc-lo como que classificando e ordenando de uma soacute tomada as teclas de um piano
seria semelhante a afirmar a existecircncia de um soacute caminho para a muacutesica ou para a
sonoridade que resulta do toque nas teclas em uma soacute ordenaccedilatildeo em um soacute arranjo
Seria o mesmo que unificar o tom desprezando os outros tons desprezando os ruiacutedos
Investigar significa ldquoseguir os vestiacutegiosrdquo ldquoexaminar com atenccedilatildeordquo Investigaccedilatildeo
do particular3 do singelo eacute o que permite colocar em discussatildeo alguns dos elementos
ainda pouco estudados e talvez pouco conhecidos na historiografia Lou Taylor
escreveu Establishing Dress History (2004) um trabalho que imediatamente tornou-se
referecircncia na historiografia especiacutefica Nele a autora defende o estudo de roupas e
tecidos como fontesdocumentos capazes de elucidar aspectos histoacutericos culturais e
sociais quando vistos em contexto Isso se deve particularmente a suas qualidades
materiais muito distintas de outros tipos de documentos (textuais iconograacuteficos aacuteudio-
visuais) e tambeacutem porque satildeo materiais que convivem moldam e satildeo moldados pelo
corpo
Neste artigo introduzo um meacutetodo de interpretaccedilatildeo daquilo que eacute possiacutevel
entrever nas marcas e vestiacutegios encontrados em objetos tecircxteis especialmente em
roupas Uma roupa fabricada num determinado periacuteodo em determinado contexto
cultural eacute em seguida posta a circular sendo-nos possiacutevel investigar sua trajetoacuteria sua
biografia No momento em que um vestido por exemplo deixa de circular como uma
roupa que veste corpos e eacute incorporado ao acervo de um museu este ganha um novo
estado o de documento ou seja lsquoum suporte de informaccedilatildeorsquo (MENESES 1998)
Haacute certamente criacuteticas a formas quase ciruacutergicas de historicizar temas como a
roupa A maior delas diz respeito agrave interpretaccedilatildeo de objetos como ferramenta de anaacutelise
e reflexatildeo histoacuterica e ao fato de que a atenccedilatildeo pormenorizada dada ao objeto resulta
num estreitamento de abordagem Esta criacutetica vem especialmente de historiadores
econocircmicos como Ben Fine e Ellen Leopold que em seu The world of consumption
(1993) discutem a importacircncia da roupa no contexto do consumo Apesar do
reconhecimento do valor da pesquisa baseada em objetos para a histoacuteria social esses
autores defendem a abordagem do exame de sistemas como os da moda criticando a
interpretaccedilatildeo minuciosa de objetos ndash ao que se referiram como lsquocada frufru e babadorsquo -
praticada por historiadores e curadores do vestir4
No entanto se satildeo os sistemas e as diferenccedilas nas formas em se produzem
comercializam e consomem objetos eacute que os distinguem entatildeo a anaacutelise e a
interpretaccedilatildeo destes objetos satildeo ferramentas e meacutetodos de trabalho importantes para
acessar suas densidades culturais Em minha experiecircncia como aluna de design de
moda no iniacutecio da deacutecada de 1990 e depois como coordenadora e professora de cursos
de graduaccedilatildeo em moda percebi que o maior desafio na criaccedilatildeo de roupas estaacute em
solucionar problemas da concepccedilatildeo do projeto isto eacute de realizar a roupa projetada A
lida com o tecido e aviamentos o desenvolvimento da modelagem os processos de
costura a escolha pelo maquinaacuterio o emprego de trabalhos manuais enfim todo o
trabalho e o estudo voltados para confeccionar uma roupa projetada fazem parte do
dia-a-dia de um designer de moda e o desafio estaacute justamente em continuamente
encontrar novas e melhores soluccedilotildees de acabamentos articulaccedilatildeo modelagem e
costura
No ensino de moda as soluccedilotildees para esses desafios satildeo estudadas em
disciplinas consideradas ldquopraacuteticasrdquo aquelas em que alunos e professores utilizam e
aprimoram habilidades manuais como ldquoatelier de costurardquo ldquomodelagemrdquo ldquotecnologia
tecircxtilrdquo Haacute portanto uma separaccedilatildeo no curriacuteculo dos cursos de moda que restringe o
estudo dos aspectos materiais do design a determinadas disciplinas Contextualizar
colocar em debate e ampliar o escopo de estudo dos aspectos materiais da moda satildeo
atividades que permitiriam investigar o design numa perspectiva cultural
A roupa ao menos determinadas roupas5 eacute uma forma privilegiada de dar e
fazer sentido do mundo Ela permite entranhar a carne e a alma numa rede de
conexotildees que ultrapassam a vulnerabilidade da mateacuteria posto que corpo e roupa estatildeo
submetidos agraves forccedilas da degradaccedilatildeo Ao mesmo tempo entretanto estaacute na mateacuteria
(tecidos linhas bototildees etc) e em sua articulaccedilatildeo (formas o arranjo dos materiais) a
potecircncia que gerou a roupa A autonomia dos materiais como tecidos permite um
desdobramento que ultrapassa o tempo da moda ou o tempo de uso de produto em que
foi transformado
Uma roupa por exemplo eacute feita de uma variedade de materiais tecircxteis
metaacutelicos viacutetreos plaacutesticos enfim a lista eacute extensa Um vestido confeccionado com a
seleccedilatildeo de determinados materiais articulados para constituir um design especiacutefico
pensado para um fim especiacutefico tem um tipo de obsolescecircncia programada
especialmente quando a roupa estaacute inserida no sistema industrial e comercial da
moda6 Nesse sistema o vestido tem um tempo de ldquovidardquo que foi preacute-determinado
porque deveraacute ser substituiacutedo por outros modelos outros estilos outras articulaccedilotildees
com outros materiais O uso e reposiccedilatildeo instantacircneas nos levaria agrave hegemonia
sufocante da moda
Os materiais no entanto tecircm propriedades fiacutesico-quiacutemicas que os libertam desse
poder hegemocircnico de sistemas constituiacutedos como a moda As propriedades dos tecidos
ndash flexibilidade aderecircncia resiliecircncia longevidade dentre outras ndash possibilita seu reuso
isto eacute permite que sejam desmembrados da sua articulaccedilatildeo original e reutilizados em
outras articulaccedilatildeo infinitas vezes enquanto sua fisicalidade permitir Essas novas
articulaccedilotildees soacute seratildeo realizadas por meio da circulaccedilatildeo social da roupa Eacute possiacutevel
pensar a vida atraveacutes do vestir das preferecircncias pelos materiais da articulaccedilatildeo que se
fez deles do tempo empregado no fazer pensar refazer e repensar a roupa
A aparecircncia um dos territoacuterios de maior accedilatildeo da roupa e os sentidos a ela
associados tais como o zelo a preocupaccedilatildeo a insatisfaccedilatildeo a busca e o desejo
portanto natildeo eacute algo que se possa destacar da pele como a um filme plaacutestico A
aparecircncia eacute densa de camadas pensares e praacuteticas que permeiam a existecircncia que
agenciam relaccedilotildees enfim elementos da mateacuteria do sensiacutevel e do sentido Desprezar a
roupa como elemento constituinte e estruturante da cultura do comportamento e das
subjetividades eacute ignorar uma parcela significativa do sentido fazemos do mundo e
damos a ele
A tradiccedilatildeo filosoacutefica ocidental que privilegiou a busca pela verdade que estaria
por detraacutes da aparecircncia imediata das coisas pode ter contribuiacutedo para a percepccedilatildeo de
que a roupa (especialmente a de moda) fosse assunto menor e natildeo devesse ser levado
a seacuterio (MONNEYRON 200811-12) A verdade ndash busca tradicional da filosofia e da
histoacuteria ndash estaria aleacutem da aparecircncia aleacutem da vestimenta Mas lsquoe se as aparecircncias
forem profundasrsquo (MONNEYRON 2008 12) Ao invertermos toda uma atitude
filosoacutefica em que a aparecircncia eacute banalizada poderemos pensar a roupa
natildeo mais como potecircncia de erro mas como focircrma e matriz natildeo mais como elemento secundaacuterio adicional mas como elemento principal e criador determinando tanto os comportamentos individuais como as estruturas sociais Significa em resumo aceitar a aposta e estariacuteamos mesmo tentados a dizer ldquono comeccedilo era a roupardquo
Colocar a roupa no centro de qualquer anaacutelise natildeo significa fetichizaacute-la ou ocupar
com ela o lugar da essecircncia transcendental das coisas Trata-se sim de iniciar um outro
diaacutelogo de olhar o mundo de uma outra maneira A importacircncia da roupa nas
mudanccedilas comportamentais jaacute foi comprovada e chega a ser um elemento central em
casos de travestismo ou transexualismo (MONNEYRON 2008 12) As densas
camadas das roupas alargam os sentidos que vatildeo se atrelando agraves vidas e aos corpos
Podemos apostar assim numa investigaccedilatildeo que inicia do objeto ndash um vestido um
fragmento tecircxtil - e num projeto de pesquisa que se expande a partir dele Esta eacute sem
duacutevida uma escolha interpretativa mas eacute tambeacutem uma tentativa de explorar
potencialidades culturais que os tecidos e as roupas tecircm
Neste sentido eacute muito uacutetil emprestar ideacuteias e metodologias que vecircm sobretudo
de estudos em Arqueologia mas tambeacutem da Histoacuteria e do Design As ideacuteias de
biografia dos objetos de Igor Kopytoff (1986) da vida social dos objetos de Arjun
Appadurai (1986) das propriedades expressivas da cultura material de Grant
McCracken (1990) e do objeto com atitude de Judy Attifield (2000) satildeo relevantes para
dar suporte aos desdobramentos da interpretaccedilatildeo de objetos como roupas e tecidos
No que diz respeito ao cotidiano agrave memoacuteria e ao papel central dos objetos materiais
nos processos de rememoraccedilatildeo encontramos apoio nas propostas do historiador
Ulpiano Teixeira Bezerra de Meneses cuja contribuiccedilatildeo eacute das mais eloquumlentes nos
debates sobre cultura material7
Tratando do objeto em diferentes estados e sob diferentes perspectivas ndash
mercadoria singularizaccedilatildeo circulaccedilatildeo cotidiano e memoacuteria ndash esses estudos
compartilham da mesma visatildeo de que o objeto eacute culturalmente e socialmente moldado
e assim como acontece em biografias pessoais seus significados (como suas
identidades do ponto de vista psicoloacutegico) 8 satildeo mais transitoacuterios que estaacuteveis
O trabalho de Judy Attifield9 Wild Things - the material culture of everyday life
(2000) eacute muito significativo Sua maior contribuiccedilatildeo estaacute na maneira de pensar objetos
de design como lsquocoisas selvagensrsquo cujas trajetoacuterias formuladas no cotidiano os desviam
dos destinos previamente planejados Inicialmente projetados para abotoar roupas os
bototildees por exemplo ganham um novo espaccedilo nas casas e nas vidas de algumas
mulheres que passam a colecionaacute-los Os bototildees transformam-se entatildeo em objetos
que mediam e modificam relaccedilotildees sociais (as colecionadoras trocam bototildees entre si) e
ganham novos sentidos no cotidiano em termos de espaccedilo tempo e corporalidade A
transiccedilatildeo dos objetos com o passar do tempo afeta toda a rede social e cultural em que
ele estaacute entremeado Os bototildees acondicionados em caixas especiais passaratildeo de
matildee para filha podendo ganhar novas formataccedilotildees e certamente agenciando novas
relaccedilotildees
O trabalho de Arjun Appadurai eacute igualmente relevante por apresentar uma
perspectiva desafiadora no estudo de um objeto Para ele mesmo que do ponto de
vista teoacuterico sejam as pessoas a dar significacircncia agraves coisas do ponto de vista
metodoloacutegico satildeo as coisas em movimento que iluminam os sentidos da vivecircncia
humana em seus contextos culturais e sociais (1986 5) Assim como meacutetodo de
anaacutelise seraacute mais uacutetil investigar o objeto do que seu dono pois ainda que por um
determinado periacuteodo essas duas biografias se entrelacem elas tecircm trajetoacuterias distintas
e determinados objetos como a jaqueta de beisebol que Peter Stalybrass (2000)
herdou do amigo falecido sobrevivem a seus fabricantes e primeiros usuaacuterios
Para Meneses a longevidade dos artefatos jaacute os capacita ldquoa expressar o
passado de forma profunda e sensorialmente convincenterdquo (1998 1) Natildeo haacute
entretanto como extrair sentido do objeto isto eacute as caracteriacutesticas intriacutensecas ao
objeto ndash suas qualidades fiacutesico-quiacutemicas ndash natildeo permitem fazer sentido do mundo se
natildeo for pelas mediaccedilotildees sociais das quais participa e das interpretaccedilotildees que se fazem
delas Aiacute reside segundo Meneses um dos desafios de pensar a histoacuteria pelo estudo
dos objetos da cultura material para traccedilar a biografia dos objetos eacute preciso examinaacute-
los ldquoem situaccedilatildeordquo em suas palavras ldquonatildeo se trata de recompor um cenaacuterio material
mas de entender os artefatos na interaccedilatildeo socialrdquo (1998 3)
A passagem do tempo imprime marcas nos objetos como nas pessoas mas
diferentemente delas a ldquomorterdquo para um objeto natildeo depende apenas de seu estado
fiacutesico mas sobretudo depende das remanescentes possibilidades deste continuar ldquono
jogordquo social mediando novos sentidos Um bom exemplo disso eacute a descriccedilatildeo que o
historiador Peter Stalybrass (200011-2) faz da jaqueta que herdou do amigo falecido e
a narrativa da trajetoacuteria da jaqueta ateacute que ela fosse sua
Quando Allan morreu Jen [a viuacuteva] me deu sua jaqueta de beisebol coisa que parecia bastante apropriada uma vez que naquela altura eu tinha me mudado permanentemente para os Estados Unidos Mas ela tambeacutem me deu a jaqueta de Allon que eu mais havia cobiccedilado Ele a tinha comprado numa loja de objetos usados perto da estaccedilatildeo de trem de Brighton e seu misteacuterio era e eacute bastante faacutecil de descrever Ela eacute feita de um tecido de polieacutester com algodatildeo preto e brilhoso e a parte exterior ainda estaacute em bom estado Mas interiormente grande parte do forro estaacute rasgado como se tivesse sido atacado por gatos raivosos No interior a uacutenica coisa que resta de sua antiga gloacuteria eacute o roacutetulo ldquoFabricado expressamente para Turndof Por Di Rossi Costurado a matildeordquo Com muita frequumlecircncia tenho me perguntado se foi a marca que atraiu Allon na medida em que ele adorava a moda italiana desde sua infacircncia mas muito mais provavelmente foi simplesmente o corte da jaqueta
O trecho soa como uma tentativa do autor de rememorar o amigo atraveacutes dos
percursos daquela roupa e o modo como ele encontra para realizar sua busca estaacute na
observaccedilatildeo que faz das memoacuterias fisicamente aparentes na jaqueta A funccedilatildeo e a
condiccedilatildeo fiacutesica daquela roupa que jaacute apresentava sinais de deterioraccedilatildeo ganharam um
novo focirclego quando Stalybrass decidiu vesti-la Novas percepccedilotildees de sua proacutepria vida
afloraram a partir do reuso daquela roupa e das memoacuterias reavivadas pelo cheiro pelos
rasgos pelas marcas
O estudo minucioso de roupas que sobreviveram ao tempo e a condiccedilotildees
adversas de vaacuterias naturezas - como o clima e a seleccedilatildeo feita para a formaccedilatildeo de
coleccedilotildees tecircxteis e de vestuaacuterio - parece ser um modo promissor de evitar a propagaccedilatildeo
e continuidade dos mitos e estereoacutetipos presentes na historiografia (TAYLOR 2002
2004) A anaacutelise de peccedilas de vestuaacuterio que tenham sido representativas (e mesmo
excepcionais) de distintos modos de vestir (da proacutepria moda) pode lanccedilar luz sobre
aspectos sociais e culturais ainda pouco investigados
A roupa natildeo tem as mesmas propriedades que suas representaccedilotildees imageacuteticas
como a fotografia por exemplo A roupa elemento da cultura material tem textura
cheiro rasgos manchas e vestiacutegios de corpos que jaacute a usaram como casca de sonhos
pele de inserccedilatildeo social do pertencer aos tempos e espaccedilos que contornam a sua
trajetoacuteria
Estudar um vestido ou qualquer outro objeto implica necessariamente conhecer e
compreender os materiais de que eacute feito Objetos tridimensionais satildeo originalmente
pensados e confeccionados com uma articulaccedilatildeo (ou articulaccedilotildees) especiacutefica e suas
partes podem ser constituiacutedas de uma infinidade de materiais Estudar objetos como as
roupas e os tecidos de que satildeo feitas exige certas habilidades que diferem do modo de
anaacutelise de outros tipos de documentos como os textuais e iconograacuteficos Analisar um
vestido natildeo eacute o mesmo que analisar a sua fotografia assim como natildeo seria o mesmo
analisar a sua descriccedilatildeo O vestido enquanto objeto material enquanto coisa tem uma
seacuterie de caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e cuja articulaccedilatildeo constitui um artefato
singular
Os caminhos de pesquisa satildeo interminaacuteveis quando ela eacute iniciada pela anaacutelise e
estudo de um objeto Haacute de se determinar portanto qual caminho seguir avaliando as
muitas variaacuteveis envolvidas nesse processo de pesquisa especialmente aquelas
resultadas da observaccedilatildeo - do que de fato estaacute no objeto - e dos interesses de estudo
do investigador Pesquisas que resultam da anaacutelise e interpretaccedilatildeo de roupas e tecidos
presentes na bibliografia especializada sinalizam a importacircncia deste tipo de estudo
para as aacutereas humanas (MILLER 2007 PALMER 2001 STEELE 1998
McCRACKEN 1990)
A histoacuteria das roupas no Brasil natildeo eacute uma compilada As roupas aparecem nas
obras literaacuterias nas biografias de personagens histoacutericos nas histoacuterias da publicidade e
das cidades Aparecem ainda nos escritos de memorialistas de viajantes enfim nossa
historiografia eacute caracteristicamente fragmentada No que diz respeito aos meacutetodos de
estudos com objetos estes vecircm principalmente da Antropologia conforme a bibliografia
indicada a seguir
Roupas assim como qualquer outro objeto pensado e feito por pessoas tecircm um
sentido fiacutesico e outro cultural Aquelas feitas em tecido no entanto satildeo diferentes de
outros tipos de objeto porque as propriedades tecircxteis usadas aqui como uma
ferramenta para interpretaccedilatildeo permitem que as marcas do objeto em seus muitos
estados transitoacuterios fiquem impregnadas10 Em meus estudos sobre roupas e tecidos
tenho adotado um meacutetodo de trabalho que me auxilia a interpretar vestiacutegios materiais
de objetos que sobreviveram agraves accedilotildees do tempo e a outras seleccedilotildees Este meacutetodo
resulta da integraccedilatildeo das propostas de autores cujos trabalhos tecircm uma perspectiva em
cultura material Segundo a bibliografia (BARRETO 19824 DURBIN MORRIS
WILKINSON 1990 PROWN 1994 HORTA GRUNBERG MONTEIRO 1999
TAYLOR 2002) quatro questotildees devem ser abordadas quando estudamos um artefato
tecircxtil como um vestido por exemplo 11
1 Observaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicas
2 Descriccedilatildeo ou registro
3 A identificaccedilatildeo
4 Exploraccedilatildeo ou especulaccedilatildeo do problema
5 Pesquisa em outras fontes e programa de pesquisa
Aleacutem das etapas descritas acima seria bastante recomendaacutevel considerar o
contexto em que a roupa em estudo estaacute sendo analisada Uma vez que roupas tenham
sido deslocadas de seu lugar de origem e recolocadas em coleccedilotildees de museus por
exemplo haacute que se considerar que houve uma seleccedilatildeo para que aquela roupa
especiacutefica passasse a integrar o acervo de um determinado museu Fora do corpo e do
guarda-roupa que um dia a abrigou aquele vestido passaraacute por novos estados se
conectaraacute a outros corpos e estaraacute sujeito a novas interpretaccedilotildees
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Rita Por debaixo dos panos cultura e materialidade de nossas roupas e tecidos In PAULA Teresa Cristina Toledo de (org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da USP 2005
ANDRADE Rita The House of Louiseboulanger ndash an insight into couture and its commercial practices in 1920s and 1930s Paris Inglaterra 2000 Dissertaccedilatildeo (Masters of Art in History of Textiles and Dress) ndash Winchester School of Art University of Southampton ANDRADE Rita A roupa como documento histoacuterico uma nova abordagem em estudos sobre moda Espaccedilo Criacutetico Disponiacutevel em lt wwwmodabrasilcombrgt Acesso em abr 2001 ANDRADE Rita Louise Boulanger and interwar french couture revelations from object analysis Textile History v 35 n1 p112-119 May 2004 ANDRADE Rita Mappin Stores adding an english touch to the Sao Paulo Fashion Scene In ROOT Regina (Ed) The Latin American Fashion Reader Oxford UK Berg 2005 p176-187 APPADURAI Arjun (Ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge Cambridge University Press 1986 ATTFIELD Judy Wild things the material culture of everyday life Oxford UK Berg 2000 BARRETO Maria de Lourdes Parreira Horta Educaccedilatildeo patrimonial e praacuteticas centradas no objeto ligadas a teorias da organizaccedilatildeo do comportamento 198284
BOLLON Patrice A moral da maacutescara Rio de Janeiro Rocco 1993
BOUCHER Franccedilois 20000 years of fashion the history of costume and personnal adornment New York Abrams 1987
CARON Franccedilois Lrsquoentreprise In NORA Pierre (Ed) Les lieux de meacutemoire Paris Gallimard 1992 p322-375 v II DELEUZE Gilles Empirismo e subjetividade ensaio sobre a natureza humana segundo Hume Traduccedilatildeo Luiz L B Orlandi Satildeo Paulo Editora 34 2001 DURBIN Gail MORRIS Susan WILKINSON Sue A teacheracutes guide to learning from objects English Heritage 1990
FINE Ben LEOPOLD Ellen The world of consumption London New York Routledge 1993 GUARNIERI Waldisa Ruacutessio Museu museologia museoacutelogos e formaccedilatildeo Revista de Museologia Satildeo Paulo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-11 1989 HORTA Maria de Lourdes Parreiras et al Guia baacutesico de educaccedilatildeo patrimonial Brasiacutelia Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional Museu Imperial 1999
KOPYTOFF Igor The cultural biography of things commoditization as process In APPADURAI Arjun (ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge University Press 1986p 64-91
LEHNERT Gertrud Fashion a concise history London Laurence King 1998
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
interpretaccedilatildeo minuciosa de objetos ndash ao que se referiram como lsquocada frufru e babadorsquo -
praticada por historiadores e curadores do vestir4
No entanto se satildeo os sistemas e as diferenccedilas nas formas em se produzem
comercializam e consomem objetos eacute que os distinguem entatildeo a anaacutelise e a
interpretaccedilatildeo destes objetos satildeo ferramentas e meacutetodos de trabalho importantes para
acessar suas densidades culturais Em minha experiecircncia como aluna de design de
moda no iniacutecio da deacutecada de 1990 e depois como coordenadora e professora de cursos
de graduaccedilatildeo em moda percebi que o maior desafio na criaccedilatildeo de roupas estaacute em
solucionar problemas da concepccedilatildeo do projeto isto eacute de realizar a roupa projetada A
lida com o tecido e aviamentos o desenvolvimento da modelagem os processos de
costura a escolha pelo maquinaacuterio o emprego de trabalhos manuais enfim todo o
trabalho e o estudo voltados para confeccionar uma roupa projetada fazem parte do
dia-a-dia de um designer de moda e o desafio estaacute justamente em continuamente
encontrar novas e melhores soluccedilotildees de acabamentos articulaccedilatildeo modelagem e
costura
No ensino de moda as soluccedilotildees para esses desafios satildeo estudadas em
disciplinas consideradas ldquopraacuteticasrdquo aquelas em que alunos e professores utilizam e
aprimoram habilidades manuais como ldquoatelier de costurardquo ldquomodelagemrdquo ldquotecnologia
tecircxtilrdquo Haacute portanto uma separaccedilatildeo no curriacuteculo dos cursos de moda que restringe o
estudo dos aspectos materiais do design a determinadas disciplinas Contextualizar
colocar em debate e ampliar o escopo de estudo dos aspectos materiais da moda satildeo
atividades que permitiriam investigar o design numa perspectiva cultural
A roupa ao menos determinadas roupas5 eacute uma forma privilegiada de dar e
fazer sentido do mundo Ela permite entranhar a carne e a alma numa rede de
conexotildees que ultrapassam a vulnerabilidade da mateacuteria posto que corpo e roupa estatildeo
submetidos agraves forccedilas da degradaccedilatildeo Ao mesmo tempo entretanto estaacute na mateacuteria
(tecidos linhas bototildees etc) e em sua articulaccedilatildeo (formas o arranjo dos materiais) a
potecircncia que gerou a roupa A autonomia dos materiais como tecidos permite um
desdobramento que ultrapassa o tempo da moda ou o tempo de uso de produto em que
foi transformado
Uma roupa por exemplo eacute feita de uma variedade de materiais tecircxteis
metaacutelicos viacutetreos plaacutesticos enfim a lista eacute extensa Um vestido confeccionado com a
seleccedilatildeo de determinados materiais articulados para constituir um design especiacutefico
pensado para um fim especiacutefico tem um tipo de obsolescecircncia programada
especialmente quando a roupa estaacute inserida no sistema industrial e comercial da
moda6 Nesse sistema o vestido tem um tempo de ldquovidardquo que foi preacute-determinado
porque deveraacute ser substituiacutedo por outros modelos outros estilos outras articulaccedilotildees
com outros materiais O uso e reposiccedilatildeo instantacircneas nos levaria agrave hegemonia
sufocante da moda
Os materiais no entanto tecircm propriedades fiacutesico-quiacutemicas que os libertam desse
poder hegemocircnico de sistemas constituiacutedos como a moda As propriedades dos tecidos
ndash flexibilidade aderecircncia resiliecircncia longevidade dentre outras ndash possibilita seu reuso
isto eacute permite que sejam desmembrados da sua articulaccedilatildeo original e reutilizados em
outras articulaccedilatildeo infinitas vezes enquanto sua fisicalidade permitir Essas novas
articulaccedilotildees soacute seratildeo realizadas por meio da circulaccedilatildeo social da roupa Eacute possiacutevel
pensar a vida atraveacutes do vestir das preferecircncias pelos materiais da articulaccedilatildeo que se
fez deles do tempo empregado no fazer pensar refazer e repensar a roupa
A aparecircncia um dos territoacuterios de maior accedilatildeo da roupa e os sentidos a ela
associados tais como o zelo a preocupaccedilatildeo a insatisfaccedilatildeo a busca e o desejo
portanto natildeo eacute algo que se possa destacar da pele como a um filme plaacutestico A
aparecircncia eacute densa de camadas pensares e praacuteticas que permeiam a existecircncia que
agenciam relaccedilotildees enfim elementos da mateacuteria do sensiacutevel e do sentido Desprezar a
roupa como elemento constituinte e estruturante da cultura do comportamento e das
subjetividades eacute ignorar uma parcela significativa do sentido fazemos do mundo e
damos a ele
A tradiccedilatildeo filosoacutefica ocidental que privilegiou a busca pela verdade que estaria
por detraacutes da aparecircncia imediata das coisas pode ter contribuiacutedo para a percepccedilatildeo de
que a roupa (especialmente a de moda) fosse assunto menor e natildeo devesse ser levado
a seacuterio (MONNEYRON 200811-12) A verdade ndash busca tradicional da filosofia e da
histoacuteria ndash estaria aleacutem da aparecircncia aleacutem da vestimenta Mas lsquoe se as aparecircncias
forem profundasrsquo (MONNEYRON 2008 12) Ao invertermos toda uma atitude
filosoacutefica em que a aparecircncia eacute banalizada poderemos pensar a roupa
natildeo mais como potecircncia de erro mas como focircrma e matriz natildeo mais como elemento secundaacuterio adicional mas como elemento principal e criador determinando tanto os comportamentos individuais como as estruturas sociais Significa em resumo aceitar a aposta e estariacuteamos mesmo tentados a dizer ldquono comeccedilo era a roupardquo
Colocar a roupa no centro de qualquer anaacutelise natildeo significa fetichizaacute-la ou ocupar
com ela o lugar da essecircncia transcendental das coisas Trata-se sim de iniciar um outro
diaacutelogo de olhar o mundo de uma outra maneira A importacircncia da roupa nas
mudanccedilas comportamentais jaacute foi comprovada e chega a ser um elemento central em
casos de travestismo ou transexualismo (MONNEYRON 2008 12) As densas
camadas das roupas alargam os sentidos que vatildeo se atrelando agraves vidas e aos corpos
Podemos apostar assim numa investigaccedilatildeo que inicia do objeto ndash um vestido um
fragmento tecircxtil - e num projeto de pesquisa que se expande a partir dele Esta eacute sem
duacutevida uma escolha interpretativa mas eacute tambeacutem uma tentativa de explorar
potencialidades culturais que os tecidos e as roupas tecircm
Neste sentido eacute muito uacutetil emprestar ideacuteias e metodologias que vecircm sobretudo
de estudos em Arqueologia mas tambeacutem da Histoacuteria e do Design As ideacuteias de
biografia dos objetos de Igor Kopytoff (1986) da vida social dos objetos de Arjun
Appadurai (1986) das propriedades expressivas da cultura material de Grant
McCracken (1990) e do objeto com atitude de Judy Attifield (2000) satildeo relevantes para
dar suporte aos desdobramentos da interpretaccedilatildeo de objetos como roupas e tecidos
No que diz respeito ao cotidiano agrave memoacuteria e ao papel central dos objetos materiais
nos processos de rememoraccedilatildeo encontramos apoio nas propostas do historiador
Ulpiano Teixeira Bezerra de Meneses cuja contribuiccedilatildeo eacute das mais eloquumlentes nos
debates sobre cultura material7
Tratando do objeto em diferentes estados e sob diferentes perspectivas ndash
mercadoria singularizaccedilatildeo circulaccedilatildeo cotidiano e memoacuteria ndash esses estudos
compartilham da mesma visatildeo de que o objeto eacute culturalmente e socialmente moldado
e assim como acontece em biografias pessoais seus significados (como suas
identidades do ponto de vista psicoloacutegico) 8 satildeo mais transitoacuterios que estaacuteveis
O trabalho de Judy Attifield9 Wild Things - the material culture of everyday life
(2000) eacute muito significativo Sua maior contribuiccedilatildeo estaacute na maneira de pensar objetos
de design como lsquocoisas selvagensrsquo cujas trajetoacuterias formuladas no cotidiano os desviam
dos destinos previamente planejados Inicialmente projetados para abotoar roupas os
bototildees por exemplo ganham um novo espaccedilo nas casas e nas vidas de algumas
mulheres que passam a colecionaacute-los Os bototildees transformam-se entatildeo em objetos
que mediam e modificam relaccedilotildees sociais (as colecionadoras trocam bototildees entre si) e
ganham novos sentidos no cotidiano em termos de espaccedilo tempo e corporalidade A
transiccedilatildeo dos objetos com o passar do tempo afeta toda a rede social e cultural em que
ele estaacute entremeado Os bototildees acondicionados em caixas especiais passaratildeo de
matildee para filha podendo ganhar novas formataccedilotildees e certamente agenciando novas
relaccedilotildees
O trabalho de Arjun Appadurai eacute igualmente relevante por apresentar uma
perspectiva desafiadora no estudo de um objeto Para ele mesmo que do ponto de
vista teoacuterico sejam as pessoas a dar significacircncia agraves coisas do ponto de vista
metodoloacutegico satildeo as coisas em movimento que iluminam os sentidos da vivecircncia
humana em seus contextos culturais e sociais (1986 5) Assim como meacutetodo de
anaacutelise seraacute mais uacutetil investigar o objeto do que seu dono pois ainda que por um
determinado periacuteodo essas duas biografias se entrelacem elas tecircm trajetoacuterias distintas
e determinados objetos como a jaqueta de beisebol que Peter Stalybrass (2000)
herdou do amigo falecido sobrevivem a seus fabricantes e primeiros usuaacuterios
Para Meneses a longevidade dos artefatos jaacute os capacita ldquoa expressar o
passado de forma profunda e sensorialmente convincenterdquo (1998 1) Natildeo haacute
entretanto como extrair sentido do objeto isto eacute as caracteriacutesticas intriacutensecas ao
objeto ndash suas qualidades fiacutesico-quiacutemicas ndash natildeo permitem fazer sentido do mundo se
natildeo for pelas mediaccedilotildees sociais das quais participa e das interpretaccedilotildees que se fazem
delas Aiacute reside segundo Meneses um dos desafios de pensar a histoacuteria pelo estudo
dos objetos da cultura material para traccedilar a biografia dos objetos eacute preciso examinaacute-
los ldquoem situaccedilatildeordquo em suas palavras ldquonatildeo se trata de recompor um cenaacuterio material
mas de entender os artefatos na interaccedilatildeo socialrdquo (1998 3)
A passagem do tempo imprime marcas nos objetos como nas pessoas mas
diferentemente delas a ldquomorterdquo para um objeto natildeo depende apenas de seu estado
fiacutesico mas sobretudo depende das remanescentes possibilidades deste continuar ldquono
jogordquo social mediando novos sentidos Um bom exemplo disso eacute a descriccedilatildeo que o
historiador Peter Stalybrass (200011-2) faz da jaqueta que herdou do amigo falecido e
a narrativa da trajetoacuteria da jaqueta ateacute que ela fosse sua
Quando Allan morreu Jen [a viuacuteva] me deu sua jaqueta de beisebol coisa que parecia bastante apropriada uma vez que naquela altura eu tinha me mudado permanentemente para os Estados Unidos Mas ela tambeacutem me deu a jaqueta de Allon que eu mais havia cobiccedilado Ele a tinha comprado numa loja de objetos usados perto da estaccedilatildeo de trem de Brighton e seu misteacuterio era e eacute bastante faacutecil de descrever Ela eacute feita de um tecido de polieacutester com algodatildeo preto e brilhoso e a parte exterior ainda estaacute em bom estado Mas interiormente grande parte do forro estaacute rasgado como se tivesse sido atacado por gatos raivosos No interior a uacutenica coisa que resta de sua antiga gloacuteria eacute o roacutetulo ldquoFabricado expressamente para Turndof Por Di Rossi Costurado a matildeordquo Com muita frequumlecircncia tenho me perguntado se foi a marca que atraiu Allon na medida em que ele adorava a moda italiana desde sua infacircncia mas muito mais provavelmente foi simplesmente o corte da jaqueta
O trecho soa como uma tentativa do autor de rememorar o amigo atraveacutes dos
percursos daquela roupa e o modo como ele encontra para realizar sua busca estaacute na
observaccedilatildeo que faz das memoacuterias fisicamente aparentes na jaqueta A funccedilatildeo e a
condiccedilatildeo fiacutesica daquela roupa que jaacute apresentava sinais de deterioraccedilatildeo ganharam um
novo focirclego quando Stalybrass decidiu vesti-la Novas percepccedilotildees de sua proacutepria vida
afloraram a partir do reuso daquela roupa e das memoacuterias reavivadas pelo cheiro pelos
rasgos pelas marcas
O estudo minucioso de roupas que sobreviveram ao tempo e a condiccedilotildees
adversas de vaacuterias naturezas - como o clima e a seleccedilatildeo feita para a formaccedilatildeo de
coleccedilotildees tecircxteis e de vestuaacuterio - parece ser um modo promissor de evitar a propagaccedilatildeo
e continuidade dos mitos e estereoacutetipos presentes na historiografia (TAYLOR 2002
2004) A anaacutelise de peccedilas de vestuaacuterio que tenham sido representativas (e mesmo
excepcionais) de distintos modos de vestir (da proacutepria moda) pode lanccedilar luz sobre
aspectos sociais e culturais ainda pouco investigados
A roupa natildeo tem as mesmas propriedades que suas representaccedilotildees imageacuteticas
como a fotografia por exemplo A roupa elemento da cultura material tem textura
cheiro rasgos manchas e vestiacutegios de corpos que jaacute a usaram como casca de sonhos
pele de inserccedilatildeo social do pertencer aos tempos e espaccedilos que contornam a sua
trajetoacuteria
Estudar um vestido ou qualquer outro objeto implica necessariamente conhecer e
compreender os materiais de que eacute feito Objetos tridimensionais satildeo originalmente
pensados e confeccionados com uma articulaccedilatildeo (ou articulaccedilotildees) especiacutefica e suas
partes podem ser constituiacutedas de uma infinidade de materiais Estudar objetos como as
roupas e os tecidos de que satildeo feitas exige certas habilidades que diferem do modo de
anaacutelise de outros tipos de documentos como os textuais e iconograacuteficos Analisar um
vestido natildeo eacute o mesmo que analisar a sua fotografia assim como natildeo seria o mesmo
analisar a sua descriccedilatildeo O vestido enquanto objeto material enquanto coisa tem uma
seacuterie de caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e cuja articulaccedilatildeo constitui um artefato
singular
Os caminhos de pesquisa satildeo interminaacuteveis quando ela eacute iniciada pela anaacutelise e
estudo de um objeto Haacute de se determinar portanto qual caminho seguir avaliando as
muitas variaacuteveis envolvidas nesse processo de pesquisa especialmente aquelas
resultadas da observaccedilatildeo - do que de fato estaacute no objeto - e dos interesses de estudo
do investigador Pesquisas que resultam da anaacutelise e interpretaccedilatildeo de roupas e tecidos
presentes na bibliografia especializada sinalizam a importacircncia deste tipo de estudo
para as aacutereas humanas (MILLER 2007 PALMER 2001 STEELE 1998
McCRACKEN 1990)
A histoacuteria das roupas no Brasil natildeo eacute uma compilada As roupas aparecem nas
obras literaacuterias nas biografias de personagens histoacutericos nas histoacuterias da publicidade e
das cidades Aparecem ainda nos escritos de memorialistas de viajantes enfim nossa
historiografia eacute caracteristicamente fragmentada No que diz respeito aos meacutetodos de
estudos com objetos estes vecircm principalmente da Antropologia conforme a bibliografia
indicada a seguir
Roupas assim como qualquer outro objeto pensado e feito por pessoas tecircm um
sentido fiacutesico e outro cultural Aquelas feitas em tecido no entanto satildeo diferentes de
outros tipos de objeto porque as propriedades tecircxteis usadas aqui como uma
ferramenta para interpretaccedilatildeo permitem que as marcas do objeto em seus muitos
estados transitoacuterios fiquem impregnadas10 Em meus estudos sobre roupas e tecidos
tenho adotado um meacutetodo de trabalho que me auxilia a interpretar vestiacutegios materiais
de objetos que sobreviveram agraves accedilotildees do tempo e a outras seleccedilotildees Este meacutetodo
resulta da integraccedilatildeo das propostas de autores cujos trabalhos tecircm uma perspectiva em
cultura material Segundo a bibliografia (BARRETO 19824 DURBIN MORRIS
WILKINSON 1990 PROWN 1994 HORTA GRUNBERG MONTEIRO 1999
TAYLOR 2002) quatro questotildees devem ser abordadas quando estudamos um artefato
tecircxtil como um vestido por exemplo 11
1 Observaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicas
2 Descriccedilatildeo ou registro
3 A identificaccedilatildeo
4 Exploraccedilatildeo ou especulaccedilatildeo do problema
5 Pesquisa em outras fontes e programa de pesquisa
Aleacutem das etapas descritas acima seria bastante recomendaacutevel considerar o
contexto em que a roupa em estudo estaacute sendo analisada Uma vez que roupas tenham
sido deslocadas de seu lugar de origem e recolocadas em coleccedilotildees de museus por
exemplo haacute que se considerar que houve uma seleccedilatildeo para que aquela roupa
especiacutefica passasse a integrar o acervo de um determinado museu Fora do corpo e do
guarda-roupa que um dia a abrigou aquele vestido passaraacute por novos estados se
conectaraacute a outros corpos e estaraacute sujeito a novas interpretaccedilotildees
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Rita Por debaixo dos panos cultura e materialidade de nossas roupas e tecidos In PAULA Teresa Cristina Toledo de (org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da USP 2005
ANDRADE Rita The House of Louiseboulanger ndash an insight into couture and its commercial practices in 1920s and 1930s Paris Inglaterra 2000 Dissertaccedilatildeo (Masters of Art in History of Textiles and Dress) ndash Winchester School of Art University of Southampton ANDRADE Rita A roupa como documento histoacuterico uma nova abordagem em estudos sobre moda Espaccedilo Criacutetico Disponiacutevel em lt wwwmodabrasilcombrgt Acesso em abr 2001 ANDRADE Rita Louise Boulanger and interwar french couture revelations from object analysis Textile History v 35 n1 p112-119 May 2004 ANDRADE Rita Mappin Stores adding an english touch to the Sao Paulo Fashion Scene In ROOT Regina (Ed) The Latin American Fashion Reader Oxford UK Berg 2005 p176-187 APPADURAI Arjun (Ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge Cambridge University Press 1986 ATTFIELD Judy Wild things the material culture of everyday life Oxford UK Berg 2000 BARRETO Maria de Lourdes Parreira Horta Educaccedilatildeo patrimonial e praacuteticas centradas no objeto ligadas a teorias da organizaccedilatildeo do comportamento 198284
BOLLON Patrice A moral da maacutescara Rio de Janeiro Rocco 1993
BOUCHER Franccedilois 20000 years of fashion the history of costume and personnal adornment New York Abrams 1987
CARON Franccedilois Lrsquoentreprise In NORA Pierre (Ed) Les lieux de meacutemoire Paris Gallimard 1992 p322-375 v II DELEUZE Gilles Empirismo e subjetividade ensaio sobre a natureza humana segundo Hume Traduccedilatildeo Luiz L B Orlandi Satildeo Paulo Editora 34 2001 DURBIN Gail MORRIS Susan WILKINSON Sue A teacheracutes guide to learning from objects English Heritage 1990
FINE Ben LEOPOLD Ellen The world of consumption London New York Routledge 1993 GUARNIERI Waldisa Ruacutessio Museu museologia museoacutelogos e formaccedilatildeo Revista de Museologia Satildeo Paulo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-11 1989 HORTA Maria de Lourdes Parreiras et al Guia baacutesico de educaccedilatildeo patrimonial Brasiacutelia Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional Museu Imperial 1999
KOPYTOFF Igor The cultural biography of things commoditization as process In APPADURAI Arjun (ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge University Press 1986p 64-91
LEHNERT Gertrud Fashion a concise history London Laurence King 1998
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
Uma roupa por exemplo eacute feita de uma variedade de materiais tecircxteis
metaacutelicos viacutetreos plaacutesticos enfim a lista eacute extensa Um vestido confeccionado com a
seleccedilatildeo de determinados materiais articulados para constituir um design especiacutefico
pensado para um fim especiacutefico tem um tipo de obsolescecircncia programada
especialmente quando a roupa estaacute inserida no sistema industrial e comercial da
moda6 Nesse sistema o vestido tem um tempo de ldquovidardquo que foi preacute-determinado
porque deveraacute ser substituiacutedo por outros modelos outros estilos outras articulaccedilotildees
com outros materiais O uso e reposiccedilatildeo instantacircneas nos levaria agrave hegemonia
sufocante da moda
Os materiais no entanto tecircm propriedades fiacutesico-quiacutemicas que os libertam desse
poder hegemocircnico de sistemas constituiacutedos como a moda As propriedades dos tecidos
ndash flexibilidade aderecircncia resiliecircncia longevidade dentre outras ndash possibilita seu reuso
isto eacute permite que sejam desmembrados da sua articulaccedilatildeo original e reutilizados em
outras articulaccedilatildeo infinitas vezes enquanto sua fisicalidade permitir Essas novas
articulaccedilotildees soacute seratildeo realizadas por meio da circulaccedilatildeo social da roupa Eacute possiacutevel
pensar a vida atraveacutes do vestir das preferecircncias pelos materiais da articulaccedilatildeo que se
fez deles do tempo empregado no fazer pensar refazer e repensar a roupa
A aparecircncia um dos territoacuterios de maior accedilatildeo da roupa e os sentidos a ela
associados tais como o zelo a preocupaccedilatildeo a insatisfaccedilatildeo a busca e o desejo
portanto natildeo eacute algo que se possa destacar da pele como a um filme plaacutestico A
aparecircncia eacute densa de camadas pensares e praacuteticas que permeiam a existecircncia que
agenciam relaccedilotildees enfim elementos da mateacuteria do sensiacutevel e do sentido Desprezar a
roupa como elemento constituinte e estruturante da cultura do comportamento e das
subjetividades eacute ignorar uma parcela significativa do sentido fazemos do mundo e
damos a ele
A tradiccedilatildeo filosoacutefica ocidental que privilegiou a busca pela verdade que estaria
por detraacutes da aparecircncia imediata das coisas pode ter contribuiacutedo para a percepccedilatildeo de
que a roupa (especialmente a de moda) fosse assunto menor e natildeo devesse ser levado
a seacuterio (MONNEYRON 200811-12) A verdade ndash busca tradicional da filosofia e da
histoacuteria ndash estaria aleacutem da aparecircncia aleacutem da vestimenta Mas lsquoe se as aparecircncias
forem profundasrsquo (MONNEYRON 2008 12) Ao invertermos toda uma atitude
filosoacutefica em que a aparecircncia eacute banalizada poderemos pensar a roupa
natildeo mais como potecircncia de erro mas como focircrma e matriz natildeo mais como elemento secundaacuterio adicional mas como elemento principal e criador determinando tanto os comportamentos individuais como as estruturas sociais Significa em resumo aceitar a aposta e estariacuteamos mesmo tentados a dizer ldquono comeccedilo era a roupardquo
Colocar a roupa no centro de qualquer anaacutelise natildeo significa fetichizaacute-la ou ocupar
com ela o lugar da essecircncia transcendental das coisas Trata-se sim de iniciar um outro
diaacutelogo de olhar o mundo de uma outra maneira A importacircncia da roupa nas
mudanccedilas comportamentais jaacute foi comprovada e chega a ser um elemento central em
casos de travestismo ou transexualismo (MONNEYRON 2008 12) As densas
camadas das roupas alargam os sentidos que vatildeo se atrelando agraves vidas e aos corpos
Podemos apostar assim numa investigaccedilatildeo que inicia do objeto ndash um vestido um
fragmento tecircxtil - e num projeto de pesquisa que se expande a partir dele Esta eacute sem
duacutevida uma escolha interpretativa mas eacute tambeacutem uma tentativa de explorar
potencialidades culturais que os tecidos e as roupas tecircm
Neste sentido eacute muito uacutetil emprestar ideacuteias e metodologias que vecircm sobretudo
de estudos em Arqueologia mas tambeacutem da Histoacuteria e do Design As ideacuteias de
biografia dos objetos de Igor Kopytoff (1986) da vida social dos objetos de Arjun
Appadurai (1986) das propriedades expressivas da cultura material de Grant
McCracken (1990) e do objeto com atitude de Judy Attifield (2000) satildeo relevantes para
dar suporte aos desdobramentos da interpretaccedilatildeo de objetos como roupas e tecidos
No que diz respeito ao cotidiano agrave memoacuteria e ao papel central dos objetos materiais
nos processos de rememoraccedilatildeo encontramos apoio nas propostas do historiador
Ulpiano Teixeira Bezerra de Meneses cuja contribuiccedilatildeo eacute das mais eloquumlentes nos
debates sobre cultura material7
Tratando do objeto em diferentes estados e sob diferentes perspectivas ndash
mercadoria singularizaccedilatildeo circulaccedilatildeo cotidiano e memoacuteria ndash esses estudos
compartilham da mesma visatildeo de que o objeto eacute culturalmente e socialmente moldado
e assim como acontece em biografias pessoais seus significados (como suas
identidades do ponto de vista psicoloacutegico) 8 satildeo mais transitoacuterios que estaacuteveis
O trabalho de Judy Attifield9 Wild Things - the material culture of everyday life
(2000) eacute muito significativo Sua maior contribuiccedilatildeo estaacute na maneira de pensar objetos
de design como lsquocoisas selvagensrsquo cujas trajetoacuterias formuladas no cotidiano os desviam
dos destinos previamente planejados Inicialmente projetados para abotoar roupas os
bototildees por exemplo ganham um novo espaccedilo nas casas e nas vidas de algumas
mulheres que passam a colecionaacute-los Os bototildees transformam-se entatildeo em objetos
que mediam e modificam relaccedilotildees sociais (as colecionadoras trocam bototildees entre si) e
ganham novos sentidos no cotidiano em termos de espaccedilo tempo e corporalidade A
transiccedilatildeo dos objetos com o passar do tempo afeta toda a rede social e cultural em que
ele estaacute entremeado Os bototildees acondicionados em caixas especiais passaratildeo de
matildee para filha podendo ganhar novas formataccedilotildees e certamente agenciando novas
relaccedilotildees
O trabalho de Arjun Appadurai eacute igualmente relevante por apresentar uma
perspectiva desafiadora no estudo de um objeto Para ele mesmo que do ponto de
vista teoacuterico sejam as pessoas a dar significacircncia agraves coisas do ponto de vista
metodoloacutegico satildeo as coisas em movimento que iluminam os sentidos da vivecircncia
humana em seus contextos culturais e sociais (1986 5) Assim como meacutetodo de
anaacutelise seraacute mais uacutetil investigar o objeto do que seu dono pois ainda que por um
determinado periacuteodo essas duas biografias se entrelacem elas tecircm trajetoacuterias distintas
e determinados objetos como a jaqueta de beisebol que Peter Stalybrass (2000)
herdou do amigo falecido sobrevivem a seus fabricantes e primeiros usuaacuterios
Para Meneses a longevidade dos artefatos jaacute os capacita ldquoa expressar o
passado de forma profunda e sensorialmente convincenterdquo (1998 1) Natildeo haacute
entretanto como extrair sentido do objeto isto eacute as caracteriacutesticas intriacutensecas ao
objeto ndash suas qualidades fiacutesico-quiacutemicas ndash natildeo permitem fazer sentido do mundo se
natildeo for pelas mediaccedilotildees sociais das quais participa e das interpretaccedilotildees que se fazem
delas Aiacute reside segundo Meneses um dos desafios de pensar a histoacuteria pelo estudo
dos objetos da cultura material para traccedilar a biografia dos objetos eacute preciso examinaacute-
los ldquoem situaccedilatildeordquo em suas palavras ldquonatildeo se trata de recompor um cenaacuterio material
mas de entender os artefatos na interaccedilatildeo socialrdquo (1998 3)
A passagem do tempo imprime marcas nos objetos como nas pessoas mas
diferentemente delas a ldquomorterdquo para um objeto natildeo depende apenas de seu estado
fiacutesico mas sobretudo depende das remanescentes possibilidades deste continuar ldquono
jogordquo social mediando novos sentidos Um bom exemplo disso eacute a descriccedilatildeo que o
historiador Peter Stalybrass (200011-2) faz da jaqueta que herdou do amigo falecido e
a narrativa da trajetoacuteria da jaqueta ateacute que ela fosse sua
Quando Allan morreu Jen [a viuacuteva] me deu sua jaqueta de beisebol coisa que parecia bastante apropriada uma vez que naquela altura eu tinha me mudado permanentemente para os Estados Unidos Mas ela tambeacutem me deu a jaqueta de Allon que eu mais havia cobiccedilado Ele a tinha comprado numa loja de objetos usados perto da estaccedilatildeo de trem de Brighton e seu misteacuterio era e eacute bastante faacutecil de descrever Ela eacute feita de um tecido de polieacutester com algodatildeo preto e brilhoso e a parte exterior ainda estaacute em bom estado Mas interiormente grande parte do forro estaacute rasgado como se tivesse sido atacado por gatos raivosos No interior a uacutenica coisa que resta de sua antiga gloacuteria eacute o roacutetulo ldquoFabricado expressamente para Turndof Por Di Rossi Costurado a matildeordquo Com muita frequumlecircncia tenho me perguntado se foi a marca que atraiu Allon na medida em que ele adorava a moda italiana desde sua infacircncia mas muito mais provavelmente foi simplesmente o corte da jaqueta
O trecho soa como uma tentativa do autor de rememorar o amigo atraveacutes dos
percursos daquela roupa e o modo como ele encontra para realizar sua busca estaacute na
observaccedilatildeo que faz das memoacuterias fisicamente aparentes na jaqueta A funccedilatildeo e a
condiccedilatildeo fiacutesica daquela roupa que jaacute apresentava sinais de deterioraccedilatildeo ganharam um
novo focirclego quando Stalybrass decidiu vesti-la Novas percepccedilotildees de sua proacutepria vida
afloraram a partir do reuso daquela roupa e das memoacuterias reavivadas pelo cheiro pelos
rasgos pelas marcas
O estudo minucioso de roupas que sobreviveram ao tempo e a condiccedilotildees
adversas de vaacuterias naturezas - como o clima e a seleccedilatildeo feita para a formaccedilatildeo de
coleccedilotildees tecircxteis e de vestuaacuterio - parece ser um modo promissor de evitar a propagaccedilatildeo
e continuidade dos mitos e estereoacutetipos presentes na historiografia (TAYLOR 2002
2004) A anaacutelise de peccedilas de vestuaacuterio que tenham sido representativas (e mesmo
excepcionais) de distintos modos de vestir (da proacutepria moda) pode lanccedilar luz sobre
aspectos sociais e culturais ainda pouco investigados
A roupa natildeo tem as mesmas propriedades que suas representaccedilotildees imageacuteticas
como a fotografia por exemplo A roupa elemento da cultura material tem textura
cheiro rasgos manchas e vestiacutegios de corpos que jaacute a usaram como casca de sonhos
pele de inserccedilatildeo social do pertencer aos tempos e espaccedilos que contornam a sua
trajetoacuteria
Estudar um vestido ou qualquer outro objeto implica necessariamente conhecer e
compreender os materiais de que eacute feito Objetos tridimensionais satildeo originalmente
pensados e confeccionados com uma articulaccedilatildeo (ou articulaccedilotildees) especiacutefica e suas
partes podem ser constituiacutedas de uma infinidade de materiais Estudar objetos como as
roupas e os tecidos de que satildeo feitas exige certas habilidades que diferem do modo de
anaacutelise de outros tipos de documentos como os textuais e iconograacuteficos Analisar um
vestido natildeo eacute o mesmo que analisar a sua fotografia assim como natildeo seria o mesmo
analisar a sua descriccedilatildeo O vestido enquanto objeto material enquanto coisa tem uma
seacuterie de caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e cuja articulaccedilatildeo constitui um artefato
singular
Os caminhos de pesquisa satildeo interminaacuteveis quando ela eacute iniciada pela anaacutelise e
estudo de um objeto Haacute de se determinar portanto qual caminho seguir avaliando as
muitas variaacuteveis envolvidas nesse processo de pesquisa especialmente aquelas
resultadas da observaccedilatildeo - do que de fato estaacute no objeto - e dos interesses de estudo
do investigador Pesquisas que resultam da anaacutelise e interpretaccedilatildeo de roupas e tecidos
presentes na bibliografia especializada sinalizam a importacircncia deste tipo de estudo
para as aacutereas humanas (MILLER 2007 PALMER 2001 STEELE 1998
McCRACKEN 1990)
A histoacuteria das roupas no Brasil natildeo eacute uma compilada As roupas aparecem nas
obras literaacuterias nas biografias de personagens histoacutericos nas histoacuterias da publicidade e
das cidades Aparecem ainda nos escritos de memorialistas de viajantes enfim nossa
historiografia eacute caracteristicamente fragmentada No que diz respeito aos meacutetodos de
estudos com objetos estes vecircm principalmente da Antropologia conforme a bibliografia
indicada a seguir
Roupas assim como qualquer outro objeto pensado e feito por pessoas tecircm um
sentido fiacutesico e outro cultural Aquelas feitas em tecido no entanto satildeo diferentes de
outros tipos de objeto porque as propriedades tecircxteis usadas aqui como uma
ferramenta para interpretaccedilatildeo permitem que as marcas do objeto em seus muitos
estados transitoacuterios fiquem impregnadas10 Em meus estudos sobre roupas e tecidos
tenho adotado um meacutetodo de trabalho que me auxilia a interpretar vestiacutegios materiais
de objetos que sobreviveram agraves accedilotildees do tempo e a outras seleccedilotildees Este meacutetodo
resulta da integraccedilatildeo das propostas de autores cujos trabalhos tecircm uma perspectiva em
cultura material Segundo a bibliografia (BARRETO 19824 DURBIN MORRIS
WILKINSON 1990 PROWN 1994 HORTA GRUNBERG MONTEIRO 1999
TAYLOR 2002) quatro questotildees devem ser abordadas quando estudamos um artefato
tecircxtil como um vestido por exemplo 11
1 Observaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicas
2 Descriccedilatildeo ou registro
3 A identificaccedilatildeo
4 Exploraccedilatildeo ou especulaccedilatildeo do problema
5 Pesquisa em outras fontes e programa de pesquisa
Aleacutem das etapas descritas acima seria bastante recomendaacutevel considerar o
contexto em que a roupa em estudo estaacute sendo analisada Uma vez que roupas tenham
sido deslocadas de seu lugar de origem e recolocadas em coleccedilotildees de museus por
exemplo haacute que se considerar que houve uma seleccedilatildeo para que aquela roupa
especiacutefica passasse a integrar o acervo de um determinado museu Fora do corpo e do
guarda-roupa que um dia a abrigou aquele vestido passaraacute por novos estados se
conectaraacute a outros corpos e estaraacute sujeito a novas interpretaccedilotildees
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Rita Por debaixo dos panos cultura e materialidade de nossas roupas e tecidos In PAULA Teresa Cristina Toledo de (org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da USP 2005
ANDRADE Rita The House of Louiseboulanger ndash an insight into couture and its commercial practices in 1920s and 1930s Paris Inglaterra 2000 Dissertaccedilatildeo (Masters of Art in History of Textiles and Dress) ndash Winchester School of Art University of Southampton ANDRADE Rita A roupa como documento histoacuterico uma nova abordagem em estudos sobre moda Espaccedilo Criacutetico Disponiacutevel em lt wwwmodabrasilcombrgt Acesso em abr 2001 ANDRADE Rita Louise Boulanger and interwar french couture revelations from object analysis Textile History v 35 n1 p112-119 May 2004 ANDRADE Rita Mappin Stores adding an english touch to the Sao Paulo Fashion Scene In ROOT Regina (Ed) The Latin American Fashion Reader Oxford UK Berg 2005 p176-187 APPADURAI Arjun (Ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge Cambridge University Press 1986 ATTFIELD Judy Wild things the material culture of everyday life Oxford UK Berg 2000 BARRETO Maria de Lourdes Parreira Horta Educaccedilatildeo patrimonial e praacuteticas centradas no objeto ligadas a teorias da organizaccedilatildeo do comportamento 198284
BOLLON Patrice A moral da maacutescara Rio de Janeiro Rocco 1993
BOUCHER Franccedilois 20000 years of fashion the history of costume and personnal adornment New York Abrams 1987
CARON Franccedilois Lrsquoentreprise In NORA Pierre (Ed) Les lieux de meacutemoire Paris Gallimard 1992 p322-375 v II DELEUZE Gilles Empirismo e subjetividade ensaio sobre a natureza humana segundo Hume Traduccedilatildeo Luiz L B Orlandi Satildeo Paulo Editora 34 2001 DURBIN Gail MORRIS Susan WILKINSON Sue A teacheracutes guide to learning from objects English Heritage 1990
FINE Ben LEOPOLD Ellen The world of consumption London New York Routledge 1993 GUARNIERI Waldisa Ruacutessio Museu museologia museoacutelogos e formaccedilatildeo Revista de Museologia Satildeo Paulo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-11 1989 HORTA Maria de Lourdes Parreiras et al Guia baacutesico de educaccedilatildeo patrimonial Brasiacutelia Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional Museu Imperial 1999
KOPYTOFF Igor The cultural biography of things commoditization as process In APPADURAI Arjun (ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge University Press 1986p 64-91
LEHNERT Gertrud Fashion a concise history London Laurence King 1998
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
forem profundasrsquo (MONNEYRON 2008 12) Ao invertermos toda uma atitude
filosoacutefica em que a aparecircncia eacute banalizada poderemos pensar a roupa
natildeo mais como potecircncia de erro mas como focircrma e matriz natildeo mais como elemento secundaacuterio adicional mas como elemento principal e criador determinando tanto os comportamentos individuais como as estruturas sociais Significa em resumo aceitar a aposta e estariacuteamos mesmo tentados a dizer ldquono comeccedilo era a roupardquo
Colocar a roupa no centro de qualquer anaacutelise natildeo significa fetichizaacute-la ou ocupar
com ela o lugar da essecircncia transcendental das coisas Trata-se sim de iniciar um outro
diaacutelogo de olhar o mundo de uma outra maneira A importacircncia da roupa nas
mudanccedilas comportamentais jaacute foi comprovada e chega a ser um elemento central em
casos de travestismo ou transexualismo (MONNEYRON 2008 12) As densas
camadas das roupas alargam os sentidos que vatildeo se atrelando agraves vidas e aos corpos
Podemos apostar assim numa investigaccedilatildeo que inicia do objeto ndash um vestido um
fragmento tecircxtil - e num projeto de pesquisa que se expande a partir dele Esta eacute sem
duacutevida uma escolha interpretativa mas eacute tambeacutem uma tentativa de explorar
potencialidades culturais que os tecidos e as roupas tecircm
Neste sentido eacute muito uacutetil emprestar ideacuteias e metodologias que vecircm sobretudo
de estudos em Arqueologia mas tambeacutem da Histoacuteria e do Design As ideacuteias de
biografia dos objetos de Igor Kopytoff (1986) da vida social dos objetos de Arjun
Appadurai (1986) das propriedades expressivas da cultura material de Grant
McCracken (1990) e do objeto com atitude de Judy Attifield (2000) satildeo relevantes para
dar suporte aos desdobramentos da interpretaccedilatildeo de objetos como roupas e tecidos
No que diz respeito ao cotidiano agrave memoacuteria e ao papel central dos objetos materiais
nos processos de rememoraccedilatildeo encontramos apoio nas propostas do historiador
Ulpiano Teixeira Bezerra de Meneses cuja contribuiccedilatildeo eacute das mais eloquumlentes nos
debates sobre cultura material7
Tratando do objeto em diferentes estados e sob diferentes perspectivas ndash
mercadoria singularizaccedilatildeo circulaccedilatildeo cotidiano e memoacuteria ndash esses estudos
compartilham da mesma visatildeo de que o objeto eacute culturalmente e socialmente moldado
e assim como acontece em biografias pessoais seus significados (como suas
identidades do ponto de vista psicoloacutegico) 8 satildeo mais transitoacuterios que estaacuteveis
O trabalho de Judy Attifield9 Wild Things - the material culture of everyday life
(2000) eacute muito significativo Sua maior contribuiccedilatildeo estaacute na maneira de pensar objetos
de design como lsquocoisas selvagensrsquo cujas trajetoacuterias formuladas no cotidiano os desviam
dos destinos previamente planejados Inicialmente projetados para abotoar roupas os
bototildees por exemplo ganham um novo espaccedilo nas casas e nas vidas de algumas
mulheres que passam a colecionaacute-los Os bototildees transformam-se entatildeo em objetos
que mediam e modificam relaccedilotildees sociais (as colecionadoras trocam bototildees entre si) e
ganham novos sentidos no cotidiano em termos de espaccedilo tempo e corporalidade A
transiccedilatildeo dos objetos com o passar do tempo afeta toda a rede social e cultural em que
ele estaacute entremeado Os bototildees acondicionados em caixas especiais passaratildeo de
matildee para filha podendo ganhar novas formataccedilotildees e certamente agenciando novas
relaccedilotildees
O trabalho de Arjun Appadurai eacute igualmente relevante por apresentar uma
perspectiva desafiadora no estudo de um objeto Para ele mesmo que do ponto de
vista teoacuterico sejam as pessoas a dar significacircncia agraves coisas do ponto de vista
metodoloacutegico satildeo as coisas em movimento que iluminam os sentidos da vivecircncia
humana em seus contextos culturais e sociais (1986 5) Assim como meacutetodo de
anaacutelise seraacute mais uacutetil investigar o objeto do que seu dono pois ainda que por um
determinado periacuteodo essas duas biografias se entrelacem elas tecircm trajetoacuterias distintas
e determinados objetos como a jaqueta de beisebol que Peter Stalybrass (2000)
herdou do amigo falecido sobrevivem a seus fabricantes e primeiros usuaacuterios
Para Meneses a longevidade dos artefatos jaacute os capacita ldquoa expressar o
passado de forma profunda e sensorialmente convincenterdquo (1998 1) Natildeo haacute
entretanto como extrair sentido do objeto isto eacute as caracteriacutesticas intriacutensecas ao
objeto ndash suas qualidades fiacutesico-quiacutemicas ndash natildeo permitem fazer sentido do mundo se
natildeo for pelas mediaccedilotildees sociais das quais participa e das interpretaccedilotildees que se fazem
delas Aiacute reside segundo Meneses um dos desafios de pensar a histoacuteria pelo estudo
dos objetos da cultura material para traccedilar a biografia dos objetos eacute preciso examinaacute-
los ldquoem situaccedilatildeordquo em suas palavras ldquonatildeo se trata de recompor um cenaacuterio material
mas de entender os artefatos na interaccedilatildeo socialrdquo (1998 3)
A passagem do tempo imprime marcas nos objetos como nas pessoas mas
diferentemente delas a ldquomorterdquo para um objeto natildeo depende apenas de seu estado
fiacutesico mas sobretudo depende das remanescentes possibilidades deste continuar ldquono
jogordquo social mediando novos sentidos Um bom exemplo disso eacute a descriccedilatildeo que o
historiador Peter Stalybrass (200011-2) faz da jaqueta que herdou do amigo falecido e
a narrativa da trajetoacuteria da jaqueta ateacute que ela fosse sua
Quando Allan morreu Jen [a viuacuteva] me deu sua jaqueta de beisebol coisa que parecia bastante apropriada uma vez que naquela altura eu tinha me mudado permanentemente para os Estados Unidos Mas ela tambeacutem me deu a jaqueta de Allon que eu mais havia cobiccedilado Ele a tinha comprado numa loja de objetos usados perto da estaccedilatildeo de trem de Brighton e seu misteacuterio era e eacute bastante faacutecil de descrever Ela eacute feita de um tecido de polieacutester com algodatildeo preto e brilhoso e a parte exterior ainda estaacute em bom estado Mas interiormente grande parte do forro estaacute rasgado como se tivesse sido atacado por gatos raivosos No interior a uacutenica coisa que resta de sua antiga gloacuteria eacute o roacutetulo ldquoFabricado expressamente para Turndof Por Di Rossi Costurado a matildeordquo Com muita frequumlecircncia tenho me perguntado se foi a marca que atraiu Allon na medida em que ele adorava a moda italiana desde sua infacircncia mas muito mais provavelmente foi simplesmente o corte da jaqueta
O trecho soa como uma tentativa do autor de rememorar o amigo atraveacutes dos
percursos daquela roupa e o modo como ele encontra para realizar sua busca estaacute na
observaccedilatildeo que faz das memoacuterias fisicamente aparentes na jaqueta A funccedilatildeo e a
condiccedilatildeo fiacutesica daquela roupa que jaacute apresentava sinais de deterioraccedilatildeo ganharam um
novo focirclego quando Stalybrass decidiu vesti-la Novas percepccedilotildees de sua proacutepria vida
afloraram a partir do reuso daquela roupa e das memoacuterias reavivadas pelo cheiro pelos
rasgos pelas marcas
O estudo minucioso de roupas que sobreviveram ao tempo e a condiccedilotildees
adversas de vaacuterias naturezas - como o clima e a seleccedilatildeo feita para a formaccedilatildeo de
coleccedilotildees tecircxteis e de vestuaacuterio - parece ser um modo promissor de evitar a propagaccedilatildeo
e continuidade dos mitos e estereoacutetipos presentes na historiografia (TAYLOR 2002
2004) A anaacutelise de peccedilas de vestuaacuterio que tenham sido representativas (e mesmo
excepcionais) de distintos modos de vestir (da proacutepria moda) pode lanccedilar luz sobre
aspectos sociais e culturais ainda pouco investigados
A roupa natildeo tem as mesmas propriedades que suas representaccedilotildees imageacuteticas
como a fotografia por exemplo A roupa elemento da cultura material tem textura
cheiro rasgos manchas e vestiacutegios de corpos que jaacute a usaram como casca de sonhos
pele de inserccedilatildeo social do pertencer aos tempos e espaccedilos que contornam a sua
trajetoacuteria
Estudar um vestido ou qualquer outro objeto implica necessariamente conhecer e
compreender os materiais de que eacute feito Objetos tridimensionais satildeo originalmente
pensados e confeccionados com uma articulaccedilatildeo (ou articulaccedilotildees) especiacutefica e suas
partes podem ser constituiacutedas de uma infinidade de materiais Estudar objetos como as
roupas e os tecidos de que satildeo feitas exige certas habilidades que diferem do modo de
anaacutelise de outros tipos de documentos como os textuais e iconograacuteficos Analisar um
vestido natildeo eacute o mesmo que analisar a sua fotografia assim como natildeo seria o mesmo
analisar a sua descriccedilatildeo O vestido enquanto objeto material enquanto coisa tem uma
seacuterie de caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e cuja articulaccedilatildeo constitui um artefato
singular
Os caminhos de pesquisa satildeo interminaacuteveis quando ela eacute iniciada pela anaacutelise e
estudo de um objeto Haacute de se determinar portanto qual caminho seguir avaliando as
muitas variaacuteveis envolvidas nesse processo de pesquisa especialmente aquelas
resultadas da observaccedilatildeo - do que de fato estaacute no objeto - e dos interesses de estudo
do investigador Pesquisas que resultam da anaacutelise e interpretaccedilatildeo de roupas e tecidos
presentes na bibliografia especializada sinalizam a importacircncia deste tipo de estudo
para as aacutereas humanas (MILLER 2007 PALMER 2001 STEELE 1998
McCRACKEN 1990)
A histoacuteria das roupas no Brasil natildeo eacute uma compilada As roupas aparecem nas
obras literaacuterias nas biografias de personagens histoacutericos nas histoacuterias da publicidade e
das cidades Aparecem ainda nos escritos de memorialistas de viajantes enfim nossa
historiografia eacute caracteristicamente fragmentada No que diz respeito aos meacutetodos de
estudos com objetos estes vecircm principalmente da Antropologia conforme a bibliografia
indicada a seguir
Roupas assim como qualquer outro objeto pensado e feito por pessoas tecircm um
sentido fiacutesico e outro cultural Aquelas feitas em tecido no entanto satildeo diferentes de
outros tipos de objeto porque as propriedades tecircxteis usadas aqui como uma
ferramenta para interpretaccedilatildeo permitem que as marcas do objeto em seus muitos
estados transitoacuterios fiquem impregnadas10 Em meus estudos sobre roupas e tecidos
tenho adotado um meacutetodo de trabalho que me auxilia a interpretar vestiacutegios materiais
de objetos que sobreviveram agraves accedilotildees do tempo e a outras seleccedilotildees Este meacutetodo
resulta da integraccedilatildeo das propostas de autores cujos trabalhos tecircm uma perspectiva em
cultura material Segundo a bibliografia (BARRETO 19824 DURBIN MORRIS
WILKINSON 1990 PROWN 1994 HORTA GRUNBERG MONTEIRO 1999
TAYLOR 2002) quatro questotildees devem ser abordadas quando estudamos um artefato
tecircxtil como um vestido por exemplo 11
1 Observaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicas
2 Descriccedilatildeo ou registro
3 A identificaccedilatildeo
4 Exploraccedilatildeo ou especulaccedilatildeo do problema
5 Pesquisa em outras fontes e programa de pesquisa
Aleacutem das etapas descritas acima seria bastante recomendaacutevel considerar o
contexto em que a roupa em estudo estaacute sendo analisada Uma vez que roupas tenham
sido deslocadas de seu lugar de origem e recolocadas em coleccedilotildees de museus por
exemplo haacute que se considerar que houve uma seleccedilatildeo para que aquela roupa
especiacutefica passasse a integrar o acervo de um determinado museu Fora do corpo e do
guarda-roupa que um dia a abrigou aquele vestido passaraacute por novos estados se
conectaraacute a outros corpos e estaraacute sujeito a novas interpretaccedilotildees
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Rita Por debaixo dos panos cultura e materialidade de nossas roupas e tecidos In PAULA Teresa Cristina Toledo de (org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da USP 2005
ANDRADE Rita The House of Louiseboulanger ndash an insight into couture and its commercial practices in 1920s and 1930s Paris Inglaterra 2000 Dissertaccedilatildeo (Masters of Art in History of Textiles and Dress) ndash Winchester School of Art University of Southampton ANDRADE Rita A roupa como documento histoacuterico uma nova abordagem em estudos sobre moda Espaccedilo Criacutetico Disponiacutevel em lt wwwmodabrasilcombrgt Acesso em abr 2001 ANDRADE Rita Louise Boulanger and interwar french couture revelations from object analysis Textile History v 35 n1 p112-119 May 2004 ANDRADE Rita Mappin Stores adding an english touch to the Sao Paulo Fashion Scene In ROOT Regina (Ed) The Latin American Fashion Reader Oxford UK Berg 2005 p176-187 APPADURAI Arjun (Ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge Cambridge University Press 1986 ATTFIELD Judy Wild things the material culture of everyday life Oxford UK Berg 2000 BARRETO Maria de Lourdes Parreira Horta Educaccedilatildeo patrimonial e praacuteticas centradas no objeto ligadas a teorias da organizaccedilatildeo do comportamento 198284
BOLLON Patrice A moral da maacutescara Rio de Janeiro Rocco 1993
BOUCHER Franccedilois 20000 years of fashion the history of costume and personnal adornment New York Abrams 1987
CARON Franccedilois Lrsquoentreprise In NORA Pierre (Ed) Les lieux de meacutemoire Paris Gallimard 1992 p322-375 v II DELEUZE Gilles Empirismo e subjetividade ensaio sobre a natureza humana segundo Hume Traduccedilatildeo Luiz L B Orlandi Satildeo Paulo Editora 34 2001 DURBIN Gail MORRIS Susan WILKINSON Sue A teacheracutes guide to learning from objects English Heritage 1990
FINE Ben LEOPOLD Ellen The world of consumption London New York Routledge 1993 GUARNIERI Waldisa Ruacutessio Museu museologia museoacutelogos e formaccedilatildeo Revista de Museologia Satildeo Paulo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-11 1989 HORTA Maria de Lourdes Parreiras et al Guia baacutesico de educaccedilatildeo patrimonial Brasiacutelia Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional Museu Imperial 1999
KOPYTOFF Igor The cultural biography of things commoditization as process In APPADURAI Arjun (ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge University Press 1986p 64-91
LEHNERT Gertrud Fashion a concise history London Laurence King 1998
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
identidades do ponto de vista psicoloacutegico) 8 satildeo mais transitoacuterios que estaacuteveis
O trabalho de Judy Attifield9 Wild Things - the material culture of everyday life
(2000) eacute muito significativo Sua maior contribuiccedilatildeo estaacute na maneira de pensar objetos
de design como lsquocoisas selvagensrsquo cujas trajetoacuterias formuladas no cotidiano os desviam
dos destinos previamente planejados Inicialmente projetados para abotoar roupas os
bototildees por exemplo ganham um novo espaccedilo nas casas e nas vidas de algumas
mulheres que passam a colecionaacute-los Os bototildees transformam-se entatildeo em objetos
que mediam e modificam relaccedilotildees sociais (as colecionadoras trocam bototildees entre si) e
ganham novos sentidos no cotidiano em termos de espaccedilo tempo e corporalidade A
transiccedilatildeo dos objetos com o passar do tempo afeta toda a rede social e cultural em que
ele estaacute entremeado Os bototildees acondicionados em caixas especiais passaratildeo de
matildee para filha podendo ganhar novas formataccedilotildees e certamente agenciando novas
relaccedilotildees
O trabalho de Arjun Appadurai eacute igualmente relevante por apresentar uma
perspectiva desafiadora no estudo de um objeto Para ele mesmo que do ponto de
vista teoacuterico sejam as pessoas a dar significacircncia agraves coisas do ponto de vista
metodoloacutegico satildeo as coisas em movimento que iluminam os sentidos da vivecircncia
humana em seus contextos culturais e sociais (1986 5) Assim como meacutetodo de
anaacutelise seraacute mais uacutetil investigar o objeto do que seu dono pois ainda que por um
determinado periacuteodo essas duas biografias se entrelacem elas tecircm trajetoacuterias distintas
e determinados objetos como a jaqueta de beisebol que Peter Stalybrass (2000)
herdou do amigo falecido sobrevivem a seus fabricantes e primeiros usuaacuterios
Para Meneses a longevidade dos artefatos jaacute os capacita ldquoa expressar o
passado de forma profunda e sensorialmente convincenterdquo (1998 1) Natildeo haacute
entretanto como extrair sentido do objeto isto eacute as caracteriacutesticas intriacutensecas ao
objeto ndash suas qualidades fiacutesico-quiacutemicas ndash natildeo permitem fazer sentido do mundo se
natildeo for pelas mediaccedilotildees sociais das quais participa e das interpretaccedilotildees que se fazem
delas Aiacute reside segundo Meneses um dos desafios de pensar a histoacuteria pelo estudo
dos objetos da cultura material para traccedilar a biografia dos objetos eacute preciso examinaacute-
los ldquoem situaccedilatildeordquo em suas palavras ldquonatildeo se trata de recompor um cenaacuterio material
mas de entender os artefatos na interaccedilatildeo socialrdquo (1998 3)
A passagem do tempo imprime marcas nos objetos como nas pessoas mas
diferentemente delas a ldquomorterdquo para um objeto natildeo depende apenas de seu estado
fiacutesico mas sobretudo depende das remanescentes possibilidades deste continuar ldquono
jogordquo social mediando novos sentidos Um bom exemplo disso eacute a descriccedilatildeo que o
historiador Peter Stalybrass (200011-2) faz da jaqueta que herdou do amigo falecido e
a narrativa da trajetoacuteria da jaqueta ateacute que ela fosse sua
Quando Allan morreu Jen [a viuacuteva] me deu sua jaqueta de beisebol coisa que parecia bastante apropriada uma vez que naquela altura eu tinha me mudado permanentemente para os Estados Unidos Mas ela tambeacutem me deu a jaqueta de Allon que eu mais havia cobiccedilado Ele a tinha comprado numa loja de objetos usados perto da estaccedilatildeo de trem de Brighton e seu misteacuterio era e eacute bastante faacutecil de descrever Ela eacute feita de um tecido de polieacutester com algodatildeo preto e brilhoso e a parte exterior ainda estaacute em bom estado Mas interiormente grande parte do forro estaacute rasgado como se tivesse sido atacado por gatos raivosos No interior a uacutenica coisa que resta de sua antiga gloacuteria eacute o roacutetulo ldquoFabricado expressamente para Turndof Por Di Rossi Costurado a matildeordquo Com muita frequumlecircncia tenho me perguntado se foi a marca que atraiu Allon na medida em que ele adorava a moda italiana desde sua infacircncia mas muito mais provavelmente foi simplesmente o corte da jaqueta
O trecho soa como uma tentativa do autor de rememorar o amigo atraveacutes dos
percursos daquela roupa e o modo como ele encontra para realizar sua busca estaacute na
observaccedilatildeo que faz das memoacuterias fisicamente aparentes na jaqueta A funccedilatildeo e a
condiccedilatildeo fiacutesica daquela roupa que jaacute apresentava sinais de deterioraccedilatildeo ganharam um
novo focirclego quando Stalybrass decidiu vesti-la Novas percepccedilotildees de sua proacutepria vida
afloraram a partir do reuso daquela roupa e das memoacuterias reavivadas pelo cheiro pelos
rasgos pelas marcas
O estudo minucioso de roupas que sobreviveram ao tempo e a condiccedilotildees
adversas de vaacuterias naturezas - como o clima e a seleccedilatildeo feita para a formaccedilatildeo de
coleccedilotildees tecircxteis e de vestuaacuterio - parece ser um modo promissor de evitar a propagaccedilatildeo
e continuidade dos mitos e estereoacutetipos presentes na historiografia (TAYLOR 2002
2004) A anaacutelise de peccedilas de vestuaacuterio que tenham sido representativas (e mesmo
excepcionais) de distintos modos de vestir (da proacutepria moda) pode lanccedilar luz sobre
aspectos sociais e culturais ainda pouco investigados
A roupa natildeo tem as mesmas propriedades que suas representaccedilotildees imageacuteticas
como a fotografia por exemplo A roupa elemento da cultura material tem textura
cheiro rasgos manchas e vestiacutegios de corpos que jaacute a usaram como casca de sonhos
pele de inserccedilatildeo social do pertencer aos tempos e espaccedilos que contornam a sua
trajetoacuteria
Estudar um vestido ou qualquer outro objeto implica necessariamente conhecer e
compreender os materiais de que eacute feito Objetos tridimensionais satildeo originalmente
pensados e confeccionados com uma articulaccedilatildeo (ou articulaccedilotildees) especiacutefica e suas
partes podem ser constituiacutedas de uma infinidade de materiais Estudar objetos como as
roupas e os tecidos de que satildeo feitas exige certas habilidades que diferem do modo de
anaacutelise de outros tipos de documentos como os textuais e iconograacuteficos Analisar um
vestido natildeo eacute o mesmo que analisar a sua fotografia assim como natildeo seria o mesmo
analisar a sua descriccedilatildeo O vestido enquanto objeto material enquanto coisa tem uma
seacuterie de caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e cuja articulaccedilatildeo constitui um artefato
singular
Os caminhos de pesquisa satildeo interminaacuteveis quando ela eacute iniciada pela anaacutelise e
estudo de um objeto Haacute de se determinar portanto qual caminho seguir avaliando as
muitas variaacuteveis envolvidas nesse processo de pesquisa especialmente aquelas
resultadas da observaccedilatildeo - do que de fato estaacute no objeto - e dos interesses de estudo
do investigador Pesquisas que resultam da anaacutelise e interpretaccedilatildeo de roupas e tecidos
presentes na bibliografia especializada sinalizam a importacircncia deste tipo de estudo
para as aacutereas humanas (MILLER 2007 PALMER 2001 STEELE 1998
McCRACKEN 1990)
A histoacuteria das roupas no Brasil natildeo eacute uma compilada As roupas aparecem nas
obras literaacuterias nas biografias de personagens histoacutericos nas histoacuterias da publicidade e
das cidades Aparecem ainda nos escritos de memorialistas de viajantes enfim nossa
historiografia eacute caracteristicamente fragmentada No que diz respeito aos meacutetodos de
estudos com objetos estes vecircm principalmente da Antropologia conforme a bibliografia
indicada a seguir
Roupas assim como qualquer outro objeto pensado e feito por pessoas tecircm um
sentido fiacutesico e outro cultural Aquelas feitas em tecido no entanto satildeo diferentes de
outros tipos de objeto porque as propriedades tecircxteis usadas aqui como uma
ferramenta para interpretaccedilatildeo permitem que as marcas do objeto em seus muitos
estados transitoacuterios fiquem impregnadas10 Em meus estudos sobre roupas e tecidos
tenho adotado um meacutetodo de trabalho que me auxilia a interpretar vestiacutegios materiais
de objetos que sobreviveram agraves accedilotildees do tempo e a outras seleccedilotildees Este meacutetodo
resulta da integraccedilatildeo das propostas de autores cujos trabalhos tecircm uma perspectiva em
cultura material Segundo a bibliografia (BARRETO 19824 DURBIN MORRIS
WILKINSON 1990 PROWN 1994 HORTA GRUNBERG MONTEIRO 1999
TAYLOR 2002) quatro questotildees devem ser abordadas quando estudamos um artefato
tecircxtil como um vestido por exemplo 11
1 Observaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicas
2 Descriccedilatildeo ou registro
3 A identificaccedilatildeo
4 Exploraccedilatildeo ou especulaccedilatildeo do problema
5 Pesquisa em outras fontes e programa de pesquisa
Aleacutem das etapas descritas acima seria bastante recomendaacutevel considerar o
contexto em que a roupa em estudo estaacute sendo analisada Uma vez que roupas tenham
sido deslocadas de seu lugar de origem e recolocadas em coleccedilotildees de museus por
exemplo haacute que se considerar que houve uma seleccedilatildeo para que aquela roupa
especiacutefica passasse a integrar o acervo de um determinado museu Fora do corpo e do
guarda-roupa que um dia a abrigou aquele vestido passaraacute por novos estados se
conectaraacute a outros corpos e estaraacute sujeito a novas interpretaccedilotildees
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Rita Por debaixo dos panos cultura e materialidade de nossas roupas e tecidos In PAULA Teresa Cristina Toledo de (org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da USP 2005
ANDRADE Rita The House of Louiseboulanger ndash an insight into couture and its commercial practices in 1920s and 1930s Paris Inglaterra 2000 Dissertaccedilatildeo (Masters of Art in History of Textiles and Dress) ndash Winchester School of Art University of Southampton ANDRADE Rita A roupa como documento histoacuterico uma nova abordagem em estudos sobre moda Espaccedilo Criacutetico Disponiacutevel em lt wwwmodabrasilcombrgt Acesso em abr 2001 ANDRADE Rita Louise Boulanger and interwar french couture revelations from object analysis Textile History v 35 n1 p112-119 May 2004 ANDRADE Rita Mappin Stores adding an english touch to the Sao Paulo Fashion Scene In ROOT Regina (Ed) The Latin American Fashion Reader Oxford UK Berg 2005 p176-187 APPADURAI Arjun (Ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge Cambridge University Press 1986 ATTFIELD Judy Wild things the material culture of everyday life Oxford UK Berg 2000 BARRETO Maria de Lourdes Parreira Horta Educaccedilatildeo patrimonial e praacuteticas centradas no objeto ligadas a teorias da organizaccedilatildeo do comportamento 198284
BOLLON Patrice A moral da maacutescara Rio de Janeiro Rocco 1993
BOUCHER Franccedilois 20000 years of fashion the history of costume and personnal adornment New York Abrams 1987
CARON Franccedilois Lrsquoentreprise In NORA Pierre (Ed) Les lieux de meacutemoire Paris Gallimard 1992 p322-375 v II DELEUZE Gilles Empirismo e subjetividade ensaio sobre a natureza humana segundo Hume Traduccedilatildeo Luiz L B Orlandi Satildeo Paulo Editora 34 2001 DURBIN Gail MORRIS Susan WILKINSON Sue A teacheracutes guide to learning from objects English Heritage 1990
FINE Ben LEOPOLD Ellen The world of consumption London New York Routledge 1993 GUARNIERI Waldisa Ruacutessio Museu museologia museoacutelogos e formaccedilatildeo Revista de Museologia Satildeo Paulo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-11 1989 HORTA Maria de Lourdes Parreiras et al Guia baacutesico de educaccedilatildeo patrimonial Brasiacutelia Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional Museu Imperial 1999
KOPYTOFF Igor The cultural biography of things commoditization as process In APPADURAI Arjun (ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge University Press 1986p 64-91
LEHNERT Gertrud Fashion a concise history London Laurence King 1998
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
mas de entender os artefatos na interaccedilatildeo socialrdquo (1998 3)
A passagem do tempo imprime marcas nos objetos como nas pessoas mas
diferentemente delas a ldquomorterdquo para um objeto natildeo depende apenas de seu estado
fiacutesico mas sobretudo depende das remanescentes possibilidades deste continuar ldquono
jogordquo social mediando novos sentidos Um bom exemplo disso eacute a descriccedilatildeo que o
historiador Peter Stalybrass (200011-2) faz da jaqueta que herdou do amigo falecido e
a narrativa da trajetoacuteria da jaqueta ateacute que ela fosse sua
Quando Allan morreu Jen [a viuacuteva] me deu sua jaqueta de beisebol coisa que parecia bastante apropriada uma vez que naquela altura eu tinha me mudado permanentemente para os Estados Unidos Mas ela tambeacutem me deu a jaqueta de Allon que eu mais havia cobiccedilado Ele a tinha comprado numa loja de objetos usados perto da estaccedilatildeo de trem de Brighton e seu misteacuterio era e eacute bastante faacutecil de descrever Ela eacute feita de um tecido de polieacutester com algodatildeo preto e brilhoso e a parte exterior ainda estaacute em bom estado Mas interiormente grande parte do forro estaacute rasgado como se tivesse sido atacado por gatos raivosos No interior a uacutenica coisa que resta de sua antiga gloacuteria eacute o roacutetulo ldquoFabricado expressamente para Turndof Por Di Rossi Costurado a matildeordquo Com muita frequumlecircncia tenho me perguntado se foi a marca que atraiu Allon na medida em que ele adorava a moda italiana desde sua infacircncia mas muito mais provavelmente foi simplesmente o corte da jaqueta
O trecho soa como uma tentativa do autor de rememorar o amigo atraveacutes dos
percursos daquela roupa e o modo como ele encontra para realizar sua busca estaacute na
observaccedilatildeo que faz das memoacuterias fisicamente aparentes na jaqueta A funccedilatildeo e a
condiccedilatildeo fiacutesica daquela roupa que jaacute apresentava sinais de deterioraccedilatildeo ganharam um
novo focirclego quando Stalybrass decidiu vesti-la Novas percepccedilotildees de sua proacutepria vida
afloraram a partir do reuso daquela roupa e das memoacuterias reavivadas pelo cheiro pelos
rasgos pelas marcas
O estudo minucioso de roupas que sobreviveram ao tempo e a condiccedilotildees
adversas de vaacuterias naturezas - como o clima e a seleccedilatildeo feita para a formaccedilatildeo de
coleccedilotildees tecircxteis e de vestuaacuterio - parece ser um modo promissor de evitar a propagaccedilatildeo
e continuidade dos mitos e estereoacutetipos presentes na historiografia (TAYLOR 2002
2004) A anaacutelise de peccedilas de vestuaacuterio que tenham sido representativas (e mesmo
excepcionais) de distintos modos de vestir (da proacutepria moda) pode lanccedilar luz sobre
aspectos sociais e culturais ainda pouco investigados
A roupa natildeo tem as mesmas propriedades que suas representaccedilotildees imageacuteticas
como a fotografia por exemplo A roupa elemento da cultura material tem textura
cheiro rasgos manchas e vestiacutegios de corpos que jaacute a usaram como casca de sonhos
pele de inserccedilatildeo social do pertencer aos tempos e espaccedilos que contornam a sua
trajetoacuteria
Estudar um vestido ou qualquer outro objeto implica necessariamente conhecer e
compreender os materiais de que eacute feito Objetos tridimensionais satildeo originalmente
pensados e confeccionados com uma articulaccedilatildeo (ou articulaccedilotildees) especiacutefica e suas
partes podem ser constituiacutedas de uma infinidade de materiais Estudar objetos como as
roupas e os tecidos de que satildeo feitas exige certas habilidades que diferem do modo de
anaacutelise de outros tipos de documentos como os textuais e iconograacuteficos Analisar um
vestido natildeo eacute o mesmo que analisar a sua fotografia assim como natildeo seria o mesmo
analisar a sua descriccedilatildeo O vestido enquanto objeto material enquanto coisa tem uma
seacuterie de caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e cuja articulaccedilatildeo constitui um artefato
singular
Os caminhos de pesquisa satildeo interminaacuteveis quando ela eacute iniciada pela anaacutelise e
estudo de um objeto Haacute de se determinar portanto qual caminho seguir avaliando as
muitas variaacuteveis envolvidas nesse processo de pesquisa especialmente aquelas
resultadas da observaccedilatildeo - do que de fato estaacute no objeto - e dos interesses de estudo
do investigador Pesquisas que resultam da anaacutelise e interpretaccedilatildeo de roupas e tecidos
presentes na bibliografia especializada sinalizam a importacircncia deste tipo de estudo
para as aacutereas humanas (MILLER 2007 PALMER 2001 STEELE 1998
McCRACKEN 1990)
A histoacuteria das roupas no Brasil natildeo eacute uma compilada As roupas aparecem nas
obras literaacuterias nas biografias de personagens histoacutericos nas histoacuterias da publicidade e
das cidades Aparecem ainda nos escritos de memorialistas de viajantes enfim nossa
historiografia eacute caracteristicamente fragmentada No que diz respeito aos meacutetodos de
estudos com objetos estes vecircm principalmente da Antropologia conforme a bibliografia
indicada a seguir
Roupas assim como qualquer outro objeto pensado e feito por pessoas tecircm um
sentido fiacutesico e outro cultural Aquelas feitas em tecido no entanto satildeo diferentes de
outros tipos de objeto porque as propriedades tecircxteis usadas aqui como uma
ferramenta para interpretaccedilatildeo permitem que as marcas do objeto em seus muitos
estados transitoacuterios fiquem impregnadas10 Em meus estudos sobre roupas e tecidos
tenho adotado um meacutetodo de trabalho que me auxilia a interpretar vestiacutegios materiais
de objetos que sobreviveram agraves accedilotildees do tempo e a outras seleccedilotildees Este meacutetodo
resulta da integraccedilatildeo das propostas de autores cujos trabalhos tecircm uma perspectiva em
cultura material Segundo a bibliografia (BARRETO 19824 DURBIN MORRIS
WILKINSON 1990 PROWN 1994 HORTA GRUNBERG MONTEIRO 1999
TAYLOR 2002) quatro questotildees devem ser abordadas quando estudamos um artefato
tecircxtil como um vestido por exemplo 11
1 Observaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicas
2 Descriccedilatildeo ou registro
3 A identificaccedilatildeo
4 Exploraccedilatildeo ou especulaccedilatildeo do problema
5 Pesquisa em outras fontes e programa de pesquisa
Aleacutem das etapas descritas acima seria bastante recomendaacutevel considerar o
contexto em que a roupa em estudo estaacute sendo analisada Uma vez que roupas tenham
sido deslocadas de seu lugar de origem e recolocadas em coleccedilotildees de museus por
exemplo haacute que se considerar que houve uma seleccedilatildeo para que aquela roupa
especiacutefica passasse a integrar o acervo de um determinado museu Fora do corpo e do
guarda-roupa que um dia a abrigou aquele vestido passaraacute por novos estados se
conectaraacute a outros corpos e estaraacute sujeito a novas interpretaccedilotildees
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Rita Por debaixo dos panos cultura e materialidade de nossas roupas e tecidos In PAULA Teresa Cristina Toledo de (org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da USP 2005
ANDRADE Rita The House of Louiseboulanger ndash an insight into couture and its commercial practices in 1920s and 1930s Paris Inglaterra 2000 Dissertaccedilatildeo (Masters of Art in History of Textiles and Dress) ndash Winchester School of Art University of Southampton ANDRADE Rita A roupa como documento histoacuterico uma nova abordagem em estudos sobre moda Espaccedilo Criacutetico Disponiacutevel em lt wwwmodabrasilcombrgt Acesso em abr 2001 ANDRADE Rita Louise Boulanger and interwar french couture revelations from object analysis Textile History v 35 n1 p112-119 May 2004 ANDRADE Rita Mappin Stores adding an english touch to the Sao Paulo Fashion Scene In ROOT Regina (Ed) The Latin American Fashion Reader Oxford UK Berg 2005 p176-187 APPADURAI Arjun (Ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge Cambridge University Press 1986 ATTFIELD Judy Wild things the material culture of everyday life Oxford UK Berg 2000 BARRETO Maria de Lourdes Parreira Horta Educaccedilatildeo patrimonial e praacuteticas centradas no objeto ligadas a teorias da organizaccedilatildeo do comportamento 198284
BOLLON Patrice A moral da maacutescara Rio de Janeiro Rocco 1993
BOUCHER Franccedilois 20000 years of fashion the history of costume and personnal adornment New York Abrams 1987
CARON Franccedilois Lrsquoentreprise In NORA Pierre (Ed) Les lieux de meacutemoire Paris Gallimard 1992 p322-375 v II DELEUZE Gilles Empirismo e subjetividade ensaio sobre a natureza humana segundo Hume Traduccedilatildeo Luiz L B Orlandi Satildeo Paulo Editora 34 2001 DURBIN Gail MORRIS Susan WILKINSON Sue A teacheracutes guide to learning from objects English Heritage 1990
FINE Ben LEOPOLD Ellen The world of consumption London New York Routledge 1993 GUARNIERI Waldisa Ruacutessio Museu museologia museoacutelogos e formaccedilatildeo Revista de Museologia Satildeo Paulo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-11 1989 HORTA Maria de Lourdes Parreiras et al Guia baacutesico de educaccedilatildeo patrimonial Brasiacutelia Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional Museu Imperial 1999
KOPYTOFF Igor The cultural biography of things commoditization as process In APPADURAI Arjun (ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge University Press 1986p 64-91
LEHNERT Gertrud Fashion a concise history London Laurence King 1998
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
excepcionais) de distintos modos de vestir (da proacutepria moda) pode lanccedilar luz sobre
aspectos sociais e culturais ainda pouco investigados
A roupa natildeo tem as mesmas propriedades que suas representaccedilotildees imageacuteticas
como a fotografia por exemplo A roupa elemento da cultura material tem textura
cheiro rasgos manchas e vestiacutegios de corpos que jaacute a usaram como casca de sonhos
pele de inserccedilatildeo social do pertencer aos tempos e espaccedilos que contornam a sua
trajetoacuteria
Estudar um vestido ou qualquer outro objeto implica necessariamente conhecer e
compreender os materiais de que eacute feito Objetos tridimensionais satildeo originalmente
pensados e confeccionados com uma articulaccedilatildeo (ou articulaccedilotildees) especiacutefica e suas
partes podem ser constituiacutedas de uma infinidade de materiais Estudar objetos como as
roupas e os tecidos de que satildeo feitas exige certas habilidades que diferem do modo de
anaacutelise de outros tipos de documentos como os textuais e iconograacuteficos Analisar um
vestido natildeo eacute o mesmo que analisar a sua fotografia assim como natildeo seria o mesmo
analisar a sua descriccedilatildeo O vestido enquanto objeto material enquanto coisa tem uma
seacuterie de caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e cuja articulaccedilatildeo constitui um artefato
singular
Os caminhos de pesquisa satildeo interminaacuteveis quando ela eacute iniciada pela anaacutelise e
estudo de um objeto Haacute de se determinar portanto qual caminho seguir avaliando as
muitas variaacuteveis envolvidas nesse processo de pesquisa especialmente aquelas
resultadas da observaccedilatildeo - do que de fato estaacute no objeto - e dos interesses de estudo
do investigador Pesquisas que resultam da anaacutelise e interpretaccedilatildeo de roupas e tecidos
presentes na bibliografia especializada sinalizam a importacircncia deste tipo de estudo
para as aacutereas humanas (MILLER 2007 PALMER 2001 STEELE 1998
McCRACKEN 1990)
A histoacuteria das roupas no Brasil natildeo eacute uma compilada As roupas aparecem nas
obras literaacuterias nas biografias de personagens histoacutericos nas histoacuterias da publicidade e
das cidades Aparecem ainda nos escritos de memorialistas de viajantes enfim nossa
historiografia eacute caracteristicamente fragmentada No que diz respeito aos meacutetodos de
estudos com objetos estes vecircm principalmente da Antropologia conforme a bibliografia
indicada a seguir
Roupas assim como qualquer outro objeto pensado e feito por pessoas tecircm um
sentido fiacutesico e outro cultural Aquelas feitas em tecido no entanto satildeo diferentes de
outros tipos de objeto porque as propriedades tecircxteis usadas aqui como uma
ferramenta para interpretaccedilatildeo permitem que as marcas do objeto em seus muitos
estados transitoacuterios fiquem impregnadas10 Em meus estudos sobre roupas e tecidos
tenho adotado um meacutetodo de trabalho que me auxilia a interpretar vestiacutegios materiais
de objetos que sobreviveram agraves accedilotildees do tempo e a outras seleccedilotildees Este meacutetodo
resulta da integraccedilatildeo das propostas de autores cujos trabalhos tecircm uma perspectiva em
cultura material Segundo a bibliografia (BARRETO 19824 DURBIN MORRIS
WILKINSON 1990 PROWN 1994 HORTA GRUNBERG MONTEIRO 1999
TAYLOR 2002) quatro questotildees devem ser abordadas quando estudamos um artefato
tecircxtil como um vestido por exemplo 11
1 Observaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicas
2 Descriccedilatildeo ou registro
3 A identificaccedilatildeo
4 Exploraccedilatildeo ou especulaccedilatildeo do problema
5 Pesquisa em outras fontes e programa de pesquisa
Aleacutem das etapas descritas acima seria bastante recomendaacutevel considerar o
contexto em que a roupa em estudo estaacute sendo analisada Uma vez que roupas tenham
sido deslocadas de seu lugar de origem e recolocadas em coleccedilotildees de museus por
exemplo haacute que se considerar que houve uma seleccedilatildeo para que aquela roupa
especiacutefica passasse a integrar o acervo de um determinado museu Fora do corpo e do
guarda-roupa que um dia a abrigou aquele vestido passaraacute por novos estados se
conectaraacute a outros corpos e estaraacute sujeito a novas interpretaccedilotildees
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Rita Por debaixo dos panos cultura e materialidade de nossas roupas e tecidos In PAULA Teresa Cristina Toledo de (org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da USP 2005
ANDRADE Rita The House of Louiseboulanger ndash an insight into couture and its commercial practices in 1920s and 1930s Paris Inglaterra 2000 Dissertaccedilatildeo (Masters of Art in History of Textiles and Dress) ndash Winchester School of Art University of Southampton ANDRADE Rita A roupa como documento histoacuterico uma nova abordagem em estudos sobre moda Espaccedilo Criacutetico Disponiacutevel em lt wwwmodabrasilcombrgt Acesso em abr 2001 ANDRADE Rita Louise Boulanger and interwar french couture revelations from object analysis Textile History v 35 n1 p112-119 May 2004 ANDRADE Rita Mappin Stores adding an english touch to the Sao Paulo Fashion Scene In ROOT Regina (Ed) The Latin American Fashion Reader Oxford UK Berg 2005 p176-187 APPADURAI Arjun (Ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge Cambridge University Press 1986 ATTFIELD Judy Wild things the material culture of everyday life Oxford UK Berg 2000 BARRETO Maria de Lourdes Parreira Horta Educaccedilatildeo patrimonial e praacuteticas centradas no objeto ligadas a teorias da organizaccedilatildeo do comportamento 198284
BOLLON Patrice A moral da maacutescara Rio de Janeiro Rocco 1993
BOUCHER Franccedilois 20000 years of fashion the history of costume and personnal adornment New York Abrams 1987
CARON Franccedilois Lrsquoentreprise In NORA Pierre (Ed) Les lieux de meacutemoire Paris Gallimard 1992 p322-375 v II DELEUZE Gilles Empirismo e subjetividade ensaio sobre a natureza humana segundo Hume Traduccedilatildeo Luiz L B Orlandi Satildeo Paulo Editora 34 2001 DURBIN Gail MORRIS Susan WILKINSON Sue A teacheracutes guide to learning from objects English Heritage 1990
FINE Ben LEOPOLD Ellen The world of consumption London New York Routledge 1993 GUARNIERI Waldisa Ruacutessio Museu museologia museoacutelogos e formaccedilatildeo Revista de Museologia Satildeo Paulo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-11 1989 HORTA Maria de Lourdes Parreiras et al Guia baacutesico de educaccedilatildeo patrimonial Brasiacutelia Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional Museu Imperial 1999
KOPYTOFF Igor The cultural biography of things commoditization as process In APPADURAI Arjun (ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge University Press 1986p 64-91
LEHNERT Gertrud Fashion a concise history London Laurence King 1998
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
indicada a seguir
Roupas assim como qualquer outro objeto pensado e feito por pessoas tecircm um
sentido fiacutesico e outro cultural Aquelas feitas em tecido no entanto satildeo diferentes de
outros tipos de objeto porque as propriedades tecircxteis usadas aqui como uma
ferramenta para interpretaccedilatildeo permitem que as marcas do objeto em seus muitos
estados transitoacuterios fiquem impregnadas10 Em meus estudos sobre roupas e tecidos
tenho adotado um meacutetodo de trabalho que me auxilia a interpretar vestiacutegios materiais
de objetos que sobreviveram agraves accedilotildees do tempo e a outras seleccedilotildees Este meacutetodo
resulta da integraccedilatildeo das propostas de autores cujos trabalhos tecircm uma perspectiva em
cultura material Segundo a bibliografia (BARRETO 19824 DURBIN MORRIS
WILKINSON 1990 PROWN 1994 HORTA GRUNBERG MONTEIRO 1999
TAYLOR 2002) quatro questotildees devem ser abordadas quando estudamos um artefato
tecircxtil como um vestido por exemplo 11
1 Observaccedilatildeo das caracteriacutesticas fiacutesicas
2 Descriccedilatildeo ou registro
3 A identificaccedilatildeo
4 Exploraccedilatildeo ou especulaccedilatildeo do problema
5 Pesquisa em outras fontes e programa de pesquisa
Aleacutem das etapas descritas acima seria bastante recomendaacutevel considerar o
contexto em que a roupa em estudo estaacute sendo analisada Uma vez que roupas tenham
sido deslocadas de seu lugar de origem e recolocadas em coleccedilotildees de museus por
exemplo haacute que se considerar que houve uma seleccedilatildeo para que aquela roupa
especiacutefica passasse a integrar o acervo de um determinado museu Fora do corpo e do
guarda-roupa que um dia a abrigou aquele vestido passaraacute por novos estados se
conectaraacute a outros corpos e estaraacute sujeito a novas interpretaccedilotildees
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Rita Por debaixo dos panos cultura e materialidade de nossas roupas e tecidos In PAULA Teresa Cristina Toledo de (org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da USP 2005
ANDRADE Rita The House of Louiseboulanger ndash an insight into couture and its commercial practices in 1920s and 1930s Paris Inglaterra 2000 Dissertaccedilatildeo (Masters of Art in History of Textiles and Dress) ndash Winchester School of Art University of Southampton ANDRADE Rita A roupa como documento histoacuterico uma nova abordagem em estudos sobre moda Espaccedilo Criacutetico Disponiacutevel em lt wwwmodabrasilcombrgt Acesso em abr 2001 ANDRADE Rita Louise Boulanger and interwar french couture revelations from object analysis Textile History v 35 n1 p112-119 May 2004 ANDRADE Rita Mappin Stores adding an english touch to the Sao Paulo Fashion Scene In ROOT Regina (Ed) The Latin American Fashion Reader Oxford UK Berg 2005 p176-187 APPADURAI Arjun (Ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge Cambridge University Press 1986 ATTFIELD Judy Wild things the material culture of everyday life Oxford UK Berg 2000 BARRETO Maria de Lourdes Parreira Horta Educaccedilatildeo patrimonial e praacuteticas centradas no objeto ligadas a teorias da organizaccedilatildeo do comportamento 198284
BOLLON Patrice A moral da maacutescara Rio de Janeiro Rocco 1993
BOUCHER Franccedilois 20000 years of fashion the history of costume and personnal adornment New York Abrams 1987
CARON Franccedilois Lrsquoentreprise In NORA Pierre (Ed) Les lieux de meacutemoire Paris Gallimard 1992 p322-375 v II DELEUZE Gilles Empirismo e subjetividade ensaio sobre a natureza humana segundo Hume Traduccedilatildeo Luiz L B Orlandi Satildeo Paulo Editora 34 2001 DURBIN Gail MORRIS Susan WILKINSON Sue A teacheracutes guide to learning from objects English Heritage 1990
FINE Ben LEOPOLD Ellen The world of consumption London New York Routledge 1993 GUARNIERI Waldisa Ruacutessio Museu museologia museoacutelogos e formaccedilatildeo Revista de Museologia Satildeo Paulo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-11 1989 HORTA Maria de Lourdes Parreiras et al Guia baacutesico de educaccedilatildeo patrimonial Brasiacutelia Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional Museu Imperial 1999
KOPYTOFF Igor The cultural biography of things commoditization as process In APPADURAI Arjun (ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge University Press 1986p 64-91
LEHNERT Gertrud Fashion a concise history London Laurence King 1998
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
ANDRADE Rita Por debaixo dos panos cultura e materialidade de nossas roupas e tecidos In PAULA Teresa Cristina Toledo de (org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da USP 2005
ANDRADE Rita The House of Louiseboulanger ndash an insight into couture and its commercial practices in 1920s and 1930s Paris Inglaterra 2000 Dissertaccedilatildeo (Masters of Art in History of Textiles and Dress) ndash Winchester School of Art University of Southampton ANDRADE Rita A roupa como documento histoacuterico uma nova abordagem em estudos sobre moda Espaccedilo Criacutetico Disponiacutevel em lt wwwmodabrasilcombrgt Acesso em abr 2001 ANDRADE Rita Louise Boulanger and interwar french couture revelations from object analysis Textile History v 35 n1 p112-119 May 2004 ANDRADE Rita Mappin Stores adding an english touch to the Sao Paulo Fashion Scene In ROOT Regina (Ed) The Latin American Fashion Reader Oxford UK Berg 2005 p176-187 APPADURAI Arjun (Ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge Cambridge University Press 1986 ATTFIELD Judy Wild things the material culture of everyday life Oxford UK Berg 2000 BARRETO Maria de Lourdes Parreira Horta Educaccedilatildeo patrimonial e praacuteticas centradas no objeto ligadas a teorias da organizaccedilatildeo do comportamento 198284
BOLLON Patrice A moral da maacutescara Rio de Janeiro Rocco 1993
BOUCHER Franccedilois 20000 years of fashion the history of costume and personnal adornment New York Abrams 1987
CARON Franccedilois Lrsquoentreprise In NORA Pierre (Ed) Les lieux de meacutemoire Paris Gallimard 1992 p322-375 v II DELEUZE Gilles Empirismo e subjetividade ensaio sobre a natureza humana segundo Hume Traduccedilatildeo Luiz L B Orlandi Satildeo Paulo Editora 34 2001 DURBIN Gail MORRIS Susan WILKINSON Sue A teacheracutes guide to learning from objects English Heritage 1990
FINE Ben LEOPOLD Ellen The world of consumption London New York Routledge 1993 GUARNIERI Waldisa Ruacutessio Museu museologia museoacutelogos e formaccedilatildeo Revista de Museologia Satildeo Paulo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo v 1 n 1 p 7-11 1989 HORTA Maria de Lourdes Parreiras et al Guia baacutesico de educaccedilatildeo patrimonial Brasiacutelia Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional Museu Imperial 1999
KOPYTOFF Igor The cultural biography of things commoditization as process In APPADURAI Arjun (ed) The social life of things commodities in cultural perspective Cambridge University Press 1986p 64-91
LEHNERT Gertrud Fashion a concise history London Laurence King 1998
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
LIPOVETSKY Gilles Impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas sociedades modernas Traduccedilatildeo Maria Luacutecia Machado Satildeo Paulo Companhia das Letras 1989 McCRACKEN Grant Culture and consumption Bloomington Indiana University Press 1990 MENESES Ulpiano T Bezerra de Museus histoacutericos da celebraccedilatildeo a consciecircncia histoacuterica In ______ Como explorar um museu histoacuterico Satildeo Paulo Museu Paulista Universidade de Satildeo Paulo 1992 p 7-10
MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro v11 n21 p89-103 1998 MILLER Daniel (Ed) Material cultures why some things matter Londres University College London 1998 MILLER Lesley Ellis Cristoacutebal Balenciaga (1895-1972) the couturiersrsquocouturier London VampA 2007 MONNEYRON Freacutedeacuteric A moda e seus desafios 50 questotildees fundamentais Satildeo Paulo Senac 2008 p 11-12
PALMER Alexandra Couture amp commerce the transatlantic fashion trade in the 1950s Vancouver UBC Press 2001 PAULA Teresa Cristina Toledo de (Org) Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees Satildeo Paulo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo 2005 PRECIOSA Rosane Produccedilatildeo esteacutetica notas sobre roupas sujeitos e modos de vida Satildeo Paulo Editora Anhembi Morumbi 2005 (Coleccedilatildeo Moda e Comunicaccedilatildeo Kathia Castilho coordenaccedilatildeo) PROWN Jules Mind in matter an introduction to material culture theory and method In PEARCE Susan M (Ed) Interpreting objects and collections Londres Routledge 1994 p 133-138 REDE Marcelo Estudos de cultura material uma vertente francesa Anais do Museu Paulista histoacuteria e cultura material Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo Museu Paulista v 8-9 2000-2001 (editado em 2003) p 281-292 STALLYBRASS Peter O casaco de Marx roupas memoacuteria dor Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva 2 ed Belo Horizonte Autecircntica 2000 STEELE Valerie Paris fashion a cultural history Oxford Berg 1998 TAYLOR Lou The study of dress history Manchester Manchester University Press 2002 TAYLOR Lou Establishing dress history Manchester Manchester University Press 2004 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Boletim Temaacutetico Indumentaacuteria Satildeo Paulo Museu Paulista v 1 n 1 1996 UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Formas de humanidade (Treinamento para Professores) Satildeo Paulo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) Universidade de Satildeo Paulo 1999 (Apostila)
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
NOTAS
1 Roupa eacute uma categoria do lsquovestuaacuteriorsquo ou da lsquoindumentaacuteriarsquo que eacute o conjunto de roupas que vestem o corpo mas seu uso mais comum estaacute relacionado a roupas ou trajes histoacutericos Assim encontraremos mais comumente a denominaccedilatildeo ldquoindumentaacuteria persardquo e menos o ldquovestuaacuterio persardquo A terminologia eacute um aspecto variaacutevel em estudos de roupas especialmente porque os significados dos muitos termos especiacuteficos variaram ao longo do tempo e agrave medida que as liacutenguas estrangeiras se apropriaram de terminologias de origens culturais estranhas os termos passaram a sofrer novas alteraccedilotildees Assim costume na Franccedila passou a ser empregado apenas a partir da metade do seacuteculo XVIII durante o reinado de Louis XIII mantendo a pronuacutencia do italiano (cujo significado mais restrito denominava roupas para teatro) e adotando um sentido mais amplo que vigora ainda hoje ndash haacutebito maneira modo de vestir A passagem do latim para o francecircs no periacuteodo meroviacutengeo tambeacutem contribuiu para a adoccedilatildeo de diferentes significados e termos dados a peccedilas de roupas idecircntica Ver Boucher (1987 6)
2 Estado no sentido proposto por Deleuze (2001) de que o que estaacute por vir (o devir) natildeo eacute o vazio mas algo revelado por potecircncias preexistentes
3 Judy Attifield (200090-94) defende e explora alguns estudos de caso ou do ldquoparticularrdquo como um meacutetodo justificaacutevel para entender o geral a partir do especiacutefico em estudos em cultura material
4 Sobre abordagens de pesquisa e estudo na histoacuteria do vestir ver Taylor 2002
5 Refiro-me ao que Judy Attifield (200011-44) denominou ldquocoisas com atituderdquo isto eacute o significado que eacute objetificado ou materializado atraveacutes do design
6 Sobre obsolescecircncia programada ver (LIPOVETSKY 1989)
7 Os textos do autor satildeo encontrados em publicaccedilotildees como anais de congressos todavia vaacuterias das reflexotildees motivadas pelas ideacuteias do professor Ulpiano provecircm de muitas de suas palestras Destacamos um texto particularmente relevante para esta discussatildeo ndash Memoacuteria e cultura material documentos pessoais no espaccedilo puacuteblico (1998)
8 Para Judy Attfield (2000) um vieacutes psicoloacutegico eacute necessaacuterio para compreender a ldquoidentidaderdquo em design como um processo cultural e social e natildeo como um fim em si
9 A autora escreve sob um ponto de vista privilegiado Depois de uma primeira carreira como designer foi professora de Histoacuteria do Design na Inglaterra ateacute sua morte em 2006 Sua formaccedilatildeo e a compreensatildeo dos processos de manufatura de objetos certamente contribuiacuteram para suas reflexotildees e anaacutelises acerca do lugar dos objetos no cotidiano e sobre como nossas relaccedilotildees com essas coisas alargam os sentidos que vamos atrelando agraves nossas vidas
10 Para Judy Attifield tecidos apresentam uma forma particular de ilustrar como as coisas satildeo usadas para mediar o mundo individualmental o corpo e o mundo exterior que as contextualiza e atraveacutes do qual um sentido de identidade eacute construiacutedo e mediado pelas relaccedilotildees sociais (2000 123)
11 Apresentamos a descriccedilatildeo destas etapas durante o Seminaacuterio Internacional Tecidos no Brasil museus e coleccedilotildees ocorrido entre 8 e 13 de maio de 2006 organizado pelo Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e publicada em anais Ver (PAULA 2005)
Rita Andrade Professora da Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiaacutes eacute doutoranda em Histoacuteria pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Mestre em History of Textiles and Dress - University of Southampton cursou especializaccedilatildeo em Museologia pelo Instituto de Museologia de Satildeo Paulo - FESP e eacute graduada em Negoacutecios da Moda pela Universidade Anhembi Morumbi SP Eacute membro do Conselho Editorial da revista Dobras e pesquisadora convidada de dois Grupos de Pesquisa O conteuacutedo artiacutestico das formas vestimentaacuterias
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF